Você está na página 1de 248

..

·'

.· '·

<• •
COLLECÇAO
1>!1

DA
. 1-4

~ ~ G .I S L A Ç A O
ANTIG·A E MODERNA
DO

REINO DE PORTUGALo
PARTE I.
DA. LEG I SLACAÕ
>
A NTIGAD

Por Refoluçaõ de S . .J1AGES1'ADE de 2 de


_Setembro de 178 6.

' '
,
. '

• J • • ... ...

• I

I •
,- ..

.. .

I
.•
f

ORDENAGOENS
DO
'
SENHOR REY
D. M _A ,NUEL.
.L I V R O IIII.

C· OIMBRA :
RA REAL lMPRENSA• DA UNIPERS!I>ADE..
ANNa DE MDCCL-X.XXXVIII..

'

r t ;... :
'

,.\ ..

-
TA VOADA
.D '() 'QU A .R 1' :0 ;L 1 V R O.

TITULO [. Da deélaraçam .da ·valia -das 1i-


. uns, "e d'outras moe-das. pag. :r
TIT.H. Como os Me-rcadore-s eílrangei-rós 'ham
de comprar., e veQder.fuas mercadorias. 'I -Ir
TIT. H:I. ~e ninhuü (fl(jm' faça co'htraétos .,
nem diílrael:os., e111 que ,ponhajurarnent(),
nem boa fee. ·I:S
TIT. HH. Dos contraêtos tléf~forado!J-. -1 6
'iflT. V. ~e nom penhore alguem feu ·deue..
dor,. nem .f ilhe a -po~fe ·de fu:a ·confa ., fem ·
auétoriâade da Jufliça~ ~ ·
'fiT. VL - ~e b'lnar-idú no-m ·rotra vettdet., nem
ema-Ihear bens de raiz :fem 'outorguamen-
to de fua molhe.r; -e cla deaçam -des bens
,moueis feita polo ··m arido.
'TIT-. 'VU. Como a mt>lhct ·fica ·etn pdffe e ca·-
-beça de cafa>l ·pet mor-te de feu marido-. 23
:)TI T. V li I. Do homem cafado -q ue di, 'OU ven-
de a;Jgüa ·.cottfa a fua bar-I:egliam.
XIT. IX. Da ·doaçam feita poto 'mllriâo lrt\IDO'-
·lhe-r, 'OU pola molhcr ao -n1arido , e arras
·e ·t .amar-a çar't'ada.
'TIT. X. Das Viuwas que em~fheain , e desba-
-raca'rn feus bel~s tatno nom cleue·m.
'tlT-. XL Das :Vitrua:s que fe ·cáfam antes '<i<>
'atlno e d~a.. .1 33
liv. IV.


TA v. o A DA •.

TIT.. XII. Do beneficio. do Vdéiauo outor.gua..


do aas molhe'res ·q_ue fiam ou:trem ,_ ou. fe·
obriguam por elle. 34
TIT. XIII. Do homem ca.fado que fia atguem
fem outorguamento de fua molher._ 38:
TIT~. Xllff. Das vfuras como fam· defefa.s.
E em q~c rnan.eira. f~ pedem leuar. J9·
TIT; XV. O!!e· nom faça peffoa algua contra-
él:os fimutados, 45
'flT., XV1 •. Como fe podem engeitar os efcra·-
uos ,. e beftas., por os acharem doe.ntes ou.
mancos. 48
TIT'!- X Vll. O!!e todo. homem pofl"a viu e r com,
quem lhe aprouuer. , 5:0
TIT. XVIII.. Do. que viue com fenhor a bem
fazer, ou ;recebeo cafamento, ou Olatra-
coufa, e fe parte . ddle f:em fua vontade ;:
e do que o recolhe.. 51
TIT,. XIX .. Dos mancebos, e ferl:liçaes que vi-
uem á bem fazer •. e defpois demandam fa-
_tisfa-çam do feruiço que fezeram.: 54
TIT. XX. Q!;!t; nom poffam demandav wlda-
:da, fenam atee tres annos. 5S
TIT.. XXI. Daquelle que lança de ca.fa o man-
cebo- de ·foi-dada., e de -mancebo. que foge
dclb. s6
.'l'IT. XXII. Do amo que demanda ao mance- ,
bo ( que· lhe pede a foldada } o dãno que
lhe fez viuendo com elle.. 51
IU

TlT. XXIU. Das ·compr-as e vendas que fede..


·uem fazer por certo préço.. 5S
TIT. XXl V. Das compras 'e veLldas feitas por
fina;l ~ado ao vendedor famprezmernte, ou
· ern pa.rte de paguo. ;; · 6o
TJT. XXV. Q:!e cada huQ poffa Vender feu
. he.rdamento, e coufas que teuer ., e -nom
. . feja conilrangido de as vender contra v(m-
tade, [aluo nos cafos abaixo dedarados. 62
TlT. XXVI. Dos que apenham feus ben:s., c~m
·condiçam que norn pagtiando a certo dia
fique o penhor arrer.na!ffido a-o creedor. ·6 5
'TIT. XX:Vlf.. Do que vendéo -algua raíz f'Db_
·c-ondi~<nn que -tornando -at-ee dia certo o
pre.ço , que.,por dia recebeo 1 feja a venda _
'd esfeita... 66__.. --
TlT. XXVIII.. Doqoe vende algtia ·c-0ufa··d uas
:· vezes a pdfoas defuaíradas~ ·6s
TIT. X X·IX.. Do que vendeo a coufa de rai·Z
ao tempo tp:re a já tinha arrendada,_ou afu.:. .
:guada a ou trem por tempo teito• · ~ ·69
TIT. XXX. Úo que quet desfa.zer alg\ia ·ven-'
da , por fer ·enguanaào aalem da metade·
dojüfl:o preç<h 7r'
'T lT. _XXXL Da coufà vendida :qu~ te perd-eO'
por a1guü cafo, ai1te ·que ·foffe . ehtregue
ao comprador. 75
TIT. XXXII-. Do Fída1guo, ou Cr.efíguo, 'ou ,
qualquer -outra peffoa que compra pera
,. , teguatar. , '... :,_,.. :~. ~ ii::_,, ! :;
1
, . _, · 7~

.
.'
l.V.

"{Yf:.XXXHI. ~e quando a- coufâ obriguada


he vendida.,, oÜ emalheada. ,. paffa fempre:
com feu-. encarreguo.. 80.
1;1T. XXXIV.... Do. qpe compra· aigüa coufa.
obrig.uada a outrem., _e confina o,preço del--
la em.. Jui~o ,,por nom fica.r obr.iguado aog.,.
creedore~;: e · que ninhu.li Oflid.al r.eceba.;
ninhuti depofi.to., lrl:
"l:IT~ XXXV. Do-Vaffalo ·d'EIReyque oorigua.
o ·caualo, .e armas ;,ou a contia q~:~e.do dito·.
Senhor tem. E como,o.fóceffor· da~ Terras.
da Coroa do Reyn:o ,,. @u . Morg,uado feri;
obriguado-aas diuidas de -feu antecefTor~ 86'-
T:IT. .XXXVL . Do .que prometeo. fazer· efcri.;.,.
p~ra.. d'alguih.contraél:o " e de f pois. f e arre-.
pend'eo, .e.a nomquerfa-zeJ. E affi daquel-..
leque confeffa.o .que·lhe·he lei:x;adb em fe.u ,
juramento com algüa·qualidad·e,_ SI
TIT. .XXXVI1 •. Da comprador que nam·pa-.
guou ·o preço da: couiã. comprada ao tem-.
po·qtre deuià.-,. ou· recufou de paguar por.
feer-· enformado. que a. coufa:. nom. era do ,
vendedor·. 9~
TIT; XXXVIIL QQe,os,Córreg.ed'bres-·dás Co---..
· mareas-;e Juizes Ordinarios--, e·outros. Of-.
ficiaes · temporaes nom· poffam . comprar·
bens de raiz,, nem fàzer outros contraél:os
nos Luguares onde·forem Offieiaes. E que
os Offitiacs; da Fazenda. nom arrendem
;· coufa algüa aos rendeiros d'ElRey. 94
TIT. XXXIX. Dos Officiaes que nam podem
feer rendeiros. 97
TlT. XL. Q!e ninhua peífoa:--nom compr:e·
defemba-rguos. 98
TIT. XLI. ~e as pefloas· que tem, pod.e r de
dar Officios os nom poflam vender,. nem
r~ceber_ dinheiro· pores dar.. 1 oo
'J'IT. XLll.. Em que cafos os arrendamentos dos
guados , e" colmeas fam defefos. · · IOI
TIT. XLIII. Do pam que fe vende aa, tenda. . 1 o~
TIT._XLIV .. Das penas conutmcionaes.,. e ju-
did:aes, e inte-r.dfes., em q~e cafos fe po-.
dem leuar ~- ou nam.. J·OJ
Tn:.. XLV.J)as v.endas, e emalneamentos,.que.
- fe fazem das c:oufas.litigiofas.. I o6
TIT:. XLVl. Ba· fiadorja. de mu-itos.. I-I 2
TJT.. XLVH. Do que confeírou auer recebido·
a-l güa co.ufa.,, e defpois diz q~e a, n,omrec_~·-
beo._ t14_
'rJ;T .. XLVUI'. QQe o carnkei'ro, _pádeira, e ta-.
uer:neir.a fejam, cr-idos. por. feu juramento :
~o que lhe deucrem-de feus mefteres~ _ 1I 8
TIT.. XLIX, Se_valerá . a obriguaçam ou con...
traél:o .feito polb prefo.--na-prifam. H9.
T.JT; L. .Dos que tomam forçofamente a·poffe
da -coufa que--outrem , poífue. _ 1-20
?:IT. LI ..Da mudança que f e fez da era de Ce-
far aa do Nacimento de Noífo-Senhor !efq,
_(;.hrifto.. Ia:IJ ·
~,

' VI TA v o A DA. ·

TIT. LIL Dos que podem fee-r prefos por di- :.--
uidas c_iueis , ou crimi11aes , ou recomen-
dados na cadea. 12 5 ·
TIT. LI i I. Do que engeita a moeda d'EIRey. 128
TIT. LIV. Das doaçoes que ham d·e feer infi-
nuadas , e -confirmadas por EIRey. i 29
TIT. LV. Das doaçoes, e alforria, que fe pó-
dem reuoguar pQr caufa de ingr-atidam. 1.3 r
TlT. LVI. Das compenfaçoes _, como ·e quan-
do fe podem fazer de hua diuida a outra~ 13 ç
TIT. LVII.-Dos aluguer-es das cafasl e da ma-
nei-ra que fe deue ~eer acer-ca dellas. 139 .
TIT. LVIII. Em que cafos poderá o fenhor da
cafa lançar o aluguador fóra deHa, duran-
do -o tempo do aluguer~ 141
TIT. LIK Dos aluguadores que acabado o
tempo do aluguer nom querem leixar as
cafas a feus donos ; e das peffoas que algúas
couf.:1s receberam ernpre'fiadas, e as nom
querem entreguar ao -t empo que fam obri-
guados ; e do terceiro que as embargua. 14-3
TIT. LX. Do que deu lierdade a pa.rceiro de
me-ias , ou terço , ou quarto , ou arrendou
por certa quantidade. i46
TIT. LXI. Das eftere:Iidades.. . 148
~I T~ LXII. Do que filhou alguu foro pera fi e '
certas peffoas, e nom nomeou alguem a elle
ante de fua morte. 149
TIT. LXIII. Do foreiro que nomeou alguem'
ao
T .A\ V o A DA. VIr .r'

ao foro, .e defpois reuoguou a nomeaçam


e fez outra, e daquelle a q,l:le he dado poder
em alguu teftamento pera o poder nomear. I 53
TIT.. LXIV .. Do foreiro que vendeo o foro por
auétoridade do fenhorio ,_ou fem feu con-
fentimento.. I 57
TIT. LXV. Do. foreiro q.ue nam paguou o fo-
ro por tres annos ,_ e defpois quer purguar
a mora oferecendo o foFo deu ido. E que as
cafas f,e nom aforem fenom á dinheiro. 1 6o
TIT._ LX VI. Q!.e· os foreiros-de bens da Coroa
do Reyno.., ou. Capelas , Morguados ,. ou
Comendas , nom dem coufa. algüa por en-
trada- aos Senhores'· p01; lhe afetarem Qs
ditos bens. 1:63
TIT._LXVII. Da,s Sefmarias.. 164 .
TIT. LXVIII. Emque Gafo a madre repetira
as de f pefas que com, feu -filho fez ~ I 75
TIJ'; LXI X.. Como o marido. e a molher foce--
. dem huú. ao outro._ 178
TIT: LXX. ~ando-o- padre· noteíl:"amento nom-
. faz mençam do filho ou" neto-, e defpoern
foomente da teJ;ç_a dos fews .bens. ,_ou o filho-
nem faz· m ençam. do pay,, ou afcendent.es.: 178
1'IT:. LXXI. Como. o filho- do piam her.da, a.
herança de feu padr~. . · 1-81
TIT. LXX li. Da- filha que fe cafá fem auéto..
ridade de feu"padre ante que aja vinte ·e ·
cinco annos, e-em-que cafos o-pay pode
deferdar íeu,s filhos 1 . ou filhas. J 8.l
VIH TA vo A DA.

TfT. LXXUL Em que cafo poderá o fi,lho ou·


filha deferdar o padre ou madre. 1 88
TJ:t. LXX..lV. Em que cafo .poderá a irmaS
querelar o tefiameríw de .feu irmaõ. 1-90
TIT. LXXV. Como o padre e madre herdaõ
ao filho , e nom o irmaõ. E da molhçr que
cafou fenqo de hidade de c.in.c oenta annos. 191
TIT. LXXVI. Em que fórma fe fa.raõ ·Os -tefi.a-
mentas, e das tefremunhas que em elles fe
req uer<C m~ 19 5
TIT~ LXXVII. De. carno fe ham de fazer as
partiçoês anue os irmaõs~ ~00
TIT. LXXV UI. Se trazerá o filha aa colaçam
, -~que glllanhou em vida de Jeu padre, e
em que c;afos o pay pode auer ·os fruitos
dos bens do filho ou nam. 211
TIT. LXXIX. Da doaçam qtte o attô faz ao ne-
to, como deuc: feertrazida aa co-laçam. 2 -2 3
TIT. LXXX. Das. .prefcripçoês .al(ltre qlllaes- ·
_. quer pelfoas. 224-
TIT. LXXXI. Como -os irma-õs nacidas de ·da-
nad(') coito podem foc~de:r huüs aas outros. 2 ~'6 _
TIT. LXXXU. Das vendas que fe fa~em por
alguas -peiloas a feus filhos ou netoS-o ·227

O Q..U AR-


:o QUARTO -LIVlt0 ....

·o As . ) ·... ·
-
1

O R DE N -A C O E S. :1 ''

. . ,)

T I T U L O P R I M E I R O.
Da dtclarar;am da valia das liuras • t dQu/ras moedat~

G EER~LMENTE EM os TEMPOS ANTI;ol


guos fe coftumauaõ fazer os contraétos dos empra ...
zamentos , e aforamentos por üuras e foldos. E ou-
tro fi as contias das portagés , e dalguús outros de-
reitos e penas, que pelos antiguos Foraes dados aas
Cidades , Villas , e Luguares de . No fios Reynos f e ·
deuem arrecadar ~ fom em elles· p<Dllas por liuras ,
foldos , dinheiros, e mealhas, e porque as liuras .te- .
ueran~ muitas, e defuairadas valias pala muita di ..
ued1dadC.,.das moedas nouas, e valia e bondade del-
las , que defpois por defuairados· tempos foram la- -
uradas ; . as qliaes vieram a tanta clemiriuiçam , que
defpois de muitos pre-ços lhe ferem poftos, fegundo 1
o .cur(õ dos tempos, e mudança çlas outras moedas,
foram reduzidas as lim'as antiguas .a dous preços foo ..
mente,· c~.muem a fitber, por algúas das dit;1s liuras '
antiguas fe .mandaua paguar ferecentag., liuras . porl
húa, e por outras quinhentas liuras por húa li~ra :
~ntigua. E' porque em c.e tto fe po.~eife.: L1.ber' ,. par
.Liv. If/. .i \ , ·qu.ae~
quaes liuras fe. deueri~ pagu<fr a fete€entas ,. e por·
quaes a quinhentas p0r hua , quando por as pala-
uras do contr~él:o. nam•foffé declhrado , foi por 1!:1-
R(ey Dom Duarte Meu Auô da louuada memoriafei-
tac_Lq a<::efC<l" cla-vali.a, clas Euras amiguas, porque
_declarou e determinou ,, qjle de todos os contr(;létos.
de emprazamentos •. e aforamentos , e em as paguas
d~ qtJaefquer..foros, ou t:endas, de que fe ouueíle de,
fazer paguamento a: refpeito de moeda antigua ,
que foffem feitos , ou. inouados da era de Nolfo Se-
nhor JESU Chrifto. de mil e trezentos e. nouenta e
cimeo em· diante >: · fe pag.uaffe quinhentas liuras ror
cada huar liura,.. que foffem ohr.iguados paguar da-.
moeda· antigua •. E dos contraétos feitos da dita era
de Noffo·Seab0r JESU ChriÍil:o. cle mil e u;ezentos
e: r:muenta e ón<;;o pera trás, pagaffem por cada húa
liura fetecenta,s per -h lia, e. 'luis q,ue por. effe refpe..:.
éto húa cl'eftas liuras. ~p<:H~C!pae mandauà paguar fete-· -
centas por húa), :v,alelfe vime reaes brancos, que a;,
efile tempo corriam,.e huu real branco \\aleffe huu fol,..
do, e dez pr-elios huíí- real branco,.e·huü. preto. valcf-
íe huú clinli:eit:0 ,_o. que geeralmente mandou. ,. q,u e·
fe gua-rdaffe·affi. nas. fuas readas '·como. dtt Rainha~­
e, Infantes ;, Igrejas,, e Moeftcúros,, -e doutras. q}raes-·
q-uer peífoas; e' pol"efie r.efpeéto a, l'ituru que fe auia ,
de pagu~r: a quinh'erntas por húa ,, valia em~ aquelle:
t~mpo , quatorze .veaes e clous· pretoS ,, e tt:es quartos<
de; preto•.
·r. E·s.:e..N;oo-défp.oiS'l Et:Rey; Dmn A.fof.lfo Meu Tio;
da
DA Q"f>C ·L:A'J~ • •DA ]V,AT!.I~ (J)A(S 5JJ.lW.R, tE·rD:o.JJJr:l,t. ~OED • .;\ 3
~a r;rmit~ ::la1:1uad9t ~ ~fdarredi~il mttn~i'il' :1la rs:üd~
~e d'Euora ., ·ao ·a!ilnP çle N'.!'>'Bo ~enh:or JE~lJ ,Çhtá...
JJ:@ ,d~e ~mil e ·qua.til!0.C..eO.tP:S ·e -fe.tetlt~ ;.e :4tH~S.. I.Ff!qnovidp
por algu.Us Grandes, e'i)')lÚt.llS ~ ~J.!.ttr~ tpe{f~as · d.e~
.ReytM>s.., (!]iue lhe.g :qu~feffe ~P~'Otl~r 1t'Oetiqt ;cdo ~dãa:,o e
.per~a., q.ue,reoebiam -em 10 p f\g<Jtamet'lll..<i> d~ ·fe~ ,&>,.
ff@.,S :, ~e ~remda'S , ·~por )H'lle J00'..I:n feFem :p.agll.l'ls '1tS :tnoe~
.das antigt:~<as 1erm {eu v;::.re\.add r.c:t, ;e r.in:ucinÍli,ao :v.álQr••
:.o ndecrJJI!l e pi:l:S pr:>.r Ler -:.ccHlíl a:a~rdo rle {ua ~Gon~e ,,
·~e de~.m;n inou l:q we tocd:Ps o.s JÍ.0res ,.tri·butQS~, cen.{@/l;,
Jporta,ges.• , .f'lenfc:>:és ~d.e (L-abal iaes ., ,cham.Geta~;ias , · c~r..
~ <i:erages. , >midiçoes. moiaçlíll!s ;aforadas ipar ·l:iuras..,
1t111 por.:out1.'a ·. m>la'n~ira, 1e ·quaefgo'tlr 'lílta<t~os eribtl·~~
,de.q.ualq:ner gua!lidade, eantlie ql!làlf~u·e~r pei[<ixas ·qw::
..fw11e.m: ~'C,CD~ttr::aétados , ~eftabe:le.cidos :por >r.i.oms 1runti,.
.guas., 'IDmcórr.e ntes, •ou por ouro, rcu1 Jpra!l:a., ou : rea~
<rl:e .nroes :Jiur~s e mea , ou por,lieaes do ram:oos ., Gl!l ~ma­
rauedis, ou m,Qeda outra ·qualquer cq·l!J:e f.eja ..de
.~ua:efqoertteilllãpos aêee :o primeiro.dia de Jruie.i w de
~·offiD .S-enhor }ESU 10hliifto de mil e :qua:t:~tCDc--er.rttoo
.!C ICiJU>arenta ,e (-eis ·a-nn-os., .os jfártciros , ~ ·centiM:es tpa­
-gorem <liferzoito :pretos .JpGJr .cada ·hmií ..reài b11an-co ,que
.ante .pa~ua,u:am .,1d.e que -~·em aa. hcrr.a ;(pokt,qual-:pot
-oMuei~p ..d.as -qnaf.tc~S Jpt,jfta nos rc0ntraótos , . o'l!l .por ,-a
·dita (}mdt:ma~a m d'El~Rey Dom IDuar.te 'fe deuia -va,..
::guar ~ítltecrentas 'PQir húia, •:trinta e ~ fcis ,'lo·eaes 'brancos,
~ vem aa :lirwa, pm- rG}ue tpagua:uall.llll q.ui.nherrta:s llli.Qlras
~p>or Jh'Úa , v.i,nte •e cinoo ,rea.e;s e ·Ue'S :cqpti:is , e .a0
·ma:ra(l) da lptla:ta·lr.l.il e <íi·Us2.enroo..e ..[éffeàta ren~s ., ..e:aa
A 2 da-
<.. [

.1 4 .' o ~- AR To LivRo- <DAs ORoEN. TrT. I.


àobra valedia. ou de baHda, e coroa vdha ·, 01,1 de
França duzentos e dezafeis , e ao efcudo de Nolia
moeda duzentos e cincoenta e dous, e aa dobra cru-
zada duzentos e fetenta reaes~
· 1 E Nos contraétos d'aforamentos feitos ou ino-
uados des o dito primeiro di.a de Janeiro. de qua--
trocentos e quarenta e feis annos ;J,tee o primeiro dia
.de Janeir-o de quatrocentos e cincoenta e tres, pa:-
guem q1:1atorze pretos por cada huu real branco, que
ante paguauain, de que vem aa liura, que p0>r
conuença das partes poftas nos contraé1:os fe paguaua:
fet.ecentas por hlía, vinte e oito Jeaes , e. a a liura,,.
porque fe paguaua quinhentas· por hua, v..inte reaes•.
e aa dobra. valedia, dobra de banda ,. coroa velha,.
vu de França cento e feffenta e_o-ito reaes, e:ao .efcu..
do de No?'a moeda cento e nouenta e feis Feaes., e
aa dobra cruzada. duzentos e dez reaes ,. e ao marco,
de prata nouecemos e oitenta reaes.
3 E Nt?s contraé.1os dos aforamentos feitos Ol:I
inouados des o dito primeiro. dia de Janei-ro de
qu~trocentos .e. cincoe-nta e tres a:tee o primeiro dia
de. Janeiro de· quatrocentos· e feírenta- e dous , pa·,..
guem doze .pretos. por cada: huu· rea-l que ante -pa-.
gu-a uam ,_de que vem aa li.ura ( de q.ue· por conuen- ·
ça das partes pofta- nos contraélos paguaua·m fere-.
centas por hua). vinte· e· quatro reaes ,_ e aa liura de
que paguauam qu-i nhentas por húa, dezefete r.eaes.e
buG preto, e aa. dobra valedia , de-banda , e coroa
1Ydha ~ ou de Fi:anç.a cento e qua'!"en.t a e qua~ro.
reaes.


DA D~OLAR. J:>A(V ÁÚ 'A DAS LIVR. E DOUTR. MOED. 5
'
reaes., e ao efcudo Qle No{fa mo€da cento e fefTenta
e quatro reaes , e aa dobra cruzada. C(mto ·e oitenl'a
reaes, e ao·marco de prata oitocentos e quarenta
·reaes ..
4 E Nos contraél:os d'os aforamentos fe'itos ou
inouados des o primeiro dia de JaneirÇl de· quatro:..
centos e feífenta e· dous pera cá, po11o qne fejam .
feitos por liuras , ouro, ou pr.ata·, paguem fei s ceptiis
por real bf.anco' , e vinte reaes dos ditos ceptiis aQ
real por eada nua liura·~
. S E NOS .cafos em que por Foraes, e Ordenaçoés,
ou determinFtçoes €>UU€r.em alguas peflàas de -pa'-
g~Jat' quaefquer. tl;ibu-tos, ou der.eitos ,. por liuras,
ou reaes . por refpeito da contia das liuras, ou· reaes.,
qm·e em feus bens teuerem, aBi corno·fe acrec:entam·
..es . re.aes dos. tributps. a dez-oito pretos pon real , afft
.fe,acr.ecenta-ram os reaes da·. contia , por cujo· refpe-i-
. to os tributo~ fG: ouuerem. de paguar. Pode-fe pot!r
exemplo·, quando·nefl:es Reynos aui.a Judeus-, os·que·
-tinham bens, que yaleífem feis mil reaes., auiam de·
de.
j:>agua·r tr.ibuto eemo e vinoo reaes, keíl:;es·reaesde-
1\~. tributo fe acrecentauam a dezoito pretos pot' real,
affi os reaes da fazenda· ( por cujo refpcito o dito de-
-rei to paguauam )· fe auiam de contar a dezoito pretos.:
por reaL E fenos: paguamentos das por.tages, ou de
, quaefq_u er tributQS· e · dereitos, fe fezerem paguas.
tanto polo miudo·, que·conuenha, decer a pretos, e
que e}les per. conto fe part<tm., fe a· pagua chegu ar-
_a,.dous. t~r.ços . de·preto, . todo pre.to.fe leue , __e onq e~
,.
a eHeR ·nam cl~dgUJ.a·rem ,; ·nom l.fe ,leue ,, e ·fil;lqe.-ç.o qt
aqueLle ,, que _ou~J.er cle pagu1l!r.
,6 :E o_y ANmtd;e ,a0s qJ::Je tem j-llll!i-fdiÇtl!)is po·r .Fo-
raes , ou Ordenaçoes, ou Cartas eípeçiaes ~ affi CPI1il~
rConcoll:r0S ,. Gol'\uegedpres. Ja~zes, ,e ou.tras ,peJfoas
.que podern jwlgu~r fern apelaçam :e agrauo atee cer-
;ta .conti.a, e afTi as penas que po<r F0.t;aes o.u·Lqs e.m
'quae[qucr :cafos, •ou de quaefqtaer ;te;~pos ~ atee o
'primeiro dia de Janeir_o do .anno <de .Noflo Senhor
JESU Chrifh> d~ qu::tt·rocentés e quarenta :c fe.is ·
<atrás poftàs .~ ot:a Jeja~rn .por liuras., 10m .p.0r .reaes~ e A: as
.fepaguern .a -~e:zaito pretos p:or ,!e.aL, e ta<fli lfr tC(i)tl.:-
.' tem qua~'to aas jUJrifcliçoes, e porler :de julguar :f.em
apelaçam e r~grauo a dezoüo pretos ·p or reat
7 ~ E os outras deuedores de quaefqúer i<:>U't'l'OS
. contraétos , ou quafi con.traélios ., tranfauçoés , dli-
,pu1açÓes ~ .fentenças , c0m pras., vendas , teftarrren,.
tos,, efcaimbos , oRde ·mmer 'toma de GiinheÍ1:@ ,, ;p-r.a-
·ta, OLt ·ou:ro ~ou quaefquer au·e nças, ·e CiJUtr.as :obr.i-
-guaçoês .f eias ou caufadas ~ em que os ditos doo·e -
. dores fam obrig~ados em lünras de mo.éâa anti-
' gu·a , ou rem :l:iuras .de t:eaes d:e Dres iim:ra:s esmea: ~~u
· -e,m creat'!s brancos~ ou em oul'e, ·ou -e'm pràta, 1pa-
·guem ;as di tas :Jiuras, àinheims .,- @l:lro. , e ·pr.ata.., ·fc-
gundo .tios cofltvaffi:os d.os ~fot:amentos ·acima ::temos
de:ter:minado, 'feg.undo ;a·s dif.eret:r.ça·s , :e_dedara.~oês
-que d0s fobrediws tempos f:atm fe:itars..
'8 E r;s'"r.o fe .rram ente1.1.da tl@S demedores, q.Ne fo-
•çem 0b.riguadoo 'pru··çontr:aél:os rleJempre!rl..iooll, gacl:e
I
o
DA DE€ LAR- DA W.A:t:rA
1 DA'S LIVR.:.' E' DOUTR •. MO:ED~ 't
e:-fenhor:io das coufas. empn:dhdas na·m palrou aQS41
q.,ue. as. receberam, ,,,e foomrtnte· paffGu 0 . vJo. dellas. ,...
que €m ~ de-rei to fe cbama commodatum., que p,rata Oll,
Ql:H-o receberam : e nos· deuedores: que em guarda ,
ou fo.creilo, ou. em Gonfina.ç am ,. OH. em penhor prata1
ou ouro. receberam ,.. e nos. que do-furto~ ou roubo
p1:ata. ou ouro ouueram , ou receberam,. e nos Tu-
tores>- Ci.!radores.:, Moord.omos , Procuradores,. Fei-
t0res , que prata. OLt o.uro receberam ; perque eftes",
que pr-.ata ou ouw receberam em efp~cie, fam obri-
gúados a entl'eguar a mefma coufa· que r,eeeberam ,.
e fe a nam. teuerem ,.deuem paguar outno. tanto ou-. .
ro ,,ou prata,,e fei.tio .,.e douramento; e intereífe,.que
nas .ditas coufas ouuer .~ e fe t'!m moeda douro ou
pr:a:ta . .receberam, em moeda. dou.r o ou prata entre-
g·l:lem, ou tanto como val.e11 CGmÜmente de vende-
dor a. c.ornpr.ad~r ao tempo · da, pagua •.
f 9· E os deuedores q_ u e prara ou . ouro emprefiado·
receberam, em que G·fenhoPio das coufas paífou-
aos q)Je as rec.e bentm ,. e ,os maridos- que em- fuas
dotes prata, ou-ouro receberam) . e os herdeiros te-
ftame.nteitos. dos· finados , q11e prata· ou .- ouro em
feus' tefiamentos- lei:xararn , e. aos- tempos de .fuas,
mortes. pl-ata, ou ouro t~ueram ·. , e os. que por·err.o-
prara ou; ouro .receberam . dos-que penfauam qu~ lh·o ,
à~uiam , e narn era deuido , e os que prata ou ouro·
l'eceberam por bem de-a.lguús contraétos , .que por:
d'ereitú ou pon conuença: das partes·foram julguaàos ·
pQr niahuús, _ou q!le: fe desfez.eífem, pagu__em em ou- .
ro,
·8 . 0 ~ARTO LIVRO DAS ÜRDEN. ·TIT. I. .
t.o ·ou prata o que aili receberam , ou outro .tanto
ouro ou prata como .r eceberam, e na maneira, feitio,
e douramento, em que os receberam ; e fe em moe-
da douro ou de prata receberam , em moeda doum
ou prata paguem, ou outro tanto como valer de
ve11dedor a comprador.; e fe em reaes receberam ,
paguem a dezoito pretos , e a quatorze • e a . doze
por real , e a real por real ·., fegundo .as diferenças
d0s tempos , como nos centrados dos emprazamen-
tos e aforamentos he deda·rado.
,r o PERo alguüs creedores que feus dinheims ern-
preílaram ; ·e prata ou ouro em penhor receberam ,
aueram fe quiferem, ou defcontaram tanta prata
· ou ouro do dito penhor em pAguamento dos dinhei-
rós, que empreílarem, quanta pelos diq.heiros em-_
preílados auer poderam , aos tempos que feus di-
nheims empreftaram.
r r Ou no s,r determir:tou o dito Senhor Rey Dom
Afonfo, que eíle acrecentamento nom ouueife luguar
nas di.uidas que elle deueife de dotes, ·e cafamentos,
e. tenças, que pr01nettidas teueife em ouro, prata, ou
dinheiro, a homes ou molheres feus moradores, ou
da Ray.nha, ou da Infante fua filha, nem em as di-
uidas de Prelados~ Fidalguos, e doutras quaefque•r pef-
foas, que em diaheiro, ouro, ou prata deueífem de
dot_es, cafamentos, ou .tenças aaquelles; que corri el-
les viueram , nem nas diuidas que o dito Senhor de-
. u_etfe, ou os .fobreditos de dinhei,ro, ou.ro, .ou prata de
.puras merces, ou doaçoes, as quaes. mandou que fe
pa-

/
DA D.E.CLAR,-DA VALIA DAs LIVR. E DOUTR. M.oJtrJ.- •'

paguafiem, como fe ante paguauam , fem . outro


'acrecenta-tnento nem inouaçam fe fazer no preço
e
dos reaes , prata., ou ouro , nem f fezeífe nellas
mudança pola valia do ouro, ou prata • ou baixura
da moeda.
. 12 E ouTRO si mandou, que na valia dos reaes,
ouro, ou prata dos ditos dotes, caf-amentos, e .t~nças
-que o dito Senhor , ou. os outros fobreditos di em
diante prometeíf-em , e das doaçoes ,.e puras merc~s
que ao diante fezeífem )' fe nam fe'zefie inouaçam ,
neh1 mudança, nem ac·r ecentamento alguú, faluo
fe outra ooufa nas efcripwras f{)r exprefiàmente de...
clarado.
· I3 MANDOU mais o dito Senhor, e defendeo,
f.lUC di .e m diaFJ.te pe!foa algua de qualquer eftacio
ê rcondiçam qúe feja , nam fezeífe contraéto de. afo-
ramento, nem de emprazamento , ner;n -arrenda-:
mehto , nem de venda, nem de compra, nem de
. empref.l:ido, nem dote , nem cafamento , ne·m doa~
çam 1 nem de tranfauçam , nem de eftipulaç~m,
nem de permydaçam , nem .d outra qualquer conr
uença, nem trato que antre homês fe poffa fa.z er de
quaefquer -couf..•s q.ue fej·am, por liuras da moeda an- ·
tigua , nem por líuras doutra qualquer moeda ,
mas que os façam por ouro , ou prata , o~ reaes,
ou por qualquer outra mo.e ;da; que ·em eftes Reynos
' correr. E 9s g4e taees contraétos fezerem 1 fejám
obriguados paguar o ouro, ou prat.a, que fe o9ri-
guaram, ou fua verqadadeira e dereita valia comq_.
_ Liv. I V. · B valer
/

. 10 .,g ~AR TO L.IVRO ·DAS 0RJJEtll. TI 'I'.~ I..


-valer ele comprador a vetrd-e ddr a"d t~mpo aa pà•
gua, e eft:a fem e-rnbargu0-das Orti·e naçoês que -etn
tontrait"0. etàm fe-itas: c os cõmratl:os, e qnaefquei'
outras t 0 nuenças qH~ por liuras foi'Ilm feitas, fejãm.
ninhúas 'e O!! Tabaliaês que taees efcrip-turas reze..
r~hi percam os - Offitio~ , as quaes Ordenaçoes vi-
fias per Nós Mandamos que fe guardem corno nei~
lás he c®theudoJ:
14 E POR ~ À!Q"Tt> os réaes br-ancos e prNos ,_
por qli-t f€ as. ditàs Iit.lrás e fuldos palas ditas Or-..
rléna-ç<:>és thand_auarn pãguar i fe ilarh laumm ja :1>
.fl~fu f.-tm em v('O ,_e.á ~.oedâ- ma-is rn:eudá que orá
em - Noffos Reynos e ienhorios corre he m<:>eda d'lt-
f::dbté fem õutr.a 'tigua n~iil m<tftuf'a ; a fj"I!H: chamam
teptii:s ~de que feis de]les fazem hMíi real t<i>rrente t_
dos qliaés. reá_es. correntes vinre delles fare-rn huii
l'éàl d~ prata, a que ora chãmà-tn v,Ínt'em ,. dos qu-a~~
-ieaes dé prãia ;. chamad'ós vimes,. t'en1o ~ de11af-ett
fáze-trt liúü ma-tto d~ ptàtiã d'e Ley de onze d:inh{:i•
ré§; tiradóS. ós el!ftos do làurâmehto Ma ~íóeda ) ~
d~ f@t'ed-it:ós te~'tli~ c€·nl:o_ e v~if:Jttt pefa'i'Íl huã
l.'ú'anô.
15. -E Pott ~ANte por à tUtã IIey d"ÉIRey _ 0

Dôí'fi L>'ua i:~ M~ü Aüê he detéhnirtad~) •que h'l1litl-


féM<'l ''ál~ffe hu\i ~ál br~t1eó, e húm pYero v-atro~­
ifuh "dirnooiro ; vaté-Fitlo dez pt~tós h\(! fi Jiéàt blfã.tlctoi
~ ~m a dWà tJey ~:l··EtRey dem Afon:fo htt- tonth:~ ...
~à'; qut por. eaâá nt!J'ii rêá-lló)mn·éo ·-que paguaualn
·ií~ do àrtno aê-'Éitla:tro€.e:a~. ·ct €fuat€.áti\_e fds, pà>i, .
_ guaf...
DA o)fqL~F,.. :o.A YA~iA DAs LIVR. E o.or.rrJJ.. t:JOEQ.. . 1 r
\

g!;laffem d~zoito preto~ por r-eal. E deípqis EJl~~Y -


d.orn jQatn Meu Primo mandou , qJ.J(t ~ r.~~~ r.orr~tt­
ftt v~lt;IJG f<ú& ceptiis , e (e nom fab:ia .<i!Il} l'l:erto •
qt:tíJI).to.s ceptiis fe ~e.u€ria pagpar .pqr cada h,uú fql ;-
rl.<D , ou r~ai b.rJln,c.o , Q€ que !e ntaQdaua pag.u~r
,d{!zoito p.r.ei.o.s. pera q.ue dh~ ~.edaradtPJeat.e fe pq_,.
.delre po,er ctrn os F.ora,es , .q~ Man..damqs Jl.044fne.If;!'
,te ;€.<J>Hege~ ~ .dJrdarar, e fe fab.er g q~e gas F.IDJitíl ..
ges , e outros dereitos [e de,u.e. ane.cada.r. Mandar
mos Yiir de .to.clas ,as Comar.c:a~ de No!fos Reynos
iPro.cur3;dor.e.s e.nJ.egidÇ>s por 1:o.0o o pou.o, .com PEP~
lill!·a_~o.i-s ab.áfl:a.t1ites, .€.om os ,quaes Ma~claro.Os . etfitu-
~ .€nten9er pQr !Noífa parte e {::or.oa de ;N.o.ff,os !Re.y:-
!ilOS cer:tas ~p.~ífo9S , e D~ciae~ N.oif{)s, GlUe pera ;ifto
ll!OS p.areceJ:am .ne.sediliàrio.s, .po.r o~ qu'les .feita v.e;~~.íl,,.
.P~i.r1a conta ~ .exa,m~ foi .ac9fdad~ , q,~t.e huü {olq0
ou hum r~~ bá:.ataco 1( ,de .que fe man~li'llu.a p.agl,l.óll
dez~ i.to pretos por_ real ow ~ .íoldo ) valeífe dez
ceptus :e quatro qumtos de ceptd , que valem ou-
tros dez di nhei.ro.s e .qua.tro .q u,i_nt_os ,de dinheiro , que
fazem dezoito pretos : e a_cordar':lm ~~ o nom~ do
dinheir-O fe múdàífe (!m ceptil, pois ·tem a propria
valia, e que por fo!do ou r.ea·l bran·co fe paguem
onze ceptiis, pofto que nos ditos onze cepti'is ~~·
-tJra11fe •ma.is hu.ú quinto .de c-eptil, .do .que per ~et;dJ!­
~~ira c0nça .va-I o d!ro loldo , parque por deer :t.am
·.m~udofe -na.m .pode fazoc .ma.is cena ,coma, .e .efi:<J
1p~r-ef{l -f e gua.líaiaa-e .atee tc~n-co :falclos , q\le l,a_Z,~Ill
•;...razam . d~..qne.e captüs cinC9f~ e,ciij® ·~~H,s., ..
•. · B 2 por...

...
u . o ~AR To L~vRo oAs ORDEN._Tt'Il•. n..
por:ql:le· 'p or hir mais em cad.a foldo huu quinto de
ceptil , e nos ditos cinco foldos hirem mais cinco
quintos~ que . fazem huw ceptil inteiro, o qual r~
pode bem tirar, r~ fe tirav da, e_O.pia c;los ditqs cinco
foldos o àito ceptil; inteiro., e;. a,m ficam juílamentc:
€incoenta· e quatro ceptiis. por cada einco foldos ,,
que he a fua verdadeira. valia.; ·e que efta. maneira fe-
tenha daqui. pera c:ima em toda a. foma "' e.m que r~
pode tirar O· dito. ceptiL int,~i~o·..
16 E AC:ORDARAM mais, que a· me'a lha· de·que
alguús Foraes·fàzem mençam, fe contaffe por meo
·dinhei·ro,, e por efte refpeito duas mea·lhas fezeffem
hü.m <?eptil·, e que onde nam ouuer ma.is. que hüa
em fim de qualq~:~er conta. , fe pagu€ por. eHa huu
·czeptil' inteiro~ , a quaJ detennjnapm e jufljficaçam
. ·de moeda Mandamos que f e gua•rde pera fempre ~
·:(em fe fazer açerca d~ll<\ outra, mu.dança. ·

'r I T U L Q; li..

€omo ,os-Mercadores: ejlrangeir~s· T3am tje comprar 1,


. t w.nd.e.r. jua.r. merca.dorias.~ .

M ANflAMOS, que os M'~rcadbres,. e quaes:.. .


quer outras peífoas àe fóra. de Noffos, Reynos, q.ue .
·panos ou outras mercadorias. trouuerem a. qualquer
luguar de.Noffos Reynos, que os. vendam em groffo 1• ·
~Qnu,em a faber, os panos. a, balas. e a.,peças.,, e n.a·rn,
4'.

..
CoMO OS MERCA:ll. ESTJ{. HAM DI COMPRAR ETc •. -IJ

a. couados) nem a varas retalhados p0lo meu do) fai:..


un que. os retalhos que trouuere m de fóra da terra.·,
que fe col1:umam trazer, que fam terços e qua-rtos
de peças, e delles de menos r clefpois .9ue as dizima-
rem , que OS poffarn. vendf.r per aguifa que .OS trOU:-
uerem, nórn tetalhando. ninhuw co~do dell€:s; e f~
trouuerem - a-lguiís retalhos como dito he, que os
poHàm vend~r a: couados , nom ·os_partindo mais
pera vender. em nome doutros retalhos,__que aili trou....-
u.eifem de fó-ra da 'teua-._
1 E POR ~E os-panos coloi·a dbs e- pardos que,· ·
fe vendem-a varas, _norn . vem.em-·medida; cena, nem ·
fatn . as -peças de ceF.ta. mediçam, Mand.amos que os
ditos Mercadores. qu~ taees. panos- trouutrem ·h om .
poffàm vender· rNa-lhos-. menos d~ vinte varas-por re-
.talho. P e r.ó fe alguú trouuer menos. de: vinte, :v ata-s,. _
-poderá .vender eff~s retalhos .,. que ,affi _trou'uer e.m.
groffo , _nom ..os-, retalhando·, fem-· pena: aigúa.-.
2 · OuT,rw SJ;· Ma11darnos ,_que·ninhuú dos ditos-
Mercadores._podi· nem:·.por outrem- abmpre ninhuií:
auer de pefo~ . nem , cornefioho; hem outra mercad~
.-.ria. fóra da '• Cidade de Lixboa· c -rodo íeu .terrno-,.e
dàs.-lugYares do Alg ua·rue feguintes, con1:1em. a -fa~
ber, Silues, T auila, Faram, noS: quaes. Lugqares do
.Alguarue qu:er.ernos qu~ p.offa r:n comprar o dito -
aue.r. de pefo , , r.ofi o qi:Je deü:arreguem em Li.xl?oa
as mer.cadorias •. que de fôra trouuerem. E o q!1é
nos ditos Lugu ares comprarem, nom o pofiam ·ven--
der 1 nem·, trocar , _ n~m efcaimbar-, . nem cornpanhiat
COnli

. -
· ~om nir.thuú d~ terra fazer, . nem .em .fen - nom~
poer, falua que pof1àm, carr.e guar, .e leua,E· 9n.dt!!
quifere!n.
3 E oEFE'N_DEMQS a todos NofTos naturaes .e ve..
.zinhos de Noifos Reynos , .que nam tomern fe!,IS di ..
nh.elros • nem outro [(lu auer por fli nhuú tipdo Gtll
fegura de t~ínhuií <Jontra&o , nem p0r outra man.«i. .
ra .de e~g;uano , pera ·m~rcarem ou wenderem .fór~ '
da dita Cidaoe e Llllguares íllfo decrlarados as düa~s
mercadorias, nem façam c.~m eUe·s , fl>€ffi .eut.r.os de
fóm .da Notfa Terra .companhia.
4 E Pon€RA M os ·d·itos .efit"angeir.os .ct!l'n:t:pr:a!I'
.affi e:m a di.ta Ci,dade .e Lu:gum~s {obr.ecl.it,os, e quaes.-
.que.r OJiltras Cidad€s e L\>lg.ua-~:·os de N.o,ff~s Reynos ,
..por 1ii .ou p0r •(l)'tlltrem -~ ·vi.ahos., e ·f.vtúta:, e .fa'l , pera
.carregLJarem pe>t'a if'6ira , e nam peu reuendatôiD.
iE .os .efit.I;an·aei,t:os
b
.;f.l•

Ue o .e ontmim ·fez-er~ , ~ JC(i).ltro
c

tra efta !N'.offa O.rQelilaÇa:rn i€O.IDF>rareNll ,, .ali! v.end~-


lf.e(llil , pencam · ~as me.rcad()r,ias , qoo ta:úfi d Jles ·:co-
Í:(j) lCi>ut-F<rin •p0r .~lil.es <::o-lflpt~a.~r.~ , .pa ·y.en!il€t:~. ·
J::.-os •lllaltJUlra:es <lle N~@ Senht>r>t.o •<ql.le -01c@.líltr.atbL;o
t~zer<en4, •:pe>pcam 't@ól(j)s .feus•- bens, e 1 fejám ·prefos
-altee· 1'\Jo'fla merce. As ,quaes 'J:OOfi\a.S 'quocemes -.Gtt•H~ fe..
jwm ., /e ife ·anr~c&dem • ametrade pana quem :acufa;r .,
··,e ·a ·ou tr..a ·m etade •pa,Fa ~~ m~r@s .da Ci~ade (!e J.Jiac..
. ' ... '\
"bea.

:
.... a,.,

_Ti~
TI T \J L O IlL

~ue ninhuu nom farn co1ztraflos , 711Cm difli·a[/os , ttrl

-. · •(' '.
· :fjU.e ponha jtmmmzlo • nfm bo,; fie• ,
1

P
1 '

, JiS-SOA .algíN em t:odos Noíios Reynos e.Senho~


rios, nom f~ça contraéto ~ nem ohrigu·a·p rn ~ nem
poftura., nein a.uen~a ,. nem. conuenç~, nNÚ pro-
rne:Cífí.1ffll:õ-. flê'f.fl quit.ãÇãt'ftl '1rem mmo -aig;nú dif-
nraéto, a(Ji poJt: efcripto1, como por palaura ,._ em
que ponha prometimento de boa fee ,, nem out.vo
alguli juramenm. E fat. tmdt>\ 0 ct)nl.rairo M:ll:Jda-
tnos,, que o tal c0nt~.<aél:o, ou c0nuença, ou difu':a;...
do i1am valha... E :a pat.re qu~ crada. huii .d'GS Fohr~
ta:t.tds con<ti"à~os f.oez.e:I· ,· •on~e ·affi im·erilJe:nl'la· o di~0
j~rarotffltõ-·, ou tboá-'fe.e, pe.rclieni· todo 0· dí:nhei't".Q .,_
qft!IIt: lfl!ó dJ~o •é(i)(.)'Ni'ai(J:g chl'r. ,, OCI _pllotln ere.r ·' on fo:bme-
f:J.ue ~fi'tr-t eltes ~r lfeitã ·t<?'lll·l!lleQ9'á ~:. •e a. oatr-a par.oe-
fiettl~rj.i· ~ef~re, tanto ,.:íbt-d·(') o- :cont'r.~élo d.oe dinheiro.
foomé'At.e~... l.E f~fid-o- <te 41\~o"<l {*lrte «_om. dinheiro, ~­
ri-alàtittia. ;fefu. é:J!Jíe ,. aiffi rcernt> ~as ~ tot:npr.l{s , Ua'ci'a< ·
hilà. âtt.l1àS. lp~ràbrâ é 'qlft 1d~uà 11b idi~~:o· eo·rr.t.taól:o•.
E f'éfl.i:Í.ó €1%\'m~~s; ~:s 'J3ar-te<s )f~ID @:ln:hei~e, •-ca~n . ih:íii~
:&~. pat"re's •pc:!rder-:l tNlb le.rq~q'e ·:r:erctb'êlr , -~ -0 -~t.re·
~W~et "tt<2tlrer ;p&le ((ifto ·€:~.IlPl1ro~o- ,. lbtt · <G~Muen~
fóbred.itos, e-fendo, a_tal' conuef\~· ~ ·~fttt~aõto ·;f.ei;_
to-.p.or Tabalüun. pubricO>,, ou Efcr.iuam , ou pelfoa
que pofer feelo autentico; na. Cma que affi· fêzer do-
dito contr.a éto ,, pagpe. outro tanto ," como Manda...
mos,

..
16 o ~AR To LivRo DAs ORoEN. TrT. nn.
mos que cada hüa das partes contt:.:'lhentes pague,
e Je ambas as partes contrahentes nom ouuerem de
paguar por · igual, pagúará o T~ba[iatn, como o
que menos houuer ·de paguar, e. mais por elfe mef- ·
mo feite perderá o Officio ~ da.s quacs penas (obre-
ditas its duas partes feram para a Nofia Canyara, e
a· terça parte pera o acnfador.

------·------·---------------~-·---------
T I T U ·L O liiL .
,,
Dos contraélos ·de/aforados.

·:S E algua peffoa ·em qualquer contraélo prqme~


tet: dar ou fazer algua <:.oufa, ou paguar . ~lgua
quantidade ., Ol!l qualquer outra toufa a teJ;Tlpo certo
foh certa pena, e norn a dando, ú~endo, ol,i paguan-
do ao.dito tempo , q:ue. ~og1:1o feja fejta execwça.m
em feus bens, fem elle mais feer·citado nem.:_euuid(}
com feu de.reito , Mandamos que tal defaforamento
nom valha: . coufa .algua, ·poflo que log.l'lo aHi a tal
t:onu'Mça feja; jtdguada per. fentençá·:. . .porque fem
: ·embarguo de tal cont-raél:o e fentença Mandatn:os,.
·que fe norn faça execuçam por ella, amenos .dcdle
.condenado feer chamado e ou a ido ·c o oi feu ·d.çí:eito
fóbre e!fa execuçam.

TI..
~'E NOM PENHORE ALGUEM SEU DEVEDOR ETC. i_V
TITULO V.
..f!<._ue nom :penhor/! alguem feu deuedor, ntm filbe a Pof·
Je .Je fua coufa ,Jem auéloridade dajuflir;a.

N INHUÜ cree.dor poífa penhorar feu deue~or


em cafo alguü, ainda que con.tra elle tenha auida
fenten\a, porque o officio de penhorar pertence foo-
mente aos Porteiros , e Officiaes que pera iíl:o farn
efpeóalmente deputados , os quaes deuem fazer
effas penhoras por m:andado das Jufiiças, e nam
d~utra guifa , faluo onde per Noffa Ordenaçam he
efpecialmente outorguado , que as façam por man-
dado da parre principal , a!Ti como no cafo dalu-
guer das cafas , fegundo ferá contheudo no titulo·
Des aluguere-s das cq[as.
I E SENDO em algu-Ü contraél:o ·com-:ordado pe-
las partes que o creedor- poffa por fua auétoridade
penhorar o deuedor, nam lhe paguando a diuida a.
tempo . certo, nam o poderá por tal conuença pe-
nhorar por fi, fa1uo achando o creedor elfe penhor
de todo defembarguado e fem algüa contradiçam ,
em tal maneira, que fe nam pofia hi feguir reixa al-
güa · fobre a penhora, e em outra maneira nom po-
derá o creedor fazer a dita penhora por fi mefmo
fem auétoridade de jufiiça, ainda que no ·contraéto
lhe feja dado poder pera por fi a faZ'er, porque nom
àewe de nacer azo de injuria da ley ou contraéto ,
donde o de1;eito nace.
·· .. Liv. IV. C T I-
~s: o ~AR To LrvRo oAs ORnEN. Ti:T. vr.
TITULO VL

f<.!fe o 1Jlarido 11om.pr?!Ju v.ender , nem, e111alhear· be11S de


raiz Jern outorguamento de. Jua molher; ~ da doaçam!
dos bens moueiS: feita pelo-_1JhCtrido..

