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CAPITALISMO TARDIO

Anotações

- A América Latina detinha o fator decisivo para o modo de produção capitalista


porque a produção capitalista nesses países eram exportadas. Isso se dava
porque a reprodução ampliada do capital não está segurada dentro das
economias latino-americanas, face à ausência de bases materiais de produção
de bens de capital e outros meios de produção.

- A industrialização capitalista deve ser entendida como o processo de constituição de


forças produtivas capitalistas, mais precisamente como o processo de passagem ao
modo especificamente capitalista de produção.

- Industrialização Capitalista: Refere-se ao processo histórico pelo qual a


produção baseada na agricultura e manufatura artesanal é substituída
pela produção industrial em larga escala, impulsionada pela
acumulação de capital. Isso envolve a introdução de máquinas,
tecnologias avançadas e organização do trabalho em fábricas.

- Forças Produtivas Capitalistas: Este termo se refere aos meios de


produção (como máquinas, fábricas, matérias-primas) e à força de trabalho
que são controlados pelos capitalistas em busca de lucro. As forças
produtivas capitalistas são caracterizadas pelo uso intensivo de
tecnologia e pelo objetivo de aumentar a eficiência e a produção para
maximizar os lucros. Ou, um processo de criação das bases materiais
do capitalismo (Constituição de um departamento de bens de produção
capaz de permitir a autodeterminação do capital).

- Modo Especificamente Capitalista de Produção: Isso se refere ao modo


particular como a produção é organizada no sistema capitalista. Isso inclui a
propriedade privada dos meios de produção, a busca pelo lucro como
principal motivação, a exploração da força de trabalho assalariada e a
competição entre empresas.

- Portanto, a frase está argumentando que a industrialização no contexto do


capitalismo não é apenas a introdução de fábricas e tecnologia, mas sim a
transição para um modo específico de produção capitalista, no qual as forças
produtivas são controladas por capitalistas visando à obtenção de lucro, e
onde a produção é organizada em torno dessa lógica capitalista.

- A industrialização latina-americana capitalista é específica e determinada a partir de


dois pontos de partida: a exportação e o momento em que o capitalismo
monopolista é dominante mundialmente . Por isso é uma industrialização
retardatária.
- Economia cafeeira, assentada em relações capitalistas de produção, originou os
pré-requisitos fundamentais ao surgimento do capital industrial. Ela gerou condições,
como:
1. Geração de uma massa de capital monetário (A expressão "massa de
capital monetário" refere-se à quantidade de dinheiro disponível para
investimento ou uso em transações econômicas), concentrada em uma
classe passível de se transformar em capital produtivo industrial.
2. Transformar a força de trabalho em mercadoria
3. Promover a criação de um mercado interno considerável

-O primeiro item: A burguesia cafeeira foi a matriz social da burguesia industrial


(capital industrial nasceu como desdobramento do capital financeiro empregado no núcleo
produtivo exportador-produção e beneficiamento do café - e segmento urbano-atividade
comerciais etc).

- A indústria atraiu capitais do complexo cafeeiro quando a rentabilidade do capital


cafeeiro alcançou níveis altos (taxa de acumulação financeira ultrapassou a taxa de
acumulação produtiva.)

-O segundo item: a existência de trabalhadores livres à mercê do capital industrial


se deve a imigração (supriu necessidades do núcleo produtivo e segmento urbano). A
manutenção dessa força de trabalho industrial se dá por alimentos e bens de consumo
assalariados, algo importado. Uma era a não transformação da agricultura mercantil em
vigorosa, e a segunda seria porque não existia uma pequena produção ou manufatura deste
componente.

-O setor exportador de café, ao acumular riqueza, gerou uma quantidade


significativa de capital em forma de dinheiro. Esse capital foi então utilizado para
investir na indústria, criando assim as condições essenciais para essa transformação
econômica. Essas condições incluíam uma disponibilidade abundante de mão de obra
no mercado e a capacidade de importar alimentos, equipamentos de produção, bens
de consumo e investimentos estrangeiros. Essa transformação foi viabilizada pelo
período de crescimento nas exportações

--O terceiro item: a lucratividade dos projetos industriais foi impulsionada pela
queda nos salários devido à oferta abundante de mão de obra. Além disso, benefícios
como proteção tarifária e isenções para importação de máquinas reduziram os custos
de produção. Embora desvalorizações cambiais tenham aumentado custos, a
indústria de bens de consumo assalariados, com baixa relação capital/trabalho,
provavelmente manteve rentabilidade compensadora para o capital industrial e surgiu
primeiramente.

