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ECONOMIA E

POLÍTICA SOCIAL
Profa. Ariana Celis Leite
BLOCO 1. SISTEMAS ECONÔMICOS

Apresentação
Você já ouviu a expressão “tempo é dinheiro”? Na sociedade atual essa é uma
expressão muito reforçada, pois vivemos na era do capitalismo, era em que o dinheiro
tem um lugar muito importante nas relações. Mas será que o sistema econômico e o
modo de produção sempre foram assim? Nesse bloco iremos entender melhor cada
etapa dos sistemas econômicos e como chegamos no sistema atual. Assim, temos
como objetivo discutir os sistemas econômicos e o surgimento do Capitalismo.
Começaremos com o sistema feudal (qualquer lembrança de Game of Thrones, aquela
série da HBO com traços feudais, não é mera coincidência) e seguimos com as demais
fases do capitalismo. Vem com a gente!

1.1 Feudalismo
O modo de produção feudalista vigorou no período da Idade Média (do século V ao
XV). O feudalismo teve início com as invasões germânicas (bárbaras), no século V,
sobre o Império Romano do Ocidente (Europa). As características gerais do feudalismo
são: poder descentralizado (nas mãos dos senhores feudais), economia baseada na
agricultura e utilização do trabalho dos servos.
A sociedade era organizada, basicamente, em 3 castas. O Clero, que era composto por
membros da Igreja católica e detinha o controle do conhecimento, era isento de
impostos e arrecadava dízimos. A nobreza, composta pelos reis, senhores feudais e
cavalaria, oferecia proteção e cuidava da administração das terras e arrecadava
impostos. Já os camponeses formavam a base de sustentação da sociedade feudal e
trabalhavam para manter todo o feudo, gerando riquezas e produtos para o consumo.
Como sociedade de castas ou sociedade estamental, a sociedade feudal não permitia a
mobilidade social. Assim, os camponeses e servos ficariam sempre nessa mesma
posição e tinham que pagar diversos impostos. Os principais impostos eram:
- Talha: metade da produção do servo na terra era destinada ao senhor feudal.
- Corveia: de dois a quatro dias da semana o servo trabalha nas dependências do
senhor feudal.

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- Banalidades: os servos pagavam por utilizar as ferramentas de trabalho do feudo.
- Mão morta: quando o patriarca da família morria, os descendentes deveriam pagar
para continuar no feudo.
- Capitação: significava o imposto pago pelos servos aos senhores feudais, relativos ao
número de pessoa, ou seja, por cabeça.
- Censo: pagamento anual, em produtos, pelo uso da terra.
- Tostão de Pedro: tributo pago à igreja e utilizado na manutenção da capela local.
- Formariage: tributo pago quando o servo se casava.
Havia um contrato vassálico entre o vassalo e o suserano. O suserano, dono da terra,
concedia um lote de terra ao vassalo e este prometia prestar fidelidade e ajuda ao seu
suserano em troca de proteção e um lugar no sistema de produção, uma vez que havia
diversos perigos, como roubos e saques, fora do feudo.
A agricultura predominava como forma de economia, porém as técnicas de trabalho
eram extremamente rudimentares. A economia era de subsistência, ou seja, eles
produziam para o próprio sustento. Com a expansão do feudalismo, passou-se a
produzir excedentes, movimentando as trocas e práticas mercantis.

1.1.1 A crise do feudalismo


O feudalismo entra em declínio entre o século XI e XV, período conhecido como a
Baixa Idade Média, com as cruzadas. As cruzadas foram as expedições do clero que
pretendiam recuperar Jerusalém dos árabes (muçulmanos) e consequentemente
aumentar o seu poder. As cruzadas abriram diversas rotas entre a Europa e o Oriente,
o que significou a abertura de rotas comerciais. Para conseguir pessoas para as
cruzadas, a igreja prometia terras e salvação aos que se prontificarem a lutar. Tanto os
cavaleiros como os servos participaram das cruzadas.
Com o contato com novos povos e culturas, ocorre a expansão do conhecimento, e os
camponeses que retornavam passaram a ser donos de sua própria terra, abandonando
assim os feudos e formando as primeiras cidades medievais. Essas cidades foram
chamadas de burgos e, seus moradores, de burgueses.
Os burgueses passam a desenvolver tecnologias para produzir, mas os burgos eram
pequenos e não era possível cada um desenvolver diversos produtos. Dessa maneira,

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cada burguês produzia um produto e eles realizam trocas entre si, e com o tempo
surge a moeda de troca.
O rei, figura sem grande importância até então, vendo o crescimento da burguesia,
passa a formar acordos com ela, formando os Estados Nacionais Modernos, que hoje
conhecemos como países. A burguesia tinha o poder da economia e, o rei, da
administração e das leis. A moeda única passa a vigorar, e a burguesia passa a pagar
impostos para o rei.
A trilogia do século XIV: guerra de 100 anos (França e Inglaterra 1337-1453), a peste
negra (epidemias) e a fome colaboraram para a crise do sistema feudal.
O processo de declínio do sistema feudal foi lento. Como já mencionado, durou do
século XI até o século XV. A expansão do conhecimento, a formação dos burgos e
comércios aliados a trilogia do século XIV foram os grandes responsáveis da migração
de uma sociedade de castas para uma sociedade de classe, com isso tem-se o
nascimento do sistema capitalista.