MANDAMOS que o marido nom po!T.1 vender~


nem emalhear bens alguüs de niiz, ou bens em :que·
Hda huü delles tenha o vf<>fmiro foomente,.quer fe-.
jam cafados por ca.rta: de· metade fegll'ndo co !lu me·
d0 Reyno , quer, por dote e arras-,. fem procuraçam
ou expreífo confentimento de fua molher ;. o qual
confentimento- fe nam poderá prouar fénam pof·
efcriptura pubrica ... e fazendo-O· contrairo, tal venda:
ou emalheaçam feja: ninhúa, e[em efeito. alguü •.
/ E pofto que f~ alegue·,. que efta m:olher confe:ntio •·
eu outorguou a- dita venda t ou ema-l heamento cala....
àamente; Mandamos que tal outorguamento tacito.
nom valha , nem feja alguu recebid:o a aleguar ·tal
vutorg.uamento , .faluo. aleguando outorguamento
expre.ffo, e prouando-o-. como dito-- he ;-porque mui.._
ras vezes as molheres. por. medo., ou reuerença ·,d os
.maridos, leixam calada'm ente_algiias coufas paífar • ·
hQm oufando de as contradizer por 1:eceo dalguüs.
I efcandatos e periguos ;. que ligeiramente lhes pode-
rian.L.viin. Porem nom ·tolhemos ao marido , que;
! poífa v.ender ou renunéiar qualq-uer. Officio que te_, ...
uel! ,, pofl:a que a molher nam .confenta. -
OEE o MAR. NOM POSSA VEN'D. NEM EMA L. BENS. 19 .
1 E v·ENDENDO ou emalheando o marido alguús
.bens de raiz fem expreffo outorguamento de fua
rnolher, polto que pera firmeza da tal venda Oll
,emalheamento dee fiadores, ou penhores, ou pm-(
meta algúa pena, Mandamos que todo feja dinhuu
e de ninhuíi vigor; e obriguando-fe o marjdo a traze-r
outorgua de fua molher a certo tempo e fob certa
pena , nom p~uará a dita pena , nem c:ncorrerá
em ella, pofro que a nom t-ragua, porque doutra
·guiía roda efta Ley feria defraudada, porque tanta
pena recebei-ia a molher paguanclo-fe a dita pe11a,
como valendo a dita venda feita fem feu confenri-
wento.
2 E QYERENDO a moiher reuoguar a venda ou
emalheaçam, que por o marido foífe feita fem fell
expreíTo confentimento , como dito he r de algúa
poiliffam ou bens fobreditos, pode-los-ha demandar
~m juizo. e cobrar eira poiliífam ou bens, auendo
auétoridade do marido pe!'a os poder demandar;
e nam lhe querendo o marido pera efto dar o feu
confentimento , aja Carta Noffa, porque·-poffa faz.er
a dita demanda , e reuoguar a dita venda ou em-
alheaçam fem auél:oridade . do marido ; a·qual Car-
ta Mandamos que ihe feja dada, faluo fendo ella
tam defaílifada , que fe podeffe mouer a ello .fem
jufra razam, nem foubeffe guouernar a dita deman-
ea; a qual auétoridade lhe poderam iífo rnefmo dar
os Juizes do Llguar onde forçm moradores, polà
maneira que dito·temos no terceiro liuro, no Tit:tJlQ
C 2 ·J><!Je·.
20 o ~ART~ LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. VI.
!S(ue o marido mm poj}a litiguar. em juizo Jobre bens·
de raiz •.
3 E sE o marido ou feHs herdeiros iífo. mefrnG
po.r fi qu.ifer demandar a dita coufa , ou bens ·atfi
ve_ndidos, por a dita ven~a feer ninhua, pode-lo-ha
fazer auendo confentimento d:c fua molher pera a di-
ta demanda; porque nom lhe dando; O· dito confen-
timento nom a poderá el!:e por fi desfaze1: , faluo
fe. ella foffe ~nada , porque em tal cafo ferá necef-
fario. o con.fentimento dos herdeiros da molher , por
que nelles. efl:á apro.uar o con~raél:o. fe quiferem ,
pol:"' nelles paffar o -dereito que a:_molher tinha per,a
fazer a tal demanda , e portanto o marido foo fern
confentimento da molher, -ou feus. herdeiros nDm
poderá faze-r a,_dita dem-anda,
4 E~ todo. cafo. onde a· rnolher demandar a
co.ufa por feu marido- vendida, ou iffo. mefmo o
marido fezer a dita d.e manda com eonfentim·cnto-da
molher , fe o comprador requerer , que lhe torne
ella o preço , .que por ella d.eUt, Mandamos qUte fe O>
preç.o que·o marido. recebeo~ fo~ conu~rtido- em pro..
ueito della ,_ aífi como ddle, ou por qualquer. guifa
e1la ouue comunicaçam do dito preço ,. em tal cafo
a dita coufa a.ffi vendida nam lhe ferá entregue ;
faluo tornando ella o dito. preço ,_que por e! la foi da ..
do, ainda qué: o. comprador foile-fabedor, que o-dito
vendedor era caíado ao tempo da. dita venda ; por-
qu.e nom feFia coufa- razoada-auer e-Ua o proueito dq.
preçQ • e leuar afii a c.o.ufa inteiramente fem. a. pa..
jU.at.. 5
~E O MAR. NOM POSSA VEND. NEM EM.,L. BENS. 21

5 . E sE pota ventura dla nam ouu.er proüeito.


do· dito- pr:eço, nom feri theuda. ao tornar, e a
. ~ouh"t lhe ferá porem entregue. Peró fe eífe com-
. p.llador nom wube) nem teue juíla ta-z am pera fa-
ber , que. ao tempo da d.ita venda. o- vendedor éra
. c<tfado, em t<tl cafq poderá. pedir ao vendedor o pre-
ÇO· , que aíli deu por a· diu coufa comprada ; e nam.
tendÚ' por onde pague feja prefo; atee q.ue pague
fem darnno da molher ,. por a malícia que cometeo •·
ve-ndendo. coufa de Faiz fem, feu. confemimento ~
fendo porem em. todO- o cafo a dita co ufa entregue
aa· molher ,. como. dito he ..
6 E NO cafo. onde· o-compradel' ao· tempo da.
venda foube , ou teu e jufta razam per-a. faber, que·
o vendedor ena calado, e nom lhe pedio outorgua-
mento da molher pera a díta venda, norn lhe poderá~
_pedir o preço, que lhe deu por a dita coufa compra-
da,,. mas perde-lo-ha,,, pois. comprou a, eoufa, de raiz.
fem-outorguamento da, molher. aaqudle, . que _fabia
Jeer cafado,.e tornar-lhe-ha. ainda os fl'uitos, que ouUe:
deffa- cou1a, -no tempo que a. affi teue defpois da:
compra feita, tiradbs. os cufios q~Je fe fezerem por:
razam dos ditos fruitos.
7 E QYEREN.oo o- comprador eobr-ar algúas<
bemféitorias neceíiarias ou proueitofas ,. que fei na• '
coufa comprada,_ no tempo·que foi em pofle della.j,
.ferá: theud·o compenfar os fruüos , . que ouue clellas
~m todo cafó ,. ainda, que os reeebeífe ame da 1ide
CQntdl:ada. fobr(: a. dita. c.oufao.
8 E QYANTO aas emalheaçoés dos ditos bens,
que da-tui por dia1~te os maridos fezerem, nom vale-
rá a outorg ua nem confentimento das molheres,
faluo fer:1do perante o Juiz Ordinario do Luguaronde
fe o tal contraél:o fezer, o qual Juiz fará_pregunta
.aa dita molhe.r fe outo.rg ua no dito contraéto por
fua vontade ; e jurando que o ourorgua por fua _
vontade' fe efcreuerá affi no ·d ito contraéto, e nca-
.rá firme ~ e o dito juramento fe dará fem o marido
feer prefente, o ·qual juramento e outorgua ferá
efc-ripto polo mefmo Tabaliam , , que o contraél:o
fezer. E nom fe fazendo o contrac'to no Luguar onde
;a molher efteuer, e auendo-fe de fazer por fua pro-
.curaçam , a tal procuraçam íe f..trá com a fobredita
.folenidade do ju ;·amento, c tudo hirá efcripto na dita
proct:l'raçam , e doutra maneira o contraél:o ferá ·ni-
nhuu.
9 E o que dito ataemos em efte titulo acerca
das emalhe.açoes dos bens de raiz, auerá i fio mef-
:rno luguar nos bens emprazados, ou arrendados ,
fe o arrendamento for de dez annos, e di pera ci-
ma , e nos outros cafos dedarados no terceiro lium
no Titulo ~e o marido nom po!Ja litiguar em juizo.
IO E Tooo o gue dito he auerá luguar affi em
as emalheaçoes que forem ·feitas por o marido fem
e xpreífo confentimento da mo1her ante do matri ..
rnonio feer antre eHes por copula carnal confuma-
do, como nas que defpgis de feer confurnado feitas
forem.
II
QEE O MA:R. N.OM POSSA V;ENP. NEM EMAL. Jl·ENS. 2J:

1I E POR euitar que os m-aridos nom dem os


bens ·rnoue~s ou d-inheiro em perjuiz'O de fuas mo-
lheres ,. Mandamos,. que fe os ditos mar idos derem
ou fezerem doaçam em fuas vida ~ dalg uüs bms.
moueis,. ou dinhe,iros a algüa-s peífoas, fem confenti-
mento de fuas molheres, que o -que am derem fe
defconte, quando o matrimonio antre eJ.Ies for fe'-
parado ,. na parte e quinha.m do c;l'ito feu ma.rido ,.
ou de feus herdeiros. Porem o que dito he nom
hauerá. luguar. nas doaçoês remunera.torias,. ou de
efmotas que o marido· fez er; porque·a-s ·poderá faze r:
dos ditos bens moueis ou dinheiros fem confenti ...
mento de fua molher ; faluo fe forem im enfas , por..
que em tam lhe fic;-trá feu dereito refguélrdado àa'
dita' molher ,. f e o teuer pera· as desfazer •.:

-------·-------~---------------
'F l TU L O VIL
Como a molher fica em pof!e e ca!Jeça de ca.fdl'
per morte de Jeu marido•.

ToDOS os cafamentos. que forem feitos em>~


N.offos Reynos , e Senhorios ,., fe entendem feer fei-
tos por carta de metaqe, faluo qu ando anúe as par-
tes. outra·coufa for acordado · e contraéta.do , porque·
entonce fe guardará o'que antre elles for concertado.
1 E MOR TO o marido a molher fica em poífe ·
e cabeça de cafal,.fe corn .elle ao tempo de fua mor~
~ te:

.- ''>.
24 o ~AR To LrvRo DAs ORóiN. TIT-. vn..
t:e viuia em cafa theuda e mantheuda como mari-
.do e molhe-r, e de fua ma'Ô receberam os herddms
do marido partiçam de todos os bens que per mor-
·te do dito mar.ido ficaram~ e bem affi os leguata-
rios os leguados, em tanto que f"<; algu-us dos her-
deiros, ou legtlatarios, o.u quàlquer outro filhar pof-
fe dalgüa coufa da dita herança defpois da morte
do dito marido fem confentimento da dita molher,
ella fe pode chamar esbulhada, e fer-Ihe-ha rdbtui-
da, cá pois tanto que -o cafamento he confumado por
copula J a molker he feita meeira em todos os bens
que ham ambos , e o marido por morte da molh.er
.contin·ua a poífe velha, que antes tinha, j.uíla ra-
- zam parece feer ~ - que por morte do marido fofie
prou1do a ella ~alguu remedio ace1"ca da dita pof-
fe, conuem a faber , que ficaífe ella em poffe e ca ..
beça de cafal.
2 E ToDo e.ll:o que dito he ha luguar nos bens
comt_Jus , que ham de feer partidos antre a molher
e os he.rdeiros do marido , ou .antre o marido e os
herdeiros da molher, e em outra guifa nom ; cá
fe o marido ou molher ouueffe alguus bens Feu-
daes , ou da Coroa do Reyno , Ol1 de Moorga-
do , ou de Emprazamento em que a molher nam
foffe nomeada , por ta1 guifa que nam teueífe derei-
to, ou outros femelhantes, em ta{ cafo nom ficará
a molher em poffe de taees bens , que o marido ou-
uefle e poffuiffe em fua vida, nem iífo mefmo o
marido por morte da rnolhcr dos bens ·qué por o
dito
Co;.m A MOLHER FICA t .M POSSE 'E CAB.; DE CAS. :02:5
I

Ç'ito modo a ella pertenceflem, faluo f.e cada huu dos


ditos bens fofiem comprados polo rn:ar·ido e molher)
çu cada huú delles fendo caf:1.qos, .Ou neHes fezeffem
bemfeitorias, em modo que. o que vi'uo ficar, aja
dauer pa.rte da valia dos ditos bens , ou do pre-ço
que cuftaram 1 ou das bemfeitorias ; porque em tal
cafo o que viuo -ficai· , ficará em poffc dos ditos
bens, atee lhe feer dada a parte, que na dita valia Oli
preço , ou bemfeitorias deue auer. E fe taees b~nsl
. Terras , ou FeudDs , em qlie a molher ou maddo
l)Om deue ficar em poffe , forem obrigliados -aa mo-
lher por o marido 1 ou ao marido por a molher por
çonfentimento e auél:oJi,dade do fenhorio , em tal
~afo o· que a.ffi ficar viuo eftee em poífe de taees
Çens , e nom feja delles tirado, atee a dita diuida
(eer pagua ~ ou pe.r dereito determinado que nom
.Qeue teer tal poffew .
3 E sE aquelle que viuo ficar, dlíler e aleguar
1 a.lgua jufia ra.z am:, porque taees bens , Terras, 'OU
Feudos., qu-e do ·fi-n-ado forem, lhe pertencem, ou tem
~m e!les dereito alguu 1 e as peJToas foffem taees, de
que f.e tema de virem a pelejas e arroidos, em tal
cafo ~eremos , e Mandamos que os ditos bens e
':ferras fe ponham em focr"eíl:o em maõ -de ·peífoa fiel
e idonea, que os tenha, atee feer determinado por
dereito, a quem pertencem,.
. -.4 E o QyE dito he nam auerá luguar nos ·cafa...
mentos feitos por cartas dar~as, faluo em aquelles·
bens que por bem e virtude do dito contra'éto de-
. Liv. If/. D uem

./

' .'. - . .J
2.6 o ~A:RTO LIVRO' DAS ÜRDEN. TIT. VIt

uem feer meeiros antre o marido e molher, cá em


taees bens ficará em poífe , affi como fe o d~to ca·-
famento foí.fe feit.o. per carta. de mera.de , como di-
to he·, ·
5 E D·ECtARAM'OS -que pofto que os bens fejam
comllnicados antre o marido e molher, tanto que
cafam fi.mprezrnente,. ou por carta de metade co-
mo nefta Ordenaçam he contheudo, que fe. aõ- tem-
po que cafa.ram cada huú delles tinha diuidas , que
deueífe a alguüs creedores,. nom ferá obriguado 0<
out110 aas ditas diuidas em tempo alguíi, nem fe f.1-
tá execuçam nos bens que t;ouuer er.n parte·, nem
(i}m tod(}, em quanto o matrímonio. aatre elles du-

rar, foomente fe poderá faz,er execuçam (durando._


o mairimonio.) nos bens que aqueUe que affi era de-
uedor trouxe configuo ao tempo que cafou ,. e affi
na fua metade dos. bens que defpois. de cafados fo...:
ram aqueridos~ .
6 E ACONTECENDO que a·tguü homem acufaffe
algua molher per adulterio, dizendo feer fua molher;,.
ou a demandaífe por fua _molher em qualq~etr outro.
cafo, e ella neguaffe feer fua molhe-r ,. e por bem de:
ó affi neguar foffe liure ou. abfoluta da tal' demanda,
Vll acufaçam, nom poderá. a dita molher defpois da'
morte daquelle, qu€ a affi acufou ou~ demandou por
molhe r, pedir parte na .fua fazenda como molher •
po.fto que queira: pro~ar, que era fua molher aq
tempo que affi aacufou ou demandou,.

TI"!

· " ' "Ç, .


Do HOMEM CASADO QyE DA OU Vi'NDE • . ETC, 21
· T I T U L O VIII.

· Do 'homem ceifado que dá, ·'OU vende algúa coufct


.a Jua barreguam.

SE alguu homem caí:'1do der a fua barreguam al-


gua coufa mouel ou d_e raiz , ou a qualquer outra
mo1her, -com que aja c-arnal afeiçam, a molher fua
poderá reuoguar. e atrer pera fi a dita coufa. que aili
for ·-dada. E Mandamos , que eífa molher feja rece-
bida em J uiw a demandar a dita coufa fem au-
croridade e procuraçam do marido, qúer a effe tem-
po feja em poder do marido , quer apartada delle ;
e e'fià coufa que ella afli demandar e vinguar, Man-
damos que fêja fua propria infolido, fem o dito feu
marido auer em e! la parte, . e que poifa fazer della
todo o que lhe aprouuer, affi e tam perfeitamente
como fe cafada nam folfe. E todo efl:o que dito AtJe-
mos na doaçam feita polo homem cafado a fua bar-
reguam, Mandamos que aja_luguar n~ coufa · que
por elle a dla for vendida, ou apenhada ,-ou por ou-
tro qualquer modo trefpaífada, e em tal cafo Man-
damos , que effa molher o poffa demandar e auer ~
íem por ella pagúar preço ninhuu, porque de p.( e-
fumir h e , que a dita emalheaçam feja feita conluio-
f.'lmente , por defraudar o marído fua molher , a
qual demanda Mandamos que ella poifa fazer em
todo . o tempo, que efl:euer com o .marido fob feu
_poder, e fendo apartada -do marido por merte ou
D2 por

\ I

l ...,.
2:S O ~AR'rO JLr.v:Ro r>AS' ÜR:DEN. Tn ..IX•.
13 por qualquer qu~na guifa, Mandamos que a poffa,
fazer do dia que tal apartamento for feito atá qua-
tro. <!-D.oos comp~·idos. ~ bern affi morrendo a mo-
lhe r em vida ·do Il.liÜido ~ - e ficando-lhe filhos ou
outros defcendentes , 0u af<:endet1tes , taees filhos
QU defcendentes., ou a[G:endentes poífam iil'o rnefm o,.
demandar a. dita coufa_ atee quatro. annos, contados;
do. dia· que a mãy mor.t:eo.

----~~--~--·-------------------------
T l TU L O IX._
Da doaçani flita polo marido aa molher·, ou poli:~!
rnolher ao. marido .t e arr:a~ e carnara Ç,arrada._

S. E O· marido. fez.er ~'oaçam


aa m_o lher) a ou: mo~
lber a. feu marido defpois de-. rec.ebidos , poíl:o qu~
antre elle_s nom interuieffe copula· , poderá o do.a -
àor reuoguar cdfa-doaçam quando q.uifer ,; e· poftq
que a nom reuogue ' · [e aquelle- que fez a doaçam
nom tinha a, elTe tempo filho a~guú· ,. e- defpois lhe-
veo a nacer filho. dantre ambos , em. tal cafo fi.ca lo...
guo efi'a. doaçam. reuoguada, pot bem da. nacença.:
do filho _: e por tanto a coufa. affi· doada fe pr.atiri
por falecime_nto de cada huú- delles antre os her.,_
deiros do finado, __e o que viuo ficar:; e affi. fe fará.
quando a.doaçam. foife f(úta , ante que fofiem· cafa-'
dos,, e. ao. defpois por cafarnento foífem feus , ben~
antre ·

..
\.
J ,\
DA DO!AÇAM' F:ElT.A: PElO :Mll~. AA MOLH. 'Z9

antre· elles c0municados , fegundo o - cofiume: do-


Reyno ; porque em efies cafos ,. e outros femelhanr
t«s ,. f€rá traz.ida aa partiçain dfa, coufa dada com
os ·herdeiros do morta., alli <:omo fôra nom fendo
feita a tal doaçam. .,
r E sE o marido feZ' dbaçam a fua mollíer _, . ou
·.a molher a íeu marido fendo cafades ,, e eífe que afli
fez· a tal doaçam morrer ·abi:nteíbdo .fem h erdeiros
lüilimos , afcendentes, ow defcenaet~tes - ,. e fem re ...
uoguar a· dita. doaçam atá· o tempo·da: morte , fica.
em tal: cafó - eífà ~baçam. confif'mada, em quanto
nom· poflal~ ' a-contia •. em que h e necefla Fi~ no!la1
C·onfirmaçamJegundo-diremos no Titulo;Das doaçoes_
lJ.Ue ham;·de-jeer irijinuadas por Nós _ E ficando por fua
morte herdeiro -lidirno afc.endente ou defcendenre ,.
poderá eífe herdeiro .- r.euog.uar· a· dbaçam- ,..atee auer.
comprid'lmente fua -neeeffa-riadidima , e o ma·is que
fobejar da dita doaçam~ aue•lo-ha. eífe dona ta-rio. E
fe aquelle que fez·a dita doaçam em fendo cafado
fe veo a· finar com teftamento , . em o qual mandou::
s efirebuir fua' ter.ça· em-todo . ou em~pa:rte· , :fem re-
uoguar ·a dita doaçam , _feram os -ditos feus- herdeiros.
lidimos' primeirament:e- entregues de) ua. lidima ...
auendo. refpeito aos. berl"s que-o fi h ado · deu em fua:
vida , e-tambe.m· aos que ficaram, pot' :fua m'orte ,_ ·
em talguifa que -a doaçam-feja. contada:com· a.he-.:
rança , ·am principal como terça,_e reputada a.fft
como leguado , porque na vida. nunca. valeo ,_ e port
mor.te foi confirmada•.

., \ /
30 O ~ARTo LrvRo DAS ÜRDEN. TrT. IX.
, 2 E NA M ficando tanta herança do dito finado
.por fua morte , porque os ditos herdeiros poífam
auer fua dereita lidima , ·fem a .dita doaçam, em tal
cafo ferá desfalcado tanto da dita doaçam ·, e bem
afT.i da dita terça, foldo por liura atee que a dita lidi-
ma feja primeiramente foprida, e feito affi o dito
desfalcamento , fe algua coufa ficar da dita terça
.e da doaçam , o que iobejar da doaçam ·aue-lo-ha
o donatario, e o · que fobejar da dita terça ferá
deftrebuido fegundo fórma do teftamento. _
r 3 ·E sE no cafo fufo dito fo!Ie a dita d·o açam
feita em tal modo, que loguo em vida ' dambos
vale!Ie por dereito, affi como quando aquelle que
qlie faz. a daaçam ·nom he por ella feito mais po-
bre , ou aquelle .a que· he feita nóm he por ella fei-
to mais rico, ou qualque-r outro cafo, em que tan...
to que a doaçam he feita por o marido aa molher •
óu pola molher ao marido, loguo he por dereito
· valiofa. em tal cafo nom podendo os herdeiros auer
fua lidima toda pola herança do finado fem a dita
terça e doaçarn, entam desfalcar-fe-ha da dita terça
foomente tanto porque a dita lidima feja de todo
foprida, e no'm abaftando a dita terça pera ello ,
entam ferá desfalcada da dita doaçam, e nóm fe
:fará desfalcamento da dita doaçam atá que toda 1a
terça feja desfalcada, porque pois a dita doaçam.
valeo em vida daquelle que a fez, nom fe desfal~a...
rá della pera foprimento "da dita lidíma' faluo quan ...
do por toda fua herança que por fua morte ficou;
affi

\, ,.
DA DOAÇAM :F'El'TA PELO MA R •. AA l.JOLH. . Jt
affi princi-pal como terça:, doutra guifà fe nam pode
auer foprimen:to da dita lidima·..
4 OuTRo sr por quanto Ouuemos por enforma-
çam, que mtütas peífoas de Noffos Rcynos, quand(}
cafau<llm por dote- e arras ,, em os contraêros de
feus cafamentos prometiam a fu-as moTher es gran~
des arras. e a.alem deUo cofiumauam prometer e
deixar ·camara çarrada, do que fe feguia-m ·muitas
demandas, e preju·izo a feus filhos, e querendo Nós·
a efto prouer ,. Mandamos ,_que daqui em diante tü-
nhua pefloa, de qua.lquer efl:ado e condiçam que fe-
ja , nom poífa prometer nem doar. a fu<b mol·her ca-
mara çarra·da , e prometendo-lha· ou' dando-lha, ta·t
prome.ffa ou doa.çam de camara' çarrada ferá ninhúa
e de ninhuü: valor, mas. poderá cada huú-em o· con·,..
t:raéto dotal prometer e dar a fua; molhe r· por arras.
a cont-ia ou quantidade cena,. que q,u ifer, ou. certos;
ben.s, a1Ii Glin.o d·e·ra,iz, ou certa. coufa de fua fàzen-
da ,. com tanto· que· nam pafle o· tal prometimento·
ou doaçam darrcas a. terça parte , do. que a molher-
tràuxer em. feu· dote ;. e f e m.ais for prometidb do·
que montar na-terça pà.rte do. dote , nom valerá: o:
dito prometimento na dita demafia· que mais fôr , ,
que o que. montaua na, dita terça· parte dó dnte. Em_..
peroo: fe o manido que taees arras prometeo a·fua~
·molher, teuer . a eífe· tempo. alguú filho, ou filhos'
legítimos , ou outros legitimas defcendentes doutra,.
primeira molher, os quaes filhos ou: defcendentes.;,
ou. cada huú delles, for. viuo ao tempo que fe as
arr~&.

I
"\.
32 O ~AR To LivRo DAs ÜR.BEN'. Tn. X..
arras vencerem, norn poderá auer eíra fegunda mo~
lher da fazenda do rnarí:d0 ( n0 cafo que as arras
ql:ie lhe foram prometidas deua auer) rnais que o
que montar na terça parte dos bens, ·que ao .tempo
dn <:ontraéto dotal forem d0 marido, que lhe as ar-
:ras prometeo, pofto que .a contia prometida por
arras no c!7ntraéto dotal feja moor , que o que na
dita terça do ma·r ido montar; por quanto no que
ex-ceder a dita t·erça ~eremos, que tal promeífa e
obriguaçam darras n0rn feja valiofc1. , nem aja efe-
él:o alguu, porque Noífa tençam he, .que os ditos
filhos p.om fejam defraudados por tal obriguaçam
darras em manára aigúa d.e fuas .le:gitimas.

TITULO X~

Das .vitmas qut emalheam ., ·e desbaratam feus bens


.como n.am .deuem.

POR QP ANTO a'lgíias m~lheres defpois da mor...


te de feus maridos · desbaratam o que tem , per
manei.ra que ellas fica·m defpois p<>bres e mingua..
das, e os que delilem foceder feus ~bens ficam dani-
ficados, e porque a Nós pertence ·p~ouer, que ni-
nhu u nam vfe mal daqudlo que tem, querendo fo-:
prir aa mingua das molheres, e prouer a feus · fo-
ceffores, Mandamos que fe for prouado que ellas-
maliciofamente ou fem .razam desbaratam ·, Ol! em ...
alhearn
DAS VIUV·. Q!!E EMALHEAM E DESBARATAM. 33

alheam feus bens, as Jufl:iças dos Luguares, onde as


dita'S mo1heres os bens teuerem , os tomem todos,
e 'OS entregue~ a quem de1Jes tenha carreguo , atee
verem No1!o Mandado, e a ellas fa5a~, dar feu man-
timento, fegunâo as peffoas forem, e os encarregues
que teuerem, e façam-no faber a Nós, pera Mandar-
rn~ prouer effes bens em maneira, que aq.uelles que
os houuerem de herdar nom recebam dãno.
I PERO fe tal viuua for molher de Caualeiro,
ou de Fidalguo de Solar, em tal cafo por honra do
Jnarido que teue, e de fua linhagem , Mandamos
que fe as Juftiças da Terra ouuerem della tal enfor.- ·
maçam , no-lo façam loguo faber , antes que outra
coufa façam, pera Nós mandarmos o que (or de-
reito fem efcandalo de fua geraçam. ·

--------------·----·---------(
TITULO XI. -
!:{as Viuuas que fi ceifam antes do anno t dia.

As Viuuas que fe caÍ:1rem ante de anno e


feer paffado defpoi~ da morte dos maridos, nom fe-
di~
jam por iffo infamadas, nem aquelles que com ellas
cafarem, nem lhes leueni poriífo penas algúas de
dinheiro.

Liv. Tf?. .T J.
34 ·o ~AR To LivRo. D·As ORDEN .. TIT. x~r ..
T I T U L. O XII ..

Do ~en~ficio do. !7el~iano . outorguado aas molheres qu~


fiam, outrem, oufe abriguam por elle..

POR dereito he ordenado e dete~minado , a:uen...


. do refpeito aa :fraqueza do entender das molheres •··
que nam p,odeffem fiar , nem obriguar-fe por outra.
peffoa . ·0 :.. ... , e em c.afo que o fizeílem, foífem rele-
uad?~ de tal obrigwaçam ,_por huú remedio, chama,.
do em dereito Veleiano ,. o qual foi efpecialment.e
imroduéto em feu fauor, por nom ferem danifica-
das, obriguando-fe polos feitos alheos , que a ellas
nom pertenceffem ;, e peró que efto am geeralmente
foffe eflabelecido em todas a.s obri~-çoes que por
outrem fezefiem ,_foram porem exceptuados certos
cafos., eni que fiando e! las outrem ,_ou obriguando-
fe por elle ,. àinda que feja- coufa que a ellas. n~m
pertet~ça, nom guozaram -do dito beneficio de Ve"!'
leiano , os quaes fam eftes que fe feguem •.
I PRIMEIRAMENTE, fe algua- molher fe obri..
g9aífe por d-i nheiro,_ou quantidade, que foffe pro-
metida pera liberdade dalg.uú feruà, aíli como fe
huú homem prometeíle certo dinheiro pera remir
alguu catiuo , e algú-a molher fiaffe ,, ou fe obriguaf-
fe por aquelle que tal obriguaçam fezeffe ; cá em tal
cafo ferá eífa molher obriguada a tal fiança e obri-
guaçam , aíli como qualquer homem , fem guozar
do dito beneficio de Veleiano , e eíl:o foi aíli eftabe..
-leddo em fauor da liberdade. z

· 7
Do B-ENEF. DO VELEIAN. OUTORG. AA'S MOLHER. 35
2 hEM cafando algua molher, e prometendo
á dita molher ou outrem por ella ao marido certo
dote em càfamento, e darido por fiador algúa mo-
lher, que fe obriguaífe a paguar o dito dote, em tai
cafo ficará e!fa molher, que affi foi fiador, obriguada
aa dita fiadoria, fem guozar do dito benefici'o .de
V eleiano. E e!l:o foi aili efl:abelecido em fauor do
rnatrimonio, no cafo orfde for licitamente feito , e
fegundo a defpofiçam do Dereito Canonico, por tal
que e!fa molher aili cafada nom podeffe feer achada
em alguú temp_o fem dote.
3 E sE algúa molher recebeífe certo preço, ou
qualquer outra coufa, por fiar alguem, ou fe obri ...
guar por elle , em tal cafo nom fe poderá chamar
ao dito beneficio de Veleiano, nem gouuir ddle em
tempo alguú.
4 I TEM fe algúa molher enguanofamente fiaffc
outrem, por desfraudar o creedor, affi como vefl:in-
do-fe em vefl:idur!l de homem, por mofl:rar a aquel-
le a que fazia eífa obriguaçaln, . que era homem,
ou fe ella foífe demandada corno herdeira dalguu
deuedor, e fendo certeficada, que nom era fua her...
deira confeffaffe que o era , obriguando-fe por elfa
diuida ao creedor, e defpois diffeffe que nom era
herdeira do dito deuedor, chamando-fe ao benefi-
cio do Veleiano, porque fe obriguara pola cou1a
e
que a ella nom pertencia, em taees cafos outros
femelhantes nom poderá gouuir do dito beneficio;
pois que enguanofamente fez a dita . obriguaçam,
" E2 com
36 o ~ARTO LrvRái DAS ÜRDE·N. TI:T. xn. .
com tençarn de enguanar e desfra.udar ao creedor ,
como dito he.
5 E s.E algúa molhei: fe obrig:uafie· à outrem
por coufa que. a ella. pertencia,, aíii como fe ella
comp.rafte herança dalguú defunél:o ,. e fe obtiguaífc
aa alguU.creedor do.diro defunél:o por'algúa diuida,
~m que eUe foífe ohrigua.do,. ou fe algqa molhet
ebriguada_a alguú feu çreedor .._ao qual houueffe da-
dado certo fiador ·, e ellà defpois fe obriguafie a ·
aquelle feu fiador,. que a fiara-, em outra. tanta quan ..
tida~e corria folf.e a da púmeira- obrig_uaç_a m , em
·que a· elle prümeirameflte fia-ra , em taees cafos e·
outros femelhantes. nom po_derá. ella chamar-fe ao
benefi(;:io do Veleiano ,, nem gugzará delle em alguü
tempoL
6 hEM· fe a1güa molher fiiffe outrem, ou fe
por elle obrigua·fle ·,e defpois eít1: molher por morte
daquelle porque fe aili obriguara ficafie fua. her-
deira em todo ou em parte > em tal cafo ficará ella
obriguada aa dita obriguaçam,, e fiadoria,. por aquel~
la parte em que affi f0fie herdeira,_ fem gouUir
do dito benefici0 de Veleiano~
7 E s~>' al'güa moLher fiaífe o~trern. ; ou fe por
dle obrigua.ffe_,. e defpois recebeffe delle a quan-
tidade, ou co ufa porque o fiara, ou fe por eU e obri-
guara, em tal cafo ferá ella obriguada a. pagua~
eífa coufa , ou quantidade porque o aíii. fiou , ou fe
obriguou _,_ fem ei_nbar,guo do dito beneficio do Ve..
leiano.
._8
.Do BF.NE.F. DO VELEIAN. OU.TOJ.tG. A:AS MO.LI-tER. 37

8 PoREM nos cafos fobreditos. em que as molhe-


res fendo fiado.res, ou obriguando-fe por outrem ,
nom podem gouuir do beneficio _do Veleiano ,. fe '
dias a effe tempo forem menores de vinte e cinco
annos, poderam gouuir. do b~neficio da reftituiçam,
que por dereito he outorguado aos menores da dita
hidade, qBando por1 dereito. e No.ífas Ordena.çoés.
o podem auer~
\ 9 - E BEM A&SI Dizemos, que no cafo onde as mo-
lheres. IlOffi podem gouuir- do beneficio do Veleia-
np ,, fegt:mdo em cima remos declarado, poderam
porem gouuir do beneficio por derei.w outorguado
aos fiadores q,ue .fe por outrem obriguarn , e:onuem
a fabcr ~· que nom poíram por eíia obriguaçam feer
demandados, nem feita exeeuçam em fews bens ,.
are·e que primeiramente fejam demandados-, e con-
denados, e executados os principaes deuedores; por
que nom com rnenos razam os deuem ellas auer ,,
qJ.:Ie os homens a que por dereito geeralmente fui
outorguàdo, fegundo mais compridamente· dire-
mos no Titulo que fe começa D a fiadoria de muitos.
10 E POSTo QyE algüa mother nos cafos em qu <';
pode gouuir do dito beneficio de Vele ia no.,. renun-
cie expreífamente o dito beneficio,. ora o renuncie
em Juizo, ora fóra delle , e pofro qt~e digua , que
he delle certeficada , e nom qu.er. delle vfar , nom
valha tal renunciaçam , e feja 'de ninhuü efeét:o,
nem v~guor, e fem embarguo della pofia gouuir do
edito beneficio , aíli como gouuira fe o nom renun·
Cl.-
·38 o ~ARTO LIVRO DA.S 0RDEN. TIT. XIII.
ciara; porque por a mefma fraqueza por que o de-
reito lhe quis dar o dito beneficio, por effa Acha-
mos, que ligeiramente fam mouidas a renunciar.
Porem quando a molher for éncarreguada da tuto-
ria de feu filho , ou neto , o poderá renunciar, fe-
gundo he conteudo no Titulo Do Juis do! fJifaõs.
I I E BEM ASSI Dizemos , que pofio que defpois
que húa vez fiaífe outrem , defpois de paffados dous
annos fe tornaffe a obriguar· outra vez , ou muitas,
que em todo o cafo gouua do dito beneficio, affi
como gouuiria, [e putra fegunda vez ou mais fenam
obriguara, o que affi Mandamos que .fe cumpra ,
pofio que outra coufa por Dereito Comum feja efia-
belecido.

T I T U L O XIII.
'
Do homem cajado qttt fia alguem Jem outorguamtn/()
. de fua molher. \

SE alguü hom~m cafado ficar por fiador de qual-


quer pelf0a fem outorgua de fua molher, . nom po-
'derá por tal fiança obriguar ametade dos bens, que
pertencem a fua molher. E fendo cafados por do-
te e arras , nom poderá obriguar os bens , que por
o dito contracro dotal P-ertencem aa parte de fua
molher. E o que dito he Nos praz q~e nom aja lu-
guar affi indiftintamente nas fianças , que forem fei ..
ta-s
Do HOM. CAS. QYE FIA ALG. SEM OUT. DA MOt•.H . J9
tas em Noffas rendas, porque nas di-tas fianças de
Noffas rendas valerá a fiança .., que os maridos feÚ-
rem fem outorgua das molheres em todos os bens
moueis. E nos de raiz valerá quanto a amet.ade dos
maridos foomente. E pola metade que dos ditos
bens. de rai'lí. pertencer aa molher, ou quando cara-
rem por outro contraéto dotal , de tudo o que polo.
dito contraét:o pertencer aa molher nom valerá a:
dita fiança,_ nem fe fará execuça.m algt)a. E.iifo mef-
mo efto 'que dito he fe nom entenderá, quaqdo os
maridos tomarem per.a ü, Noflas rendas., ou outras
quaesquer doutras. peffoas ,. e derem aa fiança feus.
bens,. porque em tal cafo, pofto que os taees arren.:.
damentos fejafu feitos fem outorgua d:as molheres ~·
todos os bens do marido·e molher aili moueis como
de raiz fam obniguados aos taees a·r rendamentos, fal-
uo fe no contraéto dotal' quando cafaram fóra do.
cõftumc do Reyno outra coufa for concordado •.

T I T U L O Xllll.
})as vfuras como fam defefas ~ E em que maneira
- jf podem. leuàr•.

N INHÜA 12.effoa de q,u alquer eflado..., e condiçam


que·feja, nom dee, ou receba· dinheiro, prata ,ou ou-
ro,.ou qualquer outra quantidade pefada, médida, ou
contaqa, a vfura, pol\ JU.C. poffa a~,J.er, OlL dar algüa
auan-
40 O ~ARTO LrvRo DAS ÜRDEN. TrT. XIV.

auat1tagem, affi por via de ·empreftido, como de


qualquer outro contraél:o de qualquer qualidade, na._
tura, e condiçam que feja, e de qualquer nome que
poífa feer chamado. E aq~elle que o -contraíra .fezer,
c ouuer de receber guanho algu·u do dito contra-
éto, p erca todo o principal que deu por auer o di-
to guanço, e acrefcença , fe a já teuer recebida , ao
tempo que por Noífa parte for demandado, e tudo
em dobro pera a Coroa de Noífos Reynos , e mais
ferá degradado dous ann<;>s pera cada huü dos Lu-
guares d' Alem, e eíl:o pór a primeira vez, que for
comprendido, e lhe f~r prouado. E pola fegunda
vez lhe feja dobrada toda a dita pena , affi ciuel ,
€orno crime. E pola terceira vez lhe fejam iífo mef-
mo tresdobradas as ditas penas , affi ciueis , como
f
crimes. E aquelle que ouuer de dar o dito guanho
perca outro tanto como foi o principal, que rece-
beo , e mais norn. E [e o dito deuedor teuer ja pa-
gua algüa crefcença, feer-lhe-ha defcontada do que
hauia de paguar, conuem a faber , do outro tanto
como o principal, e tudo pera a Coroa de Noífos
Reynos, a qual pena hauerá , cada vez que niífo for
comprendido, e lhe for prouado.
1 E POSTIJ Q!JE as vfuras fejam geeralmente re-
prouadas, e defefc•s como dito he, em a!guüs cafos
porem afll por Dereito Canonico como Ciuel he
a vfura permiíla , e licita, affi como fe fo!Te por al-
guü prometido <tlguü dote em cafamento com al-
güa molher, e lhe nom foífe loguo paguo aquello,
que
,· ' D,'\S VSURAS COMO SAM DEFESAS ETC. 4 ·[

que lhe affi•foífe prometido, fendo-lhe apenhada al-


gúa coüfa por ello com tal conuença, que o que
cafaífe podeífe auer todos os fruitos , e nouos da
coufa apenhada , atee lhe feer compridamente pa-
guo todo .o principal , em tal cafo poderá elle auel"
(!)S ditos fruitos e nouos da dita coufa apenhada em

fa-luo.·, ~tee que feja paguo do pnncipal, que lhe foi


prometido em cafarnento, fem defcontar algua cou-
fa do ·principal; e eíl:o auerá luguar em -quanto du-
rar o dito cafamento, e o ma.r ido rn~oteuer a mo..;
lher fegundo feu eflado, e vfança da .terra: ·c á apar-
t:ado o dito matrimonio per morte de cada huu·
delles, ou per qualquer outra maneira, di em dian.:
te nam poderá mais auer a renda da dita -coufa ape-
nhada em faluo) fero defcontando do 'principal :
mas deue-fe . deícontar do principal; e em ·outra
guifa todo guanço •. que fe di lewaffe fem defconto
feria vfura •
.2 E SE foífe vendida ãlgüa raiz por certo preço~·
e no contraéto da venda foffe feita auença, que tor-
nando o clito vendedor o dito pre.ço ao comprador
atee tempo certo., ou quando quifeffe., fo!fe a venda
desfeita, e tornada a dita coufa ao dito vendedor •
em tal cafo poderá o dito comprador licitamente
auer os fruitos e rendas da dita raiz affi vendida ~
defpois que ouuer a poífe della per v.ertude dà dita
venda, em quanto norn for a dita venqa desfeita ; e
dto auerá Iuguar , quanqo a dita raiz foífe vendida
por preço razoado , conuçm a fab,cr, que .foffe pouCQ
. , Li7;. 1J7. F ma1s
42 O ~ARTO Lrvrzo b _As ÜRDEN. TrT. XIV.
mais ou menos do jufto preço; cá fe o preço fo.ffe
muito pequeno, a .pouguidade do dito preço com
adira auen.ça fariam o dito contraéto feer vfurario,
fegundo mais . declãradamente ·diremos no Titulo
Do que vendeo algüa raiz Joh condiçam certa. ·
3 E sE ~lgu<i:m compraffe algüa ·raiz por preço·
certo, o qual loguo paguaffe , e nom foffe entregue
da raiz comprada , efperando de a loguo receber,
em todo o tempo poderá demandar ao vendedor to-
·dos os fruitos. Ç·€ nouos , e rendas que ouue, ou por
fua culpa deixou de receber da dita raiz, que affi
vendeo, e a nom entregou ao comprador, de que
~:ecebeo o dito preço; e bem affi Dizemos no com- .
prador que recebeo a coufa .comprada, e nom pa-
guou o preço , por que a comprou ; cá em todo
tempo lhe poderá o vendedor dem<l!ndar o preço
principal ;e mais o juílo ~alor dos fruitos que rece-
beo, ou podéra receber da dita raiz, defpois que
lha affi comprou, e foi 'della entregue, e nom pa-
guou o dito preço ao vendedor~
4 E SE. ·aquelle que trouxer algüa poffiffam por
eeFto foro, ou prazo, dalguu:fenh@rio, a apenhaffc
ao dito fenhorio por diuida algüa fob tal preito e
~ondiçam , que o dito fenhorio ouueíle em faluo os
fmitos e rendas da dita .poffiffam atee que foffe pa-
guo da dita. diuida., · em tal cafo poderá 1o.dito fe-
nbm:io auer as ditas rendas e nouos em faluo , atee
féer. paguo,da .dita diuida , fem defconta:r della ni-
nhúa~ coufa; porque em quanto aill ouuer os ditos
frui.;.
DAS VSUltAS COMO SAM DRFESAS ETC. 43

fruitos e rendas do dito foro , ou prazo , nor'n auerá


a penfam, que lhe he·deuida em cada huü anno
pôr virtude do contra&o do aforamento. ou empra-
zamento. E fendo feito femelhante apenhamentó
antre outras pefioas , que nam fofie antre o foreiro
da coufa aforada e o feiJhorio , tal contraél:o d'ape-
nhamento affi_feiro, conuem a faber, que o creedot
ouueífe as r"endas e fruitos da coufa apenhada em
f~luo , atee feer paguo de 'fua diuida , ferá vfurarià. ·
e aueram os contrahentes as penas de vfurario con-
theudas nefle Titulo.
5 . E ACHAMOs que he licito.guanço de dinheiro,
ou quantidade, em todo cafo de caimbo de huú Rey-.
no, ou Luguar pera outro. E Declaramos feer licito e
verdadeiro . o caimbo , quando fe loguo daa maior-
quantidàdeeni huü Luguar por lhe darem e pag·uarein
em outro Luguar mais pequena, e eflo he affi per-
J·iliffi> ~e ('mtorguado por dereito, pelas defpefas que;,
os mercadores eflantes ; que o maior preço rece..
bem, fazem em manterem feus caimbos aas Cidades
e Villas onde efl:am.
. 6 E DANDO-sE primeiramente algüa quantida.-
àe mais pequena por receber ao defpois maior, ainda
que eífe que dá a 'mais pequena quantidade receba
em fi todo periguo ·, que potra acontecer per qual-
quer guifa de huü Reyno, ou Luguar pera outro ,
nom leixará por tanto elfe contraél:o (eer onzeneiro.
E por tanto Mandamos, e Defendemos, que daqui
em diante taees contraél:os nom fe façam, e quem o
F2 con.
44 O ~ARTO -LivRo DAs 0RDEN. TrT. XIV~

contrairo fezer Mandamos que encorra nas. penas de


onzeneiro.
-.. . 7 E ACONTECENDO-SE alguús cafos aalem dos fu~
fo ditos, em que po!fa cahir duuida , fe he vfureiro,
ou fe fe pode ' leuar vfura de dereit-o , M.andamos
que fe guarde fobre ello, o que achado. for porDe-
reito Canonico; cá pois he coufa que traz pecad@
.· e carreguo. de conciencia , conuem que acerca dello
Ajamos de fegu.ir e guardar os Dereitos Canonicos.,
e Mandamentos da Santa Madre Igreja .
. 8 E PERA que os que fezerem alguü contraél:o
vfur~rio p0ffam feer punidos, e mais facilmente fe
po!fa prou<u, ~cremos e Nos Praz que fe alguü dos
fobreditos, que o dito contraél:o fez, o defcobrir a Nós)
ou aas No!Ias Juíl:i<fas, antes que cada huÜ· delles por
ello feja acufado, ou antes de por Nós feer feira. mer-
ce a algüa pdfoa , de lhe perdoarmos todas as penas
defl:a Ordenaçam , e qwe: nam encorra em pena al.;;. .
güa ; com ~anto que proue o dito contraél:o feer vfu..
rario ao tempo que lhe por Nós OU· Noífas Jufl:i-
ças for affinado. E pofl:o que o nom proue, a fua-
confi!fam que de fi mefmo fez ,dizendo que come-
tera cotn outra parte contraira o dito contraél:o, lhe
noll) empecer'i. E a dita parte contraira lhe poderá;
porem demandar fua HljUna~• .

TI.
~E NOM FAÇA PES ••UG. CONTRACT. Si:MUL. 45
TITULO XV.

!f(,ue nDm jaça pejJoa ·algúa eontratlos jimu!ados.

-C ONSIRANDO Nós os muitos enguanos , que


fe feguem, e recebem, e podem receber o Noffo
Pouo e Vaífalos polos contraél:os fi.mulados, que
muitas. pefl9as fazem maliciofamente em pe1juizo
de feus creedorell, e de outras pelfoas, e em perjui-
zo de Noífos_dereitos,. e por desfraudar noífas Leys
e Ord<tna.çoês. E querendo a eíl:o prouer, Manda-
mos ,_e Defendemos, que daqui em diante ninhua
pefioa, de qualquer eftado e condiçarri que feja, nom
faça contrado alguú iimulado , nem auença, nem_
conuença, nem efcaill)bo, nem permudaçam, afora-
ramentos, rendas, nem apenhamentos, empr.eftidos,
guardas, nem condeí11hos , doaçoés, promifioês,
nem efripulaçoés, obrigua~oês , nem ,cedimento e
trefpafamento dellas, confilfoes feitas em Juizo nem
.fóra delle, nem outros-quaefquer-contraél-os de qual•
quer natura e condiçam que_fejam , fobre quaefquer
·cou{as aili moueis como · de ··raiz , perpetuas , ou a
certo tempo, que. í1muladas fejam, em que di-
guam -, e -declarem, ou confeffem coufa algua -firnu-
lada, que na verdade antre elles per t'!,ee-s-contraétos,
c com:1enças ,,_e Cotilfiífoes ., e obFiguaçoes acima d-é,.
Gla-rada-s , . nom · feja contraél:ada ., nem conuinda ·;
.ante na, verdade. de taees contraél-os, .e conuenças. ~ e
con~
46 O ~AR To LrvRo DAS 0RDEN. TrT. XV.
I

confiflhes , nomeaçoes , e obriguaçoes , feja outra


coufa antre elles contraétada, e concertada, e nom
declarada nas Efcripturas , ou Aluaraes , ou Auto
de confiífam feita em Juizo, ou fóra delle , que
affi fezerem das fobreditas coufas , e contraétos, e
conuenças , e obriguaçoês fobreditas; E f.1zendo
qualquer pelfoa o contraíra do contheudo nefta Nof-
fa Or~ienaçam, Mandamos, e ~eremos que per eífe
mefmo feito taees contraétos , paétos, e conuenças,
nomeaçoes , trefpaífaçoes , e quaefquer obriguaçoes ,
c confifToes acima declaradas ; de qualquer natura
e condiçam que fejam , como dito he , e bem ~ffi
as Efcripturas , e Aluaraes , e Autos de confiífoes
feitas em Juizo dos femelhantes contraétos , fejam
ninhuus , e de ninhuú viguor , e lhes nom feja dada
auétoridade algüa em Juizo, nem fóra delle. E mais
~eremos, e Mandamo,s, que cada hüa das ditas
partes c0ntrahentes perca a coufa, ou contia, ou ex-
timaçam das coufas, quantidade, ou dinheiro, e
dos bens rnoueis, e de raiz, c·ontheudas e declaradas
nmuladamente nos ditos contraéros , co.nuenças '
nomeaçoês , obriguaçoés, e trefpaHamento dellas,
e confiíToes feitas em Juizo, fegundo acima he de- ·
clarado, ou fóra de Júizo. Da qual contia e extima-
çam ferá a terça parte pera quem o acufar , e a ou-
tra terça parte pera a Noffa Camara, e a outra terça
parte ferá pera a peffoa, ou peífoas em cujo pe1juizo
for feita a. dita fimulaçam. E fe nom for feita en'i
perjuizo de peíf<>a. algüa, foornente em•fraude de al~
gua
OEE NOM FAÇA PES. ALG. CONTR. SIMUL. 47
gila Ley, ou Nofia Ordenaçam, em tal cafo ferá ame- _
tade da dita contia e extimaçam pera quem o acu-
far , e a outra metade pera a noífa Camara. E aalem
das ditas penas Q!.eremos, que cada hua das ditas
pelloas contrahentes, que os ditos contraél:os fimu-
lados , e obriguaçoes , e nomeaçoês , e confiffoês , e
quaefquer promiffoê:s , e efcripturas delles fezerem,
como acima dito he, feja degradada por quatro an-
.nos pera a Ilha de Sam Tomé com huü preguam
na Audiencia. E fe for Caualeiro , e dehi pera cimà,
feja degradado por íeis annos pera cada huu dos
Noffos Luguares d' Africa. .
1 E PERA que os que fezerem as taees fimula-
çoês pofiam feer punidos, e mais facilmente poffam
feer prouadas, ~eremos, e nos Praz, que fe algl.!líi
dos fobreditos que affi fez a dita fimulaçam a def-
cobrir a Nós, ou aas Noffas Juftiças, antes que cada-
h~:~ü delles por ello feja acufado, ou antes de por.·
Nós feer feita merce a algúa peffoa, de lhe Perdoar_.
mos todas as penas defta Ordenaçam , e que nam
encorra em pena algua; com tanto que proue a dita
fimulaçam, ao tempo que lhe por Nós, ou por as
Noffas J uftiças pera ello for affinado. E. pofto que
o nom proue , a fua confiffam que de fi m~fmo fez 1
dizendo que fezera a dita fimulaçam , lhe nam em:..
pecerá. Poderá porem a parte de que .affi defamou ,
dizendo que fezera a dita fimulaçam , demandar
fua injuria da tal defamaçam., e feer-lhc..ha julguada
fegundo a qualidade das pefioas.
T 1-
48 O OEARTo LrvR.o DAS ÜRDE_N. Tr-r; XVI.

TI TU L O XVI.
...
Comofe podem engeitar os efcrauos, e bejlas, por o's
acharem dóentes ou .mancos.

QuALQYER peífoa que comprar, ou porqual-


guer outro·modo ouuer efcrauo de Guinee, da ma5
daquelle que o trouxe de Guinee, ou do trautador
que o dito .trato de Guinee teuer, ou de mercador que
çs ditos efcrauos, ou parte delles comEra pera reuen-
der, e quifer prouar como ao tempo que lhe foi en-
tregue era doente , ou manco cla doença , ou man....
queira, que ao tempo que o engeita teuer , poderá
engeitar o dito efcrauo de Guinee , e demandar "
que 'lho affi entreguou, que tom~ ·o dit0 efcrauo ., e
lhe torne o que lhe por. elle deu; -com -tanto que o
cite., ·e demande dentro de huü 'mes do dia que lhe
fPi entregue~ E ·iffo mefmo fe o dito efcrau_o morrer
da dita inferrnidade, que lhe torne a que lhe per
elle deu~ porque nam o citando dentro do dito mes;
:nom o pode.r á Ja mais por ello citar, nem demandar,
pera o peder eng.eitar e <desfazer o centraéto , nem
pera pedir ,que ·lhe torne o que mais deu pala -dit<Í>
efcrauo ;do que valia por razam das ditas infermi-
.dades , ou defe&:os aa tempo de contraéto~ E ifto
.auerá luguar, ·quando a par,te, cle que affi o ouue,
efl:euer no Luguar onde ~fiá o m~fmo que lho vendeo,
!OU por outro qualquer modo tréfpaífou .; porque nam
,eftando no dito Luguar; .f~ o dito comprador prote..
ftar
·Co'110 SE POD!M I!:·N GEITAR OS SSCRA V. E RESTAS. 4~

fiar ao Juiz do dito Luguar, •e moftrar o dito efcra ..


uo a dous Fificos , que diguam que he manco , ou
doente da infermidade, ou mangueira _que tinha -ao
rempo que lhe foi entregue, em tal cafo poderá ci-
~ar a parte dentro :doutro mes , e .a.ffi dentro de do-
us mefes contados do dia da entregua. E eílo eftan-
do a dita parte, que affi verídeo ou trefpafiou, no Rey-
no; porque fendo fóra do Reyno terá luguar ( t~n­
do feita a dita proteftaçam e deligencia como dito
.he ) pera o citar) do dia que chegua.r ao Reyno a
huü mes. ·
I E o que dito he nos- e.fcrauos de Guinee aja
luguar nas compras, e vendas ~ e trocas , ·efcaimbos
~e todas as beftas, que por quaefquer peiToas forem
compradas, yendidas, trocadas, e efcaimbadas, que
fe quiferem -engeitar por mangueira , ou doença.
. 2 E. Ql!ANTO a outros efcrauos affi de. G~inee
'

que outras peífoas venderem, como quaefquer ou..


tros efcrauos, e affi a outros vicias que nas beftas.
e nos elcrauos, por quem quer que forem vendidos,
trocados, ou efcaimbados, fe acharem, que ~om feja-
doença ou mangueira , nom auerá luguar a difpofi.-
çam defta Ley , mas guardar-fe-ha o que por de-
reito for achado.

