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M I H I 1 T A X V S \ ^
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Prologo ao Leitor\
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E V E L R E Y Faço faber aos que e f e meu aluara
yiré,ey por b e m ^ me praz q por tempo de dez aii
rios,nenhu imprimi dor ,110111 toureiro aigu, ne outra
peíloa de qualquer qualidade q íeja ; nao poífa imprimir,
mc véder em todos eftes Reynos ÔC Senhorios de Portu
gal,nem.trazer de fora delles os ditos liuros/enao aqiief
les líureiros, ÔC peffoas que pêra íflb tiuerem licença da
dito Eibtiío Lopez.E qualquer imprimi dar,liureiro,ou
pefloa que durando os ditos dez annos,imprimir,ou ven
der os ditos litiros de Varias Rimas, & o das Luziadas
de Luis de C-anões,nos ditos Reynos,ôc- Senhorios, ou
os trouxer de fora delles fem licéça do dito Efteuao L o
pez, perderá para ella todos os volumes que aí si impri-
mir, vender ,011 de fora trouxer: & alem diflb encorrerât
em pena de vinte cruzados, a metade pera minha G a -
mara,&: a outra a metade para quem o acufar. E mando
a todas minhas juftiças, oínchcs, a que o conhecimen-
to difto pertencer,que lhe cumpráo,guardem, & taçam
inteiramente comprir, ÔC guardar eííe aluara, como fc
fiollé contem: o quai me praz que valha,& tenha força
Sc vigor, podo que o effeito dellc aja de durar mais dc
hum anno/em embargo da Ordenação do fegundo li
uro,titulo vinte/que o contrario difpoem.Belchior Pin-
to o fez em Lisboa a trinta de Dezembro , de mil Sc
quinhentos Sc nouenta & cínço, loáo da Coifo o fe?
eíaeuer*
REY f
A 2), Gonçalo
•t Coutinho.
V A S razões^Senhor, me moticraô a ti
rar
SSi^Mv^ de nono a luz efta parte das obras do
l/vj, admirauel Luís de Catre cs Príncipe dos
Poetas.A piirnéíra feré cilastaes,q n;er©
ce o autor efte nome, Aíegüda ter eu a v»
^ m. por meu fenhoi^para me valer defeii
emparo nos caí os a que íe arriíca quem íae a pubjico,6c
ambas me obrigam a offerecelias a v. m, nefta íegunda
ImpreíTao como o fiz na primeira, porque também não
quis defraudar ao poeta do fauor que em v.m. tinha re-
cebido,eílando deíenganado que com nenhüa outra pef
foa lhe podia melhorar íeu partido ,'ôcpedirlhe que íb~.
fraarrimailas a f e u nome. Porque fe me render lou«
uor de bom juyzo a eí colha que fiz de tão alta peeíiapa
ra aímpnmír,qiia*aficai: detodoacreditado 5 na eleição
do padroeyro que tomo para a defender. Quam r alta,ô£
quam excellente obra íeja efía,bé poflo efcuíar de o en-
carecer,pois a ponho.no theatro do mundo,na mais pu
ra,&: emendada impreflam que pude auer. Neila eílâ re
tratado,antes viua aquel íeadmírauel çngenho,de quem
aí firmo q feviuèra,pudera fazer im mortal o nome Por
fugues,òc ainda das feridas de noílas calamidades, cm
que tantos falfos efcrittores tao peíadamete nos magoa
rãojíoixbera tirar 1 ouuores fie troph eos.Não poílo decla
rar como efpanta a agudeza dc íeus ccceitos,como obri
ga a propriedadejdaslp^laur^s,como enleua o cncareci-
jnento das razôeá Quéaltezà tem de feméças,que mc-
tapíioras,que híperboies,que figuras ta Poéticas: Admí
jauel lie a gramdade dos Sonetos3a graça das Odes, t$C
Ca»--
Canç5es,a malcncolia tammufica das Elegias;" af>raífy
dura tam namorada das Éclogas. Que direi da policia
facilidade do verfo-da elegancia dos termos?da rique
za da iíagoa? Por hua parte me parece ô tira a todo I19
íiie a efperança de íer Poeta: por outra toda a diículpa
aos que vao mendigando iingoajes eltrang eiras para
por neÍlas,Ô£ tachão a nolla de eítenl: defeito ícu, mais
q culpa delia-Apontei citas cooías3que v a i i J u o ignora^
porque quero que entéda q í ei conhecer o preço do qu$
dou. Por onde me hei por muy obrigado a mirilu ven r
tura,por me aprefenrar occaílao,etn que defejando mui
to feruír .a v.ai.^quafi i ^ualei a vontade com a obra.Ma$
também eonfeílbq lhe a l o dcuçrei nunca poderme dar
çoufa que iguale ao merecimeto d4e v.m*^moiíjos loii
uores nao quero entrar,porq vejo di-ante o mar Oceano
muito mai s largo,& eftendído do que na verdade he.Ba
% que fe fiz algum íeriúço a y.m.com as po,çíias de C a
mões^imii-to rnayor o fiz a çljc,em as, entregar a v..mide
que fç fabp que em dot.es de $}ímp;,h,e mayo.r que todo?
feus iguaes,&: nas do corpo igual a todos os mayorçs do
mundo.Porque quanto âiíloque menos j m p o r t a a c a f a
dos Çoiitínhos hg hüa das mu.y poucas,que com^çacão
c o m o Reyno epa Portugal, & com d l a^er mafiçcetãQ*
M as que digo fcomeçarâo? Nó.meímo tempo do primei
ro Rey Afbnlb íGoníta per eferiteuras. aub
Coutinhos, que erao conquiftadores per Para o quç
çta nece Ilaria teré oi folgue fOUQi
& riqueza pam; q p a g a r ^ e ftó 05
ferulo a nobreza,. :De como f:eicontinuasrjpár ^ftõs qua-
trocentos a n n p $ I p o i ^ ^ r n H e p r o j ^ a ^
Oâo t e f ^ a R ^ © ^ pOTUgueíe*
A
. i f } fae-
'0
if
e â M ò ^ l ^ c ^ í f t ^ f f f e í t é s de con'
m d í ç á á ^ ô ^ d ^ g ^ d i c t ó ^ a i õ xmchoíâê réxõ. Outras*
dêlitíblir i aqfe%Mpf ei% a fsi
#
certos i
V
certos penhores do profundo juyzo de v.nvjas qua^snS
trate,poli as não danar cõ a pobreza de meu eftillo,&por
deixar q efpecüJar aos bòs engenhosJE bé moftra v,m.
ncllas as partes çxcelJcntcs de í a i animo,de q nio direy
mais,por q f c y que íi ao baftao, Jifrfç^in tfcir osjr^jtáco' Jn ais
prologo curto»Mas como não ey de exalçar ate o ceo a
niagnifica,&mqi heroica.o5bra q v.m.fcz cm<daç fçpuitu
ra hõfòda aos Òf&s deftctófrifa^ o|pla
beiamentejazião Ho^notoirodçSiÁniiá^T^
fua cota a obrigação comua,não defte Rçinp fp,mas
roda Efpanhal&afsi rççolheopera íi toda a gloria q a to
da eâaprouincia viçra,íe pára-tão decida ©t>ra lç ajunt^
ra, Baftante razão era êfta para fuás ppcfiâsTcrp dedica^
das ao nome de v.m.tóiao conheçerc outro. Aceiteas v.
iB.defendaas,h6reas,q fe v.m.o fizer entre os eftrangcUl
ros,elle lhe pagara cõ honrar (eu nome entre osçftfâgci
ros & naturaes. Porq a verdadeira pátria dos altos enger
nhos,nao he o iugar q conhece por naícimento, he íò a
entendimento claro ÒC perfeito,q fabe eítimar as coüfas
grandes,ô£ leuantadas.E afsi o emparo q v.m.lhe der eh*
tre juízos pobres q operfeguéjcomo eftrangeifo.^agarâ
co fazçr enuejado o nome de v»m*entre os ricos 6ccxcçt[
Jentes que o eftimão como natural. E bé he razão,q pois
clle por meyo de v, m. comçça oje a viuernoua vida £ec
gloria de feus efcritos,fique a memoria de v.m.pel-lo leu/
liure das leis da morto.&do òfqueâmcntoxóforiViò. £ a n
tiga,ô£ bê prouada profecia Peedca.Por maneira.que fó)
v.m.lhe for Achilles entre aquelles, íeja.cllç para v*pu
Homero entre hus d outros. Noílo SenhorAguàrdb ^
v, m. De Usboa a 16- de Ianeirò d e w ^ r o V l
I N L A V D E M L V D O VI C l CA-
monij Principis P o e t a r u m .
v* f f ' !
ALIVD EIVSDEM.
Ad Dominum Gondifaluum Coutignim
if*
#
D. L E O N A R D O TV.RRICÀ*
no a Luis de Camôes.
S O N E T O.
b O l\i L i v./,
S O N E T O ,
r/
D E L V I S DE
C A M Õ £ s0 r
S O N E T O r«
A Soneto
Sonetos
S O N E T O i.
T } V cantarei d'amor tão docemente,
^ P o r hüs termos em fi tão concertados^
Que dous mil accidentes namorados
Faça fentir ao peito que não fente.
Farei qu'amor a todos aumente,
Pintando mil fegredos delicado^
Brandas iras, foipiros magoados,
Temerofeòuladia, U pena aufente.
Também íenhora do dcfprezo honefto
D e voffa viíla branda & riguroía,
Contentarm'hei dizendo a menos parte»'
porem pera cantar de voíTo gefto
A compofiçam alta & milagrofa,
Aqui falta iaber,engenhOj& arte.
S O N E T O j.
P Om grandes efperanças ja cantei
^ Com qu'os Deoíes no Olimpo conquiftara-
Defpois vim a chorar porque cantara,
E agora choro j a porque chorei.
Se cuido nas pafladas que ja dei*
Cuílame efta lembrança fò táo câfâ,
Qu'a dor de ver as magoas que paíTara*
Tenho pola mor magoa que paílei.
Pois logo s*eftâ claro que hum tormento
D â caufa qu'outre n'aima s'acrefcente,
Ia nunqua poíTcr ter contentamento.
Mas eíla fancefia fe me mente?
O ociofo òc cego penfamentol
Ainda eu imagino em fer contente?
Soneto
De Luís de GÉnoes- %
S O N E T O 4.
r \ Efpois qac quis Amor qu'eu fô pafïailç
Quanto mal ja por muitos repartio,
Entregeume â fortuna^porquee vip
Que ha tinha mais mal qu'em mim moftrallè*
Ella, porque do Amor fe auentejaíTç
N o tormento que o Ceo me permitio,
que para ninguém fe coní entio,
Para mim f ô mandou que s muentaíTe,
Eifm'aqui vou com vario fom gritando
Copiofo exemplado para a gente
Que deftes dous tyrannos he fogeita
Defuarios em verfos concertando.
Trifte quem feu defçanfo tanto eftreitafi
Que deftc iaõ pequeno eftâ contente. ••
SONETO y
" C M prifóes baixas fuy hum tempo atada
^ Vergònhofo çaíHeo de meus errosí
Itid'agora arrojando leuo os ferros
Qu'a qiorte a mçu pefar tem j â quebrado;
Sacrifiquei a vida a meu cuidado,
Q u ' A mor não quer cordeíroSjncm bezerros?
V i magpas, vi miferia$,vi defterros
Parecome qu'eftauaafsi ordenado.
Contcnteïme com pouco, conhecendo
Qu'era o contentamento vergonhofo,
S o por ver que coufa era viuer ledo,
Mas minha eftrellaqu'eu j'agora entendo,
A morte cega, & o cafo duuídoíb*
Mv fi^erão de goílosauçr mçdo*
»
da*- . r — - Ai Soaô
'í -4 i Jfl
g ^ Ir-Sonetos
SONETO ^
TLluftrè,& dino ramo dos Meneies
^ Aos quaes o prudente, & largo céo
( Ç^'errarmô febe}emdote concec
^ R o m p e í f ô q s Maometicos arneíes;
Defprezando a fortuna^íeus reueíe.^
Ide paraonde o fado vos moueo.
Erguei fiUmmas no mar alto Erithreo^.
;
O -s ! * » r • • 1' • * f f f ' r'" J ."". ^ • < I ' ' f -,
5 !
Antes a^ora'Ikírey
O ' sptora atado '-' o . , .
Qpe nem^miifirká^tfe^o^dtíidá-d^ **
Ma dança fariam up - " •
E íe algum p b i í ü O ^ ^ ^ Q ^ ^ ^ i f e f e ó Ç :j
Fuy coi&o * cf aeiit s ô f ^ f f r â ê í d ^ W c - -
Por tornar'axanfir cominatí alento* 'k/j
LoiiuadpviijaiAMor-^tmái^iii^to^: **
Pois para paffiírèmprtféô Éaf&QôJps or>c A
Eile meu t a o - e a ^ 'J % b' í*
5 fí
i*. V %
Sone^
De Luis deCamões.17
S O N E T O 8.
A MorquV) gefto humano n'aima efcreue,
* * * Viuas failcas me moftrou hum dia,
Donde hum puro criftal fe derretia
Por entre viuas rofas.& alua ncue.
 vifta qu'em ii mefma nao s^atreue,
Po; Te certificar do qu'ali via,
Foy conuertida em fonte,que fazia
A dor ao fuftrímento doce,& leue.
lura Amor, que brandura de vontade
Caufa o primeiro eft'eito: o penfamento
Endoudece, fe cuida qu'he verdade.
Olhay como Amor géra num momento,
D e lagrimas de lionefta piedade,
Lagrimas d'i m mortal contentamento»
SONETO *
T T Anto de meu eftado nv acho incerto,
^ Qu f em víuo ardor tremendo cftou dc frio»
Sem caufa juntamente choro } & rio,
O mundo todo abarco,& nada aperto.
H e tudo quanto finto, hum defconcerto:
D'alma hum fogo me fae,da vífta hum rtaj>
Agora efpero, agora defeonfio^
Agora defuario, agora acerto.
Eftando em terra,chego ao ceo voando,
Numliora acho mil annos,&: he de geíto
QiTem mil annos nao poíTo achar hunVhora*
Se me pregunta alguém porque afsi ando»
Refpondo que não fey: porem fofpeito
Que fò porque vos vi,minhafenhora*
A3 Soneto
t Sonetos
S O N E T O io.
HPRansformafe o amador na coufa ama
Por virtude do muito imaginar, .
Náo tenho logo mais que defejar,
Pois em mim tenho a parte dei ej a da*
Se nella eftâ mingai ma transformada,
Que mais defeja o corpo de alcançar?
E m íi fomente pode deícaníar, <
Pois confinoO tal alma eftâ liada«
Mas efta linda Ô£ pura femidea
Que como o accidente em feu íopeito ?
A í si
coa alma minha fe conforma-
:
Eftâ no ptnfamento como ídea
O viuo 8c puro amor de que fou feito>
Como a matéria íimpiez bufca a forma»
S O N E T O ir,
T ) A f f o por meus trabalhos tão iféíito
* De fentimento, grande nem pequeno^
Que í o pol 1 a v oiltadc com que penò
Me fica amor deuendo mais tormento*
Mas vayme amor matando taütô ã tento**
Temperando a triaga co veneno,
Que do penar a ordem defordeno,
Porque não mo confente o foffri mento*
Porem fe efta fineza o amor fente,
E págarme meu mal com mal pretende,
• Torname com prazer como ao foi neue,
Mas fe nié vè cos males tão comente,
Faz fe auaro da pena,porque entende
Que quanto rmjs mepaga>mais me deue*
Soneto"
De Luis de Camões.
SONETO 12,;
t j M flor vos arrancou de enrào crefcida '
^ ( Ah fenhor dom Antonio) a dura forte,
Donde fazendo andaua o braço forte
A fama dos antigos eíquecida;
Hún ío razão tenho conhecida,
C o m que tamanha magoa fe conforte,
Que pois no mundo auia honrada morte»
Que nao podíeis ter mais larga a vida„
Se meus humildes verfos podçm tanto5
Que co defejo meu fe iguale a arte,
Eípecial matéria me fereis.
E celebrado em triíle,ôí longo canto
Se morreítes nas mãos do fero Martes
N a memoria das gentes víuireis,
SONETO 13.
^ f V m jardim adornado de verdura,
A que efmaltão por cima varias flores,
Entrou hum dia a Deofa dos amores,
C o m a Deofa da caça, &: da efpeílura?
Diana tomou logo hua rofa pura,
Venus hum roxo lirío dos melhore^
Mas excediáo muito âs outras flores
As violas, na graça,& fer moi ura.
Preguntão a Cupido qu'alli eftaua
Qual daquellas trcs flores tomaria.
Por mais fuaue,pura, &C maisfermofa?
Sonrindofe o menino lhe tornaua;
Todas fermofas faó, mas eu queria,
Violentes que lírio, nem que rofa?
s " A 4 Sonô
Sonetos
S O N E T O 14.
^T^Odo o animal da calma repoufaua^
1
So Lifo o ardor delia nào lenda,
Qii'o repouío do fogo em que ardia
Conílftia na Nymphaque bufcaua*
O s morues; parecia que abalaua
O trifte íom das magoas que dezia s
Mas nada o duro peito commoiua,
Que na vontade d'outrem pofto eftaua^
Canudo ja de andar pola efpeíTura,
N o tronco d'hiia faya por lembrança
Efcreue eftas palauras. de trifteza ;
Nunca ponha ninguém fua eíperança
Em peito feminil?que de natura*
Somente em 1er mudauel tem firmeza«.
SONETO
T>"MTque amor nouas artes>nouo engenho
^ Para mattarme.&: nouas eíquiuanças,
Que não pode tir arme as efperanças,
Que mal me tirara o qu'eu não tenho..
Olhai dcque eíperanças me mantenho3,
Vedeque perigofas feguranças,.
Que não temo contraíles,nem mudanças
Andando em brauo mar perdido o lenho*
Mas com quanto não pode auer defgoílo
Onde eíperança falta-la m'efeonde
Amor hum manque matta,8£ não f e v ê ;
Que ditas ha que n'aima me tem poílo-
H u m m o fey que,que nafee não fey onde,
V e m não fel coniofic doe não fey porque»
Soneto
De Lins de Camões. y
SONETO
Q V e m vè í enhora claro &: manifclîo'
O lindo fer de voiTos oihos bellos5
Se não1 perder a vifta íó em vellos,
Ia não paga o que deub a voiïo g eito»
Efte me parecia preço honefto,
Mas eu por de ventagem merecellos
Dei mais a vida & aima ^or querei los
Donde ja me não fica mais de reíto,
Áfsi qu'a vida, & a]ma, òC efperança
E tudo quanto tenho,tudo he voflb3
E o proueito- diflb eu fó o leuot
Porqu'he tamanha bemauenturança
O daruos quanto tenho,& quanto poíTb,
Que quanto mais vos pago,mais vos deuo»
S O N E T O jr.
