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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

SERVIÇO SOCIAL
DISCIPLINA TEORIA SOCIAL

Docente: André Mayer


Discente: Daniela Fagundes

Resumo Capítulo 5
A acumulação capitalista e o movimento do capital

Em todas as formas de organização da economia das sociedades humanas, a produção de bens


(valores de uso) necessários à manutenção da vida social é um processo, um movimento que não pode
ser interrompido. Parte da produção não pode ser consumida pelos membros da sociedade, mas deve
ser retransformada em meios de produção ou materiais para uma nova produção.

5.1. A reprodução ampliada: a acumulação de capital

Na economia capitalista, a reprodução simples, em que os capitalistas gastam


toda a mais-valia em consumo pessoal, não reflete a dinâmica real do sistema. O motor da
reprodução é a acumulação de capital, onde os capitalistas reinvestem parte da mais-valia
para expandir a produção e buscar maior lucro.
Um exemplo hipotético é dado para explicar a reprodução ampliada. Um capitalista investe
R$10.000.000,00 na produção de mercadorias, com R$8.000.000,00 em capital constante
(máquinas, infraestrutura) e R$2.000.000,00 em capital variável (salários para
trabalhadores). Com uma taxa de mais-valia de 100%, o valor total das mercadorias
produzidas é de R$12.000.000,00.
Metade da mais-valia (R$1.000.000,00) é gasta em consumo pessoal pelo
capitalista, enquanto a outra metade é reinvestida para ampliar a produção. Na próxima
etapa, o capital investido será de R$11.000.000,00, com R$8.800.000,00 em capital
constante e R$2.200.000,00 em capital variável. Mantendo a taxa de mais-valia, a nova
produção terá um valor total de R$13.200.000,00.
Esse processo de reinvestimento caracteriza a reprodução ampliada e a
acumulação de capital, fundamentais para o funcionamento do capitalismo. No entanto, o
desenvolvimento contínuo da acumulação pode levar a uma superacumulação de capital,
resultando em crises econômicas.
A acumulação de capital depende da exploração da força de trabalho. Quanto
maior a exploração, maior será a mais-valia e a acumulação. Os capitalistas podem
aumentar a exploração através de estratégias como prolongar a jornada de trabalho,
intensificar o ritmo, reduzir salários e introduzir inovações tecnológicas.
Outros fatores que afetam a acumulação são o aumento da produtividade do
trabalho e o volume total de capital investido. Quanto maior o investimento em capital, maior
será a acumulação.
A reprodução ampliada é essencial para o capitalismo, pois os capitalistas que
não buscam expandir seus negócios acabam sendo engolidos pela concorrência e deixam de
ser capitalistas. A acumulação de capital é vital para o sistema, e a análise da reprodução da
produção capitalista está intrinsecamente ligada à análise da acumulação.

5.2. O movimento do capital

O estudo do Movimento de Produção Capitalista (MPC) está focado na esfera da


produção, mas a compreensão da reprodução capitalista e da acumulação requer a
consideração do movimento do capital, que não se limita apenas à produção. O ciclo do
capital começa com o capital monetário (D), usado pelo capitalista para adquirir meios de
produção (Mp) e força de trabalho (F) a fim de produzir mercadorias (M). Nesse momento, o
capital se transforma de capital monetário em capital produtivo.
Na esfera da produção, os trabalhadores operam os meios de produção (Mp) e
criam novas mercadorias (M'), gerando mais-valia. Essas novas mercadorias só têm sentido
quando são realizadas, ou seja, quando são vendidas e transformadas novamente em capital
monetário (D'), maior do que o capital inicial (D) investido na produção.
Esse ciclo do capital, com seus três momentos (circulação e produção), constitui a
rotação do capital. A continuidade da produção e a reprodução ampliada e a acumulação
dependem do fluxo contínuo desses três momentos. Qualquer interrupção ou suspensão
temporária desse movimento pode perturbar a dinâmica do capital e abrir caminho para
crises econômicas.
O tempo de rotação de um capital é o período que vai desde o momento em que o
capital é adiantado sob a forma monetária até o momento em que retorna em processo sob a
mesma forma monetária. O interesse do capitalista é reduzir ao máximo o tempo de rotação
de seu capital para realizar mais reinvestimentos em um menor espaço de tempo. Isso é
alcançado por meio de diversos meios, como intensificação do ritmo de trabalho e
incorporação de inovações tecnológicas.
O tempo de rotação pode variar consideravelmente entre capitais investidos em
diferentes ramos de produção. Portanto, o estudo da reprodução da produção capitalista está
intimamente ligado ao estudo do movimento do capital e sua rotação.