2.iv.IV. G Tt...
$0 O Q!ARTQ ttVR~ DASÜRDENa TIT, XVII.~ •

T I T U L G XVII&
.!?<._ue todo" homem· pojfa viuer com quem lhe aprouuer.

O~ ~ALQYER hom€m que for liure podet.á to.l.


mar qualquer fenhor que lhe apr.ouuer ,. e· viuer,
com quem qu.ifer-. ·E efio nom auerá luguar naquel ...
les qué por NoffasJ.ufl:iças forem confl:rangidos,, ou
~equeridos pera viuerem por foldada com outrem ,
fegundo fórma de Noffas Ordenaçoes ;, porque efl:es
defpois que polas]ufl:iças ·forem requeridos .nom pc-
deram hir viuer com outr.e m, faluo acabado o tem-
pó, que. ·ouuerem de viuer. aom eJTe.s, e lhe for
mandado que ajam de feruir ... E qualquer que con-
'tra efto for , e confhange1: a outrem, que viu a com
elle, ou com outro alguú , Mandamos que feja pu-
'l).Ído fegundo a qualidade do feito, e a culpa _em que
for achado , em tal guifa que os. for_çador.es da l!ber.•
'fàade .nam fiquem fem I?eri~
Do QlTE VIVE COM SENliOR A BEM FA'Z'ER 'ET C:. $f

TI T u~ L à XVIII.

Do qu.e viue com Jenhor a hem jazer', ou rude~ taja-...


mento , ou outra couja, e /e parte detle je.m fua vo1t•'
.fade ; e do que o r.eco/he.

TODO homem que com outro viuer a bem fa-·


ur , fe for homem de pee, e delle receber pelote e
capa. riom fe poffa delle partir fem feu mandado~ .
atee que o ferua huu anno comprido. E fe lhe der
pelote· foomente, ou capa ; ou outro q_u~lquer vefti-
do, nom fe poffa delle partir atee que o ferua meo
anno. E fe for homem que ande a caualo, e receber.
o que·fuú> -d ito he, ou outra coufa que tanto va-
lha, nom fe pofi:'\ delle partir atee feruir o dito1
a:nno. E fe receber foomente ametade, ferá theudo:
feruir meo anno ; e o que o contrairo fezer Man-·
damos que feja prefo, onde quer que for achado , e
nom feja folto atee que pague em dobro o que le-
uar, e as cuftas que fobre eflo fe fezercm. E fe
qquelles , a que affi feus criados fogirem , viuerem
com Nofco, ou com a Raynha, e Principe, e In-
fantes, Mandamos que onde quer que os ditos ieus
criados forem achados fejam prefos , e tràzidos aa
<;àdea da Noífa Corte, e hi paguem o que dito he.
·I E SE eftes que fe affi partirem - fe acolherem
a outr0s, que nom fejam cortefaõs, pera com elles--
Vluerem , e for requerido a aquelles que os acolhe-
G 2 rem..,
52 Q QuARTo LI.V·RO: D :AS 0RD·E N. T1r. XVIII. ·

rem ,, por aquell'es e:om que anté viu1am ,_ ou· por-


omrem por feu. mandado , que os nom traguam
mais configuo ,, porque fe pétrtiram delles, e lhes le-
ua.r am o, feu •. fe o a.í1i nom fezerem •~ feja-m obrigua-
dos p'aguar a-. Nós outro tanto,. quanto for defp@ÍS
achado., que effi:s q_ue fe acili partiram fam obrigua ..
dos entreguar a aquell~s,com que ante viuiam. E os:
Noffos. Almox-arifes-cada. huú em feu Almoxarifad~
ou qualquer outra peffoa. os. poífa- acufaP ,. e leuar.·
a'metade pera fi ,,e a out!'a metade feja pera Nós~
2 E os que viue1~em com alguú coritefa5 a hem•·
f-azer ' nom poderam- viuer mais;com outro ninhuú'
cortefa5 , que ande- em Noffa. Corte , fem licença.
daquelle C<'l.r tefaõ de· que f~ aili partiram. E o·corte-
Jaõ que fem fua licença·. o -toma-r. , c o npm alarguar·
Gomo lhe for requerido, pague dez cruzados-.,. a me--
tade pera aquelle de que o moço fe affi .par.tio, e a-
outra me.t ade pera a NoHa. Camara. E toda via ferá;
E:onftrangido ,. que _ e lance fóra., por fe euitarem
-efcandalos e competimentos •.
3 - . Ou.TRO si Mandamos-, que peífoa. algua •. de ·
qualquer eíhào e condiçam. que feja ,_ nom tome ,':
:nem fe encarregue de-criado dalguü outre, q1Je dei~:
le tenha recebido caf.:1.mento, ou gualardam de feu
f'<lruiço ; nem iffo mefmo tome,. ou f~ encarregue:
tle alguu acoftado doutrem, de·que recebeo caualby
ou ar:mas ,. ou-dinheiro,, ou qualquer outra· coufa.
pera. com elle íeruir no que elle mandar·, fem - li~en..
V da9..uell.e. a. q!Je acofiad<;> for •. E -~ acofiado que o ·
c.on~
Do QYÊ v-IV'E eoM SE-NHOR A\ B·"EM l'A·ZER. ETc. 53'
contra·iro fezer feja prefo-, e da cad'ea pague o que
affi teuer recebid0 em d obn> a aquelle, de quc. fe affi
partio. E aquelle pera ·que fe affi o dito acofl:ado.
for, fe o filhar por feu , o~ pera feu feruiço, faben-
do loguo no começ_o quando pera elle veo, como fe
partio daq uelte cujo acoft'adb era ,_ou a que auia de·
feruir, por teer delle recebido ca-da húa·das coufc:1s
fobreditas , ou o foube. defpois polo tempo , e o lo-
guo nom leixar ,_ou efpcdir. de fi; Mandamos que:
pague cincoenta. cruzados a-aquelle ,. Cfeque fe a!Ii
partio. E fe·o diw aco-fiado pedir-licença· a aquelle ~­
a quem affi he acoftad0 , e lha nom quifer dar, e ei:... ·
le toda via. fe quifer efpedir , lhe torna-r á em dobro·
t-odo o que teu~r recebido, ou o feruirá: tres-annos ;.
affi e da maneira como- dantes·com elle efta-ua aco-
itado; pera-· o qual pode requerer as Jufl:'iças, que de
' todo o fobredito façam- huu a-uto pera-f}! a fegurança~
E. o criado,. de que emcima Dizemos·, ferá fempre -
obriguado feruir com feu fenhor, quando lhe for
rieceífario, e o chamar;· e nom poderá com outrem·
f-emir fem licença-do dítQ·[etJ·fenh.or.
4 E ESTO que· dito he nom auerá luguar , fe ·
aquell-es a. que affi ía-m: acofl:ados-, ou os fenhores que
am deram os cafamentos, de que os:feus ' [e guife-
rem partir,, [e efpedirem de Nós, ou fe forem fóra
de Noífos Rey.nos, porque em cada·. huu defl:es-cafos-
fe podem delles partir. fem . fua licen-ça , affi. os feus-
c::r.iados , como os acoftados , e fazer d~ fi o que qui•
fer.em.,;, o.u iiro. mefmo dando-lhe Nós licença' , e .
. ------- ,man...
54 o ~~ltTO LIVRO B.AS ÜRDEN. TIT. XIX.
, fen.do-nos mofirad~ algu_a
~<\ndado ~fpecial legi~;i"!.
ma razam , porque o Deuamos fazer.

T I 'l' lJ L Q XIX.
Dos mancebos, e feruiçaes _que viuem a bem fazer , ~
.difpois demandçmz Jatisjaçam do jeruiço que fezeram.

S ·~ ~1~G: l}pme~ çpfllQlh~r xi~~t; CQQl


J~t~bp_r ~"! ~wq dfi 'J'l,lé!lq:u~r e(l:<}do e cqn~iça-m) q:u~
~lgttti:
fe;j~ l!. b~r:n fa7;:e~, ~m. f-<.t,ze_r <!·ve~.Ç~ alg~a,_ por cert-G,
preç-o,_o~ Q\Jil:Ji.l,ti<;lilie ,_ oq C}.:lg-ii~- m;t·r4 çou~ q;l.le aj~
cauc:;r po~ f~GU_ÍÇ..Q, q_l.lef '!tffi (ez~.J;j, CO!j\~eJ;I.~~ndo.-Se da.-.
quell_o , que. Q dit{) ~u <H~p ~ (~phQf: , c;om, q4e ailii
vi.uer , pf-O\#:UÇr de lhe. dar ppr·o. f~~ujÇq, que lhe a~
feze-r., tal xpanc~bo· o_u fer:u_i_ça-! FlQrn poíT'a erb algu[
tempo de:; mandar ao dito feu_amo e fenhor por qJer-
uiço,quc:; llu~aJli fez~r. E FJOÍ~.o.q.t#~ o.ditQ feu fenbor
ou amo o cafe, fe em 04tra ma:nt:!Ü:"!.' fe ~m elle
norp conttaél:ou, a.o ten}po que com elle entrou a .
viuer, ou guando o ca(Q!l, e o demandar queira;
M _andamos que norp feja a ello recebido.
· 1 E ESTA Ordenaçam · nom auerá luguar no fer-
uiço que for feito de tal-qLJalidade, que comunmen..:.
te fe; cofrume de fazer po:r foldaoo , ou jornal; cá
em tal cafo Manctamos , que poffa, feer demandado
em Juizo ,·ainda .gue uam fo~e ao dito mancebo .ou
fer-
OEE NOM POSSAM' DEMA:NDAR SOI.DADA· ET G. 5.5:
'
feruiçal prometido em alguu tempo certo preço, ou.
quantidade , ou algúa outra coufa; o qual feruiço fe
jlague , ã.ffi como geeralmente fe cofrumou em eífa
Comarca pagua-r femelhante feí'uíço, c0m tan.to.qne
fe demande atee t.res annos fegundo Declararemos.
no Título feguinte.

TITULO XX . '.

.f(_ue nom pojfam: demandar .foldada , -Jcnam atee


tres. minas • .

:QUAESQ!JER .·n·omens ou molhe~e~- que mor~:.­


:r.em com amos por foldada , íe defpois que fe delles.
partirem paffat:em tres: annos, ,. e ·feus amos eftiue~
r.e-m fempre neífes Luguares·, onde talharam as fol""'-
dadàs ,.fem íe delle~ partirem ,. e os ditos·· feruiçaes .
os flarh; demandarem nos düos tres annos pe~las di-
tas :foldadas , nom as poiTam mais demandar·, _ne_m
feja-m recebidos · a taees demandas, nem ·fejam. os
d-it~s' íéu-s . amos rna:is' theudos a lhas paguav. _ ,..
I E ESTOque dito he narn foomente aja luguar
naqJJelles. que viuerem _por foldada ;. mas ainda na-
quelles que V<i uerem a bem fazer , fe teuerem feito~
taees feruiços, que fe poíia em Juizo demandar,
fegundo diffemos no Titulo precedente •
. . 2 · PERÓ nom he .Noffa tençam , que efta Ley
aj~ luguar nos menores de vinte. e ~inco annos , .por...
q~m
sG o Q!ARTo LrvRO oAs ORoEN. TIT.• xxr.
·que em elles Mandamos, que os ditos tres annos
comecem de ·correr tanto que die menor. chegua.r
· á hidade de vinte e cinco annos ., e atee efie tempo
nom corra contra elle..

TITULO XXI.
-Daquelle que lança de caja o mancebo de fo/dada,
· .e do mancebo quefog~ de!Ja..

SE alguú homem deitar fór.a .de fua cafa o ma~ ..


cebo, que tomou por foldada , ante de fe acaba.r o
..t~mpo porque 0 ·tomol.:l, paguar-lhe-ha toda a fÓlda-
da, pois o deitou fóra, e nom quer que o ferua. E fe
p que am efl:á por foldada deixar o fenhor) ante que
.acab_e o tempo da feruidam fem culpa do fenhor ;
deue,..lhe tornar a foldada , fe a já' teue-r recebidã , _e
;mais feruir todo o tempo _que tinha talhado por foJ-
.dada , e nom tinha ainda feruido, de graça ; e [e lhe
ainda nom tinha pagua a foldada , nom fer:á ol;>ri'-
.guado de lha paguar. E ferá confl:rangido pola~Ju..
fi iças on,de quer que efteuer, que venha acabar . de
;fe.ruir como dito he.
I

TJ. .
Do AMO Q!!E DEMANDA O MANCEBO ETc·. 51_
T I T U L O XXII.
Do amo que demanda ao manabo (que lhe pede a foi-
dada ) o dãno que lhe f ez viu.endo conz e!te.

SE o mancebo que viaeo com .outrem lhe fez


algua perda viuendo c-om elle, deue-lha correger e·
paguar , ·ou defcontar de fua fgldada , e eílo auer:i
luguar , - fe ao tempo que o mancebo fe delle partir
lhe requerer a perda que lhe tem feita perante o
Juiz , ou perante homens bons; e fe ao dito tempo
lhe nom requerer a ditn. perda, nom poderá defpois,
ao tempo que o mancebo vier demandar a fo.Idada ,
de~andar a pe·rda, porque parece que o faz por lhe
paguar mal fua foldada~ E efto fe ·entenderá, ~rê o
mancebo acabou de feruir o tempo que era obri-
guado, porque partindo-fe antes do tempo acaba- ·
·(lo nom .poderá demandar a foldada, como dito
he no Titulo precedente.
·. 1 E No cafo onde o amo -pode demandar o clã-
no ao mancebo , como d~to he , auerá quatro dias
pera prouar o dito dãno e mais nom. Peró queren-
do o dito amo ante paguar loguo a dita folJada, e
que lhe fe,ia dado mais tempo pera prouar o dito.
dãno, pode-lo-ha fazer , e auerá luguar pera pro...
u~r fegundo for razam, e ao Juiz bem, e jufto pa-
recet:.

Lív~
. .;
IV. TI•
5<8. O ~A:RTO LivRo DAs 0RoEN. TrT. XXIII.
T I 'f U L O XXIII.

· · · Das compras t vmdas que fe-deu em fa!-tr


por certo preço.

AS compras e vendas fe podem fazer, nomfoo..


mente quando o vendedor e ·comprador eflam pre-
fentes , e juntos em huú Luguar , mas ainda que o
vendedor eftee em huú Luguar .. e o comprador em
outro, confentindo ambos na v~nda, e acordando-
fe por cartas , ou menfej.e iros, contentando-fe o
comprador da coufa, e o vendedor do pr':ço. E po...
de-fe iffo mefmo faz.er a venda, . pofto que a coufa
comprada nom feja prefente ante o comprador ·e
vendedor , confenündo ambos na venda, <;orno di..
to he.
) - • 1 E PERA a venda feer valiola , . ferá o preç()
certo em que fe o comprador e vendedor acorda-
rem. E por tanto fe o vendedor diífelfe ao compra-
d~r, Vmdo-te" ejfa coufa por quanto tu quiflres, ou por
quan/11 eu., quiflr, tal venda como efla nom valerá
coufa algúa. Peró fe o comprador e o vendedor fe
louuarem em alguú homem , poendo em feu poder
que lhe affine o preço , porque a coufa feja vendi-
da , affinando elle o preço, valerá tal venda. Mas
fe elfe que ouueífe ·de poer o preço rnorrelfe, ante
que affinalfe o preço , nom valerá tal venda. E ai..
uidrando eífe terceiro o preço deffa coufa affi vendi-
(la defarrazoadamente, em tal guifa que .algiia das
' · par'!
DAS COMPRAS E '\TENPAS ETC. 5~

partes nom foffe co.ntente de feu aluidramento, em


tal cafo de1:1e-fe effa parte defcontente [ocorrer ao
Juiz, a que tal conhecimento pertencer, que mande
fazer outro aluidramento por homens bons. E o di-
to Juiz conftrangerá o vendedor e comprador , que
. fe louue_m em homens bons dignos de fee , que te-
nham conhecimento e fabedoria da tal coufa , os
quaes per juramento dos Sanél:os Euangelhos façam
outro nouo aluidramento • e [e ambos [e acordarem .
em híla tençam , e!Tem as partes por feu aluidra-
mento. E nom fe acordando , entam aluidre eífe
Juiz com elles, e acordando-fe elle com cada huú
dos ditos aluidradores, efto fique firme e rato por
valor do dito contraéto.
2 E POSTO QYE o preço da coufa comprada fe
nom poffa cometer ao comprador , ou vendedor ,
pode-íe porem cometer a coufa comprada ou ven-
dida a prazimento do comprador, aili como fe o
vendedor vendeffe huú tonel de vinho , ou d'azeite,.
ou huú feruo, ou húa befla , _e o comprador · com-
praífe efia coufa, contentaodo-fe ddla a tempo certo;
em tal cafo fe durando o dito tempo o comprador
for della contente, valerá a dita venda, e ferá firme.
E nom fe contentando della, nom valerá o dito
.contraéto. E nom declarando exprefiamente no dito
tempo ao vendedor , como noin he contente, ficará
a venda firme.

H2 TI-
6ó O ~ARTo LIVRO oÀs 0RDEN. TrT. XXIV.
T I T U L O XXIV.
Dás compras e vmdas feitas por final dado ao vendedor
jimprezmente, ou em parte de paguõ. ·

FAZENDO-SE compra e venda· dalgúa cert~,


coufa por certo preço , defpois que o contraEto he
acordado e afirmado polas partes, nam fc pode mais
ao diante algua dellas arrepender fem confentimen-
to da outra, porque tanto que o comprador e o ven..
dedor íam acordados e afirmados na compra e ven-
da dalgua certa coufa por certo preço , loguo effe
. contraéto he perfeéto e acabado, em tanto que dan-
do, ou offerecendo o dito comprador o dito preço
que feja feu ao vendedor, ferá elle obriguado de
lhe entreguar a coufa affi vendida , fe for em feu
poder; e fe em feu poder nam for, paguar-lhe-ha
todo intereffe que lhe pertencer, affi por refpei!o
do guanço, como por refpeito da perda.
1 E No CASO onde o comprador e vendedor ou•
ueffem ªcorda da .e afirmada fua compra e venda de
certa couía por certo preço , e o comprador deffe
loguo ao vendedor certo dinheiro em final por fe..
. gurança da dita compra ; em tal cafo, fe effe com-
prador fe ar.repender e _quifer afaftar do dito con....
traéto, pode-lo-ha bem faze!, mas perderá o di-
~heiro que affi deu em final; como dito he. E bem
affi fe o vendedor que affi o dito finál recebeo . do
comprador, fe quifer arrepender e afaftar da dita.yen..
· da
DAS COMPR ; E .VEND. FEIT. POR SIN. DADO .ETC. 61 ,

da, pode-lo-ha bem fazer , mas tornará ao compra-


dor todo o·dinheiro que delle recebeo em ·final com
outro tanto. E efta pena he dada ao dito comprador
e vendedor, porque nam qqiferam . confiar da per-:
feiçam do dito contraéto, e quiferam vfar doutra
noua prouifain, conuem a faber, de dar e receber' o
dito final , como dito he.
· 2 E ESTO fe nam entenda nas compras e vendas
que fe fezerem por corretores antre alguüs merca_;
dores eftrangeiros ou vezinhos fobre algúas merca-
dorias; cá .em tal cafo, ainda que o comprador dee
alguü dinheiro em final ao vendedor, nom Ieixará
por tanto a dita venda feer em todo firme, fem algüa
das partes fe poder mais arrepender della fem con-
fentimento da outra parte; porque. achamos que
dantiguamente affi foi fempre vfado antre os mer-
cadores. . · '
3 E NO CASO onde defpois da compra e venda
acabada por confentimento e firmeza das partes ; o
comprador déffe ao vendedor certo dinheiro em
parte de paguo, ou em final e paguo , tomo alguús_
cuftumam de fazer, em tal cafo nom fe poderá ja:
..( mais algüa das partes arrepender, e fair do contra-.
-do fem confentimento da outra parte, ainda que
queira perder o dito dinheiro que affi deu em parte
de paguo , ou em final 'e paguo, ou outro tanto co-
mo aquell.o que recebeo, porque ·pelo dinheiro que
affi foi dado em final c em paguo, ou em parte de
. paguo, ficam
.
eifes contraétos de çompra ~ e v~nda
ma1s
....

62 o ~ARTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XXV.


mais perfeétos , que onde foomente foi dado em fi-
nal e nom em parte de paguo , e por tanto nom
pode ja mais algúa das partes afaíl:ar-fe delle fem
confentimento da outra.

TITULO XXV.
~e cada bu'ú pojfa vmder feu herdamenlo , e cotljas qu~
- teuer , e nom Jeja conflrangido de as vender contra
· v o1zlade, Jaluo nos cajàs abaixo declarados.~

CADA huü poderá vender a fua co~faa quem


quifer, e polo milhar preço que poder, e nom ferá
obriguado de a v~nd.er a feu irmaõ , nem a outro
pàrente ., nem poderam dizer que a querem tanto.
por tai1to , nem poderam o~ filhos nem outr.os def-.
éendentes desf:uer a venda, e auer a coufà tanto
por tanto , por dizerem que foi de fua auoengua.
I EMPERÓ fe o teíl:ador em feu teíl:amento lei ..
xar fua herança ou leguado a algúa pe!Toa, mandan-
do que nam podem: vender nem emalhear , faluo a
alguú feu i'rmaõ ou parente mais cheguado, em tal
t:afo guardar-fe-ha, e cumprir-fe-ha o que polo te-
fiador for mandado. E bem affi no que deu ou ven-
deo·algúa coufa fua a outrem com r a dita condíçam,
éonue·m a·faber, que a nam pode!Te vender nem
emilhear, faluo a feu irmaõ ou outra algúa peífoa ;
·porque em çada huú dos ditos cafos, fazerido-fe ~
j" ili~

\
~E CADA HUUM FOSSA VEN·D. SEU HERD. ETC. ~J

dita emalheaçam em outra maneira, Auemo-la por


ninhua.
2 OuTRO sr o enfiteota que traz a cbufa aforada·
d'alguu fenhorio nom a poderá vender a outrem·.
fe a o fenhorio quifer tanto por tanto, fegundo mais
compridamente diremos no Titulo Do f oreiro que
vendeo oforo.
3 EMPERÓ porque ém fauor da liberdade fam
muitas cqufas outorguadas contra as regras gecraes,
· Man.damos , que fe algua peffoa de Noffos Rcynos
teue~ alguú Mouro ou Moura catiuo, o qual feja
pedido pera na verdade fe auer de dar , e refguatar
alguü Chriftaõ catiuo em terra de Mouros, que
pcir tal catiuo fe poder cobrar, e fe aue~ de remir,
que qualquer pefioa, que tal Mouro ou Moura teuer.
feja theudo e obriguado de o vender, e feja pera-
ello pala Juftiça conftrangido. E fe o comprador e
fenhor do Mouro ou Moura fe no'm concertarem na
preço, que fe tenha efta maneira na aualiaçam del-
, Je, conuem ~ faber, que no Luguar onde ouuer dous.
Juizes, ellcs ambos com huu dos Vereadores mais
antiguo , nom fendo fufpeitos ; e onde nom ouuer
mais que huu Juiz, elle com dous Vereadores fem
fufpeita ; e fendo alguü fufpeito , fe meterá outro
em feu loguo , em maneira· que fejain fempre tres •
aualiem o dito Mouro ou Moura, enforrnando-fe
compridamente do que juftamente p0de fegundG:
comum valiá e eftimaçam valer , e· nom fegunda.
,afeiçarn particular, auendo refpeito .a íua idade,.
fa~
64 o ~ARTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XXV.

faude, faber, fieldade, cuftumes, feruiços, e defpo- ·


fiçam, arte, e officio, ou qualquer outra qualidade,
por bem da qual mais ou menos valer deua,; e bem
aili fe he d.e refguate, e fe tem ja.trautado feu J,"ef:...
guate, e-certificado feu fenhor delle -per alfaqoeque,.
em' tal maneira que pareça, que aquello poderá auer
de feu refguate; ·e em aqudlo que acharem, que
na verdade poderá em faluo auer, tirados os cufl:os
todos de tal refguate, affi de defpefas, como de dize-
ma, fretes~ e quaefquer outros, aualiem tal Mouro ou
Moura. E o ,que nam. for de. refguate por-lhe-haõ
fua valia como-fufo dito he, ouuindo fempre pri-
meiro as partes ,f0bre as ditas qualidades pera fua
enformaç?.m , e aqueUo em que aualiado for com
Jllais a quinta parte· da dita au~liaçam, que he a ra-
iam de vinte por cento, façam dar ·é paguar ao fe-
nhQr do dito Mo.uro ou Moura, dando apellaçam e
agrauo aas partes. E noí:n feja o fenhor do dito Mou-,
ro O.!l Moura defapoffado delle fem feu prazer, atee
fe~r primeiro compridamente· paguo de todo o que
Qü.).ler d';:Hl_er. E em Lixboa , teram o dito• cqnheci-.
n1.ento dous JúÍzes do Ciúel ([e nom forem fufpei-
tos) com o Corregedor ~a dita Cidade , ~ ou quem
feu carreguo teuer. E feguindo-fe cafo que tal ref-
guate fe nom faça, polo 'Chrifiaõ catiuo morrer ou
fe· tomar Elche , . que fique entam a efcolha ao fe~
nhor , que foi dp dito Mouro ou Moura , o tornar
a.auer, · tornando ,o·que por elle ouue fe quifer, ou
te~r ame O dito p"res:o que já tç:uer recebid~, I :.

TI..
Dos Q.YE APEN}IA M SEus BENS ETc. 65
T 1T U L O XX Vf.

Dos que aptmham feus bms , com condiçam que nom pa..
guando a certo dia , fique o penhor arrematado tlliJ
creedor~

SE algucr deuedor apenhar a feu treeôor algtía


cowfa mouel ou de raiz, com tal .condiçam que nam
lhe paguando a dita diuida a dia cerco, o penhdr
'fique vendido e arrematado ao creedor por a dita
diuida, Mandamos que tal conuen~a fejà ninhüa e
de nínhuú efetl:o.
I · PERÓ fe o deuedor der algúa coufa fua a pe-
nhot; a feu creedor, fob tal condiçam qwe nam lhe
paguando a tempo certo, fique o pephor arremata-
do polo jufio preço, tal apenhamento arti feito va- ....____
lerá, ~ a tal conuença ferá guardada ; e em efie cafo
o penhor ferá eílimado defpois do tempo da pagu;t
por dous homens bons ajuramentados c efcolheitos
por as pane·s , conuem a faber. por cada huú feu , e
ficará arrematado ao creedor por aquelle preço, em
que affi for eílimado.
·2 E ·sE ao tempo do apenhamento foíf~ acorda ..
do antre as partes , que o dito penhor foffe arrema-
tado ao creedor polo preço que por eUe creedor fof-
fe eíl:imado, Mandamos que tal apenhamento fei~p
em eíl:a guifa nom valha coufa algua, porque ~e
grande prefumpçam J que ligeiramente fe mouqa a
_ L~.~ 1 ~

c
l>~ o ~AR"To ·LrVRe mAs OR'I)!E:N. TIT. ·x xvn.
fazer a extimaça.m nom verdadeira_, poflo que lhe .
pera ello feja dado juramento; e por tanto nom he
.-razam Darmos-lhe .azo pera jurar o c.ontrairo da
'Verdade~.

T rT u L o xxvn.
.Do qut v.endeo algua raiz· jdb condiçam qut tornando-
at(e dia certo ·o preço , que por ella. recebeo , Jeja.. a
'l;t<nda aesjeita.

L:I ciTA coufa he )-qu.e o ·totn:pmd'one ·vend'e:dor-


f

ponha'ttl h'a tdtopra e ·venda., que 'fezerem, quulquer


'<Zautela, ·pué.tb-, e ·contE-çam ,. ··e m que rrmbos · m~or:..
'clarem, <õdm •ranw (lue feja hondla.- e conforme ag.
IDereito; ·e pi:lr tahre fe 'o comrprarlor .e vende.dor:na-
1egmpr<a ·e véB.da fe.atordaíf.ern, qu.e tornanclo.-o' ven ..
iô'e dor ao comprador o-preço, qu·e ouueífe pola. cem ...
~fa vend.ida. ·aree ·re·mpo certo '" ou ql!larrdo· quifr:ífe·a
~''ehda fofie des.feíta , e a ceuTa vendida tornada ao
vendedor, tal auen_ça: e condi.çam- ·afi) acordada po..
~Ias ditas partes ·val, e o e.omprador auelíldo a coufa
··t;:omprada a feu. poder.., guanha ·e f-az compridamen-
·te fetrs teclos os Ü:uit.os ,_e nouos ). e re!'ld.as·que oi.ure
·da cc>Ufa comprada; atee que Üie o·dito .preçp foi
Jreftituido.
.l -'E ESTO ha.tuguar q,~an9o. a to4:(à he vendida
: . po~
Do Q:YE VEN·DEO ALGUMA RAIZ SOB. COND!'ÇA~io 6;7

por jufto preço, fegundo que dito Au·emos no Ti..


tu lo Das vfuras. Cá fe a coufa foffe vendida p0r me.-.
nos a quarta part~ ~b jufto preço, e na veada. foífc
pofta a dita conuença, em tal cafo como e(re, con-
correndo eftas duas coufas ambas juntamente, con_.
..__, uem a faber, o grande des:falcamen.to d0 preço jufio
com a drta coÍlUença, fazem o dito contraél:o feer·
'V furado.
2 _E BEM ASSI fe o dito contraéto de compra o
venda foffe feito com a dita conuença por homem,
que ouue!Te em coll:ume de onzenar, ainda que fof_,
fe a venda feita por jufto preço, feflá o contvaéto
julguado por vfurario, porque a ·dita conuença affi
poll:a· no c0ntraéto da compra e venda por homem
que ouueffe em coftume de onzenar, faz o contra-
Bo feer vfurario , quer f.o!fe culpado em o dito cu~
fti.lme o comprador, quer o vendedor ; e nefies dous.
caCos auerá o comprador a pena, que no Titulo Das
'lJjuras Pofemos ao que daa ~inheiro aa onze na, affi .
do perdimento do principal em dobro , como de>
degredo , aili po'la primeira vez, como pala fegun~
da , como pola terceira, como na dita Ordenaçam
Dilfemos. E quanto aos fruitos que teuer· recebidos:;
ferá obriguado de os tornar ao vendedor , ou fua.
verdadeira extimaçam , fegundo que valeram co-
e
mumment~ ao tempo que os colheo , nom [e per-
deram pera Nós. E o vendedor perderá foomente a
coufa que aili vendeo~ e tudo pera a Çoroa de Nof-
fos Reynos.
- TI-

/
6!l. O ~ARTO LrvRo o,As ÜRDBN. Tn.. XXVIII.
T l T U L O XXVIII.

Do que vende algíia aoufa. duas vez.es a pe/Joas.


dejuair.adas •.

SE al'gfía peffoa que for fenhor de algüa couÚl a.


vender duas. vezes a defuairadas pe!Ioas, aquelle que.
primeiramente ouuer poffe della , ferá d,ella feíto
.verdadeiro fenhor • fe clella. paguou o preçp porque
lhe foi vendida, ou fe ouue o vendedor por. paguo
ddlo ;. porque efias duas coufas affi concorrentes
acerca da di'ta venda , conuem a faber , a pofie da
.coufa , e a pagua do preço ,_ o fazem feer fenhor da .
dita coufa.
1 E sE por ventura- o·fenhor da· coufa a. vend'e f-
fe a alguü por preço. certo, e lha entreguaffe Ioguo
fem delle receber preço algtüí , e def.pois o dito ven-
dedor recohra!Te a poffe della , e. a vendefle a outro ,
- ~ entreguaffe-lha., recebendo delle o preço, efte fe-
gu~do comprador ferá feito compridamente fenhor
de lia.
2 E SE o fenhor da coufa a vend'effe a alguü, e
recebeífe o preço. fem lha entregua'r , e defpois a
vendeffe a outro, e lha. en.treguaJfe, e recebendo del-
le o preço , ou. auendo-fe delle por pag_l)o , efte fe-
gund~ comprador ferá feito·vel:dadeiro. fenhor de !la,
e o·primeiro comprador poderá. demandar ao. ven-
dedor o oinheiro g,ue lhe paguou por a. compra da
ilit~ c.oufa com feu -interefie ,, pois lhe nom entte~
gou,
Do <UJE YENDEO A cousA DE RAIZ ET c. 69-

guou a coufa q~:~e lhe. vendeo, de que recebeo o di-


nhe-iro, e a vendeo. a. outrem, e o.fez della fenhor
pala entregua qu.e lhe della fez. E por affi vender'
hüa coufa a. dous. em tempos defuairados, auerá
a pena que Diremos no quinto Liuro no Tüulo Dos.
bulroes, e àzliçadores ..

T-LT U L O XXIX.

Do que vendeo a coufa de raiz ao tempo que ajá tinhc;

'
- arrendada , ou aluguada a outrem por tempo certo ..

S E aJguü homem vender hifa caíà ,. ou herdade·,


çu qualquer outra coufa de raiz , a qual ao tempo d~
venda tinha já arrendada ou alug~ada a outrem., !.
entreg!Je a. potfe ddla, por tempo que foífe menosd ~- 7
dez annos., nom he o qitoc0mprador theu.do. mant:~r
o dito contraéto.d'alugu.e r ~ou a.r rendamento ao di·;.o
rendeiro., ou ·aluguador ,. mas pode-lo-ha com de-
rei to demandar e conftranger, que lhe deixe a dita
<;oufa fem ernbarguo do aluguamento ou arrenda,..
menta. que lhe foi feito; faluo fe no dito contra-
do de compra- e venda foi acordado. antre as. par-
tes , conuem a faber ,, compra-dor e vendedor , que
o diro comprador mantenha ao aluguador ou ren-
deiro o con.traéto da renda ou aluguer, que lhe aili
foi feito. por oj dito vendedor, ou. k o. dito. compra,_
dor
70 O ~ARTO LrvRo D..(S Ü.!tDEN. Trt. XXX.

dor defpois da dita vendá em a'lgu'tí tempo outor-


gou , ou por algúá gui.fa confentio, que folfe man~
theudó ao dito renddro ou aluguador feu contt'aél:o ,
que lhe foi feito' por o dito vendedor ; ou fe o dit'o·
ve'n'dedot nó dito con'tnrél:o d'arrendamento ou d'a-
luguer obrigou geeralmente, ou efpecialmente a
dit_a coufa arrendada, ou aluguada ao dito rendeiro
ou aluguadot , pera comprimento do dito conrra-
éto; cá em cada huiii deftes·cafos 1 ferá o dito com-
prador theudo, e obriguado de manter ao dito ren-
dilire ou alwguador o contracro do aluguer: ou aneri-
damento 1 qu·e lhe foi feit-o polo dito vendedor fem .
ou.rra ninhúa contradiçam.
1 PERó em todo cafo .em que o d~to compra.-
dór potra t:lésfaZe't o cónttaél:o dó arre·ndámenro ou
álugw!r, · tomo dito he, dando-lhe· o dito alugua-
ddr ou rendeiro, e páguandoJhe tõdô feu inte·reffé
( àm pot refpeitó do guanho como de perda) quê
recebdfe pot caufa do dttd artertdamento ficar em
fua força , em. tál cafo térá o dito comprãdàr theu-
do e <ihriguãdo a lhe manter, ~ómprit, e guat·dar
feu atrerida:mento eu aluguamento, fem outro alguú
étnbar·guo , nem c omradiçarn. ·

T r..
'D,p QlJE QlJE!& DESFAZER ALGU?v.fA V,E·NDA. 7l
TITULO XXX.
Do que quer desfazer algiia <t•enda, por Jer engua11ad~
aalem dá metade do jujio preço.

P OSTOQ!JE o contt:aét:o da .compra e· venda


d~ qJJa1quer -coufa mouel ou de .t;aiz. íeja d~ todo
perfeé.l:o,. e a coufa entr~gue ao co.r.np.rador, e o pre-
lÇO paguo ae vendedor ,. .fe for · achado. qu~ o ven.-
ded0r foi enguanado na ditr. vend~ a-alew da me.;
•tade .<dojufio pre~o, pode-a desfazer 1por_. b:.e,rn do clir
·to engmmo , . ainda que o enguano .nom pro.c:~de,ITe
do comprador, maS; foomente ·re caufaífe de :(im'l"
.preza do ·vendedor ; ,e Jpoder.i it:ro..me f mo o crm-.
.prador desfazer a .dita v~nda, fe fo.i pol_a dita Infl.-
:neira .enguarnadnaa1em da m:etade do.ju.fto preço..
E entende-(e o vende.dor fe.~r eqg!J'In<Hio aalem d~
.metade d.o jwíto . pr~ç_o, -fe a çoufa vendida vali,a
.por verdadeira e comum ~xtimaçam ao tempo OP•
.(Wntraél:o dez . cruzados _, e for verndida ,por menos
·,d'e cinco . .E da pa-rte do ce.mprador (é _entende .feer
.t!ngwanad-o, fe à. c,óufa eomprada ao tempo do con.~ ­
traél:o valia por verdadeira e geeral- extimaçam dez.
cruzad0s, e o comp.rad@t' deu por elfa mais , d.e
qumze.
I.-' E QY·E-R-!iN,Ji)O, o vendedor desfazer o dito con,..
tt'aél:o por .a dita razam , ficará fempre a efcoJha .no,·
€omprador , ou t:om.ar a c.cmfa ao venoedor' e rece-
.ber o preço q.ue por e.lla. de.u , ou lhe. refazer o j ufio,
ft ,


72 o ~AltTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XXX.
e verdadeiro preço, que fe prou:ar que valia ao tem-
po do dito contraéto. E querendo o comprador des.-
fazer o contraéto por bem do dito enguano, ficará
a cfcolha ao vendedor, ou tornar o preço que ou,.
ue, e cobrar a coufa vendida, ou tornar ao compra-
dor a maioria que delle recebeo aalem do que a
coufa juítamente valia ao tempo . do contr~éto.
2 E Tono o que dü.o he ha lugua>t", .nomfoo-
mente nos contra&os das compras e v.e ndas, mas
ainda -nos contr~&os dos arrendamentos , e afora-
mentos , e efcaimbos, e auenças , e quaesquer outrog
lemelhantes·, em que fe daa ou lcixa hua coufà por
outra.
3 E NOM abaílará pera desfazer a venda def-
pois que for perfeéta, dizer o vendedor, que a cou~
fa que vendeo p~r dez lhe cuftara vinte, ou que
o comprador que lha comprou a vendeo defpois por
vinte, porque poder~a_· o comprador . fazer alguas
bemfeitorias, por que a coufa feria muito melhora-
da,--' ou poderia o dito vend~dor feer por fua fim-
preza enguanado na primeira compra que fez. E o
' remedio e beneficio pera fe taees contr.aél:os pode-
rem desfazer poi: caufa do dito enguano, Auemos
por bem que dure atee quinze annos compridos ,
contados do tempo que os ditos contraétos foram
feitos, atee que os enguan-ados citem aquelles ·com
que fezeram os ditos co11tr~éros, ou Ieus herdeiros·,
pera desfazerem os ditos contraétos ; e paffc'ldo o di-
to tempo ficam firmes, e fe nam poderam mais
- g~sfazer por razam do dito enguano. 4
Dó QYE QlJER DESFAZ·ER ALGUMA VENDA; 73
4 E DESPors que a venda for de todo perfeita e
acabada, nom f e poder:á desfazer por d-izer o ven-
dedor , que quer tomar ao comprador todo o preç&
que dell-e ouue com outro ,tanto, mas requé're-fe
que feja enguaBado na dita vendl.l aalem da metade
do jufl:o preço , que valia ao tempo que a venda foi•
feita, como dito he.
5 E SE defpois que a venda for de todo acaba ..
da -o comprador V·ender , de1· , du efcairnbar a
coufa comprada a alguü outro, nom lei xará pot
tanto o vendedor poder demandar o comprador po-
lo beneficio deít.a Ley ; porque pofto que elle nom
poffa tornar ao vendedor a dita co ufa, pois nom he
em feu J??der , poder-lhe-ha bem foprir e refazer
o jufto preço, e foprindo-·o fica de todo liúre.
6 E MANQAMos que, pofto que as partes renun..
ciem o beneficio deita Ley , ou dig\Jam nos contra..- .
él:os que fazem doaçam da maioria) que a coufa
vendida mais valer ; e poíto que digua, ou fe lhe
pofTa prouar ) que fabiâm o verdadeiró preço da
coufa, todavia as partes . poffam vfar do beneficio
defia Ley; e a tal renunciaçam·, ou doaçam , ou
certeza Auernos ·por ninhüa , pofto que n~ ftes cafos
outra coufa feja determinado por Dereito Comum.
7 E PosTo QYE algüa coufa feja, ven.dida per
mandado de Juftiça ·Com preguam, e etn a praça
cuftumada, fe deCpois for achado que algüa das par-
tes foi enguanada na venda ou compra aalem da me-
tade do jufto preço •. pode-la-ha per Oereito desfazer
. Li·u. IV. K polo


74 O · ~AR-fo Liv-Ro DAS ÜRDEN. TrT. XXX.
I

polo beneficio defta Ley , atee quinze annos corno


dito he. Peró ·fe ao tempo que fe a tal arre~ataçam,
ouuer de fazer, paífado o tempo qu.e a coufa auia,
de andar em preguam , o Porteiro notificar ao Juiz ,
que a manda fazer, como trouue a tal couía em.
preguam todo o tempo da Ordenaçam , e nom acha
por ella mais, que aquelle preço que nella he lan-
çado , o dito Juiz pode mandar nouamente requerer
o deuedor, que pague a diuida l fe nam que a dita
coufa ou penhor ferá arrematada por aquelle preço)
que nella he laRçado ~ poíl:o q_ue feja pequeno ,. pois
fe nom pode por elle mais achar ;. e fendo feito o
dito nouo requerimento , [e atee oito dias pri-
meiros feguintes o deuedor nom paguar a diuida ,
e o Juiz· mandar fazer a dita· arremataçam, e for,
feita em pubrico lugmu e acufl:umado, fem outra
algúa arte ou enguano , tal arren1ataçam affi . feita,
por aué1:oridade, e efpecial mandado de Juftiça, nom
poderá já m_ais feer retratada , e desfeita em ninhuü
tempo, por razam do falecimento do juíl:o preço,
nem por razarn de o comprador dizer , que foi en-:
guanado· em dar mais por a dita coufa aaJ.em da
J;netade do jufio preço; porque pois o comprador -
quis fazer a fobredita deligencia dos oito dias per~
o fenhor cfa coufa , em que he feita penhora , nom _
poder vfar do benpficio defta Ley _, Auemos po1;
bem, que o co~nprador nom pofia ifio·mefmo vfar
do dito benefi<Üo.
DA COUSA VENDIDA QlJE SE PERDEO. ''Jb·
T I T U L O · XXXI.
Da cotifa vendida qtu Je perdeo por alguu cifo , an!t
que fqjfe entregue ao Comprador.

TANTO que a venda de qualquer coufa he de


todo perfeita, toda perda e periguo que di em dian-
te acerca della aconteça fempre acontece ao com-
prador, ainda que a dita perda e dãno aconteceífe
ante que Ihe a coufa feja ent·regue. E porque fe po-
deram fc1Zer algúas duuidas acerca do modo, em
que fe a venda ha por feita , quanto .ao periguo que
fe defpois fegue, as Determinamos na maneira fe-
guinte.
1 PRIMEIRAMENTE pera a dita venda fêer perfei-
ta requere-fe, que feja feita puramente fem rtinhüa
·condiçam ; porque fe ella fofle feita condicionauel-
rnente , falecendo a condiçam faleceria em todo a
venda , affi como fe nunca fofie feita , e por confe-
guinte todo dano e perda , que aconteceífe na coufa
vendida em qualquer tempo, todo pertenceria ao
vendedor. E fe pendendo a condiçam , pereceffe .a
coufa vendida de todo, e defp'ois foífe a condiçam
comprida , a perda e perecimento da coufa perten-
cia de todo ao vended9r , porque tanto que a coufa
pereceíTe- pendendo a condiçam loguo a venda de
todo he desfeita , affi como fe nunca foffe feüa , e
por confeguinte todo o que acerca della acontecer
pertence ao vendedor.
K2
/

. 76 o ~A.RX:O LI:VRO DA;S Ü:RDEN... TI/F., XXXI.

2. E sEpendendo a: condiçam a, eoufa vendida


foffe peiorada ou danificada em algua parte_, e def- •
pois foffe a. condiçam comprida,, todo o cfanifica-
ll)ento e peioria per:tenceria ao compraclor , faluo fe
o vendedor foffe em mora e tardança de entreguar-
.. coufa ae compr.adon ; cá em tal ca(o. pala cul-pa
da tar,dança..,em que o. dito vendedor foi, carregua-
f-e .~ elle o danificame:nto •. que defpois aconteceo aa
coufa v.endida· ante da, condiç~m c.omprida~
3. E sE as partes àcor.daffem antre fi~· q~· da
Yenda foífe f<úta efcri.ptura pubrica •. ~ante que folfe
feita e acabada. a nota· do. eíl:ormento da venda
pereceífe a coufa. vendida; pert~nceria a perda del-
la ao vendedor •. e de f pois da carta. feita todg cafo
que fobreuicffe aa cou.fa. pertenceúa.ao comprador ,
ainda que lhe a. coufa. nom foffe entregue fem Cl,J l..-
pa do vendedor ; e polo femelhante fe pode dizer
. em quaesquer contraélos , que fegundo Dereito re-
querem neceffar.iamente efcriptura. pubrica •.
4 E sE a venda foffe feita fem .ninhúa condiçam
e acabada de todo., e defpois a couüt vendida foffe
confifcada por alg uú maleficio, que o vendedor ou-
ueffe come.tido, ou a Mandaffetnos . Nós tomar por
algua neceffidade ,. ante que foffe entregue ao com-
prador, em cada huü deftes cafos. pertence o per-
dimento e periguo da coufa ao vendedor , .e fe já o
vendedor ouueffe recebido o preç'o da c;oufa·vendi-
da , deue-o tornar ao comprador. E em todo ca-
fo, onde o períguo e perdimento da coufa vendida
per..
DA COUSA VENDIBA· Q.UE SE PERDEO. 77
pertence ao. vendedor, fe elle já ouueífe recebido. o
preço, deue-o tornar ao comprader, e onde o peri-
gu0 pertence ao comp rador, fe ainda elle nam te-
o
\leíle paguo o preço ao vendedor, eu e-lho paguar.
5 E sE for vendida algüa quantidade , que fe
aja de medir e guof:l:ar, ou pefar e guoílar, aili co-
mo vinho,, md~, azeite~· ou efpeciaria, eu outras
femelhantes ,, todo periguo que acerca da dita cou-
fa· a.fll vendida aconteceífe ,. antes que o comprador
mediífe e guoftafie " ou -pefaífe e guoftaífe perten-
da ao vendedon, pmem tanto que for medida e·
guoftada., ou pefada e guoftada, pertencerá o;peri-
guo ao comprador.
6 E SEN oo vendida a dita: quantidade nom por-
medidas mas- juntamente em efpecie, em tal ca[Q.-
pertencerá o periguo. que aconteceífe antes da en-
tregua ao comprador ,.ma o guofiaífe , ora nam. Po-
rem nefte cafo quaneo affi he vendida, a dita quan-
tidade em efpecie fimprezmente fem termo ninhuu,
•a. que a aja de receber, fe o vendedor tomaífe o pe-
r.iguo em fi, feráo periguo do ·vendedor ;_faluo•fe o .
cwmpmdor. defpois de o. vendedo1; teer tomado e pe-
·r.iguo em fi , guoüa,[e a. dita quantid.ade vendida-;
porque em tal cafo loguo cena todo o periguo que·
o vendedor tinha. em :fi tomado ,_.e carreguará_fobre ·
e comprador•.
7 E Isso MESMO fêrâ: o· periguo- db comprador, .
fe fofie antre elle e o vendedor. pofto termo ., a que -
Q comprador oLiudfe de. re.çeber a , coufa; porque ·

em.
73 O ~ARTo Lrvn.o DAS ÚRDEN. TrT. XXXII.
~m tal cafo pafrado o dito .termo fe'rá iíro mefmo
o periguo do comprador. ·
8 E EM todo caío que as partes conuieffem e
acordaífem , que o periguo e perdimento da cou-
fa vendida pertença a cada huú delles, em outra gui-
fa do que aqui Auemos declarado, deue-fe compr·ir
o que antre elles for firmado e acorda.do.

T I T U L O XXXII.
Do Fidalguo ou CreHguo ou qualquer autra p?foa
qu-e compra pera reguatar.

Os Creliguos d'Ordens facras , ou Beneficiados,


outro fi os Caualeiros d'efpóras douradas, ou Fidal-
guos de falar, que eíl:ado de Caualeiros ma,nteue- .
rem, nom ,deuem comprar couía algua pera reuen-
.der , nem vfar pubricamente de reguataria ; por
quanto fegundo fua dignidade , e eftado militar, lhes
nom pertence antremeterem-fe de aél:o d_e mercado..
ria , antes lhes he por Dereito defefo. E porem
Mandamos aas N offas J uíl:iças, que r.I)l cafo que
elles queriam neguocear em femelh?.ntes neguocios,
lho nom confentam , pois ilom conuem a feus efia-
dos.
r E BEM Assr D efendemos , que ninhüa pdioa
-compre triguo , nem farinha , nem ceuada , nem
-~enteo, , nem milho , pera tornar a reuend_e r affi no
.... Lu-
Do FID. OU CREL. QyE COMPRA PERA REGUA~. 79

Luguar onde o comprar, como pera tirar pera fóra,


fal1:1o fe o quifer comprar pera o leuar a vender aa
Cidade de Lixboa, ou ao Alguarue, ou aa Ilha da
Madeira, ou a alguu noffo Luguar d' Africa, por-
que entam o poderá comprar; auendo porem pri- '
meiro ante da compra licença do J;tíz da Terra, e
dando fiança a valia do pam em. dobro , em que fe
contenha, que ao tempo que por _o Juiz da Terra
(onde a ffi quer comprar) for a ffina.do , trazerá certi-
dam dos Officiaes da Camara de ea.d a huü dos [obre-
ditos Lugua~es, onde o affi podem Íeuar, de como
o dito 'pam ahi foi vendido~· e que nom a trazen-
do ao dito tempo, que perca a valia do dito pam
em dobro. E comprando algúa peífoa per'a reuen- ·
der doutra maneira , e ret!H~ndendo-o , ou tiraJ.ldo-o -
pera fóra~ aquelle que o comprou pera . reuend~\"
fem a dita licença perderá a valia do dito pam erri
dobro' ametade pera quem acufar' e a outra meta-
(]e pera a Noffa Camara.
2 E MANDA Mos aos Juizes das Cidádes , Villas,
e Luguares, que as ditas fiança~ oul!erem de tomar,
que quando as affi tomarem, tenham no affinar d~>
termo, pera trazerem as. ditas certidoês , aquella
temperança que deuem, nom affinando tempo de-
rnafiado , foomente o que lhe honefto e com:~enien..
te parecer, aue ndo refpeito aa difl:ancia dos Lugua..
res , e qualidade dó tempo. .
3 E POREM efl:o nom ailerá luguar nos Almo...
ç.re1,1es ~ que quiferern comprar qu.alql!er do dito
pa m~
8o O 0EARTO Lrvzto DAS Ü.RDEN. TrT. XXXIII.
\
pam, pera em fuas befias d'almocreuaria, com que
·c oftumam guanhar de comer, leuarem ; porque
eftes poderam comprar o pam, que em fuas befias
podel'em leuar, e <l poderam hü vender a qualquer
-Luguar de Noffos Reynos I-(uremente fem pena al-
güa , .e fem ferem obriguados a dar a dita fiança ,
nem pedir licenÇa. .

T I T U L O XXXIII.
-.5tut qua!Zdo a coifa obriguada he vmdida , ou emalhta-
da, pajJa Jempre com Jeu mcarreguo.

·sE o deuedor que obrigou a1gúa fua coufa ao feu


creedor a vender a' outrem , ou a emalhear por qual-
quer outra maneira , e a paífar a feu poder, paffará a
dita coufa com feu enéarreguo da obriguaçam , e
poderá o creedor demandai" o pofiuidor della , que
ou lhe pague a diuida porque lhe foi obriguada ,
ou Ihe dee e ·e ntregue a dita coufa, ·pera auer por
ella paguamento de fua diuida. ; demandando po-
rem o dito ~reedor o feu deuedor primeiramente ,
e faúndo em feus bens e de feu fiador ( fe o teue.r
dado) execuyam,, como fe por Dereito deue fazer.
· · 1 E ESTA demanda lhe poderá f.:1.zer atee dez
annos compridos, contados do primeiro dia que a
·dita coufa for a poder do poiTuidor com titulo
e boa fee ; e' efto fe ambos , conuem a iaber , o cree-
, dor
.'Do QYE COMP. ALGUMA CO'USA OB IÜG • .A OUTR. 3!

dor e o pofluidor eram moradores em hua Comarca.