-Uma baixa relação capital/trabalho significa que uma indústria emprega mais
mão de obra em relação ao investimento em máquinas e tecnologia. Por outro lado,
uma alta relação capital/trabalho indica que a produção depende mais do
investimento em capital (como automação, robótica) do que em trabalho humano.
-Por que não há outras forças produtivas capitalistas (siderúrgica)? Maior relação
capital/trabalho e em maior componente importado dos elementos do capital
constante (indisponível no mercado). Além disso, a indústria pesada passou por uma
mudança tecnológica, após a Segunda Revolução Industrial. Isso culminou em maiores
investimentos iniciais e aumento da planta. Isso, praticamente, inviabilizou seu surgimento
no Brasil porque a economia capitalista tinha acabado de nascer e era muito frágil.
- Para a têxtil, a tecnologia utilizada era simples e já consolidada, de fácil
operação e disponível no mercado internacional. As instalações industriais necessárias
eram de tamanho mínimo e o investimento inicial era acessível para a economia brasileira
da época.

- Capital cafeeiro estimula e origina a indústria, mas impõe limites à acumulação


industrial. Por um lado, a produção de café demanda terras, meios de produção e força
de trabalho, contribuindo para a acumulação de capital. Por outro lado, ela também
gera demanda por alimentos, bens de consumo assalariados e bens de consumo
capitalista.

-Essa acumulação de meios de produção e o consumo capitalista são financiados


pela capacidade de importação gerada pelo setor exportador de café. No entanto,
apenas a demanda por alimentos e bens de consumo assalariados é atendida pela
produção interna, o que internaliza a reprodução da força de trabalho.

- Essa dinâmica estabelece uma interdependência entre o capital cafeeiro e o


capital industrial, dentro de um padrão de acumulação que difere dos modelos clássicos
de reprodução com dois departamentos, pois as condições para a realização dos lucros
são parcialmente influenciadas por fatores externos.

-Por um lado, a expansão do capital cafeeiro envolve parcialmente o setor


industrial, que produz bens de consumo para reproduzir a força de trabalho
empregada na produção de café, além de proporcionar oportunidades de investimento
com os lucros obtidos.

-O capital industrial depende do capital cafeeiro para sua própria expansão.


Primeiro, ele está vinculado à capacidade de importação gerada pela economia
cafeeira, funcionando como um departamento de bens de produção. Segundo, o
crescimento do capital industrial depende dos mercados externos criados pelo setor
cafeeiro, mesmo que seja através de investimentos públicos ou urbanização.

-Essa dependência é crucial, indicando uma ausência de forças produtivas


capitalistas e uma subordinação do capital industrial ao capital cafeeiro, que é
predominantemente mercantil.

-Durante os períodos de expansão da economia cafeeira, o capital industrial se


beneficia do aumento dos lucros do café. Isso permite a transferência de capital
monetário para o setor industrial, impulsionando sua capacidade produtiva através da
importação de bens de produção. O capital industrial se reproduz com facilidade
devido a baixa rentabilidade menor do que a do café.
-No segundo momento, a taxa de acumulação real acelera em resposta tardia aos
preços. A imobilização excessiva em cafezais e a tendência à superprodução demandam
mais capital do que a rentabilidade interna pode financiar. Com dificuldades para
desmobilizar investimentos industriais e reverter o fluxo de financiamento, recorre-se
ao auxílio estatal ou ao capital estrangeiro. Isso aumenta a capacidade de importação,
mas intensifica a concorrência externa e pode diminuir a proteção à indústria.

-Para enfrentar a queda na rentabilidade, o setor industrial intensifica a


concorrência, concentrando e centralizando o capital. Empresas mais fortes se
modernizam e expandem suas escalas, enquanto as marginais são eliminadas. Embora a
taxa de acumulação global da indústria possa não aumentar, a capacidade produtiva
das empresas mais fortes cresce, e os custos de produção podem diminuir devido ao
progresso técnico associado às importações de máquinas e equipamentos.

-O período de 1888 a 1933 marca o surgimento e a consolidação do capital


industrial no Brasil. O intenso desenvolvimento do capital cafeeiro criou as
condições para a resposta criativa à Crise de 1929. Por um lado, surgiram uma
agricultura mercantil de alimentos e uma indústria de bens de consumo assalariados,
que expandiram e reproduziram a força de trabalho disponível no mercado. Por outro
lado, surgiram indústrias leves de bens de produção e uma agricultura mercantil de
matérias-primas, que permitiram a reprodução ampliada do capital sem depender
excessivamente de importações.