Q V a n d o da bella vifta, & doce rifo,
Tomando eftão meus olhos mantimento^
T ã o enleuado finto o peníamento'
Que me faz ver na terra o parayío.
Tanto do bem humano eítou diuifo,
Que qualquer outro bem, julgo por vento
Afsi qu'em cafo taJJegumio íento
AlTaz de pouco faz quem perde o fifo.
Em vos louuar fenhora não me fundo,
Porque quem voilas coufas claro fente
Sentira, que não pode conhecellas
Que de tanta efíranheza fois ao mundo.
Que não he d'èftranhar dama excellente
1
Que quem vos fez^fizefle ceo & eftrelJas.
fcwi.- i 1
,* Soneto
Sonetos
S O N E T O i?,
Ocès lembranças dapaílada gloria,
D Que me tirou fortuna roubadora,
Deixaimç repouíar em paz hunVora,
Que comigo ganhais pouca vittoria*
ImpreíTa tenho n'aima larga hiftoria
I)efte paíTado bem que nunca fora,
Ou fora,&: nao paíTara, masja agora
Em mim náo pôde auer mais qu'a memoria«
Viiio em lembranças, mouro d'efquecido
D e quem fempre deuera fer lembrado^
Se lhe lembrara eílado táo contente:
ô quem tornar poderá a 1er nafcido,
Sotiberame lograr do bem paíTado*
Se conhecer foubera o mal prefente«
S O N E T O
 Ema minha gentil, que te partifte
^ T á o cedo defta vida defcontente,
Repouía lâ no ceo eternamente,
E víua eu ca na terra fempre trifte»
Se lanoaílento Ethereo,onde fubifte
Memoria deíla vida fe confente,
Náo t'efqueças daquelle amor ardento
Que ja nos olhos meus tao puro vide«
E fe vires que pode merecerte
Algüa coufa a dor que me ficou
D a magoa fem remedío de perderte,
R o g a a Deos que teus anno$ encurtou,
Que táo cedo de ca me leue a verte,
Quam cedo de meus olhos te leuou*
Soneto * y
De Luis cie Camões. <
S O N E T O ic.
X T V m bofqueque das Nymphas íe habitaua
^ ^ Sybíla Nympha linda andaua hum dia,
E Subida nua aruore fombría,
A s amarellas flores apanhaua.
Cupido que alli fempre coftumaua 1
A vir paíTar a feita â fombra fria.
N'hum ramo o arco letras que trazia^
Antes que adormecefíe penduraua.
Á Nympha como idoneo tempo vira
Para tamanha imprefa, não dilata,
Mas com as armas foge ao moço efquiuo»
A s fettas traz nos olhos, com que tira:
ó paftores fugi,que a todos matta,
Senão a mim,que de matar me viuo.
S O N E T O li.
Reinos.^ o$ impérios poderofos
^ Que em grãdeza no mundo mais crefcerao
Ou por valor de esforço florecerão,
Ou por varões nas letras efpantofos.
Teue Grécia Themiftocles, famofos
Os Scípiões a Roma engrandeíceráo,
Doze Pares a França gloria derao,
Cides a Efpanha,& Laras bellicoíos.
A o noílo Portugal (que agora vemos
T ã o differente de íeu fer primeiro)
Os voffos derão honra àc liberdade.
E em vos grão íucceífor.&: nouo herdeiro
„ D o Bragançáo citado, ha mil eftremos
Iguaes ao fangue, & mores que a idade.
i Sone
Sonetos
S O N E T O 300
E VOS m , aparto(Ô vida)emtal mudança^
D Sinro viuo da morte o fentimento,
N l o íei peraqulhe ter contentamento,
Se mais ha de perder quem mais alcança?
Mas douuos efta firme fegurança,
Que pofto que me matte njeii tormento
P oi las agoas do eterno eíqueei mento
Segura paffarà minha lembrança
Antes fem vos meus olhos fe entrifteçáo,
Que com qualquer cous'outra fe contentem^
Antes os efqueçaes,que vos efqucção.
Antes nefta lembrança íe atormentem^
Que com efquccimento defmereçao
A gloria que cm foffrer tal pena íentem*
S O N E T O 13,
/ ^ H a r a minha enemíga,em cuja mao
^ P o s meus contentamentos a ventura*
Faltoute ati na terra íepultura,
Porque me falte a mim confolação*
Eternamente as agoas lograrão
A tua peregrina fermofura,
Mas em quanto me a mim a vida duras
Sempre viua cm minhalnia tacharão-
E fe meus rudos vcrfos podem tanto,
Que poflao prometerte longa hiftoria
Daquelle amor tâo puro 5c verdadeiro^
Celebrada feras fempre em meu canto,
Porque em quanto no mundo ouuer memoria,
Será minha eferittura teu letreiro.
Soneto
De Luís de Camões. *4
S O N E T O 24.
r
A Queila triíte 8c leda madrugada,
* ^ C h e a coda de magoa,& de piedade,
E m quanto ouuer no mundo faudadc
Quero que feja íempre celebrada.
Ella fó, quando amena &: marchetada
Saia,dando ao mundo claridade,
Vio apartarfe d'hua outra vontade,
Que nunca poderá veriè apartada.
Ella fô vio as lagrimas em fio,
Que d'au s Sc d'outros olhos diriuadas
Saccrefcentarão em grande ôçlargo lio.
Ella vio as pai auras magoadas,
Qúe poderão tornar o fogo frio,
E dar deíc.mfo as almas condena das,
SONETO *
S E quando vos perdi minha eíf erança
A memoria perdera juntamente,
Do doce bem paílado,& mal prefenre,
Pouco fennra a dor de tal mudança.
Mis amor em quem tinha confiança,
Me repreíenta mui miudamente
Quantas vezes me vi ledo & contenre3
Por me tirar a vida efta lembrança.
D e coufas de que não auia final,
Por as ter poftas ja emefquecïmento,
Deílas me vejo agora períeguido^
A h dura eftrella minha', ah eran tormento!
® \
Que m^l pode fer mor,que no meu :maJ
Ter lembrança do bem qirhe ja perdido? •
r: : r.-l Soneto
Sonetos
SONETO
C M fermofa Lechea fe confia,
^ P o r onde a vaydade tanta alcança,
Que tornada cai íoberba a confiança
Com os Deofes celeftes competia.
Porque não foffe auante çftapufadía,
(Que nafeqm muitos erros da tardança)
EmeíFeitp puferão a vingança,
Que tamanha doudice merecia.
Mas Oleno perdido por Lethea,
Nao lhe fofiVendo amor que foppoçtafíe
Caíhgo duro tanta fermoíura,
Quis padecer em íi a pena alhea,
Mas porque a morte amor náo apartaiTe*
Ambos tornados faó em pedra dura,
S O N E T O vj.
X y f Ales que contra mim vos conjuraftes,
^ ^ Quanto ha de durar táo duro intejxtot
Se dura porque dura meu tormento,
Baíteuos quanto ja me atormèntaftes*
M as fe afsi perfiaes, porque cuidaíles
Derrubar meu táo alto penfamento?
M á s pode a caufa delle,em qu*o foftenc®
Q u e vos.que deliamcfma o íer tomaftc*}
E pois voíTa tençáp eom minha nvorte
Ha de acabar o mal deftçs amores,
D ai j a fim a tormento tão comprida
Porque d'ambos contente feja a forte,
Vos porque me acabaftes, vencedores,
E eu porque acabei, de yos vencido.
De Lt>is de Camões. 8
S O N E T O 24.
P Ssafe a Pnmaáera traíladando
^ E m voffa vifta de!eitofa,& honefta,
Nas lindas faces,o)hos, boca.& tefta3
Boninas, lyrios, rofas debuxando.
D e forte volíb gefto matizando
Natura quanto pode manifeíla,
Qu'o monte,o campo,o rio,& a floreíta,
Se eftáo de vos fcnhora namorando.
Se agora nao quereis que quem vos ama
PoíTa colher o fruito deftas flores,
> Perderão toda a graça voflbs olhos.
Porque pouco aproueita linda dama,
Que ícrcieafle amor em vos amores,
Se vofla condição ptoduze abrolhos»
S O N E T O i9.
O E t e annos de paílor Iaeob feruia
^ Labão,pay de Rachel,ferrana bel Ia:
Mas não feruia ao pai, feruia a cila,
QiTella fópor premio pretendia.
Os dias na efperança de hum ló dia
PaíTaua, contentandofe com vellas
Porem o pay vfando de cauteJla,
Em lugar de Rachel, lhe daua Lya.
Vendo o trifte paftor que com enganos
Lhe fora afsi negada a fua paííora,
!
Como fe a não tiuera merecida:
^ Começa de feruir outros fet'annos, >.
' Dizendo: Mais feruira/e não fora
Pera tão longo amor tão curta a vida.
' ~ < Sone
Sonetos
S O N E T O pç
" C Stà o lafciuo &: doce paffarinho
* C o m o biquinho as penas ordenando,
O verfofem medida a l e g r e , b r a n d o , ,
Efpedindo no ruftico raminho.
O cruel caçador(que do caminho
Se vem calado & manío,defuiando)
N a pronta vida a fera e liderei tando,
E m morte lhe conuerte o ch-uo ninho,
PeíVarte o coração,que Íiure andaua,
(Poílo queja de longe deftinado)
Onde menos temia foi ferido.
Porque o frecheiro cego m'eíperaua,
Pera que me comaífe defcuidado,
Em voílos claros olhos eícondido®
SONETO 31.
TDEdeo deiejo(dama)que vos veja,
Nao entende o que pede,eítà enganado^
H^ cite amor tio fino,ô£ tao delgado,
Que quem o tem nao fabe o que deíejai
Nao ha couía a qual natural feja,
Que nío queira perpetuo feu eftado»
N ã o quer logo o defejo o defejado,
Porque nio Falte nunca onde fobeja,
Mas eíte puro affeito em mim fe danna,
Que como a graue pedra tem por arto
O cencro deíejar da natureza.
A í si o peníamento (polia parte I'
I
l
l
De Luis de Camões. 17
SONETO 3v
T^Orque quereis fenhora que oftereça
A
A vida a tanto mal como padeço?
Se vos nafee do pouco que mereço,
Bem por nafeer eítà quem vos mereça;
Sabey que em fim por muito que vos peça,
Que poflb merecer quanto vos peço,
Que nío coníenfamor qu'em baixo preço
T a o alto pénfamento fe conheça.
Afsí que a paga igual de minhas dores,
Comi nada Jb reítaura,mas deueisma,
Por fer capaz de tantos disfauores.
E le o valor de voíFos feruidorés
Ouuer de fer igual conuofco mefma,
Vos ío conuofco mefma andai d'amores*
»
S O N E T O 55.
E tanta pena tenho merecida
S Em pago de foffrer tantas durezas,
Prouay fenhora em mim voíTas cruezas,
Que aqui tendes hüa alma oíFerecida.
Neila expérimentay fe fois feruida,
Defprezos,disfauores,& afperczas,
Que mòres foíFrimentosfirmezas
Suftentarei na guerra deita vida.
Mas contra voffos olhos quaes fetão?
Forçado hcque tudo fe lhe renda,
Mas porei por efeudo o coração.
Porque em tào dura & afpera contenda,
He bem que pois não acho defenfaõ,
Com me meter nas lanças me defenda;
B Soneto
t Sonetos
S O N E T O 34»
Q V a n d o o Sol encubereo vai moftrando
Ao mundo a luz quieta &: duuídofa^,
A o longo d'hüa praya deieítofa,
Vou na minha inimiga imaginando»
Aqui a yi os cabellos eoncertando5
Ali co a mão na faceiam fermofa,
Aqui falando alegre,ali cuidofa,
*i\gora eftando queda3agora andando*
Hlquí eíteue lentada,alí me vio,
Erguendo aquelles olhos tamifentoSj
Aqui mouida hum pouco,ali fegura-
Aqui fe entrifl-eceOjali fe rio,
Em fimneftes canfados penfamentos
Paifoefta vida vam,que íempre dura,
SONETO 35.
T T Y m mouer d'olhos brando & piadofo,
^ Sem ver de que,hü rifo brando, & honcfto3
Quafi forçado^um d o c e h u m i l d e gefto^
De qualquer alegria duuidoío: •»
Hum defpejo quieto,& vergonhofo,
Hum rcpoufo grauifsimo,&: modefto,
Hua pura bondade, manífeito
Indicio da alma,limpo,& graciofo: ,
Hum encolhido oufar, hüa brandura,
Hum medo fcm ter culpa,hum ar fereno,
Hum longo,& obediente íoffrimento>
Eíh. foi a celefte fermofura
Da minha Circe,&: o magico veneno
Que pode transformar meu penfameuco-
Soneto
De Luís de Camões. 10
S O N E T O J*. ^
*T**Omoumc voíla vifta íbberana *
^ Adonde rinha as armas mais â mão,
Por moftrar que quem bufea defenfaó
Contra eiles bellos olhos,que s'engana*
Por ficar da vittoria mais vfana,
Deixoumc armar primeiro da razão:
Cuidei de me faluar, mas foi cm vão,
Que contra o eeo náo vai defenfa humana.
Mas porem fe vos tinha prometido
O voílb alto deíhno cila vittoria,
Seruos tudo bem pouco,eftâ fabido.
Que pofto que eüdueíTe apercebido,
Nao leuais de vencerme grande gloria»
Mayor a leuo eu de fer vencido.
S O N E T O 37.
^ ^ " A ò palTes caminhante: Quçm me chamai'
Hua memoria noua,& nunca ouuida,
D 'hum que trocou finita & humana vida,
Por díuina, Minita,ôc çlara fama.
Quem he que tão gentil louuor derrama?
Quem derramar feu fatigue não duuida,
Por feguír a bandeira efclarecida
D hum capitão de Chrifto,que mais ama.
Ditofo fim, ditofo facrificio,
Que a Deos fe fez,ôç ao mundo juntamente9
Apregpando direi pãp alta forte.
Mais poderás coutar a toda a gente, í
Que fempre deu fua vida claro indicio
De vir a merecer tão Anta morte.
' ^ " " Bi Sone
t
t Sonetos
SONETO 58.
T^Ermofos olhos,que na idade noíTa
^ Moftrais do ceo certilsimos finais,
Se quereis conhecer quanto poffais,
Olhaime a mimique fou feitura voíTa^
Vereis que de viuer me defopofla
Aquelle rifo com que a vida dais,
Vereis como de amor m o quero mais,
Por mais que o tempo corra,&*o dãnopoíTa
E fe dentro neítalma ver quiferdes
Como nluim claro efpelho,alli vereis
Também a voíTa angélica ferena:
Mas eu cuido que fó por náo me verdes
Veruos em mim fenhòra não querei ss
Tanto gofto leuais de minha pena»
SONETO
O Fogo que na branda cera ardia,
Vendo o rofto gentil qu'eu n*alma vejo^
Se acendeo d'outrro fogo do defèjo,
Por alcançara luz que vence o dia*
Como de dotis ardores f e encéndia,
Da grande impaciência fez deípejo»
E remetendo com furor fobejo
Vos foi beijar na parte onde fe via.
Ditofa aquella flamma que fe atreue
Apagar feus ardores & tormentos,
N a vifta de que o mundo tremer deue*
Namoraõfefenhora os Elementos,
D e vos,ôi queima o fogò aquella neue,
Que queima corações & penfamentos.
Sonêcc
De Luis de Camões. 17
S O N E T O 40.
A L'egres campos,verdes amoredos,
Cl aras &: frefeas agoas de criftal,
Qu'em vos os debuxais ao natural,
Deícorrendo da altnra dos rochedos:
Silueftres montes,afperos penedos,
Compoftosem concerto deíigual,
Sabei que femljcença de meu mal
Ia não podeis fazer meus olhos ledos.
£ pois me ja não vedes como viftes,
Não me alegrem verduras deleitofas,
N e m agoas que correndo alegres vem,
Semearei em vos lembranças triftes,
Regando
O vos com l a g r i m a s faudofas,
E nafeerão faudades de meu bem.
SONETO 41.
Q V a n t a s vezes do fufo s'eiquecia
D ai lana, banhando o lindo íeo,
Tantas vezes d hum afpero receD
Salte ido Laurenio, a cor perdia.
Ella que a Syiuio mais qu'a íi queria,
Pera podéllo ver não tinha meo:
Ora como curara o mal alheo
Quein o fea mal tão mal curar fabia?
Elle que vio u o clara efta verdade,
C o m folluços dezia (qu'a elpeíTura
Commouia de magoa, a piedade)
C o 110 p >de a delordem da Natura,
Fa^er u o uíffe:en:es na vontade
A que>11 Ícl tvio conformes na ventura'
; : B i Soneto
t Sonetos
S O N E T O 4i.
Indo Sc fútil trançado, que ficaíte
Em penhor do remedio que mereço,
Se lo contigo vendote endoudeço,
Que fora cos cabellos qu'apertafte?
Aquellas tranças d'ouro que ligaíle
Qu'os rayos do fol tem em pouco prèçoy
Náo fei le para engano do que peço
Se para me atar, os defatafte?
Lindo trançado,em minhas mãos te vejo,
E por fatisfaçao de minhas dores
Como quem náo tem outra,ey de tomarte3
E fe não for contente meu deíejo,
Dirlh'ei que nefta regra dos amores
Pello todo também íe toma a parte«,
SONETO jg,
Cifne quando fente fer chegada f
A hora quo poem termo a lua vida,
Mufica com voz alta,& mui ílibida
Leuanta pola praya inhabitâda*
Defej a ter a vida prolongada,
Chorando do viuer a defpèdida, ,
Com grande íaudade da partida, O
Celebra o trifte fim deitajornada.
Afsi fenhora minha quando via
trifte fim que dauão meus amores,
Eftandopoftoja noeítremo fio,
Com mais íiiaue canto Sc armonia
Dífcanteí pellos voílos disfauores
L a vueftra falfa íe, y el amor mio.
Soneto
Dc Luís de Camões. u
S O N E T O 44.
T)Ellas eftremos raros que moftrou
A
Era faber Pallas, Vénus em fermofa,
Diana em çafta, Iuno em aniaiofa,
Africa,Europa,& Afia,as adorou:
Aqueíle faber grande que ajuntou
Efprito $c corpo em liga generofa,
Efta mundana machína luftrofa,
D e fò quatro Elementos fabricou.
JVÍas mor milagre fez a natureza
Em vos fenhoras,pondo em cada hua
O que por todas quatro repartío
4- vos feu refplandor deu Sol &: Lua,
A vos com viua luz,graça,& pureza,
Ar/ogo,terra agoa ,vos feruío.
S O N E T O 45.
Omaua Deliana pot viagatjça
* D a culpa do paftor que tanto amaua,
Caiar com Gil vaqueiro,& em fi vingaua
O erro alhco,& pçrfida efquiuanja.
A deferição fegura,a .confiança,
A s rofas que feu roíto debuxaua,
O deícontentamento lhas fpcaua,
Que tudo muda hüa afpera mudança;
Gentil planta diípofta em fecca terra,
Lindo fruito cie dura mão colhido,
Lembranças dbutro amor,&: fè perjura.
