Você está na página 1de 504

\'

CARTAS
Pe A~'l'TfJNI,(_f,.\l !I ,EYi .t
. D O .,

da _Companliia de JESU' ,r
TOM.O PRiN!J~}i; . b.
OFFERECIDO
AO E~HNENTISSIMO SENHOR

NUNO DA CUNH.A
E, ATTAYDE
Presbytero Cardeal da Santa' lgr~ja de Ro111a
do Titttlo de Santa Anajlajia , do Confelho
de Eflado , .Gué1~ra , e DeJPacho de Sua
Màgeflade , lnquifidor . Geral ne]l.es
Reynos, e Senhorios de Portugal., ·
~

LISBOA .OCCIDF:NTAL, .
Na Officina. da Congregaçaõ do Orat.orio~
J./. Cg • • •

M.DCC.XXXV.
CfJ~~ todas as li:enç as nece..ffarias!

,-r"

·' ,,

.........., ..
' ' .) . . . .

~EMI~~ENT'ISSIMO SE,NHOit~

....
_A O he triluto·, he refli-.
,. · · · - ·· . tuiçaõ o· livro qne offe-
reço d V. Eminencia, pois a fita generofà·citrio.;
/idade fez a mais numeroja collecça?J das Cartas do.
Grande P adte Antonio J/ieyra , e com o/eo pa--..,
'#'ocinio (e re.fõlveraõ·muitos dos que co.m dijZ.ulpa--.
vel ,. PPª! cruel a.varez·a ;· guardava{; tafJ preciofas .
or~ginaes, a .fiallos de quem os havia de impri'-.
mtr, feni o·perigo de· os v:Ulgári.zar. Deve à me....
moria 40 .Âuthor fl. V. .Ernin~n.cia o matyor hene.,,
·ficio., pois neflas Cartas hrtlhaõ mais a4 foa dou..,,
trina moral, p:oJitlca ;.erudita, e_difireta, ti zelo
~· . - -
. . -lj,
* .. J
~~
tia Religiaõ , a fidelidade dfita P atria , ç fcien:. ~
eia, e a elegancia em qt1e floreceo, e que //.,
Eminencia tanto ama , e patrocina. 7'ambem de-.
vo a V. Eminen.cia mais o favor de me permittir
que · e~ concorrejfe, para que fe puhlicajfe Ohrt:t
tao excellente, dando~nos a efperança de que com
a fua protecçaõ fayaõ à luz outros efcritos tio
Grande P t1dre Antonio //leyra , e entre elles o
dez,e:fa?JO\/t•lJro,de Clavis Prop~etarum, qi~·e efte
Author prefena , naã rnen~ ·que a todas as outras
obras fuas. Na Co1''te de R oma, e nas prir1cipaes
f
·de Europa , em que 17. min~nfia !ªõdignan!en-
tt. ,tfppareceo., m:h~u // . Em1nenc1a., que .ainda
depoi~!!! qúaji meyo feculo perr!J._aneúaq os eccos
de/}e tnjigne Org.dor: mas pouco trnporJava , que
efle me influij]ê toda a faa eloquencia, fe a·rara
modeftia de //~ Eminencia tne naõ interpuz~ffe
inviolavel jilencio , para que o que he Dedicato...
ria , naõ continuaffe P anegyrico ; e ejle he q. uni- .
to facrificio , qite faço com violeni·ia nos preceito1
de V. Eminencia, que athe nefla parte hey de·fe..i.
{(ittr por affeélo, e por obrigaçaõ. ])eos guarde a·
Í< Eminencia mt,Útos annos. . . ~
:Bejo as mãos d~ V. Erriinenda.
Seo amigo, e rnayor cativo
'\
Conde de Ericeyra.: ..-··
... PRO.:
1
•'
~..
...

PR.OLOÇCJ~
AHEM €m6m à luz as promettidas e ·.
dezejada.s Cartas do Grande Padre
Antonio Vieyra Jl Gue fieln1ente fe ; ~o ...
pi àra~ dos feos odginaes. Efia he fó a Apolo.;.
gia ·Ôe que 1i.eceffü:aõ , porque o no1ue defie
infigne Author e a1fegura da injuil:a fuppofi,;,.
çaõ, ·de que. haja criticos taõ atre·vidos, (ple
poífaõ cenfurallas. A efre priniefro volume
.haõ de feguir~fe outr·os à prQporçaõ , 'lue :ie
forem juntando·ot1 ra5 Canás , havendo jà
hafrantes para frl)qrlarfe·g undo, e terceiro to~
mo. Na'Õ feduvida; que com os illuíl:res ex~
·éµ1plos do Eminentiffimo Senhqr Cardeal tia
Cunha , do Duque ·do Cadaval D. Nuno
Ahrares Pereira ., e ld:eoutros , :qu~ genetofa..,
n1e:nte enriqueceraõ ·o. .rnN,ndo li.teraria corn
" ' 1l
...; • , C1t(;S
,.

éíl:es preciofos thefouros; contim'lem a par--


~icípar a·o Conde da Ericeira, que principióu
a fazer eíl:a collecçaõ , ou ao Padre Antoriio
(los Reys da Congregaçaõ do Oratorio,. que.
ra- couduio, naõ fó as, Cartas , mas todas a$
nrnis obras deíl:e incomparavel Author, por~
que todas haõ de imprimir-fe, dando a glo-
ria a querp. vencer a difculpavel avareza com
que as occultaya, e ,a.inda ferà mayor eíl:a glo-
ria aos que illuíl:rarem 'a memoria de feos pa-
rentes, e amigos, molhando que ti vera ó a
fortun~: tde ,h.uma tão eíl:ima:vel ·correfpon-
d~n.da.Para.facilitar dla empreza fe publica-
rà no fim ddl:a . colLecça(} .hum Catal.ogo d~
todas as .obras de que ha noticia ; ainda que
fejaõ fragmentos de.íl:e infigne Author,. pois
n.àÕ merecem may@r eíhmaçaó os que fe jun--
~aõ dos Efcritores antigos , naõ cedendo G
Padre Antonio Vieyra a Marco Tullio na elo"'."
quencia das oraçoens , e excedendo-o na no~
.brez~ dos aflumptos O mdino [e verà agora.
nas caktas, pois nen1 as Epiíl:olas familiar e~
.de.,Cicero faõ mais proprias, ·nem· as que . e[~
~rie~eo ·a .Pomponio Attito faõ mais elegan~
te$~ .Eftes. fora@ os motivos par_a fe i~primi~
reruas que pareeem :mais natui:aes ; e m.en~
~rtifiçiofíJ.s, piP.C·tn9-íttax com taõ grand_e_Me~
::.: -~- - frre
Í!:!'~ ~ . que . 'tâmbem ha vicio ~ abufó ern·n~~
proporcionar o efblo ton1 o affumpto :· e que
tem igual perigo a elevaçaõ. , que o abaú:r..
n1ento; e por iílo he·o dl::ilo chamado medió
o que ha de feguir-fe nas cartas, imagens ,vi.-
vás da locuçaõ, em que fe cornmunicaõ natu~
~ralmente os_penfamentos, e em que perma.f.
nece mais ciue em outro ·genero de efcritos;
vivo o retrato de ·qué1n as efcreve. Muito pu.::.
d-Cra neíl:e lugar· difro_rrer-fe .dos Authores·j
que com pouca felicidade efcreveraõ os pr'e.;..
ceitos da Arte de efctever :cartas, e·<los que
com mayor aceito deraõ º.s exemplos; mo."" e
flrar, que ex-cep-tás ·as fagradâs, ·ciue a fé te~
peita. em S. Paulo~ e nos'Outr'os·Aüthores Ca~
honicos, e as que venerá em S. Bali li o, · ~ :em,
'!Outros Santos Padres antigos, que efcõlhe·:.
taõ o efrilo epiíl.:olar pa1·a publicar as· verda"'
tles Catholicas, faõ as cartas do Padre Anto~
nio Vieyr.a as melhores entre as tjue fe con..::
fervaõ dos Efcritores mais eruditos, porqrié.
ha ·faéilidade as naõ excedern , como jâ' (e
ponderou~ as· familiares de Cícero, nem . ;i~
que e ftr eveà 'à Attico ·~ e a Qüintô: n·em na:
' d ifcriç áõ , e viyeza nfrr-e-ce Plinio ·mayot ef~
't'íma-yaõ, ferid(j eítes dous Efi:rfror-es os m.e..J
111.oré,· exempl;a~es ·de tft.réver, -ça-rt~s -;~"'" tr~.:i~
:.;..:,-:1 · · deixou 4
,deixqti a Antiguid~de , pois as de Seneca . far;·
Jõ Filofoficas, e as de Sirnaco , e Caffiodoro
-de feculo ·barbaro. Outras Gregas, e Latinas
fe lern efpalhadas em diverfos Authores, que
.como naõ faõ de hum fó, naõ podem. entrar
ao exame. Depois que-a lingoa Latina fe ref..
_ taurou, ftoreceraõ PoHciano, Sadoleto, e ou..
tros muitos n-0 dl:ilo de efcrever cartas. Nas
. !ingoas vulgares tem todas as :N a\'.oens Ef..
. ~ritores, mas naõ em grande numero, defre
dl:ilo. Tudo difoorre doutamente Manoel de
Fatia e Souza no Prologo e Comento das pou~·
cas Cartas, que exifi:em. da Grande Luis ~e
l~amoens , e que prevemepte haõ de im-
p'timir-fe com os Comentos , que fa.ltaõ ao
inefmo Poeta. No noffo idiorná fó D. Fran
cifeo Manoel divulgou Cartas , de que algu~
~nas faõ e;íl:imaveis; naõ tratando das efpiri""'
tm.'3.es...,..do Grande Padre F'rey Antonio das
Chagas , nem das man.ufcri~as de grandes
Miniíl:ros, e homens doutos, mui to dignas
~le publicar-fe. Nas lingoas vulgares pudera.
.aqt.ü referir , e comparar os mais e elebres Ef:..
c:ritores de Cartas., fe foife neceífario pane..
gyri.c~, oo. apologia, parallelo, ou compe...
't;encia entre o Padre Antpnio Vieyra,: e ,o~
~ros Efo~itoiesG Na.ó r~ ordcnàra~ eftas car~
~~
i:as pela ordern rigorofa, e Chronologica, em
qu~ .foraõ efcritas , como, naõ fem utilida.~..
de, fe vê em alguma ediçaõ de Cicero, por·
que ainda qne os fucceífos da vida. _ddh! Au..
thor fe percebem melhor nefta tõrma , como-
ella vay obfervada en1 cada hurna das corref-
pondencias, que, feguindo o dHlo comir.tu:n~
vaõ feparadas, fe percebern n1dhor, fern ln...
terromperfe os rno.d vos, e osfucceffos. Ta.moe
bem as nao dividi por n1a.terias ' por naõ alte....
ràr a referida.foppófiçaõ _; e porque a variedaQll , ·
de he mais agradavd pelas razoens foHdas. i
que dà o noffo Author na primeira párte clo1Jl .
feos Sermoens ,,quando no Prologo fe-. juíl::ifi...
ca de os riaõ repartir pelas ma terias ·, nem pe;
la ordern dos t:,ernpos, e fefias . do anno. Da.~
efperança.s alguns curiofos de q ne, de mais de
quatrocentas cartas que jà eíl:aõ juntas,fe da...
rà noticia de inais demil,que anciofamente íé
clezejaõ ; e t.ambem fe ·efpera accrefcent:u:
Sermoens, Difcurfos politicos, Poeíias, e ou.,
tras Obras de que jà temos baíl:a.nte nuntero
para continuarem ·em :muitos volumes .· db1s
admiraveis producções. Poticas faõ as cartas 11
que fe naõ publicàràõ., e.menos QS periodos-,
que fe omittiraõ ; o que fó fe fez , quando os
fegredos que continha.ó naõ prefcreveraõ
1f: iij com .f
con1·o lapfo <lo tempo. &e. A Vida do Gran ..
de Padre Antonio Vieyra eíl:à efcreven~u o
Re,·erendi fI1 mo Padre Andre de Barros da
Companhia de JESUS , e da Acaden1ia Reak
A fo1 Fama pof\huma co1n a Relaçaõ das Ex-
equias, que com grande pompa fez celebrar
em S. Roque a efl:e Varaõ infigne o Conde da
Ericeira em 17 de Dezembro de 1697. com
as Poefias em diver fas lingoas , com as Em-
prefas, e Emblemas , e com o excellente Ser-
maõ , que jà corre impre!fo, que fez naquelle
nobiliífimo Alto o Reverendiffimo ' Padre D.
Manoel Caetano de Souza Clerigo Regular,
faraõ completa a ferie das obras mais eíl:ima-
das do mundo, traduzidas em muitos idio-
mas , e dos feos Elogios, que tamberri haõ de
imprimir-fe com tudo ciuanto poífa contri ...
bujr à gloria do Padre Antonio Vieyra , que
na virtude, nas letras, na política, na fideli-
dade a fua Patria, na rnoderaçaõ da profpera
fortuna, na conH:ancia na adverfa; e em ou·-
tras relevantes circun.íl:ancias, ou igualou :,
ou excedeo os homens mais celebres de todos
os feculos, acreditando a Lisboa fim Patria,
e a Portugal, <le que1n foy o adorno mais il-
iuíhe.

LI-
LICENCAS
do Santo Officio.
LlVRO que V. Eminencia foy fer- ·
vido n1andarme rever; tem por ti ...
tulo: Cartas do Padre Antonio f/i-
eyra , e eíl:e fobrefcrito baíl:a. para recommen-
daçaõ das mefmas Cartas. Os preceitos da ar-
te Oratoria faõ differentes dos que fe devem
obfetvar nas Cartas; mas como o juizo do Pa7"
dre Antonio Vieyra os podia dar em toda
materia, naõ faõ menos exce1lentes, no feo
genero , as fuas Cartas do que as fuas Ora-
ções Evangelic:is. 01nodo de dizer he diverfo,
·c omo pedia a differen~a dos efcritos.; mas o
Padre .Antonio Vieyra em huns e outros,
igual , e fempre o mefmo: Princepe, como
Tullio, dos Oradores, e Meíl:re, tambem co.-
mo
1110 ._elle , do e!tilo epiíl:olar. Publique n1.:.{e1

pois db.s Cartas para fervfrem de exemplar·á


putras; e c,o m efra utilidade tetemos tambe~
e goflo de ver ndlas eframpado hum vivo e
fiel retrato do Padre Antonio Vieyra. Muito
tempo ha, que o pincel e o boril nos deraõ a
., fua e.ffigie, mas naõ pode a arte reprefenta.ç-
nos nella as perfeiçoens da. alma, que he o .
que Marcial tambe1n dezejava no retrato de
outro Antonio:
Ars utinam mores , animumque effingerq
~fart. 1. ~n"
1
1 0 , Epi- Pf!.t; et .

grãmat. Pulchrior in terris nulla tabe!la jforet l •


Z.ªg~~- .O corpo ( diffe o mefmo Padre Antonio
5~.

tonii, Vieyra no Sermaõ de feo Patriarca San-


to Ignado] retratafe com o pincel, a alma
com a penna. Aonde fe retratou elle me-
lhor ,do que nas fitas Cartas?Todos os efcritos
faõ retratos de feos Authores; mas nenhuma
ldeftas pinturas tem tanta alma,ou reprefenta
;t ·alma taõ fiehnente, como as e.artas: Animi
Demetr.,,fui Jimulachntm q~ifcJue & imagine1n , epiftolarn
Ph11lar fi 'b. ,n qutuem
E t e;v . J ex a l'ta" omnt. orattone
. .
d~ EJqc~- ·- crt tt. v1-
11111'· dere ac no.fcere mores fcriptoris ; ex nulla tamen
ttque atque ex epiftola, dizia. Demetrio Phala-
reo, peritiílimo neíta arte. Os outros retratos
teraõ melhor colorido , mas o das cartas .
he o.
mais
mais nat't1ral ~ porque nella:s tem menos• ln...
·,g~u-· o artificio. Aflim he, e affim o n1ofharà
't:fie livro. N el]e·verà o Leytor .naõ fó diver-.
fas cartas do Padre Antonio Vieyra, mas ao
·Padre Antonio Vieyra por diverfos modos
retratado nas fuas Cartas. Em hun1as lhe pa-
·recerá , c:iue o efl:à vendo infi:rui~ nos myfte-
rios da Fé aos Indios mais incultos elo Mara-
. ·mhaõ; em outras conferir na·Haya, em Pa-
,riz , etn Roma com os Minifiros mais in...
Jhuidos , os inyfrerios rnais occultos das 1'1if.
Joens Politicas err1 que fervio a Patria. E lan....
·-çando por todas os olhos reconhecerà o ge...
11io fublime ·. , o engenho agudo , o juizo
prudente , o . difcurfo· fecundo , a politica
Chriíl:ãa , a .urbanidade difcreta, a ·g raça
·junta com a gravidade, o defprefo do mun-
do com o refpeito aos Princçpes , o cuidado .
da co.nfervaçaõ do Reyno com·ó da falv·a.çaõ
propria , -a paciencia , a conftancia , .a ReH~
.giaÕ, e COlll efl:as as demais .. prendas evirtu~
des de igue foy ·d otado , para fer , ,e porque o
era ·hum taõ-grande homem. Defra fórte fe
tetrato.u o Padre Antonio Vieyra nas fuas /
Cartas; e fe a.lguem fe admirar de o ver nel-~
.las pouco favorecido da fortuna, nifio rnef-
mo pôde conhecer, que he verdadeiro o re-
\ trato;_ '1
trato; e que a mefma fortuna adverfa com fu,;-
perior impulfo lhe moeu as tintas, e contor7
reo com'as fombras para realçar a~1intura' e
a fazer ma.is digna da eternidade. Defra goza
jà no Ceo o Original, e digna he de fe perpe1"'
tu:lr pela efl:ampa a copia que delfa nos ficou
neíl:as Cartas, nas quaes fe confervarà junta•
mente a memoria das peífoas a quem foraõ
efcritas, e que-nellas eíl:aõ tambem retrata-
das. No decoro das expreífoe ns moíl:rou o
Padre Antonio Vieyra a foberania das Pef-
foas Reaes, e na nobreza de eíl:ilo a de ou..-
tras Peffoas illufrres con1 quem fallava. To...
das nos reprefentou co.m primorofo acerto,
todas com o feo proprio e devido caraéter ;.
porque era íingular o tento corn que o feo
pincel efrrevia, ou a fua penna retratava. Ef-
crevendo de Roma ao Sereniffimo Princepe
D. Theodoíio, dà o Padre Antonio Vieyra
principio à cana cõ efl:as palavras:Meo Prin-
cepe, e meo Senhor da minha alma; mas ainda.
que eíl:e modo de fallar pareça arguir mais
confiança do que refpeito, e por efra ·caufa fe
naõ nfe no tratamento dos Princ epes , naõ
deyxa de ter exemplo femelhante ; e quando
eíl:e faltaífe, o Padre Antonio Vieyra o podia
fazer com a fua autharidade. Na Epiíl:ola.que
. ferve

L
f~rve de Pr:ologo à fua Hiíl:oria ~ atüral ~ cha.,, ,
rnd. r-:inio,, fro, e Emperador jucundi!Timo a:
Vefpafiano á quem a efcrevía: e íe afüm fal ...
lava hú1n h o n1e1n taõ douto, e taõ .advertido
a hum Em pera dor provcüo em anno~ .e en1
niunfos , po rquê naõ u,faria o Padre AntoHio
Vi eyra de tern1 os fernelhantes, fallando con1
hum Princepe que eíl:ava na Bor da idade, e
que era rn'el hor Tit? ·[filho de 1:11~lhor V ef-,
p afiano J e melhor cp1e elle, delicias · Ge feos
vaffallos? No corpo da Carta diz tamben1 o
Padre Antonio Vieyra ao Princ.epe D. Theo-
d.ofi0, que lhe maada naquelle papel a fua
alma toda; e bem .o n1oftra a rnefrna. carta,
p orgue todahe alma. Nella lhe infpira os d·i..
lt ames e meyos mais opportuncs para fe fa-
zer temido, e amado : temido 4os inirnig os r,
amado dos Portuguezes. Nella o anima com
as razoen.s rnais fórtes e mais vivas a fahir a ·
campo na? fó para defender , mas para exce-
der com o valor os limites do Reyno , dila-
t ando-o dentro do dominio dos feos aggref-
fores. Nella finalmente lhe offerece com a al-
ma unidas todas fuas potencias para lhe affif-
.. tirem , como auxiliares na guerra.. Iíl:o he
(ainda que fumrnariamente,e mal referido) o
que diz àquelle Grande Princepe o Padre
An- f
Antonio Vieyra i e eíl:es õs qiie
chama atre~ .
vimen-tos do feo amor, e de que lhe pede pc:.:~ ·
daõ depoi~ d~ concluir a carta : mas feme"'I
lhantes atrevimentos naõ fó faõ proprios do~
. amor, fenaõ de hum entenditnento taõ v-a··
lente, como prudente, o qual naõ eftà atado
a os preceitos communs, e fabe fahir dell'es ,,.
fem fahir de fi, quando o pede a occafiaõ .. De-.
fia carta pois, e de todas a.s mais deíl:e livro
fçguramente poffo dizer , que faõ dignasr dq
Padre Antonio Vieyra que . as efcreveo, dig-
.nas de V. Eminenci~ a quem fe dedicaõ , ~
por todos os títulos dignas de {e eíl:a:mparem.,
Eíl:e he·o meo parecer: V. En;iin~ncia manda~
rà o que for mais acertado. Lisboa. Occid.en•i
tal, e Congregaçaó do Crato.r io em 1s.i. de·
Mayo de 1734,

Joaõ Col.

IMl·.;
r
EMINENTISSIMO SENHOR.

ANDAME V. Eminencia ver eíl:e


livro intitulado : Cartas do P adra
' Antonio Vteyra , gloriofo t!n1bre
da N açaõ Portugueza, Meíl:re .U niverfal .de
todos os Declamadores Evangdicos , ventu-
rofo Alumno da fem pre efclarecida Compa-
11hia de JESUS: e gue interpondo o 1neo jui...
zo, diga ·o meo parecer fobre a eítampa deíl:e
livro; mas que parecer ferà o rneo, _lendo no
principio defl:e livro o nome de feo Author ~
Foy o Padre Antonio Vieyra taõ celebrado
_ pelo fingular da íi,1a eloquencia, taõ conheci ...
do pelos remontados voos da fua penna , taõ
applaudido pelos nobiliílimos partos da fua
fabedoria, que para formar juizo deíl::e livro,
baíl:ava ler neíte livro aguelle non1e.
Difcorrendo o Abulenfe , fobre qual feria
o motivo , que obrigou a David a efcrever
muita parte do primeiro livro dos Reys com
, o nome de Samuel, chegou a dize1t, que todo
o motivo fora , porque tiveífe rnayor autori-
<lade aquelle livro. Era Samuel hum homem
de taõ agigantados creditos, que baítava o
. * iv feo.
. 'l
feo nome pa.ra caliticai- aquelle livro. Quer1i
ler neíl:e livro .o nome do Padre Antonio Vi-
eyra, naõ tem mais que ler : Nam jàtis ./Ju...
thoris dicere nomen erat. Nas Cartas, que neíl:e
livro fe le1n efcritas, quern naõ hade achar à.
alma do feo Author copiada nefras Cartas?
Que 1n dirà , que acabou a vida o Padre
Antonio Vieyra lendo neíl:e livro efras Ca(..
.. tas? Quem dirâ, que morreo o Padre Antonio
Vieyra , fe attender à eloq.u encia com que
nos falla cada dia? Quen1 vendo divulgar ca ....
d.a dia novos efcritos feos , naõ hade c~er,
que conferva a vida o Padre Antonio Vieyra,.
ou entre ~s concurfos da Corte pregando, ou
em o retiro do feo cubiculo ·efcrevendo ? Eri
o contemplàrra. aílim, gú4ndo vejo nelle toda
a fua alma , todo o feo ardor, e todo o feo ef...
pinto. ,
<2!1e mal o i1naginaõ aflin1, os que fiaõ a
fua mç:moria dos bronzes; e das efratuas. A
efl:atua mais perfeita fe compoem de fermo-
fa boca, mas naõ falla; de prodigiofas maõs,
inas naõ obra: por grande que feja o artificio
e primor, ferà taõ inutil, corno aquelles fin-
gidos fimulacros d~ Gentilidade. Hum livro
1i1n, que he eíl:atua viva. f alla , ainda que
naõ tem boc.~, porqt,1.e enfina, defengana, _e
av1""'
i'riza. Obrâ; ainda~ quê naõ tem maõs; por-
que . os mefr_nos ~ffeitos faz em noífos cora..
çoens , e entend1me~tos ·, que o feo .&flthor·
pudera fazer, eíl:andó vivo. ·
· Q!iando coníidero entre os celebrados
deli.rios da Gentilidade . taõ empenhado a
Prometheo em animar huma eíl.-atua: quando
taõ empenhado o vejo em roubar, para lhe
communicar alentos, hum a, ainda quebre-- ·
ve, faifca daquella divina chama, reconhe ...
ço, que ca1ninhava errada a foa: fantafia, e a
fua idea .. Se o que trabalhou com o pincel ·a.
fua deíl:reza, tivera fidô emprego da fua pen.,.
na, naõ lhe cuíl:àra tanta difficuldade ·o ani- '
màlla: fe fe valera do papel, como fe valeo do
·m armore, e do bronze, eternidades vivera a.
fua.efl:a tua..
. Non mr;riar , /éd vivam , dizia David· a
Deos. Senhor, eu naõ heide morrer 1 viver
fempre , iíf0 'fim. Parec~ temeridade , -e he
difcriçaõ ·; parece rebeldia à léy impo.íl:a a
to.dos OS ·hun1ario~; e naa foy (diz Euthimio>.)
fena~ huma tefignada antevifaõ de fuas im ..
muni~ades. Addit Euthyinius ( refere Lorí-
no) Davidem fe immortalem affirmare ., qu!a
foa . ~antica cat1ent1!ir.pérpet110, & illormn COfl!""'.
pojitto nu/lo uin1uam tempore dejicieta .
N'a· õ.• IP
Nao f.e temia David de '111on:er ~éc1no·to"."
do~: mas cónhecia·, que ainda. depois de rnqf'...
i·er.,ih~ v1a~ penp~necer entre os homens vi"'I.
vo. Sonhe muito David , trabalhou :muitQ;
( ~íêreveo muit<0. Sabia, gue aquella taõ elo-·
quente , taõ .fentenciofa ,' e _taõ admir:avel
,compoíiçaõ· ~!0s feos Pfaln1os havia perfe...
"verar em, todó e tem pó viva em a commua
aceita.çaõ de todos. Pois (diz David) naõ he
iíl:o morrer; he frm gúzar os fo1ios de in1mor""
tal. Non moriar, ftd vivam. Serà n1orrer, em
<juànl:o a fepararfe a alma de hurn colípo , em
que preza vive: mas naõ he rnor.rer, porqtie ,
fe conferva viva em o mundo, .em ta'n tos·cor.w.
. pos de livr.os ·' guant9s fe ad!J)iraõ efcritos·. ~
· Confeífo;que morreo o Padre Antonio.Vi..,
·eyra1 ;inas fe o outro fe contentav:a com dei•
xar hum i:eíte1nunho de · hav·e r vivido em o
n1undo: Galeni,1,s ·mihi denegat 'dÍit viver.e ;
1·elinqi1am al~quid, quod me tefletur vix~f!e. Plin.
~piíl:. 2. qu~ ,, poderey éu dizer de :quem nos
, cleixo·t~ tantos, e i:aÕ' authorifados teíl:emu-
·nhos. Eíl:es dizem, ·q ue o Padre Antonio Vi-
eyra pagou o tributo de n1ortal ;_ ~as que ain..,
<l~ viye ' e eternamente vivirà err1 nofl.o
, ~mor" e.eni a no!fa dl:imaçaõ.: //ivitcpte fem- .
}'Je~,. atqtte etjamlat~uún.mern~ríahominum' e~
fer.,.
farmone verfab~tur; f'ojlqitam ab ocuüs. recej]ito.
·Phà. Lib. 2. epiíl:. 1. E fe aífim vive na noífa
eíl:imaxa.Õ- pelos feos efcritos _; .a vida na nof-
fa eítimaçaõ lhe continua quem com tanto
·f;l.ffe€-to fe empenha em expor aos noffo5
()lhos os feos efcritos. N,dl:es naõ tem , ·ne1~1
pode ter lugar a menor cenfura, porc..1ue fen ...
do V. Eminencia o feo Mecenas ·, naõ podem
<leixar de fer conformes à noífa Santa Fê, e ·
bon,s coftumes; e_affim digniffimos de feda-
rem à eftampa.Eíl:e he o It!eo parece-r.V.Etni-
nencia mandar à o que for fervido. S. Domi.a-
go5 de Lisboa aos 20 de Julho de ~734· · .·

Frey Manoel Coelho.

jt'• . [
', . Viíl:a. ·
//
·v·. líl:as as hi fo1'maç6ens 1 p~de-fe Íitiprí..:~.
. · n1ir .º prirnei~·.o tomo da~ Cartas d~ P~
Antonio Vieyra, e ~epois de impreífo; ~or . . .
rúuà para fe conferir, e dar licença que corr'a '.
fem a qual naõ .corre~à. Lisboa Occident'1il :
23 •..de Julho de 1734. . ·- · , ~.
' \

Alenéajlre. Teixeira

Silva. Caheâo. . ..
'

DO ORDI1'1 ARIO ..

P Ode-fe imprimir o primeiro tomo das·


Cartas do Padre Antonio Vieyra, e de-
pois de impreffo tornarà para fe conferir e
dar licença que corra. Lisboa Ocddental :z.~
de-Agofto de 17 34e

Gouve.a.~

Db
n -o PAÇ-o
SE NHO .R.

M
ANDAME V. :rvLagefiade , que
. vendo eíl:e livro, o primeiro tomo
das Cartas do Padre Antonio Vi·
. eyra, enter·ponh.a o meo parecer; O preceito
de V. Magefl:ade faz precifa a obediencia ,
mas o refpeito, e o. nome do Author a faz im-
pra&icavel: Qpem hade fazer juizo das Car . .
tas de hum h01nem, que encheu o mundo to..;
<lo de a.dmii:açoens, fendo as rnefmas admi-
taçoens curta esfera à Íua gq1ndeza? De hurrt
a outro mundo o levou o defl:ino, muitos fo-
:riaõ os ·m?tivos, em que difcorriaõ os juiz os~
.n1as o ceri:o he, que a natureza, fr!T!pre pro-
vida, quiz moíhar, que hum f6 n1undo era
]Jequeno theatro para a reprefentaçaõ de
hum homem taõ grande. Em. Roma, cabeça
-d o·nuindo_, e cabeça toda, appa~eceo o Pi}\;
ore -<
1
dre Antonio Vieyra; e admira.da de taõ pro:
fúndo, . e degan.te juizo, conheceo , que a
vetdade do que via, era 111uito mayor, quG
agrandc ºt°'i niaõ, que foava natjuella Cu ri à.
pelos clarins da fama. O mefmo Pay da Cõ ...
panhia, e gi-ande-Pay., o Padre Paulo Oliva,
mandou imprimir, com o feo, o Serrnaõ do
Padre Antoni0 Vieyra na beatificaçaõ do
Santo Eíl:anislao, naõ fr enve'rgonliando, de
que eíl:e Filho pareceffe iinayor que o Pay;
n1as gue rnuito, fe cdta Agµia Evangdica the
a íi mefino fe excedia? Eu conheci em Madrid
ao Reverendiffirno Padre ~1eíl:re Frey Felip-,
peHortis de Mendoça Definidor Geral do.ç.
M ercenarios calçados, homen1 igualmente
douto, e virtuofo, que naõ lia os Ser.moens;
do Padre Antonio Vieyra,fe11aõ proíhado de
joelhos, dizendo1ne, <;1ue naqnella reverente
attençaõ mofl:rava os elogios , que naõ fa ...
biaõ explicar as vozes. O mundo fem contra.""•
diçaõ lhe deo a coroa de Princepe dos Orado...
res ! e a.inda que muitos guizera,.õ foguirlhe o·'
paílos,athê agora nenhú lhe chegou ao thro-'
no : trabalhaõ com fadiga , 111as direy ( corrHf>
dizia o n1efmo Pad~e para outr0 intento) qu .
como remaõ contra mare, he 1nais a agoa,
que fuaõ 'J que ia qMe vencem. E fe fubio taõ
glm·io".'.
tios i.P'r .eg.aa5lr
,. _.~lo·riefomerite ao :'Princip~d6'
.r~s; venh.a'õ à :luz as fuas Cartas., athe ag'Qt~ "
. .encubertas na ,ambiciofa curiofrd,ade dos fa....
bi~s, para quç naõ haja · 1mpet~o. ,de erudi,.
ç.~5· ,i de qtle efte Grande.· Padte naõ. fej~ ·Mo.;.
nanqa. ·Muitos efcrevéraõ liyros de Cartas , e
1

todo_s hem , .e melh.o.r que todos i:o P,ad·re An.1·


tQnio ..V.ieyr:à , pai·a ·fer em tudo.Meíh~e ' ·r~l,.
gum hoUV".)' -que i.mpirjmio ethlo de .·efcre:veJ'
cartas; mas naõ pode haver eíl:ilo certo, de-
vendo nas cartas n1edirfe a differença pela.
peífoa, _que efcieve ., a que.m, como, e de ciue;
nas do Padre Antonio 'Tieyra fe acharà eíl:e
eíl:ilo,bem regulado pelas differenças ponde...
radas. Dellas tem o publico, e•o particular '-
<if:UC ap_:ei;def .; e ?dl~ ·geral_ ut:~lig~d~. , el\1
qu~rnao1 [@, fe.artte,ndre {ao paff ad.o , ~mas · co~P!
gnindes.:d:ocu.m~ntos ,> que po'dem ferv.ir para
0futuro ·, nâõ h-a·o·ff.eqfa,, . :Q1as• cqq.vt!O:i~nci;~
g.r..a.nde ,,ipa:r.a o.feriViÇP d~ V.. -Mag,e:frsi.~e. ,y:·
ainda que em iquem .. as offçr~q~ ,,, ~e. . a,,(qµ.~;~ ,.fç
dedicaõ , tem efras Cartas grandes defenfo-
res , depois·<l e largo., ·e,hem conliderado ex-
1

ame, he juíl:o tambem, ciue corraõ paõ· fó


com licença , 1nas com a protecçaõ de V ..
l\1agefrad.e; que eu dezejàra. tambem euca-
minhada a Obra do Clavis Prophetarum, ÍJn ...
· *v guiar J3
' ·gblàr,'cfifveló· do.·p:àdré . Ant<1:ni·o Vlç.yra , e
, · appet:eciélo cui·dado d~1 todo~. Eú t i'Ve a,fortu~ 1

n~ de a le·r 1 e a ouvir Je,r nn.ütas vez-es., e ain-


ttai9tte ·.em ~artes : ittI1pe;rfei:ta; ~aõ "dffye ~1ü.C:
r
p-enüe.rf~ fi l ita pubhcaiç;a:o.;.:·queieífa he .a:_rrüt+
' ~ ... : "• r ,. ..,, ",

yor glo'fia: do P3;.di"e"Antonio\Vieyra,'na:Õ h:i• 1

ver .quem' poífá fi1pprir aqúeHas faltás. ·v::


Mugeíl:ade .mandarà o quti~ for fervi~o.LisbO'a
Occidental 9. 'de Sette1nbre de 1734. ' • "" h ' '
1

"
D. Alex:andre }'errey,rtJ~
~ • 1 .. " ' ' • : ' ' J t
1 '

·lüe fe p©ffa ip.1primir viíl:as as liceu""


·ça~ .do ·~ani:o· Oficio e 0 .rdinario, t.~
- . . defpois de irnpreffo torna1•à a efia Me...
fa para fe confrrir e tayxar e dar lice11çà para
·c0r.rer fem a qual naõ corrcrà. Lisboa Ocd·
tiçntâl 9~ 'de St!tté·i nhro de ·I'73'4· .
. ; J
., Pereira•
~. •, · .~
1éi:r.eira.

..
.
"l . r ~ , .
•J

V Iíto efi:ar confórme com o Ori gi-.·


nal , pode correr. Lisboa Oc ciden-.
tal 9. de A gofl:o de 17 35•

.Alencajlre.. Teixeira. Cabedo.,, .

Soares. A/;reu~

·cv
.
Iílo · efl:ar confórme com o Origi~
nal, pode correr. Lisboa. Occiden~
tal 9. de Agofl:q de 17 3 j'º
/

·Q U e potra correr ; e t~yx~õ ein .mil


e duzento.s reis. Lisboa Qçcidenta.1
9e de Agofto de 173;.. ·

'"
. .. ....~ .. ·

,, '.
'
."!ti.;"
., • 1
. ,..
'
('

...,,i .,
1.J . '
'\

.. 1 1
'
1
... Hr
l

.. i . r 1 í1 6 ') í "·t
.
', ~\.,
' '"
~
.,,J

·' ..... ,,, "

. ..
,,
,,,.
... ''~1'
r • .::...,
·1
."l
·' l r:;
~,. \ 1) ( i. 1, 9 ;;~ :J :.
~ (• V
' ..., 1 .,
'J
J1 r•. l~,.1.~ 1•....
; •i ,;1·.._;
.. { ) . "'\....
J~ ........ ~ 1 ...
,.,,,,.,,.., .. e-
,1 .1d t ·•
•,
J r·
··'
•f'
..,
'1 .,. 'fl'
~ ~~j

.
1 ·) {
f
J "1 .. i
.. . ''
'" ~

"'....

• .. .
.. , ~.-. '4
.y. ·,J- .'...·
" '~ '*

...
') i' ' "
..
. ·1.

CAR ·T A. I.
j • !

~ ~,
.l
• ' • ) , - .. 1

.A certo AlfiniflrcF ·da Corte·


:· ; \ ' J l t \. ,. l ..J l - ,..# 1 •

~ .. . ·_! . :.de Li~k:oct.' :·. ·;· . ·)r, . . . . : ..

,,;jq;f .. '.- , . ·- , .,,, ·TO"·

tiaY1o
r t

éf-
1,

· ·ESTE ' ·méíinb 't ehho


.
. . 1
)"trito a- Sua Ma:geíl:ade '' ·e -a' .V
L M·~-J l:átgam~nte. aa Corte de
Londres ·; >agora ó faÇ6 deíl:'e
porto. d.e Douvres , onde eíl:ou
para me partir daqui a huma hora pa-
ra o de Calés , . fem emb3;rgo de eíl:ar a~:·
quella Cida<lê .:-11npedida: 1d~ pefl:e , . porque 1

tenho o perigo da, dilaçaõ por mayor de


todos ; e naõ vou por Bolonha como ti-
nh1 determinado , porque h a noticias cer-
tas que andaõ na barra fragat as de Oíl:en~
d~ , que he o Dunquerque .d'agora: e paf-
Torn. 1. A fando
1 CARTAS ·
fando , c~mo faço " no paqueb~t~ , que ~e ~~
'barco do Correyo ordinario , v·o u fegurQ
de coffarios ,_por fer liv~e. Para e1n Calés
ln;e. naõ impedirem ~l fahida , Jlem nas óu-:
1
tra& Cid:a4_es athe: P:.uls !}~e .negaren1 a en~
tráCfa p-or···hir de lugar infelto, levo paífa-
porte e recomendaçaõ do Embaixador de
Fr:;1nça que eíl:à ~eJl:e Reino, o qual .tam-
bem me remetteo os maífos das embaixadas
debaixo dos feos-, que . foy a mayor feguran-
ça· com que fe p~diaõ enviar ; e a tudo o
mais do frrviço de · Sua· Mageíl:ade fe offe-
recco . com boa vontade. Medindo as jor-
nadas ,; efpero efrar em Parls· diarae~"'F1::ã:n1
cifco. Deos nos ajude, e guarde a ·v.. NI ·
muitos . annos ' COll1Q d~iejo. Douvres 3~·'
de Setembro de. ,H>.47. · .:
· . .'')'
l' .,

1 (.
Antótüio· V~eyra~ 1 }

' t.

.,'
iC AR...
DO P. ANTONIO V!EYRA. '~

·e A .R TA. ·I.I®
1
. l

me/mo
·N
Ao Miniflro.
, ... i J

' r

Aõ quero deixar de .d,a t ' novas m·i-


, nhas a V. M. potque fey. que V. M. as
eíl:imarâ , !endo melhores do que .a
falta dellas , e a tardança :da minha viagem
.h averaõ là pronoíl:icadó. _C à fe cuydou que
eramos tof!lados , ou. perdidos , _e .pc:tra itu-
.do houve occaíiaõ, >- porciue · lidam~ com
' inim~gós , · com tempdtade~ , com outros
i nfinitos generos de trabalhos , e ·p erigos,
de todos Qs_quaes ;foy Deos .fervido livrar-
me. , __ .e· tra,Z;~1·-me ao cabo de 59. dias a
:Parls , <:>Jllde fico ao. fervjço de· V. M. de
faúd_e , que naõ he pouco·, havendo parde-
cido tant.o ,. e naõ. fem efper~nç~s · de que
:0s negoc10s__ a que Sua Mágdtade foy fer-
;vido mandaf'-m.e, te.nhaõ ·o fi1!1 que V. M.
e eu lhe dezejamos. Segundo o eíl:ado em
<]_tle V. M. tinha poíl:o aquelle negocio , ·
~ntendia eu que neil:es ultimos navios vieí:
.fem novas de eíl:ar jà publicado. ,So nie
A ij pezà•
"4 ·- .: ; e A R '" T. A ·s 1
' "

peza~â , que fe contra elle fe levantàraó


algumàs difficu'ldades--, hajaõ prevalebdo os
.authores·-deíl:e mal -entendido ·zelo contra
os que ..~ . t'Çm ~~ais ryer9·. ~~ei1~~ · .Q~ia~1to 1nais
ando ?tlb·· ~u!l~.0 , 1nafs ·Il'l;e ~c0nflr-n10 nef-
1

ta verdade : _e fe -Os que eíl:aõ 1_1effe Reyn?


thretaõ 1 fa.h'ido delle , tafubcrín ·fahiriap da
ce~útdfa/érn . q1te;vive;ni nd.1:a; ;·re: cm ! otttrás .
n1fré~·1as. ~<B~íl:~ 0 été1'npJ0 : d61:Milrqrles . A:e
1 1

Nizâ ·;:-e ·o·do .fko F: "Frrencifoo- d:t f Macêdo;


_, os iquae-s , tendo íido ·Jé ·tafr -conna:ría .-opi-
·n'iaa ·., qu: , ~um .d_eo; <:.on.fel~1os , ~ O. o)ítr,0
~efcrev.eo 1 hvt-0s.'bor:ri·a teH:a ., :clepo:ts' q1:1e v1~
~:raõ ·ó mutiJ<.{o ~ :fé,,_'. l'he rabrifla6»os- olh'o~.. de
rnal).eir?-; ·qu~ : ~ÍTibÓsi 1~ · i:ent1 ·it'eti~atadc»; ·e · ~
· 11arques antes , ~e.' eu :v.ir. th.ib.a· l~.fo-tito- "ª ·S.
·1vhrg~fi:ade 1 pedin'do_~ wrrr~ . gt•t:n.~é ·; ttper.t.(} '"~
·mel mo ..ae:. que':. Nos· t!'.taNH"Hos·.. ,, ' 'é· fo pr'é~a.
1

1nuito .de fet _efte .o foo vdt~. Os :pr0veytés


.que d~ execuçao ddle 11egodotfe ··efpeiraõ ~;
faõ iq.falliveis ·, e·a.ffirn.;b _p1romete1ii ,ttodos os
1

-Portug.uezes .deitas -partes , que ·!falia.ó coh'i


·rr1en6s receyo na:s .acçoens .do :que os ··que
là viven1. ,..f:o dos eH:aõ ··n11úto fenticlos de
·ElR:ey de Caítella pola defl:nliça:õ , c1t1e ft
:te.m .Jeito nas lndia·s ., e porque'; ·de pte~
ze.nte
DO P. ANTONIO VIEYRA. 5
:zente 'ton1ou todas as ·c oníignaçQens a to~
-dos·os Aífentiíl:as ·Port:uguezes [ exceptuan.,
~ do no111eadamente os Gen~:wezes· _de que J
·recel?er.aõ .i gual : perda· e eícand~l0 :· A:gor :1.
~he o tempo de qu~ e~ pei:imente1n: fa:yor•em(
fro Rey natural, para.que ·traten1 de o fen .
vir· antes .a ellie~ V. M. va por diante co1n
efta ernpr~za , e diga a ElRey N . .Senho,r
·O que fente , pois 'V. M.. fabe , que co-
nhece Sua Magdl:ade a verdade , e intei-
reza do zelo ·' e juíl:iça de V . 'tl,1. e quam
livre : -~í_e . df t~Sº~ ;·QS :?ut~os n~fpeito,s n1ais
que o de íeo n1ayor ferv·1ço ., ·c:ine por eíl:a
'Via fe adiantaria C.Offi gr.andi'ffin1a·S venta··
gens ; e quando a experiencia as naõ.mof-
tra.ífe., C)l.l · della fe . feguiíf.e algmn grave in.,
convéniente', a conceffaõ deíl:e prxvilegio
naõ tira a Sua Magefrade o poder p ara o
,derogar , ou mudar quando for férvido.. Ao
P. Man.oel lvionteyro n1e fa.rà V . IvI. merce
.de offerecer por 1niin efta ., e.m quanto o
tempo n1e naõ dà lugar, athe lhe efcreveJ~
:p articularmente : e /e fe defcuidar em faJ ~
lar a Sua Mageíl:ade fobre o negocio que
·ficou â conta de S. Reverendiíiinu., V . . M.
~h~ lembre ·' e lho requeüa por parte{~~
11
·6 CARTAS
fervi.ço .de Deos e bem da Patria , porque
fey quanto !Ünportaràõ fi1as diligencias pa-
ra o lev1~r ao cabo , polo grande conceyto
que S. Magefi:ade tem .qe fuas letras , vir ...
tude , e zelo. D.eos guarde a V. M. mui:...
tos annos como dezejo , e co1no ··o noffo
Reyno ha miíl:er. Paris 2 5. de.- Outübro
·de :1647.
,•

Se1~vid.or de·V . .M . ·

.A1:u:orúo 'Vieyr~.
' .. 1

' '

.
CAR..
DO P. Al\TTONIO VIEYRA. 7

C i\~ R T' A ·III&


.Ao 1r1efmo Minijlro"
~. Enhor meo: efcrevo eíl:a jà de Olanda, ·
e ainda que fe augmen ta a cliíl:ancia 11
e a auzencia, poífo affirmat com toda a
verdade a V. M. que naõ fe diminuem ,
antes crecem cada ves rnais as faudades.
Lembrome .d aquellas horas folitarias deífa
Secretaria, em que o coraçaõ ·de 'V. 1\1. e o
meo , c;0mo taõ conformes no zelo , e no
d.ezejo :1 [e coiturnavaõ entriíl:ecer , ou con-
folar juntamente : e de hiu11a · , . e outra
couza· offerecem. cada dia os tempos nova~
cauzas , mas fe1n aquelle allivio , que athe
por carta n1e falta ha cinco mezes..
Pelo affento que tomou o Confelho de
,F,flado fobre os agradecimentos , que ·fe
mandàrai' ao Embaixador Fr'ancifco de.
Souza, julguei quanto là fe eíl:imarâ a con~
dufaõ deíl:a paz .. Nas primeiras cartas que
efcrevi <le Paris , quafi a fegurey pelas que
me mo:íl:rou o :M;_arques de .N iza. Nas fe- 1"a
guq...,
8 e . ARTAS
gnndas a co1nccey a duvidar pelo que fuy
experimentando ; e' agora tenho por. quafi
certo , que fe naõ concluira , por mais que
1

digaõ os que vaõ, e efcrevaõ os que ~caõ,


ainda que a paz entre Ca~ella e Olanda.
fo publique, que he o tepno que lhe affig-
nàõ os Miniíl:ros de França Y e noífos. O
fucceífo da Bahia , Senhor, he o que para
fempre nos hade concei:tar , ou defcon-
certar com efta gente , e athe vfr recado
delle, poderaõ entretcrnos com conferenci-
as , mas naõ haõ de c;;oncluir o _Tratado,
Sobre o n;iodo da guerra que fe deve
fazer, .efcrevo o qu·e me ditou o zelo, e o
dezejo de que acertemos ein negoció taõ
grande , e· taõ arrifcado. V. 1'1. rifque, 'e
en1ende o que lhe p'arecer menos acertado,
n1as peço-)he niuito', feja de voto que--ven..
çamos antes en1 . feis níezes- , doque arrif..
carn1os tudo en1 hmn dia. Concertemos a
Armada, , eíl:orvemos os n1antiinentos áo
inin1igo; e eu feguro o Cuni1ftndo-.re.fiituit rem. ·
~1anoel de Sequeyra leva huma via def-
te papel , e -o P. · Jofeph Paut ilier meo
Companheyro outra> 'e ncomendo-o ' muito a
,V . M. e porque nefta mefma occaíiaõ te-
nho
DO P. ANTO:t.JIO VIEYRA~ 9·
11ho cançado a V. ~1. con1 _oito cartas de
diffetentes n1aterias para Sua Mageíl:ade ,
e algumas nTuito largas,, naõ quero dilatar
·mais efra , e acabo com pedir a noífo Se-
nhor inuito bons principios de annos de
48. em que Deos nos faça ver as felicida-
des que as profecias nelle parece nos pro-
111ettem. Haya 30. de Dezembró de 1647 ~
. Depois de efcrita eíl:a houve coi1feren-
cia hontern 3. de Janeyro na fórma que
V. M. .la verâ. As efperanças da paz an-
tes fe adíantàraõ que diminuiraõ : 1nuitas
graças devemos a Deos que peleja ,, e ne-
gocea. por nos. A .Arn1ada ten1 arribado
duas vezes, perdeo jà alguns navios , vay-
lhe n1orrertdo gente, e os ·ventos cada ve~
mais contrarios , e tempefi:uofos : e jà fe
_Eerfuadem alguns defi:es Fieis Chr_ifi:aõs e
feos predicadores , que naõ quer Deos que
vaõ ao Brazil ; com que eíl:aõ mais bran-
dos , os que furiofamente queriaõ a guerra :
mas ~inda peden1 como quem a naõ ten1e.
Agora era o ten1po de negociar , n1as co-
mo o dinheiro , e os creditas efl:aõ na
rnaõ do Marques , e . fe gafraõ tres fema-
nas cotn hir e vir o correyo, perde1n...fe oc··
· Tom~ l B caíioens /9
to C A R T A S
caíioens gue às vezes confiíl:en1 em hum
momento. Eu naõ approvo, nen1 condeno,
mas ou Sua Mageítade naõ fie as en1ba!xa-
<las de que1n naõ fia o dinheiro , ou he o
àinheyro de quem fia as embaixadas.

O n1ayor e mais verdadeiro


Servidor de V. M ..

Antonio Viey ra.

CARTA. IV.
Ao mefmo Minijlro.

E Sc~evo eíl:a por via de F~·ança J?ara


av1zar a V. M. como fico arnba-
do em Barcelona , onde cheguey
Sabado 21. do corrente , 1 34 dias depois
'<.ie partir deífe porto : e jà eíl:ivera no de
Leorne fegundo nos foraõ favoraveis os
tem..
\
DO P. AN1.. 0NIO VIEYRA" II
tempos :.. n.~a.s..., ªJJezar ~e tudo nos meteo
aqm o Cap1tao . o navio , que he natural
deíla terra , onde fen1 dnvida nos detivera
muitos dias , fo o Governador o naõ obri-
gàra a .fahir : hoje nos tornaff10s a en1bar-
car )' quererà Deos que nos acon1pan!1e1n
os mefmos ventos que a,inda. vaõ continu.·-
ando , poíl:o que con1 receyos de fe muda.~·
ren1 , por eíl:annos em vefperas; de lua no 0

.va. .
As novas gue poíio dar a V. lVL de
Catalunh.a , fàõ : ha.ver lnun anno que lhe
falta Vizorey ; dlâ. norneado o Duque de
Mercurio , e fobre naõ acabar de çhegar ,
fe fa.lla varian1ente : ten1-fe pela. cauz a
1nais verdadeira , naõ querer , ou naô · lhe
poder dar hoje França. o fo.ff1 que elle naõ
hade ..:vir _; entretanto governa a guerra.
l\1:0.qJieur de Marcin Frances , o politico
D. Jofeph de Margarit Catalaõ : e a hun1
e outro .aíiiH:e fo1n titulo o Biíf)Ü_ de ~Aaria
·hu.ma das melhores cabeças de França. A
elle e ao Governador ou,ri fallar fobre as ·
couzas de Portugal , com huma noticia
taõ inteira de tudo , e co1n circuníl:ancias
taõ particulares , taõ miudas , e taõ inte-
B ij n ores 1 .:i.. 0
JI

12 C AR T ·A S
riores , que aflirmo a V. M. fiquey igual.;;.
mente efpantado do n1uito que fabem de
nos ' e magoado da pouca noticia que nos
temos delles , e dos mais. O poder que tem.
França em Catalunha naõ arriba de dous
1nil cavallos , e a.the quatorze 1nil infan""
·tes nos prefidios , fuíl:ent an.do tudo hà mais
·de hun1 anno à cuíl:a do Principado. As
confequencias que daqui tiraõ os Catala.és:,
e as que nos podemos t irar ' deixo ao dií;:,.,
curfo de V. M. Cotn eíl:e taõ pequeno po-
.<ler fe atreveo o Marques de Marcin a hit
efra {emana intentar huma interpreza fo ...
bre Tarragona ; havia de fer na noyte de
antehontem , e naõ {e fabe athegora .mais
que havetem.:..fe ouvido tiros pela madru...
gada, final de que foraõ fentidos. Os dias
paíf.1dos falüraõ os Caftelhanos da ·n1efma
Tarra.gona fobre eHa parte de Barcelo~a
~1ue fó diíl:a onze legoas, com hum exerci-
cito de~ 1 0 U. infantes, e 3 500, cavallos, ef...,
perando que com. a vizinhança <lefte po-
de haveria quem tomáíle a vos de Caftel-
la neíl:a Cidade ; n1as no , mefmo ponto
foraõ lançadas della , ·e levadas ·a França
.;e: a outras "partes , todas as peífoàs .P rinci...
paes
bO P. ·A NTONIO VIEY~A. 13
paes de que havia <jualciuer fofpeita , po-
-O:o que a nenhum fe lhe provou , nem
averiguou culpa ; e com eíl:e defengano fe
retirou . outra v.ez para Tarragona o ex·
ercito Caíl:elhano, defmantelando fón1ente
as fortifica:çoens de alguns lugares peque·~
nos que eftaõ junto à marinha fem exe.c u-
tarem hoíl:ilidade alguma , nem nas pef-
foas , nem nas fazendas , porque o feo in·
tento era ganhar com bom - tratamento
os animas dos Catalaens , e a efte finrqna-
fi todos os Cabos do exercito .eraõ naturaes
de Catalun~1a , como tambe.m o he D.
Joaõ 'de Quai~ay, a cuja --ordem vinha tudo.
O Colleitor ·que aqui eíl:â , <]Ue he boa
peffoa ,- e dezejofo de fer promovido para
.:eífe Reino , me <l.eo a nova do Cardeal
Albernos fer morto ; com que teremos
. ~menos em Roma hum grande inimigo. Ef-
-fava feo hofpede o DuGue del Infantaào ,
-que naõ havia muit_o era chegado con1 feo
Tio ·o P. Pedro Gonçalvez de ~.fendonça.
Sahio por Geral da Companhia o P. Fran""
dfco Picolomini Senenfe , e fe fizeraõ tam-
bem todos os Afliíl:entes, menos o de Por-
tugal , cuja eleiçaõ fe fufpendeo athe a che-
gada
14 C A R T A S
·gada dos_Padres Portuguezes , que ainda ·
ciue part1raq tarde , parece que hiraõ a
tempo ; eu o naõ tenho para fer mais
largo. Guarde Deos a V . M. muitos an-
nos como dezejo. Bar-celona 23. de Ja-
neiro de 16 50.
Antonio Vieyra.

C A. R TA V.
Ao PrinciJ/e V. Theodojioe
Senl1or .
EO Principe e meo Senhor da
, minha ahna. Pelos avizos que
· vaõ a S. Mageíl:ade entenderà V.
A. con1 que coraçaõ efcrevo efra , e mui-
to mais con1 que raiva , e com que impa-
ciencia , vendome prezo , e atado para
naõ poder em tal occafiaõ hirme deitar
aos pês de V. A. e acharme a feo lado em
todo o pl".'. rigo. 1fas eu romperey as cadeas
quanto mais de preifa mç for poílivel , e
par-
DO P. ANTONIO VIEYRA. 15
.partírey voando , fe naõ a fazer compa-
nhia nos tl'abalhos do principio , ao menos
·a ter parte; ~ias glor~as , e alegria do , {~n1 : .
que eíl::es fao os paílos por onde fe h.ao de
encaminhar os fucceffos , e felicidades def~
te f a.tal anno , ou fej a a guerra f ó e1n ter-
ra , ou fó no mar ., ou-juntan1.e ntc em an.1-~ .
bas as partes ; porque o 1neo r-0teiro naõ
efpecifica o genero , nem as particularida-
des della. , empregado todo em referir ,
a.dn1irar , e celebrar as viélorias.
Ah Senhor ! que falta pode fer que fa..,
ça a V. A. nefl:a occafiaõ efte fideliffi1no
criado , e <lua-O poucos confidero a V'. A.
-eom a refolu~aõ , e valor ;3 · e experiencia
qne he neceffaria para fabere1n aconfelhar
a V. A. o que . mais lhe conve1n etn taõ
a pertados cazos J n1as jà. que na pre~ _
zença naõ poífo , aconfelhe a V. A. a
minha alma que toda mando a V'. A.
nefre papel , e corn toda dla lhe digo ,
·que tanto que chegar dta nova , V. A.
logo fem efperar outro preceito , fe ponha
<le' cui-to o mais bizarro <iue poder fer , e fe
faya a cavallo por Lisboa, ·ferrr rnais appa-
rato, riem companhia ', que a que volunta- .<~
· - riamente
t6 C AR T A S
riamente feguir a V. A. moíhando-fe no
femblante n1uito alegre , e 1nuito- defafi1f-
tado , e chegando a ver , e reconhecer
com os olhos todas as partes em que fe
trabalhar, ínformando-fe dos deíignios , e
1nandando , e ordenando o que melhor a
V. A. parecer , que fempre frrà o mais a-
certado; rnandando repartir algum dinhei-
ro entre os foldados , e trabalhadores , e
fe ·v. A. por fua maõ o fizeífe levando pa-
ra iífo quantidade de dobroens , efi:e feria
o meo voto , e que V. A. fe humane co-
nhecendo os homens , e chamaRdo-os por
:fêo non1e , e f allando naõ fó aos grandes ,
e medianos , fe naõ ainda aos mais ordi-
narios ; porque defi:a maneira fe conquiíl:aõ
e fe conformaõ os coraçoens dos vaffallos
os quais fe V. A. tiver da fua parte , ne•
nhum poder de fóra ferà baíl:ante a entrar
em Portugal ; fendo pelo contrario muito
facil ainda qualq_uer outra mayor empreza
a quem tiveffe o domínio dos coraçoens •
. S. Magefi:ade tem nefta parte huma venta·
gem muito conhecida, que he efi:ar de pof...
fe , e poder dar , qúando Cafi:ella fó pode
prometer. Como. há poucos Antonios Vi...
eiras
DO P. ANTONiô V'IEYRA.. 17
eiras , ha tambem poucos que amem fo por
ainar , e S. M.ageítade naõ deve efperar fi-
nezas ·; fenaô contentar-.fe muito de que
fe queira.õ vender at1uelles, que lhe .for ne-
ceffario comprar. ·A_polvora, as bala~ , os
·c anhoens faõ conlprados ' e bem fe ve·o .
impeto com qu~ ferve.Q.1 , e o dlrago que
faze1n nos inin1igo& : e mais natural he em
nmitos homens o intereífe que neíl:es inf-
trnmentos a lnefma natureza. Os ciue me-
nos fatisfeitos eftiveren1 de S.. Magefl:ade , -
eifes . chegue "V. A. mais a . .íi ,. que impor-
tarà. pouco que no affeéto fe divida() as von-
tades corn tanto que no effeito S. Magef-
·t ade e V . A. as achem. obedientes e uni-
<las. Faca-fe V@ A. amar , e neíta fó pala-
vra digo a V. A. mais do que pudera em
largos difcur!.os. Con.íidere V. A. Senhor
1que efbi he prirr1ei:ra acçaõ em que V . .A.
hade adquirir non1e ou de mais , ou de
· n1erios grànde Princepe. A idade, o enge··
nho, as obrigaçoens, tudo efrâ empenhando
·a. v·. A. a obrár conforn1e feo Real fangue,,
·C moíhar ao mundo que he V . A, herdei-
ro de feos . famoíiffimos Primogenitores ,
naõ fó no cetro , mas n11üto 1nais no va-
. Tom. !. e lor.
18 . C A R T A S.
lor. Toda Europa , cujos ouvidos eftaõ
cheos de louvores de V. A. dl:â com os O"'!'
lhos neíl:a occaiiaõ ciue he a primeira em
que V. A. fahe a reprezentar no theatro
do mundo , e na qual o nome C]Ue V. A ..
ganhar com as fuas acçoens , ferà o por
que ferà avaliado e efrimado para fempre.
Naõ aconfelho a V. A. te1ueridades , ·mas
tenha Portugal e o mundo conceito de V ..
A. que antes defpreza os perigos do que
os reconhece. O Gue tocar á fegurança da
peífoa de V. A. deixe V. A. fempre ao a..
mor e zelo dos feos vaífallos , mas naõ a... .
ceitando neíl:a parte confelho, que de mui ... .
to longe poífa tocar ao decoro. A vida ef-
tâ [ó na maõ de Deos; e eíl:a he a occafiaõ
en1 (1ue f~rvem as filofotias GUe tantas
vezes ouvi a V. A. do defprezo della. Da
mefma criaçaõ de V. A. fahio Achilles a.
fer terror de Troya , e faina de Grecia; e
efi:a ~eíi11a defconfiartça [ a qual inculco a
-v. A. J o fez mais Achilles. Eya meo Prin....
çepe , defpid~-fe \!. A. dos livros , ciue he
chegado. o ternpo de eniinar aos Portugue-
zes , e ao mundo o que 'l. A. nelles te1n
eíl:udado. Armas , Guerra, Viét:orias, pôr
ban-
---
.
....

