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DESENVOLVIMENTO

SOCIOECONÔMICO
AULA 4

Profª Rossandra Bitencourt


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, iniciaremos um debate sobre o processo de desenvolvimento


socioeconômico em uma economia globalizada. Na sequência, seguimos
refletindo sobre o paradoxo que há entre crescimento socioeconômico e
desigualdade social.
Após aprofundar esses conceitos centrais, abordaremos o conceito de
seguridade social, bem como o papel das políticas de saúde, assistência e
previdência social na esfera do desenvolvimento socioeconômico.
E, por fim, faremos um panorama sobre o desenvolvimento no Brasil na
perspectiva rural, com foco na agricultura, e industrial, com ênfase na política de
inovação.

CONTEXTUALIZANDO

A lacuna entre riqueza extrema e pobreza extrema e vulnerabilidade, que


caracterizam as regiões da América Latina e do Caribe, ficou em evidência como
nunca antes e se aprofundou ainda mais como resultado da pandemia da Covid-
19. O Relatório de Desenvolvimento Humano-Regional 2021, intitulado Em uma
Armadilha: Alta Desigualdade e Baixo Crescimento na América Latina e no
Caribe, lançado em 2021 pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), analisa a armadilha em que está imersa a região, a
qual impede o avanço rumo ao cumprimento da Agenda 2030 e de seus
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Apesar do progresso das últimas décadas, os países da América Latina e
do Caribe são mais desiguais do que os de outras regiões com níveis de
desenvolvimento semelhantes. Além disso, seus indicadores sociais ainda estão
abaixo do esperado para seu nível médio de renda.

Saiba mais
Para saber mais, acesse:
<https://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/presscenter/articles/2020/em-
uma-armadilha--alta-desigualdade-e-baixo-crescimento-na-ameri.html>. Acesso
em: 26 nov. 2021.

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TEMA 1 – DESENVOLVIMENTO EM UMA ECONOMIA GLOBALIZADA

Falar em desenvolvimento econômico sem considerar os efeitos da


globalização é algo impossível. Isso porque a economia em si é globalizada, e
as relações que emergem desse fenômeno impactam diariamente na vida de
cada um de nós.
A globalização está associada à Terceira Revolução Industrial e se
desenvolve mais precisamente na segunda metade do século XX. Para Milton
Santos (2009), a globalização corresponde a um conjunto de técnicas
informacionais (internet, robótica, informação, satélite) que viabilizam a
circulação do capital, das mercadorias e da informação de forma muito mais
intensa, fato que vem transformando a economia mundial contemporânea.
Embora o caráter financeiro da globalização seja o mais evidente, ela
conta com diferentes esferas, passando também por questões sociais e
culturais. Analisando mais precisamente a abordagem econômica, Baumann
(1996) elenca cinco enfoques para se pensar o movimento da globalização:

• Financeiro: é o setor da economia com maior grau de internacionalização,


haja vista o aumento do volume e da velocidade de circulação dos
recursos entre as diversas economias. Com isso, houve a superação das
barreiras anteriormente impostas ao movimento internacional de capitais.
O lado negativo é a maior exposição dos países aos riscos de movimentos
especulativos em grande escala;
• Comercial: caracteriza-se pelo aumento da competitividade em escala
global e pela crescente homogeneidade nas estruturas de oferta e
demanda, possibilitando os ganhos de escala e a uniformização das
técnicas produtivas e administrativas;
• Produtivo: marca o crescente número de empresas operando no mercado
internacional, assim como a interligação dos mercados e o aumento do
número de oligopólios transnacionais;
• Institucional: traduz-se na tendência à homogeneidade dos sistemas de
regulação da atividade econômica nos diferentes países, inclusive no que
se refere aos setores públicos e privados;
• Governabilidade: verifica-se a sua redução pela restrição do grau de
liberdade dos governos na condução das políticas fiscal, monetária,

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cambial, salarial etc. Ou seja, há uma redução da soberania econômica e
política das nações.

