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A CEPAL E O DESENVOLVIMENTISMO INDUSTRIAL

Raul Paulo Sarmento(*)

A CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e Caribe, criada em 1948


pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, tinha como principal objetivo
incentivar a cooperação econômica entre os seus membros e o desenvolvimento
econômico dos países da América Latina. Seus princípios básicos refutavam o
pensamento sobre as causas do subdesenvolvimento da América Latina, fundamentado
na Lei das Vantagens Comparativas1, de David Ricardo e o Modelo Primário
Exportador2, principal base de sustentação das economias da região.
O pensamento cepalino expressava o fundamento de que nas condições vigentes
naquele momento, a América Latina não sairia do círculo vicioso em que se
encontravam suas economias, que, estariam fadadas a uma condição de atraso
permanente e afastada dos benefícios e avanços da economia internacional.
Como pressuposto básico para que as economias latino americanas atingissem maior
capacidade de inserção na economia internacional e pudessem apresentar maiores níveis
de desenvolvimento, quebrando as amarras do subdesenvolvimento e da condição de
economias periféricas, o Estado deveria agir no sentido de proporcionar as condições
necessárias para que o capitalismo, ainda incipiente nas economias da América Latina,
pudesse ser disseminado de forma mais contundente e assim, o crescimento poderia vir
na esteira dessa ação do Estado na economia.
A partir desse princípio que defendia a intervenção estatal num primeiro momento como
fator de alavancagem do crescimento, este ocorreria de forma crescente e em maior
nível ao dos países desenvolvidos (considere-se aqui os Estados Unidos e a Inglaterra,
principalmente), minimizando a distância do desenvolvimento entre esses países e os da
América Latina.
Nesse momento, em contraponto ao Modelo Primário Exportador, contestado pela
CEPAL e segundo a mesma, responsável pelo ciclo de subdesenvolvimento e
dependência das economias latino americanas aos Estados Unidos, a proposta foi a
busca pelo desenvolvimento baseada na industrialização fomentada pela ação do

(*)
Economista do Ministério da Integração Nacional, Professor do Curso de Ciências Econômicas e de
Relações Internacionais da UNAMA
www.raulsarmento.com.br
Estado. Tratava-se do industrialismo a partir do Modelo de Substituição de Importações
– MSI3, capaz de fazer com que a condição de subdesenvolvimento das economias
latino americanas fosse vencida, até então considerada historicamente como uma
variável inabalável do processo econômico da região.
O Modelo de Substituição de Importações – MSI passou a se constituir o eixo
fundamental no processo de desenvolvimento buscado pela CEPAL. Como exemplo
maior desse processo, o Brasil destaca-se na segunda metade da década de 50 com a
implantação do Plano de Metas que adotou como princípio básico da política
econômica os fundamentos do industrialismo.
O maior problema do modelo proposto pela CEPAL residiria na capacidade exportadora
da economia regional, uma vez que o crescimento em si dependeria da exportação de
produtos primários para criar e dimensionar um mercado interno de bens de consumo
capaz de catapultar o crescimento. Seria a mudança do eixo dinâmico da econômica
com base no modelo de crescimento para fora, para um modelo de crescimento para
dentro. Por outro lado, para que esse modelo pudesse atingir seus objetivos, dever-se-ia
adotar medidas protecionistas que minimizassem a influência de fatores externos. Isso
significaria a adoção de uma pauta de importações de certa forma flexível,
principalmente no que se refere à entrada de bens de capital, necessários para a
expansão da capacidade produtiva. Assim,num primeiro momento as importações
atenderiam bens de consumo e, gradativamente caminharia para os bens de capital até
completar o ciclo de produção necessário para que a economia deixasse de ser
dependente da área externa. Dessa maneira, o sucesso do moelo, na área externa
dependeria da capacidade da economia de importar para manter a expansão industrial de
modo a promover o crescimento no mesmo nível.
Na área interna o modelo deparava-se com a limitação dos mercados latino-americanos
que impunha restrições à expansão acelerada da capacidade produtiva. Dependendo de
tecnologia importada, o setor industrial encontrava outro problema : normalmente a
tecnologia adotada impunha uma relação capital-trabalho desfavorável às economias
periféricas : necessitava-se de grande quantidade de capital contra pouco emprego de
mão-de-obra. Notadamente, o inverso de que necessitavam as economias periféricas,
onde o emprego da mão-de-obra deveria prevalecer sobre o capital empregado.
Entretanto, apesar das críticas recebidas a CEPAL não abandonou, pelo menso até à
década de 70, os paradigmas traçados pelo MSI, sendo que os países da América Latina
continuaram a enfrentar problemas, principalmente de ordem estrutural, a partir da

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concepção de uma industrialização que favorecia a produção interna a partir de medidas
protecionistas e da intervenção estatal, o que de certa forma retardou o processo de
desenvolvimento da América Latina.

NOTAS

(1) A Teoria das Vantagens Comparativas, de David Ricardo tem como fundamento o
princípio de que cada país deve canalizar esforços para produzir bens em que sua
eficiência fosse relativamente maior.

(2) A principal característica do Modelo Primário Exportador nos países periféricos é


que o setor exportador constitui o único fator de crescimento da renda, limitado a um
ou dois produtos primários. A capacidade de efeitos multiplicadores desse modelo sobre
a indústria interna, geralmente formada de unidades produtoras de tecido, calçado,
vestuário e móveis, geralmente é pequena e o investimento autônomo é insuficiente para
impulsionar a diversificação da base produtiva em bens de capital.
Assim, os países periféricos exportavam alimentos e matérias primas não disponíveis de
forma satisfatória nos países centrais, e importavam bens de consumo e praticamente a
totalidade de bens de capital.

(3) O Modelo de Substituição de Importações – MSI, da forma como preconizava a


CEPAL, tinha seus fundamentos na industrialização voltada para o mercado interno,
substituindo, primeiramente os bens de consumo e, posteriormente produzindo bens de
capital necessários para impulsionar a indústria de forma diversificada. Para a CEPAL,
entretanto, o modelo só daria resultados positivos porém, com a participação do
Governo.

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