DO P. ANTO~HO VIEYRA. li~


f1·a11deiras inin1igas , e coroas aos pês , fa<;
de hoje . i1or -diante as obrigaçoens de V.
A. e eíl:as as n1inhas- efperanças. Oh CO'lTIO
as eíl:ou jà veudo naõ f6 deferr1penhadas ,
inas gloriofamente excedidas! A uraça do
Efpirito Santo, que he Efpirito de fu.rtaJeza,
afiifl:a fempte no coraçaõ de ·v. A. ·cuja
n1uito alta , e muito· poderofa peifoa guar-,
<.ie Deos como a Igreja ., e os vaffallos de
V. A:· havemos miíter~ Roma 23. de Mayo
de 16 50~ . .
Faço n1eo fubfHtuto ·ao P. Igrracio k.Iaf.
carr-nhas , a -q·ue.m ·peço ouça 'T~ A. cotn
y.rande confiança. neftas materias _,., porque
go muito de feo valor , refoluçaõ , e coufe··
lho , que· tenho .bem expelin1entado. Per ...
:doe V. A .. ao meo .arnor efte e os outros
atrevimentos ·defra carta.

Antonio Vieyrà~

,.
< ,
e ij CAR~
C· A R ' T A ·s. r

1
C AR Tl A VI.
-..IÍ certo Minijlroº
, E tiaõ fora. d.e tanto ferviÇo de Deos;
naõ me atrevera a inqúietar a V. M.
a tal hora , tnas a cauza ine defcul-
P~, e a grande piedade de"V. M. me ani-
1na. Hoje fe remeteo a V. M. do Confelho
Ultramarino hu1na p·e tiçaõ de replica do
Procurador do Brazil e Padres Miffionarios
do Maranhãõ , a c1uem S. Mage.íl:ade man- -~
-da' ·pagar ametade da Ordinaria de que lhe
fez merce nos àizitnos da Bahia ; e por-
que corrend0 efte pag2.mento'·por maõs dos
Minifhos da Fazenda: daquelle Efi:ad~ fica.
muito incerto , antes totalmente he con10
fenaõ fora , como a experiencia te1n mof-
trado; e os Miffionarios no Maranhaõ naõ
tem , nem poderi1 ·ter outra couza de que
fe ii111entem , nen1 acudir ao ·c ulto Divi-
no, e às outras obrig1çoens da converfaõ,
para as quaes faõ n.:'.ceílarios refgates , e
outras couzas , CQIDO na replica fe apon-
ta.
DO P. Al'~TONI0 VIEYRA. 2J
ta ; pedeni · e in.íl:aõ os Padres que - o· dito
pagamento fe lh.es faça pot n1aõ dos con-
u~a1i:ad<1jres , ou rendeiros dos dizirnos , que
he o ineyo. que ·os Reys paífados tomàra,õ ,
_para que _os ditos . pagan1entos foífe,m effe···
étivos , affim ao Bifp.o e Clero, como aos
1nefmos Padres da Companhia,. por fe ex- .
periment3:r . que . todos os outros âpert~s
coxn que as Prov1foens R.eaes o .mandavao,
miõ eraõ · bail:aRtes contra as neceflidades
ela F·a.~enda , ou verdadeiras ,, ou fuppoftas,
que os Minifitr·~s allegavaõ ; as qu~es cou-
zas no tem~o prezente , por fer d~ guerras,
faõ n1~ús -ordinarias '.> e ainda_ mais juíl:ifi-
cadas ; con1 que ficarà de todo pergcndo-
fo a. n1iífaõ , e o fruto gue della fe ,efpera.
E com a ju{Hficaçaõ · da rdidencia a que
nos offerecemo$. ·[ qne era o ponto en) que
,r eparav:;i o Confdho J fica o negocio.fen1
intonven~ente algun1~ E affim me diífe o
C4>nde de Odemira, que o havia· de votar,
pQr fer nl3,tteria rrmitp dara, e o contrario
contrai o ferviço de S. .Magefrade , e o ·in-
tento que fe pretendia ; ~ do mefn10 pare-
cer fey que eíl:aõ os de1nais Confelheiros.
Corn S. Mageftade falley efra tarde ·fobre ~ '5"
eíl:a 1
12 C A R T A S
effa m.ateria, e porque elle fc parte fegurt ...
da feira- , e a (1uer deyxar refoluta , por-
que ailin1 importa pola brevidade com que
o navio em que haõ de hir os Padres Ie a-
Ereíta , foy fervido de n1e .dizer , que da
foa parte diffeife a v·. M . que folgaria que
eíla inforinaçaõ fe fizeífe a tempo, en1 que
con1 ella fe pudefi~c confultar pela 1nanhãa
no Confelho , e no ·111eíino dia fubiífe e fe
· defpachaífe : e o mefmo me rnanda dizer
ao Conde de Odemira. Con1· eíl:a vaõ· ·os
Alvarâs de que confraõ os exernplos , e o
pr~ncipal funda1nento .d a juíl:ificaçaõ da
a
noífa cauza , que V. M. nos fat· mer~e ,
de que naõ fayaõ da fua n1aõ , porque im....
portaõ. Tenho dito, e naõ reco1nendo mais,
porque a cauza fc recomenda por íi n1ef..
ma , e porque fey que para todas as do
ferviço de Deos eíl:â fempre muy prompto o
favor de V. M. ·que he a pedra fundamen ..
tal dos que fobre elle: haõ de ~ífentár feos
· votos. Affi1n, que a V. M. c'a berâ a .mayor
e principal parte d-0 merecimento deíl:a
fanta obra : e todos nôs ficaremos con1
nova obrígaçaõ de rogarmos a Deos · pela
vida e faude de V. M-. que o Senhar guar...i.
de
DO P. ANTONIO VIEYRA. 2~
de por nnütos ann~s, como havemos n;lit
ter. Por fer a hora que he , naõ vou le·~
var · eíl:e papel , rnas eíl:ünarey , que V.
M. ine mande dizer por palavra pelo, por1
tador quando o hirey bufqir (Collegio ·5. p

d.e Julho de 1652.

Creaclo de V. lVI.
Antonio Vieyra.

eART A . v11·.
LÍO. l!rincpe.. '·
. '

... Sen.hor .
51 A efcrev<.) a. V. A•.no Cabo Ver..,
1

clti aonde arribarnQs -depois. de trin··


ta dias de viagen1, obrigados de tern-
peíl:ades , coffados , e ouu·os trabalhos , e
infortunios <jllC nella fe pad.ec.eraõ. Eu ' se...
nho.r ' .naõ fey fe os padeci ' porqµe d.efd_e a ~~
hont
14 " C A R T. A S .
hora en~ ~1ne 'º Navio defan1arrou ddfe
Rio· , naõ · dtive ·inais en1 mim.·, nem oef.·
tou a.inda ,,.q,tt~tüto do cazo e da fatal.ídade
<la tninha 'partida, e de naõ faber ·corno . S..
1viagdl:a.de e V. ·A. a,receberiaõ, pois ;naõ
he poíiivel fe.remlhe prezen_t:es todas 1i as dr-··
cun.íl:ancias della : ra.es que naõ friy eu o
<1ue. Jne . en1barq~y._ , fênaô ellas as r.:1ue me
lev:?'raô. V. A. vio .muito bem a prornpti--
daõ e ·vontade .~orr1 que ' me rendi à de S.
Mageftade .º dia que 5m prezenva de V.
A. :me fez merce íignihcar queria que ago-
ra. fic:aífe : rría.s co.1110 entaõ fe affentou que
pro~edef(e, eu e.1n fi1ppofiç~.õ . de que .havia
de vir, e1n quanto S. l\.1ageíl:ade· de pu.bli...
co n1e naõ /Ilandava re::''.'?g.a1:·_. a licenç:a Pª""
ra .fatisfaçaõ dos Padres, filo eu affirn, pro"*
cedendo em tudo , como, que1n. _fe embar...
cava. Na vefpora da p~Írtid:t fu.y avizar ·a
S. Niag,eítade e a V. A. da brevidade com
~p.íe re ar,1:e!favà.- , 'e <{ué 1 rt~tj_uefle . dia-~ ?'ectia
:a çaravella . para Belem , . e· $. ~ M·agelt~-c~e
e V. ·A. rne .fizeraõ merce ~izer · que logo
da tribuna fe 1.11ahdaria reéado ·ao P. Viei ...
·ta: , e na 1ndina tribú.tia o · tor11ey a lem.-.
bi·ar a S. · Mag~.íl:ade : efperey todo ~quel ...
le
DO P. ANTONIO VIEYRA. ?.5
le dia en1 caza por Pedro Vieira, ou efcrito
{eo, e naõ veyo, n1as à noyte recado que nos
foílemos en1barcar em amanhecendo. Naõ
tive outro ren1edio 111ais que fazer o avizo
que fiz a V. A. o qnal enviey pelo· primei-
ro portador. que pude haver , ao-Bifpo do
Japaõ , affin1 por naõ frr hora de outra pef-
f oa fallar com V. A. corno porque todo o
outro recado que foífe direito ao Paço, fe-
ria muito fufpeitofo naquella otcafiaõ., en1
que todos os incredulos _a ndavaõ efprei-
tando minhas acçoens , e efperando o fuc-
·c eífo. Sahi en1fim hind.01ne detendo qua11-
.to pude, como avizey a V. A. mas na. pra-
ya foube , que o Procurador do Brazil ti-·
nha recebido hum efcrito de Salvador Cor-
rea , no qnal lhe dizia , que elle fallára
com S. Mageítade , que eu naõ hia para o
Maranhaõ : e que o Sindicante tinha or-
dem de mo notificar affim, quando eu foífc
embarcarme. Entendi entaõ que S. 1\1a-
geítade tinha mudado de traça , e con1 ef-
ta noticia , .e fuppofiçaõ . me fuy 111a.is. de--
fafuíl:ado para a caravella , onde achey o
Sindicante , mas elle naõ me diíf.C couza
~lguma. As velas fe largaraõ , e eu fiquey
· Tom./, D dcn.,.
26 . C A R T AS
dentro nella , e fóra de mim , co1no ain-
da agora efi:ou , e eíl:arey athe faber que
S. 1\tfagefl:ade e V. A. tem conhecido a
verdade e finceridade do meo animo , e
que em toda a fatalidade deíl:e :focceífo naõ
.. houve da n1inha parte acçaõ , nem ainda
penfamentq , ou dezejo contrario ao que
S. Níagefrade ultimamente me tinha orde-
nado, e eu promettido. Naõ fey, Senhor, que
diga neíl:e cazo , fenaõ ou que Deos naõ
quis que eu tivefie merecimento nefra Mif-
.faõ , ou que fe conheça que toda ella he
obra .foa ; porque a prin1eira ves vinha eu
contra von-·ade .de S. Mage,íl:a.de, mas vinha
por n1inha vontade , e agor"a parti contra ·
a de S. Magefrade , e contra a minha, po~·
mero cazo , ou violencia ; e fo nella hou-
ve algqma vontade , fqy [ó a, de Peos , a
qual vetdadeiramente tenho conhecido etn
mui.tas occafioens , com tanta evidencia ,
co1no fe o mefino Senhor 1na revelára. Sõ
refia agora ciue eu naõ falte a taõ clara
voc<tçaõ do Ceo , como efpero naõ faltar
com a divina graça fegundo as medidas das
forças · con1 que Deos for fervido alentar
n1inha fraqueza. Emfim. , Senhor , vence~
. Deo~
1

DO P. ANTONIO VIEYRA. i7
Deos. Para o Maranhaõ vou voluntario
<]Uanto à minha ·primeira intençaõ, e vio-
lento <-1uanto à.fegunda; mas muy refignado,
e muy conforme , e com grandes e!11ei·an-
ças ·, d~ que efi:e cazo, naõ foy acazo, fe-
naõ difpoíiçaõ altiffima da Providencia Di-
vina·, como jà neíle Cabo Verde tenho ex-
peritnentado em taõ manifeílo fruto das al-..
inas , <]Ue quando naõ · chegue. a -confeguir
outro , [ó por eíl:e poífo dar por be1n em-
pregada a Miífaõ, e a vida . .O muito que nef-·
t a terra e nas vizinhas fe pode fazer ein
ben1 das almas , e a extrema necefiidade ein
, que ~fraõ , ávizo em carta. particul~r ·ao
Bifpo do Japaõ , para que o cõmunique a
V . A. eo modo com que facil e ·p romp-
tamente fe lhe pode acudir. Naõ encareço
eíl:e negocio, que he o ~nico que hoje t e-
nho no mundo , e o :unico c:iue ·o mundo
devia ter , porque conheço a piedade e ze-
lo de V. A. a, qu~. N. Senhor hade· fazer
por efi:e ferviço , naõ f ó o mayor Monar-
ca da terra' , rnas 'hum dos mayores do 1
/

Ceo. ·Eu naõ me ef<1ueceréy nunca de o


rogar affim ·a Deos em meos facrific ios of-
ferecendo-os continuamente , con10 hoje
D ij · fiz :z~
18 C A R T .A S..
,
fiz os tres , hun1 por ElRey que Deos gna:r.....~
de , ·outro pela Rainha N. Senhora , e 1

outro por V. A. e o mefmo'fe farà .na rtof-.


f a Miílaõ tanto que chegarmos a eUa , e ·
erri tudo o . que nella fe obrar e merecer,,
téraõ ·S. Mageftade e V. A. fempre a pri•,
meir.a ·parte .. Princepe e Senb,or da minh41·
alma, a graça Divina more fen1pre na al-·
ma de V. A. e o guarde co1n a vida , fau•~
de, e felicidade que a Igreja· e os vaífallos
de V. A. havemos miíl:er~ ·c abo ·verde 2 s-·
<le De.ie.mbto de 1652-. · ' :;

Antonio . Vieyra.

C A·R·T ·A.-:~·VIII;
' . "

. ..
.... , ;' - ~ ' 1

//o mifTtfÜ,~{enho~. , ,.
. 'Se11ho r· · :: ··~ · ·
'
1
• • 1

D
,1 .. .. " (' .~.

O Cabo Verde dey conta a V. .A.


_da 1-r;inha partida e das 'circni:l~
. francias fataes della : e porque·n·a~
tJúelle porto naõ ficava · navio para. Portu-
. gd~
DO P. ANTONIO VIEYRA.· t9
<ra{ , e póde fer que ··eíl:e chegue primeiro;
· ~emetto nelle a V. A. a p1i.imeira yia da.::
quella. ca.rta, efper ando da grandez<l; e ele.:..
n1enda de S. Mageíl:ade e V . A. ·q ue· ·c o-r
nhecido por taõ ·evidentes demoíhaç_o~ns
ter eíl:a a vontade Divina , S• .Mageíl:ade e
V. A.· fe íirvaõ de confórmar com ella ai
orden1 que en1 contrario· me· tinfraõ, dado j
pois naõ fuy eu o que a defobedeci ,- fenaõ
Deos o CjUe por meyos taõ violentos , e in..,
voluntarios iinpedio a execuçaõ dell~. Em·..
fim Senhor , peos qúis que com vontade
ou fe1n ella eu- vieífe ao Maranhaõ , onde
j·à eíl:ou reconhecendo cada hora 1nayores
effeitos deíl:a p~ovidencia , e experin1entan-
do nella clariffimos jndicios da minha pre...
de.íl:inaçaõ , e da de muitas · almas. ; e por
eíte mey·o difpoem que ellas, e eu nos fal..e
vemos. Eu agora con1eço a fer ·R eligiofo ,
e efpero na bon:daae Divina , . que confor-
me os particulariffimos ,auxílios com . que
me vejo affiíl:ido da fui poderofa e liberal
.maõ, acertarey ao fer , ever'dadeiro Padre da
Companhia , que no .conceito de V. Á. ª"'
inda he mais : e. fe"m dlivid.a fe experim eu.:.
-ta afiim neíl:as partes , _·onde -poít~ que haj '}
· outras
o . ' C ." A R 'T A S , ' .
~ntras Religioens, fó a eíl:a pare'ce que . deo'
.Deos graça de aproveitai· aos proximos. O
defamparo e neceilidad'e efpiritual que aqui
fe padece, he verdadeiramente extrema, por--
<jUe os Gentios ~e os. Chriíl:ãos t odos vi:vein
c:iuaG em igual cegueira ·por falta de cultu-
ra e doutrina ' naõ havendo quem cathe...:
quize , ·ne,m adminiíl:re facran1entos ; ha,...
vendo (porem que1n ·c ative·,. e quem tfra~
nize, e, o q_ ue he peor, quem o approve ,
con1 que Po1:tuguezes. , e Indios , todos fe
vaõ ao inferno. Ao-Bifpo do Japaõ dou n1ais
particular relaçaõ de tu'do pai·a que o r,e-
prezente a V. A. de cuja grande piedade'· e·
zelo efpero nos n1andarà .focc_orrer e 01n
maior numero de Milliónarios , que he o de
~ue [ó tem·os neceífidade ' e. naõ podetn
vir tantos que naõ fejaõ_ne~éífarios rr1a:is.
Ah Senhor que fe perdem infinitas . almas
remidas ·có1n .o· fángue .de "Chrifro, por ·naõ
haver .quem as allu1nie corri. ·a luz da~ Fé ~
havendo tantas Religioens néife Reino , e
tantas letras ociofas! , A'c uda S. MageHade;
Senhor, e ainda V. f\. a ·eíle defe'tnpar~ por
. piedade .' por chriíl:andade :1 e por efÇru:..
· pulo de que de· todas eftas a:ln1as [e hade
p~~

/
DO P. ANTONIO VIEYRA. 31
pedir conta aos Reys de Portugal , ., ~. a V~
A. como a Princepe. do Brazil. Naõ peço
rendas , nem fufl:eutaçaõ para os que vie-
rem, que Deos os fufrentarà: o qrte ,fó pe-:_
ço he que venhaõ , e qut'. fej aõ ipµipo~ ..; ·~
de 1nuito efpirito; porque ainda qlJe os qu~
t::à eíl:amos, vamos fazendo , e hajamos d<:S
fazer tudo . o que podermos , ferri perdoai: ·
a trabalho , nem .perigo , J'r!effis quiçle~
multa , operard autem pauci : e fe .Chri.íl:o diz :
. Rol,ttte ergo Dominum mejfis 1 ut mittat ·ope-
rarios in vineam fitam , S. Mageítade e V.
A. tjue e.íl:aõ no feo lugar , faõ . os fenhores
de.íla vinha., a cujos Reaes pês pro.íl:rados o ·
pedimos com toda a iníl:ancia. Ao Procura-
dor do Brazil efcrevo trabalhe por nos
mandar em todos os navios alguns fogei-
tos , pedindo-os aos Superiores de ambas as
Províncias , mas naõ cottfio que e.íl:a dili-
gencia feja efficaz , fe V. A. naõ interpu-
zer fua Real authoridade, mandando-o affim
aos mefmos Superiores por huma ordem
muy apertada. Sejaõ, Senhor, e.íl:as as prin-
cipaes cadeiras que V. A. reparta: venháõ
muitos meíl:res da Fé a eníinar e reduzir à
Chriíl:o eíl:as gentilidades ; e perfuada-fe V.
A• .

Jo
ri . e "A R T A s
A. tneo Prü~cepe , que lhe haõde preíl:ar
mais a V. A. para a defenfaõ e eíl:abilida. .
de do Reyno -os exerci tos de almas que cà
fe redu.z irem ; que os de [oldados .que là fe
aliíl:arem. Non falvatur Rex per multam
virttit'em, ·&gigas non falvabitur in multitu-
dine virtutis futC, Fallax equu~ ad falutern: in
ahun:dantia aute virtutis fuce non falvahitur. Eçce
oculi Domini fuper mettJentú eum , et in eis ,
qul fperant fuper · mífericordia ejus. Pfalm.
3 2. 16. A mqito alta , e muito poderofa
peífo,a de V. A. guarde Deos como os vaf-
fa11os de V. A. e a Chriíl:andade hà 1niíl:er.
Maranhaõ i. 5. Janeiro ·de 16 5 3; ' ·

...
AntoJ?.iO Vieyra~
..'
DO P. ANTONIO VIEYRA. 33 .
·.
CARTA IX.
'A E!Rej fabre ds necejfida-
des ejpirituaes doMaranhaõ.
-
Senhor.
OMO. V. Mageíl:~de foy fervido en-
comendatme taõ particularmente a
J .converfaõ da g~ntilidade deíl:e Ef-
tado, e a confervaçaõ, e augmento de nof- ·
fa Santa Fé nelle, faltaria eu muito a eíl:a
obrigaçaõ , e a da conciencia , fenaõ déífe
conta a V. Magefi:ade dos grandes defem-
paros efpirituaes , que em todas efta~ par-
tes fe padecem , apontando com toda a
brevidade que 1ne for poffiv:el os danos ,
as cauzas delles , e os remedias com. que fe
lhe pode e deve acudir.
. Os moradores deíl:e novo mundo [ que
affim fe pode chamar] ou faõ Portuguezes,
ou Indios naturaes da terra. Os Indios hun.
faõ gentios que vivem nos fer.toens, infini-
7ôm. /., · E tos
34 C A R T A~ S
tos no numero , e divedidade de lingoas :
.o utros faõ pela mayor pàrte .Chriftãos
que vivem - entr~ os Portuguezes·~ Défres que
vivem entr_e os Portuguezes ·' huns faõ li-
vres , que eíl:aõ ttm fiias _aldeas-: outros L'lÕ
parte livres., parte cativos que rr1oraõ com
ós mefmos Portuguezes , e · os fervem em~
fuas cazas , e lavouras , e fem os quaes el-
les de neahurr1a maneira fe podem fuíl:en...
tar.
Os Po.r tuguezes, Senhor, vive1n nefi:as
partes ern- necefiidade efpiritual pouco me...
nos que extrema , com grande falta de
-doutrina, e de íàcran1éntos, ·havendo rt11ü"'
tos delles _que naõ ·ouvem rniffa. , nen1 ·pré ...
gaçaõ. em todo o . anp.o pola . naõ terem ·,
nem fabem_ os dias f'lntos para . os. güaH.{a...
re1'n , nem os guard.a:õ , ·ainda que os fai . .
baõ : nen1 hà quem a iífo os obrigue; ·o qual
defen1paro ht: ainda n1a-yoet· nas mulh~·res ,
fi~hos , e filhas, n1orrend0 ·naõ poucas ve ...
zes· huns e outros fem confrífaõ. · '·
A principal cauza d.ifto ( deixando ou...
tras rn~is remotas ) he a falta de Çu1·as e
Paroc_os ; porque em· toda a Çapita~ia
·do Maranhaõ naõ )1a mais que· dua~ Ig-~·€ ..
jaS
DO P. ANTONIO VIEYRA. 35
Jas curadas, huma na·terra firme, outra na
·Ilha, que he mais de fete legoas de co1npri-
do , e outras tantas de largo , e toda po-
voada ; co1n que· he impoflivel acudir hum
fó Sacerdote a todos os que o haõ- miíl:er,
principalmente havendo-fe de hfr a pe ,
porque em todas dlas pai·tes naõ ha ·nen- ·
hum genero de cav.algadura~ Accrefrenta-
fo a efra grande falta de Sacerdotes , ferem
·pela mayór parte os ·que ha, homens de pou. .
cas letras , e menos zelo das al111as ; por-
que oú vieraõ para · ca , degradados , ou
pof naõ terem preíl:imo ·c0111 ' que ganhar a
vidâ. em outra parte ' ' a vieraõ 'bufca,r a ef-
tas. Tambem pertence eíl:e Bíl:ado no efpi-
ritual ao Bifpo do Brazil , o qual refide
na Bahia, que he diíl:ancia de quinhentas
legoas com os ·O landezes no meyo , e fe1n
recurfo fenaõ por via do Reino ; com que
eítas ovelhas naõ- podem fer ouvidas , nen1
vizitadas , e vivem verdadeiramente fem
·paíl:or. · · .
· O i'emedio -deíl:e graviffirno dano he
o niultiplicarem-fe as Igrejas , e Curas nos
l~ga-res que parecerem n1ais actõ1nodados :
have( hwna Peiloa Eccleftaíl:ica de letras ,
E ij e
3~ . . C A R T A S .
' e zelo' que fej'a adminiíl:rador de todo eftê
Eítado, ou tenha ·o utro género de fuperríi.:. ·
tendencia. fobre o efpiritual de to4o elle ,.
como 11.à no Rio do Janeiro: ou ao ·menos
que ·para fuprir todas eítas faltas fe ·mande
i1umero bafrante de Religiofos, que tenha()·
por infrituto a falvaçaõ das aln1as, e que fe ...
j aõ peífoas o bfervantes do tal iníbtuto ; por-·
que o que tem feito grande mal a efl:e Ef.~
tado, faõ homens Religiofos de vida e dou... ··
' trina pouco ajuíl:ada. . '
- Os Indios que vivem erri caza dos Por~ '
tuguezes , pela n1iferia de feo eíl:ado , e pe..
la natural rudeza de <juafi todo~ , ainda
.Cm·rrmito n1ayor parte lhes ,tocaõ todos ó~
liefemparos efpirfruaes a.ciina : r~ferid0s. Múi...
tos delles , vivem "tf· niorrem .pagaõs , fem
feos · fenhores , nerr1 Parocos lhes pro cu:.
rarern baptifmo ·, ne111 fazerem efcrupulo
diífo. .os·que . terr1 noine , , e baptifmo . de
Chrifrãos ,, inuito.s. n _receberaq fom fane•'
r·en1 o que recebia,õ , e viven1 taõ gentios
com.o dantes eraõ , ·fendo muito raros , ain...
da dos n!ais ladinos ; os q_u.e fe defohrigaõ
·p'relá Quar'efma
. -'· e ha ·ChriftãoS' ·de feífenta
annos de idade que 'tmnça [e confeíifrraõ ..
" ' '
i

Os
(
'l

DO P-:. ANTONIO. VIEYRA. 37


Os 1nais delles perguntados quando fo con-
feffáraõ a ultiina ves , refpondem que .com
o Padre Luis ·Figueira , o qual ha de~·
xafete annos que falta deíl:e Eíl:ado. O mor-
rerem fem confiífaõ he couza muy ordinar
ria , pricipalmente os que rrioraõ fora da
Cidade ., e tambem he ordinario o a bufo
de lhes naõ darem a Cõmunhaõ , nen1 na
hora da morte. · ,
As cauzas taõ grandes deíl:e dano , e
perdiçaõ das almas , faõ a ·mefma falta de
Curas , e .Sa.cerdotes , e principali:nente de
Re.ligiofos. , que tenhaõ por iníl:ituto eíl:u-
dar e faber a lingoa , porque fe1n e_lla a-
proveitaõ pouco os Curas , e fó os·,q ue afa..,
bem ,lhes podem ,adminiíl:rar os Sacramen""
tos como convem , principalmente o do
Baptifmo, e da Confiífaõ , que faõ os mais.
neceífarios. .
O rem.edio he haver baíl:ante numero
dos. fobreditos Religiofos que doutri11.em .os
lndios , e ·baptizem e rebaptizem os <jUe
eíhverem ínal baptizados , e lhes ~ admini ...
ft.tem os demais· Sacramentos , como j a ·fa-
zem com grande fruto , mas faõ poucos
para t.aõ .gra_nde feara~
Eíl:es
:n
38 ' e· A_- R T A S
Eíl:e dano he commum a todos os ln•
dios. Os que vivem em caza dos Portugue-
z es tem den1ãis os cativeiros injuíl:os que
inuitos delles .padecem, de que V. l\1agefra•
de tantas vezes ha íido infonnado , .e que
porventura he a ·principal cauza de todos.
os . cafi:igos qu·e fe experimentaõ ein todas
.noff as Conquiftas. ·" · . . _
As cáuzas defi:e dano fe reduzenr to~
d as à cubiça , p rincipalmente · dos mayô·..
res. , os quaes n1andaõ fazer .entradas p'elos
fertoens , e das. gt1erras injuíl:as fem authe...
ridade , nem juíhficaça.õ. al'guma ; e: ainda
que trazem alguns verdeita111ente cativos,,
por . eíl:arem em cordas para ferem comi,.-
1

dos' ou por ferem efcr-avos em [uas terras~


os rnais. delles faõ livres , .e tomados.. p.o:r
1

força ou por engano , e aílim os vendem


e fe ferven1 dellcs , como verdadeiros cai..,
tivos.
' t
A •

· O reme.d io que V. Mageíl:ade , Senhor _,;


e os· Senhores Reys · anteceífores de V. ·Ma:..
geíl:ade· procuràraõ dar a eíl:a tirania ., foy
·mandar totalmente ·ferrar ·os fertoens , . e
prohibir que naõ J1ouveífem refgates , e .ele...
clarar por livres a todos os jà refg·atado~
de
DO P. ANTONIO VIEYRA. 39
de qualg.uer modo que o foffem. Eíte re...
medi o , Senhor , ·verdadeiramente he o n1ais
effeétivo de quantos fe podem reprezentar;
mas he difficultofifiirr10 :t e quafi impoffivel
de praticar, como a experiencia tem mof:
trado en1 todos os tempos , e muito tnais
no~ motins defre anno , fundados todos erh
ferem os Indios o u.nico remedio e fufrento
d.e~es · moradores , que fem ·elles perece-
nao
O n1eyo que parece mais conveniente ,
e praticavel ('como jà fe tem começado a
executar .) he exarninarem-fe os cativeiros,
e ..ticarém livres o~ que fe acharem fer li-
vres , e cativos os que fe achare111 fer ca""
ti vos.
Mas para que efre exame feja co1n a in'!ll
teireza e juíl:iça que convem , naõ bail:a
que os Officiaes da Camera o julguem, ain..,
da que feja com affiíl:encia do Sindicante:
mas he neceffario, que o n1efmo Sindicante
approve os ditos ·exames , e julgue todas
eitas cauzas e proceflos dellas ; e neíl:a for ... ·
ma parece que fem nenhu1n encargo de
cori ciencia: poderaõ ficar cativos os ciue fe
julgarem por taes. E porque o Dezenibar-
g?-dor
40 . · C A R T A S
gador Joaõ Cabral de Barros_he peíl'oa_ de .
taõ boas letras , e procede con1 tanta JUf-
tiça e inteireza em todas as 1naterias, pare-
ce que tudo o que V. Magefrade houver
de fiar de hum grande Miniíl:ro· , o pôde
fiar delle.
E quanto aos refgates para o futuro , fe
fe houverem de faze·r entradas ·fó a eífe
fim , ferà dar outra ves nos me.finos incon-
venientes. Mas porque çonvem <]Ue haja os
·ditos ·refgates ; .ao menos por remir aquel ...
las aln1as ; o modo com que fe podiaõ fa":'
zer juíbficada1nente he· eíl:e. Que: as entra-
<las·. ao íertaõ fe façaõ [6 afim de hir con..,
vert~r os-gentios , e r~duzillos à fog_eiçaõ
da Igreja e da Coroa de V. Mageíl:ade { cód
·1110 .V. Mageíl:ade n1e tem ordenado) e que
.fe neífas entradas fe acharem· alguns Indios
·en1 cordas ou legitiman1ente efcravos, que
:eífcs fe poífaõ comprar ·, e ,refgátar , ap ..
·provando-o primeiro os Padres que forem
à dita Miífaõ , nos quaes ·, quando n1enos ,
·haverà fempre hum· Theologo ·e hum bom
lingoa; e para qu.e iífo fe configa con10 con-
vem , que o Capitaõ ·que houver de levar a
a
[e? cargo dita entraéla' naõ Jeja fó··e leito
pelo
DO P. ANTONIO VIEYRA. 41
pelo Capitaõ Môr, ou ·Governador, fenaõ
por elle, pela Cam_era , pelos Prelados das
lleligioens e Vigario geral , porque fe a
dita Capitania for data do Capitaq Môr ,
mandara quem và bufcar mais f~os interef-
fes ·que os de Deos , e do bem commum.
- Os Indios gue moraõ e1n fuas Aldeas
com titulo de livres , faõ n1uito mais ca-
tivos , que os que moraõ nas cazas parti-
culares dos Portuguezes, fó com huma dif-
ferença_, quo c~da tres annos ten1 luun nov:o
Senho1~, que he o Governador, ou Capitaõ
.Môr gue ·vem a eíl:as partes, o qual fe fer-
:ve d.elles co1no de feos , e os trata como
:alhe0s ; ein que vem a eíl:ar de muito peor
condiçaõ que os efcravos , poes ·ordinaria-
ni.ente os ocupaõ em lavouras de tabaco ,
que he o mais cruel trabalho de quantos
hà no Brazil , man<laõ-nos fervir viàlen-·
-tamente a peffoas; e em.- ferviços a que na~
vaõ fenaõ forçados ,. e morrem là de puro
fentimento : tiraõ as lnulheres cazadas d:is
~A.Jd~as , e poemnas a fervir en1 cazas par:..
ticulares con1 grandes deferviços dç D,__os,
-0 queixas ·de feos niaridos, que ·depois de fe-·
m.elhantes jornadas muitas vezes fe apar:
····~ Tem. L F ' tao
Af._l .C A R T A S .r
tao ddlas, naõ lhes dâõ tempo para lavra-
rem e fazerem fuas roças, co1n que elles, íuas
mulheres e feos filhos padecem e perecem 5
" · en1fi.m em tudo faõ tratados con10 efcra. .
vos , naõ tendo a liberdade . mais que no
nome, pondolhes nas Aldeas por Capitaens
alguru Mamelucos , ou homens de feme·-
lhante condiçaõ , que faõ os executores
deíl:as injuíl::icas; com que os triíl::es Indios
efraõ hoje quafi acabados e confumidos, e
para naõ acabarem de fe confumir de todo,
efriveraõ abaladas as Aldeas eíl:e anno pa•
ra fe paífarem a outras terras, onde ~ive.f..
fcm fora defra fogeiçaõ taõ mal fofrida ; e
fem duvid1 o fizera·õ , fe por meyo de hum
Padre bo1n Lingoa os naõ reduziran1os aC)llC
efperaíle1n nova refoluçaõ :de _V. Mageíl:ade:
As cauzas d eíl::e dano bem fe ve , que
naõ faõ outras . mais que a cobiça dos que
go-vernaõ , muitos ·d os quaes coíl:umaõ di-
<Zer , que V. Mageíl:ade os manda cà para
~ue fe venhaõ reme·d iar , e pagar de feos
ferviç:os , e que elles naõ te~ outro meyo de
p fazer ' fenaõ· efre.
O remedio que ifi:o. tern ( e ·naõ hà ou..
.tro) he mandar V: Niagdl:ade que nenhum
Go-
DO P. ANTONlO VIEYRA. 43
Governador, ou Capitaõ Môr poífa lavrar
tabaco , nem outro algum genero , nen1
por fi , ·nem por interpoíl:a peíloa -, nem
occupem , nen1 repartaõ os Indios fenaõ
quando foífe para ás fortifi caçoens, ou ou-
tras couzas do ferviço de V. Mageftade ,
nem ponhaõ Capitaens nas ditas Aldeas ,
e que ellas fe governe1n f6 pelos feos Prin-.
cipaes ., que faõ . os Governadores de [uai
Naçoens , os quaes os repartiraõ aos Por-
tuguezes pelo eíl:ipendio · que he coíl:ume
voluntariamente como livres , e naõ por
força : e <:]Ue no tocante ao efpiritual , viíi-
tem fua.s Aldeas} ou refidaõ nellas , poden-
do fer , os Religiofos , o que coíl:umaõ fazer ;
que he à fórma a que depois de muitas ex-
periencias fe reduzio o governo das Aldeas
do Brazil, fem fe intron1eterem com os In-
clios , nem os Vifo-Reys , ne1n os Gover-
nadores , mais que mandando-os chamar
quando· eraõ neceífarios para o ferviço Real, .
na -paz ou na guerra : e fó deíl:a maneira
fe poder.1õ confervar , e augmentar as Al-
deas , e viver como Chrifrãos os Indios
dellas.
;ps lndios do Sertaõ fcgundo as jnfor-
F ij mações
44 e A R T A ·s ~
maçoens que hà, faõ muitos por todos ef-
tes Rios, e no Rio .das Almazonas innume-
raveis : em todos efi:.es he verdadeiramente
extrema a neceflidade efpiritual que pa-
decem, n<;i qual neceilidade obriga fob pe--
na de peccado a charidade chriíl:ãa a que
fejaõ promptamente foccorridos de Minif-
tros do Evangelho que lhes eníinem o can1i-
nho da falvaçaõ; e eíl:a obrigaçaõ, Senhoi·,
em V. Mageíl:ade e nos Miniíl:ros 1e V.
Mageíl:ade a quen1 toca por razaõ · de feo
Officio, he dobrada obrigaçaõ; porque naõ
f6 he de charidade , fenaõ de juíhça, pelo
contrato que os Sereniflimos Reys antecef. .
fores de V. Mageítade fizer1õ com os Sum-
1nos Pontífices , e obrigaçaõ que tomàraõ
fobre íi le n1andarem prégar a Fé a t~das
as terras de filas Conguiíl:as. ··
As cauzas de. athegora fe ter feito taõ
pouco fruto com eíl:as Gentes" faõ princi-
palmente as 't iranias que com elles temos
uzado , havendo Capitaõ que obrigou a a-
tar dez tnur.roens acezos nos dez dedos das
mãos de hum Principal de huma Aldea pa-
1·a que lhe deífe efrravos , dizendo que o
havia de deixar a,rde.r , em quanto lhos naõ
· <léífe,
DO P. ANTONIO _VIEYRA.' . 45
déífe., .e ·aflin1 o fes: Efre e fen1elhantes ter-
rores _ten1 .feito o nome dos Portugnezes o-
diofo nos Sertoens , e defautorizado muito
a Fé, entendendo os Barbaras .., que he -fó
em nos pretexto de cobiva , com . que mui""
t os fe ten1' rétirado mais pàra o interioi:
dos' bofques , e outros depois de vir , fe
tornaõ defenganados ,, outros .nos . fazem
guerra , e o 1nal que podem , e todos ( que
he o qne mais fe 'd eve fentir) fe ·efraõ hin-
do a n1ilhares a.o inferno.
o remedia coníiíl:e na execuçaõ de to-
dos os ren1edios que athequi fe ten1 apon-
tado' ;' porque fe os Indios 1nal cativos fe
puferem em liberdade , fe os das Aldeas
viverem como verdadeiram~nte livres , tà:--
zendo fuas lavouras , e fervindo f61nent e
por fua von,tade , e por feo eíl:ipendio _, e
fe as entradas que fe fizerem ao fertaõ fo-
ren1 com verdadeira , e naõ fingida paz ,
e· fe pregar aos Indios a Fé de JESU Chri-
fl:o , fen1 1nais intereífe que o que elle ve-
io bufcar ao mundo , que faõ as almas , e
houver ~uantidade de Religiofos que apren-
daõ as·lingoas , · e fe exerc.i tem neíl:e ini-
nifrerio co1n ·vetdadeiro zelo , naõ .ha du;
vida,
'3 '7
46 · C A .R TAS
vidà que·, concorrendo a graça Oivina ., _éom
efta difpoíiça:õ dos iníl.:run1entos humanos>
os · In:dios fe reduziràõ facilmente à noífa
an1izade , ,abraçaràõ a Fé , viviràõ como
Chriíl:ãos , e com . as novas . do bom trata'.""
ménto dos primeiros , <trariõ eíl:es apos de
fi rnuitos outros 7 com . que alem do bem
efpiritual feo . 7 . e de todo1 feos defcenden-
tes, .terâ. tambem i Republica muitos indios
qiÍê à' íirvaõ' , ·e ·que à: defendaô, corno elles
foraõ os que e~ grande parte ajudàraõ a.
reíl:auralla. ·
Iíl:o he Senhor o que. me pareceo repre··
zent.a r a V. Magefrade por iatisfazer à mi-
nha obrigaçaõ , e por defcargo de minha
-conciencia _, encarregando muito com toda
a fi:ib1niflaõ que devo à de V. Mage~ade o
remedio defres gravüfi~os danos , que pa·~
decem taõ i~1finitas almas, de todas as quaes
Deos hadc pedir conta à V. Mageíl:ade e
muito :m ayor depoi's de chegarem às Reaes
mãos de V. Magefrade efl:as : noticias , nao
cle ouvidas , mas de vifl:as e experienda ,
mandadas por quem V . Mageíl:ade muito
·bem conhece que naõ veio bufcar ao Ma-
ranhaõ n1ais que ·º mayo1: ferviço , e a
ma·..
DO P. ANTONIO ViEYRA. :4'-
mayor gloria de Deos· , e que abaixo ·del-
le nenhuma couza procur.ou , nunca , nem
amou tanto como o ferviço de V. Magef-
t ade.
Iíl:o que tenho dito he o mefm.o que
fentem todos os que com verdadeiro zelo
do ferviço de Deos e bem -cõmum , .e com
a _larga experiencia deíl:e Eíl:ado dezejaõ o
augmento efpiritual e temporal. delle : nem
poderâ dizer o contrario , fenaõ quém fe
g overnar por razoens e intereífes p·articu·
lares , que faõ os que em tudo o tem per,...
dido . .
Pelo que, Rey e Senhor, pofrrados aos
R eaes pês ,de V. Mageíl:ade , e e1n nome de
todas as almas que nefras ·vafriffimas terras
de V. Mageíl:ade eíl:aõ continuamente def-
cendo ao inferno por falta de quen1 as dott-
trine , pedem ellas , e pedimos os poucos
Religiofos que -cà eítamos pelo Sangue de
Chriíl:o com que foraõ remidas , que fe firva
V~ Magefl:ade de nos mandar mais con1pa-
nheiros com que continuemos , e augmen- _
temos o começ<tdo : e que quando naõ ha-
ja em Portugal ( como naõ há ) todos os.
que faõ neceífarios , p-0ffaõ vir outros de
Nações
'48
1
• e A R ·r 'A s
N açoens fem fufpeita; con10 fempre fe per-
miti o, para que ajuntando feo ze1o e traba-
lho com o nolfo, ·poífamos todos juntos em-
prende~ e continuar eíl:a grande Conquiíl:a,
para ·a qual as Jorçàs f os ·dQs que cà eíl:a-
1nos faõ taõ deíiguaes, promettendo a V.
Mageílade em _nome daquelle Senhor , que
dà ~ conferva 'os R~inos , qrie eíl:a obra de
tanta· piedade e juíhça fera o n1ais ·folido
fundamento fobre que V. Mageíl:ade pode
·efb.belecer Portugal , por cuja conferva-
·çaõ , e augmento todos offerec.emos conti. .
nuament os noífos facrificios , e todas as
aln1as que por noífo n1eyo fe falvar·e m fa-.
raõ no Ceo a Deos a mefma oraçaõ. Mara...
nhãõ 20. de ~vlayo de 165 3.

Antonio Vieyra.

CAR-
.
-.!
DO P. ANTONIO VIEYRA: 4,
-C.ARTA X.
A E/Rey. ·
Senhor.

N
O fim dà carta de que V. Magdbt.(.:
de me fez merce, n1e mandaV. Ma-
geíl:ade diga meo parecer fobre a
conveniencia de haver neíl::e Efiado , on
dous Capitaens Jviôres , ou hum fó _Ç~ver­
nador. Eu, Senhor, razoens politicas nun-
ca as foube, e hoje as fey muito menos ; mas
por ob~de~er direy tofcamente "o · que n1é-
parece. Digo que menos mal fera hmn la-
<lraõ, que dous, e que mais difficultofos fe-
raõ de ·achár dous homens de bem , que
hum. Sendo. propoíl:os a Cataõ dous Ci-
dadaõs Romanos para o provimento ~e
duas praças, refpondeo que ambos lhe def-
contentavaõ,hum porque nada tinha , · ou~
·t ro porque nada lhe baíl:ava. Taes faõ os
dous Capitães Môres . em 'C_}Ue fe reparti o ef..,,
.te Governo. N, de -N .. -n:iÕ·teni·nada, N. do~·
- .'Tom. /. G N.
5..? • · ...C A R . T A S . .
N. naõ lhe baíl:a nada ; e eu naõ fey qual
he . mayor tentaçaéi , fe a rieceilidade , fe a
cobiça~ · Tudo quanto ha na Capitania do
Parà , tirando as terras , naõ val dez mil cru-
zados, como ht: notorio., e . ~eíl:a terra hade
tirar N. do · N. mais de cen1 mil cru-
zado3 e1n tres a.nnos ·, fegundo fe lhe vaõ
lo_gr.ando bem as induíl:rias. Tudo iíl:o fahe_
dq fangµe, e do fuor:· dos, triítes_ Indios ·, aos·
quaes. trata como. taQ efcra:vos feos , que
nenhum tem liberdade n·e m para deixar de
f.ervir a elle, nem P~ara poder _fervit a o~ ...
tretn : o que além ,da il}ju.íbça· Al!-e. fe faz.
aos Indios, he ·occafiaq: ·.de padetercm .rtiui...
tas neceílidades os Portugueze-s, e 'de pere-
cerem os pobres. Em huma .Ca_pjtanià def-
tas confeífey huma pobre~.· mulh~t' dtls q_ue
vieraõ das Ilhas-, ·a qua.l rµe diíf.e;cprn muitas
lagrimas, que de nove filhos, ,qu,_e tivera'; lhe
111o}·reraõ,em. tres mezes cinço filhos , d~ pu-:
r:a fome e · defemparo ; e oonfolandoa eu
pela morte de tantos filhos . refpondeo-m e:
Padr~, naõ faõ eíft!s os porque eu choro, fe ...
naõ pelos quatro q11e tenho· vivos fem ter
c.om. que os fuíl:entar. , ,,epeç9 ·a, D·eos_.1t~dos
os ·~as que _mQs lev:e. tambem, · Saõ ,lathmo~
, · .· '" fas ·
DO P. ANTONIO·VIEYRA. y1
fas· as 1niferias ·que paílà: eíl:a pobre gente
das Ilhas , porque como· naõ tem com que
agradecer , ·fe algu1n Indi0 ·.fe reparte ," nao
lhe chega a. elles ~ fenaõ aos poderof<>s ; e
h e eíl:e hu1n defe1npar9 a que V ; Magefia-
de por piedade · deveta n1andar acudir com )
effeito : mas tambe1n . a• jfr:o fe acode no$
capitulos de hum- pa:pel que co1n eíl:à 'Vay.
Tornando aos Indios do Parà, dos qua.:es 11
como 'd izia, fe ferve quem alli governá, (;o...
mo fo foráõ feos efcravos , é os tras quaú
todos occupados en1 feos intereífes , princi-
palmente no dos tabacos ; ob.rigan1e a con:-
cíen eia a i11anifeíl:ar a V. Mageíl:ade os grah..;.
des peccados , que por occaíiaõ deíl:e fer~-
viço fe comrrrntte-in. . ' . ·
Primeiramente ·nenhum defies Indios
vay fenaõ violentado e por força, e o traba~
.lho ' hé ·extefi}vo ., · e em que todos os an·
»nos morrem muitos ' por fer venenofiili1no o
vapor ·d<itabaco ·; o rigor com que faõ tr,a -
'tados he mais que de efcravos ; os nóm<.%
·que lhe chámnõ e ·que elles 1nuito fent e1n,
-felffintos; o ·comer· he quâíi nenhum; ·a pa-
g a taõ limitada, que naõ fa_tisfás a· m,enb':r
-.P3;_rte do tempo ) ·nem do ,trabalho ; e côL
G ij mo
io ,
51 ./' e A R 'T. A ·s. _,./) .
mo os tabacos fe lavraõ fen1pr·e em terras
fortes e novas e 1nuito difl:antes das Aldeas,.
efl:aõ. os Indios au"zentes de f uas 1nülheres ,
e ordinaria1nente elles e ellas em mao efl:a.!
·d o, e·oS- filhos fem quem os fi1íl:ente, por...:.
que naõ "tfe.m os pays ten1po para fazer fnas
roça:s ; ·com. que as Aldeas eíl:aõ fen1pre eni
gta:ndiilima fom·~ e'1niferia.· '1'""'atnbem aili111
áuZ'e'ntes: e ~divididos naõ pode1n · os Indios
·fer ddutrinados, e.vivem fe111 conhecimento
·d a Fé , nem ouven1 Miífa, nen1 a te1n _para
·a ouvir , nem- fe ·confe:ílaõ pela Qparefrna ·:;
nem recebem nenhu1n ·outr~- fucran1ento i
ainda na ínorte-: e ailim morre1n e'fe vaõ-à-0·
inferno ·fem haver" ·quen1 tenha cuidado de
. . feos corpos, ne1n de fuas almas ·: fendo j1:1n;..
ta1nente cauza efi:as crueldades de qüe mui-
tos Indios jà Chrifi:ãos fe auzentaõ de fuas
povoaçoens·, e fe vaõ p~a. a ºgentilidad6 ·, , e
de que-' :os Gentios · do fertao- ·naõ queiraõ ·vir
·para nôs , temendo-fe do trabalho' a·que os_
obrigaõ ' a que elles ae nenhum modo . faõ
coíl:umados, e ailimfe v.em a perder as cõn-
verfoens , e os jà convertidos--: : ·.e .os cque go-
. vernaõ faõ os ·primeiros que · {e perdem ,.,. ;e
o( feg:undos feraõ os qu~ os.-. confeb.tem: ; e
.., · ·.· iíto
DO P. Al~TOI~IO VIEYRA.- 5l
iíto he o que cá [e faz hoje ' e o que fe fez
athegora.
Affin1 ciue , Senhor, concienda e ' mai~:
conciencia ·he o principal e unico talento
Gue fe hà de bufcar no's que vieren1 gover-
nar efl:e Eíl:ado. Se houveife dous ho111ens de
·c onciencia, e outros que ·lhe fi1cceddfem,
naõ haveria inconvenientes ein eílar o ,Go-
verno dividido. Mas fe naõ houver mais que
hum, venha hum que governe tudo, e tra-
t e. do krviço de Deos e de. V. Mageíl:a.de, e
{e naõ houve.r nenhu1n , como athegora pa-
rece que naõ houve ' n,q.õ venha nenhun1'
-qqe melhor fe goverúarâ o Eítado fem elle,
que com elle; fe para . ajufl:iça houver hu 1n
l~etnn:lo~:e.éto _ ~pára b politico baíl:a .a .-Ca-
·mera., e para a guerra \~m Sargento Mayor,
e eífe dos da terra , e naõ de Elvas , nem
de Flandes i porque eíl:e Eílado tendo tan-
t as l~goas de cofl:a e de ilhas e de rios a-
bertos , naõ fe háde defender , ne1n póde,
con1 fortalezas' nem con1 exercitos' fenaõ
com afialtos, com canoas, e principahnen-
.te com Indios, e muitos Irtdios; e eíl:a guer-
ira fó à fabem fazer os moradores que ·con-
·quiíl:araõ ifto , ~ naõ os _que vem de: Por~
· - tugal,
'-11
~4 CARTA' S
tugal. E bem fe vio por experiencia , que
·hu111 Governador gue veio de Portugal ,
N. de N. perdeo o .Maranhaõ, e hum Ca...
pitaõ ~Iôr Antonio.Teixeyra que cà fe ele ..
geo o 1i:eíhmrou, e iíl:ofem [ocorro do Rei-
no. Aqui ha ho111ens de boa calidade que
podem gover~ar com .rriais . noticia' etam-
·bem com 1na1s ·remor : ·e ainda que tratem
d.o feo intereífe ' fe1npre ferâ com muito
mayor m?deraçaõ , e tudo o <-1ue grang~a.:
rem ficara na. te1~ra , com que · ella fe hira.
·at~grnentando: e fo desfrutarem a herda.de jl
forá como donos , e naõ coino rendeiros ,
que he o ~ue fazem os que vem de Portu-'
gal. Mas huma vez que os Indios eíl:i~·erem.
independentes dos Governadores, arranc~."ª.
da eíl:a rais , que he o peccado capita:l e
original defre Efrado, .ceífaràõ tambem t<?"'
dos os outr?s que: delle fe fegue~ , e Deos
terà mais motivo de nos fazer merce. · · ·
Efre he, SenhÓr , o ier1tir de quaíi todos,
mas o 'tnco fentir ., e o meo -chorar , e ·o
meo lamentar , he que tenho vindo a efre
Efrado , e trazido 'a eHe t~ntos Religiofo·s
muito fervas de Deos [ó com intento de· o
fe~virmos mais e com 1nais qui::.:taçaõ , e
de
DO P. ANTONIO VIEYRA. ;_5
de naõ tratarrnos de outra couza que da
fal vaçaõ de noífas almas , e das deíl:a po-
bre gente , frm nos divertirmos a nenhum
outro cuidado ,. como athegora pela. banda~
tle de De<?s temos feito , e que , a pezar de tu-
do iílo , feja taõ poderofo o Demonio nef-
te Efi:ado , e V. :Niagefi:ade -taõ mal fervi-
do nelle , que os que mais nos deveraõ fa::;
vorecer e ajudar , e ainda compadecer-fe
de noffos trabalhos, por rraõ dizer , edifi-
car-fe da confrancia e alegria com que os
vem padecer e defprezar, eíles fejaõ os que
nos ten1 poíl:o no mayor trabalho de todos,
perturbando noífa.s Miífoens , impedindo o
remedio e falvaçaõ de tantas almas , e fo . .
bre tudo a quietaçaõ dás noífas , principal-
mente da minha que he a· rpais fraca, fen""
dome neceffario andar com pleitos , e re""
querimentos, e informaçoens , e ainda defcer
ao particular de efcrevervidas e procedimen~
tos alheas ., de que fó Deos he verdadeiro
Juiz , e o que eu náõ poífo fazer fen1 gra n-·
de pena , e ainda efcrupulo , pofi:o que tu...
cio o que digo, Senhor , he fem payxaõ , ne1n
odio a~g?m c?ntra as peífoas de quem fal-
lo , e fomente pqrque V. Mag~íl:ade naõ
, pode
56 . C A. R T A S .
.Pode deferir ao remedio que pedimos fem
Ter inteiramente inforn1ado , e eíl:a infor-
maçaõ fe naõ pode fazer ft:m nomear as pef-
foas ~ue nos encontraõ , e as cauzas e in-
tereífes que a iíl:o as movem, para que fe ata--
lhem. ·
Aílim que, .Rey e Senhor, V. Mageíl:ade
mande con.Gderar fe he bem que eíl.:es In-
dios íirvaõ a Deos, ·a V. Mageíl.:ade, a Re-
publica ' aos pobres ' e a confervaçaõ de
muitos outros Indios: ou que, defprezados
todos e.fl:es refpeitos , Grvaõ com tantas of-
fenfas de Deos aos intereífes de hu1n f6 ho-
1nem ~ que he· o que fempre fizeraõ e fa-
zem. E porque a difrancia do lugar naõ fo,,..
fre dilaçoens, nem interlocutorias, V. :fyfa-
gefrade fe firva de mandar tomar no 11arti-
cular de noífas Miífoens hun1a refoluçaõ ul-
tima , com a ·qual nos livre V; Mageíl:ade
por huma ves de requerünentos e de de-
mandas com os Miniíl:ros de ·V. Magefl:a...
de ; ·porque fe naõ eíl:ivermos totalmente
izentos delles' nunca poderemos confeguir
o fim para que viemos, da converfaõ e fal-
vaçaõ das aln1as , e ferà melhor.retirarmo ..
nos a-tratar f6 da quie~açaõ das no:ífas.
A
DO P. ANTONIO VIEYRA: '"57
A muito Alta ·e muito 'poderofa ·peífoa
de V. Mageíl:ade guarde Deos como a Clui-
ft andade e os VaíEillos de V. Mageíl:ade
h avemos miíl:er. Maranhaõ 4. de Abril de
J.6 54·
· Antonio Vfeyra.