Outras derivações fundamentais da globalização que ganham destaque


são (Carvalho; Silva, 2007):

• As empresas multinacionais: que preservam base de origem nacional e


estão sujeitas à regulação e ao controle procedente do país de origem;
• As organizações transacionais: possuem capital inteiramente livre, sem
identificação nacional específica e com uma administração
internacionalizada.

Com isso, é preciso reconhecer que a globalização é intrinsecamente


marcada pela ascensão de grandes corporações, em um grupo seleto de países
que passam a deter o domínio do desenvolvimento da tecnologia. A
nacionalidade dessas grandes empresas é majoritariamente americana,
japonesa, alemã, inglesa, francesa, suíça, italiana e holandesa (Carvalho; Silva,
2007). A ascensão das grandes corporações se dá por meio do movimento
internacional de capitais, quando uma empresa resolve deslocar parte de seu
capital para o exterior.
Talvez você esteja se perguntando: o que a globalização e a
movimentação internacional de capitais implica no processo de desenvolvimento
de uma nação?
Sunkel (2000) observa que a globalização altera a concepção do que são
necessidades básicas. O que é necessário são conceitos que cada vez mais
partem dos países já desenvolvidos. É essa a visão de desenvolvimento que
passa a ser propagada como base.
Assim, para se chegar lá, acredita-se que o subdesenvolvimento é um
caminho. Contudo, o risco disso é que os países sejam cada vez mais
subdesenvolvidos por aderirem a uma difusão cultural de padrões de consumo.
Não se pode admitir que o subdesenvolvimento seja um momento na evolução
de uma sociedade. Ao contrário, o desenvolvimento e o subdesenvolvimento são
duas faces de um mesmo processo universal; ambos são históricos e
simultâneos, interagem e se condicionam mutuamente (Sunkel, 2000).
Nesse âmbito, o autor supracitado observa que a globalização traz duas
grandes polarizações:

• Países desenvolvidos x países subdesenvolvidos;

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• Polarização interna: população com alto poder aquisitivo x população
marginalizada.

Nesse sentido, Sunkel (2000) observa que uma característica


fundamental da globalização consiste na penetração da economia dos países
subdesenvolvidos pelos agentes econômicos mais poderosos da economia dos
países desenvolvidos, levando à concentração da capacidade produtiva. Logo,
ao mesmo tempo em que há uma integração internacional (globalização), há
uma desintegração interna que favorece o subdesenvolvimento, aumentando a
marginalização.
Essa simultaneidade entre integração internacional e desintegração
nacional é um debate que abre um leque de interpretações, pois é preciso
reconhecer que dentre os muitos avanços advindos da globalização, no outro
extremo há pessoas que vivem à margem dessas conquistas. E, quando
pensamos no desenvolvimento, precisamos colocar em evidência não só o
crescimento econômico, mas também a inclusão, a distribuição de renda e a
igualdade de oportunidades, conforme veremos a seguir.

Saiba mais
Na segunda metade dos anos 1990, o Brasil foi o principal polo de atração
de Investimento Direto Externo da América Latina, alcançando a cifra de mais de
US$ 32 bilhões de dólares no ano 2000, sendo que na primeira metade dos anos
1990, a média anual do montante em IDE não ultrapassou os US$ 2 bilhões.
Com relação à composição do IDE, uma parte considerável se deu pela
aquisição de ativos já existentes via privatizações de empresas públicas,
especialmente nas áreas de energia elétrica e telecomunicações. Desde o final
do século XX, os fluxos de IDE têm representado ampla e profunda
internacionalização da economia brasileira (Sarti; Laplane, 2003).

TEMA 2 – DESIGUALDADE SOCIAL E CRESCIMENTO ECONÔMICO

Na primeira aula desta disciplina, vimos as principais diferenças entre


crescimento e desenvolvimento econômico. O crescimento econômico é
condição fundamental para que um país tenha capacidade de fornecer melhores
condições de vida para sua população no longo prazo. Contudo, o crescimento
não implica necessariamente em desenvolvimento.