Tornarão verde prado em dura ferra,
Intp reffe enganofo,amor fingido,
fizerâo dçfdítofa a fçrmofura.
B 4 Sonc
SONE T O
R a m tempo ha ja que íbube da ventura,
^ - ^ A vida que me tinha deílínada.
Que a longa experiencia da paílada*
M e daua claro indicio da futura.
Amor fero,cruel,fortuna eícura,
Bem tendes vofTa força exprimentada^,
AíTolai, deftrui,não fique nada,,
Vingaiuos deita vida,qu'inda dura.
Soube amor dâ ventura que a não tinhaj
E porque mais fentifle a falta delia,
D e imanes tmpofsiueis me mantính a.
Mas vos íenhora,poís que minha eftrella
Náo foi melhor^viuei nefta alma minha.*
Que não tem a fortuna poder nella.
S O N E T O 47
Ç E algua hora om vos a piedade
*^De tam longo tormento fe fentira,
Náo confentira amor que me partira
De voffos olhos^inha Íaudade.
Aparteime de vos,mas a vontade,
Que pello naturaí n*atma vos tira,
M e faz crer que efta aufencia he de mentira,
Mas inda mal porem porque he verdade.
Irm'ey fenhora, & nefte apartamento,
Tomarão triftes lagrimas vingança.
Nos olhos dequem folies mantimento:
E aí si darei vida a meu tormento*
Qifemfim cà me achara minha lembrança,
Sepultado no voíTo cfcjuecimenro-
Soneto
De Lui s de Camões,
3 S O N E T O 48.
Como fe me alonga d'annonçai an na
A peregrinação caníada núnhaí
Couio s"cnciirta,& como aofim caminha,
Eíle meu breue & vão difcurfo humano,*
Vayfe gaílando a i d a d e c r e í c e o danno,
Perdefeme hum remedio,que inda tinha
Se por experiência fe adeiiinha,
Qualquer grade efperança,he grand engano;
Corro apos eíle bernique náo fe alcança,
N o meo do caminho me failece,
Mil vezescayo, &perco a confiança.
Quando elle foge,eu tardo,& na tardança
Se os olhos ergo a ver fe inda parece,
D a viíla fe me perde,Sc da efpetança.
S O N E T O ^ .
H T E m p o heja que minhaconfiança/ lo !
Se deçà de hua falia opinião,,,
Mas amor não fe rege por razão, ) 1; 1
'•JTi
t Sonetos
S O N E T O yo.
Mor, co a efperança ja perdida
A Teu foberano templo viíicei,
Por ílnal do naufragio que paílei
Em lugar dos veftidos pus a vida.
Que queres mais de mim,que deftruida
Me tês a gloria toda que alcancei?
Nao cuides de farçarme,que não fei
Tornar a çnrrar onde não ha í aida. ,
Ves aqui alma, vida,8t eíperança,
Dcí pojos doces de meu bem pafíado,
Em quanto quis aquella em quem cu moreis
Neila podes tomar de mim vingança, .
E slnda nào eftas de mim vingado,
Conteixtate ço as lagrimas que choro,
S O N E T O fi.
A Pollo, §Cáí ! ftpUfMufosidiíeanrandíi
* * * C o m a dourada lyra,me influiao ? -
N a fuaue armonia que faziam,
Quando tomei a pena começando.
Ditoíofcjao día^horaquando ; r
SONETO 57,
Ti A Vdaofe os tempos,mudãofe as vontades,
J - V l Mudafe o fer,mudafe a confiança,
Todo o mundo he compofto de mudança,
Tomando fempre nouas qualidades,
Continuamente vemos nouidades,
Differentes em tudo da efperança,
D o mal ficão as magoas na lembrança»
E do bem (fe algum ouue)as faudades:
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que j a cuberto foi de neue fria,
E em mim conuerte em choro o doce canto.
E a fora efte mudar fe cada dia >
Outra mudança faz de nlòr eípantó,
Quo não fe muda ja como foia, 1
Sone
S O N E T O ç8.
© E as penas eotti que amor tão mal me tratra, .
® Quifer que tanto tempo viua dei las,
Que veja efcuro o lume das eftrellas,
E m cuja vifta o meu fe acende & matta:
E fe o tempo que tudo desbarata
Seccar as frefças roías Içm colhelas,
Moftrandome a linda cor das tranças bellas
Mudada de ouro fino em bella prata*
Vereis íènhora então também mudado
O penfamento,& aípereza voíla,
Quando não íirua ja fua mudança;
Sufpírareis então ffellopaflado,
E m tempo, quando executar fe poíFa
E m volTo arrepender minha vingança;
S O N E T O 59.
S O N E T O 6i.
Ç f Omo fizeíte Porcia tal ferida?
^ ' F o v voluntaria,ou foy por innocencia?
Mas foy fazer amor experíencia
Se podia foffrer tirarme a vida.
E com teu proprío fangue te conuida
A não pores â vida refiftencía?
Andome acoftumando â paciência.
Porque o temor a morte nâoimpida.
Pois porque comes logo fogo ardente,
Se a ferro te coftumas? Porque ordena
Amor,que morra,& pene juntamente.
E tés a dor do ferro por pequena?
Si: que a dor coftumada não fe fente,
E eu não quero a morte fem a pena.
t Sonetos
S O N E T O .6i.-:
S O N E T O 65.
ITNEbaixo deíla pedra eílâ metido
^ - ^ D a s fanguinofas armas defcanfado,
O capitão illuítre, afsina[ado,
D o m Fernando de Caílro efclarecidos
Por todo o Oriente tão temido,
E d a enueja da fama tão cantado:
Eíte pois fô agora fepultado
Eftà aqui ja cm terra conuertido.
!
A egrate 6 guerreira Luíitatüa
Por eíle Viriato que criaíle,
E chorão perdido eternamente.
Exemplo toma nifto de Dardania,
Que fe a Roma co elle anichilaíte,
Nem por ííTo Çarthago eílâ contente.
De Luis de Camões. 17
S O N E T O £4.
Q V e vençais no Oriente tantos Reys,
Que de nouo nos deis da índia o eftado,
Que eícureçais a fama que ganhado
Tinhão os que a ganharão a infiéis:
Que do tempo tenhais vencido as Ieys;
Que tudo em fim vençais co tempo armado,
Mais he vencer na patria defarmado,
Os monftros,ôc as chi meras que venceis.
E afsí fobre vencerdes tanto i migo,
E por armas fazer que fem íegundo
Volfo nome no mundo ouuido feja,
O que nos da mais nome inda no mundo,
H e vencerdes fenhor no Reyno amigo,
Tantas ingratidões,tão grande inueja.
S O N E T O íj.
X rOiTos olhos fenhora que competem
^ C o foi em fermoiura éc claridade,
Enchem os meus de tal íuauidade,
Que em lagrimas de vellos fe derretem,
Meus fentidos vencidos fe fometem
Afsi cegos a tanta mageílade,
E da tnfte prifaõ,da èícuridade,
Cheos de medo por fugir remetem*
Mas fe niílo mo vedes por acerto,
O afpero defprezo com que olhais
Torna a efpertar a alma enfraquefeida*
ô gentil cura,&: eílranho defconcerto,
Que tara o fauor quê vos não dais,
Quando o voífo defprezo corna a vida? .
C Soneto
t Sonetos
S O N E T O w.
Er mofara do ceo a nós defcida,
Que nenhum coração deixas ifcnto,
Satisfazendo a todo o penfamento,
Sem feres de nenhum bem entendida»
Quê lingoa auerâ táo atreuida,
Que tenha de louuarte atreiúmento,
Po"is a parte melhor do entendimento,
N o menos que em ti ha fe vè perdidaí
Se teu valor contemplo,a me!hor parte
Vendo que abre na terra hum paraífo,
O engano me falta,o efprito mingoa ;
Mas o que m m me tolhe inda Jouuarte.
He qué quando te vejo perco a lingoa,
E quando te não vejo perco oíifo.
S O N E T O 67.
T ) O i s meus olhos não canfaô de chorar >
Tnftézas que não canfaõ de canfarme,
Pois não abrãda o fogo em que abrafarme a
Pode quem eu jamais pude abrandar^
Não canfe o cego amor de me guiar
A parte donde não faíba tornarme,
N e m deixe o mundo todo de efcurarme
E m quanto me a voz fraca não deixar,
E fe nos montes, rios,ou em valles,
Piedade mora,ou dentro mora amor
Em feras^uesjprantasjpedras^goas,
ução a longa hiftoria de meus males
E curem fua dor com minha dor,
Que grandes magoas podem, curar magoas.
Som
De Luis de Camces. i3
S O N E T O 69.
Ayme hüa lei íenhora de queremos
Que a guarde,fopena dc enojaruos;
Que a fè que m*obriga a tanto amai uos,
Fara que fique cm ley de obedecemos,
T u d o me defendei, fenao í o veruos,
E dentro na minlfalma contemplamos,
Que fe afsi não chegar a contentamos,
A o menos que nio chegue aborrecemos,
E fe cila condição cruel &: efquiua
Que me deis ley de vida nio conknte,
Daima íenhora ja, feja dé morte.
Se nem eífa me dais, he bem que viua
Sem faber como viuo triftemente,
Mas contente porem de minha forte»
S O N E T O €9.
T^Erido fem ter cura perecia
O forte,& duro Telepho temido,
Por aquelle que n'agoa foy meado,
A quem ferro nenhum cortar podia«
A o Apollineo Oracuio pedia
Confçlho para fer reífreuida,
Refpondco que torneie a fer ferido
Por quem o ja ferira, & í araria.
Afsi (fènhora)quer minha ventura*
Que fendo de veruos claramente,
C o m vos tornar a ver, Amor me cora.
Mas hc tão doce voíTa fermofura,
Que fico como hydropico doente,
Q u e co beber lhe creicer :nòr-iecura.
C 1 Soneto
t Sonetos
S O N E T O 70.
A metade do Ceo fubido ardia
O claro Al mo paftor, quando deixauao
O verde pafto as cabras 5 & bufcauaõ
A frefcura fuauc d'agoa fria.
C o a folha da aruore fombria
D o rayo ardente as aues s^emparauaõ,
O modulo cantar de que ceíTauaõ
Sò nas roucas Cigarras fe fentia.
Quando Lifo paftor, nlium campo verde®
Natércia crua Nimpha f ô bufcaua
C o m mil fofpiros triftes que derrama.
Porque te vâs de quem por ti fe perde.
Para quem pouco t'ama ? (fulpíraua)
O Ecco lhe relponde, pouco te ama.
S O N E T O 71
A a faudofa Aurora deftoucaua
Os feus cabellos d'ouro delicados,
E as flores nos campos efmaltados
D o cryítalino orualho borrifaua:
Quando o fermofo gado s'efpalhaua
Do Siluio, & de Laurente pellos prados,
Paftores ambos, & ambos apartados
De quem o'mefmo Amor naõ fe apartaua.
Com verdadeiras lagrimas,Laurente
Naô fey (dizia) ò Nympha delicada,
Porque não morrejâquem viuo aufente,
Pois a vida fem ti naõ prefta nada?
Refponde Siluio, Amor naõ o confente
Que offende as efperanças da tornada.
Soneto
De Luís de Camões. *4
S O N E T O 7i.
Yan do de minhas magoas,a comprida
Magírçaçaó, os oíhos m'adormece,
E m fonhos aqueílaltna m aparece
Que para mim foy fonho nefta vida"
L à nua íoydade,onde eítendida
A vifta pelio campo destalece,
Corro par e Ja: Cc ei ia encão parece
Que mais de mim í*e alonga,compellida;
IJrado^ão me fujaes fombra benigna
Ella(os olhos em mímclium bran Jo pejo,
Como quem diz que ja nao pode Ler)
Torna a fugirme: & eu gritando,Dina?
Ances que diga Mene,acordo,&: vejo
Que nem hum breue engano poíTo ter«
S O N E T O 75.
© O f p i r o s inflamados, que cantais
^ A trííleza com qu'eu viuy taó ledo,
Eu mouro,&: naõ vos leuo, porqu'ey medo»
QiTao paflar do L'ethe vos petcaes.
ETentos para fempre ja ficaes
Onde vos moftraraõ todos co dedo
C o m o exemplo de majes, qu eu concedo»
Que para auifo d outros èftejaes.
E m quem,pois,virdes falias efpomnças
D ' A mor, & da Fortuna, cujos danos
Alguns teraópor bem auencuranças,
Dizeilhe,qu os feruiftes muitos annos,
E que em Fortuni tudo faõ mudançns,
E q u e m Amor í u ò h a f e i u ó enganos.
: . Ç j Soneto
t Sonetos
S O N E T O -4.
/ »
' \ Q u d l a f e r a humana^qu'enriquece
* V S u a prefumptuofa tyrania,
Deitas minhas entranhas,onde cria
Amor hum mal que falta quando crecéj
Se nella oceo moftrou(como parece)
Quanto moftrar ao mundo pretendia»
Porque de minha vida s'injuria?
Porque de minha morte s'ennobrece?
Hora em fim fubümai voila Victoria
SenhorajCom vencerme 5 & capàuarme,
Fazei diíto no mundo larga híítoria.
Que por mais que vos veja mal tratar me,
Ia me fico logrando deita gloria
D e ver que tendes tanta de matarme,
S O N E T O 75,
Itofo feja aquclle que fomente
Se queixa d\amorofas elquiuanças,
Pois por ellas não perde as eíperanças
D c poder n'alguni tempo fer contente
Ditofo feja quem citando abfente
Não lente mais que a pena das lembrança:
Porqirindaque íc tema de mudanças,
Menos feteme a dor quando fe fente,
Dicoío fcja(em fim)qualquer cítado
Onde enganos)defprezos>&: ífenção
Trazem o coracão atormentado.
M is tri (le quem fe fente magoado
D errps em que não pode auer perdão,
Sem ficar n alma a magoa do pcccado.
De Luis de Camões. 17
• S O N E T O /7 í .
/ p l Vem íoíle acompanhando juntamente
efTes verdes campos a Auezinha
Que deípoís de perder hum bem que tinha,
N a o fabc mais que coufa he ler contentei
Quem foíFe apartandoíle da gente:
Ella por companheira,& por vizinha
M'ajudaíTe a chorar a pena minha,
Eu a e!la o peíar que tanto Tente. _
Ditofa Aue^q^ao menos íc a natura
A íeu primeiro bem não da íegundo,
Dalhc o fer trifte a íeu contentamento*
Mas triílc quem de longe quis ventura
Que para refpirar 1 he falte o vento,
E para tudo,em fim,lhe falte o mundo*
o
S O N E T O 77«
Culto diuínal íc celebraua
N o templo donde toda a criatura
Louua o Feitor diuinojque a feitura
C o m íeu (agrado fangue reílauraua»
A l i Amor, que o tempo nVa^uardaua
Onde a vontade tinha maisfegura,,
N'hua celcfte-jôC Angelica figura
A viíla da rezaõ me faltearia.
Eu crendo qub lugar me defendia,
E feu liure coílumc naó fabendo
Que nenhum confiado lhe fugia,
Deixeimc cattiuar,mas ja qu'entendo
Senhora,que por voíTo me queria,
Do tempo que fuy liure nvarrependo*
C 4 Sone
[
Sonetos
S O N E T O 78.
fjjt;Eàa ferènidade deleítoía,
•*P'Que reprefenta em terra bum paratfo 2
Entre rubis,&: perlas doce rifo,
Debaixo d'ouro,& neue,cor derofas
Prefença moderada, & graciofa
Onde enfinando eflão defpejo,& fifo,
Que fe pode por arte, & p o r auifo
C o m o por Natureza fer fermofa:
Falia de quem a morte,& a vida pendo
Rara,fuaue,em fim fenhora voíTa,
Repoufo nella a l e g r e ^ comedido:
Eftas as armas fao com que me rende,
E me caprina Amor,mas não que polia
Deípojarme da gloria de rendido.
SONETO75?.
1 3 E m fei Amor qu'he corto o que receo"*
Mas tu porque comiíFo mais te apuras^
D e manhofo mo negas,& mo juras
N o teu dourado arco,& eu to creo,
 mão tenho metida no teu feo,
E não vejo meus danos as efcuras,
E tu com tudo tanto m'aíFegura^
Que me digo que minto,& que írfenleo»
Não fomente coníinto nefte engano,
O
Mas
, , inda to açardeço.&
O ^ J a mim me ne^o yj
Tudo o que vejo,& finto de meu dano«
O poderofo mal a que m entrego!
Que no meyo do jufto defengano.,
M e pofla inda cegar hum moço cego!
Som t
De Luis efe Cãmões. 21
SONETO 80.
S O N E T O 81.
A Mor he hum fogo qifarde fem fe ver 5
^ H e ferida que doe,& não fe fente,
He hum contentamento defeontente^
- H e dor que defatina fem doer.
H e hum não querer mais que bem querer,
H e hum andar folitarío entre a gente,
H e nunqua contentarfe de contente,
H e hum cuidar que ganha em fe perder»
H e querer eftar prefo por vontade,
He feruir a quem vence o vencedor,
He ter com quem nos mata lealdade»
Mas como caufar pode feu íauor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrario â fi he o mefmo Amor?
Sonc
t Sonetos
S O N È T O 8i,
C E pcivi por amnruos fe merece,
^ Q u ; r a delia liurc eftâ? ou quem iíento?
Q a c a] ma,que rezío,qu'entendimento
E m véruos fendo r e n d e ^ obedecei
Q a e mói* gloria na vidi s'oftcrece
Que occuparfe em vos o peníamento?
T o d a a pena cruel, todo o tormento
Em veruos fe m o ícare, mas efquecc.
M is fe merece pena quem amando
Conàno vos cftâ, fe vos offende,
O mundo matareis, que todo he voílot
E m mim podeis,fenhora, yr começando
Que claro fe conhece,& bem s*entend<s
Amaruos quanto deuo,& quanto poflò,
S O N E J O 85,
/ T \ V e leuas cruel morte? H u m claro dia«
^ C / A q u e h o r a s o t o m a f t e í Amanhecendo»
Entendes o que leuas í N ã o o entendo.
Pois quem to faz leuar? Quem p entendi
Seu corpo quem o gozai A terra fria,.
Como ficou fua luz? Anoitecendo
Luíkania que diz? Fica dizendo
E m fim não mereci Dona Maria.
M itaftc quem a vio* Ia morto eftaua.
Que diz o cru Amor? Falar não oiifa,
E quem o faz calar? Minha vontade»
N a corte que ficou? Saudade braua
Que fica lâ que ver? Nenhüa coufa,
Mas fica que chorar fua beidade*
Som
De Luis de Gamões.