CARTA XI.
A E,!Rey.
Senhor."
ECEBI a carta qae V. Mageíl:ade
me fez merce mandar efcrever , e
. _ · depois ·de a venerar com todo o af-
fecto que devo , achou a minha a!1na nel-
l a: toda a cônfolaçaõ-que V . Mageíl:ade por
fo::i: _piedade e. grandeza quls que eu com
dla recebeífe .. ·Dou infinitas graças ~ Deos
pe~o grande zelo da jufriça e L'llvaçaõ das
almas que tem poíl:o na de V. Mageíl:ade,
para que aílim como tem fido . reíl:aurador
~a 1iberdade dos Ponuguezcs , o [eja tam-
. Tom. l -· H bem
·rS ' . e A R T . A' s .
·hem d.a~ deíl:es· pobres Braz1s ,, qüe hà. trin~
ta e outo ah.nos padecem taõ injriíl:os cà..,
-tiveiros e tiranias ·taõ indignas do nome
Ehriíl:aõ. Eu li ::i.os Indios aflim do Parà co~
n10 deíl:e Maranhaõ a carta de V. 1viage:-
íl:ad~; tr.adu~ida na fua lingoa , e com ella
ficàraõ n1uy confolados, e animados, e fe a-
cabaraõ dedefenganar,que o naõ frrem athe-
gora remediadas fuas o.ppreífoens , era por
naõ chegarem aos ouvidos de V. MageH:a-
de feos clamores : efperaõ pelos effeitos
defras promeifas , tendo por certo que lhe
naõ fuccederâ com ellas o que athegora com
as demais , pois ·as vem firmadas pela Real
n1a.õ de V. Magefl:ade.
· V. Mageíl:ade me faz merce dizer , qué
mandou fe con-firmaífem os ·d efpachos com
tudo o que de cá apontey ; ~nas temo que
aconteça ao Maranhaõ o que nas enfer-
midades _agudas , que entre as receitas e os
xemedios, peore o enfermo de maneira , que
quando fe lhe, verri a applicar, he neceífario
que fejaõ outros mais e.fficazes. Tudo nefl:e
Eíl:ado tem deíl:ruido a ' demaziada cobiça
dos que governaõ, e ~inda depois de taõ a•
cabado , naõ acabaõ de" continuar· os me
~ . yos
DO P. ANTONIO VIEYRA. 59
:yos de mais o confi.1111ir. O Maranhaõ e o
Parà he huma Rochella de Portugal., e hu-
.ma Conquiíl:a por c_onquiflar ·,: e hum a tér,
ra ond·e V._Mageíl:ade he. nomeado , ·mas
naõ obedecido. , , · i·
.' Vim com -as ordens de V. , Mageíl:ade ,
.em que tanto ·me encarregou a confervaçiõ
deíl:as Gentilidades ·, e aos (Govern.ador~s <t
Capitaens. Môres que ·me deífeni toda _a a-
juda , e favor que lhe pediífe para as. jor-
:n adas: que fe- houveífem de fazer .'ao (erraõ.
Aprezentey as ditas 0rdens a:o .Capitaõ M.ô r
-:N. ~e N. e togo _aífentamos que a primeira
-Miífàõ foífe o defcobrimenro '. dos Indios
lbirai arâs , de que há fama neíl:as partes
que:- faõ defcendentes ·de homens de Eur.opa
que aqui vieraõ dar em hum naufragio. Fef-
fe eíl:e ajuíl:a1nento no primeiro de Março
de 1653. para fe .e xecutar em Junho do
·n1efmo anno : e fazendo eu'.. todas as dili-
.gen cias, e muitas mais das que me tocavaõ,
.o Capitaõ Môr me foy en.tretendo fempre
,c om promeífas e de1non~haçoens exte-
riores .de prevençoens a_the panfr o ·ultimo
navio daq_u elle anno, paraque eu jà 'n aõ ti..
:yeífe por tinde avizar a V.- 1viageítade. Par. .
, H ij . t.ido
'-14
60 e 'A R T A s· .·
tido o navio , fuy às Aldeas a fazer reze..-
nha da gente e das armas que tinhaõ ·para
a jornada ,.-e tanto que o ·capitaõ Môr me
teve tambem. auzente ' fez numa junta a
que chamou as peífoas que elle quls , e por
feos votos , poíl:o que naõ de todos ~ fe af-
fentou , que naõ era tempo de hir ao dito
dt!Ícobrimento ~ e ·diífo · fe fez hum auto ,
com que ficou desfeita a Miífaõ. Eíl:e,. ·Se·-
nhor , foy o pretexto , mas a cauza que fe
teve por vetdadeira, era , porque.os Indios
neíl:e Maranhaõ faõ poucos. , e fe queria a...
proveitar delles COlilO aproveita , . OU OCCU-:-
.pando-os em couzas de feos intereifes , ·0t -
repartindo-os com quem lhos f a,be ag·r ade;
cer. E prova-fe claramen·te ·que·núncá teve
tençaõ de que a jornada Je fizeífe- ; porque
havendo de · fer ·dezoito ou vinte·· Canoas
as que havia de ter prevenidas, pedindolhe
cn hun1a ; tanto que fe desfez , a ·Miífaõ pa:...
nt hir ao Par:i' cuíl:oulhe rriuitO "O bufcalla
para ma dar: e [obre tudo nv i11efino tem·
.p o em que fe havia de ·difpôr a jornada ,
n1andou eil fa·z lr duas , ·grandes ·lav.ouras
.{,k tabaco , as .quaes . era forÇa ..qu<t1 fo .co-
lhcífem e bcnefiçhifen1 no. roefn10 terripo;
epe"".
DO P. ANTONIO VIEYRA. 6r
e pelos mefmos I~dios que haviaõ de hir a -
ella, por naõ haver outros. E naõ he de crer
que hum h~mem que he pobre , e tem de-
zejo de o naõ fer 1, quizeífe perder a fua la-
voura, ~plantar o que naõ havia de colher.
E eítes indicies eraõ taõ manifeíl::os ainda
antes de fe defcobrir o effeito delles , que
por vezes mos avizàraõ os Padres que an-
.davaõ pelas Aldeas, advertindome que me
·naõ fiaífe das promeíias do Capitaõ Môr ,
porciue elles naõ viaõ difpofi.çaõ nenhuma
11os. I ndios , e os trazia o dito Capitaõ Môr
occunados
L
todos em cou.zas muito alheas
.
do
noffo penfamento. Finalmente o tempo em
que a !Vfiíiaõ fe aífentou, era naõ fó baftan~
te , fenaõ dobrado· do que fe havia miíl:er
para a prevençáõ , e difpàíiçaõ della ,
-<juanto vay de Março a Junho. A!Iim que
.fe faltou o tempo , foy porque o naõ qu1s
'. a prov,eii:ar ~ quern tinha obrigaçaõ diífo, e
·mais fazendo1he· eu continuas len1branças,
_cómo fazia. ·· ·
Defenganado deíl:a Miífaõ, ou engana-
do nella , -partin1.e para. o Parâ com os Pa-
dres que tinha detidó, e tratando de paífar
·ao Rio das Alinaionas me offereceo o Ca...
· pita3
~~
6i, C A R T A S .
pitaõ Mô-r dalli N . do N . outra Miífaõ pa...
ra o Rio dos Tocantins, ern que fe dizia ef-
t-aren1 abaladas muitas Aldeas de Indios pa-
ra fe decerem. Aceitey ,. e tratey logo de
fe difpôr tudo o que nos era neceffario ,
mas as traças e enganos com que neíl:e ne-
gocio fe houve N. do N. e as maguin.as
que ordio para levar o effeito deíl:a entra-
da ao fim de feos intereífes , he im poffivel
podello eu.reprezentar a V. Magefl:ad ~ . Pri--
111eiramente dizendo elle que os Indios eraõ
·ni.ais de ·dez , ou doze mil , tratou de os
repartir todos pelos n1oradores , que era
· hum modo corado de os cativar e vender ,
fem mais differença que chamar a venda
repartiçaõ, e ao preço agradecimento. Por
. vezes me diífe que os havia de repartir na
forma fobredita, offerecendon1e que tom a..,
ria del~es para a_s no!fas Aldeas *do Mara··
nhaõ e Par~ tod~s os que qui~eífe , o que
eu de nenhuma maneira aceitey : fó diíle
que os Indios, _quando guizeffem vir por fu a
vontade , fe haviaõ de pôr em fuas Aldeas
nos lugares gué'foífem mais accõmodados à
fim converfaõ e confervaçaõ , porque iíl:o
era o que S. Mage.íl:ade ordenava, ·e o con..
trario ,
DO P. ANTóNlO VItYRA. - ·~3
t rario, .n1anifdta violenci_a e injufHça. Pro-"
curey gue antes que os ditos Indios defcefiem
do fertaõ _-, fe lhe fizeífem mantimentos ;
p ara qJ-1e vindo naõ morreífe-1n a fome , co-'-
1110 fuccede ordinariàmente ein femelhan-
,tes cazos; mas.N. doN. ine refpondeo por
vezes , que morreífem muito embora , que
n1elhor era -rnorrerem cà que no fertaõ ,
.porque morriaõ baptizados. · ·_
Eíl:a he hum a das cauzàs gue te1n .def:
traido infinidade de Indios nefte ·Efta--
d.o , tirarem-nos de fuas terras e trazerem-
n os ás noffas fem lhe terem prevenidos os
m antimentos de que fe J<ode fuíl:entar ; .
mas faze1n-110 _,_affi1n os. Clúe govetnaõ, por·-
que fe houveren1 de fazer as prevençoens·
neceífarias, hade-fe gaíl:ar 1nuito ten1po nel-
las , e entre tanto pa!faõ-fe os feos t res an-
n os , e elles antes guerem cincoenta Indios
que os íirvaõ , ainda que 1norraõ quinhen--:
tos , que 1nuitos n1il vivos e confervad os ,
de que elles fe naõ haj aõ de aproveitar. En1-
fim depois de grandes b atalhas vin1 a con""'
fe guir que os Indios fe houveífem de t raz er
para quàtro Aldeas das antigas do Parà_, em-·
que fe pudeffem me11os incommodament~
· '."' ·

- do11..
•'l;l
64 C A R '""f A S
·doutrina~·, fendo que V. Magdtade nas ó .1·...
dens que. foy fervido darn1e, ordena que 9s
·Jndios que defcerem do fertaõ fe ponhaõ no
luga~ que eu eleger e julgar por mais ton·+
veniente ; mas nada diíl:o me quer confen~
tir nem gúardár_ N. do N. , e ainda no a-
juíl:amento das quatro Aldeas referidas fal-
tou logo com a palavra mandando que fof-
fell?- trazidos os.·Indios para outo Aldeas , e
eífas ·as que mais acornmodadas ficavaõ aos
'feos tabacbs e outros intereífes. · .
Nas f obreditas ordens · n1anda V;· Mà"'
geíl:ade que as Miífoens ao fertaõ , ou p·o r
n1ar , ou por terra , as faça eu na fonna que
julgar e tiver por melhor : e NO particü-
l ar das ditas MHfoens [ó encarrega V. Ma""'
geíl:ade aos Governadores , e Capitàens Mô.:.
n~s , que n1e dem. Canoas e Indios con1 pef.'..
foas praticas, e o demais que for neceífarro;.
Affi m n1ais manda ·V. Magefoade no Regi-
n1ento dos Capitaens Môres, que ·fob pena
de cazo n1ayor , nenhuma . peffoa fecular
de qualquer eíl:ado ou condiçaõ que fej a; ~
poffa hir ao fertaõ bufcar os Gentios por
nenhum 1nodo , nem trazellos , ainda que
fej a p~r fua vontade > e fen1 embargo , Se~
·- ) nho~
DO P-. ANTONIO VIEYRA. 6;
11hor deíl:as duas ordens de ·v. Màgeíl:ade,
a primeira taõ particular., e a fegunda taõ .
apertada, entregou N. do N. efta jornada
do Rio dos Tocantins a hum. Gafpar Car-
dofo, ferreii-o altual com tenda aherta, fá-
zendo-o Capitaõ e Cabo 'della ; a eH:e ho-,
mem deo o regin1ento du que fe b avià
de obrar., ordenandolhe que elle fizeífe as
praticas aos Indios , -e que os . frouxeífe ·, e
puzeffe· nos hígares que lhe nomeava , . em--
fiin entregando tudo à fi.ia difpofiçaõ : e fó'
no cabo do·regünet1to lhe dizia que n1e déf-
fe conta do que . h.zeífe. Repliquey a dte
regimento, e mo.íhey a N. do N. as ordens ele
V. Mageíl:ade, requerilhe da parte do fer-
viço de Deos e de V. Mag~íl:ade que. nos
naõ quizeife peàurbar as noífas .Miffoens ,
nem intrometter-fe nó que V. 1vfageíl:ade
nos encomendava a Nos, e naõ a elle, an--
tes a elle o prohib~a ; e que fe era necef-
fa.i,:io hir Capitaõ ·e foldados para. a fegu-
rança da jornada , que foífe111 n1uito em-
bora, mas ·que eífes entendeíiem fó no que
·toc~ífe à guerra,. e naõ no particular ·de pra·-
ticar ; ou defcer os _Indios , pois· V. Ma-
geítade no-lo ·enco111endàva ·a Nôs , . e· para
T'om. /. .1 · iífo
66 C A R T A. S
iífo mandava• vir Padres, Lincroas do Bra...:
zil a tantas defpezas fi1as : e fobre tudo pro.:.
hibe expreífamente , e fob taõ graves pe-.
nas , que nenhuma peífoa fecular ·pudeífe,
hir bufcar lndios : mas de nada diíl:o fez.
cazo N. do N. dizendo que naõ havia de
mudar o feo regimento , e aíiim o deo ao
dito Gafpar Cardozo, rnandandol\le que o
guardaífe inviolavelmente. Succedeo iíl:o
tudo no mefmo dia da partida ; hindome
jà einbarcar , veyo ter comigo o Vigario
Geral do Parà N. de N. de quen1 V. Ma-
geíl:ade por outra via terâ .. largas informa-
çoens , intimo amigo e confidente de· N.
do N. trouxeme o dito Vi gari o hun1 pa...
pel , em que N. do N . ordenava a Gafpar
Cardozo , que feguiífe na jornada ó que eu
difpuze!fe; mas aqui eíl:eve o mayor enga- ·
no de todos , porque debaixo deita orden1
1he deo N. do N. outra em contrario , em
<ine lhe mandava que a naõ guardaífe , e
fiz eífe em tudo o que dizia no regimento
c:iue lhe der a : e em effeito aílin1 o fez e
comprio o dito Gafpar Cardozo.
Partiinos para o Rio dos Tocantins , eu
e outro~ trcs . Religiofcs , todos Sa:cerdotes·
'I'heo..
DO P. AN'l~ONIO · VIEYRA. 67
·T heologos e praticos na lingoa da terra , .
e dous delles iníignes nelb. Navega111os
pel.o Rio acima duzentas e cincoenta le-
goas , chegam?s ao .l ugar oade e~avaõ os
Indios gue hiamos bnfcar ; e Gaípar Car-
d.oz'O fo.y o que conforme o íeo regimento
r
governou rnpre tudo' e o gue em feo no-
me antes ·de, chegar nrnndava embaixada
aos· Indios , e. a é-]uem ell_es foraõ reconhe-
cer depois de chegado , e o que _lhes di{fo
que os, hia bufcar da parte ~e 1{. 1\1av,eíl:a-
d.e e ·do Governador, e o que lhes fazia as
rraticas por ni.eyo de hum 1nulato qúe lhe
fervia de interprete : e no 1nefino tem·po ef-
ta vamos Nos nas noífa.s barracas, mudos co . .
tno fe nos naõ pertencera aquella empre'"'
za . , ·nen1 tivera1nos lingoas , ne1n tanta
authoridade como o ferreiro para fa.llar, nen1
forarnos aquelle~ .homens a que_:n V. Ma-
gefi:ade mandou v1r ao Maranhao con1 tan-
tos empenhos f() ·para e:íl:e fim , nem G·aC-
par Cardozo . foífe focular a que1n ,r. Ma-
gefrade o prohibe fob pena de ca.zo rnayor.
Fiz por tres vezes requerimento aó dito
Gafpar Cardozo, fe naõ int:rometteffe no gue
lhe naõ tocava, e éra proprio de noífa pro--
1 ij fiífaõ
68 C A ' R TAS
fiífaõ e o para que V. Mageíl.:ade nos man::
dàra; mofb-eilhe e li-lhe diante dos Padres
e de outo ou dés foldados gue levava con ·
figo, a ordem de V. Mageíl.:ade e a do Ca~
pit~õ Môr , e refpondeo publicamente que
a de ~v. Mageíl:ade naõ podia guardar ,'e·
que a do Capitaõ Mô_r naõ queria. Be1n en-
'tenderaõ todos que efre modo de fallar era:-
de quen1 fe fiava e.m orde111 fe·c reta que ti-,
nlia encontrada, e aíli.m 1no declarou o inef. . .
n10 Gafpar Cardozo por muitas vezesi e a
differentes .peffoas , como confla por cer•
tidoen;) juradas , nas quaes , e em outras
que envie> poderâ. V. MageH:ade ni.andar Yer
Ôi1tras m,uit;as circuníl:ancias deite ca:zo, n1:ny
notavei~ 'e indignas: ·
.Emfin1, Senhor /os pobres Indio3 no.s di~
ziaõ que naõ ·queriaõ fazer outra cóuza fe~
- 11~1õ .o. que os ·P adres quizeífen1 ;:, ·e o qw~
ElRty . n1àndava , tra:zendo fempre ElRey
-na boca, : mas 1 Gafpar·.~ard?zo; ~ os feos)
parte co1n promeffas , pa.1~te com aineaços,
.parte com lhes daren.1 d ·rnaíiada1nente de
heber , e os tiraren1 de fe.o juizo, -parte com
lhes dizen:1n que os Pad'.res haviaõ de tirar
aos Principaes a_s muitas ·mulhere.s que qo12-
. tumavao
DO P. "ANTONIO VIEYRA. 69
tumavaõ ter ; para com iíl:o os alienarem de
N ôs : com eíl:as e outras femelhantes vio·-
len c.ias e· impiedades arrancàraõ de fuas
terras 1netade dos Indios que alli eíl:avaõ ,
( e feria() por todos mil almas') e os trouxe-
raõ pelo . rio abaixo , e defpois ·de G afpar
Cardozo repartir alguns pelos foldados, e
levar outros para fua caza , a mayor par.,.
te de todos fe.puzeraõ na aldea chan1ada de
1'101·ajuba, fe1n e1nbargo de naõ ·haver nel-,
la 1nantimentos alguns para fe fuíl:~nt<J,rem ,
inas he eíl:a Aldea a que . eíl:â n1ais perto dos
princip.aes tabacos de N. do N. ·.
· Eíl:e foy, Senhor, b fin1d e fra1n~l lograd ~
itiffaõ, na qual fe fe guardaraõ as qrdens de
.:V. Mageílade , e os Padres fe fic araõ com
os , Indios , como elles e N qs pretendíamos
p ara fe defcerem defpois c01n1nodamente ,
·a ilin1 deíl:as como . de tres outras nacoens
>
.v.i zinhas efperavamos traz er em muy poú-
(: 0 tempo à Fé de Chriíl:o 1nais ·d e cinco ou

feis mil almas , e com ellas 1nuitas 01,.itras


n o n1cfino Rio. Mas naõ f6 ficàraõ eíl:as al- ·
mas fóra do gremio da ,Igreja , fe'n aõ ·que
tambem foraõ os Padres confirangídos a
·deixaJ naqu.elle fertaõ n;iuitas de innocentes
. . que
70 C .ARTAS
que jà tinhaõ baptizado , ficando ern ta6
evidente rife.o de naõ terem j à ma'is quem
lhes eníine a Fe que receberaõ , e de vive ...
rem e morreren1 como os demais Gentios.
E certo, Sénhor, he dor grande, e que há
miíl:er muita graça. do Ceo para fe fofret ;
verem tantos Religiofos, homens de he'm ,
que depois de deixarem fi.us· patrias e Pro~
vindas , e as commodidades que nellas ti-
nhaõ-, e tudo quanto podiaõ ter , por amor
de Deos, ·depois de paífarem mares e .atra-
veífaren1 taõ grandes e perigofos rios ,
padecerem. fomes , frios , chuvas , enfer..
111idades, e as inclen1endas do tnais deíl:em-.
·p erado clima que tem o mundo ; e depoi~
de fe exporem a tantos e taõ evidentes pe- .
rigos de vida , [ó por falvar efras pobres
ahnas , que C]Uand_o as tinhaõ jà quaíi d~n­
tro das redes de Chriíl:o , lhas houveffem de
tirar dellas por huma violencia. taõ enor.;
ine: e qu~ os. que fizeraõ efrà injuria a Deós~
·à Fe, à Igreja, e a V. MageR:ade, naõ fof..
fen1 os barbaros das brenhas , nem outros
hon1ens inimigos , ou eíhanhos ; fenaõ" a;,.
quelles n1efmos de quem V. Mage.íl:ade c~~­
fia os feos Eíl:ados, e a quem_V. Magéíl:ade
enco-
DO P. AN1"'0NIO VIEYRA. 7r
eU'CÕme1idà primeiro que tud~> .a ·coi1verfaõ
das almas , . e lhes encarrega os in.e yos della
fob pe1!1a de caz.'o 111ayor !
. Por ·eíl:a dor e por eíl:a cauza foraõ de
p arecer todos os · Padres deíl:a Miffaõ , gue
eu partiíie logo aos pés de V ·. Mageftade a ' '
reprezentar efras injuíl:iças e violencias ,
e a clamar , e bradar ·, quando naõ baíl:aJ-
fe . ., e .ailin1 dl:ive deliberado ; .mas eH:e po-
bre rebanho ' he taõ pobi;e ", taõ deferripa-
r ado , e pei·feguido , <-]Ue nem por poucos,.
dias fe pôde deixar fe1n grande rifro :: e dá
Real grande~a , jufliça , e pieda·d e de V.
1'1·ag'd1:ade ef perarr1os gue ha.H:e1n eft~s re-
gras para ·v. Mageíl:ade lhes ,man:dar de-
ferir cmn taõ· prompt.o e breve ren1'ed1o ,
corno a rnateria pede , e con10 todos· .eíl:es
perfêgu.idos Religiofos vaffall os de V; Nfa-
geftade e feos .Miílionarios , proíhados aos
Reaes pês de V. Magefrade com todo o affe--
<i.:'t o de noffas almas lhe pedimos.
~ . P.edimos, Senlror , a ·v. }Jagefrade o que
ver'd adeiramente l?-c couza indigna de pe-
<lirfe e1n hum Reino taõ catholico como
Portugal , e a hum. Rey . taõ pio e t aõ
jufro com.o V. Mageftade;pedimos que marh
~ de
/t CARTAS
.de V. Mageíl:ade acudir aos Minii1ros do
Evangelho , que inande libertar a Prégaçaõ
da Fe , e desforçalla das violencias que pa-
dece , que mande franquear o caminho da -
. converfaõ das almas , e pollas no alvedrio
. natural en1 que Deos as criou : e· que n1an-
·de V. Mageíl:ade tomar conta de todas as
que neíl:a . occafiaõ fe puderaõ falvar , e fe
queriaõ converter, e ficaõ perdidas. E por-
que a experiencia nos tem· n1oíl:rado quaõ
pouco temidas , e obedecidas faõ neíl:as
partes as ordens de V. Mageíl:ade , por
particular n1erce U1e pedin1os , que as que
de novo for fervido mandarnos , naõ fejaõ
com clauzula de que , fazendofe o contra-
rio, fe d~ conta a ·v. Magefl:ade; porque o
recurfo eíl:à 111uy diíl:ante , e naõ ha navio
fenaõ d~ anno en1 anno: e em hum anno,
e em lum1 1nes, e e111 hun1 dia perden1-fe,
Senhor, muitas almas. A pena de cazo ma-
. yor grande hé , e que devêra fer muy te..
n1ida e refpeitada , mas como eíhis penas
fe ouvem t~ntas vezes , e nunca fe ve1n ,
faõ taõ mal cridas, como Nôs eíl:amos experi-
mentando. Aíiim que , Senhor, na.ó há fenaó
izentar V. Mageftade as Miífoens de todá
a1n"".
t~O- P~ ANT'ONIO ·VIEYRA. ;r3
ti inte1 v.ençaõ , e juriiê:liçaõ .dos c1ue u~,~1'.~
1

ta.ó 111al ' da c1ue naõ te.m ' e libertar v·~


~fag.>1.,;íl~d.e· os Miniíl:ros· da prcgaçaõ do E,....
'tirangelhp , pois Deos a fez taõ a.bfoluu. 11
e t:tõ livre , que naõ :he bem que ·athe a
t~üvaçaõ tfos In<lios foja. nefr.e .EH:ado c:ati~·
va. con10 elles. ..
· A 1nilito altai ,.: r<r:.' r.111lit.o iic•dtirofa Pef-1

f,,a de V. ~fage.íl:ade guarde .Jl.Deos con10 a


Chri1 .íl:and~1.de e· o~; v·-aff,aUos de V.. ·1\1.a:ge-
ít,:lil\ide ha:lften;1os rniíl:er: Maranhaô 4.. d'e A..
bril de J6;4. .
· ·, ). A·ntonio ,. Vieyrac. ·
..· e j l . \

-:·",C AR rt ~A··_
,. •.. 1 .. •

XII~
. A Ei.Rq::. ' 1.,

·SenliorfP·
J .. • • • ..

E
SABE Deos ~ que tom muiit; zelo de
feo fervÍftJ , dcz~io , que .fe guarde
. J juftiça a ef[a p~brf: gente .? pí-1ra .º
ft:tt · ~JQ.f. encormnetJ.dtJ mitJtt! .rne .adv1rtaes de
'·'\ ~7'1me /, · K. · tu ..
74 . C A .R T A ' S ..., '
ttf;t:ÍiJ ' , q1 rfJUe· 'ÚOS parecei· n.ecejJctrt() ' ,· fi:Jr,,o,
: q11e fazeis nijfo muito ferviço a De"Os e.:tt,
mim. EH:as .pa~avras , Senhor '· faô de y:.
Jviageflacte , na carta que .foy fervido Ii1an~
d.ar·-1ne efcrever , e xnuito dignas de V. };ia-.
gdl:ade , e porc1ue as injuíl:iç'as que fe fa. .
zerr1 a dl:a pobre , e rniferabilifGn1a gente
n.a(i câbe1n e:m. nenhun1, papel ' direy fó-.
mente nefl:e o modo com que fo- poderàõ
remediar , . ~epoi.s de o . ter coníiderado e
encon)m.eú.dado a. 'D eos , © o ter conferido
com. algurnas peffoas d:is mais. ·antigas, e:x:-
peri1J1enta4as., e ·l?e,m ipt~ncionadas deite E-
Hado , poft:o que f aõ nelle poucos os que
podem dar juiz~ nefta 1na.teria ,, que (ejaõ
Lvres ~e_ I~tfpei~~ '. e di~nos: }l~ f~ , P?'rque
todos fao 111tereffados :nos.Inct1os., .e v1vem,
e fe reinedeaõ das meíinas injuíbças , qu~
V. MageH:ad~ ~ezeJa .'r'emediar. .
O remedia pois ,,~ Senhor , confi:íl:e em
que fe 1nude ' r
m:elhorr~ 'a forma ' porque
athegora foraô governados os Indios , o
que fe poder à faz.e r mandando V,. ~age.:.
-flade guardar os.·c a,pitulos .feguir.i't~s . .
· I. Qie os Governà4or.es e Capitaens,;
M.ôres naõ .tenhaõ jurifdiçaõ algum:a f obr~
e -OS di-c
DO P. AN·'f0I'TI0 VIEYRA.. 7f ,
t)S ditos I.ndios nat.uraes da terra., aífim Chri-
frãos corno Gentios , e ne1n ·para os ma.rr--··
dar ;; nen1. para os repartir , netl.1 para. ·ou-
tra algum~ -c:;ouza ·' falvo . na aéh1al occ:1r1.
fiaõ de guerra,' a que fetaõ obriga.dos·::11, a~
codir, elles,, e as peffoas que o~ tiverem. a. fro
ca.rgo :> con10· f azêm. em toda. a parte ; e_ ~
para ferviço dos. <;;overnadores r fe lhe no-
1nearà hum numero d~ Indios convenien-
te , attendendo ·à calidade e anthcfridade
do Cargo .11 e 'à quantidade (iüe houver dos
ditos lndios. · · · . · · , ·. ..
· H. Que os Indios · tenhaõ hrun ·P roçu··
r.ador Ger;t em cada Capitania 1 ·o q_rial
Procurador affin1 ·rnefmo fej,a inder>endente
ti:Os 'uo-verna
_j r.!11 d. ores· e ·'.."."'A1-p1taen~
.. . ..M!I·
· o.tcs e r:n
to<~as as cou~a.s·, perte11cent,~s àos ruefrno$
lndios , · e eH:·e ·P roe1uador _feja hum:i das
pdfoas n1ais prim:ipaes, e:authoriza.das ,. e
conhecida por de melliores proc.:dinl\."ntos.,,
.ao ·,qual eleger.à o povo' no principio 4e cada
anno , "podendo confirmar ao tnefmo , ou
eleger onti9 ern caz.o que naõ dê boa f1-
tisfaçaõ de feo officio; o qual oflh.:·o exercir-·
tarà ··com a jurifdiçaê.~ _, e r~A>s caz os que ao
~iante fe, apontaõ. ·. · · . . · "'
~ K ij UI. Q~e
jJ;, CAR.'fAS . · ··.
III . ue os ditos l ndios eftej aõ. tó~·
t:alm nte fuj eitos , e fej aõ governados por.
pdfo<i.s Re. igiofas , na forma que fe coíl:uma,
em todo o Eíl.:ado do Brazil , por quanto
depois de {e intentarem todos os n1eyos ,
ten1 mofb:ado a exper.i encia que fegundo o
natural e a capacidade dos Indios , f6 por
efre rrmdo podem fer ben1 governados , e
confe1·varem-fe en1 fuas Aldeas.
IV. Qpe no principio ·de cada a.nno
fe faça Lifra de todos os Indios de fervíço
que houver nas Aldeas de cada Capita.n.ia:i'
·~ juntamente de todos os moradores della,
e que confonne o numero dos ditos Indios;
e dos ditos mora.dores ' fe faça repartiça . .
dos Indios. que houverern de fervir aquelle
-:inno·a cada hum , havendo refpeito à po···
breza , ou cabedal dos d'tos moradores ;·
de inaneira que a dita repartiçaõ fe faça
<:.om toda a igualdade , fendo en1 prirne.i.,,
ro lug~:.1,· providos os ~ebre~ .; paxa q1le na~Õ­
:pereçao , e as fobreditas híl:as , e repa:ru-.
?fªÕ a tãça. ·o Prelado dos Religiofos que·
adrr iniítrar os ditos lndios , e -0 Procura--
.dor Geral de cada Capitania conforme fitai
cont:íencias, fi~m.na dita repartiçaõ fe podei
!: ' ' - meter
Dó P.
AI~TONtô ·VlEYlt1L· 1;r.
fil.eter Governador, nem Carnera, nem ou--:
tra alguma peífoa de qualquer caHdade gue
feja ; e ein qualquer duvida que houver por
parte dos Ir1dios ou 1noradores a eerca d~
repartiçaõ , recorreràõ ao dito Prelado , e
Procurador , e dtaraõ pelo g.ue elle5 refol-
,1ere1n fem appellaçaõ) nem a.ggravo, nem _
forn1a alguxna. d.e juizo.
V. Q!ie , por quanto as Alcleas ~aaõ
t'lotavelmen.te diminu.idas , os Indios fc
unaõ do n1odo que parecer mais conveni-
ente , e ein que os_rnefn1os Indi9s fe con-
forma1'em 1 e fe reduzaõ a menor nun1ero
à~ Aldeas , para que fej aõ , e ·poffa.õ ·fer
melhor doutrinados 11 e que as ditas Al-
deas affin1 unidas fe ponhaõ nos fitios e lu-
garet. que for-em n1ais accê}rnodades , affin1:
para o for.viço da R.epu.blica. , co111p para a
confervaçaõ dos me!i:nos lndios.
VI. . (l,ue para que os Indios tenhaõ
tempo de acodir às fua.s la.vouras , e fa-
milias , e poífaõ hir à~ jor~<Ldas dos Jer-
·t oens que íe haõ de fazer para defcer ou~·
tros , e os converte!;" à noífa San.ta Fe, ne-
nhurn Indio poífa·trabalhar f6ra da fua AI,..
dea cada anno 1nais. que. quatto mezes .,
. " f}S
78, .e A R 'T' A S
os quaes quatro 111ezes naõ reraõ jontos por
huma vez ·, fonaõ repartidos .eI.n duas , pa""I
ta que deH:a n1a11eira.. fe evitem os defer-'
viços. de Deos que fe feguem de eíl:are1n
muito t esnpo auzentes de ft1a.s cazas.
VIL (h1e para que os Indios fejaõ pa··
rros de feo trabalho , nenhum. Indio hirà
Ícrvir a morador algum , nem ainda nas
obtas pu~licas do f~rviço de.S. Mageftade,
fen1 fo lhe depoíitar prirneiro o feo paga...
n:1ento , o qual pore1n fe lhes naõ entrega~
r â fertaõ trázendo·efcrito de que tem tra-
balh.ado o tempo porque fe concertaràiõ, e
para o 9ito ·depofito dbs p:igamentos' havfro'
rà hun1a arca Cotn ·duas chaves· ettí cadaí
Aldea, hun1a que terà 'o Religiofo gue ad.;.
m iniH:rar , e out~·a o Principal . da. rnefnl,~
Aldea. ·
VIII. ·-Q!le t0dâs as ferríanas em todos
os quinze dias canfonne o nu1neto das Al...
deas, ~áver~à huma feira dos Indios, à qual
cada Alde.a por ·feo .tjutno tr.arâ a .vender i:o ...
dos os frutos dasfuas lavouras, e o inais que.
ti~ere1n ; o que fervirâ .àili1n de que as Pº"'
voações dos Portuguezes'. tenh~.õ abund::i.ncia
de manti11umt9s, c.on10 ·de que os .In.dios fo.v
vem
no P. A.1'1TON10'· ViEYRA. '79
'\~em- delhs ,as couzas neceífarias a fco uzo,
l!. fe a11in1en1 co1n efi:e cõrnercio a traba~·
l.har ; .e para t1ue J.1aô fo lhes poHa ·fazer
al ffUlTi engano not; preços. das couzas que
lh~s fo1;e1n ,'dadas por·cõmutaçaõ das fixas j
prdidirâ nefbt feira o ·P rocurador dos In..--
dios , ou a .pdfoa a 'iuem elle o cé,1netet ,
e~ei~a. !'º~ ~)1e ., e p~lo ~rela.do ~os R..elil"
gmi.os ; que . na , Cap1tar.ua tnrerem a feo
cargo· bs ·Indios ~ .'
·. IX.. ·Q~1e as et1tradas gue fe fizerem
?lo ferta5, as façaõ 'fomente peí-Ioas ecclefi ...
.-afl:ica.s··;.i' co.n10 ·"\l. 1\1ageíladé tc1n ordena"?'
. do 'aos · capitat~ns '.l\/!:ôres •f úb pena de· ca~~o
may01~,: en1 Jeos Regimentos , e ·que os ·Re"'"
Jigiofos , que· fizeren1 á:s -. dirtas ·efrt:rridas:, fc.;
.J
~aõ · os •mefr.rt·os oue 1
adminiftren1 · :os Ir1dios
em fitas Aldeas. Porque . fendo da mefrna
fubjeifaÕ e doutrina , m·d hor os -0hédece-
r~Õ; , e r.efpeitat.àõ , e hi.taõycon'l elles rt1ais
fegnros de algu111a r·ebelHaõ , .on'• ttaiçàõ. ·
. X. Q~e pela cauz1. fobredita: , e: por
evitar bandos entre (}S Ir1dios que natural·P
:iwente faõ varios, ·e inc·oníl:ai1tes ') e ·d ezejo-
fo~ de 'novidàdes· , e pa.ra·-que a doutr1na
iqu~ apren.der~t.n, feja .a mefnla·entre todos
'"·:..,' · , fe1n
~,º ·e A R T A ·s
fén1 diveríida.des de pareceres , de que·{e
pôderr1 fegriir ~rav es inconvenientes, ai11.da
que neíl:e Efi:ado ha differentes Religioens ,
·ó c:ttgo dos Indios fe encomrr1ende a hu...
ma fó, aquella que V. Mageíl:ade j.ulgai- que
o fa,râ com rnayor inteireza 1 Hefinterdle ,
~ zelo , affi1;n do fanriço de Deos ,, ~ [11...
vaçaõ das almas , como do bem publica.
· . XI. Q1:1e ne'nhm1;s 'lndios fe def~àô do
fertaõ fe1n primeir? f~lhe.fa~~r~m fua. · :o~
ças , e Alcfeas , onde. poffao viver ,. e <iU..C
-naõ fejaõ obrigados a entrar na pauta dos
Indios do ferviço, na forma acitna dit~ , fe ..
naõ depois de ~íl:aren1 mú:y defeançados.ílo
trabalho do camíi\ho ·, e·doutrina<L{Gls , e
·dorneíl:icados, e capazes de ferem . a:pplica...
dos ~o dito fenriç.o dos moradores, que fem....
p~· e fe dere fazer fem nenhuma violencia ·'
ne.m oppreffaõ 'dos Içdios. · .
. XII. Qie: .fe rias çn'tí'adas , ql,le fe, fi~
zerem ao fert.aõ forein · a:chaidos alguns ln·..
dios de cor~:.i , ou que · de alguma . outra
. m aneira fejaõ julgados por jufl:a1nente
. cativos , eftes taes fo poderàõ - J-efgatar ,
com ~ondiç~LÕ , c1ue os Re:ligh5fos corr1 aíft...
íten ~la do Cabo que . foJ: Julguem·prüneiro
0 5'

',.
.1
DO P. ANTONIO VfEYRA. Sr.
os ditos cativeiros por juftos e . licitas ,.
~xaminando-os .por fi mefinos : e para efh~
firn hiraõ fempre· às ditas Jornadas Religio-
fos. que fejaõ juntamente ,bons Lingoa.s ~ e
bons Theologo.s , e· quando meP,os ·, qut!
hurr1 feja bom:Theol9g9, outrp bom Lin-
bo·oa • · ' .
.XUI. Q,!le em cazo que os ditos ref.
gates fo faç.a õ nas entradas . do ·f ertaõ '· a
repartiÇ.:lÕ delles fe faça pr:o rata por JO-
dos ós moradores do Eíl:ado , çonfótnie ·o
numero dos l ndios qu~ fe refgátarem , ~_o­
.•neçando ·fempre pelos. n1ais_ póbi:_es , para:
que tenhaõ quem _ o~- aJ u~é : ~ os i:_eparti-
dores fer.aõ os mefmo~ P.rócurado1~ Geral,.
e Prelado da·Religiaõ, que, corno h,éa di-
to, h~õde repartir os Indios .forros para o
{erviç.o. , · · . . .
x·xv. Que por qua11to as j or_n a.das ao
fertaõ que fe fazem , f aõ ordinadamente
per.igofas· por razaõ~ do.s barbaros , par::i, fe--
gurar os Religiofos e os Ihdios que! forem .
uas dita: jornadas ) haja co·mpanhia de fol-
dados bran~os , a qual ou inteira ou ·di-
vidida lhe de. efcolta ~ çonf6rme a neceffi-·
dade o pedir : e qu,e a dita .companhia fe
, Tom: I: · L .. chame
-Si C A R T A S
chan1e .da'. propagaçaõ da Fe , e paria ella
fera efcolhido capitaõ e foldados de ma...
yor chriíl:andade e capacidade para o íer~
taõ , aos quaes V. Mageíl:ade fionre com
algum privilegio particular : e que o dito
capitaõ e foldados naõ feja cornpanhia
creada de novo , fenaõ huma das mefmas
que ha , formada de ramo dellas , e que fó
cfteja fi~jeita aos Governadores ,- e Capi-
taens M~res em occa!iaõ de gue.tra aétua1,
ou ddiéto que commetteífe , e no mais. ef-
tarà à dipoliçaõ do Prelado mayor da Re-
ligiaõ -que tiver a feo cargo as Miffoens do
fertaõ , que tambem ferà Miílionario Çeral
de. todo o E.íl:ado : e confórme o -que. o di-
to Miffionario Geral difpuzer, .o dito Capi~•1
taõ ouvirà , , ou mandarà · os foldados que
f~rem nece~arios para cada huma das Mif"
f oens com feos Cabos , ·e os ditos Cabos fó,..
mente teraõ jurifdiçaõ na difpofiçaô da
guerra e·n1 cazo qúe fo haja ·d.e fazer , a .
qual fempre fera defenfiva , e de nenh11<
~a .-manei~a fe ·i~tr.ometeraõ a praticar ~o .
Ind1os, nem por fi , ne111 por outren1 ~ fob
pen~ de cazo mayo.r 1 como V. Magefiade-
tem <Jrdepado. .·
XV. <1!1e
' -

DO P. ANTONIO VfEYRA. 83
XV. QJ_1e as peças que fo levare111 ao
fertaõ para os ditos refgates, hiraõ e11tre ·
gues ao dito Cabo que for nas ditas entra~
das ' ou a alguma. aas ditas peífoas bran-
cas que foren1 na 111efma tropa :1 de quem
povo mais as confiar , .o qual darâ con 4
'

t a do dito cabedal à Can1cra, , ou a quen


lhe fizer a dita. entrega.
'. '
XVI. Que os lndios que fe defcerem ;
fe poraõ no~ lugares que forem mais acõ-
modad os e nece!fa.rios a confervaçaõ , e
augmet to do Eíl:ado : ·mas iíl:o naõ fazen-
do força ou v-iolencia alguma. aos n1ef~
inos Indios , fonaõ por vontade : e fe na,
defcida dos -ditos Indios fe fizel'<!tn algumas
~efpezas , feraõ a cuíl:a. da~ Capitani as em
que os ditos Ind.ios fe puzerem.
XVII. Que para que nas Aldeas haj~
muiti g ~nte de ferviço e os Indios fe ton-
f~nrem em mayor fimplicidade , e fujei-
çaô, te naõ tnultipli9uem ias Aldeas officiae.
de guerra, e .fóment"· haja, co1no no Eíh1...1·
do do Brazil, os Princip«:l.es, e 1'.Jeirinho ~ ll
e hum Capitaõ da guerra , e quando 1n ui-
to, hum Sargento Mô .por efl:ar introduzi-
d " Z Mas porque feria grande defc-011.fola-·
·- I~ ij çaõ
84 C A R '"f A S
ç.aõ dos Indios, que ao prefente tem os di-
tos cargos -, fe lhes foflem tirados , fe con...
fervaràõ nelles athe que fe extinguaõ. , e
-v naõ fe meteràõ outros em feo lugar.
XVIII. Que a eleiçao dos ditos Offi-
daes, fe naõ faça.pelos Governadores, nen1
por Provifoens fuas , fenaõ pelos Princi-
paes das mefmás Aldeas , cqm parecer dos
.Religiofo's que as tiverm a feo cargo, fem
Provifaõ algumà ; -mais que huma fimples
r1omeaça - , como fe faz na Brazil , para-
que os p ~ bres Indios naõ fej aõ enga11ados
com femelhantes papeis , t:o1no athegora
foraõ, n~m fe lhes pagúem com elles feos
trabalhos : e f 6mente quando faltalie fuc•
çe.ífor ao Principal de toda a Ald:ea ,. ou-
N açaõ , e fe houveffe de fazer eleiçaõ em
-outro , ·no tal e azo propor1.'.l.Õ os ditos Pre-
lados , e P~·ocuradpr G~~al dos I~dios· a.~
peífóa qu,e .e ntre elles tiver mais mer.e.ei~
me.ato , _e lhe~s for mais· bem aceita , e o
Governador ou Capitaõ Môr- em noiill}
de V. };1agefJ:ade lhe paífarà Provifaõ. ·
XIX. _Que para que os, Religio(os que.
agora ,e pelo ·tempo CJll diante ._ tivere1n .o
cargQ dos dito$ Indiqs ,: na-O· tenhaq o_cca""..
fiaõ
- ,-
f

Dó P. -:ANTONIO VffiYRAº-- ·s,,-: ·


. 1 . .

fia.o de os occupár en1 intereífe~ patdcula-


res feos , naõ poífaõ os ditos Religiofos
ter fazenda, ne1n ·lavoura de tabacos~ ca-
na.veaes , nem engenhos , nos quae( ttaba-
lh e1n Indios , nen1 livres , nem efctavos.
E os .Indios que lhe forem neceffarios para
o feryiÇo dos feos Conven-ços, fe lhes repar..::
tir~õ na 1forma fobredita , aílim .a elles ,
como aos Religiofos das outras Religio~ns,
conf6'rme a neceílidade dos ditos Conven. .
tos , e ·quantidade que houver de' Indios.
Efres faõ, Senhor, os meyos, pelos-quaes
fendo governados os Indios , ceff°a'raõ de hu·
ma vez . os inconvenientes graviilimos que
com razaõ <laõ tanto cuidado a V. Mage-
ftade ; e para prova do zelo e definte·~
r.effe tom · gue v:aõ apontados , . naõ quero
m ais ju:íl:ilicaçaõ que . a dos mefmos Capi-
tulos. Muitas couzas das que nelles fe pro-
poem', efraõ jà calificadas , .oµ. com o uzü"
Cio .Eítado ·do Brazil , - recebido depois de
larga. e:x:perienciá , ou com P.rovifoens e
Regimentos· de V. Mageíl:ade , .nos quaes
V . Magefl:ade tem mandado 'O.. m·efmo que
aqui fe aponta. Atendeo.:.fe nefre Papei naõ·
fó ao re.medio das injwtjças, a que V. Ma-
,_ gefrade
~6 ' , C A R T A S
gdtade quer acodir , ma~ tambem ao fer..;
viço , co11fervaç.aõ , e augmento do Eftadoll
que todo coníifle em ter Indios que o fi1~
vaõ , os qmtes a.thegora o naõ ferviaõ , ain-
da que os tiveíle. O ponto da repartiçaõ
dos ditos lndios , que he o principal pa- )1

rece que fe naõ pode fazer com mais ju:ft'·


fieaçaõ , e poem·fe juntamente nas 1nãos
de hum·fecular eleito pelo povo, e de hum
Religiofo_ Prelado , para que ó Religiofo
feJa olheiro do fecular , e o fecular do Re-
Hgipfo ; e em hum eíl:eja feguro ô zelo , e
ern·entro a conveniençia. Naõ he effe· o
eíl:ilo qae fe uza no Brazil , porque là to-.
do o governo dos Indios depende abfolu...
tamente dos·Religiofos fem fe fazer lifra
de Indios- , nem repartiçaõ , nem havet'
procurador adjunto , nem outrá algnma.
forma , mais que a verdade , e efl:ilo dos
n1efinos Religiofos, que a experiencia te l
mofhado que ·baíl:a ; m:is aqui naõ fe tra ...
ta fó do jufto , fenaõ tambern 'do juíl:ifica...
do. Por efre modo , Senhor, e fó por elle
pocleJaÕ os Indios jà Chriftãos coníerva.rfe·
en1 füas Aldeas· , e ferem doutrinados nel ...·
las : ha.verà quem 1eve os ~.{iffionarios aos
fer~J
DO P. ANTONIO V1E.YR.Aº t1
fortoens. a trazer muitos outros ' a ·fé ' e
obédiencia de V. ·Mageíl:ade: teFaÕ remedio
os pobres que hoje. perecern : ceffaràõ a!S
injurias , e injufriças dos que governa:õ: e
6.tialmcnte ficaràõ defericanegadas as con.,;
dencias de quantos nellas tem parte , que
faõ quaíi todos~ · .
Eíle he , Senho.r ._·, o tneo parecer , e o
<le todós QS Miffionátios que riefras par-
res .andamos , e teriios expedn1entado , e
padeddor os inconven~entes, que do .c on...
tr ario fe !eguen1: e tudo o que.aqui fe ap0nta1
e refere for confónne ao .que entendemos em
no.ffas conciencias , .o certifico de todos, e
de m.im . o juro in ,verbo Sacerdotis.
· s9 parece que faltava dizer aqui ·II . <JUel
eligio~fos ,. ou que·R.eligiaõ hade fer a c1ue
tenha a feo cargo· ·os lndios na forn1a fo~
bredita ; mas nefl:c particular na.ó tenho
eu :>nem pofio tet voto·' porque fou Padre
da. Cto111panhia . Só digo gue he necefl~u·io <..1ue
fu1a hu ma Religiaõ de n1uy calificada é
1

fegu.r~ :virtude 1' d~ grand -· defintereífe, de


gtande zelo da fa.lvaç-aõ da.s almas , e le...
u-as muy bem fundadas , con1 ~ue faiba o
•11.~.e obra ~ e ·o qp.e·ep.fi.na ; porque os ca~·
.zo
8~ ~ ' ·C .A R. . 114 A. S .
.· ZO$ que. cu. occorren1 faiú gra11·des ·, ·e 1n~i..i
tos d.elles 'novos ·' e naõ . .tratados n,os 1i~
vros.' Einfim ·,. .Senh.or , ";1 Re1igia.5· foja a--
'lJ'uella que V. Mageíl:ade julgar ?t;>r· mais
idonea. para taô importahte emprez;a , e
faja qualqt~e.r que for. Cà ·tive noticia que
V. ~1agefiade encarredàra .a converfaõ 'de
Caho _·V erde e cofia. ,de ~uinê. ads Padres
Capuchinhos de Itàli'a, t~ mê pareceo ·d ei ...
çaõ do Ceo ;e muy digna de V. l.fa.:gefb.- 1

d.e' pelo ·grande eonéeito que 'te~ ho do .: ef-


pitito e ·z e}o' daquell~s . Religi~r~~·. 15 lem-
brado eftara o Seeretano Pedro V 1e1ra , que,
l he faUey eu ' mefino .nre1ld p<fra e.íl:e ' fi m
d.a converfaõ das ahnas ., e lhe · diffe ", que
ton1:1rai ·que ,no noífo Rern:o fo .tro.càra~:e.íl: a
Religia.õ "'pór alguma outra ,. ftippoffo .:nttó
fei·. elle capaz de 1ê .multiplicaren1. · :. --"-·
11 · 1\tf as qualquert..qtte ·fqj a à R.eli:gi~Õ1 ':f qtte
ll. ·Magefta:de encõmendar·a converfaõ def..
te Efra4o, .fo .ella .. e es ~.In,dios rnaõ-efl:ivere.m
independentes dos que goVcrúarem ., V...
r

lviageíl:adc pô.de .efbtr ttnty ,.:;elto : ~iue. nun:..


ea a, corrtrerfaõ).lilrà "'p0.ttJifü,nt~ ,. ne:niX nella
1

fe rf.'lráõ os emprr.gos . que·. a; grandeza :...da.


C9nquiI'-ca pro~ette·, porque:eftas.tex.ràs ·na~
·,. . - ' ' faõ
DO P. AN1~0Nió VfEYllA. .g_,:
í: õ con o a da India , ou Japaó , onde Oi
Religiofos vaõ de Cidade em Cidade., n1as;'
t udo faõ brenhas fem caminho, cheyas de
.mil p.e.idgos , e rios de dificultofiílirna na-·
vegaçat% ,'l' pelos. quaes os Miffionarios naõ
1

h aõde hir nadando , frnaõ em canoas , e


d fí's mufras , e be.rn annadas ) por tm.~za.
dos barbares, ' e eítas .c anoas ' e
os man·~
timentos para ellas , e os remeiros , e o~
gaias , e os pdó:cipaes <lefenfores tudo faõ
Indios , e tudo he dos Indios , e fe os In-
dios andarem diV'e:ttidos nos intereffes dos
Govcrn:i.dores , ~ naõ dependere1n fómen--
te dos Rdigíofos , nen1 elles os teraõ para.
".' s d.itas.J\.f.iffoen.s , pem eíl:ara.9 doutrina~
~1ós co'm.o ~ convém para · ellas , nem lhes
:f)bedeceraõ , nem . lhe féra0 fieis , nem fo
fa.rà nada. Pelo contrario , · [ó dizerfe aos
1-n.dios ,dofcrtaõ que .naõ haõ de fer fugei""
tos aos· Goyernadores bafl:ara parãque to-
dos fe, deçaõ com· grande facilidade , e fe
·enhaõ fazer ChrHtãos , porque fó a fa m'a
~,. o medo do. tta,balho , e opreífaõ en~ que
os trazem os que gov'ernaõ , he o que os .
dete1n nos feos n1atos, como cada dia nb-·-
lo· t11andaõ dizer ; e. he couza t 'l.Õ ·notor:ia, ~
· Tom.

L M / co..,
n
9~- C A R. ,..f A S . .,. '· ·
como digna de fe lhe pôr re1nedio. Ivfara. ,
nhaõ 6 •. de Abril de r6 54.. ,.

_Antonio Vieyr,1.

AR
A E!Rey-~
Sen.I1or-
O M eíl:a rerpeto a V,. l\1a~eíh1àe a·
relaçaõ do que fe tem oDrado tJa
e:xecnç.aõ da Ley de V. Magefhtde
fobre a, liberdade dos Indíos Mu.iros fica.ó
fantenciados ao .cativeiro por prevalece.r o
nu1nero dos votos 1nais que o pezo i!as ra...
zoens. V. Mageíl:ade fendo fe.rvido,,as poder.à .
mandar pezar ein balanças mais fieis que
as deíl:e Efrado , onde tudo nadoi.1 fempre
em fan~e dos pobres Indios ., e ainda Íól•)
gaõ de fe afogar nelle os ·que <lttzejaõ ti..,,
1·ar do perigo aos demais. Con1 . tudo fe
puzeraõ em liberdade m-qitos, cuja jufiiça
- por
no P. ANTONió '\rtl!YRA~
po1· notoria efcapou das unhas aos julga-
'I
dores. Tudo· o que neíl:e partiettlar , e no~
àernais fe tem obrado a favor das Chrifran-
dades, e·em obediencia da Ley , e Regünen~
to de Vu Mageíl:ade , fe deve ao Governa..,
dor Andre v·idal , que en1 recebendo as
ordens de V. J\1ageíl:ade, fe embarcou logo .
p ara. efia Capitania do Patà a .dar a cxecu·d
çaõ inuitas couz3.s que fern fu:i p.r ezença
fenaõ podia.ó confeguir fe o braço ecclefi.-
aíl:ico ajudara ao fecular , tudo fe puzera
facilmente em ordem,_e jufti.ça , mas co~
:tno as cabeças das Religioens tem opinioérit
contrarias as qut: V . Mageftade manda pra""
ticar , efraõ ás concfoncias como dantes ';>
t. O <J_Ue -naÕ nafce deft:as raizes , dura fc' em
quanto dura. o te1nor. J. à _~izern que, vint
óutro Governador, 'e entao tudo fera co..,
n10 dantes era , e eu e1n parte aili.n1 o te-
:mo , porque todos os que cà. coftumaraõ
't'ir adiegora tra'.i,:iaõ os olhos fó no inte...
reffe , e todos os intereífes defl:a terra con..,·
:Cifrem f(J no fangue , e fuoi dos Indios ..
De Andxe Vidal direy a V~ Magefl:ade
o q_ue me naõ atrevi ,athegora , por. n1e naõ
aprdfar 1 e po1·que tenho conhecido tan-
- M i.i to~ t,o
'1! C A R 1~ A 'S '
tos 101nens, [e_r c1ue ha 111ífrer Ítn ito tem--
p·o para fe conhecer· hurn ho1nen1. '"'f1~'1n
V. 1v!agefiade 1nuy poucos no feo Reyno
·que fej aõ con10 Andre V"idal ,. eui:u1~ ~-:ohhei..
. 11ouco 1na1s
c1a . llue d e v1na
•fl.
, e· '"ama . h e
1

tanto para tudo o de1naiG , coino pa.ta fol-


dado : 1nuito Chriftão , rn.nito executivo ,
nmito a ·igo .da jm1::1<;â , ·e da, raz.aõ , n1ui"'.'
-to zelozo do ferviço de V. lv1agefrad.e , e
obfervador das fu.as I' eaes ordens , e fobre
tudo muito defíntereífadó , e que entend.e
-in y bern todas a· materias , poíl:o clue naõ
faUe enl verfo , que he. ·a faJlta que· lhe a..:
·-hava certo Minífi:ro g·f.and~ da• Corte de
Jf. Magefrade. Pelo qtie tem ::ijadádo a ef...
tas ChtiH:andacles lhe . tenh ob!igaçaõ ;
:n:ias pdo q11e toca ab ferviço de V. 1\•fa:ge""
ftade ( de que nem ain .. a cà fil(j: poffo 'ef...
'CjUecer) digo a V. }~1Ia.gefbide que e:íl:â .An..~
'dre ·Vidal perdido no ·11aranhaõ ,. íj que'
naõ eítivera., a ln dia intrdida fe· V. M·~ge~:
itade lha. e11tregara ; J.igo ifto porque o di·
go neíl:e Papel que na:ó hàde pafiàr das.
n1:ãos de V .. Mag frade, eaffin~ o efpero do
conheciinento que V .. Magefrade ten1 da.
verdade "> ·e deún:tere.ffe com :que ·Iômpre
.... . falley:
DO P. ·-ANTONIO VIEYRA. ·93
falley a :v: Mage-~ade , e do Real , e ca-
t ho1ico zelo co~ que v·. Mageftade deze ..:
j a que erp todos -0s Reynos de V. Mageíl:ad~
fr fa~ajuíl:iça, e ·(e a.d iante a Fe. (A n1ui...
to, Alt:a e·,n1uito poder~fa · Pêífoa d~ V. Ma,..
. gdtade guarde Deos coilió a Chrifi:andade e
os Vaífa.Uos de"V. M·ageffatle havemos 1ni:;"
íl:er. Parà 6. de _Dezembro de-:_165 5. ·
. .
·,Antonio Vieyra ..

,,.e A-R.TA· 'XIV. . .

