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A ACUMULAÇÃO DE CAPITAL NO BRASIL

WILSON DO NASCIMENTO BARBOSA


JANEIRO DE 2003
A Reprodução Capitalista

A teoria da acumulação de capital, elaborada por Marx, é a única teoria capaz de


revelar a essência exploradora da sociedade capitalista, porque desvenda a transformação da
mais-valia em novo capital. As teorias acerca da “formação de capital”, que valorizam
generalidades dispersas como a essência da acumulação, não puderam até hoje cumprir um
papel efetivamente explicativo ou revelador das relações entre a compra do trabalho alheio e o
enriquecimento.
Ao expor o caráter da acumulação como fato empobrecedor da maioria, Marx tornou
evidente a necessidade da transformação socialista da sociedade. Na seção sétima do primeiro
tomo do livro O Capital, Marx aborda o processo de acumulação do capital.

Produção e Reprodução

A produção de bens é tarefa permanente na sociedade humana. A produção dos


bens materiais é característica de todas as sociedades humanas. Uma vez que a repetição e o
aprendizado aceleram e aperfeiçoam tal produção, grosso modo pode-se observar que a
tendência a cada geração é produzir uma quantidade crescente de bens. Os diferentes ramos
de produção expressam, pois, as necessidades básicas do consumo produtivo e pessoal, que
se fazem acompanhar também no crescimento de serviços cada vez mais complexos. Portanto,
qualquer sociedade tende a consumir e a produzir cada vez mais, acumulando uma enorme
quantidade de bens que, devido à produção incessante, assumem um papel apenas simbólico.
Tal se dá porque uma parte da produção prévia, ou seja, do produto social logrado, é
convertida em meios de produção ou elementos de um novo ciclo produtivo. O agricultor
guarda uma parte das sementes obtidas para uma nova semeadura; o capitalista, uma parte de
seus ganhos para comprar máquinas e matérias primas, etc. Vê-se, portanto, que o produto
social não é constituído exclusivamente em bens de consumo imediato mas compreende um
montante que se destina a garantir a produção futura, ou seja, os meios de produção. Tais
meios de produção se destinam a fins produtivos. Nos diferentes ramos, são guardadas
máquinas, sementes, combustíveis, matérias primas, recursos para contratação de mão-de-
obra etc. Esta parte do produto social reservada garantirá a produção futura.
Todos estes recursos materiais acumulados do produto social para assegurar novo
ciclo produtivo necessitam, para se converter em nova produção, da incorporação do trabalho
vivo, ou seja, da obtenção da quantidade necessária da força de trabalho que possa ser
incorporada no processo da nova produção. Para tanto, qualquer sociedade busca garantir a
reprodução da sua força de trabalho, como elemento indispensável à produção futura. A
conservação e reprodução da classe trabalhadora constituem-se em condições permanentes
do processo de reprodução do capital.

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O processo de criação de bens materiais, ou seja, artigos de uso, bens de consumo
pessoal, meios de produção, etc., dá-se continuamente enquanto produção. Uma parte desses
produtos entra como insumo, da produção de outras empresas ou produtores; outra parte vai
diretamente ao consumo pessoal no mercado. Aquelas empresas ou produtores que tomaram
tais bens como insumo, por sua vez, os transformam, enviando o resultado a outras empresas
ou ao mercado final, etc. Esta interação contínua entre os diferentes ramos, os produtos e o
consumidor pessoal expressam a complexidade do processo produtivo, o grau crescente da
divisão social do trabalho, em que pode surgir novas atividades e produtos, correspondendo a
novas necessidades. Nesse sentido, as possibilidades de produção de uma unidade produtiva
ou empresa são condicionadas pela produção paralela a ela destinada de meios de produção,
por outras empresas ou unidades produtivas.
O movimento contínuo dos homens para produzir, manter e expandir o processo de
produção costuma chamar-se processo de reprodução. Ambas, produção e reprodução
expressam o caráter social do esforço das diferentes comunidades ou sociedades para garantir
sua existência num ambiente favorável ou hostil. Tal atividade coletiva não pode ser explicada
nos termos das ações dos indivíduos, mas no seu aspecto de todo social.
Tem-se assim que, em cada formação econômico-social, tanto se reproduzem as
forças produtivas do modo dominante, como se reproduzem suas relações de produção
próprias. Reproduzem-se pois, os meios de produção, os artigos de uso e consumo, e as
relações, adequadas à formação em caso, de produção.
Nas condições do modo capitalista, reproduzem-se as relações sociais de produção
adequadas ao capital, relações que asseguram a exploração continuada do trabalho pelo
capital. Nestas condições, todas as formas mortas ou reunidas de trabalho social prévio, ou
seja, os instrumentos de trabalho, as matérias primas e os diversos materiais produtivos,
assumem a forma específica de capital. Daí que o capitalista, ao comandar o processo de
produção, tem por objetivo obter a mais-valia, através de que se pode perpetuar o capital.
Semelhante capital,através do processo de produção, comanda o próprio capitalista. Este não
pode fugir às necessidades de reprodução do capital, ou deixará individualmente de ser seu
funcionário. Em cada região, em cada país capitalista, dá-se a reprodução social como uma
reprodução do capital global, que legalmente pertence à classe dos capitalistas.
A observação histórica indica três tipos de reprodução social: (a) simples; (b) restrita;
(c) ampliada. Estas formas de reprodução não tem sido exclusivas da sociedade capitalista,
embora as proporções e o sentido de cada qual difiram completamente das sociedades pré-
capitalistas, para a sociedade capitalista. Por reprodução simples, entende-se aquele caso em
que o capitalista utiliza toda a mais-valia obtida para seu próximo consumo. Nela não se
alteram pois as condições de produção para o próximo movimento produtivo. Por reprodução
restrita, compreende-se que o capitalista vê-se obrigado a reduzir a capacidade produtiva que
existia no movimento produtivo anterior, apropriando-se pois de menos mais-valia. Por
reprodução ampliada, tem-se a idéia de que o capitalista guardou uma parte da mais-valia

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obtida no movimento produtivo anterior (poupança), para ampliar a capacidade produtiva no
movimento de produção seguinte.
Nas formações pré-capitalistas dava-se com maior freqüência a reprodução simples.
Em condições desfavoráveis (crises, guerras, clima adverso, etc.) tal reprodução podia tornar-
se incompleta, ou ocorrer uma reprodução restrita. Por isso, a economia, pré-capitalista estava
subordinada a fortes flutuações. Em períodos de transformação, dava-se a reprodução
ampliada. Nas formações econômicas sociais do modo capitalista, a tendência é para o
predomínio da reprodução ampliada. O capital precisa reproduzir-se aí sem cessar. Esse
processo é interrompido periodicamente pelas crises econômicas, para que o capital volte a se
reproduzir. No caso da reprodução capitalista simples, a mais-valia criada pelos operários
assalariados, é objeto do consumo pessoal dos capitalistas, retomando-se pois o processo de
produção no movimento seguinte em escala que não variou.
O consumo pessoal dos capitalistas compreende a despesa com meios de
subsistência, como alimentos, calçados, roupa, etc. e outros bens, que vão de necessidades a
supérfluos, como veículos, combustível para os mesmos, manutenção de palacetes, chácaras,
variada criadagem, títulos de clubes e sociedades esportivas, entesouramento de obras de
arte, títulos de mercado, etc. A mais-valia assim destinada ao consumo pessoal, mesmo com
despesas emblemáticas, não se transforma em capital suplementar. Portanto, o montante do
capital produtivo permanece invariável.
No sistema colonial do imperialismo, dado a certos traços da divisão internacional do
trabalho, há uma tendência da burguesia periférica para reprodução simples nas regiões sob
sua dominação. Tal burguesia local prefere investir no movimento seguinte reprodutivo das
metrópoles, do que em sua própria localidade. Gallo Plaza, grande proprietário no Equador, à
época, chamou a atenção que, em 1949, a América Latina possuía – através de seus
capitalistas – ativos de investimento nas metrópoles proporcionais ao seu PIB. Então, o PIB da
América Latina correspondia a 32% do PIB da Europa Ocidental; hoje corresponde a apenas
10%. Uma revista do FMI chamava a atenção em 1992, que os capitalistas brasileiros
possuíam depósitos em suas contas bancárias nas metrópoles, com valor superior à dívida
externa do Brasil. A revista sugeria ao governo brasileiro trocar tais depósitos pela dívida e dar
títulos domésticos do governo a tais capitalistas.
A análise da reprodução simples permite que se vejam os traços próprios das
relações capitalistas de reprodução. Nem sempre os capitalistas tem o interesse de ampliar a
produção. Pelo exame do ato de compra-e-venda da força de trabalho, vê-se que o capital
variável desempenha o papel de valor que o capitalista antecipa por conta de seu fundo
próprio. O operário, quando é contratado, trabalha para o capitalista por trinta dias para ir
receber o seu salário em até quarenta dias. Desta forma, ele recebe o salário desde o lucro
obtido com as próprias mercadorias que ajudou a produzir, havendo adiantado a sua força de
trabalho ao capitalista. O operário é assim credor diante do capitalista. No entanto, uma vez
que o capitalista paga de seu caixa ao operário o salário devido, cria-se a falsa aparência de
que o capitalista é um credor que efetua desembolso verdadeiro, sendo o operário seu

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devedor. De fato, os verdadeiros capitalistas raramente trabalham com seu próprio dinheiro.
Eles o tomam emprestado de outros, embutindo os juros no custo das mercadorias; eles o
tomam dos bancos públicos; eles o tomam do abatimento de seus impostos etc.
Em geral, o que ocorre é que o operário empresta dinheiro ao capitalista, através da
força de trabalho cedida em adiantamento e dos impostos pagos, de que o operário raramente
beneficia. Ou seja, o capitalista acumula não apenas aquilo que ele deixa de pagar ao operário,
mas também aquilo que o operário recebe.
A totalidade do ato de compra-e-venda da força de trabalho só pode ser
compreendida por aquele que o examina como fenômeno de constante repetição, atos
sistemáticos, e não como um ato único e isolado. Torna-se então evidente que o capital
variável é uma forma histórica particular que assume o fundo de meios de subsistência dos
operários. Ao deixar de se manter por conta própria enquanto produtor individual, o operário,
ao vender sua força de trabalho ao capitalista, é responsável por sua própria reprodução. Do
valor recém-criado, o operário há de receber apenas o valor de mercado de sua força de
trabalho, que ele utiliza para comprar à classe capitalista os elementos de sustento que o
conjunto dos operários produziu.
Na medida em que o produto da força de trabalho do operário dele se afasta, sob a
forma de mercadoria e, logo, de capital, o fundo de trabalho criado pelo próprio operário a ele
se torna disponível, sob a forma de meios de pagamento. Como observou Fourier, o salário
mede o processo de empobrecimento do operário. Ele, uma vez assalariado, deve vender
constantemente sua força de trabalho ao capitalista, para poder adquirir com regularidade os
meios de subsistência. Daí que a reprodução do capital signifique a reprodução da força de
trabalho como mercadoria. Tal constitui a base das relações capitalistas de produção. Não há
acrescentamento do capital sem exploração do trabalho.
A análise da reprodução capitalista simples oferece uma informação a mais. Com a
repetição do processo de reprodução em proporções invariáveis, converte-se, no transcurso de
um certo período, todo valor inicialmente antecipado em capital acumulado ou mais-valia
capitalizada, qualquer que seja a sua origem. Esta é a explicação do por que a burguesia pode
sobreviver sem a reprodução ampliada (mas a sociedade não). Portanto, quando ocorre a
situação histórica da revolução socialista, os operários e seu movimento social se reapropriam
do fundo de trabalho sob a forma de capital acumulado.
Admita-se um capitalista que inicia suas atividades com cem mil reais. Ao organizar
dada produção com este montante de dinheiro, ela lhe rende anualmente uma mais valia de
vinte mil reais. Se este capitalista gastar em consumo pessoal vinte mil reais a cada ano, ele
haverá de gastar cem mil reais em cinco anos. Contudo, o fundo do capitalista não
desaparecerá, porque foi em todo reconstituído pela mais valia anual de vinte mil reais, em
cinco anos. O que explica que a riqueza gasta, em lugar de desaparecer, foi reproduzida? A
exploração dos operários, que geraram os vinte mil reais de mais valia anual.
Isso explica porque mesmo na situação da reprodução simples as burguesias
semicolonias mantêm – e até um pouco expandem – a sua riqueza. Este também tem sido o

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caso do Brasil nos anos 1982 – 2002. Vinte anos de estagnação, com uma burguesia
relativamente mais concentrada e rica.
A burguesia semicolonial, periférica, ou dependente, pode portanto como qualquer
outra forma da burguesia, subsistir em condições adversas, expandindo seu patrimônio pessoal
e explorando produtiva e improdutivamente os trabalhadores. O fundamento dessa
perpetuidade de sua riqueza é a continuidade da produção e não – como se pode pensar – a
contínua expansão da mesma. Nem só de reprodução ampliada vive a burguesia.
Durante a produção capitalista, o operário consome produtivamente em seu trabalho
meios de produção e os converte em produtos de valor superior àquele do capital antecipado.
Trata-se do consumo produtivo. Tal consumo do operário possui caráter duplo: (a) ele é
necessário apenas ao capitalista; (b) ele é necessário apenas ao operário. O consumo
produtivo no processo de produção pelo operário (insumos) é necessário para assegurar ao
capitalista a produção de mercadorias, porque satisfaz à condição (a). No entanto, o consumo
individual do operário não constitui uma necessidade para o capitalista, o que satisfaz à
condição (b).O operário dispende o seu salário na compra dos produtos de uso e consumo que
necessita. Esse consumo individual do operário não é para o capitalista um fim em si mesmo.
Para o capitalista, o operário não é uma pessoa, cujos desejos e procuras tenham alguma
importância. Basta para o capitalista que o operário se apresente a cada turno de trabalho e
que tenha filhos, para que parte deles sejam operários assalariados no futuro. Se o operário
consumir o mínimo necessário à reposição de sua força de trabalho e gerar na produção o
lucro, com um gasto mínimo de capital antecipado, tudo estará a correr a contento. Para o
capitalista, havendo o operário consumido no limite do indispensável, convertendo-se todo o
demais em poupança capitalista ou consumo capitalista, é o quanto basta. O limite efetivo do
interesse do capitalista no consumo operário é o limite da reprodução da força de trabalho.
Com a crescente interação entre a técnica e a ciência, apesar de que apenas uma
parcela ínfima (vinte por cento) dos novos inventos sejam introduzidos no processo produtivo, a
tecnologia científica (e não apenas empírica) se converte em força produtiva. Por isso, a
reprodução da classe operária se tornou mais complexa, com o avanço da reprodução dos
conhecimentos científicos e técnicos. Hoje não se pode dispensar um grande número de anos
de escolaridade formal para a formação de operários gabaritados. O sistema educacional da
burguesia faz suas apostas em critérios discriminatórios, pelos quais apenas uma fração (no
Brasil vinte por cento) dos filhos dos trabalhadores tenham acesso ao ensino médio necessário.
A classe dominante aposta no aumento da diferença sócio econômica dos trabalhadores para
perpetuar-se no poder. A reprodução da classe operária associa hoje à (a) tradição de trabalho
sistemático, novas formas de (b) acúmulo de habilidade produtiva, sob o modo de (1)
qualificação técnica, (2) nível cultural geral, (3) capacidade organizativa, etc. Tais capacitações
franqueiam o velho limite entre o saber operário e o saber gerencial, reduzindo as
discriminações estabelecidas pelo poder patronal fabril. No entanto, em que pesem tais
mudanças, a posição social substancial dos trabalhadores como classe explorada não sofreu
qualquer variação. A evidência histórica indica que a elevação do padrão de vida de certas

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camadas de trabalhadores resulta da necessidade de a burguesia ceder, em parte diante da
luta e da unidade operária, lançando mão de políticas salariais diferenciadas, para sustentar a
heterogeneidade das camadas de trabalhadores e buscar mantê-las divididas.
Na óptica dos capitalistas, os operários constituem-se propriedades do capital, como
objetos inanimados. Para eles, o consumo individual dos operários é parte integrante da
produção capitalista, devendo dar-se ao mais baixo custo possível. Desprovidos dos meios de
produção, o operariado assalariado está preso por cadeias invisíveis como escravo disfarçado
da classe capitalista. O operário torna-se já propriedade do capital antes de vender sua força
de trabalho ao capitalista. Desta forma, a reprodução capitalista dá-se como uma reprodução
de (a) força de trabalho, (b) bens materiais e (c) de relações capitalistas de produção. Dentro
da sociedade, destacam-se de um lado o capitalista e do outro o operariado assalariado. Todas
as demais camadas societárias tendem a se aglutinar em torno desses dois pólos. O burguês
acresce a si a riqueza que tira do operário. É a percepção dessa dicotomia fundamental o
princípio que exige dos trabalhadores a sua organização independente enquanto classe, para
enfrentar a classe dos capitalistas.
O movimento de concentração e de centralização da produção capitalista organizou o
mundo em termos da divisão internacional do trabalho (D.I.T.), transformando um grupo de
países em (a) metrópoles; e dezenas de outros em (b) colônias, semicolônias e países
dependentes. As necessidades da concentração e da centralização se opõem assim, às
possibilidades de mudança na periferia do capital, criando uma contradição fundamental para o
sistema imperialista entre (1) as metrópoles e (2) os países subordinados. A pressão, nas
condições dos países periféricos, pela obtenção de massas cada vez maiores de mais-valia
não discrepa da ocorrência de pressão semelhante contra os trabalhadores nas metrópoles.
Contudo, as condições políticas das metrópoles muitas vezes impedem que se faça nelas o
mesmo grau ou conjunto de medidas de exploração que se podem aplicar nas semicolônias e
países dependentes. O sistema imperialista pode correr o risco de transferir as crises para a
periferia, mas não pode permitir a sua permanência persistente nas metrópoles.
Isto explica porque nas condições atuais do sistema capitalista as dificuldades sejam
sistematicamente descarregadas nos países periféricos, sob a forma tripla da exploração: (I)
comércio desigual; (II) endividamento crescente; (III) exportação de divisão de trabalho
inadequada. O movimento de concentração e de centralização da produção, do capital e de
toda riqueza contrasta com seus resultados na periferia, quais sejam, (a) a crescente
imiseração, (b) a expansão brutal da sobrepopulação relativa e (c) a fraca ampliação do capital
produtivo local.
A reprodução capitalista ampliada difere da reprodução capitalista simples. Nela, dá-
se um acréscimo sistemático de certa parte da mais-valia ao capital aplicado, com a compra de
meios de produção suplementares e a contratação de força de trabalho suplementar. A mais-
valia investida como capital – como retorno a capital da mais-valia – constitui a acumulação de
capital.