E fendo elles moradores em defuairadas Comarcas ,
entam lhe poderá feer feità a dita demanda, atee
· · vinte annos acabados , contados como dito he. E
·vindo a coufa obriguada a poder do poffuidor fem
·titulo alguú, poder-lhe-ha . a dita demanda feer fei:-
. ta polo creedor atee trinta annos, compridos, ·con-
- - t'ados po1o modo fobredito. E ·re a coufa obriguada
.fempre for em poder do vendedor, ou de feu her..
deiro , ou de alguú outro creedor, a que defpois fof-
fe apenhada, pofluindo-a por vertude do dito ape~
nhamento , em taees cafos poderá feer feita a . dit:l-
demanda atee vinte annos antre os prefentes , e qua..
renta a nt r e os àbfentes , como em cima dito h e ,
Contados do dia que <robriguaçam for feita em di-
ante.

T. I T U L O . XXXIV.
Do que compra algüa coufa obri'guada a outrem , e con-
fina o prefO della em Juizo, por nom ficar obriguad1
aos crudores ; e que ninhuú O.f!irial reetba ninhuíi...
depojito.

c~MPRAN~O· a1guem algiia coufa mouel, ou


' de raiz, fe quifer feer releuado de o nom poderem
mais demandar, por razam de a dita coufa feer a ou-
trem obriguada, tanto que a dita coufa comprar, leue
, L.iv. IV. I
T
~
lo"!
.
82 O QpAR.TO Lr·v.Ro DAS OltoEN. Tn. XXXIV. ·
-loguo. e offt1reça o preço, porque a. compFar, peran,..
te o Juiz 'ordinario do- Luguar onde effa venda for
feita, e 'requeira-lhe que o. mande poer em focrefto-,.
em mam de alguú homem fiel e abonacio • por reiU-
po conuen.iente ,. a que poifam viir alguüs creedores
a que o dito vendedor foife obriguado, QU teueff€ ape-
. nhada eiTa coufa vendida; e tantQ, que dto affi for
feito , e o preço o.ffe1;ccido. e coafinado, ~omo ditO<
he, effe comprador aja feguramente a coufa com-
prada, e nunea lhe mais po.ffa feer demandada por
&Iinhuu 'creedor, a que. pob det1edor foífe obrigL!ada.
E Mandamos a todos os Juizes,.e Correg~dores a que.
ytal requerimento for feito• polos. compmdores ,_ q~e­
fa~am poer e confinar o preço, ou. quantidade-· por
.que a cE>ufa for venp:idí:l-,. em maõ de huli homem
bom, fiel,.leiguo, e·abonad~ morador J10c Luguar,,_e
façam vi ir perante fi. os- creedores. a q,ue a couía, for
obriguada, per·a litiguarem qual dbs creedores he
·p rimeiro, e te:Itl mais dereito pera ~he deuer feer o.
~ito preço eu-quantidade entregue~-
! E s.E os creedores forem to.dos mor-adores nef:..
-~ Luguar, ou hi prefen.tes, faça-os o. Juiz. citar por·
o Porteiro , que a·feis dias perentariamente· venham
perante d.Le ; e fe os creedores nom forem prefentes
em eífe Lug~ar, nem moradores em elle > faça. o•Juiz:
dar pregoê.s, epoer Editos no Pelourinho e Luguares.
acufturnados, que tod0s os creedores a que o-ditQ
nndedoF for obrig~1ado, ou a. dita cpufa apenhada ,
"Vt.nham perante elle a .aleguar fe~f .dereito fohte {.).
dito.
·.É>ó Q!J'E co MP. Ateu MA eoú~A- ohr<kA óun.-. · SJ
ditó preÇo e ápeí:lhamento a tehhe é::onueniénte, o
qüál o Jui i ailir-tará: feguilcto' a diftanéiá dos Luguà"!'
res, onde otiuer por enfmmap-m que eífes ctecdores
.fairl moradores , com tantã q~:~e o termo ão mais
ilãén paífe de trinta dias P'Or gi·ande diftaticúa . que
aja do Luguar onde a coufa f<:1i vendida aos Lugua-
res ondê os creed6res forem moradores ; e vindo al•
guu cfeedor ao tempo que lhe for affinado , qt~e
amóft're fua diuida claramente , e lhe nom for eni-
. barguada polo vendedor , faça-ih~ ·o Juiz paguar fua.
diuida polo preço e quantidade que affi for confina..
ôa , e fe algúa coufa do dito preço fic-ar , faça-.o en-
. treguat~ ao ditó vendedor; e fe em cáda huü do~
ditos termos vierem , e concorrerem muitos creé_.
dores , ouça-os o Juiz , e tàça-lhes.. Dereito, éntré~
guando o dito preço, ou quantidade a aquelle que
milhor dereito teuer, porque deua · os outros pre""
éedêr.
2 E NOM vindo ao dito termo ninhuu creedor ,
faça o Juiz entreguar o preço e quantidade ao dito
vendedor, pois nom vem quem . lho embãrgue. E
quanto he aas artemataçoês que fe fazem por man..;
dado, e auétoridade de JuftiÇa com Tabàliarri, ou
Efc;;riu<tin , em praça acuftumada, Mandamos que
fe· tenha eftá maneira que fe fegue,. conuem a faber,
fé em durando a demanda a-ntre o creedor, e o de..
u-ed;o t, cuj·os bens foram arremãtados, ou defpois
ante· da arh~mata'çam, nom veo outro creedor que
lhe emi:Ja'rguttífé fua druida, e paguam~nto de!la, em
L l té.\1.
84 o ~ARTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XXXIV.

tal caía tanto que a arremataçam for feita feja loguo


paguo o dito creedor de fua diuida , a cujo requeri"'\
menta eífa execuçarn e arremataçam foi feita; e fe
ao depois vier alguü outro creedor que fe digua feer
primeiro que elle, iejam ambos ouuidos com feu
dereito fobre o dito preço e dinheiro, por que a dita
Jt;remataçarn foi feita. E a coufa aili arrematada fi-
que falua ao dito comprador, pois que a con;lp;ou
em praça_ per mandado e auél:oridade de Juftiça.
2 ·E NO cafo onde pendendo a demanda antre o
dito creédor e deuedor, de que ao defpois defcen-
deo a dita execuçam, ou defpois della em qualquer
tempo ante a . dita arremâfaçam veo alguú outrq
creedor; que pretenda auer dereitona couía .a penha-,
da, fazendo fobre ella demanda, ou proteftando por
feu dereito, por dizer que a fua diuida era primeira
que a do outro, em tal cafo ·Mandamos , que fe fa-
ça a. dita arrematáçam , e feja loguo o preço ou
quantidade della focreftadá, e confinaçla em Juizo, e
fejam ouuidos eífes creedores com feu dereito [obre
o dito preço ou quantidi;\de, e a coufa arrematada fi-
que fempre íalua ao comprador, que a comprou em
praça por auél:oridade de Juftiça.
j E DEFENDEMOS a todos os Corregedores , e
Juizes, Alcaides, Meirinhos , Tabaliaés , e Efcri:
uaes de Noflos Reynos ; e aili a todolos Officiaes da
Juftiça, ou da Fazenda, ou da Guouernaçam das Ci-
dades e Villas de qualquer qualidade que fejam ,
.Pofio que fejam de maioJ: condiçam que os fobre~
d.i"'!

-
~Do QYE COMP. ALGUMA COUSA OBRIG. A OUTR. 85

ditos, que nom reéebam por fi , nem por outrem ,


nem por ninhuü modo ajam á fua maõ ou poder
dinheiro alguü , nem outra algúa coufa que por ft;u
mandado,. ou doutro qualquer Official fe ouuer de
confinar, ou depofitar ; e fazendo o contrairo fe-
jam priuados dos Qfficios, e nunca os mais aueram,
e paguaram outro tanto quanto receberem em do-
bro , ametade pera ·quem acufar, e a outra metade
pera a Noífa Camara , · e mais feram · degradados
huu anno pera as partes d' Africa. 1
4 E PORQ!JE algüas vezes acontece , que os Cor- ·
regedores , e Juizes , ou outros Officiaes mandam
confinar dinheiro, ou algüa outra co ufa em maõ de
alguú homem bom, e defpois lhe vem a dem'a ndar
e,fte dinheiro empreitado, ou por outro alguü mo-
qo, em tal guifa que eífe preço , ou cou1a depofita-
da que norp podiam receber em confinaçam' vem-
nr,> defpois a receber, e conuerter em f~us proprios (
vfos , da maõ daquelle a que foi entregue como ho-
\ mem bom , querendo Nós a eflo prou~r, Manda-
:r;nos que em tal cafo efte homem bom, em cuja
maõ foi confinado o dito preço, ou qualquer outra
coufa, nom fe poffa efcufar por dizer que o entre-
guou ao Juiz , ou Corregedor, mas feja theudo a re-
fponder por elle ,. e entregua-lo a aquellc aque com
dereito deue feer entregue, e nom o querendoentre-
gual" do dia que !he for mandado a noue dias , que
f,eja prefo, e nom feja falto atee que o entregue.

TI..
i85 o ~AltTO LIVRO DAS Okôki-r. TIT; XXXV._
T I T U L O XX~V.

Do Vaf1alo d' E!Rey qué ohrigua o cáualo, e ariJtas, ou ti


cbntia qt!e do dito Senhor tem. E éómo ó jiticejfoi das
terras da Coroa do Reyno, qu Morguado jerá obrigua..;
· · dq aa-s diuidas de Jeu L~,n;teujfar.

As eomias que os Vaífallos de-Nós teue~~in


ra Nos feruirem no tempo·âa guerra , e em alguus
pe..

outros tnefteres ém'l}t:Je Nds cotnpre awer del1es fer-


uiço, e berh affi as terras da Cofda do Reyiio, que·
alguuá de Nós tem de juro e de herdacle, ou em
inerce, ou os affentameutos que de Nós tenham:
pbr razam dé féus cafàrhentos , ou por algüà outra
qualqt:1er razam, nom podem feer aptnhadas ou
obriguadas ; e poíl:o que aquelles, que as taees cou~
- fas ou cada hüa- dellas teuérem, as obriguem , ou'
apenhem , nom valerá tal . apenhatnento , porque
~eremos que as ditas coufas nom pofiarii feer ~fi­
alheadas, nem apenhadas f em ~offo efpecial Man..
dado : nem poderam i:llo mefmo os fobredítos ápe..
nhat' o caualo, ou armas ; e pofl:o que as ditas cot.i.;.
f-as notn poífam feer paios fobreditos obriguadas ,
ficaram porem effes deuedores ohriguados a paguar
as diuidas por que e'íias coufas apenharem , e pode-
ram feer por ellas derriandadds , e fendo condena-
doS' fttr-fe-ha execuçam em os 0U'ttoo fet~s · bens r affi
~orno no$ bens de cada huú outro do po110 conde-
nad~
nado. E nom tend~ ou~rO::> b,ens. fê far:;l ~:J{et::UÇ<\Ill
polas rendas d.as fobredita~- ceufas que d~ Nós_te\-)-~~
_rem ; e quanto ao caualo_. e í:\rma.s, (~ fa r:á exeçUÇf\fll
fegundo Di{fçt'f}Q~ PQ Liu,rpo te~ceirQ no Titulo Par
execuçoes.
1 ~NRP. ~fgUa peffoa f~ fipar, que teu.er terr~s-
da C<:Jroa do R~yf\o ,. ~ p9r fuf\ wqrtç flcarem çli~ü,..
das, qwe foffem feita_s em fel7uiço- do Rey11o , o!)l
do Rey ~ Ol! em <;;ritl.r; e maqter feu& ftthos' ou ta(fes-
• {\iu~da,s fore!J' de feruiçe> de ctiªdos., a que por Nof,-
fas Qrdet}açoes e'ª oqrigt,t<tdQ a: pagq<].r (e11;s fer\-!h-
ços, ou cafamentos , aqueU'e a que alli as ditas ter-
ras- vierem ~- era lhe v-eaham poF as- aueF @ al}u.irir
effe por cuja mc;>rt<:! lhe _fica_ràtn ,, Ofil- l?Pr as auer e
· aq~tirir outro algubi feu anteceffm:, pofiQ: que elle-
- p.om q~~ira acçptar, ~ hçrança ,_- n~m f~er h~rdeirc;> ,
fe outros bens patrimoniaes nom ouuer, que é\ba...'
fte_m pera paguamento das à:iuidas ~- toda via fiqu~
€>briguado a paguar as d:iuidas da-fobredita-qua-lida-
de , atee a contia que as' rendas,~ e fruitos das ditas
terras- 11enderem dbus annos primeiros feguint~s ;.
.porem notn f~rá obdguade a paguar fc nom em·qua-
tro annoS:. primeiros feguinte; ,, contados do te?'l po.
que fe o dite-defunto_finou, conu·e m a fa-ber ,. cadíl'
anno huú-quarto;do que as ditas te~ras renderem no~1
tiitos dous annps ,_ o qu~ fe repartirá. çm çada huii
à.os ditos qu-a tro .apno$ polos creedÇ>res foldo - a. li-
~ra, auendo refpeitq a9 que a capa jluü-for deuido ,,
C: !Wtn 'W ~l.lm~~9 d.9& çr,e.~dw:e~ .. ~ nqm '\ba~an,dÇ>J
a~
\
\
I
88 o ~ARTO LIVRO DAS ÜRDEN. TI-T. XXXVI.
as rendas e fruitos das dÚas terras dos ditos dous
annos aas ditas diuidas, nom ferá obriguado a pa-
guar mais coufa algúa.
2 E Tooo eílo, que dito he neíle parrafo prece-
dente, auerá iífo mefmo luguar nas diuidas dos
Morguados que por morte dos Adminifiradores fi ..
·caram; [aluo fe o dito Adminifirador que fe finou •
e as ditas diuidas leixou, foi o Iníl:ituidor que o di-.
·to Morguado infiituio , porque entam fe guardará o
que Diífemos no Liuro terceiro no Titulo Como ft •
bam d'arrematar os bens e rendas dos Morguados &c.

TI TU L O .XXXVI.

Do qut prom~teo fazer efcriptura dalguíi contraf!o , t


difpois [e arrepende(}-., e a nom quer fazer. E affi
daquelle que confe(Ja o que lhe hc leixado em Jeu jura-
menta com algiia qua!idadt. '

SEalgü~s · pefloas fezerem alguü. contraél:o de ven~


da, ou doutra qualquer conuença, e ficarem pera fazer
efcriptura deiTe contraéto, ante que fetal efcripru ..
ra faça, pode-fe arrepender aquelle que a e feri ptu-
_ra auia de fazer , e arredar da dita conuença. ·E efio
auerá 1uguar, quando o contraél:o for tal que fegun•
do Dereito nom poífa valer fem efcriptura , e que a
·efcriptura feja de fubfl:ancia do contraél:o ; affi como
' '
no~
Do Q]'E -PROM·l!TEO FAZER ESCRIPTURA. ·S9

nos contraétos que fe deuem fazer, e infinuar, e em


o contraéto infitiotico da coufa Eclefiafl:ica, e em
ourros que fegundo Dereito fam de femelhante.
qualidade e condiçam.
· 1 OuTRO sr auerá luguar quando as partes ou
cada hua dellas diíieíTem expreffamente , que fua
vontade he ·que tal contraéto fe faça por efcriptura,.
e que doutr;1. guifa nom valefle; ou poíto que o ex-
preífamente nom diffeffem, por alguú modo fe po- /
defJe entender que fua vóntade tal era que fem
efcripto nom valeffe, affi como acontece quando al-
guüs grandes Senhores antre fi querem trautar al-
güa conuença, e de hüa parte a outra declaram por
efcripto. fuas vontades ante que fejam concertados
em hüa tençam, e defpois que por feus efcriptos fe
concordam, firmam fuas conuenças por efcriptura,
em tal cafo deue-fe por Dereito entender, que aquel-
les que por _e fcripto trautaram fempre fua conuen-
ça--, e nom por palaura , que fua vontade era feer
o contracco ·em efcripto celebrado. E pode-fe poer.
outro exemplo quando as partes querem fazer algúa
conuença , e dizem que lhe apraz fazerem aquella
conuença em efcripto, poíl:o que expreffamente nom
diguam que nom valha .em outra maneira, affi fe
deue entender; porque em efcripto fe chama quan- ,
do a efcriptura he de fubíl:ancia do contraéto ou_
conuença ; e por tanto em todos eíles cafos , e ou- ·
tros femelhantes, a conuença nom tem firmidam
algua, nem pode valer nem obriguar as partes , fe-
Li'i!. IV. M nam.
90· O ~ARTO Lrv.Ró DA~ ÜRDEN. TIT. XXXVI.
\
nam defpois que a efcriptura he feita, e leuda, e affi-
hada palas partes; polo qual :por De rei to cada húa
das partes fc pode afaftar afóra, antes que firme eJia
conuença por feu ailinado.
2 E Qy ANDO as partes affirmaífem antre fi algüa
tonuença de que a efcriptur.a nom for de fubftancia
do contrac't:o, pofl:o que defpois de a terem fim-
presmente affirmaJa diífeífem , que foífem fazer
c:fcriptura) fendo a coufa fobre que fe fez a conuença
ou, a contia tal, que fegundo Noífas Ordenaçoes fe
nom poffa prõuar fenom por efcriprura pubrica ,
em tal cafo fe a parte cónfeffar qtie a dita conuença
foi antre elles affirmada, ferá conftrangida a fazer
efcriptura da tal conuença. E fe a parte neguar que
antre elles nom foi feita tal conuença • e por con-
feguinte que lhe nom ficou fazer efcriptura, e a ou-
tra parte diífer que quer prouar por tefl:emunhas
como lhe ficou de fazer a dita efrriptura dq. contra..._
cfro que diz antre elles feer feito : em tal cafo. nom
ferá ouuido em Juizo fob.re tal razam, faluo fe qui...
fer leixar~m jliramento da outra parte a cou:fa [o ..
bre que for a demanda , porque em outra maneira
lig~iramente fe faria enguano contra a Ordenaçam
Das prouas que ft bam de fazer por: ifcriptura pubrica.
3 E MANDAMOS que affi ncfte tafo,. corno em
qualquer outro de qualquer contia ou qualidade que
feja, onde for leixado por j,urarnento. da parte qual-
quer coufa fobre que for contenda • e a parte que affi
jurar confe.trar o que lhe affi he 1eixado em feu. jura..
men.
Do COMPR. Q11~ NAM PAG. O PREÇO DA COUS. 9r
mento fecr verdade , e pofer algúa qualidade que
concludii elk nom feer obriguado ao por que h e de-·
mandado, du ao por que o qqerem obriguar, pofl:o
que a tal qualidade feja feparada do que lhe he de-
mandado, aquelle que affi jurou feja crido em todo
na dita qualidade pera nom feer. obriguado; affi
-como fe huú homem fofle demandado por outro que
lhe ernprefl:ara dez cruzados, e por nom teer proua
.como lhos emprefl:ou , ou por a nom querer dar, o
leixar em juramento daquelle que he demandado, c
o que affi he demandado jurar que he verdade que
ahos empreftou, mas q.ue defpois lhos paguou, em
e!le cafo e outros taees ferá crido que lhos paguou,
po!lo que outra.proua pera ello nom tenha, nem dee.

T I T U L O XXXVII.

Do comprador qut nam paguou o preço da coufa-compra-


da ao tempo qut deuia, ou recufou de paguar por .feer
mformado que a coufa nom era do vendedor•

.SE o comprador foífe entregue da coufa que co.(Il-


prou , e ante de paguar o preço ao vendedor lhe ..
for denunciado por alguem , que a dita cou('l que
comprou nom he do vendedor , nom ferá o com-
prador obriguado a lhe paguar o preço, ou fe ja lhe
tinha algüa parte do preço paguo .quando a denun-
M2 cia...
92 O ~ARTO LrvRo DAS. ÜRDEN. TrT. XXXVII. ·

ciaçam lhe foi feita~ nom ferá. the.1,1do a ~ho aeabí.llr


-de paguar, atee que o vendedor lhe dee bons fia-
. dores leiguos , e abonados ,, que fendo-lhe a co ufa
vencida lhe componham o vencimento deUa. Peró
fe o vendedor teuer tantos, bens de raiz defembar-
guados d 'algüa outra obriguaçam, que abafiem pe:-
ra inteiramente comprir-o vencimento da dita cou-
fa fendo vencida, nom ferá o dito vendedor obri-
guado dar a dita fiança , pois tem bens. por que com-
·ponha o vencimento della.
·r E POR Qy.ANTO tanto que a compra e venda
f-0r acabada por coníentiinento das. partes , deue o
;vendedor entreg,uar primeiramente a coufa vendi-
da ao comprac:lor ,_e .des hi o comprador deue loguo
paguar o preço ao vendedor , fe o vendedor recufàr
de-·entreguar primeiramente a eoufa· vendida ao com-
prador" receando de nom poder delle auer o pre-
ço, e bem áili nom confiaífe o compraé.ior do ven-
dedor, duu idando a.ue~ delle a coufa comprada fe
[he primeiramente paguaffe o. preço, em tal cafo
Mandamos , qu e a co ufa vendida ,. e bem affi- o pre-
_ço, fejam entregues em maõ de homem fiel ; o q_ual
tanto que de todo for entregue faça as partes con-
tentes e entregues ,_ conuem a faber ,_o ve-ndedor do
preço, e o comprador da coufa comprada ; e tanto
que o comprador for entregue da coufa comprada lt
e paguar o preço ao vendedor,_ ou o offerecer, loguo
he feito della fenhor. E nom pag.uando nem offe.
recendo loguo o c.o mprador o dito preço ao vende.._·
dor ~
Do coMPR. QYE NOM-PAG. o PREÇO DA cous. . 93.

·dor , poderá o dito vendedor cobrar a dita coufa d'o


comprador quando quifer aili como fua , faluo fe ao
tempo do contraél:o antre elles feito , oti ao tempo
da entregua da coufa vendida , o vendedor fe ouue
por paguo do dito preço , porque em tal cafo ferá
o comprador feito fenhor della , affi como fe o te-
ueffe paguo , ou offerecido ao vendedor.
2 E sE o vendedor ao tempo do contraéto deu
efpaço ao comprador pera lhe paguar o preço, fe
lho elle nom paguar ao tempo que lhe foi outorgua-
do , poderá o vendedor loguo cobrar a dita couía
do comprador fe a em feu .poder teuer, ou de qual-
quer outra peffoa em cujo poder a achar ;, e nom fe
poderá cfcufar de lha tornar, poílo que ihe offereça
o dito preço ·, pois o comprador lho- nom paguou J>
nem offereceo ao tempo que fe obriguou. Peró fe o
vendedor ante quifer auet o preço que a coufa ven-
dida, pode-lo-ha demandar, e auer quando lhe apro-
uer.
• 3 E VENDENDO alguu homem algua coufa mo.
uel ou de raiz, fob tal condiçam que fe lhe o com-.
prador nom paguar o preço della ao dia por eiles
aílinado que f1 venda feja ninhua , fe o comprador
aree o dito dia nom fezer o dito paguamento, a ven-
da ferá ninhüa fegundo a éondiça_rn da venda. Mas
fe paffado o dia da pagu-a o vendedor requerer. ao
comprador que pague. o preço da coufa comprada,
que lhe ouuera de paguar no dia que• já era paf-
fado J nom pod~rá já desfazer a dita venda contra.
.~on ...
94 O 0EARTo Lxvao DAS ÜRDEN. Ta. XXXVIII.
vontade do comprador , porque o vendedor leixou
o dereito que ,tinha, por que podera por bem da di-
ta condiçam desfazer a venda poi" lhe nom teer fei-
ta a pagua , e pedio e demandou o paguamento fen-
do paífado o dito dia.

----------------~·-------------------

T I T U L O XXXVIII.

!t.ue os Corregtdores das Comar'cas , e Juiz es Ordina-


rios, e outros Ojficiaes ttmporaes nom poffam comprar
bens de raiz., nem f azer outros contralios nos Lugua-_
res onde forem Officiaes. E que o; OfficiaN da rà zm-
da nom arrendtm coufa alglia aos rendeiros d' ElRey.

Os ~orregedores das Comarcas, e Ou.uidores dos


Infantes , ou Meflres, e Prelados , e Condes, e Ca-
pitaes, e de quae(quer Senhores de Terras, e bem
~fl;i' os Juizes remporaes, e aquelles que Poemas em
algüas Cidades , ou Villas fem limitaçam de tempo
certo·, que forem pollos em algúa Comarca, ..Cida-:
de , Villa , ou em alguú outro Luguar , durando o
tempo de feus Officios nom poderam fazer cafas
de nouo, nem comprar, nem aforar, nem efcaim-
bar, nem arrendar bens alguüs de raiz , nem rendas
algüas , nem poderam receber doaçam de ninhuús
bens affi moueis comó de raiz, que lhe feja feita
por algua peff:Óa de fua jurisdiçam, falyo . fe for de
fe.us
. ~E OS CoRREG. DAS COM. E }UI·Z, ÜR:DJN. ETC. 95'
feus afcendentes , ou defcendentes, ou transuerfaes
dentro no quarto gráo; e efia mefma defefa fe eH-
tenderá nos Officiaes que com elles andarem , affi
como Meirinhos , Chancereis , e Efcriuaes , que fo-
rem pofios por tempo certo ; e qualquer que o con-
traíra fezer aja por pena que o contraél:o fcja ninhuu, .
e todo aquello que o dito Official por bem dello re...
ceber, ou fezer. ou ouuer , feja perdido, e confifc'a do
pera a Coroa de Noffos Reynos. E efio norn auerá
luguar nas cafas que aluguarem pera morar no tem-
po que durarem em :íeus Officios; porque taees alu-
gueres e arrendamentos poderam licitamente fazer;
nem menos auerá luguar quando correger , e repai~
rar as cafas , que ja antes que foíle Official tinha.
I . QuTRo si nom poífam vfar de mercadoria,
nem comprar mercadorias algúas pera reuender;
nem poliam iífo mefmo corríprar 'fiado, nem rece.,.
ber empre:íl:ado na Terra, ou Luguar vnde teuerem
os Officios ,de peffoa algúa que feja de fua jurisdi-
Çiçam. E qualquer que o contrairo fez e r, .perca to-
da a mercadoria que aili contra . efl:a Noíla defefa
comprar, e feja pera a Coroa dos Noífos Reynos,
e o que receberem empreft~do paguem a quem lho
ernpreftou , e outro tánto pera a Coroa dos Noífos
Reynos, e Nós faremos dello o que Noffa Merce
for.
2 E BEM ASSI Defendemos qlile ninhuús Ouui-
dores dos ditos Senhores de Terras, nem de Capi-
taés arrendem renda fua, pequena nem grande ,
nem
9G O ~ARTO LrvRo oú OrmEN. TrT. XXXVIII.

ném de ninhua qualidade que feja ' · fob pena de o


Senhor, ou Capitam que tal re_nda ao feu Ouuidor
arrendar feer fufpenfo por huü anno da Jur.isdiçam
que em tal Luguar teuer, e mais perderá o dito an.-
no toda a renda que affi arrendar, ametade pera.
. quem o acuf:1r, e a outra me-tade pera o Eípriral de
todos os Sancros de Lixboa. E o Ouuidor que affi
a dita renda arrendar perderá. em dobro todo o que
.daua pola dita renda , a metade pera quem o acu-
far, e a outra metade pera o dito Efprital.
. 3 E rsso MESMO Defendemos aos Veedores da
Noífa Fazenda , e Efcriuaés della, e aos Nofios
Contadores affi da.s Comarcas como dos Contos , e
Efcriuaes dante elles_, e a todos os outros Officiaes
da Nofia Fazenda, que nom arrendem a ninhuü
rendeiro de Noífc1s Rendas co ufa algüa, nem · ren;.
da fua; .e qualquer dos fobreditos Officiaes que o
contra ira fezer perderá o Officio que afli de Nós re-
uer, e mais todo aquello que por a dita renda lhe
derem ou prometerem , ametade pera quem acufar •
e a outra metade pera os catiuos.

TI-
~ .
.D _D'S 'ÜFFIC. QlÍE N AM PODEM S!El{ R.f':NDEIR. ~ 97

T I T U L O XXXI~.

Dos Olfidaes que nam pode1iz fter rendeiros•

.D EFENDEMOS que ninhuu Prouedor, nem


Contador de Comarca algíía , nem Juiz dos Orfaõs ,
nem Tabaliarn alguú do Judicial, nem Efcriuam
dos Orfaõs , nem das Camaras. nem outros Efcri-
uáés de qualquer qualidade. e ·de quaefquer Officios
que . fejam , nom poífam arrendar ninhüa renda
Noffa, nem de ninhuú Fidalguo, ou Senhor que a
de Noíf.'l maõ tenha , nem iffo rnefrno de ninhuü·
Comendador , nem Prelado ; nem menos aceptem
feitorias , nem procuraçoés de ninhuü dos réndei-
ros das ditas rendas , nem dos fenhores ·dellas pera
lhe feitorizarem, nem procurarem, nem requererem.
·nem folidtarem coufa algüa das ditas rendas n~
Comarca, ou Luguar onde am forem Officiaes , .e
poderem vf ar de feus Officios ; -fob pena de perde-
rem os Officips , e mais paguarem cada huü vinte
cruzados , ametade .pera quem os acufar, e a outra
. pera J. Piedade.

- Liv. IV.. _ N' TI~


'98 O ~AR To ~rvKo nAs 0RD-EN. TrT. XL.
TITULO XL..
~e ninbúa pfjfoa·.tJ.Ont :compr:e dl'jembarg'fflS.

N INBÜAS peffóas, ·de qual'quer forte· e·quali:..


,dade qwe 'ú:jam, nom. comprem ninhuüs ckfem-
t>arguos. Noífos "nem da Raynha ,, e Príncipe , .a di- .
-n heiro,. ntrn m·ercae:orias. ,. neFa a, njnhu.ü s our.ros.
p-ar.ti.dos que fejam , ainda ·que fe p0ífa. dizer que
por e.Iles fe deu outro tanto como· valiam ;. e o con...
prado i: que o eontrairo fezer encorr.a.. em pena de
perder em .dobro o defembarg.uo que· affi comprar,
· e ·o vendedor outro tanto. ,. ametade pera a Noffa:
Cªmara, e a •out.ra metade pera quem. o acufar ~E fe:
· alguú. que comprar os. d-itos defembargpos, ou'·os.
~ornar em paguament:o de. g~al'C}u~r .coufa. q,ue·fe:
poffa dizer que fe lhe ·deua"fe for Noffo.-Contador ,.
Efcriuám dos. Contos , Tefouneüo , .. Almqxarife ,,
Recebedor,, Efcr.iuam do-Tefouno ,_. e Almoxarifa:..
do. ou OQtro alguü Offiáal rda No.ftt. Fazenda J ou.
pefi.oa das .que andam e- feruem e~· Noffa Fazenda.,,
€m N.oifa Corte,. ou. Corregedor, Q.u.·outro alguii
Ofijcial de Jufl:iça , OUi outw. Nolfo. Official de qual-
. q.uer qual.idade que feja ,. perca polo mefmo• feito·
toda· fua fazenda., aíii mouel ~omo de raiz., ametade-
pcra-o. Noffo Efprital de todos os San-é:t:os ' de Lix-
boa ,. e a outra metade pera quem: o acufar ,_ e mais.
aalem diifo auer qualquer outra pena crime q,ue for
Noffa. M .erce •. E porque defpois de os. defembarguos
f e~
~E NtN', PES, NOM- COMPRE- DESEMBARGUOS. 9~

ferem comprados -os vendedores fazem procura-


çoés fimuladas aos compradores, rlizendo que lhe
dam poder e auét:oridade que por elles e em feus no...
mes. poffam receber~ e recebam taees defembar-
guos, por outros tantos dinheiros que ·delle-s ·rem
auidos, Mand\lmos , que em tal cafo os taees def:..
embarguos com as ditas procuraçoes fem mais ou-
tra ninhlia proua fejam auidos pot comprados,
pera encorrerem nas fobreditas· penas, porque quan ...
do em elles fe mete a dita condiçam , nom he por
/
al, [aluo por - já os ditos defembarguos fe~:em com-
prados ; c~ nom o fendo a procuraçar.n foomente fe
faz, que os recebam pola parte, pera lhe trazerem
feu dinheiro , e darem delle conta.
1 E sE alguü dos fobreditos que affi cOmprar •
ou vender os ditos defembarguos , o defcobrir aas
Noffas JufTiças, antes que cada huú delles por cllo
feja acufado, ou antes de por Nós feer feita Merce
a algúa pe!Toa, Nós lhe perdoaremos todas aspenas
defta Ordenaçam, e nam encorrerá em pena algua ,
com tanto que proue a dita compra do defembar-
,guo ao tempo que lhe por as Noílas Jufl:iças pera
dlo for aílinado, e mais auerá o. que o affi defcobrir
e prouar ametade de rodo o que a outra parte por
efta Ordeneçam he obriguado paguar ; e· pofto que
o nom proue, nom lhe empecerá a confiffam que
.
fez que. comprara , ou vendera o dito defembarguo.

TI-
100 O 'Q~ARTo LivRo DAS: ÜRDEN. Tn. XLI~

TITULO XLL. /

!?(_,ue as· pe.f!oas- que tem pqder de dar Ojficios os nom


po(Jam ·v~nder ,_nem receb.er dinbeir:o por: os dar:.

N ·INHÜA peffoa: de quafquer e!lado,_preminen.o.


cia, fone, e condiçam que feja, que poder tenha pera
Qar , e em qualquer maneira que feja prouer quaes-
. quer Officios- q~:~e a a Noffa Jufiiça ,. ou l'azenda to-
quem ,. nom venda nem mande vender ninhuús dos
<!li tos Oilicios ,_nem leu.e dinheiro. alguú por os dar,,
nem aili mefmo de julguado d'Orfa6s,. e efcreuani ..
nhas delles ,. e efcreuaninhas das Camaras , e d' Al-
motaçaria, e quaesquer outros de qualque!r qua-
lidade, que poifa~ feer da guouernança , e regimen-
to das- Çidades, Vlllas ,_ou Luguares: e ifTomefmo
peffoa algúa ·os 11om compte, pofto q_u e vBndidós
lhe fejam , fob pena. de qualquer que '"omprar o tal
pu ta'e es Offisios , ou· der dinheiro por. eHes ,. perde-F
(!) tat Officio- pera quem o. acufar, e mais perderá

to,da fua fazenda, a metade pera q~em o acufar ,_e a


outra metade pera a. Noífa. Camara., e·aalem diífG
:ficará a dada- do düo Officio deuoluta a. Nós pera
di por diante feer: dado por Nós. E. aq;uelle· que· o
a.ffi vendeo, ou leuou dinhei.r.o po~ o. dar, nunca o
·mais poderá dar.._ e a a-quelle q~ue aili o tal Officio.•ou
Officios comprar lhe poderam íêer demandados em
toda fua vida, e affi a dita pena ,[e~ fe poder aju-
. dar
EM Q!!E CAsos os ARREND. _nos éupn. SAM DEFEs. 10r

dar de prefcripçarn de tempo. a·lgwií: :. e pera melhor


fe comprir efia Noffa Ordenaçam Mandamos, qt~e
as fobreditas pdfoas nam dem ; nem pofiam ciar ~
ditos Officios, fem primei10 a peffoa a que o affi
derem jurar aos Santos Auangelhos,. que o quer
verdadúrameme pera fi ,. e norn pera o. vende~ , ·p
qual juramento [e poerá na. Carta da dada do dito
Officio; e achando-fe defpois que o nom queria:
- pera fi,. e o queria pera -o-utrem ,. Mandamos. q_ue ajfi.
a pena de fee perjuro.

TITULO XLII.
Em que· cajos os arrendamentos dos guados , e colmeas-
Jam defifos.

POR QYANTO Somos enformado. que em Nof-


fos Reynos fe- fazem muitos. contraélos, porque fi:·
· carn a-lguú bois , .e outro. guado por certos anr:i.os de·
Fenda por cer.ta penfam em cada huã anno ,. ora os
bois ou. guado v.iua-m no dito tempo,.ou mouram ; €:
_ muitas vezes- poem nos contraét:os-, que acabado o ·
tempo do arrendamento lhe tornem os bois, ou gua-
do, ou Íua valia-fe mortos forem; e outras, que acao~
bado o tempo do. an;endamenro. que lhe nom fejam..
mais obriguados. tornar· os-ditos boi·s.,_nem guado ;, _
e aili_fe fazem qutms eontraélos que dam .certas ca ...
beças ~e guado.,. como vacas., cabras , e porcos.,, oll
co L..
102 o ~AitTO LIVItO DAS ÜRD!N. TIT. XLIIF.
colmeas por certo tempo, e, que acabado o temp(')
-lhe dem tat1tas cabeças ·mais de que lhe deram , ora 1
a criaçam , ou o guado, ou colmeas que lhe dam ;
viua, ou moura , ou creça, . ou diminu~; e porque
os taes contraétos fam · ilícitos por Dereito~ Defen.!.
demos que taees contraétos fe norn façam , e f.'lzen.:.
do..:fe os Auemos por ninhuús, e de hinhuú efeéto e
viguor ; e o que os ditos bois , QU guado, ou col-
meas por cada huú dos ditos partidos der, perca os
ditos bois , ou guado, ou colmeas que affi der , fe
ainda forem viuos ao tempo que por ello for de-
mandado, am~tade pera qúem o acufar, e a outra
metade pera a Nofia Camara.

~----------------·~--------------------
T I T. U L O XLIII.
Dá ·pam que fi vmdt aa tmdao.

MANDAMOS, q~e poíl:o que . alguús vendam


pam fiado por quaesquer preços , que íem embar.:.
guo dos preços nomeados nó contraéto , os -compra.:.
·dores nom fejam theudos fe nam ao pr:eço .que o diL.
to pam valer comunmerYte a·dinheiro contado ná
maior valia defdo tempo da venda atee o tempo da
pagua, com tanto qiJe nom exceda o preço do con-
tràéto. E [e fe vendu paro fiado , e que fe pague aa
:maior valia que valer per effa terra , norn fe enten.;:.
derá elfa maior valia. das ·venda-s feitas d.e pam fia•
do)
. DÁ$ PENÀS CONY:ENClON. E JUDICIAES ETc. l'<;'J
rlo , mas da maior e comu·m valia a dinheiro .con-
tado. E aja luguar .eíl:a . Ley em quaesquer peífoas ,
;pofio que Noffos. rendeiros fej.a m, e ~cremos que .
'o comprador nem o vendedor nom poífam renl.ln- -
-tiar efta Ley.

------·-----------------------------------
T I T U L O XLIV•
.Das penas conumcionaes, e judúiaes,. I! interelfes, em
que ceifas je podem ltuar,. ou nam•

.A S penas conuencionaes, que por con1:1ença da'i


partes forem pofias e declaradas nos contraél:os-,.
nom podem feer moOlies nem crccer mais. que ()
principal~- efio nom foomegte a.uení luguar quandO>
v deuedor for obrigwado dar ou entregwar alguús
bens de raiz,. ou moueis, am "como .feruo ,. ou ca:ualo,.
Du qu~lquer outra femelha:nte coufa, mas tambem _
quando for obriguado a a1gúa obra , ou feito qt~e
prometdie fazer a tempo. certo; porque em tal cafo,.
bom a fazendo ao tempo a · que fe obrigou, deue:
feer extimada aqueUa obra que ot~uera. de feer fe.i..
ta, e quanto for a dita exrimaçam tanto poderá
crecer a dita pena, e mais níl'm: e em efto n0m Fa~
ílernos diferença .an.ti·e a pena. que he pofia e prome-
tida por multiplicaçam de dias ou mefes ._e aquel-
la que he pofta juntarnen,p e, porque em todo caf()
fe ~oderá. leua:r atee o.uuo. ta:nto ~omo o principal •
e mrus.
104 O ~AR To LivRo DAS ÜRDEN. TrT. XLIV-!

·e mais nam, como dito he. E eílo que dito he da·s


penas-conuencionaes auerá luguar nas judiciaes, po-
·.ftas por alguüs Juizes a algüas partes, ou fiadores
em alguü cafo. E fendo a pena conuencionar pofl:a
e prometida em alguií contraéto de emprefl:ido, ou
qllalquer outro em que o deuedor fe obrigue dar e
pàguar algüa certa quantidade de dinheiro, ouro ,
· prata, triguo , ceuada, azeite ,. mel , -ou outras fe-
. melhantes coufas que fe cofl:umam dar, e paguar por
conto, pefo , medida., pofl:o que o deuedor nom pa-
. gue o principal ao ter11po a que [(: qbrigou paguar,
nom fe poderá por iifo a tal pena Ieuar nem de- ·
-m andar , porque fe prefume as taees penas ferem
em ·efl:es cafos prometidas em f~aude das vfuras; e
-pQr tanto com faã conCiencia fe nom ' podem taees
·penas leuar, nem demandar, e efto quer a pena feja
juntamente poíla, quer por rnultiplicaçam de dias,
e foomente poderam aquelles, a que em e!les -cafos
forem penas prometidas, (Iiom lhes fendo as diui-
das principaes paguas aos tempos em feus contra~
.étos contheudos) demandar e auer a perda que rece-
beram,, ou o interefie que perdet:am por lhes as di-
tas paguas das ditas quantidades nom ferem feitas
aos tempos limitados, como dito he. E por eíta
Noffa Determinaçam nom he Noffa rençam reuo-
guar coufa algua do que dito Auemos no Titulo
D~ts 'Zfuras.
r · E QYANTO aos contraétos d'arrendamentos,
,au alugueres que !e fe'zer:em por pefioas, que n~m
co-
f?AS PENAS CONVENCION. E· JUDTCIAES ETC. I05..

cuflumam trautar com feu dinheiro, nem dar di-


nheiro a guanho, e arrendarem fuas rendas , ou
propriedades á qu~esquer peffms , e poferetn penas
nom lhe paguando a certo tempo, as poder:am lc-
uar , com tanto que fe nom leuem mais que o
principal, ora fejam po!l:as .juntamente, ora por,
multiplicaçam de dias como em cima dito he.
2 OuTRO si fe em ·alguu contraéto torpe for po-
fta ·pena, ou em qualquer outro, que· fegundo natu-
tural razam nam pode feer comprido, nom fe. po':'
de leuar nem demandar tal pena ; nem quando o
contraéto for affi por Dereito reprouado que por
jura.mento nom poffa feer confirmado) am como íe
alguü homem prometeffe a outro fob cerra p~na de
o fazer herdeiro em parte ou em todo, ou lhe fezef-
fe _doaçam antre viuos, fob certa pena, de todos feus
bens, moueis e. de raiz, auidos e por auer , nom re-
feruando delles pera fi coufa algüa; ou fofle feito
alguü contraéto fobre a herança de alguu que foffe
viuo, por que aquelle que nam deuia feer feu her-
deiro o feja fob certa pena , por que taees contra-
étos fam a!Ti ilícitos e por Dereito reprouados, que
nom podem per juramento feer confirmados, e por
con'feguinte as penas em elles poflas fe nam podem .
pedir nem demandar.
_ 3 E sEi-Do os contraétos taees que . poílo que
f e jam contra Dereito podem feer confirmados po.r
juramento , poder-fe-ha leuar a pena antre elles po-
fta, fe o contraéto nom for comprido ,por aquelle
Liv.· .IV. b que
106 O OEARTo Lrvn.o DAS ÜRDEN. TrT. XLV.

qt~ e prometeo de, o comprir, affi como fe foffe feito


contraé1o antre dous ou mais, que efperauam feer
herdeiros por morce dalguú que ainda feja viuo,
que por fua morte alguu delles nom herdalfe em
fua herança , ou fe ·alguq_ delles fezer- conuença com
<tquelle de cuja herança fe trauta, porque nom pof-
fa herdár em fua herança, ou em outro femelhante
cafo ; porCi}ue ainda que tal contraêto e-m alguus ca-
fos por Dereito nom valha , pode-fe confirmar fe-
gundo Derejro Canonico p.o r juramento, por nom
feer tam reproufldO como os outros de que em cima
faz mençam , e por tailto bem fe pode pedir e le-
uar a pena prometida em clle • fe nom for b con-
traét:o comprido , como dito he.

----------------------------------~------------
TITULO XLV..
D r{s vtndas e em./heametttos .. que Je fazem
das coifas. litigiojas ~

CausA com~
litigiofa quer ra.n to di;er , cou(a
(obt-e que ·he 'motüdo litigio em Juízo antre as par-
te,..; : •e eHõ fe fllz -algüas vez-e s, tan·ro que a parte
he citada pera refponder em Jtü-z.o fob~ algua
""ébufá , ou d-á 'ói.'fo-rinaçam a Nós, e por NoffolC!e-
f:embarguo ·MhhdarmO's eóineter o feito a alguú cer-
o
·to Jui-z , e -feFidà h-I defembarguo amo-ítraao a effe
jui.z , e notiíHcMo ·aa •parte Cbntraita , 1oguo per
~ cada
DAS VENDAS E EMLHrAM. DAS COUS. tiT!G. T07'

cada hüa das dttas maneiras he feita coufa litigiofa;


e. e-fio. fe fobre ella be mouida algüa auçam real •
affi como fe huu homem demandaffe a outro algüa
couf..1 , diierido que era fua.
1 E SENDO mouida demanda .fobre íeruiqam
d'algüa . coufa, e nom fendo mouida fobre o fenho-
rio dclla, em tal cafo ferá a auçam feita litigiofa per
a contefiaçam da lide; mas a coufa nom ferá feita
Etig iofa em tempo alguü, porque nom h e mo_uida'
qudlaõ fcibre o fenhorio della : e bem am fe for
t:ontenda fobre a poffe de a!gua coufa per auçam
real , que fe chama em Dereito hipotecaria, affi co-
mo f.e o creedor demandar o deuedor, ou alguu ou-
t-ro poífuidor a coufa que lhe foi apenhada pera auet·
por ella fua diLTida , em tal cafo elfa auçam affi mo-
. -u1da ferá fdta Iirigiofa tanto que a lide ·for conte-
ftaçié).., e na.ffi d'outra gu'ifa; mas a coufa demanda-
<la nom ferá feita lirigiofa, porque nom he mouida
quellaõ fobre o fenhorio della, como dito he no ca-
fo fobredi-to.
2 E SE for mouida ern Juizo algüa auçam pef-
foal fobre algúa coufa certa, que folfe emprellada,
ou empenhada , ou polla e-!11 guarda e condeíilho,
ou per algüa outra-femelhante maneira deu ida , em
tal cafo nom ferá effa auça~ , n~rn a coufa feita li-
~igiofa, fenarn per contellaçam da lide. E fendo a
auçam mera pe!foal , affi como fe huü homem de-
mandar a outro certo dinheiro, ou outra quan.tida-
de em que fhe fofie obriguado , em tal cafo effa
O :z qu~-
108 O 02ARTO LrvRo DAS ÜRDEN. TrT. XLV. _
quantidade nunca em ·aJguü tempo ferá feita Íiti-
giofa , mas .fçrá feita lirigiofa a auçélm fobre ella
mouida, tanto que a lide for contefl:ada, e nom d'ou-
tra guifa.
. 3 E" DESPOJS que a co ufa for litigiofa per cada
huü dos fobreditos modos, pendendo o litígio ante
·que feja findo per fentença definitiua, que paífe.em
coufa julguada, nom deue·o Reo _vender, nem ef-
caimbar, nem dar dfa càufa a aigüa outra peffóa.
E b ~m affi o Autor. nom deue vender , nem paffar
a outrem a auçam fobre eiia coufa mouida ; e fa-
zendo o contraíra , a venda ou efcaimbo ·da coufa
lirigiofa ferá ninhua , e de ninhuü viguor, e aque~.;.
Ie que tal coufc'l comprar, ou , efcaimbar fabendo
que he ·litigiofa , torna-la-ha a aquelle de que a ou-: /
ue , fem por ella receber o preço, ou qualquer ou:_.
tra coufa que por ella teuer dado ao tempo que a·
comprou, ou efcaimbou, mas todo effe preço' , ou
qualquer outra coufa que por ella tenha dado, ferá
aplicado a Nós, e outro tanto paguará pera Nós o.
vendedor que a coufa ·litigiofa ·vendeo, ou efcaim-
bou, fabendo que era fobre ella mouido litigio an-
te que foffe findo por fina-l fentença paffada em cou- \
fa julguada.
4 E NO CASO onde o comprador nom fonbeffe
que a coufa comprada era litigioía, a venda [erá em
todo caro ninhua' e o comprador cobrará do ven- .
dedor o preço que lhe por ella deu , e mais a terça
pane delle polo enguano que lhe fez~ e o vendedo,r
pa- .
. DAS VENDAS E EMLHEAM. DAS COUS. LITIG. 109

_p aguará a Nós outro tanto quanto foi o preço prin-


cipal' por que a: .dita· coufa vendeo. ,
5 · PERÓ fendo a coufa lirigiofa .vendida, efcaim-
bada ~ ou doada paio Reo a algua peffoa poderofa
por razam de fua dignidade, ou por razam de alguü
officio que tenha , em tal cafo . paguará o dito Reo
~o Autor feu aduerfariâ, e .contendedor, com que ío-
pre aquella coufa litiguaua , o dobro do preço , ou
da coufa que affi ouue pala coufa litigiofa, que affi
vendeo, O).l eícai.mbou_, ou doou , como dito he; o
qual dobro aili paguará a feu aduerfario aalern da
pena que a Nós ade paguar , a qual he outro tanto
quanto pola couf.:1. litigiofa ouue daquelle a que a
treípaífou •
. 6 E ESTA mefrna pena auerá o Autor que ven-
deo, ou efcaimbou, ou dopu a c1uçam litigiofa em
alguü poderoío per razam:de dignidade, ou officio
que tenha. ·
7 E SENDO a coufa litigiofa dada graciofamente
fem o doador receber por ella ·algüa coufa , em tal
cafo fendo o donatario fabedor do litígio , aalem da.
tal doaçam feer ninb_üa ., e o donatario tornar ao
doad or a dita coufa doada , paguará o donatario a.
Nós a verdadeira extimaçarn da dita'"' ·coufa doada,
e o doapor paguará a Nós outro t-anto preço quanto
for a extimaçam da coufa. E nom .fendo effe dona-
tario fabedor d9 litigío · toma.rá a _couf.:'1 ao doador~
e o doador lhe paguará a terça parte da verdadeira
extimaçam ddla, e mais paguará a Nós outro tan-
to quanto for a verdadeira extimaçam. ·8
li ro O ~AR To LIVRO DAs O~DllN. TrT. XLV.

· 8 E TOD-AS· eílas penas que fam dadas· ao Reo


que vende, ou efGaimba , ou· doa a coufa. lirigíoía;
kram · iffo mefrno pofras, e dadas ao Autor .que
vende, <Du efcaimba, ou faz doaçam da auçam li-
tigiofa , que h e mouida em Juizo, c feita lirigio[a,
fegundo Temos dito nefl:e Titulo. ~
· 9 E SE defpois de feita a venda, ou efcaímbo, ·
ou qoa.çam, o Au.tor ouuer fentença contra o Reo
.que a dita coufa litigioía emillheou, por eífa mefma
-fentença (~j-a feita execuçam contra aquelle a que
· aí1i foife vendida , efcaimbada, ou doada, em cujo
poder a cou.fa. foífe achada, fem pera dlo feer mais
cthamado nem citado; fe e-lle foi fabedor 'do dito li~
tigio ao tempo que affi ouue a dita coufa. E nom
kndo dello fabedor ferá citado pera a dita execu-
~rom, e ouu.id0 com feu Çlereito fumaria:mente , fa-
bida .floomente a verdade ' da co ufa f em outro pro-
ceffo.
ro E sE aquel1e que comprar a êoufa litigiofa ,
()U efcaimbar por outra:, {)u lhe for de lia feita doa-
çam, ante que: lhe feja entregue a demandar ao
-vendedor, oú doador, ou ao que lha efcaimbou, nom
ferá theudo de l.ha entreguar, mas pode-lo-ha bem
. -cxcludir defla derna:nda , dizendo. que eira coufa affi
vendid-a, doada~ ou. ef<::aimbada, era litigiofa ao tem-
po' do conrrã"a-o~
, H E PosTo ·QJJE" a wufa litigiofa, ou a auçam ~
g-eeral.mente rrom poffa feer vendida, efcaimbada,
nem doa·da como dit!o he, efto nom auerá luguar
not
DAs VENDAS F. EMLHEAM. DAS COUS. LITIO. .l 11
I .
na doáçam que for feita per caufa de dote, ou per
razam de cafa mento , nem em comraél:o que feja
feito antre os litiguantes fobre eft1 coufa litigiofa,
de que antre fi litiguaífem , nem em partiçam que
feja 'feita antre alguüs herdeiros ·dá herança, f obre
que litiguatJam affi elles, como alguüs outros her'"
deiros , pola · g ual razam toda a herança era .feita li-
·tigiof.'l ; nem auerá luguar •na coufa litigiofa, em que
for feita nomeaçam d'algüa c.c:mfa que ouu~r d'andar
-per nomeaçam ; porque em tal cafe> poderá fazer a
nomeaçam fegundo ;fórma dos ·contratêos: ·ou .infli-
tuiçoes que fobre a <dita coufa forem feiras ; nem
.auerá luguar na coufa . litigiofa , que foJfe Jeixada
em alguú tefl:amento a alguü leguatario per vitt -cà,e.----
leguado : ferá porem em efl:e cafo o herdei1;o IG..Bri-
,guado a profeguir a demanda ja começada c0m ,o:
defunto atá 'fim; e vencendo o dito herdeiro a cle-
·manda , entreguará. a coufa. vencida ao leguatario ;
e fe o herdeivo for vencido na demanda , nom fetá.
obriguado paguar couf.1 algüa ao leguatario; e fe :g
:leguatario femir por feu proueito de fe apoer a ;.elfa
demanda, por fe nom fazer n.dla ·a lguü .c.onluio em
.feu perjuizo, pode-lo-ha bem fazer em ·todo ~Hem ..
po·que lhe prouer.

·• )
TI...
· rr2 O ~ART<?_ LivRo r:>AS ÜRDEN. TL~. XLVI.
T I T U L O · XLVI.
'! .
Da jiadoria de muitos.