1.2 Capitalismo
O capitalismo é um sistema de produção e reprodução da vida social em que a
produção é social, todos trabalham e participam da produção, mas a apropriação
dessa riqueza socialmente produzida, bem como os meios de produção, é privado, ou
seja, individual.
A propriedade privada e a divisão social do trabalho e troca são características
fundamentais dessa forma de sociedade.
Propriedade privada: O capitalista possui os instrumentos de trabalho (maquinário) e,
somente ele, se apropria das riquezas e lucros extraídos do trabalho alheio.
Divisão social do trabalho: A divisão do trabalho existe, pois o indivíduo não tem todas
as profissões necessárias para satisfazer suas múltiplas necessidades (de alimentação,
de vestuário, de habitação, de meios de produção). Uma vez que ele possui apenas
uma profissão, só consegue subsistir se puder simultaneamente adquirir os produtos
de trabalho de outrem. Como nessa sociedade cada pessoa tem uma profissão
particular, todos dependem uns dos outros (CATANI, 1995 p.17).

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Troca: Segundo Catani (1995), os produtos dos diferentes trabalhos privados têm de
ser, na sociedade capitalista, trocados. A troca é condição necessária para a
subsistência de todos na sociedade, e esse produto a ser trocado, resultado do
trabalho, denomina-se mercadoria.
Todavia, a troca de mercadorias na sociedade capitalista assume uma forma diferente
de outros tempos, ela é realizada por intermédio do dinheiro. De acordo com Marx, o
valor da mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho necessário à sua
produção.
A força de trabalho humana também é uma mercadoria essencial nesse processo. O
homem vende sua força de trabalho, mas ele não recebe pelo tanto que produziu, e
sim um valor estipulado por quem contrata sua mão de obra. Assim, o trabalhador
recebe bem menos do que produz. A esse trabalho excedente não pago Marx chamou
de mais valia. É através da mais valia que o capitalista tem seu lucro.

1.3 Capitalismo Mercantil ou Comercial


Com o declínio do feudalismo, tem-se o primeiro momento do capitalismo através do
comércio, chamamos esse momento de capitalismo comercial ou capitalismo
mercantil.
Vivia-se um período de trabalho artesanal, mas com o incremento geral da produção,
era necessário não só transportar uma massa maior de produtos, como também
transportá-los a distâncias maiores que antes.
À medida que a área do mercado se estendia, tornando difícil ou mesmo impossível ao
pequeno produtor de mercadorias manter o contato com ele, foi aumentando o poder
econômico e a importância social da classe que se especializava nesta função, ou seja,
o comerciante.
Ao tratar-se de produzir mercadorias para um mercado amplo, ilimitado e distante, o
pequeno produtor não pode colocar pessoalmente suas mercadorias, como acontecia
na maioria dos casos quando o mercado era limitado e próximo. Por conseguinte, a
operação final da produção (a distribuição do produto) acabou por separar-se dos
demais processos, e o produtor sentiu a necessidade de um intermediário.