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A necessidade política de sobrevivência das burguesias metropolitanas no afã de
reduzir a influência das organizações e da ideologia proletária, nas condições da então
presença soviética, levou tais burguesias à política de bem estar social, através da qual uma
parte da mais-valia arrancada a seus trabalhadores e suas colônias via-se canalizada para
melhorar as condições de vida dos trabalhadores metropolitanos. No entanto, este
“amaciamento” político da burguesia em sua “casa”, a leva a uma exploração cada vez mais
intensa nos paises dependentes e semicoloniais, para compensar da mais-valia em parte
cedida para os trabalhadores da metrópole.
Por conseguinte, refeitas as forças produtivas do capital nas metrópoles, no pós-
guerra (1945-1962), as burguesias metropolitanas, sob o comando do grande capital, viram-se
compelidas a reforçar a divisão internacional do trabalho, com bloqueio da reprodução
produtiva na periferia, barateamento da produção periférica no comércio mundial, etc. Disso
decorreu o colapso da industrialização na periferia e uma redução física da sua classe operária
da ordem de 30%, reforçando-se sua sobrepopulação relativa.
A teoria da acumulação, constituída a partir da análise da formação da mais-valia,
demonstra como o capital se forma desde a apropriação da mais- valia. A reprodução
ampliada, seja do capital em seu conjunto, seja do capital individual, pode dar-se sob as
condições que seguem, considerando-se invariável a produtividade do trabalho: (a) meios de
produção suplementares; (b) meios de subsistência suplementares; e (c) a quantidade
necessária de mão-de-obra disponível. Portanto, a presença exclusiva do elemento (c), ou seja,
força de trabalho disponível, não garante por si só a reprodução ampliada. É necessário a
combinação dos três elementos para que se dêem as condições necessárias às mesmas.
Conforme a maneira como se obtém a produção suplementar, a acumulação diz-se:
(a) extensiva – nela se dá um aumento quantitativo da produção suplementar, proporcional ao
capital dispendido; (b) intensiva – aqui o modo de acumulação usa de maneira mais eficaz os
elementos disponíveis; e (c) a acumulação progressiva – considerada própria da fase
imperialista, esta forma exporta capitais para a periferia e combina isto com a acumulação
intensiva nas metrópoles.
Na condição de que existam meios de produção indispensáveis para ampliar o
produto, sendo invariável a técnica, ao lado de também existentes meios de subsistência
suplementares, dando-se contudo falta da mão-de-obra disponível; então, nesse caso, o novo
capital não teria como funcionar e o volume do produto tampouco aumentaria. Exigem-se
portanto, as três condições como ponto de partida da reprodução ampliada. Os capitalistas
procuram precaver-se da concorrência e da falta da mão-de-obra disponível, assegurando-se
de: (1) maior quantidade de máquinas (trabalho morto); (2) maior exército industrial de reserva;
(3) salários mais baixos.
Com vistas a obter a reprodução ampliada, uma parte do produto excedente deve ser
conseguida sob a forma de insumos, artigos de uso e consumo para operários que se venham
a contratar suplementarmente, etc.

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O movimento da reprodução simples até aquela reprodução ampliada vê-se
acompanhado de mudanças marcantes na reprodução do capital. O novo capital criado, ao
nascer da mais-valia, corresponde com ela à apropriação de trabalho alheio não-remunerado.
O capitalista aproveita tal trabalho materializado não-pago, que se constitue um
empobrecimento dos operários a seu serviço, para explorá-los adicionalmente, obtendo mais
trabalho vivo acrescentado e não-retribuído. Desta maneira, até a mais leve aparência de que o
capitalista houvesse adiantado fundos ao operário se desvanece.
Vê-se pois que é condição indispensável para a conversão da mais-valia em capital a
compra e venda da força de trabalho. Esta se dá sob a forma da troca equivalente de valores.
Ou seja, a igualdade formal entre o capitalista e o operário, como proprietários de mercadorias
que efetuam uma transação, é uma maneira que oculta a verdadeira relação. Na realidade, o
capitalista, ao comprar a força de trabalho, troca o trabalho materializado não-pago, de que se
apropriou antes, por uma nova quantidade de trabalho vivo alheio.
Pela vontade exclusiva do capitalista, deve ser enviado às atividades produtivas, o
maior número possível de trabalhadores, para assegurar a apropriação máxima em quantidade
de trabalho vivo. No entanto, este limite da compra de força de trabalho é logo estabelecido por
elementos externos à vontade de ganho do capitalista: (1) o parque existente de máquinas e a
racionalidade da fábrica impõem um primeiro limite; (2) a quantidade de mercadorias que pode
efetivamente ser vendida impõe um segundo limite; (3) a concorrência de outras produções,
significa um terceiro limite; (4) o constante aumento da produtividade do trabalho, constitui-se
um quarto limite etc. Nessas condições, o capitalista aprende que os trabalhadores cujo
trabalho vivo não pode ser apropriado devem ser mantidos à sua disposição, como uma
reserva.
Na sociedade capitalista a forma exterior da tendência de troca de equivalentes se
manifesta também para a mercadoria força de trabalho, apresentando-se como seu contrário,
ou seja, a tendência da apropriação capitalista. Isto se evidencia no fato de que todo o produto
do trabalho do operário pertence ao capitalista. No valor do produto incorpora-se também a
mais-valia criada pelo trabalho do operário, que nada custou ao capitalista. O capital amplia o
montante da mais-valia apropriada mediante diversos fatores e não apenas a contratação de
trabalhadores produtivos.
Com a periódica reorganização e transformação técnica da produção, os capitalistas
visam aumentar o grau de exploração da força de trabalho, elevar a taxa de mais-valia
extraída. Durante a aplicação da força de trabalho contratada, o capitalista (1) reduz o tempo
de trabalho necessário; (2) intensifica o consumo de trabalho vivo por unidade de tempo de
trabalho; e (3) alonga tanto quanto possível a jornada de trabalho. Através da elevação do
capital constante a cada ciclo da produção, o capitalista busca ampliar a taxa de mais-valia.
m‘ = m / v x 100

onde:
m’ = taxa de mais-valia;
m = mais-valia

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v = capital variável
Recorde-se que na sociedade mercantil simples, o fundamento da propriedade
privada é o trabalho pessoal do produtor. O produtor simples de mercadorias lança mão de
produzir com ferramentas simples, por ele fabricadas ou compradas pessoalmente, no
mercado. Ao produzir seus produtos e vende-los como mercadorias, neles não há mais-valia.
Ao trocar ou vender suas mercadorias a outro produtor simples, dá-se um intercâmbio de
equivalentes, de valores iguais, na forma e no conteúdo, abstraindo-se as flutuações de
preços. Na produção mercantil simples, a desigualdade se estabelecerá mais tarde, nas trocas;
pela incorporação do trabalho dos aprendizes e meio-oficiais; que serão explorados por alguns
dos antigos produtores simples. Na extensão em que as relações mercantis se convertem em
relações capitalistas, avança a lei do valor, em sua conexão com a vigência da lei da mais-
valia.
Tem-se portanto, como traço da reprodução capitalista ampliada que ela consiste em:
(a) uma reprodução de bens materiais; (b) uma reprodução de força de trabalho; (c) uma
reprodução de relações capitalistas de produção. Isso se dá, é óbvio, em proporções
crescentes. A massa de valores (de troca) e de valores de uso vê-se acrescentada, no
montante em mãos dos capitalistas. Aumenta assim, o número de operários na situação da
produção capitalista, condenada a enriquecer a classe dos capitalistas.

Divisão da mais-valia em capital e renda

Assim, nas condições da reprodução ampliada, o capitalista cria, ao lado do seu


fundo de consumo, um fundo de acumulação. O capitalista dispende uma parte da mais-valia
como renda; sendo a outra investida como capital, ou acumulada. No caso da mais valia que se
acumula, será dispendida como (a) compra de meios suplementares de produção e (b)
contratação de mais força de trabalho. Ou seja, o fundo de acumulação se distribui sempre em
capital constante e capital variável.
Veja-se o exemplo clássico de um montante de capital, em que sua parte constante
(c), com relação à sua parte variável (v), seja na proporção de 2:1, com a quota anual de mais-
valia de 100%. Este capital se acrescenta, por exemplo, no período de três anos, dadas
invariáveis seja a quota de mais-valia, seja a proporção entre c e v; caso se destine 60% da
mais-valia anual ao fundo de acumulação.

I ano: 200.000 c + 100.000 v + 100.000 p = 400.000


II ano: 260.000 c + 130.000 v + 130.000 p = 520.000
III ano: 332.000 c + 166.000 v + 166.000 p = 664.000

A massa de capital cresce no primeiro para o segundo ano em 30%, ampliando do


segundo para o terceiro em 27,8%. Este acrescentamento se dá por conta da mais valia (p)
amealhada, do efeito daquela parte dela reinvestida na produção. Admita-se diferentemente

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que toda a mais-valia obtida não fosse aplicada, mas dividida entre um fundo de consumo do
capitalista e um fundo de acumulação. Neste segundo caso, mais parecido com a realidade,
40% da mais-valia anual seria aplicada na produção. Então ter-se-ia:

I ano: 200.000 c + 100.000 v + 100.000 p = 400.000


II ano: 240.000 c + 120.000 v + 120.000 p = 480.000
III ano: 288.000 c + 144.000 v + 144.000 p = 576.000

Ter-se-ia desta feita, um acréscimo do montante de capital do primeiro para o


segundo ano de 20%; e do segundo para o terceiro, da ordem de 20%. Daí ser compreensível
o esforço do capitalista para reduzir o montante do capital variável (v), intensificando o trabalho
e aumentando a massa respectiva de mais-valia, relativamente ao capital empregado.
Este exemplo deixa bastante claro que quanto menos o capitalista gastar em salários,
mantendo ou aumentando a produção, mais aumenta a mais-valia obtida. Daí sua preferência
pelo aumento da composição orgânica do capital, em que se eleva a intensidade de consumo
de trabalho vivo no mesmo tempo de trabalho.
Entende-se, portanto, que as prioridades para o capitalista, a partir de certo nível da
produção, sejam: (1) introduzir mudança técnica, com instrumentos poupadores de mão-de-
obra; (2) reduzir os salários individuais e, se possível, a massa salarial; e (3) manter ou ampliar
a grandeza do exército industrial de reserva, que força os preços da força de trabalho para
baixo.
A exploração dos operários dentro e fora do processo produtivo capitalista não é,
portanto, algo imaginado por intelectuais e sindicalistas, mas uma necessidade da competição
entre os capitalistas, da conservação e do acrescentamento do capital. As chamadas leis do
modo capitalista de produção se estabelecem fora das vontades pessoais, como leis exteriores
forçosas engendradas pelas relações e formas da produção. Cada capitalista individual e o
sistema como um todo devem adaptar-se às suas imposições, sob pena da própria extinção.
Uma pequena redução na quantidade de trabalho necessário para a reprodução da
força de trabalho aumenta enormemente a taxa de mais-valia. Recorde-se que os
trabalhadores são pagos não pela quantidade de trabalho que incorporam à produção, mas
pelo valor da força de trabalho.
Este valor é o valor dos meios de existência necessários para reprodução da força de trabalho.

m’ = m x 100 = sobretrabalho x 100


v trabalho necessário

Imagine-se dois momentos, (A) e (B), no processo produtivo de uma mesma fábrica,
ou unidade de produção. As condições técnicas, ou o capital constante e os procedimentos
produtivos mantêm-se os mesmos; em (A), não se altera a quantidade de trabalho necessário,
mas em (B), sim.

10
(A) = 70 = 1.75 x 100 = 175
40

(B) = 70 = 2.33 x 100 = 233


30

Vê-se que, com um decréscimo de 25% no trabalho necessário (30 : 40 = 0,75),


ocorreu um aumento na taxa de mais valia de 133%.
A análise do processo de apropriação da mais-valia elimina os conceitos vulgares
com que os ideólogos do capital costumam interpretar a poupança capitalista, em termos de
“abstenção”, “sacrifício”, “recusa a consumir” etc. Na verdade, a única poupança que importa
para o acrescentamento do capital é a de que o capitalista proteja-se mesmo da competição,
investindo parte da mais-valia grátis através de um fundo de acumulação. Desde que o
capitalista assalarie operários produtivos, o aumento de sua riqueza está automaticamente
assegurado pela venda das mercadorias produzidas e por ele apropriadas.
Apesar do esforço de embelezamento da exploração capitalista levado a cabo por
verdadeiro exército de escrivinhadores nas universidades e na mídia, não há como esconder a
intensidade e as variadas formas da exploração capitalista e do acrescentamento do capital
através delas. Os capitalistas utilizam um grande número de procedimentos para ampliar a
massa de mais-valia e assegurar depois sua efetivação através da venda das mercadorias. Por
exemplo: (1) não repassar para os trabalhadores e os consumidores os aumentos da
produtividade do trabalho; (2) pagar salários abaixo do preço de mercado da força de trabalho;
(3) desvalorizar a força de trabalho através de sua contínua substituição; (4) intensificar cada
vez mais o ritmo de trabalho; (5) reduzir o valor dos meios de existência do operário; (6)
rebaixar o nível de vida relativo do operário; (7) introduzir equipamentos que elevam o
sobretrabalho do operário; (8) organizar a perda dos direitos sociais do trabalhador etc.
As políticas sistemáticas de imiseração do operário, elaboradas e defendidas na
ordem social e política pelos representantes patronais, faz-se acompanhar de medidas
internacionais de espoliação, baseadas na: (1) troca desigual; (2) desequilíbrio dos fluxos de
capital; e (3) terrorismo guerreiro e policial das metrópoles. Os inexplicados acontecimentos
das “torres gêmeas” e outros episódios em torno do 11 de setembro, tem servido de pretexto
para grosseiras agressões imperialistas, particularmente na esfera comercial, onde os
interesses das metrópoles não podem ser contestados. Desafiando a lei da oferta e da procura,
os insumos e produtos comprados pelas metrópoles obtém remunerações insignificantes, como
o petróleo, o papel, os gêneros tropicais etc. No entanto, os seus produtos industriais, contendo
cada vez matérias ou insumos mais pobres e menores quantidades de trabalho vivo,
expressam preços relativos sempre mais elevados. A política oligopolista tem assim uma
necessidade premente de violar o fundamento da lei da oferta e da procura.
Diversas são as proporções que podem se dar entre o fundo de acumulação e o
fundo de consumo pessoal do capitalista. Qualquer proporção dada, o montante do fundo de
acumulação depende de vários fatores: (1) grau de exploração da força de trabalho; (2) grau

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de elevação da força produtiva do trabalho; e (3) a diferença entre o capital utilizado e o capital
consumido.
(1) Grau de exploração da força de trabalho. – As formas mais comuns são a ampliação da
jornada e a intensificação do ritmo do trabalho. A ampliação da jornada simplifica para o
capitalista a exploração do operário, porque um grande número de produção adicional pode ser
distribuída para ser feita pelos mesmo operários, evitando a contratação de outros. Há perdas
para a intensidade de compra de força de trabalho, para a elevação de custos trabalhistas etc.
O prolongamento da jornada de trabalho gera mais-valia absoluta. Quanto à intensificação do
trabalho, ela é obtida tanto pelo prolongamento da jornada, como pela diversificação da
atividade do operário. É comum, por exemplo, no “toyotismo”, a atribuição operativa de até
quatro máquinas para o mesmo assalariado. Nesse caso, a mais-valia relativa obtida pela
redução do tempo de trabalho necessário, torna-se enorme. Há indicações de que o salário
corresponde aí a cerca de 15% da mais-valia criada.
Este aumento da mais-valia incrementa a acumulação, sem ampliar de modo
correspondente o capital constante. Os meios de trabalho (prédios, máquinas etc.) são feitos
para trabalhar 100% do tempo de sua existência. Empregam-se, pois, no mesmo volume que
antes, crescendo apenas os gastos de matéria prima, insumos diversos e, com horas extras, os
salários.
Uma das táticas favoritas dos capitalistas para extremar o grau de exploração dos
operários é obter a diminuição de seus salários por baixo do valor de sua força de trabalho.
Desse modo, o fundo indispensável de consumo pessoal do operário se converte na prática em
parte do fundo de acumulação do capital. Em muitos países, o limite mínimo do preço da força
de trabalho no mercado é fixado institucionalmente sob o nome de “salário mínimo”. O salário
mínimo instituído por Vargas há mais de sessenta anos corresponderia hoje a mais de 2,5
salários mínimos vigentes.
À proporção que cresce a sobrepopulação relativa em todas as suas formas
(flutuante, latente, estancada, lumpen etc.) como contraparte do aumento da acumulação de
capital, o salário mínimo tende historicamente a decrescer, em termos reais.
Nas metrópoles capitalistas, devido ao grau elevado (1) da produtividade do trabalho
e (2) da mais-valia arrancada das colônias, etc, certas camadas de trabalhadores recebem
salários reais crescentes ou estáveis, constituindo-se uma “aristocracia operária”. Seria ilusório,
contudo, supor que a existência de tais camadas menos exploradas se deva a outros fatores
que sua combatividade na luta econômica e a necessidade estratégica que os capitalistas tem
de obter o seu apoio e dividir a classe operária.
O segredo do capital consiste, portanto, em que a parte da mais-valia que se acumula
aciona tanto mais trabalho vivo quanto mais baixo seja o nível de vida dos trabalhadores. Com
a força de trabalho mais barata, uma mesma quantidade de dinheiro permite ao capitalista
contratar um número maior de operários. Por isso, é mais importante para os capitalistas baixar
o nível de vida dos operários do que confiar em sua potencialidade de compra como
consumidores. Todas as reformas ao longo da história que melhoraram o nível de vida dos