·4
;

-~!Rey~ r

,· ·. Senl1or.- ·

R
carta: de V. ·Mageíl:ade
O,Il efcdta
, . ! çm 9. -de-·A_bril de' 16)). me orçe... ·
_' · ··" 'na V : Mag~íl:ade por feo Real -,,--e
CathOlico ·, zelq và dando c<;>nt,a 'fempre a
"V-~ Magefta:de. dd ql!le for fuçcedendo ·· ne.f-
tas · ~l~rMtandades , · e do que fe offerecer
neceffario :t:.ara o..bem' dellas ; como llefte fa-
f.ey.. Tan.,, {, ,
?4 e ·A R· T A s· .
Tanto que ch~guey , Senhor , ao Ma-
ranhaõ conforme o Regimento de V. Ma-
gefi:ade , ton1ey •logo poífe das Aldeas dos
.Indios , e enviey a eflas Religiofos ,. que
com mayor aflifl:encia dÓ que athegora tra...
taífem de fua doutrina , como fazem com
grande proveito daquellas almas. ...
Ao· Parà onde he mayor o defemparo
me paffey logo , e porque as Aldeas eíb1.õ '
muy difi:antes· , . e rnuy defpovoadas de g~n...
te pelas\ dezordens do ·tempo palfado , re..,
parti por ellas tres Miífoens , cada huma de
dous Religiofos , paraque cpntinuamente as
andem correndo , e ,,iíit_ando em quanto~
fe naõ ajuntaõ confórn1e a ordem de V.
Magefrade , ,e fe poem em capacidade de
haver nellas reíidencia. Tambem. deixey
dous Padres no Gurup~ que he outra ·Capi-
tania fita entre o Maranhaõ e Parà ·onde
hà duas Aldeas de Indios.
Ao Gurupâ que he n~ bo~a do rio das
Almafonas naõ pude hir, por fer forçofa a
minha afliíl:encia no Parâ ao exame, e jui..,j
.zo dos c_ativeir9s. ,da Ley de J652. e para
-0utros negocios de ferviç-0 de .Deos , e de
.V. Mageíl:ade ; · m~ ·enviey doU?_ _Religiofus
quç
DO P. ;AN.T ONIO VIEYRA. 95
que tomaífem à fua conta as Aldeas daquel-
le deíhito, levaraõ eíl:es Religiofos cotníi-
go 1nais de ce1n Indios libertados , dos que
os :Portuguezes tinhaõ cativado no tio das
Almafonas , fendo atnigos , e confederados
noífos·', e foy eíl:e refgate hum a; boa prova
das novas ordens de )Vi Mageíl:ad·e a favor
dos lndios que· os Padres lhe foraõ publi--
car , . e cbm que elles ficaraõ muy conten-
tes , e an1.1nados , e Jà faõ partidos por di-
ferentes braços do ·rio a levar a mefma no-
va aos de fuas .naçoens , algumas das, quaes
faõ populofií1i1nas , e fe efperaõ ·por efre
meyo grandes converfoens.
· A .grande Ilha chamada dos Joa.nes foy
entra . Mi~aq , de dous Religiofos en1 compa-
nhia das tropas de·guerra que a ellà, fe man-
daraõ pelas rafoens de que jà fe fez avizo
a V. Mageflade, e poíl:-0 que os Padr es tem
offerecido a pâz àquellas naçoens ' mas co. .·
rno he en1 companhia d.as armas , e elles
eíl:aõ .taô efcandalizados ·dos agravos que dos
Portuguez~s tem r4lcebido , ·naõ ad1nitiraõ
a.t_hegora a pratica da pâz , e hà pontas ef-
_peranças de q~e venhaõ taõ cedo a admi-
tilla 1 .porque dizem" qúe conhecern muy
. :. bem
96 . C · A R .T ' A S
bem a verdade dos Portuguezes , e que naõ
querem que os cativem com o tantas vezes
fizeraõ ; e eíl:a experiencia taõ larga das.
injuíhças que fempre lhe fizemos, Senhor ,
he a tnayor di.fficuldade que tem .a tonver..
faõ deitas ?:entilidades. Quando vim ·a pri...
meira vez foraõ dous Padres ao rio de Pi-
narê , que he no Maranhaõ, fizeraõ decer
alguma gente de nàçaõ Guaj ajâras , e por
. temor do trato que viaõ dar aos ·outros ln·
dios ;·fe tornou grande4Jarte delles para os
111atos. Da ~11ff~õ· Aúe fiz ao rio ·dos -T o-
cantins jà V. Mag-eílade foyinformado co-.
mo aquelles Indios fe repartiraõ , e defp.e-
daÇaraõ por onde quis-- a _Çàbiça de quem
ent~õ governava ; agora achey que muito~
eíl:avaõ vendidos por ·c ativos.- '
Neíl:e mefmo anno m,.andara.õ os Padres
huma embaixada ( con10 ci dizem ·) _à iJ.à...
·~aõ dos Topinambas ; . que -d'ií~a: trézentas
legoas p.elo 1n~.(ino· riõ. àcima, e he a ge11...
te mais nobre , e· mais vakrofa de todas
·eflas terras· ; e _levaiaõ tais nov~ _alguns
dos que de 'là viçr-aõ , que -hin9,o .os Padres
bufcar a todos,-·ho\lve·muitos que naõ qui-
zeraõ vir , dizendo , qµe do bom tr.ato que
· lhe
DO !f.. ANTONIO VIEYRA.' 97
lhe fazia~, Q&~P'àdres bem Gertifi cados ; mas
que f ó dos f>.·~ ~ü~es\ {f .temia5 , e ciue
e m quanto na&i ~·nJfuaõ mayores experien-
d as de fe guardar~]Q as novas ore.kns de
·v. Magefra.de que os Padres lhe conta\'.aÕ,
nao f e queriaõ defcer para taõ perto dos
P.ortuguezes~ Hl:o diíferaõ , e fiieraõ mui- .
t os dos mais velhos daquella naçaõ , e ·dos
qüe paredaõ entre elles mais . prudentes, a
quem feguiaõ os de fua obediencia. Mas
cnttr"os, a quem Deos parece tinha efcolhi-
do, fe ~ VÍeraÕ . de muy bo~, vontade COiI> OS
Padres~ . ch~gàraõ a efl:à Cidade do Pari na.
vytava de todos os Santos com feffenta ca~·
·:u.oas .c arregaüas deíl:a gente, em que vinhaõ
1nais de mil àlmas· ; dàs quaes no caminho
f-0raõ algu111a~ para o Geo , dos demais ef-
taõ jà 'baptiza.dos os·innocentes, e os .adul-
tos fe vaõ cathequizando. '
·chegados eftes Indio's fuccedeo hüa cou-
za digna de fe íàbet'. pata i·e1nedio d_e muitas
-que neH:e Eíl:ado fe uzaõ do mefmo gene-
ro. Haverâ ·oito annos que fe fez huma en-
trada à eíl:a· mefma. naçiõ dos '"f opinam-
hàs , de que foy por Cabo hum ]3ertto Rn-
drigues de Oliveirá, ·e trouxeraõ muitos dos
Tumo l · ·N · - ditos e. 3
9S. Ç· AR .T-AS .
dii:o.s Indios · por efcravos ~ fuccede:o . pois
g~e' entre_os que agora vieraõ, muitos ··a:d1a
1;àõ cà feos irmãos , e parentes ; e fend o
-:filhos dos mefmos pays , e das n1efffi'.tl:S
fl!ãys , huns faõ livres , outros efcravos ?
fein mais razaõ de differença. ·, "que . ferem
huns trazidos pelos .Padres da Companhia,
e. ou.tros pelos Officiaes das tropas. Tarn-
be.m neíta de Bento Rodrigues ·tinha: hido
hum Rdigiofo 'de ~c-erta Religíaõ . ; o qual
trouxe grande cantidade .dos ditos e(cr-av.os,
e foy eíl:e hl;lm dos g~andes impedimen~os
crue . os Padres achàraõ _p ara reduzir eíl:es.
Iiidios , porque quan:do -lhe .allegavaõ que
eraõ Religiofos ·., e que os naõ J:;laviaõ d e~
cativar, co1no tinhaõ feito os Capita.és P'o r-
tuguezes , lhe refpondiaõ elles , que tarn~
bem aquelle era Religi:ofo, e os cativàra ;-
e fe os Indios das.noffas Chrííl:andades.lhes
naõ explicàraõ o differente moao dos Pa-
dres da Companhia _, ~aftàra ·efré exernplo
para naõ fe reduzir~m.
. Efra boa opiníaõ :que os Padres ten1 e~
tre os ·Indios ., os co.nfervou , .,e ·defendeo en~
tre elles fem efcolta · de folqados , porque·
naõ levàraõ· çomfi.go ma.is . .Pçi>rtuguezes qixe
· · . . hum
DO P. AN1~01 ~HO ''\rIEYRA. '9'$f
hmn cir.nrgiaõ, com.;.a athe hoje nunca ·vi ...,
fta. , fe1tdo ·muitas e n1uy barbaras as ' na···
çoens por cujas terras paíiaraõ ; a. ntes ttc>u....
xera.ô os Principaes , cu Cabeças de dtras ·
dellas , _'perfi1idindo-os a que tambem fe~·
guiífem, e fe c1uizeífe1n · d,~fcer a fe1·· 1VaífaUos:
d.e V .. Magdbide : ~ e- co1n elles té'fn.ó s jà
affenrado .o ien1po , e ô 111odo cóin ·qtre: ó'
haõ. de fazer. I-iunn1i deitas . t1açoetts ti.'e ::t
dos Catingàs , que fempre. f<)ràÕ in:.iinigos·'
dos Portughezes , e com guerras e affaltós
te:m feit.o rnuitos ·da1ú1s à.s noílas terras ;
que lhé fic.aõ n1ais· vizinhas ,;.: n_ias·jà ficaõ
d.e ·paz , affim COJ? ·no(co " tomo t:o1n ou-
t ra naçaõ tarnb~1n amiga, corn quen1 tr~­
ziaõ guerra. Demais defr.as trouxer~õ 9s '
Padres noticias_ de. qutras naçoens qu.é· ha~·­
hit~.õ pot .todo aq~elle Rio dos J.'ocatttín~, ·
mui~·~s dás quaes fall~õ a. Fngoa geral, . e
fe efpeta que com pouca difficuldade fe' re.:..
<luziràõ a noff~. Santa F e. . . -·
' . Efl:as faõ , Senho.r , :as obras , e os·
1ugá-
res én1 _q?e...ficarno.s ao preze~te oc~upados
os R.ehg1ofos . da Companhia. que neíla ,
Miffaõ nos acharnós , os qqaes fomos p~r
tõdos ·vinte ,r e d~: ·dous · en1 dous eftain.õs.,
N ij di·..
100 C A R 1.~ A S
dividos por onde o pede a mayor neceíli_;
dade. Da volta que faço para o Maranhaõ,
determino de envjar Miffaõ aos Indios do
Camud, e do Searâ; que eíl:aõ para a parte
do Sul , e he tanto o nun1ero delles , co-
mo a neceffidade que_ten1 de doutrina.·
Agora reprezentárey ·a V. Magefrade as
couz as de ·que necefiita eíl:a Miífaõ para fer
c:ultivada como conv.·em , e.: fo ·colher delLt
o copiofo fruto , que .foa grandeza promct·..
te. A. meífe he muita , e <?S operarios pou-
cos ; e eíl:a he a prin1efra couza · de q .e·
fobre todas neceili't amps. ·Ao. Padre Geral,.
e aos Provinciaes de 11 9rtugal e do Bra~::il
tenho dado conta defta falta : e pofro ·gue
efpero de feo . zdo e charid4d~ , que naõ
:fa}ta~àõ con1 dle foccorro a hurna empre. .
za taõ pr.o prja do ·n9ífo inftituto 'rara q1~e
elles o façaõ ço1n n1ayq;.>pt ompt.idaõ e ef-
feito, importaria muitó_CJUe V. l\1ageíl;a.de
o m.andaífe recõm.endar co1n todo o aper·-i1.1
t.o aos _mefmos Provinciaes <le Portugal e
~razil , e juntamente ao Padre Geral , e
~ ffiften~e de Roma, naõ fó para que o or·"'
denem aíiim aos 11?-efinos Provincia.es, mas _
para que ~e ltalia, ( das Qutr~s naçoeµs de.
_ _______ EurºJ?ª·
DO P. ANTONIO V'IEYRA: io1
Europa' nbs venhaõ Mifiionarios, con10 cof-
t umaõ hir pàra a.s Mii1oe1::is da India ·' Ja·..
paõ, e China., co~ que.ellas ~e tenTaugme.n-·
tado de: fuge1tos de grandes letras ·e··vu-
tudes. , .qae naturaln1ente ~s . augm~ntàrà:õ;
podendo prometter a \T. Magefi:a·de " que
qu.anto f?r· crefcendo" ~qui o .~1un1ero . dos
Miffiorta.nos , crefcera tambem ó das con-
ve1f o·ens ·da's aln1as a ·111ui tqs 1iülh a.res por
cada. hum. · · ·' · ·
A fegünda . couza .que muito hà n1ifte.u.·
dht Miífaõ , he '·'.que V. Mageft:ade ; Se".
nhor ' nos faça merce de que (poífa.rnos vi.-.
ver. ndla q.uieta € pacificamente 'fern as pe1~-.
turha:çoens e perfeguiçoens com que ·os Por-
tuguezes eccldiaíl:icos e feculate's continua· ·
mente nns inolefraõ· e ürquietao. 'remos.
contra nôs o Povo, as :R:eli"gioens , os D o ...
natarios das Capitanias 1\1Ôres , e iguàl-'
mente todC)s ~s que 11effe Reyno , e. néfte
Eíl:ado faõ i,nter:eífa.dos no fai1gu'7 e fuor dos
lndios , cuja meno1idade nôs fó defende"'
mos ·; e porque fuftentamos _que fe l~es
guardem =as Leys e Regimentos de V . Ma-
gdtade , e os livramos fe ·n aõ ca.~ivem , e .
q~ "·ÔS aue ferve.in lhe paguem o ~o tra:. ·
.. ·. · ~\ - · balho ,
~cnr .~ ' ',· e·'A
R . 1'1 A ·s,
balho . ; por eíl:as duas ca:uzas taõ jufl:i..,
ficadas· ·e ncorremos no odio ~ e perfegui-
çaõ de todos : e he neceífario que ga.íl:em'os
em·n0s .. defender d1d1:as ·batalhas o .t:en1p·o ,
qúe fora rnelhor empregado na cor,tquiíta
dá: Fe, e exetcicio da doutrina a qrie vie-
mos. . ,
O :renrndio que iíl:o tem , e que fó .põ ..
de (er e.fféétiyo ,.. h:e qu.e V. Mageftade neffa.
Coite fe íirva de naõ admittir requerimento
alg'ui:n fobre ás rriaterias. da nova . Ley e . R e·~
gin1entó , que ·[obre taõ maduras délibera....
çroens V. Mageítad"e ·mandou guaU<d!~r nefte
Eíl:ado·, n1 andando·V . ·Mageíl:ad.e paífar De...
(;fetos .aos Concelhos áonde tocar, que riaõ
fej a admittido , riem ouvid0 nel1€s quem
. fobFe efres · pai·ticulares·pret'e nder ·it1novar ,.
ou alterar couza alguma . .E pai:a V .. Mage-
íl:àde o haver por ·heri1, e. mandar affirn ; ha
muitas e. rnuy for.ç ofas. rafoe.ns ; que. que""'
ro apontar aq.ui ,.pcira:qú.e .fejaõ pr'ezentei a,
V. Mag(tíl:ade. · ·· .t '. .. . ·
. Primeira: Porqu'e ·as·con7~ais: q.µe:V~ M,a ....
gd.lade foy fervido 'refolver, tod;3s to1..a$ t!.*a-
nlinada~ ·e co.tifuhadas corri âs ··pÇ!ÍfQa'S ·mais<
t.-imoratas::,. e de-mayor.esrletr.as. que: ·v:~ '~Nfuí..4
' ,,; .• ,ii,

geíl:ade
~
· .- DO P:,-'. ANTOl'HQ· V:IEYRA~ •to~
_geH:a~e - ~~n' en1 .feos :&~yno.s. S:gu~1da: pÓ~·~
que eíl:~ ·cpnfolt~ , e reíoluçaô íe tomou: .de~~
pois { d~ f:ereJn :v·1fta~ todas .as Ley~ ·antigas ~
B r~v~es ~ <lbs Siúninos Pf:nlt!fic·es ,. Confri.kâs
do Concelho·Ultrarnarif.lo., e·todos os' mais
dçi.cuí;nentos que po4ia· haver na n1atêria~
't'et<teira.'-: P0.n1ue de ·tudo fe deo_primeitó
viíla ao
R1;ocurador do.Maranhaõ ~ P~r':l . .; 0:s
1

qnâés deita@" por .efcri to fi.ias . razoens. (2~~rnr-~


út": :Por<:Jue · em. partic~llar o que.toca· às Mif-
foeus ', entra-dás ·do fertaõ··; e goyerno.. ~fpi~
ritüá:l-.i; ri po1itíco dos Indios , trido foy haõ
fó ·a·pp:trovado, pelos mefmos Procuradores '·
fonaõ a:juffacto con1 dles , como oon fta do
papel que eíbâ na Secretaria de Eítado, de
letra de Gafpar Dias 'F err.eira; que , fe achou
na mefina ·'t:orifexencia., e o efot'eveo. ~Ün"ll'
~a: porque feria contra a:auth.o.ridade das m·e~
mas Leys, fe carta tl'ia fe' rnudaffeni . .Sexta J
pÓ\que en1 qua.ç.to fo.naõ fechar ~~ pf.>rta de
huma'. 'vez· a todos os reqnerimentos ' ent .
cont.ràrio'; nunql ós 'rnoradb.res defre ·Eíl:ado
fe ~aõ de ...aqtliet~r , .. e f? qua_ndo. virem :: ·
dehb~r aç·acl de V .' Mageíl:ade 1 em rnr nao
quer·e·r·':0uvir ndl:i _11:1atetia ·; acaharà·ô ~ de fe
~efenganar ·nella ·, ·e fe âcommodarâõ·· · ~.o
.... =-'J. que
· 04 .' . -C A R 'T ·A S
·q:ue fe ·tem·· ordenado. Setima : porq~ ~ fó
·-'por· dte meyo fe pode atalhar as grandes
injufl:iç'as '· e· tiranias que neíle EH:ado .Pª "
decen1 os In:dio ~ cativandofe os Hvtes , e
tiâô fe . pagando aos que tra:balhaõ , que .faõ
os dous pontos da Ley ·e Regiment<Y de T,.
Magefi:ade > e fem os quaes fenaõ podern
ctünforv·ar os I11dios , nern o Eíl:~do. Ou:..
tavo, ! porque na Junta que 'fe fez fohre
-efra . :tnateria , confórme o Decreto de ·v.
Magefta:de, fo fo6µii·aú as opinioens 11 ais lar
gas ' é' mais ~ ht voravcis ~\ aos ir::íopadtJr1dr ,- e
tendofelfre cohcedido t~rdú <:'>· q1~e' ncls l.itnf...
tes da jufhça er;;i pofüvel ' dláp lhes fica
Gue préterider , fenaõ o ·injpiro. l' Tona :
poniue ·os n1e.C.~os Rél.igiofos ; a ~ que D~.os
dâ' dezejo de empregár a. vida na ' convera
faõ deílas gentilidades, com a noticia def..
tas üiquietaçoens fe esfriaõ, e''c9rte gtan...
de rifco ·;· que·os :inefi'.nos ~ue cà ten1 ·vin..,
d.o , ·fe arrepen~aõ ;· pQrque vientõ ·bufcar
a: conver(a:õ das almas dos in-fieis , e naõ
apen:urbaÇaõ das frias. pecitr1à: po.rque fe V~
Mageíl:ade defetíde , ·e. àmpara todos os
feos ~Minifhos poi" inferiores qhe fejaõ ,
com inuita. mais razaõ o ·tnetecem dres
Mi.f..
no P. · ANTo~no -rJ'IBYRA·· :r() 5·
Miffionários , que fa.õ m·a.ndados. por 'V .
.Mageíl.:ade , e que debaixo da fi1a Í1rma d.e
v-. deixaraõ. íuas patrias , e
1\!lageíh~,de
Collegios 1 • e ~udo ó qu.e podiaõ tet ·, e
efperar das (i;Ouzas humanas ,· , iõ por 'fer~
wirem a D.eos e a v·. 1\1~gtiíbuk~ na . lna-·
yor e ina.iPi · it.r1porta.nu~ ·· iernp~eza , que·1~e
1
a propagaçaf> da Fe. », e o dekargo da çon~·
cien«:;i~1 ·~e .,J,h. ·Mageflade;; e fe .os. Mh1Hlr.o&;
·d o Santú <2•.fficio ..fa.6 C\\.llU ' rrn.1ica razaõ ta(;
.refpeitadc>~ e YC.;netfl.dos :; _porcp.ie ,def-en4~J.rn:
a Fe na. p;.lz·. / r111a:ut,i~ r'aza?·':hà,p1ra·que os
,qu~ .d, ç:feJlÇ!J~:m (~ ~ndm~ Fe: n,a. canxpan1ra;
i~a plar.~t~õ · e dí,lataõ con1 ·<:!~1 .fárígu~ e con1
a.s ~ vitl.as ·; fej aõ favorecidos e a1n:pat.ados
da, !~randeza de V'". Mageí\ade por rneyo de
feos R:eaes ·Minifhos ? e na,@·perfêguidos ;
e deJp.reza.dos, e afxontados det~)dos :> co~o
.fo.õ os que nefi:a NiH{aõ fçrvim·r1S , na ~rual
fo expe~in:t.enta o que'. d·efde. 'fJ. pdritiipio da.
Igr~ja ·fo .na.õ 1~ d.e. n~nhun.121.. ; .. po1\1<.iL1e "1ia'~ ·
outras erft(>: os P:tégadores fàvon.,cidos ~ e
ampa..r:a dos ' ·G•j os ("''!. ,,,_,.,
., nru.T.a.os ' . 1~ . .d
.r e p~r <.~grn og t;~i
martydzad.os dos Gentio~ ·; e 1iefla . ~')s G.en· 0

tios n.os amaõ ·, .1 nos retelien1, .e nos ,-r.ene·~··


raõ. ; ~ ·os Chriíl:ãos , ai.nda !~. eligiofos .e
1(1m4 l O P ·.r.'" 1
toó C A :R i: ii .".S . -· . "í
e Portu.gue.zes , faõ os que nos pe.rfégue.1'11 é a::
frontaô ,. e fobre tudo nds perturbaõ ; e
.impedc.m o exe1:dci de no:ífos nün iH:.erios~
1tt a .-:onverfaÕ' d.as aln1as , que _ he o que·
·11nais [e· fonte. · ··
· Finahnente, Senhor, q uando naõ hou
era·nenhuma outra razaõ 1 e quando ·tu·•·
d J o que V. lvia.geft:ade. ten1 ordenado-:,·naõ
fora t-aõ juíl:o e ta( jtiftificado· tomo he 7
fó polo que agora di.rey o devia ·V. 1\1age~
fl:~Cle n1andar continuar fem rAudança n,em
alteraçaõ algun1a.: ~rud.o ·~ que V . .:Nfag~~
frade tem ordenado na ultima Ley e ·R'.egt:;.
1

.inento , efHi puhliçado ·rtos Indios , naõ: f ó.


n.efl:as t erras e nas vizinhas ; In..a.s' etn ~ou~·
tras n1uy a.parti ias e re1notas ;' ot\de . por
recados e por eferi o tern man~ad.o o tG o~
v.ernador , e os Padres .a differentes I ndios
das_meíiJ;Ias nâçoens > para que lhes c:refi..,.
raõ o no-\ro trato qu~ V. MageH:ide lhes
ma.rida fazer ·; é como .to.dos os Indios haõ
de .viver debaixo da pi-otecçaõ e . dotltrína
do Padres da·Companhia , que he o qüe
eile dezejaõ, pol~ .· g·ra.nde · famtL que os d~~
tos Padres tem de fe ·en'\ os mayores ·.an1~~
gos. e d~fenfor.es_. d(}sJ.U:efinos lndios i ~por.;
... • ... ... .J . iífo
DO P. ;AN1 0NIO- VIEYRA.
1
io7
iffo faõ·delles muito amados. Hlo he,Senhor;.
o que ·eftà mandado dizer a todos , - o qut:
jà .ten1 ·abalado a muitos das fi1as terras , e
o que nas noífas detem .a outros ; qu~· de
defofperados fe queriaõ .fahir dellas. E, fe
agora vi!fém · que eílas promeffas · e efpe-
ranças defanna vaõ em vaô , e tornavaõ as·
couza\I; a correr . pelo eíl:ilo .. q_uc ~1.'artt.es ; -
nenhum. .credito fe. d:;irja mais · ê.nt.re'.Qs ln-
dios às Leys e oi·dens de V. Mageíl:ade, ne1n
às ·palavras dos Govern~,dores .: e os Miffio -
narios perderiaõ toda a opiniaõ e authori-~
d.ade que . tem çom elles =·enaÕ· fó naõ def:;.
~eriaõ. do ferta3 a fer~ch.dfl:ãos e V affallos
àe · '.v~~ Magdl:ade .. as naçoeris qúe fe iefpe-
r aõ :, mas ai11da os €hriH:ias· e Vaffallos
a.nti_gos de.fefperarlaõ totaln1ente e defpo-
voariaõ .. fuas Aldeas , co1no outras veltes
tem feito , e fe .an•uinaria por ,~fta via ·to-•·
do d fu11dame11t6 do Eftado e das Chri.íl:an··"
d.ades ' que COhíifre na confervaçaó ' ·e fa.ciH... .
-dade de ter l ndios. · . · ·
· ,Efpe.ramosique -V. Mageíl:ade mandarâ,,
confiderar·o pezo' àeH:a razaõ 1 e clãs mais)
tomo a itrtpbrtat:ida dellas pede.- · ,· .. ·,
: A muito alta e muito poderofa. Peff~~ .
·~ ,,. . O ij de
:ro8 . C A R T ·A S .
. d'.~ '·V. M~geíl:ade guarde peos, como a Chri..:.
ftandadé e os V aífallõs . de ·V. Mageíbtde
havenios miíter. Parâ 8. de Dez.embrQ de
1655.
Antonio Vieyra.

e A .:t ~r 1 .A
A ~l~ainha®
• '· 1 • ·."' ) • '.o

"
Senhorae

(.
~ \ ..) . (!• ..: • ..:, i

S oràens de V. _. Ma.gefr~. ~e~ r ·e...fai


·· carta coil'l· que~ ·~l t 'M:àgefrade fnls~
_, . ~ez. :1nerce·: 11Aanda11 ;·horfrai- . e:~ de..::.oL
fender ·, recebe0i eita Miffaõ ·d.ê ·v. : Màg~
H:ade GOtr1 · o aífeéto e.vene:ra:~aõ· q~é· · de:;:-·
·via ·, '. e con1 ·a n1dina pr.oftrados ~:odos ~ aôs~
·R,eí,les.. pÇ~ d.e V •. Ma.geHade re11de1nos í a: ~. 1

Mageítade as .graç·a.s p0,la ju.ítiçar.-. e · piéda.;..


de)clefte .f:Jvor , ·de r.:iij a•J}efoluÇaõ. dependia~
o . eftabeledmentó · d.eítas GhriJlandade.s ,.
· co1no da. .cpl,1.tinuaç.a.õ delle. dependeràõ fe.65!' .
augm.entos.~ ·. :. r' ' ; ":,. ,,;, - •'
-~.
; ".'
. . ·-
-":" '"""'"
°C l ·T
DO P. ANTONIO VIEYRA." 109
.Eu _e m particular , Senhora, no defpachQ .
J.eíl:e Memorial que de taõ longe reprefen-
tey a V-. Mageíl:ade, conheci que ainda naõ
eíl:ava totalmente 1norto na memoria de
V. Mageíl:ade quem tantas vezes arrifcou a
vida às te~peíl:ades " às balas , às peíl:es ,
e às treiçoens dos initnigos de Portugal; pa...
ra que elle e t odas as partes de fua Monar- .
quia, fe eíl:àbeleceífem na Coroa de V. Ma-
gdl:a:de. Com a falta· delRey e do Princepe
que eíl:aõ ·no Ceo tudo me faltou , e a be-
nevolencia que o feo refpeito me concilia..
va com os Mini!lros- , fe fepultou toda com
dles , e em feo lugar refufcitàraõ os odios,
~·a in.veja daq~elle Favor que'" entaõ fe diffi,·
mulava.. 0 ·que m·;1is me caufa-fentimentoj
he que- -fe vin gueqi. , eíl:es ·odios. , naõ err~
mim ' j fenaõ nas almas deíl:es Chriíl:ão-s · e ~
Gentios , cuja fal v:açaõ fe impede , e, qua.n..-
-do menos , fe pertur~a muito, por fe daren1 .
ouv-idos a informaçoerts taõ alheas da v~r~
dade e :do conhecimento ·que os ·rnef~os
Miniftros deveraõ te1· da minha, e do meo
rlefinteref{e' µa experiencia de tantos an-
nos~ Mas aíiim hav:ia. de -fer , p~ra que a
m'er~ê qµe V, Mageftade me ·fa.z , a de.v a
•~ ... tod~•t>
x1õ e A R T A s
toda à grandeza de V. Mageíl:ade.
Com tudo ; para que coníl:e aos Mini..,
fl:ros e Tribunaes, fiz petiçaõ ao Governa-
dor D. Pedro de Mello mandaífe examinar
juridicamente . todas as queixas que ne.ffá
Coi-te fe tem feito contra os Religiofos def...
ta Miífaõ , e toda:; vaõ ·examinadas , e a
verdade provada na forma que V. Mage-:-
ftade lhes pode mandar ver. Aflim fe mu-.
daõ os tempos; e naõ he o menor facrificio
que poífo offerecer a Deos nas ci.rcunftan...
e-ias- do prezente, verme p or .feo amor ·em
eíl:a~o que haj ~ miíl:er teftemunhas a mi.;:.
nha verdade . .Mas o terme V . M~ge~ade­
mandado deferir fem ~llas , , foy a mayot.
mercê que podia receber dá ~eal benigni...
dade de V. Mageíl:ade , e por ella me pu. .
dera dar por bem_pago de ·todos os- .meos
ferviços , perigos, e trabalhos, quando eu ti.-
. vera rervido p~r paga. . " .. . ,
~obre efl:e favor taõ g:rartde,me diz mai.s
o Bifpo Confe~or da p~rte de V. 1\fa~e-:i
frade, que tudo o qu~ for necéífarió a 1niID:j
é a Miífaõ, o repre,fent'e a. V. Mag·e ftãde ;
porque V. M:ageíl:_àde nos que! fazer mercê
<le nos mandar afliftir e. f-0ccorrer .. Eu, "Se"'.' ..
nhora
DO P. :ANTONIO VlEYRA. "I1í
~hora; depois ·qué deixey o lugar qiie . tinha
a:os pes delRey e de V. Mageíl:ade , nunca
mais me foy neceffario nada , porque· na;;;.
<]uelle facrificio renunciey tudo , nem o
. rnuodo t·en1 ·que me "dar ; depois que ·mé
tleo quanto tinha , quanto podia , _e eu ô
.PuZ nas maõs ·de Deos para o empreg~tl:
'tnelhor: 'As Miffoens· como naõ· ten1 mais
1

.4jner :a~ ru~rcê que S. Mageíl:ade !fez . aos pri~


mei.tü·s dé's 'R:. eli'gio{os , e· fobte e.fre tnume._
J.·o tem· ctefddo ·muitos ., e cada dia fe e.fio
p eraõ- rrtais , bem: fe deixa ver a efheitez.i
'3óm qu~ fe paffarà neHas , e· a falta que fo
p a.decetâ .de tudo. Jvias os empenhos das
'guerras .prefentes , a que os effeitos da fa-..
zénda Real eíl:aõ divertidos , faõ taõ·, jufroi
e taõ grandes, qu.e me naõ confertte o z·H o
da confervaçaõ do Reyno ( que en1 mim
he fempre .o ;mefrrto ) atrevermo-nos a pe-
dir fa.zerida 1' quiRd-0 tod{)5 deven1 offerecer ·
o Tangue~ O que f6 peço eiµ nom.e de to-
dos os Religiofos deíl:as Miífoens he _, que
V. Magefiade nos mande c.o nfervar fem- '
pre n~ firmeza .d as ordens· que ttouxe o Go-
veraador , de que acerca das Miffoens e dos
J nd~<?.f fe naõ mude , nem altere coU:za al-
~ · __;. guma
70
1Ii e A R ·r A s
guma ; mandando V. Mageíl:ade recon1..;
n1endar de novo muito , e ao rr1efmo Go..,
:vernador, a afliíl:encia e favor dos Miffiona-
rios , en1 for.ma que entenda elle e todo Ó
Eftado, qu~ o mayor cuidado e dezejo de
V . Mageítade he o aug1nento e propaga=
·ç.aõ ' da Fe e converfaõ das gentiliqades. ~
como vercladeira1nente he : ~ que os Reli-
·giofos da Co~ppanhia, .coro.o Mio.iílros . da
·mefma converfaõ , hàõde ter fempre n.a
grandeza e; juíl.iça. de V. Magéílade .muitQ
fegura~1a protecçaõ ·e·a*1paro: G1ütrde Deos
á. Reaf -Peífoa de V. ~~q.gefta<ie, como a
Chrifbu;1dade .e os V ~iífallrn; de V . _M agdta...
-rle hàvernos .n iifter. Máranhaõ 1. de Se.tem~
bro de.1658.,·· '·. 1
' •

, CAR~
DO P. ANTONIO VIEYR.A. !.13

A E!~ey.··
• f * •

r
•' '1

Seri.I1ot. ·
1, '' t'

. ' '
~ :(
.· · ). ·· Goveroado~r Dt Pedro .dct ~~~n~ ; '
" feg~ndo ~s iníl:~ndas corn 9.ue tetn .
1. ~ , . peqido !1ce1:1ça :ª V~ ~agdtade ·
para fe recolher ao ..Reyno , efi1era &zello
na nionçaõ _ddl:.e- inverno , en1 qua11to ;par~""
r..~·'·ªº Rio dà.s . Almázonas a affentar huma·

.. Iv.tiífaõ nas naçoens flos Inin1ga.ibas , e ou. .


tra na .dos. Tapuyas qne faõ vizi~has ·de
muitas outras ' ern que fe efpe.l'a'. grande
çonverfaõ de alrnas , forv iço de
V. 1v1age-
ítade , e aug1nento de todo o Eftado .,. que
f6 por etl:a: via potie.vir á fér o que pro ...
mette a largueza: ~de fo.as terras e n1ares : da
iinportancia d4 pàz dos· Inimgaibas e quan...i
to :ao comercio que tem as naçoens daquellas
partes co1n os Hólandezes , ji dey conta.
â V. Mageíl:ade , e de corno tambem 6 caõ
red1izido.s à obediencia de V. M~geíl:ade
r· ~m. !. p toda
'1 1
1~4: , . C ·,A ~- R .. T ' A. ?· ;·-~ -~~ -i
toda . ~~ ferra de Tibiap~~~ , . -~ franq~eado
o 3am1~B.o por te1úra âtlíle P~q1anib,~1co q,ue
fao rfia1s de 300. · legoas ·p or coitas- 1nfeíta-,
das athegora de; naçoe~1s inimigas ·e barba-
ras ; agora levo tamhem a ·meo çargo a~
ordens de hum notav:el d,~fcubrim,ento de
que fe efperaõ ainéla_mayóres ~conféqu~nci~s, ·
pol~ c. õmodida~e ,<lo.s rios, que m1!.ltida?, ~ .
bond;ide da gent'e , ".e ,pola: .rnece.í11tla~e gue ,
t.em del.la'. efias CaP,i't anias d·a p~rte 40,1Ma-~ .'
ranhaõ , e a·s .mais :do Bítado ; , ~ítàõ f!111rf ~ ­
fahas de lndios .e ,pPt iíio m~mJs def~n-.:
e
1 ,.

diiJ.a:s , expafra.s à inv.azaÕ .dos ~9-i' tI).igo§:t{~


a.om b~ · quaes fe e~perim.êµtit .o.val~!·1 e~; fà
fidelidade . deita naÇaõ porque algnrís.dçl..; ,
1
., ,

Ies: que enfr.e nos havia , foraõ os ·que ma-·


y..-or guerra fizeràõ aos· 'Hol.ánd~zes; quatidof
occuparaõ efra Cidad.e ·.; ,. athê os lança.re~
f-6-ra de~la. Tudo ifro '. ' Senhor , teprezen~ ~
to a ·v. Mageíl:ade para· que ciuando o Go-,..
v:.ernador D. Pedro ·parta antes de ·eu che- .
gar: deíl:~s Miífc)~n~ ,~ foja pr_ezente a V_.:
1

Mageíl:aue o m1111t9 que a , V Ma.geíl:ade .


tem fervido ne.íl:e Efrado , en1 menos . d.e·,
dous annos e.1neyo de feo governo, po.~·qúe; !
tudo _o que fe, obtou , fe. d~v.e. prin~ipaln:r~µ•...,
· i i. · ' · • ,_ • ~~ . . : te
,,
- DO P. AN.T'~NTO 'VlEYRA. Iltj'í
re ·aa Ro zelo ·~ cuid.ado , .àifFml&àÕ' e·exe--
cu~a.õ' ·; que' he grande' e fem a qual J.C naõ .
1

pud erà. ·corlfeguir_couza., de contide'ra:Çaõ 11)


e muito ' menos tantas·t.e taõ difficulto2a.Se.m1
taõ breve · tetnpo • .A . Deo:s .e a ·V. Mage~ t
frade ·.peClimos todos os . Rdigioíos . dieíl:a~~
Miffoens,1 lhe ma.11~ff V. Mh.ge~de {hde'detã.1
c1uandci V.; Magefbttle: affim o tooh.a~ ooae.-~
nadó , peífoa de tal talento .e Chrilhtndade;.
que levê po:rdia.11te 'o qúe,·ell.e tem ·-conieça-
ào,tcf'ue·v. Magefl:â'à~ p:or fila·gr@·d-eza> deve.
rriaudar agrndecer':e ptemiar ·rorno 'fetviÇ'.0$1.
tacl' íinaladôs·ineiecem',, patá .que conheÇai:
1

tõdos que V. Magefl:ade, eíl:ima os deíl:a qua-


lidade, 'pois fa:õ verdadeiramente o~ mayo ...
res ; e de qne mãis11.epet1de :.t ço11Íervaçao do
, Reyno , fundad'.1 fó no rnund.ó pok Deos
pata ~.il~taA.;_ a·F e : . e p<>nq ·çtue V. Magdl:ade
cháme a D. Pedr~ _d.e Melio para ma.is perto
da Real ,.,.P dfoi .de V. Mageíl:ade,, pot con~
co~retem nefte Fidalgo as qualidades mais
neceíl,"arlás para o tempo prezente , c.omo
nelle tenho conhecido em to!Ío ç te1rtpo
que () tratey ' entendo ' e affim o peço ,tii
V. Mageíl:ade ,'que na mefma peffoa de D'.
Pedro pode V. Mageftad~ conti11uàf a Real
· ?·~, ~ ; · · P ij pro-
~tz1 .~· ._ .. q ·:e
A R.· T '· A;: S . . ·~ ~ · '
1
protecçaõ, com que V. Ma:geffade foy fer~'
vido .c.rear e ·augmentar efta Conq_uiíta qe
Chri~o , fervindo-fe V .. Magefi:ad~ do fezy
confelh0. ·e.·das fuas :noticias .que faõ: mui-'
titS : : e· n'as das. partes Uhr~nia·rinas. éomo
· em todas as mais , experitnentarã V. _Ma-·
gdlade q.u_a nto Çliriílaõ , e ·~·en1 i_ntenei'o-.
nado.:~ he o feo .zelo, ; ··e ·-quam'· àcertado o
feo : votô~ : .. - . '1 . t . ' r · ~··
.. Gua1;rde Deos ., a Real ,Pd{oa ~·e _ :v. Ma...
<" -

gdlaqe como .ª ' Chr:ifta.nch1cle . e osl VaífaÍ-


los:_ de ·V. Nlagefl:ade have-meis . mifrer~. Ma:lij/
Jfa:nh-aõ 4., .de i. Dezen-;ibro-
. de t66o_,
.
· ·~ .! _ ·
DO P. ANTONIO VI'.EYRA: rir

A. XVII.
(

C . A ~·it '4
.·11~ Bijpo 4o .JaJ'dq~ .
' ' "

·s enhor
'

Bi(ptl~
' .
01".'.JTRA a vontade , e contra o en..
. , tendirri.ento efcrevo eí1a · a V. Se-
,.. _;. nhoria. ', Confra a vontade , . porque
ke tnateda que mitito finto ' e que a _todos
nos eíl:â 1nnito i:nal : contra. o entendin1en-
to., porque me diz o noífo Governador ~
amigo D: Pedro de· Mello, gue na inonçaõ
deíl:e inverno hade pártir para o Reyno ,
p·o rque lhe hade vir f':lcceífor de Lisboa, a
ciue~ .de . nenhum .modo me· poífo perfiiadir ,, ·
por . mais· q_ue fey as iníl:ancias que . elle tem
.feito.· Eu qu.is reprezentâr com todo o en,
carecimento" a S. Mageíl:ade ; e pedir a V.
Senhoria , naõ fó que acabaífe D. Pedro o
feo governo , ~as que .· éontinuaífe nelle
-por muito mais·tein_p o , e o naõ fiz, por-
que me co·n vinhá · por noífa amizade , e
. n:~ ~ra rafaõ.~u.e 1~1e paga!Ie as obrigações
"" .
"l :/. ~ ~·..,J;.-
_, oue
l ...
~t8 . . , :C A ·x_ . T. ' ÷':S "'·
que lhe tenho , C(}fil moftrar , que era mais
amio-o meõ do. que. feo: S'e eu me engana1~,' -
1

b '
e fucced~r -o ·que elle dii , lâ oterà V". Se-·
nhoria aonde Y. Senhoria -com os feos ·
poderes , pois eu naõ yalho ·n ada , lhe pode
fazer agradecer o ~uito. que nos tem foito
e faz , qu.~ naõ .repito-_ a V. Senl1ori;;t; póís
he efle aíliunpto a mais ordinaria materia
das · .m inhas cartas: E1n fu1nma digo : que
cites . dous 1. a:nnos e 'meyo fe te1n 1 .obr~âo
muito .em· fendço ·de Deos , .e:de 1S. Mage/1wa'
frade , e fe ten1~lançàd.o .fu.ndame11.t'os 'a.mui..-
to .1nàyores obraf~· ,. . e tudo fo deve ·à ·difpo:...
fi.çaõ e· e:x:ecuçaõ de D •.·Pedro , fem a quat·
ne.nhu1na' cortza fo pu~er.~ ·c0nfeguif,.e mui..,
to menos tantas; e ta.o difficultofas e detan...,.
ta jrnpórta:ncia; Qoeir~ · Debs -~_ue · là ·o fa:i ...
bao conhecer ?S que fo_. te~ os olhos n~~
ftontcitas~ ·do· Alemittejo ., e naõ confiderad: ,
qué o ~ey.no ·de.'B ortugal naõ: fi>y. fún.dadd
p~ra fe efte~der por ~eaíl:ella; , fett~ó~ par~
chlatar a- :E~ de Chnfto 1 e .- o ~eyno . de -
_Deos pelo ..rnund.o ... ~.: 5'..~ .Magefta-de ~ repre-e ·
_zento, q~1e · irnportar~ ·_aind.a: p~·a feo fe.rvif'
\;o , <]Ue cos deíbz qua:lida.dé , fe .preme..;.em
co.mo .inei:ecem, Bata. qU.e.h~jà: quen11 ooht!~
· nue
_po P. 'A NTONIO VffiYRA. rt.9
núe ·. o qrte .'. D , Pedro tem; comeÇado ; ·e
qúé venh . fucà~d~:rlhe ,tal peífoa , CJ.ue na~
defmanche o que 12om taõ bo1n. zelo . , e
com taõ bons trabalhos fe vay fitzendo. Se
:tl~U.I}) ~llivci Q. f!1"Ç· fiJ:a~ lltr,~~fen,çi~ , aefre ..1,{i-
dalgo ,. he .dezeJar v.er multos·"de' {11a.s qua-
lidades junto da Pelfoa de S.' M·a geHade, e
mais .,110 t't;1rft.l?º _l(rêlZ.el{'Ce, en-1 que taõ nece··
!fario h.e~ o bom coraçaõ ,, e fidelidade ,
valor e honra ': tudo iíl:o tenho conheéido
eni D. ·pe drd depois que o trato. Jà eu dif-
1

f(}.a·\T.Senhoria.ciueeni hum lugar do €once-


nho Ul tr:amarino feria muito. bom o feo vo· ,
to polas_ noticias que t.em ddlas partes , ·
e eu fio que depois que S. Mageíl:ade ex:-
peritri,e ntar â lhnpeza do feo zélo , , e: da:-
reza do feo juizo.ein todas· as. mate1ias-; fe
hade querer s.: Magefiade fervir delle .• em·
iodas. A' experiencia m.e reporto , f obre a
qua.1 -n;iõ fe.rà necdfarip o 'favor. que. V.
Senhoria me fa z , o -qual . eu ·renunciàra de
bo~ vontade . na 'p~tfóa de D;. Fedro p~Pa
feos accrefcent.a.mentos quand.o:elle o houv:e.;:.
tá mifter, polas. obrig~ço.ens··gll:e lhe tenho,
€ poios benc$ -<fll@:, lhe dezete> .: traganos
Deos boas nóv.às .de V~ Senhor.ia~.., a·a ue fJ
.~ ~ A• ,me~
120 . .C A R T A S
·mefn10 Senhor nos guarde para no.ífo- ain..;
par~ e deze1n penho. · Maranhaõ 4. de De..,
zembro de 1660. .

-·H umilde Creado e que .m.ais ama.


"
a V:Senhoria~
Antonio \Tieyra"'

C AR -T A" · XVIII~
W
Áo 'JJuqué do Cadaval•..
. -
ENH·OR: com. .razaõ diz V. Excel...
lenda, que ·and.aõ os trabalhos ettca·
déados. E quanto ao dó.Senho! Con·
de de Soure , naõ acho outro allivio a taõ
grande materia de {entirriento 1nais , que a
confideraçaõ de ,haver Deo.s trocado· as fen
tenças , deix~ndo-nos ·a vida do Conde pa-
ra muitos annos, como h:.tv~mos miíl:éi, e
levando para o Çéo aqüelle penhor , · ·cuja
faudade fe pod·e confolar com 1nuitos·outto,,.
que Deos ainda lhs darà,_ Mas applkando
.a'ª.
- - J
DO P. ANTONIO VIEYRA.· rir
a ·cadeá dos trabalhos aos · meos ·, tem-fe
ella travado de maneira, que fi~ndo o meo
mayor fentimento a auzencia' de V. Éxcel-
lencia deífa Corte , guafi me vem a fer al-·
livio , Oll remedio .a ·mefma auzencia, poiS'
·feria nova circuníl:a,ncia·. de pena falta.r me·
a communicaçaõ de V. Excellencia, fe V.
Excellencia faltar de Lisboa. ~~arrarey oca-·
zo como tem paífado ; poíl:o que jà dey a
V . Excellencia as primeiras noticias delle.
Tive avizo haverà CJ.uinze dias , que me
eftava decretado novo defl:erro: huma Ver ...
faõ diz , que para o Brazil ·, outra para
o Maranhaõ , outra para Angola ; fahio
~ iíl:o de hum dos mayores Minifl:ros , e com·
termos ·taõ eff~étivos , que fe tomou infor-
maç.aõ dos nayios que havia para aqudlas
-partes. Dezejey faber a cauza defl:a novi~
dade , ·e no .correo paífado me avizaraõ ·,
O\l notificaraõ fora por huma carta ou car-
t as que .eu efcrevera a V. Exq~llencia , dif-
_correndo fobre as "paz e~ do Minho , a fa-
vor da negoçiaça.õ ·, e de quem a obrava
&e. e que cõmunicando V. Excellencia ef-
t as .cartas , chegara de maõ em maõ o que
nellas !e dizia a parte, onde· de tudo fe fi-
7orn. /, Q zera.
'lfí
i22 C.A R T A S · ··
zer~ i( _p~lavras forn1aes ) rehnadiffima pe.;,
çonha. Naõ hà heregia que fe naõ tirãífe
da Sagrada ~Efcritura, e com tudo as · pala-
vras faõ diltadas pelo Efpirito Santo, ·más
naõ eíl:â o mal nas palavras ; fen4õ na
interpretaçaõ que lhes querem dar : e é:o-
1;ó.o dizem que fora~ de maõ em tnaõ '·be1n
pode fer que chegaíiem ta.õ differentes , que
totalmente naõ fofft<m as minhas , é a1Iin1-
o creo. Mas de qualquer modo que · haja;
ou' naõ haja íido, eu e~ou .pela fei'itença ,
e hirey para onde me mandarem. , ·feja
Afri ca , ou America , que ·em toda . a par."=
te· ha terra par.a o . corpo ., e Deo~ para ~-a~
abna , e là nos~ ach~r~iµos toqos .diante da-!
<iuelle Tribunal , opde·· fó ·i:efl:emur.i.ha <li
verClade ' · fen~e11çea· a jufriç,"a ' '-e 11unc;ª' ·he ,
eondei1ada a. innocencja·. Ale·m. déíl:e-cafl:i.;:.
go que :d izeirr ~ar decretado , fe~e n~ti.~ ·
b€a 0utro , ·pofr6 que me riaõ declaraõ de
~rie tribunal- iàhio· ,· -:em que me ordenaõ
por modo de .confelho ' que ine abftenha
de ·efcrever àquella Perfonagem, a quem ef..
€revi _o fobredito ( ,porque naõ nma1eaõ á. -
Peífoa de V. Excellencia) e que fó- o faça ,
por · eíta vez , dando fatisfaç·:iõ · de mirh e ~
. ' ~~
. D9 rp,
ANTO~IO .VIEYRA. iz 3
conta~ da occaftaõ. E{ta h~, Senhor, toda a
hifroria com que entrou o anno de 166 3 ·,
e fe vay declarando por critico contra inün
pois naõ fó defterraõ a V . Exçellencia d~
L isboa , mas· a mini · de V. Exc.e llencia, da
qual fentença o n1eo çoraç:aõ fo ri muito no
n1eyo do feo fen.tiil).ento , ·appellando. dos
irtfi:rume.ntos da rmemoria para·a ·mefn1a me ...
moria , ·e dando grâças a Deos , porque
o.s que tem jurifrliçaõ fobre o papel ) naõ
a ·tem' fobre a ~ aln1a. Saõ hoje os vinte que
V. Excellencia ten1 finalado por dia decre-
t'orio da1par'tida. ·O tempo eilà dara e con-
certad9 :;_ainda . que· o naõ efteja o mundo ..
O que
importa, he que V .'.Excellencia t enha
:muy boa ·viagem ,' e que V ·. Excellencia a
procur@ fazer· com . o mayor defcanço ·, 'e
cómodidade,- e (e V. Excellencia em Gou-
vea achar·1nenos Lisboa , tambem ferà al.:.
livio o achalla lnenos ; e nenhuma couza
fàltara: ·â:' V.·Excdlencia em toda a parte ,
:pois fe lev:a· comfigo . .De mim naõ tenho
qu.e dizer ·a v~ Ex:cellencia, poi-que o ·me.f~
mo __ que tenho dito ; ferve para. todos os
tem-pos , pois fol!. e hey de ~er o mefn:io em
t odos.. Se .co1n . effeito .me n1 andarem em- '
.· · ·. ,Qij barcar;
11 4 e A R T A: s
barcar ; como na hora da morte naõ hà re..:
ferva.çaõ , aproveitarme-hey do privilegio
para dizer a V. Excellencia o a Dio : no
entre tanto , fe .m e naõ he licito proc~rar
novas de V. Excellentia em direitura, fallo
hey por .outra via , que náõ me '11a~de ·im-
pe'd ir ·todas os homens. - E quando elles o
façaõ; as de Deos eíl:aõ fora d~ fm1. jurifdi-
çaõ , .e empregar-fe-ha o meo affê&d todo .
em -oraçoens, e facrificios, rogando ao me(.;.
mo Senlior como fempre faço ·, ,pel~ fe- ·
Jicidade da Peífoa e Gaza d.e V. Exn~~1len~ia~
·e fobre tudo , · pedindo a fqa Djvi.na Ma-
gefrade, tenha a V. Excellencia no nume.-.-
ro de feos V a.ífallos '· con.fervando feíh'Pre'"·
a .V. Excellenêia em fua gra.ça ···c ôm·..gran-
de;s augmenros della, que he ~ o que fó hade ,
·durar, e o que·fó importa. Guarde~ Deos . ·!

-V . .Excellencia. muitos àn'nos como ~ de.z."eJô.~"l


Porto 20. de Janeir.o de 1663. , ' . ~ ·
. Convem que a notic"ia ddl:a refoluçaõ
naõ paífe de Y. E.xc.ellenêia, por refp~ito d~
quem ma notificôu , 'princip.a:hnen~e ,. na.ó
fe me dizendo donde_maúou, o que eu pro-
çurei faber. _· . ·· · · . ;i: :> i~
., . Creado de- V. Excellencia. . . ·,.
Antonio Vieyra. CAR ...
DO P. AN"'fONIO VIEYRA·~ 11;

CARTA XIX.
'~ .

'

Ao.Marques de Gouvea.
ENHOR. Naõ poderey dizer _a V.
Excellencia que tenho boas feíl:as ,
- . póis me fa~taõ novas de V. Excellen-
c:ia, fem as quais he força crefça o cuidado
em que {ernpre me . tem a faude de.. V. Ex- ·
w lencia nos rigores deífe lugar , e deíl:e
tempo. Queira .N., Senhor feja outra a çau-
fa:- ; com, ·a. qual _mais facilmente me com-
por ~y... - , , , , 0 ~ 1 "

, ·- Por efras·part.es naõ hà couza digna de


relaçaõ , ,_mais ·que parecer fe tem recolhi"'.'
d.o o exercito do Minho , pois me dizem
em -ca1·ta do .Porto que o amigo Jo.aõ Nu-
n es da Cunha vem ter a F eíl:a a fua Cafa ..
?'~.a me.fina carta vem o paragraf9 feguin-
te : Anda aqui: ~_r,1,e o Rery de Argel he Por-.
tuguez dejunto --a Pinhel, e que mandou pre~
zente a E!Rey , e recommendaçoens para feos
parentes , e certa peça para o vizinho da por-
.:ta , que he hum Crucifixo , e ·q11e.j à ElRey
' (<
dera
'l 7
1 i6
1
C A _R T A S .
dera dous l11gares em mofteyros a d1Jas febri-
nhas do dito. Se ajfirn 'he , parece fe cumpre
a profecia : Huma porra fe abrirà num dos
Reynos Africanos· &e. Athequi a carta i
~m confirmaçaõ da qual conta hun1 -Padre
que aqui chegou os dias paífados de Roma )
que. he certo havCJr no dito..Reyno de Ar...
gel hum Portuguez de Pinhel que la he
Baxâ 1nuito poderofo , muito.. bem quiíl:o ,
' e de grande authoridade' e que he vero~..;
mel, que ·a eíl:e. o levanta.ífem por Rey, por
que coníl:a fer mono violentan1ente o Tur~
co, que alli reinava.
E nos ultimas avizos que vieraõ de R°"'
ma fe efcreve tambem que outro filho de
hum Rey daquellas partes, convertido a Fe,
fe fora prezentar ao Pontifice ,_ e' pedira
f er recebido na Companhia , em cujo novi...
ciado jà ficava feito Religiofo. Pela mef.
rr:a via de Roma n1e avizaraõ tambem de
. Lisboa neíle correyo , .que o exercito de>
Turco tinha tomado fette .C idades de .A..
lemanha , e que a Gtia.da era Praga , com
que ficavaõ cortados todos os foccorros de
Vienna de Aufhüt, e o Emperador em funt ...
ma defç.onfiança. Tudo fe vay en.cami_n han•
do
DO P. ANTONIO VJEYRA.- 11,.
do ao caíl:igo da Chriíl:andade, que, fecrun-
do as profecias ,. he a ultima difpoÍiçaõ
d.as felicid~des que fe efperaõ.Tragame Deos
a de b?as novas de V. Excellencia para que
cómece -o anno ele 64. com taõ felf ces-prin-
d pios , .con~o. a-V. Excellencia dezejo. Cuja
Pdfoa:. o Ceo guarde por muitos annos, co-
mo havemos mifrer , e eu continuamente
lhe . peço en1 todas as minhas oraçoens e
facrificios. Coimbra io. de Dezembro dê
1·6é3-•
.
Oapélhtó~ e mel).O! Cteado ·ele v~
r
:.,
~
Excellencia:
' •
. __ . ' .
~ -tf .;

CAR-
..

CAR' T A ·xx.
~. AVº Rodrig~ , de Meneze.tº '
' '

·s~ ENHOR. Algun1 privilegio Je hade


. · tornar à con:t a · d~: :fa,ude de S. A .. de
, • 1 q:ue 'ª V. 'Senh0ria: f aõ devidos os prf...
·

n1eiros parabens,cQn1.o taõ intereílado.e lna.is


·<jlle todos no dezejo , e eíl:in1açaõ d.ellai
Confeífo a V. Sénhoria que depois de tres
vezes 1n.orto , e tre$ vezes refurcitado nef...
te ànno, foy ta11ta ·a n1inha.defconfiarn;a .da
, vida con10 nos dias dç:íl:e gr~nde cuydado•
.: Be1ndita [eja a Divina Bondade, que taõ in...
teit~11ne nte nos liv,rou delle , ·e a V • .;:>e""
nhoria ·do extremo fentimento em que :a~
companhey , e confid erey fempre a. V. Se.-..
1

1ihoria, con10 ciuen1 taõ lembrado eíl:â do


affe<sto çorn que V. Senhoria amava , e ª"'
dorava a S. A. no tempo ~m que eu pod' a
fer teíl:en1unha delle, que naõ confidero ho ...
je diminuído , fenaõ muy crefcido fempre.!l
como o pede a razaõ. ·
Eu, Senhor, c01no tenho dito a V. se..:
nhoria
DO P. ANTONIO VIEYRA. · 129
nhoria, tres vezes cheguey às portas da mor-
te neíl:a minha doença, de que torney a ar-
ribar, fóra de toda a efperança, por merc~
de Deos. Sirva-fe fua Divina Mageíl:ade
que frj a para o faber fervir , ainda que pou-
co poffo, mal convalecido, e com receyos
de recahir, porqüe náõ pode a minha fr a-
queza con1 a intemperança deíles a1;es·~ e
com os· rigores deíl:e fegundo càrcer·e ·de
Coünbra para onde me mandaraõ , naõ fey .
por q11e culpas. Efia ha íido tambem a cauza
do meo diuú1rno íilencio ' e de naõ .pro-
curar novas de V. Senhoria por carta , co-
mo ainda agora o naõ fizera , fe o Padre.
.i eytor de Santo Antaõ , que tan1 bem me

n aõ efcreve ha mais de hutn anno ' por ter-


eira peífoa n1e naõ avizàra que V ·. Sénho-
ria.~ o detern1inava fazer ; co1n que fuppo- .
11hó naõ haverâ de prezente o perigo que
experin1entey com a .u ltima de V. Senho-
ria que recebi no Porto , que como al_hea
de todo o myfrerio naõ duvidey mofirar a
algum amigo , o qual na interpretaçaõ del-
la devia de naõ guardar a finceridade que
eíl:e honrado nome fignifica. Emfin1 aqui
eíl:ou , e aqui eíl:ive tantas vezes· para mor-
Tóm. l R rcr ,
130 C A R T A -
rer, e entendendo os medicos que fó a 1nu--
dança ·dos ares me podia dar faude. , naõ
me quis conceder effe favor aguella Patria,
por quem eu tantas vezes arrifquey a vida.
· . Sobre tudo eíl:in10 que. V. Senhoria eo
Senhor Marques (de quem fempre procuro
novas por todas as vias que me he poílivel)
haj aõ paffa.do fempre com ' a vida e faude
que a S~ Excellencia e a V. Senhoria deze-
jo,acompanhando en1 todas as fortuf1as deíl:~
·anuo, j à com o goíl:o , j à com o fentimeti-
to , a differença que nellas experimentou · a
Caza de V~. Senhoria: e .rogando fempre a
Deos a conferve e· augmente- com· asfé!-lí-
ddacles que V. Senhoria e o Senhor Mar,;,.
ques ,merecem a todo eíl:e .Reyno, .c omo taõ.-
principaes columnas delle. O mefmo . Se.;;.
nhor guarde a V. Senhoria e . clê a v~ Se...
nhoria taõ alegres feíl:as con10 a V. Senl~o'"1
ria dezejo Coünbra 17 . . de Dçzembro d·e
~663.
Creado de v: Senhoria.
t\ntoni~ Y,ieyra. ·
. ..":AR-
DO P. ~ANTONIO VIEYRA. i 3:r

CARTA XXI.
A'D. Rodrigo de Mene.zes.
ENHOR. Vaõ efl:as 1·egras, pois V.
Senhoria lho c.onfente , acon1 panhar
• a V. Senhoria na peregrinaçaõ de
,Salvaterra , e teíl:ifica,r o mayor goíl:o com
que ? fizera, fe lhe fo~a permittido , qu ~m
as efcreve ; e bem pode V. Senhoria dar'"'
ine credito , que he eíl:e o termo n1ais
encarecido com que o meo coraçaõ pode
râ declarar o extremo com que ama ·, e fe
i-econhece obrigado à peífoa de V. Senho.:..
ria; pois naõ haveria outra força, nem ref..
peito humano que o obrigaífe a tornar a ve't
o mundo depois de eíl:ar taõ defenganado,
e aborrecido delle. Mas comQ em V. Se-
nhoria fe quebràraõ todas as leys do mef-
mo mundo ' razaõ era que fe quebraílem
tambem todas , para de mais perto fervir ,
venerar , e lograr a prezença de V. Senho-
ria. Bem fey que pelo bordo de V. Senho-
ria naõ faz a nao agoa : e efre conhecimen-
R ij to
132 C A _R T . .A S..
to [ó. me bafra , ainda que tudo o mais fe
per dêra , para que a minha fatisf~çaõ e
gofro naõ po!fa j à mais fazer naufragio.
Tudo o mais pe'rtençe ao exterior, e eu fó
quizera viver dos bens da alma ', en1 que
naõ tem poder o tempo , nem jurifdiçaõ a
fortuna. A de S. Mageftade que Deos guar-
de , ainda he mayor do que provâraõ os
·fucce!fos ·do anno paffado: e em' mim pof-
to que feja particular iníl:ituto o conheéel-
la , naõ he merecimento o dezejalla; por-
que [obre as obrigaÇoens de V aífallo , te-
nho as que herdey dos mortos , e ·as que
dêvo aos vivos , e as que efpero ·dever~ <t
Peífoa de S. Mageíl:ade ; quando a:ffimr na--
verdade do meo affeét:o ; como nas minhas
interpretaçoens reconhecer hu1n merror Da·:-
niel· , e lograr huma mayor 11onarquia.
E que feria , Senhor n1eo , fe ô principio .
ddla felicidade eI'tiveífe guardado pai·a o
Senh0r Marques,como principal infrrumen-
to delta ·? Eu naõ acho natquelle noífo Profeta
n1ais que hun1 fó encontro co1n os Caíl:e-
lhanos, que efraria ainda por cmnprir: mas
dfe de tanta. . .felicidade , que haja de af-
fombi-ar o mundo. Se efl:a ultima fentença
hade
DO P~ AN'TONIO VIEYRA: 133
hade ter algmna interlocutoria , naõ 1ne
coníl:a , fó poderey affirmar que naõ faz
_m ençaõ della algu1na o 1nefmo Author. Eíl:a
he hmna d.as razoens , p·on1ue feriaõ de
grande importan.ci~ apreffarem-fe os 1neyos
da fu.Ceeífaõ .a noífos Princepes. Nenhum
fontimento . tenho de que o cazamento de
França. naõ eíteja concluido. Pod.erâ fer
que tenha Deos determin~do . outra uniaõ
mais vizinha , e _de mayor grap.deza , e
convenienc.ia. Entte... tanto eíl:im? a pere-
grinaçaõ de V. Senhoria fobre taõ repeti-
íl as afiiíl::~ncias do -Corpo Santo, e 1nc ale-
gra fum1nan1eote que a alma delle tenha.
taõ bom goíl:o. Emfim Senhor , naõ he
ternpo de o to1nar a V.· Senhoria. Aquelle
papel fe vay f azend-o,, <]Uanto o permitte a
frieza do tc1npo ; e a fraqueza da faude ;
n1as naõ o verâ o mundo , femciue V. Se-
nhoria o veja , e o emende primeiro. A·~
.quelles, docum'ent0s en1 que; falley na. carta
paffada·, naõ de1n cu.ida.do a V. Senhoria ,
porque ainda depois do Entrudo virà() a
tempo. A obra lia.de 1er larga , e jà oco. .
néça a fer , e ain<la naõ he obra. Que o
Seul...or · Marques 111e tenha em. fua graça,
- efri-

3i
:r34 C A R T A S
efrimo quanto devo , e pofto que em to-
dos os n1eos facrificios tenho particular
cuydado de os offerecer a Deos pola vida, .
eíl:ado , e felicidade de Sua Excellencia ,
<laçiui pordi-ante o farey com o mayor af-
feéto e iníl:ancia que pede a occaliaõ. Dros
guarde a ,.{. Senhoria muitos annos como
dezejo e havemos miíler. Coimbra 28. de
Jandro de 1664. ·
Creado de V. Senhoria .
' '

Anto11io Viey~a . ..