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Esse foi um dos motivos para o declínio do produtor, ao se ver submetido à
dependência econômica do comerciante. O produtor tinha de vender sua mercadoria
ao comerciante para poder continuar seu trabalho; mas as condições da transação
deixaram de ser idênticas para ambas as partes. Em primeiro lugar, o produtor não
conhece as condições reais do mercado em que o comerciante vende seus produtos.
Em segundo lugar, o produtor não pode esperar, porque, devido ao seu pequeno
"stock", tem que vender imediatamente seus produtos para poder adquirir os meios
necessários à continuação de seu negócio. O comerciante, pelo contrário, como possui
todos os conhecimentos necessários e dispõe de melhores elementos, pode demorar
em suas compras se as condições que se lhe oferecem não lhe agradam. Por
conseguinte, o produtor tem de ceder quase sempre e aceitar o preço oferecido pelo
comerciante.
A consecução do predomínio econômico do comerciante é facilitada pelo fato de que
as pequenas indústrias são muito instáveis. Todo contratempo acidental, toda
calamidade natural ou econômica expõe o pequeno produtor à ruína, e o obriga a
recorrer ao auxílio dos membros da sociedade economicamente mais poderosos, que
costumam ser os próprios comerciantes. Em tal caso, estes assumem outra função: a
de agiotas ou emprestadores. Ao emprestar dinheiro ao produtor, para que este possa
manter sua indústria, o que o comerciante realmente faz é pagar de antemão os
preços das mercadorias que o produtor, seu devedor, há de produzir. O resultado é
que o preço destas mercadorias será entretanto mais baixo e a dependência do
produtor relativamente ao comerciante será ainda mais permanente. Por via de regra,
em tais circunstâncias, o produtor se compromete a não vender suas mercadorias a
outro comerciante senão a seu credor.
Assim, ainda que formalmente o pequeno produtor continue sendo livre, sua
independência real desapareceu. Baseando-se em sua força econômica, o comerciante
intervém nas atividades produtivas do pequeno produtor e procede como regulador e
organizador supremo da produção. Visando lucros, o comerciante indica a quantidade,
a qualidade e a data de entrega de determinado produto e estipula seu preço, o que o
produtor se vê obrigado a aceitar, porque, do contrário, não lhe é possível vender suas
mercadorias.

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De acordo com sua conveniência, o comerciante obriga o produtor a restringir a
produção ou o ajuda a aumentá-la. Indiretamente, o comerciante influi na técnica da
produção, pedindo produtos de uma qualidade determinada. Em geral, o comerciante,
se não de modo formal, ao menos efetivamente, se converte no organizador da
pequena indústria.
Deste modo, as pequenas empresas trabalham, na realidade, sob a autoridade de um
só organizador. Esta submissão está muito longe de ser completa. Todavia fica ao
pequeno produtor uma relativa independência nas questões internas da empresa. Esta
é a organização capitalista mercantil da produção.

1.4 Capitalismo Industrial


A passagem do método de produção do artesanato para a manufatura e
posteriormente para a mecanização se configura como a principal passagem para a
consolidação do capitalismo. A força física foi substituída pela força mecânica, a
ferramenta pela máquina, e a manufatura pela fábrica.
A esse período (metade do século XVIII) denominamos primeira Revolução Industrial,
ou fase do capitalismo industrial, sendo a Inglaterra a pioneira.
Predomina-se o uso da energia a vapor e um crescimento da indústria têxtil,
utilizando-se do carvão mineral, ferro e algodão como principal matéria-prima.
Todavia, o homem, ao ser substituído pela máquina, gerou um grande contingente de
desempregados, dispostos a trabalharem por qualquer quantia e sob condições
degradantes (excesso de horas de trabalho, trabalho infantil). A produção em larga
escala e dividida em etapas distanciou cada vez mais o trabalhador do produto final, já
que cada grupo de trabalhadores domina apenas uma etapa da produção. Chamamos
esse distanciamento de alienação.
Havia ausência de leis trabalhistas, e a mão de obra era extremamente explorada. O
trabalho era precário e insalubre, com jornadas de até 18 horas por dia sem descanso
semanal ou férias, e ainda havia castigos físicos.
Os problemas não se limitavam ao interior das fábricas, pois com a urbanização
descompassada surgiram as habitações precárias (cortiços), poluição ambiental e
surgimento de doenças.

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Diante dessa situação os trabalhadores se manifestaram. Em 1812 temos o movimento
“Ludismo”, que protestava contra a substituição da mão de obra humana por
máquinas, ficando conhecido pela quebra de máquinas como forma de protesto. Já em
1838 o movimento “Cartismo” cobrava participação política, para isso escreveram a
“Carta do povo”, direcionada ao Parlamento inglês cobrando o voto universal e
secreto.
O clássico filme “Tempos modernos”, de Charles Chaplin, ilustra esse período e critica
a forma de divisão e das condições de trabalho do trabalhador.

SAIBA MAIS
Chaplin trabalha em uma fábrica, na qual tem um colapso nervoso por trabalhar de
forma escrava. É levado para um hospício, e quando retorna para a “vida normal”, para
o barulho da cidade, encontra a fábrica já fechada. Enquanto isso, uma jovem tem que
realizar furtos para sobreviver, e foge em busca de outro destino, mas acaba se
envolvendo numa confusão. Chaplin é tomado como o líder comunista por ter
levantado uma bandeira vermelha, dando a entender que estava por trás da greve, e
acaba sendo preso. Ele tem que arrumar um emprego rapidamente. Consegue um
emprego numa outra fábrica, mas logo os operários entram em greve e ele se envolve
novamente em perigo. No meio da confusão, vai preso ao jogar sem querer uma pedra
na cabeça de um policial. A jovem consegue trabalho como dançarina num salão de
música e emprega seu amigo como garçom. Também não dá certo, então os dois
seguem, numa estrada, rumo a mais aventuras emocionantes.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=q6slBfk4Rac. Acesso em: 02 ago.


