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PREBISCH, A CEPAL E A INTEGRAÇÃO LATINO AMERICANA

● Raul Prebisch apresentou a sua famosa dicotomia da economia mundial


centro e periferia, resultante da difusão desigual do progresso técnico. Os
países centrais eram os maiores beneficiados do progresso técnico gerado
pela revolução industrial, e os produtos, ao invés de baixarem de preço
devido ao aumento da produtividade crescente no centro, conduziu a um
aumento do rendimento e dos trabalhadores, favorecendo o usufruto
equitativo dos resultados do progresso técnico. Enquanto na periferia as
novas tecnologias, em sua maioria importadas, se concentraram nos setores
de produção de bens primários de exportação, provocando uma
heterogeneidade estrutural, resultando numa difusão assimétrica do
progresso técnico.
● A superação desses entraves estruturais exigia uma estratégia de estrutura
econômica.
● A Industrialização por Substituição de Importações (ISI) desempenhou um
papel crucial nessa estratégia - mecanismo que permitia a periferia
apropriar-se do progresso técnico e melhorar seu nível de vida
● A CEPAL propunha uma melhor distribuição dos frutos do progresso técnico,
orientando a ISI através de uma política comercial pautal “cuidadosa e
seletiva” que pudesse ser continuamente adaptada às novas realidades
mundiais, assim a integração fazia parte de uma estratégia para superar as
dificuldades a nível nacional, permitindo a criação de indústrias regionais
capazes de produzir bens intermediários e de capital em condições
competitivas
● A integração era um projeto de industrialização com o objetivo de
permitir que a produção de bens industriais intermediários e de capital
se realizasse progressivamente no âmbito do mercado comum;
permitindo que países pequenos iniciassem um processo racional de
industrialização, que se baseassem em princípios de reciprocidade e
equidade, cada vez menos dependente de fatores de produção
extra-regionais
● A integração também era um mecanismo para aumentar a competitividade da
produção industrial latino-americana
● As políticas da CEPAL eram criticadas por terem criado uma estrutura
industrial praticamente isolada do mundo exterior, com base nas políticas de
proteção concedidas sem moderação, sem ter em conta as condições da
economia - a proteção das importações não ser suficiente para estimular um
isi eficaz
● A estratégia regional se baseava em grandes indústrias de substituição de
importações, com a substituição de fornecedores de fora por produtores
regionais, promovendo uma atividade industrial e impulsionando a
modernização das fábricas existentes
● Prebisch criticou a industrialização fechada e o protecionismo excessivo por
terem uma estrutura de custos que dificultava as exportações de
manufaturados para o resto do mundo.
A CRÍTICA AO CEPALISMO E AO PENSAMENTO “AUTONOMISTA” DO PÓS
GUERRA
● Crítica da escola da Dependência as propostas capitalistas de integração
regional e desenvolvimento econômico, como a ausência de políticas
distributivas nos vários esquemas de integração
● Apesar das limitações da abordagem cepalina, e teoria da dependência era
muito determinista, porque não previa a possibilidade de romper as relações
de dependência entre periferia e centro, a não ser através da revolução, o
que não era viável nem desejável para muitos acadêmicos
● A autonomia foi entendida como um fator indispensável para o
desenvolvimento econômico, como também passou a ser associada à política
externa da região. A autonomia era uma construção política, capaz de
promover ações a nível interno (além do controle institucional do processo de
decisão como da estrutura do Estado) como a melhoria da estrutura
econômica e militar e a nível externo, como a constituição de alianças
defensivas.
● Quatro etapas de autonomia que os estados devem ultrapassar até atingirem
autonomia plena:
1. a dependência para-colonial - o que diferencia estes países das
colônias é a posse formal de um governo soberano, mas são
desenvolvidos de acordo com os interesses do país ou grupo
dominante
2. a dependência nacional - quando os grupos dirigentes racionalizar a
situação de subordinação e trazem objetivos próprios com fim de ter o
máximo benefício da situação dependente, com pretensão de alcançar
autonomia futura, trata-se de uma dependência consensual
3. a autonomia heterodoxa - a proposta não é romper com a potência
hegemônica, mas aumentar a margem de manobra de um estado,
respeitando sua orientação estratégica
4. a autonomia secessionista - Estado rompe o laço estratégico global
que o unia à potência dominante e retira-se do bloco
● alcançar a autonomia não era um processo fácil, implicava alcançar uma
maior viabilidade nacional e só através da integração com outros países seria
possível superar essa dependência
● viabilidade nacional - é descrita como uma categoria relativa, que varia com
as circunstâncias históricas e dentro de certos limites, e com as
características sócio-culturais de cada país
● credibilidade internacional - implica uma maior capacidade de neutralizar
eventuais doações de países terceiros e depende das capacidades
econômicas e militares de um país e da sua capacidade intercâmbio
internacional
● condições adicionais para obtenção de autonomia: autonomia tecnológica e
empresarial e a existência de relações favoráveis com hegemonias (EUA no
caso da américa latina)
● “integração solidária” - tem como objetivo fundamental a procura de
autonomia
● Ideia de que o Brasil e os países latino americanos deveriam alcançar maior
independência dos EUA, e que o brasil deveria gerar laços mais estreitos
com a argentina
● Influência de ideias autonomistas no brasil
1. início do segundo governo Vargas e foi continuada por JK, que
privilegiou o projeto de desenvolvimento industrial brasileiro como
forma de aumentar a viabilidade nacional, desenvolvendo no plano
externo relações com os EUA através de uma política de cooperação
dependente. JK também lançou a “Operação Pan-Americana”, com o
objetivo de ultrapassar problemas do subdesenvolvimento
2. No governo de Jânio Quadros o governo foram assinados com a
Argentina a “Política Externa Independente” (PEI) e os acordos de
Uruguaiana, compreendendo uma Convenção de Amizade e Consulta
e uma Declaração
● A declaração de uruguaiana propunha a participação conjunta na resolução
de litígios, a rejeição da intervenção na soberania das nações, a ação
conjunta para o desenvolvimento dos países latino-americanos
● Segundo Jaguaribe, a cooperação entre argentina e brasil poderia impor aos
estados unidos a neutralidade geral da zona
● O golpe contra João Goulart teve impacto direto na posição do brasil em
relação a integração latino-americana, que oscilou entre o apoio cauteloso
inicial e o desinteresse posterior
● A eclosão da crise da dívida nos anos 80 e as suas consequências em
termos de estabilidade econômica nos países da américa latina influenciou as
ideias de integração na região
● O colapso do comunismo também teve influência na américa latina, nesse
cenário tanto as ideias cepalinas de substituição de importação quanto às
propostas de autonomia política perderam espaço e foram em alguma
medida responsáveis pela crise da região. Isso levou ao abandono do
pensamento integracionista que tinha sido forjado, com os seus sucessos e
fracassos, durante as décadas anteriores