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trabalhadores resultaram da própria luta econômica dos operários, em aliança às vezes com
outros setores sociais. O limite do capitalista é o extermínio físico do operário. Qualquer outro
limite acima deste só é imposto pelas lutas econômicas ou políticas dos trabalhadores. Baixar o
nível de vida da classe operária, ampliar o exército industrial de reserva, são dois traços
essenciais da lei de acumulação capitalista.
(2) Elevação da força produtiva do trabalho. – O crescimento da acumulação capitalista
depende da elevação da força produtiva do trabalho. As novas máquinas ou instrumentos de
trabalho combinam os avanços técnico-científicos com a experiência produtiva dos operários,
produzindo-se relações operacionais cada vez mais complexas e eficientes. O aumento da
produtividade do trabalho acarreta como resultado o barateamento do custo da força de
trabalho. Diminui o tempo de trabalho necessário à reprodução do operário e aumenta a
quantidade de mais-valia produzida no tempo não-pago. Desta forma, o consumo pessoal do
capitalista pode aumentar, sem que haja aumento correspondente do fundo de seu consumo
pessoal. Uma vez que o valor dos meios de consumo e dos artigos de luxo diminui, com o
crescimento da produtividade do trabalho, pode aumentar o consumo pessoal do capitalista.
A elevação da produtividade do trabalho, mesmo que se origine em um ramo isolado,
em breve será estendida ao conjunto da produção capitalista. Nesse processo, eleva-se
também a produtividade do trabalho nos ramos que produzem meios de produção, com
conseqüente diminuição do valor das máquinas, das matérias primas e outros insumos.
Portanto, com uma massa invariada de capital constante pode-se agora obter uma quantidade
maior de meios de produção do que no movimento anterior, e empregá-los para aproveitar uma
quantidade maior de força de trabalho, obtendo assim uma massa de mais valia maior que
antes. Daí que possa crescer a acumulação, com a manutenção ou diminuição do valor dos
componentes do capital suplementar, que foram criados pelo trabalho mais produtivo.
Assim, a elevação da produtividade do trabalho influi seja sobre a formação do capital
novo, suplementar, seja sobre o capital inicial, no processo de produção. Também o capital
aplicado se aperfeiçoa constantemente, sob requisições de uma força de trabalho mais
produtiva. Irá ele em seguida ser substituído por máquinas e equipamentos mais eficazes e
relativamente mais baratos, acelerando a taxa de acumulação.
Ora, a aceleração da taxa de acumulação leva, em toda conseqüência, ao
antagonismo entre o capital acumulado e a possibilidade que este detém de aplicar-se de
modo lucrativo.
Em combinação com o progresso técnico-científico, a elevação da produtividade do
trabalho acarreta a utilização de maiores meios de produção, com uma transferência de massa
maior de valor velho ao novo produto. Desta forma, o trabalho vivo, ao criar novo valor,
conserva por sua vez nos novos produtos o valor capital, que constantemente se acrescenta.
(3) Diferença entre capital empregado e consumido. – A acumulação de capital depende da
diferença que se forma entre o capital empregado e aquela parte do capital que é consumida.
Há um valor constituinte dos meios de trabalho. Tal valor encerrado na parte fixa do capital
constante transfere-se apenas gradualmente ao novo produto. Assim, utilizados os meios de

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trabalho por completo no processo de produção, perdem eles seu valor apenas
paulatinamente, restando ao capitalista um serviço quase gratuito. Uma parte do valor das
máquinas e equipamentos soma-se, em expressão média, a cada dia, ao produto fabricado. A
partir de um certo ponto, sendo mínimo o valor que tais máquinas transferem ao produto, seu
rendimento se aproxima àquele das forças naturais, como o calor solar ou uma queda d’água.
Assim, a diferença entre o capital empregado e o capital consumido permite ao
capitalista aumentar a base de exploração, sem gastos complementares a lançar no fundo
direto de acumulação, ou seja, da mais-valia para este fim reservada.
Existe uma diferença entre a amortização de um equipamento e seu prazo produtivo
de vida. O capitalista em geral utiliza como prazo para amortização, um período um pouco
menor daquele em que ele prevê seja o referido equipamento tornado moralmente obsoleto
pela concorrência. Na verdade, as máquinas e equipamentos são produzidos para trabalho
integral, pesado e ininterrupto. Nesse sentido, vivem muito mais produtivamente que o ciclo
para eles previsto.
Considere-se o exemplo clássico do capitalista que emprega cem máquinas em sua
fábrica com prazo de amortização de dez anos. Em cinco anos, haver-se-á consumido a
metade do capital empregado sob a forma de tais máquinas. No entanto, seria fácil verificar
que as máquinas continuam trabalhando tão bem como no primeiro mês de uso. Com os
descontos feitos e acumulados na conta de amortização, o capitalista poderá comprar outras
cinqüenta máquinas e aumentará assim o capital aplicado praticamente em 50%.
Ao aumentar a diferença entre o capital empregado e o capital consumido,
acumulam-se os serviços gratuitos do trabalho pretérito. O trabalho passado, incorporado sob a
forma de saber-fazer no procedimento das máquinas, tem uma participação cada vez maior –
sob a forma de meios de produção – em sua colaboração com o processo vivo do trabalho. A
tecnologia empregada, ou seja, a encarnação econômica do trabalho passado alienado ao
próprio operário, reintroduzida como forma nova no processo produtivo, eleva a eficiência do
trabalho vivo, para reencarnar-se como coisa alheia no capital. Assim, o trabalho passado
cristalizado e não retribuído retorna sob a forma de máquinas e procedimentos produtivos para
ampliar novas não-retribuições à participação da força de trabalho.
Quanto maior seja a parte do capital constante que se tornou materializada nos meios
de trabalho, tanto mais considerável será a diferença entre o capital empregado e o capital
consumido; tanto maiores serão aí as possibilidades de acumulação.
Compreende-se, portanto, que o amplo uso do capital constante e, por
implicação, também do capital fixo, faz com que esta parte do valor do produto destinada a
repor o desgaste do capital fixo ofereça um fundo de acumulação que o capitalista pode utilizar
como capital fixo ou como capital circulante. Isto em nada altera a situação da mais-valia já
obtida e reservada como fundo de acumulação. No entanto, aquele fundo adicional, novo, de
acumulação, não é comum em fases de produção ou em países sem grandes montantes de
capital fixo. Mas o papel deste fundo adicional é importante como fonte de financiamento dos
capitalistas.

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(4) Proporções da acumulação no montante do capital aplicado. – No montante do capital
aplicado, é possível que existam diferentes graus na proporção dele com a força de trabalho.
Considerando-se igual o grau de exploração, a massa de mais valia possível de ser obtida
depende das proporções entre: (a) o número de operários que se exploram, e (b) da estrutura e
montante do capital aplicado. Dependendo desta relação, a acumulação cresce à medida que
se acrescenta o capital.

Composição orgânica do capital

O capital tem uma existência dupla pois ele se expressa como uma forma física,
material, e como valor. Por esta razão, deve-se examinar a composição do capital em ambos
os aspectos. O capital expresso em sua forma física e material compreende certa quantidade
de meios de produção, como máquinas, edifícios, equipamentos, insumos etc; e um
determinado número de operários ocupados. Há diferentes proporções possíveis entre a: (1)
quantidade de meios de produção; e (2) o número de operários ocupados. A proporção
depende do nível do desenvolvimento da técnica de produção e das particularidades de cada
ramo produtivo.
Denomina-se composição técnica do capital a proporção entre a quantidade de meios
de produção e o número de operários ocupados em acioná-los. Com a disponibilidade do
avanço técnico dos processos produtivos, cresceu a parte do capital que se inverte em meios
de produção. Desse modo, elevou-se a quantidade de máquinas, energia mecânica, outros
insumos, etc, para cada operário colocado na produção. Ou seja, cresceu a composição
técnica do capital, apesar de uma relativa redução na quantidade de insumos por produto.
O valor do capital aplicado na produção divide-se em: (a) valor dos meios de
produção (capital constante) e (b) valor da força de trabalho (capital variável). Chama-se
composição do capital expressa em valor à proporção entre o capital constante e o capital
variável.
Existe interdependência entre a composição técnica do capital e sua composição
expressa em valor. As variações na composição técnica do capital associam-se às variações
da composição do capital expressa em valor. Chama-se composição orgânica do capital à
proporção entre o capital constante (c) e o capital variável (v).

c
v

Esta proporção também chamada composição do capital expressa em valor, é


determinada por sua composição técnica, refletindo nela as variações. Se as variações da
composição do capital expressa em valor se devem ao emprego de matérias primas ou
insumos mais custosos; a flutuações temporais dos preços dessas ou da força do trabalho; -
mas não se devem à mudança técnica da produção - ; então, não hão de afetar a composição

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orgânica do capital. Veja-se um exemplo clássico de investimentos de capital em uma empresa
têxtil. Hipoteticamente consta de:
(A) Composição técnica:
- meios de produção:
edifício de 1500 m2
1 motor de 200 hp
500 teares
1.500 t de fio
- força de trabalho:
200 operários em 2 turnos
(B) Valor total dos gastos:
560 mil reais
desses: meios de produção: 480 mil reais
força de trabalho: 80 mil reais
(C) Composição de capital expressa em valor:

c = 480.000 = 6
v 80.000 1

Suponha-se que o fio utilizado na fábrica, que custava 40 reais a t, possa ser
substituído por um fio de qualidade superior, que custe 60 reais a t. Vê-se que a composição
do capital aplicado expressa em valor mudará neste caso; isso porque aumentam os gastos do
capital constante. Contudo, a composição orgânica do capital permanece invariável, na prática
(6,4/1 para antes 6/1).
Suponha-se que os antigos teares sejam substituídos por outros, semi-automáticos.
Nesse caso, o número de operários poderia cair de 200 para 100. As despesas agora na parte
variável do capital baixariam; na parte constante do capital, elevar-se-iam; os novos teares
custariam mais caro e processariam maior quantidade de fio. No entanto, o rendimento final
seria mais alto. As variações ocorridas na composição expressa do capital em valor, devidas à
elevação de sua composição técnica, trazem variações correlatas na composição orgânica do
capital.
Com o desenvolvimento das forças produtivas varia a composição técnica do capital e
sua composição expressa em valor. A variação da composição orgânica do capital caracteriza
as fases históricas do modo capitalista de produção. A composição orgânica do capital,
considerada em seu conjunto, tende a crescer na indústria e na agropecuária. A competição
entre as empresas, os oligopólios, o progresso técnico etc, levam ao crescimento do capital
constante. Como contraparte, a elevação necessária do nível técnico dos operários exige em
seu número uma percentagem crescente de engenheiros, aumentando os gastos com o capital
variável. Finalmente, a melhora no uso e na transformação de matérias primas e insumos tem
certo impacto redutor no custo desses matérias.

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A elevação da composição orgânica do capital se verifica no sistema imperialista de
hoje sob formas antagônicas em suas economias. A elevação constante do grau de exploração
dos operários acarreta periódicos decréscimos da mão-de-obra empregada na produção, o
aumento desmesurado do exército industrial de reserva e a piora em geral da situação da
classe trabalhadora. Ao mesmo tempo em que encolhe a sua extensão social e centraliza o
seus interesses econômicos, o sistema imperialista busca reconstruir em sua periferia formas
não-capitalistas de exploração, para que participem de sua divisão internacional do trabalho.
A elevação da procura por força de trabalho não leva a melhoria estável na situação
da classe operária. A classe operária continua a melhorar sua posição na pendente ascendente
do ciclo e a piorá-la na pendente descendente do mesmo, permanecendo relativamente no
mesmo patamar de qualidade de vida de antes, ou com uma relativa piora. Entrementes, os
capitalistas estão sempre procurando novos métodos para rebaixar o salário real dos
trabalhadores e empregar um número menor deles para a obtenção de um produto maior. O
crescimento da acumulação aumenta as proporções da exploração e o número dos explorados.
A elevação do preço da força de trabalho, com seu caráter passageiro, só pode ser obtida pelo
rebaixamento dos preços de matérias primas, insumos, produtos, aumento da sobrepopulação
relativa, e baixa do valor do trabalho de numerosos países e regiões.
A elevação da concorrência entre os capitalistas pela força de trabalho é limitada pela
margem de lucro esperada. O aumento dos salários ou da massa salarial, como resultado da
expansão da procura por trabalho, tem por limite a massa de mais valia obtida, que se
expressa em sua efetivação como margem de lucro obtida pela venda da mercadoria. Os
capitalistas não podem tolerar por muito tempo a redução do preço dos produtos finais, pois
tratam de reduzir a produção para elevar os preços. Eliminada a redução que se vinha
registrando na acumulação do capital, poderá ser uma vez mais retomada a procura por força
de trabalho. A queda dos salários propiciará novo aumento da mais-valia, assegurando a
reprodução ampliada da exploração capitalista.
O grau de heterogeneidade e as transformações que se dão na situação da classe
trabalhadora manifestam o processo de acumulação de capital. Uma acumulação sustentada
por um período histórico relativamente longo tende a uniformizar as camadas trabalhadoras
num diferencial de dois perfis; flutuações fortes na acumulação tendem a fragmentar as
camadas de trabalhadores e reforçar as diferenças ao longo de toda a classe. Nas condições
do sistema imperialista, as políticas oligopolistas tendem a reforçar a heterogeneidade da
classe trabalhadora na periferia do capital, mantendo certo grau de homogeneização no centro
do sistema.
As grandes empresas capitalistas, para assegurar sua posição no mercado, vêem-se
levadas a renovar periodicamente suas técnicas produtivas e organizativas. Valem-se pois do
incremento continuado da produtividade social do trabalho, repassando a seus trabalhadores e
consumidores de seus produtos o mínimo possível dos ganhos de redução dos custos. Desta
maneira, aumenta a acumulação de capital adicionalmente. O crescimento da composição
orgânica do capital assume assim uma preferência pelas técnicas poupadoras de mão-de-obra.

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A necessidade da expansão continuada do valor de troca leva o capitalista a privilegiar o
segundo tipo de circulação (D – M – D), não se interessando pelo primeiro tipo, mercadoria –
dinheiro – mercadoria (M – D – M).
A introdução continuada de novas técnicas em cada ciclo da reprodução capitalista
leva a um efeito de contágio transformador desde os ramos mais avançados até os mais à
retaguarda. Este “efeito de contaminação” pelas novas técnicas obriga os ramos mais atrás a
se adaptarem, aumentando-lhes também a produtividade e a lucratividade. Dessa forma, a
difusão da técnica entre os ramos tende a homogeneizar os ganhos do capital, facilitando-lhe a
circulação entre eles.
A luta dos capitalistas contra o movimento operário constitui-se uma das fontes da
expansão do capital constante, com emprego de novas máquinas, técnicas e procedimento. Os
capitalistas consideram importante reduzir tanto quanto possível o número de trabalhadores por
unidade fabril, o nível dos salários, etc. Para obter tais efeitos devem, pois, apoiar-se na
crescente maquinização da produção.
A tendência dos capitalistas para reduzir o número de operários expressa sua
necessidade de controle pessoal da produção. Eles preferem intensificar o trabalho de um
operário já empregado e despedir outro do que manter ambos. Desta forma, ele reduz em
termos relativos o salário daquele que manteve o emprego, limita sua possível ação
independente pela via da sobreexploração e aumenta de modo vantajoso o exército industrial
de reserva.
Concentram as grandes empresas enormes recursos em máquinas, métodos de
produção e mão-de-obra especializada. Tal se dá na indústria, na agricultura, nos transportes,
nas comunicações etc. Esta grande concentração de capacidade, aliada ao caráter privado do
seu controle, facilita direcionar a orientação produtiva de diferentes ramos e sub-ramos,
organizando-os segundo os interesses da competição monopolística.
Todo acúmulo de capital individual expressa certo grau de concentração de meios de
produção nas mãos de um elemento, o que implica alijamento de outros, expropriação de
meios de produção de outros proprietários individuais etc. Nesse processo, reforça-se o
número de indivíduos subjugados pelo capital e postos à disposição como força de trabalho
assalariada. O crescimento dos capitais individuais expressa a mais-valia que se capitaliza. A
convergência ou concentração de tais capitais individuais formam o capital social, sob forma de
diferentes atividades ou empresas.
Não há acumulação de capital sem ocorrer a sua concentração e a sua centralização.
A concentração do capital é seu aumento, mediante a capitalização de uma parte da mais-
valia, ou seja, como reprodução do capital em escala ampliada. Os capitais individuais tendem
a aumentar e a se desintegrar para formar novos capitais independentes. Muitas vezes,
capitalistas se unem para atividades em dado ramo, separando-se mais tarde para
empreendimentos de maior envergadura em outros ramos ou no mesmo. Capitalistas repartem
seus patrimônios para permitirem a seus sucessores adquirirem experiência em novos

18
empreendimentos; a reprodução da classe dominante se dá também enquanto reprodução
numérica dos capitalistas. Não seria possível tal expansão sem a acumulação de capital.
A necessidade dos capitalistas de competir com seus iguais e prevenir-se de
surpresas no futuro os leva a aumentar mais ainda a capacidade de produção, através de
investimento em capital constante. Portanto, a concentração do capital enlaça-se de modo
inseparável com a concentração da produção. Um número cada vez menor de instalações e
empresas manejam enormes produções, expressando o caráter social das mesmas. Para
satisfazer a tal gigantismo, a tecnologia e a organização adotam mais gigantismo, ao mesmo
tempo em que atividades de menor lucratividade são muitas vezes deixadas à míngua.
A experiência histórica do movimento operário indica que as grandes empresas se
aproveitam da luta operária para colocar sob pressão as pequenas empresas, aceitando as
reformas trabalhistas que podem reduzir a concorrência. No entanto, na medida em que a
produção e a propriedade se concentram, avançando a mudança técnica e a centralização do
capital, as grandes empresas buscam descartar todos os procedimentos que impliquem custos
elevados, lançando-os sobre as pequenas e médias empresas, que assim sofrem bloqueios em
novo ciclo de expansão. Ao fim do período expansivo, deverão elas – pequenas e médias –
arcar com grande parte das perdas a ocorrer.
Desse modo, a formação dos grandes capitais é inseparável da concentração da
propriedade e da produção e, desde certo ponto, só pode avançar graças à centralização do
capital.
Sem produzir a ruína periódica de uma massa de pequenos e médios capitalistas, o
grande capital ficaria impedido de concentrar a propriedade e a produção numa escala enorme
o suficiente para permitir relançar a produção em novo ciclo expansivo. Com as dificuldades e a
crise, um grupo menor de capitalistas compra a preços inferiores as empresas concorrentes, ou
produzem associações e fusões pelas quais as grandes empresas se tornam ainda mais
poderosas. A centralização do capital reforça o poder político dos grandes capitalistas, dando-
lhes acesso pessoal às manipulações legais e governamentais. Ela torna possível a formação e
desenvolvimento dos oligopólios, com o conluio entre eles no curso da concorrência
monopolista. Através da centralização tende a se reduzir o fracionamento dos capitais
individuais e a competição e o crédito são elevados a um novo patamar.
Em observação prática, depois de anos de misérias, explorando e esfomeando os
trabalhadores, o capital se acumula de tal montante que não encontra aplicação produtiva
verificável. Nesse momento, os excessos de capital constituem uma sobreprodução
generalizada do mesmo, e não apenas sob a forma de mercadorias. Semelhantes
antagonismos encontram solução através das crises, com a destruição de parte do capital e de
outras forças produtivas acumuladas.
Na pendente descendente de imiseração e crise, quando os postos de trabalho
desaparecem, as mercadorias se acumulam, o nível de vida dos trabalhadores irá cair até
posições insuportáveis. A desvalorização direta do capital atinge inclusive à parte material do
mesmo. Fábricas são fechadas, patrimônios liquidados, patentes e técnicas destruídas para