5.3. Concentração e centralização

A acumulação de capital é o objetivo perseguido tanto pela classe capitalista como


por cada capitalista individualmente no Movimento de Produção Capitalista (MPC). No
processo de acumulação, os capitalistas devem explorar a força de trabalho e também
competir entre si devido à concorrência intercapitalista, que é constitutiva do MPC. A
acumulação é uma tendência e um processo permanentes no MPC e sua continuidade é
essencial para evitar crises econômicas.
A acumulação é impulsionada e estimulada por inovações tecnológicas, que
permitem aos capitalistas reduzir seus custos e enfrentar a concorrência. Os capitalistas que
mais acumulam têm melhor posição na competição e isso está conectado ao extraordinário
desenvolvimento das forças produtivas no MPC. Esse desenvolvimento também está
relacionado ao aumento da composição orgânica do capital.
Empreendimentos com alta composição orgânica do capital se tornam excludentes
para a maioria dos capitalistas, já que apenas os que possuem grandes massas de capital
podem implementá-los. Isso leva à concentração do capital, onde grandes capitalistas
acumulam uma quantidade cada vez maior de capital.
Juntamente com a concentração, há também a centralização do capital, que
ocorre pela fusão de capitais existentes através de cartéis, trustes e holdings. A
concentração e centralização levam ao surgimento de monopólios em diversos setores,
incluindo produção industrial, setor bancário e comercial.
Consequentemente, a concorrência tradicional entre milhares de empresários é
substituída por uma concorrência entre um número reduzido de grandes e poderosas
empresas. Isso mina a ideia do capitalismo como regime de "livre concorrência" e mostra que
apenas os detentores de grandes massas de capital têm destaque na economia. Pequenas e
médias empresas são corroídas pelo progresso da acumulação.
Em resumo, a acumulação de capital, acompanhada pela concentração e
centralização, tem um impacto significativo na dinâmica do capitalismo, onde os capitalistas
competem implacavelmente, os pequenos capitalistas são afastados, e os grandes
capitalistas aumentam sua influência e riqueza. A acumulação é um processo em constante
movimento, impulsionado por inovações tecnológicas e é vital para a continuidade do
sistema econômico capitalista.

5.4. A acumulação capitalista e os trabalhadores

A acumulação de capital tem um forte impacto na classe trabalhadora, resultando


na constituição do chamado "exército industrial de reserva". Esse exército é composto por
um grande contingente de trabalhadores desempregados que não conseguem encontrar
compradores para sua força de trabalho.
Os capitalistas se aproveitam da existência desse contingente de desempregados
para pressionar os salários para baixo, utilizando táticas como aumentar a jornada de
trabalho e empregar crianças. No entanto, o exército industrial de reserva não é resultado de
uma intenção consciente da classe capitalista, mas sim uma característica necessária e
constitutiva do capitalismo.
A existência permanente de uma massa de desempregados no capitalismo tem
sido interpretada de várias maneiras, mas é essencialmente resultado da acumulação
capitalista. Conforme o capital se acumula, aumenta sua composição orgânica, ou seja, a
proporção de capital constante (maquinário, instalações, etc.) em relação ao capital variável
(salários). Esse avanço da acumulação leva a uma maior demanda por máquinas e insumos
em detrimento da demanda por força de trabalho.
Assim, uma parte do proletariado se torna excedente em relação às necessidades
da acumulação, resultando na formação do exército industrial de reserva. Essa população
excedentária ou superpopulação relativa é uma resposta ao desenvolvimento da produção
capitalista e é uma especificidade do modo de produção capitalista.
Em suma, a acumulação de capital no sistema capitalista gera o exército industrial
de reserva, composto por trabalhadores desempregados, o que acarreta em questões sociais
relacionadas ao desemprego e à exploração dos trabalhadores pelo controle dos empregos
pelos capitalistas.

Marx anotou:

A acumulação capitalista produz constantemente – e isso em proporção à sua


energia e às suas dimensões – uma população trabalhadora adicional relativamente
supérflua ou subsidiária, ao menos no concernente às necessidades de aproveitamento por
parte do capital (Marx, 1984, I, 2: 199).