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Conforme vimos na primeira aula, quando se faz menção a um país ou a
uma região desenvolvida, levamos em conta as condições de vida da população,
ou seja, a qualidade de vida dos residentes que habitam naquele território. Nesse
sentido, o desenvolvimento econômico envolve indicadores como a educação, a
saúde, a renda, a pobreza, entre outros.
Diferentemente da perspectiva do crescimento econômico, que vê o bem-
estar de uma sociedade apenas pelos recursos ou pela renda que ela pode
gerar, a noção de desenvolvimento pressupõe igualdade de oportunidades e
capacidades.
No tema anterior, vimos que no âmbito de uma economia globalizada, a
simultaneidade entre integração internacional e desintegração nacional tende a
gerar uma bipolaridade entre aqueles que possuem condições monetárias para
adquirir os bens que desejam e aqueles que ficam à margem dessas conquistas.
É nessa bipolaridade que emerge a desigualdade, mesmo em contextos de
crescimento econômico, tendendo a se intensificar em cenários de crise
econômica e recessão.
Conforme destaca o DIESSE (2021), a histórica e profunda desigualdade
social que caracteriza o Brasil se acentuou durante a pandemia da Covid-19,
com aumento do número de pessoas em situação de extrema pobreza e de
pessoas sem trabalho, principalmente daquelas com menor nível de
escolaridade.
Também a inflação tende a impactar mais intensamente as classes com
rendimentos mais baixos, para as quais o custo da alimentação tem um peso
maior. Em contrapartida, ao mesmo tempo, observa-se o aumento no número de
super-ricos, altos índices de lucro nas grandes empresas e nos bancos,
enquanto as pequenas e médias empresas enfrentam enormes dificuldades.
O Relatório de Desenvolvimento Humano e Regional (2021), lançado pelo
PNUD, demonstra que a concentração de poder nas mãos de poucos que
defendem seus interesses privados é um dos fatores que explicam a alta
desigualdade no Brasil, na América Latina e no Caribe. Por meio de sua
influência política, o uso indevido do poder distorce as políticas públicas e
enfraquece as instituições. Um exemplo explorado no relatório é o papel das
elites econômicas no bloqueio das reformas fiscais que apoiariam uma forma
mais progressiva de redistribuição.

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Nesse âmbito, o relatório supracitado ainda revela que Brasil, América
Latina e Caribe constituem a região mais violenta do planeta e que a violência
também aumenta a desigualdade porque atinge de forma desproporcional as
populações mais vulneráveis, contribuindo para perpetuar seu estado de
privação.
Talvez você esteja se perguntando: existe meios para se reduzir a
desigualdade social? A seguir, veremos que o desenvolvimento precisa vir
associado a um conjunto de políticas públicas que promovam saúde, educação,
seguridade e assistência social.

Saiba mais
A pandemia aprofundou a desigualdade social, aumentando o número de
pessoas em situação de extrema pobreza, segundo dados do Cadastro Único
para programas sociais (CadÚnico). Em março de 2020, início da pandemia no
Brasil, havia cerca de 13,5 milhões de pessoas nessa condição, contingente que,
em março de 2021, havia aumentado em 784 mil pessoas, o que representa um
crescimento de 5,8%. Destaca-se, ainda, que o número de pessoas na extrema
pobreza já havia aumentado entre 2019 e 2020, portanto, antes da pandemia,
em 3,0%. Isto é, entre o início de 2019 e o início de 2021, quase 1,2 milhão de
pessoas ingressaram na extrema pobreza no Brasil, o que corresponde a um
aumento de 9,0%. Para saber mais, acesse:
<https://www.dieese.org.br/boletimdeconjuntura/2021/boletimconjuntura29.html
>. Acesso em: 26 nov. 2021.

TEMA 3 – DESENVOLVIMENTO E SEGURIDADE: SAÚDE, PREVIDÊNCIA E


ASSISTÊNCIA SOCIAL

A Seguridade Social criada pela Constituição Federal de 1988 (CF/1988)


representa a introdução da assistência no campo do direito social, o que é uma
inovação na cultura política brasileira que se materializou por meio de leis
subsequentes, criando critérios para o alcance da Previdência Social e das
políticas de Assistência Social. A CF/1988, em seu art. 3°, afirma que se
constituem em objetivos fundamentais da República: construir uma sociedade
livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza
e a marginalização; reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o