19
evitar a concorrência. No entanto, o grosso dos capitalistas mantém suas rendas e abstêm-se
apenas de insistir na produção.
Nas semicolônias e países dependentes aviltam-se tanto os preços relativos como os
preços reais dos bens exportáveis. O avanço do desemprego aumenta ainda mais a
sobrepopulação relativa. O capital se evade para as metrópoles e as autoridades locais
lançam-se aos braços dos agiotas internacionais.
As crises capitalistas de 1920 – 1921, de 1929 – 1933 e de 1937 – 1938 foram
profundas e atingiram todas as economias capitalistas, em que pese a implantação do fordismo
nos EUA e do caráter automotivo da expansão norte-americana. Contudo, apesar da extensiva
destruição de forças produtivas, reforçada por aquela efetuada com a segunda guerra mundial,
deu-se uma certa renovação, com novo montante de equipamentos associado com o plano
Marshall. No entanto, os desequilíbrios do processo de acumulação retornariam em breve no
pós-guerra.
O ciclo capitalista, reintegrado no pós-guerra em escala global, voltaria a manifestar
quedas extensivas da produção anual aqui e ali; 1947 – 1949 na Inglaterra, com a crise da
libra; 1948 – 1949 nos EUA, ligada a problemas da reconversão à produção civil; 1951 – 1952,
na Europa Ocidental e no Japão; 1953 – 1955, na América Latina; 1958 – 1962, ainda na
América Latina; 1967 e logo 1969 – 1971, nos EUA etc.
A necessidade dos capitalistas de sobrepujarem seus iguais os leva a sustentar uma
expansão da produção para além da manutenção dos preços nominais por cima do valor
médio. O bloqueio da expansão da taxa de lucro gera a sobreacumulação do capital. Segundo
Marx, a taxa de lucro é uma função da taxa de exploração. É a taxa obtida de mais-valia que se
divide então por um denominador que abarca a composição orgânica do capital + 1:

_m’
___v____
_c + 1
v

Tal indica a lei tendencial da taxa de lucro. O numerador, ao crescer mais lentamente
que o denominador, tende a anular a taxa de lucro no infinito. Portanto, o lucro da dinâmica do
capital consiste em elevar ou manter a taxa de lucro, contra a sua tendência histórica a baixar.
Nem sempre a burguesia deu importância ao mecanismo dos ciclos econômicos.
Uma vez que as crises favorecem a centralização e a concentração, a tendência dos teóricos
do capital era considerá-la uma doença infantil, que eliminava os maus e fortalecia os bons. No
entanto, após a crise de 1929 – 1933, de proporções assustadoras, os ventos mudaram. Os
teóricos burgueses perceberam o risco fatal para o sistema que as crises implicam e
começaram a aperfeiçoar mecanismos anti-cíclicos para abreviá-las e, se possível, lançá-las
contra os mais fracos.
A forma atual do movimento cíclico, em três fases e não mais em quatro, coloca
inúmeros problemas para os capitalistas, que não podem vê-los reduzidos às vantagens da
destruição de forças produtivas. O desemprego cresce sem cessar e não se caracteriza apenas

20
pelo desaparecimento dos postos de trabalho no ponto mais baixo da crise. Contingentes cada
vez maiores de trabalhadores não conseguem encontrar trabalho, quando se dá a
recuperação. Esta é cada vez mais curta e intensa. Grande parte do adicional da mão-de-obra
que chega cada ano ao mercado de trabalho já não é absorvido. Só na Europa, nos anos 1970,
mais de trinta milhões de trabalhadores não reencontraram postos, após as crises de 1973 –
1975 e 1979 – 1982. No Brasil, nas duas décadas de estagnação que se seguiram à crise de
1981 – 1983, desapareceu permanentemente 50% dos postos de trabalho industriais. Embora
as crises de 1973 – 1975; e 1979 – 1982, hajam sido atribuídas pelos apologistas a “fatores
externos” ao capital, e apelidadas de “crises energéticas”, elas expressavam o triunfo brutal do
capital monopolista, força parasitária de escopo global que impede o funcionamento da lei da
oferta e da procura nos insumos básicos produtivos.
O gigantesco crescimento da sobrepopulação relativa tornou-se conhecido apenas
como “colapso do fordismo”, porque os oligopólios viram-se obrigados a adotar novas formas
de organização, onde se explora mais intensamente o trabalho empregado, para sobreviver. A
feroz competição entre os oligopólios, nas condições da Longa Depressão, iniciada na crise de
1971 – 1973, não permite que essas enormes estruturas possam abrir mão de investimentos
crescentes, na luta pelo controle monopolístico das novas tecnologias. No entanto, a (1)
elevação da massa de investimentos, com forte aumento do capital constante, não consegue
gerar no nível da produção, (2) taxas de lucros suficientemente elevadas para generalizar a
nova produção, antes de que se dê (3) nova onda de renovação tecnológica.
Por via da concentração e da centralização, o capital acumula-se em volume
crescente, tirando proveito das novas técnicas, nova organização e da mais elevada
produtividade do trabalho social. As mercadorias produzidas pelas grandes empresas tornam-
se mais baratas, empurrando os capitalistas de menor porte para atividades de menor valor,
serviços etc. Havendo triunfado, o grande capital se assegura o controle do crédito, para
impedir que surjam novos competidores.
Através de sua fusão com bancos ou pela compra deles, o grande capital industrial
torna-se capaz de se apoderar da massa de poupança levada aos bancos e às caixas
econômicas. Ao atingir o nível de organização oligopolista, nasce e se aprofunda o capital
financeiro. Nesse padrão de concentração e centralização, o capital participa da divisão
internacional do trabalho, criando e controlando empresas em diferentes países. Apossando-se
de enormes quantidades de moeda estrangeira, impõe aos órgãos governamentais de um ou
mais paises, suas políticas cambiais, comerciais e produtivas.
No nível da repartição internacional do trabalho, as grandes organizações
oligopolistas lutam, - e ao mesmo tempo – fazem acordos, para controlar a aplicação de
capitais e os mercados domésticos locais. Nesse patamar de exploração internacional, muitas
vezes o interesse financeiro se opõe aos interesses da produção, mesmo do ponto de vista da
exploração metropolitana.
Portanto, contrariamente às ilusões apologéticas acerca do capital, a concentração e
a centralização são formas inseparáveis do processo de acumulação do capital e do aumento

21
da sobrepopulação relativa. O avanço de tais formas econômicas implica maior – e não menor
– acumulação. O coroamento de tal processo de enriquecimento da burguesia é o
empobrecimento dos trabalhadores em geral. Dá-se o capital oligopolista e sua organização
monopolista.

Formação do exército industrial de reserva dos sem-trabalho

É uma necessidade do aumento de todo o capital global que aumente também o


montante do capital variável. O aumento do capital variável corresponde às reais necessidades
de expansão do valor de uso, com a componente primária da circulação M – D – M. Contudo, o
crescimento da composição orgânica do capital impede que isso ocorra. Há um descenso da
proporção do capital variável na massa total de capital. Conseqüentemente, ocorre uma
redução proporcional na procura por força de trabalho. Isto se contrapõe, por outro lado, por
ofertas constantes ou crescentes de mão-de-obra na maioria dos países. Alia-se a este fator a
ruína periódica dos pequenos e médios produtores e empresários, que são os principais
empregadores da mão-de-obra em não poucos países. Dessa forma, as crises econômicas
capitalistas convertem-se também em crises sociais crônicas, com a formação de amplo
exército de trabalhadores sem trabalho, o chamado exército industrial de reserva.
A intensidade crescente da produção capitalista, com equipamentos, técnicas e
organização capazes de elevar o ritmo do trabalho, leva à concentração das tarefas produtivas
na parte mais ágil da força fabril, levando ao despedimento periódico de uma parte dos
operários, enviados assim para o exército de reserva.
Nos anos 1970, com base em experiência de equipes solidárias no trabalho fabril,
buscou-se eliminar a produção em cadeia, para permitir o emprego maciço da robótica. Na
Suécia e no Japão criou-se o novo procedimento, que logo seria cognominado toyotismo. O
toyotismo, em diferença do fordismo, permite ao grupo de trabalho planificar sua tarefa
produtiva, maximizando o uso de equipamentos e levando as distintas equipes a competir entre
si. Desta maneira, a elevação contínua da produtividade do trabalho permite alijar da produção
mais e mais trabalhadores. Dá-se aqui para o capitalista a vantagem de concentrar o saber-
fazer nas camadas melhor remuneradas dos trabalhadores, aumentando o diferencial de seus
rendimentos.
Como se sabe, o mecanismo da acumulação capitalista e as condições gerais em
que tal sistema desenvolve sua produção criam situação muito desfavorável para a classe
trabalhadora, com o crescimento da oferta da força de trabalho e a estagnação ou queda da
procura pela mesma. Parte considerável das massas trabalhadoras está permanentemente
condenada ao desemprego. Outra parte ainda vê-se condenada ao desemprego cíclico, à
mercê das flutuações e crises no processo de efetivação do capital. Não se pode separar tais
condições – o desemprego cíclico, o desemprego estrutural, os baixos salários etc. – da própria
natureza do sistema e da essência da acumulação capitalista.

22
A lei capitalista da população
A cada modo de produção corresponde uma caracterização concreta do crescimento,
função e distribuição de sua população. Esta conformação histórico-objetiva expressa
possibilidade, o modo e o grau de utilização dos recursos de sua mão-de-obra, as formas
peculiares do seu crescimento demográfico. Nas condições do capital enquanto forma
dominante das relações de produção, a formação e o aumento do exército industrial de reserva
é o traço que expressa a sua especificidade demográfica.
Ao produzir a acumulação de capital, a classe operária produz a si mesma, em
proporções cada vez maiores, com força de trabalho excedente. Suas camadas permanente ou
temporariamente alijadas da atividade produtiva constituem a sobrepopulação relativa do modo
de produção capitalista. Seria tolice considerar tal excesso populacional, próprio das relações
de produção, como uma herança de algum modo de produção passado ou um desarranjo do
crescimento independente da população, como se tal crescimento não decorresse das
condições sociais de reprodução.
Os teóricos a serviço do capital procuram sempre apresentar uma teoria capaz de (a)
imputar aos operários a responsabilidade pelo seu excesso numérico e (b) caracterizar o
movimento demográfico como uma função independente do modo de produção. São as
condições em que vive e em que trabalha a classe operária, padronizadas para baixo pela
medida de imiseração que se constitui o salário (Fourier), que levam à sua reprodução, de
acordo com as necessidades do capital. Por outro lado, o crescimento demográfico não se
separa do modo de produção em que se dá. O enorme êxodo rural gerado pelo capitalismo em
todo mundo no pós-guerra não pode ser separado da produção e venda de automotivos, da
abertura de milhões de quilômetros de estradas e rodovias para colocar tais veículos; da
defesa intransigente do latifúndio; do monopólio da terra em toda parte etc. O capital cria a
reprodução social à sua imagem e semelhança.
O processo de acumulação do capital é que explica a “marginalização”, a “exclusão” e
outras bobagens com que se costuma denominar as transformações criadoras do exército dos
sem-emprego. Os capitalistas concentram aí a massa característica do excesso de oferta da
força de trabalho. Cabe às forças políticas socialistas organizar esta massa de centenas de
milhões de operários desempregados.
A produção agrícola e industrial capitalista pode produzir o suficiente para alimentar e
vestir toda a população do mundo. Porque não o faz? Porque eliminaria o exército industrial de
reserva, elevando o salário real dos trabalhadores e reduzindo a acumulação capitalista.
Portanto, a estratégia da imiseração dos trabalhadores é inseparável da acumulação dos
capitalistas e esta não pode se efetuar sem o concurso daquela.
A miséria existente na sociedade do capital não pode, portanto, se atribuída a
herança de modos de produção extintos, ou atribuída à preguiça dos desempregados. A
concentração e a centralização dos meios de produção e da propriedade não permitem a
centenas de milhões escapar da sua condição no exército dos sem-trabalho e “aninhar-se” em
qualquer nicho pré-capitalista. Não conseguem obter mais os desempregados que a área de

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um barraco na favela. Por outro lado, foi o capital que desorganizou os indígenas no Brasil, na
América Latina e Central, na África ou na Ïndia etc., transformando-os em favelados. Não se
pode separar a pilhagem da acumulação primitiva e a acumulação dos efeitos do capital dos
impactos produzidos por suas relações sociais.
A desapropriação extensiva dos produtores, muitas vezes por um capital externo,
invasor, que lançou meio da força militar, é a verdadeira explicação para o “excesso” de
população hoje existente, fenômeno obviamente relacionado com a propriedade dos meios de
produção. O discurso apologético pelo qual se atribui às metrópoles um “estado de transição
demográfica” e à periferia do capital uma situação de “explosão demográfica” é mero jogo de
palavras. Não se pode separar o controle populacional do chamado “primeiro mundo” da
expansão populacional do chamado “terceiro mundo”; da mesma maneira, não se pode
separar nações ricas e pobres do caráter desigual das trocas no comércio internacional. Trata-
se simplesmente, da acumulação do capital à escala global.

Formas da sobrepopulação relativa


A formação de uma sobrepopulação é fenômeno relativo à concentração e
centralização da propriedade e dos meios de produção. Quanto mais rígida a condição dos
sem-trabalho para o acesso à terra e à pequena produção, piora a sua situação de pobreza. E
consenquentemente, maior o excesso relativo de sua população. Por outro lado, esta oferta em
excesso da mão-de-obra permite apreçar para baixo o valor da força de trabalho, pagando aos
operários, na maior parte do planeta, salários abaixo da fronteira de subsistência. A separação
aqui entre o “atraso” e o “avanço” das formas de exploração é puro jogo de palavras. No
sistema imperialista, a produção e a distribuição devem se dar, instantaneamente, entre
exploradores e explorados, entre capitalistas e operários, entre nações ricas e pobres, entre
“bens industriais” e “bens primários” etc. O instrumento que serve de meio a esta condição
desigualitária e automática do sistema é a divisão internacional do trabalho, da mesma forma
em que a divisão social do trabalho local garante a desigualdade em cada sociedade
determinada.
O exército dos sem-trabalho, ou industrial de reserva, está constituído de três
camadas bem definíveis: (a) sobrepopulação flutuante; (b) sobrepopulação latente; e (c)
sobrepopulação estancada. A sobrepopulação flutuante é um excedente da oferta de força de
trabalho que periodicamente é incorporada à produção capitalista. Devido à desigualdade da
produção capitalista, submetida a flutuações (recessões, depressões, crises etc.), ocorrem
desequilíbrios na acumulação de capital e em sua composição orgânica. Por isso, os
capitalistas devem recorrer a sazonais incrementos ou decréscimos de utilização da força de
trabalho, lançando mão para isso preferencialmente de trabalhadores de desemprego recente.
No Brasil, por exemplo, o tempo de desemprego elevou-se na última década, para a
sobrepopulação flutuante, de seis meses para um ano. Quer dizer, considerada constante a
procura do capitalista por trabalho, a oferta da sobrepopulação flutuante dobrou em dez anos.

24
A sobrepopulação latente é aquela parte excedente da oferta de trabalho desalojada
estruturalmente pelo movimento do capital nas atividades agropecuárias. A intensificação do
uso de maquinário e insumos diversos, derivados científicos etc., desaloja empregados e
meeiros da grande propriedade, arruína os pequenos produtores, lançando-os em grande
número nos subúrbios e nos ambientes urbanos. Nos últimos quarenta anos (1962 – 2002), o
pequeno campesinato praticamente desapareceu, em grande número de países, mantendo-se
a grande propriedade rural com o apoio dos oligopólios e de sua “revolução verde”.
Conseqüentemente, uma enorme oferta da sobrepopulação latente atingiu, seja os centros
urbanos, seja as localidades que atuam como cabeça de distritos, municípios etc.
Essas massas de dezenas de milhões em toda parte estão alijadas do processo
produtivo e vêm-se obrigadas a se distribuir nas atividades de serviços legais e ilegais.
Desprovidos de água encanada, sanidade básica, sistema escolar eficiente, etc., estes milhões
de antigos trabalhadores rurais se reproduzem nas condições assemelhadas às do exército
industrial de reserva nas relações de produção, rebaixando portanto o nível salarial urbano.
No Brasil, grande parte dessa massa da sobrepopulação latente flutua entre o campo
e a cidade, encontrando aqui e ali práticas temporárias de sobrevivência. No nordeste do país,
por exemplo, grande parte das famílias nessa condição sobrevivem por conta exclusiva de
algum benefício social percebido por um de seus membros.
Compreende-se por sobrepopulação estancada aqueles trabalhadores que só
eventualmente (três meses por vinte e quatro) conseguem um trabalho assalariado; ou vivem
de biscates, ou pequenos serviços. Nos últimos trinta anos, o número desse setor cresceu sem
cessar. Além desses setores definidos, constituem parte do excesso da oferta de força de
trabalho dois grupos, cuja composição flutua em extremo. São: (1) a camada inferior dos
desempregados; e (2) o lumpen proletariado. A camada inferior dos desempregados
geralmente não tem acesso a postos de trabalhos fabris, embora faça parte da reserva dos
sem-trabalho. Ela é formada por: (a) desempregados estruturais, que vivem da caridade social,
recolha do lixo, etc.; (b) órfãos e filhos de pobres que mendigam, “menores de rua” etc.; (c)
inválidos, enfermos e idosos sem aposentadoria, as vítimas clássicas do combate fabril. O (2)
lumpen proletariado considera-se a camada formada por aqueles elementos que atuam à
margem da lei, ou desempenham atividades criminosas (“garotos e garotas de programa”,
“lanceiros”, delinqüentes, “passadores” de droga, etc.).
Outra importante camada de trabalhadores que pode ser caracterizada e que cresce
sem cessar é aquela dos empregados a tempo parcial (meia jornada). Estes trabalhadores
buscam repartir entre os membros da família o ganho salarial, evitando concorrer pela
obtenção de uma jornada plena de trabalho. A eles se aliam um número crescente de
trabalhadores informais, que abrem mão de todos os seus direitos para vender sua força de
trabalho por tarefa.
Em inúmeros países o movimento trabalhador colocou na ordem-do-dia a
necessidade de redução da jornada de trabalho, para preservar uma certa margem restante de
postos de trabalho. Os capitalistas como um todo se opõem a esta solução, porque diminuiria a

25
massa de mais-valia apropriada. Na França, foi adotada nos últimos anos a redução da jornada
de trabalho como iniciativa do governo socialista.
Os capitalistas procuram atribuir aos trabalhadores supostos defeitos que justificariam
o desemprego maciço e crescente. Uma delas é o chamado desemprego tecnológico, porque
as velhas habilidades do trabalhador não correspondem ao novo equipamento recém
implantado. Evidentemente, não há “velhas” e “novas” habilidades na força de trabalho. Ela
opera a tecnologia que lhe é apresentada. Por isso, quando o capitalista opta por uma máquina
que usa um trabalhador em vez de dez, foi o capitalista que tornou obsoleta a tecnicidade da
mão-de-obra e não o processo produtivo. No entanto, mesmo setores de trabalhadores
organizados costumam aceitar o argumento da “superação” de sua mão-de-obra, o que deixa
em geral os capitalistas impunes quanto à sua constante mudança de tecnologias e
equipamentos.
O capitalista assim age para enfrentar a concorrência, estabelecendo a maior
homogeneidade possível do processo produtivo. Para tanto, livra-se dos trabalhadores que
representam a contraface da geração anterior de equipamentos, lançando a culpa acerca de
uma produtividade suposta inferior do trabalho não às condições técnico-produtivas daquele
equipamento, mas sim aos trabalhadores que o operavam.
Traço característico do desemprego dos últimos trinta anos (1970 – 2002) é o
desaparecimento de profissões inteiras, com o conseqüente aumento da proporção do número
de desempregados, que não voltam a encontrar uma ocupação. O desemprego induzido pelo
capital constante atinge cada vez mais operários de alta especialização, como engenheiros,
técnicos, colaboradores científicos, etc. Os capitalistas utilizam o desemprego estrutural para
reduzir os salários, eliminar os direitos dos trabalhadores e intensificar a jornada de trabalho.
Uma parte dos salários assim poupados é repassada aos trabalhadores restantes, que no
entanto tem o valor de seu trabalho vivo empregado elevado em proporção maior do que os
reajustes nominais de salário que recebem nas novas condições.