S O N E T O ?4.':
á B l N d a d o s fios d'ouro reluzente
^ ^ Qu'agora da ma o bella recolhidos,
Agora fobre as rofas eftendidos
Fazeis que fua belleza s'acrccentc:
Olhos que vos moueis tão docemente
E m mil diuinos rayos cncendidos,
Se de câ me leu a es alma,& fentidos,
Que fora fc de vos não fora aufente-
Honeíto rifo,qu'entre a mor fineza
D e perlas,& coraes nafee, & parece
Se n'aima em doces cccos não o oiiulífe
S'imaginando í o tanta bel leza
D e íi, em noua gloria a alma s'dquécc,
Que fera quando a vir? ah quem a ville
S O N E T O
T J O y ja num tempo doce couía amar
E m quanto m'enganaua a efperança,
O coração com cfta confiança
T o d o íe desfazia ern defejar.
O vão,caduco,& débil efperar,
Como fe defengana hüa mudança!
Que quanto he mor a bemaiienturança*
Tanto r menos fe cré que ha de durar.
Quem ja fe vio contente.& proíperado
Vcndofç em breue tempo em pena tanta
Rezão tem de viuer bem'magoado.
Porem quem tem o mundo expermenta do
Não o magoa- a pena, nem o cfpanta,
Que mal fe eüranharâ o cofuvmaclo;
S O N E T O U.
;
Os illuftres antigos que deixaram ^ I
D T a l nome, qu'igualou fama à memoru 8
Ficou por luz do tempo alarga hiftoria *
Dos feitos em que mais s'afsinalarame
Se fe com coutas dçftes cotejaram
Mil voíTas cada hüa tam notoria,
Vencera a menor delias a mòr gloria
Qirel.es em tan:os annos alcançaram,«
A giona íüa foy, ninguém lha tomç
Seguindo cada hum vários caminhos,
Eftatuás leuautando no feu templo.
Vos ho ira Porcugueía,& dos Coutinhos*
Illuftrc D o m Ioaõ com melhor nome
A vos encheis de g l o r i a ^ a nos d'exempí<>
S O N E T O 87»
Onuerfaçaõ domeftica affeiçoa
C Hora em forma de boa, & iaà vontade
Hora d'huá amorofa piedade
Sem olhar qualidade de pefíba»
Se defpois,por ventura, vos magoa
C o m defamor,S£ pouca lealdade,
Lego vos faz mentira da verdade
O brando Amor,que tudo em fi perdoa*
N'*o faõ iílo quç falo conje&uras
Qu'o peníamentojulga m aparenaa^
Por fazer delicadas eí crituras.
Mciido tenho a maõ na confciencia,
£ niò filio fenaõ verdades pura$
Que ar calmou a viua experiência.
Seneto
De Luis de Camões.
S O N E T O 88.
rço grande igoal ao peníamento,
^-'Tenfamentos emobras diuulgados,
Ç não em peito timído encerrados,
E desfeitos defpois em chuua,& vento:
Animo da cobiça baixa ifentOy
Digno por líibfo,d'altos eílados,
Fero açoute dos nunqua bem domados
Ppuos do Malabar fanguinolento:
Gentileza de membros corporaes
Ornados de pudica continência,
Obra por certo rara de natura.
Eftas virtudes,& outras muitas mais
Dignas todas da Homérica eloquencia,
Iazem debaixo delia fepultura.
S O N E T O 8*.
^ í O mundo quis hum tempo que s'achafle
^ ^ O bem que por acerto,ou forte Vinha.
E por éxpermentar qué dita tinha,
Quis qu'a fortuna em mim s'expermentaiTe»
Mas porque meu deílino me moftraíle
Que nem ter efperanças me conuinha,
Nunqua neíta tão longa vida minha
Coufa me deixou ver que defejaffe.
Mudando andei coílume ) terra,& eftado
Por ver fe le mudaua a forte dura,
A vida pus nas mãos d'hum leue lenho:
Mas(fegundo o qu'o ceo me tem moílrado)
Ia fey que deíle meu bufcar ventura,
Achado tenho ja>que não ateuho. •• .
Sone
t :: : Sonetos í '
S O N E T O pç.
K Perfeição^'graça,o doce getro,
+ primavera ehea de frei cura —
Que femprc era vos florecc.a que auentura,
E arezáoenèecgarão efte peito: - -
A quelle criílaiino,& puro aipeito
Qu em íi compréhde toda a fermofura, [
O refplandor dos olhos,& a brandura
De quo amor a ninguém quis ter reípcíto;
S'ifto qu em vos íe vê,ver defjjaes
Como digno de veríe claramente, »
Por mais que de amor vos iíentaes:
Traduzido o vereis tam fielmente
N o meyo deite fpirito onde eftais,
Que vendouos fintais o qu'elle fente»
S O N E T O ^
\ f O $ quç cVolhos fuaues,& ferenos
^ C o m juftacaufa a vida captiuais,
E qu'os outros cuidados condenais
Ppr i n dmídos,baixos,&: pçquenos;
S'ainda do Amor domçfticos venenos
Nunqija prouaftes: quero quç faibaís
Qu'he taqto mais o amor defpois quç amais,
Quanto faõ mais as caufas de fer menos»
E não cuide ninguém qu'algum defeito
Quando na coufaamada s'jprefcnta,
P oíla de mi nui r o amor perfeito»
An-es o dobra majSj ôç fe atormenta,
Pouco,&: pouco o defeulpa o brando peito
Qu'Amor com feus çonuaiios $ f acitcenea.
Sono
«
De Luis cie Camões. 24
S O N E T O
Q V e poderei do mundo ja querer?
, Que naquiilo em que pus tamanho amor,
N ã o vi íenao defgofto,& defamor,
E morte em fim,que mais não pode fer.
Pois vida me não farta de viuer, I
Pois ja fei que não mata grande dor,
Se coufa hay que magoa dé mayor ?
Eu a verei: que tudo poíTo ver.
A morte a meu pefar m'aifegurou
D e quanto mal me vinha,ja perdi
O que perder o medo m*enfinou.
N a vida defamor fomente vi,
N a morte,a grande dor que me ficou:
Parece que para ifto f ó nafci. >»
S O N E T O pj.
T)Enfamentos qu'agora nouamente
^ Cuidados vãos ém mim refufcitais,
DizeiniCjainda não vos contentais
D e ter d,es,quem vos tem,tão dei contente?
Que fantafia he efta, que prefente
Cad'hora ante meus olhos me moftrais?
C o m ronhos,&: com fombras atentais
Quem nem por fonhos pode fer contenté?
Vejouos,penfamentos, alterados
E naõ quereis d'efquïuo,declararmë
Qu'hc ifto que vos traz tã enleados.
N a õ me negueis3s?andais para negarme, 4
Que fe contra mim eíbais aleuantados,
Eu vos ajudarey melmo a matarme.
. > Sone
Î.JT . ^ n Sonetos '
SB N E T O • e>\l t
O E tomar minha pena em penitencia \
^ D o erro em que cahio o penfamento,
Naò abranda, nias dobra meu tormento^ i
A ifto, a mais obriga a paeiençia. ' .1
Eshúa cor de morro ná apparençia, -
Hum cípalhar foípiros vaôs ao vento,
Em vos naõ faz fenhora, mouimento,
Fique meu mai em voíTa confciencia.
E í e de qualquer aípera mudança •
Toda a vontade iíenta Amor caftiga,
(Como eu vi bem no mal quê mè condena)
E S em vos naõ s'entende auer vingança,
Será forçado (pois A mor m'obrigaQ
Qu'eu fo de voífa culpa pague a pena*
R a y a críítalino seftcndia
^ ^ P e l l o mundo,ch Aurora marchetada,
Quando N i f e paftora delicada
Donde a vida deixaria,fe partia.
Dos olhos com que o Sol efcurecia,
Leuando a vifra em lagrimas banhada,
De íi,do fado,& tempo magoada,;
Pondo os olhos no ceo,afs'i dizia*. <!
Na ice ícreno Sol,puro,& luzente
Reíplandcce fermofa,Sc roxa Aurora
Qualquer alma alegrando defeontente:
Q-' a minha,fabe tu que d»fd'agora
Limais na vida a podes ver contente,
N e m tão trifte nenhua outra paltora.
D e Luis de Campes. 26
S O N E T O 100.
X J O mimdo poucos an:ios,& califados
Víuijcheos dc vil miícria dura-
Foimc tão cedo a luz do dia ei cura,
Que não vi cinco luftrcs acabados.
Corri terras,& mares apartados,
Bufcando d vida algum remédio,ou cura,
Mas aquillo qu'em fim não quer ventura,
Náo o alcançáo trabalhos arnfeados.
Crioumc Portugal na verde,& cíiara
Patria minha Alanquer,mas âr corrupto
Que ncfte meu terreno vaio tinha,
M e fez manjar de peixes,cm ti bruto >
Mar,que bates na Ahazía fçra,& auar$
T ã o longe da dítoía patria minha.
S O N E T O 101.
Q V e me quereis perpetuas faudades?
Com qup çfperança ainda nVenganais*
Qu c o tempo que fe vay,náo torna mais,
E fe torna,não tonuo as idades:
R e z ã o h e j â ò annos,que vos vades,
Porqifeftes tão ligeiros que pa/Taís,
N e m todos para hum gofto íaõ iguais,
N ç m fempre faõ conformes as vontades,
Aquilio a que ja quis,he tão mudado,
Que quaíi he outra coufa,porqu'os dias
T e m o primeiro goílo j a danado. .
Efperançí?s de nouas alegrias
N . o mas deixa a fortuna,& o tempo errado
Que doconrentamen.o fiõ cl pias.
J
( 3 , "' " D-z Soneto
? ir - *'..t
M.
S O N E T O lot.
Erd ide,a:iaor 5 rezão,merecimento
V Qualquer alma faraó fègura,& force?
Porem f o r uma, c aí o, te m po,& forte
T e m do confliío mundo o regimento.
EíFeitos mtl reuoiue o penfamento,
E não fabe a que cauía fe reporte:
Mas fabe qu'o que lie mais que v i d a ^ m o r t e *
Que não o alcança humano entendimento.
Doctos varões darão rezóesfubidas,
Mas f i õ experiências mais prouadas,
E por ífto he melhor ter muito vifto.
Coulas h ai que paílaõ fem fer cridas,
E coulas cridas ha,íem fer paliadas.
Mas o melhor de tudo he crer em Chrifto.
SONETO 103.
T^Ioufc o coração de muito ifento-
De íi, cudando manque tomaria
T ã o ill icico amor ta! ouf 1 dia,-
T a l modo iiunqua vifto de tormento»
M "is os o:hos pintar no taó a tento
Outros que vifto tem na f a n x í i a ,
Qu'a rezaõ te me roía do que via,
Fugio, deixando o campo ao penfamento»
O H ypoiito cafto,que de geito
De Phedra tua madrafta fofte amado,
Que nio fab ia ter nenhum reípeito:
Em mim vingou o amor teu cafto peitOj
Mas efta dcíle agrauo tão vingado,
Que s'arrepende j a do que tem f e k a .
Som
DeLnis de Camões. 17
-, ; .SONETO
i
y .
104.
Q V è n i q u i f e r verd'Amor hua exccîjcncu
Onde íüa fineza maisfe appura,
Attente onde aie poem minha ventura,
Por ter de minha te experieacia.
Onde lembranças mitao a ion ra aufencia
* 1
Em temeroío mar,em guerra dura,
Alli
^ a íaud' ide eftà feiura,
-o '
Quando mor nico corre a pacienciar
M i s ponha me fortuna, bí o duro fado
E m nojo, mor te,d ano, òc perdição,
Ou em fub:ime,ôc profpera ventura:
Ponhame em fi m em baixo,ou alto liado,
Qifaté na dura morte írfacharâo
N a lingoa o nome,n'aima a viílapura.
SONETO 105.
DE L VIS DE
C A M Õ E S
Canção primeira*
Cançao fegunda,
V
Canção terceírj,
j f f í i como acontece
jíquem a chara Vida fia perdendo.
Çhi cm quanto Vqy morrendo
Algüa YifaÕ fanta lhe aparece:
A mim em quem fallece
jíVida, que fovs Vos minha fenhord,
A efta alma que em Vos mora}
(Em quanto da prifaofe fia apartando)
Voa ejl aisjuntamente aprefentando,
Em for ma dafçrmofa í? roxa Aurora?
De Luis de Campes. 26
oditofa partida,,
o gloria foberan yalta^ fubida,
Se mo não impedir o meu defejo,
*Porquo que Vejo em fim me tom1 a vida,
Porem a natureza
Que nefta vifla pura fe mantinha,
Mefalta tãoafinha*
Quão aflnha o Solfalfa redondeza:
S^ouuerdes quhe fraqueja :
Morrer em tao penofo triflefiado}
jímor fera culpado,
Ou Vos, ondelleViue, tao ifento,
Qjie caufafies tao largo apartamento,
Porque perdera Vida co cuidado,
Que fe viver riaopoffo,
Homem formadofo de carrí/sr ojfo,
Efla vida que percamor ma deu,
Que nãofou meu:fe mouro danno he Voffo.
Cançao quarta.
M M a mor alegria
ò
Que daqui leuarpoffo,
Qom a qual djfenderme trifle Jptfty
E , que nunqua fentta
Ts[p tempo que fuy Voffo
Quererdesme Vos quanto Vos eu quero*
Ez
/
• -u Canções •
tyorqtfo tormento fero ' ^)
íte Vofs apartamento
7S[ao Vos dará tal pena,
Qomo a que me condena:
Que mais fentireyvojjb [entimento^
]
Quo que mtntíúlma [ente ' '
Morreufenhorãy & Vosftcay contente;
•• - I
kS '
Qançao tufiarcts
jíqui acompanhando?
Efies camppy&èfias claras agoas,
E por mim ficaras
Qhorando isr fujpirando,, *
E ao mundo mofirando tantas magoas^
Quede tao larghifioria, • *"
Minhas lagrimasfiquempor memoria,
Canção quinta.
E fe polia Ventura
Dama Vos offendejfe
Efcreuendo de Vos oquenao fentot
E Vojfa fermofura
Tento a ter Ya defeefft>
Qua alcançaffe humild'entendimento:
Seria o fundamenoo
Daquillo que cantajfc,
Todo de puro amor^
De Luis cie Camões. 24
Porque Vojfo louuor
Em figura de magoas fe mojlrajfe:
E onde fe julgajje
jícaufa peito cjfelto} minha dor
Diria alh fem medo
Ç^em me fentir Vera, de quem procedo,
Então amoUraria
Os olhos faudofos,
Eo futyirarque tracalma conjtgo,
j í fingiaf alegria,
Os pafjos Vigarofos,
O fatiar^ eíquecerme do que digo,
Hum pele]ar comigo,
Elogo difculparme,
Hum recear oufanio,
.Andar mtu bem bufeando,
E de poder achallo acouardarme:
Em fim aueriguarme
Çhi o fim de tu lo quanto fiou fallando,
Sao lagrimas amores,
São Vojfcu ifenew, Cr minha dores,
Canção feifta*
^ Qm força defufád}<t
yfqmnfo fog eterno y
Jduni dha, la nus partes dVrientt±
T)'fir anhos habitada,
yfonao duro inueruo
Os campos renadíjCalegremente:
À Lit
De Lois úc Camões.
A Lnfoana gente
Tor armas f ngtúmfa^
Tem de/to fenhorio:
Çercad'ejla diht m rio
De marítimas cgoas faudofas^
Das heruas quaqut nafcem
Os gados jimtment\<tsr os olhos pafcemí
Mas ejlefingimento—
fpor m nha dura forte
Qom falfas esperanças me comida.
Canções.
ao cuida o penf amento
Que pode achar na mortt
O que não pode achar tão longa Vida,
Eftà já tão perdida
jí minha confiança,
Qu: de defejferado
Em Ver meu trijle fiado.
Também da morte perco a sperançap
Mas ô que s'algum dia
Dcfesperar podejfe, viutria,.
Canções
^/f/Si me confirma
Efiverança, defejo, i? ou/adia:
Canção fettima.
»
Canção oitaua*
Omet .a trifle pena
Ia de defejferado
De Vos lembrar as muitas quepadefço:
Vendo que me condena
jfficar eu culpado
0 mal que me tratais, o queu merefço,
fonfejjb que conheço
Qtiemparte a caufa dei
0 mal em que me Vejo,
F <Pois
Canções
fempre meu defejo
j í tão largas promejfas entreguei»
Mas não tiue fosf ata
Ojie fegiàffeis tenção tão imperfeita*
S'emVoJfo efquecimentù
Tão condemnudo fiou
Com os finais demofirão que mofirats9
Vim mfietormento,
Lembranças mais não dou
y
Qtias que d efiã ra^ao tomar queirais:
Olhay que me traitais
*Afiidedia cm dia
Qom voffas efquiuançm
E 06 y ofiasesperanças
De que Vãmente eu menriqueficia7
(Rjnouão a memoria
(Pois com tela de Vos fio tenho gloria,
E si fio conheceffek
- Ser Verdade pura>
Mais que de jírabta o ouro reluzente?
Inda que não quifieffeis
condição tão dura
j
Defies acompanhado
Efiou poflo fem medo
yítudo o que fatal deflino ordene,
^ ~ V ' F i fode
Canções
5We fer que caufado,
Ou feja tarde}ou cedo,
Çom pena de pen ~rme me defpenei
E quando me condene
( Qjflft0 he o que mais efpero)
Inda a majores dores
^Perdidos os temores
(por mais que Venha,na o direi não querop
Qom tudo ejloutdo forte
Que nem mudar pode a me/ma morte.
Canção nona.
1
jfqui efliueu com efies penf amentos
G afiando o tempo & a vida,os quais taò
Mefubiao nas ajas, que caya,
(E Vede fe feria leue o falto,
Xe fonhados <&<Vaos contentamentos>
Em defejperaçao de Ver hum dia)
Aqui o imaginar fe conuertia
l^um fubito chorar, Cr nusfojf iros3
Que rompido os ares:
Jqui a atina cattm
De Luis de Campes. 26
Chagada t oda eflana em carne Viua,
De dores rodeada,Cr depefares,
Defamparada Cr defcuberta aos tiros
Da foberba fortuna,
Soberba, inexorauel, Cr importuna,
Aqutcom ellesficopreguntando
jíos Ventos amorojos que rejftirao
Da parte donde Jlais,porVòsfenhora$
Jis aues que alli Voao fe Vos virão,
Qjie falteis, queJlaueis praticando
Onde, como,com quem, que dia/sr quora:
Alli a Vida canfada,fe melhora
Toma Jfiritos nonos, com que Vença,
A fortuna, C? trabalho,
Sò por tornar a veruos,
Sò por ir a feruiruos, & queremos,
Di^me o tempo qua tudo dara talho9
Mas o defejo ardente,que detença
Truncafoffreo,fem tento
M'abre as chagai de nouo aofoffrimento.
Canção decima.
— g , , . •• . . . « • • »
De Luis deCamoes«45
Que me criou nos peitos d t f f eranca,
De quem euvi desftois o origind:-
Que de todos os grandes de faunos
Fa^a culpa foberba & foberana*
tpareceme que tinha forma humanap
Mos fcentdkua spiritos diurnos,
Hum meneo fr prefença tinha tal$
Que (e Vmgloriaua todo o mal
l^ia vifta delia* a fombra coa Viue^p
Excedia a poder da natureza*
Odes
DE LVIS DE CAMÕES.
