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3º Resumo de Economia C

por Rodrigo Rodrigues

I. Mundialização e Globalização : conceitos


Há uma interdependência económica à escala mundial e que não é unânime a percepção que todos
têm das suas virtudes que dela decorrem. Os mercados dos principais produtos estão quase todos
mundializados e qualquer perturbação ocorrida em qualquer país ou região do globo tem implicações na
rede de abastecimentos dos restantes países do mundo.

Globalização - « O processo pelo qual um fluxo cada vez mais livre de ideias, pessoas, bens, serviços e
capital leva à integração de economias e sociedades. Os principais fatores na disseminação da
globalização foram o aumento da liberalização do comércio e os avanços na tecnologia da
comunicação»

Mundialização - «Atribuição de um carácter ou dimensão mundial»

O processo de mundialização sofreu várias etapas, ganhando expressividade no século XX, surgindo,
então, as expressões mundialização e globalização. O significado dado a cada uma destas expressões tem
alimentado debates e tem evoluído ao longo das décadas. A interpretação que se faz dos conceitos de
globalização e de mundialização não é unânime.

Se nos situarmos apenas na dimensão económica da mundialização, podemos considerar que os dois
conceitos, embora sejam próximos, não são equivalentes, já que, para além do domínio económico da
mundialização, a globalização também engloba as dimensões social, política e cultural.

II. A mundialização das trocas


A mundialização, enquanto conceito essencialmente económico, está associada às trocas (de bens,
serviços e capitais) entre países ou regiões económicas e à desregulação dos mercados por parte de cada
Estado, sendo transferido o poder para entidades plurinacionais (OMC, UE, etc.)

São algumas características da mundialização económica :


- Interdependência entre as economias
- Trocas de bens e serviços à escala mundial
- Circulação de capitais, de tecnologias e de pessoas no mundo
- Deslocalização das atividades produtivas no espaço internacional
- Transferência do poder regulador dos mercados e dos Estados para entidades plurinacionais ex: FMI,
OMC, UE, etc.

Enquanto processo, pode se considerar que a mundialização económica teve início com a expansão
marítima europeia nos séculos XV e XVI, quando se expandiu do Mediterrâneo para o Atlântico e o Índico,
integrando o continente americano no sistema de trocas internacionais de bens e de capital.
Com a Europa como centro da economia mundial, pois centrava o capital e a tecnologia que lhe
permitiam o domínio marítimo, o comércio mundial cresceu entre os três continentes, Europa, África e
América (comércio triangular), baseado na divisão internacional do trabalho.

A este comércio juntam-se as redes de comércio já existentes das rotas da seda e das especiarias,
entre outras. O comércio triangular foi decisivo para a criação de condições que desencadearam a
primeira Revolução Industrial : acumulação de capital, a existência de novas matérias-primas, novos
mercados e aumento da procura.

Existe, portanto, uma estreita relação entre o comércio triangular, o processo de mundialização
económica e os fatores potenciadores da primeira Revolução Industrial. Este momento pode ser
considerado como o primeiro passo para a decomposição internacional dos processos produtivos que
caracteriza o processo de mundialização económica.

III. A deslocalização das atividades produtivas


A deslocalização das empresas para outros países e a decomposição internacional dos processos
produtivos são marcos no processo de mundialização das trocas.

Isto deve-se ao facto de as empresas procurarem aumentar a qualidade dos seus produtos, melhorar a
eficiência do uso dos recursos e reduzir os custos de produção; redução essa que permitirá a captação
de maiores lucros e a fixação de preços mais competitivos e atrativos no mercado em questão.

De modo a alcançarem os objetivos acima mencionados, as empresas usam métodos que alavancam
e impulsionam tais resultados, como é o caso de : produzir bens/serviços onde o custo de produção será
menor, empregam trabalhadores com mais qualificação e especialização, entre outros fatores favoráveis
a maiores lucros e menores custos.

Apesar da aplicação destas medidas ter consequências no processo produtivo e da deslocalização


das empresas, as empresas transnacionais usam-nas em função das vantagens competitivas que cada
área geográfica lhes possa proporcionar. A acrescentar à frase anterior que designam-se de empresas
transnacionais**, as empresas cuja organização dos seus investimentos, a sua produção e a
comercialização de mercadorias e serviços está presente em mais do que um país.

** A definição de empresas transnacionais não é unânime, uma vez que é um conceito em evolução e
complexo que pode ser tendo em vista do ponto de outras ciências sociais, contudo, há uma
característica comum a todas elas : empresas que se organizam mundialmente numa estrutura em rede,
adotando um sistema produtivo desagregado, composto por muitos centros de operação dispersos pelo
mundo, mas organizados como um todo e controlados através de informação compartilhada.