C AR T ~ A
I '

XXII~
AV. Rodrigo de Mene~ese
ENHOR. Go~ grande cuydado. ef•
. perava neíl:e correyo por .c €rtas no.-.
· .vas que efpalhou n~íl:a U nivedidacle
o paífado em muitas cartas deífa noíf.a Cor--'
t e ' em que o odio ' e emulaçaõ parec~
eftâ hoje mais .defaforado ) ou furi0fo doi
que
po P._ANTONIO VIEYRA: t3)
que em ·outros tempos : mas co1n as novas
que V. Senhoria ine fez mercê dar de ha....
ver chegado o SenhQr Marques à Provin-
cia , e do qae havia difpofro ein ~vionte­
mór , e com as mais particularida.des que
o P_a dre Reytor de S. Antaõ n1e enviou, do
aplaufo e feitas publicas com que S. Excel-
lencih entràra e forà .recebido e1n Evorâ ,
naõ fó ~eífou o cuydado , mas fe conver-
ceo na. mayor alegria e efrimaçaõ ' de que
eu logo rrte fiz Crol'J.iíl:a, por fei: àffim ne-
ceifai:ior Tanto prevalecern na nofla Patria
t>s rumores contra a verdade , e as inven~
~oens. ou fufpeitas de poucos contra. o co-
nhecimento · e experiencia de todos. ·
As juíHficaçoens do livro do Beato A·-
madeó eíHmey- grandemente ver pela va~
riedade e in certez:t com q úe h.elle fallaõ
I' s Authores : e o melhor que tem , he efra-

rem deferr1pedidas d~quelle fecco , onde as·


couzas d.eíl::e genero cofrumaõ encalhar na
nofla tei:ra. ·As de S. Frey 'Gi'l tomàra tam··
bem ver , e n1e lembra que as tinha anti-··
gamente hul? efpartei~o. das pottas da Mou . .
1-aria en1 hun.1 de quat~o livros deftas cur io ...
ftdades , que elle em~reíl:ou agora. faz. vin..r
~ . . ~e
1 j6 i ·C A R T 'A S
te annos ao Padre Joaõ de V afconGellos ;
quando compunha ó livro da Reíl:auraçaõ
de Portugal , que imprimio com no1ne do
Doutor Gr~gorio de Almeida. .
Por cà naõ hà couza digna de relaçaõ,
mais c1ue h.a ver··fe hoje dado principio às
rr1ezas na fala dos noífos e:íl:udos , onde o
JVIefrre, que he o Padre Francifco ~uedes ,
tomou por ,probletn•l d0s fi1turos contin· ~
gentes , Se havia de vir ou naõ ElRey D.
Sebaíl:iaõ ? e depois de o difputar com ap ...
plaufo jJOr hu1na e outra parte , refolveo
-que o verdadeiro. Encuberto profetizado he
ElRey, que Deos guarde, Do1n Affonfo :VI
Por final que para eu o crer e confeffar
aíllm , naõ foy neceífario nenhum· dos ar..
gun1entos que ouvi, porque depois que.oh
forvey as felicidades de S. Mageíl:ade , e a
providencia taõ particular com que affifie
o Ceo a todas fo.as acçoens ; efrou inteyra-
mente perfuadido a i[o. Nem fe poderâ
dizer por mim que n1ü<ley a opiqiaõ depois
que me vi ao remo , porque e:íl:e rneo def-
terro nunca o tive por gale : antes , fe naõ
fora taõ fogeito às inc1emencias ·do tem... .
po , o tiv~ra por paraizo ~a teri:a. Se aquellá .
. Obra
DO P. ANTONIO VIEYRA. r37
obra chegar a n1erecer efre nome , ferà hu-
ma grande prova, e pode fer que admira~
vel diíl:o que digo.
Como pata dla me er aõ neceffarios os
livros , ton1ey por minha conta a difp0fi.·
çaõ de roda eíl:a .livraria que eíl::â hoje 1nuy
melhorada na ordem e concerto que n.a õ
tinha , e fe defcubriraõ nella muitos Au-
thores , principalmente antigos , que naõ
fó ·eft.a aõ encribertos , mas ' perdidos em
tanta confufaõ.- Hum o.fficial que aqui tra-
baf'h.ou con1 boa vontade., tem o requeri-
mento do 1ne1no'rial induzo ) que pcç.b a
'\T. Senhoria frja fervido paífar pelos olhos,
e mandarme· dizer fe tem lugar, e "que di-
ligencia fç deve fazer ~ e naõ"ine culpe V.
Senhol"ia de tanta importunidade , porque
-p.aõ tenho eH:a obra fó por de charidade ·, fe-
.n:àõ de -obedien.cia. , · pois V. Senhoria· me
man da taõ repetidan1ente o faça. affim.
A cautela gue reprefentou a V. Senho-
ria o Padre Reytor, tenho por muy conve- -
.nientc ao ten1po , e para que feja mayor,
l1nporta que fe naõ. leya no fobrefcrito <i)
t;.iome d , V. Senhoria . Guarde Deos a V~
~enhoria tantos annos para tàntas felici-
.TfJm. l S dades
t38 C A R T A, S
dades co1no eu a V. Senhoria dezejo. Co~
in1bra 3." de :iviarço de 1664.

Creado de V. Senhoria.
Antonio Vieyra.

C A. R T A XXIIIu . ./S

·s
AV. Rodrigo de Menezes()
ENHOR. Sõ nas faudades d.e V. Se..;
. nhoria creo , e fe as de V~ Senhoria
' faõ de me ver , e as de outros de me
ouvir , as minhas todas faõ de ver ~ ouvir
a V. ·Senhoria que he · o que mais dezejo
neíl:a vida. Eu , Senhor , naõ preguti!y a Cirt;..,
za , tjem ·detenni~o pregar. a vivos , nem
-a mortos , porque athe pelos mortos me
calumniaõ os 1vivos, e quando padeço tan;.
· tt~ pef o q~1.e na{~ di:tfe_' naõ n1~ quero é:X:~
por. a mayores nfco.s pelo que .d1ífer , e pa~
x'a que V,, Senhoria veja quam cµriofa. he
í', a boa
DO P. ANTONIO VIEYRA. 139
a boa vontade de 1neos calmnniadores ,
ndre mefmo correyo fe n1andou informar
certo Miniíl.:ro deíla Corte fe efl:ivera eu erri
Coimbra pela Cinza , porque fe affirmava
em Lisboa que eíl:ava eu là efcondido neffe
tempo ; fe eu tivera habilidade para fcme·-
lhantes furtos , quem os havia de fab er
primeiro "que V. Senhoria? Mas tornando
aos Sermoens , ainda que _naõ po!fo 1nan-
dar a V . Senhoria o de Cinza que naõ hou-
ve, poderey ren1eter outros,e todos, e aili1n
o pro me.to tanto ·q ue a i1fo der lugar a Obra
c01n que efi:ou entre n1ãos , a qual he ne-
ceífario que fe ap.reífe , porque naõ venh~
<lepo}s do tempo ~ trabalho nella quanto
poffo , e mais ·do que poífo. As Profecias
ele S. F.rey Gil eíl:imey muito. O livro de
Serafino de Razis procurey por terceira
peífoa como avizey a V. Senhoria , a re-·
poíl::a depois de muitos dias , foy que no
-Collegio. do Carmo naõ havia tal livro ,
nem ainda noticia delle. O Padre frey Ifi~
<loro da Luz , que he grande meo amigo,
e tomou por .fua conta eíl:a diligencia·, en...
tende que o dono do livro o riaõ quis em-
pr'·eíl:ar , e tomou efl:e defvio , e como me
·, s ij db
140 C A R . 'T A S
dizem que compoen1 fobre o Apocalypfe, te-
rà rafaõ para o fazer , n1as ainda havera
tempo para nos ajudarmos do que V. Se-
nhoria ten1 mandado vir de França. A no-
va do defcazam~nto tem Gdo mais aceita
de rnuitos do que foy a do cazarnento , e
eu entro t'amben1 neíl:e nun1ero , porque
havendo o noífo Rey de cazar co-in Elha
de vaífallo , naõ faltaria huma lavradora
em Portugal , quando o Juiz do Povo n.aõ
tivdfe fillia. .Atrevo··me a dizer iíl:o fó a
V. Senhoria , porque me diíferaõ , que a-
the os rr1efmos Cazamentey ros eraõ de.fl:e
.p arecer. Algum dia o naõ fuy eu de que o
Princepe D. Theodofto cazaíie em Sabo-
ya , · porque naõ era hen1 · que ó privaífe-
m·os de huma taõ grande elperança como
a de ·poder cazar com a Princeza de Ca-
H:ella , e vir a herdar Efpa.nha , pois por
certo que n1e naõ deve menos -a.mor ElRey
que Deos guarde , nem lhe efpero , nem
profetizo menos felitidades ·, antes eíl:a he
a 1nenor das fuas., e ·que ferà fe as preven,..
çoens ·de Ca'íl:élla foffem as difpofiçoens ·.de
tudo iíl:o t Deos pode mais que elles , e a-
1na-nos mais que à elles , e naõ me pe~a
· de
·no P. ANTONIO VIEYRA. 141
de ver ao Senhor Marquês taõ empenhado
ein taõ notaveis tempos. Deos guarde a
V. Senhoria c;:om tanta vida e felicidade
como a V. Senhoria dezejo. Coimbra ulti--
mo de Março de 1664.

Creado de V. Senhoria
\ • V

Antonio V'ieyra

.e _A R TA XXIV6
AV. R~dr_igo de Menezes
;

ENBOR. Com huma firma de V.


Senhoria que o Padre Reytor de S.
Antaõ me remete0 ern hum feo ef-
crito , tive muy alegres Pafchoas , poi:que
ella me fegurou do n1eo mayor cuida9o ,.
que he a faude de V. Senhoria ; e do . que,
mais eíHmo depois della neíl:e mundo , que
he faber me tem V. Senhocia em fua gra-
~a. Na mefma carta que aquelle meo ~e­
~,_ co.m-i
142. CAR'TAS
çÕn1endado havia de prezentar a V. Se-
nhoria, íignificava eu a \T. Senhoria guam
pouco empenhado efrava no feo defpacho,
mas ·v. Senhorj.a pela muita mercê que em
rudo me Cluer fazer , mede os favores com
a fua grandeza , e naõ con1 o meo deze-
j o , porque beijo n1uitas vezes a maõ a V.
Senhoria. Cà tive meos rebates como o
anno pai.lado , de me quererem 1nudar o
degredo para mais longr; neíl:a occa{iaõ de
N aos da ln dia ,; rnas naõ f aõ neceífarias as
calmas de Guine , nen1 as tormentas do Ca-
bo da BoafJperança; ba!l:aõ os frios de Co
imbra para fatisfazere1n ·à vontadé" de meos
a1nigos. Depois que entrou Abril , fe ef-
fri'araõ notavelmente os dias , e ao mefmo
paf{o . fe atrazou a faude , mas nem por iíio
1evantey a maõ da noffa. Obra , cujo fi1c-
ceffo depende tanto do tempo ·, que pode-
rà fer fe aprefie mais do ·que alguns cuy-
daõ. Na livraria delRey hà hum. Comento
do .Abbade Joaquin1 fobre o A pocalypfe ,
que hà 1nui .os· annos fe me empreíl:ou , e
a.gora n1e importaya m~ito tornallo a ver,
podendo fe~ ; V. Senhoria rr.1e farà 111erc~
mandallo enu~egar ao Padre Reyter para
que
DO P. ANTONIO VIEYRA . 143
que mo remetta .. De cà naõ ha 1nais no-
vidades que ouvirmos fomente os eíl:ron-
1

dos que fe publicaõ de exercitas de Caíl:el-


la {obre Alen1tejo, e como eu vou taõ do-
brada1nente empenhado nos bops fucceifos
daqu~lla Pro:incia, dezejo c.1ue ~e.~s ouça
as nunhas oraçoens , pofto que 1nd1gn.as >
e as de 1neos companheiros que faõ con-
tinuas.. O mefmo Senhor guarde a V$ -..
Senhoria com taõ alegres Pafchoas con10
a V. _Senhoria.dezejo. Co~mbra 14 de Abril
de 664.

Çreado de V. 'Senhoria.

Antoni~ Vieyra.

CAR..
.C A R T A S

~ CARTA. XXV.
-AV. Rodrig·o de Menezes.
-s,
.
ENHOR. Muito re ·deteve eíl::a car-
ta de V ; Se~ho.ria que recebi em 2 5.
fendo efcrita aos 1 2. devia de· fer a
'.~auz~ a 3.uzencia do Padre Reytor que foy
.Pª-ífar a _feíl:a à banda dalem· logrando os
privilegias da liberdade , que eu ~he naõ
envej o mais que athe o Loreto. Mas tor..
nando , à carta : fçy ·recebida con1 mayor
goíl:o , pôrque foy efperada com mais con1•
pridas faudades, e ella me trouxe as feíl:as ,
ciue fe1n ella na.ó hà outra via p~1onde
chegaífem , e fem pre que me trouxerem taõ
boas novas ·de·V. Senhoria,, e do Senhor Mar-
quês"qu~ De'os guarde, feraõ para mim no·
vas Pafcoas.
Eíl:a minha com rafaõ fe pode chamar
certidaõ de fupervivencia , porque quando
efcrevi a ultima, ficava jà com rebates de
grave doença de que ainda naõ eíl:ou total ...
mente livre , pofto que lhe tenho aplica-
- do
DO P . .f\.N'rONTO VIEYRA. 14)
do os reroedios negativos ·com todo ·o ri-
gor , p.o~·, n1e naõ (qgeiitta:r ao dos medices:
vayme parecendo ~ll.e efcaparey , q·ue na5
ferà pequena merce de·Deos em tempo que
os ares deíl:a Cidade ' and·a õ taõ contágio-
fos. Morre muita· gente ; fogem todos ·os
que podem ; e ninguern .fahe de caza , fe ...
naõ com os defenfi.vos de pefte , tendà-fe
mandado a ffim com , pregoens' publicos , a·
reqtmrünento dos· rr1e1inos que vivem das
no.ifas enfermidades. Neíl:e mefmo Abril fe
u m padecido aqui os 1nais rigor.ofos frios
de Dezembro , e as mayores cahnas de Ju.:..
lho em que nos fican1os abrazando : e naõ
he muito que com a intemperança defl:es
extremos fejaõ tantas as doenças , e taõ a-
gudas , que fó nefra freguefta do Salvador-
fe cnterraraõ hontem cinco , fendo huma·
das que fe efrimaõ por mais [adias. Dou o
para.bem a V. Senhoria de fe efcrever nefl:e·
n1efmo tempo , que naõ hà doenças em
Alemtejo , <1ue he grande difpofiçaõ para
os feiices .foccdfos ; que,,..aquella Província:
nos promette eíl:e annO' ·c om a prezença do
Senhor ~iarquês. ·
N aõ poffo encárecer a V. Senhoria quan-·
~ Tom. I. T to
Lt.6 C .'A R T .A. S . _
to··_.efrimey _, · e fe ·eíl:imou ·ne:fl:e ·Coll~gio à
r:elaçaõ por menor do exercito que S. Ex~
cellencia tem prevenido para efl:a Campa- ·
nha. Fizeraõ-fe muitas copias para hirem
a tQdos os Collegios defra banda. , que fe-
:taõ de granqe animo para todos ; e tan1··
e
bem para que -f fayba , O que Nem todos
publicaõ . .Por eftarafaõ 1 qu~faeu jà repre- ·
zentar a V. S.enhoria que-ímp.ottaría mui-
to , quando V .. Senhoria me faz. mercê ef-
crever , virem as novas do que paífar em,
Aleintejo, para que conA:e fempre da ver-.
d.a4e ·, e para que tenhaõ oppoftçaõ , e fc
naõ de credito âs que· coíl:umaó efpa1har
as p.ennas d.os mencis .affeétos._ Mas ·efyero·
qué haõ ~1e (er- os fuceeífos: taõ grandes, .e
ta3 i11anifef\:os. ~ .qu~ o·s n.aõ: poíf:i efcutecer
nenhuma eh v~J.a. Todas as· p·rofecias· n10
piro111eàem affim· , e [6 m@ fa·z temor, que
eri.tr.e o mundo prez.ente ' e a. g1oria que fe
efpera hajá·aigum"1 purgat9rio em: inej~º ,
tio! qual fe_pagueIÍ:L" peccados· ·de (!fcandalo
publico , c.taj.o l,iem·e-dio~dezej ara eu que to..,
ma.ra0. _m.uiqfü·por fua · c.onta , · naõ os , ~e""
gadores que dizem en1 con1inu1n , Ienaõ os
<t:onfeffóres; os Confelheir.os ,··e os àniig.os
l.- ., · • · • .. :. que
DO
P. ·:A?~TONIO' VIEYRA.. "'.r:47
.qne pbdem ·fallar - em partiCular. Na(, .Pº""'.-
nhamos a Deos em .eftado ein 'iue deixe
de nos fazer mer.cês , por nàô par:ecer irt~
·ufto. '· · ' · · ·
j Se o .Sernlao
..... u:.c
"1 _,,. B. . e·o·
1:;.a.n:t a ~g·ra,e1a
'
:/.'vera
e1n efia.do de fe poder let , frira co1n efra :,
mas con~b ª "nlayor. p~ute foy"pôr apont'a....
mentos , he ·1 neocíl"+rio Linfc5rrriiild 1 d.e iw~
·vn , para ·que· foja o ·q11e eta. ·-·o ·printipü,
·que po~ 1à. a11da cop'iado , .vi eu an~e~ -de
:v.ir ~' n1as te1n n:uy. y~nca.s pal~;~as . que
c:oncoirdent ·com·' (i) . ong1nal , , ·:.é tràê~ i\ndaõ
a rnayor ·parte· ·dos· tneos de ni:iíh:lra. cofu
outros ' s~e ~ ri.a.ó .fa.õ ; e tudo fe pode
t ·re. .
rrtediar: Í<Jmente Cô!I'i a d.ht;nlpa: s.~:, Deô~
quizer ·que affim· foja , ellê ·datâ faudt-.,i Por
agor~ · quizeta··ver ·fe·: poífo levar âo ckh'o
e.R:a Obta ·que para l1ue foja obra tie•ne<.':ef:..
fürio fáyà ·a t~mpo· ; ou an.tes do tetnpo. A:...
gora 1n1t ~retirty a 'ViUa:·rfr;artcãi :por ótdem
~los n'ledioos., e ·efpe!<o· 'ter mâis·hór.ás-d·e gae
ptometto a Y..· ~,enhoti<t , {1ueº r1a:õ- perd€-
r~y ne.nhuma das, <i.UJC pud.tr aproveitar fem
nfço.
N~õ me/inatidou Vf •.'Senhoria o efcrito ·
de frey Joaõ da Silveira, e f6 me diífe V. Se--
.. ,_, ., ,. ·" T ij nhoria.
148 C A R T A S
nhoi-ia que o livro eítava no Collegio def...
ta U niverfidade ·, mas fem nomear o Reli-
giofo que o tinha. A diligencia em cõmum
fez o Mefl:re frey IGdoro da Luz, meo gran-
de amigo , mas refponderaõ-lhe con10 avi-
zey ~V. Senhoria , que naõ havia no Col ~
legio tal livr?, nem noticia de tal Author.
Sobre o Abba.de Joaquim efcrevi haverà
dous correyos , e poíl:o que tan1bem me fe-
rarr1 neceífarios os outros papeis que vi guan-
do ·v . Senhoria rnos mando.u. a Xabregas ,
ainda naõ chego ao ·lugar aonde elles fer-
vem. Os alicerces e primeiras paredes vaõ
todas fuqdadas em authoridade Divina : _e
pa.fqlo_de .v.er qu.am , gt4l.ndes t11~f0uras efl:aõ
-efço,ntlidós noque~ _to9o.& frazérn.entre·.lnâos,
e di'1;nte e-0s 9lhos. Jà tomara qúe algum a
parte ~Jl:ivera em·,e{l:ado de fe 1ap,rêzentar
~os. de v_. Sçphorig ~ 11l~~ ·D.eüs. ajudar à•
.mefmo ·,S_.enhor .- ggar~,e .a V;. Senhoria m.ui-
. tos ãnnos q>mo ··dezajo · CQimbrâ . 28. <3,e
Abril de _1664. .
Creado .de V. Senhoria...

> ,. •
CAR ..;
DO P. 'ANTONIO .VIEYRA. 149
• f '

~ ARTA . xxv1· ~ ·
A.V. Rodrigo t!e Menezes~
ENHOR. Ainda as Naos dà India
na altura do Cabo -v erde n aõ eftai·aõ,
· .e pofto que nos perdoaraõ _o degre-
<lo ,_fadecemos em Coimbra a.~ calmas de
Guine , e tnenos mal fora fe f o fe padece-
r a.ó .as caln1as , rnas fiiõ as doenças taõ ge-
_r aes•, . e taõ- malignas , que jà .os medicos
,lhe1 m-andaraõ aplicar os defoníivos da pef-·
.,_e ; e falta pnuco para. lhe darem o nome ;
e fpero ·nà Divina bon'd ade que naõ hàde dar
t amanho càíl:igo a efta terra' poíl:o que baf-
tem f6 os meos -pecca.dos para o merecer ,
imás quando affi1n fuccedeífe ' tamberi.1 coii-
;fro une hàde dar fua graça para dedic ar .·a
vida ao ferviço ~ e cura deíl:as aln1as , co..
mó jalho tenho offerecido' com. l1ue darey
por bem trocada. a. minha n1iífaô. Affin1
que , Senhor, quando a r eíl:ituiçaõ de que V .
Senhoria tanto fe lembra por m.e fazer ffi(jf ..:,
~ê, .?, tiv~J:~ ~lgum ·lugar , ·naõ he o d t em-
• \ • . ._
"
_ .. -:V
po g9
J.O' · . . C .AR .T A ·s. r
po prezente , em que pode haver occaliaõ
de.. fazer a Deos , que tanto nos merece., al..
gum particular ferviço. ·
As novas que V. Senhori~ .me faz mer-
cê dar do Senh-or Marquês que Deos guar-
de, eíl:in10 fempre igualinente e agora ·1nui-
to rnais pela circunftancia do tempo em GUC
hin1os entrando .. O inimigo como Author ,
fahira prin1eiro , e Nos obfervaremos feos
dcfignios fegundo as leys da guerra d~fenfi...
va ; n1as ofucceflo da Campanha confiíl:e n à.
viétoria, e e.íl:a hàde fer ·daquelle.a.quern n ·eos
a quizer dar , e hade c:1uerer dalla a .qµen
a tiver promettido . .E certo:, que fe naõ ti;;..
vera tanta confiança nas fuas · proirieífas ~·
naõ fey fe me defconfiaraõ os nóffos n1ere...
eimenros : n1as Deos pode primeiro cafH .ar
,aos culpados , e depois fazer os cafHga:dp1,,
viétoriofos : permitta V. Senhoria e~es re...
ceos ao meo an1or , ·que _quem ama muito;
teme tudo. · · ~ . · 1. ·," •. r
O ·meo recomendado do perdaõ , tardou·
erú me ayizar da merc~ qúe r.eC.ebera ·de V~
Senhoria ; pela qual.r.0 1<to a h~ijrar a. ri.i..aa a.
1

V. SenhQria muitas ~vez'ei. Vim ..de ·Villci


fran.ca ao C;pllegi~ ··a~íHr a J1uns'- ad:os :
· paRaq
no P. ANTON10.·v1t:YRA.· 1~.;
pa.rta.cl.ps .eilcs" .fe Deo& de.r v.ida., fa-ço e0n'...
~:al'de~volt:i,r, p>orHu:e naõ .- perde ·nacla·na n'lu-
J..,tnç ·ariinella Oh1.ta de V. Semhoda. Deos .
guarde a V. .enhtoria muitos annos Gon1.o
4ez.ejo. €0im ·ra 5 de MaJyo de u94~1

Creado de. V~ Senhoria~

. .
://_'D·.11.'fJdrigo de Menezes. ·

8
ENHOR. O cuida.do co.m q1ie .efpe-·
· ro novas da faude de V. Senhoria,
\.;: particularmente depois que fe efcre-
ve , ~que ta1nbem Lisbóa naõ eíl:â fadia ,:
merece toda a merc~ que V. Senhoria me
faz 1 poíl:o que qua11do olho para a minha
indignidade, conheç quam devedor· fica
kmpre o. 1neo cora.çaó ao exceífo com qu~
V,. Senhoria n1e honr.a ; efpero na. hon ela-:
• r
...'
' - • de
"
1151-r C .A · R T A S. '
de Divina me hade dar vida , e tempo .e m.
qúe moíl:re a V. Senhoria. , que , ainda que
fou indio-no
b
de tanto favor, na6 fou ingra -
to a elle. · , . . ., .
1 .

· . As· doenças qo Collegio efraõ paradas ,


e o mefino fe diz da Cidade , ~aõ fey fe por
efrar defpovbada, porque todo~ ··os qu Pº"'
deraõ , fugiraõ della. Agora vam os dias rna··
is fref~çs, e·}à- ·M.~yo pq.rec,e Ma.yo 1 quelrfl'
Deos levantar hun1 taõ ·grande caftigo;, e
reduzir à ordem natural eH:a:s c.auza,s fegu11....
<.ias que faõ os iµílrq.1nen,to~ de fua. juH:iça..
Efrà Villa franca efi:â fefta. a. caz.~. <la.
faude ' e todos os convalécentes que fe paf...
faõ a ella, experi~.enta& ~nelhoria ,, eu vou,
continuando na minha mediocridade fem
perder as horas que_Deos rne dà de mayor
alento , entendendo que o .ni.efmo Senhol'
as haverà por bem empre-t;adas -, e. que fó
para lhe podet fazer. eíte ferviço , me con-
fervou a vida ; taõ unída. efrâ em tudo a
fua gloria com as· no~as ·feliciditdes . ..E .v.cr...
dadeiramente , Senhori ; que quando c.on.
fidero. no mefmo qne. vou efcr~vendo (.que
athegora faõ Efcrittm.=as, e, promeffas D ivi,,.
nas)affim ç?mo por J1uma part~ ~~· "ffomb,a
~gu~
lDO P. $.NTONIO VI!YRAe' ~JJ
ó que Deos quer fazer em ·N ôs ·, ailim por
ou.tra, me admira igualmente o pouco qu,e
•PS ~ortugueze.~ f azerncs por mer~çer eft~s
Jn.i(e~icor<lias. ·Eíl:a he . a rafaõ -que me fa:z
temer que a;n~es· .d.a felicidade que fe efpe..,
ra , venha a~gum caíl:igo que fe.naõ·-ten1e,
e que. fe execµte en1 nos aquella que Vº .Se-
nhoda cham~ dur~ i.,ey.;.Je padec~ri. o co_m~
;mum •pelo~ ,p~cc.ades ,do.s par~iculares~ To-..
o
.do Portuguez ·. que naij procura fer ~an...
to > naõ 1nerece que_: Deos, q gu;ir~e _para
,a,s felicid~des '. que,, .t~m .pt<nn,çttidq ·,., ·e de
.que ·i.:ed9 hàde meter . de ·poffe a Portugál.
~. · As novas de C.afi:ella faõ ·quaes pod~
.:rnos dezejar , fe faõ ver-dadeiras. ·Eu con...
·f-eífo ~V. ·Senhoria que naõ ~ fey ton1'lr-. p.!
,t1eUas , , por:q11e .(e he certo o grande na-
. mero·-.q ue dize-nJ, tetti o inimigo de c ava,J..
laria .., parece ·que a naõ fez , nem fuíl:en. .
. ta fem fim. ~or outi:~ · parte; ,o· tem:po .de
fah)'r,-à-: cam,_pa_n:ha -; .priqcipaln1ente ~nh a:n­
. no ~aõ .fecco , ·pàrece; qu~,vay rpaffan~ô. ·s e
·o inimigo ti~effe · poçle.r ~ µia:dtimo , . di~era,
eu fém duvida, que efperava por JunP,o pa-
~ ,rq. _,,n:av~g'1r" rçoªJ~ ~!~s{ '0$ .- !l}ª'res : ,da ·noffa
'-~~!l:fti J ~,~ di~o·1 ~aPr ;o.uÇo,.fa~lar 11. e ~tlim
> Tom, l. , y_ n1e
~I
.t4 ' . .. . ·C Á P1...' - 1 Á · s ~- L ·~ . '· ~ i
mi 1e·m em grande f ufperifaõ efre a.nnro , ;·
qual hà muito me prometté:, ou thtiira útir
ra , ·ou nenhuma. gue.Fra .> <e· femffi:i . terey
por ·1 nelhor ' efte~.fegundo ';·· nías 'naõ ·póffo
naõ ·me inclinar a qu·e ·havem0s ' de, fer hu-
má. ·g·r atide' vi&otia : e qile feria fe'foffe em
Lisboa ? Muitos··.difparate.s faõ eíl:es. ·pa,ra
efçrítos ; m4s1que-farâ quem•lri:iô _'-póde en:.
cobrir n-àda dó feo,cora:çáa··a. V. Senhoriál?
A earr.a do Senhor Marquês-que Deos guár~
de .,n com os e:x:f.rettlós de g~íl:~ e
que efHmo todas . a~ :couz-as de .S. Excellen..
eia. Querérà N oJlo Seahor que -0s fuc.ceífqs
·refpondaõ .·às. difpofiçoens. As Lil1as fcil-
·gai~y -de-:ver ·, e fá"' muy-boas ~odas aqu~l...
·-las ~ddi~oens ' pãta os ~tj~ oã<l fabem ,{azer
··éoncelto <lá~ ~efpezas ·de ' 'htun ···e.xérc1tó.
Oh- -quem podera. fallar de ·pertó ~om V.
'Senh·orià ! mas :naõ quero , E.em· _devo fa,.,..
·.zer fenaõ '-() 'ai ue Deos
.
auer
.-i
• . G. mefme Se· '
·*'hor guarde a V. Senlioria· com.i a Viida e
-f-aude q:ue de~ejo , nem he fl:Cé(}!Tari~ .de...
i:.· ·2!ejar. má.is: Villa Ftanca 1-9., de ,!MayO'.i' _·.
:t66'4.. . . .. : . . .. : ·-.
~ · O Memorial inclufo h~·,, 'de'~hum Padre
amigo meo , irmaõ. ·~Ó pretendent~ .: ·11V1 ~.
·· ~ .. " ' , -· me
DO P. ANT0 I.O VI~YRA. l J r
sttéO· e:mpenllo he que fe Jaça juíl:i~a ·,. ~ ~
que for mayor ferviço .de Peos ~ e,
Senhoria faz em tu4o.
.
Creado de V:. Semh.oriai
Antonio V.ieyra.,·
.
CJ\.RJWA.X'XVJII.
.
r • . t •

·: 41.).. ·Ro'drigo· ·d~ Nle~ez.es.


n .E NHOR. As cartas de V,. Senhor.ht
faõ todas, quando clregaõ, o ·unico ·a:l·
livio ·, affim ço1no antes de chegarem,
"(; urrico cuidado .do meo coraçaõ , . o qual
i.te~ho fempre div"did<? em -Lisboã .e Al_ em-
'te_Jo , efperat1do as·novas que . me trazem
1

"<Om a .fuf-penfaõ que cauza .o ~tempd taõ


ccafionado ixira ·os ·receo da faude :,. taõ J

·pro:ximo aos <fucadfos e acdd.entes <la


g.uerrai; rMa-s .éÜ:a que":recebf de V·. ·Sehho. .
í~iia.1ittlcrita: ~em .:rr. :-devMayo; com ai' do. ~e-­
-~~·- . ·~~ - · - y ij nhor
·r.)c? • ·. ·, .~ e A ..~ , q~ .. k. s. 1. •

~~br -~-~rqu~s q~~ 'J?é<:>s g·4arde· /~6 9~et6li~


pela,iexcefíiva ·merce ·'que·fJf &ttqh~r,J.ia: ~nte
faz, veyo a comp:inha:da, naõ fórfof:à~ p~11i
mim o coíl:un1ado allivio e co·nfolaça&-;·
·1nas parà toda: eíl:a gtande .C5tnunidade..do
1

-Collegio. de. Coimbra ( que na ver.dade he


a Co~·t~ da Companhia) httm (alento ·; e
'. hurnra ~Legri'à geral, a·rriayor que .éú nunca
nelle · vi. Todos amaõ extr·a ordinariamen'"-
. te a c4:>nfer,vaçaõ d.0 Reyno ) e z dos~rem ·
mt1Y' p~rticul~r affeél:o à peífoà·~dó S~nhar
Mái·que's como a-principal ·cõlunina deflé ;
e . com.o .a ~érc~· . ,que ~.·. Senhoria · n;1.€ }faz
hê 'fâõ ··ghtnde· ;"' é' taõ pnblH:a; que::Tu.na:i
põd~ e~cobrir? todos procur,iõ.fabrer·'~e ~in1
,·"a ·.certeza. ;rlo 1l!ftadcn;-.:do.'noifo ieJ.íe1ie:1t9, .e
~\'te.· :po.r 'todas •as: outras. vias){e . efc11év·õ côfll
r. gta~d:e :·~v1arliedade p.·e "Pº ~CP-' fund3.:rnen~o\t
.: Eu lhes êõf11unko -o que fo pode ."Cõmu.ni,
-.cari, ~ e gna:fdo fó para OlÍln .O <1ue . CQtl•\ rétrl
r:refe.rv:ar; ~ . em ·_que . fcm:muy·acaufcrladu. , -e
~ .~efcrn pttlofº'"": e o ·mefm.o FaÇo . t.e!nfJ.~lg1u.1J$~
.. copia~ . quê.~n!vio.: ao Padre P.;Jovihie1ra1 ~E.e:' m
quem._ tenho~~ eita:~ correfpo'nden€ia ~ , ~t~ ·
··qual- - . anfia: ·vi'Rt.a ndo· a; )?(QVfll.çi}l4 . · 1Afilrh
' ~ue
: ~· . :L
em ioda a·Gqm.pà.11h~ai d-eil.a -bandaihe
- -· . . :-~~-.. ,___ _______,._ - . ~~;~
DO P. ANTONIO~·VJEYRA ~ t )7
- otav~l G appiaufo :co1n que 'eítas novas faõ
teGebidas1 e todía ·ella goza a mercê que V.,
Senl;imia me faz , pela qual naõ te~ho eu
c-abe~a.k·tl~ , palavras com ·que dar .a V. Se-
nhoria ás devidas graças , as quaes remet..
t o ·tódas ao .filencio -do coraçaõ , que V. Se-,.
·11ho in taõ bem conhece. .
-0..: .difcurfo;· que V. Senhoria faz fobre
·â.: m'jly_or ,e ,maís util openwaõ que podem
f aze:e ·, eíl:~ anno as noílas arn1as , tomàra
~u ver confultado a ElRey por todos feos
t'.C9nfellieixos de Guerra, e decreta4o, e fir-
411açlo , por S. Magefrade : e .feno Concelho
d~ Eítr~qs· fe ~ef-olver aflim , entenderey
que _tem0s . ~ , Deo~ muito da nofia parte ,
pois nos infpira os mais fe.guros meyos da
·çonfervaçaõ , ~ aind~ .- os de :cµayor glgria
e reputaçaõ .do Rey_no. Qpe mayor credi:-
.to pode dezeja~ Portug;i.l, que dizer-fe nas
·
1
aço~ns eftrangeiras , q9e .t~ndo Caíl:ella
·ajuntado e l}.nido todo o feo poder , f~y
taõ friperior ,o noffo , que fe naõ atreveo. a
àhir cin campanlia ? e que mayor util~da­
àe , e·felicida4e para o publico e particu...
a · ·do Reyn.o , que confervallo em taes cir-
~nH:ançia~ fe.m p~~d~r hum bom.em ., nem
- 0 -...-'L....
· - · ' hu.m
r5
''""
. •'·' ....."e
··. A' º'R: T··
...._.. · ,...
~ A~
- ~.
fiillm €àval:lt> , n.f€m derr·am.a·r bu1n~ go,tt~
de fa.ngút ., qu·e fempré na: caza oncl~ fa!l~
ta faz triíte a viltoria por n1uy ven.taJ0fa
que feJa . ?. e ·que... n1~yor vet1~~a , FOel;\'l: :u,.
1 ) • 1 1 •

&0r-ia, que .eotii~gmp . ·os :e·ffe1~os .del~a. fe111


os úfcos de h uma :batalha ·,~ n.errt os •da:n-os
da guerra -? En1~1n ,·Senhor., eu uomàrà ver
e~e dif{:t:trfo de . v.
Senhotia · ünpretif~ COlll
r

-letras ·d'ê duiro , e· que faU~rh6 ·pelo: dtil<'


flelle os ·do ,n0tfo . dífgraçad:b Metc:ut1:io t'àÕ ·
p<?uco ponderá do no que ~iz , como 11.cr q_ue
·naõ diz. Elle . he de opiniaõ ·q_ue fa~amóg
'a lguma couza :. -e :pudeFa cenfi:d~rar, 'êdntô
taõ lido, nos exemplos -(f"eIFàbi'<t ~.faiximQ 7
c1ue hà occaíiden1S . em' que·· !J-0 •.naõ ·,'fizer.
-çonfiíl:e tudo : ç · quer . os Cô!ilfelhos dos
grandes Generacs fe ·naõ ~:léff?ré_iem :··e··que
os rurnores do v1~lgo , ,ilera 'fa:õ · grand.~~ ,
nem faõ confelhos. O n~fifo i ~*eFcko, .gra,,..
·ças a :Deos, e ·ao Senh<.Y( M'arquês; ·~ he o
mayor que vio' PC,)rtuigal ·/e ~q:rte :excede
.1 0 credito d'e quahtb éíl:e -anno ·l f-e :~fper1""'
·va. Os intentos do ihi~1Hg-0 /fe· rfa~·õ" tem po"'1
-<Ier mántimo<' -eô'.nioida>r~ee -'J.
ntte 'náÕ -' tern
. ,
·
-uaõ ·poífo , ât{nfar"cpiáÇs ·· fejao.·, ,'h.avendó.::fe
J
1

:cm_pcJih.ado)t-atito ~ f~lvo fé ó i,Jio-vo·Govét•


.. · - nado.r
J DO P. iANTON'.JO 'V1EYRA: ir9
11ador ias armas ,.Marcizn , co1no me diffe
o Dezetnbãr-gad.or Duarte Ribeyro lho. ou-
vlrà ~ érr França j quer praticar o feo di-
âarne de nos cançar com levas e defpezas,
para tios vet1cer fom·batalhas. Se· affim.for
nos aceitaremos o partido. .
eom 0 Ra.d,re ' Meíl:r~ Frey líido.to, de-
1

p.oi qie V ~ · ~uttotia ·n1e 1Iland.ou a fua cat-


.•,á ~ .cõmuniqitey alguns p0ntos .daquella
iObr~ ·, e dtin1ey muito a approvaçaõ po feQ
par6ç.er, ·co1n@ de .tantas letras ·, e _juizo.
_na;ra ~quando voltar , ·.avizarey éJ. V. Se-
.nhoti:a, Ide: alg.un.~ pape.is ~que podem ~vir.por
.f:u. w~.a. , qµ~ ainda agora ·m.e ,n<itÕ faõ ~aõ
6e~ce:ff~rips.... Deos gnar.dç a V~ Senh.oria
,muitos· ànnos., e me .traga fempr.e .taõ ~o~&
nov:as rde V. ·Senhoria , :e .do·Senhor 1 1\iJftrr
..,ques >- .como d~z.ejo, e havemos miíler.. C9...
.:mb~a 26. de·_Mây.o de 1664.

~ 1
' .. , 1
'1

. ·CARTA, XXIX. ·
·s
·AV. 'R'ôdr.igo aé-Menezçi.•.
.
. '
.. '

ENI-lQR. Muito rico chegou: .efteµl ...


·~ . · tirno correyo de Mayo·, '.e;. muito 'ter~.
~· tas efpera:nças·nos d~ .d.e ·haver de fe~.
o "anno ma:is fertil .na ·can1panlút , do que
tem G4o nos ca:1npos; (~orn gran.di!Iim9 ap<!lí
plaufo ll ~ todo's as, novas .-de ~Alem tejo,~
e foy neceffado lellas niuitas ·vezes .) · fe.1n~
pre ·com dobra:do geíl:o n1eo , porq_ué .o.. te~'
nho do , que leo ; .e d.o; ~1~e ouç<;> i' que·faõ.
··graças a Deos , e vivas a:o Sep.hor Marquês~
·que elle guarde. :Nunca. tal poder: -~i(í).: Pôrt"'I
tugal .; nem tal difpofiçà:õ , . ·nem .t;al ·~·on«J
c'urfo de couza.s , nem taõ n1arlifdl:os favo>'!'
res do Ceo , e diligenc.iados, co1no V. '
nhoria pondera., ,pp\- 'n:..o[o.s_. if>n~p~~ós ininli.,.;
gos. Com que pode1nos dizer , que .naõ fb
nos foccorre Inglate.r~a. , e França , tn'-l'S
tambem.. CaíleUa. Quef1erà-o mefmo Senhor;
·Author de todas eftas felicidades, dar iguaes
"fins a taõ notaveis princípios.
Ao
- ~
J DO P. VIEYRA: 16r
A!~TONIO
Ao Senhor M arques bej o mil vezes a
maõ pela len1brança que teil;l deíl:e feo me-
nor creado , e grande 1ner'c~ qúe ine faz :
naõ dou as graças particularn1ente a .Sua
Excellencia pela razaÕ' do tempo , e por
todas as que a V . Senhoria faõ prezentes:
ma,s todas · as letras daquellas regras pago
à v iíl:a nos Í.1.crifrcios ' de cada · dia , com
que acompanho as oraçoens geraes , q ue
toL1.os. fazemos ., em que D meo c.oraçaõ
vay ta:õ empenhado ·na utilídade e foliei . . .
dade con11num de toda a caza d.e V." Se--.
nhoria. Crea V. Senhoria do meo affeéto,
• t}ue f6 pe.lo _goíl:o déíl:e motivo emprende....
ra de mmtn boa vont~de o >ttabalho corn
que lido do defcobrimento da~ noífas efpe...
ranças , e felicidades , das quaes naõ Pº"'
de deixar de caber a m'l:yor ·parte ~ caza
de V. Senhoria , pois -Deos a. tem tomado-
velo primeiro e principal iriíl:rumento del-
las~ · Cad~ hora ·fe me vaõ defcobri.ndo ma·..
yores e mais fegutos fundamentos , para
j

cuja eíl:abilidade , ·como jà outras vezes


fignifiquey a. v·. Senhoria; o . que fobre tu ..
dO" fe deve dez·ejar nos iníh·umentos·, e·
cauzas fegundas 3 he humildad~_,e in~is humil
· Toflj. f.. X · dade ·,
C A R T A ·s. "
• 1
1
16i
~àde _,. çonfiança e mais coófiança e1n Deos,
e hu1n profundo e verdadeiro conhecin1en
to , que da fua .. n1aõ vem e hade vir tl.1:-
<:lo ; e . certo que· naõ hà para mim mayor
confol'\çaõ q_ue ler e1n todas as cartas ·de
V. Senhoria, como V. Senhoria 1·efere tu...
do à Divina 1nifericordia. ·
· O roteiro do Abbade Joaquim. , ainda
nos naõ faz falta na altura ·em que 'himos _:
elle fez outro livro dos Pontifeces , em que
fe vem ,as fuas imagens eíl:ampadas com hu-
ma infcripçaõ breve em que fe defrobrem
QS myíl:erios de cada hurna.: . e porque a do.
:Papa prezenre .tem couzas muy. not_aireis ,, j

e que grandemente conduzem ao· intento ,


eíl:iínàra eu. muito. vel~ó ' poíl:o que jà C> n
em Roma. Aqui _teve hum ]jvro cleíte~ o.
Reytor -Saldanha, ciue naõ poffo defcobrir :
no Reyno d.eve de haver outros.
S. Mageftade' ha,rerà jà refoluto aqucl-
les votos. O ·êlo Senhor Marques ·he ., qual
-Oevia fer ; inas eu me naõ defpego ainda do
àe V. Senhoria; porque ,. quando menos, he
o n1ais fegurot Cà me· marularaõ hum co-
meta com duas meyas Luas no· ml~Y<i> ; que
dizem apparece-0 em Ale-manha cm 12.A:le
- Jane~
no P. ANTONIÓ VlEYRA. :r63
Taiieiro. Sirva-fe V . Senhoria de 11e dizer_,
fe he couza certa , e de que fe poífa fazer
fundamento. Se là eíl:â o Ceo ·i rado , cà eílâ
propicio. Deos que tanta mercê nos faz ,
guarde a V. Senhoria 1nuitos annos con10
dezejo. Villa Franca 1 . de Junh<> <le 1664~

Creado de V. Senhori~.

. ' Antonio Vieyra.

XX
 V. Rodrigo de Menezes~
ENI-IOR. As cartas de que V. Se.il·
nhoda me fez merc~ eíl:a femana ~ fi ...
· zera.ó no moo ànirrio os effeitos que
fempre , e ma.yores -, fe podem fer ; por""."
que os favores de ·v. Senhoria fempre ·faõ
avantajados. Daqui pordiante · as efperare .
com .a mefma ancia , mas com mayor t y-
,· . Xij dado .
\
:r64 . C A R T A S . 1
~lado , pois temos ao Senhor Marques que
Deos guarde , e o noífo exercito em cam ..
panha ' ·com hu111a refoluçaõ em que os in-
~conveni.entes faõ . taõ conhecidos , o rifc;o
t;aõ certo , e a ·utilidade nenhum.a. ~al
neíl:a rffateria feja o 111eo parecer, tenho jà
manifeíl:ado a V. Senhoria : e tambe1n V.
Senhori3; ver!a que _me n.aõ qeci delle , de-
.Pois de ver ·a primeira ' propofl:a de Ale~1..,
tejo , e todas fuas razoens , que faõ todas
as que fe podem conGderar pela parte con-
trariá. Acharaõ-fe ne.íl:a Q!iinta a fe1nana
paífada alguns Religiofos muito bem . e~­
tendido~ , _ e como em .Coimbra tudo faõ
difputas , na quarta feira à noyte · ~n1· que
fe (fperavaõ as cartas iio correyo , fe dif-
p~~to~1 _a qµ,eíl:aõ , Se ~-ºtl'V~n.ha , ou naõ, fahir
d n0ífa exercitQ·, e fqy ·couza para mitn
~aravilhofa , e poucas vezes viíl:a , <]Ue
rodos conoordaffem em que naõ convinha
íàhJr· " fendo que os voJos ·dos. Religi()fos
faõ ordin3rriamente os mais arrojados. Che""
-garaõ ·emfim pela manhãa as cartas ,. e
inofhandó-lhe eu a fegunda propo~a, {0y
-grandi.ffimo Q applaufo que fe fez à todas a-8
razoens della ,· e:· friuo.favaõ todos . grande~
-
mentQ
DO P. ANTONIO VI'.EYRA: 161
mente com a fua opiniaõ , poíl:o que naõ
havia de quem tdunfo.r , por fer , como di·~
go, de todos . No correyo do Minho tive
carta de peífoa que tem as melhores intel-
ligencias , en1 que me dizia que fabia de
certo que o intento do inimigo era cançar-
.nos , e quebrantar-nos efre veràõ , para
depois nos entrar com todo o poder , o qual
hia. ajun:tando fecretarnente de todas as
pattes ,. e que a eíl:e fim tinha junto o Con-
l-le de Cafttilho Q"rande fomma de dinheiro
pe moeda nova ; e fabbado tivçn1os ca,.i;t~
V

d~ -Evora · de 3º ~' - ~:o paffadq ~ e;r.i,i ~1u:e hu1JJ.


Padre deíl:a Província qu<: açompa.nha o
C onde de S. Joaõ diz como o exerdto era.
n1a.ndado fahil~_, . pedia o enconu;nendaffem
.muito a Deos , pon.:1ue fahia contra a opi-
niaõ , e brados de todos. O que eu eíl:iino
.m uito, he qne .a Senhor · Marquê .enha
foito a fegunda propoíl;a, porque, co1no S.
Excellencia. ~liz , que.\n diz o qrie enten4e,
e faz o que lhe n1andaõ , naõ he mais obri...-
gado. O reparo das affifrencias do F ancez
11e muy galan.t~ : folguey de ver o concei-
to g~c V ..Senhoi-ia faz. dos feos intentos nos
foeç orros que nos da por A pi~os. l\íuy cer-
!.'.'•. -•.
• • J to
~ 6.,,.,
I i ()
·e.., A· R
·
,..r 'A ' ~
;:J>
I' ' •'

to eftou qrie nos naõ had: ver no efl:a:~.~


que prefume. Mas he lafbma. que poflao
té?-nto corn nofco os feos refpe1tos ,. ,quan-.
do elles fa.õ defra calidade. Por ·t'.Hltra iria.
tive noticia , ciue o me.fino Francez .ti.t:zfa
huma poderoíà con1panhia ·para ·a It1dia
: oriental, en1 qu~ o Rey eritrava com. qua~
tro n:.1ilhoens , e fazia rrotaveis partidos. a
todos os que rr1eteífeD? ndla, feo·s caheda.es&;
:Niuy llHfere'riternente 1dizen1 efl;a.f1~WetettÇõe~
coú1 r1.quellout.ros ipenfa·m e'n tos.t Mas naõ
hade qtiê.rer' quem nos deo ás Co!1quifi:'aS' ;
que feja.õ" eUas roup~ de Ftançeze1s:·Oh ·q~i~
graride . coúza f~ra t·cô1u~ntar~o-·no.s- ;' ·~0.m.
â. V'it.\orfa, Çlfiàimigri fe fí~õ· afreyer ~a; _fah:ir·
ein ca:mp'a:nl1a1 com n:ofco ,, fortificarrrio...-
1

·~hsª ) e· efperar com o no!fo e.·x erciib ifff':i~


í 1

to :··, ·~ 'e receber neíl:a ·rodela: · á eflocada' ~


'que fó 1âHiri1_naõ · pódia. Jer penetrante·~ E~n·
fim, Serthor·; frme'o cõra:çaõ ' na.ô fe·p·õde a..:. 1

: pa1~tar. ·huni ·ponto ·elo pateceí' de V. Se;.;.


'11b'oria , pófro que o· naõ fey· eitplicar com
"i.al evidencia ;' eme adhüro"muito que , oi~
'viffe a 'V. Sénl1ória''Min.i firó ;grande aquel•
ie ·difcnrfo , e na~, ' fé iren:cI'efÍe ··a; élle. ~ Eú
.•'ine tenho ·tefolut-O·a qúe he v·pdt'áde ou 'perll 1
,

l.~. · miífa0
DO P. ANTONIO VIEYRA." 167
miiTaô D'i_v.tna , que o noífo exercito fay~
a pezar dos juízos hun1anos. O effeito mof-
tr ar~ quaes faõ os fins defta fua Providen-
cia. E porque efta hade chegar a V . Se-
nl-ioria jà ~epois do Corpo de Deos , digo
a. ·v. ~ Senhoria que hum Mathematico d e
boa vida , fciencia , e muito amigo do ·
R eyno , diz que ameaÇaõ as eíl:rellas na-..
q_LI;eUç .dia _a fortngal hum cafo fa,taL ·;Naõ
duvi<!lo que o. Santiffimo Sacramento feja.
m uy offendi.do ne.íl:e Reyno , mas en1 nen-
h nm da Chriíl:andade h e n1àis venerado. ,
neµi fer~ido : pod~rà fér , que feja a fata-
J.i,dade (fe tem algum fundamentõ ) a h1ef-
ip à fahida à _çampanha , cpm taõ pouco
fi 1}} e utili.d age ·, tomo· fe conG.dera .. Atre.,.
·v or,n~- a fallar aJftm , porque. fallo com. V~.
Senhoria. Deos fabe , e pôde mais q'ue os
h o1nens ) e anda taõ zelofo de fuas . nüfe-
ricordias , que por tod~s _as vüis quer que
çopP.eça,mos.: .que fà.õ :füas . .P.or mon1éntos.
~fperamos . muy boas novas: o Senhor dos ex-
ç-rcitos a quem offerecemos todas noffas
o ra~oens e facrificios , no las 1nande qnaes
h avem.os 1nifl:er , e . a, V. Senhoria guarde
muitos annos para mayores felicidades co..,.
. . mo
i68 t A R T A S .
m9 · dezejo Villa Franca ~,,._ de Junho de
:.:-664.
Creado de V. Senhoria;
. ..
Antonio Vieyra.' .

CARTA XXXI. :i···i


-A ·V e Rodrigo de Me~eze.1.
-
S
ENHOR~ Muito me mortifica Deos,1
e na parte · e terr1po ·mais ·fenfivel;
feja elle por tudo louvado. No cor..,.
reyo· paífado · naõ pude efcrever a Y. Se.,.
nhoria , nem agora o poílo fàzer -inais que
efras .duas regras de ·maõ alhea ; porque
vindo de Villa Franca ·a efie Collegio em
dia de Corpus , .nag'ue1la mefma tarde· me
<leo huma grande febre , ·e depois huma
grande eryíipela, cuja inflammaçaõ e forçá
amainou com feis fan gi·ias , mas ficou e
1ray continuando emfebr~ lenta tom cref.,.
··<:iment.9~
.
do todas. as. tardes
__ _ - -- ·-
na. mefrna for,,..:
--- . -- . ---- . .
. ,
__. ._. -':'- ~

m~
DO P. ANTONIO VIEYRA. 169.
ma do anno paífado , que muito me mo-
leítaõ e enfraquecem. Entramos e1n Efrio,
que naõ he bom tempo para curas , mas
julga o Doutor Sanfins que he neceífario
applicar alg:uns . medicamentos , e affim o
con1eça a fazer. Deos; que he o verdadeirGI
medico , darâ o que for fervido. No mefmo
dia deíl:e meo accidenre i:ecebi . a nova de
V. Senhoria haver livrado do da pedra ,
que f9y · e he para 1nim. o mayor allivio , ·
pois eíl:imo e devo eíl:imar a faude de V.,·
SenhQria n1uito n1ais que apropria.
A n1ercê que me faz · o "Senhor Mar- ·
ques que . Deos guarde , e o affeéto de que·
f-ou devedor a S. Ex:cellencia, conheço muiS'll.
to. bem ; ·e fe e.u fora .digno de que Deo~
ouvira .minhas oraçoP.nS , tambem V. Se..c ·
nh oria conhecera nos effeitos gue naõ he .
n1eo an_irno defagradecido , e que f.:1.be n1eo ·
coraçaõ d.ezeja,r , _a.inda que naõ poífa fa-
tisfazer. N aõ poílo agora offere_cer n1ais fa-
crifitios que os da penitenda ; poH:o que
f4õ tnuitos , e con.tinuos ,. e com grande·
~:lf~éto os que nefre Collegio fe fazem a D.eos
pelo bon1 fucceífo . de noífas . armas , etn cu- ·
ja felicidade cqnúdero a V. Senhoria igu~· ·
-::IOm:. l
- \1 .> - •
Y almente
i7o( .. · C A R . T \·;A s· . '" ' -
aimente· ert1penhado ~ pelo tq1n.n'\.un1 ; ·cô.:: _.
mo· pcl.0 particular. Queira: Noflh. Set1h-Or
dar-·nos · muito que fefrej âr ·c om eíl:e' dobta- ;
dc»goílo. 0 meo coraçaõ e o 1neb jui~oJe ·
naõ aparta.hum. ponto do de V. Sehliori.a·, :
e ·affim efpero as novas con1 tantó' alYoro- '
ço,comofuít.o. Quandovejo os ineyos' q~{efe ·
emprendem , parecen1e. que· tir~inés os o-
lhos do fhn , e de todos ôs ,Jins. Se quere·. .
1110S hon~·a e credito C'Olil O ffiUQdO , qu~ .
111ayor credito , que ilaÕ fe atrever o ini-
n1íg_? a pelejar co~- o noffo exercito ? ·e fo
quere~os u~ilidade e. _conv~1ücsncias , g_ue
~a.yor utilidad€ . -que· C61'lfe~·var · ·f!" rr_~frr1?1
~~rcito , e a hõffa ca·v allaria intétra ; e·
J'tferider a P-rov·incia ; e a cam pa.n hâ ; . ~ os~
frutos d.dla en1 ta:l anno , e ac.crefoentar
fagurarrça para· o futuro con1 fotti~<iar_ Ós
p~ítos de mayor importancia? Tl!-do Hl:o fe:
a~~ifca , e fe pode petdér,em qualquer ·au.;
zen eia do noífo exercito, e na · diíl:anci~ de
v -alenç.a naõ fe reprezentaõ rrieno~ i-if~os
que noutras emprezas. Emfim; Senhor,qua_n-~
do contra todas efras razoen:s cóhG.der.o · a:
refoluça0 que fe mandou tb·mai: ;~ nã? .Poíf~
deixar de entender , que hà. -debaixo ·qella:.
r .... : ., ,á,lgu~
DO p; ANTONIO VIEYRA. i7.r
algum intento particular da ~rovi~encia
Divina , que o tempo nos · moíl:rarâ qual
feja : e para todo o fucceífo efl:imo gran...
demente que o Senhor Marques tenha ~lu­
ma e outra vez declarado feo parecer , que
t ambem fe aviza he o de todo o exercito"
. , A carta de Madrid aJuda muito o ·pen-
Jàmento de V. Senhoria, e me adro.ira que
os noífos Confelheiros façaõ taõ pouca po n'...
(.1eraçaõ daquellás noticias , que naõ fa.õ
para defprezar.. A relaçaõ. impreíf..1. em, Se.,.
vilha folguey e folgàraõ muito todos de .
ver: fica guardada com os mais papeis. A
profecias do Abbade Joáquim na'0 ·viera&
ainda. Os A'n agrammas e tudo o mais defr
geneto; efhmarey ; ·e certo que he grande
a mortificaçaõ com que mé vejo atalhado,
porque hia a Obra vento em popa , e ca....
da vez fe defcobdaõ mayores ' e n1ais fi.r
mes efperanças , mas ainda . as . naõ percq
de que Deos m·e naõ hadê matar antes. d
chegar ao porto dez_ejad~ . D.eos guarde "·.
V;. Senhoria muitos anil.os conio· dezejo.
üoirnbra 23" de Junho de 1664. ·
! ' ·Creado · de V. Senhoria.· - ·. , .. ·
._ ,::-, , ' Antonio Vieyrà. ~ ...... ·
",. Y ij CAR-
l7:Z. e· A R TA. S

-· CARTA XXX -II~


w '

'

~ A 'D. R.odrigo de Menez.es.