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bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação.
Dito de outro modo, conferir bem-estar a quem necessita
consequentemente reduz desigualdades e promove justiça social. No Brasil, a
Seguridade Social é vista como o mais importante mecanismo de proteção social
do país e um poderoso instrumento do desenvolvimento. Além de transferências
monetárias para a Previdência Social (rural e urbana), ela contempla a oferta de
serviços universais proporcionados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pelo
Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
Após a CF/1988, o SUS passou a oferecer a todo cidadão brasileiro
acesso integral, universal e gratuito a serviços de saúde. Considerado um dos
maiores e melhores sistemas de saúde públicos do mundo, o SUS beneficia
cerca de 180 milhões de brasileiros e realiza por ano cerca de 2,8 bilhões de
atendimentos, desde procedimentos ambulatoriais simples a atendimentos de
alta complexidade, como transplantes de órgãos. Paralelamente à realização de
consultas, exames e internações, o SUS também promove campanhas de
vacinação e ações de prevenção de vigilância sanitária, como fiscalização de
alimentos e registro de medicamentos (Fiocruz, 2021).
Além da democratização da saúde (antes acessível apenas para alguns
grupos da sociedade), a implementação do SUS também representou uma
mudança do conceito sobre o qual a saúde era interpretada no país. Até então,
a saúde representava apenas um quadro de “não doença”, fazendo com que os
esforços e políticas implementadas se reduzissem ao tratamento de ocorrências
de enfermidades. Com o SUS, a saúde passou a ser promovida e a prevenção
dos agravos passou a fazer parte do planejamento das políticas públicas
(Fiocruz, 2021).
No âmbito da Seguridade, a Assistência Social é uma política pública, ou
seja, um direito de todo cidadão que dela necessitar. Ela está organizada por
meio do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que está presente em todo
o Brasil. Seu objetivo é garantir a proteção social aos cidadãos, por meio de
serviços, benefícios, programas e projetos que se constituem como apoio aos
indivíduos, famílias e para a comunidade no enfrentamento de suas dificuldades
(MDS, 2015).

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Como parte do tripé da Seguridade Social, a Previdência Social divide-se
basicamente no Regime Geral da Previdência Social (RGPS) e no Regime
Próprio de Previdência dos Servidores (RPPS).
Enquanto as ações de saúde e de assistência social não requerem de
seus usuários alguma contribuição monetária específica para a sua utilização, o
mesmo não acontece com a Previdência Social. Na prática, a Previdência Social
no Brasil funciona como um esquema de tributação e transferência em que são
cobrados impostos e contribuições de um subconjunto da sociedade
(normalmente trabalhadores ativos) e tais valores são transferidos para os
aposentados e pensionistas (Bitencourt, 2020).
Um elemento-chave a ser destacado é o papel distributivo desempenhado
pela Previdência Social no Brasil. Castro (2011) afirma que os benefícios dessa
política contribuíram significativamente com a redução da desigualdade de renda
no país e revela que se não fossem as rendas da previdência, os números de
indigência e pobreza seriam maiores. Ele salienta ainda que ao contemplar um
conjunto maior de políticas sociais, a previdência contribui com o crescimento
econômico, uma vez que grande parte dos benefícios é destinada às pessoas
mais empobrecidas. Tamanho impacto distributivo também advém dos
programas de transferência de renda vinculados à Assistência Social, tais como:
Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada, dentre outros.
Em suma, os direitos sociais garantidos por lei são conquistas da
sociedade. Contudo, esses direitos só têm aplicabilidade por meio das políticas
públicas que devem ser operacionalizadas por meio de programas, projetos e
serviços. Considerando a magnitude da Seguridade Social no Brasil, fica
evidente que não é possível falar sobre desenvolvimento socioeconômico sem
reconhecer o papel do SUS, bem como das políticas de Assistência e
Previdência Social, pois o bem-estar da sociedade só se concretiza quando o
Estado assume o desafio de propiciar as condições materiais para que todas as
pessoas possam viver com dignidade.