SENDO .dous homens ou m;is 'fiadores de huu,


-fe ria fiança de€lararem a parte porque cada huü fe
obrigua, eífa ferá cada'huü obriguado a paguar, e
neffe mefmo modo e maneira que fe obriguarern;
e qua·ndo nom declararem a parte em que fe cada
huü obrigua ; em tal cafo ficará cada huü obriguaz..
do ;nfoli"do, e o creedor poderá demandar qual elle
quifer polo todo, o que·affi Mandamos que fe cum-
pra; [em embarguo de por Dereito Comum o con-
traíra feer dete_rminado; porque ~eremos que as
partes cumpram ndle cafo o que ficarem expreífa-
rneHte, "Ou o que fam obriguados como dito he,
fem mais feer nece!Iaria renunciaçam de algü a Ley
pera comprirem o que dito he : e Mandamos que
hinhuü Efcriuam ou Tabaliam ponha a tal renun-
ciaçam, pois fica de ninhuü efecro.
I E DIZEMos ·q)le nom deue feer demandado o
fiador em ninhuü -eafo, atee que o principal deue-
dor nom feja primeiramente demandado, e con-
denado , e feita execuçam em feus bens , affi mo-
ueis como de raiz ; e feita affi a dita execuçam , em
aquello que fe noV! poder auer polos bens do prin-
cipal poderá feer demandado o fiador: e efto que
dito h~ hauerá luguar no cafo, quando o deuedor
principal for prefente, conuem a fa~er, na Viila on-
de
DA . F I A Dó R I A DE M u I 'to s. I IJ

de for morador, ou em f eu Termo; e fendo el!e


abfente da dita Villa e feu Termo, em tal cafo po-
derá o fiador feer demandado e condenado [em o
primeiramente feer o princ:ípal deuedor. Peró po-
derá o fiador fe quifer auer efpaço pera hir buícar o
dito deuedor, e traze-lo ao Juizo onde com de rei to
deue feer demandado ; e trazendo-o entam de11e
feer feita a demanda contra elle , affi como fe foffe
prefente ·; e nom o trazendo entam poderá elle di;o
fi-ador feer demandado, e ~ondenado fem o principal ·
o ·feer primeiramente, como dito he : porem ainda
que o principal deuedor feja prefente, fe elle for po-
bre em tal guifa que nam poffa paguar a dita diui-
d:a, e o'] ~iz for de !io certificado, em tal caío po-
derá o·fiador feer demandado , conuem a faber , em
<lquella pane a que os bens do deuedor nom poderem
abàfiar. E bem aili poderá feer demandado o fiador,
ainda que o principal deuedor feja prefente, e aba-
fiante, e nom feja primeiramente demandado, quan-
do o fiador demandado polo creed6r neguaífe fee.r
fiador, cá em tal cafo por aili neguar a verdade
nom deue guozar do priuilegio por Dereito outor-
guado aos fiadores, conuem a faber, que nom pof-
f..1.m feer de!Tlandados polo creedor a menos que pri-
meiramente nom feja demandado o deuedor.
2 E NO CASO onde o fiador ou fiadores renun-
ciaffem expreífamente o beneficio defta Ley, dizen-
.do que fem embarguo della queriam feer demanda-
dos, e condenados fem o principal deuedor feer pri-:
~. ' Liv. JV. P rne1-
114 O ~AR To· LrvRo DAS ÜRD~N. TrT~ XL VIl..
meiramentoe demandadO e condet1ado ,, Mandamos.
que fe guarde o que affi antre as ditas partes for.
' acordado •.
3. E QyAN.DO fe· obriguaffe eome. :fiador _e ptin...
(;ipal paguador., ou como-principal paguador foo-
. mente. ,. pofto. que nom-renuneiaífe efla- Ley,. nem
·outra algüa, fempre poderá feer demandado ·pri,...
· meiro q_ue o priiKipal deuedor, pofl:o q_ue prefente·
eftee ,_e tenha por onde paguar.

T l TU L O XLVIL
liJo que confe!Jou-áuer: rúebido ~lgíia couja ,, e difj'oii' ·
,_ diz que a nom r:ecebeo~

·; ·a _U ALQYER peffoa q~e confeífar q!le recebeo: ·


·alguü empreftido poderá d-i zer J e aleguar ·atee fef-
fenta dias que o. nom receeeo ,. e poendo efta. exce-
.pçam ante de feífenta. dias,. nom feja coft.r.angido pa-
guar o confeffado- por eJ!e ;_e poHo que ao ttlmpo do
contraéto digua qt1e renuncia. a. eíle Dereito , . que
·diz que arte de feífenta·. dias poífam v.iir contra fua
-confiít'lm , , Mandamos . q~e taL renunciaçam feja ni-
nhüa ... e Defendemos aos_. Tabalia•e s, e Efcriuaés das
e
:Audiencias , quaesquer '0\}tfOS que taees obrjgua--
'ÇOeS 0uuerem, de ·fazer·, que nom efcreuam taees ie..
nunciaçoes , e fazendo o contraü:o percam. os Qffi,..
tios.
Do Ql'lE 'CONF. AVER RI!ClU! . E DES i'. N'EGli .l\. I rs
r PERÓ fe o creedar proua:r .por Tabaliam, e te-.
ftemunhas que prefentes foram . ao tempo do con-
traéto , ou por alguü modo licito, que realmente .e
com e1feélo ent.reguou ao deuedor aqu'ello que por
elle foi confeflad0 , ferá o deuedor confhangido a
paguar a contia em fua confiffam contheuda com
as cuflas em tresdobro , pois maliciofamente liti'-
guou; e nom lhe feja em Juizo recebida algüa outra I

razam, que aja mefl:er outra proua fóra da efcriptu,..


<ra da dita con~flam , pois negou o que tinha razam
de faber , e lhe fai prouado ~ e nom prouando 0 ,
creedor como lhe entregou o coritheudo na efcri..
ptur1-, ferá coftrangido a ·entreguar ao d euedor a.
efcriptura da obriguaça~, e faze-lo liure do .que nel•
la confeffou, [aluo fe -na ef<Zripmra da confi!Tam o
Tabaliam der de fi fee -, que eni fua p1·efença e das
tefl:emunhas o denedor·
.
ouue, e recebeo em íi empre•.\
ftado o confeft1.do por elle; porque em tal ca(o nom
'ferá ileceffario ao creedor dar ou.tra proua .aalem da
efcriptura da confiffam , pofl:o que ainda durem os
feffenta dias ; por que peis o Tabaliarn o affi affirma
deue inteirame!lte feer dada fee aa fua efcriptura
com as teHemunhas , fem outra algua proua ..
2. E sE aquelle que talcorififfar:n fez, fob efperan-
ça do que auia de receber , o neguar ante dos fef-
fenta dias, e pofer a dita excepçam fóra do Juizo
ao feu creedor , dizendo que nam recebeo coufa al-
güa.do que confeffou, 01,1 que m:m re~ebeo tanto
como confelfou ·, pofto que em Juizo no..m. feja .de ...
P :;z. .man"!!
u6 O OEARTO LIVRO nAs Oru5EN. TIT. XLVII.

mandado por feu creedor, proteílando o deuedor, e


declarando ante dos ditos fefienta dias, que nom re.
cebeo o por-elle confefiado, ficará perpetuada efia
excepçam , em tal maneira que ,nunca já mais o
creedor poderá dfeétualmente conftranger o deucd.or
. por tal confiffam, nem íe~s. herdeiros; faluo prouan-
do primeiramente que o dito ·deued.or ouue e rece-
beo o contheudo em feu confeffo. E fendo o creed.or
fóra da Terra, ou efcondendo-fe e~ tal mandra
que nom pofia ligeiramente feer achado ,. poderá o
deuedor fazer fua proteílaçam perante o Juiz foo-
.mente , e faça-o afii todo efcreuer ·pera o de fpois
nom recrecer algüa duuida • e fe puder aproueitar
c:m todo tempo da dita proteílaçam~
'. 3 E FIN AN oo-sE o deuedor ames dos fefierita
dias., poderam feus herdeiros aleguar eíla excepçam
.antes dos ditos feífenta dias acabados: e iílo mefmo.
Dizemos fe fe finar o creedor, e ficar viuo o deue-
dor, ou fe finarem ambos e ficarem feus herdeiros;
e paífados. os feffenta dias, nom ·poderam os her~
~ rleiros, poílo que menores fejam , aleguar tal exce-
pçam. E affi como eíla excepçam podem aleguar os
herdeiros do deuedor , afii a podem aleguar feus fia ...
dores.
. 4 E sE o deuedor defpois da confiff'am feita pa-
guar ante dos feffenta dias parte da diuida , ou em
alguü outro modo reconhecer fua confiffam feer
_verdadeira, nom poderájá mais poer nem aleguar
dl:a cxcepçam.
5
Do Q!!E CONJ, AVER RECE.B • . .E DESP. NEGUA. I J7

5 OuTRo si fe o deuedor ante da fua confi!Iam


era obrig~ado ao creedor por razam de algua com~
pra, ou aluguer~ ou d 'inj'uria que lhe foffe julguada,
ou por outro alguú modo , e nom por razam de em-
preíl:ido ,. e querendo o tal deuedor fazer diífo obri-
guaçam a feu creedor, confeilou que re€ebeo delle
empreíl:ado o que lhe da outra obrigtJa·çam deuia,
,em tal cafo ceifará a excepçam dos feffent'!. dias ~ e
nom íe poderá em ninhuu tempo aleguar; porque
cfta Ley foomente ha luguar nos empreftidos~ e cem-
fiffoes fobre elles feitas.
, 6 E POSTO Q.U E efta excepçam. fe deu a opoer an-
te dos feffenta dias ferem paffados ,. fe o deuedor
paffaãos os ditos fe(fenta dias quifer torilar e01 -fi o
c_a rregua de proua:r, que núJ}ca recebeo aquello que
em feu confe!Io he contheudo, em parte , ou em to-.
do ~ fempre ferá recçhido a tal proua: ; com tanto
.que o proue por efcriptma pubrica, nos cafos onde
íegundo No!fa Ordenaçam for neceffaría.
7 E EM. _todos _os cafos em que o creedor ft'a de
prouar a c_onfi{la-m do deuedor feer verdadeira~ po-
del<?-ha prouar por tefiemunhas, ou quaJ,quer outzre
. modo;: porque pois eUe já tem por fi a efcriptura,
e ainda he COI1fira!lgido a prouar que a confilfam
contheuda na dita efcriptura he verdãdei.ra , com
jufta razam deue feer recebido a pn;>u.a-la por q:ua.l-
quçr modo de proua que dar poder.
ps o- ~ARTo Lrvz;.o oASORoEN. Tx'r. XLVIII•
.T ' I ~ T U t 0 XL VIII •
.~ue o carniceiro, pádeira , e tauàneira fi)am crid~s
por Jeú j~ramento, no q~e thi deuerem de Jeus mejle~
res•

.SE:~~g~'G ca~niceir~' c~rne. ~ada


d.er a algüa pef-
·foa-, ou a pádeira o pam , ou a tauerneira o vinho~
·e demandarem em Juizo feus deuedores a que as
-ditas -coufas , fiaram , .pofto _que nom tenham te.fte-
rnunhas por que as ditas Giiuidas : poffa·m prouar.,
· -Mandamos que>'fejam cridos por. feu juramento,
c6m . tanto que a diuida nom paffe de feiscentos
·reaes •.
,I PERÓ fe o carniceiro. , padeira ., ou tauerneira
fe catar por huu anno contadó do derradeiro dia
<qHe. leixou de dar _carne, pam , ou vinho ·fiado a0 .
fe_u deuedor, fem nunca mais requerer à pagua dd-
le a aquelle a que o fiou, féndo elles ambos no Lu-
guct1i'' , e nom· tendo alguü legitimo impedimento
por que o nmn pode -requerer , em tal cafo Manda.:.
mos que nem feja crido ~u crida per feu jmame':Jt0
em ninhüa quantidade, mas foomeote poífa de-
mandar aquellp que prouar ; e em efte cafo valerá a
.prq_ua .d;ehúa teftemun!liJ.a, ou a cohfiffam da ·parte
·poJl;p que feja fóra. do-Juizo, e em abfenóa da outra.
parte, ou outr.a -·quà.Iquer · femelbame proua em a
contia dos feiscentos . reaes~
I
TI-
SE VALERA'" A OBR!G. OU CONTR:ACT. DO ~!tESO. JI 9-·

T I T U L O XLIX.

Se valerá a fJbriguaçam ou conlrallo feito polo pre.fo


na prijam.

SENDo' alg,uú homem prefo fem mandado ·nem;


auétoridade de J ufliçÇt, e pofto em carcer priuado,
nom fe poderá obriguar a aquelle que o affi prendeo •.
ou mandou prender , nem a outra n.i.rihúa pefioa ; e
fe o fezer norn -val~a coufa algbia , nem aja efeéto al-
guü :. e fendo prefo per auétoridade de Jufl:iça em
cadea ou em Caf(elo, fe elle quifl':r fazer obrigua-
çam , ou alguú. c<mtraéto a aquelle a Cl:ljo requeri ...
mento :foi prefo, o·tal contraéto ou obriguaçam nom
· ·V.afer:á coufa algúa , f.al I.! O fendo 'h i prcfente b ] uiz.
' que o mandou . prende'r )· ou de feu feito. conhecer ;
...() qual fe enformará de fua prifa.m quanto b~m po-
,der, fe foi: prefo jufl:amente , e fe com razam quer-
fazer o dito contri:této ·, e a ffi lhe de e pera eIh fu;~­
au~oüda.de ou norn ,. e dando-lhe fua a:uél:oridade·
.valerá efie comraéto aíli· como fe o-fezefie folto.
·E efl:-o nom · auerá Juguar no que for prefo fobre .fua.
menaje em fua cafa •· ou. pola Villa , porque poderá.
-contr.aétar COI1\0 que fo.m~ fo.Ito~
I E. EM· todo cafo onde o Senhor de algüa Ju-
.~isdiç.am mandar prender alguem em a dita fua Ju-
_r.isdiçam ,. nom podcr.á effç p-refo fazer obriguaçam~.
-nem outro. contraél:o que:feja em proueiro do, dito.
&nho11,. ern,'l.\:lanto-affi.for p~efo;. e fa:zendo-o,Man;.
da...
120 o 0EARTO LIVRO. DAS ÜRDEN. TIT. L.

damos que o contraé1:o feja ninhuú, pofio que feja


feito por auétoridade de Juftiça. -
i ~ E Tooo HOMEM prefo poderá fazer obrigua-
çam, e qualquer contraéto com quem lhe aprouuer,
e valha o contraéto por elkfeito, aili como valeria
fazendo-o · elle falto , com tanto· que os nom faça
nos cafos nefta Ordenaçam defefos.

. . TITULO · L.
-~
Dos que tomam forçijámente 'a pojJe da couja
que oútrem pqflue.

SE algüa peffoa forçar - e esbulhar a outrem da


·pofie d'a·lgüa coufa, ou herdade, ou d'outra algua
poíli!fam , nom fendo primeiramente citad9 e ouui-
do corn..feu dereito como fe per Dereito deue fazer,
o forçador perca o dereito que na couía forçada
teuer ..de que esbulhou o que a pofiuia, o qual fení
aquerido e apricado ao esbulhado, ao qual feja lo~
guo tornada e reílituida a poffe da couf.1 de que foi
esbulhado : e fe o forçador nom teuer dereito na
coufa em que fez a força, paguará aÇ>.forçado outro
tanto quanto valer a coufa de que· o esbulhou , e
aalem defto paguará o forçador em os ditos cafos a{)
forçado todas as perdas , e dãnos que na dita força ·,
ou por caufa della em qualquer maneira receber:
e pofto que o forçador digua e alegue que he fenhor
da
Dos QyE TOM. I'ORÇOSAM. A POSSE DA ··c ous. 'E TC. Iil:

da coufa forçada, ou lhe .perten,c e teer em ella al-


gl!lu dereito, nom lhe feja .r ecebida tal razam, mas
fem embarguo della feja Ioguo conllrangidoreftitui-
la ao que a polfuia, e perca todo. dereito que nella
tin~a polo, faze.r por fua pr.o,pia força , e íem auéto-
ridade de Jufliça como dito he-• .
I E ESTo qwe diw he dà pena de perder o de-
rei to, que na ·coufa tinha , at:~erá 1uguar na força
verdadeira, porque fe foffe quafi forç~ , affi como fe
alguú ocupaífe a pofle. o'algüa coufa que efteuelfe
vagua fem feer corporaJmente por outrem poífui-
da, que o forçador cuidaua feer a-lhea, e defpois por-
certa eil.formaçam achaífe qu·e era fwa, em tal cafo
ferá ·elfe forçador recebido a prouar fumaria mente
CGmo elfa ·couiã he fua .; e .fe o prouar a.tee quatro
dias perentoriamente por efcriptu{'a pHbrica, ou por.,
teftemunhas nocafo ·0nde por Noffas Ordena~toes po-
de feer ·recebida pmwa de teft-emunhas, ferá releuado
da dita pena , e de qualquer outra que em tal cafo
coubefle. Porem fem embarguo de o affi pmua.r ferá
0 que for esbulhado <reft·ittúdo a fua poffe , e ·fend<l
refl.ituido poderam lit-iguar ordinariamente fobre a
propiedade; ·e .nGm o prouando dentro dos quatro
dias como era fua, perderá de todo. o dereito que
na dita coiafa tir.tha, fem lhe feer dado Hunca mais
tempo p~a pod-er .prot:wr .como era fua.
2 Ür:rTRo s-I nom eacorreram em as ditas penas
aquelles, a que he por Dereito outorguado.~ que pof-
Liv. I~ Q_ fam

' .
1n. O ~ARTO LtvRo :o~s ÜRDEN. Tn:. L ..
fam cott1et~r força , al1i como fe algüu homem fór·
fo{çado da ·poffe d'algGa couftl' ,. e elle a qt!ifer lo-
guo· por força recCDbrar , pode-lo-ba per Dereito fa-
zer fem encorrer em pena. E qt~anto tempo fe en...
t enderá efto logue , deue ficar em ai'uidro do Jul~
. guador ; o qual: deue fempre efguardar a qualidade
ea coufa forc;:ada ,. e o lwgua·F onde cíl á , e be~,n affi
das peíToas, affi do forctador eomo do. forçado; por..;.
que fendo a forçp. feita por huti homem de pequena·
condiçam a outro femelbante ,:em tal caf~>- deue-f~­
entender a dita palaura Jogue, conuem a faber, ante
que o dito forçada- fe oCtipe ém alguü omro aéto dí-
uerfo e feparado do aéto da -força·; e fe a força foffe:
feita por alguii. Fida-lguo 1 ou. Caua-leiro , eu q.u al-
quer Óutra peff'oa poderéfa ,_de alguà. coufa <le gran..
de fuftancia·.. e- em l'uguar onde o forçado nom po-
c;leffe tam a-f inha chamar, e ajuntar tanta gente com,
que podefl"e Fecobrar a coufa fol'çada-, em tal eafo.
fe deu~ entender a dita paiaura loguo , conuem a fa ..
ber, que aja o forçado tarh grande efpaço pera-co-
brar e auer a díta coufa, em que conuenientemente·
poíla pera illb ehamar feus. parentes e amigpos , afli
que -todo efto. deue· ficar em-aluidro, do -Julguador »
porquanto poderá. ifto aeontecer antre. taees peff'oá.s , _
e fobré' tal coufa , _q_ue poderá: abafiar pera o q1.1e di-
t o h e dous ou tres dias , e·pod·e rá acontecer antre·
taees peífoas e fob-re -tal coufa~ ,_ que nom, abafiamm·
. pera eUo dous. mefes.
Dos QlJE TOM. FORÇOSAM. A :pos. DA cous. ETc. t-2..J

3 OuTRo ·st [e ·a1guu homem :comprar aigúa


;coufa , ou a -ouuer por via de cf<:aiznbo -,ou doaçarn.
pu por outro femelhante , e em a efcriptura do con-
traél:o lhe foífe dado poder por aqu.eHe de que a
dita coufa ouue _pera tomar e auer a paLre delJa, di-
mit-indo de ·f i, e defemparaado a--dita pofle, em
taees cafos e cada -hu.U delles aquelle' qye _a dita
'Coufa oliue , poderá aue'r ·e -cobrar a poífe ·della,
nom achando quem lha ·contradigua,; e·os Taba-
i iaes 'l he poderam dar dtormentos puhricos de ·co-
mo affi tomaram a dita poJfe, fem outro maAdado
<!e Juftiça , vendo ,pri-meiramente as Cartas das -com-
pras~ -e efcaimbos , 'OU .doaçoês feitas fohN: as ditas
coufas a aquelles que aíli quiferem tomar as ditas
poífes. E oom vendo dles as ditas Cartas, -ou alguti
·OUt'l"o 1ufto t<itu,Jo, por que lhe pe-rtença a coufa de qu~
. '<luerem filha-r a poíie, Mandamos aos di tos Taba-
~iaés que lhes nom dem ·eítorrnento de taees· pofles ~ ~
.que aíft quiferem tornar, fem efpecia1 mandado e au..
doádade de Juftiça , e fazendo-o em outto modo
:pagua.ram ·a perda e dãno aa parte a que pertencer
que (e lhe fobre e11o ·r ecrecer; -e aalem defto Nós Ih())
Eftranharemos como aaquelles qu·e palf.1rn Nolfo
Mándado.
4 E s·ENDO aos d'itos Tabaliaês mo{lrado a-Igu(i
juCl:o titulo affi comQ teftamento, ou cedicilo, 011
Carta d'afo.rament<:> fe-i ta por o fenhorio da coufa ,
por que fe moftre pertencer a :coufa a aqueUe que
-deUa quer toma.r a poífe, pofl:o que aa efcr-iptura.
Q...2 nom
·12>4 O ~ARTO LrvRo :DAS ÜRDEN. TzT. LF.
nom lh€ feja: dado poder pera "tomar a: poffe, nom
.leixar.am porem de dar ef:l:ormento de t.a.l pofie-,.
'pofto q,ue fe tome f em. outra auttor-idade de Jufriça,._

------·----------------~-------------
T I T U L· 0: LI •.
Da mudança que fi fiz da er.a· de Cifar· aa do Nati:...
menta de No/]o Senbor J ESU Chri)lo•.

E LREY Dom Joam o Primeiro· da· muit:ex-


€elente memoria fez Ley , por que Mandou a. todos'
es Tabaliaes , que fob pe-na de perdimento dos·,
Officios pofefiem em todas as Efcri pturas qJ..Je fe-
zeífem. Anno do Na cimento de Nrf!o Senhor J ESU Chri-.
fio , affi. como antes foiam poer Era de Crfar ; a qual
foi pubricada. em Lixboa, aos vinte e dois dias do . ·
mes d' Agofto do anno- do Na cimento de Noífo Se..
nhor JESU Chrifto.d·e mil e quatrocentos e vinte e
dous annos , no qual tempo aodaua a era de Cefar·
em mil e quatrocentos. e feffenta anno~ , a-qual Ley
Mandamos q_ue em todo. fe. g\larde fob a dita pena.,.
-·'
Dos QYE" POD. SEER PRES. POR DÍVID. CI:V. JlTC. 11!5

TITULO LH •.
Dos q.ue podem Jcer·prifOs por diuidas ciiw"s, ou cri';..
minaes ,_ou recomendados 11a cadeaL

POR diuida algtl:~


duei púuad·a defcendente cfe·
contraéto., ou quafi contraélo,.ern que o deuedor nom
tenha-cometida malícia , nom deue feer alguú prefo
antes de feer condenado por fentença definiti.ua que
paífe em. coufa julguada:, pollo que nom tenha por·
E>nde pague, faluo fend-o fufpeito de fugua, fegunde>
Diífemos no ter-ceiro Liuro no Titulo Do reo que he
obriguado a Jatisdar em Juizo por nom pqjfuir bens de -
r:aiz: e o Juiz, oú Corregedor que-o contra·iro fezer, -
Mandamos que pague cinco cruzados~ arnetade pera
quem o acu~r, e a outra metade pera· as obras de -
Concelho onde eíto acontecer.
1 E sENDo· o deuedor condenado por fentença
que pa-ífe·em coufa. julguada, -faça-fe em feus bens
€xecuçam, e nom lhe achando bens que abafiem
pera a di~a, condenaçam, em tal cafo deue o d ita
deuedo" feer prefo e·reteu-do na cadea atee que pa ...
gue o em que for·cond-enado; peró dando luguar aos
bens na fôrma: que por Derei'to deue, íerá· folto fe-
gundo: T ~mos dito no Titulo Dos que dam -luguar ao _r._ ·
hens~
2 E sE a·lguu deuedor prometer a feu creedo11
lhe paguar a díuida a cer-to tempo , e norn lha· pa•
guando. que feja. prefo· ate.e que·lha pàgue ·, fe·o di-
to.
126 O ~ARTo LrvRo .oAs ORI!>EN. Tu. LII.
to deuedor nom· paguar a dita diuidà ao tempo a.
que .fe obrigou, deue feer p·refo por mandado daJu-
íl:iça , fendo pe-ra ello requerido , pofu> que alegue
e mo.íhe ·que tem 'bens por onde pague,.
3 E c~NCERTA!'!IDO·SE o creedor com o deuedor,
ql:le norn paguanclo o deueclor a diuida a tempo cer-
to. , que o cr.e edor o poífa por fua prop'ia -auétori-
dade prender , Mandamos que ta·l conliença nom
valha. nem poffa por pode.r della o creedor pren-
der feli deuedor. mas faça requerimento aa Jufiiça,
·a qua·l viA:a a dita comtença o mande prender, pofl:o
que alegue e mofl:re q1:1e tem beris por onde p~gue.
Per-ó fe o creedor achar feu deueclor fogindo., . ou
q-uere.n do fogir por lhe nom paguar a diuida, em
tal cafo fe o creedor 11om poder auer ·c opia e pre-
fença d0 Juiz pera' o mandar prender, elle mefrn()
por fi o poderá prender, ou ·mandar prender ·em to-
do cafQ , .leL-tando-o .loguo aa prifam do Concelho .,
e requeira ao Juiz que mande nelle poer boa guar-
da , recoatan.do-lh:e a caufa por que o prendeo ; e fe
o reteuer em qualquer luguar fem o leuar .aa dita
prifc1.m do c~mcelho por mais d~ vinte . e quatr()
horas , eAcorrerá .em pena de carc-er priuado , fegun-
do Diremos n0 ·quinto Liuto rw Titulo Dos que fa ..
zem cm-cer priuadó.
4 E QyANDo a diuida for Noff'a, ainda que de..
cenda · de ·cou!a ·ciue1 , zffi <:orno de contrad:-o , ou
('_!Uafi ·contraéta , poderá o deuedor feer .p refo por
dia diuida atee. que :p ague da cadea ~- e norn poderá
em
Dos QYE PoD~ SEEit PRES. roR DIVJD. nv. E'Ic. 12·7

em tal cafe feer folto pofto q,u e queira dar luguar


aos bens.
5 E sE a diuida decender de rnalefióo ,. ou quafi
. maleficio , em que alguu feja condenado , deue o
deuedor indifl:inétamente feer prefo atee que pague
da cadca. E por tanto fe algüa coufa fo!Te pofta em
.guarda , e conde filho ,. e o depoútario defpois FCCU•
faffe de a. entreguar ao·fenhor fem jufta e 1-id]ma ra-
zam , ou vfaffe- della fem vontade expreffa do fe-
nhor) em tal earo deue effe depoútaria feer pt•efo ,.
atee que dà-cadea entregue a dita-coufa ,. e pague e
.fàãno que em dia fez por-dellá. vfittr cc.mtra vontade
Cile feu dono , e nom ferá folta· pofte que a. ello det'i!
fiadores , nem poderá dar luguar aos béns :., porem
fendo ddle querelado em f&rma deuida ; auerá a
pena de bu!r:am e inliçador,
6- EM todo cafo onde algGa peffoa· for prefa ju..
fiamente, q~.:~er feja. por coufa ciuet, q!Jer criminal,.
poderá. feer recomendado na cadea por qualquer
diuida, pofl:a que deeenda, de feito cilael-, eom tan-
to que o creedor amoftre loguo a diuida por efcri-
pr-ura pubrica,. q~:~ando a comia for ta{ em que fe re..
queira e_fcriptura·;,e norri €heguando aa dita contia , .
deue faz-er certo da diuida por teftemunhas atee
dous dias perentoriamentc) e nom amoftrando a di-
ta diuida por efcriptura , ou teftemunhas como dito··
he , non'l deue effe deuedor' feer reteudo n~ cadea:
polo d ito embarguo. E em todo cafo qqe o deuedor.-·
poff.1. ft!êr. recomendado. na. cadea , . poendo em Jui'-
z~
' I2S o QgARTO LIVRO DAS ÜRD•! N. T :IT. LIU.
zo penhores abafraflltes aà .dita diuida por que for
recomendado , ou dando luguar aos .bens; nos cafos
em que polia fazer ceflam • deue loguo feer folto fe
por a.l nom for prefo.

------·----------------~ ----~

T I T U L O LIII.
Do que mgeita a moeda d' E!Rey.

'Q uALQ!}ER peífoa que engeitar Noíia moe-


da verd:ldeira laurada de Noíie cunho, [e for piam .
feja prefo , e açoutado pubricamente, e .fendo ho~
mem em que nom eaiba açoHtes, feja prefo e de~
gradado .pera cada hliü dGs NGffos Lugua-res d' Afri-
ca por dous armas ; e eíl:a me.fma 1.3ena auerá o que
engeüa.r a moeda d'ou.ro de fóra do Reyao que ~
eíl:es Noffos Rcynos vier. Porem fe as ditas moedas
d'ouro affi dos NofTos Reynos como de fóra delles ,
e bem aili a Noífa moeda dos t.ofl:oes , forem de
menos pefo do que deuem_ feer fegundo fua Ley e
pefo, pode-1-a-ham engútar fem pena ?lgúa .; fa!uo
fe a parte , qt1e a dita moeda der, quifer refazer a
juíl:a valia do que menos pefa ; porq~:~e. em tal cafo
a norri poderá engeitar, e engeitando-a encorrerá
nas penas fobreditas,
.z E .POR QY ANTO Somos enformado que muitas
partes mal ic iofamente bufcam ceptiis pera paguar
fuas diwidas" Auemos por bem que as partes , qu~
ou-
DAs DOAÇOENS ·Q!JE I-IAM DE SER IMSINUADASt- 12~

ouuerem de receber dinheiro , nom fejám obrigua.


dos a receber em paguamento de fuas diuidas mais.
que a quarta parte em ceptiis , e o mais lhe feja pa-
guo em ~oeda d'ouro ou prata. E pofl:o que alguüs
compradores , e v.~ndedores , ou quaesquer outros
~ont.rahentes fcjam concertados que fe aja de paguar
.ce.t~ta ·moeda d'ouro, ou de pra~a, ferá o vendedor
obriguado receber qualquer NoíTa moeda laurada.
do Noflo cunho, ou dos Reys que ante Nós foram •
naquelle prç.ço .e Yalia, em que pç>r Nós for taixada;
e nom a guet:endo affi receber o dito vendedor, ou
qualquer outro a qu.e fe aja de paguar, encorrerá ern
01 .dita ;pena.

-'
ir l T U L O LI V.-
Dtts doaçoes que ham .de ft'er i1ifinuadas , e confirmadas
por E!Rey~

'TODAS as doaçoes affi de bens moueis , como


de .raiz, .como de huU-s e outros juntamente, que
pafiarem de trezentos cruzados d'oum, ou fua verda-
deira valia , femHl infinuadas e aprouadas por Nós ,
ou por os Defembarguadores que pera elle forem
deputados , e nom fendo infinuadas nom valeram ;
:L.tluo atee ·a dita comia de trezentos cruzados d'ouro,
e quanto ao mais que fobeja da dita contia nom va-
. leram <:oufa algüa, ·nem teram viguor, affi como fe
Liv. lY. ·R nun-
_130 o ~A'RTO LIVRO' DAS ÜRDEN. TIT. LIV.
nunca foffem feitas -~ e efto que dito he ~eremos
que aja luguar nas doaçoés feitas por homens ba-
r.oés . . E quanto h e aas doaçoes feitas por molheres
que viuam por fi, qller fejám folteiras; quer viuvas.
Mandarn.os que fe a -doaçam paffar cle cen-t:o e cin. . .
coenta cruzados d'ouro , ou fua verdadeira valia •
que valerem ao tempo que a doaçam for feita , feja
infinuada ; e norn fendo infinuada , valha foomente
em quanto cheguar aa dita q1;1antia de c:ento e cin-
çocnta cruzados, e ao q~e mais fobejar nom valha,
nem ·aj,a .alguü viguor, nem ·efeéto, a!ft como fe fei-
ta nom f0ffe.
r A Q!JAL infinuaçam fe fará, mandando tirar
inq~iriçam, em a qual primeiramente fcrá pregun-
a
tado aquelk que fez doaçam J fe a fez per alguil:
enduzimento; arte, ou enguano, ou medo, ou pri-
fam , ou alguü outro conluio, e fe lhe praz que a
doaçam per elle feita feja per .Nós :confirmada -~­
aprouada; e bt:m affi deuem feer preguntados al-
guüs ieus vezinhos, que te1~ham razam de faber co..
mo ·a dil!a d·oaçam foi feita. A quàl inquiriçarn vifta
por Nós, ou por os ditos Defe·mbarguadorcs, fe por
~!'la fe mofl:rar que a dita doaçam foi feita bem ) e.
como deu ia , e que praz a aquelle que a fez que fej~
por Nó11 confirmada, feri h e~ ha dada Noffa Ca.rta de
col'l-firmaçam, e d'outra guifa nom.
2 E Q!JANT-o' HE aas doaçoês por Nós feiras
Mandamos, que tanto -q1:1e per Nós. forem >affinaâas,.
eu por 'Noífos ·Oíflciaes que per-a eHo fam deputa...
'dos,.
DAS CIOAÇ. E ALFORR. Q!TESE PODEM REVOG. l.Jf

q,ps , e a_ífeladas com Noffo feio, e pa.ffadas per


l':Joffa Chanc~laria , fejam firmes e vaiiofas fem ~u­
tra infinuaçam, porque ps aélos por Nós feitos
nom r~querem outFa a1güa foleaidade de Dereito.

TI« TU L O LV.
J),rs doaçofs , e a!forria., que fe pód.an 1'euogrtar por cat![a
, de ingratidam.

AS doa~o~s puras e. firnprezmente feitas fem al-


·güa coHdiçam ou caufa palfada, ou prefente , ou
futura, tanro que fam fe itas per outorguamento da-
<:)Uelles que as fazem, -e aceitaçam daquelles a qu<e
fam feiras, ou do Ta-baliam, ou peífoa que por De-
•:tttito em feu -Home póde acei ta-r , loguo fam finnes
·e perfeitas, em tal go .fa , q ue já mais em tempo a-1-
..gu ü. nom podem íeer reu?guadas. Peró [e aquelles
·a que foram feitas forem ingratos contra aquelles
. -que lhas fezeram, -c om j4-fia razam lhes podem por
·d1es.as ditas doaçoés feer reuoguadas por caufa de
ingratidam , e as caufas de·ingratidam por que as
-ditas doaçoes podem feer reuoguadas, fam eftas
.que fe feguem.
·1 PRIMEI"RAMENTE fe o donatario diffe ao doa-
·dor, quer em fua prefcnça, quer em fua abíencia al-
güa graue injuria, am como fe lha dilfeffe em Juizo'
ou em praça perame alguus hqmens -bons de· que o
'R 2 rloa-
132 o ~ARTO LIVRO Dí\S ÜR,DEN. TIT. LV• .·
doador recebeffe v'erguonha; e fe for duuida fe a
dita injuria affi feita he graue, ou noin , efto fique
em aluidro do Julguador•.
2 A SEGUND~ çaufa he, fe o ferio -com páo,
pedra, ou ferro , ou pofer as rnaõs fanhudamente
em elle com te_hçarri de o irijunar, e defonrar. · ;
3 A TERe ErRA, caufa he; fe o donatario trautou
neguocio, ou ordenou algua coufa porque vieffe
grande perda e dãno. ao doador em fua fazenda. ain-
da que feu prepofit0 nom ouuefie real efeéto; por-·
que ~m tal caío fua rnaa tençam deue feer au.i.da
por confurnada , [e acerca dello fez todo feu poder-,
ç nom efteue p€:r elle. de viir a final perfeiçarn.
4 A QVARTA caufa he, quando o donatario por-
alglía maneira infidiou acerca de alguü perigÚo e
dãno da peífoa do doador, affi corno fe elle por fi ,
ou por outrem lhe procu.raífe a morte , ou perigua
de feu corpo , ou eílada: ,. pofto que-f eu- prepoilto-
nom trouxeffe a perfeiçam ,, fegundo h~ declar.adQ,
no capitolo precedente,
5 A ~!NTA cau.fa he ,·quando o donÇttario-pro-.
meteo ao doador por· lhe fazer a dita doaçam de
lhe fazer ou cornpri-r algüa coufa-, e lha. norn fez:,_
nem comprio corno pr-ometeo.
6 E fe algúa rnolher- dc[pois dn. morte dl: feu·
marido fezer doaçam aalguú íeu filho, que -teuer -do
qito (eu marido já finada, e defpois da dita-.doaçam
,{e cafar com outro marido , fe deípois . efie filho-for
· in~rato contra ella ~ poderá ~11~ reuoguar effa doa-
Ç<\m

.
DAS DOAÇ. E ALFORR. QyE S.E PODEM REVOG. IJJ

çam por cada hua ddl:as tres caufas feguintes de


ingratidam [comente. A primeira, fe elfc filho infi-
diou a vida de fua madre. A fegunda, fe as maõs pôs
irofamenre nella. A terceira, fe ordenou algüa coufa
em perda de toda fua fazenda: E nom p';derá re-
uoguar effa madre em. .n inhuü . outro cafo tal doa-
çam affi feita a feu filho por caufc1. outra de ingra-
tidam, por quanto he perfumpçam de Dereito, que
pois ella deípois da doaçam feita ao filho fe cafou
çom outro marido: ,_ ligeiramente a (eu requerimen-
to fe poderia mouer a reuoguala , e por tanto lhe
foram coartadas as caufas da ingratidam , por que
podeffe reuoguar a dita doaçam.
1· E SE alguú homem forrar feu feruo, liurando-o
de toda a feruidam, e elle defpois que for forro (que
fe chama li/Jerto ) cometer· ingratidam contra aquelle
que o forrou (que [e chama patrono ) fazendo-lhe al-
gua ingratidam- peífoal, ou em fua prefença , ou
em abfen_çia, quer feja verbal, quer de feito, e real,
poderá e!Ie patrono reuoguar a liberdade que deu a
effe liberto, e reduzi-lo á feruidam em que ante era;
~ bem affi por cada hua das outras caufc1.s de ingra.
t-idam, per que o doador pode reuoguar a doaçam
feita ao donàtario , como emcima dito Temos.
· 8· E BEM Assr Dizemos, que fendo o dito patro-
no pofto em catiuei,n?, e o liberto fendo abaftante
pera iffo o nom remiffe , ou fendo em necef!idade
de fame, e o liberto lhe nom focorreffe aa dita ne-
c~ffidade, tendo tal faz.enda pe.i: que o bem p~dç.ífe
~ · fa..
134 O 0:2Atn'o LrvR.o DAS ÜRDEN. Tn. LV.
fazer, poderá o patrono em cada huü dos ditos ca-
fos reuoguar a liberdade ao dito liberto aili como
· ingrato , e reduzilo aa (eruidam em que ante era.
9 E sE o doador de que emcima Faláínos, e o
patrono que por fua vontade liurou o feruo da fer-
túdam em que era pofto , nom reuoguou a doaçam
feita ao donatarie, ou a liberdade que ·Gieu ao libe.r -
to em fua: vida , por razam da ingr.atidam coatra
elle cometida~ ou nom moueo em fua vida deman-
.da ·em Juizo .pet:,a retstoguar a doaçam,. ou liberdade,
- nom p0derarn defpois de fua morre_feus herdeiros
tal reuoguaçam fazer. E bem affi nom poderá ~
doador reuoguar a doaçam ao herdeiro do donatario
por caufa da ingratidam polo dito donatario come-
.tida; pois que a norn reuoguou em vida do donatá-
rio que a dita ingratidam cometeo, por que dl:a
prouifam pera reue>guar os benefiCios por c,aufa de
ingratidam foomente he outorguada a aquelles que
os· beneficiQs deram , contra aquelles que delles os
beneficios receberam, [em paffar aos herdeiros, nem
.contra os herdeiros de hüa parte nem da outra.
IO E POSTo Q.UE na doaçam feita por qualqnct
-doador de qualquer beneficio feja pofta algi1a clau-
fula , por que o dito doador prometa nom reuoguar
" a dita doaçam por cauf.~ de ingratidam , tal claufu-
1a nom valha ooufa algua, nem tenha efeél:o mais •
.que fe pofta nom fo[e; e fem .embarguo della a dita
.cloaçam poffa feer reuoguada por caufa da ingrati-
:dam , fegundo Temos decJ.a.rado ; porque fe tal
dau-
0 1\S COMP. COMO E Q!!ANDO SE PODEM l='AZER. 135
claufula valeífe, prouocaria os homens pera ligeira-
. mente caírem em pecado de ingratidam.

T I T- U L O L VI.
Das compe'!/áçoes , como e quando f( podem fazer
de 'bfia diuida a outra.

CoMPENSAÇAM quer tanto dizer como dd ...


conto de húa diui.da .a outra, e foi introduzida com
jufta razam, e equidade, po_rque mais razoada coufa
he nom paguar homem o que nom deue , fe lhe
outro tanto he deuido, que pagual~, e defpois re-
petilo como coufa que nom era deuida. E a com-
penfaçam ha luguar affi na auçam real, como na pef-
fdal, com tanto que fe alegue de quantidade a quan-
tidade ; _e quantidade quer dizer, coufa que confifte
em conto, affi como he o dinheiro; ou pefo,.affi como
fe.uo, cera ; ou medida , affi como vinho , a.zeite ,
e mel, e outros femelhantes: e -por tanto fe huü
homem he obrigu;tdo e deuedor a outro em certa,
quantidade de dinheiro~. vinh9, azeite ,ou cera, ou
d'ou~~as femelhantes eoufas, o qual lhe he deuedor,
€tn outro tanto, ou mais ou menos, defconte~fe h.üa.
diuida pola outra , em quanto ambas concorrerem ,.
c em a maioria fique falua a diuida a aquelle a que
mais f.or deuido.
1 E .ES TO n9m aucrá 11-lguar na guarda, e condi...
:fi..
'IJ6 o ~ARTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LVI.

filho' am como fe alguú demandaffe certa quanti~


dade que teueffe dada em guarda , e condifilho, c o
outro diílefle, que elle lhe deuia outra ta nta por ou-
tro algtJÜ titulo que nam foffe femelhante, em tal
cafo nom auerá luguar a com,penfa.ç am , mas ellt!
ferá obriguado a lhe entreguar todo aquello que lhe
.deu em guarda , e ficar-·lhe-ha faluo todo feu denei-
to acerca daquello, que lhe elle deue.flc de qualquer
outra obriguaçam; por.que o contrac1:o da guarda e
condenlho he de tal natuifa, que nom ·recebe .em fã
compe1afaçam alg;tla Gle ninhuü cafo ~ que norn feja
priui:legiaclo cemo elle..
2 NEM auerá Iuguar em todo cafo cle força,
r.oubo , furto, ou qualquer outro femelhante, por que
algüa quantidade alhea fo fie .a feu poder .per algúa
arte de enguano .; porque ,em tal cafo fe ·lhe feu do-
no demandafie e1Ta quantidade, nom lhe poderia
opoer compenfaçam de qualquer outra, em que et1e
foífe obriguado per qualquer titulo que feja , faluo
fe elle foffe ebriguado per f<unelhaatc modo· de for-
ça, ·mub0 ., ou furto ; porque entam fe faria compen-
façam de húa quantidade aa outra~ em quanto arn-
bos concor·reffem.
3 . NEM auerá -luguar quando a algüa peífoa he
cleuido a1guü mantimento , poíl:o que confifta em
quantidade, .qu~r Jhe feja deu ido per contra-c.'to., quer
por t.efl:amente , otJ por outro qualquer modo; por,.
~ue a diuida do mantimento he tam fauorauel , que
~ .feu fauoi nom padece fer-lhc;: .opoíl:a al.güa com-
pen-
DAs COMP. 'COMO ~;-tl..Y ANDO SE 'PODEM FAZER.. I.J7·
penfaçam de algúa outra diuida ~ inda ql.le feja de
quan~idade.
4 NEM auer.á Iuguar, -qna.r:tdo a diuida de que fe
faz compenfaçam he Ü1certa ., e a diuida principal-
mente demandada .h e fiq1úda, certa., e clara por con~
fiíian-1 da ,parte., ou por algüa outra proua a ella
dada.; porque em tal cafo nom fe deue fa.zer com-
,penfaçam da cliu-i.da da quantida-de que he incerta
e ·n:om liquida a aque11a. que he certa; íaluo fe aquel-
_le que aleguar tal compenfaçam fe obriguaffe pro-
ua-la atee noue dias perentoriamente, e em outra
maneira nom lhe ferá recebida tal cornpenfaçam.
. 5 NEM auerá lY_guar quando algüa áiuida de-
quantidade for deu ida a Nós, ou a algua Cidade.,
ou Villa; faluo fe •t'm alguüs cafos I e achac por De-·
.reii:o que íe póde poer c0mpenfaçam aa diuida que
be deuida a a1gúa Cidade, ou Vifla.. .
6 E SI> em cada huü dos ditos cafos efpeciaes~
, em que fe nom recebe compenfaçam, for opàfl:a
compenfaçam de alguü outro cafo efpecial. far-fe-
ha compenfaçam de huü cafo a·outrC); affi como fé
fom~ demandada algüa quantidade pofl:a em guar:..
:da e condifilho,-que he .cafo priuikgiado, e .foffe a:l-e-
_guad_a compenfaçamde algüa outra quaHtidade rou-
bada , ou forçada , de1:1e-fe' fazer compenfaçam de
.. h lia a o1:1tra ,; e bem aili em outros femelha11tes çafos
priuil:egiados.. ·
7 E POSTo QgE a compenfaçam aja foomente lu..;
.guar de quantidade a quantidade coma dito he, e
· Liv. IV. - S na~
· 13~ O ·QEARTO LIVRO: DASÜRDEN. liT. LVi..
Ílam de hüa efpeck a·outra .. E efpecie he toda·a cou--
fa que fe nom cuftuma dar por conto ,. pefo, ou
medida .. affi como h.e huü. caua)"o., ou huu homem
feruo ,. ou huú li um, e outras fe.melhantes. Peró fe-
huu~ homem deuefle geetalmcmte a· 0utro h11ü fer-
uo •. ou huií caualo ,. noin declarando ma·is. huií ·que-
outro, em o qual cafu feria. oorigtJade de the paguar
huú feruo., ou huu caualo que foffe comuna!-, que
.n.a m folfe muito vil, nem auantejadu, (>U fua verda-
deira ex ti-maçam , concerta.ndo-fe as partes.de fe pa-.
'g uar a dita extimaçam ,. ou ferido a.ffi julguacto por
íentença: , em tal <i:aía. bem fe poderá, a. dia opoer e·
l~zer compenfaçam rl'outra quantidade, fem ·ernbar-
'g uo que pareça principalmc~nte fcter deuida a. dita-
efpecie ;_por. quanto fendo· a extimapm della efco-
'Ihida por as partes, ou· feita a condenaçam della,
cwmo ditG- he ,, já a dita efpecie h.e conuertida em
·q uantidade •.
g, E B-EM .ASSJ. f~ fàrá ,.quanào cellta· efpecie foíre·
ôeuida de hua parte a· outra ,. affi como huu certo e·
'nomeado feruo, ou E:aual.o, au Iiuro ,. e a- dita· certa\
efpecie nam poddfe feer auida· pelo qual' he deuida.
a verdadeira. extimapm della , e feita. affi a dita ex--
timas;am licitamente fe poderá a elJa, opoer , e fa-.
·zer compenfaçam dcutra· tanta quantidade, ou ma-
ior,. ou ·mais pequena·, em quanto• hua Goncorr.eli·
com. a outra. como erncima. düo Aucmos.

TI..
T I T U L ·O LVU.
Do'S alu~utre~ dt~s caJas , e dq. matzârq fJU~ fo iletp!·
-tee·t acert!a .delk.;s.. .I

N OM pode a'lguü reter a cafa alhea J hem m()..·


·ra,r nellâ ., fern con.fentimento daq1,1el!e Cf:!ja for, e
. pofl:o que digua aqueHe q~:,~e neUa .mora, que {l que·r ,.
'au€r tanto por tanto. e paguar o aluguer q1:1an:to ou•
·:trem por ella der ~ nom 0 pode fazer, faluo .prazen.~
do ao fernhor da cafa..
I EMPKRÓ quaesquer peífoas que cafas ··reuerem.,
'e as aluguarem a outrem por tempo certo, ~ffi como
;atee Sam Joam, ouSam Miguel, ou Natal~ ou ou..
t-ro qua1que-r :tempo por as pa·rtes declarado., deuertt
:ante tr·if.lta -dias que fe acabe a tempo do aluguer
.r equerer a aquel1es que as tem áluguad.as, que 1hdei-
):em e ·defp~em fuas cafas ., quartdo fe acabar o tem ..
po do a.l uguer, e feito o dito requerimento, pode-.
tam de fuas ·cafas fa.~er feu proueito. E quere-ndo o~
fenhores das -cafas qt:Ie os a-Iuguadores fiquem nellas
por mais tempo., que a·quelle por que as pri'meiramen.
·te alL,~guaram • deuem tequerer aos aluguadores ante
üin.ta dias do tempo acabado , fe querem fica'i" ría~
-ditas cafas por ma-is tempo > e como efl:e requeri-.
.ment<1> for feito a0s aluguado.res ., deuem loguo dar
·· fua repofta., :OL<l ao mais tarda•r atee t:res dias, e de..
i)etn dizer íe querem morar., e ficar nella·s, ou nam :;
~ nam dando dles, a dita repôfta ao dit() tempo , di
S 2. -. em
1-4o O QEARTo LrvRo DAs ÜRDE~. TrT~ LVIF..
em diante feram obriguados teer as ditas cafas, e-
paguar o aluguer dellas do anno que vier; e nom fe-
tam deft'o efcufos, pofto gue díguam que tem ou-
tras cafas aluguadas ,. pois q\le liam deram a repofta·
ao tempo. que deuiam ;.; faluo fe ao fenhor das cafas
aprouuer d€ as tomar._
2 E NOM fendo-cada· huit'dos dítos requerimen...
tos féitog; aos aluguac:lores,_ em. fua efcolha ficar á-:
leixarem as cafas.acabado o tempO'.por que as.tinh<\rn
aluguadas , ou· ficarem em el'las, e paguarem o alu ..
guer a feus donos como. virem q!Je h e mais feu pro..
ueitO'.,
3 E sE o aluguadbr da cafa nom pagua·r o alu • .
guer della ao tempo que-o prflmeteo paguar, Man..
~amos 'lue o· fenhor da· caf<a o nom pofla· per fi pe....
nhorar , por fe efcufan:m voftas , e arroidos que li ..
geiramente fe poderiam fob:r:e ·i fio recrec;:er, más que
elle pofra- e fio mandar faze'l' ao Akaide da-Vi lia·, ou
Luguar onde efro·acontecer; ao qua-l Mandamos que·
por feu mandado faça·effa penhora, fem outra·auéto-
ridade· de Juftiça. E f~ o fenhor da· cafa nom achar-
aquelle a que·a alugou ,.e acha outro-alguü· em ella_,.
pode requerer aquelle que a.cha·em pofle da·cafa, ott
que teuer aJgua coufa- nella , que lhe pague o alu-
guer , e nom. querendo pagua·r· pôde-6 per ella·
mandar penhorar; e fendG> defpois. a€hado que o feO:
_nhor da -cafa rn,a ndou fazer a penhora oomo nom
deu ia, fendo já paguo do aluguer todo, ou de parte
d.elle 1 , em .tal. c_afo Mandamos q!Je elle pague · a~
alu-
EM- CWE CAs. Po·o. o · SEN. LANÇ. o .ALUG. FORA. r-4-rr ·

aluguad~r em tresdobr.o todo aquel!Q, que achad~.


ftrr que· lhe nom era <!leuido·, e poífa o dito alugua.- .
dor morar nas ea.fas ,.. e nom feja dellas tirado atee
que acabe ta-nto tempo quanto mo~tar no dito tres-
oob~o , auendo refpeito ao aluguer por que a cafa;
eftaua aluguada no começo do.aluguamento -, e màis
feja-lhe entregue feu penhor.

---·---~-----------~'

T I T U L Q: L VIIL
:Em. que-rafos poderá o fenhor da ceifa lançar o aluguadot:
fóra delta~ , . durando o t-empo do aluguer.

