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Globalização e Sistema mundo

1. Conceito de globalização
A globalização é um fenómeno que traduz uma uniformização mundial em
termos económicos, financeiros, sociais, políticos, culturais, religiosos, jurídicos,
baseado essencialmente na divulgação do modelo ocidental, com uma
economia de mercado.
O conceito de globalização é consensual, por exemplo, alguns autores acentuam
o carácter multidimensional do processo, enquanto outros enfatizam a
dimensão económica, entre outros.
No entanto, é possível destacar algumas características comuns às diferentes
definições de globalização:
 Processo complexo e multidimensional;
 Envolve diversos atores;
 Abrange domínios (económico, social, político, ambiental e cultural);
 Resulta do desenvolvimento dos transportes e das TIC e a redução dos
seus custos;
 Pressupões a desterritorialização e assenta na crescente interligação e
independência dos Estados.
2. As causas ou fatores da globalização
 Expansão do comércio internacional: a liberalização do comércio
internacional, impulsionou ao aparecimento ao Organização Mundial do
Comércio (OMC) e, consequentemente, a redução das barreiras
alfandegárias, que os países colocam à importação de bens e serviços,
com o objetivo de proteger os seus processos produtivos;
 Avanços tecnológicos: desenvolvimento dos transportes e das TIC têm
diminuído as distâncias relativas (tempo e custo) e a criação de
infraestruturas de comunicação;
 Capitalismo financeiro: liberalização dos fluxos de capitais associada à
inovação tecnológica e as aplicações informáticas; globalização do
sistema financeiro;
 Transformações sociopolíticas: após o desmembramento da União
Soviética, assistiu-se à progressiva abertura política e económica dos
países do ex-bloco socialista ao modelo ocidental;
 Alteração dos processos produtivos: impulsionada pelo desenvolvimento
das TIC e dos transportes, tem-se assistido à segmentação do processo
produtivo pelo mundo, aproveitando as vantagens de cada país/território
na maximização do lucro.
3. Dimensões da globalização
 Económica: crescente interdependência das economias mundiais como
resultado do crescimento do comércio internacional de bens e serviços;
liberalização das trocas comerciais e crescente presença das empresas
transnacionais;
 Financeira: liberalização dos fluxos de capitais, com a desregulação dos
mercados financeiros internacionais; crescente movimentação de fluxos
financeiros - investimento direto estrangeiro (IDE), créditos diversos,
compra e venda de títulos - que promovem um sistema financeiro global;
 Política: afirmação de uma nova ordem global; as democracias
representativas ganham destaque; afirmação dos princípios do
pluralismo, da divisão dos poderes do Estado, do respeito pelas minorias;
 Cultural: intensificação dos fluxos culturais; oferece oportunidades de
expressão da diversidade cultural, mas promove a perda da identidade
cultural (homogeneização de padrões culturais);
 Ambiental: as problemáticas ambientais que ultrapassam fronteiras
constituem problemas supranacionais; a consciencialização ambiental
tem-se intensificado e os princípios do desenvolvimento sustentável
estão na agenda internacional;
 Demográfica: intensificação dos fluxos migratórios a nível mundial; os
principais “corredores migratórios” ocorrem dos países em
desenvolvimento em direção aos países desenvolvidos;
4. Os atores da globalização
 Estados-nações: estão a perder a capacidade e autonomia para
determinar políticas económicas e de regular um mercado que é cada vez
mais global;
 ETN: estão a reformular os mecanismos macroeconómicos do
funcionamento das economias mundiais; tornaram-se os principais
motores da globalização económica, ao organizarem, segmentarem e
distribuírem a produção à escala global de acordo com o princípio da
maximização do lucro;
As ETN têm sido responsáveis simultaneamente:
 pelo progressivo aumento da deslocalização da produção para países
menos desenvolvidos;
 pela contínua segmentação do processo produtivo em várias fases, com
uma localização espacialmente dispersa.
 Organizações internacionais: governamentais (OIG) ou não
governamentais (ONG);
As organizações internacionais governamentais (ONG) contam com o
apoio financeiro e político dos seus Estados-membros e podem ser globais
ou regionais. Exemplos: as Nações Unidas (ONU) é uma organização global,
visto que todos os países podem ser Estados-membros. A União Europeia é
uma organização regional, pois limita a sua composição a países que se
localizam na Europa. É igualmente um bloco económico regional, de
desenvolvimento solidário que estabelece acordos a vários níveis.
As OING, podem ser formadas por dois ou mais indivíduos, são
independentes dos Estados-nações. Geralmente não têm fins lucrativos e
recebem uma parte substancial do seu financiamento de fontes privadas.
Exemplos: A Greenpeace, uma OING que atua na defesa pelo ambiente,
levando a cabo ações de protesto, ativistas por todo o mundo. Médicos sem
fronteiras, que atuam na área da saúde, fornecem ajuda humanitária e de
emergência.
 Indivíduos/ sociedade social: muitos grupos e associações cívicas têm
desafiado agendas, metodologias, explicações e regras estabelecidas em
relação à globalização política, económica, cultural ou ambiental.
Muitos grupos e associações cívicas têm a capacidade de criticar, agitar,
sensibilizar e evidenciar as deficiências das políticas globais de vários Estados, da
ONU, do FMI e de outras organizações governamentais.
5. Vantagens da globalização
 Contribui para a expansão do comércio internacional, livre de barreiras
alfandegárias, num mercado mais amplo;
 Contribui para o crescimento económico de países em desenvolvimento,
ao deslocar, para este, determinadas fases do processo produtivo;
 Possibilita colocar à disposição dos consumidores uma grande variedade
de bens, a preços mais acessíveis devido à livre concorrência e à redução
dos custos de produção;
 Possibilita a valorização de vantagens comparativas a nível ambiental,
melhoria da qualidade das políticas públicas, ao aumentar os custos da
implementação de estratégias não-sustentáveis com repercussões
negativas sobre o seu desenvolvimento a longo prazo;
 Possibilita avanços a nível do respeito dos direitos humanos e a criação
de mecanismos internacionais de defesa da cidadania;
 Promove novas oportunidades a nível cultural, incluindo as que resultam
da coexistência de culturas.
6. Desvantagens da globalização
 Aumenta a possibilidade de os conflitos se estenderem à escala global e a
propagação rápida de epidemias.
 Aumenta a volatilidade e o efeito de “contágio” das crises dos mercados
financeiros, que afeta sobretudo os países menos desenvolvidos.
 A deslocalização favorece a perda de postos de trabalho e de partes do
processo produtivo para países mais pobres.
 Promove a fixação de filiais de empresas transnacionais ou a
subcontratação de unidades industriais em países menos desenvolvidos,
que contratam mão de obra barata e exploram frequentemente os seus
trabalhadores.
 Visa a maximização dos lucros, muitas vezes sem ter em conta as
necessidades de desenvolvimento de cada país ou das populações locais.
7. O global versus o local
Glocalização: apesar da forte globalização, as empresas transnacionais têm de
se adaptar às peculiaridades culturais, para se manterem em solo estrangeiro.
Como exemplo disto, temos a maior rede de fast food do mundo, a McDonald’s,
que criou na Índia o McAloo Tikki, uma sandwich feita à base de uma massa de
batata e ervilha, já que os hinduístas não comem hambúrguer de vaca, animal
sagrado para essa religião.

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