TEMA 4 – DESENVOLVIMENTO: AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE

Falar sobre desenvolvimento econômico no Brasil nos remete à


importância da agricultura em pequena e grande escala, ou dito de outro modo,
da agricultura familiar e do agronegócio.

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Em linhas gerais, a agricultura como um todo passa por profundas
transformações que ocorrem em alta velocidade e impactam o desenvolvimento
rural brasileiro. A trajetória recente da agricultura brasileira é resultado de uma
combinação de fatores que envolve: a abundância de recursos naturais,
extensas áreas agricultáveis, disponibilidade de água, calor e luz. Mas, conforme
destaca a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa (2021), o
que fez a diferença nestes últimos 50 anos foram os investimentos em pesquisa
agrícola – que trouxe avanços nas ciências, tecnologias adequadas e inovações
–, a assertividade de políticas públicas e a competência dos agricultores.
Conforme demonstra a Embrapa (2021), entre 1975 e 2017, a produção
de grãos, que era de 38 milhões de toneladas, cresceu mais de seis vezes,
atingindo 236 milhões, enquanto a área plantada apenas dobrou. O maior
crescimento da produção em comparação à área pode ser visto por meio da
evolução do rendimento médio (quilos por hectare) das lavouras de arroz, feijão,
milho, soja e trigo, no período de 1975 a 2017. Destaque para os aumentos de
rendimento de 346% para o trigo, de 317% para o arroz e de 270% para o milho.
Soja e feijão praticamente dobraram o rendimento no período analisado
(Embrapa, 2021).
No que se refere à pecuária, o Brasil figura atualmente como um dos
principais atores na produção e no comércio de carne bovina mundial. É o
segundo maior produtor, atrás apenas dos Estados Unidos, e o principal
exportador, com quase 2 milhões de toneladas de carne bovina vendidas a
outros países em 2017.
Quando pensamos nessa relação entre produção de alimentos e
desenvolvimento socioeconômico, um dado relevante que vem ao encontro do
aumento da demanda em nível mundial é o crescimento da população, que deve
chegar a 8,5 bilhões de pessoas em 2030. O Brasil deve atingir a marca de 230
milhões de pessoas nos próximos 12 anos. Em 2030, 60% da população mundial
deverá estar no estrato da classe média. O aumento da renda implica mudanças
nos padrões de consumo, o que resulta na expansão da demanda por carne,
frutas e vegetais, na redução do consumo de alimentos básicos, na
diversificação da cesta de consumo, bem como no aumento da demanda por
produtos mais elaborados (Embrapa, 2021).
Talvez você esteja se perguntando: o que esses dados refletem no
desenvolvimento socioeconômico? Na prática, essas expectativas sinalizam

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para um amplo desenvolvimento da atividade rural no atendimento às demandas
do século XXI, bem como na modernização e no aprimoramento das técnicas
produtivas, a fim de se manter e de se expandir no mercado.
Há pouco terreno para o crescimento horizontal da agricultura no mundo,
o que requer uma intensificação dos sistemas de produção para que se consiga
produzir mais em cada hectare rural do país. Lembrando que essa produção
precisa ser sustentável.
E qual é o compromisso com o meio ambiente em meio a essa expansão?
No âmbito internacional, o Brasil se comprometeu a reduzir em 43% as emissões
de GEE até 2030. Foi estabelecida como meta a redução em 80% das taxas de
desmatamento na Amazônia e em 40% no Cerrado. As ações propostas
abrangem o reflorestamento de 12 milhões de hectares e o alcance de
participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz
energética brasileira (Embrapa, 2021).
Outro compromisso do desenvolvimento rural é com os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável, uma ampla agenda global com 17 objetivos
integrados que mesclam as dimensões econômicas, sociais e ambientais da
sustentabilidade: erradicação da pobreza; fome zero; boa saúde e bem-estar;
educação de qualidade; igualdade de gênero; água limpa e saneamento; energia
acessível e limpa; emprego digno e crescimento econômico; indústria, inovação
e infraestrutura; redução das desigualdades; cidades e comunidades
sustentáveis; consumo e produção responsáveis; combate às alterações
climáticas; vida de baixo da água; vida sobre a terra; paz, justiça e instituições
fortes; parcerias em prol das metas.
Ao Estado cabe o compromisso de realizar políticas públicas que
promovam crédito, seguridade e desenvolvimento socioeconômico, incentivando
não só o crescimento dos empreendimentos rurais, mas viabilizando, sobretudo,
o surgimento de novos produtores. Esse movimento inclusivo deve ser parte de
um projeto amplo de desenvolvimento rural sustentável, social e econômico
como um todo no país.