QuALQ.!:JER _peíl'oa que aluguar algua cafa a;


:Outrem. por certo·preço , e~ - tempo certo, nom G ·
poderá lançar fóra ddla durando o dito tempo, fal ..
uo em quatro cafcis •.'
1 Ü'· PRJ:MEIRO he, f~ o·alugua-dor· nom paguar
a penfam ao tempo que a, prometeo paguar, ou a
tempo .que for vfança'da 't_e.i;,ra·.de :fe as taecs ptmfoês .
paguarem •.
• 2 O sE-GUNDO ~afo- he •. quando o-aluguadm vfa-
mal da cafa,, affi como deftroindo-a., ou deffipan.-
do-a, ou vfando della d'alguüs aétos ilícitos e def- .
honefl:os, .ou danofo& aa dita·cafa. ·
- 3 O ·TERcEIRo he, quan.do o fenhor da cafa-a:
'l!J~r. renouar. ,, ou . re,Eauar d'alguus. adubios· que lhe:
fam"
If2 O ~ARTO LrvRo
--.
DM OurE~. Tn. LVUL
.

far:u nece!Iarios ., ·oS quaes fe nam podenin fazer


<:ont-J·enie11temente morand0 9 .dito ~luguad0r em
eii~;. e acabado o dito repairo., ·.ou aduhio., lhe toma•
.rá a dita cara atee fe acabar o tempo do aluguer, ·<;
·àefco;ltaT:-fe-ha da·penfam . foldo aa liura o temp()
que n&l!l rrior<m nella .por bem do dito ;repairo.
4 O Q!JAlHo he, qu<lndo o fenhor 'da cafa por
aJguu c.a!o que 1he nouamente fobreuieffe a ouaer
me!ter pera nella morar, ou pera a1gu\5. íeu filho, 011
:filha ., ol.!l irmaõ , ou irmam, porque em taees <:afos.-.
pocle.rá o fenhor da cafa lançár o a1uguadar fóra del-
la,. ciu.ranclo ·O tempo do a1uguer; poi~ que tanto~
ha· mcfter polo cafo que lhe nouamente -fobreueo, de
que nmn tinha razàm de cuida:r ao -temp0 que a
alug1:1ou~
:' 5 E EM cada huü dos ditos caios o fen!?J.or da
cafa nom poderá por fi esbul har -o aluguador deU a,.
ma·s -requei<ra (])Alcaide da V<illa , ~u Lugua:r onde
efto a-CGn.tecer, que digwa ao alt~guador que fe faia
da n('l , decla:rando-l.l)e a razarr) pocque nam deue
.nel1a maís morar .; e no·J:!l fe ·quereAdo elle fa.ir deJ!a;,
.entam o la.nc~ o dito ·Akaide fó:ra ·d ella, âO qual
.~lcaide Mandamos, -que acerca deito que dito hç
faça(} que lhe for requerido paio . fenhor ·d a cara ..
como dito h e. E fen.do ·defpois achado que o dit<t
fenhor da cafa mandou. lançar rnalidofamente o alu-
guaclor f.óra de !la, fem juil:a caufa ~e como nom de~
uia, Mandarrios qt'e o dito aluguader fej<'llogH0 to'r-
, nado a ella , e pGíià Jlella mora.r ti'es tanto tempo,.
quan-
quanto era Q qu€ lhe a·inda ficaua per mor:ar quan--
tilo de lia fui lançado-pala Alcaide "fém paguar ddla,
penfam algua polo-dito tempo que affi nella m~rar ~

TITULO LIX ..
Dos-· alitgu(ldores que a'f1abado o tempo do aluguer- .nóm
querem leixar as. cafa~ afms dono.f ;: e das pef/àas que
algü.as- coujas receberam empre(ladas e as uom quermz,
~ntreguar ao tempo que fom. ob~<iguados- ;, e do teueiro,
-que as. embar.gua •.

·~s. E ~lguú homem recebeo a~güa coufa d ,..o utm·,. _


que a. tinha como fenher della ,, emprefl:ad a ,., ~lu-­
guada ,_ ou-arrendada a tempo cento''· ou em q.~J?.n­
te-apw-uuer ao fenhor della , e defpois·fendo reque--
rido por el.lé pafíaclh _o dito tempo recufar: de lha'
cntreguar, metendo o feito em ·Juizo·atee feer- con-
·denadb pe!< fentenç.a defi nitiua.,. que pafle em coufa~
julguada ,_nem foomenre entreguará a coufa ao fe-;
nhor della, mas a'ftlcm dello 11he paguará. a- verdà-
'deira· ~ti maçam da-dita cot\fá ,_ pala contumacia:
que cometeo, . e em ql.le perfeuerou em lha- nom\
-querer. entreguar atee feer condenado· por fentença~
eorrio dito 'h e~ A qpal p.ena lhe poderá. feer deman- ·
·dada, em todo o tempo·., ,afii·ante da féntença, como-
defpois della-. Per;Ó [e-o -demandado'. quifer ante,de-
.efperar, fentença·entreguar--a: coufa., _e a., entreguar ),
~om fer.á .c_ondeiiado na dita:penao. . ll
:144 o ~ARTO LIVRO JMS ÜRDEN. TIT. LIX~

1 E -POREM fe aquelle que rec-ebeo a coufa em-


pre!hda nella fez algu.as de(p~fas 1'1eceffitrias~ ou pro-
}Leitofas ., em tal cafo poderá reter .em fi , a dita coufa
·empr.eílada, aree que lhe fej'a pagwa a dc.JFefa que
acerca della fez como dito he.
2 E BEM Assr aquelle que .r.e cebeo a coufa" alu-
guada ., OU arreRdada, do fenhor della por certo
·ternpo-.., ·e paguar o alüguer, ,e ·_penfam .dêlla· ~as
;tempos contheudos no contraéto, pocler~ ·reter a di-
'ta ·couf<i a•tee que todo o tempo do aluguer ou .ar-
-rendamento feja .acabad.o~
3 E im o fenhor da coufa efhndo em poffe del-
la a empreA:ou de f1::1a maõ a outrem a tempo c)!r-
,to, ou ·em quarito lhe aprouuer ., eu lha alugou , Otl
,ar-rendou a tempo certo por cerra penfam , fe paf-
Jado ·effe tempg o-dito fenhor deinar:~dar a dita cou-
fa ., aili .como coufa empreitada, alugu_a da, ou ar-
.rendada, nom Jhe poderá dizer aquelle a que afii
foi em preftada ., al-uguada., ou .arrendada·, -que efia
~coufa he fua ., .e que lhe pert-ence per derei~o per al-
.g\llí -titulo .; e pofr0 -que alegue tal -raza,rn, .nom lhe
J;erá -recebida por ni1thi:ia maHeira, mas feri' em todo
_.cafo theudo e obriguado de enu·eguar dla coufa ao
fenhor della~ de qhle .a am .receb~0 corno dito he. e
~le[pois qlde lha enr-reguar ·,lha podení demandar p0;r
qualquer guila, por que lhe, de .Qereito pen.çnça.
4 P,mó :fe demal:}Giamdo G fe~ah9r da ccmfa aql!el.,.
le a q~:;~e a emprefl:ou ,, ou aluguol:l , vieífe alguü- 0u.,.
tro terceiro _g_ue difleffe a dita coufa feer fua, e .e m..
bar..
Dos A:LUGUAD. QYE NOM Q!!ER·. Úrx;. AS CASAS. I'+f

barguaffe a enrregua della , fazendo ' fobre ello re...


querimento aa Juftiça, em tal cafo fe e,ífa _coufa for
rnouel, e effe que afii a empreftou, aluguou, ou ar-
rendou he fufpeito por narn teer bens de raiz que
abaftem pera paguamento della , ferá effa coufa fo-
creftada em maõ de homem fiel e abonacio, atee
que feja determinado a quem pertence de De...
reito; e effe terceiro ferá ouuido fobre o dereito que
pretender teer em a dita coufa fumariamente, e fem
eftrepi to nem. figura de Ju\zo , foomente fabida a:
verdade, por fe nom dar luguar aas malicias , que
doutra guifa ligeiramente fe poderiam corpeter, e
fazer em tal cafo. E fendo. effa coufa de r!\ÍZ ; fem
embarguo de tal queftam e contenda mouida polo ·
terceiro , ferá a dita coufa reftituida , e entregue a
aquelle que a afii empreí1ou,.aluguou, ou arrendou.
e a pec;le como coufa aluguada, empreitada, ou ar-
rehdada ; e defpois que lhe for entregue lha poderá
demandar eq'e terceiro fe quifer, por onde , e comó
de~:~.e, e feja-lhe feito comprimento de Dereito.

Li'v. tP:. T TI..


...
\ .

14& O. ~AR.To LIVRO DAS 0Rmm. Tn. LX:...

T 1 T ' U L O LX._
Do que deu berdadé a parceiro de meias, ou terfo, ou,
q_uarto ,_ou ar:rendou por certa fjUantidade.

S E algua peífoa· der fua vinha,, ou herdade a-


uran de meia$ ,. terço,_ ou quarto ~ - ou como fe con--
1a~
€ertar>:em- por tempo certo., que feja menos de dez .
annos- ,, c. dur.ando o dito tempo fe. finar· cada hu~,
delles,,, conuem a~- fabá, _o fénho.r da 'v.inha ,, ou her-
dade ,_, ou aquelle que a tom_ou de meias , te.rço , ou:
quarto ,,Mandamos qu_e em. tal cafo. aquelle que vi... \
uo fical', e os. herdeiros do finado nom fejam abri-.
guados. a· manter., e comprir. o dito contraéto.; por..
que o contraéto.feito em, td. fór.ma fegue a natura._'·
e qualidade do. contraéto da, pa.rçada ,, e <\ffi deue:
feer juJguado. de. huii. como -do outro.. .
I PERÓ fe ao .tempo. da. morte- de üada hua das.:
partes principae_s o.Iâur.ador teueífe já feito alguúi
adubio na dita. vinha ,_ou. herdade,_affi· ~orno fe te-
ueffe a hetdade laura.da, O\J a, v.inha podada· , ou fei,.
ta algiia: outra obra. d'adubio, .em. tal cafo. pafiará o .
dito contraéto. aos herdeiros, por dfe anno , e a·fii:
elle ·como a outra. parte que ficar viua feram obri-
guados ao manter por effe·anno, foomente ,_ qpe já,
er.a começ,ado de adubar, e mais.nam.
2 E Q!1_ AN.Do,o fenhor da-vinha., ou herdade, a,
cleífe de meias, terço, ou quarto por tempo de dez.·
~Dllli1S ou. mais.3_. em. tat c.afo p-aitará effe contraél:Q
aos
])o QlJE DÊU FIERD. A PARC. DE MEIAS ETC. 141.. -

.aos -herdeiros . , _por que tal -contraél:o~ affi feit() nom


fegue a natura e condiçam do contraé1:o da parçaria,
mas paífa em outra e.(pecie de contraél:o 1 que fe
chama enfitiotico.
~ E. EM: todo o cata onde o fenhor da vinha, oa
herdade , a deife de renda por certa q uàntidade de
:pam , v·i·Aho, azeite, ou dinheiro por muito ou pou-
éo tempo J fempre o lal contraél:o paífa aos herdei ..
ros; porque he ·contraél:o d'ar-rendamento , diuerfo
do comraéto da parçaúa • e pc>r tanto "deue por ou ..
. tra guifa feer julguado. ·
4 E MANDAMOS_, que todos ·os huradores , que
a
trouxeren:1 herdades de parçúia meias, ou terço, ou
qliarto, Oli a certa outra cota., nom tirem nem a-leuan.. ·
tem o pam da eira, atee o primeiramente fazerem
faber ao feahorio 1 ou a qtJ.em feu carreguo teUer no
Lnguar, ou Termo; e nom fendo h i, o tirc:m e me-
çam perante duás teftemunhas fem fufpeita , e t.i-
rando-o doutra maneira, em tal cafo a terra ferá ef-
timada por dous ou tres homens bons ajuramenta...
dos, ·e do que eftimarem que a terra poderia dar
paguaram a parte que auiam de dar em dobro pera.
o fenhorio, ou pera aquelle que lhe a terra deu a la..
urar , fem mais. por eUo lhe fee-r dado outra pena al...
güa crime nem ciuel.

Tf...
1+8 {)'~,ARTO LIVRO ·DAS ÜRDEN. TIT. LX1.
T l TU L O LXI..

Das:ejiá·elidades•.. ...

D ESTROINDO-SE , , ou per~endo-fe os fruitos


d'algüa · herdade,, ou vinha,. ou outra femelhante
ddlas., que tttue1fe arrendada alguü homem , por al-
.guü cafo\que nom .foffe muito a~míl:umado de viir ·,
. com~em a faber., por cheas. de Rios, ou por algüas
c:::huiuas, ou pedra.,, ou por foguo que as queimaffe,
ou pot feca,,, GU por oíl:e. de imiguos, ou por affua-
da d:outros:homens qu.e os deíl:roiffém, ou por aues,
ou guàfanhotos , ou -por bichos que os comeffem ~
c;JU por outro alguú femelhante cafo , que tolhefl:e

tod'os ·os 'fruitos , Dizemos que nom feja theudo


a·quelle que teuefie arrendado de dar ninbúa coufa
da 1;enda ,:a- q~e fe obógou de dar. Peró fe aquecef-
fe que fe os fruitos nom perdefiem todos , e colhef-
fe o Laur~dor algfia parte delles, entam em fua
efcolha he. dar todos os fruitos da dita herança; po•
rem (e for a dita eíl:erelidade em terra de pam , po-
. derá tirar pera fi a fement'e , e os que mais fobeja-
rem· dee ao fenhodo da herdade que · traz arrenda-
da_: emperó fe nos. outros.. annos do mefmo arrenda-
mento, affi antes, como defpois, ouuer tanta abaftaxi-
~a, e vberdade nom cuíl:umada, guardar-fe-ha· a
defpofiçam do Dereito. E fe fe o fruito perdefie por
fua culpa, am como por laurar mal a herdade, ou
:por·~ruas J. ou efpinhos que em ellas nacem , _em tal
ma-
Do Q!JE FÜHOU ALGUM FORO PERA si E T't . 149

maneira que fe confumiffem, ou afoguaffem os frui-


tqs por_íi mefmos, ou por maa guarda do arrenda-
dor, entam ferá obriguado e theudo aquelle que te:..
uer a dita herdade dar aquello que tem prometido.

T I T U L O LXII.
1Jo quefilhou a!guu foro perafi e certas P~'f!oas, e 110m
nomeou alguem a elle tmte de Jua morte.

TOMANDO- alguü homem algüa poffiífam de


foro pera fi e cerras pefioas depôs elle, con~em a ·
faber, húa qual elle nomear, e aquella que por elle
for nomeada pofia nomear outra , e afil de hi em di-
~ ante, fe effe que affi tomar a dita pofilffam de foro
ante de fua morte fezer feu te!tamento , em que fa-
ça e leixe certo herdeiro em feus bens ili falido , norn
nomea_ndo certa pefToa ao dito foro, aquel!e que fi-
car herdeiro na herança do finado fica nomeado ao
dito foro , pofto que lhe outra norneaçam riom feja-
delle feita.
I E FICANDO no teftamento do dito foreiro mui-
tos herdeiros eíl:ranhos , que nom fejam afcenden-
. dentes ou defcendentes, todos fe ent.e ndem feer no-
meados ao dito foro : e por quant~ o dito foro nom
ha _de feer partido antre muitos, por fe nom con-
fundir a penfam delle , Declarando acerca defto
Mandamos, que fe tantos bens ficarem por mórte
do
.1 o
5 o ~ARTO LrvRo ·nAs ORoEN. TIT. :Lxn.
<àoiinado , que poffa o dito foro caber no quinham
,d e cada huü. dos herdeiros,., partam-fe os bens do
;finado antre as ht;rdeiros, e aquelle a que acontecer
\em feu quinham o dito fe:m.> feja. ·obriguado a pa•
guar a penfam delle ao fenhorio, fegur:ido fórma d(')
·contraél:o do aforamento. E nam ficando per morte
do dito foreiro tantos bens., por que o dito foro pofi'a
·eaber no quinham de.cada huü dos herdeiros, em
tal ca:fo Mandamos, que fe tenha eíh maneira que fe
iegue ., con~em a faber, aja càda huú dos herdeiros
o dito foro fe quifer, fatisfazendo aos outros herdei .. .
ms aquello que razoadarnente _por parte do dito foro
lhes podera acontecer, acordando-fe'todos, ou a ma-
ior parte dos herdeiws em ello , e aquelle. ·que affi o
dito foro ouuer pague a penfam detle ao dito . fe-
'nhorio, fegundo fórma do ditQ co~traél.:o; e nom fe
acordando em efl:o todos os herdeiros ou a maior par.:..
te del1es , Mandamos que elles :f ejam theudos de
vender , ou efcaimbar o dito foro , do dia que· fe o
dito f0reiro finar atee feis mefes ·, requerendo pri-
meiramente o feahorio fe 0 quer tanto por tanto ; e
aquelle a que affi 0 dito foro for vendido, ou ef-
çaimbado , feja di em diante theudo a pagHar a pen..
·[am de:l!e fegundo fórma do d·ito comraétÓ, e os
diws he:rdeims pal:itam antre fi aqu_ello ql:le affi ou-
uerem pala ditil venda..., ou efcaimbo do dito foro, .
a ffi como f@rem herde-i ros. E nom vendenclo , ou
efcaimband0 os herdeiros o dito foro, ou nam o to-
rnát1d~ cada huti delles em fi) como dito he )·ate e o
di.
..
-

Do Q!1E FH:Hou- AtGUM FORO P.ERA Sl E 'P.C. IJ'D

dito efpaço dos feis mefes ,_em tal cafo ficará o di•
to foro deuoluto ao,fenhorio, fe o elle auer. quifer , _
e faça delle o qlJe por bem teuer.
2 E SE no dito teftamento infiítuir 'feus defcen•
dentes ou afc_endentes ,fe guarde o que Diremos no
parrafo feguinte ,,e fe terá a maneira oomo quando.
fe fina abintdl:ado, pofto que no dito teftam~nto.
leixe fua terça a outra pefioa ,_ q!Je 'n am feja afcen.-
dcnte ou defcendente •.
3 E .FIN-ANDO-SE o dito-foreiro abinteftado-, nem-
nomeando algüa pefioa ao dito foro ,, e fem outro-
alguü herdeiro defcendente ou aícendente , . em tal
caJo fique effe foro deuoluto ao fenhorio ;. e ficando -
por fua morte a-lguú filho lidimo , neto-,_ou bifi1eto·
baram, em taL caf{) dcue efie foro ficar a elle, e pa-
guar a penfam delle fegundo fórma do contraét:o ;.
.c. bem aíli aa filha, ou neta, noin auendo hi filho ba-.
ra_m , . pofto,que-feja mais _moço que a. filha , ou ne-.
~; e_onde. ouuer hi o dito filho,___ou filha, nom aue-
r,á o diro foro neto , _ou .neta-,,pofto . que o neto feja'
filho de_filho mais velho; _e onde muitos :filhos, ou:
filhas ou_uer, femp.re o maior. dos filhos, ou ·a maior ·
das filhas aa minguoa . dos .filhos aja o dito foro, e :
nague a.penfam delle ú:g~ndo - a . fórma - do c.ontra--
éJ:o. E fe o dito , prazo for comprado, ou teuer o fi __
nado feito .nelkbemfeitorias , . guardar-fe-ha acerca'.
do preço·, ou bemfeitorias ; . o que Diremos no Ti-
tlJlo De como Je bmY;d~ jazer. as partiçoés. -
4., - E .TODO EST.O :que. dito Auemos nos :filhos , _e :
ne-.
I 52 o 02AR ·TO LIVI\.0 DAS 0RDEN. TIT. LXU.

netos, que Tam de linha deftendente, auerá luguat,


e fe guardará nos da linha afcendente , conuem a
faber, padre, madre, auoos., nom auendo hi ninhuus'
da ·linha defcendente ; cá em -quanto hiouuer alguú
defcendente, nom aue'rá o d~to . foro afcendeme:
E nom auendo hi defcendente lidi.mo por morte d~
dit@ foreiro ., poílo que hi aja afce'ndente lidimo, aja
effe foro o feu filho natural fe o teuer, ainda que feu
padre fofle Caualeiro, ou Acontiado em caualo. E a
filho efpurio nom poderá auer o dito .foro, ialuo
fendo legitimado por Nós em tal forma, ·que polfa
íoceder abinteílado, e nom doutra gtiifa.
5 E QY ANT0 aos prazos que forem feitos do3
bens da Coroa do Reyno em pefloas , fe guardará o
que Ternoa dita nefte Titulo .nos ·foros das _pe!foas
par.ti.culares.
6 E FHHANDO alguü homem huü foro pera fi •
e feus herdeiros , e focelfores, em tal cafo por fua
morte pafT.a e!fe foro a todos feus herdeiros, e fe
guardará acerca da par,tilha o que Diremos noTitu;
tulo De co1no fe .bam de fazer a,ç part/çoes.. ·

_,

T.I-
Do FOREIRO Q.YE NOMEOU ALGUF.M AO FORO ETC, I5J
T I T U L 0 LXIIIw .

Do foreiro que nomeou alguem ao foro, e difpois reuoguou


a ftomeaÇmn e fez outra, e daquelle a que he dade po;
der em alguíi tejiamento pera o poder izomear.

TOMANDO alguu homem algúa herdade, vi-


nha , ou cafa , ou oliual , ou outra pofiiíiam de foro
por cer-ta penfam pera fi, e pera certas peffoas, co n-
u em a faber, hüa que eHe nomear, e que a nomeada
poffa nomear outra, ·e affi de hi em diante , fe o di-
to primeiro e principal foreiTo em fua vida nomeaf-
fe algüa pe!foa a que vieffe o dito foro , e defpois
f1=zeífe outra nomeaçam do dito foro a outra peífoa,
e reuoguaffe a primeira, Mandamos, que feno con ..
tr.acl:o do aforamento primeiramente .feito for dado
poder ao foreiro , que poffa nomear ao dit'o foro al-
gúa peffoª' ante de fua morte , ou ao tempo de 'fua
morte , em cada huü ddles cafos elle poderá fazer
a dita nomeaçam , hü<t, e outra, quantas lhe aprou-
uer atee o tempo da fua morte , e pala derradeira
nomeaçam [eram as outra~ reuoguadas , fem auerem
algüa for~a nem viguor; porque todos os aétos que
fam ordenados ao tempo da morte fe podem mu-
dar, e reuoguar atee morte. Porem fe o que affi ti-
nha podér de nomear atee morte trefpalTar em fua
vida em outra algüa peffoa a dita coufa aforada ,
quer por -titulo de dote, quer por qualquer outro
Liv• .IV. U titu-
154 Ó ~AR To LivRo DAS ÜRDEN. Trr-. LXIII.
titulo , trdpnffándo na dita peffoa todo o dereito
que na _9 ita coufa aforada tinha , pofto- que pera fi
refer.ue o ufofruito , já nom poderá nomear outra
vez a ninhua peífoa ; antes a peffoa em que affi for
trefpaff~da poderá difpoer da dita coufa , fegundo
Diremos no Titulo feguinte.
r E SE no contraéto do ·foro, principalmente fei-
to antre o fenhorio e o foreiro , lhe. for dado poder
que poffa nomear ao dito foro hüa peífoa, nom fa-
zendo mençam no dito contraéto de morte , em
tal cafo, defpois que elle hua vez nomear algüa pef...
foa , nom poderá mais reuoguar effa nomeaçarn ,.
nem fazer outra fegunda, por que a primeira feja
reuoguada, e ainda que a faça nom valerá; porq\.le
por a primeira -nomeaçam , pofto que o nomeado
nom' feja fabedor da dita nomeaçam, he aquerido
tanto dereito ao nome.ado , que lhe nom póde já -
feer reuoguado.
2 E AS ditas nomeaçoes nom fe poderam pro-
uar por teftemunhas , quando hi ouuer algüa outra
pomeaçam por efcriptura •pubrica ; faluo fe o dito
nomeante fezer feu teftamento per palaura com as
teftemunhas que a Nofia Ordenaçam requere, e fa-
zendo affi o dito teílamento nomear , valerá a dita
nomeaçam affi feita no dito teftamento por pala-
ura, pofto que hi aja outra nomeaçam primeira-
mente feita por efcriptura , no cafo onde Diífemos
que pode reuoguar a primeira nomeaçam, e fazer
o~tra ;_e. affi fe fe nom moftrar feita algua nomea.
ça1n
r.
/ Í)o FOREI R.O Q.!!E .NOMEOU ALGUEM AO .FORO ETc•. I 55

.çam por efcriptura pubrica, poderá o nomeado pro-


uar por tres ·ref1:emunhas ao menos a nomeaçam que
.difier lhe feer feita, e valerá a dita nomeaçam.
3 E BEM ASSI feno cafo onde a nomeaçam feita
húa ve.z nom fe pode mais reuoguat·, aquelle que
a'fii ha de nomear fezer hum tef1:amento , IJO qual
nomear. e clefpois reuoguaffe o dito teftamento, ou
.o dito te!l:amento fo!Íe por Dereito por qualquer ·
•modo auido por ninhuü , fica ·a ,dita nomeaçam iífo
. mefmo reuoguada, e elle .pe>derá nomear outra vez 1;
por quanw . a dita norneaçam feita no dito tefta'..
mento affi reuoguado, ou áuido por ninhuu. he
iífo mefmo auida por ninhüa , affi·como fe nunca
.fofle feita.
.. 4 OuTRo sr quando o que affi tem poder ·petra.
. n9mear nomeaffe. hüa pelfoa fimprezmente , fern
.trefpaífar outro dereito nella, e eífa peífoa affi 'no-
·meada fe finaífe primeiro que o nomeante, poderá
•n omear cmtra vez , pois a peffoa nomeada ,fe fitwú
primeiro que ouuetfe efeQ:o a dita n<:>mea-çam. .. ·
5 E sENDo o dito contraéto d'aforamento feito
pera o que o toma, e pera fua molher , e pera huú
filho que dantre elles naceffe, çomo muitas vezes
fe cu!l:uma em Noffos Reynos fazer, em tal cafo
bem poderá o pay, ou mãy, qual derradeiro delles fa-
lecer, nomear huú de fe~,~s filhos, ou filhas , qual elle
quifer , e porem nom poderá nomear outra pelfoa
algú~ eftranha; e no dito cafo nom tendo filho~>,
pode_r~ nomear huú neto, ou neta :qual elle quifer,
' U 2 poíl:o
1·56 o ~ARTO LIVRO DAS ÜROEN. TIT. LXIII. ~ .

pofto que no dito contraéto nom · faça mençam fe- .


nam de filho. . ·
6 E EM todo cafo onde Diffemos, que o foreiro
a que he dado poder no contraéto do aforamento ,
que poífa nomear algua pefioa ao dito foro, qué po-
de reuoguar a nomeaçam já por e !I e feita ,e fazer ou-
tra, a!Ti opoderá fazer aquelle que por elle for no-
meado , fe por viguor do dito primeiro co!ltraéto
lhe he dado poder pera nomear ot..itra peHoà; e no ·
cafo onde o dito foreiró norn pode reuoguar a no-
rneaçam que já fez, affi a nom poderá.. reuoguar
aquellé que por elle for nomeado.
7 E TODO o que dito he acerca do nomear , e
poder reuoguar , ou nom poder mais reuoguar def-
. pois que hüa vez nomear, e bem affi todo o con-
theudo nefl:e Titulo auerá luguar norn foomente
quando o poder de nomear foi dado em contraéto ,
mas ifio rnefmo quando foi dado .em alguú tefta,.
rnento ,, _ou vitima vontade J porque em todo fc
guarda.rá o qu~ dito he.
(
1
Do FORETROQYEVENDEOOFOROETc. 157
T I T U L O LXIV.
Do foreiro que ·vendeo of oro por auéloridade dojenho ..
rio , ou Jem jeu corifentitnento.

Ü FOREIRO que traz algüa herdade, cafa ;


ou vinha, ou outra poffiliam aforada pera fempre ,
ou pera certas peífoas, ou a tempo certo , que paífe
de dez annos , nom poderá vender a coufa aforada ,
nem efcaimbar , nem· doar , nem emalhear fem
çonfentimento do fenhorio; e querendo o foreiro
vender, ou efcaimbai· a dita coufa aforada , deüe.o
primeiramente notificar ao fenhorio, e reque.re-lo fe
a quer tanto por tanto , declarando-lhe o preço , ou
coufa que lhe por e!la dam; e querendo o fenhorio
tanto por tanto, elle a auerá, e nom outro alguu;
e nom a querendo, entam deue feer vendida, ou ef..
caimbada a tal peffoa que iiuremente pague o foro ao
fenhorio, fegundo fórma do .contraél:o do. aforamen-
. to : e no cafo que a quifer doar , ou dotar , o fará
todauia faber ao fenho.rio , pera veer fe tem algu\i
legitimo em ba_rguo , porem nefte cafo lhe nom ·pa:...
guará quarentena. E efte requerimento que fe ha de
fazer ao fenhorio, fe quer a coufa tanto por tanto-,
nom foomente auerá luguar, e fedeu e fazer na ven ..
da voluntaria , que fe fezer por vontade do foreiro.
mas tambem he neceffario, e fe deue fazer , na ven...
9a que for feita per mandado , e auél:oridade de
Jufliça·; e nom querendo logu9 p dito fenho.rio de~
c:la~
trs-s o ~AR To LivRo oAs ORoEN. :rrT. LXIV.

c1arar, {e a quer tanto por tanto, ferá efperado trin-


ta día_s, do dia que "!-ffi for requerido, e paíTados os
trinta dias, e nom declarando fe a quer tanto por
tanto, entonce a poderá vender, ou efcaimbar , fem
mais .__efperar pola repofta , ou paguamento do pre ..
ço, e entonce fhe paguará ao fenhorio a quarentena,
o
.· · -ou contheudo em feus contraétos ; e declarando
dentro nos ditos trinta dias, que a quer tanto por
-tanto, paguando-lhe loguo o preço aue-la-ha , . fem
nefle cafo auer quarentena ; e nom lhe paguando o
~preço dentro dos trinta dias, pofto ' que dentro del-
les declare que a quer, o dito foreiro a poderá ven-
der a quem quifer, fem embarguo da dita decla-
raçam.
I .
E SENDO a venda, . ou efcaimbo , ou outro
qualquer emalheamento feito em outra guifa, fem
auétoridade do fenhorio , tal venda, ou efcairnbo,
ou doaçam , ou outro emalheamento ferá ninhuü ,
·e de ninhíia força e viguor, e o foreiro per eífe
. .--- rnefmo feito perderá todo o dereito que teuer na
coufa aforada,· e todo ferá devol~to , e apricado ao
ienhorio, fe o elle quifer ; e nom o querendo, pode:..
rá demandar e coníl:ranger o dito foreiro, que aja aa
fua inaõ , e torne a cobrar a dita coufa foreira , e
lhe pague feu foro , fegundo forma do contraéto fo .. ·
,b re ello feito. ·
2 E Q!! ANDO a coufa foreira for vendida, ou e[..
1:aimbada, ou por outra maneira emalh~ada por au ..
(raridade do fenhorio a outra algüa peífoa , fe à
dita
,
Do FOREIRO QYE VENDEO O FORO ETc. I 59
dita coufa foi aforada a e!fe que a emalheou, pera
elle e certas peífoas 1 entender-fe-ha fempre feer pri-
meira peifoa o principal foreiro , que vendeo o.u
emalheou o dito foro 1 em quanto elle viuer, e mor-
to elle começará . feer.: fegunda pefioa aqueUe que
o ·dito foro t:omprou ou ouue por efcaimbo, ou doa-
çam , ou por qualquer outro titulo , e deípois delle
paliará o dito foro a quem por Dereito pertencer •
fegundo fórma do contraét:o do aforament-o.
3 E ACONTECeNDO-SE que o que a coufa afora-
da comprar , ou por outro titulo ouuer , faleça em
vida do que lhe o dito foro vendeo, ou nelle trefpaf..
fou, poderá aquelle que a dita coufa ouue por com-
pra, ou por outríl trefpa!façam , nomear outrem a
que por fua morte a coufa aforada fique, e bem affi
em fua vida a poderá vender , e em outrem trefpaf-
far com licença do fenhorio em vida do primeiro
foreiro ; e aquelle que a delle ouucr, em quanto vi- .
uer o primeiro enfitiota , terá aquelle luguar e de..
reito na coufa aforada , ·que o dito primeiro enfitio ..
ta -nella tinha, ante que a emalhea!fe ; e elle faleci-
do , comecará o que a dita coufa poífuir feer outra
pelToa, por maneira , que fe o que a coufa vendeo>
ou emalheou , era primeira peffoa , em quanto ell~
viuer fempre durará o dereito da primeira- peffoa •
affi a aquelle que a delle out1e, como a qualquer ou-
tro que a dita coufa defpois ouuer por qualquer
titulo , em quanto o primeiro emalheador viuo for;.
e falecido o primeiro foreiro começará o q~ç .o di;
tu
160 O ~AR'fo LrvRo DAS ÜRDEN. TIT. LXV.

to foro poffuir feer a fegunda peífoa ; e fe o que a


coufa foreira comprou, . ou ouue por outro titulo,
falecer em vida do que o foro nelle trefpaffou, fem
por fêU falecimento nem em fua vida delle defpoer,
Mandamos que na foceffarn delle fe tenha aquella
- maneira que dito Temos , e fe contem no Titu1o
J)o que filhou algu'ü foro pera fi e certas pe!Joas , e nam
1zomeou alguem a elle.
4 E EsToque dito he auerá luguar, e fe guar-
dará corno dito he , faluo fe ao tempo que o foro
for vendido , ou efcairnbado , ou per outra man.eira
ernalheàdo, for outra coufa antá: as partes acorda- -
da com auéloridade do fenhorio; porque fendo an-
tre elles outra coufa acordada , cornprir-fe-ha feu
acordo e concerto.

TITULO LXV.

Do fweiro que nam pagou oforo por tres annos, e difpois


quer purguar a mora qferecendo oforo dcuido. E que
as cajas fe nom aforem fenom a dinheiro. .

S E o. foreiro que recebeo do fet~horio


algúa poffif-
fam por certo foro, ou penfarn, ou quantidade de
fruitos, ou preço pera fernpre, ou pera certas pef-
foas, ou por tempo certo de dez annos pera ci ma ,
nom paguar .o f9ro , ou penfam por i:res annos com-
"P.J:l-
Do FoREIRO QYE NO-M PÀGuou o FORO ETc. r6r

pridos , e continuados , perderá todo o dereito , que '


na coufa aforada tinha, pera o fenhorio , fe o elle
quifer. -
1 o
E cESSANDo o dito foreiro de paguar f?ro,
~ penfam ao fenhorio por tres . annos contínuos , e
compridos como dito he, pofio que -defpois queira
purguar a mora , e tardança em· que foi, por nom
paguar por todo o dito tempo de tres <_tnnos, offere-
cendn todo o foro e penfoés deuidas ao fenhorio • .
nom purguará por iffo a mora e tardança-, nem ferá
releuado do comiffo em que caio, ainda que lhe o
fenhorio receba as pç:nfocs ; faluo fe ao fenhorio ex-
.preffamente aprouuer de lhe receber a dita purgua-
çam, e o releuar do corniffo em que caio , por lhe
nom paguar todos os ditos tres ·annos continuados • .
como dito he.
2 E o que dito he, que. o foreiro perde o derei-
to que tem na coufa aforada nom paguando o foro
por tres annos ,· e que nom pode purguar a mora ,
ha luguar: foomente nos bens e poili!Ioes profanas.
E fendo as poffiffoés Ecleflaíl:icas dadas de foro a
algüas peffoas , aiTi Eclefiafticas como beiguas , e
. nam paguando o foreiro a penfam e foro ao fenho-
rio por dous annos- compridos e continuados, per-
derá loguo o foreiro todo o dereito que na dita pof-
íiffam e coufa aforada teuer pera o fenhorio , fe a.
quifer auer ; ~mperó poderá em efte cafo o fc r iro
purguar a mora, e tardança em qu e fo i de nom 1 a ..
guar ; offerecendo as penfoes dcuidas ao fenh do
Liv. IV. X em
162 o ~ARTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LXV.
em qualquer tempo, antes que elle feja citado em
Juizo, ou defpois que for citado, offerecendo ante
da lide contefbda; e efl:~ íoomente ha luguar nos
bens Eclefiafl:icos, onde com razam he dado luguar
ao foreiro , que poifa purguar a mora e tardança,
pois por mais breue tempo e mais ce;do cai êm co-
mifto que o foreiro dos bens prof:·ltlos , e por tanto
he diuerfo dereito eftabelecido nos foreiros dos bens
Eclefiafl:icos, e nos foreiros dos bens profanos. E po-
rem Mandamos, que nos bens Eclefia(\:icos fe guar-
dem os Dereitos Canonicos, e nos bens profanos fe
guardem · os Dereitos Ciueis, fegundo per Nós he
declarado.
3 MANDAMos que ninhüa peifoa pofta dar, nem
. tomar de foro em peíf.'Jas , ou em perpetuo , ou por
contraét:o que paffe de dez annos, caías alguas, nem
chaõ em que fé as ditas caías ajam de fazer, por
peníam e foro de pam, nem de vinho, nem d'azei-
te, nem d'outras femelhantes coufas , foomente a
dinheiro ; poderam porem poer no dito foro quaes-
quer aues que quiícrem , e fazendo o contrair,a Aue-
Ifl OS os taees contractos por ninhuus, e de ninhuú .
efeét:o.

TI-
I
~E OS FOREIROS 'DOS BÊNS DA CoROA ET C. 163

T I T U L O LXVL
if2..ue os foreiros de bens da Coroa do Rey11o, ort Capelas.,
Morguados , ou Comendas , nom dern coufa afgiia por
entrada tiOS Scnbores , por lhe aforarem os ditos bens.

N INHUA ,pelfoa qu.e Terras da Coroa de Nof-


fos Reynos trouxer, nem os Adminifl:radores de Ca ...
pelas, nem de Morguados, nem Comendadores d~
qualquer comenda que fejam, que poder tenham
pera aforar os bens da Coroa , C:tpcla , Morguado ,
ou Cornencja, poderá leuar, nem leue dinheiro ai ...
guü, nem outra coufa algl!a d'av<;~ntagem aos fo ....
reiros ,. por lhe aili fazer osditos contraétos d'afora-
mentos, ora fejam em perpetuo , ora em cenas pef-
foas , ou por lhe inouar os contraétos já feitos ; e fa-
~endo-fe o contraíra, aquelle que affi der o dito di-
nheiro por entrada p erca o preço que a1Ii der d'en-
trada, e aquelle a que o der pofia delle vfar fem
pe11a algüa , ' e mais aalem de aili perder o que affi
der d' en trada, pague de pena outro tanto , como
}he for prouado que am deu J ametade pera qu em o
acufar , e a outra pera os catiuos, e mais o tal con-
traC1o fique ninhuu, e de ninhuu viguor nem for-
ça , e polo mefmo feito fique deuoluto ao fenhorio,
.pera o aforar de nouo a quem quifer, fem contra o
tal fenhorio lhe feer recebida ninhüa auçam , nem
por bem diflo o poder citar nem demandar.

X 2 TI-
164 O ~AR To LivRo DAS ÜRDEN. TrT. LXVII.

T I T U L O LX VII.

Das Sefmariat.

·s, ESMARIAS fam propriamente aquellas que fe


dam de terras, cafas, ou pardieiros, que foram ou
fam d'alguús fenhorios ., e que já em outro tempo
foram lauradas .e aproueitadas , e agora o nom fam ,
as qu aes terras, e os bens affi danificados e defhoi:..
dos , podem e deuem feer dados de Sefmarias polos
Stfmeiros que pera efto forem ordenados , os quaes
Sefmeiros a Nós foomente pertence de os dar, e
poer nos Lug1,1ares onde ouuer terras ou bens de raiz,
que de Sefmaria fe deuam dar; e fe as terras, onde
fe as Sefmarias ·ouuerem de dar, forem foreiras ou
tributarias a Nós, ou aa Coroa de Noífos Reynos ,
quer fe os foros e tributos arrecadem pera Nós,
ql}er pera o:Jtrem, a que os Tenhamos dados, Acu-
ftumamos dar por Sefmeiros os Noífos Almoxari-
fes dos Luguares, ou Almoxarifados onde, os taees
bens, ou ter.ras efl:euerem,
I E os Sefm eiros , que taees terras, ou b ens de
.Sefmaria ouuerem de dar, faibam primeiramente
quaes faro, ou foram os fenho.res dellas, e: como o
.fouberem , façam-nos citar em peifoa, e fuas mo-
lheres fe cafados forem , ailinando-lhe tempo conue-
niente , a que perante elles venham dizer, que ra-
zam tem a fe nom darem as d itas terras, caÍ:1S , ou
pardie.iros de Sefmaria; e nom abaftará p era efl:o
f e-
,
D A s S E S M A R I A S. •
.ferem citados os enfitiotas, ou outros poffuidores dos
taees bens , mas todauia fejam eirados os fenhorios-
dos ditos bens , os quaes vindo aa dita citaçam ou-
çam-nos com aquelles que as Sefmarias requerem,
e f e taees coufas aleguarem, e prouarem , por que as
nom deuam dar , ou poíl:o que as nom aleguem , ou
as nom prouem , ou nom venham aa dita ciraçall\,
ailinem - lhes huü anno J que he termo conueniente'
a que as la'urem , ou aproueitem, e repairem os di-
tos bens , ou os vendam ·, ou os emprazem , ou ar-
rendem a quem os pofla aproueitar, ou laurar; e fe

o nom fezerem paífado o diro anno dem os ditos
Sefri1eiros as ditas Sefmarias a quem as laure , e

-
aproueite ; e eflo auerá.-luguar affi 1103 bens de
quaesquer Grandes , e Fidalguos , como dos outros
de qualquer condiçam que fejam. '
2 E NOM podendo- os ditos Sefmeiros faber,
quaes fam os fenhores das ditas terras e bens,_façam
apreguoar nos Luguares onde os bens. efteuerem, CQ-
mo fe ham de dar de Sefmaria , declarando onde
eflam, e as confrontaçoês delles , e façam poer Edi-
tos por efcripto de trinta dias , _o!: quaes feram P'J íl:os
em effes Luguar.es, e em outros dous Luguares a el-
les mais comarcaõs , em que fe contenha , que
aquelles cujos os ditos bens for.em . os.. venham la-
urar, e aproueitar atee huü anno., fenam que fe da-
ram de Sefmaria , e fe alguús vierem ouçam-nos
_c om aquelles que as Sefmarias requerem , e façam
e~ todo como em cima Diffemos • quando efpecial- _
men-
1G6 O OEARTo LivRo DAS ÜRDEN. TrT. LXVII.

/ mente fam citados; e fe pairado o dito anno, conta-


do defpois que os trinta dias dos Editos forem aca-
bados, nom vierem , dem as ditas Sefmarias.
3 E EM ·q ualquer cafo, que os Sefrneiros dem
algúas Sefmarias, ailinem fempre tempo aos que as
derem , ao mais de cinco annos , e di pera baixo ,
fegundo aqualidade das Sdmarias, que as Iaurem e
aproueitem fob cerra pena, fegundo virem que o
cafo requere, a qual pena porem norn paffará de mil
rçaes ; a qt1al pena ferá pera a Noffa Camara, fe as
terras forem tributarias , e os tributos fe ar-recada.;. .,.
rem pera Nós, e fe pera outrem fe arrecadarem , que
as ditas terras de Noffa maõ traguam , feram as pe-
nas pera el-les , por fe milhar requererem ; e fe as
terras forem ifentas , feram as penas pera os Conce ... - ;
celhos, onde as ditas terras efteuerem; e nom IIL<!
ailinando certo termo, a que as aproueite , Nós .per
efta Noffa Ordenaçam lhes Auemos por ailinados
cinco annos : e fe em algüas Sefmarias que atee ora
foram dadas, nom foi ailinado certo tempo a que as
a.proueitaffem, por efta 01·denaçam lhe affinamos os
d.itos cinco annos da pubricaçam della , em que as
a.proueitem, e nom as aproueitando faram loguo
os ·Sefmeiros executar, como abaixo Dizemos, que
façam · quando lhe for ailinado o ter.npo nas Cartas;
e feram auifados os Sefmeiros que nam dem 'maio-
res terras a hüa pcff0a de Sefmaria, que aquellas
que razoadamente parecer que no dito tempo po-
'deram aproueitar. E .fe ·aqueLles a que affi fo.rem da-
das
I
D A s sEs M A R I A S.

-das as ditas -Seímarias, as nom aproueitarem no


tempo que lhes for affinado, ou dentro no tempo
que por efta Ordenaçam lhe affinamos , quando ex-
pre!Iamente lhe nom for ailinado como dito he, fa-
çam loguo os Sefmeiros executar as penas que lhe
forem poftas , e dem as terras que aproueitadas nom
efteuerem a outras que as aproueitem, affinando-
lhes fempre tempo , e poendo-lhes a dita pena;
-e as que· lhe achar aproueitadas lhe leixará com
mais alguü logradoiro, do que nom efteuer apro ..
ueitado , quanto lhe parecer· neccífario pera as ter...
ras que lhe fi cam aproueitadas ; e as que aHi nom
dl:euerem aproueltadas Mandamos que as dee o
dito Sefmeiro ; fem mais pelfoa a que primeira-
mente foram dadas feer citada. Porem nom Tolhe ...
mos a aquelle i:\ que primeiramente foram dadas, f<l
teuer alguüs legitimas embarguos a fe nom darem ,
poder requerer fua juftiça. E os Autos que os Se f- ·
meiros fezerem, fej.am efcriptos por Tabaliam, •OU
Efcriuam , que de Nós pera ello tenha audoridade,
e nas Cartas das Sefmarias fe' ponha fumariamenrie
"3 fuftancia dos ditos Autos, pera fe faber fe foram

dadas como deuiam ou nam.


4 E se defpois que as Sefmarias forem dadas fe
· recrecer contenda fe fam bem dadas, ou nam , fe as
Sefmarias eftcuerem em terras foreiras, ou tributa-
rias a Nós, ou aa Coroa de N oflos Reynos, o conhe-
cimento das taees contendas pertence aos Noffos
Almo:xarifes ; e fc forem e!-U terras ifel}tas , perr.en-
ce
r68 O ~ A RTO LrvRo DAS ÜRDEN. TIT. LXVII.

ce o conhecimento aos Juizes Ordinarios dos Lu.- .


guares onde taees bens efteuerem.
5 E Q!!ANTO aos bens dos Orfaõs que forem da-
nificados, Mandamos aos Juizes, que conflranguam
os Tutores que os adubem e aproueitem, poendo-
lhes pena, que os paguaram por feus bens, fe forem
dados de Sefmaria, por os nom quererem aprouei-
tar ; e fe forem bens de Capelas, oU Efpritaes , AI ...
berg uarias, ou Confrarias, que -já em alguú tempo
foram aproueitados , e aguara andam danificados
e perdidos , nom os dem os ditos Sefmeiros de Sef-
. maria , m as conílranguam os Adminifiradores, ou
Moordomos, que os aproueitem~ e tornem ao eíl:ado
em que eram ante que falTem danificados, poendo-
lhes pena-s , e afiinando.Ihes tempo conueniente , a
que- os co rreguam~
6 E SE os fenhores das terras, ou d'outros bens
qt:~e forem pedidos de Sefmaria ~ andarem homezia-
clos fora d~ Reyno , feram requeridas fuas molheres,
e lhes dem tempo a que .Ji1o façam faber ; e fe ' nom
vierem, ou mandare rn Procurador, dem Curador
aos bens , e lhe affinem o dito tempo de .huú anno
a que os correguam, e feitas as ditas auondanças
nom corregendo ~ nem repairando os ditos bens. no
dito tempo, entatn os dem de Sefmaria a quem os
aproueite~
7 E POR QYANTO :dgúa:s peífoas leixam per-
der feus oliuaes , e colher a mato por os nom quere-
rem adubar , nem roçar, e por lhos nom pedirem
de
DAs SEsMAR- I · AS ~

de Sefmaria efcauam ou cortam algüas .oliueiras ,


e nom querem roçar os matos ; e outros que tem
terras pera dar pam as leixam encher de grandes
matos e foueraes, e por lhos nom pedirem lauram
buli pedaço da terra, e lei.xam toda a outra. E outm
fi alguus que tem vinhas as leixam perder, e tor-
nar em poufios, e adubam h lias poucas de cepas em
buli cabo • e outras em outro • e aleguam que as
aproueitam ; e querendo Nós a eíl:o prouer , porque
as terras fejam lauradas, e os outros bens aprouei-
tados , Mandamos que os donos dos taees bens fe-
jam requeridos, e lhes feja affinado termo , a que
adubem os ditos oliuaes , ~ vinhas .• ~ ·as ten:as Ia-
urem. e fameem as folhas. fcgundo cuíl:ume da ter-
ra; e fe o aili nam fezerem paífado o dito termo as
dem de Sefmaria.
8 E SENDO as terras, que forem pedidas de Sef-
maria , matos maninhos, ou matas c brauios , que
~unca foram laurados e aproueirados, ou nam ha
memoria de homens que o foffem , os quaes pom
foram coutados, nem referuados palas Reys, que an-
te Nós foram, e paffaram geeralmente pelos Foraes
com as outras terras aos pouoradores dellas , Manda-
mos que os Sefmeiros que forem requeridos pera as
dar as vam vecr, e fc acharem qu~ fe poderam la-
urar , e aproueirar, façam requerer o Procut;ador do
Luguar , onde as terras efteuerem , ·que fali e com
os Vereadores, e diguam que razam tem a fe taee~
matos, poufios, ou maninhos de ·Sefmaria nom .da-
Liv. IV. Y rem , ·
7

qo o OEARTo LrvRa oAs OR'oEN. TIT. LXVII.


rem , e óuçari; effe procurador mm aquelle que a
terra ·de Sefmaria pedir; e fe for em terra tributa-
ria a Nós, ou aa- Coroa de Nolfos Reynos,'Ouçam iffo
mefmo o Noífo Almoxarifc, fe elle noin for o Sef-
Fheir0; e fe ad1iHém que as terras dos ditos mani-
nhos fam taces, que fendo rotas e aproHeitadas, ou
l·aU1·adas ) e.fameadas daram patn; vin'ho) ou azeite)
ou outros·fruiros, e q_ue duraram em os dar a tempos,
ew a folhas 1 ·ou em cada huü anno , como as outras
Gjlle ~proueita<las fa·m nos ditos Luguares, e que nom
fararn grànde inipedimento ao geeral proueito dos
moradores dos ditos Luguares nos paftos dos gua- _
.dos, e criaçoes, e logtamento da lenha e madeira
pera fu~1s cafas ·e lauoiras , em tal cafo dem os dítos
maninhos de Sefí\1aria; porque proueito comum e
geeral he de todos auer na terra abaftança de pam,
e dos outros fnlitos.
'9 E ACHANDo que nom fam terras pera·dar pam,
nêm oúttós .fruitos, ot1que nom duraram em o"s
rlar, ou que dando-fe de Sefmãria fariam grande
H-npedimel'íto ab comum proueito de todos, ou que
em parti'c~l'lãr tõlher'i-am o 1ôg'l'àmento., e vfo de al<.;
güús mol"ád.of.es des -ditos .Luguares, por os ·dilo's
matD's, mr.l1ínhós, ou poufios ferem tàm tomãrcaõs a
e!Fes, que féria 6oufa quàfi imporriuel poderem'-nos /

efcrHàr , M'andárriló's qUe em taees eafos os t'lom .derh


ele ·~efmaria. E em todas às gefrnar'ias 1del1em fem-..
p-re Hgüãrda'r aquel1ês tlue as ouuerem âe âàr , que
n0'in féjã maior o d-ãne qu~ álguü-s -pót cato~fa âellas
· · pof-
' D A s s Es M A R I A s.

pofiam receber , que o proueito que da lauoira de1-


las fe poífa feguir.
10 E SE alguus teu~rem matos feus propios, em
poufios, que .pera os afféntarnentos E:i@ fuas quin-.
tãs , cafaes , ou terras fam proueitofos , ou perten-
centes, ou <~jam delles alguã proueito, oq l0gr-amen-
to ;poflo qLJe nos Luguares, e Termos, onde os taees
matos ou poufios dleuerem ~ nom tenham quintãs,
ou cafaes , nem outras terra~ , nom as dt'!m de Scf-
maria , e leixem feus donos lograr-fe delles , peis
íam feus.
I i: E DETERMfN.AMos nom dar a pefioas algrias
vales de ribeiras, que por- Forae~ ou 0utro alguti De.:.
rei to nom fejam Nofias, nem rilatGs, nem matas, eu
outros manir~hos , qu6 nom foram coutados , nem
r.eferua.dos poiosl\eys que ante Nós foram , que fam
dos Termos das ViJlas, e·Lug[iares de Noffos Rey.!.
nos ., pera as atúnem por fuas , ou por feus , e os cou-
tar.cm, ·e .defenderem ern plt:OU'e ito dos ditos pafl:os, e
'Criaç0és e l@grarnentos , qure aos moradores dos di-
tos Luguares pertencem ; e fe neites ouuer. terra pera
· lat1ocrra ,dar... fe-ha cl.e Sefmaria ·, como acin1a cleter-
mipado Ternos, .e nom doutra guifa' ;·e fe taees ma:.
tos., ou matas , vales , ou ·maroinhos foram dados a
.alg.üas pelfoas em dãno do~ moradores dos ditos Lu-
e
guares, emend~rem que .por IDe.reito os · p~dern
demandar , dernand~rn-ne~ ·; e .a dlcs , e aos que os
tetlrrem, Mandaremós inteira•lll1l€Í1t-<t {Glzer Jtütiçá·. ·
12 E GEERAuú;:J'ITJl Ma.ndamÇs , :que "'o nde .c.')oet
Y 2 que
.-

172 O ~AR To Lrvu.o DAS 0RoEN. Tn. LXVII.


que Sefmarias forem dadas, ora fe dem de terras
que já foffem aproueitadas, e o nôm fam agora , ora
fe dem dos ditos maninhos , fe as terras onde efte-
uerem forem ifentas , fe dem as Sefmarias ifentas ;
e fe forem tributarias , com o tributo de !las as dem,
e nom lhe ponham outro tributo por mais fauor da
lauoira, e pondo .. lhe mai;; tri buto~ ou foro alguu;
Auemos a tal impofiçam de foro, ou t'ributo, por ni-
nhüa , e de ninhuü viguor , e as Sefmarias ficaram
em fua força fem a tal obriguaçam do dito foro, ou
tributo ; e Mandamos que fe nom polfam leuar os
ditos foros , <?U tributos, affi os que já fam poftos,
como os que daqui por diante fe poferem , fem em-
barguo de poffe , nem cuftume , nem prefcripçam
immemorial, que aleguar poifam ; porque Au~mos
por danada e ninhüa ·a dita po!Ie, e prefcripçam, e .:c.P''
cuílume immemoria:l nefte cafo.
· 13 E Q..YANTo he aas roças que fe por tempora-
das podem fazer nos ma'tos , ou maninhos dos ditos
Luguares, que nom fam pera. durar em lauoira por
fraqueza da terra ónde eftam , faluo por huü an'no,
gu dous, ou .tres, Mandamos que os Juizes, Verea-
qores, e Procurador dos ·ditos Luguares as vam
.v eer, ç fe a terra for tributaria vaa com elles -o
Noffo Almoxarife, e os que as taees terras ped irem,
~ fe acharen1, que 'queim ando-as, ou r0mpendo, 04
fcarnarldo os ,d ito·s. matos , ·OU aruores, ferá dãno gee-.~o
r~J, , ou a algu\is em particular , no logramento e
qiaçam .qqe olhe pertence,· ou que fer~ maior dãno e
tor-
D A s sEsM A R i A s.

toruaçam no paciguo dos guados, palas coimas que


fe nas ditas roças podem fazer, que o proueito---que
fe na dita lauoira por pouco tempo pode feguir ,
Mandamos que em taees cafos nom dem as ditas
terras pera roças ; e achando que íe nom fegue del-
las dãno, dem luguar pera pelos ditos tempos po-
derem fazer as ditas roç~s com o tributo da terra,
fé a terra for tributaria, ou ifentamente e fero tribu-
to alguü , fe a terra ·for ifenta, e efto em fauor da
lauoira como emcima Dilfemos ; prouendo fempre •
em a dada das ditas roças, que por pouco proueito
particular, e de pouca dura, nom fe faça dãno gee-
ral aos moradores dos ditos Luguares, ou a alguiís
delles em particular.
14 E DEFENDEMos aos Prdados, MeHres) Priores,.
Comendadores, Fidalguos, e quaesquer outras pelfo-
as, que Terras ou Jurisdiçoes teuerem, que os cafaes,
quintãs, e terras qtíe ficarem ermas, fe nom forem
fuas em particular por titulo que dellas tenham, ou
por titulo que tenham as Ordens, ou Igrejas, e Moe-
jleiros , as nom tomem, nem apmpiem pera fi., nem
pera as ditas Ordens .• Igr_ejas , ou Moefl:eiros , e as
leixem dar aos Sefmeiros de Sefmaria,. como Nós
em Noífas Terras Fazemos; nem tomem iffo mefmo
os maninhos, que por propios títulos nom forem
feus , ou das ditas Ordens ~ e Igrejas, nem os ocu-
pem, por dizerem que fam maninhos, e lhes perten-
cem ; por quanto os taees maninhos fam geeralmen-
re pera paftos , e criaçoês , e logramento dos mo-
ra...
174 O O!!ARTo LIVRo DAS 0RDEN. Tn, LXVII.
ra·dar~s dos Luguares, onde dleuerem , e nom de,.
'Uetn delles feer tirados; faluo pera fe darem de Se(-
maria pera Iauoira, quando for conhecido que he
mais proueito, q'ue jazerem em matos brauios co-
mo dito -h e, e elles vf em em fuas Jurisdiçoes , e
Terras, como Nós nas Noífas vfamos; e os Sefmei-
ros poderam dar os ditos maninhos naquelles cafos ,
e naquella maneira, que per Nós he determinado
que fe poífam dar.
15 E NA M poderam poer nas Cartas de Sefma-
- rias, quando as derem, que nom aproueitando as di-
tas terras, ou matos, ao tempo que lhe he limita-
-do, que as taees terras ou matos fiquem aa Ordem ,
ou Igreja, ou Senhores fobreditos dás ditas Teri-as,
como Somos .enformado, que muitas vezes até e aqui
nas' Cartas fe punha; e poendo-fe as tàees claufu-
ou
'ras, aéhando-fe que fam poftas atee ora. Aue~
mos as ditas claufulas por ninhlías , e de ninhuii
efeél:o, nem viguor; por quanto quando as terras nam
fam aproueitadas aos tern_pos que lhe nas Cartas ·(am
limitados, ficam, ·e ham de ficar como dantes e~·a'm •
pera -os Sefmeiros as poderem tornar a dar , como
ei:hcima nefie Titulo Difiemos.