O d e primeira, a Lua.
w , . . , i f n '
De Luis de Camoes« 45
tyorqiiafô me ha ordenado
Meu infelice fiado,
Que quando me conuida
jímorte para morte tenha Vidal
Ode fegunda.
Ode
• Odes
Ode terceira,
g E de meu penfamento
Tanta ra^ao tiuera dalegrarme,
Quanta de meu tormento
jTtenbo de queixarme,
Modera* trtfte lyra confolarme*
T
j{fer como fohia
Poderá leuantar Voffosíouuores,
Vos minha Hierarchia •
Ornáreis meus amores,
Que exemplo fao ao mundo jade dores,
.\
jflevres
o meus cudados,
'
Qmtentes dias, horas, <3* momentos9
ò Qjiam bem alembrados
Sois de meus penf amentos,
Reinando agora em mim duros tormentos
At
De Luís de Camões. yj
r
Jy goftos fugitluos,
jfygloria ja acabada, O* confumída,
frueis males efquiuos,
Qualme deixais avida
Quamchea de pefar-, quam deflruida!
o bem afortunado
Tu qualcmçafle com lyra toante
Orpheo ferefculadoy
Do fero ^hadamante,
E cos teus olhos Ver a doce amante.
jí ordem femudaua
Das penas qu ordenaria alh Plutão,
Emdefcanfo tornaua
A roda delxião,
E em gloria quantas penas alli fao.
E douro guarnecidas
Voffas louras cabeças, leuantando
Sobol' agoa erguidas,
jís trancas gottejando,
Saht alegres todas, Ver qual ando.
Sahi em companhia
ÇantnnJo & colhendo as lindasflorest
Vereis minha (goma
Odes
0unireis meus amores,
jíjfentarek meus prantos, meus clamores.
Ode quarta.
tpois irimphandoVas
Çom diuerfos dcfpojos de perdidos,
Que tupriuando fias
De ra^io, dejui^o, & de fentidos, •
Equcfiã todos, dandp,\ - '
Aquelle bem qua todos Vai negando,
tanto te contenta •
Vero noclurno moço emferro enuolt9
Debaixo da tormenta
De luphcr em agoa, í r Vento /bltó,
Aporta qiiimpedido
Lhe tem feu
*Porquerido tensreceo
Qjte tantas mfole?icÍ0y^efquÍuançasr ,
A Deofa que poemfreo
Afoherhas}^ doudas efperanavs,
H
Odes
Qafíigut com rigor
E contra ti Acenda o fero Jfmor.
Ode quinta,
Hl Ode
«
»
Odfes
Ode feifta*
M
Dc Luis deCamões.58
Ques*osolhos äufentes
7S(ao Vem acompajjada
í
Proporção, que das cores excellentes
De pureza, & Vergonha he Variada.
Da qual a Poeßa que cantou
Ate qui so pinturas
Com mortais fermofuras igualou:
E vemaa grauidadë
H 4 Com
for leda, t:-por fuaue,
¥{em outra por [ergram, muito amada ^
hMfrWMrrtMtBafi masmm .. • • .
».»1 I
Dc Luis deCamões.58
'Çjãnwfuel faindo, a vifta o vee,
Mas per a o comprender não 11? acha tomo,
0 qual toda a To fiam poefit
Que mats roubo refinara,
Em 'Seatn^j nem em Laura nunqua vk,
Ode fettima.
mÊmMËXm
Dc Luis de Camões. 58
{feitos de Marte, & fihebo crefyofl? louro»
Tereis floria immortal
Odç outauja.
E não fe despregou,
jíquelle fero, indomito mancebo
Das artes quenjinon
o intenio tia
Odes
Que s'o temido HeSlor matar podia,
Também chagas mortais curar Jabia.
ÏPoJîoqu'o penfamento
Occupado tenhais na guerra infejlap
Ou co fanguinolento
Taprobano} ou Achem quo mar molejla9
Ou co Qambayo occulto imigo nojjo
Que qual quer Mies teme o nome Vojfo:
Fauorecei 4 antiga
Scien-
mmmmm
De Luís de Càmoes*
Sctencid que ja Ac biles eJlimou-}
Olíay que y os obriga
. Verdes quem VojJo tempo rebentou
O frutto daqueWhorta, ondeflorecem
$ Untas nouas, qu'os doutos não conhecem^
E Vede carregado
D'annos, <y trás a Varia experiencia
Hum Velho, quenjinado
Das Gangeticas mufas na /ciênciaP
<Poda/iria fútil, e r arte fyluejlre
Vence o Velho ChironAAchila mejlrc*
O qualefta pedindo
VoJJo fauor, i? ajuda ao grão Volume
Qttimpreffo a lu^ faindo
Dara da medicina humviuo lume
R Odes ';
jf tolos os antigos encuber tos.
Ode nona.
't ' * • - \ • •
Zephiro brandoJpira,
Sim fetos Amor afia cigora$
tprogm trifle fuspira,
ETbilomela chora,
0 ceo da frefca terra s enamora
VayVenm cytharea
Qom os coros das Nymphe rodeada,
4 lin3
biwmwimmmihi m I B
. Ê®»
i-
De Luis de Camões.
À'lindaTanopea
Defyida^ delicada
Qom asduas irmãs acompanhada*
Irfeha embranquecendo
(^om afrigi da neue,ofeco monte,
Elupiter chouendo
I
Odes.
Turbara a clara fonte.
Temera o marinheiro o Ori ente.
Todo o contentamento
(frias qweüaua em ter thefouro vfano::
ô falfo penfamtníQ.
Qjrd cpJía de teu dano
Do douto Soíon creste o defengano*
Ode decima*
Acame lkendurece
Queferridopofíã d*armasojfendida:
Çega que não. conhece
Que pode auer ferida
Ts^alma, que menos doe perder a Vida;
Jllifevio catthío
Da cattiua gentil} que ferue& adora%
Jlli fe Vio? qkeyiuo
EmYiuo fogo morar
forque defeu fenhor fe Ve fenhora»
Si,
De Luis de Camões*
0 Velho, mas o moço que ocegara.
[Antes naltittamente,
Ho fotilfangue, O4 engenJ?o mais perfeito,
Harnais conueniente
E conforme fogeito
Onde s'emprima q irando O* doce ajfeïto.
14 Sextí-
Sextinas
Í E X T I N Á S .
Elo
Elegias
ELEGIAS DE
LVIS DE CAMÕES.
ia primeira.
I r t w t e U f f i • «V SP' ".'•-•
Elegias
Tamanho pera a Vida,que ja nella
Mafia chamando a pena a dura Alécio:
(porque me não criara minha eflrella
Seluatko no mundo, habitante
TS[a dura Sgthia, ou na ajfere^a delia?
Ou no Caucafo horrendo fraco infante,
Criado ao peito d\xlgua tigre Hyrcana$
Homem fora formado de diamante.
i
Torque a cerui^ ferina írvihumana
7>{aofommettera ao jugo dura ley
Vaquei le que dá vida quando enganai
Ou em pago das agoas queflilley
jís que do mar paffeiforão de Lethe,
Tara que mefquecera o que pafsei.
Çíuo bem que a JfrerançaVaa promete,
Ou a morte o eftorua, ou a mudança,
Qjiht mal que hum alma em lagrimasderrete;
Iafenhor caíra como a lembrança
Hp mal do bem pafiadojbe trifle,isr duraP
Poisnace aonde morre a f f eranca,
Efe qui fer faber como s'apura
Jfumalma faudofa, nao fe enfade
De 1er tão longa isr mifera eferittura„ '
Soltaua Eolo a redea & liberdade
Ao manfo Eauom brandmentet
Dc Luis deCamões.58
E eu ji d tinha foita a faudade:
2\eptuno tinha pojlo o feu Tridente,
J proa a branca efcuma diuidiay
Qoa gente marítima contentev
O co/o das Jfyreidas nos feguia,
Os Ventos namorada Galathea1
Çonfigo fojfegados os mouia.
Das argênteas conchinhas !Panopea
.Andaua pcllo mar fazendo molhos
Melam o, Diamene, com Legea.
Eu trazendo lembranças por antolhos
Traria os olhos na agoa fojfegada,
E a agoa [em fojf ego nos meus olhos;
IA bemauenturança japajjada
Diante de mim tinha üo prefente»,
' Como fe não mudajje o tempo nada
E com o gfto im-notox defcontente,
Chum foffiro profundomal outiido,
(For não mojtrar meu mal a toda gente:
Dl^iafo darás NymphaSjfe o fentido
Em pui o amor tiuejles> ty in£agora
Da memoria.o não tendes efquecido»
Se porventura fordes algum hora
.Aonde entra o gnn Tejo a dar tributo
jíThetis, que Vos tendes por fenhota? .
Elegias
Ou por Verdes o prado verde eixuto
Ou por colherdes ouro rutilante,
DasTagicas arcas rico frutto:
Relias em Verfo heróicoelegante,
Efcreueic'hïia concha o quem mimvíflet
(Pode fer qualgum peito fe quebrante*
E contando de mim memorias trifles,
Os paftores do Tejo que me ouuiao
Oiiçao de Vos as magoas que me òuuifles.
Elias que ja nogeflo me entendido,
jSlcs meneos das ondas me mofirauao
Qjiem quanto lhe pedia confentão.
EJlas lembranças que me acompanhauao
<PoBa tranquilidade da bonança,
l>lem na tormenta graue me deixauÍQ.
{Torque chegando ao cabo da s fer anca,
Começo da faudade que renoua,
Lembrando a longa,& aff era mudança*
Debaixo eflando ja da eflrella noua,
Que no nouo Hemifyberio refflandecet
Dando do fegundo axe certa protia*
Eis a noite com nuues ejcurece
Doar fupitamente foge o dia7
E o largo Oceano rembrauece:
Amachina do mundo parecia
Dc Luis deCamões.58
Quem tormenta[e Vinha desfazendo,
Em ferras todo o nur fe conuertia.
Lutando 'Boreas feroyiyl^oto horrendo,
Sonoras tempefiades kuantauao,
Vas naos as velas concauas rompendo*
Às cordas co ruido affuuiauao5
Os marinheiros ja defifferados
Comgritos per a o ceo o ar coalbauao*
Os rajos por Vulcanofabricados
Vibraua o fero & afyero Tonante,
Ti 'emendo os Poios ambos daffomhradosl
Mli amor mostrandofepofiante
Eque por nenhum medo não fugia,
Mas quanto mais trabalho mais confiante^
Vendo a morte diantepn mim deçta,
Salgüa orafenhora Vos kmbrajfe
ISJ^ada do quepaffei me lembraria*
Em fim nunca ouuecoufa que mudafie
0 firme amor intrinfico daqudle
Em cujo peito huaVe^ deJtfo entr afife*
Hüa coufa fenhor por certo affelle,
Que ntinqua amor Je affina,ne m s'apura
Em quanto efidprefente a caufa delíe*
$)efi'arte me chegou minhaventura
J efia defejada longa terra^
Ve
Elegias
De todo o pobre honrado fepultura9
Vi quanta Vaidade em nos yencerra,
É dos pr opios quarn pouca}contra quem
Foy logo necefario termosguert a
Qi^e hum'ilha qn9o %ey de Torcà tem
Que o ^{cy daíPimenta lhe tomara,
Fombs tomarlhajsfucedenos bem.
Qom humarmadagr 0 f f a } qu' ajuntara
O Viforei deGoajios partimos
Qom toda agente darmas que s* achara,
E com pouco trabalho deftruimos
Agente no curuo arco exercitada.
Qom mortes com incêndios os punimos.
Era a ilha com agoas alagaday
De modo que swidaua em almadias,
Em fim outra Veneza trajladada,
TSiella nos detiuemos sòs dous dias,
Quefor ao para algüs os derradeiros
Que pajjarao de Styge as agoas frias*
Qu eHesJaÕ os remedios Verdadeiros
Que para a Vida Jlao apparelhados
j4os que a querem ter por caualleiros,
o lauradores bemauenturados,
Se conhece[sem feu contentamentoy
Qom o viuem no campo fojfegados.
Da*
'f s 'I
D Hf
v i^tliji a t v^<lIIÍOeS» 72
.m?er ^ > mfta
/ terra o mantimento,
/
jJ atoes a fonte clara a agoa pura,
MimmnO Jhm ouelhas cento a cento.
Is(dQ Vem o mar irado> a noite efcura,
for ir bufcar apedrado Oriente,
Nao temem o furor da guerra dura;
Viue hum com fuás amores contente,
Sem lhe quebrar o [cm foffegad®
0 cudado do ouro reluzente,
Se lhe falta ovejlido perfumado,
E da fermofa cor Afsyúa tinto,
E dos torcaes
* jítalicos laurado:
Se não tem as delicias de Qorinthoy
E fe de Tario os mármores lhe faltao$
0 Tiropo, a Efmeraldafir o lacinto,
Sefaos cafas d'ouro não s'ef?naltao,
Efmaltafelhe o campe de mil flores,
Onde os cabritos fem comendofaltao..
Jlli amo fira o campo Varias cores,
Vem fe os ramos pender co frutto ameno %
Mlife affina o canto dos paftores*
Jlli cantara Tityro, Sileno,
Em fim por ejlas partes caminhou
Afaã jujlica pera o ceo fereno.
Xlitofo feja aquelle que alcancou
' ^ Poder
fPoàr Yíhcy m doce companhia
D dá manias
.' ouelhtnhas
À criou,
Efle hem facilmente alcançaria
Js canjas naturais de toda a coufru,
Qomo fe gera a chuua & neue fna.
Os trabalhos dofoi que mo repouja,
E porque nos da a lua a lu^alhea,
Se tolhemos deThebo os rayos oufa.
E como tão de prefa o cèo rodea,
E como hum so os outros tra^ configo,
E fe he benigna ou dura Scytharea.
(Bem mal pode entender ifto que digo,
Que ha de andar feguindo o fero Marte
Que trag os olhos fempre emfeu perigo,
(Porem feja fenhor de qualquer arte,
Quepofto qua fortuna pojfa tanto,
Que tão longe de todo o bem me aparte,
Hão poderá apartar meu duro canto
Defta obrigaçãofua, em quanto a morte
Me não entrega ao duro rl\J)adamanto,
Seper a trifles ha tão leda forte.
El
D : Luis de Camões, /74í
Fj^a fegunda,.
Elegia terceira;
c -
Mas muito doe a que fe não merece.
%
Elegias
Quando a roxa ínanhafermofa/jr heSs
Abre as portas ao fol,<& cae o oruâlhõp
E toma a [em queixumes rPhikmela,
EJle cudado que co fono atalho
Emfonhos me parece, quo qu a gente
Wor feu defcanfo tem} me da trabalho,9
E depois d*acordado cegamente
(Ou por melhor di^er defaçordado,
Que pouco acordq tem hum dejcontente)
Valli me Von com paffo carregado,
A hum outeiro erguido, (r alli niajfento.
Soltando a redea toda a meu cudado.
pepois de farto ja de meu tormento,;
D"alli eflendo os olhos faudofos
A parte aonde tinha o penfamento,
Tijto Vejo fe nao montes pedregofos.
E os campoç fem gr aça, (srfeccos Vejo?
Queja floridos vira, & vraciofos.
Vejo o purofuaue, brando Tejo,
f om as CQncauas barcas, que nadand\ ]
Vão pondo em doce effeito fên defejo.
fiuas co brando vento nauegando,
Outras cos leues remos brandamente
As criflaííinas agoas apartando.
paillfdlo çoa agoa que não fente^
\ C
Dc Luis deCamões.58
If om cujo fenèmmto a alma fay
Em lagrimas desfeita claramente•
ò fugiúms ondas ejferay,
Que pois me não leuais em companhia\
Ao menos efias lágrimas leuau
%
Ate que Venha a que lie alegre dia,
Queu Va onde Vos his contente is* ledo;
Mas tanto tempo quem o paffaria?
TSJw pode tanto bem chegar tão cedo,
Porque primeiro a vida acabara;
Que s acabe tão affero degredo.
Mas ejla trifie morte que Vira,
S'em tao contrariofiadome acabajje,
Aalma impaciente adonde ira?
Qjiefe as portas Tartareas chegaffe
Temo que tanto mal pella memoria
TS[em ao paffar de Lethe lhe paffaffe*
Quês*a Tantalo & Tycio for notoria
A pena cm que Vay qua atormenta7
A pena que la tem terão por gloria.
Efia imaginação me acrecenta
Mil magoas no fentido^perqua vida
D9imaginações trifies fefuftenta.
Que pois de todo Viue confumida}
Porfio mal que pojjue fe refum
I erceto
Imagina na gloria poffuida»
Ate qiia noite eterna me confuma.
Ou Veja aqudk dia ckfejaão,
Em que fortuna faça o que cofiuma,
Se nella hahi mudar bum trifle fiado.
A DOM LIONIS
P E R E I R A , S O B R E O LU
uro que Pero de Magalhães Ike
offereceo do defcubrimento
da terra íanóla Cruz.
C
Terceto
f om razoes boas, jußas/jr amoro/an
Edijfe: bem fabemos dos antiga
Berns, dos modernos, qtk rroiu i. '
De (Bellona os grautßimosperigo:,
Que também muitas Ve^es ajuntarão
As armas eloquencia, porquas Mufas
Mil capitães na guerra acompanharão.
ISjmqua Alexandre,ou Cef ar,nas confufas
Guerras, deixarão q efiudo em breue fpaçol
Ts[em armas da f<ciência fao efcufas.
JS^híia mão liuros, noutraferro,& aço,
A hiia rege, enfina,a outra fere
Mais co faber fe Vence, que co braço.
(Poií logo Varão grande, fe requere
Qiíe cometem does Apollo jllußre feja,
E de ti Marte palma, &gloria ejjere,
Efle Vos darei eu, em que feVeja
Saber7 O* esforço no ferenopeito
(ftíbe Dom Lionvs,que fa^ ao mundo enueja•
Defie as irmãsemVendo o bom fogeito,
Todas noue nos braços
>
o tomarão
Çriandoo co fen leite no feu leito,
As artes, & /ciência Wenfinarao,
Inclinação diuina Itiinfluirão,
As virtudes moraes quo logo ornarão.
Da*
LJ Ç Í.J
y
*Xiiim os exercidosJ o o femrao
Das amas m Oriente, onde primeiro -
Hum fotdado gentil inflituirao. .
'Ah taci ijfouM fe^de caualleiro,
(jjie de CbrtftdQ magnammo,<&figuro^
Afi mefmo Venceo por derradeiro.
Depois ja capitão forte, & maduro,
Gouernando toda Áurea Cherfonefio,
Lhe defendeo co hraço o débil muro.
^Porque Vindo a circala todo o pefo
Do poder dos Achens,quefiefioflenta
Do fangue alheo, em fúria todo acefio,
Efie sb quati Marte reprefenta
0 cafligou de forte, quo Vencido
De ter quemfiqueviuo fe contenta.
fpois tanto quo grão reino defendido
Deixou5 fegunda Ve^ com mayor gloria,
Tara o ir gouernar foy elegido.