Saiba mais
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são um apelo global à ação
para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que
as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.

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Estes são os objetivos para os quais as Nações Unidas estão contribuindo
a fim de que possamos atingir a Agenda 2030 no Brasil. Leia mais em:
<https://brasil.un.org/pt-br/sdgs>. Acesso em: 26 nov. 2021.

TEMA 5 – DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL: PED E INOVAÇÃO

Para Schumpeter, o desenvolvimento econômico é em si um objeto da


história econômica, visto que a humanidade não possui desenvolvimento
uniforme, pois são as condições sociais que transformam os indivíduos. Nesse
sentido, Kupfer (2008) afirma que o desenvolvimento só acontece quando há
crescimento com mudança estrutural, e é nessa perspectiva que a política
industrial deve ser pensada: “Cabe à política industrial acelerar os processos de
transformação produtiva que as forças de mercado podem operar, mas o fazem
com lentidão, e disparar os processos que essas mesmas forças são incapazes
de articular” (Kupfer, 2008, p. 281).
Talvez você esteja se perguntando: por que a política industrial se faz tão
necessária? Porque é por meio do investimento em política industrial que a
inovação acontece. É a inovação que permeia a mudança estrutural, devendo,
por isso mesmo, ser entendida como um processo cumulativo e articulado, que
interage com a invenção e a difusão. Ou seja, sem invenção não há inovação, e,
sem inovação, não pode haver difusão (Conceição, 2000).
E qual a diferença entre invenção, inovação e difusão? Basicamente
podemos compreender esses conceitos da seguinte forma:

• Invenção: criação de um processo, técnica ou produto inédito;


• Inovação: ocorre com a efetiva aplicação comercial de uma invenção.
Uma invenção só se tornará uma inovação se for transformada em
mercadoria, sendo explorada economicamente;
• Difusão: processo pelo qual uma inovação é comunicada por meio de
certos canais, ao longo do tempo, entre os membros de um sistema social.

A inovação é considerada fundamental nas políticas de desenvolvimento


e crescimento das economias. Desse modo, as empresas, as universidades, os
institutos de pesquisa, as instituições de apoio e de financiamento, o governo e
a sociedade são agentes importantes para esse processo, sendo decisivos na
elaboração de políticas. No Brasil, foi a partir da década de 1990 que a inovação
passou a ser vista como um processo interativo, de modo a enfatizar os sistemas

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de inovação. No centro desse processo está o "sistema nacional de inovação".
Sob essa ótica, o processo de inovação é examinado pelo prisma do
macroambiente social, político e institucional (Gondin, 2017).
Mas e o Brasil, como se desenvolve no âmbito industrial? Negri e Lemos
(2009) observam que países considerados líderes em C&T são também
potências econômicas e países com forte crescimento econômico que
apresentam matrizes cada vez mais complexas. O Brasil manteve sua posição
relativa nessa corrida tecnológica (não avançou e não retrocedeu), enquanto
outras economias emergentes de grande e médio porte mudaram sua estrutura
de C&T e ultrapassaram o Brasil, como a China e a Coreia.
Nesse contexto, as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)
nacional têm uma agenda defasada de pesquisa, ainda pouco estruturada e já
fora do foco da disputa tecnológica. Nesse caso, há amplas diferenças entre a
matriz de C&T brasileira, a mundial e a dos países tecnologicamente
emergentes, como Coreia e China (Negri; Lemos, 2009).
Frente a esse cenário, há um leque de medidas que precisam ser
implementadas a fim de se promover a política industrial no país. Kupfer (2004)
chama atenção para o desenvolvimento de medidas voltadas para o aumento da
inserção internacional da indústria e para a modernização de padrões crescentes
de eficiência e qualidade industrial com vistas a ampliar a competitividade global.