'.

TI..
'
175
/

EM Q!!E CASO A MADRE REPET. AS DESP. ETC.

T I T U L O LXVIII.
Em que cafo a madre "repetirá as difpifas que co-m
jeu filho fez.

N ACENDO alguú filh9 delegitimo matrimo-


nio, em quanto durar o dito mattimonio .a ntre o
,marido e a molher elles· ambos o deuem criar aas
fuas propias defpefas, e dar as coufas que lhe forem
neceifarias fegundo feu efiado, e condiçam ; é apar-
.ta·do o matrimonio por algua razam fem ~-rlecimen­
to de cada huú delles , a madre ·ferá theuda ·criar o
filho atee bidade de tres annos, ·e dto de leite foo-
roente, e o padre lhe fará toda a outra defpefa que
lhe for neceífaria pera fua criaçam ; peró fe a ma-
àlre for de ta1 qualidade e condiçam , que razoada-
me!Jfe nom deua criar feu filho aos peitos , o padre·
fhá th'eutio de o má:nctar criar aa fua cufia , no dito
témpo 'de lre·s -annos , affi de leite, como de qual-
€J.l1'ér out:ra defpefa , que fdr neceífaria pera a fua.'
,eriHÇ<Ül'l.
i E 'sÉ. o 1ilhó nom for naéido de legitimo ma-:
fii'Í·R1ÊHl'Íô, quer 'feja natura1, que'r efpur.io, ·e de qual-\
qúer outra cbndiçam, a maâre ferá theuda de o cri-
á r de l.{!ite ·atee as ditos tres ànnds , e toda a outra
defpefa, aili no dito tempo, como tlefpois, ferá fei-
tà .aa 'i:tiila do padre., affi tomo Dizemos no fifho.
tegitii'ne. E fe em as ditos tres annos a madre fizer ·
algua d'êÍpéfa-acetca deffe filho, .que o padre he obri-
gua-
'I 76 o 0EARTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LXV(II.

guado fazer, poderá em todo o cafo cobra-la, e aue-


Ja do dito pay , pois que o ella fez , quando elle era
theudo de a fazer.
2 E ÊM todo o cafo onde o padre for theudo de
paguar a criaçam do filho, fe elle nom teuer por
onde o polia fazer, paguar-fe-ha entam por os bens
do filho; e nom tendo bens o filho far-fe-ha aa cu-
_fta da madre, em quanto o ella bem poder fazer ,
fegundo Diremos no capitolo feguinte.
3 E I-'ALECENDO o padre por morte, fe a madre
for Tutor do filho , ou adminiílrar feús bens como
Tutor, ella ferá theuda de criar o filho de leite atee
os ditos tres annos como dito he , e roda a outra
criaçam fe fará aa cuíta dos bens do filho, fe os te-
uer , e nom os tendo faça-fe aa cuíla da madre , fe-
gundo mais larguamente Diífemos no Liuro primei:.
, meiro no Titulo Do Juiz dos Orfaõs. -
, 4 E SE o filho teuer bens per que fe poffa bem
criar , e a madre fezer acerca de fua criaçam algüa
defpe('l aalem da criaçam do leite, pode-la-ha co.:.
brar p~r o:o bens do filho ; pofto que 't:1ça a dita def-.
pefa fem proteftaçam de a cobrar dos bens do filho ,
pois que a fez como fua Tutor, ou Curador; e efto
auerá iffo mefmo luguar em qualquer defpefa, que
faça acerca do filho defpois dos tres annos , fendo
fua Tutor, ou Curador.
5 E NOM fendo a madre Tutor, nem Curador do
filho, nem tendo adminiftraçam d_e feus bens, fe
ella fezer algüa defpefa acerca dos bens do filho,
- pofto

. EM QJJE CASO A MADfZF. REPET. AS DUP. ETC. !77
pofto que .a faça fem a dita proteftaçam , poderá re-
petir a tal defpefa, e cobrar por os bens do fi! ho.
6 E FAZENDO ella algúa defpefa acerca da pef-
. foa do filho, nom fendo fua Tutor, nem Curador,
nem tendo adminiílraçam de feus bens, fe ella -fe~
zer tal ddpefa fem proteíl:açam de a cobrar e auer ··
defpois polos·bens do filho, nom a poderá mais re-
petir nem auer do filho, nem per feus bens ; porque
pois fez tal delpefa fem a dita proteftaçam , fua ten-
çam e vontade foi de a fazer da fua propia fazenda, e
nom do filho ; e por tanto a nom poderá mais repe-
tir nem cobrar do filho, nem de feus bens em tem-
po alguü , faluo fendo o filho muito rico , e 2r madre
pobre , e a defpef:1. que acerca da peffoa do filho te-
ueffe feita foffe g-rande por refpeéto da qualidade
da peffoa , e de feu patrimonio; porque em tal cafo
a poderá repetir fem outra proteftaçain que pera el-
lo aja feita. E fazendo ella algua defpefa acerca da
peffoa do filho com proteítaçam de a cobrar def-
pois polÕs bens do filho , poderá todo cobrar e auer
por os bens do filho, faluo a defpefa que fezer em
criar o filho de leite aree tres armos , porque ella he
theuda fazer a dita defpefa cqmo dito he.

Liv. IV. z TI-


(/

T I T u L o I LXIX.
/

Como o man"da e a molhe1; Jocedem huú ao outro.

FALECENDO alguü homem cafado abinteíb.-


do ; e nom tendo parente alguü atee o decimo ' gráo
contado fegundo Dereito Ciuil, qu~feus bens deua
herdar, e ficando fua molher viua , a qual com el-
le jtmtament~ eftaua, e viuia em cafa theuda e rnan-
theuda com'õ marido e molhe r, ella ferá fua vni uer:.
fal herdeira, e pola dita maneira ferá o marido. her-
deiro da molher, com que eftaua em cafa ffi<\ntheu-
da como marido e molher , fe ella primeiro fa-le-
cer fem nerdeiro atee o decimo gráo como dito he ;
e em efl:es cafos 'nom terarn que fazer em taees bens
os NoiTos Alm.oxarifes.

------·-----~----------
TITULO LXX.
----
!'<Jando o pt~dre no te.flamento nom faz menfam do filho
ou neto , e difpoern foomente da terça dos Jeus bens ,
ou o filho nom faz nunçam, do pay ou afi:endenles.

S E. o padre ou madre fezerem teftamento, e fa-


bendo que tem filho ou filhos tomarem a terça de
feus bens J e a leixarem a. qu~m lhes aprouuer , ou a
. '
man-
/

'
~ANDO O PAD. NO TEST. NOM FAZ, MENÇ. DO J!'I,L. !79
mandarem deíhebuir defpois de fuas mortes como
for fuas vontades, pofl:o que no dito teflamento no~
fejam expreffamente os filhos in.fl:ituidos, ou exer-
dados , Mandamos que tal tefl:amento valha, e te-
nha efeéto-; por quanto, pois o padre tomou a terça
de feus be_ns em (eu tefiamento , ·e fabia que tinha
filhos , parece que. as duas partes quiz leixar aos fi-
lhos, e os infiitllio em ellas, pofto que dellas nom fa-
ça expreífa mençam , e affi deuem feer auidos por
inftituidos herdei~os em fauor do tefl:amento, como
fe expreflamente inftituidos foífem.
t E DESPOENDO o padre ou madre em feu teíh-
mento cie todos feus bens e fazenda , nom fazendo
mençam de. feu fiiho lidimo, fabendo que o tinha,
ou deferdando-o ,_noni declarando a caufa legiÚma,
por que o deferdaua , tàl tcíl:amento he por Derei~o
ninhuu , e de ninhuú viguor , quann> aa iníl:ituiçam
ou deferdaçam em elle feita ; mas quanto aos legua:-
dos em o dito tef1:amento contheudos fe.ram em todo
o cafo firmes e valiofos, em quanto abranger a terça
do teftador, affi e tam compridamentc como fe o te-
fi amento foífe boni e valiofo por Dereito.
2 · E DECLARANDO o padre ou madre em feu te-
ftamento·a caufa ou razam, por que deferda feu filho
lidimo , fe o herdeiro inf1:ituido no tefl:amento qui-
fer auer a herança, que t'l.elle lhe foi leixada, deue de
nece'llidade prouar a cauÍc'l, e razam porque o dito
filho affi' foi deferdado, feer verdadeira , fegundd no
teíl:amento foi expreífa e declarada, e que a dita
Z2 cau-
·J 8o O Q! Art To LivRo. DAS ÜRDEN. Tn. LXX.
caufa e razam he lidima e fufficiente pera o filho
por ella poder feer ·deferdado, a qual prouada fica-
r_á o tdl:amento bom e valiofo, e o herdeiro inftitui ..
do auerá eíla herança que lhe foi leixada fem .outro
cmbarguo; e nom prouando elle a caufa ~a ~xerda­
çam feer verdadeira e legitima, ficará o teílamento
pinhuü. , e auerá o filho todà a herança de feu padre; .
ou madre fe a quifer auer-; peró paguará os legua..
dos no di to' te!l:amento contheudos polo modo fo-·
bredito, porque os leguados em todo cafo fam deui-
dos , como dito he.. -.
3 EMPERÓ fe o padre ou madre ao tempo que
fez feu teílamento teueHe alguü filho lidimo, e ten-
do e crendo que era morto nom fez delle mençam
no dito te!l:amento , mas defpôs e ordenou de todos
feus bens e fazenda, fazendo alguü outro herdei-
ro , em tal cafo o teílamento ferá ninhuii nom
foomente quanto aa inílituiçam, mas tambem quan-
to aos leguados·em ellc contheudos.
4 E ToDo efto que acima dito he, quando fe O ·
pay fina leixando filhos, auerá luguar, quando faz
o dito teílaroento , e fe fina fem filhos, e lhe ficam
netos ou outros defcendentes; e iffo mefmo auerá
luguar, quando o filho,, ou neto, ou outro defcen-
dente fe finar , e fezer teftamento em cada hiia
das maneiras fobreditas fem leixar defcendentes·, e
teuer pay , ou mãy , ou outros aícendentes.
S E BEM ASSI Dize.mos np cafo onde o pad.re
ou madre ao- tempo do teftamento nom tinha filho
al-
COMO O FIL. DO, PIAM HERD. A IIER. DE SEU PADR, I 81

alguu Jidimo, e defpois lhe fobreueio , ou o tinha e


nom era dello fabedor , e he vitw ao tempo da rnor-
Je do padre ou madre, porque em · ~ai cafo, affi Q
tefiamento, como ·os leauados
. , • b J
em elle contheudos I

fam ninhuüs, e de I)'inhua força e viguor.

T I T U L O . LXXI.
Como o filho do piam herda a herança de Jeu padre. ,.

SE alguú homem o~uer


ajuntamento com algüa
molher folreira , ou teuer hüa foo manceba , nom
auendo entres el!és parentefco , nem outro impedi-
mento por que nam po1fam ambos cafar, auendo
de cada hüa dellas filho ou filhos , os taees filhos
fam auidos , e reputados por filhos naturaes ; e fe o
padre for piam fuceeler-lhe-ham os taees filhos na-
turaes , e .viram aa fua herança igualmente com os
outrós filhos lidimos , fe os o padre teuer ; e nom
auendo hi filhos lidimos , herdaram os ditos natu-
raes todos os bens, e herança de feu padre ,. faluo a
. terça fe a o padre tomar , da qual poderá defpoer
como lhe aprouuer. E iffo mefmo auerá luguar no
filho que alguü ho'm em folteiro piam ouuer d•aJgúa
fua efcraua , fe por morte de feu pay ficar .forro.
I E SE ao tempo C}Ut! o filho Q~- filhos fobreditos
nacerem o padre for Caualci)'o, nom he-rqaram os
. ' '
taees
"· ~82 o ~ARTO LIVRO DAS 0RDEN. TIT. LXXI. '

taees filhos fua herança, nem entraram aa partilha


eom os ·outros filhos legitimas , nem com outros
legitiinos defcendentes ou afcendentes: e nom ten-
do 0- padre .defcendentes nem· afcendentes legíti-
mos ,, poderá defpuer de todos feus bens como qui•
fer; e [qlecendofem teltamento, herdaram feus bens
os parentes mais cheguados, e nam os filhos da man-
ceba, porque os filhos naturaes nom podem her-
dar abinte{tado a feus padres , faluo fe ao tempo
qu~.· o .fi)ho nu filhos nacerem for feu padre -piam ,
como dito he.
2 ·E sE ao tempo que o filho ou filhos nacerem
o padre . for piam, polto que defpois f~ja feito Vaffa-
lo, ou Caualeiro, ou d'outra maior condiçam, nom
pelideram por -iífo os taees filhos -naturaes a fua he-
rança, ou aquella parte que lhes della pertencer, mas
aue . la-ham aili como deu iam auer; f e o dito f eu . pa-
dre foffe ainda piam ao tempo de feu finamento .
. 3 E o.y ANTO h e a e fie cafo , Caualeiro fe enten-
de nom foomente o que for Caualeiro d'efporas dou-
rada:s ;mas ainda.qualquer Vaífalo, ou Acontiado em
cauat~ , (i)U· Efcudeiro , ou, outro de femdhanté;con.::.
diça~, ,que acuftume andar a caualo, nom fendo o
que affi acuil:umar andar a·caualo official macar.üco •
nem auiclo .e tratado por piam ; e polto que CJ piam
tenha Ordens Menores nom ferá ·por iífo auido por
Cauale.i.vb quanto a efte cafo. / · ·
.4 P.ERÓ . fe ' o Cawaleiro, que teuer filho ou filhos
naturaes, noin tcuer filhos alguüs, nem outl'CJS def.;.
cen-

DA FIL. QyE SE CASA suí AUCTOR. DE SEU PARO. r'SJ

cendentes legitimas , e teuer padre ou ·madre, ou


outros legítimos afcendentes, poderá em íeu tefia-
n1ento leixar toda fua terça , ou parte della ao filho
ou filhos nàturaes ; e nom tendo o padre ninhuüs
defcendentes nem afceFidentes legitimas , poderá em
fcw teítam·enro · leixar toda fua fazenda aos filhos
naturaes fe quifer. ou defpoer della em outra ma-
neira como lhe aprouuer.
/

TI TU . L · o LXXU.
ria filha que Je ceifa Jem auélon'dade de [eu padre ant~·
que aja vinte e cinco ann;s , e em que cqfos o pay po-
de dejerdar Jeus filhos ou filhas.

S E algüa filha ante que aja vinte e cinco am1o~·


dormir com alguü homem, ou fe cafar fern manda-
do de feu padre, ou de fua madre , por eífe mefmo
fe ito ferá deferdada., e e~CI·ufa de todos os bens e
fazenda do padre ou madre , pofto qu:e por elles ex.-
preffamente nom 'feja ,d Gferdad~h ' 1 ' :,
~ E sE ao tempo da mqrt~ do padr~ ou madre
hi ouuer outro fi! h'o lidimo , ou filhos, que nam''te..
nham come.tido femelhante erro, nom poderá o pa-
dre ou madre herdar a fi'lha, que ·am e'rrou, contra
vontade do filho lidimo, ou da filha ' lidima que ··fe ....
melhante erro nom ouueífe feito, · na legitima que
por Dereito lhe vinha. E fe ao tempo da morte db
pa-
o
1 s4 o ~AR To Lr,vRo oAs ORoEN. TIT. txxu.
padre ou madre hi nom ouuer outro filho ou filha
lidima , ou netos, ou defcendentes lidimos de cada
huú delles , em tal cafo poderam el!es , e cada huíi
delles herdar .a filha qu€: contra elles e~rou, como
c em quanta parte lhes aprouuer ; porque pois a el-
les foomente foi feita· a dita injuria, com jufta razam ·
a podem perdoar ., pois h i nom ha outro filho , ou
J

filha, ou neto a que fe por e!fo faça perjuizo.


2 PERÓ fe a dita filha cafaífe com pe!foa que no-
toriamente feja conhecido que cafou milhor, e mais
hom;-adamente do q·ue a feu pay e mãy podéram ca-
far , em tal c;afo a dit.a filha nom fica deferdada , e
excrufa de 'todos os bens e fazenda, como emcima
dito he: mas foomente o padre ou madre a pode-
raro deferdar, fe qui[erem ;· d'ametade da legitima
que lhe dereitamente pertencia per morte de. cadíil
huür delles; e nom a deferdando expreífamente da
dit'a .metade pola dita caufa, auerá liuremente fua
legitima em todo, affi como fe ocafamento fora per
confentimento do padre oú madre, c e(~o quer hi
aja.ao tempo da morte outr.o filho ou. filha lidirno,
ou neto de cada huu delles , quer os norn aja ;
E flS outras câujas, porque o padre ou madre podem
difer4ar o filho ou filha ,Jam as Jeguintes.•
. 3 PRIMEIRAMENTE fe O filho OU filha irofamen-.
te pofer as .rnaõs a feu padre, ou a fua madre.
4 I TEM fe o qoeftar de palauras graues e inju.,
.t;~ofas , Ç. rnai_oq~e[,lJ~ ep1 luguttr de praça o~pe o pa-:
'I•. ' ~ . dre

DA-Ff.Ll·L QPE SE CAS_A SEM AU CT. DE SEU PA DRE. I S5
dre 0-u madre com taza~ :recebam verguonha ; e
deue f-icar em aluidrq do Julguador fe a~ palauras
injuriofas .foram graues , ou Jeues.
5 I TEM .fe -o filho ou filha acufarem- criminal ..
mente o padre ·ou .mad-re d'alguü crime., que nom
tm~gua ao Eftado Noffo-.
6 h~>M fe o filho_ou filha vf.a-r de feitiçaria, con ..
uerfando com os feiticeiros.
7 I TEM fe o filho ou filha der peçonha a? · pa.;.
dre ou madre , oa trautar de lha dar, e nom efteucr
po-r eU:e como lke feja dada, ou der azo, fauor , oi!
_ confelho, ou -~onfentimerito a algu.U. outro acin~e-
mente. pera lha dar. · ·
. :g ITEM fe befcar ' por qualquer outra guifa. oli
maneira por fi , ou por outrem fua morte.
9 I TEM fe o filho ouue afeiçam ., ou ajunta-
mento carnal com a molher de feu padre, ou com
fua manceba , que configo tinha. em cafa m àn..
theuda., e guouernada; e bem affi Dizemos da .filh a.
que femdhante afei-çam ouueffe · co~ o marido de
fua madre, ou feu barreguam que a teueffe -confi-
guo em cafa mantheucia•
.. ro hEM fe o filho ou filha deu enformaçam fa-
mofa do padre ou madre a-a JuH:iça, polo qual o· pa...
dre ou madre receberam algüa deshonrá na peffoa,
ou dãno em feus bens ·e fazenda.
- I r I TEM fe o padre ou madre foram prefos por
algüa diuida , e o filho baram os nom quifeife fiu -
pera os tinir da cadea fendo abonado , e abaftante ·
. Liv• .IV. ·· Aa pera
186) O ~AR~o -L:rv.RD, :ot~-s O!toEN~ TrT. LXXII.
-os
pera fiílr ·e liur.af. della., , e fendo pera ell~ req ue-
·rjdo. ·. ·: --
1.2 In.M.feofilho ou-: filha tolheram·âopadre ou
· madre que nom .fezeffem tefl:amento aas· fuas von--
tades ; -por,,qpe em takafo morrendo o padre em ef1e
ternpo -fem teftamento ,, feria .effe :filho ou filha ex-
·cr)lfo.!de fua .hera·nçfl, e fe defpois .fobreuiuereQ? po-
deram liureuente e.xerdar dfe filho ou filha , que· lhe-
tal ,de.fefa __.fezer.._ :\· ~
·-. 13 E.s.E alguU.~, padre -ou' madre . perdefle.. o .ÍHb:-
naturaLs .·e. o filho . ou filha: ou- -qualquer_ outro- feu
diuido,que aa .minguoa .de feus defcendentesl ou.aC.
cendentes ' " fua-, herança podeífe herdar abinteftado .._
. I

foffe ?egrigente : em O;:C.UraJ:<; em~ fua enfermidade ,


tal como .-efl:e. poderá . fee.r-deferda.do ,deífe. padre .ou
madre.-, ou· auô ; .tornando elles -a1e·w íifo., e=einendi-
merito -comr.rido ;..em 'tt;ttrrianei-fa: que podeffem- li~
uremente tàzer. feus teftamerrtos.
14 _ E MOR-R-EN.oa.elles abimefl:.aclo~;.. ou ·coin -te-
fiamento .- q:ue-·teueífem. feito aut~ - que perdeffem o
fifo, nom aueram fua herança aquelles-herdeiros, que
foram remiffos h e negrig'>!ntes ·ern os f e rui r , e. P.ro.~
curar fua faude ; porque he. de prefumir•, que fea
feu _entendimerÍto comp~~do t~rnaratp norn 1-lie lei~
xanam íua heranç;;t .pola mgraudam,.Hue:c{lntra:.eUes ,.
aúiam ·cometido._ · ·
I 5 . E FERD'ÉNDo alguii-homem ottmolh:er·feu .fi ..
fo e entendin:ento, e aquelle que fua heranç~ ou•.
úeffe de herdar , affi _p,or teftarnente como abinte"":·-·
. fia ..

DA FILH·. QI!E SE CASA SEM AUCT. DE SÉU P ADRE • .I :So/

fiado , .foHe remiifo e negr-igente em o feruir e cu.:.


·rar de fua enfermidade ., e alguú outro eftranho lhe
requereffe que pmcuTaífe por a faude daqNelle 1 def-
afifado, fe nam que; elle o feruiria e procuraria por
fua faude, e efie a qNe tal requerimento foff'e feito ~
foffe remifio ·e neg6gente acerca do dito ·r equeri-
mento~ e e.íle reql!lerente feruiffe o defafifado, e tra-
halhaffe por fua faude qua!lto bem e razoada mente
_podeffe, em tal cafo elle auerá a herança do defafi-
faâõ--por fua morte , morrendo elle fóra de feu en-
tendimento,- e ·o ou.tro que a dita herança auia d 'a-
uer ferá auido por ingrato, e affi como indigno ferá.
excrúfo da dita herança; -
I 6 Ou To R si ·fe o padre Óu mad.re forem poftos
em catiueiro, e o filho ou filha forem negrigentes
em o remir, e liurar do diro catiueiro ·~ e dfe padre
GU madre por fua boa diligencia foffe liure do dito
catiueiro . fem ajuda, ou pre!lança do filho. ou filha,
.poderá o padre ou madre affi remido çlo dito cati~
ueiro exerdar liuremente effe-filho ou filha , que aíii
forem negrigentes ·e m remir fNa liberdade ; e fe 'o
padre ou madre affi pofios -em catiueiro mon-e-
rem em ' elle por cu·l pa ou negrigencia de feu filho
ou filha, e!fe filho ou filha, affi negrigentes no remi-
menta da liberdade de fe11 padre ou madre, ferá de
todo excrufo de toda fua herança , pola culpa e ne-.
grigencia que affi cometeo em nom remir fua liber...
da de.
17 I TEM fe o padre ou madre forem . Catolicos.
( - Aa 2 Chri-

188. O ~AR:TO · LrvRo DAS ÜRDEN. TrT. LXXIIl.

CriftaõS.·, e o filho ouJ11ha· foíiem hereges, que per- ·


feitamente nom creefiem em a ·Noífa. Sanéta Fee
Catolica, defuiaudo do. mandamento da Santl:a Ma'-
c;lr~ Igreja, em tal <;afo poderá, o padre· ou; madre
exerdar liuremente eife· filho -ou filha •.
18 E TODo, o ql!e dito he acerca. do padre ou
madre, auerá luguar nó auô e na. auoo ,_aili da par~
do p~dr~, como.da madre~ ·

--~--·------·------·------~-----------
· T 1 T U ~· O . LXXIII.. ·.
Em . que c.cifo poderá o filho . ou · fil/ia dejerdar,
a Eadr:e- ou . madY:e.:
' -

SE O · padre ou madre der peçonlilr-a f-eu, filho ou•


filha acint.emente, ou lhe fezer, àlgüa feitiçaria pe-
la o matar:, ou por alguü.. outro . modo trautafie e
procuraífe fua morte , . em tal cafo e(Ie filho, ou filha
poderá licitamente exerdar. tal padre ou.. madre de
'ocia fua herança.:
1 .. O SEGUNIÃO-cafo he, fe o' padre ouuer ajunta-
m€nto· carnal COm a molher de feu filho , OU· cem
fua ba1~r€.guam que tenha, .ou:teudTe em, alguü tem-
po theuda por. fua, manceba ... íabendocque o eram,;.
e bem aili fe a . madre ouuer ajuntar:nento· carnal·
com o marido, ou banreguam:de fua, filha, que te-
uefi"e em alguü tempo theuda:, e mantheuda ,gorman-
ceba, fabendo que o eram.

.EM QYE C:AS. POD·. •o fiL. OU FTtHA DES. O P.A:D •. 1&9
. ' .
2 O 'I'ER,CELRO cafo he, fe o padre ou madre -de..;.
fendeo ou i.m,pidio a feu filho-ou fli.ha! que n®m fe-
'Zeffe tefl:ar•n ento liuremente , a fegupdó fua ve'rcla-
tléiia vontade , querendo o filho ou filha fazer td1a-
mento ,. no cafo onde o podera licitamente por n~­
reito fazer.
· 3 O Q.wAR To· cafo lí.~, fe o pááre der péçôrrha a:
f,ua molher ;, madre de feu._ filho ou filha , peva a tra...
zer aa. morte , ou tirar de feu entendimente , ou por.
outrà maneira r.rautar de fua: moF.tc ;. ou fe a ·ciàdre
fezer cada hüa das .ditas coufas ao marido padre do.-
dito filho ou filha, poderá o filho ou filha licitan1en ..
te exerdam O padre .Oll- madre' ~ que tal. malrlàde ou:.
ueífe cometida~. _ 1 •••

4 (i). QY'J.NTo cafo he-, [e: o filho ou filha pe.rdef...;.


fe o entendimento aatural, e o padre ou maçlre nom·
. quiféUem curar de He ~ fegundo ,dito·Auemo·s, no 'f.j..;.
t.ulo precedente no fllho,,_que for negrigenre em cu.;.
/ r.ar o pad're:ou madre em . femelh<~nte cafo.
5 O SEXTo he, fe o filho ou. fl.lba foífe catáuo , .
~o padr:e.- ou madre. o:.nom quifeífe remirr fendo tJO-·
derofç:>, e abaftante pera: o fazer, fegundo mais ·eom...;
Jilridament~ Temos dito n0 Titulo· precedente do
filho ou filha ,. qtie n.om. curou, de reinir. feu padt:e
ou:-rnadre.. - · - __,_ ..
, ' filha: fef. Cat-e1í-
6 , O •sEBTI"Mo·h e~- fe o filho:. ou r
€0 Crifiaõ ,._ e o padre ou: madre . fo!fem. her.eges .;,
€m· talúrafo poderá o filho -ou
filha ·l·iciramente exer-
dar o.padre: ou madr.e- qJ.le for . herege...

/
·7 E Tono. o que dito he no padre e madre • .que
podem licitarneme nos cafos fu.Co ditos Jeer exerda:,.
dos polo filho :ou filha~ auerá iífo mefmG >luguar. n()
.a uô e au.o o, que fernelhante maldade ouueífe .c ome. ·
:.tida ao neto ou neta.

~-

. .
TITULO LXXIV•
Em qree cajo poderá o -irmao querelar o .tejlammta
,-- · de ftu .innaO.. ·

. GEE.RALMENTE he ~or Dereito perrnill'o .a.<J


innaõ~ que em feu teílámento poífa deferdar-feu ir...
/
rnaõ, pofto que narn dedare caufa algua por que ó
deferde , e nom .poderá o irrnaõ exerdado ccmtradi...·
r
zer. fazer reuog~:~ar o te(hmento 9 em q~:~e aíli for.
:deferdado ~ falu_~ em cada huG. deaes cafos q_\.le fe
fegue, e entende- !e feer exerdado ·ainda- que delk
porn faça mençam no teft:a-tnento. _
" 1 . hEM poderá o irma5 · exerdado contradizer (I;
tella:rnento em que for exerdado • quando ·:o irm a~ .
teftador fezer .herdeiro a algul'i que feja infame de
o
infall'lia de Dereito ou de feito; affi comp .fe herdei-
ro infi-.ituido folfe reputado.antre os bons por vil, e.
;orpe, ·e de ma0s cufhúnes , por' feer: bebadó, Oll
~afl:l~ , ou cde outra femelhante tarpidade .
• : 2 • PilRÓ~· fe : o irmaõ affi.··e xerdado foífe aili torpe,··
vil 1/J ou infame 1_çomo aqudl~ que foífe.no .tffl:a_men.:_,
·"CoMo O PA>DRE E' MAD. HER·DAÔ AO FIL. : BT C._

"
tO. inflituido herdeiro, em tal cafo nom poderá.elle ..:
«ontradizér; o tefiamento do -Írmaõ , . em que affi.for
~xerdado.
J · ·ouTRo ·s r nom poderá o .irmaõ eohtradizer o
tefiamento - ~e feu ir.maõ, em q1.1e fm: exerdado, po:-
fro que neUe íeja infiituida algüa peffoa infame, fe :
fe contra-elle_ prouar. qu·e foi ingraro ..ao dito feu.ir ... .
rnaõ -defunto, com tanto que a ingratidam feja co':" .
-metida por cada.húa : defias caufas ,_, conuerti . a ·fa--
ber , ; fe elle ordenaífe por algua guifa fua m·orte , ,
ou lhe teileífe fe.ita algua ac.ufaçam criminal , ou lhe ·
procur:a.fle eenia de. todos., ÍeUS bens ,_, OU da maÍQiY
~rre delles . .

----·------------------------~·------
T 1 T iJ L O LXX V•.'
{;c1lt!J o ·ptJdre· e madre herda'Q ao filho ·, , e.- nom·: o. irmaõ; .
E da .mQ/ber: q;,-te c'3fouje.ndp de. hidade. de. cincoenta ·
. ann(Js•.

F INA:~D().;.SE ~ atguü ·filho ·ot:rfilha em ·vipa d~.~


Teu padre eu madre.., ou dé.ambos fem tefhrmento·, ,
o dito padre ;_.ou madre.,pu qualquertddles -que viuo ~
for ao tempo do falecimento d-o :filho, ,herd'anLtodoS ·.
feus b.ens -•e f:.tzenda , . p0fié .q ue • h i aja·outros-, filhos,,
irmaõs do dito defunto ; porque, o paste e madre,;
e,x.clude em . t.odo os irmaps do.. finado de fua , he...
r-an~ •.
192 O O!!AR~o LivRe> DAS 0RDEN. Trr. LXXV.
1 · E ·FALEC1lNDO 'Ofilho ·OU fi'lha com tefiamen-
te>, c fendo em hidade pe.ra .com Dereito o poder fa-
'ler , quer feja mancipado, quer efieueffe em .poder
'.de feu padre, ne>s cafos ·em que o filho que efl:i fob
poder de feu padre podeffe fàze.r teftamento , deue
neceffariamente deixar as duas partes de feus bens
a feu padre ou mad.re , fe os teuer, e da terça parte
.poderá ordenar, e ·defiribuir como Ih~ aprouuer.
. . 2 , E ·ESi'O que dito he no padre . e m<.dre auerá
luguar. no auô e auoo, e outros afce·nderites, porque
oi1de ouuer afcendentes nom herdará o irmaõ.
·_, 3 , EJ;iPERÓ ·fe o filho ou filha· que teuer alguu~
bens, qu~ ouue do patrimonio, ou herança de fe~
pay , ou auô da parte do pay, fe finar abintefiado
fem· defce!idcntes· , ·e fua may lhe foceder em os di-
tos beris , e ella .fe cafar cor,n <)utro marido ~ ou já ao
tempo que focedeo era cafada , fe ella do primeiro
marido teu·er outro fiiho, ou· filhos irmaõs do filho
fiHad.o , auerá a dira fua mãy ·o. ufo e fruito .foomente
dos ditos bens em fua vida , os quaes nom poderá
emalhear, nem obriguar, nem auerá o fegundo ma-
rido parte da propriedade de.Jles , e per falecimen_to
della os auerâm liuremente os filhos do dito pri-
meiro. matrimonio , que pe>r'.fa.Jecimento da .dita fua
mãy vit.Jos _fiçarem , !em .os ..filhos do feg,und<i> . ma-
trimonio em os ditos bens poderem foc.e der, n~m .
auer delle.s parte a-)gúa; e fe .ao tempo do falecime!l-
to Qe fua mãy _nom ficaffem. filhos _yiuos ..d.@primç:i-
meiro matrimonio _, po{io que ficaífcm netos .fi~hos
d'al..
CoMo O P'ADRE l .r,IAD. HERDAÕ AO PILH. !T C. I9J
d'alguu dos ditos filhos, nam auerá luguar a difpo.. .
fiçam deíl:a Ley, porem. ficando alguu filho ao tem-
po do falecimento de fua mãy, e alguú neto d'outro
·filho já morto, Mandam9s que o dito neto ou ne-:-
tos concorram na foceffam do tio morto com o tio
viuo, e f~ o filho ou filha que fe .finou, de cuja fo-
ceflam fe traute , fe finar com teíl:amento, guardar-
fe.;,ha em eíle cafo o Dereito Comum.
4 E swoo a tal fazenda, que affi a dita mãy f<?-
çeder do dito filho, em bens moueis , ou dinheiro ..
fet;á a dita mãy obriguada dar fiança aos ditos ben$
moueis, ou , djnheiro que affi foceder, de ficare~
em faluo ao tempo de fua morte , pera o filho ou fi-
lhos a que ham de viir.
5 E. o Q.YE dito he na mãy auerá iffo mefmo
luguar no pay, que foceder áo filho, ou filha , nos
pens que lhe vieram da fazenda da mãy , ou dos
,uoos da parte da mãy , fe elle cafar com outra mo'":'
lher , e lhe ficar por fua morte alguú filho ou filhos
.(la primeira molher, irmaõs do filho finado , à que
b dito feu pay teuer [acedido -; pote·m o pay nàm fe ...
(á obriguado dar f;iança , poftQ que a fazenda feja
de bens mouei.s, ou dinheiro. E norn auerá luguar
a defpoíiçam defta Ley nos a1,1ôs , ou auoos , qu<:
fegundamente fe cafarem. _
6 E o.ECLARAMos por euitar alguas duuidas, qúe
fe podem recrecer nas partilhas que eram .feitas an-
tes defia Nolfa Ley "c Ordenaçam, a qual,. por Nós
foi feita, e pubricada aos trinta dias do mes de
Liv. JY. Bb Mar..
194 o 0EARTO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LXXV.
Março da·era dê Nofio. Senhor Jefu Chtifto de mil
e qu_inhentos e doze anrios , qué em todos os cafos
· onde a mãy •. ou pay, que antes da dita Ordenaçam
. fegundamente cafou ·, fe finar, ou forja finado, def-
. pois de aili a dita Ordenaçam feer feita; que QS fi.
lhos. do primeiro mau:imonio ajam todos os bens
que o dito feu. pay ou. mãy ouueram do filho . do· pri-
meiro. mattimonio, fegundo emcima Temos decla ..
rado, fem os filhos. do fegundo matrimonio pode-
rem alegua,r por fua parte· coufa. algüa ,.. que contra·
iífo poff"a. feer. E fe ao tempo que a dita Ordenaçãm
foi feita , já o. pay,_ou mãy, q_ue fegundamente cafa-
ram , eram finados , pofto que ao dito tempo ainda
a partilha nom fofTe feita antre os irmaõs , e fe fa-
Ça defpois. d-a dita Ordenaçam , nom fe guardará
ein tal cafo a dita Ley , e-Ordenaçam , ante~ parti_-
ram todos os irmaõs ) aili do primeiro matrimonio ,
como do íegundo juntamente, aili como focediam
por cuflume do I\eyno, antes que a dita Ordenaçam
foffe feita. · ·.
· 7 E MANDAMOS que quando !llgüas molheres ca~·
farem fendo de cincoema armos , e di pera cima ,
f~ndo filhos ou outros defcendentes , que por De-
feito lhe pofiam foceder, que em tal cafo as taees
molheres nom pofiam emalhear por ninhuü t~tulo
que feja, aíÍi em fua vida , como ao tempo de fua
morte, ãs duas partes dos bens que tinham ao tem-
po que concertaram de fe cafar , nem menos a~
duas partes dos bens, que defpois de affi ierem ca-
fa-

EM Q!JE -FOR~A. SE FARAM os .TESTAMENTOS. I9)

fadas ouuerem po·r qualq11er titulo de feus afcenden..


tes, oq defcendent:es, e foomente poderam qefpoer d;t
terça dos ditos bens aa fua vontélide ; e emalheando as
ditas duas partes por qualquer modo. que feja, a tal
emalheaçam Auemos por ninhüa, e de ninhuú vir
g uor ; e fe -ao t en1po de fua morte nom ._!eu er afcen-
dentes , ou defcendentes, as ditas duas partes .• qtt_e
affi. -M andamos que ·nom .po.lfa emalhear, ficaram
aos parentes mais cheguados , e- âa -terça poderá
teil:a.r aa fua vontade como dito .he; e tendo bens em
que·aja de I}Omear, .nom poderá ilom.ear à ninhuü
dos ditos bens o marido., com que affi -na tal hid a~
de caiar.

T I . T U L O LXXVI.
Em qut fôrma fe faram os tejlametttos, e dar tej!emu• :
nhas que em elles /t re9u-eretJZ..

Q UERENDO algcia peffoa fazer teil:a~e~t~


aberto por Tabaliam pubrico, .pode- lo- ha fazer , ·
com tanto que tenha cinco. teftemunhas . bar.oes li..
ures, ou reputados por liures) e fejam maiores de
quatorze annos, por maneira, que ·c om q !abaliam
que fezer o teflamento fejam feis reil:emunhas ; o
qual tejl:amento, o dito Tabaliam efcreuerá em, fua
Nota, ~ ferá affinado por .as ditas teftenmnhas , c
polo tefiador fe.foub.er o.úl pode~ affinar, ·e nam fa~
Bb 2 ben...
196 O ~ARTO LivRo DAS 0RnE·N. TrT. LXXVI.

·bendo ~u nom podendo ~ affinará por eHe hí:ia das


'd itas teftemunhas , a qual loguo-dirá ao· pee do fi-
nal, como aB1na por m·andaoo do. dito teftador ,
. ;por nom faber ou ·nom pod.e r afli:nar, e tal tefia-
mento ferá firme e valiofo.
- 1 · ·E Q.!l'ER~.N oo 0: dito tefl:ador fazer feu tefia-
:m.ento 'çarrado-, o-poderá fazer nefta maneira., €on-
'uem a· faber, defpois· que efcreuer:, ou manda-r efcre-
creuer feu tefl:amento , em. qt~e declare toda íua
vontade, o afli.nará , nom fendo efcripto por fua
tnaõ, porque kl1do efcripto por fua maõ abaltará ,
-ainda que nam feja por: elle affinado ;·e nom- faben- .
do o dito teftador ,. ou. nom podendo affina·F > ferá
affinado por aquell'a pe:ffúa que lhe efcreuer o dito
tdl:amento, e o tal teltamento ferá çarrado, e co-
feito, e elle teftador o entreg11ará ap Tabaliam pe-
rante cinco teftemunhas baroés liures , ou por taees
réputados, maiores de ·qu-atorze annos, . e prefente
ellas lhe preguntará o, Tabal-i am , Se· he aquelle oflu
teflamenlo , eje o ba por bom.,_ e firme ,.e valiojo , e di-
zendo que fi fará loguo em prefcmça das ditas te:.
ftemunhas o eltormentb d'aprouaÇam nas coltas do
propio teftamento) declarando como 0 dito tefiador
lhe entregou o dito tefl:amento) e o ouue por fcu > e
bom, e firme , no qual efl:ormento d'aprouaçam affi-
naram todas _as ditas . cinco tefiemunhas, e o dito
teftador fe fouber ou poder affinar ; e nom fabendo
ou nam podendo affinar , ailinará hüa das ditas te-
ftemunhas por elle, declarando ao pee do ilnal , que
affi.
· EM Q!JE FORMA SE .1AIU.M OS T:ESTAMENTOS. 197

affina por mandado do dito- teftador por norn fa.


ber; ou nom poder aílinar; e d'outra guifa nom fe-.
rá valiofo·o di.to tefl:amento, e efl:o ·fem embarguo
de qualquer cufl:ume, que eU) contFairo: defto em
alguii Lu-gwtr ou Luguares atee ora. íe vfaífe ;, por
qua-nto. o tal cufl:ume Auefnos por ninhuíi, e repro-
uado , e M andamos que daqui em diante fe nam ·
vfe mais ,. e fe·guarde em todo eft.a Noffa Ley , fob
pena, que o Tabaliam que fezer dlormento d'apro. ·
uaçam d'alguii teftamento , ou codicilo,. fem o _fa-
zer affinar por a·s tefl:emunhas em elle nom~adas, e
polo tefl:ador, como acima dito he ~ perder o Offi-
€Ío, e o efl:ormento. d'aprouaçam ferá ninhuii.
:i. E POR €.UÍtar arguas falfidades ,. que fe pode-
I!Íam fazer nos ditos tefl:amentos, Mandamos ao Ta-
baliam, que o dito efl:or,mento d'aprouaçam fezer, o
faça, ou comece de fa-ze.r: em parte d'algüa das fulhas.
em que algüa parte do.dito t.efl:amentG feja.efcripto;
e fendo cafo que todas as folhas do dito tefl:amento
fejam efcriptas •.. em- maneira que o Tabaliam nam
p0ffa· fazer o dito efl:ormento d'aprouaçam ,. ou co-
meçar a. fazer em. alg.ua-das. ditas folhas do díto te-
:ftamento como dito he , entam poerá o dito Taba-
liam em qualqu.er pa1=te· do- dito tdl:amento o feu
final pubrico, f: no ef.lormento que fezer d'aproua-
çam em outra folha, em que efl:ee enuolto ou co ..
feito o dito tefl:amemo., declarará cmmo no,dito te...
ftamento. fica o feu. final pubrico. por nom ter folha
limpa, em que começaífe, ou fezdfe·o. ditG efl:ormen-
·to
198 O ~AR To LrvRo o..,.s ÜRDEN. TrT. LXXVI.

to d'aprouaçam , por tal que fe nam pofia tirar o


dito teftamento verdadeiro do eftorménto d'aproua-
çam , e . meter outro falfa:merite fabricado em feu
luguar , e ~ Tabaliam que d''outra maneira fezer o
dito eíl:ormento d'aprouaçam perclerá feu Officio.
3 E sE o tefl:ameAto for feito polo teftador. , ou
l'or algüa outra pejfoa priuada , e nom teuer eftor-
mento pubr\co d'aprouaçam .nas coftrrs ., t'lein fOr
feito por Tabaliarn , e!fe teftador por.·cuja maõ for
feito ou affinado a dito teftatriento feja auido em lu-
guar de Tàbaliarn ; e bem affi qualquer outra pe!foa
por cuja maõ for feito, e affinado, em tal guifa; que
com eíle teftador por cuja maõ for feito ou afftna-
.do , ou com '\ outra priuada pe!foa que affi fezer • e
affinar, fejam feis tefteml.mhas, as quaes tefl:emunha$
affinaram no dito teftamento , fendolhe primeira-
mente lido perante ellas, as quaes teftemunhas feram
baroés maiores de qYatorze annos , e li01·es, ou por
taees reputados; e -em efte cafo quando for feito pa-
Io teftador , ou po>r Dtttrá pe!foa priuada fem eftor-
mento pubrico nas coftas , deue tal tellamento feer
pubricado defpois da morte do tefl:ado.r por auél-o-
ridade de Juftiça, chamando as partes a que per..
tencer, fegundo fórma do Dereito.
4 E PClDER~' o tefl:ador . ao tempo de fua morte
fazer feu teftamento por palaura. ou ordenar de fells
bens por algüa guifa, nom fazendo dello efcri'ptura
·-algüa , e em tal cafo Mandamos que víl'lha o tefl:a-
mento com feis teftc:munhas, e em efte conto feram
con-

E.M QYE FORMA .SE FARAM 0.11 TESTTAMENTOS • . 199

tadas al1i as -rnolheres como os homens, por o ta.l


teffamento feer affi feito ao tempo da morte.
5 E QJJERENDO alguu fazer codicilo~ quer aber- -
to feüo per Taba] iam , quer çarrado com efl:ormen-
to d'aprouaçam feito nas coftas , ou feito e afiinado
polo teftador , ou por algüa outra priuada pe:ffoa ,
deue-o fazer com quatro tefl:emunha!> homens ou
molheres maiores de quatorze annos; e l~ures ou por
taees reputados , em tal guifa, que com o Tabaliam.-
ou com o defunto, ou qualquer outro que o efcre-
uer. fejam cinco tefl:emunhas, com tanto que as te-
ftemunhas nomeadas rio efl:ormento d'apwuaçam
affinem todas , como dito he.
6 E Q.iiANDO os teftamentos ou codicilos forem
feitos como dito he , Mandamos que valham affi
como fe o teftam~nto teueffe fete teftemunhas, ou
o codicilo cinco, fegundo fórma de Dereito •. -
7 E ES'EO que dito he auerá luguar nos tefl:amen-
tos e codicilos. feitos nas Cidades , Vi !las .. e Lugua-
res, onde aja tam .gra11de pouoaçam, que ligeiramen ..
t~ fe poiTam auer todas as ditas teftemunhas ; e nos
outros Luguares de t.am.peqt!.lena. pouoaçam, em que
ligeiramente fe nom: pofra auer. o dito conto de te4
ftemunhas , _ Mandal!lOS que o teftamento ou codi ..
cilo valha com, tres teftemunhas, quer feja aberto ,
quer çarrado , quer escripto, ou ao tempo da mor-
te por palaura ; por quanto em os Luguªres ermos $'
e de pequena pouoaçam nom .fe requere tamanho ·
conto de teílemunhas , corno nos Ltiguares pouora-
dos, onde ligeiramente fe podem auer. TI-
200 o ~ARTO LIVRO DAS 0RDEN. TtT~ LXXVII.
T I T U L O LXXVII.

De comofe ham de faze_r as parlifoes .antr.e os irmaãs.'