2018.

1.5 Capitalismo Monopolista


Com o desenvolvimento das forças produtivas e o avanço da tecnologia, a Revolução
Industrial progrediu para uma segunda fase, que é chamada de segunda Revolução
Industrial. O aço passa a ser produzido em grande escala e substitui o ferro como
material básico, o petróleo se generaliza como combustível, e a empresa

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automobilística passa a ter destaque, tendo-se o emprego da energia elétrica, dentre
outros avanços. A indústria pesada cresce rapidamente deixando a indústria leve no
plano secundário, e a indústria pesada, com o aperfeiçoamento do maquinismo, passa
a ter grande poder na economia mundial, ficando centralizada nas mãos de poucos
capitalistas, criando os monopólios. Essa segunda fase da Revolução Industrial é
conhecida como a fase do capitalismo monopolista.
A unidade econômica típica na sociedade capitalista não é a firma pequena que fabrica
uma fração desprezível de uma produção homogênea, para um mercado anônimo,
mas a empresa em grande escala, a qual cabe uma parcela significativa da produção de
uma indústria, ou mesmo de várias indústrias, capazes de controlar seus preços, o
volume de sua produção e os tipos de volumes de seus investimentos (NETTO E BRAZ,
2009, p. 178).
Originalmente o significado da palavra monopólio é o de vendedor exclusivo de
qualquer produto, mas com o advento do capitalismo, essa palavra passa a ter um
sentido mais amplo na linguagem econômica. Passa a significar que quem tem o
monopólio pode influenciar, de maneira considerável, o fornecimento e preço de
determinado artigo. O objetivo do monopólio é aumentar o próprio lucro, limitando a
produção e subindo os preços (CATANI, 1995).
Segundo o autor, o monopólio não exclui plenamente a concorrência, pois existem a
rivalidade e o conflito entre as grandes empresas que possuem grande poder de
mercado e querem aumentá-lo. O que se modifica nesse contexto é a forma de
concorrência.

1.5.1 Práticas Monopolistas


Trustes – É o resultado típico do capitalismo, que leva à fusão de empresas de um
mesmo setor de atividade que controlam todas as etapas da produção, desde a
retirada de matéria-prima da natureza até a distribuição das mercadorias.
Cartel – Surge quando empresas visam partilhar entre si, através de acordo, um
determinado mercado ou setor da economia, associação entre empresas para uma
atuação coordenada, estabelecendo um preço comum, restringindo a livre
concorrência. Geralmente elevam o preço em comum.

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Conglomerados – São corporações resultantes de uma grande ampliação e
diversificação dos negócios, visando dominar a oferta de determinados produtos e
serviços no mercado. Um dos maiores conglomerados do mundo é o Mitsubishi Group,
que fabrica desde alimentos, automóveis, aço, aparelhos de som, televisores, navios,
aviões etc.
Holding – dentro de um agrupamento de empresas, uma delas controla outras, suas
subsidiárias, através do controle acionário, normalmente centraliza a administração.
São consideradas o estágio mais avançado da concentração de capital.
O surgimento dos monopólios industriais é acompanhado pela monopolização
também no âmbito do capital bancário. Inicialmente eram “casas bancárias” e
funcionavam como intermediários de pagamentos, mas com o crescimento das
indústrias passaram a controlar massas monetárias gigantescas, disponibilizando
empréstimos – e a concorrência entre os capitalistas industriais levou-os a recorrer ao
crédito bancário para seus novos investimentos.
Ora, conhecendo as estruturas internas das firmas capitalistas e suas possibilidades e
limites, na medida em que detinham as contas correntes dos capitalistas, os bancos
desfrutavam de posição de força para condicionar os créditos que ofereciam e,
sobretudo, participar dos melhores negócios empresariais (inclusive adquirindo o
controle desses negócios, mediante a compra de ações) (NETTO; BRAZ, 2009, p. 179).
Assim, essa fusão dos capitais monopolistas industriais com os bancários constitui o
capital financeiro.

Referências
BOGDANOFF. A. Economia Política (Curso Popular). São Paulo: Edições Caramurú,
1935. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/bogdanov/1897/curso/06.htm>. Acesso em: 15
jul. 2018.
CATANI. A. M. O que é capitalismo. São Paulo: Brasiliense,1995.
HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. 20. Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
NETTO, J. Paulo; BRAZ, M. Economia Política: uma introdução crítica. 5. ed. São Paulo:
Cortez, 2009. (Biblioteca básica de Serviço Social; v. 1)

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