ENHOR. Nunca tanto dezejey po-
der efcrever , e n1uit? largamente a
V. Senhoria como neíl:a occa!iaõ da
viétoria do Senhor Marques que Deos guar-
de , cuja nova chegou a efl:a Cidade pri-
meiro que as cartas de V. Senhoria , e foy
neUa taõ feílej ada e celebrada, como a feli-
cidade do fucceífo , e a in1portancía da
Praça merece. Com as cartas de \T. Senho-
ria foub·emos as circuníl:ancias , e authori-
dade das capitulaçoens qu~ com alvoroço
fe efperavaõ, e fe renovou ~ e accrefcentou
com ellas a alegria de tudo fe concluir com
grande credito de noífas armas , e menos
reputaçaõ do poder contrario. Por tudo fe-
jaõ dadas muitas graças a Deos , a quen1
o Senhor Marques com mayor gloria fua
refere todo o louvor : elle pagarâ eíl:e gran...
de ferviço ; que tanto redunda em bem de
toda a Chrifrandade ~ na moeda que cof..
tuma ;
DO P. ANTONlO VI!YRA: ~7j
tuma , e com as ventagens que merece ,
as quaes nunca igual~râ a Patria , que por
natureza he taõ ehvej ofa , e taõ ingrata.
De inim naõ poífo dar as.. n9va que V.
Senhoria dezeja, como ja naõ pude no cor-
reyo ·paífado , por eíl:ar entaõ recahi_do ,
como ainda fi. co , cada vez mais pene-
trado .e mais quebrantado . do mal , pofro
que os n1edicos o naõ conhecem , e me a-
nimaõ ; gue he o mefmo caminho pór onde
o anno paffado me levàra - taõ perto das
portas da fepultura. Alguns medicâmentos
me applicaraõ efta [emana, com que fe naõ
<tomediou ·, . antes fe dobrou a do~nç·a ; ê ef....
te he o· efrado t;m. que fico , fempre -ao fer-
viço de V. Senhoria com o mefmo cora-
çaõ , r~gando1' a noffo Senhor guarde a V.
Senhoria muitos annos , e ao Sçnhor Mar-
ques .com a vi.da e faude que o Reyno hà
n1ifler ' e com as felicidades ' e aug·m en-
to ·de eíl:ado , _que eu a toda a Caza de V.
Senhoria , con10 o mais affeiçoado créado
della, dezejo. Coimbra 7 de Julho de 1664.
Creado d.e V. S.enhoria.
~ , Antonio Vieyra . .
t ~ CAR-
} D/
)
'1 , , ', . ·: r.
-

..~· · CARTA XXX·


.
.
I. II~ ·
A Vç -Rodrigo de Mene~es!
,

\ ENHOR. 'N aõ fey . com que heyde


: ·p agat ·a. V. Senho1iia ·o .cuydado que
V . Senhoria tem · deíl.:à rr1inha t áõ
·cançada fàud~ , fenaõ com dezejar muito
larga vida par::i. a erµpr~gar toda no ferviç o
de V" Senhoria, a que hà taritos annos efrl
dedicada ; mas pnr ·n1ais que~· fej a .o tem~
po , e as occaíioens que-•elle' pó'de - offere~
éer , nunca eu poderey·fatisfázer -- a 'rnenoi~
parte dâs obrigaçoer1s 'ta6 1nu.ltipli<.:aaas
com que V. Senhoria .todos os.dias ineem
penha e cativa de novo. Aceite -:"'{. ·Se..-
nhoria eíl;a con_fiífaõ e conh:ecim:ento que
-acompanharâ perpetuamentec niinlia ·a:ln1a
ain'da ~epois da vida. · ., · .
. No correyo paífado fiz ·avizar a9 Pa-.
dre Reyto.r· do eíta.dor <;m. FJUC ~çava, para...
que a V: S€~horia "foffe ·preiente _a cauza,
. p~rq~e úaõ púde efcrever. Foy terrivel o
· ac
DO P. :AN~óNIO' VIEYRA. Y/") :
ác.cià~nrt~ ci·u~ l1à<.Judf e . d.ia· pa<leci . com .a,,
mudança do Collegio para Villa Franca ;
mas quis Deos .que pa,ffaífe , e fico em pe
com efpeianÇas !de melhoria. Téni-me re-
ceitado agor~ .os banhos do M~ndego; ~·ex..i
perimént4r·ey· fe ''1ne he rriais favoravel a a-
goa de Coimbra , do que~º t~m íid~ o ar>
e a t~r.ra ! ~ gu~nd? o nao, reJ
ª~· ' refolv er . . .
mehey ' que ..tenli o' contra flllID . todós . os e...
]ementos ; --mas . confbrma:rmehey com a
vontad..~ . do S~nhor delles ,, que faõ as ar-
t'ftas com que fó os- poffo vencer. ~
Hontem fe publ_icou a<J_ui ~Ufi1 ?~m ;o.~o'
ftt <tceífo.. de Alemte Jü , de -que dou a V. Se~
nhod a ·o. paráb.em ....:Pate·c_e '"Gue andaõ as
feiiciilades· ·eiicàde.aâas -;~: e. -naõ f-0y peque:.
na a de Cafi:d.:..Rodtig·o ;·~~om~. que os ' Caíl:e--
lh~nós queriaõ , .de(qui"tar__ , ainéla que taêi
de~~Wfalmente, a perda de Valençl. ~or to-
da a 'p árte foaõ os ecco s <lo mui to que
lhé '. ~em r doido~ Con1 grande alvoroço ef-
p~<1J.~ôs todos a copia da cartà ae Madrid,
e e:u as ~e V: . Senhoria fem pre com a n1efma
~eia, como qlie!Il,1;ec€bo nell as o alento e
áli~ent? de que yivo. 'Guar.d e Deos a V . ·
··enhória_muítos anü@s eonio dezejo e ha-
vem o~
17·6 · . C. A 'R ,. ..r , . ~
. . ·s - r ·
vemos nüf\:ér Villa. Ft..a.nca 21 de Julho de
1664. . 1

Creado. de .V . Senhoria•.- ;

~ . , ·· ~; · .:Ant©ni~ .v.iey,r~~

A ·v. R,odrigo de Me.1ie·ze·1~


'
' .. .
. EN110R. -A r.pen_a ·que recebo CQID · '
cuydado que dà a V. Senhoria á mi~
nha faude,. he :igüal à ·eíl:imaçaõ·qne
della faço ;, d~ q~Le m:Uita~ vezes 'dezejey
âar a V. Senhoria as gráças ,.· ~mas nunca.
fey , nem o poder.ey fazer ·~aíl:antemente.
A melhoria) ·de que j-à-dey: conta a V. se. .
· nhoria , vay cóntinua)Jdó' , .poílo ,.que len•
tamente ,Jen.tindo ln:Ufto naõ·. me dar -lugar
à continqaçaõ daquella Obra , qlile depois
que V. Senhoria a ·tem -recebido debaixo-
da fua proJeCça() , a, çc;>níidero com.o cmuza.
de V~ s·e nhoria ,. e a quizera ·v er- jà muit9
· ·adian~
DO P. AN't'ONIO VIEYR.A.· 177
adiantada , e que naõ fe lhe anteci paHe o
tempo. Muito concordaõ com elle-todas as
difpofiçoens de Cafrella , fe vierem a fer
çomo fe defcrevem na carta de M adrid que
mui to folguey ver , e f6 cõmuniquey del-
la o que n.aõ pode fazer dano , com todas
as cautelas neceífarias. Do novo fucce!Io
que o Senhor Marquês , que Deos guarde, te-
ve no comboy de Arronches, dey ja a V ..
Senhoria o parabem, e agora o dou de to~
dos os outtos_; t]Ue todos , af1im os gr~ndes;
cofno os pequenos, faõ muito·para eíl:imar~
por fe acrefcentar com elles a noíf~ cav~l...
íaria ,. e fe diminuir a ,do inimigo , <:Jnehe
o que n1ais havemos miíl::er , e por fe co-
hecer em todos elles quarn vi&oriofo's ' e
qua.m briozos andaõ .os anitnos dos noífos
Soldados , e quan1 quebrados ·os dos C af_;
tellianos. "Tudo ' fa.õ effeitos da Provi den·~·
çia , e Mifericordia de Deos , que ~d.1im
vay' difpondo nefi:a efcola· noífas ãrmas pa-
ta mayores viétorias e feliddade·s. Humâ
d e V •. St;nhoria me cçntaraõ , naõ hà mui..•
t-0s dias~ da qual eu nunca . duvídey , mas
eftitney muito o certificaren1-n'le . del. a..
D eos .guarde a V • .Senhori~ ·muitos antl.os
~m.
. --- I.
__, · z como
1t? J
178. C A R T ··_N S·, ··: "~
c~rno dezejo e havemos mifter. Villa ~Fra:n ~
ca,. 28 de Julho de i664, ·
i .. 1

Capellaõ e menor·Creado'de V~
Senhoria. · · · . · · . - · ·
J "

Al.~to,nio . V~eyra·. ·
' < • \. • '~ ••

-· (~ ARTA ·XXXV.,. r

. (•,

ENH_OR. Naõ. fey cotno haja:õ · fal1'(


.tado tanto a V. Senhoria . as .minhasi
cartas , porque ero todos o.s.- co.rt eyoS:
ultimas tenho efcrito, e fá o deixey de fa~;
~~J quando . a .foi:ç~ ·da doença foy tanta ~­
qlie nem para ditai- · duas regras me .;dav.at
lugar: que V. Senhoria ·o tenha fen1pre no
meyo de ·tantas e taõ grandes '0-C<i:upaç.oéii_i :
he c;onfuzaõ miaha e me.rce··q ue· n\mca:i-ra~
derey , · nem faberey gratificar 1ao a.ífiétOJ
de ·V. Senhoria:, c01no eUa. .llU!re"?'e ., ·e ·eil\.
(~". ;, J J O/' -\.- .. : .tail:""
no P. 1\N·T ONIO VlEYRA. . I79
t~ntasve'.?es, tenho confeífado. Athegora
fuppunha a V. Set?;horia morador de Lis:"'
boa , ~a$. a vivénda da quinta me faz fau. .
~fades· da. noffá de Enxob1·egas ,. onde he
certo , qúe com taõ hoa vizinhanç,a fe con ...
valeceria agora melh.or , que na ·de ViUa
franca, Mas fegundo .fe ~nultiplic.aõ e aggra~··
vaõ os defl:er.r.os. ne:fre_s ruas' naõ hà inno""
.cencia ·taõ fegura que fe atreva. a lhe paf...
far por pellfamento tal . efperança ; com
D eo~ dar fàude, etn qualquer parte que. fe-
ja, nos tontentaremos·.. Os caniculares pot
cà n~õ ,f<] vaõ frefcos , mas chuvofos ·, e
fe -effa irregularidade do tempo naõ ~auzat
alguma alteraçaõ nos. .corpos , parece que
fe fa:hirà do vera.ó· rn,ais' fadia1nente do quiZ
entratn.<?s 'na :"printa'\Fe~a. ~ que importa ,
. e O que, CU' fobretudo dezeJO , he. que Vj
Senhoria·. ~ o -Senhor. Marq~es que Deos
guatde lClgrem ·a faude que tanto, hav.em-0&
~ifrer. . . e

O ri:iemor.ial irtcluzo h~ da peffoa ·que


V . . Seiahoria deve .muy bem conhet:~r , e
hoje partia para eíta Corte : à defpofada
h.e Irtnãa d·e b.l:11'U · '&digiofo de.íl:e Colle·..
g io , a quent eu ·J evo . grandes obrigaçoens
· -; · · Z ij e af"
l~o ·, e A .R · T . A S "' ~ :' .
e affeéto"., e fabe elle e os
mais ~ :q~1e todo
·O meo cabedal he o favor de V. Senhotja.
No c;:azo em que eíl:ejaõ providos os luga-
res do Po.rto , como·jà. fe diz. ,' pertende a
beca .fem exerddo , e.·~ a principál ·n11er-ce
que querem peça eu a V . Senhoda, I.1e_que
·a fua.' petiçaõ. feja propofl:a no Paço ., de. t ál
.modo . que poffa .fer c;onfultada ,~· fé iíl.:o he
-couza poffivel , ·em.todo o favor que V . Se..,
.111'oria lhes. ·fizer, .orecebetey -~tfl'rn~y . p ~u;-.i
ticular , -e perdoe:-V ·.i Senhóri·a ·~faõ repeti-
nos énfados , .que como . a: merce.· que V..
:Senhó.ria me faz ' he ·taõ graP:de -:1 e 'taõ pi1--.
blica ·, na:õ ·- me .. poífo: liyntr .,,de <dà'r. .< a·Vi·
Senhoria..eíl:as- n1ofeíl:ia'S'.. ~ E'ico efp€x~ri.do a~
~uelle papel , ·e ainila fero alento para pó~
der dar . pennad'1' no· outro; co_m que. algmn
dia,. fe Deos for fervido, poderey: d~r . ;a V:
Senhoria alguma hor.a de entnfoe1rünento:;.
_çomo. _agora d.ou tantas ~ de enfado~ Guarde
Deos a V. Senhorfa muitos annos como de"'!
zejo. Coimbra .) de Agofto de r6:64. ·.·
- . de. y. Senhoria .. ,
' lt • . •
- . . ... ·1
. Capellaõ e menor
...
Creado
. .. -

··An~o1'~~ y)~yr~.
' "'.l " • •

CAR~
DO P. 2\NTôNIO VItYRA7 ·1~x.
.
GARTA.XXXV
'

.. .. . . . . '

'.P./J '7J,·:Rodrigo.'de· Menezes .


.
l'"· ... ' . ., .

. ·,,.. :eNHOR Achome neíl:e correyo fem


.carta de V. Senhoria, mas naõ f.em as
· novas"'que. nella:principalri:1ente .efpe....
r-avai, rpo1~q:qe frias . deo o Padre Reytor., com
<Jüe ··fic<l ·livr-e··der.cuidado g 1e~ rne pudera.
e: ~zar dJ:a faJt;à. Confe·rv.:e N offo. Senhnr
·~empr~ .ª' \t .. Se.r~~or~a. ~ f~utl~·~u~ p~r.~ tan.-
!t s cx:~upa. oçn1 , .e de tanto.ieo. -lerv1çQ he
necdfada.· Por ~éà fe .p.aífa. gér:almetite com
·pouca. . =' 1e< o· etly.pfe dd.l:es ·caniculares tein
.ntraqo . COJ:ll QS ' ine.Únôs effeit;O·S; do . do án'-
·""º· paífa'dor, .c om q1te ·rra:õ -hê 1n~nos ·o ·te'"!
mor,_ · N0s"dous ~ias .de hont·ern ·, · ê an.te4'
!1ontem fe e.iiterrara:õ na ·Cidade onze ·pef-.
,foas. ., qué pa.ra.·tempo de· ferias he bafr.an-
"e numero .. Eu I"LCQ nefta Villa Franca Ofi·"'·
de o retiro h~ da gente, e naõ do ·clima,
e affim me trata em huma ; e outra pane
com pouca differehça~ Jà diífe a V. Senho-
~ia, qu.e he dobr'ada1nortificaçaõ para n1im
i. ver
:11b. • '- .. C .. A 'R T 'lf.. 1S -~- . -
ver correr o tempo , e temer que fe ante.. :
cipem· os fuéceífos â efpérança, e ao go'fto de
OS' ver primeiro ·efcritos· ; e · poíl:o que> al..
gumas vezes 4rre,metti à co~tinuaçaõ da,quel..,
ie fpape1' >" he ta0 pouso· o -atento que naõ
pode acompanhar o deztjo : fe fora n1at~..
xiâ capás de. fe: encomn1enJ..M_. a' tefceíro ,
jà o .tivena feito,, . ma:S lítf'.m etL'laio h1.i, nem
<lefl:a 'banda ,. ténho wcomttapo p.eífoa ,, de
1

'.Cujo (talento fe poífa fiar dta :ettJ;l.tpreza : a--


inda dando~fe-lhe. a materiia junti e tlif:.
poíl:a ; emfim fe Deos ·q uizer ,(jUé fe rfi1-ça ,·
elle _.faude. ) e. fe" -a aer effe .anno ., e
:.dar~
nos .·principios do qúe vem 7 ainda ~irâ :ti·
.tempo. Por cà fe faHa emHberdade de 'con""
ciencia em Inglaterra ; .e· Cortes em Ma:.,.
dr.id. Sirva-fo V .• Senhoria. de i tne man:dar
-dizer fetem iíl:o fundamento 3 .e fe n.os na~
vios de .Italia vieraõ algumas novas da
·Guerra· do Turco , por.que dos feos fucce(~
-fos depende grande parte da conjeétura dos
·tempos. Guarde Deos. a V. Senhoria mui-,.
tos annos con10- dezejo e .ha:v:emos mifl:ér9
1
_,

·Viila Franca t 1 de A.~o de 166+ .


Crea.d o _
de V .. Senhoi:ia, ·
.... Aatoriio' Vieyr.a. :~ ., ·
* • - Ci\R.;
po P. ·'A . ·~-ONIO VitYRA. 183 .

ARTA ·XXXVII.
~ '

A1J.~.·~ J{pdrigQ de M-c.nexe.r.


· ,

, -. ~ENHOR. . Parte o c.orr-eyo , ..e pôr


me haverem tomado .impenfadamert~
. . te todo o .dia, naõ tenho tempo mais
que· para dizer·, recebi a de V. Senhoria , e
· co.m . a :fatisfaç.aõ. do·s meos dous cuydado ,.
que he a faude de V. Senh9ria ~ e.ci'O _ Senh.'5r "
Marques que Deos guarde , _cuja conferva-
~~p -ent~ndo_ ·; u pq·~~nce milk~ à l1fô".'}""'
dencia .Divina no 111eyo ·de tantas e taõ
g r andes occupaçoens· dá·guerra é Cfa-·Repu...
blica, e todas de· taõ particular ferviço feo • .
Da n1inha f~u~e naõ -poífo dar ainda a ''·
Senhoria ~s novas que .V. Senhoria dezeja;
mas fe continuar com o alente com qD:e
me tenho achado eíl:es dias ' farey della
mais conta :, do que cuydava nos pa,ífados.
Emfim Deos qui mortificat vi·vificat , e en1
cujas mãos a tenho poíl::o com dezejo fó-
mente de a empregar e.m· feo fen'iço, a da-
râ perfeita quando for fervido: e ferà bom
·.:~~ · : . que
-
S4 . -,. 1
I C A . T "A s
. que feja muito larga para chegai- a!guma
hora em que as 1ninhas faudades tenhaõ o
allivio que o tempo e fuas ·variedades lhe
vaõ . t~nto alongando. s~ V. Senh.Gria lhe
. thama infofriveis , e1:1 prometto ·a V·. se. .
nhoria que tenho rrmito menos paciencia
_-e que eíl:3: dHvera ·de todo acabada , Si
non haberemusfolatio/anélos Libr·'Os: O do .Ab-
hade Joaquirn efpe1iO c9m :al;v,oro,çi0 . ~ Gi1ar...
de Oeos a V. Senhoria tnuitoS· ah.nos .. contô
dezejo. e havemos mifter~ Coimbra ·19 d~
Agofto 4e
.1664. . · · ·
1. 1 ~

• 1

Antonio Vieyrth

r
t>O P, ANTONIO VIEYRA.:

AV ..Radrigo de Meneze~.
ENHOR: Todas a.s cartas de V. se:..·
nhoria faõ para mim de igual con....
· tentamento , e fe em algumas fe Pº"°
de confiderar m'á yor ' he nas mais largas'
como efl:a que ultimamente ~ecebi , por-
que beijo a V. Senhoi-ia a maõ ...
O meo affeél:o , e cuidado merece a()
Senhor Marciues que Deos guarde, a merce
que n1e faz , e lembrança que de n1im tem.'
A qriietaçaõ das fronteiras de Alemtej o he
a coroa dos bons fucceífos de Sua Excel ..
~encía pela femelhança que tem de paz ,
que eu eatendo deve fér fempre mais de·.;.
zejada , que as ínayores viltorias. A pon• ·
deraçaõ com que V. Senhoria as con1ide...
ra por obras puramente da maõ de Deos »
merce gra~de for.a fua ,, que eíl:ivera muy
impreífa no conhecimento de todos para.
que nos naõ··fizeffe-mos indignoS' dà ·con'....·
tínuaçaõ delles ., e certo que quando 11 n~ · ·
·rf!!ti. 1. fl.a, · ~~\.
x.89 C A . R ·'!· A- ·s
1

de V. Senhoria ·a razaõ de naõ havei: me~


recin1ento fobre que aífentem tabtos'·henie.-
ficios , fe me . im pr-imio- eíla -vetdade ·.no.
coraçaõ, como fo fora fé, ou evidencia.
· O qu~ me · contàraõ de V. ,, Senhoria
naõ f oy huma, fenaõ muitas couzas, por..;
que naõ perco eu occaíiaõ de as ouvir , e
procurar como quem vay ta0 intereífado
o gofto dellas. Muito deve ''. Senhoria a
Deos , porque na.ó he condiçaõ-.d.e homens ,
muito menos de Por:tuguezes haver p€f~
foa , e mais em tamanhos lugares de .quem
todo , e em tudo djgaõ hem. Muito po-
<lerofa he a verdade- , mas obra poucas -v~
zes milagre como efte.
O para bem que particularmente dey a
1,T. Senhoria era de -me haverem dito [ e
epois fe me confirmou por outras vias ~]
ue ''· Senhoria tinha o primeiro lugar ,
e muito grande na graça do Corpo Santo ,
e- pofi:o que os que naõ padecem tempef-
ade · , neceflitaõ menos do favor de San-
Telmo , onde a devoçaõ Ii.ca mais calHi-
c:ada por devoçaõ > he tambem mais co-
nhecida a graça por graça : O certo he
'jlfe os Santos ainda os da primeira Hiera:...
~ . qwa
DO P. "ANTONIO VI'EYRA. Í81 ,
1