E não perdendo ainda da memoria
Os amigos o fieugouerno brando,
Os imigos o danno da Victoria5
Hüs com amor intrinfeco, efierando
Efião por elle, Cr os outros congelados
0 vão com temorfinoreceando.
fpoisVedefiefi:raodesbaratados
Terceto
De iodo por feu braço, (e torna f f e ,
E dos mares da Índia degradados,
o
tPorquhe jujlo que nunqua lhe negajfe
0 confelho do Olympo alto <&fubidot
Fauor,& ajuda com que pelejajfe.
(Pois aqui certo eftà bem dirigido
; De Magalhães o liuro, ejle so deue.
De fer de Vos, ò Deofes efçolhido.
Iflo Mercúrio dijfe: & logo em breue
Se conformarão niflo Apollofíj? Marte,
E voou juntamente o fono Iene.
Acorda Magalhães, Zsrja fe parte
Avos offerecer, fenhor famofo
Tudo o que nelle pos fciência, i? arte.
Tem claro eftillo,engenho curiofo
Tara poder de Vos fer recebido
Com mão benigna d1animo amorofo«
{"Porque so de não fer fauorecido
Hum claro f f rito, fica baixo,& efcuro:
{
Pois feja elle comuofco defendido
Como o foy de Malaca ofraco muro,
0
3e Luis-de Camões,
j TVLO
fZ. *4
*
ííe mouerd'olhos excellente,
4 i O
OVTAVAS
DE LVIS DE CAMÕES!
OVTAVAS
A DOM CONSTANTINO,,
Viforey na índia.
/
O V T A VA RI MA,
A S E T T A QJV E O P A P A
mandou a el Rey Dom
Sebaftião.
M*4 Eclo
Éclogas
É C L O G A S ,
Çanta Frondelio.
• waíV Willi
De Luis deCamoes.104
Falaua & defcubria feu tormento,
Num longo efquecimento
Def i todo embebido, .1
jíndaua tão perdido,
Que quando algum p "ftor lhe perguntam
jícaufa da tnfte^a que moftraua, ;
Como quem para penas so Vtuia,
Sonrindo lhe tornam,
Se não ViueJJe (rifle morreria.
Qual o mancebâEüryaloenredado
Entre o poder dos P^utvdos fartando
Js iras da foberba & dura guerra,
Do criftallino rofto a cor müdando,
fujo purpureêfângiie derramado
Pelloó aluas lijtaidtá tinge a/crra>
Que comoflorqua terra
Lhe nega o mantimento,
Porqiio tempo aumento u
*Também o krgo humor lhe tem negado,
D e Luis deCamoes.104
0 coUo inclinei languido Zr canfado; *
Tal te pinto Tionio dando o eJj?rito,
A quem to tinha dado,
Qtiefic he fomente eterno & infinitov
i,
Da loca congelada a alma pura
Lo nomejuntamente da inimiga9
E excellente Mar fida derramam»
E tugentil fenhora nao fobriga
rA prantofiempiterno,a morte dura,
De quem por ti fomente a Vida amaua:
<Por ti aos eccos dana
jíccentos numerofosv
ffor ti aos bellkofos
Exercicips fe deu do fero Marte,
E tu ingrata,o amor ja noutra parte
tPoras, como acontece ò fraco intento,
Quem fim em fim defíarte
Se muda o feminino penfamento^
Vmbrano
... i
E G L O G A II.
1 ejojuaue Cr branda}
7s[um Valle d!altas amores fombrio,
Bftaua o trifte Mmeno
Sujpiros jfalbando
Ao Vento, Cr doces lagrimas ao rio„
JS[p derradeiro fio
0 tinha a ff eranca,
Que com doces enganos
Lhe fuflentàra a vida tantos annos
Tsiumamorofa Cr branda confiança,
Que quem tanto queria
Parece que nao erra fe confia,
noite efcuradaua
^{eponfoaos canfados
í
Éclogas
Animais, ej
0 Valle trifie fiaua
Çhüs ramos carregados
Qu a noite fa^iaomaisefcurai
Moflraua a Jfeffura
Hum temerojo Jbanto,
As roucas ras foauao
7s[um charco d'agoa negra, & ajudauao
Dopajfaro nocturno o trifie canto*
0 Tejo com jomgraue
Corria mais medonho que fuaue.
0gado qtiapatento
São n alma meuscudados7
E asflores que no campo femprè Veja
São no meu penfamento
Teus olhos debuxados7
Com queflouenganando meudefejos
jís agoas frias do Tejo
De doces fe tornarão
jírdentes & falgadas7
Deflois que minhas lagrimas canfadai
Qom feu puro licor fe mifturarão3
Como quando niiflura
Hyppanis coExampèo fuagoa pura«
la aefmaltada Aurora
Defcobre o negro mantoy
Dafombra qu as montanhas encubria?
Defcanfa frauta agora,
Que meu canfado canto
Nao merece que veja o claro diai
Nao canfie a fantafia
Doestar em fipintando
Ogefio ddicado,
Em quanto trai ao paflo o manfogadc
Efle pafior que la sò vem falando:
Calarmeá somente,
Que meu mal mm ouuirfe me confiente.
O
Éclogas
Agrário paflor.
J
O ecco refpondia dajfeiçao,
2S(o brando coração da doce imiga*
Njfla 'amoro/a liga concertauao,
Os tempos "que pafjauao com prazeres:
Ivíofiraua a flaua Qeres poliam eiras,
Das brancas fementeiras ledo frutto,
Pagando feu tributo òs lauradores,
E enchia aos paftores todo prado
Pales, do manfo gado guardadoraf
jZephiro, a frefca Flora paffeando
Os campos efmaltancjfrde boninas.
lS[as agoas criflaltinas trifle jlaua
N^arcifío,quinda olhauariagoapura?
Sua linda figura delicada$
Mas ecco namorada de feugejlo
Qom pranto manifejlo feu tormento,
No derradeiro accento lamentam,1
Alli também sachaua o fangue tinto
Dopurpureo lacintho, ír o dejlroco
' Ol
Éclogas
Dé Adonis lindo moço, mortefea,
Da bellaSçytharea tão chorada,
Toda a terra efmaltada dejlas rofas.
Jlli as Ttymphas fermofas pellos prados
Os Faunos namorados apos ellas,
Mojlrandolhe capellas de mil cores,
Quefaçião dasfloresque colhido,
Js TSLymphas lhe fogião amedrentadas\
As fraldas leuantadas pellos montes,
Afrefca agoa das fontes ejlalharfe•
Vertuno transformar/e alhfeVta,
tPomona que traria os doces fruttos,
Allipaftores muitos, que tangião,
As gaitas que tra^ião, & cantando
Eflauão engajando fuás penas,
Tomando das Sirenas o exercido,
Ouuiafe Salteio lamentar-fa
Da mudança queixarfe crua & fea,
Da dura Galathea tão fermofa;
Eda morte enuejofalS[emorofo
Ao monte cauernofo fe querella,
Quefua Elifa bella em pouco ejpaço
Cortara inda em agraço a dura forte
6 immatura morte, qua ninguém
De quantos Vida tem, nunca perdoas,
*
De Luis de Camões. »07
Almeno fonhando,
Agrário.
De Luis de Camões. 12 j
*
Que d amor os defafires fao de forte
Que para mattar bafta ornais piquem,
Porque não pões bumfreo a mal ûo forte,
Que em eftado te poem, quefendo Viuo
la nao s'entende em ti Vida nem mortel
k. e
Almeno.
Agrário, fe do geflofugjtiuo
Por cafo da fortunã defaflrado
Algunihora deixar de fer cattiuo,
Oufendo para as Vrfas degradado
Aonde fëoreas tem o Occeano,
Cos frios Hyperboreos congelado,
Ou onde o filho de Clymene infano,
Mudando a cor da* gentes totalmente,
As terras apartou do tratto humano
Oufe por qualquer outro accidente
Deixar efle cudado tão ditofo,
Por quem fou, de fer trifie,tão contenté*
Efle rio, que paffadeleitofo,
Tornando para tras, ira negando
A natureza o curfo prefurofo.
As feras pello mar irão bufcan^o
Seupafco, & andarshão polia ffefíura
Das bernas os delphins apacentando.
Ora fe tu y es n'aima quão fevura
1 J 6
<P Tenho
[Ogas
Tenhoeflá fê7xy armr,pc,n quhfiijM
Nejfe confelho, Cr prattica tão dum*
Se de tua perfianao dejtíles
Vai repafiar teu gado a outra parte,
Que he dura a companhia para os trifles,
Jrluã sò coufa quero encomendarte,
$ara repoufo algum de meu engano>,
Antes qiio tempo em fim de mim te aparti
Que fe efla fera qiianda em trajo humano,
Vires polia montanha andar Vagando,
De meu deffojorica, Cr de meu dano,
Qom os viuos f f ritos inflamando
0 ar, o monte, Cr a ferra, que configo
Qonwtuamente leua namorando,
Se queres contentarme como amigo,
tpajfando, lhe dirás,gentilpaftora
TStfo ha no mundo vicio fem cafligo.
Tornada em duro mármore mo fora
A fera Anaxarete,fe amorofo
Mojlrâraoroflo angélicoalguhora.
Foy bem justo o cafligo rigurofo,
rorem quem fama fISlympha,não queria
ISfyda taofea emgefto tão fermofo.
Agrário.
Tudofarei Almeno, cr mais faria,
D e Luís de Camões» 114
É C L O G A III.
P e A l m e n o > & B e l i f a , continuan-
d o c o m a paíTada.
Éclogas
\ ' "« s' '
Em lagrima canfadas fe do - • c
Quando a linda paflora que compek
£o monteçm ajpere^a,
Co prado em gentileza,
For quem o trifle Almeno endoudecia>
*Pellapraya doTejo dfcurria
A lauar a beatilha, o trançado,
la o folconfentia
Quefaiffe da fombra o manfogado,
E acordado ]a do penfamento
Que tão defacordado o fempre teuí,
Vio por acerto o bem que incerto tinha:
E porque onde amor a mais satreue
Jlli mais enfraquece o entendimento,
2S(ão lhe foube di^er o que conuinha:
Qomo homem quâ aprazada briga vinha
Aquém de fora engana
jíconfiança humana,
E depois Vendo o rofio a quem refifie,
Treme,teme o perigo, não infifle
la s arrepende, a audacia lhefallece\
Deftarteo paftor trijle
Oufi^rrecea, esforçaenfraquece.
Etc- j
Luis c!e Camões,
T* , ? n» ». /» • i
jel temo ã/tê atomto o Jentido,
'ometteotom furor de [atinado
E tirou da fraqueja coração-
Qomettimento foy defefiperado,
Qubüaso fatuação tem bum perdido,
Perder toda a Jperança á/aluação,
As magoas que pafifaraofe dirão3
Masasquella di^ia,
Lembrandolbe que Via
As agoas murmurar do Tejo amenas,
Remeto a Vos, d Tágides Ca moías,
Que de m.igoa não pofifo diçer tantoi
fporqueem tamanhos penas
Me canja a pena/y a dor m impede o cantol
íBelifa pafitora.
Qu alegre campo, irpraya deleitofa,
E quam faudofia fa^efia spejjura .
A firmo fura angélica ir ferena>
Da tarde ameria^ir quam faudofamenti
Asèfla ardente abranda Jufpirandò
De quando em quando o Vento alegre &firiú<
fundo rio os mudos peixes faltão,
No ar sefmaltão os céos douro ir Verde?
E fhebo perde aforça da quentura,
: 'Éclogas
folia & f f u r aftCU^°paffeando
0gado brando, aofom das çampfamiuu,
(Pifando as finas irfermofas flores,
Os guardadores, que cantando ò gejio
Fermofo ir honeflo, das pafloras quamao,.
jío ar derramao mil fofyiros vãos,
Hum louua as mãos, ir outro os olhos belívs.
Outro os ca bel/os douro em fom fuaue,
jíamorofa aue leua o contraponto,
Mas ò que conto, irfaudofa hifloria
Qtiena memoria aqui fe mofferece:
Se nao me efquece, ja nefle lugar
Ouui foar nos Valles algum dia,
Erejpondia o ecco onomeemvão
Njun coração, Tíelifa retumbando:
Eflou cudando como o tempopaffa,
E quão efcaff a k toda alegre Vida,
E quão comprida, quando be trifle ir dura.
'H.eflaefyeffura longo tempo amei,
Se m enganei com quem do peito amaua,
Não me pefauade fer enganada,
Fui [alteada em fim d1 hum ptnfamento,
Çjihum movimento tinha caí}o irfao,
Qonuafacão foy fonte defle engano,
Que por mu dano entrou com falfa cor,
De Luis de Camões. u6
Porquo amor na Nympba qtihe figura
Entra em figura de Vontade honefia.
Mas que me presta agora dar dif culpa
Se abi ouue culpa pola o firme amor,
Sò mm pajlor que nunca ofoi nem lua
Ou ferra algíta, defío Ibero ao Indo,
Outro úo lindo Virão, Cr tão manbofo,
TS(efie amorofo fiado, i?fè que tinha,
Qua alma minha tão fecretamente,
Viui contente amando Cr encubrindo,
Eliefingindo mintirofos dannos,
Que fao enganos que mo cuílão nada,
Tendo alcançada ja no entendimento
\Xfê intento meu sò nelle pofio,
Que logo o rpfio mofira os corações,
E as affeiçoes cos çlhos fe pratticão,
Qiie mais publicão muito que paiauras,
Com fuás cabras fempre aparte Vinha
Ondeu mantinha os olhos Cr o defejo.
Tu manfo Tejo, cr tufloridoprado,
7)o mais pajfado em fim quaqui não digo,
Sereis m obrigo tefiemunho Certo,
Que dejeuberto Vos foi tudo Cr claro,
I
I ô tempo auaro, b forte nunca igual,
Qamnho ml quereis a humana gente,
ÍP4 te
: 'Éclogas
Porque hum contentefiadoafittrocafiesî
Vos me tirafies do meu peito ifento,
0 penfiamento honefio, Csrrepoufado,
Ia dedicado ao coro de Diana,
Vos nua vfana vida mepufefies,
E alli qutfefies que go%ajfe o dano
Do doce engano, que fe chama amor,
Qom cujo error paffaua o tempo ledo,
E Vos tão cedo me tirais hum bem,
Qjamor ja tem imprefforialma minha,
Depois qiia tinha enuolta em efierançast
E com lembranças trisies me deixais\
Mal me pagais a fe que fempre tiue:
Mas afitViue quem [em dita hace,
Masja qua face alegre o folefconde,
E nao refionde alguém a tantas magoas,
Senão as agoas que dos olhos faem,
«Asf ombras caem, Cr vãofe as a limarias
Da: eruas Varias fartas, feu caminho,
(Bufando o ninho os paffaros fem dono
Ja pello forio efjnecem o comer,
Qttero efquecer também tão doce hifioria,
9ois he memoria que tra^ mor cudado,
Jfio he paffado, Cr /ê me deu paixão,
Os dias vão gafiando o mal Cr o bem,
De Luis deCamões..ijp
E nao conuem quererme magoar,
Do que emendar não pojjoja com magoas,
T^oó claras agoas defierio Irando,
Que vão regando o campo matizado,-
Efle trançado lauar quero emfim,
Que ja de mim mefqueço coa lembrança
Dejla mudança, quefquecer não [ei
*Bem qu eu Vir ei mudar a opinião,
Quem fim bornes fao,a quo e/quecimentõ
Depreffa fa^ mudar o penfamento*
Almeno*
Se a vifta não m engana a fantafta,
Comoja vi enganou mil Ve^es,quando
Minha Ventura enganos me Joffria,
Parecme que Vejo eftar lanando
Bua Nympba hum Véo no claro Tejo,
Qíte femeflafâelifa affigurando.
'Nao pode fer Verdade iflo que Vejo,
Que facilmente aos olhos s*affigura
Aquilio que fe pinta no defejo.
o acontecimento qu aventura
Me dã pêra mor danno: efla he certo,
Que não he doutrem tanta fermofura*
Se poderei fallarlhe de mais pertol
: 'Éclogas
Mas fugirmeha: não pode fer} qiïo rio
Par acolá não tem caminho aberto,
ò temor grande, ôgrande defitario,
Ojia Vo^wimpide, a lingoa negligente
Dejl'arte efia tornando o peito frio.
De quanto me fobeja ejlando au fente,
Qjte pera lhe /aliarfempre imagino,
Tudo me falta agora em eUar prefente;
òafiieito fuaue i? peregrino,
Pois como tão afinbi a fisefquece
Hua fé Verdadeira, hum amor fino?
ftelifa.
Q altas fmideaSjpQps padece
Em VoJJo rio a honra delicada9
De quem tamanha força não merece,
Ouf j a por Vos ( Hympha) referuada,
Ou nalgfta aruore alta ou pedra durai
Seja por Vos aftnha transformada*
Almeno. • i
Almeno„
Onde Vtfle tu Nympha amor fefudo?
forque te não alembraquefolgafle
Qom meus tormentos tYifles,<sa lgffhora
Qom teus fermofos olhús ja meolhaflti
Corno (efqueceja {gentil paílorà)
Quefciganas de ler nos freixos Verdes
0 que de ti efcriuia cada hora?
Qomo tão prefles a memoria perdes
Do amor que moflrauas, queu não digo
Se o W ò altos montes não differdesl
\forque te não alembras do perigo
A qtie sò por me ouuir fauenturatm
jBufcando horas de sefla, horas d1abrigo}
Qoa maçãa de difcordia mi tiranas
: 'Éclogas
QJÍC AVenm que aganhou por [ermofim
Tu como mais fennofa lhaganhauds, ~
Eejcondendote entre n f f efifura,
Bias fogindo come Vergorhofa
Da namorada ir doce trauejjura,
TSfaoera efta a maça douro fermofa,
Qom que encubertaafiide aftucia tanta
Cedipe s*enganou de cubicofa.
2s[em a que o curfo teue dyAtbalanta
Masera aquella com que Gahthea
0 pafior cattiuou como elle canta.
Se mas tenções poíerao nodoa fêa
Um noffo firme amor de inueja pura
íVorque pagarei eu a culpa alheai
Quem deftafè, quem dfie amor mo cura
• Trunca teue fogeito o coração,
Qu o firme amor côa Ima eterna dura
FrondolbDuriano^
- Paftores.
*
Doriano.
Crece cad9bora em mim mais o cudado,
£ Vejo quem ti crece juntamente
Cadhora mais de mim o efquecimento,
ô Syluana cruel porque confente
O teu feminil peito delicado,
Efquecerlhe hum tão ajfero tormentoB
Tal auorrecimento
Merece hum capital teu inimigo,
TSlãofeu que sò contigo
Eflou contentenada mais defejo>
Syalgüahora te Vejo
Tu es hum sò bem meu hua sogloria,
Que nuncafe me aparta da memoria.
Doriano.