Saiba mais
A Agência Brasileira de Inovação visa estimular a transformação digital e
a adoção e difusão de tecnologias e de novos modelos de negócios no setor
produtivo, seja nas empresas, indústria ou serviços. Promove o debate entre
governo e empresas para qualificar políticas públicas e ações estratégicas
voltadas ao aumento da competitividade da economia brasileira frente aos
desafios da era digital. Leia mais em: <https://www.abdi.com.br/sobre>. Acesso
em: 26 nov. 2021.

TROCANDO IDEIAS

Uma matéria publicada em 2021 pela CNN Brasil revela que a fome no
Brasil avançou e atingiu, em dois anos, mais de 9 milhões de pessoas. O
levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança

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Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) indica que, no total, 19,1 milhões de
cidadãos se enquadram neste perfil, ou 9% da população brasileira.
A matéria está disponível em
<https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/fome-avanca-e-atinge-mais-9-milhoes-
de-brasileiros-nos-ultimos-dois-anos/>. Acesso em: 29 nov. 2021.
Com base nessa afirmação, responda: é possível afirmar que o Brasil está
caminhando para um projeto de crescimento com desenvolvimento
socioeconômico?

NA PRÁTICA

Estamos chegando ao final desta aula, e, conforme vimos, falar em


desenvolvimento econômico sem considerar os efeitos da globalização é algo
impossível. Embora o caráter financeiro da globalização seja o mais evidente,
ela conta com diferentes esferas, passando também por questões sociais e
culturais.
Levando em conta a afirmação acima, bem como o papel das empresas
multinacionais e transnacionais, comente sobre a bipolaridade interna e externa
que se intensifica no âmbito de uma economia globalizada.
A sugestão de resposta pode ser conferida ao final deste material.

FINALIZANDO

Chegamos ao final da nossa aula! Agora, você já conhece as principais


contradições que perpassam o processo de desenvolvimento socioeconômico
em uma economia globalizada, sendo capaz de fazer uma leitura crítica acerca
do paradoxo que há entre crescimento socioeconômico e desigualdade social.
No que se refere à seguridade social, vimos sua importância por meio do
tripé saúde, previdência e assistência social, bem como o papel de cada esfera
no âmbito do desenvolvimento socioeconômico.
E, por fim, foi possível compreender o quanto o Brasil possui um amplo
desenvolvimento rural, tanto na esfera do agronegócio quanto da agricultura
familiar. Mas, em contrapartida, ainda carece de políticas industriais de PeD que
contribuam de fato para o desenvolvimento sob a ótica da inovação capaz de
impulsionar ganhos de competitividade global.

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REFERÊNCIAS

BAUMANN, R. O Brasil e a economia global. Rio de Janeiro: Campus, 1996.

BITENCOURT, R. O. M. Políticas de Assistência e Previdência Social


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15
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SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência


universal. Rio de Janeiro: Record, 2009.

SUNKEL, O. Desenvolvimento, subdesenvolvimento, dependência,


marginalização e desigualdades espaciais: por um enfoque totalizante. In:
IBIELSCHOWSKY, R. (Org.). Cinquenta anos de CEPAL. Rio de Janeiro:
Record, 2000. Disponível em:
<https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/1623/111_pt.pdf>. Acesso
em: 26 nov. 2021.

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GABARITO

A globalização é marcada pela ascensão de grandes corporações em um


grupo seleto de países que passam a deter o domínio no desenvolvimento da
tecnologia. Sunkel (2000) observa que a globalização altera a concepção do que
são necessidades básicas, ou seja, o que é necessário são conceitos que cada
vez mais partem dos países já desenvolvidos. É essa a visão de
desenvolvimento que passa a ser propagada como base. Nesse âmbito, a
globalização traz duas grandes polarizações: países desenvolvidos x países
subdesenvolvidos. Na polarização interna, temos a população com alto poder
aquisitivo x a população marginalizada. Logo, ao mesmo tempo em que há uma
integração internacional (globalização), há uma desintegração interna que
favorece o subdesenvolvimento, aumentando a marginalização.

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