quia ;·~naõ deixaõ de fer homens ; e ainda


CJ.u.e: eu nunca tive lugar· de lhe rezar nem
huma A1v e MARIA ; e,f timo muito qpe te~
nha taõ bom g·óíl:o , e que fej.aõ taõ acer-
tadas fuas eleiçoens , fó eíte allívio confide-
r o no muito trabalho das occupaçoens de
V: Senhoria que verd~deiramente faõ gran...
~es , e. moleftas e na.o pouco occafion·~das
a -diífabores , e n1ais nas circnníl:ancias do
tenipo ·prezente. Grande p1~ova he do quê
pouco ha dizia , naõ hav~r algum deza~
fei çoado que ·fe quizeífe apr<?v'eitar da oc.:..
cafiaõ contra. V. Senhoria,, pois naõ ., há
.innoc.e ncia .que eUeja fegura de hum falf~
t ellemunho, de que V. Senhoria com m1~i,.,
ta. razaõ dà graças à. Divina. bondade , co..;.
m o -eulhas tenho dado , fe bem entre mui ...
ta~ novas que· por cà fe efpalhàraõ , nun_,
.c a ~tre ellas fe ouvio o nome de V. Se. . -
n horia, fendo _muito_raros aquelles a quem
guardou cdte refpeito a primeira fama.
O llacdre ~dtor me avizou do livro do
Ah~adê' Joaquim que virà _n a pr.imefra oc-
caíiaõ , o vntro papel folguey muito de
~er pelo que tem de. curiofo e naõ fe lhe
pode negar , ao menos nas primeiras ~d-
. Aaij ver....
í o 8
1' ~ R . ~. e. A R . r :A s. /
vertencias ,- que faõ notaveis .0s myíl:edos
que nellas fe defcobrem , .e que, fi1pofios 'o.s.
ou_tros fundamentos ~efta , efperança , tem
.grande femelhança :de . v.erdade. O que Ro_-
.que Monteü~o . difle--1 .que fupponho\ devüt
fer a feo Pay ] foy . a repofia que . eu lhe
.dey de. palavra a algumas couµas ·que }me
mandou dizer e perguntar f obre noticiàs
aqtigas , que jà em Lisboa ~tínhamos pra- .
ticado muito differentes na efperaoça , .eJ·
nos fundarn.entos de· tudo o que ;depois . ftre'
.foy defcobr.indo ·corn o eíl:udo , e com ·.o
.tepipo , que he a obra que efl:à referva.da
.para y, Se!lhoria fóm.e nte , , e .para .co.rr1r:a
.aprovaçaõ. ' e cenfura de v.·S~tihoi:ia ,'. Ull
fe Jepultar .p ara fetnpre , o.u falür · à lu~ ·a,
[~o tetnpo_, fe Noffo Senhor der a faude".,
e_ o efpaço que para ella he nec.dfa1~io.~
Guarde Deos a V.. S~nhoria n1uitos. ~annos
~~~º dezejo e hayemos mifier~ Coimbra
2 5. de A·gofio de 1664, . # '. ( 1
. Capellaõ e menor Cre~.do de V~
. Senhoria. ·- ·r ; ·" , .. · · ,,
Antonio Vieyra.~ . .
CAR..:
..
€ART~ XXXIX.
A V~ ·Rodrigo de Menezes,,
. .
.'
d . ''
~ ENHOR : ·Ainda que faltem os na-
os
. vi de · fora , fempre V. ·Senhoria
~- me .d;i as novas ·que mais me irnpor-
taõ i e ma.is me alliviaõ ; fejaõ fempre af-
fim ' que eu'" m.e dou por fatisfeito : as de-
mais na.õ me daõ tanto cuidado , porgue
a.s creyo 1 e efpei·o por Fe , e ·n~rõ pode
Deos. faltar as fuas promefias , depois que
tantas prendasr nos tem d::ido de naõ ferem
condicionaes. ~· Por via· do Eortó fe affegu~
raõ de Madrid , . e Paris todas as que po-
-Oemos .dezeJar que naõ repit·o _a V. Senho~
ria , porque entendo haveraõ là chegado
:âs mefroas. Alfim · Deos fe tem ·declarado
por nos , ·e contra Cafrella , a qual me faz
jà laH:imà , e fe pode entendér que vay ca-
minhando com paífos muy apreífados à fua
ult. ima ruina , e que aquella Monarquia fe
acaba para Deos levantar outra. DeJfa Ci-
dade m5! mandou o papel .induzo huma
pe(..
.J@ ~ .CA R '1 A .S . ' ' 1t
pe!foa <.Jue eu tenho por d_igna de todo o
credito , e j à naõ longe de" Coitnbra, me
tinha cõmunicado outro de igual opiniaõ ,
quafi o mefm9.· N ~nhum defte~ Jeflemu...
nhos , nem ambos JU~1tos ·baífanao .a .. per•
fu:idir a n1inha incredulidade , mas como
.conffontaõ co1n outros que-'e u eíl:iino .p or de
~r erdàde provada , na? poífo âeixát de ef...
pera.r que a tenhaõ , ainda 9i:te feos Au.""'
thores fe haj aõ enganado.· ,..f'amhem me
.confia que elles nos naõ enga.naõ , ao me..
nos efre que me remeteo o papel. Deos he
Senhor dos feos fegredos , e podeos cõ...
municar , e fiar de quen1 for fervido. P.o
aqui paífou hum priftoneiro do Porto qu
ao principio fe diffe era--o ~ama nruy co.-
nhecido por nome nos an:edores do· Mon
àego , onde fe affirma eíl:eve .muy de publi-
co hà poucos dias , fen1 embargo de 'efl:ãt
_Enblicado pelas efquinas das. ruas : depois
fe foube que era hum creado ,, ou camara...
da de Antonio de Conti, por cujos·rnere...
cimentos fe vay calificando com e.f.las de·
monftra.çoens ; mas o. mefmo argumento
podera elle fazer cont~a outros cóm-quem
a fua fortuna ainda quando· adverfa º. tem
igua-:
DO P. ·ANTONiô VIEYRA: 191
g alado. Cotn a nova de eftar o Marques
de Gou;vea refrituido à Corte , e aos fcos
pofros, fe ·euida -·por aqui tem dado S. Ma-
gefl:ade printipio à rerni~ra.çaõ dos deíl:er-
rados·, e affim com boa rafoens a.i nda os
que fe, prezf).Õ da. mais refinada politica ,
m.as eu naõ acabo de me perfuadir a iffo ,
orque ha. texto em contrario , fe eu ·mal
~, naõ·.entendo , e o que efiâ em letra re
donda, , parece que naõ pode deixar de fe
con1prir. Deme Deos vida, e faude, que o
rnis dallo hà o tempo , e quando o naõ
dê , importa pouco. Eu me vou paífando as
~; ri as em Villa Franca ; onde altennati'1a:
.11ente .vay .tendo'feos oyto dias toda. a o. ai.
U niverfidade , e os dias vaõ mais frefcos ,
• > que os havia mifl:er a continuaçaõ dos
, anhos , que aia.da hontem me tornou a
! "" eita.r o Doutor Sanfins. Só V. Senhoria
· ~ ,e da occupaçaõ , e do trabalho , mere-
cendo fempre muito com an1bas as Mage-
tades. A Divina guarde a V. Senhoria mui-
tos annos, como taõbem ambas haõ mifte
,.. eu dezejo.Coimhra 1. de Setembro de 1664.
Creado de V. Senhori
,· Antenio V ie ~ra.
CAR-
CARTAS
' 1

CARTA XL.
·Av. R.odrigo de lVlenez?cs
~s ENH o R =A fét:ude de v. senhoria ;
e a melhoria do ~enhor Marques que
. Deos, guarde efbmo quanto devo, e
que eil:a noticia chegaífe prin1eiro que !i
das queixas de S. Excellench1 clue he gran...
de n1erce de Deos naõ paífare1n a maisfo..
bre_tanto trabalho , e em clima , e teínp
taõ · rigorofo. As' calmas defres dias fora.ó
por ca taõ extraordinarias, que fe naõ lem...
braõ os homens de outras fernelha.ntes >
mas lembravame eu muito pelos' :J efpeitos
1

do meo mayor cuidado , . quaes ·feriaõ no


mefmo tempo as de Ale1ntej o , querer!
Dcos fe haj aõ moderado la, como cà tan1--
bem o experimentamos ", ·pofro que com
taõ repentina mudanÇa ·que dó extremo dos
caniculares temos paífado ao dq inverno ,
çom ten1po chuvofo , : e frio; Eu rne apro:---
veito dos dias de mayor calor para a con-
tinuaçaõ dos ·banhos do Mondego , com
nova
DO P. ANTONIO ·VtEYRA. 193
ijo~a inítancia do Doutor Sanfins , mas os
effeitos naõ faõ os que fe efperavaõ , fe-
naõ os contrarios : oaíl:a porem que fejaõ
os que Deos quer , para que os aceiter co-
mo da fua maõ , e me conforme com fira
vonta.de.
· O Papel Romano çíl:imey, e fe eíHmou ·
n1uito e1n todo eíl:e Collegio , e foy o pri-_
n1ciro , ou unico que appareceo defia ban-
da. O meo parecer fobre elle naõ faberey
dizer a V. S"._nhoda, porque verdadeiramen-_
te o naõ entendi : - como tenho jà quali
dous ao.nos de ru:íl:ico , naõ alcanço o ef:.
tilo das Cortes , e menos o de huma taõ
grande Corte como aprin1eira do MuD;do,
Peífoas , que eu tenho por de bom juizo a-
chey men<?s contentes da prin1eira den1on-,
firaç.aõ , e geral mente parece que he fado.
das noífas vill:orias , fendo taõ grandes e
para eíl:imar , que os noffos mefinos efcri-
tores lhe tiren1 o p~·eço ., e que nenhum
athegora acertaífe a ponderar os feos ma-.
yores quilates. Se o intento defre papel de- ·
mon!hativo foy por ventura querer moíl:r.~r.
ao mundo e à ·cabeça delle , que Portuga~
n~õ· pôde.. fer conquiíl:ado de C~ftella ,, e
... Tóm; 1. · Bb mof-
- ) '...
194 C A 'R. T ·A_S .. .
n1oítrat à mefina Caíl:ella, <-Jne aincfa. 11a (up~.
pofiç.aü _poffivel, ou provavel da fua conqui...
íl:a lhe feria mais conveniente ter a Portu-
gal por amigó , que por fugeito ; aífump-·
tos eraõ eítes dous que f6 podiaõ confe-
guir-fe , com muito vivas , muito claras , e
muito folidas demon.íl:raçoens , a que naõ
falta mat~ria ne.íl:e mefmo papel, fe fe lhe
dera outra forma ; mas o Author he fó-
111ente difcreto de profiífaõ , é o compre- ·
hender e -difpor hum difcurfo demoníl:rati-
vo que fira direitament·~ os pontos , 'e os
con~ença, fem fe divértir, pede outros fun-«
da.~eQto"s. Teqho dito mais db que quize-
.ra , pGrque fem pre qtJtZera dizer De.m ,
ruas faria aggravo grande à minha R e
obediencia , fe mandando-me V. Senhoria,
naõ diífera c'om finceridade tudo o que te-
nho na alma.
Os verdadeiros papeis , e .os difcurfos·
e demoníl:raçoens que haõde defender _a·
no!fa cauza, faõ o Forte }\eal de Valença,
e as Fortificaçoens ·das outrC:l.s praças . e' a
defença _geral em que o_Senho-r Marqúes
tem pofl:o a Provincia de Alemtejq."_A fa-1...
ta de mantimentos que o ínimig'o pa.dt:cé
· ·em
DO P. rANTONIO VIEYRA. 19;
em toda a parte, mofl:ra bem quanto Deos
dlâ da. noffa , pois. no meftno anno he
tanta a fertilidade por toda a Beira e Mi-
nho , que fe diz naõ haverà onde fe reco-
lher o paõ , e ji. hoje fe eíl:â dando de
graça., fem haver quem o queira. Tudo faõ
Jnifericordias de .Deos , tanto mayores quan--
to menos me~ecidas. O mef~o Senhor
guarde a V. Senhoria rnuitos annos , como
clezejo e haveµio.s miíter. Coimbra 8 de Se.-.
tembro de 1664.

Capellaõ e n1en.or Creado de V .


· .. Senhoria.

Antonio Vie raº ·' j

-
Bbij CAR;
( I
·19&
'
·e A R. T A s.
. . \. ' ' 1 - ..
1

:
:.A'lJ. Rodrigo de Menezes . .
'l . ' ~ .

' S. .' :.E~l{O~: Dou av.·


Senhoria o p'a...
·· , raben1 ~· · e beijo' a ma.ó a m~o novó
', " . . Amo , :que naõ pode deixar _de naf.·
·cer: -con1 muy feliz eíl:rella , pois ven1 ao
mundo em .tal tempo ; os prezentes faõ
muito para fe paífarem fem 1 uzo de razaõ ,
e _os f~turos o feraõ tambem para ..fe logra~
:r,e'i;ri . .com grande folicidade por tod~ a .vi""
da , e n1ais quando V. Sen.l:ioria defde lo ...
go o dedica ao ferviço do que fó he bom.
Senhor , e nem fe muda, nem morre. Lo-
gre a V. Senhoria por muitos annos .para
<c1ue os creadqs diJ, Caza de V. S,enhor~a ve-
j a1n@s- n~lla imuy · repetidos go.íl:os.
Quem eíHt taõ longe do inundo como
eu , e co1n os olhos de taõ curta viíl:a) naõ
pode ver muito delle , po.íl:o que pela ex:~
periencia da n1inha cella nao deixo de fuf-
peitar o que pa:ífarà pelos cprredores , e
affim finto , .quant? .devo , dizer-me V. se~
,'.. · nhoria
.__..
DO P. A~!ONIO VIEYRA~ 197
nhoria -que todas -as coqzas do mundo vaõ
·acaz'o , e que nada fe obra com firn , nem
efpiritual , nem politico. As obras da jufH-
~a Divina affentaõ fobre merecimento , e
ai nda as da Providencia efperaõ coopera-
çaõ , e naõ fey que confianças faõ as nof-
fas, fe nos falta huma couza , e outra : fa-
bello háõ os mequetrefes , e V. Senhoria,
pois os ouve , tarnbem faberà o que elles di-
zem , poíl:o que elles naõ digaõ fernpre o
que fabem ; ou o que cuidaõ ; mas como
a fe!faõ era mais para Villa Franca , que
para _carta , fique para o íilencio , , que
nunca foy' depoíitario de tantos e taõ pre_,
ciofos ~niíl:erios' como os que eu eíl:es dias
lhe fio, N·aõ fey fe haverà vida , nem tem-
po par~ lhos· tornar a pedir. Os 8ous Ser..,
moens , como quaíi todos os outros , eílaõ _
·em · apontamen~os, e he neceífario reduzil-
.los de· novo .a eíl:ilo : niífo fico trabalhan-
, dà· , " pois<V~ Senhoria affim o ordena , e
<lefcançarâ entre tanto a outra taõ cança-
aa obra ' farey muito porque hum delles
poffa hir. . ·nQ coi:reyo que v(em : em todos
~e.fpero muito hoasnovas de V. Senhoria, e
~o 5en~or ~Marq~es,qtie Deos ·g uarde , por...
,"' "-·· que
) 1J
'1:~~ ..• ·eA·!R ef ':'.r ·A '?.· i.

·que (oa ·por ' ·c4. ·que o inirnigo prepara ,


grande Ca.mpanb.a para efie.. outono , o. que
ea µaõ ,ç,rerey er.n ·quanto V .. ~enhoria o
nq.Õ 1confinnar. Guar'de· Deos a V. Senho..;
. ria ·n1uitos aní1os como dezej Q. e havemos
. n1iffer. Coin1bra z z.. de Sete.rp.bro de I 664.
. .. .
·Creado de .V. Senhoria.

\;
-Antonio .Vieyra. ·
. .
'

CARTA· XLII.
A ']). Rodrigo de N.fenezes.··

S
~NHOR: Naõ fey que defvio pudef. .
· fem. ter as minhas ~artas ~os correyos
paílados que as retar.da.ffe ·, porq_ue
fen1pre fe entregaõ muito a te1npo , e pee
.las mefn1as vias , nem hà nellas occafiaõ
que de motivo à curioíidad:e , de ·q ue ·mui.-
. tas vez~s fe tem queixado os 'defterra.dos
deíl:a band'!_; mas eftimo q~ _:ain.dá .qUe tarde,
che~
DO P. AN~rÇNIO'V1EYRA~' 1'99
chegá~~m , p,oís facf 'teítemnnhas do meo
fui dado , e· fobte tudo , que as de V. Se·..
nhoria me tragaõ. boas novasd•t faude de
V. Senhoria e do Senhor Marquês que Deos
guarde, ci:.,rr10 dezejo.
' A la.rg<.t , e [retirada de "Arronches he
huma .nova. viaoria en1 confequenti~ da
primeira, que f e naõ de-ve feH:ej ar menos ;
e affün Je efpera a-ultirrta ·certeza ddla corr1
granc1e alvoroço , veio em muy boa occa-
fi:iõ para que o Senhor M·arqu.ês entraffe em
Lisbo<l. con1 1nayor aplauzo , rnas tudo ifto
naõ faõ m.ais que as veíperas -dos triunias
que eu ·a s."ExceUe.ncia · ~fpeí·o. .
1

~~9. Pprt-0, dizern , de:z,embarcou .hu1n


àefies·· dias hum( çlerigo de :Roma , 9ue cer...
tifica as viaorias do Turco contra o Ern-
perador :· .; ê q~1e fkav~t jâ naõ m:uitó long,<;:
de Italia. ;. naõ 1ne a.dmira 'tanto o cnzo,
\jt~anto o pO.tt'Co abaHo ·que faz naqncHes :.:;.
quetl1 .to~a:· t.rnia~s de p~_rto :· HH;1o faõ fatafi.,.
e:1ades , . e ttíd.o .demonH:raçoens de .fe che. .
g_~~·~m ou efl:arem i:nuito perto Jà os.tempos
do reme-dio. pro.r:netiâo. O Sennaõ ~ílâ j à
ac~ba.do, e fe c<~n"1eÇa a tirar em lirn popa-
~a liír '(em.• Cluvkl~ I ft(}r C0.lfCJ0 ·qtte 't.em.
;. - J1 Guar-
:tcl'.l , E A R T A S.
G·~arde Deos a. V. Senhor.ia raultos a11fw
co1no dez\~jo e haven1os tnifter. Coin1br
z9 de Setembro de 1664.

Capellaõ e rpenot Çreado ele ·v.


Senhoria.

:A~ntonio Vieyra.

CA. 1
·.A..·XI~.III m

./1 V. Rodrigp de Me!Jezes"


E I-I OR : De grande conterttam ~nt
. .foy para todo efre Collegio ·a can::t
· de_V. Senhoria.: e particular:rnente as
ultin1as regras , .de que todos daõ graças
Deos, . e n1ultipliçados parabéns â vi8.ór _
do Senhor Mar~ues, cuia campar bà fie u
coroad:i cem efl:e fi1cc<:tffo. O ha:ve.i;· fahido
M~ucim; poíl.:o·que com occafiaõ ta.ô conhe•
.cida J parece que .poder à da.r · alguxn ·cuida...
. ~o "
DO P. A°t'lTONIO VfEYR.A. ?..or
do , fr. a efterilid.tde daquella parte naõ
fora fogura de outros intentos : e he taõ
particular a Mifericordia de Deos com nof-
ço , que ,nc 111efmo tempo f aõ tais as no~
vidades neíl:as I_Jrovincias ~ que fe diz naõ
haverà onde recolher o paõ.
V ay o Sermaõ , entendo que ba.ítante...·
me nt~ reíl:itu.ido à forrna , em que foy ·pre..,
~ado , que ferà bern .difterente da ~opia q~e
ie tomou ·de merrwna, e que V. Senhoria.
ko os dias paffados. Eílimarey que naõ paf.,,
fe da maõ de V. Senhoria, nem faiba pe!foa.
ulgun1a que eu ren1eti fermaõ , por1ue tê
~n~ pedi<~ ' ndta mefina occ.i!iaõ para 11uma,
peffoa 1nuito grande } e fontirey que poifa.
cuydar que na.ô tenho 11:'.mita vontade de () ·
for:rir~. 1~ aõ 11on1eyo o fugeito , , porque o
nao fio do _papel , e ifto baftara para que
'\T. Senh ria entenda guen1 he.
Chegaraõ novas de lium!. grande vi..,
l'coria do Emperador contra o Turco , e
que a.ffim o efcrevera Alexandre Brandaõ ~·
importame a certeza defi:e cazo e fe a
húuver e1n Lisboa. , para a continuaçnõ das
minhas conjell:uras. Guarde Deos a V. Se-·
11lhoria muitos anno~~ çomo dezejo, e have-
Tomi I. . Cc mo~
10~. C A R 'T .A. S 1
·' .
n1os mHler . Coim.hra 6 de (hitubro de r.<;6"~;
Capellaõ e menor Creado d.e -'V.
Senhoria. · . 1·
. ~.ntonio .,.'ieyra.

C1 1. ·R ~r A ·XIwIV ~
.A Ve .R9dr~go de M{ne;~·,es6)
EN!-I OR. : Quern poderà', con1i.go dht
íe1nana corn duas cartas de V~ fü~..
. nhoria , e h .u1na do Sen 1or I\1arque
que Deos guarde? Na.ô b~~jo.· F,Lma.p. r~ped:--
"~
id<1111ente a S. Excellencia, porque n1e naõ
1 1

d d9 o n1eo affelt:o : ,r.


atrevo a ta.ri.to , e n1e bafta tenha conhe"'
Senho).~fa1 o {aça
!:l,1 n1:a e tnil vezes , affiirnando a V. Senho·=
úa. co1n toda a 'Verdade que n~õ hà né:íl:e
ineo dezerto , nem outro alHvio , quando
chegaõ , nem outro cuydado , e alyororo
quando fe efper::.rõ, n1~i:; '1;:ine o elas cartas,
e novas de v·. Senhoria, que eftirno fejaõ
Í<°"mpre lJUaes eudezejo ., ,que ~~õ as d~ boa
· , ·; .faude
DO P:..ANTONIO VIEYP.. A. 2.õ3
fat de com qu e \T. Senhoria paífa : q e tu-
do o den:1ais abaixo da graça de Deos itn-
pona menos , ou naõ irr1porta nada. O
quanta confolaçaõ me dâ ver a V. Senho-
ria taõ entregue a efra Filofofia , e taõ
coní.1:ante iJia, 'Verdade de feos diétames qathe
para dl:a. vida fi1õ os melhores , os n1ais
.in<lependentes , e os de menos cuydado ,
ou de nc;;nhum. cuydado , nem receyo. Se
jfro efrolhera.õ por felicidade da vida pre-_
zentr~ os que naõ co11heciaõ outra , c:iuan-
to 1n~lis , ~pi ex .ft'de vivunt ? O fucceffo de
là 'ronches h e n1uito para naõ fe crer , a
inda <lepois. d1e viH:o com o~ olhos. De to,.,
.dos os milagres fe deve ,a gloria a Deos .·
mas t:~!ht naõ tira o n1eredmento aos San...
tos , ·que · o rr1'efino Senhor torna. · por in·.. ·
ftrum enco delles. Ta.õ-ben1 pareceriaõ as n1e-
m.ona.s deíl:e milagre penduradas das pare-
~.ks da çazà de V. Seú.horia , corno eíl:aõ
' em poíl:as nella as peças da vi.(..'torfa. de
Elv.a.s. Mais for.tuna ten1os co111 a guerra
de fora , que com a paz de dentro. Hon-
tem n~s deo iun1 canlinheiro bem pouco
goito coin à relaça.ô· de hun1 cazo por to ...
clas- as fuas drcunfraoc1as dezeftrado. Qpei-
Cc ij · ra
( I ~
:to4 C A R T A S
ra Deos qué naõ feja verdadeiro. Ern quan:;
to nôs nos n1atamos, marcha o Tureo con-
tra a Chriftandade , e ·fora melhor que ef-
·te fangue fe denamaífe peleijando contra
inimigos da Fe , e en1 defenfa della , e de
fua Igreja: Mas: quornodo implebuntur' fi:ríp~
turce ? O Sermaõ do Maranhaõ ben1 enten ...
do qual he , mas naõ poderà hir corr1 tan..,
ta. brevidade , porque he força trabalhar
en1 outro papel , que tambén1 hirà a V .
Senhoria, porque hà couzas que fe lhe paf..,
fa o ternpo. O mais ben1 empregado faõ
eHes infl:antes , e o papel . de mais gofto h e
efl:e pàpel em que efcrev.o a V. Senhoria ,
mas naõ he bem que eu tome o te po a V. Se·•
nhoria, quando V. Senhoria tem tanto en1
<iue ·o empregar, e de tanto'ferviço de Deos,,
O rnefmo Senhor guarde a ·v. Senhoria
1nuitos annos, como d.ezejo e havemos rni':"
frer. Coimbra 20 de Outubro de 1664. ·

O Padre Procurador Geral · do Btazil


tem hum rec.1uerin1ento corn o · Doutor Fer-
nandes J\1onteiro ·fubre couzas da Miffaõ
do Maranhaõ· , fe V. Senhoria tt1e fi~er
merce dizer-lhe, que acabe de lhé deferfr
çom.-
DO P. Al'li.01,HO VIEYRA. 105
~~orn effeito ( porque fó efiâ o dano na di...
façaõ ) fa.rn1e-hà V. Senhotia particulai;
favor :i e àquelJ.es fervos de Deos efmola :
m'as naô fàiba elle , Gue fou o interceffor,
porque haõ ter1ha. occa.G.aõ de defconfiança.
a am.izade c1ue profeffamos.
1

- Crea.do de V. Senhoria..

.Antonio Vieyra.

· c .·A R ~l~. A XtV.


A . l!Q .Rodrigo de 1Vlenezes"
ENH()R : Da leti-a jú1gar~ ·v. S~­
,
nhotja que-j:à;eíh naõ 1.«vàr~ taõ mas
. . no,~a.s. da far~de, cQnÂ:(Pa patfada , mas
ainda as naõ poífo da.r taõ boas a V. Senho-
r·a,. como fey que V. Senhoria as dezej a ,
nem. entendo que poderà for em quanto o
1

inverno .for inverno , e Coirnbra Coimbra :


f} m.ayor cuydado que me deo o efrilicidio
~ _ . foy
11 1
206 . 1
C A R T A .S
foy vir miíl:urado com fa(lgue , :rnas como
parou a febre , parey eu tarr1be:cn com . os
medicamentos , e quero antes paffar com
os achaques ., que intentar livrarme dell es
con11nais rifco, V enha.õrne fempre muy boas
novas da faude de v·.Senhoria e do Senhor
.Marques que Deos guarde , que com o mais
ine comporey facilmente em. quanto o n1ef-
m.o Senhor for fervido. As ternpeíl:ades, que
por cà correiaô dtes dias ' nos tem, 'em
grande cuydado juntas ·com o perigo- de!fa.
Barra , queira N offo Senhor guardar a fro ...
,ta , e trazella a falvamento , que naõ ferà:
pequeüo favor do'« Ceo ·e·m. tem pó .t'aó tor ..
numtofo ; eu a encorn.endo rnuy pàrticular<
n1~nte a S. Pedro Gonç,a lves , que como
tenho tantos annos ·tle marinheiro ; tatn""
berr1 creyo ne.fte Santo, e fio muito de feo,~
pode.res. Grandemente eílimey as novas que
V. Senhoria me dà , e poíl:o que o 1ueo
encomendado naõ hia na pauta , efHn1ey
·muito ·a le1nbrança que .v. Senhol'ia teve
do feo memoriál , para que coníl:aífe ao
Religiofo feo par.ente a inerce ·que v·. Se-a
·nhorià lhe queria fazer, . e me fa.7t •.Guarde
-Deos ·a Vº Senhoria ini'litos annos. comõ
~ dezej o
· DO P. ANTO!~IO VIEYRA." 107
dezejo ,' e havemos mifter. Coimbra 3 de
Novembro de. 1664.
(

"Capellaõ .e 1nenor Creado de·V.


· Senhoria. · ·
Antonio Vie.yrã. .

.·CARTA
. ' '
XLVI ~
AV.:Rodrigo.de Menezes •.·
' ,

S
ENHOR: _Com eíl:a ultima carta de ·
, V. Senhoria acabey de crer o que
\....., naé cda ·' e conhecer o mundo em
CjUe vivemos , cujos myfrerios [ó pode al-
cança1r a Providencia infinita que o gover-
na , e dera eu 1nuita:s paffadas por fallar e
ou.vir a V~ Senhoria ·r1efl:a materia , c1ue o
pode fer ·dos mayores difcurfos , e tambem
das mayores . fufpenfoens. . Q!Jantas vezes
c-onfegue Deos feos intentos pelos cami-
nhos, po~ onde ps- querem eftorvar os ho.-
._.~: ' . mens !
I• • ,.

·i o8 C A R 'T A S ··
mens ! Ainda. que V. Senhoria poder'1·que~
rer o retiro de Cantanhede , Deos ·quer a
V. Senhoria na occupaçaõ , e inquietaçaõ
de Lisboa. Ningnem ferve n1elhor a Deos ,
que quem o ferve como , e ·onde elle quer,
e efta he a verdadeira filofo fia , naõ fó
.Chrifl:ãa, fenaõ ainda Eíl:oica. Do Santo da.
devoç.aõ . de V. Senhoria ouço por cà mila--
gres bem notaveis ; eíHmo que V. Senho...
ria feja e1l:e anno, ~ o que vem Juiz da fua
confraria , e eu pregara na fdl:a de muito
boa vontade , naõ para del-icadezas ; nem
conceitos , fenaõ •para edificaçaõ dos fieis .
·N aõ ·alim pó os outros Sermoens , porque
todos os infrantes que me deixaõ livres os
meos achaques, emprego naqueUoutra obra,·
-·que bem vejo· quanto importa fahir a tem- ·
· .po. Cà n1e mandaraõ o papel do :Flamen ..
go , e tambem vi por efcrito ,q uanto fe tem
-contentado delle Pedro Fernande~ Montei-
ro , de gue naõ pouco · me admirey. N aõ
he a minha fe taõ ·cega , tjue fe convença
· ou fe cative de taõ leves fundamentos. Nun-
ca V. Senhoria ,lne diífe :nada acerca dos
fugeitos que às profecias·põdé111 ·for oppo~ .
fitores , e fe alem do R.ey ·prezente do au-
zente,,
DO P. ANTONIO VIEYRAª
2ente, e do. defunto , e ainda do Cafl:elha-
io'
no que ~àmbem> 'he ~·eclma fext"a geraç.à:õ,
occorre ·a --V-. Senhoria outro · algttm que
poífa faz~.r ~rgumento ,_~~n4~- que naõ c4e-
gue -a fundar eprniiaõ. ,_Pergnntd iíto, · pof..
que guern difputa as m.aterias ex profdfo J)
hé bem ql,le toque-todo~ os. pontos ,. e:eii;"o
favo agui. ·Tivemos hO:ntem grande inun""
daçaõ do Mondego com hllma ter-rivel tem_'-
peftade, mas hav·era querido Oeos que naõ
~lcançaífe a frotà , pela qual fe fazem mui_.
t as oraçoens. Se ~Padre. Joa~-. Pimenta., Pro..,
cur.ador 1Geral do. Braz.il' óffere·cer ' a.. V. Sei'.
ithoí-ia huma cârta,_:m.iuha ·de reco1nenda""
.çaõ , . todb · o fayor f"!· :itl.i·erce ·que Vr. s~..,,:
nhoxfa. lhe fizer·, ·ha;v.e_r_e.y pot proprüis, por..:.
que .lhe devió ' grau.cl.es ohrigaçoens. ·' e na:õ
tenho óutro dezem,penho ·mais que a graça
em que V. Senhoria me tem. ·A meo ..:Amo
p Senhor 1 Ma~,rqu6.s, qne Deos .guarde .; beijo
fempre a maõ ;1e '.Deos me guard.e a V. Se~
n.horia muitIDs annos como dçzej.o. Coin1.-
bra 10 d.e Nove1nbrQ de 1664; · ,·
( · · · r-C-re~Ho
..
~ dê_\t.
~ ..
Seriho~Íâ.
,.
~
·
~,t· '; .. Antonio Yieyra~ · · · · . r
~· :1;em. lfj, · Dd , - .....CAR-
.' O A-.R.: .T !A .~S

,e ART·..·.A' .Xtv··:J1. ,;·.


1. . . ' ';
:.,
. ' '.• \',. • ... lf''
1 ;í 1 ~ J
' t"
.. ~. ,

~ ~I ~

.'ai:MefiezeS~ .~
oi. , • ._.. • • 1 • !J ,

.,
/IV~ 1~oa;;go

S
f' ' ... : I' \ ' .. • • " ' ~~ ~ .. • '

ÉNH.OR: Na5~·:poífo°:~ga~.: a V:Se~.


~~horut, qu.tt fou· liomem . do tempo j '
~· co.tn'. (.t1le vivo:·; 'COI!),' ê'1le·,mo;i;fo~: '.tom ·
elle ·ad_oeÇo ·;com elle fin-~._ Ent~ou . s~ Mar1
tinhb com'. o feo verani_c.o') .qtLe . :. nas ca~lmas ·
·pôde \competfr ·con1, o rtia-yqr v.eraq. , 1e ctõ·li'
mo .naõ hafrio' logo eftou'. erh piz ·cün:r.0 $
ares. de .Coimbra:. Paiío eftes diàs ~ em· VH~
la ~r.ânca fó côtnigo, e com os "1.iw.ros·, e· f~
( .

Dee~ (foi· fervido que condnu·eni .os '. alentos


io1n ·.que ·n::ie .achos atiuella Obrfu fe; '.pnrà
ern eftado·,. qne pela .hii' a tempo às mãos
t:le .V. Senhoria. . . ·· .· . "
f , .•Oo . fucceífo ou coftutne ;idé"Alemtejo·j 1

tit>a .·b pa11ahetn ·ao .iert.h or. Ma·rques 'que


Dei>'s' guar·~e, e tne alegr-o CO'Fííl•'V. , 9e'i1h6..;
ria de ter taõ. éeníl:ante ,.;,{ fua: furtu~na. Bem..: l

dita feja ff . ~reyidea9ia.b D~yin.~ .;11 que taõ


co.nhecidâ.mente nos 'affiH:e nos c1mpos ' e
aas cam;p~;il:ià~ _, tio·mefuio temp~ err.1 que
·' .. , ~ ·t101fos
DO P.:"AJ~T,ONJQ VlEYRA. ~t
~\!>[os competidores .colhem .nelles , e nel-
las ~à.Õ P.'oucú fuftento' , 'e ta3" poaca opi-
niaõ . Pelas copias de ambas ·â.s cartas be.i""
jo a V .. Sen,horia . a m~õ ; foraõ ~õ, feíte-
j adas ·.d.~ · ·to_dos _1 Çomo '.J?.\e1;eu~Q:i ~ e tambem
pelo lugar , e circunítancia em que foraõ
recebidas , tiviraõ na .i neo coraçaõ par~i­
culaF ·aplauzo.. Naõ :qúero ,dizer :com ,ifto a
V. Senhoria que n1oraõ·as minhas efperan:..
ças .no mefino lúgar, porque àinda ·que to.. -
dos ··os dias fe confirmafr 1nais ,' naõ fey fe
eítaõ depofitadas ·eni S. Vi<rente de f-Ora ,.
fe; fóra de S. Vicente , ím:rs fem.pre fera ent
lugar Sabto. Jà pedi ~ a V.. · Senhoha me ~·­
zeffe merce dizer feo fentimento ' porque
fempre ·feguirey ., e· eftimarey a opiniaõ de
V., Senhoria como de V~ Senhoria. D.eos
guardê ' á -V. Senhoria, , muitos ;innos ,.c omo
dezejo, e havemos mifter. Villa Francà. 17 .
de .Novembro de t.664e
. ? .•

Cre.ado de V. Senhoria ·· ··
' t ~ : t

. r

·- Antonio. Vi~yrtb · ··
~" :.. ~ .,-.. . ! ~ ;<.. .. 1 . .. " •• • •• ~~ - :~~
' I{

Dd ij CAlt·
1 o
it ei :· . :,.. .T ..;:C/ A ~·lt· í't:'." .1il lS ....

-e~.~:t$ - : 'tt~ií1. ;
, .. '}' 1 !l' .,,,, · ~'.,' '1
1
';• ).' · ', 'i• p• l,;1 •

., _4 _. '])~ ,R.od~iigô d~]v!eneZ;es.


- ' ': f 1 ~ ' t' . . ! 1 ~· ~' • • • ...... .ic•, lo\ '

5
! .~ ~ t

' BN)-ItJR·: Jiires; rec:ebo·juntas de ·V~


1. -ti • 1 "'.. 1,.. '' 1' t . ' ,/, '. " • '

~. _ -.. Senho.r ià\ " e . bafra:và: hw1ilal ,fó ·pa1~a


~ .· , gramde ·alliviô :"> meo ,_,' fe Iriaõ 'lel"a ili
ultima, o"s .d ifgoítos . e fentirhent0 -taõ jufrQ
de V-.. «Senhoria: , qüe -·rri.e tem··. Jaffi'm ado o
coraçaõ: , ·con1 ô qual faço a.d qe·v .-'Se.... 1

nhoria toda a: . comp~hhia .que po:ífo: Altif:


fimos faõ · os· j.uizos .: de Deos , e ·c reyo eu
que p~ra ~ar . exemplo a ~ v. Senhoria em
hum . cazo de!les ,, ··quis elle·, ·ra~he·m ter
hum Eilho innocehte ·m orto. , para. que co..:.
nheçaõ , ms 1horriens . por fha, pr.o.pria.-; dor , o
tp_uito que .lhe·.<leveuí , e ·quanto o , mefmo
Senhor efrimarà a ·cooforimidáde de ~ V.-. l

Senhoria com fua Divina vontade' neHe fa ..


cri6cio .. tãõ<fettfi~ef érft ndnhiú~a'.' chaga r
he remedio taõ efficâs a Fe como neíl:a de
V. s~~p9~i.t~"e!l!! "qu~ · ~ ,~àfaõ naõ tem IDO'"'
tivo pará' duvidar , nem eu quero foffrer que
V. Senhoria lhe chame cafl:igo, pofro que
•. ~· , · ~ ,<. (·~ te~
. ,DO PJ.ANTONIO VIEYRA~' 1tj
renhamoí~f exemplos · d~ : que moftra Deos o
rigpr .d~ fo.à jníHça .e·n1 ·a ex.ec11tar. nos in ...
noce1ites. Eu· lhe -dou ~r~ças nefl:e cazo (e
affim o ,Ct·eyo·) por ·querer pre1nia.r- o · me-
recirn~nto dos' pae~r na, innocendá do filho.
Ah, meo ·Se11hor D. Rodrigo, quanto Deos
ama ·a ~v. Senhori~, e .quanto fe agrada da
verdade ao eor aç.aõ de ·V~ Senhoria ,, e da
refoluçaõ 1 com ·que V. Senhor.ia fÇ a elle
efriina _, e prêza ,. e faz do mundo a conta. ,
que dle merece. ! Bem pode fer 'que corn-·
mutaífe' outra fenteil.ça nefra , e gue cor-
taffe ~aquelta. . ~ida os annos para os accref.
c.ent ~r:nà...:de. V .. -.Senh.oria;:; cuja peífoa en:"
-:end9 éu hà muit9 _t,e1n po guarda fua Di..,
vina~~P.royidenda para a erop~egar nos que,
efp'eiamoi , c.m mu.ito ltteroycas· acçoens de;
feo .fer,.vi~o · e gloria , obrigaçoens , meo
enh'(}r' ,-t a .qúe V. Senhoria' deve muy Ji . .
1

b;e,riaes, .~:rrefpo.ndencias , e·muy agradeci-


<la~,) f,Sol}r.e ~;efta; ·matefia tomara eu poder
ga-ftát·~ta.i~V..1. ·Senh0ria algu1n'1:s horas de fei-
..or~a-,,. jà. que·naõ.p~odem feras do foalheiro
_.,. Villa Fraucà.- ~1: ·'Jlella vou paffa.ndo com
mé,nQs. qu·õj"ª';~ eX<p~(~entandõ jà quanto
·_od~ _a , ç1.;niJib.uaçaõ ' ,i e o ·eofrurne . ai da
con..,
lf'\'I• A 1 D • ~ 'l',A • s
1-14 ~ •
i . _ . U, · X'"- ' ;.1,1 ~ ~ , . ..

contra· os tl1efmos ·ele1nentQs. Tra.ba140 as


horas que ·pofio ·, n1as affirmo a v·. Sep,ho...
ria que me ddinayou a c·atta de V. Senho..,
ria com. :ai .repofta· d'!-s minhas pe:c,guntas ,
o.m 1 qué V. 1Senhoria · me diffe em po~cas
1·egras mais do que eu tenho fabido .efc~e­
:ver em muito papel. Agora finto os danos
.do ·meo dafl::.erro, pois m~. priva ae
coli.ful
tar n1uy frequentetnente1.os ora-culus- de1V.
Senhoria~ · em tudo me confirmo icom. a dou...
trina , e authoridade de V. Senhoria , e fó
cuydav:;i que fem n~vi&.de fe ·podia tam-
hem efperar que1_fiz~ífo .algu1# milagre o
Co1~po Santo. Nao d~go · n.ada , nefte· parti
-cular por affeéto, nem juizo proprio, ·ma
he .muito o -que tenho o:u\Tido a gente que
difcorre pelas efl:rella:s ", ·.e diiÇorre. dellas
·a baixo > e \:Oll10 cada S·a.nto tem fuas pret-O•
·gativas , naõ he muito que fe tenha ma.is Fe
n aquelle em tempo de ·tantas -te:n1peílades !
·dlas foraõ cauza de fa!tarcom cártâaio aor-
·reyo paífado ·; ter1db~e ·'em gran.aeJitfpen
faõ a tardança das de V. SenherJa,;· por fe
haver dito de boa parte; que hàvp a':quem
'ªs tomaffe. E p0fl:o que nem as de -~ l $@diô'
.ti!t ·ne.m as minhas poClem dar tnótivo tJ
D'.1'\"'
DO_P ". ANT10NlfJ VIEYRJL JJ.tf
rnalicia , nem à curiofidade ,, quis efperar
a 'noticia que agora tive , naõ podendo a-
inda attinar com a cauza de fo naõ darem
as minhas-no Collegie, onde fempre as re...,
.. ' 1 . . • )

meti . f?ra d? m~~o do .Pa.d~e Rey~or, por


eHe -efl:ar~ au:rzente. En1fim , 5erthor , V. Se-
nhoria , co1n feo grande coraçaõ , trate de
fe, ~lliviar ;, e .yiver p.3:rac111e:'.t-a.tAi}ittm yill'a~
mGs; os ·cre~des· de V .. Sen:horja i ~ parti-
qilartn~nte dle; qu~ t~nto ~tpa , Se,... a·v·.
ph9;rié\. , ~ ·tanto fe-nte que V. ~enporia te..-
nhà ·o~cafiotlJIS , d~ gifga,B:9. C?\iar,de Deo~
a. Vi." ~S~qhpria 1 !Q.°Çt~t~s. siµ:nps-icomo· dez.ejq
... 1 ha:ve,m~s< nüfter~, Y,iU~ ·Jitar!ca 8 de ·ne...
zeii1br.0: de· 1 ô64. · ( . .

Oreado·de v·. Senl10ria" ·


~ .. '!-· • } •• " ,~ t .. • ' ..,J •
)_ ' . • i ..1 ·• _. f ' i

·r
. • ! !' ,. ..

•J (
.,
•t

)IV.i~_odrti,o de Menezes._
. .. ' ' • i .

S
.ENIIÇ>R : Y.oltà hojé-0 ~ol pari nôs,
ê. oom raffiro te.o l>eni~no· ,. que(!fpe o
fe ·fáceilitém, os cárµirthos ,aos corre...
, . yos -éon1 qÚe me n,a_õ fal~em , 'como neft
as nqvas tle' V. Se11hor~a ,--em cujâ efp
ranç~ ~ fe palfa·com áUiivíiô- pan.f!! · da foma ...
na - e com dobtadoJtormento a : rdto idel..
la ,'e da ·feguinte, ate qu~>cheguem. . e
creyo que as aµzei:cia~ _de y. Senho~ia tam ...
bem concoi-rem a eft~ def.eni::on ro ,, mas
pois affim o pern1ite Deos e o aconfelhaõ
os tempos , eu me componho com a
parte de pa~i~n.cia. qu.~ ~e cabe , e peço
ao mefmo Senh~r 1, eomponha o que eH ~
1àhe que o hà miíl:er , de maneira, que fora.
e dentro haja t~nta paz , e focego quanta
para feo mefrno ferviço he neceffaria. Em
grande f ufpenfaõ tem po.lto a todos eíl:e
P<?~tentofo Cometa, que na grandeza tenho
~ ;· !'º~
DO P. ANTONIO VIEYRA. irr
por naõ inferior ao de 1618 e o mefmo jul-
ga o Doutor San1fins que o vio em idade
que .podia fazer melhor juízo delle que eu.
Os livros naõ pronoíl:icaõ coufas de ,gof..
to , e fe forem contra Caíl:ella, como ie ef-
pera, naõ deixàraõ de fer em utilidade nof-
fa. A vida delRey Felippe tem contrafi
todas as leys da natureza, e o Cometa ver-
dadeiramente he funeíl.:o e funeral. Mas ne~
nhnm mortal daquelles a que1n ameaça~
e.íl:as vozes do Ceo, fe ·d eve ter por feguro
n a terra , e fora muy bom que a todos fe
~ he fizera dl:a lembrança, V. Senhoria me
farâ grande n1erc~ dizer me os juízos .que lã
fe faze1n ; o c1ue eu fó po.ífo dizer a V. Se-
nhoria hc , que hà dias que eíl:e porte~to.
nos tardava a mitn e a alguns aID:igos da
2nefma opiniaõ , e elperanças , porque fen-
do eíl:as taõ grandes e taõ fataes , parecia
coufa alhea da ordinaria Providencia de
Deos nos cafos e1n que houve mudanças
notaveis no n1undo , naõ prevenir , é a-
moeíl:ar ao mefmo mundo com os prenµn-
cios dellas , paraque ninguem o poífa ~e-.
gar por Author de todas. A occafia3 e éir~
cuníl::ancia do tempo he a mais preciz~5l~-~- ~
To~. /,, Ee fe.
i:r & C . A R '"f A S ,
fe po~ia ima.gina.t nem dezej ar ; e as no~
'1"as que vem de Alemtejo de prevençoensr'
extraordinarias do iniinigo, párece que con ...
cordaõ cól'tl eíl:e farol do Ceo. A mais fe-
gura refohtç·aÕ he pôr os olhos nelle , e
proêur~.r tello muy pro~icio , porque de là
há<le -v1t a boa , ou ma fentença aos que
fore1n dignos della. E finto grandemente
:nàõ vet nos anünos·deíl:a banda mais con1..-
rnoçàõ que a da curiofidade , e là pôde fe r
que feja ó mefmo; co1no fe Deos houveífe
áe acender no Ceo ociófamente hum cor--
po taõ prodigiofo , ou produGllo de novo,
como outros quere1n ; porque fe averiguoti
que o de 1618. tinha trezentas e oitenta
1nil legoas de comprido ·, que he coufa que
excede toda a ad1niraçaõ , n1as ainda haõ
de fer n1ayóres as que eíl:e anun'.da. Eu con-
feiTo a V. Senhoria que a minha fe fe con~
"'! :firma muit o com eíl:e teíl:emunho taõ claro
de Deos, e tomara valer alguma coufa con1
fua Divina Magcfi:ade , e que feos fervas ,
pois ~em tantos , applacàraõ fua juíta ira,
que fe~pre deve defcarregar f0bre g·ran<le
patte da Chriíl::andade. G·rnrdt; D~os a -V .
Senhoria muitos 4nnos, çomt> dezejo. e hâ.J
vemos
DO P. AN ..fONIO VIEYRA. 1151
vemos miíl:er. Coimbra 1:z. de Dezembto-
de 1664.

Capellaõ e menor Servidor de V.,


Senhoria .
Antonio Vieyra&

,C ARTA L.
A V~ / Rodrigo de Menezes.
ENHOR : D.ezejo a V. Senhoria t
ao Senhor ~!arques que Deos guar·
de, taõ-alegres principios de anno, co-
n10 foraõ p~ra mim as feftas com o favor·
de d1ias, c.a:rtas de·V. Senhoria no meyo de
tantas occnpaçoens, mas nunca V. Senho-
ria tem· in1pedim.e·nt.o para multiplicar a
mercê que me faz, -porque beijo mil vez e
a maõ a V. Senh.t>da,.
Bem me parecia ·a min1 q e naõ .havia
ltar entre tantas opinioens) quem deífe o
.Ee ij feo
íto C A R T ·A S
feo voto para ·a·cadeira ao opp.ohtor recõ'1. .:·
mendado de V. Senhoria, e fobre fer con -
forme aos Eíl:atutos da U niverftdade a in-
t~lligencia daqueHe texto', tem por G o ap-
plaufo geral de todos ; o que a mim me
fatisfaz muito he a informaçaõ de V. Se-
nhoria , que. femp1~e tepho por muy verda-
deirá , e defintéreffada ; ainda que V .
Senhoria confeífe a affeiçaõ do f ugeito :
admirom_e de ver quantos affeiçoados tem
de perto , e de longe. O Reytor dizem gue
naõ hade vagar· as cadeiras fep.aõ no fi m
do anrio , eritaq ver~mos ·. que .forte tem ,
porque a _ pode ter rnuitO grande fem offeri...,
fa de nenhum dos . oppofitores. .
· Jà diífe a V. Senhoria qaando em Coim...
bra fe ·con1eçou a obfervar , ou a ver o Co...
meta ( porque naõ hà quem o po~a obfer-
var e1n toda eíl:a U niveríidade ) pagando
EIRey huma Cadeira de Mathen1atica·, e fe
V. Senhoria me naõ mandàra dizer o lu.-
. gar do Ceo onde fahe , aincfa cà o naõ fou-
beramos. A figura em toda a parte he a.
mefma , mas a cor naõ o parece ·, ferà pe-s
la differ.ença dos·ares,- .e..d.o·s vap.ores ;1 athe..;
gora fe nos reprezentou fempre pallido , ·e
: ·_ . ;funefto,..
DO P. ANTONIO VIEYRA.· 111
fnneíl:o;Sanfins fe refolve em que he Saturni-
no, e que annund'.a enfermidades. O certo he
que _fegnndo.·o que dizen1 os profeífo:·es d.dl:a
arte fundados nos exemplos das h1ftonas,
fem pre D--eos co!.h:ima ameaçar trabalhos e
caíl:igos 'com femelhantes finaes , e quan.-
do menos ferà 1nuito util que nôs o inter...
pretemos aílim , paraque o Ceo ache 1nenos
que executar ' e fa.ça a emenda ' o que ha-
via de fazer a juíl:iça. Deífa Corte chegou
â(lui hum Padre que nos contou hum gran-
le exe1nplo de hum amigo de V. Senho-
ria , que foy) muy e.íl:imad® , e _louvado de
todos.
O C_o meta de 1 5"77. a qrie fe attribue .a
perda delRey D. Sebaíl:iaõ , ,fegundo a con-
ta d_et Vº Senhoria , fahio ou appareceo n~
mefmo dia que eíl:e, e naõ falta quem aché
grandes'. "myíl:erios neíl:a correfpondencia ,
que ·veríd adeiramente he notavel. Eu fiz
meo eil:udo ·no cafo , naõ como Mathe-
matico , mas como marinheiro , que he o
mais a que fe eíl:ende a minha arte , ou ex-
periencia : e aê:hey hum texto , que pare-
ceo n~tavd a algumas peífoas a quem o
~ommuniquey , e he de Ptolemeo no tex. .
! . to
211 C A R T A S .
to 54 Cum htec oftenta orienta/ia fltnt , &
falem antecedunt , & in oriente apparent, cç-
let:itatem eventús fecuturi Jignificant. E como
efl:e Cometa feja taõ propriamente orien...
tal , e appareça no me.fino_ ponto do Ori-
ente , onde nafce o Sol , e và diante do mef-
. mo Sol , e com curfo taõ , apreífado, parece
fe hà ·verdade no texto , que naõ tardaràõ
1nuito feos effeitos , .que he o que have··
n1os miíl:er , e o qu~ promette a circunfian-
cia. do tempo , e. o concurfo de todas as
outras caufas. .
Efta vay por via do Padre 'Procurador
do Brazil , que he mais affifl:ente no Colle-
gio , que o Padre R.eytor ., e a elle. pode V .
Senhoria mandar erifreg.ar o livro do Ab-
bade Joaquim. A merce ·que V.· Senhoria
faz à noffa Provincia, pagarà Deos .a Se- ·v.
nhoria , ·e o mefmo Senh.or guarde a V.
Senhoria ·muitos annos como 'dezejo e ha..
vemos miíl:er. ·Coimbra 19 de DeZembro
de 1664. . --,
Gapellaõ e menor C.read~ de V:·~e!Í~ori~.
. .. . ~· .
Antonio Vieyt~.: . ·i~_,
. CAR-
DO P. ANTONIO VIEYRA. 2 23

CARTA LI:
A V. ·R.odrigo de Menezes.
ENI-IOR : Jà no correyo paífado fi-
gnifiquey a V. Senhoria o fentimen-
to· da occaíiaõ' porque me havia fal-
u do carta de V. Senhoria , e pofro que
com a noticia que V. Senhoria n1e faz n1er··
ce neíl:a ulti1na, fica alliviado o cuydado do
perigo do mal , naõ ..he menor o ein que
me deixà ~ ~ifficuldade ·com que fe admit-
tem os remedias ' por cuja .falta ' de muito
leves princípios fe vem a padecer grandes
danos. Terrível penfaõ he viver da vid
tilhea , e foberana · obrigaç.aõ confervar a
propria como a. -de todos. Por muitas par-
tes nos .chega efra mefma queixa involta
no me.fino ·r e·c eo· , que fó fe põc1e eíl:ima
pe1o que ·argue de amor e benevolencia ge-
ral , gue verdadeiramente fe experim en ta
- melhor ao longe , e he notavel o exceífo
com que fe deixa conhecer.
O ~ometa fe nos mofl:rou ainda quintà
· feira
114 C A R T A S
feira muitó diminuido da cauda , depois o
encobriiaõ as ferraç.oens , e perpetuas .c hu-,
vas , com que os dias vaõ triíl:iffimos. Aos
1 3' quaft ~fpaço de vinte e quatro horas fe
cobrio tudo de neve altiffima, chovendo co-
piofamente no mefmo tempo , e ventando
por efpaço de quatro horas com tal ,furia a
efpaços , que fe duràra .n1ais tempo , e com
n1ayor continuaçaõ , nenhuma couza ficà-
:ra em pê ; o eíl:ra.go nos ·olivaes, .e em to ..
do o gener~ de arvores foy gràndiílimo , e
mayor nos 'montes·,. que nos valles, humas
arrancadas de todo, outra~ quebradas. N a
:nofL1. quiata da Cheira yiei:aõ ao.chaõ mais
de duzéntos ipinheiros , que· fuõ alli muy
grandes-e fortes , e neíl:a cerca do Colle-
gio vinte e quatro cipreíl:es, e muitos mais .
na de Santa Cruz. Queira Oeos _que naõ paífe
o caíl:igo dos corpos vegetativos às· vidas _
racionaes ciue faõ as que offendem. Gran-
de efcand'alo he que ainda ameaçados os_n aõ
remámos , e grande barbaria q.ue. queira-
mos fér valentes contra · o Ceo. Os j~izos
dos Mathematieos fempre fe ' conformaõ
mais com o que obfervaõ na terra , mas a
fua fciencia que ainda naõ conhece a ín-
fiuencia
DO P. ANTONIO V:IEYRA. 1·2;
fluepcia 4as efrrellas que fe :vem. h,a fois .mil
annos ,/ tomo hàde conhecer a fignificaçaõ
de hun1 final que to.dos ós di'as tem vade-
(iade , e mais he ·guia;do' pelos ~ rumos ·'d a
Providencia., que pelos"mo.~ime.iitos' ·d a na-
t ureza. Efras co'n1e0:uras a ·meo ver perten~
cem mais aos lidos nas hiíl:orias ,: q_ue . aos
obfervadores das eíl:rellas ; para que fe tiren1
os effeitos pel'os, ettll)plo~ .,,·pois a primei- ·
ra éàuza , e fua ju~iça ·he -fempre a mef-
n1a. Ifi:o he o ciue. fe pratica neíl:a U 1:1iver-
.fidad.e entre os mais. entenâidos ., e .timo.'..-
!:atos , 'e' o Oppofitor amigo de V. Senho-
ria he 0 m.ayor fautor deíl:a opinia5 taõ
1

C hri:íl:ãa , e efpero que fej a com fruto pe... ,


la grande authorida.de, que ten1 em toda a
Efcbla. , '
Beijo• a maõ a ·V. Senhoria pela fineza da
fuparaçaõ daquelle . quaterno , e :pela do
affeél:o com: que v. Senhoria intercedepe-·
lo ceíl:eiro. Bem pudera eu chamar obra
de mizeiiÇordia .ao queren11e V.' Senh~ria
libertar , naõ do deíterro .; (e naq do frio
que com eíl:as neves vay infoportavel, fobre
a experi~_n.~i.3.; d'.ell;;~ , ,agora faz dous an-
n~s. , 1ne porém tantds mezes em huma ca-
( Tomo /. Ff ma
~, ...."" '.
~ ~o
R· .~ . ·· A, ·' s '• ~
t ; "'(;_:lf"
.p. ~~ ,
~A
. . .- • ~ J! a ~ ~ .,.

m.a,,:·:e~imct' terem ·n~ll1a 1nod::.ó. tantas ve'feS.,,


mas , riaõ ;-~1e tanto ·· o dezejo que tenho de
me J ivrar .d eite clima , 'Gua1~;td • o de paífa1•
a alguro ·fiti0 ·0.nde :putjeífe 1ver ,. e ouvir a
~. 'Senhoria ;e fallar algl;'l-ma; c9uza f6b11e os.
futtUQS "' na.ó. fó da etenúdade ·, fenaõ do
tempo 1; .mas eítes' tem .feos mun1.e ntos ' quce
PaJer_pofuit. irrfua<poi-ijlató Ell~ governe tu-
do_., con1a: for .may,cir gh):ria,.fua-. _
O Padre Joaõ ' Pirn~~ta ~ tem ren1eddo o
livro, poíl:o que ainda naõ., he -cl1egado. Da-
lhe grand.e €Úyllad:o ·hum ·negodo. ·.Gue tém
do.• Rio de Jan·e fro no. 7:Ftibunal . de V. Se..;
nhoria ; efpero: que·. i\T . .Senh<?ria me · Ta~a:
nelle todó o favor poilivel , por,que taln-
bem fou parte. ..Sempre ·. dl:ou ,.aos pes, de
meo amo o Senhor Marques , cuja _vida e
Qfi:a.do , e o ' de V ·. Senhoxia guar1de e profpe-
péie Deos, como dez.ejo e havemos miíter.
Cpiimbra. ·19 de.Jarieiro d.e 1665i .......
.. .. .; } ,.. . . " ..... . ~ '. ' ... .
· Capel1ãõ_~e tnen0r·C,rea.d© .de ·V ª:
· · - Sénhoria~. , - ··· _, ··~ f ,,, .• ·
•;
L
1
1 J
{ '
14 ..
'I 1
, ,
t , '
I ~ '·
• < i .r' ••t ,
I '" ! ; ,\ ) r. J. \' .' 1"" ~

,nió . ~ v.le ta. .


f '~1 t ,. 1. -
Ant
• • ')t 7 () l . 1 ~' .- .! ~ ' ,, ., f . ' '. "

, •. :9 , ..... . . . _Y.
- ,-~· r .. . · ~
. . ,. r .... _ J 1 . ,- •

, CAR~
DO P. \:ANTONIO.V.:lÊYRJL f1.'27

A -Vº Rot/ri~o:i lÍf1'1Merit:'ies:.


. •' • . ,, ~ í. .
't .....

.ENHO;R. :, Anpa.õ ,faõ -.1!emtdados os


.::,çorr-ey.os nq:Ue"·,naÕ t' 1 he· imu~td fahaífe
. r

- - r c_al'lta minha., :havendo :efcrito em toP'


l

dos·1, e:ndl:es. uhimos coín ma.yot cuydado,


~

pelp· ,~m que V. Se_nhoria: ficava : a_gora1

dou-ias d.evjdasr gr.aça:s~· ariDeos:.i p·elar 'grande


1nttrce qrte ~nos. fez ·-. e1n HV-ra:-r· ta1i-r )1feve...
fnettte·,cJ.dle ·a V·. Senhorim,.e "ª ·todos". ;' ·ao
ineno.s eu, ou,.pelo , qu~ am-o ; ou pelo que
temo:~ nunca m·e . perluaái ·q_ue V.' ·Senlio ..
ri'1,. pud.eífe fazer·: ª ''jornada. d.e tSalvàttr..rr
ra: , ~ e ' maiis · em t:en1po •ta.ó ·rigbrofq,. mas a.
ao
Providen eia, D i vi ira f e muito bem ·quan.., 1

do e onde hade aplicar a efpeciali'dade de


feos, . poderes. A,. do favor gue V. 1Seµhoria
a
m·e' refere;' ltê 'rnaydt ' qtl:e " capk:dua:dé que
eu tenho para o faber ·eíl:imar , e a:fiim co-
mo o creyo por fé , o venero com o mais
humil:d~ i~ affe4túotC~l'. fiJeç.cio , mas he tal
a 1ninha fortuna , que athc para naõ fer
, · ·.: .. Ff ij . - 111··
8' .
~2::1; lo- , • \,
Sr'
1 #\_ ' ~·:
C l"' A''• "hlf ~ ' A '
~. n. jJ~~' ..1 J. i ' .

. . ~. '

ingrato me acho corn as mãos atadas , fem1


poder l'êvantar a peán'á da:"' 9hr~1 • qu~ tenho
aviiGtlo a V. Senhoria na ·qual hà mayor
feg.req<?. . ,,,: . . . , · ~ ; · , ,
, Lemf>r:e-fe V~ Sen4oria~ ~e cetto nego-
cio , em que eíl:ando eu nefla terra me fez
men.ú: ·oSenhor Marques de.querer.., ter p~r..
e
.ter/ daqui ri116riià rV';.; S1enh,o,ria- qnal ·pó..
.de fer . a.ünâi.terifan,, ·ie· ríqev.ítai'1"el "-.ô ' '·impedi...
,m:entiO . .Q: ft~mporh:e.1 e-0mi hm~taç~ ·~ , .e' o&
. tempo~ com differençá: , e eu1-côtnbatido
de. to:qos ·os elementos., fC'Q:tn rfabà ~.de :·t0dO
o. ahdgo , em; cliina taõ contratig•, 'e, ·ini~
n1igo da vida con10 fem·pré ·expe.timentey ;
·m as eíl:a e outras ·mttitas !couzas que : déz e""
jara fallar com V ·.i,$-enlioria, naõ"faõ para
-papeLi.sDees 1rie.. de :paciencia e a V~ Sê~
nhoria guard~ :mu.itos annos ' com.o dezejo,
e: havem0s miíler. Cóimhra: i6· 'de Janeiro
,de J 6.6 5. · ·, · .
~··c~é~II.~f> . i m~q~i c~~~ct~· 4dV.:
1

. Senhoiia~. ·; ;. ,, .... -- \ · ; ·
f t Lt •À (.l •f '_., f .. ! \ 1

·1
~.. 1 j { \I i <.; t "1 '"\
J <f ~
'1 - •

f .r:': ,A 'ritónió·''Vi.éyra1~ . 1
. f
.. . ~J ! r . , ,, . . . 4 • ! . . l ..

CAR..; -'
-- 1

DO P. ANTONIO VIEYRA.

C A: R T A LIII.
A V . Rodrigo de MeneZes.
' EN-HOR : Muito n1al me vay con1
a auzericiai de V .. Senhoria ., porque
.- · _ ·naõ:_f6 tardaã , os correyos , mas che-
gaõ . (em carta ,_e tl;ldo acrefcenta o cuyda-
do. Jà. nos livra.m·os dos pdmeiro$· fuftos
qm~· foi:aõ .d~ te1npd'.l;ades ' ua1~fi'agios ' 1 ie
pupro{~ , d~~;i.ítre~~ ; · ago~·a l}os tf m · em (qf.
.penfão ·as fa.pgr1as <:\,e .S: Mageil:ad'e , que
ain ~à (e naõ ~verigua fe faõ ·effeitos da mon7
taria-, ...ot:i qe qq~n~~ª· Be_m ·pud~,ra ( Deo.s
o guarde ) dezeíl::ima1: menos a faude , e
~rri(càr i~eno~ ·a v,i da , pois vivem. tantos
<lella. Por éà fe falla ein ~orte do Papa, e
delRey Phelipe, ambas pór via de JCaH:ella,,
e por iífo dignas de menos credito , fe af-
iÍm fo!Ie jà. _o Corneta, como diziaõ os an-
tigo s·~ fé _tinha expiádo; os effeitos que tem.
cauzado nos elementos , faõ violentiílimos ,
ainda hum dia deíl:es --deo â coíl:a com hum
Navio do Parâ, de que efcaparaõ al~1 ns
,. h_ Q...,
r:30 · e· A ~R 'T A"· S ... '_1:
1

homens , e ainda fa_õ mais laíHmofas · as


novas .que daõ dàquella: gentilidade , onde
a juíhça de Deos fobre os Portuguezes , e
a juíl:iç~ dos Port~guezes fobre os mifera"'
veis Indios, parece que Competem. Naõ faõ
boas as difpofiçoens para Deos nos fazer
as merces · que efi1eramos , e dar viél:orias
aos que .taõ · nial ·d@fen:dem· fua ·c auza.: nié-
lhdtes faõ- as· pievns ·que>fo 1maddiá&:de Al:--
dag~lega , e fe à.ffitmiõ ?pór· certas. iV. Se..
nhoria, P?is eftâ ~a: ~pa:rt€·: de·Alemtejo, fe
. riry~ 'de. me .'dizer· ·; o' qqe 1hreide cteir· neíl:e
acç1dente ·, ; · que tia: fuftantia l.ídà fé '. ; 'miêi
hey nüíl:er 'i nítniido. ·Guarde Deos ,a V. Sé.;.
nhoria muitos' annos ·éon;io' dezejo e have...
mós iniíl:~r. Coimbià '3 'de Fevei?eiro 4e 1'66 5~ ·
'- ·
.
·ae y ,
. ,~1.r, ~, #~'

Capellaõ e 1nen(·)r Creado


... "SenJ~o·rf ~· , . . . r.
DO P.- ANTONIO VIEYRA 13t
. ,

C A ·RT A LIV.
A 'D. Rodrigo de Menezes. 1

E 1 HOR: 1'1uitos dias havia me fal-


tavaõ novas de V. Senhoria, mas ho-
je 1 5 de Fevereyro recebo hun1a de
V. Senhoria, efcrita em 26; tempo em que
pudera vir de ltalia , e ainda de mais lon-
ge : mas con10 V. Senhoria paífe con1 a
fau~le que dezejo , e con1 .o gofto que con-
íidero, o::; inconvenientes da diíl:ancia , e
do tcn1po todos tem reíl.:auraçaõ, como eu
(>xperimento fempre que V. Se'nhoria. me
faz merce de carta fua. Os exceffos ddl:a
invernadas tudo trazem defcompoíl:o , quei-
ra Deos que o Cometa naõ defcorn ponha
m is que os elementos , como muito temem
os medicos defi:a U niveríidade : elle ha dias
gue defappareceo deíl:a banda· , mas por
hum Navio do Parâ que aqui deo i cofia,
foubemos como la fora viíl.:o aos 1 2 de No-
vembro, que he hum mez antes do que cà
E\ppareceífe., ou fe advertio nelle. O pr og-
. noíl.:ico
IJô
23~ .. CART ". AS .
noíl:ico que V. Senhoria me fez merce ma.n~
dar , diz ·o que diz.~amos. Deôs fó fabe o que
quer íignificar-nos com elle , _e os effeitos
no lo diraõ , poH:o que fora bom eia.r pre..
venidos para todos. ·Ru paífey dl:es oyto
dias em exercidos , c1ue foy a cauza de naõ
.efcr~_ver o correyo paflado , mas feyme taõ
mal aproveitar do conhecimento que D eos
nelles coft.urna dar; que .temo que fej a pa..
ra mayor corifuzaõ : · as ·cartas de V. Se.;.
nhoria ma cauzaõ muy grande fempre , e
me parece que as montarias de V. Senho...
ria faõ como as de S. Francifco de Borj a ,
de que tambe.m fe podem aproveita1t os com..,
panheiros. Beijo a 1naõ a V. Senhori::i pe..
los Fsagínentos de Santo .Iíidoro : tambem
m.e chegou quafi no n1efmo tempo o livro
elo Abbade Joagu'iin , que eíl:imey · quanto
naõ fey ei1c_arecer a V. Senhoria , porque
ven1 no mefino volume obras variàs de ou-
tros Authores daquelle tem·p o , que. eu ti-
nha curioíidade de ver , e por naõ nie pa-
r ecer que·fe podiaõ achar, deixava.de fazer
dillgencia por epas. Corré ~ue os Caíl:elh a...
Í·lGS·,,naÕ fazem ,campanha ;\ e fe .daÕ QS C3;Ur-
zas : nem huma J nefu- outra co}iza.. Ct CV(]-J
··. . a.thc
/
DO P. ANTONIO '\rIEYRA.· '-3?·
athe V. Senhoria mo naõ dizer. Ao Se~­
nhor l\ifarquc~s meo amo beijo a maõ. E
Deos ni.e guarde a V. Senhoria muitos an..
nos como dezejo e haven1os miíl:er. Coim.-·
bra, ·r 5 de Fevereiro de I 66 5.

,· Capellaõ ernenor Creado de Vº


, Senhoriaº .

·.. . Antonio v·ieyra~

C 'A R TA. LV.:


A 'JJ. Rodrigo de Menezes.~
El~HOR. : Com todo o coraçaõ fin-
to que \T. Senhoria paífe com acha-
ques , i_nas pois elles fe aggravaraõ
1

com a incon1modidade de Sal va,terra , ef-


pero que con1 a 'mudança·· e melhoria do
lugar tenhaõ ·remi tido·· de to#:o. , e V. Se-
nhoria eíl.:eja reíl:ituido à inteir~ f.:'lude que
dezejo a V. Senhoria e a noífo Senho.r pe-
1ôm. /., Gg ço
J 31
·~ 3 4 ·C A R T A S .
ço fempre .em todas as n1inhas oraç0ens e
fa.crificios. Tambem· coníidero outras con,,.
veniencias e111 V. Senhoria antecipar a vin--
da de S.. M:.igeH:ade , que a tudo dâ motivo
eíl:e mào mundo e1n <:1ue vive1nos. Eu paffo
como permite origor do ten1po,. efcarrat1do
v~rmelho , que naõ he boa tinta para. quen1
eJlâ con1 a penna na maõ , n1as a tudo
obriga naõ fó o goíl:o ; fenaõ tarr1hem a
neceilidade. Hto he o que íignifiquey a Vº
Se'nhoria, de cujb favor e do Senhor Mar..
ques , que Deos guarde, ·me valerey quando
a verdade fe naõ poífa defender por íi mef:
ma : mas a materia' fendo para muit0 pa-
pel, n::i.õ h~ ·para eite. Athe a .efperan·ç a fe
nos tofhe que he o ultimo- allivio que- nin...
~uem tirou na mais triíl:e fortuna aos n1ais
defafortunados. V . Senhoria pela merce
que me.faz' naõ tome pena pelo que digo,
c:iue o .meo coraçaõ he muito grande ) e
n1uit,0 coíl:umado a riavega1, co1n "g.randes
t-0rmepta.s, e fó me falta a€ft:a o allivio da
- con1municaçaõ d~ V. Sénhoúa, qüe de tu~
do o.mais-1Ile rio, e-vêrdg;deirarnente. he pa...
_ r.a rir. Bem a propofito da tormenta Ninha
agora o Senhor Santelriio. ·Dizia· 1~>- ·iioífo
·~ Pr~~
· ID~©; 1!~ AN1~0NIO ViEYRA. '23 ·r
Pri"nc€:1fJJ que naõ havia peor gente que os·
fe n1i.d10utos , ( e ainda faõ peores fem boa
yonràt:fo:·. ) Deos fabe o ciue faz, e porque;
e par.a que. Se, eu pude: a tomar ~s liçoens
que ·v.Senhona: ine da co1n o íeo exem- ·
plo da aonfornüdade com a vontade Divi-
na , nenhuma coufa . me faltava, rnas 1.inda
. que naõ chego a padecer com alegria, fof-
fro co111 paciencia, e he tal o coil:un1e qne
pode parecer conflancta. Tambem iíl:o po-
·<le fer Cometa 'dos que V. Senhoria diz fe
vem todos os . dias ., ·,o nofio fe. vio ainda
m enos hâ de quinze , e hontem fa.Uey com
outro Religiofo mathe1natico, dos que efca-
paraõ do naufrag~Q do navio do Maranbaõ,
que ine díífe fora vifio, naõ fó. no mar aos
ti de Novembro ; como avizey a V. Se-
nhoria, mas muitos dias .. antes em ~erra , e
que era là muy vermelho , e afogueado ao
principio , e que logo diífera hum Padre
Alemaõ que anda naqueUa l\1iífaõ, bom ma-
therriatico -, que eta univerfal. Se appare ..
cerem cartas dos Padres de que tenho al-
gumas efperanças , ellas diraõ com al gun~a
miudeza o que là fe vio. De Caíl:ella vie~
r~~-~ Poxto dous prognoíl:icos, que mandey
-• · · 9g ij pedir
136 C A R T A S
pedir, fê n1os mandarem hiraõ a·V. Senho:;
ria. Dizen1 qne efi:e Cometa he parecido run
tudo ao delRey Don1 Sebafi:iaõ , e que a'.f-
fin1 como aquelle fignificou a fugeiçaõ ,dç
Portugal a Felippe Segundo, affim eíte a Fe.-
lippe Quarto. Mas o noífo Mercurio nos
fegura de todos efi:es te1nores co1n o pouco
medo que tem âs prevençoens de Caíl:ella.
Qp:ererà Deos que affim feja. Pela mercS
que V. Senhoria ,faz ao Padre Procurador,
beijo mil_vezes 'a. n;iaõ a V.;.,Senhoria. Guar ...
de Deos a V. Senhoria muitos annos como
dezejo e havemos n1iíl:er .. · _Coimbra i3 ~
Fevereiro de 166 5tt

Capellaõ e menor·Cr~a40 de .V
. Senhoriaº . · ·

Á!ltonio · .Vieyra~
--
DO P. ANTO!~IO VIEYRA. 237

CAR.'T A. LVI9
A 'D. Rodrigo de J\!fenezes.-
E!~HOR: Sinto que os achaques de
V. Senhoria fo hajaõ dilatado tan-
to tempo , 111as os tempos naõ vaõ
para menos , fe faõ em Lisboa, corno en1
Coimbra. Tal rigor , e tal variedade
:nunca fe vio. O nof{o Doutor Sanfins te-
me (:iue os effeitos deíb. s cauzas , e da
cel eíl:e que as move fejaõ peóres , e mais
genies , imas ao ccaíiaõ que nês damos
~o Ceo e aos elementos , he a que mais fe
deve te1ner como V. Senhoria ten1e. Ba{:
Unte inimigo era Caíl:ella para querermos
ter a Deos da nofi"a parte : terrivel couza
Tera fe tivermos ambos eíl:es poderes con-
tra nôs. Por cà foa que fazem os Caíl:elha- .
nos mayores esforços que nunca. Dos fa-
ores ultimes , e das felicidades que Deos
t em .apparelhadas a Portugal-; eíl:on fen1 pre
certo com a n1efma firmeza, mas antes del-
las na.õ fey .fe nos quererà Deos purificar
com
Anto11io Vieyraº'

CAR..
DO P. AN'TONIO VIEYRA. 139

CARTA LVII.
AV. Rodrigo de Menezes.
ENI-IOR : Muito e:íl:in10 fempre as
novas de V. Senhoria , e deíl:a ves
efl:imey tambem como jà diífe o acha-
que pela occafiaõ em gue veio, e pelo fuíl:o
de que meJivrou,por razaõ das novas que por
eíta banda corriaõ, que naõ fey como o meo
coraçaõ fe havia de acõmodar com efcrevcr
a. V. Senhoria de Março a Março , quando as
monçoens do correyo de cada femal!a me
parece tardaõ tanto. Jà .agora fe vaõ pondo
mais em ordem , mas a primavera naõ a-
1ba de chegar: eíl:es faõ os effeitos Satur-
ninos qüe caufa o Cometa, e tambem naõ
faltaõ os de Marte. Fica prezo Salvador
Correa por hu1n defafio, e Antonio de Sal-
'. anha pelo haver apadrinhado, havendo fi-
o eíl:a pendencia effeito de outra mais pu-
lica. Roque Monteiro tambem efrâ prezo
por
1 • 'I
240 C A R 'T A S
i1or outra valentia. :Naõ fey fe prognofti ca
iíl:o , ou aconíelha que athe os eíl:udantes,
e Clcr.igos devem tornar as armas , e aHim