Lei geral da acumulação capitalista. Piora relativa e absoluta do conjunto da situação


da classe operária.
O traço geral da acumulação capitalista pode ser caracterizado desde um exame
científico do processo de transformação da mais-valia em capital. Tal abordagem pode ser
feita, considerando-se: (1) a mudança técnica; (2) o crescimento da composição orgânica do
capital; (3) a concentração e a centralização do capital; (4) a intensificação do trabalho da
classe operária; e (5) o crescimento numérico desta etc.
Os defensores do capital em todas as épocas privilegiaram a óptica de tratar o capital
como um fenômeno isolado, distinto das relações sociais em que ele é engendrado e que,
portanto, ele representa. Os embelezadores do capital buscam sempre negar trate-se ele de
uma relação social. Apresentado ora como uma virtude dos capitalistas para tirar lucro de
transações – uma habilidade transformável em todas as coisas – ora como um
acrescentamento de equipamentos por meio de vendas bem sucedidas; ora como uma troca

26
desigual baseada em diferenças culturais, etc., vê-se tal relação social ser mascarada,
embelecida e individualizada. O culto do capital leva ao obscurecimento da sua acumulação,
que acaba por ser tratada fora da vida social real.
Quanto maior a riqueza criada na sociedade durante o capitalismo, quanto maior o
capital aplicado, sua extensão e desenvolvimento, tanto mais numeroso o proletariado, tanto
maior o exército industrial de reserva. Quanto maior a proporção deste com relação ao
operariado ativo, tanto maior é a massa de sobrepopulação consolidada, tanto maior a
imiseração. A pauperização das grandes massas de trabalhadores é a contraparte necessária
da concentração e da centralização do capital. Esta é a lei geral da acumulação capitalista. A
força de trabalho em escala mundial é hoje de 2 bilhões e 769 milhões de trabalhadores.
Segundo a O.I.T., no ano 2000 os totalmente desempregados constituíam 5,9% de tal força, ou
seja, 160 milhões de indivíduos. Em 2002, constituíam 6,5% da força de trabalho, ou seja, 180
milhões de pessoas. A população inteira do Brasil. Observe-se que a O.I.T. não considera
grande parte da sobrepopulação consolidada como desempregada.
Portanto, o traço central da acumulação capitalista é a exploração pelo capital dos
trabalhadores, sejam operários fabris ou agrários. A piora da situação do proletariado, embora
embelezada por expressões como “marginalização”, “exclusão social” etc., constitui parte
fundamental do problema do capitalismo. Expropriar os trabalhadores através do trabalho não-
pago e acumular a mais-valia é o centro da sociedade capitalista. O antagonismo entre capital
e trabalho não tem como ser mascarado. Com ou sem estagnação, os capitalistas acumulam
sua riqueza arrancada que é dos trabalhadores. O choque organizado desses dois campos é,
portanto, inevitável. Ele expressa a própria dinâmica do capital.
A tendência geral da acumulação capitalista é, pois, um fato objetivo verificável em
todos os países do sistema imperialista e não apenas nos “países ricos” ou nos “países
pobres”. Em toda parte, os capitalistas e seus governos procuram reduzir o tempo de trabalho
necessário à reprodução da força de trabalho; mercantilizar todas as atividades, mesmo saúde
pública e educação. Os capitalistas levantam artificialmente o preço dos produtos, rebaixam o
valor da força de trabalho e reforçam a desigualdade em todos os níveis da sociedade.
Portanto, não há como “embelezar” a exploração capitalista. Tampouco adianta
buscar elevar a taxa de acumulação ou de mais-valia, no suposto que daí resultariam
benefícios para os trabalhadores. A história já demonstrou que a única saída para a classe
operária é a revolução socialista, não importa as idas e vindas da dominação do capital.
O entendimento correto da natureza do sistema capitalista é vital para o campo dos
trabalhadores e para os organizadores socialistas. Sem o entendimento correto do caráter
cíclico da acumulação, da necessidade pelo capital de que os trabalhadores percam seus
rendimentos na crise, para que o capital volte a se erguer, pode-se ser levado à elaboração de
estratégias e táticas errôneas na luta dos trabalhadores. Não cabe aos organizadores
socialistas criarem ilusões no capital e difundí-las entre os trabalhadores. Cabe aos
organizadores e propagandistas socialistas difundir estratégia e táticas corretas para o
movimento operário organizado; fortalecer a sua ação política e a sua luta econômica.

27
No ambiente da crise prolongada, - a Grande Depressão, que não foi ainda afastada,
sendo a mais longa da história do capital -, dão-se todas as condições para uma poderosa
organização dos trabalhadores e o avanço de suas soluções específicas e de suas bandeiras
gerais.
Em virtude do (a) aprofundamento do desenvolvimento desigual, com enorme
concentração de riqueza social nas metrópoles, tomaram maior importância em nossa época,
as (b) condições concretas de cada país, quanto às formas de acumulação e de exploração.
Por exemplo, certos países, além da exploração interna de sua própria burguesia, estão
subordinados a uma drenagem sistemática de recursos, devido à (1) troca desigual e (2)
exportação de capitais. Nesse caso, a lei da acumulação capitalista funciona com largos
períodos de estagnação, que tornam a imiseração dos trabalhadores ainda mais intensa.
Com o recrudescimento do capital financeiro em escala global, nas condições da
chamada “terceira revolução industrial” (outro reajuste tecnológico da base produtiva do ciclo),
torna-se de completa atualidade a tese de Lenine acerca do elo mais fraco na cadeia do
desenvolvimento desigual imperialista.
As remessas de lucros e dividendos constituem-se poderosa fonte de enriquecimento
das empresas das metrópoles. Sob a rubrica da “exportação de capitais”, os países
metropolitanos colocam nas colônias e semicolônias enormes montantes de capital, que de
outro modo seriam nas metrópoles remunerados a taxas mais baixas de juros. Através da
compra de empresas e controle dos mercados locais, as empresas estrangeiras,
pomposamente autodenominadas “multinacionais” ou “transnacionais”, realizam manobras
financeiras pelas quais multiplicam o valor de seu capital local nominal e arruínam ali a
produção econômica.
Após essas manobras, os ganhos legais e ilegais são remetidos para as metrópoles,
onde constituem enorme expansão da massa de riqueza. A essência do imperialismo é a
exploração pela exportação de capitais. Exportar os capitais é apenas uma manobra para
multiplicá-lo em países mais pobres. Na periferia do capital, geralmente não há governo, na
verdadeira acepção do termo. As elites dirigentes nada mais são do que restos da dominação
colonial, criaturas sociais do imperialismo. Gente de semelhante interesse social e econômico,
ignora supostos interesses nacionais. Por isso, o imperialismo pode praticar nesses territórios,
atos que não encontram a resistência de leis que garantam a população local.
De acordo com dados do Departamento de Comércio dos EUA, as empresas norte-
americanas na América Latina enviaram, entre 1990 e 2000, mais de um trilhão de dólares para
aquela metrópole. Os ganhos das empresas subsidiárias de outras norte-americanas decorre
do controle de toda a sorte de mercadorias, desde salsichas, fogões e minérios, até
equipamentos eletrônicos. Estes cálculos obviamente excluem as transferências ilegais
procedidas pelas empresas externas que se calcula sejam de igual montante. Nos períodos de
baixa de ganho do capital na metrópole, suas empresas no exterior devem ampliar as
remessas feitas. Semelhantes “colheitas” de capital vão garantir o patrimônio líquido das
empresas na metrópole. Só em 2002, o Brasil contribuiu com 24,2 bilhões de dólares sob a

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forma de dividendos, para o reforço de caixa de sua metrópole favorita. Evidentemente, esses
são os dólares que faltam para expandir a economia, alimentar a população, etc. No entanto,
excluídos os interesses dos trabalhadores locais, é impossível negar de que se trata de
acumulação de capital, como caracterizou Engels, “concentração de riqueza em um pólo e de
miséria no outro”.
A acumulação de capital nada tem a ver com os interesses dos trabalhadores. Trata-
se do seu sangue, seu suor, seu sofrimento, amassado sob a forma de ganhos capitalistas e
utilizado como base para sugar outros milhões de trabalhadores. A linguagem do capital,
portanto, em nada pode se parecer com o entendimento dos trabalhadores e organizadores
socialistas.
Coincidentemente com a elevação das remessas de lucros e dividendos, capaz de
arruinar qualquer esforço para equilibrar o balanço de pagamentos, aumentou também o grau
de abertura da economia brasileira nos últimos dez anos. Sendo já de 17,2% em 1995,
alcançou 27,4% em 2001, uma elevação de mais de 10 pontos percentuais. Essa rápida
abertura significou um crescimento maior das importações que das exportações. Quer dizer, os
brasileiros tornaram-se mais pobres. Uma economia capitalista com o espaço e a população
do Brasil, cujo grau de abertura é superior a 25%, só pode ser uma metrópole imperialista ou
uma das últimas semicolônias da lista. Infelizmente, o Brasil se encontra no segundo caso.
Como resultado da abertura extra propiciada pelo plano real, desde 1994, as importações
cresceram 86%, enquanto as exportações se ampliaram de 58,9%. Ou seja, um ganho de
31,6% para as importações, que é a medida do excesso da liberalização sofrida pela economia
brasileira.
Além das perdas nos termos-de-troca, que tornam o país mais pobre ao longo do
tempo, a troca desigual é também caracterizada pela desvalorização gradativa dos produtos
que o país exporta. Desta maneira, a cada ano é necessário enviar uma quantidade crescente
de toneladas – produto físico – para obter a mesma ou menor quantidade de moeda
estrangeira em pagamentos. Ao mesmo tempo em que as metrópoles desvalorizam os
produtos tropicais que adquirem em quantidades crescentes, elas aumentam os preços dos
produtos industriais que vendem e que na verdade possuem valores decrescentes (menos
matéria prima e menos trabalho vivo).
A oscilação periódica que sofre a oferta internacional de crédito, em seu momento
atual de baixa, tende a valorizar as exportações de capital das metrópoles e deprimir o valor
das moedas e produtos da periferia. Isso tem contribuído para agravar a dependência externa
atual, já grave devido às errôneas políticas econômicas locais. A política guerreira do partido
republicano nos EUA, desta feita preparada para agredir o Iraque contribui para manter o dólar
elevado e desfaz a ilusão dos governos locais periféricos em controlar a situação cambial no
curto prazo. O caso do petróleo do Iraque é bastante característico da troca desigual. O
presidente A. Hassam Al-Bakr nacionalizou o petróleo do Iraque, dando grave prejuízo aos
monopólios internacionais que detinham o seu controle. Com o colapso da União Soviética,
iniciada nova repartição do mundo, os imperialistas programaram seu retorno ao Iraque.

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Através da guerra do golfo (1991), bloquearam as exportações petrolíferas do Iraque ao nível
do programa da O.N.U. “petróleo por comida”. Nesse período, os monopólios norte-americanos
consolidaram seu controle sobre a Arábia Saudita e a OPEP. Finda esta fase, reiniciaram a
conquista do petróleo (e da água) do Iraque, preparando uma guerra de agressão. Com o atual
preço (irrisório) do petróleo, nas quantidades que a ONU permite ao Iraque revender, seriam
necessários 500 anos para consumir a reserva conhecida iraquiana. E dela querem se apossar
os monopólios imperialistas.
A troca desigual assegura para a dominação imperialista o controle da economia
local. Na mitologia econômica dos exploradores, o pais pobre deve obter um saldo tão grande
das exportações que lhe cubra o pagamento da dívida externa, o envio de lucros e dividendos
ao exterior etc. Qualquer um que examine os últimos cem anos de comércio exterior de todos
os países subordinados verá que muito raramente se acham tais anos capazes de pagar o
custo da dominação imperialista. Em 1995, com um ano de FHC, o serviço da dívida externa
representava (parcela da dívida mais juros) 38,9% das exportações (e não do saldo!)
brasileiras. Em 2002, último ano daquele infeliz governo, o mesmo serviço representava 92,7%
das exportações.
Em 1995, a dívida externa representava 27,9% do PIB; em 2002, elevou-se para
44,2% do PIB. Portanto, a dependência do país, quanto a entrada de capital especializado em
operações de curto prazo, aumentou drasticamente. Com a economia estagnada e o dólar
valorizado, busca-se elevar também as exportações para lograr cobrir o serviço da dívida. No
entanto, ela continuará a crescer. Como uma população empobrecida e afastada dos meios de
trabalho pode exportar o suficiente para pagar os custos da dominação imperialista? A resposta
possível está em organizar os trabalhadores para seguirem o seu próprio destino. Num país em
que 66,5% da força de trabalho ganha até três salários mínimos, vê-se que o principal
problema político consiste na desorganização dos trabalhadores como uma força
independente.
São os principais investidores estrangeiros no Brasil:
Ano de 2001 % Ano de 2002
EUA 21,5 Holanda
Espanha 13,1 EUA
França 9,0 França
Holanda 9,0 I. Cayman
I. Cayman 8,3 Bermudas
Portugal 8,1 Luxemburgo
Alemanha 5,0 Canadá
I. Virgens Brit. 4,3 Portugal

Estes investidores compreendem inclusive o capital doméstico exportado ao abrigo


de medidas como as contas tipo CC5 e remessas ilegais, “esquentado” no exterior; e que para
aqui retorna disfarçado de capital estrangeiro.

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Somente a massa de capital ilegal mantida por brasileiros no exterior, se fosse
atribuída à média individual de depósitos na Suíça dos fiscais do chamado “processo de
Silveirinha”, no Rio de Janeiro, requereria 17 milhões de brasileiros para ser distribuída. No
entanto, como tal montante de capital pertence a pouco mais de um milhão de beneficiários,
pode-se contabilizar a extensão externa da suposta burguesia brasileira.
Do outro lado de tais retiradas maciças de capital do país, configura-se o aumento do
desemprego, a diminuição do consumo pessoal e a piora da distribuição da renda disponível.
Mantendo-se o padrão tecnológico atual, um milhão e duzentos mil empregos industriais
poderiam ser criados apenas pelo uso pleno da capacidade produtiva. A questão central
portanto, não é uma insuficiência de excedente social no país, mas o bloqueio à própria criação
de um excedente maior, sob a escusa de um suposto equilíbrio macroeconômico externo-
interno. A manutenção de tal parâmetro leva à predominância do interesse externo e à
perpetuação da atual divisão internacional do trabalho.
A acumulação de capital tende a ser freiada nos países dependentes e neocoloniais
pelas necessidades da acumulação metropolitana e não por uma impossibilidade natural e
específica de um subdesenvolvimento autônomo para gerar um excedente social ou
sobreproduto estável. Trata-se da incorporação de investimentos produtivos na metrópole – e
sua necessidade de eliminar concorrência – a origem da tendência à baixa da taxa de lucro
local. O mecanismo da retirada dos capitais locais para reforçar o capital metropolitano encurta
a periodicidade das flutuações locais, levando a crise do centro a manifestar-se aqui sob a
forma de uma sucessão de mini-crises periféricas, sobreposta à crise estrutural.
São, portanto, as estruturas sociais locais que explicam a drenagem de capital para o
exterior. A economia local funciona como uma caixa d’água cujo fluxo de esvaziamento seja
maior que o fluxo de enchimento.
As duas grandes tendências opostas da sociedade capitalista continuarão pois a se
manifestar no presente como o fizeram no passado: (a) uma tendência fundamental
permanente, para a acumulação do capital e a piora da situação da classe trabalhadora; e (b)
uma outra tendência oposta, dela resultante, para o aumento numérico, a elevação da
organização e da luta política da classe operária.
Não importa quais as dificuldades encontradas na luta para um e outro campo; não
importa a natureza das alianças a que cada campo de classe venha dar; estas duas forças
fundamentais se embatem hoje como no passado. E bater-se-ão até o fim do capitalismo.
A notável observação de que os ganhos dos trabalhadores na pendente ascendente
da acumulação desaparecem na pendente descendente de recessões e crises não se faz
acompanhar pela imiseração dos capitalistas. Nesse sentido, não há solução para os milhões
de trabalhadores que vendem sua força de trabalho ao capital. Da mesma sorte daqueles
expropriados que só conseguem vendê-la periodicamente, estão todos os demais
trabalhadores fadados à pobreza e à miséria. Como observou Fourier há quase duzentos anos,
o salário é a medida da miséria do operário. Excetuadas pequenas camadas de operários, a
riqueza social ainda não se fez distribuir aos trabalhadores. Daí a premente necessidade de