,QuANDO alguü homem cafado , ou fua mo-


lher fe finar , deue o que ficar viuo dar partiçam aos
filhos do morto fe os teuer, quer fejam filh-os dan-
tre ambos, quer da parte daqueHe que fe finou, fe os
filhos forem lidimos" ou taees que per Dereito, ou
fegúndo Noffas Ordenaço~s deuam herdar feus bens;
e nom auendo hi fi-lhos dará partiçam aos netos , ou
dutros de.fcendentes do finado , ou aos afcendent~s
fe defcendentes nom teuer , quando os afcendeatcs:
elleuerem etn ig~:~al gráo ; · e eílando os afcenden-
dentes em defigldal gráo he:rda-rá o aícendente mais
cheguado em gráo , affi como fe fe finafie húa pef-
foa fem defcendente, e teueffe fua mãy viua, e a !li feu
auô, ou auoo , pay ou m:íy de feu pay, em tal cafo
focederá a mãy, e nom o auô ou ouoo por parte de
feu páy, e aili. em femelhantes caías. E norn auendo
hi herdeiyos deftendentes , ou afcendentes por linha
dereita , dará o que viuo fi<;ar partiçam a aquelle a
que o morto mandar em féu tellamento ; e falecendo
fem tellamento a dará aos parentes mais chc;guados
do ·defunto fegundo difpoíiçam do Dereito, e par- 1
tirá com os herdeiros do finado todos os bens , e
c.oufas que ambos auiam, affi mouel , como raiz.
I E sE o padre ou mad{e 1 ou ambos juntamente
de-

' I
DE COMO SE HAM DE "FAZER AS PAR Tiç. ET c. 2~I

deren\ algl'ta Col:lfa mouel bU de raiz a alguU de fe~s


filhos, quer em ca[am·e nto, quer em qualquer outra.
ÚlaH-eira , ferá theudo mrnar rodo aa partiçam aos
outr-os feus irmaõs, defpois da morte do padre e
madre que lhe a dita doaçam fezeram, com as no ..
uidades que gs ditos bens, q t1e a ffi teuer em feu po- ~
der, e tm,mter 'aa é:o'laçam, renderem -defpois da mor...
te do pad!"e ou madre atee o tempo das partilhas ~
porque nam os tendo em feu poder ao tempo que
fe, o dito padre ou madre fina:t, nom ferâ obriguado
t{azer as ditas nouidades aa colaçam ·; e eflo , poll:o
que polos .irmaC:s lhe nom feja requerido, fe elle en ..
. t.endendo que he feu prou.eito quifer -com elles 'en.-
vr~r aa herança : e bem affi trazerá aa cola1fam tudo
e ,q11e o dito . filho ouuer de feu pache, . ou madre,.
Ql! o que de1les procedeífe, que fe chama em Derei-. ·
t:o prqfeflitio fegundo Diremos no Titula fegtúnte-•.
2 . E FA ·LECENDO f0omente o padre ou madre~ fi._
ca~d'o ,outro viuo, e auendo hi oun:o filho Otl filha~
tornará aa partiçam aquelle a que foi feita a·doa-çam~
fe dle quifer ·e ntrar aa heran·ça do que fe finou> ame...
fude daquello que l:he foi dado, e elle ·e outro irmaõ
ou iTmã partiram a outra herança cornumme!'lte coin
·O padre Oll madre que viuo for; e defpois que for
morto o dito padre ou madre tornará aquelle, a que
, foi· feií:a a d-ica· d~aç;tm, aa pa'rtiçam a. outra metade
que. ficou ; e p:wtirá ou:tra vez igualmente tom féu
i.r;nuú .eu inJ?aÕs: e o -que dito 'he fe entederá quan ..
do o. pa y, ou t~ãy ca(.1.r por Cartas ·d·e rnc;tade fegu.n..:
u~~ ~ ~

.I" .
2021. O O!!ARTO L1v •. DAS ÔRDEN. 'J'I.T. LXXVU.
do cuffume do Reyno, mas qt~ando o pay e m~y fo-
J:am cafados-p.or dote e ar.ras , e dotaoram os filhós ,.
oU: lhe fizeram outra qualquer doaçam, fe gtJarda~á.
ar de.fpofiç-~m do Dere-i to Com~m ,, ora ·· dDtaffem
arnb0s, ou il:ada- huü per fi ..
3 E NO*' tomará aa. putiçam o gentar-, ou cea,
que o padrç·. ou madre· lhe deram ero os· dias de fua
v.oda•.
4 E sE o :fitho ou filha, a que foi feita d'e açam
por o padre- ou madre ,_ ou por ambos ,, a.ili em c:a-
famento come- por qualquer: outra rçanei-ra,_nom qui,..
f'er por morte do padr:e ou madre, ' ou d'ambos , en·..
t.ra.r com. os irma.iis aa, herança do padre o_u.. marlre l).

ou d 'ambos •. nom ferá theudo tornar a· feu ·irma-õ OU\


inna..õs a coufa -que lhe a-fii foi- dada: ; fal'uo- fe eff'a;
doaçam for tam grande .. e·de tanta ·conti-a. que tref-
palfe •. e e:xceda a l'e gitima deffe filho , ou, filha , a que
:fei feita a ditJi doaçam .. e ,ma-is. a· terça da. he;.ança.
de feu- padre ou madre·, ou d'ambos:, fe ambos lhe a.
doaçam. fezera·n1-,. por euja caufa a· legitima de outro,
filho, ou: filhos fique·em.algüa. par-te·detnenuida ; por-
que em· tal: ca,Ío· feri eife filho , a, que a d{)açam foi
f-eita •. fe aa (hcrança- nom quifer entrar, obriguado
ft'fazer ao irmaô ou- irmaõs toda fila legitima., que·
dos bens dQ padre ou madre,., t'Hl- d'ambos ,.fe ambos,
a. rloaçam fezeram: , tirada a· terça lhe- pertencer·
:auer :: e [€ eHe ainda n0m for entregu-e dos bens ,. ou.
if}Uantid.ade de qu~ lhe-foi f€ita doaçam, nom pede-
rá de.m.a-nda.t ,. nem auer mais. que· Q qu€·montar em.
fua
Di~ · OOMO SE R!AM DE ~A.Z'li:;R AS P-!4.R 'l'IÇ·. ·ET 'C. ZOJ

f~a ltgitima , e na terça do pay ou tnãy, que 1he -a..


tal doaçam fezcram > .porque fempre as te.rças cla
1 .)p adre e 'J.]lladre fam obriguadas a .refazer os cafamen-
tos que promete-m ., e doaçoes que fa.zem a .feos lfii ..
lhos atee onde abrangerem -as ditas ·terças., pofto quê
•OS de'f:~!Flctos de lias .ordenem out·ra coufa , e a.imd.a.
.(
que expreff.ament-c non-t foffem obrigu·a das. E De-
daramos, que pera fe dizer -qme a tlita cloa.çam h.e
.;grande., e tref.paffa a legitima e terça, fe ha de ou!ha:r
·<L_ valia dos bens do qt1e . deu , ou prometeo· os d,íros
bens em cafamento, ao tempo que affi forarn dados
mt pr0r:m.et-idos -~ oa ao tempo ·da morte do que d·e u,
'OU prometeo os ditos bens ·em -tafament-o., qual mais
·qu-ifeT efcolhe·r aquelle., ou aqueHa, a quem foram.
-dados Oll protneÜdos OS ditOS -bens em ·cafamento , e
-efta ekolha foomente fer-á nas doa<yoes que forem
d11das ·em 'Cafament0s, mas nas outras dóaçoes .que
fe fezetem aos filhos ou filhas, que nom forem ;pera
l:afamento, fe oUlhará o que os bens· clo doador va ..
-lerem ao .tempo da (ua morte-. , , - ~
- 5 E QYERENDO o filho~ a que foi feita doaçam
polo padre ou madre, -e ntrar a a fua heran·ça , e tra-
.zer aa partiçam a dita doaçam ., pode-Io.-·ha fa7,et
'e m te>do -cafo , ainda que os irma'Ós nom queiram..
E nom traze.;·á o filho '!a par-ti-çam a fetts irmaés o
--que 1he ·o padre ou madl'e de-rem pera a.prender em
:Efcolas ou em Efludc::>, ou a quem o enfinar a qual...:
.quer outro mefier-, nem o que lhe deu pera hir a al1.
güa Romaria, ou .p~ra fua .Caualaria:. em quanto o
{, Cc 2 · fi..,.
o

204 O ~ARTO Lrv. IDAS 0RDEN. TrT. LX~V~l'.:

.:fi1ho he folteiro-, poíl:o que o dito filho vaa rfmitas


vezes aa guerra, e pofto. que quando aili for aa g-ue-Fra
já o dito filho foífe Caualcíro! Porem fe defpois qt~e o
:filho.-for ca.fado for aa guerra ) e lhe feu. pay ou mãy
derem qualquer coufa pera guaftar na d·ita gue.r.ra .•
tr.azerá aa partilha todo o que lhe affi; de11er.n ;' faluo·
fe. ao_tempo ·que aili foi aa guerra: fend~ cafado ain-
<da nom era Caualeiro. ; porque nefte eafo. poíl:o que·
feja: cafado , pois fe vai a fàzer Ccmateiro, Auemos.·
por: bem que noro tragua aa <;;ola:çam e que aili. nifTo-
guaíl:ar-.
6 ·NEM menos trazerá o filho a-a· partiÇam de' feus.
irmaõs.,. o. que lhe o padre ou madre dere·m pera fa.ir -
de.catiuo, ou·de orneúo ,. nem o que com élle gua...
ftaremno Paaçg, quando·o dita filho era folteiro, por.-
que fe defpois de cafado-lhe for d'cl.ào, pofh:) que feja,
·pera. o guafiai' no Paaço., trazet:á aa eolâçam o-que·
que lhe a·ffi for dado. ~ Declaramos que Paa~o, nefte-
ea.fo fe entende·foomente nos que com Nofco viuem,.
cu com a Raynha-,, ou. Pri:n€:ipe ,, ou, cada, huü de·
Noffos Filhos.. ·
7 E o. que Dizemos que O• que for dado·pera c~
ualaria ou Paaço que fe·nom tragua aa co laçam fe·
~ntende, quando as coufas que lhe afii foram dada-s.
fam já. guaíl:adas; cá fe as ditas coufas ,. que lhe affi.
foram dad-as pera Caualaria ou Paaço, ainda as teu~r .
1lO tempo· da. mor:te daquelle que lhas deu , f:erá .
Gbriguado de as. trazer aa co laçam. a& ·como as., te-
ucr i : e poft.o q ut: as nom t.enha.,fe lhe pr.ouarem que
o
.
DE-
'
,-

COMO SE HAM DE FAZER À'S PÁRTJÇ.'ET C, 20"-5



'
-o' que' lhe fo-i' dac}o pera C'aualaría · que o trou~e e ·
'

'vendeo, ou guafi:ou rio Reyno; ferá obriguado trazer


aa colaça-m O · que diíTo recc!Jeo, ou o ~ue vali:a ao
-rernpo qüe ·o trouxe.
. 8· E QYEREMOS que hom tragua-m aa cotaçam e·
partilha os filhos ou fi-lhàs·, ou '<lutr:os defcendentes ,.
a-s Merces que a elles, ou a feus pays ,. e a,fcenàen·-
tes pera elles Fezermos, ou Tenhamos feita·s, ou pro-
metidas dct-cafum<1ntos, ou a}uclas de caf.amentos;· por
que ~eremos que fejam precipblas, e infllid(J· 'da·-
~ueHes filhos, ou defcendentes pera- que-os Defem-
·Joarguarmos,_ e Mandannos pagu-ar ;· nem lhe fejarn
impu-tadas em fuas legitimas , pofto que feja cer·to e·
manifefio, qHe-pov refpeito e centernpl-açarn dos pa-ys,.
ou dos outros-afGendentes, e por feu requerimento-:. ,
a-s tae(?S doa"Çoês de cafamentos, eu ajuda$ cle cafa·-
mentos fon~m fé~tas aos filhos, eu outros defcend'en-.
tes; e-poderam Com os-Ol:lliros herdeiros- e.ntréli'·aa,
partilha dos bens , e hera-nça· do pay eu mãy, e·dos,
eutros a.fcend'ente-s. E Q:!eremos·que os dítos cafa'-
mentos, 'e mel'Ce d"ajuda. pera·elles, feja-m auidos .
por bens adumtitios ; e nom tenham q~1a.Jiàade, nem
efeéto alguu de bens· profeólitios. E dto que ditd lie:
·auerá luguar, efe, guarde em os. eafamentos) e ajuda'S
d~ cafamentos dadi!>s, ou-prometidos por· quaesquer
Senhores, Fida1-guos, e outras quaesquer- peffoas , _
·que-nom fejam-afcendentes por linha· dereita· daquel:..
I:es, a- que os dito-s cafam(;!ntos , eu ajudas pçra elles.
derem ~ porque nas" dbaçoes,'fe'ita·s polos afcendentes~
fe g_!Jardará. o q~1e I,JOr Der.eito for detreminado•..
.zo-G ,O ~ARTo Lr.v. DASÜR.OEN• Tu. LXXVII;
:. . .. I ·'·
9 EMPE&Ó fe a vontade e tençam dos querJas di...
· tas doaçoes e merces fezerem for, .que fe ajam de
part-ir, e viir aa co,laçatn , delie-fe dedarar expref-
famen.te nas ditas doaçoes ; porÇiue o que :declarada,..
mente por ·os .doadores .for acerca defto dito ., e orde-
pado ao tempo que as doaçoe.s fe\':erem, 1\:fandamos
.que fe gua>rde. E o que dito he auerá l·uguar nom foo:-
mente nas ajudas, ou cafamentos que ao diante forern
dados, ou ,prometidos, mas iítomefmo nos que já fam
d;ados e recebid0s , de que ainda nom h e feita parti.,.
.·l ha, .n em ·c heguado o tempo pera feaue·rem de partir~
I o E Qg AN:ro aas coufas de juro ., que a1guus dÇ!
Nós trazem, ou .e m vida , e afii as- tenças que fam
~tn yida , ou em . quanto for Noffa Merce ,. qu.e os
,pays ., ou rl')ãys, ou, auf,>os d•alguüs Nos requerem~ que
em fuas vidas as ponhamos e~ cada. huii de feus fi ...
lhos, ou netos. e por Nós dello aprazer-lhe. Man-
damo~ fazer Carcas de cada hüa das ditas coufas e1n
buú filho, ou. filha • .ou neto, Determinamos que
quando as ~aees coufas .De.rmos a alguü filho, ou fi-
.lha, ou out-ro. defcendente , · por confentimento dQ
pay •. ou _m:íy, ou au0, qlile a dita tença ott cçufa de
_Nós, ou da Coroa de _Nolfos Reynos tinha, que .a
.dita coafa, ou tet'lça, Aem extimaçam deUa, no_nrve;-
nha .aa partiiha, nem . fe conte em fua legitima por
mqrte daqtlelle que a faLtou, ou trefpaífou ; o qu.e
.auerá luguar nom roomente nas c.oufas que daqui
·por diante Dermos poJJ:t f<"bredita maneira., m~:s ain ..
I da nas .que já forem dadas ,cfe ainda nom for feita lO
e acabt,ida a_partilha • . , ' 1l ·.
I z,
,,
/
..
. Ih coMe SE H:.AIM DE FAZE.R AS PAGTr!f•. ~T 11:. iio7
I..... .
· 11 ·E SE o padre ou ·ma<:b:e deJem a {eu fllf\o ·oÚ
filha em ca.fame~to. aJgBa beLdade,. G>u caf-a ,., ou vi-.·
nha •. ou outFa qualquer coufa, de raiz ,. quel' -feja-
apr:eÇada;,.q,uer nam), tnazerálaa pa.rti-;:am . a.feus ' i.r-
maõs ~s. ditos. bens de·raiz, que the aili foram. dàdos·,:
fe os teuer •. •Porem fe o dito filhe,. ou frlha,:teue·rern
feitas bemfeitorias. nos di:ws bens de Jtaiz, d1ifpois que
1he affi forem dados, fique a· efcolbi. ao àito fi-lho
ti>U fil.ha de traz.er aa partil:ha os ditos·bens,. aíli fi:m•n o.
eftam , com tanto. que os irmaõs lhe paguem as,
bemfeitol'Ías qu.e nos dâ.tos bens. teu,c rem f-eitas ;: ou~
fe antes quife.u trazer o·preço,. que os ditit>s:bens va,.!:.l
1iam ao tempo· que Hue affi foram dados,. pode- lo-hltl
fazer. E fe os ditos bens e-B:euerem d•u)ifi<::ades auem-·
~o refpeit:G> ·ao ~empd q.ue lhe fullarn-. d·ados ,., em tal!
{:afo fi·que·a ~fcotba. aos irnoaõs de eGfhangerem ·aoÍ
dito· feu irmaõ; a.qtle affi foram dados os ·d ites bens,..
de os traià affi como eftam ,., e mais-. n·azer. áa colà'-
~am. a extirnaçam dO' danifiea:mento ,. ou tiue· tragua
e.preço, qu~ valiam os ditos. bens ae tempo que lhe:·
foram " dados~. As. €luaes. tefco-l{ms ;.· a·ffi . nO:'cafo . das'
bem'feiterias >.'como.des .danificarnentos·. ~, a-uera:m lu.Z:
guar faomente ,quando as.diitas bemfeitorias ou aa-
nificarnf!ntos cheguarem aa, quanal parte do preço,.,
. que os. ditos. be.n~- v,aJi~l ao tempq. que lhe foram;
-Eiados •• , •
1'2· . E' sE aq.tteHe;, a-·q..ue;affi foramd:lado~ os· dilioSc
.bens em cafarnentto ;. os: nom teuer·. p0r· os.;te;er vem-i
Qidos ,. ou. doad~~,. Qlf. ~m o~tm maúe1ra." emalhc:~~
dos;
2.0.8 O OEARTo Lrv•. oAs ÜRDEN• .TIT·. LXXV~.

dos , ferá theudo de trazer aa pa1'tilha o preç que


os. ditos bens valiam ao tempo que lhe foram dados
em cafamemo •
. · 13 E s~ lhe foram dados em cafamento bens
moue-is , e .os ainda teue,r, traze-los-ha aa partiçam ;
a;ili <::0\110 efteuere~n ao tempo da partilha, quer lhe
foffem dad9~ apreçados , quêr nam ; e nom tendo os
ditos ben,s moueis que lhe am foram dados em.cafa-
mento pera os poder trazer aa partilha , trazerá aa
dita partilha a extimaçam do que os ditos bens va-
Iia.rn aQ tempo que lhe foram dados em cafamento,
Qu <>Utros bens moueis taees e tam bons, como eram
os q,ue lhe foram dados ao tempo que lhos affi de-
ram em cafamento , qual mais quifer e efcolher efte,
que os .affi traz aa partilha ; e efto quer lhe os ditmr
bens moueis foHem dados apreçados, quer nam.
. r 4 E' TENDO o padre ;u. madre, ou qualq11er
peffoa alguü herdamento, de que deua dar partiçam
a outrem , fe aquelle a que deue feer dada a parti ..
çam o fezer citar perante os Juize.s , e requerer . que
vaa partir com;· ~He , e elle ·o recufar de fazer por
feer aiguü d0s irmaõs., ou herdeiros fóra da Terra •
de .guif.1. que o nom poderiam achar, nem auer :r am
afinha , deuem os Juizes hir, OU ' mandar ao dito
herdamento, ou luguar, e deuem dar a aquelle que .
pede a partiçam outra tamanha parte naquelle lu-
guar, quánta lhe por Dereito deue pertencer; e elle
laure , ~e -aprou.eite a dit>a parte como quifer , e nom
feni theudo tornar os fruitos que della ouuer aa par-
ti-
,P~cOMOSE HAM DE FAZER AS PARTIÇ. •ETC. ·10:,

tiça~ , quando . o que era abfente vier, e partiçam


requerer; mas foomente tornará aa partiçam ; quel-
la parte do herdamento, que lhe foi ent~egue , fem
outros fruitos : e tendo elle feíta grande bcmfeita-
ria, c melhoria, deue aquelle que quer com elle viir
a:t partilha fazer outra tal melhoria em outro -alguü
herdamento , ou campo da herança , fe o hi ouuer,
o
e entai.n cieu·e~ partir ;.e Qom auendo hi , paguarâ
fua parte da defpefa que em aquelle luguar for feita,
e entam partiram ; e dl-a mefma maneira fe ccr;í
quando alguü dos irmaõs jouuer em c_atiueiro.
· I 5 PERÓ fe alguü dos irmaõs . ou hevdeiros nom
for na Terra, e .os outros pedirem partiçam dos
bens , que lhes pertence herdar per falecimento d'a-
quelle que he morto, fe o abfente efieuer em luguar
certo e ,fabido ~onde be!Jl poíf~ feer citado, e reque,.
r.i do .per<,~. . viir, ou mandar efiar <\a dita partilha •
aquelie que tem , .e eftá em polllffam dos bens, -nom
lhes dará par,tiçàm, cielles a -menos de vi ir o que he
fóra da Ter.ra, ou feer p.era eIlo citado, e requerido
·pe_ra e!l-ar com elles por fi, ou por feu Procurador' ,
aa dita partiçam : em,peró- dar-l~e-ha fua parte dos
re~ouos que em eífe meo tempo fe ouuerem dos di~·
tos bens, e terá em gu;uda o q1Jif1ham daqtielle ·que
he fóra da Terra, . e dar- 1ho-ha qua.ndo vier, _e pa..,.
1
guará cada . huü_ primeiram~nte feu quinham das
cufias que forem feitas em o lauramento dos herda-
roemos, e adubio dos dit<;>s bens •.
16,- E DEMANJ:?ANDp.-alguu partiÇam a. outro .de·
Liv. TY. Dd al-
21.0 O ~ARTO Lrv. DAS ÜRDEN. TrT. LXXV ~..,_
'
- alguü herdamento de que por Dereito deua auer
parte, fe aquelle que he demandado lha nom quifer
dar, ou querendo elle dar part'içarn a outro a que a
deua dar, elle a nom quifer receber fendo peraiffo
chamado a Juizo onde quer que dl:ee; e fendo ef--
pei:ado o tempo qúe lhe for affiaado, nom .querendo ·
y elle_viir: nem .enuiar por fi outrem, que e!l:ee aa di-
11 ta partilha, entreguaram .a aquelle que quer partir
feu quinham . daquelle herdamento ou bens em lo..
gúo de penhora , e nom ferá porem theudo de tra-·
zer aa. partiçam ao outro, que nam quis partir , os
fruitos e rendas que dos ditos bens ou.uer em effe
me·o tempo atee que venha partir.
I7 OuTRo sr fe alguü efl:euer em poffe de al~·
guus, herqamentos de que deua dar partiçam , e os
outros que ·nelle tem quinham
• c:-
lhe démandarem feu
quinham do pam ~e dos fruitos que colheo deffes '
herdamentos que elle Iaura e poíiue, deue-lhe dar
_ outro tanto q!;linham dosfruitos., quanto ·cada huu·
deue auer nos herdamentos; e elles lhe deuem dar
cada 1-iuü feu quinham da femente que hi meteo ·
~quelle que os laurou ·, e das Ol;ltras cuíl:as queiü te-
uer feitas.
I 8 E Q.y A:-< Do :os herde;iros 9ú companheiros ·te-
u e rem alg1a coufa que norn poliam antre fi partir
fem d:lno ~ a.t1i como feru~ , ou bdl:i, ou moinho,
ou !aguar , o'u outra femelhante coufa , nom a de-
uem partir , mas deuem-na vender a eada huü del-
les, ou a outro alguü qual mais quiferem , óu por
· feu
~ CO.MO SE HAM DE FAZER AS ·PAR'riÇ. ETC. 2II

·f~u )raiimento partiram com oi.t.tras coufas. fe as hi


ouuer ,· e fe por ventura fe nom p~dereril por efta
·maneira auiar , arrendala-ham, e parürarú ·a renda
antre fi.
I 9 E SE por morre do padre ou madre ficai·em
muitos filhos. e alguü delles (or menor de vinte e
çinco nnnos, poderam os outro"s ft>~s i~maõs pàrtir
por fi e por elle cóm o. padre ou madre , 'q ue viuo
flcar , com auétoridade do Juiz à que pertencer; e
defpois que elles teUerem partido , entam dará o
Juiz partidor que parta polo que nom he de hidade
com os outros irmaõs que forem de hid.ade compri-
da, e valerá a paniçam que a !Ti for feita.
' 20 E SE o padre fe finar; e ficar a madre viua
f~ndo ambos caf.1dos par Carta de metade-, e ante
que tenha dada partilha da herança aos filhos, ou
outros herdeiros do marido ~omprar ou guanhar
com os fruitos ou dinheiro da herança alg;üa coufa ,
t~ndo rec-ebidos os friütos, que aos filho~ ou ~os ou-
L

tro~ her,deiros pertenciam, quer os filhos fejam ~i'·an­


tre ambos, quer da parte do morto, deué todo 'tra,..
zer aa partiçam, quando lha d emandàrem, affi o·que
,ficou por morte do marido, como o que deípois
comprou , ou guançou , ante de ter partido com os
herdeirOs do ·marido a heranÇa ou fruitos deilà ,"e
eno quer fe ella cafe ,·quér narri·; e fe os fiHios ou
herdeiros do marido àntes quíferem partiça'm dos
fruitos e ·renouos dos bens da herança~ - nom aueram
"parte dos guanhos .. "ou compi·a:s; que defpois forem
· Dd 2 fei-

.. ·,(

(
~I
,.
211 O ~ARl'p L~v. DAS ÜRDEN. TIT. LXX%"f.:
feitas ; e fe · qui ferem partiçam do.sguar1ho~ ' d<i1~
compras, nom aueram partiçam dos fnütos e reno.;.
uos que defpoi~ vieram. ·· ·· ,·
21 E SE por morte , da molhe r ficar o marido
viuo,. e fic:arem filhos (:la .pa'rrc da mólher foomen ..
te. ou outros feus herdeiros, fúá o marido theudô
dar aos filhos da dita fua inolher·, ·ou aos · outro3
feus herdeiros, fe filhos dell'a nóm fi-carem~ pàrtiçà rq
do que comprar ou' guanha~ c:orn ·os, fniitos ou dl- .'
nheiro da herança, em quanto lhe n'om der parti-
çam . dos bens, ou dos fruitos e renouos dclles ; e
dando-lhe fua parté · dos f;uitos e renouos. nom ferá
theudo dar-lhe ·parriçam das compras·e guanhos, a
qual efcolha ·dos fruiros e renouos , ou··partiçam das
compras e guanhos, ficará aos herdeiros do que fe
finou : e ficando por morte da molher filhos d'antre
ambos, Mandamos ·que fe guarde a defpofiçam do
Dereito Comum.
22 E QyANoo o filho que-e1lá com feu padre, ou
com fua rriajre, ou ~om arn bos', guanhar algua coufa
por feu trabalho, quer ante que . feja cafado, quer
'lefpois, oU lha deu ElRey', ou alguú feu Senhor , Oll
/
outro qualquer , nom ferá theudo de o dar aa parti-
çam aos o~úos feus·irmaõs defpois da ·tnOrte de feu
padre ou 'de·íi.1a·madre ,: ·poíto que o demandem ;
faluo fe o guanhou ·com·o auer do padre ou da ma-
dre, viuendo e eftando com elles, e guouernando-fe '
COm O <lUer do padre 'ou da madre; 'p orque em efl:e
cafo·o padre ou madre deuem auer ·e receber t~do ;
c
'I' COMO SE HAM DE FAZEIC. AS PARTIÇ. E'l' c • . 213

';dà-p,ois que morrer o padre ou a madre 9~


irmaôs o
partiram antre fi, defpois .que partirem com o que
ficar viuo, e aja cada huü fua parte; e ainda que fi:
o ·filho guouerne com o auer do padre ou da madre,
fe; com o auer do padre ·ou da rriadre o nom _gua.
nhar, ~om íerá theudo de o tr_a zer aa partiçam:
·23 . ÜuTIW !n fe o padre ou madre fe finar, e fi-
caralguü de [eus filhos, óu outro feu herdeiro J na -
-poífe dos bens , e vierem outros feus irmaõs , ou .
herdeiros de fóra , e lhe pedirem partilha dos di-:
tos bens e hennça , eHe auerá fua parte- daqudlo
que elles teuerem, que fegundo o q~e dito Auemos
fejam theudos tra-zer aa partilha ,e elles nom entra-
rarn com elle na poífe dos ditos bens qpe elle teuer
púa partir, mas de fóra lhe deuem demandar a p"r.;.
tilha deHes •.
24 E ESTt\NDO ·alg"mi: em 'fc>ffe d~s- bens . de fea
padre ou de fua madre pon·huü:,anno ,_.oU dous. ,..ou.
tr~s e m~is , e' le:uou delles os fruitx>s e renotios, da ...
rá aos O~ltrOS- Íj"-maÕs, e: herdeiros,· partilha dos ~Ít00.
fruÍtOS e renOUOS , Q,U teram OS ditoS herdeiros e·Ca~
da ' huü· delles outro tanto tempo os di.ws bens.., .
quanto os clle teu~, e deshi partiram.: ·
2 5- E DES-Por-s q~,Je-alguu- começar, dar, partilha· a
feus irmaôs, ~u ,a., outros quaesq\Jer, nom a pode def-
pois deter, que a . nam acabe de todo , .por -raiam ~e
entregua de cafamento , _pem d'outra algúa .. cmJfa,() ,
nem fará fobre iffo demanda_atee que 'a partilha. f.e~,
ja açMba~" • e o que o~u~r de
dar·par~ilha ·com,ça.. .
la.. -

... (

, I
I
21.1- O O!!A.RTO Lrv. DAS ÜRDEN. TcT. LXXVi ·.•
·~,

:la-ha ou no mouel, ou na raiz' como lhe a pro uer.


E fe o que eftá em poffe , qt,~e ha oe dar parti Íha aos .
n utras, antes de começar a dar a .dita partilha ale-
guar algüas . duuidas fobre que deu(l d'auer deman-
da, dizendo que antes que comece a dar partilha fe
deuern determinar, em tal cafo ferá tirado da_ poffe
dos ditos bens e herança, de que lhe he pedida
pa.ri:i"lha , e o Juiz mandará poer em focrefl:o os di-
tos bens , e renouos delles , atee.fe .acabarem as di-
tas duuidas , e partilhas.
26 PoRE!'.'! o irmaõ ·que nom efl:á em poffe da
herança poderá aleguar a aquelle que efteuer em
poffe delta ., que tragua loguo aa partilha o que ou-
. ue de feupay ou mãy, pofto que a partilha feja an-
tre ·elles começada, e nom feja ainda acab~ da ; e
. nefl:e càfo nom ferá o irmaõ que efteuer em poífe
.tir-ado de fua poffe. .._ . r
27 E o que dito he do irmaõ ·, que .e flá em poffe
da herança de feu padre ou madre., ,auerá luguar no
marido que por morte >da molher tem - em feu po-
-der os bens que ambos auiam, e poffuiarn. em fua
·.vida; e bem affi ·na mol)1er. que per morte de íeu
·marido "ficou · em poífe ·e càbeça·-de cafal , de cuja
· maõ os herdeiros ham de receber .a herança. .
· 2 8 .PERÓ. fe os irrnaõs começa ITem antre fi par-
tir a herança de feu padre ou de fua madre , ou de
.qtutlquer outro defunél:o que a. e.lles pertença , fem
alguü delles eílar ·em. polfe da -di-ta herança ao rem-
·PO que a .dita partilha começaram fazer, p0derá ca':"
da
I ~COMO SE H .AM PE FAZER AS PÀRT!Ç. ftT C• . 21)

da hu~delles aleguar ~ontra o outro em todo tem-


po, pofto que a partilha nom feja antre elles aca-
bada, q-ualquer razam que lhe com Dereito perten-
Ça, affi da entregua do cafamento; como d'outra
qualquer c-Jnfa ,. e ferá ouuido com feu dereito fem
embarguo de já a dita partilha feer antre elles co-
meçada. ·
29 E QYANoo a partiçam for de todo feita e aca ...
· bada antre - os irrnaõs , ou outros herdeiros, [e for
feita em fu>t prefença, e de feu expreffo-prazimento ·,
e confentimento, por mandado da Juftiça, e por Par'-
tidores, e for concordada e allinada por os ditos Par~
tid ores , ou q~1ando as partes fezeffem a dita parti.;;;
lha antre fi fem auétoridade de J uftiça , tanto que
po.r elles for acabada , e o auto que, fe dellas fezer
for por elle.s affinado em efcri~ra pub~ca, óu au-
tos pubricos , em cada huü defl:es cafos nom fe po-
dÇrá já mais em tal.cafo effa partiçam desfazer, pofl:o
que algüa das partes a··contradígua; faluo fe diífer
que foi riella ·e nguanado aalem da metade db jufto
preço, e o affi prouar1 , porque en.t am fe desfará co-
mG> qualquer outro contraéto, fegundo mais com-
pridamen~e Diffemos no :Titulo Do qut•quer desfazer
algüa roenda por Jeer mguanado aalffm da metade do ju•
fio preço.
· · 30 . PQREM· pofto que a dita partiçam feja feita e
acabada como dito he , fe algüa das partes diífer
que he em ella dãnificada por feer errada, e feita co:-
mo nom deue, Mandamos qwe fe a parte que fe del-
·. la

.I

I
u6 O QyARTo Lrv. DAS Útó.DEN. TrT. LX~~
la agrauar aleguar, e prouar que he agrauado 0 e dã:..
nificado em a fexta ·parte do que lhe dereitamente
pertencia .auer , que a tal partiçam feja n!uoguada ,
e f~ faça outra de nouo, com tanto que o que affi
da· partiçam agraua a contradigua , e reclame atee
huü armo, como mais larguam_ente foi dito e de-
terminado no Terceiro Liuro no Titulo Dos aluúlra..
dores.
,3I E o que dito he fe deue entender, quando
.todos forem de perfeit~ hidade ; porque fe alguüs
d'aquelles antre que for feita a partiçam nam forem
de hidade comprida de vinte e cinco annos, e fe
acharem defpois na partiçam enguanados, poderam
"fe . quife~em desfazer a dita partiçam por o· remedio
d~ · rdl:iruiçam, que por Dereito e No!fas Ordena:.
çoés he outorguad
r ,
aos menores
.,...-
~_,..;-:
de·vinte e cinco,
annos.
: 32 E POR QyANTo muitas vezes acontece, que al-
güas pe!foas compram alguüs bens, qu·e outro~. tra:
'ú m· emprazados em certas pe!foas com auétoridá-
de dos fenhorios , e os diro~ compradores em fua.
vida , ou per feu falecimento , nomeam cada huíí de
feus filhos , e antte o dito nomeado e os outros ir'"!''
máõs fe feguem duuidas e contendas ' fe trazer.á o
dito .. nQmeádo aa colaçam, ou lhe ferá contado em
fua legitima a valia do dito prazo, ou o dinheiro que
feu pay polo dito prazo deu , ou. fe auerá ·o dito pra-
~o precípuo , fero os irmaõs terem contra elle derei-
to álguü fobre o' dito prazo: e iffo mefmo alguíís
· · hanl
~- ' CO~ro S-E !UM DE FAZER AS PARTIÇ. E'l' C.. 'J.i7

ham ,ppt ·'emprazamento -til e ter'tas :pe1fo·as ~lgut1s


ben·s dãnifitados ,, 'ou ·matos· maninhos , os quaes
a·proueitain , ·e 'f.nem ern dles muitas bem feitorias c:
defpefas, e :nomeam alguu fi!.ho., e ·os outros reque-
rem que 't ragua aa co-hçam ·a vaÍia :do dito -p·razo,.
ou -'o que o pay nas ·ditas ·bemfeitorias gaftou, ~e ..
ltiendo Nós a dlo ptouer , Mandamos que daqui ·em
éliante fe 'tenha efta maneira ., cormem· a fabú, fe o
· pay ou mãy ·teuer a:lguú emprazamento., <'tOe 'lhe feja
feito em pefioas , 011 pera el1e e pera fevs filhos , oft
pera eHe ·e --fua molbet., e ,hu-ú filho que d'amre am-
bos nacet, ou o que o derr.adeire ·ddles ·namear, e
etn fua vida o der em cafamento , ·ou-per ourro tftu ..
lo e
a cada lruti de feuS filhos ., 'O nomear ae d~tO
·. prazo, .feja obriguado o dito filh~ o trazer aa cola•
. ·· çam ,Te qnifer hetda.r co_mJ;~tql:~~oa lhe ferá
·contado ·em feu ·q uinbam a valia, e éxtimaçam âo que
o-dito p:razo ·valia ao tempo -q oelhe foi daôo; e fe
. o pay que lho aili deu for a derradeira peíloa ., traze...
· r~ aa·'co1açam o qae o drto pra-zo valia na vida do
dito pay que lho.deu, ·como emóma Diffem0s no ca..
fti 'das tenças ; e nom lhe ferido dado -em vida do pay
· ou mãy., mas nomeando-o foomente par peífoa ao
d"ito prazo pera âefpois d"e -foa lnorte ') em t<JJ cafo
norn .ferá obriguado trazer e ·dito prazo 1 nem a va-.
~ia délle aa parti1ha e colaçam ~ ilem lhe {erá con...
tado em ftJ'a legitima ,, 1~em ·defcantaclo ddla ; faliti<t .
fe o d'ito prazo 'foile comprado ou aquerido ·do · di~
nheiro ou fazenda ,do .pa.y _ou mãy·, que a -n omeou )
.. Liv. IV. Ee ou ·

_____ ,(__~----~--------------
. f

.- ~~18 . O ~AUQ Llv, D·As 0RDEN. TtT. LX;'{,


tm·porro que n0m foffe comprado teudfe o ~üo no..
meante feitas mu.h~s. bemfeitorias e defpefas em G
dito prazo. ; porque em eftes· cafos. ferá o filho- n~~
meado obr.iguad0. trazer aa .co laçam ,. ou lhe feni
çontado. em feu quinham o p!i.eço. por que o prazo.
foi comprado.,. ou; o .pret;:o· qtte valer o dita prazo ao-
tempo- que ·o ouuer ,., qual ·o. filho· nomeado antes.
quifer ;. e affi lhe ferá con.ra.do no cafu das bem feito-
fias o preço'·qu~ o d,ito. prazo mais. val'er,. por raza·m
filas bemfeitorias. ~ ao. tempo- que elle ouuer o dito,
prazo, Otlé o-que cuílaram as. ditas bem feitorias.,. quat
rlle mais q,u4fer ;_e eífo. nom fe entenderá em a.lgtias-.
defp.efas. e bemfeiter:ias peq~:tenas, nem em. algüas.
eutras. qHe o nomea-nte de neczeffidade per Dereito;
Comum , f€m outra. conuença das partes, nem con~
diçam pe!lar-<.:no.
~
cootraP.o.·
r- ~ :~hS·
e.nfitiotico
~
,- he theudo.fa:.
zer..
33 OuTR-o s.r fe afguú homem fendo·eafado-pet"
Carta de metade eomprar- alguús bens:foreiros pera.
fi e cer-tas p€ffoas, a. que os taees bens por nomea..
çam d:euam v.iir. , fua molhe11 fedi meeira na· vali~
·I
do prazo, o-u·no- pr.eço qae· os. ditos 'bens cuftaram ~:
c bem affi quandc>:-o. maridp fezer nos befls foreiros.
gr.and'es. defpefas , e bemfeitorias, fegundtT a· decla·..
raçarn de· precedente €apitolo,_ qJJer effes·bens ou- ·
ueffe por compra,. quer. por outro qualquer titulo ).
ferá fua molher meeira na- valia- das ditas. bem feito..
nas.
34 , E .e filho ou filhos,. que o pay nomear~ (eram ·
theu"!

'
/ I

} .
».:COMO SE HAM DE ,FAZJ!.,R !-S. :PARTIÇ. ET- C., , 2 I 9
.
th.etatfu~ r:guar aa tno1her do dito tl.olne~nre ' 'quer
fep fuJ may , quer nam , fe dla em a dita nomea-
çam. exprelfame!ilte :nom oútorguou, a parte que do
preç0 do di-to prazo,. 011 bem feitorias lhe por efra
Noffa· determinaçam pertence. E ficando ella no•
tneada em tal prazo, fei-á obrigu~da fatisfaJZer aos
herdeiros· do marido a fua parte davalia do dito
praz~, ou bemfe.itorias, qual clla efcolh.er, pola ma-
neira que ern os n'ihos dito he; e e!la maneira fe terá
·c om o marido., quando 0 ,prazo for da m&lher.
· 35 E QSIANTO aos afo.rameruos pe-rpetuas ·~ que ai ..
gti.as peffoas tomam pera fi, e feus herdeir{)s, é fc) ..
'eeffores ., em tal cafo fémpre ·os ditos aforamen.tos fe,
ham de partir por extimaçam a!ltre os filhos ou her.. "
-deil·os d~qt1el1e que fe fina·r, per 'cuja morte ficaram ..
os ditos bens aík aforad~s~....:@ism~ o~},~es beas·
f~gundo a natureza dos,Õros 1wrn fé,._h,âm de partirll
·e ham de andar em hci·a foo peífoa, Mandamos que
fe ·eàcabece em huil dos herdeiros ., em·
que fe todos
oa a ·moor parte delfes concordarem , çlo dia que fe
u foreiro firlar ·atee feis m~fes, e o que áffi os ouuer
paguaiá .a extimaçam aos outros herdeiros , a cada
huíi feu qu'inham , e a penfam ao fenhorió fegufldÔ
fórrpa do comra&o; e nom fe acordando) Manda ..
mos que elles fejarn theúdos de vendei·ém os dítós)
bens affi aforados defitro no dito tempo1 dos fei~
mefes , requerenda piimeiro o fenl~Ótio, fe ·os quer:
ta11to por tanto.; e aquelle ql'le o dito 'foró êQrriprar,.
os
-flaguará a .petlçàm aQ feAhorio, e 'ditos herdeiros~
Ee 2 par...

,t
220 o ~AR. To ~tvRo. oAs O.R.oEN •. TtT•. t...x~~c
'
partira.m a·.ntre fi. o pveço, que affi ouuerem -~'fi dita:
venda,. fegundo· forem herdeiros;. e paffadoslbs ditos
feis . mefes fem: o encabeçarem em cada, huú delles,
ou venderem, como d:ito he ,_Mandamos que o. dito,
for:o fej<!. devoluta-ao. fenlto.do ,. fe o tdle quifer•.
,36. E Ass.r Decla-ramos, qlle quando a .marido e
molher , ou cada. huü,. ddtes. fendo já. cafa:dos. por;
Càrta de:. m~tade, tomarem algu.ú aforamento em .
perpetum ,. pet q.ua~squev patauras que no contraéto
forem pol1:as ,_em. t.al. cafo feram· ambos meeiros . no.
dito aforamento ,. e·per morte de-cada. hu.ú . delles fe·
pa~tir4 per extima-çam. o dito. aforamento antre o.
que viuo·. ficar. , e os herdeiros. do- que fa4eçer , fe-
gundo. em.cima Difiemos·,_de como os aforamentos. ·
peFpetus . f e auiam de partir antre os herdeiros .. E fe·
antes q11:ryada: huu de :es. cafaífe teueífe o. tal' afora-
rame.nto en.) erp:ttum ) e~E'pois cafaffe, em tal cafo..
fe·partirá, antre o que viuo fica-r,, e os herdeir:os cio.
'finado, o·dito-aforamento por- extimaç.am- ,. ficando.
fempre o aforamento.- encabeçado naquelle·qJJe 'o ti-
nha. antes que cafaffe ,. ou· em. cada. huú. de feus. her..
deiros :·pci"Ó· fe no-contraél:-o do. aforameÍlto,, que a{ij
. foi feito -.ante.que·cafaJie-, for comheudo :o-.que o-di-
to aforamento· he dado-pera. aquelle a:. que foi dàdo,
e pera.feus filhos ,. ou pera; feu.s filhos e·feus defcell.. .
déntes ,_fem fazer mençarn de- herdeiros e feceffo .. ·
· res , ou de herdeiros ou foceffores, em· ta-l €afo nom
(~ .par.ti rá o dito aforamento·,. nem a extimaçam delle,
per morte de cada h.u ü delles , antre o que·viu o fi-
car
' S~TRAZ. O FIL. AA COL. O QYE GUANHOU ETC. 221
r~tPJ
'
car l\fs herdeiros do que fe finar, mas ficará pre-,
cipuo '\:om o que antes o tinha , ou feus herdeiros •.,
E quanto hc aos que cafarem por dote e arras, guar-
dar-fe-ha o que, antre elles for acordado •.

------·------·-------------------------------
T I T U L O LXXVIIJ.
Se traz.erá o filho aa rolafam o que guanhou em vida de
ftu padre'· e em que ca.fos o pay pode aucr os. fruüos.
dos bem d~ filho oy. n.;m._ . .

SE o. filho que efi_euer f.ob poder de. wu padre eu-


uer alguüs bens de feu padre, ou que delle proce-
deffem ,. e eftélnd:o. foh fe.1..1 poderio fe finar [el:l·padre,
trazerá. effe filho aa colaça~ c:om feus i!WJ aÕs to-
do aqu.eHO. que a.ili outl:t:·~'êlü~l';; t~t:J pàMe , e bem
aili t.o dos os guanç.os qHe dos ditos bets procede ..
ram ,. (e os. ouue· -viuendo. e eftandQ com 0 padre. ou
madre J . e· guoueroando_,.fé com o auer dos: ditos . pa...
dre Qu m.ad're ,,, feg_u n_do Di.ffemo~ np Ti.tuio prece-
d!!nte.,
1 · E GV:ANÇA-NDO o filho que ·efteuer fob poderio
de·feu padre alg.uus bens em auto de guerra, ,.ou em
qualquer. outro .auto militar. .,. e bem. affi em qualquer
outrO· áuto de -letradura-: , pofl0. que o·,padr-e moura·
efiando o filho fob feu. poderio ,,norn , tr.a'l,erá·os taees
bens-. aa c.olaçam com feus irmaõs , _porque tpdos eífes
pense g.uanços. que dell.es:proceder.c rn. fam .proprios
·deife .filho , , que os affi guanço1:1.. .2
~22 <;> Q!ARTo Lrv. DAS ÜRDEN~ TIT. LXX~f·
_ 2 E SE o filho efl:ando fob poderio de fel\1!pad,re
guanhaffe alguüs bens por outra algüa via, fque fe
chama em Dereüo aduentitia, auerá o fiiho a pro ..
priedade delles, e o padre o vfo e fn.úto , em qua-nto
o filho efl:euer fob feu poderio; e tanto que for eman-
cipado, ou ca·G•do, loguo lhe [eram entregues , pera
.delles auer o fenhorio comprido como de fua coufa
propria. E fe o padre falecer eíh.ndo o filho fob feu
poderio, auerá o dito filho todos effes bens affi co-
mo feus proprios • e .nom os t4"azerá aa colaçam com
feus irmaõs, nem parte algüa delles.
3 E o padre nom auerá o vfofruito nos bens
aduentitios do .filho que efl:á fob feu poderio nos ca-
fos feguintes.
4 · Pt~ lMEIRÜH:NTE quando ·a lgua coufa for dada
ou · teixad~ào ~h~ [o~t~! c~ndiçam , que n:m aja _
o p adre o V'lotttllto aella~ nem outro alguu pro-
ueito.
o
5 I TEM fe p~dre renunciar o vfofruito da cou-
fa, e lhe .aprouuer de o nom auer.
· 6 I TEM fe for dada e leixada algúa coufa a effe
filho por· âlgüa outra peffoa , e o padre deneguar ao
filho factddade pera auer à dita coufa affi doada ou
leixad~, B.om lhe querendo confentit: que a àja; e-, o
filho a ouuer fem feu conferrtimenro. · _
7 I T.EM f e for dado :e leixado o vfofruito de a1-
güa coufa ao filho ·, p~r que fegundo Dereit-o n~rn- fc:
.pode de buli vfofruiao auer outro vfofruito. -
, & Ir:.r.:M fe Nós Dermos a-lgúa .coufa ao -filho,
' quer
)~~ .
r-~•. •.UA DOAÇAM QYE O AVÔ FAZ AO NETO ETC. 223

Guer \;(o miei ~quer âe ràiz ,. em foeos. eftes eafos ,. e


cada ~u.~ delles nom auerá o padre vfefruito dos
bens aduemiti-0s , que o fil-ho qMe eítá íob feu poder
guanhar ,. e ouuer por via 'adueutiria ,_como dito he.
9' E EM todos .ou outros cafos geeralmente aue-
rá o vfofruito nos bens aduemitios ,, como emCJma
dito. e declarade> he~

T l T U L O LXXIX.
Da doaça.m que o auô faz ao 12eto , como deít.e fler tra-
zida aa colaçam.

s-E o.auô. fe~er em fua vida~ d:oaçam àe aJgtl'a


fa · a· fe1;1 neto ou neta, .., fi-lhç,..,
C0U-
n~"~ feu filha .ou de fua.:
l
..
~ <>~ ,~
tliha, trazda-ha aa_coJ:açam defpeis da· r~or.te do-di-
t0 feu auô. , fe q.uifer entra-r a.a: fua h~rança. com feus.
tios irma.õs cle feu, padre-·ou madre ; filhos do dito.
feu auô, que J.:he--a; doaçam fez, [e a eife tempo o pa·...
dre ou madre do dito neto ou neta viue Ílom for •.
l E SEN·DO. aitlda, ao tem-po da.. morte do auô-,
VÍUO' á filho: OU·filha·, pad;re OU- rnadre do, nçto Ollo
Beta, a- que fói feita doaçam.polo auô·,_quetendo O ·_
padre ou madr:e do-dito, neto ou-ne~a entrar a."l he.
· rança- de feu padre ou madre, tm2:evá aa <;:olàçam. ai
feus i.n naõs aquello.~ que por feu padre ou madre:
foi dado ao neto ·ou neta, filho ou fi.Jha. de!fe que
queJ; entr.W.· aa:. herapça./de feú pad,~:e:- ou madre com'
feu.

,
224 o ~AR To LrvRo nAs ORoEN, TrT. LX&.
feu irmaõ ou irmaõs .; cá pois a doaçam f.oi f~ po-
lo auô ao neto por ·contemplaçarn de feu ptdre o~
madre., fe dfe pad'fe ou madre quer entrar aa he..:
rança do auô com feu irmaõ ., tragua aa colaçam
t0d0 aquello que por fua contemplaçam foi dado
po.Io auô a feu filho ou filha , ainda qne .t<Odos vi--
uos_fejam. E nom q1:1erendo o dito Filho ·ou neto en-
trar aa d-ita pa;rtilha, fe ·terá a maneira que Di fiemos
neft:e Limo, noTitu'to De como fe ham de fazer as par-
tiyoes. E rodo . o qae fe defcon:tar ao filho na focef..
fam de feu pay -ou mãy, poia doaçam que fez a'O dito
feu neto~ fe contará na legitima ao -dito neto polos
ditos feus irmaõs , t1UaRdo fe tina<r o pay 'ou mãy, a
qtae affi foi defcontado.

....

Das _prifcripyoe-s .antre quaesquer ,pejfoas-.

·SE a1guü homem for obrl.guado a outro em :álgüa


. certa coufa ou quantidade, por razam d: algflu cmn...
traéta, au quafi contraéto ., bem poderá fi:e1· ·deman ...
dado por effa diuida atee cinco antius, fe ambos mo ...
; ra>rem em huú. Luguar, e atee dez ~mnos fe elles am:o.
- b0s morarem ·e~ hãa ·Comarca> e morando ·em -def-
uairadas Comarcas atee vinte annos -, contados do dia_
ql:le e[a ·.coufa 01:1 quantidà:de o~:~:uer cle feer pagua ,
· e paffado o .dito tempo, aon't pocleram 1:nais -d·eman~
· du

'
6
iDAs PRESCRIP. ANI'RE QYAESQ!!ER PESSOAS. 225
,..
dar p { e1Ia diuida, por quanto por fua negrigencia
que em todo o dito tempo teue em nom demandar
fua diuida , Auemos por bem que a nom pofia mais
demandar.
I E ESTO fe entenderá em todos os contraét:os
-ou quafi contraétos , que fe daqui por diante feze-
rcm. E quanto aos c<>ntraélos ou quafi contraétos já
feitos Mandamos, que poifam ·demandar dentro do
dito tempo. contado da pubricaçam defta Ordena-
çam , fe ainda com eites cinco annos , ou dez , ou
vinte, como dito he , nom paffar a dita obriguaçam~
de trinta a-unos ; e nom demandando dentro do dito
tempo nom poderá já mais demandar a dita diui-
da , pofio que ainda durem os trinta annos da dita
óbriguaçam.
2 EMPERÓ fe a dita..... p~rç.r,ip-çam for interrom-
_,.., -pida por citaçam "feita ao deuedor fobri· eiTa diuida ,
ou por outro qualquer modo, por que por Dereito
·deua feer interrompida·, começará outra vez de no-
uo correr o dito tempo.
3 E SE aquelle, a que for a coufa ou quantidade
deuida, for menor de quatprze annos , nom correrá
contra elle o dito tempo atee que-aja hidade de qua..:
torze annos compridos ; e tanto que cheguar aa dita ,
hidade correrá contra elle, e eílo fem embarguo que
o dito tempo afli corra contra o maior de quatorze
annos , e menor de vinte e cinco , poderá elle pedir
reftituiyam contra fua negrigencia que teue em nom
-demandar dçntro do di.to tempo, atce cheguar a hi-
.Liv. IV. Ff dadé •
. ' ,
2:26 O ~AR TO: Lrv-•. nAs ÜRDEN. Trr. LXXX·r.'
dade-de vinte~ cin<::o-annos ,, com tantoq.ue d(tem-
po que elle cheguar a hidade·de vinte e cinco ~annos
àtee quatro annos compridos ,. em que fará vinte"e
noue annos, a peça e empetre ; e pedida e ernpet r.a-
da a. dita-reftüuiçarn pnderá- eUe-- auer , e-cobrar to-
da-a, fua-d1uid-a ,_affi como _fe· nunea o dito.- tempo, de
dez ou· vime an-nos correffe contra- elle.
4 E Q.Y AN'I'O· aos bens obr.iguados 'a- outrem- em
geeral, ou- em 'efpe_cial, fe guarde o que Ternos dito
no Titulo ~tando tt e.otifa o!rYJig_ua.da he vendida ,. Ott
emalheada,.

T. I T U L 0 - LXXXI.

€011!0 os irmaõs_, nacif.rt.~!ifr- 4!:,n~do co_ito pode.m. foceder-


. huü.s. a.os aut.ros~: . . ., ----::'

Q DANDO aigita peffoa· filho -de ClerigtJo·,. ou•


d .' alguú outro da-na-do ou puniuel. coito- por Dereito·
Comum, ou Nbfias Ordenaçoes, a qut: o pay-ou mãy
nom pode-foced~r-, por affi., feer nado de-coito·dana.-
do ott pu-niuel , morrer. abinteftado·, em ta-e.es cafos
lhe foceda, e· herde feu i-rmaô - filho de fua mây>,
pofto que fej a- nado de ilicit'o e da-nado c:::oi-to , ou
puniue}, nom auendo outro- impidimento fenam ·
· por ferem- produétos defemelhante coito.-; e affi pof-
fam foceder a· quaesquer outros parentes,, e-díuidos
por parte de íua-mãy conjuntl:os., . aíliq1.1e·os irmaõs
e os

b~s VEoN;IJ'. QYE SE Flí.'l:. PO:R: ALG.. PESS6A&· ET C. 2"27

'.;. e os~utros diuidos vli:eriores poífam antre fi foce;..


cler a~intefl;ado
, ainda que defce11Pam. de dànado e
iLicito coito•p0r linha .da. mãy conjunél:os. E quanto
aa foceffam· d?aquelles que poflo que fej;tm de -ilici-
to coito, e· nom h e por.em. o dito cwito danadb , nem
puniuel como dito he, guardar-fe-ha o que per De-
reito.Cornum, e No.ffas.Ordenaç,oês he determinado•.

T I T U L O. LXXXII.
D,.{J_s-yendcu qf'e je fazem por algúas pe/Joas a fl.us;
~ , filhos ou netos... ·

p ·OR Euitarmoo- muitos · enguanos e·demandas'))>


q_u(l ·fe caufam e QPcl'em ca~.-das.-~nda& gue al:..
~as P:e~J fazc~a ~il. filros,.....oi.ríletg:o~ ~utros-.
. de'fcenâemes ,. Detellmmamos q.~e:péfioa•. algua nom.
faça venda algU.a,,.ne.!Th troca·que ·defigual feja, a feu .
filho, .ou . neto, . ou outro defcendente ,. fem confenti-
mento.-dos. outros.filhos ,..ou. netos ~,ou . defcendentes , .
que· ouuerem.· de·feer; herdeiros do.Elito · vendedor; e:
nom. lhe querendo. dar, o·.-dito . eonféntimento . aqueJj.
le que·affi qpifer. fazer a.dita· venda 0\.J, . troca., No- lo;
fará, faber , . e·fendo , Nós<enformado . da.caufa , , poll
que quer fazer a.dita venda ou troca ao feu filho , ou:
defce,ndente ,..e affi; da .caufa.por-que os ditos. fJ.lhos;
ou defcendentes lhe nom · q~erem . dar o .dito ,conf<m-
t-imento~ Nó.s.-lhc:Daremos.licenç,fl q~e a Eoifa fazer:.
e
" c
228 O Q!:ARTo Lzv. DAs ÜRDEN.· TIT. 'LXXXIf.
e fazendo a tal v~nda ou troca fem confentiw~nto ,.
dos ditos filhos, ouSem Noífa expreffa licen~a, a
tal venda ou troca ferá ninhüa, e de ninhuü efeél:o, ·
e por morte do dito vendedor ferá a dita coufa, que
affi foi vendida ou tr-ocada ., partida antre os feus
defcendentes, que feus herdeiros forem, como que
efteuera em poder do dito vendedor, e fora fua ao
.tempo de fua morte~ fem por ello paguarem preço
alguü a aquelle que a comprou.

Fim do QJarto Livro.


. .
· A- Ptp.:,rr.~~ .-nuo-.~~.n.. ~4-• ~yir~ \er lea-fl q_~aefquer~-
~ 28; T. 9• ......._J~n-! 9. ~ t atlra~.. ~:fc pat:Lf~ ~ · -c~-
. ~9, §. 1, lm. 7· poffar lea-fe pafiar ~
78, T.32, !in. ro. queriam- lea-fo queiram
84, §. 3, lin. 4-• Guovernaçam lea-Je Guover-
nança
i OI , T ..p, lin. '3· alguü lea-fe alguils
9.00 • /in. I 5, ovoo lea-Je avo o
~Ql , .lin. pem1/t, entederá /ea-fe entenderá
' '

··'

) ,

·'


~-

I,

''

Você também pode gostar