O RETORNO DA ECONOMIA (MAS NEOLIBERAL?): REGIONALISMO ABERTO


DA CEPAL
● Neoliberalismo mais popular no início de 1990 e com enfoque dominante na
américa latina
● A integração passou a ser entendida essencialmente como a promoção do
comércio e do investimento, colocando a dimensão política em segundo
plano
● A CEPAL apresentou sua proposta de “regionalismo aberto” em 1994 -
modalidade de integração regional que não se opunha a abertura multilateral,
apoiava uma política pautal menos protecionista e aplicada de forma
programada
● O neo-estruturalismo, pelo contrário, rejeita a aplicação de programas de
liberalização comercial intensos e indiscriminados, porque levam à
ineficiência. A proposta de transformação produtiva com equidade é central
no programa neo-estruturalista
● Incorporação e fusão do progresso técnico são fundamentais
● O neo-estruturalismo propõe um modelo de crescimento a partir de dentro,
uma estratégia de desenvolvimento industrial que não se concentre
exclusivamente nos mercados internos, mas que conquiste mercados
externos, uma estratégia de longo prazo
● o objetivo é criar novas vantagens comparativas em determinados setores,
através de uma ação regional e do crescimento do comércio intrazonal
● Regionalismo aberto - nasce da concepção da interdependência nascida dos
acordos preferenciais especiais e que é impulsionado pelos sinais de
mercado resultantes da liberalização do comércio em geral e ao promover
esse regionalismo, os países latino americanos procuraram compatibilizar as
políticas de integração econômica formal com as políticas destinadas a
aumentar a competitividade internacional dos países
● Para a CEPAL o regionalismo aberto seria um mecanismo para promover a
transformação produtiva com equidade a nível regional. Que para alguns
estudiosos é uma prática de inequívoca inspiração neoclássica

MAIS RECENTE: A VOLTA DO DESENVOLVIMENTO, DE VOLTA A AUTONOMIA


● Crise no brasil em 1998 mostrou as limitações do Mercosul, modelo de
integração mais bem sucedido da década
● A globalização alterou a forma como a economia é encarada
● Pata Ferrer, o desenvolvimento econômico é um processo de transformação
da economia e da sociedade que se baseia da acumulação de capital,
tecnologia, conhecimento, e na capacidade de gerir e organizar
● Um país pode crescer, aumentar a produção, o emprego e a produtividade
dos fatores, impulsionado por agentes exógenos, mas pode ser um
crescimento sem desenvolvimento, ou seja, não cria uma organização da
economia e da sociedade capaz de mobilizar os processos de acumulação
inerentes ao desenvolvimento.
● Existe um conjunto de fatores endógenos que são insubstituíveis e
necessários para alcançar o desenvolvimento, que o autor agrupa sob o
conceito de densidade nacional, que incluem a integração da sociedade,
lideranças com estratégias de acumulação de poder baseadas na
apropriação e mobilização dos recursos disponíveis no espaço nacional, e
estabilidade institucional e política a longo prazo
● a integração social contribuiu para a criação de lideranças que acumularam
poder no próprio espaço nacional
● a integração é um mecanismo que ajuda a reforçar a densidade nacional, ao
mesmo tempo que constrói a densidade regional, com potencial de expandir
mercados
● Conceito de autonomia relacional - capacidade e disposição de um país para
atuar independentemente e em cooperação com outros, de forma
competente, comprometida e responsável
● A autonomia internacional exige uma maior interação, negociação e
participação ativa no desenvolvimento de regras internacionais, mas não
pode ser entendida como o poder de um país se isolar e controlar os
processo e desenvolvimento
● As organizações e regimes internacionais constituem o suporte institucional
da autonomia, uma vez que, num contexto de interdependência crescente,
permitem abordar problemas comuns e alcançar objetivos complementares,
sem estarem subordinados a sistemas hierárquicos de controle.
● Ideias centrais do desenvolvimento da integração latino americana:
desenvolvimento econômico e autonomia política, que em determinados
períodos históricos uma se sobrepõe a outra e em outros momentos houve
tendência a uma síntese entre as duas, e a dimensão econômico ganhou
maior importância, com as ideias de Prebisch e da CEPAL, com a ideia de
constituir um mercado comum latino-americano e de fazer da integração um
instrumento ao serviço da transformação produtiva. Há uma crítica a CEPAL
mas não a considera inviável, só a complementa, incluindo a necessidade de
políticas a favor de uma maior autonomia; mas essa tendência autônoma
perdeu força, sendo substituída nos anos 90 pela ideia de abertura e
integração

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