31
elevar a organização independente, política e econômica, dos operários, das massas
empobrecidas em geral, da sobrepopulação relativa como um todo. Ao lado da detalhada
propaganda socialista entre todas as camadas da sociedade, cumpre elevar o nível da luta
econômica dos trabalhadores, de suas organizações cooperativas, produtivas, de bairro e
culturais. Somente através da organização do povo trabalhador em todas as suas instâncias
pode-se garantir a via democrática para as suas reivindicações e lutas.
Em muitas regiões do mundo sob o jugo do capital, dá-se o empobrecimento absoluto
dos trabalhadores. No Brasil, em 2002, o produto nacional per capita foi menor que em 1981; a
participação operária na renda disponível diminuiu, em relação a 1981. Na grande São Paulo, o
desemprego oficial ultrapassa os 20% da força de trabalho. No entanto, no mesmo período, o
país enviou ao exterior mais de 200 bilhões de dólares norte-americanos, para o pagamento de
uma dívida que naquele ano (1981) estava em torno dos 50 bilhões de dólares.
Em outras áreas do globo, o empobrecimento relativo do proletariado significa a piora
de sua situação, quando comparada à de sua própria burguesia. Nos EUA, o salário médio
hoje é apenas 65% daquele de 1961. Na Suécia, tal salário médio é 85% daquele de 1973, etc.
Vê-se que, como afirmou Marx, a situação dos operários piora na razão inversa do incremento
da riqueza em geral e só pode ser freada pelo nível político da luta dos próprios trabalhadores.
Há indicadores objetivos que expressam esta piora relativa, e muitas vezes absoluta:
(1) A diminuição da proporção dos rendimentos da classe operária na renda
disponível nacional, com o aumento da quota da mais-valia.
(2) A diminuição da proporção dos rendimentos da classe trabalhadora na
riqueza nacional, etc.
No Brasil, os trabalhadores detinham em 1960 cerca de 40% da renda nacional; hoje
sua posição caiu a meros 27%.
O constante aumento do diferencial de riqueza social, criada pelos trabalhadores, dá-
se em proveito das classes e camadas não-trabalhadoras. No Brasil, mais de 34% da renda
dos trabalhadores desapareceu nos últimos quarenta anos. Ela foi apropriada por outros
setores sociais. Desta forma, os dados estatísticos medidos pela própria burguesia
demonstram de modo cabal o aumento da exploração com a elevação dos ganhos dos
capitalistas, mesmo durante as fases de estagnação.
Os capitalistas em suas empresas enfrentam as dificuldades das crises com o apoio
direto de seu governo, que lança a culpa das mesmas sobre os trabalhadores. Os salários são
apresentados como os grandes inimigos da acumulação, do progresso material, do bem estar
social, etc. A polícia, os serviços secretos, a mídia em geral, etc., são atirados contra os
sindicatos, partidos operários e intelectuais do campo do trabalho. Seus atos políticos são
tornados crimes. O objetivo único dessas agressões e dessas campanhas é o arrocho salarial,
a imiseração do trabalhador empregado. Na Inglaterra, M.Thatcher destruiu a organização dos
mineiros, lançando suas lideranças na cadeia para cumprir pesadas penas. Nos EUA, Reagan
e seus sucessores cortaram fundo nos benefícios sociais da massa desempregada,
apresentando tais setores menos favorecidos na mídia como vagabundos, bandidos e

32
assassinos. No Brasil, FHC arruinou o poderoso sindicato dos trabalhadores do petróleo,
submetendo-o a processos contra a letra da Constituição, com apoio de uma justiça corrupta.
Na Argentina, bilhões de dólares foram confiscados de trabalhadores e de suas organizações,
com a erradicação de seus fundos, de direitos trabalhistas, a criação do chamado “curralito”
etc. Não há um único caso, em toda luta social recente em que governos capitalistas hajam
favorecido os trabalhadores ou, mesmo, se esforçado para manter seus direitos sociais
adquiridos.
Com o intuito de jogar areia nos olhos dos trabalhadores, as classes exploradoras
computam de forma confusa a distribuição de renda nos países capitalistas. Considerando o
trabalho assalariado como fonte de renda, atribuem às remunerações dos capitalistas o caráter
de “salários”, computando-as ao lado dos salários operários. Produzem-se assim médias
salariais bastante acima daquelas que se verificam de fato. Por outro lado, tais remunerações
patronais são excluídas dos lucros das empresas, reduzindo-lhes o montante e escapando aos
impostos.
Utilizando semelhantes dados falseados, os governos burgueses, seus economistas e
sociólogos proclamam o “fim da exploração”, entoando loas ao “capital democrático”. No
entanto, esta suposta igualdade não pode explicar o continuado empobrecimento dos pobres, o
ressurgimento dos mercados duais, um para pobres outro para ricos; a proliferação das favelas
em todo mundo etc. Na verdade, o diferencial entre os rendimentos nunca foi tão grande na
história da humanidade. Segundo a ONU, menos de 1% da população global possui mais de
50% da riqueza existente no mundo.
Nos EUA, 10% da população possui 52% da riqueza nacional conhecida. Na Grã-
Bretanha, menos de 1% da população possui 84% das ações das sociedades privadas e
privatizadas. Em todos os países capitalistas, a participação percentual da classe operária na
renda nacional vem decrescendo, desde a crise de 1971 – 1973.
Por toda parte, os representantes dos capitalistas buscam reforçar os ganhos de tais
exploradores, (1) privatizando empresas públicas de produção e de serviços; (2) privatizando
os serviços de saúde; (3) de educação, etc. Ao mesmo tempo em que os trabalhadores são
obrigados a descontar impostos crescentes, a totalidade dos serviços públicos é vendida a
oligopólios que pioram o atendimento e elevam as tarifas. Através das chamadas estratégias
micropolíticas, os representantes políticos do capital buscam dividir em toda parte os
trabalhadores, dando algumas concessões a poucos e liquidando os direitos da maioria.
Portanto, a acumulação capitalista, ao mesmo tempo em que acrescenta a receita
socialmente criada na mão de um punhado de capitalistas, lança na miséria centenas de
milhões de trabalhadores. Qualquer que seja o trabalho do operário, elevado ou baixo, a
política do capital é rebaixá-lo num futuro próximo. A tendência à piora da situação dos
trabalhadores decorre da natureza da exploração da acumulação do capital, e não do montante
– grande ou pequeno – do capital que se logra acumular.
Poder-se-ia acreditar que semelhantes agressões ao movimento trabalhador e suas
estratégias negativas do trabalho decorressem única e exclusivamente da maldade pessoal

33
dos capitalistas? Evidentemente que não. Semelhantes atos expressam as necessidades de
acumulação e devem ser tomados em sucessão – um após outro – não importa quão submissa
ou dócil se mostre a população operária. Contrariamente, a experiência histórica demonstra
que, quanto menos consciente e combativa se mostra a classe trabalhadora, mais a burguesia
a expropria e atribula, chegando a eliminar os seus direitos políticos e econômicos.
Dê-se o aumento da miséria física dos trabalhadores, dê-se o aumento da miséria
social, dêem-se ambas, nada pode eximir o efeito duplo do capital, no processo de sua
acumulação: (1) concentrar riqueza nas mãos da burguesia; (2) concentrar miséria nas mãos
do proletariado.
Esta é uma estratégia objetiva e central do capital, enquanto relação social que vive
da miséria dos trabalhadores. O fetiche do dinheiro permite aos bancos capitalistas criar novos
capitalistas praticamente do nada, “ex nihilo”. Evidentemente, o conjunto da classe exploradora
defende-se de tais “benesses” que pode promover, lançando o ônus de tais créditos fáceis
sobre os trabalhadores, sob a forma de inflação e novos impostos. O resultado óbvio é a
formação de “novos ricos” de um lado e da extensão adicional da pobreza do outro. Só no ano
de 2002, as empresas capitalistas estrangeiras arrancaram do Brasil mais de 180 bilhões de
reais; o governo local, arrancou em impostos mais de 280 bilhões de reais; ou seja, grande
parte da riqueza criada foi absorvida por estes dois vampiros do povo brasileiro.
A depauperação é uma das principais armas dos capitalistas na luta para manter
subjugada a maioria da classe operária. A depauperação compreende a miséria física do
trabalhador. A sub-alimentação, a inadequação entre vestimentas e situação ambiental,
carência de serviços médicos e dentários, habitações inadequadas, patrimônio individual
insuficiente, violência ambiental ou no trabalho, taxas altas de mortalidade, sujeição às
condições naturais, etc., caracterizam o pauperismo do trabalhador.
No Brasil, mais de 52 milhões de indivíduos carecem de recursos para comer
diariamente. Dezenas a centenas de pessoas morrem nas enchentes anualmente. Centenas
de casas e até ruas inteiras são levadas todos os anos pelas chuvas de verão. Os corifeus do
capital argumentam que tais trabalhadores em dificuldades não fazem parte do sistema, daí o
seu grau de miséria e exploração. No entanto, trata-se exatamente do contrário. A maioria dos
assalariados vive na miséria, ao trabalhar nas fábricas e empresas dos capitalistas. Quando
desempregados, sua situação vê-se agravada, sem que haja uma piora especial em relação
aos que mantém emprego. É comum encontrar-se como moradores de favela trabalhadores
fabris altamente especializados. As dificuldades diante das catástrofes naturais dá-se porque a
situação já era de miséria. Por exemplo, em Belo Horizonte, segundo dados da prefeitura, 14%
da população é favelada. No entanto, as “áreas de risco” para desabamento são mais de
duzentas, muitas delas fora das áreas das favelas. No estado de São Paulo, estima-se em 11%
a população favelada. Contudo, as áreas de risco para desabamento de moradias atinge um
número de milhares. Só no município de Taboão da Serra, tais áreas são mais de cem. Na
grande São Paulo, segundo uma pesquisa, os trabalhadores gastam em média 26% do tempo
de uma jornada de trabalho para ir e vir diariamente até seus locais de emprego.

34
A elevação constante dos preços das mercadorias é um dos traços principais da
sobreexploração que a burguesia costuma lançar sobre os trabalhadores. A política de classe
da dominação é descarregar todos os custos adicionais sobre os preços. Aumentar de tal modo
a margem nominal de ganho que ela resulte em algum confisco adicional dos rendimentos dos
operários. Esta é a verdadeira racionalidade do capitalista: ampliar ao máximo a taxa de lucros.
Por este mecanismo, os capitalistas usam inflação para fomentar ganhos adicionais.
Como se pode observar, desde o congelamento dos salários no começo do plano
real, com o reajuste dos preços e tarifas, os preços de todas as mercadorias e as tarifas dos
serviços públicos continuaram periodicamente a se elevar, sob qualquer pretexto. No entanto, a
correção dos salários em proporção às taxas inflacionárias foi mínima. Nas categorias fabris e
de serviços de infra-estrutura ocorreram mesmo recuos nas taxas nominais de salários. Só no
mês de janeiro de 2003, segundo o índice do IPC – Fipe, foi a variação percentual a que se
segue, nos referidos itens:

Designação %
Educação 3,76
Despesas Pessoais 3,34
Alimentação 2,65
Transportes 1,94
Saúde 1,39
Habitação 0,75
Vestuário -0,19
Índice Geral 1,79
Trata-se da política constante de correção de preços praticada pela burguesia e
obviamente coadjuvada pelo seu governo. Na verdade, a ponderação de tais índices expressa
os interesses da dominação e sequer pode refletir a extensão das perdas de rendimentos dos
trabalhadores, para o mecanismo extra da acumulação. Os apologistas do capital costumam
apresentar o “aquecimento” da economia, ou seja, um acréscimo de compras do consumidor
final, como elemento responsável pela alta de preços. Ao apresentarem as coisas desse modo,
se esquecem de comentar a prioridade da produção burguesa, qual seja, (1) abastecer a si
mesma; e, para isso, (2) abastecer as exportações, recebendo para tanto em moeda
estrangeira. O desinteresse da burguesia periférica pelo mercado interno é fato notório.
Expressa, aliás, a sua falência histórica como classe dominante.
As políticas econômicas burguesas organizam, por isso, a política do “pára” e “anda”
(stop and go) da produção, para impedir o aumento da oferta, com a elevação do consumo
pelos trabalhadores. A manipulação da taxa de juros é um instrumento pelo qual o conjunto da
produção capitalista é subordinado aos ganhos do capital financeiro. Quando o consumo se
eleva mais um pouco na economia local (exemplo: trimestre natalino) e a corrida dos preços
tira vantagem da escassez relativa de mercadorias, a imediata elevação da taxa de juros
impede a transferência dos ganhos de mercado para o capital industrial, particularmente

35
pequeno e médio. O “desaquecimento” da economia dá-se então: (1) pelo aumento de ganho
dos proprietários dos empréstimos (bancos, agiotas, etc); (2) pelo estrangulamento do crédito
ao consumidor (juros excessivos); (3) pela redução da produção (com valorização das
importações, controladas por quem controla o câmbio); (4) pelo barateamento da mão-de-obra
(aumento do desemprego). Se o governo não elevasse a taxa de juros, reduzindo a produção e
aumentando o ganho dos financistas, então o ganho seria daqueles elementos ligados à
produção, como os industriais e os produtores agropecuários, vinculados ao mercado
doméstico.
Conhece-se portanto um governo que representa o capital financeiro pela política
econômica que ele adota e não pelas promessas que faz. Ao adotar a receita ortodoxa, o
governo se alia ao capital financeiro, ou se faz dele mero representante. Os cornetins do capital
financeiro argumentarão que sempre é melhor viver sem inflação do que com uma produção a
mais, artificial. Isto, contudo, é mera cornetada. Não existe capitalismo sem inflação, ainda
mais em sua decadência da época atual, quando abandonou o estalão ouro. Elevar os preços
dos produtos escassos permite efetivar uma mais-valia que de outra forma seria perdida. No
regime do plano real, enquanto os preços subiram de três a quatro vezes, os salários médios
foram corrigidos nominalmente em 50%. O conjunto da produção industrial do país utiliza
pouco mais de 60% da capacidade instalada, durante o ano, com picos de 80% a 83%, durante
a produção para as festas natalinas (máximo geralmente em agosto).
Dezenas de milhões de desempregados garantem os ganhos da pequena produção
que é efetivada. Recorde-se que o PIB local é apenas uma fração do PIB da Califórnia. Um
governo popular adotaria políticas keynesianas para enfrentar a crise: (a) redução do exército
industrial de reserva; (b) financiamento da pequena e média indústrias; (c) redução dos
impostos aos assalariados, (d) controle imediato do câmbio, etc. Um governo que adotasse
políticas econômicas keynesianas jamais abriria mão do controle sobre a moeda doméstica e,
portanto, do Banco Central.
Não se está aqui a defender sequer uma política similar a dos trabalhadores. Está-se
a chamar a atenção para o impacto necessário de uma outra política, capaz de expressar os
interesses da burguesia industrial e da pequeno burguesia. Não é verdade que só seja possível
aplicar a política de ortodoxia monetária na situação do capitalismo.
Seguem-se estimativas percentuais da Confederação Nacional das indústrias (CNI):
Variação percentual prevista ( CNI)
Item 2002 2003
Inflação (IPCA) 12,5 9,0
PIB (anual) 1,6 2,0
Taxa nominal de câmbio 2,92 3,4
Produção industrial 2,1 1,8
Exportação (US$ bi) 60,4 65,5
Importação (US$ bi) 47,2 50,0
Saldo comercial (US$ bi) 13,1 15,5

36
Taxa média nominal de juros 19,2 22,0

Em que pese a modéstia dos valores apontados pela CNI, que admitiu uma taxa de
8,6% na taxa da produção industrial no curto prazo, o arrocho da política monetária já produziu
uma taxa de juros de 25,5% ao ano e tende a sustentar uma alta elevada do “spread” aplicado
pelos bancos (diferença entre taxa bancária paga ao capital e cobrada para emprestar). Tudo
indica, portanto, um primeiro semestre de estagnação, dentro do modelo corrente do
monetarismo para a periferia. O objetivo de tal política é assegurar colheitas maduras para o
capital financeiro, com a dizimação dos ganhos produtivos locais. Com a elevação da taxa
Selic, caso venha a ocorrer o completo repasse da mesma aos emprestadores individuais, a
taxa para os consumidores pode chegar aos 325% ao ano. Nesse caso, poder-se-ia sentir
saudades da gestão econômica de Hamurabi, que fixava a taxa em 30%. Cumpre observar que
semelhante taxa Selic termina por cair sobre os portadores de baixa renda, ou seja,
trabalhadores. Os juros do chamado cheque especial e do cartão de crédito, instrumentos de
compra da pequena burguesia e da camada superior dos trabalhadores, tornou-se assim uma
vez mais exorbitante.
A depauperação permite pois a obtenção de enorme mais-valia extra nas condições
dos países que foram colônias ou que conheceram durante séculos o trabalho escravo. 60% da
população latino-americana encontra-se subalimentada, vive em habitações precárias e
submetidas a riscos graves nos meios de transportes. Assim como a escravidão nas colônias
cumpriu papéis produtivos que permitiram às atuais metrópoles fazerem suas revoluções
industriais, da mesma forma a miséria na América Latina hoje, na África, na Ásia, permite a tais
metrópoles manter seus custos baixos e lograrem a sobrevivência do capital.
A depauperação é assim, nas semicolônias, a contraparte do alimento mais barato
que é colocado na mesa do operário da metrópole. Ainda nessas condições, milhões de
trabalhadores do chamado primeiro mundo não consegue se alimentar muito melhor do que os
pobres da periferia. O capitalismo só deixa uma esperança à maioria absoluta dos seres
humanos: a sua substituição pelo socialismo.
Mesmo nas metrópoles capitalistas o desemprego em escala de massa tem
transformado bairros, povoações etc., em áreas decadentes, com abandono das políticas
municipais, de segurança pública, do serviço social etc. Nos países onde mais o capital
avançou, é comum encontrarem-se localidades onde camadas populacionais apenas vegetam,
após a migração das atividades industriais para outras regiões. É próprio do capital consumir
os recursos naturais de uma região e depois abandoná-la por outra, sem quaisquer
considerações pelos milhares de trabalhadores que deixou para trás. Fábricas, bairros, vilas e
cidades fantasmas são o resultado lógico da ação de um capital monopolista que obedece
apenas à lei do seu acrescentamento.
Inúmeras atividades sob o capital, em virtude de sua alta insalubridade, com
verdadeiro efeito dizimador sobre a força de trabalho, são orientadas por práticas
discriminatórias e até racistas, na escolha da força de trabalho. A miséria física atinge assim