-A recuperação econômica impulsionada pela política estatal ocupou a


capacidade ociosa, restaurando a lucratividade das empresas. O protecionismo externo
favoreceu a indústria leve de bens de produção, enquanto a proibição de importação
bloqueou investimentos em bens de consumo assalariados. Essa expansão, possível
pela capacidade de acumulação e políticas econômicas, sustentou a indústria até 1937,
com uma sobreutilização da capacidade produtiva.

-A partir de 1933, uma nova etapa de transição se inicia, caracterizada por um


processo de industrialização limitada. Embora haja um movimento em direção à
industrialização, com a expansão da indústria e um aumento interno da acumulação de
capital e força de trabalho, esse processo é restringido pela falta de recursos técnicos
e financeiros para estabelecer plenamente o núcleo essencial da indústria de bens de
produção. Isso impede que a capacidade de produção exceda a demanda e assuma
autonomamente o desenvolvimento industrial.

-Na era da industrialização tardia, os desafios se tornaram mais difíceis de


enfrentar. O surgimento atrasado da indústria pesada exigia uma mudança
tecnológica significativa. Era necessário desde o início investimentos enormes,
tecnologia avançada e economias de escala gigantescas, que não estavam
disponíveis facilmente no mercado internacional, já que eram controladas por grandes
empresas dos países desenvolvidos. Isso tornava arriscados os investimentos
privados no Brasil, que tinha uma base técnica limitada. Mesmo com o apoio do Estado
em setores-chave como energia e transporte, ainda havia dificuldades em obter
tecnologia, mobilizar fundos e garantir financiamento externo. Além disso, o capital
industrial encontrava oportunidades mais seguras em investir em áreas já
estabelecidas, evitando os desafios da industrialização pesada.

-O capital industrial tinha oportunidades lucrativas com riscos baixos ao seguir


seu curso habitual, expandindo indústrias existentes e diversificando bens de
produção e consumo. Além disso, podia investir em mercados imobiliários urbanos e
na comercialização agrícola. A lucratividade industrial derivava principalmente da falta
de competição no sistema industrial, especialmente com alta proteção, e do controle
dos custos da força de trabalho. A pressão contínua sobre o mercado de trabalho,
combinada com baixo poder de organização dos trabalhadores, permitia que as
empresas aumentassem os preços para compensar os custos crescentes da mão de
obra.
-A oferta agrícola respondia à demanda urbano-industrial com avanços na
fronteira agrícola, expansão da pequena produção e, às vezes, reconversão de atividades
de exportação. A tendência de aumento nos preços agrícolas resultava da
consolidação de oligopólios mercantis, que se beneficiavam dos problemas gerados
pelo rápido crescimento da demanda em meio a fragilidades financeiras e comerciais.

-A tendência de aumento dos preços agrícolas resultou em uma pressão


inflacionária constante, reduzindo os salários reais devido à elasticidade das
margens de lucro. Além disso, os custos elevados dos bens de produção importados eram
repassados aos preços internos, aproveitando a baixa competitividade da indústria e a alta
proteção tarifária.

-Nesse contexto, o papel do Estado era claro: proteger contra importações


concorrentes, evitar fortalecimento dos sindicatos independentes e investir em
infraestrutura para beneficiar o capital industrial. Porém, os investimentos na
indústria pesada de bens de produção não estavam nos planos do capital industrial, e
o padrão de acumulação industrial limitava a ação do Estado. Isso acontecia porque o
Estado tinha limitações financeiras e restritas capacidades de importação devido à
expansão da indústria leve e às dificuldades de financiamento externo.

-Durante o período entre 1930 e 1946, a exportação de capital foi dificultada


pela Grande Depressão e suas consequências, incluindo a redução nas vendas e nas
margens de lucro. A recuperação pós-Depressão foi caracterizada por padrões de
crescimento nacional-autárquicos e regimes autoritários, nos quais os Estados
Nacionais centralizaram o financiamento para acumulação de capital, especialmente para
meios de produção e setores básicos, em um cenário de intensa competição capitalista
internacional e restrições à exportação de capital produtivo pesado.

-Uma vez que a industrialização foi restrita, a acumulação industrial


permaneceu limitada pela capacidade de importação, mantendo o Brasil em uma
posição subordinada na economia mundial. Embora o Estado desempenhasse um
papel proeminente e os investimentos estrangeiros diretos fossem insignificantes devido
a um suposto "projeto de desenvolvimento nacional", essa suposta autonomia econômica
era, em grande parte, resultado de fatores externos e internos.
-Externamente, as economias capitalistas maduras enfrentaram crises durante
a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, enquanto os EUA dominavam as
exportações de capital para a Europa e o Japão. Internamente, a falta de diversificação
da indústria leve, juntamente com a fragilidade das bases técnicas de acumulação,
impediu investimentos externos em novos setores.