Além da decomposição internacional dos processos produtivos, uma outra forma de deslocalização
das atividades produtivas no espaço internacional foi promovida pelas empresas multinacionais.
(Empresas que organizam-se em pirâmide e têm a sua sede num país e filiais espalhadas pelo mundo, em
função de determinadas vantagens que as tornam mais competitivas.
IV. Os Movimentos Internacionais de fatores produtivos
_Movimentos de Capitais_

Os diferentes movimentos de capital que circulam mundialmente todos os dias podem resultar de
operações de financiamento (empréstimos, crédito, etc.) e operações de investimento, destacando-se,
nestas, o papel do Investimento Direto Estrangeiro.

IDE - Investimento que uma entidade residente numa determinada economia realiza com o objetivo
de controlar ou influenciar a gestão de uma empresa residente noutra economia

O desenvolvimento tecnológico facilitou a compra e a venda de títulos em qualquer parte do mundo e


a disseminação das empresas transnacionais e multinacionais contribuiu para a atual dimensão e
complexidade dos fluxos de investimento direto estrangeiro.

_Movimentos da População_

Outro momento marcante do processo de mundialização económica resulta da intensificação dos


fluxos migratórios da Europa para o Resto do Mundo (migrações externas), como consequência do
desenvolvimento dos transportes e das comunicações, assim como do desemprego e subemprego que a
inovação tecnológica provocou no mercado de trabalho.

Os fluxos de emigração europeus foram acompanhados de fluxos de saída de capitais, utilizados na


criação de infraestruturas (caminho de ferro, portos marítimos, estradas, etc.) de apoio às explorações de
matérias-primas e às indústrias criadas noutros continentes com capitais europeus. Os rendimentos
(salários, rendas, juros e lucros) gerados, nesses continentes, por esses fatores produtivos (trabalho e
capital), retornavam à Europa

No entanto, a intensificação do comércio internacional e da circulação de pessoas e de capitais foi


refreada na primeira metade do século XX, em consequência das duas guerras mundiais. A reconstrução
da Europa exigiu mão de obra adicional e, juntamente com o crescimento económico originado pelo
processo de integração europeia, provocou alteração no sentido dos fluxos migratórios. O continente
europeu deixou, assim, de ser origem dos movimentos de população (emigração) passando a ser destino
(imigração).

Principais movimentos da população :


- Migrações Internas e Externas (Principais causas) :
- Guerras, violência, perseguições ideológicas, religiosas, étnicas e políticas;
- Instabilidade política e social;
- Desastres naturais e climáticos;
- Falta de oportunidades nos países de origem (para estudar, trabalhar . . .)
- Fatores económicos, fome e procura de melhores condições de vida:
- Outras.
- Turismo
O turismo é importante porque, para além de contribuir para a dinamização e o crescimento de vários
ramos de atividade económica, dos quais se destacam o comércio, a hotelaria e a restauração, os
transportes, as atividades culturais e recreativas, gerando emprego e distribuição de rendimentos,
contribui também para o investimento em infraestruturas e para a exportação de serviços.

V. Mercados e produtos globais


Outra consequência do desenvolvimento dos transportes, das tecnologias de informação e da
comunicação, do desenvolvimento dos mercados financeiros, da intensificação da transnacionalização
da produção e das multinacionais é produzir e consumir uma grande variedade de bens e serviços, em
qualquer parte do mundo, e a preços mais reduzidos.

As principais características dos mercados globais são : a homogeneização dos mercados e a


massificação dos consumos :
- Homogeneização dos Mercados :
- A nível mundial, os produtos têm as mesmas características (produção padronizada)
- Os comportamentos dos compradores e dos vendedores são semelhantes
- As necessidades são idênticas
- Massificação dos Consumos:
- Os gostos, valores e comportamentos dos consumidores são uniformizados por influência dos
meios de comunicação de massa, ou seja, os destinados ao grande público (televisão, rádio,
imprensa, etc.) e das marcas globais.

VI. As marcas globais


Num mercado globalizado, como aquele em que vivemos, constatamos que marcas e produtos a elas
associados são reconhecidos, vendidos e consumidos em todo o mundo.