37
elevada porcentagem da força de trabalho, de origem migrante: mexicanos nos EUA;
portugueses na França; turcos e curdos na Alemanha; nordestinos no sul do Brasil; etc. Estas
categorias de trabalhadores discriminados recebem uma remuneração inferior, sob a legação
de raça, nacionalidade, ou regionalidade. A política consciente dos capitalistas para dividir os
trabalhadores de modo irracional, lançando uns contra os outros, contribui para o aumento das
disparidades, para a desunião de classe e para a piora absoluta da situação da classe
operária.
Esta população trabalhadora discriminada é colocada pelo estado capitalista abaixo
do restante conjunto social, e hostilizada publicamente para servir de advertência de o quanto
ainda se pode piorar, nas condições do capital. Montam-se verdadeiras “industrias” de
imiseração com tais setores, gastando-se verbas enormes com a sobrepopulação, sua fração
etnicamente discriminada etc., quando o verdadeiro problema é que ela não pode ser de outro
modo empregada pelo capital, para manter baixo o preço de mercado da força de trabalho.
A contínua elevação da oferta de produtos no mercado e a melhoria do consumo das
classes dominantes requer objetivamente a elevação das condições de vida dos trabalhadores.
No entanto, a luta dos capitalistas para reduzir o tempo de trabalho necessário à reprodução da
mão-de-obra, leva o regime do capital a demarcar o consumo dos trabalhadores com uma
pauta muito reduzida de bens. O volume e o número dos bens de consumo para trabalhadores
sofre assim longos períodos de estagnação sob o capital. Desta maneira, as famílias operárias
são obrigadas a pesado endividamento para ter acesso a um certo número de bens reservados
para a pequeno-burguesia, embora desde há muito tornados estes de necessidade geral.
Por outro lado, o contínuo avanço da ciência e da técnica prossegue diariamente a
oferecer novos produtos, sendo que os mais importantes deles, os de interesse social, nem
sempre são lançados no mercado, mas muitas vezes engavetados pelos oligopólios. Quanto
àqueles que se tornam novas mercadorias, são reservados por dez ou vinte anos, com lucros
superiores a mil por cento, para verdadeiras elites de consumidores. Isso se dá em toda a
pauta das necessidades, desde tipos de queijo ou reprodutores eletrônicos, até métodos de
ensino ou equipamentos médico-clínicos. O caso clássico desta comercialização pelos
capitalistas do fruto da ciência e da técnica é de comparar-se à “medicina do trabalho”, no caso
de um acidente ortopédico de um trabalhador fabril ou de um jogador de futebol de um grande
clube.
Todos se recordam dos casos sucessivos de clínicas de hemodiálise – como a de
Caruaru – que assassinava seus pacientes; ou das clínicas geriátricas – como a de Santa
Tereza –, que procedia da mesma forma.
A crescente racionalização dos processos de produção, no sentido de intensificar o
trabalho operário, a redução do salário real dos trabalhadores, a obrigatoriedade do trabalho
assalariado feminino, etc., exigem também uma elevação da racionalização da economia
doméstica das unidades familiares operárias. No entanto, os baixos salários e os elevados
preços dos produtos industriais impedem a entrada plena das famílias operárias no mercado de
consumo. Em países da periferia, com uma situação agravada por um menor número de

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motores domésticos, as trabalhadoras estão obrigadas a uma intensidade maior da chamada
“dupla jornada de trabalho”, dispensando grande parte daquele que seria seu tempo de
repouso a tarefas domésticas.
Os capitalistas não têm interesse na educação massiva da população, no seu bem
estar, na sua sanidade etc., a menos que isso se associe a enormes ganhos mercantis. A
concessão de canais de rádio e TV obedece a critérios de dominação política, deixando de
lado o potencial educativo, cultural e formativo – profissional. No Brasil, praticamente inexiste
uma rede pública dentária. Os trabalhadores são obrigados a comprar “planos de saúde”, que
nada mais são do que apólices da rede bancária, que não asseguram quaisquer serviços
médicos de maior custo. No entanto, mais de 50% da renda dos trabalhadores é apropriada
sob diferentes impostos e taxas para financiar os ricos e acrescentar o capital. Vê-se com toda
clareza que tal estado serve apenas aos capitalistas.
Devido ao forte padrão de flutuações da produção capitalista nos últimos trinta anos,
piorou de modo absoluto a situação dos trabalhadores, com crises periódicas que reduzem, a
cada movimento cíclico, o número de postos de trabalho existentes. Dezenas de milhões de
empregos desapareceram em todas as partes, sem que pudessem ser substituídos.
Conseqüentemente, isto tem implicado uma rebaixa objetiva no nível de vida dos
trabalhadores, ao mesmo tempo em que se elevou de modo gritante a situação de riqueza dos
capitalistas. Ao contrário da propaganda do capital, ocorreu na maioria dos países uma piora
absoluta na condição dos trabalhadores.
Os ideólogos da exploração entoam de pronto o cantochão de que tais fenômenos
são alheios ao capitalismo; que o sistema existe apenas em seu centro, tratando-se a periferia
do capital de uma outra coisa. Buscam assim ignorar a dualidade fundamental do capital: a
necessidade de tornar o operário miserável, para converter o burguês em rico. Sequer se trata
esta característica da sociedade do capital de fenômeno recente. Já no século XVIII, em pleno
começo da revolução industrial, Jean Jacques Rousseau, um dos principais ideólogos da
Revolução Francesa, declarou a respeito: “os ricos deixariam de ser felizes, se o povo deixasse
de ser miserável”.
Somente a organização política e econômica dos trabalhadores pode combater a
miséria absoluta. Esta miséria é fonte de riqueza adicional para os capitalistas, transformando o
trabalhador no escravo da época presente. A luta organizada de dezenas de milhões de
operários, que se tornam capazes de tomar seu destino em suas próprias mãos, é o caminho
único que permite escapar à exploração desumana do capital.
Ao mesmo tempo em que cresce o domínio técnico da produção, ao mesmo tempo
em que a procura de milhões de indivíduos não pode ser satisfeita, a reprodução da força de
trabalho se dá a condições mais elementares, tornando cada vez mais precário o modo de vida
do operário. Portanto, piorar a situação do operário é uma necessidade fundamental para a
expansão capitalista.
A solução que os capitalistas dão a tal problema é explorar comercialmente a cultura
da violência, que inunda os meios de informação, sua filmografia etc. Nessa cultura da

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violência, os ideólogos do capital ensinam à população desprovida de meios de vida a ciência e
a arte do crime, para fomentar a insegurança social, a repressão das milícias do estado e dos
privatistas etc. No curso da crise atual, bilhões de dólares que poderiam criar empregos
comuns foram utilizados na criação de equipamentos e forças de segurança de todos os tipos,
com a finalidade de semear o medo, o crime, o ódio e o individualismo entre as camadas dos
trabalhadores. Através de tais métodos de trabalho, explorando a fronteira da pauperização
absoluta, os capitalistas e seu estado esterilizam enormes forças produtivas, que, de outro
modo, poderiam levar a transformações benéficas, intoleráveis para o capital.
O abismo entre (1) as necessidades básicas da classe operária e (2) seu consumo
efetivo, só pode ser bloqueado pela luta política dos trabalhadores, pela sua organização nos
postos de trabalho, pela formação de comitês de fábrica, de empresa, a luta sindical ativa, a
luta econômica aberta. Quaisquer medidas conciliatórias da parte dos trabalhadores, seus
organizadores e propagandistas, apenas conduz à piora da situação social dos operários e dos
setores a eles ligados.
No Brasil, nas presentes condições democráticas de luta, é possível elevar a
organização dos trabalhadores em milhares de associações de fábrica, de bairro, sindicais,
distritais, cooperativas etc., para lograr barrar a eliminação sistemática dos direitos e do nível
de vida. Os trabalhadores tem adquirido enorme experiência na luta democrática nos últimos
vinte anos, necessitando seus esforços serem direcionados para consolidar organizações que
façam fluir os movimentos sociais. A unidade social pela base é a grande força que pode
bloquear o atual avanço da exploração capitalista. A luta organizada dos trabalhadores em
geral é o grande instrumento para barrar a pauperização absoluta e oferecer novas soluções
criativas do povo na luta pela sobrevivência.
Quando a crise de 1971 – 1973 iniciou a longa depressão atual do capitalismo,
encontrava-se nas metrópoles 63% da classe operária fabril e 37% dela na periferia. Passados
trinta anos daquele profundo reajuste estrutural, a força fabril das metrópoles decresceu 19%,
contra uma queda correspondente de 30% da força operária industrial da periferia. Com este
resultado, a classe operária fabril é hoje nas metrópoles 74% da mundial, contra uma similar de
26% na periferia. Portanto, para que o operariado fabril metropolitano se expandisse em 11%
sobre o resto do mundo, foi necessário um recuo de 11% do operariado industrial na periferia.
Este é o resultado da divisão internacional de trabalho, nas condições de uma crise crônica,
prolongada, de estagnação. Os empregos que se criam nas metrópoles são aqueles que
desaparecem na periferia. Não é possível elaborar um conjunto de políticas capaz de equilibrar
a economia de uma país periférico que seja aceitável pelos seus exploradores, tratem-se eles
de oligopolistas, funcionários públicos metropolitanos etc.
Organismos como o FMI, o BIRD, a ONU etc foram desenhados pelo centro
imperialista e não podem tolerar reformas nas relações de produção que ajudaram a manter e
a instaurar. A força do movimento dos trabalhadores se encontra, portanto, primeiramente, em
sua capacidade de (1) elevar a própria consciência; (2) organizar suas próprias fileiras; (3)

40
construir partidos de classe, com base na sua ação independente; (4) ousar apoiar-se nas
grandes massas do povo, governando em causa própria.
Durante todo esse período (1971 – 2002), continuou aumentando a proporção dos
assalariados e empregados na população em geral, com constantes decréscimos da pequena
burguesia rural e urbana, em escala mundial. Como resultado, as cidades em todos os
continentes sofreram um inchamento colossal, sem que a produção industrial aproveitasse a
enorme oferta de mão-de-obra para ela colocada. Atuando no sentido inverso, as fábricas
reduziram seus postos de trabalho, tanto nas metrópoles como na periferia. A redução dos
postos de trabalho leva ao crescimento cada vez mais notável da sobrepopulação relativa,
conduzindo tanto a mercados duais, como à criação de novos mercados primitivos no seio do
capitalismo.
Ocorreram, portanto, transformações importantes tanto na estrutura da burguesia
quanto na composição do proletariado. A grande burguesia concentrou-se e se tornou mais
financeira que nunca, exceto antes da primeira
Guerra Mundial (1914 – 1918). A transformação dos meios de comunicação, pelo impacto da
chamada terceira revolução industrial, permitiu a unificação dos mercados financeiros em
tempo real, na escala de todo o mundo. A burguesia industrial tornou-se comandada por
aquele seu subsetor que constitui a burguesia financeira (bancos internacionais, cartéis,
grandes oligopólios etc). A burguesia média (industrial e comercial) ficou limitada a
desempenhar papéis locais, dentro das economias nacionais. A pequena burguesia tem-se
reduzido numericamente no longo prazo, do ponto de vista de sua tendência. No entanto, nas
conjunturas concretas de ascensão e descenso da acumulação do capital, ela se expande e se
retrai, com elevações e quedas bruscas. Tem-se tornado, por isso, um setor social de grande
instabilidade política e econômica.
O proletariado expandiu-se numericamente de modo impressionante, pela sua
reprodução social e pelo aporte maciço de dezenas de milhões de camponeses sem terra,
operários rurais migrantes e pequeno-burgueses extremamente empobrecidos. No entanto, a
expansão numérica da classe trabalhadora foi acompanhada pelo fenômeno da
desindustrialização da atual grande depressão, caracterizando uma expansão crescente da
sobrepopulação relativa, quando comparada ao operariado fabril ativo. Centenas de milhões de
trabalhadores vivem desprovidos de postos de trabalhos permanentes. A cada crise
econômica, milhões de empregos desaparecem.
Os “embelezadores” do capital buscam ver apenas o surgimento dos ramos novos da
produção: a expansão eletro-eletrônica, a bio-tecnologia, a indústria de foguetes e satélites, a
química fina, etc. No entanto, os êxitos desses novos ramos, muitos deles desejáveis e
necessários, não podem justificar a tremenda disparidade salarial, os diferenciais de
rendimento e de situação de vida, dentro da classe trabalhadora e fora dela. A expansão dos
novos ramos, embora se faça às custas e em detrimento dos antigos, porque lhes suga o
capital de investimento, deve proceder a um efeito de difusão das novas técnicas, permitindo
transformar o conjunto da produção. Por outro lado, devido a ideologia de lucro máximo que

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move todas as apropriações do capital, pode-se antever que o sucesso vindouro das novas
atividades, que hoje consomem massas enormes de capital, deverá ocorrer, materializando os
sonhos de grandeza dos exploradores, para fomentar ainda mais a miséria, as diferenças
sociais, e o racismo.
A experiência histórica da classe operária em todo o mundo deixa claro a
necessidade de reorientação dos programas societários, da pesquisa, do desenvolvimento dos
processos produtivos, etc. Se os avanços da ciência e da técnica não forem subordinados aos
interesses sociais, eles se tornarão apenas novos meios de discriminação, exploração humana
e matanças.
Nos últimos trinta anos, a reestruturação microeconômica da indústria deu-se, em
média, da seguinte forma no Brasil expresso em índices:

Ano 1972 2002


Mão-de-obra 400 100
Produto 100 120

Ou seja, um aumento da produção em 20% na empresa industrial média, foi


acompanhada por uma redução de 75% nos postos de trabalho. Por esta razão, a grande
indústria, responsável pela maior parte da produção, gera menor quantidade de empregos.
Contrariamente, centenas de milhares de pequenas firmas compreendem a maior parte da
força de trabalho assalariada. Apenas 400 empresas no Brasil geram mais de 60% do PIB. Não
é de admirar que o poder de decisão do capital esteja concentrado nessas empresas e elas
pouco se preocupem com o impacto de medidas antioperárias, que afetam dezenas de milhões
de trabalhadores, fora de seus muros. Contudo, as medidas “racionalizadoras” adotadas pelas
empresas maiores e mais ricas reduzem fortemente a área de manobra das negociações entre
as empresas menores e as organizações sindicais, porque as imposições colocadas pelos
oligopólios põe a massa das empresas médias e pequenas à beira da ruína. Nessas condições
do mercado de trabalho, não há muita coisa que elas julguem possa ser negociada.
A “cadeia de produção sem fim” caracterizou nos anos 1920 o auge da chamada
segunda revolução industrial, com a implantação maciça do ramo automotivo. Às formas de
organização e de produção em cadeia foram a base do chamado fordismo. No auge da terceira
revolução industrial, liderada pelas reduções de custos correlatas à indústria eletrônica, a
formação de equipes de trabalho capazes de planejar autonomamente múltiplas tarefas veio
substituir o fordismo pelo toyotismo.
Graças ao toyotismo, foi possível reduzir em 70% os postos de trabalho fabris nas
atividades transformadas, mantendo-se o mesmo nível de produção. Isto significa um novo
patamar da produtividade social do trabalho. Trata-se de uma intensidade de assimilação do
trabalho vivo sem precedentes na história.
Cada viragem da técnica utilizada pelo capital constante funciona como um
desqualificador de parte da força de trabalho. Os operários que agora tem uma qualificação

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que não corresponde às novas máquinas e procedimentos tornaram-se “desqualificados” ou
não especializados. Devem rebaixar seus salários ou juntar-se ao exército industrial de reserva.
A qualificação obtida em outro momento não encontra aplicação. Enquanto grupos de
trabalhadores vêm-se alijados da produção que avança, as exigências da produção
automatizada não cessam de criar novas especializações que em seu conjunto, elevam o nível
de especialização dos operários.
Contudo, tais sucessivas “especializações” escondem o fato essencial do crescimento
continuado do capital constante, motor da acumulação de capital. As periódicas substituições
de tecnologia são em grande parte desnecessárias do ponto de vista do trabalho social, mas
apresentadas pelos capitalistas como instrumento sem igual de progresso. Seu resultado
líquido é o desemprego de trabalhadores, com o aumento da margem de lucros dos patrões.
Tais medidas seriam absolutamente desnecessárias numa sociedade reorganizada pelas
forças do socialismo, em que o pleno emprego da mão-de-obra substituiria a intensidade
máxima do trabalho. Um exemplo pode esclarecer melhor este ponto. No Brasil, de uma
população economicamente ativa de cerca de 100 milhões de indivíduos, tem-se um
desemprego oficial de cerca de 20%. O total de horas trabalhadas semanais é de
aproximadamente de 4,16 bilhões. No entanto, com uma jornada de seis horas e totalidade da
mão-de-obra empregada, o total de horas trabalhadas semanais seria 3,9 bilhões, ou seja, 93%
do tempo da força de trabalho empregada atualmente. A intensidade máxima do trabalho é
uma necessidade exclusiva do capital. A redução da jornada de trabalho, na verdade,
aumentaria a produtividade do trabalho, permitindo elevar o nível de vida dos trabalhadores
substancialmente.
A persistente movimentação das camadas do proletariado, em função das mudanças
técnicas e novas necessidades do capital, cria novas diferenças entre os trabalhadores,
requerendo a elevação da consciência social e política de seu movimento social. Estas
diferenciações são utilizadas pelo estado burguês e pelos capitalistas para destruir o
movimento sindical, combater a unidade dos trabalhadores e rebaixar em geral o nível dos
salários.
Contrariamente, a luta pela redução da jornada semanal de trabalho permite reduzir a
exploração da força de trabalho, pela menor intensidade do ritmo; permite gerar milhões de
empregos nas indústrias, permite reforçar a unidade da classe trabalhadora, pela diminuição da
sobrepopulação relativa.