Entao{cruel) Veras fe te merece
Qom tamanho dejpre^o fcr trattada,
Hum alma que de amartc sò fe pregai
Mas como podes tu fer dejhre^ada,
Se o menos quem ti fora fe parece
Abrandar pode montes & ajfere^a*
Porque fe a natureza
Em ti o remate pos da fermofura,
De Luis de Cam'oes.
Qual fera a pedra dura
Qua teu Vallor refifia brandamente?
Quanto mais fraca gente
Quão humano parecer nãofe d fende,
E a mefma Vénus Deofa ao teu fe rende
Doriano.
Longo curfo de tempo, isr apartado
Lugar, a hum coração que fia entregue
Não podem apartar de feu intento
Vorquefogei^cruel) a quem te feguel
: 'Éclogas
'ISfao Ves qti teufugir he efcnfadol
Quefern mim nunca fias bum sò momento,
Nenhum apartamento
(Inda qu a alma do corpo fe m aparte,)
Poderá mfentarte
3) èff alma triíle, que continuamente
Emfi te tem prefente,
Torna cruel, mo fujas a quem fama,
Vem dar a vwte ou Vida a quem te chama.
Belo*
De Luis de Camões..ijp
ÉCLOGA V
Feita do Autor na fua puerida;
«U
\ j f f i ã f i
_ . -—ja*. -—- ri*n>m MII-IIII m
.JjíLJKI - "»MM' "»ÍBSM
^iiriiir.ffrmi-1
: 'Éclogas
0 campo como cfantes nãofe efmaha
Xe boninas a^ties,brancas,vermelhas,
Kão choue ao pâftojtsfente da agoa a faltap
As manfits ir pacificas ouelhas
Também cruel contigo o céo lhe falta7
'Hão achãoflor as melífluas abelhas,
Çom lagrimas que manao dos meus olhos^
Aterra nosprodu^ duros abrolhos»
Ecloi
De Luis de Camões. . ijp
É C L O G A VI-
A O D y Q^VE D A V E I R O .
• ' Éclogas
de cangrejos Ves eílar cuberto,
£fos da d brigo do fel quieto Zr frio.
Tudo nos nioílra em jim repoufo certo,
E nos conuida ao canto com que cs mudos
Agrário.
Vosfemicapros Decfes .do alto monte,
Faunos longe uos, Satyros, Syluaiios,
E Vos Deofas do bofquè ciara fonte,
Ou dos troncos queviuem largos anos-
Se tendes pronta humpouco a facrafronte,
jí nojjos verfes ruflicos ir humanos
Ou me dai ja a coroa de loureiro,
Ou penda a minha lyra dum pinheiro.
Ali-
De Luis de Camões. . ijp
Jlic. 'Vos húmidas Deidades de/te pego,
Tritões cerúleos, Troteo, com Talemo,
E Vos TS[ereidas do fal em que uauego,
#V quem do Vento as fúrias pouco tem
Seasvojjas ricas aras nunca nego,
O congro nadador na pa do remo,
TS{áo confintais quamuftca marinha
Vencida feja.aquimlyra minha.
É C L O G A VII
Intitulada dos Faunos».
o
Das Napeas,qu os montes habitamos
: 'Éclogas
(jantando efcrentrei,quefe os amores
Aos filucftres Deofes maltratarao
la ficdo de[culpados os p afores.
Vosífenhor dom Antonio)aonde acharão
0 claro Apollo Cr Marte hü fer perfeito
Em quem fuás altas mentes afinarão,
Se meu ingenho he rudo O* imperfeito,
fBem fabe ondefe falua,pois pretende
Leuantar co a caufa o baixo efeito.,
Em Vos minha fraqueja fe defende,
Em vos tnjlilla afonte de Vegafi,
0 que meu canto pello mundo eflende.
Vedes que as altas Mufas do Tarnafo
Cantando Vos estão na doce lyra,
Tomandome das mãos tao alto cafti
Vedes o louro Apollo, que me tira
De louuarVojfafirpe, Cr efcurece
0 que em Vofjo louuor meu canto affira
Ou por me auer inufja mefallece,
Ou por não Verfoar na frauta ruda
0 que afonora cithara merece.
Poisfei ,fenhor,di^er,qii a lingoa muda
Em quanto progne trisle o fentimento,
Da corrompida irmã co pranto ajuda.
Eem quanto GaUtha aomanfoyento
De Luís de Camões, 143,
S0!ta os cabellos louros da cabeça
ETitjro nas [ombras fa^affento.
E em quanto flor aos campos nãofalie ça
(Se não recebeis iflo por affronta)
Fara qiioDouro ir oG anges Vos conheça.
Eja qua lingoa niflo fica promta,
Çonfenti qua minha Écloga fe conte
Em quanto Apollo asVoffas coufas conta*
T^o cume do Parnafo duro monte,
De filueííre aruoredo rodeado,
]S[dce hüa criflallina ir clara fonte,
Donde hum manfo %iíeiro diriuado,
(por cima faluas pedras, manfamentê j
Vay correndo frnue irfoffegado.
O murmurar das ondas excellente,
Ospajfaros excita,que cantando,
Fa^em o monte Verde mais contente\
Tav claras Vad as agoas caminhando
Çjte no fundo as pedrinhas delicadas
Se podem hua ir hua ejlar contando.
7\ao je Verão ao redor pifadas
De fera ou de paflor qualli chegajfe,
Torque do ejfejjo monte faõ Vedadas.
Herua fe não Vera, qualli. criaffe
O monte ameno, trifleM Veneno[a,
Se-
Éclogas
»
Primeiro Satym
Satyro fegundo,
TS{em vox nacidas fois de gente humana
Nem foi humano o leite que mamdsies,
Mas dalgua disforme fera Hircana,
Lana Qaucafo monteVoscriafles,
Daqui tomafles a afferent ihfana,
Daqui o frio peito congelafles,
Sois Sphinges nos gefios naturais,
r5 &
Quoroflo sò de humanasamoflrais.
Ecîoeas
o
SeVösfofies cr Lidas na eßefura,
Oncle não cuve cou/a quefie achaße
Jinimal. erua Verdejou pedra dura,
Çtue em feu tempo paff ado não amaße,
Nem a quem a affeição fuaue Cr pura
TSleffa prefenteforma não mudaße.
^Porque não deixareis também memoria
De Vos, em namorada, Cr longa hifioria?
Qjiemfoffea manfavaccadiloia,
Mas ogranNilo o diga qua adora,
Que forma teue a Vrfa faber fehia
Do Polo Boreal donde ella mora:
O cafo de AEleon também diria
Em ceruo transformado, Cr milhorfora
Que dos olhos perdera a Vifla pura
Qiie efcolher nos feus galgos fepultura,
: 'Éclogas
Tudo tjlo ÀBeon vio na fonte clara,
Onde afi de impmúfo em ceruo vio,
Que quem afíi defia arte alli o topara,
Quefe mudajfe em ceruo permittio,
Mas como o trifle amante emf i notara
A defufada forma, f? partio,
Os feus qtio mo conhecem, o vão chamando,
£ eftando alli prefente o vão hufcando.
É C L O G A V11L
Pifcacoria.
«s*
Ecogas
Os mamofos deJphins meflão ouuindo7
JÍ noite foffegada, o mar calado
Sb Galathea foges, & Vas rindo.
Eflranhtspor Ventura o mar cercado
Da fraca rede, a barca ao Vent afoita,
E hum pobre pefcador aqui lançado?
jíntes que dè no céo o foi büa Volta,
Se pode melhorar minha Ventura,
Qomo acontece aos outros riagoa enuolta,
Igoal preço não he da fermofura
Area d'ouro, quo rico Tejo espraya,
Mas hum amor que para fempre dura,
Vejão teus olhos (bella Nympha)apraya
Veras teu nome na mimofa area,
Trunca fobre elle o mar com fúria fayà.
Vento ou ar ategora a não faltca,
Trcs dia* ha que fcritto aqui o deixou
jímor,guardandoo a toda a força alhea,
Elle com fuas mãos mefmo ajudou,
Efcolher eflas conchas> que guardando^
Tara ti bua,& bua sò ajuntou.
Hum ramo te colhi de coral brando,
Antes quo ar lhe deffe, parecia,
0 que de tua boca fiou cudando,
Ditofo feofoubeffeindaalgumdia.
De Ltus de Camoes. lH
REDONDILHAS
D E L V I S D E C A M Õ E S ,
A aigus propofitos onde fc contem
glofas,&voltas,amotes feus > & alhcos.
Óbolos rios que vão Não hegoflo,mas he magoa.
Por fôabylonia machi
Ondefentado chorei E vi ctue
j. todos os danos
As lembrança* de S.yao, Se caufauão dai mudanças
E quhnto nella pajfei E as mudanças dos anos•
A IH o rio corrente Onde vi quantos enganos,
De meus olhosfoy manado, Fa^ o tempo as ejferançdé*
E tudo bem comparado, AUi vi o mayor bem,
íBabylonid ao malprefente, Quão pouco ejfaço que dura
Sjao ao tempo paffado» 0 mal quão deprejft Vem?
E quam triflefiado tem
AUi UtnhrançM contentes . „Quemfefiada ventura.
alma fereprefentarao,
E minha* coufoi aufentest Vi aqtúllo que mais vat9
Se fiarão tão prefentes Quentãofe entende múlm
Qomofe nunca pafiarão* Quando mais perdidofor^
}
epois de acordado, Vi o bem fuceder mal,
o rojto banhado em agoa, Eomalmuto pior.
Deftefonho imagina do,* Evicommuto trabalho
Ç omprar arrependimento
Vi que todo o bem paj[ad<i V *> , » - r / j
Vi
Vi nenhum eon(cntex:entOj Traute minha que tangendo
E Vejome a mtm.quefpa Ho Os montes fadeis Vir
Tújlcs pdauras. ao lento,. Tera onde eflaueis, correndo
E as agoas que hiao decendo
SBemfdo rios ejlas agoas,. Tornauao logo a fubir.
£om que banho ejle papelr Jamais Vos não ouuirão
Sem parecefer cruel, Os tigres que fe amanfaúaep
Variedade de magoas, E as ouelhas que pajlauão,
E confufao de Babel. Das heruas fe fartarão,
Como homem q por exeplo Que por Vos ouuir deixâuao.
Tos trances em q fe achou, '
De f f ois qu a guerra deixou, Ia nao fareis docemente
delias paredes do templo Em rofts tornar abrolhos
Suas armas pendurou, lS[a ribeirafomente,
TS{em poreis freo A corrente
Afã despois quaffentei • E mais fe for dos meus olhos,
Que tudo o tempogaflam, Não mouereis a efpeffura,
De trifle^a que tomei TS(pn podereis ja trazer
TS{osfa Igueiro?pendurei jítras Vos a fonte pura,
Os orgads cd que cantauav í5ws não podefles mouer
Aquelle tnflrumento ledo, Defconcertos da Ventura*
Deixei da vida pajfada,
Dizendo, mufica amada Ficareis offerecida
DeixoVos nefie aruoredo> Afama que fempre Vella,
Jt memoria confagrada, ; Emita de mim tão querida,
- 5V-
f
D e Luís de Camoes. 15^
Porque mudando/e a Vida De Ver quam ligeiro pajje,
Se mudao os goTtos delia TSftmca em mi poderal tãtê
jfcba a tenra mocidade Que pofto que deixe o canto,
Prazeres accommo dados, jícaiifa delle deixaffe.
E logo a mayor idade
la/ente por pouquidade Mos ern tristezas & nojos
jíquelles goíios pajfados. Em goß o & contentamento
Per fol, por neue, por Veto,
Hugo/lo que oje fe âlcãça Terne prefente aios ojos
A manha ja o nao Vejo, Por quiê muero tan contêto•
jífíi nos tra^a mudança, Orgaos ipfrauta deixaua,
De fferanca emefieranca Deffojomeu tão querido,
Ede defejoemdefejo. T^o falgueiro qualli efíam
Mas em Vida taoefcajfa Que para tropheo ficaua
Que ejperança fera forte! De quem me tinha Vencido,t
Fraqueja da humana forte
Que quanto da Vidapajfa Mas lembrãças da afeição
Eítí recitando a morte\ Que alli cattiuo me tinha,
Me preguntarao então
Mas deixar nefia effeffurà Quer a damufica minha,
O canto da mocidade, Qiíeu cantaua em Syãoi
cude agente futura Quefoy daquelle cantar
Jzue fera obra da idade Das gentes tão celebrado,
O querh força da ventura. Porque o deixaua de vfar,
Que idade,tempo,o effanto Poisfempre ajuda a pafsar
V 5 fitl3
RedoHclilhâS adilhas
Qtialquer trabalhopaffado. i^pnferia confia idonta
Tor a bra ndar a paixão
-(^anta o caminhante ledo Que cantaffe em ßabylonia
As, cantigas de Sião.
2^0 caminho trabalho/o,
Que quãdo amuta grauest,
Tor antr o efbeffo aruoredo
Defaudade quebrante
E de noite o temerofo Efia vital fortaleça.
Cantando refrea o medo. Antes moura de trifleça,
f anta o prefo docementej Que por abrandala cante•
Os duros grilhões tocando,
{janta o fegador contentej
E o trabalhador cantando Quefe ofinopenfamento
0 trabalho menos fente. Sb na trifieça confifie,
7Íão tenho medo ao tonrizM
Eu qrfeflas coufas fenti Que morrer de puro triße
Que mayor
°H'alma de magoas tão contentamento?
chea,
Qomo dirà,reff>ondi, Kern mfrauta cantarei' .
Quem tao a lhe o esta deft 0 que paß o & paffet ja,
Doce canto em terra alheai 2\[em menos o efereuerei,
1
Qomo poderá cantar forque a penna canfara,
Que em choro banha o peito}E eu não def lanfarei.
:
I
forque fe quem trabalhar • ;
Se ao innocente cemanaram
_> f rãciíco Dalmei
(perdera® o eterno bem, da^ & dezia.
Helioga-
DcLuis de Camões» 1<fj
Jielb?abalo ^ombaua . Aquarta foi polia aloão
Das peffeias conuidadas, Lopez Leitão,a quem o
E de forte as enganam, autor mandou hü mote
Que as iguarias que dana, que vú adiante , febre
Vinbao nos pratos fintadas, hüa peca de cacha , que
mandou a hüa
TS[ao temais tal trauefifura d a iria.
[Vois ja mo pode fer nona*,
Que a cea efiã figura Torque os q Vos conuidarão
De Vos não vir em pintura Vofjo c/lamago não danem.
| Mu ha de Vir toda em troua, For jufia ca'fia ordenarão
Se tronas Vos enganarão,
ç A terceira foi pofta a Que trotas Vos de[enganou.
Bitor daSyiucira^ Vos tercisifto por tacha,
& dezia. f ornerter tuck cm tromrf
fí Cea mo a papareis, fpçisfe me \nrdes ^omharp
y \ » s * • f * '***. ' $ # -•-• - f
RedoHclilhâS adilhas
E m pena ta o fem medida, Tor exprimentar lu Sa
Em tormento tao efquiuo, Jmorfe m'acbauafcrte,
Que moura ningüè duuida, fee como di^ja,
Mai eu Je mouro, ou je viuo, Me conuidou com a mortê
TSlem mouro,nem tenho vida. Sò por Ver fe a tomaria.
E como elle feja a coufa,
Mote, & glofa do autor, Onde efia todo meu bem$
a hua dama que fe cha %effondilbe{como quem
rnaua Ana» Quer di^er mais,e não oufa)
î\ao a quero, mais fe Vem,
A morte pois que fou Voffi,
\'Hão na quer o> mas fe Vem, Não diffe maisporque enta®
Ade fer todo meu bem, entendeoquanto me toca%
E f e tinha dit to o não,
Gioia. Muitas ve^es di:> a boca
jfmor que em meupenfameto 0 que nega o coração.
Qom tanta fé fe fundou, Toda a coifa defendida
Me tem dado hum regime to, E?n mais eflima fe tem,
Que quandovir meu tormèto <Por ifîo he coufa fabida,
Mefalue com cujo fou, Que perder por a vida$
E com ejla deferi f ad, Ha de fer todo mÊud^m. ?
Qom que tudo Vencer poffo,
Di^acaufa aocoraçad, Motealheo,
7s[ão tem em mim jurdição, Vejo a n'aima pintada,
j í morte, pois quefou Voffi, Quando ma pede o defejo.
A na
De Luís dez Camões; t/z
Xnatural que não Vejo. Como aquelle que cegou
He coufa vifla ir notoria$
Glofa própria. Que a natureza ordenou
Se so no Ver puramente Que fe lhe dobre em memoria
Me transformei no que Vf, 0 que em Vifla lhe faltou,
De Vi fia tao excellente jtfíi a mim que não rejo,
Mal poderei fer aufente, Os olhos ao que defejo.
Em quãto o não for de mim. jS[a memoria ir nafirmeza
Torque a alma namorada Me concede a natureza
Mra^ tao bem debuxada, A natural que não vejo,
E a memoria tanto Voa,
Que fe a não Veja empeffoa, Mote alheo.
Vejo a n'aima pintada* Sem Vos com meu cudado,
Olhay com quem,irfem què»
0 defejo quefê eflende
jfo que menos fe concede Gioia própria.
Sobre Vos pede ir pretende, Vendo Amor, q com Vos Ver
£omo o doente que pede Mais leuemente foffrU
0 que mais fe lhe defende3 Os ?nales, que mefa^ia,
Eu q trúdufenúa não Vejo, Não me pode iflo fojfrer,
•Tenho piedade ir pejo, Conjuroufe com meu fado,
De me ver tao pobre ejlar, Hum nouo mal me ordenouL'
a 0
S
D e Ltiis de Cámqes. 175
San mtnttr, A hua dama que eftaua
Jmor me quis defiruir, veftida de dò.
Por modo nunqua cudado,
Pois ha de fer forçado, Mote.
Pefaruos de Vos fieruir. D'atormentado ts* perdido,
la Vos não peço,fenão,
Mas fois tão de [conhecidaj Que tenhais no coração
E[ad meus maies de forte 0 que tendes no Vefiido.
Que Vos ameaça a morte, Voltas.
Porque me negais a vida: Se de dò Veftida andais
Se por.boa Por quem ja vida não tem,
Tal jufiiça fe pregoa Porque não no anéis de que
Quando defiajortefor, Vos tantas Ve^es mattais,
Auei Vos perdão d1 Jmor, Que brado fem fer ouuido
Qu'a parte ja Vos perdoa, E nunca Vejo fenao
.t % i
f onemas no coração,
„/ , ;
DcLuis de Camões»
Quem no mundo qui/cr fer Que me e/laua be tal nome,
Jutdo por Jingular, EJJfe diabo Vos tome,
fará maisfe engrandecer,
A de trazer fempre o dar Perdido mais que ninguém 1
Js^as ancas do prometter, Confefffenhoraftr:
Mas o diabo não quer
E j* que,Voffa mercê, Aos Anjos tamanho bem,
Large^a tem por diuifa, Pois logo nao me conueni,
(fomo todo mundo vê, Ou fí me conuem tal nome,
Ha mijler que tanto dê Sera pera què Vos tome. "
Que venha dar a cami/a.