-A industrialização restrita seguiu um padrão "horizontal" de acumulação, sem


aumento significativo na capacidade produtiva nem grandes avanços tecnológicos. No
entanto, entre 1956 e 1961, um novo padrão de acumulação emergiu com a
implantação de investimentos complementares, marcando uma nova fase. Esse
período testemunhou uma verdadeira "onda de inovações", com mudanças radicais
na estrutura produtiva e um significativo aumento na capacidade produtiva antes
mesmo de uma expansão dos mercados. Isso delineou um processo de industrialização
pesada, caracterizado pelo crescimento acelerado dos setores de bens de produção e bens
duráveis de consumo.

-A expansão econômica contou com o apoio crucial do Estado e do novo


investimento estrangeiro, que foi direcionado na forma de capital para a produção. O
papel do Estado foi fundamental, pois investiu pesadamente em infraestrutura e
indústrias básicas, incentivando o investimento privado ao oferecer economias de
escala e criar demanda. O aumento dos gastos públicos foi financiado principalmente por
medidas financeiras não convencionais, como emissões de moeda e, até 1959, controle
cambial, já que não houve mudanças significativas no sistema tributário. Além disso, o
Estado desempenhou um papel essencial ao estabelecer parcerias com grandes
empresas estrangeiras, definindo um modelo de acumulação e oferecendo incentivos
generosos.

-Grandes empresas estrangeiras, especialmente europeias, decidiram investir


no Brasil devido a um modelo de acumulação estabelecido e incentivos oferecidos.
Isso resolveu problemas como a limitação da capacidade de importação e a
mobilização de capitais. Essa presença estrangeira reflete a competição oligopolista
global e a busca por oportunidades em mercados emergentes. Enquanto as empresas
americanas focavam nos mercados europeus mais sólidos, as europeias viram
vantagens em investir no Brasil, aproveitando sua experiência e recursos.

-O processo de industrialização pesada no Brasil foi liderado pelo Estado e por


grandes empresas estrangeiras. A burguesia industrial nacional, embora não pudesse
enfrentar os desafios da industrialização pesada por conta própria, não teve seus
interesses prejudicados. Incapaz de lidar com questões como acesso à tecnologia e
financiamento, optou pela entrada do capital estrangeiro nos novos setores, em vez
de buscar uma maior intervenção estatal. A industrialização pesada também
impulsionou a expansão do capital industrial nacional, especialmente nos setores
metal-mecânicos, onde a presença de grandes empresas estrangeiras estimulou o
crescimento e modernização das empresas nacionais menores. Além disso, as
empresas nacionais no setor de bens de consumo para assalariados se beneficiaram
do aumento da massa salarial gerado pelos investimentos nos setores de bens de
produção e bens de consumo para capitalistas.
-Durante os 50 anos analisados, a baixa taxa de crescimento do emprego se
deveu principalmente à modernização da indústria de bens de consumo assalariados,
iniciada após a Segunda Guerra Mundial. Esse setor se tornou um mercado nacional
competitivo, com grandes empresas nacionais e estrangeiras convivendo com
pequenas e médias empresas locais. A expansão industrial entre 1956 e 1961
beneficiou não apenas as grandes empresas, mas também permitiu a entrada de
novas e o crescimento das existentes. No entanto, essa expansão acabou levando a
uma desaceleração do crescimento e culminou em uma crise prolongada de 1962 a
1967, devido a questões relacionadas à realização dinâmica do potencial de acumulação
e aos desajustes entre oferta e demanda industriais.

-Durante o período analisado, o aumento do potencial de acumulação ocorreu


devido à melhoria da eficiência da capacidade produtiva, impulsionada pela
modernização dos investimentos e pelos ganhos em infraestrutura. Esses ganhos não
se refletiram em preços ou salários, o que elevou as margens de lucro. No entanto, entre
1956 e 1961, surgiram dificuldades de manter o mesmo ritmo de crescimento, devido
ao desequilíbrio entre a demanda e a capacidade de produção. Esse ciclo de
acumulação compreendeu um período de expansão entre 1956 e 1961, seguido por
uma depressão entre 1962 e 1967. A depressão se manifestou principalmente pela
desaceleração do crescimento, não tanto por uma queda generalizada de preços e
salários, devido ao domínio dos mercados por grandes empresas internacionais e ao alto
investimento público. Com isso, a fase de industrialização pesada chegou ao fim,
assegurando a autodeterminação do capital, apesar de não ter cumprido todas as
expectativas atribuídas a ela.

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