O desenvolvimento do capitalismo traz consigo o permanente desemprego,


representado pelo "exército industrial de reserva". Esse contingente de trabalhadores
desempregados, que não encontra compradores para sua força de trabalho, é uma
consequência da dinâmica de acumulação do capitalismo e não é resultado direto do
progresso tecnológico.
O exército industrial de reserva é composto por diferentes formas de
superpopulação relativa, incluindo trabalhadores flutuantes (alternam entre emprego e
desemprego em centros industriais), latentes (moradores de áreas rurais que migram para
áreas industriais) e estagnados (trabalhadores que não conseguem emprego fixo). Além
disso, há o lumpemproletariado, que é a parcela degradada do proletariado, como
vagabundos e criminosos.
A existência desse contingente de desempregados possibilita aos capitalistas
pressionar os salários para baixo, aumentando a exploração da força de trabalho. O exército
industrial de reserva também oferece ao capital uma reserva de mão de obra disponível a
qualquer momento, podendo ser mobilizada conforme a conjuntura e as demandas dos
empreendimentos capitalistas.
Além do desemprego, os trabalhadores enfrentam processos de pauperização,
que podem ser absolutos ou relativos. A pauperização absoluta ocorre quando as condições
de vida e trabalho dos proletários se degradam, incluindo queda do salário real,
intensificação do ritmo de trabalho e aumento do desemprego. A pauperização relativa, por
sua vez, ocorre quando, apesar de melhorias nas condições de vida dos trabalhadores, a
parte do valor criado que lhes é destinada diminui em relação à parte apropriada pelos
capitalistas.
Os processos de pauperização são influenciados por fatores empíricos e podem
variar de acordo com as particularidades das economias nacionais e a diferenciação
existente dentro da classe trabalhadora. Historicamente, nos países capitalistas mais
desenvolvidos, a pauperização absoluta foi mais prevalente até o final do século XIX,
enquanto a pauperização relativa se tornou mais comum a partir do século XX, embora não
tenha sido completamente eliminada.

5.5. Acumulação capitalista e “questão social”

A produção capitalista não é apenas a produção e reprodução de mercadorias e


mais-valia, mas também a produção e reprodução de relações sociais. A continuidade da
produção depende da reprodução das relações entre capitalistas e proletários. Ao final de
cada fase produtiva, os sujeitos sociais estão novamente colocados frente a frente,
mantendo-se a separação entre os que detêm o capital e os que vendem sua força de
trabalho.
Essa reprodução das relações sociais é fundamental para a continuidade do
sistema capitalista, e a acumulação de capital é um processo que aprofunda essa
polarização entre riqueza e pobreza. O avanço da acumulação resulta em um enorme
crescimento da riqueza social, mas também em um igualmente enorme crescimento da
pobreza. Esse padrão de polarização entre riqueza e pobreza é inerente à lógica do modo de
produção capitalista.
Assim, a acumulação de capital não apenas produz mais riqueza, mas também
mais miséria, piorando a situação dos trabalhadores. A expansão da acumulação é também
um meio de desenvolver métodos de produção da mais-valia, o que agrava as condições de
trabalho e aumenta a desigualdade social. Portanto, o crescimento da riqueza em um polo é
acompanhado pela acumulação de miséria no polo oposto, com maior exploração, tormento,
escravidão, ignorância e degradação moral para os trabalhadores. Esse padrão de
acumulação de riqueza e miséria é uma característica comum em todas as economias onde
se desenvolve o capitalismo.

Daí que Marx enuncie a lei geral da acumulação capitalista que, como toda lei
histórico-social, tem caráter tendencial

Quanto maiores a riqueza social, o capital em funcionamento, o volume e a


energia de seu crescimento, portanto também a grandeza absoluta do proletariado e a força
produtiva do seu trabalho, tanto maior o exército industrial de reserva. A força de trabalho
disponível é desenvolvida pelas mesmas causas que a força expansiva do capital. A
grandeza proporcional do exército industrial de reserva cresce, portanto, com as potências
da riqueza. E quanto maior, finalmente, a camada lazarenta da classe trabalhadora e o
exército industrial de reserva, tanto maior o
pauperismo oficial (Marx, 1984, I, 2: 209).

A formulação teórica de Marx sobre a acumulação de capital, elaborada em 1867,


ainda se mantém relevante e vigente ao confrontá-la com a evolução do capitalismo ao longo
dos quase cento e cinquenta anos que se seguiram. Embora o capitalismo tenha passado
por grandes transformações e as fronteiras entre riqueza e pobreza tenham se alterado, o
exército industrial de reserva e a polarização entre riqueza e pobreza permanecem como
características constitutivas e inelimináveis da acumulação capitalista.
A prova da validade dessa lei geral da acumulação capitalista está presente no
debate sobre a chamada "questão social", que surgiu no século XIX e continua até os dias
atuais. A "questão social" é determinada pela lei geral da acumulação, e suas dimensões e
expressões mudam à medida que o capitalismo avança e se modifica. No entanto, a
"questão social" é inerente à sociedade dominada pelo modo de produção capitalista e não
pode ser suprimida enquanto o capitalismo existir e se reproduzir.
Portanto, qualquer tentativa de encontrar uma "solução" para a "questão social"
sem abordar a acumulação de capital e sem questionar a lógica do modo de produção
capitalista é ilusória, pois a "questão social" é uma consequência direta da acumulação
capitalista.

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