Tendência histórica da acumulação capitalista


Todos conhecem que na época da produção simples, antecedente histórica do
capitalismo atual, prevalecia a pequena produção, fracionada em oficinas e comandada por
técnicas manuais. O processo de acumulação original do capital efetuou a expropriação da
pequena produção colocando em seu lugar a fábrica e a grande produção capitalista. Contudo,
pelas necessidades da concorrência oligopolista, em busca de concretizar taxas de lucro cada
vez mais elevadas, o sistema imperialista apresenta hoje a necessidade de restaurar (a)

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mercados primitivos e (b) extensas áreas de produção simples. O avanço da divisão
internacional de trabalho lança, a cada movimento seu, massas de milhões de operários
desempregados na periferia da acumulação, deles demandando formas de organização não-
capitalistas, para aliviar as necessidades de reprodução do capital.
O movimento trabalhador e as organizações socialistas não podem simplesmente
aceitar tais imposições do capital. A luta para criação de estruturas produtivas fora do mercado
capitalista deve e pode ser comandada pelas organizações socialistas. Repetindo a
experiência histórica do século XIX, os trabalhadores (1870 – 1914) podem criar poderosas
atividades cooperativas e de outros tipos, que não sejam as empresas capitalistas. Tal
movimento social pode ser estruturado como parte da luta geral dos trabalhadores para o
avanço da democracia e o socialismo.
No processo de acumulação do capital ampliam-se sua concentração e sua
centralização, dando-se o mesmo com a produção. Algumas centenas de oligopólios
comandam a produção mundial. Durante a competição produtiva, dá-se periodicamente a
expropriação dos pequenos capitalistas pelos grandes, dos pequenos produtores pelas
atividades capitalistas. O avanço da divisão social do trabalho faz surgir ramos novos, que
incorporam novas tecnologias. Aumenta a quantidade de trabalho cristalizado utilizada e
intensifica-se a exploração do trabalho vivo. As empresas se interligam através do mercado e
elaboram estratégias próprias, conluio, para (a) rebaixar os salários dos trabalhadores, (b)
derrotar a concorrência e (c) apossar-se do excedente das atividades não-capitalistas. Nesse
sentido, foi ultrapassado um certo limite – devido à competição inter-oligopolista – além do qual
a substituição da força de trabalho por capital constante causa problemas macroeconômicos.
Trata-se do aspecto malthusiano do oligopolismo, ao tornar milhões de trabalhadores em
trabalhadores improdutivos, para obrigar outros milhões a produzir intensamente.
É interesse dos oligopólios lançar a grande massa da sobrepopulação relativa ao
emprego do capital para certas formas de mercados primitivos, em que tais trabalhadores
entreguem o produto de seu excedente social a preços vís, para as empresas capitalistas. Sob
o disfarce da “terceirização”, “terciarização”, “terceiro setor”, etc., os agentes do imperialismo
buscam induzir por toda a parte os desempregados a produzir mais-valia extra para o capital.
As organizações socialistas devem se opor firmemente a tais objetivos, criando meios políticos
para evitar a intermediação capitalista. Os produtores devem ser organizados para trocar
diretamente seus produtos com as organizações de trabalhadores, liquidando a intermediação
exploradora.
A acumulação do capital faz-se acompanhar, portanto: (1) da intensificação do caráter
social da produção; (2) da intensificação da exploração do proletariado e da população em
geral; (3) da concentração da propriedade produtiva em mãos de um punhado de capitalistas; e
(4) da intensificação e centralização da mudança técnica.
Ao intensificar a apropriação capitalista privada, os capitalistas tem que se opor ao
caráter social da produção, eliminando atividades e rebaixando o nível de vida dos
trabalhadores. Ou seja, as relações capitalistas de produção não logram satisfazer o grau de

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expansão das forças produtivas, sendo necessário periodicamente destruí-las. Agrava-se
assim, a contradição principal do capitalismo.
Em decorrência, dão-se as crises mais e mais amiúde, sendo o sistema imperialista
obrigado a valer-se da divisão internacional de trabalho, através da (1) troca desigual, (2) do
endividamento da periferia etc, para descarregar nos países dependentes o grosso do impacto
das crises.
Os estados capitalistas metropolitanos, seus oligopólios, os organismos
internacionais por eles criados e controlados, etc, procuram lançar mão de variantes do
planejamento socialista e formas regulatórias para administrar a sucessão crescente de crises
que se manifestam no sistema imperialista. O conjunto da produção oligopolística foi
socialmente dividido e espalhado geopoliticamente pelo mundo. Em muitos ramos, a
programação e o planejamento – embora hajam partido da experiência socialista – a
ultrapassaram em coordenação e qualidade programática. Confirma-se assim o avanço da
socialização no modo capitalista de produção e da necessidade da organização do trabalho,
como ante-sala da passagem a um sistema social mais progressista, o socialismo.
O exame consciencioso da crise atual, que já se estende por mais de trinta anos,
evidencia a importância da consciência social trabalhadora e da renovação de sua ideologia
socialista. A batalha vem sendo ganha taticamente pelos capitalistas no plano da consciência
social das populações, logrando assim, mantê-las afastadas do socialismo.
A criação em escala mundial das condições materiais da produção social contrasta
em nossa época com o rebaixamento da consciência socialista dos líderes e organizadores do
proletariado, na verdade fascinados pela sociedade de consumo. Por outro lado, o despreparo
político e teórico das massas populares reflete a fraqueza dos movimentos e partidos
socialistas para enfrentar a repressão e aprofundar o trabalho de propaganda das doutrinas
socialistas na massa do povo.
Como se sabe, o pós-guerra (1945 – 1962) foi um período histórico de recuperação
das forças produtivas do capital. Desse modo, o caráter das crises capitalistas tinha que ser
muito mais ameno, gerando o mito dos “quarenta anos gloriosos”. Tão logo as crises
capitalistas voltaram a se manifestar com maior intensidade, as metrópoles capitalistas
desenvolveram os mecanismos de recolonização da periferia, transferindo grande parte do
impacto das crises para ali. Esses mecanismos compreendiam: (a) guerras localizadas; (b)
exploração via comércio exterior, com a troca desigual; (c) exportação de capitais para a
periferia, com a maximização das taxas de lucro metropolitanas; (d) endividamento via
empréstimos, com manipulação do câmbio; etc. À medida que se intensificavam as crises e a
competição internacional, descarregava-se sobre a periferia as perdas do sistema. Isso deu-se
com as crises de 1962 – 1963; 1965 – 1967; 1971 – 1973; 1981 – 1983; 1987; 1990 – 1992;
1998 – 2001, etc. As oscilações da produção e dos ganhos das metrópoles levam o sistema
imperialista a reforçar a exploração dos trabalhadores e da periferia do capital.
Desta maneira, os gestores metropolitanos podem gritar sempre a excelência de seus
capitais excedentes e proclamar a indigência e o bloqueio técnico natural da capacidade de

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geração de excedentes do país periférico. Além da massa considerável de capital enviada às
metrópoles pelas classes dominantes da periferia, deve-se juntar o pagamento do serviço das
dívidas e juros locais, a remessa de lucros e dividendos etc, de forma que o montante de
capital extraído dos mais pobres é praticamente tão importante quanto a troca desigual. Por
outro lado, parte importante da mais-valia arrancada aos trabalhadores locais é utilizada de
forma improdutiva, fazendo falta na capacidade local de produção. No entanto, também a
acumulação improdutiva é acumulação, embora ela nada tenha a ver com melhorias para os
trabalhadores. Semelhante esterilização não pode gerar um lucro correspondente, o que
explica a ineficiência aparente da economia local. O conluio oligopolista e as resultantes
monopolizações da produção ou de seu resultado freiam a transformação do lucro em nova
capacidade produtiva.
Portanto, os grandes controladores do capital mundial, depois de exportar todos os
capitais necessários ao bem-estar adicional das metrópoles e arrancar através deles os últimos
centavos gerados nas mercadorias, proclamam solenemente a inabilidade natural dos países
pobres para “formar capital”, como se não tratasse da acumulação de capital. Na verdade, a
insuficiência aparente de recursos locais expressa a necessidade metropolitana da não-
reprodução desses recursos na periferia, devido à própria natureza do modo capitalista de
acumulação. A elevada taxa de exploração dos trabalhadores locais se dá, combinadamente,
pela (1) intensidade da jornada de trabalho, (2) constante ampliação da sobrepopulação
relativa, (3) rebaixamento do tempo de trabalho necessário à reprodução da força de trabalho e
(4) fraca expansão do capital produtivo local, mera reserva do vampiro metropolitano. A
dinâmica da acumulação periférica é – se isolada – necessariamente negativa. Ela não pode
ser separada dos interesses totais do capital, de que se constitui elemento secundário e,
conseqüentemente, o elo mais fraco da dominação imperialista. É enquanto parte do processo
global de acumulação que a negatividade da acumulação periférica revela sua força positiva de
acrescentamento, seu poder enriquecedor. Correntemente, dois são os motivos para explicar a
adoção no nível de toda a periferia do capital, de políticas ou programas de estabilização: (1) a
nova necessidade do capital financeiro, de reduzir ou eliminar os impactos inflacionários sobre
os seus títulos nominais de valor; e (2) a generalização da luta dos trabalhadores contra a
perda de seu poder-de-compra. Isto revela apenas uma parte do problema. Na verdade, as
desvalorizações cambiais constituíam-se instrumentos de (a) empobrecimento das populações
que as adotavam e (b) de transferência de valor de tais países que desvalorizavam para as
metrópoles, via mecanismo cambial e exportador.
No entanto, na medida em que tais mecanismos foram utilizados até a exaustão, nas
condições das taxas de juros flutuantes para os empréstimos internacionais, tendeu-se para
inviabilizar esta política de mão-única das desvalorizações. Daí a importância dos programas
assumidos nos anos 1980 e 1990, que ajustavam na estabilização das moedas locais, desde
uma paritização das mesmas ao dólar norte-americano. Semelhantes políticas são
evidentemente absurdas, porque teriam como resultado inviabilizar as exportações locais. No
entanto, como elas são elaboradas para servir aos interesses das metrópoles, estando estas

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entupidas de produtos primários e coloniais a baixo preço, decrescia a sua procura pelas
exportações da periferia. No entanto, tais metrópoles precisavam colocar quantidades enormes
de produtos nos mercados periféricos, pelo que a paridade monetária com o dólar facilitava
inundar tais economias locais com os excedentes industriais.
Desta maneira, a política econômica necessária para a dominação é adotada, pouco
importando (1) as necessidades da periferia ou (2) sua inconsistência com o discurso anterior.
Os países pobres foram rapidamente “convencidos” pelo Decálogo Neoliberal de Washington a
renunciar à sua soberania, porque o fluxo de ganho local é simplesmente “bombeado” para o
centro do sistema.
Nesse momento, os corifeus do capital gritarão que a periferia não produz excedente,
que a miséria nela é um “fato natural”, que é preciso garantir nela uma taxa de investimento
etc. O canto dos corifeus corresponde como uma luva aos dedos conjugados da exploração
internacional e local. Enquanto o capital doméstico da periferia vaza-lhe por todos poros e
dirige-se às metrópoles para reforçar ali a taxa de lucro, uma parte dele é bombeada de volta,
sob a forma de capital estrangeiro, para “impedir” o colapso da economia periférica
descapitalizada. Esta é a forma da “ajuda” financeira da “comunidade” internacional.
O Estado soviético, que por circunstâncias históricas havia-se tornado o principal
inimigo do sistema imperialista internacional, entrou em colapso e desapareceu na crise de
1989 – 1992. Apesar do enorme discurso anti-soviético de grande parte das lideranças
socialistas, o fato é que o colapso soviético levou também consigo o espírito combativo dessas
lideranças. O desaparecimento da “pressão soviética” levou grande parte dos ideólogos
pequeno-burgueses a proclamar o fim do socialismo, o fim das utopias, o fim da história, etc.
No entanto, a crise profunda que sucateou os Estados do leste europeu também sucateou
todos os Estados capitalistas do planeta. Enquanto os oligopolistas mantém em seus cofres
imobilizados milhares de bilhões de dólares, centenas de milhões de trabalhadores são alijados
da produção e os Estados não possuem recursos para consertar sequer suas rodovias e suas
pontes.
A incapacidade de fazer uma análise objetiva do caráter da crise atual leva tais
lideranças ao culto apologético do capital. A revolução encontra-se na ordem-do-dia, como à
época em que viveu Lenine, mas as novas lideranças não ousam enxergar a revolução, nos
meandros da crise atual.
As exigências da integração econômica dos monopólios foi enorme nos últimos
quarenta anos (1962 – 2002). O seu custo foi inteiramente repassado às massas
trabalhadoras. As novas tecnologias produzidas pela chamada “terceira revolução industrial”
tem (1) demandado volumes enormes de investimento, mas (2) não tem produzido a aceitação
mercadológica ou a taxa de retorno em geral esperada. Nessas difíceis condições, os Estados
capitalistas e seus oligopólios repassam os custos completos do problema de realização para
os trabalhadores e para os países pobres.
O controle democrático das organizações operárias e socialistas é a grande alavanca
que permite eliminar a confusão teórica e a desmobilização das massas de trabalhadores.

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Estabelecido o controle democrático, a tarefa central é a propaganda socialista, motor que
permite reunir e organizar massas de milhões de trabalhadores. Enquanto a confusão teórica
aponta para uma suposta hegemonia absoluta do capital, experiências como a crise Argentina
e a crise brasileira indicam o potencial revolucionário nas áreas periféricas do capital, e a
importância indiscutível da liderança e da organização socialistas.
Pode-se observar em nossa época que a conformação histórica das condições
objetivas e subjetivas para a passagem do capitalismo ao socialismo sofreram profunda
subversão. Em primeiro lugar, a sucessão de crises dos últimos quarenta anos (1962 – 2002)
revelaram a profundidade da crise estrutural do capitalismo, as dificuldades insanáveis do
sistema imperialista e a importância do caminho nacional para o socialismo. Por outro lado, as
concepções e as formas já paralíticas do socialismo real não puderam sobreviver, porque
reinstalaram as suas sociedades como forças periféricas e auxiliares do capitalismo. No
entanto, o colapso do socialismo real, com o desaparecimento de sua capacidade militar de
confrontação com o imperialismo, exerceu tremendo impacto desmobilizador nas condições
subjetivas da luta revolucionária. Por toda parte, as lideranças socialistas, em sua maioria
burocratizadas, entraram em pânico, bateram em retirada, recusaram seus princípios e foram
entrincheirar-se nos aparentemente seguros abrigos da burguesia reformista.
Contudo, o impacto objetivo da crise continuou sua marcha. Já na próxima década
deverá o movimento socialista haver reconstituído suas lideranças, podendo então conduzir
massas de milhões de trabalhadores à luta. É, pois, no sentido do futuro próximo que nos
devemos organizar e orientar.
No período de hegemonia da economia keynesiana, que terminou com a crise de
1971 – 1973, a regulação econômica se baseava dar por uma combinação de: (a)
rebaixamento de salários; (b) ganhos nominais para os capitalistas; (c) indução massiva de
investimentos desde crescentes investimentos públicos etc. Nesse período, buscava a política
econômica burguesa apoiar a expansão do consumo, para através dela, debelar a crise. As
políticas keynesianas correspondiam, no campo burguês, a uma certa resistência das
burguesias industriais aos objetivos do parasitismo financeiro, e das piores tendências
imperialistas que ele representa.
Na época atual, contudo, instalou-se a ditadura disfarçada dos oligopólios, seu firme
controle dos mercados financeiros em escala global, apoiado no controle da mídia
monopolizada via satélites.
A cultura política dos oligopólios revela-se, como na época do nazi-facismo, pelo seu
caráter racista, pelo seu caráter venenoso contra tudo que lhe resiste. Ao atacar de modo
multifacético e sistemático os movimentos populares, o socialismo, o nacionalismo periférico,
etc, escolheu,após os acontecimentos de 11 de setembro, como centro de sua campanha de
ódio a cultura islâmica. Na preparação e na execução de suas guerras localizadas –
concebidas para apoderar-se dos impostos dos contribuintes – os governos monopolistas
atacaram, na última década, inúmeros países , com destaque para o Iraque, a Iugoslávia, o

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Afeganistão. Prepara-se agora novo ataque contra o Iraque, para assumir o controle de suas
reservas petrolíferas, com o pretexto de depor Saddam Hussein.
Após o colapso do dólar no mercado do ouro (1971 – 1973) e nas condições das
chamadas “crises energéticas” (1973 – 1975; 1979 – 1983) a hegemonia no campo burguês
passou da burguesia industrial para o capital financeiro, sendo o keynesianismo abandonado
em favor das estratégias neoneoclássicas. Sob o império aberto do capital financeiro, num
ambiente de hegemonia que não se reproduzia desde antes da Primeira Guerra Mundial, o
comércio internacional transformou-se numa arma de agressão contra os países do socialismo
real e do chamado “terceiro mundo”.
Durante a nova hegemonia do capital monopolista foram liquidados os instrumentos
institucionais para: negociar com os sindicatos; para fomentar o estado de bem-estar social;
reequilibrar os valores dos bens “primários” ou “naturais” no comércio internacional, etc. Ao
mesmo tempo, foram acelerados os investimentos improdutivos, como as despesas militares;
reduzidos os impostos dos mais ricos; reforçadas as políticas de desequilíbrio, endividamento,
etc.
A política de “linha dura” contra os pobres e os trabalhadores, de sobre-exploração no
comércio internacional e de fomento das guerras locais ficou conhecida sob nomes como o
“thatcherismo”, “reaganismo”, etc. A recusa das lideranças populares e socialistas, em vasta
escala, para enfrentar o imperialismo com um estratégia de classe levou à vitória dos
monopolistas, com o colapso do socialismo real. Após a queda do socialismo real assistiu-se,
em plano internacional, a um nova fase ofensiva do capital financeiro, em busca de consolidar
sua vitória parcial: a globalização. Tal “globalização” constituiu-se um conjunto de estratégias
imperialistas cujo objetivo é o domínio global do mundo.
Um feixe importante de estratégias da globalização, voltado contra os países pobres,
tem sido o chamado “Consenso de Washington”. Foi através desse feixe de estratégias que os
países da América Latina, como o Brasil, México, Equador, Peru, Uruguai, Chile, etc, foram
praticamente levados à ruína.
Tem-se, portanto, que a tendência à estagnação do processo acumulativo de capital
nos últimos trinta anos foi combatida fundamentalmente: (a)à base de sobreexploração da
classe operária em todos os países, maximamente na periferia do capital; (b) à base de
políticas guerreiras, cada vez mais brutais; com o sobre-armamentismo dos EUA, a destruição
da Iugoslávia, do Iraque, a repressão do tipo nazi em toda a periferia, etc; (c) o descarrego, por
via da desvalorização do dólar e da troca desigual, nos trabalhadores e nos países pobres do
custo da estagnação, etc.
Ao mesmo tempo, os grandes oligopólios intensificaram a divisão internacional do
trabalho e o investimento em capital constante. Daí ampliar-se a perda de valor das matérias
primas, da força de trabalho e dos produtos tropicais, conquanto aumente sem cessar a
produtividade do trabalho e se tenha reduzido o tempo de trabalho necessário.
Por debaixo da propaganda cínica da paz, da defesa da humanidade, etc, os círculos
imperialistas vem reforçando nos últimos vinte anos suas posições militares e de ocupação

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física dos territórios subjugados, de modo bastante aberto. Eles buscam se precaver das
tempestades revolucionárias que se aproximam e cujas condições objetivas estão dadas. A
Amazônia brasileira, por exemplo, encontra-se literalmente ocupada por missões religiosas, e
instituições paramilitares, etc, que se preparam ali para criar “estados autônomos” indígenas.
No entanto, a crise do sistema imperialista caminha para novas facetas, de todo
evidentes. Ao contrariar a lei do valor, ao violar a lei da oferta e da procura, vendendo caro o
que produz barato e comprando barato o que outros produzem a custos elevados, as potências
imperialistas preparam novas dificuldades, de que não poderão escapar para sempre.

BIBLIOGRAFIA

1. MARX. K., El Capital. Traduzido por W. Roces; FCE; Ed. Fundo de Cultura Economica,
México, 1973; Volume I; 7a. reimpressão (1a. 1946)
2. BARBOSA, W. N. O Problema da Acumulação de Capital no Brasil. São Paulo, 1966
3. BARBOSA, W. N. A Acumulação de Capital no Brasil. São Paulo, 1989

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