Marca - Sinal utilizado para identificar e distinguir os produtos ou serviços de uma empresa dos
produtos ou serviços de outras empresas

Há dois aspetos que dão importância da marca no processo de globalização dos produtos :
- A marca funciona como elemento diferenciador dos produtos ou serviços de outras empresas
- Por ser registada, confere direitos de propriedade ao seu detentor

As marcas podem ser globais, ainda que os produtos a elas associados sejam ajustados aos gostos e às
necessidades locais. (exemplo: Mcdonald 's da Índia não fazer hambúrgueres de vaca e em Portugal
oferecer bifana como forma de glocalização.
VII. A globalização cultural
Constatamos que a intensificação das trocas mundiais também promoveu a troca de ideias e o
contacto diário entre culturas, dando lugar a dois fenómenos que caracterizam a glocalização :
- As culturas locais ganharam dimensão global
- A cultura global, em resultado da aproximação de gostos, necessidades e padrões de consumo
locais, tende a refletir as culturas locais.

Um dicionário de conceitos, associados à globalização cultural :

Globalização cultural → A globalização cultural é um termo que se refere ao grau de integração


social entre as diversas culturas do mundo. Esse processo foi facilitado pelas tecnologias
desenvolvidas na globalização, com a modernização dos sistemas de transportes e de
comunicações.

Difusão Cultural → A difusão cultural está centrada em ações de democratização do acesso aos
bens culturais, formação de público e oferta de subsídios de estímulo ao conhecimento,
reconhecimento e valorização dos bens, para instituições culturais e de ensino.

Aculturação → Fenómeno pelo qual um indivíduo ou um grupo humano de uma cultura definida
entra em contacto permanente com uma cultura diferente e se adapta a ela ou dela retira
elementos culturais.

Multiculturalismo → O conceito do multiculturalismo é aquele que reconhece a diversidade


cultural e ainda promove a valorização e a coexistência de diferentes grupos étnicos, crenças
religiosas, sociais, políticas, artísticas e ideológicas.

Glocalização → O termo “Glocalização” foi introduzido pela primeira vez na década de 80 pelo
mercado Japonês de produção automóvel e mais tarde popularizou-se no mundo dos negócios.
De maneira crua, o seu significado é oferecer um produto ou serviço de escala global, porém
consumindo a cultura do local onde será inserido.

Aldeia Global → Conceito desenvolvido pelo teórico Marshall McLuhan para explicar a
tendência de evolução do sistema mediático como elo de ligação entre os indivíduos num
mundo cada vez mais pequeno perante o efeito das novas tecnologias da comunicação.

Perda de Identidade Cultural → Define-se como perda de identidade cultural a perda do


conjunto híbrido de elementos que formam a cultura identitária de um povo, ou seja, que fazem
um povo se reconhece como um todo e se distingue dos outros.

Globalização da Informação → A globalização da informação é o aumento da troca de


informações e de comunicações em todo o mundo. Este fenômeno facilita a comunicação e
diminui a distância temporal necessária para realizar o intercâmbio de informação em tempo real.

*A globalização cultural pressupõe relacionamentos baseados no reconhecimento da existência da


diversidade cultural e no respeito mútuo dessa diversidade.
VIII. Globalização Financeira
A globalização financeira pode ser entendida como um processo no qual os mercados de capitais
internacionais estão em permanente interligação, como se de um único mercado se tratasse.

Fatores Explicativos :
Alguns dos fatores explicativos do crescente aumento da mobilidade do capital entre países e das
alterações no padrão desses movimentos internacionais, e que estão na base da globalização do sistema
financeiro, podem ser assim enunciados :
- a mundialização das trocas e a disseminação mundial das empresas transnacionais e multinacionais
criaram condições favoráveis para o acesso ao crédito de fornecedores e a empréstimos, obtidos
diretamente nos diferentes mercados onde se instalaram;
- o facto de os mercados de capitais dos países em desenvolvimento terem liberalizado os seus
sistemas financeiros, criou condições favoráveis à circulação da moeda.
- a rápida evolução das formas eletrónicas de acesso aos mercados financeiros e de acesso à
informação, das diferentes taxas de juro e das taxas de câmbio entre as diferentes moedas, a qualquer
hora do dia e em qualquer parte do globo, está na base da interligação que se verifica entre os mercados
financeiros e monetários nacionais e internacionais.

Principais características da globalização financeira :


- Descompartimentação dos mercados
- Desregulação da atividade financeira
- Desintermediação

Benefícios :
- a maior circulação de fluxos de capital
- a maior integração dos mercados financeiros à escala global
- diminuição dos custos de financiamento

Riscos :
- existência de crises sistémicas
- a proporção crescente de ativos financeiros emitidos por residentes, nas mãos de não residentes e
vice-versa, com repercussão nas respectivas balanças de pagamentos e na taxa de câmbio.

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