Se Vos benzeis com 'catitella
Mote a hua dama qlhe Como Tfanjo& não delu^j
chamou diabo, por no- Ma I pode fugir da Cru^
me foa dos Anjos. Quem Vos tendespoflo nella*
Mote. Mas ja q foy nimba eflrella,
Senhora pois me chamais Ser diabo, ty ter tal nome, •
Tao sê ra^ao tão mao nome,Guardaiuos q Vos não tome.
Inda o diabo Vos tome.
^ Volta. Ia que chegais tanto ao cabo,
Quem qúcrq VÍo,ou que Uo, Com as mãos pofl&s aos ceos,
Ter a per nono Cr moderno, Vou fempre pedindo a Dcos,
'ler quem viue no inferno Çjie VÜS leite ejle dial o,
0 penf amento no ceo. Eu fenboniv.au. megabo,
}/uvsfe a Vos Vos pareceo Mis pois q me dais ta! nome,
1 orno
•*U|!!.!
RedoHclilhâS adilhas
Tomo para que Vos tome.]S[ao podem dar, pode Amor
Que fa^ qual quer amador
A hum feu amigo a quê Liure das humanas leysr
nao podia encontrar. Mortesfirguerras}crueis?
Ferro frio, fogo,& neue.
Mote. Tudo foffre quemoferue.
Qual tera culpa de nos
7S[efie mal que todo he mewt Moca fermofa dejpre^a
Quando vindes não Vou eu, Todo ofrio,& toda a dor,
Quando Vou nao vindes Vos,(Olhay quanto pode amor
Mais q a pro pia natureza})
Reinado Amor e dom peitos Medo/iem delicadeza
Tece tantas fälßdades, ' Ltiempede,que paffe a neue.
Que de conformes Vontades jíftfarquem amorferue9
Fa^defconformes effeitos
Igualmente Viue em nos, formais trabalhos que tem
Mas por defconcerto feu A tudo soffrccma,
Vos leuafe Venho eu, ^Paffa pella nenefria
Me leuafe vindes Vos, Mm alua qu a própria nem,
Çom todo o frio s\treue%
Mote feu. Vede em que fogo ferue
Vefcalça vay polia neue, 0 trijle quo Amor ferue}
Aßt fa^ quem amorfer ue. Outro alheo.
Voltas. A dor qii a mini? alma fente
Os preuilegios quos <l{eys Hão nafabe toda agente.
VQL
DeLuîsdeCarftoes. */7
Voltas próprias ©trofeu,
V. ' *
Mote alhea
Jínde no peito efe ondula. Jhnom de hüa ca/a da
Dentro nahtifepultadah Qiic eu vi pollo meu màí i'
De mifoo feja chorada}
De ninguémfeja fentida, , Foiças próprias»
me matte,ou me de vida£ !S(fa cafada fuy por
Ou Vrn tnfiej mtwtmt&i ».> Os olhos de ft/mhores,
Não ma Jayba toda agente^ Qiidey que fo f f em amores, \
Elles
Redondilkas
Biles fi^eraofc amor, Cupido fofte madraço.
Fa^fe o defejo major
3)onde o remedio nm Val Outro fcu.
Em perigo de meu mah O coração nos olho?$
E os olhos pus no chão
Nam meparecèo que jímor for vingar $ coração,
&odeffetanto comigo,
Que dode entra por amigo Volta,
Se leuante por Jenhor-y 0 coração enuejofo
L euame de dor em dor, Qmo dos olhos andaua,
E definalem final, Sempre remoques me daua?
Qada Ve^para mor maL Que rnw era o meu mimofo
Venho eu de piado/o,
v/iirríi
Outro fe IÇLI.
ii. 'Bo Jenhor
JU <J Zfir/Uf
'
/ftiv» meu
vv/atm/
t
coração
Enforquei minba ejperança, {BQÍQ OS meos olhos no chat
Mas amorfo) tão madraço,
Que lhe cortou o laraço. Outro feu.
Tus meus olhos nhüa funda%
Y Voltas. E fi> hum tiro com ella,
Foy a effirfanca julgada - jísgrades de hk^j ancila
tPor jen tença da Ventura,
Qjie pois me teue a pindura, j Voltas.
QuefoJJedepindnràda, 7 Bua dama de malmda,
Vem Qipidowa
£
\ %UI
eff ada .: v 1 J mo u fais olhès m mãôP
\ tt
* * £9
Reápndílhas
Demim tãolçnge$ . . \ Po^fe vojfa condição,
F alfos amores Que tao docehede pajfar
Ful/os mãos enganadores, SooellaVos anis leuar
, ,( > ... ; De mim tão longe
Foiças próprias. Falfos amores,
%rattarãome com cautdla t E o xala enganadores, ^
f V m enganar mais alinha,:
Deilhe pojfe d'alma minha ; Outra cantiga velha.
Foraome fogir com ella* Falfo caualeiro ingrato
T^ãoba velloSjMm haVella Enganaifme;
De mi tão longe, Vos diteis que eu Vos matoy
FalJos amores. , . E Vos mataifme,
Falfosmaos enganadores,
Polcas próprias,
Entregtymlbeã liberdade, •• - Cojlumadas artesfao '
E çnfim da vida o mdbor Para enganar innúceticiaè
Foraõfe/^. do defamor fPiadofaó àppàreïïcids
Fiarão necefôdade, . S ohrey^ento cora ça o: *
Quemjeue Û fuaVontade - Eu Vos anw/Jr Vos ingrato
1
De mim tão longek t v < MagoaifiM, •-
Falfos amores < - • • '•> Dizendo que eu Vos matto
Erão cruéis matadores: , • E Vos mattaifme.
» " •
Outro alheo.
Vos fenbora tudotendes
I Tiempo perdido es aqutl
Senão q tedes os olbosVtrdes.
iuÍ
Kcdondillias • I
Quefe paffaen dorme aff&n, Qtfejfas fentellas tatt rams
<Tues quanto mas me to dan, TJofon nel ciclo mas ei ras,
Tanto menosfiento dei Qjien los ojos donde efan.
Qtie defcubra lo queJunto} Torque quando miro en ella4
TSlolo bare,que no es ta poco De como alumbran al ciclo*
Que no puede fer ta n loco Kofe que feran ml cieh
Qtiien tienetalpenfamiento. Mas,featafonejlr eitos.
Glofa própria.
Micoraconmè anrobado
4
Outras a hfia dama que
Y Amor viendo mis enojosß lhe virou o rofto*
Me dixOyfuete lleuado
Por los mas hermofos ojos9 Olhos não Vos mereci
Que des que fluo he mirado• Que tenhais tal condição
Gradai [obre naturales, Taô liberais pera o chaè
Te lo ihnen en prfion, Ta o iro/os pêra mi,
Yfi amor time ra^pn
Sénora, por las feh des Voltas próprias«
Vos teneis mi coracon.
à
Ideuos poroiiiravia'
huas lenhoras cj auiao
Tois o bem que me deueis
dé fer terceiras para com
tíunqua mofatisfareiso
li ti a dama ília,
Âlhea*
« staff
pafceis Co 4 ^ e ayr
Co contentamento, Daquella cjpe/jurap
Vojfo mantimento Outra fe meflura
2{ao o entendeis: Que dos olhos fay;
l/lo que comei* Toda junta Vay
2s[?iõ [ao bentas,não, %egar brancas flore?
•Sadgraças dcs olhos Onde ha outros olbot
Do meu coracaô, Que ma tao Amores*
Alheo. Cetefesjardins,
ao as hortas • Asflores eflrelias,
De Luis deCamões..ijp
Jiorteloas delias Ficará na follaí
Sad híts Seraphins: Se ficar irofa,
Pj>fas,irjasmins lS[aõVôs ejla bem
De diuerfas cores, Fique antesfermofa
Anjos que as rega o Que mais força tem»
Matãome demores.
Alhea* 0 amorfermofo
Menina fermofa Se pinta, fe chama
Di^ei de que Vem Se he amor, ama,
Serdes rigurofa Se ama, hepiadofo.
A qum Vos quer kml Dagora a grofa
Que efle texto tem,
Voltas porpríaSo Que quem he fermofa^
Na o feiquemafsella^ Ha de querer bem*
Vofsa[ermofura
Que quem he tad dura jíiiei do menina
TS(aò podefer bella* Dejfa fermofura
Vos fereis fermofa, Que s'a terra he dura,
Mas a re^ao tem, Secajfe a bonina.
Que quem heyroja Sede piadofa
l^aõ parece bem. TSlao veja ninguém
Que por rigurofa
jímo,fira be de bella, Percaes tanto bem,
jís obras fao cruas: Albea.
Pois qual defiasduas. Tcndtme mão mile
qi
^ Redonxlilhâs
Qtihnm real meiem, Qjihum real me deuh
v(falar Verdade
Por esta trauejfa Elle ja pagou,
Se Vay acolhendo, MM Inda ficou
Eylo Vay correndo Deuendo a metade
Fugindo a grao prejja. Minha liberdade
7s[ejla mão, & nejfa Ele a que me deue
Ofãfoiatreue Sò netíafe atreüe,
De Luis de Camões. . ijp
CARTAIMANDA
D A D A I N D I A A H V M AMIGO.
\ ' ' ' ' • t .;••' '
C A R T A II A O V T R Q AMIGO.
Se de negro for _ ,r
Também me parece,,
Quanto m aborrece ;
T o d a a alegre cor:
C o r que moftra dor
Quero, Sc não quero
IuJbáo amarelo*
fiareceuos q fe pode di^er mau> nao me reffondaii
quemgabara a noiuaforque ajfentai quefo) comidop
^ fazendo,ou afoprando7que não he tão pequena abi
lida de E porque vos não pareça que foy mais acertar,
que querelo fa^er: Vedes Vay outra do mefnojaeç com
santo quefe nao V*t a pafmar.
$1 Pcí^
Cartas
Perdigão perdeo a pena.»
N ã o ha mal que lhe não venha.
Ajudame afofrer,
Vida taó fem fbfrimenco,
E raò fem vida:
Ver que em fim,fim a de ter
D e f g r f t o , & contentamento
Hua medida.
jften*
De Luis de Camões. . ijp
Atentai que nao fad maos confeitos de enforcado para
os que eftiío com o baraço na garganta judar q o bem,
& o mal ainda quefíjao di ferentes na vida, fao con-
formes na morte: porque Vemos que mo ha üo alta for
te,nem Ventura tadfubida, ou defflrada,a quem nao
ãfopre a morte,nao fopre o fogo da vida, A feti fim to-
das as coufas Vao correndo.Nem ha coifa a que o tepo
nao confnmma}nem vida que deft tantoprefuma, que
fe nao Veja nada,cm fe Vendo, que ornais certo que te~
mos,he nada termos certo, cã na terra ,pois para fem
naõ nafcemosffe o fu nos da incerto,nada erra6 Quero
ms dar conta de hum Soneto fem pernas, que fefe^a
hum certo recontro, quefe teue com efle definidor de
bõspropofitos, £ r nao fe acabou, porque fe teuep®r
mal empregada a obra!Qujo teor he o feguinte*
f o r ç o u m c Amor hum dia que jugaíTe
Deu as cartas,& doures leuantou,
E fem refpeitar mão,logo trunfou,
Cudando que o metal q u e m enganaíTe,
Dizendo,pois trunfou,que triunfafle
A hüa. cota douros que jugou;
E u entaó por burlar quem me burlou*
Três paos juguei: & difle que ganhafle*
Gaftamos em alcançala
A vida,& quando queremos
Vfat deüa?
, N o s tira a morte lograla
. Àlsi QLje a Deps perdemos^
E a efia.
Tor queja ouuirieis di^er ninho feitojpega morta. Qu$
me diteis ao contentamento do mundo, que toda a du«
ra delle eftd em quanto fe alcançai porque acabado de
p a f f ar, acabado de efquecer, E com ra^ao,porque a^
ca lado de alcaçar he paff ido^mayor faudade deixa9
do que he o contentamento que deu, EJperai por mefa
m.q ll?e quero dar hm palamnlm de propofito*
Mun^
De Luís de Camões,
M u n d o fe te conhecemos
Porque tanto defejamos^
Teus enganos?
E fe aísi tc queremos^
M u y fem caufa nos queixamos
D e teus danos.
E quem em v determina
Deícanfo poder achar
Saiba que erra;
£ u e fendo a alma díuini
N a ó a pode defcaníat :
N a d a da terra,
T A 3 O Á O Ar '
fjamie hua kyíeihora de queremos. 18
De(pois que quU amor que eu [o pajfajje» i
Ditojn [eja aquel!e que fomente; jp
Vos illuflres antigos que deixarão. i%
B Em qu ano quis fortuna que tiuejfe. i
Eu cantarei de amor tão docemente. ibidem.
Em flor Vos arrancou de então crecida. 4
Efpanta crecer tanto o Crocodilo, 6
Em fermof i Letbea [e confia„ 7
: Eftafe a Trimauera trafladando. S
: Efla o lofáuodoce pajjarinho. S
£ w prijoe.í baixasfoy hum tempo atado9
Esforço grande igual ao penjamento, 2|
F Fermo/os olhos que na idade nofîa, 10
. Fermofura do ceo a nosdecida, 17
Ferido [em ter cura perecia, ' 17
Fiou[e o coraçãode muito ifento, ,
l ot ja num tempo doce eoufa aman • t%
G Gr m tempo ha que /oube da Vent ura. îl
H H an mouer Solhos brando <sr piadof®t p
I L a (audo/a auroradfloucaua, 18
Lmdo tsr [util trançado que ficafie, u
Lembranças laudo/as [ecudats, 14
Ledàfermtdadt deleito/a. to
€ I Afofe
TABOADA/
M Malet que contra mim Vos conjurafies. J
Muda efe os tempos mudacfe as Vontades» 15
2S[ Num jardim adornado de Verdura. 4
<: Num bofque que das Nymphas fe habitam. 6
i 2\aopaffes caminhante>quem me chama« 10
Nay a das Vos que os rios babitaes*
ÍS(a metade do ceofubido ardia. .18
0 tempo que de amor viuerfcya. %
• Tfo mundo quis hum tempo que fe ackaffe» 23
Np mundo poucos a nnos,tsr can fados. 26
0 Os ^eynos/sr os Impérios poder of os. 6
• O fogo que na branda cera ardia. * a8
: 0 cifne quando [ente fer chegada. n
v ] 0 comofe me alonga de anno em anno,
0 culto diuinal fe celebram. 20
4
Ondados fios de ouro reluzente. « ~ 22
: Os vejTidos Elifareuoima, * 25
i 0 quam car orne cujl a o entenderte. < 25
': 0 rayo crijlallino fe efiendia. • 2f
4
P Tajfopor meus trabalhos tad if en to* £
1 (pedeme o defejo dama que Vos Veja„ 8
n Cerque quereis fenhora que ojfmça, ?
.mFeitos eflrenios raros que moftrou. < 12
(pois meus olhos não canfao de chorar- 17
f- ,- <Pé;Í-
TABOADA.
; i Teu/amentos que agora nouamntc. 24
Q Qjtem Ve fenhora claro & manifefío. 5
I Quando da bella Vtjía <jrÂoce rifo, ibidem.
; Qjimdo ofoi enwbtrto Yg mo/Irando. \ p
( Quantas Ve^es do fufo fe efqueda, a
;, Quando Vejo que meu deftino ordena. 14
Q mm ja ^ nogrmfipiikbro que defcreue. 15
pode Ihm fer gentil fenfara, \á
l Vençaií no Orknte tantos %eys. 17
Quando de minhas magoas a comprida» ;
Quem foffe acompanhado jmtamráe^ % 10
Que leuas cruel morte? c/^ro 2!
Que poderei do mundo ja querer. 24.
Qi^ we querei perpetua4f mdades. 2á
Quem quiser Ver de amor büa excellencia» 27
^ k ja que minha confiança. i
5> Vo/ / m f i w/«/** eJJ>erança9 7
& tó annos de pajlor lacob feruia» 8
Se tanta pena tenho merecida, p
Se algüa hora em Vos a piedade.
A cow teo mal me trata.
. Soeiros inflamados que cantai ip>
& pena por amaruosfe merece. 21
& tomar minha pena em penitencia,
S
r ^ Y ^ " Í4 " Í
TABOADA.
Se deff ol$ dc efjieranca tão perdida. , lJ
T Tanto de meu (fiado me acho incerto, |
Transformate o amador na coufa amada. j
Todo animal da calma repoufaua. 4
Tomoume Vojfa Yifia foberana. 10
Tomam Deitam por Vingança. iz
Tempo heja que minba confiança. 15
F Voffos olhosfenhora que competem, v;- v;• 17
Z7erdade>amor, ra^ao,merecimento. \ a<$
Vos quede olhos[uaues^ferenos* 25
Vos Njmphaé da Gangetica effejjura* 27
Canções»
^ .yf infiabilidade da fortuna, tp
C Comforça defufada. 3 <5
F Vermofagentil dama quando Vejo,- - 27
I la aroxamenha clara, 31
limtodehum feco feroj&efleril monte* < • 42
Áf Mandante amor que cante docemente. y)
S Se eífe meupenfamento, - 34
T Tomey a trifle pena. - - • 4*
F Vaõ as ferenas agoas, ~ . -
Vinde cã meu tão certo fecretario^ > 45
Sexeína. • * '• i
•- .
F Fogeme pouco a pouç o a curtaVida* 6$
Odes
TABOADA
Odes, :
J - À quem clarão de pindo os moradores. 6t
Jqueile Vnico exemplo. >
Jqueile moçofero. - v ód>
D Vetem bum pouco Mufi o largo pranto. 50
F Fermofa fera humana. 56
i Fogem 04 neuesfrias»1 s > Ó4
Trunca manhafuaue. j • \ 58
5P Tode humdefejoimmenfo,
S Se de metipenfamento* 54
T Tíjõjuüuejão frefca,&- taüfermofa. 55
Elegias.
^ jfquella de amor def comedido, 74
0 OToetaSimonides falando. ép
0 Stdmonenfe
nfe Ouuidío deferrado, ^ 7^
Terceto.
Defyois que Maga Ih ah teue tecida. 78
Capitulo.
J. ^^//e wowr exceilente, 81
OicauaRima.:
woj Vo/Jíw hombros úo confiantes, 87
M :M<j ^Ito %ey a quém os ceos erti /arte,, 5?o
Q . Qjiem podejer no mundo úo fiteto,. 81
Edo-
ADA.V
Éclogas.
A Ao longo do ferem, lot
• A quem darei queixumes namoradas* 128
Ar u/l tea contenda de/ufada. • r^
f
Js doces cantilenU que cantando. 14 j
< Arde por galatbea branca7<jr loura, 15%
Cantando por hwnvaüe docemente. no
<P (Pajfado j.t algum tempo que psamwes* 114
Ü ÇLuegrande\hiriedddevwfii^endo,
i •)
F I 1 &