era bem que foife, e que ninguem trataíie
de outra coufa, fe he verdad,e con10 .fo ef...
crcve , que o inimigo faz dous exercites ,
e que Marcim paffa a governar o d.e G a...
.liza, ficando Carracena e.m Ale1n-tejo. Li ...
vre-nos Deos do te rc·e iro, que he o que eu
.m ais temo, e por parte.donde fe teme m e...
nos. V i o Prognoíl:ico de Joaõ Nunes da
Cunha ern que refponde ao de Caíl:ella ,
.q_ue fe p1'.01nete eH:e anno a reíl::auraçaõ
de Portugal; elle diz que as viltorias haõ ...
d e. fer noí1à$ , os perigos ein. Veneza , e
Conílantinopla , e as doeaças graves com
perigo de contagio en1 toda Efpanha: bom
he h ir para a lndi:i en1 tal te~po , n1as
Deos he Senhor dos tempos. Bom fora pa..
ra tudo fe tomaffe o confelho de V . Se·
nhoria. , e que fizeífemos 1nuito todos por
rnc recer as mizericordias , e naõ provocar
os caH:igos. Guarde Deos a V. Senhoria·mui-
tos an'.1Js cpmo ·dezej o e havemos miíter , 1

e :i rnco amo o Senhor Marques de os fuc ...


cdloi.; qu~ eu dezejo e pôÇO em, 1ncos !;1.cfi ..
· ficios,'
DO P. ANTONIO VIEYRA. 241
ficiqs. C'o imbra 9 de Março âe 1665.
l 1 -( .,
. . 1 ' ' . ''

Capellaó'. e menor Crea.d~ .de Vª


Senlioria. - #
. " f ' .""

.., .. 1' .

.At1ton1o · vieyra~ ·.

AV,. Rodrlgo'.de Me_nezes.


· ENHOR ! Eíl:ou de corr«~yo p'ara_,oi
Maranhaõ , e nem por iífo tenhct
niuito que efcrever ; porque ·as car ...
t.as ·de là comeoas o mar , e. as de ca na&
pôdem levár o ailivio que ·os naufragios, que
~<l uellas trifies éhriíl:andades padecem, lia..
'Viaõ miíter. Prenderaõ-fe os Paftores , e
foltaraõ-fe os Lobos , e naõ tem· Chriíl:o
quem acuda pelo fed re.b ánho : naõ põde-
haver mayor laíl:íma , q_ue: efran~o eu ha
rres annos e1n Portugal; rne tenhao em par-:--·
e , onde .n.âõ poifo fallir , e em eftado que
··Tom.,-· lr.
-~
- Hh_. n1e
13 r
~4i C A R T A S.
me n.ao queiraõ ouvir. Como me . temo da"'
quella fentença : Vmeam faam locabit aliis
agricolis! Se eu efcarrara vermeU10 , e me dei- .
xaraõ fallar claro , dera por be1n en1pre-
gado o fangue que tantas vezes arrifquey
por efta ·cauza. E com tudo iíl:o efperamos que
DeoS:- nos faça merces. Seja fua paciencia
bemdita que tanto foffre. ~rias diz elle , e
mais fallando dos noífos .tempos : Vte qtt!
prtetfaris? n(Jnne ipfe prtedaberis: Em· occafiaõ
eíl:amos que tudo pode fuceeder. Bem ha-
viàõ eíl:as tempeftades miíl:er os milagres
de Santelmo , n1às quem accende os ·Come...
·tas he aquelle Deos, a quem os Santos naõ
o
rogaõ , quando quer que ciuer , ou. per•
uiitte o gue naõ quizera.
- O çazo do S.ermaõ he muito digno do
reparo que V. 'Senhoria faz ; elle fe ·.pedi o
çom grandes iníl:ancias ; ,e por diverfas vias,
~ hà oyto mezes que fe refiíl:e dta pr.ofia ,
a-.the que finalmente naõ houve outro . re--
medio pelas caufas , e confideraçoens que
V. Senhoriaouvirà.. algum dia. Foy em f.e. .
gredo , mas no mefmo dia , fegundo ell:e a.d
vizo de_V. Senh.oria,,devia de f,e . r0Fr1per >
ue fó as gavetas de V. ,set?-horia o fabem..
o .~
'O'UaT""
DO P.~N"rONIO VrEYRA. 2.43
gu~rdai· : per efi:a .6.nez:a beíjo rui1 vézli.'.s e·s
rês de V. Senhoria, e ·peço a ·v. Senlílorr!
feja fervido de que ella fe continue rta ffi:éf...
ma fónna, lidrqn.e pàreç·a tingulár êíle ffie~
obfequio,ou viol"itncià: ·os rnyíhttios-, que efi...
cerra efre appetite-, nà&' os entertdoi., é na:(;
paraõ [ó nos Ser1:noens : por todos os rr10•
d9s n1e q_ueren1 let , O!§. gue ti'l.t naõ que·~
rem ouvir, e os mediadore~ deite tr~to, me
afleguraõ delle as confequencias ' que v·Q
Senhor fa pode confiderar , e como me itn-
porti tantô fer ouvido naquelle negocio de
mayor cuydado, à tudo me vou fugeitando,
e tenh.o fugeito. O mayor frntimento meo,
he que poífa . alguem ler coufa minlia,. ain""
<la que feJaô fó düas folhas de papel , fem
V. ~enhoria a-- aprovar pri'meifo ; .1nas' to...
à:ts· éfras -violenda:s fe pôi:lêm · foffrêr pero
in tereife de.n:ie p9der ver aos pês de V. se~
n.h.oria , _qu-e. he a minha 111ayor anda .. -A
Obrá fo vay jà' copiando·qu'<tnto" ao primei-·
ro ton:io , que Çu quize'r a- (e naõ retardàFa
m uitcf , rm·as a ~ateria · tem em Portugal ás
diffkuldades , qu.e expet.imentaõ-ou~ras nre•
ilo~ ~ovas , e para trtdb era necetfari~ - a
ptézença. ;·N-efte 'c:orreyo efpero alguma ·re-··
.. ·- · · , . ~ih ij foluçaõ ,.
1-44 C A R T A S

rar , de que farey logo avizo a 'T.


foluçaõ , ou noticia do que fe pode efpe~
Senho-
ria. Ao Marques meo amo ., e a V. Senhoria.
beijo a maõ mil vezes, e Deos me guarde a V .
Senhoria . muitos annos como dezejo. Co ...
imbra 16 de .Março de 1665.

Gapellaõ e menor Creado de V.


Senhoria. ·
Antonio Vie'yra.

-CAR.T A LIX.
7f. 7?_~ Rodrigo de Menezes.

S
ENHOR: Naõ poífo deixar de me
admirar com V. Senhoria da varie-
dade do tempo, a qual nefl:e mefmo
clia ·tem fido t1l, que amanhecendo muito
claro, eíl:â a t?-rde con1 . tal cerraç~-0 , que
p~r~ce noyte techacla : f.prtiffim?-s faõ as Íil""
tl~~ncias daquelle . m~theoro ; e a ~ais .~ll:..
. I~
·D O P. -ANTONIO VIEYRA.~·24)
ra de todas , he a gue V. Senhoria c.onfi..,
dera na du,reza dos coraçoens , nos quaes
vejo os 1nefmos effeito.s , fem haver que1n
fe lenibre de que Deos. nos pode caíligar ,
nem ainda. aquelles, que ten1 por officio fa.-.
zer dhts len1branças. Hontem fe 1ne eíl:e~-· ,
ve queixan~o Sanfins ·dos .P regadores ~ aos.
quaes fe i1ao ouve palavra , . que fe conforme·
êom as an1eaças do Ceo , devendo fer as , fuas
vozes o preg.aõ daquelle açoyte. : t?do o
rnco temor he que antes das. efpentdas feli-
cidades dê. Deos a:lguma gratlde ·fatisfaçaõ .
à fu~ ;j1iftiç:a. Se ·o Papel he de Car,ra,c;ena 11 ·
el le bem tern poíl:o .o· po'nto ,, n1as ha lnif. .."
rer 1nuita polvo.ra pa~ra 'taõ grande tiro . .
Quanto folgara ·agora Li~bo;i de fe ver for-a .
ti.fcada! O pcor qµe ~en1 , .he a· fua . rnefmJt.,
fama. , porgue hun1a vez que o inimigo fe
delibere ~ eífa ernpreza, medindo as forças
com a opiniaõ , neceífarian1ente haõde fer
muy friperiores ao que· conhecemos os· de · ,
caza. Como tem9 que ·a -Ba~yloni'a Euro-.
?ea , faja Babylonia na c,<tnfuzaõ , naõ o ..
lendo .nos , mm;o,s ' nem ·nos defenfores !
mas bafl:a .fello nos peccados." V. Senhorim.
aplka1·à a:femellliança do tex.to ao -de1nais , -
qu~

l '3 7
'-46 e A R ~r A s'
que eu tiaõ digo . .Deos nos dê a uniaõ que
V. Senhoria ~ezeja nos pequenos, nos Gra11"4
des , e nos Mayores.
A'cerca do Papel que V. Senhoria vio
naquella 1naõ , tenho j à dado a V. Senho-
ria as noticias , mas nurH::a podetey.' éxpli...
car o fentiinento, que tenho defi:a violencia,
que tem. 'fido' a ma.is profiada, tiue fe pode.
-i,1nagi11ar ~ e con10 fe pedil@ pata ht1m nm'
que fey V. Senhoria 1nui'to 'dezeja, fuppus
que V. Senhoria haveria por bem , que eu
cortaífe eíte pequeno retalho da peça , pa-
r,a .que o prindpal; co1nprador· j11fgaffe· fo
lhe fervia , ou o fei:via. ' P.or efta cáufa fiz
eleiçaõ daquelles Capitulos,1nais capazes por
fua materia, da · aceitaçaõ de S. Mag,eH:ade,
ainda que a Obra toda ven1 ·ª fer fua , rnas
as' outras lpartes della neceí!itaõ de fé , e
para eíl:a bafraõ os olhos : fe por efte meyo
fe confeguir que a impr~ífaõ. fe và·fazer onde
V. Senhoria emende as· ~r-ra.tas, efruzarnie~
hà o trabalho de maad.a;r em ped~-ços to-
do o livro, em que naõ .ciuero qae haja .p a...
layra , que V. Senhoria naõ' aprov~· primei ...
ro j da-ndo-m~ eíl:a confiança a meree qµe
V. Senhoria me fa.z , mas fe riaõ baílar efte-
obfequio
DO P.' ANTONIO VIEYRA.' 141
obfequio para gue fe conced21J ( poíl:o que na'Õ
fe pede ) .à 1nudapça de lugar ; tenho por
certd' ·que :m.orrer~õ os trabalho , e fe fe . .
pultaràõ ~~ntes ?ç na~i~o~, po~que P?-ra,.,fa-
ihir-em . a·luz·,'ten:i a difflcml'dade' (1ue j'à rê-
prezentey a V . .senhoria , que f6 fe -pode:U,
·rà v:encer com à prezença ,: e ainda com a
arithor.idade Real ·, que he1 ta1nbem hum
dos. fins~ por onde; me parece~ :· acdta"vel a
.abeitur·a C:le!te caminho.
1 · . ·
Sobre ,Efdras tenho eu algum. penfa1nen....
eo ; que terey por verdadeiro , eri1 <juar~to
1

naõ ·vír 01~:tro que melhor acertaífe, e aíltn1


eíl:imarcy muito .que ·Vº Senhoria 1ne p:1r""'
ticipé o ·novo (~oménto. . .
_:.A. ·m~o; ~ri10 .o , ~ei1hox 1+.·farques dez:ej~
toda .a fehCidade , o ,anno ~ , as pi'omefias
delle fa5 ·r,nuito para Deos as inetter •n:crt.
mãos de IS ... Excellenda. Eu o peço .afiim a()
1nefmo Set1hor, etn todds m..eos fa. crHi cios ; 1

e r.f1.1e"1ne guardt: a· P"eífoa de V. ·Senhoria


com.e>" . de'zejo e .havemos miíl:er. · Coimbra
1'3 _de M~rço de 1665 e , · ,
_ Çaptlià~ ~. ~~en~x C.r~ado d~ 'V, .SJ:nhpd.a~
' .•· • '.fl ·' ' f

,~ _ _,'. . · · :Ant.onio v··eyr.~., ·, ·~


CJ1R""
11"l
, '
1 '

rn
.L-2f p. l) J •
.' a,e1 ''"A"'
J.v.1.enezes.
/T '' . ,
1 1
'
,_,~oq;rtgo
'
·-" EN1IOR\ ~ Por via: do Padre J'oaõ Pi~
.. rnenta,p.rocurey·f.e deffe cotíta ~itJ V. Se~
1

·· r.ihoda da c1Ufa porq faJtey ·O?r11 carta:


eu fenti' a doe.nça dia de Rwrnos; os M·edicos
-diffimn ar~õ os remedias athe dia de Paícoa,
',e de enta;õ. pa,ra t:à lconti~'lú.aõ ,as.fo.ngria.s dos
p~s cõ out'tQs martyriós. Falr.ounH! d Doutor
1 1

~Sanfins por·rnorte de :füa1nulhé~. Orttrc> me·"


· <lico qnos cura, que'1laõ.he 1de g1~at1de.farna;
· ente:ode que'Q·1~l~Ü"pof.to· q1i~ .d~ fl.uíldHa,naõ
ferâ de pet"Ígo;mas ·d_epois,q1.ef.e·efr0ti·na cama,
· 1norretaõ nefta enfermaria d<:)us e cfrâ ·p ara 1,

1norrer .terceiro, de doen~as . muito:breves, e


;f.1.õ í11ais fo os meos annos «:-j_ os· de todbs fr'e s;
.os· tempos vaõ terriveis·, .e QI, Cometa. ,ou feja 1

outro, ou o mefm;o .( comq fe cuyda) haõ- dei..


xa de an1eaçar. Eíl:imo eµ.tnuito ·que V~ .se..
nh<?r!a,~ rneo·an.:9·? Sen~or -~~rquets, pa.ffetn
com a faude que h~:vernbs m1fter: A Primave-
ra fe apreçou af~Çcar- a çampanha mais do q
' fu
DO P. AN'T'ONIO VIEYRA. 249
fe cuydava, e fe os apreíl:os do inirrügo, co-
mo por cà foa, forem tambem n1aritimos ,
naõ fo me daria a n1im nada que S. Excellen -
eia fe detiveífe muito ei11 Lisboa e os aloja
mentos do Exercito fofit~m nos arredores dd-
la,dc hu1na e outra parte do Tejo, com c1ue a
çabeça do Gigante, e todos os lugares-de ma-
yo.r perigo ficava0 feguros, e·quando o ini-·
migo tiveffe outro intento , parece fe podia
acudir dan taõ promptamente,con10 de qual.,j
quer outra parte, Perdoe V. Senhor.ia e.íl:e
deli rio , que,he d.e quen1 Jà corneça a fentir os
i1r incipiqs do crecin1ento. í).a~ ncgociaçoens
cda embafa:ada de ~qglate~n:a, e França' nem
Imbaixacloa· tenho noticia alguma, nem o
d l:ranho, porqu~ os tempos naõ faõ f.en~pre
os 1nefmos,fi) 0uço por varias vias)que algu.ns
dos defi">0fados fe t1,aÕ contétaõ muito d.o cõ·-
trmado , ou do offerecido , que ta1nbem naõ
fey- debaixô. de qual d~O;es n.;nn.es fo encobre1n
os myíl::erios cldte fegr(!qo. D-cos nos efoolha
em .t udo o 1nelhor , e a v·. Senhor.ia guarde
n1uitos a11nos,c.on10 dezejo e havemos miíl:er.
Coin,hra. 'l3 deAbúl d~ 166_;. ·, ,
· Capellaõ e me.no.r crea:do de V. cenhoria.
. , . ·~ntonio Vieyra.
Tom. /. li CAR ...
250 C A R. T A S

CARTA IJXI.
A V. Rodrigo de Menezes.
ENHOR : Muito eíl:imo que V. Se...
nhoria haja paífa.do com be1n o traba-
lho da. Semana fanta , e fe elle foy taõ
grande como fe efcreveo por 1nuitas vias , a...
inda he mais para efl:imar, e feriaõ ·às Pafcoas
verdadeiram.ente taõ ~legres como eu as-de ...
1

zej ey a V. Senhoria. ·
As minhas co11tinuaõ,con10 começara.ó ,
honten1 foy o dia. 2.I da doença,e hoje naõ h e
ainda o primeiro da m,dhoria.Efper amos por
Sanfins pa.ra, fe refolver o modo que fe hade
tqmar na cu!'a~ N aõ era por éerto efl:e o tem..,
po em que eu menos houveffe de fenti.r o ver.,
me affim impedido, 1nas he bem que fo faça a
vontade de Deos enaõ a noífa. As doenças
vaõ picando,e fazend.o-fe malignas. Confer...
ve Deos a V. Senhoria a faude que havemos
miíl:er, que nas que importa.ô taõ pouco, me ...
nos he ainda o que fe perde. Verdadeiramen-:
te que ~aõ eraã dles annos,em que entra1nos,
· para
DO P . .ANTON.IO VIEYRA. 151
11:i.ra n1orrer. Hontem affirmou hum Conego
deíl:a Sé, Ma~oel d~s Reys de Carvalho, <J.'na
vefpera do d19J. err1 q_o Con1e~a voltou a cau-
da para o Oriente, o vira elle, e toda a fua fa-
milia cor.re1· ·c om g.ra.nde preífa para o lugar
onde efl:ava a L ua J e inetter a cauda pelo me-
yo della , e que efl:e taõ·~xtraordinario mov. i-
mento fora taõ apreffaoo , e fenfivel , que o
<lHhnguiaõ e notavaõ claramente os olhos.
Dizem me que he pdfoa digna de toda a fé. '
De Lisboa fe efcr.eveo nelle correyo chegara
por vi a de Italia, que o Turco tinha quebrado
a. tregoa, fe he verdade , tudo faõ difpofições
muito _proximas do qfe efpera. Guarde Deos
a V. Senhoria. mt,Ütos annos, como dezejoi.
Coimbra 26 de Abril de 166 5 b

t '

Capellaô e 1nenor Servidor de ·v~


Senhoria.,
Antonio Vieyr~~·

·.
li ij CAR'"'
1'{0
CARTAS

C A R T A LXII .
A V~ Rodrigo de MenezeJ.
,,. ~ 1 '

ENI-IOR: Ainda naõ poffo d'ar a V.


Senhoria ta.Õ boas novas, comb creyo
V. Senhoria dezejadeíta. minha terri-
vel'peníàõ, que todos os annos pago a Coim-
. bra. Mas agora fe aparta daqui o ·Doutor
Sanfins, e me·affirmou que dhwa fe.tn f~br e,
poito que ell:ã noyte naõ faltou o co!ilumado
crecitnento, mas á'mim' me bàíta que·rntõ fe.
ja habitual, qneJ1e o qu~ 1nais te1no1, .pelo ha...
bito en1 que eíl:a e.íl:e Collegio de dege,nera ..
rem nelle as febres em phtizicas,e ethicas.V..
Senhoria me eníina a Ri,e conformar em tudo
e
com a vontade de beos, affim procuro de o
fazer. · " ;
Muito eíl:imey ouvir da boca de V. Senho ...
ria o p0nto do Set:n1ào da Semana fanta, e a
repoll:a de V. Senhoria à propoíl:a delle. Em-
fin1 o juiz o de V. Senhoria fem pre , e em tu-
do he o mefmo, aílim o tivera Portugal pôr
Piloto em todas as fuas tempeftades.
G ran.-.a.
DO P. A:NTONIO VIEYRA .' 2)3'
Grandes prodigios fe referen1 de perto, e
de longe. De Melgaço vi carta de hurn nota-
vel metheoro, que correndo da parte de Va-
lença do Minho,e durando por 1nuito efpaço,
fe desfez fobre Galiza em rayos, e corifoos :
era de figura de huma efpada de cor verde, e.
,.amarella , que fahia de . duas pequenas nu-
vens, huma branca, e outra vermelha, e com a
mefma figura foy viíl:o em outras partes. No
Collegio dos Thomariíl:as deíl:a Cidade fe vio
depois demeya noyre hum globo de fogo que
n acia na parte do Sueíl:e,e fubia por efpaço de
duas ou tres horas athe fe desfazer, e conti ....
nuou aLgumas Hoytes. Em Guimaraens vo-
mi tou hun1 homen1 enfermo hum dragaõ cõ
duas azas de comprimento quaíi de hum ca-
vado, da cabeça athe o meyo largo de do11s
a1 edos, verrnel h o e efcuro, do meyo
L
para a
cauda 1nais delgado, e de cor parda, De Ro-
m a fo efcreve houve tres dias de nevoas taõ
efpeífas, e efcuras que fe naõ viaõ os homens,
n em os e dificios, e que as trevas eraõ palpa-
veis como as do Egypto. Tudo faõ íinaes , e
prodigi.os que foleo.izaõ as vefperas do anno
fa.ta), por cujas 1naravilhas nenhum hà jà taõ
que
jn.credulo, naõ efpere. Efpero eu que a
· · Peífoa
2)4 . C A R 'T A S :
Peffo::t de ""v. Senhoria, e do Senhor Marques
que Deos guarde hade caber huma grande
parte das feli cidades, como iníl:rum é tos muy
pri n ci paes,das do noffo Reyno, para c1ue ·o eos
te1n guardado a Ç,oroa de todos. Sua Divina
Mageíl:ade,e mifericordia fe efqueça de noffos
peccados, e no-las deixe ver, e a V. Senho-
,ria guarde Deos n1uitos an11.os,como·dezejo e
haven10s n1ifter. Coimbra 4 de Mayo de
·166_5.
Capellaõ e menor Creado de ' '
Senhoria.
· Antori~o Vieyra~

CARTA LXIII.
LÍ v.~ Rotlrigo de ~enezesl)

S
ENH O R : N·aõ podia V. Senhoria ter
mais certas novas· do efl:ad'o de minha
· faude, qa falta de as haver proçÇ.r~~t?
de V. Senhoria nos dous Correyo~ paífados. ·
-· . Màs
DO P. ANTONIO VIEYRA . 255
~ias hontem foy Deos fervido, que o Doutor
Sanfins 1ne achaífe livre da febre, com que
nos perfuadimos fer intermitente, e naõ ha-
bitual, que he o que mais fe teme nefta ·Cida·-
de,e Collegio,onde ae thica,e a phtizica pare...
cc 4tem feito o feo aífento. N aõ ceífaõ con1
tudo os creci1nentos de·todos os dias, para cn-
jo remedio, depois de experimentados todos
os outros,fe n1e receitaõ agora os ares de Vil-·
la franca. Deos, com cuja vontade me deze.,.
jo confórmar fempre, naõ depende de luga-
res: elle fara o que for fervido 1 e fe n1e con-
fervar a vida para ver chegar a Europa as vi-
toríozas bandeiras do Oriente, naõ ferey eu o
que com menor affeéto, e aplaufo celebrarey
fem pre os triunfos de V. Senhoria.Antes dcl-
les nos tem etn grande fi1fpenfaõ os fi1cceífos
da guerr_a defte anno, para cuja operaçaõ ª""
inda. en1 Mayo naõ efiaõ eleitos. os Cabos ,
pofto que ha dias. continuaõ as levas; mas to-
das por efta parte de mininos, que mais pare-
ce.m·vid:imas.. cle li erodes , que defcnfores de
Portugal.Das prevençoefls de baft:imentos ti-
rados dos Afientiftas he tal a opiniaõ deHe
annq, como foraõ as-experiendas do paífado.
Ftanç.a nos tem foccorrido fó com os Caza...
'·· mentes
..
2r6 ·. CA ' RTA ·S
nu~ntos, de que.ta1nb,en1 fe efcreve de Lisboa
o que \T. Senh?._ria tne diz,1nas honte chegou.
nova ( naõ fey fe he c·e.rtfl) de t1ue temos no-
vos provin1entos., ou norneaçac> d.e Bifpados,
fobre que ·v, Senhoria fara ·a difcurfo que eu
naõ fey entender. Os prodigios continuaõ , e
na.ó faõ rr1enores os de:Roma, doilde fe eícre-
ve houve tres dias de trevas pálpave~s, c0m o
as do .i.;gypto,
~
com o t]I o!e .
.. eo,_e a .t ena parece
começaõ ~· folenizar as vdperas,e expe~a-ç~õ
do a,nno de: 66. As r~á-~r.:;t·s de,. C'aH:eHa íaõ taõ
_va:ria.s , qhum.as nos p.1tomet.tcrm. rpúità' guer ...
·ra, outras nenhúa. v·.'. Sonhotja -1ue 'far-a·1ner""
q
ce dizer, con10 ferripre\ o de~o c1~er;re t~·Q.l...
hem folgarey faber fe citas duas ·Naos d.e Jn....
glaterra ,unidas en1 hu1na;que' di',Zeni "entrara
neff e Porto :i fa.õ na forrna que; dé 'lã; fe pinta.ó,
e fe paífa hum barco por entr.e OS. oofl:~.dos de
dentro , e em que . parte tem·. (~S n1aíl:(').s , e
quantos faõ ,. e con1 qriantos l,eines r fi.~1 go;vêr-
na. Deos nos dô ~ft raõ·fegriro;e ~otn taõ·.bons
Pilotos; como havemós n1ifter ;·e gu~.:rde a, V.
Senhoria niuitos annos;co1110 de~ejo·. Coün..
hra 6 de !·Aayo de 166 5'. ~ · · , ,';' ~
1 • • · •

· Creado ·de V. ·Senhoria. · ·) t •


Antonio Vieyni·.· ".' ·
·cAR...
~· 1
DO P. ANTONIO VIEYRA. 2rr

CARTA LXIV.:
A V. Rodrigo de Menezes.
ENHOR : As melhores receitas para
n1im faõ fempre as cart3;S de V.Senho...
ria, pois fó nellas acho certo o allivio>
e ein todas as outras athe agora tenho expe-
&·imentado taõ pouco retnedio,que com cada
hum dos gue me aplicaõ, crece, e empeora
o mal, e eíl:e he o eíl:ado em que fico, quaíi cõ
50 dias de cama. Começou a doença dia de
R amos. em huma cezaõ declarada, e defpois
flcou em huma tercàm ,, notha com os creci-
Inentos riotl:urnos ,· que por naõ ferem reco-
~ hecidos dos medícos , e as agoas moíl:rarem
cozimento,.me deixàraõ paflar oyto dias fem
a.pplicár remedia. Ao cabo delles, foy o pri-
"Ileiro humas fanguifugas , e porque eíl:e naõ
_aproveitou , me deraõ quatro fangr i.as nos
pes, e no dia 14 huma purga, com que íe acre--
centou a febre, que ainda fenaõ j ulgav ~ por
continua : ao dia 18 fe ap plicou con tra e:íl:a:, .
outra fangr~ a de pe , e nada mais athe o dia
. Tom. I. Kk f.7 em .
2-58 . C A R T ,A S -
27 em que houv.e nova purga fem 1.n elhoria:
Continuey defpois cõ huns xaropes de fran-
gaõ, e raízes deoreticas; com que no dia 4r
.e no feguinte roe deraõ duas fangrias nos bra...
ços, havendo jà muitos dias que a febre muy
conheddamente naõ defpede, e os crecimen-
~os d,uraõ toda a noyte,occupando toda atar-
Qe ·a.ntecedente os correyos·delles, ·que naõ
p.affaõ de bocejos,e e:xitrémidad'es f~ias~o ma...
yor i;eceyo he de que a febre on fe faça, o~ .fe'!'!
j~a jà habini~l, e'de que a ·debi.lidade do fugei..
·f.O fique. i.ncapaz de ,o utros remedios)por.q1Jã..r
.i o fe. vio u.ltirµame·n te que o L-tngue era todo
c,leforado que foy- C<lUZa de pararem . co'rn as
fángri~s ; n1as as agoas fempre perfeita$ na
cpr , ·e·fedimeni:o. Deíl:a inforinaçaõ .taõ
miµda julgarà V. Se11horh1 o conceito que eu
tenho da medicina;.e. boticas de V."Senlioria,
naõ fendo neceífaria mais prova, que dizer-
.nie :V.Senhoria te1n dado a1gun1a applicaçaõ
a: eíla fciencia, e conf01·n1e a ella efpero a di«>?
roçaõ de V. Senhoria parace feguir neíl:e par..t
ticular, como em todos. r '

_· Na.ó me diz,V. Senhoria nada dofegundo


Çometa,ou rep·etiçâõ do primeiro: cada dia fo
· f~lla em.novos metheoros viftos neíl:es arreiil>
- , dores
· DO Pt; ANTONIO VIEYRA. z 59
·<fores adiverfos tempos do dia,e da noyte. o
.mayor de todos para mim he o Arfenal do
T urco, ·que tambem temo feja o açoute de
Italia pelo rr1uito que concorda com todas -a.s
-efcrit11ras,ainda Canonicas.. Adefcripçaõ da
n ova fabrica da Nào In.gleza ad1niróu ·a ·ro·~
:dos Y e he hun1 dos grandes moníl:rós da a.rte. -
As novas de Caft:ella: dizem com a copia que
1ne veyo ne(te correyo de Fr. Lucas de los
Angeles~ . · ·· ~
Fol auey de v.er. por ella quft eftive:!fetri fem•
;t rabalhos allivia.dos. Carracena ,'·e Marcini
faõ chegados a Badajos; mas a.inda ha"quent
t:reya, e apofre·que naõ teremos . c.an1 panha:-
. :N'aõ pude fallar com o Impreffor Manoel
Dias, 1nas b:ufquey peffoa de authoridade que
lhe fallaíle. Sobre tudo difficulta a brevidade,
e mal vemen1 prometter,q podera dar a Obra,
acabada para Setembro, dando-fo-lhe os Ori,.
ginaes por todo eíl:e mes. . .
N aõ tem papel , e diz que o hade mandar.
V. Senhoria; nem fe pode faze!" o preço fem
fe faber a calidade da letra, e o numero dos
volumes , e fe haõ de ter rnargem , ou naõ , e
fe haõde fer em quarto, 01.1 noutra forma. O
q~e. eu mais reçeyo, he a perfeiçaõ, para que,
~ ·· Kk ij quan-
/t.; '/
26'0 e. A R T A s·
quandb me parecia que poderia itnprimir al..;
guma couza, [ó a de Evora 111e c.ontentava,
ou defcontentava menos: e eíl:a he a impref-
faõ que eu inculcara a V. Senhoria ,.fenaõ te-
mera d impedin1ento da guerra, e em Coim..
·.bra ·.me naõ vira no eíl:ado em que eítou , por
que fempre aproveitariaõ muito os efcrup1i-
1os da minha mà condiçaõ, fe eu pudera afli-
1Hr à folha: mas ·em. tudo-me mortifica Deos ;
··fe elle for fervido de dar a faude , hum dos
motivos porque rimito a eíl:imarey, fera para
· pótler forvir a V.. S·e nhoria e1n alguma 'cou:za
d.e feo goHo , ainda que taõ·pequeno. Guarde
Deos a V: Senhoiia,.m111itos ãunos;c:om.0 d~...
zejo e.havemos miller. Goirnbra r3 cle Mayo
·de 16656· · 1
•• ., ~1 .... - , •

. ' .J '
' ~f : .

Creado de V., . Senhoriu~ c·,,nn .,


'. ,.::;, "il
11/t
Antonio Vieyr~.. "
DO P. ANTONfO VI'.EYRA; 261

CAR.T A
. .
Lxv·.
A Vf) Rodrigo de l\4enezes.:
ENHOR: Tomàra eu ~er muit as pa·~
lavras com que poder declarar a ·v . Se~
·.nlioria a eítimaçaõ', q'faço.do affeéto,
e r.epetidas finezas com qüe o 'cuydado de V •
.senhoria folidta minha faudê. Mas o Jilécio
e o. cé:nr:~çaõ;que .V ..Seiilhor.i<r taõ ben1 conhe....
ce,me. ~defen1pi.erl.h.araõ mel1TtC>1'•tldl:e dezejo;e
obr.igaçaõi: e affim peço a V. Senhor.ia fe fir .w.
va de ent~nder deíl:as regras ..o que .çom ne"'
nhumas,letràs fe-pôde dizer. . .
Faltou-me carta 'de V. Senhoria as horas
ordinariás do correyo, e quando já 1ne com ...
punha com faher por outra via,que naõ havia
·motivo .d e euydaâo, que pudeífe occafio nar
eíl:a falta, fe dobrou o fentimento diella com
a noticia de que a carta fe perdera.Ailin1 o.diz
q
huma rrmlher , trouxe hontem à noyte a ef~
ta caz.a a: cai~a, ·.de que.-V, Senhoria 1ne faz
mer.,,.
Jt6t , C A R. T ~ S
merce,que reconheci pelo fine.te dos lacres, e
n1uito mais pelo que trazia dentro , que tudo
chegou a falvan1ento, exceptas :rs partes li~
qrtidas ; qne, fe1n quebrar o vidro, padeçeraõ
al gun1 naufragio: em tudo fe ve e reconheçe o
a111or de V. Senhoria,e quam grande,e verda..
deiro he, o que affin.1 fupre as difl:ància~, e de
taõ longe aplka os rernedios. Eu o ·~enho fuf-
~pendido athe nev.o ·avii.o de V: , S,enhoria ·'
rporcJ;lSle naõ fey o 'te!~l'.l,p~ n:ent a q1(f;at1tid.ade,
-ªP.1 que a ttiaga fe deve•toin ~r ,que -~ ;··-Senho..
riaJne fa:~-;J, m~rç~ dizer ' e;Jnntãm~hte~q.uaes
iiãõ as agoas. em que fe·hade fazer. aí:i~fu.z:aõ
··dos JJos. A'febre; e os orecíi,ilentos contitmaõ
0

na n~efm?- forma, e a trianhi~t me ma.n.d~6 .Pª"'


.,;1.·a e. sates de Vi1la Franca; intis :d.a;me Deo~
"ª fentir, qu~ elo Porto n1e ha~~ vir:/ ou tem jà
vindo o remedio., e .q"ue a .V~, Senhoria~,; depois
~<.i.e fua. Divina Providêcla heide dev.er a; fa.ude.
,.. · De L Ísb011. nos certiftc~iõ "fei~ chegado a
:Sadájos•(}art:aêena, e que tem dous·· .mil ln..
fa.11tes, e novecentos.Ca,v_dl.l;@s_, po1b.11qrie-ac..
crecentaõ c1ue no·Pa\,o naô f6 Tun:tã cre ef.-
te numero, mas fe foffre mal di!êíer.~fe que o
·inirnigo tem g:rande·p0de,r. '":(ainoem.me.e.f..
.creve1n.que hade Jair e;m éampanliia.·aos: i.r.
0
.,. • .. deve
DO P.•·AN.TONIO VIEYRA. i6'J'
de~e fer_pela devaçaõ de quinta feira.. Ma sfe
efbmos tannbem prevenidos como V. Se··
nhori~ me dizia , pode fer que a feíl:a do Cor··
pode D.eos,feja da Serpe. F-Iontem ouvi que fe
tornara à ver o Cometa,cuja duraçaõ vay ex-
cedendo a todos os exemplos, que houve def-
-pois de Chriíl:o , excepto fómente o _da de-
Hruiçaõ de Hieruzalem. Lembre-fe Deos de
Roma, qu:e eu pafmo de ver como todas as
difpoíiçoens fe concertaõ con1 o que fe le .nas
Efcrituras . ·0 .<]_Ue acrora n:Je tleixa com mayor ·
cuida·do , ·he na& f abet o que V~1~St11hória me:
diri~ na fo.a., e qne foffe .dàr: em rnaõ ,alhea de
algu:m.1 intt~r.prete m.alevolo·;tjue queira âefcu..-

brir miíl:erios,onde os iHtÕ 1• He certo mé 'te
em naõ ·pequenaconfuzaõ .con-frdêraf,q~1,ê hu­
ma.·carta qe V . Senhoria fe hoüv:effe de per'"A
der tatito fem propôfito. Mas dizem-~n1e que
ao 00~1;eyo fi.1ccederaõ outros defafrres , qúe
fazem. eíbe m~ús digno de perdaõ, ó qual eu
pe.çQ _:Cí!>tl!l todo 6 encarecin1entos a V~ Se-
nho:ri:~·, ,e-que o pobre homem por e:íl:a cau:;.
fanaõ ·padeça' m0lefHa, para que ·a obra de
miferkôrdia·j :que .1T. Senhoria faz aos enfer-
mos ,: feja poi 'to4as fuas circuníl:ancif!S d~
mifericordia. ·Guarde Deos a V. Senhoria,,
1nu1....
'
2u4
'-· .. t'C ·A R 1~ A S
·. . ··
inuitos annos,coino dez.ejo e·havemos rhi·ftet~
Coimbra 20 de Mayo de 166 5.

Capellaõ en1e11or Servidor de Vº.


· Senhoria·. · · ·

.Antonio.
' '
1
' ,

A
.
1J~ Ródr!j,q. :de.Menezes

S
'
. •'""':.J..t\ t. .. ... :. •

ENHOR: Sobnro "m:i·~ ·:qrw p· ;[de~o)me


· naõ affiige menos o c4ydado. de V. Se..
. nhoría' e naõ poder dar 'a v.~sénho-
ria taõ boas novas de ~im, corrtb fey que V.
Senhoria as dezej a. Pór ntê contento hora
.com as , naõ dar ·peores·. 0 nied'i~o o·teD:1 a
bom final , em confideraçaõ ·de ·fo n.a:õ: a.ug·
mentar a febre con1;quátro. pur,g_a~ .,. ~·: o.u tras
[eis beberagens, com que me tem rna·rtirizado
a fio eftes des dias : fo na.
f ~e experimeD;tO
grande ~xceífo , com qire eíl:es compr~díffi ..
· mos
DO P. ANTONIO VIEYRA: "i'6 f
nios dias fe :fazem mais compridos , bailando
para o ferem a ancia com que efpetarhos as
novas de·Alemtejo, que quererà N. _Senhor
fejaõ .suaes eu mais que todos dezejo ,-pelo
muito que vay empenhada nellas toda a ca:...
za de V. Senhoria. He,hom anuncio a gran-
de confiança em que todos eíl:aõ de que o$~­
nhor Marques que Deos·guarde, na·õ 'dehrnrà
fazer progreffos ao inimigo·rraquella Provin..:.
eia' com que todos os receyos vem a fer da
armada. Mas agora nos dizem que t~mos ou··
t .. a de França engafrada,entre.r.as torres' deite
R io. Miferavel eftado h'e haver de temer.
igualmente os inin1igos 'q ue os amigos. Deos
dê aos noff os Confelheiros a grande luz que
neftes cafos he aeceífaria ·para defender d.e
h uns , e naõ offeúder outros: V ·. Senhoria me
farà merce de·m.e naõ faltar cóm novas fua-s,
que he o unico allivio deite n1eo trabalho, e
, D eos me guarde a V.Senhoria muitos annos,
como dezejo e havemos rnifre_ r . Villa Franca
8 de Junho de 1665.' .
Capellaõ e menor Creado de V .
t.:t •
Senuor1a. . ~ . , ~·,._ . ·
Antonio Vieyta,~· ·.. · -<
i'om. l Ll CAR-
.. CARTA. LXVII~
AV. Rodrie:_o de Menezes9
-
' '
.C.l . .
..
. s· ~ :ENI-IOR · Começ.ait1<lo pelo fim da tl:e
. V . Senhori:a!tambern eu fiv.e ra·g'tande
, allivio .(e com rn.ui~o m.ayor refaõ~ em
fallar efpiritualrnente com y. Senhoria nuii""
to de v.a gar e a minha v.o ntade, .e Gomo neíte
1nundo ·n.aõ.ha .e fpirito .fe1n corpo , ta.mbem .
pode.ria fer ., t]Ue q1'i,s .rnatteria~ e~pirituaes fe
pt,,tf{~ffc ·a álgl:im,atemp.oral; ou d0 tempo. Q
çerto lte, Senhor , que ellc vern chega.nd.o , e
que os íin.aes: do CeQ ; f; as difpofiçoens da, .
.ter.r_a promettein que naõ pode tairdrJ.r muito.
0.s myíl:erios do exercito de B.adaj.os tem in""
tro.duzido·,o thcatro defre anno com notavel
flJ1:fp.enfaõ1_; e ex:peltaçaõ , ·e fe ·:a -armada em
t.-1ue ~topaõ os difcur[os to:dos., fe defvànecer,
ou for taõ pouco poderofa: éom.o a faze1n os\
E!trangeiros , naõ fey .que poífa obrar .o.ip.i·..
migo depois de taõ entraqo o veraõ., fen111 e..,,
nhum util da: campanha; 'antes fugeito à to..,
das as ~ncú~odid~des e rJgoi'es della. Mas eu
me

1 -
DO P. ANTONIO 'VIEYRA'" i6;r.
me naõ poífo perfuadir fe naõ CJ.ue debaixo
deíl:es accidentes fe encobre grande fuftan- 1

eia, a qua.l fe 1nanifefl:arà brevemente , quan-


do jà hoje o naõ efreja. ; fe bem o pouco que
vemos ferver novàs prevenç.o,ens,110s perfua-
. <le haver noticias certas e muy feguras que
nos livrem de todo , o ~emor. clo mar, e ta1n-
be1n da .terra. Os .rumor.~s . que cà chega.ó co....
mo foy o da. arma~:~ Franceza m€ ·defénga~
n::iõ a naõ d;;i.r c,re-dito,fena0 ao ·que vir fi.rma~·
do oor V.Senhoria.1çuja,s cartas, qu.e eµ cnm-!
'mu~ico çom. as p1µtelas "neceffarias , fe ou-
vem ·r:i"eftifl'
o t" ·~s.. ~~·"-' ,.,'fJ·(:iJ'f"."'!'f ··c·"'n
·1~ ~~QoH".-u'"· :"í :,: -.' - ... ~ •sr~ e :· állirr~
~ · ·' ;e · Q1"aftJ.lo" ~.LJ.J 1"

v·. q
• • .

peço mil;ito .a Senhoria. 511ie ''U~;q.ra, 1nais


11u.nca, ~1e n.aõ falt.e V. Sehhorià corri novas
fua.s , e d'1ts ac'ç oens do Senhor Marques , que
Deos gua.rde, por cuja felicidade ficamos fa~
zendo continuas, e publicas oraçoens, con-
fiandQ,. ~m D.e-os q1;1~ o~ fuç.ceífos de S. Excel~
lencia ne,lla campanha·haõde fer a coroa de
todas as paífadas. Emfim,Sçnhor,quando pe-
ço têpo a ·v, Senhoria. no meyo de tantas oc-
cupaçpens, naõ he ra.faõ que eu o tome, e pa-
ra a9ábar e-íta.com nova, que fey hàde fer de
go~o a V. Senhoria, digo a eíl:a hora fe que
apafta daq~i o medico muy contente do ef-
~''t ., "") · Ll ij feito
268 C . A R · T .: A -S . _,':"7
feito dos feos remedias, e dizendo que me a,...
chava 'o pulfo quaG natural. O têm·p o , e a
efperança. que V. Senhoria n1e manda ter
em Deos, faõ circuníl:ancias muito para eíl:i-
mar a faude~ Toda. a que o mefmo Senhor
for fervido conceder me, folgarey fempre de 0

empregar no ferviço .de V. Senhoria , corn o


a.f feéto , e co.raça.õ que ·. devo. ·Guarde De.os
y ..
a, Senhoria, muitos annos, co.mo . d~zejo e·
havemos mifter.,, Villa .Fran-ca IJ de Junho
de 1.66;. r. · · 1
~ ..

< • •

. Capellaõ e rnenor Cre.ado .de 'Y\T.,


-{ ' • 1 \

·· Senhoria~ ·
...!--~ . ~
· ·. · ·~ ·"·
'.j ~\ •
.. " •1.t "'·'
DO :R. ANTONIO VIEYRA . 26'9

CAR T IA LXVIIIe
.A V.. Rodrigo de Menezes.
ENHOR: Se ocontentamento fizera
milagres -, tiverarne V_. Se11ho1~ia neíl:a
···hor-a afros pês _,ajudando ~celebrar a.
nova. <:lefte fuccclfoj con\ qú l\.1arquês qD~os
guirdl~>i>c"$,Ofllbt'Odas fuas felicidades;e Deos
nos tornou,a dar por fua maõ .ó Reyno :, c:iue
tanta:~ ve~.e's rtoste1n d.;id() poi· ella. lvfas.pois
o eíl:ado -cla minha enfennidade ·me naõ··c011-
fente eftà peqi'lena dernonfrraçaõ, contento""!
me com que v·. Senhoria tenha conheci-
do, qit~ entr t~dos os cread.os da Caza de
V. Senhoria, nenhum tanto tem fefrejado e
dtimado . efre-triunfo della, de que dou a, Vº
Senfr~-ria. llf ".vr.z,Ctl ciparabem. Deos guar-
1

de a "\W: 8.énh~~iã:,tJlUl.Ítt:.~ annQs~ corpo dezej o


~ hey :tniftet. '\JT~llai Franca : fabbado 21 de
Jm1ho de 1665; ·
~apella;õ ~menor creado de \T. Senhoria ..
Antonio "\Tieyra. .,
CAR-
t70 CARTAS

CARTA LXIX.
A JJ. Rodrigo de Menezes,,

S
ENHOR: Jàno correyo paffadq,dey
a V. Senhoria o parabe111 , . e ajudey a
. feíl:ejar ( pofro que naõ ç.on10 eu quife-
ra) eíl:e ultimo milagre do Ceo, e eíl:a feli<::i-
dade taõ efrranha de todo o ~eyno , e taõ
particular , e.taõ propr1a da Peífoa , e Caza
de V. Senhoria. Con1 .as cartas~ liíl:a~ 4o.Se.-
nhor Marques,que mil aci.nos vhtí:\,,de .q:ue V·
Senhoria me fez merce, crefceraõ as noti--
cias, e os aplaufos, os qnaesrcáda dia fe...aug
mentaõ com as novas circun.ílancias-,que v.a·
chegando, em que .a grandeza daviétotia , . e
as n1ifericordias de Deos fo conhecem n't-àis ,
e mais. Agora fe efpera çQro g-ra11de alvo.r o-
,,--.... .ço a relaçaõ de todo o f'l;'lcceff-o;, em,q1'C t:of--
tumamQs fer m~nos ven.Q!;irof~s .,:que na ,-cain
panha. ·Q ?eira Deos encami.~har a,~oria dn
noífo Mexcurio de; man~ira _, qye ;..a glor.ia_ de
tamanho cafo naõ fique efcurec1da ~ e-acabe
de conhecer Europa; -, é o mu~do o que he
Por..
DO P. ANTONIO VIEYRA: 27r
Portugal ern qu.antro 11li~ '4i!iegª- b~rt'Vemente
o tempo do que hàde fer. O voto de V. Se--
nh.oria acerca dos progreífos do exercito
me n.aõ parece fó o melhor , mas o unico ,
porque etn ,qualguer outro apparecem gran-
desi nconv~nientes, e em nenhum taõ grandci
aballo h.à feito, como e.íl:a enrràda pode cau~
zar nos anin1os de todos _os Cafrelhanos, · e
muito mais nos que t.em votado na paz, prin ...
cipalmente aéommodándo-·fe ElRey a ella.
co~~@ filt:it~ífai &fi:a·campanha ? .que ·na{) po ..
dia: fer m.dhor par~ de ·todo Q ~t'.fenganar ...
Os c'lam~1~es feriaõ geraes , e todos cahiriaõ
í.Obre Cafrrilho, em·cuja obíl:inaça.õ f6men ...
te parece. fe poilerà fi1.íl:entar hoje a opinia@
contraria, e fe_h ;e certo· como . efcrevern to ...
dos' , que ·.o inimigo tinha e tem arn1':tda-)
tambem eíl:a ·invazaõ ··taõ interior ferv.ifia.
n~õ pouco de divertir, e-fufpend~r quàlqrter ·
inten.:o della ·, porque naõ 'me perfuado
que fo te1n feito o empenho, o hajaõ de que-.
rer perder totalrµent~ podendo-o ein pregar,
qu~rrdo,·m~~~©S • toíl:a' do Algarve , em que
nao fera "-bfficl'lltofo obrarem alguma couza;
pofl:o que c.le'. rnenõr confequencia, com que
ueíraõ mQ:f.ffi.rar ao mundo q1tefe defquitaraõ
dr
271 C A -R TAS
_do defcredito paífado. Nenhuma couza máis
dezej.o , faber que .o modo com que fe ten1
portado nelle o Carracena dep~is de haver
blazonado tanto. Seja Deos bemdito,que af-.
fi1n confunde a foberba de noíios inimigos , e
nos exalta a nôs , fendo ingratos, e naõ hu..
-mildes. Tudo faõ exceífos de fua Mifericor..
.dia, e novas obrigaçoens de con1eçar ao fer-
v-ir, ou de acabar jà de o offender tanto~ Naõ
fe me ti~a da meinoria as m11itas vezes G'ue
;v. Senhoria em todas fuas cartas repetia efte
noífo defmerecimento ,. a cujo reconheci-..
rt1erito atribuo eu em grande parte a merce
<]ue nos fez. O mefmo Senhor gua~de a V.
Senhoria muitos ~nnos,, como dezejo, e ha...
vemos mifl:er. Villa Franca· 29 deJúnho de
166)-. 1 •

, . Capellaõ e.menor Creado de ,V .~]


Senhoria. ·.

Anton~o Vieyra.

CAR'"'
DO P. ANTONIO VIEYRA. 273

CART-A LXX . ·
A Tl.e Roqrigo de ·Mene.zes.
"' EN'HOR : A terceira vez he dla que
,T.
· fallo a Senhoria namerçc)qr~_e Deos
\
·
nos res por rr1ao- d.o ;)ennor
Cfl e• 1
lv.1.arqnes,
'7df "

14ue ell~ guarde tantos at1nos, quantos Portu-·


gal hn. n1ifter. Mas ainda que fe1npre a tive
pot conza grande, e grartdiffin1a, nunca a-
cab ~y de conhecer q11a.n1 -milagrofa foy.:; e
quãtas gtaças deven1õs a Dea.s por clla,fon.aõ
<lepois 1ue vi, e ponderey as duas cartas origi-·
naes de que V. Senhoria n:1c fez n1erce, com. ,
os outros papeis, neíte correyo: eu as comu-
niquey ~ feroati$. fervandis; a alguns amjgos,
e fuy affirn '111ui110 convenieflte, affirri para
conhecim.e nto e eíl:irn,aça,õ do muito que fe _
oorou) como para fe faberem ·os motivos taõ
urgentes, e juíl:ificados, elo que fe deixou de
obnJ,r, ·ou do que fe queria que fe obraíle e ;i

fe tinha jà publicado na expeétaçaõ. Emfin1


Senh9r, o milagre foy e vidente e prova<ilo,
que a{lim o julgaõ os Fil9fofos , ~ Th_ eo""
Trim. Is - Mm _ logos,,
t SI
14,.) . A · • ·e A R. T A. ·s ." · --:
loaos quando a f6rnla que fo introdus , he
c~1iri:ariá às diTpoGçoéns ; .e fendo eíl:às taõ
t':o6hecic.bméte qnais podiaõ dezejar os que
p.rocuraõ , e ·pertende1n· noífa ruina ,. ti.rar
~Deos ddlas a noífa confervaç.aõ , e ma.yer
exaltaçaõ , bem clararncnte íê vê fer obr~
inais que-nàtüral de fim. On1ni potencia. Qiiei..
.ra Deos ~1ue lhe: faibamos dar as graç.as, e que
ao meo os as ·le111 public.imente a elle .os que
tem por officio prêgar a verdade.1V1uito deze..
jo.fempreter huma horà de 'difourfo cõ V .Se-
nhoti~a neíb: .mat:eria·; e como t.a õ particdar J
~ taõ fua, e da Gaza de V. Senhoria, na(>me
contentara com niuitas horas. As utili<.fodes
tio parecer de V. Senhoria~ dos progre!fos d
Ex rçü:o, opreífo.õ, €da.mores de. C~dtella, e
.confeqHencias d~ pâs, eraõ m'a nifefras: m~s
frm meyos n.a õ .k.pod·e1n con.feguir ~rrs· , e as
1·afoens de·quein eítâ v.en<lo tudo de mais.per-.
to, naõ·tem repoíta, eo que me·faz 11emer he,
que fo o fucceílo llàQ foffil <q~.al o ·eeis1quis q e
:fufie, h~·Yia. de cahir "aqueiX'a e culpa-f0bre a
·nnoceneia, como agora'Ca.he ft. liz~1 n~â., e o
~pl aufo [obre a omi.ffa.õ. Fog~ o lume dos
((.)lhos ' quando ag0ra fe ve' oq~e de antes fe
nã.ó via, ~ fe. prezu!nÍ~ f-pç,,AiQ <31U!t na~po...
t. _i ; • .. .i i;0dós. ,
D O P. '1\.N,T'OJ.\nO<VJEYRA. )?.f
tódos) ein i:aõ·,d iffetente eftado.-· .M as 'Deos
he taõ bom., , q.ue quando ;na{>, temos que cp-r
1per ,. aânos a viltoria. ell'l j;ejµn1, ~ qq;.U)dQ
paõ ·temos carrqagem, tràf-nos o.inimigo às
portas,. e quando o naõ podemos entrar e111
íeos'quarteis, poem-noloJor4 .d.eU~s: .Outra.~
co nfidera:çoens. rei11 a n1ateria 1 en.1 .q ue tanto
he mais ·p1;ofunda a Providenc~a .Diyi.na ,
gu~ nto o ·difcu.rfo .hum,an.o- naõ pôde ton\íl,~
ndla pê., neJll achadhe fu_n;dq. ·T 'udo fa~
s.
exu;enü<>~ d.a fortt1n<\ ·d~. . :1~ageü~de.,, .e 8.C~r 1
tos do feo governo , que tanto te1n m~is .d.~
[!;}oriaf.o :?'".quanto:.n:l4i s ·e,nco:bre· d~ ~1ii~erios.
1

Tudo .tio's. cónvid:,i a, crer qu:e faã,_;eíl:~tas vefr


peras da~. m' ayote~ feli~~:d .!\Q~$;.q.u~.~fp~i:~un.o$~
a que naõ a judaraõ pouco as difpoftçoens dos
arümG?~ _ d~ Ca0;et1:a ~?m -~ ,d~fe~gàh? ·.d.<t e,x-
pcriencia , e expeétaçaõ ,de(ta campan ia.
Frey Lucas,cuja carta folguey muítotle ver,o
difcorre quanto pode1nos dezej ar, e dirà bel-
hffi m.~5. a-u;ias r&.:r~ ?S ~íf~t.os que ca?,ZOU .ª
nova do ihcceíio. V. Senhoria, como Jª ped1,
me farà n1uy particular n1erce na br~ve com-
m unicaçaõ defl:as novas, co1no de todas as
CjUe V. Senhoria tiver de Alem-tejo , <:uja
noticia naõ fó he co1~veniente , fe naõ muy
~i~--',.:: , · l\ítn ij ne...
IS- 7
27~ C , A R '!' A S
neceffaria para quefe faiba a verdade tonu.da
em füa fonte , e naõ nos rios, e regatos em
<lu~ tras a cor, o .fabor , e às vezes o veneno
dos lugares inficionados , pot onde paífa.
N aõ dou n.ov as da faude a V. Senhpria , por-
que na.õ ha coníl:ancia na n1elhoria,que. algu-
ma vez me promette. V. Senhoria a logre
taõ inteira, e com tantos goíl:os do Ceo, e da
terra,c01no eu fey dezejar a V. Senhoria,<S:uja.
Peífoa guarde Deos 1nuitos annos para m ui
tas felicidades. Villa :Franca 6 de Julho de
1665.
Pela mercê que V. Senhoria fa'.z ao pa...
1·ente do Padre Francifco da Veiga, beij o "
maõ muitas vezes a V ..Senhoria.

Çapella.õ e menor.Creado de V.
Senhoria .

Antonio 'Jieyra.

CAR~
DO P. ANTONIO VIEYRAª.

C A.R TA LXXI.
A 'J)f) Rod~rigo de Menezes e.

ENHOR : Crefcem cada dia ·tantas


circuníl:ãcias de grandeza a víB:oria do
Senhor Marques,que com rafaõ dizem
neI'ca U nive~fidade fe devia tornar a repicar·
por ella em todos ós correyos , e affim naõ he
muito que o exce!fo do meo gofro torne a dar·
huma e muitas vezes a V. Senhoria o para-
hem.Ainda hontem fe fez a ultima pregaç~õ.
em acçaõ de graças, em qu€ houve muito que
dizer 'de novo, mas eu fern.pre creyo que a~i
lingoas eíl:rangeiras faberâõ melhor avaliar
as d rcun·Q:ancias de tamanho fucceffo, por-.
que .as noífas fempí·e faõ curtas em louvar _,
podendo mais a enveja dos particulares, que
e amor commum da Patria. Queira. Deos
<}Ue á t ardança deíl:a taõ dezej ada Relaçaõ
fej a para mayor perfeiçaõ della , e que ao
menos igualemos a verdade, quando todos
os
·\.x.~ g. ~ ., . r 'O•t .A R-• ·'I>
.1.
11' S ,. ,. · ·~
~ __ ~ .;...
• • . - -

os Efcritores em credito da fua N açaõ a cof-


-n1aõ exceder. Foy perda morrer ·o filho de
Caíl:tilho ·, màs' ferrf dres refeús podei; à·feo
Pay rnudar Je epini-aÕ·; e querer agora a-pás,
que pudera _ter cof!!p.r ado a,n1en?s preço ; o
qpe ag?~ª f?~.re,l~c.l.? (e ~rper~ i: e _det,ej ~ c'o~t1!
grande ancia,fao as noacias do abalo,gue res
ein Madrid a nova , que fi~ria igual , e ainda
1'.la:yor qae o" nojo· dõs Ger~eraes~ ·Pela _lem-
braaça qLte V~ Senhoria tev~ de min1 ,no di a
~,a Rainha Sa:nta, beíJo rrül vet>es ·a maõ à V.
~€~1hod~. Pof v,a1·ias partes,111e chegaráõ as
:(ignificaçoens de hutn grande Mia-iíl:.ro, qt;le
pode fer feja o ·mefino com quem V. Senho-
1:ia faltou, e poíl:o que 0 n1odo a tempo ven.,.
çe ff~ais, que a:porfi.a, eu eftou certo ~ que fo
h~nwera xontade, n~1n fora n~eífalfia a por...
fia, nem ainda o-modo, m_;is hà mui.t os mo-,
~os de intentar,,cle gue uz·aõ os hom.en~.~ a«im-
cor:no Dcos te'm rnuitos ·de libertar quai1do,
be fei;vid0. Para elle fó appello, ~ nelle-rÓt
ç_onfio·; e a elle do:u muitas graças·por pod.er
fazer j;à·_eíl:a a V. Sen11oria: com os pês:J19
çham, depois de centi>.' e cinco dias de-cama,.,
0 -1.l}:eÚnp Stinho.r guard~ a V. Senh~ria: c_oll.\
os annQ&9.evj.d~ ·;,,:.~: i_n.teir.ª. JiQde que a y·~ :S~"!
.. .. ~, nhoria
. DO P. rANTON'IO VIEYRA. 1i9.
nhoria'dezejo, e efi:e Reyno ha triifrer.· Villa
Franc a 13deJulhode166y. , :

· Capellaõ :e me!lor Creado de V.·


. "Senhotía~ · ·

·Antonio Vieyra..
) 1

C A .R .T A LXXII.
'A 7J. Rodrigo de Menezes.
"""· ENH·O _R.: Come~ándo pelo·fim da de
·v. Senhoria,dou~ a. V ·. Senhoria o p ara..;
· hem da chegada <lo Senhor Marques q
q
Deosguar@e, com vida e faude, h e f6 ó que'
fa}tav:a p~ra aperféi~oar o goíl:o de táma--·
nhas felicidades, em que ~cnüm me na.ô toca
a merior parte, 'p.oíl:o qüe fou o·n1en-or creada~
da Caia d~- V.Seahorfà.: Agofa de'z eja ra 111 ~ü..>
to fabe r o triunfo? com qqe S. Excellencia foy
réc-ebMo·-e1n 'List>ú_a ; pofro que · n) e· fe'rl1 bra~
kr.ley ·dá <tt1y~ja R-01na!é.4,. <]~te aen41anr-QJe~
,. ' ,j ' i.i. ·
,,,,; - nera1
280· . CA.R'l"'A ·S
neral t.r.iunfafle tres vezes , e naõ ten~o me..
lhor conceito da.~oífa ~ os inimigos da cam-
panha podem-fe vencer huma , e muitas
·v ezes;· os da noffa Corte faõfinvenciveis: a~
quelles co1n as viétÔrias vaõ-fe din~inuindo ,
eíl:es com ellas crefcem mais. Porca éhegou
hurr1a liíl:a" ou rol de 1nerces, e Títulos, em
que muit~'J$ eíl:ranharaô naõ ver o nome do
Senhor l\1arques , eu pelo contrario o efHmey
n1'uito' . porque quem foy dono de toda avi~
ltoria, naõ he be111 que fe conte no 1nefmo
nmnero dos qfó tivei-ao alguma parte nell a.
A con!ide.raçaõ do que fora de nôs., fo a naõ
ganhatàmos , he .·amayo~ de todas. Eu a fiz
111uitas vezes depois do íucceífo ~e a tinha tã-
bem frito <intes delle, porque corno 1nenos
ani111.o fà, temia o que nos podia fi1cceder, e
naõ efperava taõ íingulares mifericordias ,
quando com taõ repetidos exceff0s de ingra..
tidaõ provocamos a Divina jufHça. 'Por cà fo
publicaõ feftas, e com n;iuita rafaõ, rr1as eu
antes quizera ver chorar peccados , e emen·
dar vida.s,para que fizeifemos feguras as feli..,
cidades.
O qqe ag.o ra fe fegue naõ fey com que pa...
~vras o diga a: V. Senhori,a:.porque fe. c.o~·re a
- · rriinha
DO P. ANTONIO VIEYRA. .283
rnos ·à Prov.idt;ncia Divinq.,, e de quanto Jüas
difpo íiçoens foraõ encaminhadas en1 tud0 .a.
notfo rem,e~io , e .credito. O d.~mai~ que fe
ae
ouve' e fe-~íl:ra. n ha >' ~ªõJi.,e par:a r~na.di<:> ..
1

t~õ lo~ge, e vJnP.aõ a.n:uti qo:m temp.o ~~~1 di-;


hgencias de V. Senhona·, fe a, .011pofiçaõ que
foíbenta o.meG.ddlerr.o naõ efhvera taõ e 1n:...
penhada nelle ; ..e 'poíl:.oíque-fey·tamb,e!n c"om
quaõ boa vontade 9 t Senhor Marqa.es , que·
Deos guàrde ajud3;râ o intento de V. Senho-
ria , . dt,ou cert.o e fiqni(Ii.n10 em que fe naõ
hàde · Confe,g;11ir-·pQr ·eífe~r meyos, en1 qu,anto o
tempQ Di~Õ trrouxç·r outros de-mais alta previ·
dencia~ por que ef1:a e·outras·diffi·culdades de
mayor .i111:portancia fe facilitem. Deft:a·:lian-
da naõ h.à mais que fdlas e mais .feJ.l:as;; 1e fó
n~s fa:lt:,i ,par_a c<;>mpdment? ·~o góíl:o ~ noti-
cia dos fenumentos de Madrid., que Jª tem.
tempo de haver chegado, poíl;·o que ainda
naõ efpero a verdade da refQlucaõ que haõde
tomar, que deve fer muy diverfa depois de
esfriarem as feridas. .. · ·
N effa Corte anda requerendo hà muito~
dias o Li.c enciado Domingos Vas Correa Vi-
gario Geral que foy do Eftado do M~rànhao
m~jtos annos, e onde com feo grande zelo,,
Nn ij e chri•
j S-5
284 · .: ,.!''". C A: ~ R . i7 ·Á ·· S.' 1
••

€ch.riíl:ãn:dade foz ·rnuito's·: f erviços· ~ Deos;


He peíloa qµe te11ho por dignH1ima de qual"'."
qNer lugar Ecclefiaílico, e que hà muito·pou...
c?s no R..t!yrto de·P'ortugaJ â g~em com mais
fogura ' cprifiahça. 1 fe poffaõ e'n tregar as ove-
lhas de Chrifto. Alem defhi rafaõ geral , lhe
devo al.gumas obrigaçbens partjculares pela
b0a affifrencia .que fempre tez aos 1\1iffioha.,
tios, e ~ela ditftuença qúe depois exper.irnen-
tamos e.m outros' lobos· q'ue là fo mandaraõ
com .nof!le de paíl:ores. Se Y . . Senhoria, n~
q1:1e hou.v~r l_~gar, 1 f~1··:: ~~tv~d~ de 'apa~rii1~ar
feo Ií1erec1mento,alen1 âe·fer obramuJto v.:ra...
• • • L]

ta a Deos, e muito de feo ferv-iç o,~ mj.~ fárâ V-.


~enhoria m.u ito part1~nlar rn.ercê "; · ~Ill cuja
cot1fi~nça o av~zo fo·pôde vaJet do an11p'.aro de
V. Senhoria, pois·eü haÕ !çnh1ô outto'. :.i 'G uar-
de Deos a V. Senhoria muitos anrt.6s;'c.orr1o
dezejo) e ·havemos, iniíl:er. Vüla -F1·anca 27
de
1

Jcilho ·de '!665 ... . ' ·; ! .' r: '·. ·_ ~j j, 1

~ i':r l' " • ·1


. .
• 'jo. • • ... r } _, • H'\
.. • J ~\~ ~ " • "" • ,.;

C reado de V.··Serihq'.tia. ·
Antoµio , Vieyra.
J

f . . .
• t -> • CAR..
DO P. AN1"0Nid VIEYRA.
1
zSt
roiúha iri.dig~nidade da eiceffiva honra 'eniér...;.
cê .que me ' faz a Senhora D. 'Juliana. ,1 pó is
quer e.me or~ena,que hum me1nori'al ql"fe tein
com V. Senhoria, fe prezente a V. Senhoria
tJOl' f9Ínha . . 1;naõ. V çm a.for o requerüne~nto:
que o Padre Frey Diogo do ·E fpinheiro feja
eleito e~n Capitulo por Confrífor d_e Santa
Clara de Cpünbra, e que para ifro , .fe for ne-
ceffarió; mande 5. A. ·num recado a.o Viíita...
dor. Os rn_e·r ecimentos da peífoa faõ; fer Re ...
ligíofo de rnuita authoridade, e _virtude, e
que fervi o ·a S. Mag·eíl:aae ·nas fronteiras em
tempd-db Senhot D ~ Alváro. o ·motivo prin-
ci;:_~l_;? ~~.ry•~<? d~ .De9s,, e ?· g~íl:o,r-e confola-
çao efpi.tttual que defl:a.f'.le1çao tera.-a Senho:.~
• 1 -

ra D. Juliana:, como hoje foy fervida íigni-fi-


car-,i,ne pot,h111m· p~pd mny:erica1~êicidõ. /t'e~
nh~ d.jttto·d CiJU.e naõ fabià :dizer~ Por coa.ta de
V. Senhoria fica neil:a.primeira occafiaõ, e.rri
que a:Senhora D. Juliana. me . hon~ou com fe-
íervi.r.de mim como feo.cread0 ;que feja com
taõ bom effeit~,e. tanto. â , fatisfaçaõ·de fua Se... '
nhoria;q"tJe•mer'eça eu rnuiras vezes. o mefmo ·
fa:vor. Ao' Marques meo amo e Senhor heij.o ·
mil V~Z'eS a, maÕ , .pedindo- fempre me tenhar
.a;n fU'\. gr~lÇ~ f' 'Co1nQ·.fempre ,ii1e te1n, -aieos 1

T'om. J~ Nn pes•
/ÇS-
A
~ 82 ; • i_., . C A i R ·T · A S ' · ·
pez. E J)eo~ ·m~ guarde a V .. se·nhoria. muitos
ann.os , como dezej0 ·, e havemos mifl:er;.
VillaFranc;a iode Julho de 1665. _, _
.'
:,-, ~apei.11~~: 1~ ~~no.r · C~~a~o:,d~, V.
-1 , )Senhoria. l •
. ·, ·
' f • ' ' •, 1 •

~ _'.~ ·;·t .J' e .. ,'.1 ;' ·.~ .fr\UtQnio :i1Vieyra.í t. -


•• 1 • ~
i ~ ' .) 1 r ' ( 1 I ~ ..

I
. .r
.. f , t 1 'J),. \

,G;A:~ ~.A'. ~X~'Xl;II.~ 1 ~.


À 'D. RódrigO "dê MenezêX

S
-. "'- I ···ri >•·l r'"í ·~,

EN·H,~)R ·: ) ~ ·d~yr·a '1\1'. -Sanh.<5fia,10 pa:..


rab:em, e murtas vezes-teyib@;dadó .a·s
graças à Divina Bondade; 1pó1r óse-=
nhor Marg.ues.fe haver iéfr.ituído à frta·taia, e
à prez.é oç·a·de V. Senh0ria. fobnr taõ gh:>t-~ofo
fucceffb,com·.t~õ :inteirafaude_,~e na6 ht! pé. .
1

quéna mercê. de Deos :, de·pois ·de ·taõ êonti:.1


nuado trabalho;_ e ~m dias taõ rigorofos. . ~.~ ·
mo todos dres tem paífa·do.,. ~Tudo faõ e~p·e ­
'l'iencias e arg~n.tos n0-vos: d,e, qQãntóM~v~
. · ' ffi-O S

J
DO Pº ~ ANTONIO VIEYRA. ~35
.. ' '·
CAR1~A LX.XVI-G
.;
A Ti. Rodrii,O de l\llen~z;s~
ENHOR ·: Em grande +eíl:ituiç.aõ me
dlâ~ temporal e efpiriq1alrnent~, aquel-
la vontade , contra a qual , depois d~ ·
taõ largo tempo, ·e ~a circunfiancia de ta-·
manha occaÍJaõ , naõ aproveitaõ diligen-
cias, nem porfias:·e digo, temporal ·e efpiritu-
almente; porque quem tant'o me aparta. da
prefença de ·v. Senhoria, naõ fó tire priva .do
allivio das faudades, mas tarnb.ern da grande
coníofaçàõ e alento 1qué o meo . efj)irito re....
ceberia com a cõmunkaçaõ de V. Sen,horia)
-cuja alma vejo taõ unida e conforme ein tudo
co.m a vontade de Deos, e com diétames e
o
refolriço'ei1s·ta{} fupe.riotes a tudo que fegue
e eíl:ima eíl:e inai entendido inundo, ern que
"Vivemos. Ben1 neceífaria 'he toda. dla gene~
roftdade para fazer pouco cazo do que V. Se-
n
nhoria me diz ' gue eu naõ fó admirado '
mas .coriTido de qem hum.a Naçao taõ honra-
da. como·a no.ff~, haj~ quen1 tal chegue adi-
zer>
1S·& . e A R T ' A · s· ' 4 •

zer , tnas a tanto chega o poder, ou a fraque..;


za da enveja,,cuja viétoria'naõ he menos oue 1
a e.los mayores e~€1:citos.- E-aili.m 'applko eu
nefra occaíiaõ ao Senhor Marqµes que Deos
íe
guarde;-0 que dií{e n@ EpitA'fio. do Marques
de Pefcàra:
· ·Et Martán, & m1Jrtemvi.cit, & !.nvidiam.
·- Sempre eu temi qt;ie .a Re1açafrda v~éto.rü,
~naõ. ne.ceilitando ell.a de .cor.es alheas i lh.e
:_havia de apoucar .a gran~eza, e e:Ccureter o
·1uíl:re. Mas. naõ deilK!o ·"d~ ter _minha ·i ayva
contra .a prudencia rod_ifhnmláçaõ de!V!> ·se-:
:nh.:>ria '~ma tleix:ar paífanfem .einenda~-f~ndQ
1eft:e·o1offrcio e o'brig.a·Çaõ·élffa'.ribu:nal ·em qu.e
~ V. Senhoi::ia p.refide .; ç fer:l bem meret:ti:do
·cafr.igo ela noffa. mà .p©hiri:ca, ouida infelici..
da de , ~ e viole.ncia ~das t.errnpos,prezenté& ,~;ve-
·remos Cafrelhanos; e ·ver o mundo eíl:amp-a-
·.da .em'P.ortugal hurµaiigriorancia taõ rid iêu~
la;comu chàmarmas-a rmada iin1aginaria à de
:CafteHa..; quando dia eftâ ~fahindo iao mar
com quarenta l'lavio.5, como1fe Càdis efl:ive-:-
ra na India, onE:p Japaõ. No:m.eíino dia ·em
que pela màmhãa tinha .recebido ' a .carta de
1

-V·.- Senhorra·; mé mandaraõ à tar,de-huma do


Governador de :A v.eiro, em_que_fazia faberâ
Carne-
DO P. ANTO:Nro· VIEYRA. 287
Came:ra de .Buarcos tiriha ·1~ecebido ayizo de
S. lvlagefl:ade ·, q-a Armada do inimig0 efrava
fob~e a 'barra de Lisboa ; foy ~fl:o em_a 1quinta
feira ; e na:.noyte do fabbado,para o D omi.n:-
go fe viraG> em Coimbra muitos facho1s de
'fentu~al, e ;Mo.ntemor,e fe. ouviraõ .algum ás
peças ae artelharia' e-depois chegar.aõ no-:-
~as d~ Efgu'eira,que todas as co_rnpanhias da...
quella ço1narca hiaõ~çnrrendo par.a Aveiro,
por apparecerem . là vinte e tantos navios.
Naõ me parec~,. q;u~ p_odem fazer alli ÇQuza
de confequencia , nem em, toda eíl:::J, cofta,
falv o nos portos mais chegados ao
Minho ,
fe ern t.e!JI?· tiverem exerc.~to com que fe dcn1
as mãos; mas defre naõ hà a~hego.ra noticia
-:ilgurna, e fó fe avizou no Correyo paífaclo
que ? Co_n de do P_rad<? chamava os ~er ços au-
xiliar,(is ..,.· . : · ~'. ·· ·
1' ··10om.
n d. l , r: "
·graü: ,e·-a v-oroço ·e1p't~ro o a:vno
11 ' 4 d.e
como en1,Madríd foy repebida a nov_a da nof-
fa vitloria , que-devia ··cgufar berri dif.Ferentes
effeit os·, fegundo os animos e pareceres ~os
que lã goy@ rnaõ;· .C à fe divulgaõ profecias e
progno.íl.:ic~s para. o merz de Setembro , em
que fo ~nà.q pó~-e.faze'r J':l~io fem faber as dif-
p ofi~oe11.s .interi.er0s ·d-0 mundv. V. Senhoria
sue

157
2:88 C AR .T ·A .·s . - .
que eíhl. tanto fobre ell.e_, e .o ve de perto, rr1e
1

dirâ o que dévo crer, ou,efpe.rar. A meo ·amo


o Senhor Marques, a cujos pes efl:ou fempre;
beijo mil vezes à maõ, pedindo a D~os igualq
1nente em n1eos facrifitios,. qu~jà e ó.meço a
dizer,nO$ confrrve e guarde aPeJfoá de S:Ex-
'C ellencia,e de V.\Senhoda, por taé. dilatados
-annos, como Portugal hà mifter. Villa Fran..,
ca 3 de .Agoíl:o de 166; ·• .' · ·
t • .... ,(.

Capellaõ e menor Creado de. V,,


Senhoria . · . ·' . ·.: . ····.i·. 1

·Antonio V~e}trâ~-,.'! ·

.C.ART A·,LxxV. I .

.AV. Rodrigo_ de _M~~e?,CSa


..

8
• ' IJ • • •

ENI:;IOR ·: Com a c3crta de V. Senho~·


. ria recebi 'ª copia de . Madrid ., e na~
- me admiraõ os artificibs de· Car.rac~
n:a côm que a fúa ·fQberba quiz diroin?-ir a
. fua
DO P. ANTONIO VIEYRA. 239
fua ' defgraç·a , e adoçar a ·dor de tama.nha
perda; mas perco a paciencia em vergue a
~erdade della naõ eíl:ej a metida eJn Cafl:ella
por mil partes, e divulgada em todas as d<'.J
mundo, onde Cafrella fe naõ ter;;1 defcuyda..:.
do de dar as prüneiras tintas,e efpalhar a pri-
mei ra fama (que fe1npre he a que mais fe im-
pri me nos anilnos) com tanta injuria da nof-
fa gloria. Se a naõ querernos dar aos hornens,
ao menos naõ a tiremos a Deos>que he gene-
ro de ingratidaõ, aonde fó podia chegar a
noífa, fazer elle as maravilhas, e nôs desfa-
zennola.s.E poíl:o que a verdade naõ pôde ef-
tar muitd te1npo ,diílimul.ada, he confolaçaõ
efta muito boa para os vindouros , e naõ parà
nôs , em tempo que os effeitos da noífa con-
fervaç.aõ dependen1 principalmente do cre..:
dito,naõ fó na mefma Caíl:ella, que pela vizi~..
nhança e experiencia pôde n1elhor conhecer
fuas perdas, e noffas ventagens: .mas em Fran-
ça ~ Inglaterra, Olanda, Italia, onde por tàl-
ta de induíl:ria ou naõ chegaõ as noticias das
noífas vilt:orias, ·o u chegaõ taõ trocadas, que
p arece1nos nôs os vencidos. Aqui chegàraõ
agora dous Padres de Sicilia, que com ferem
tnoradores Ra Cidade de Palermo) affirmaõ
-:km. !~ Oo qu~ -.
190
1 · C A R T A S
- -
<]Ue nunca là ouviraõ queD_om Joaõ de Au~·
Hria fora vencido em Portugal. E que fac il
fora ter hum efcritor em ltalia, outro em
-França, e outro ein Ale1nal1'ha,qne com _muy
leve falado divulgaífen1 en1 todas a<:1uellas
naçoens e linguas o c:jne.ne1n na noífa. t1uere~.
tnos dizer! Daqui fe fegue o que eu vl. en1 An...
:thor Ale'maõ, ·que efcreveo as hiftorias de
poífos ten1pos: e tirando o que elle chama
fublevaçaõ do Duque de Bragança, naõ falLt
mais palavra de Portugal,como feo naõ hou~
vera no n1undo. Quanto rnais eframos no fin1
àelle, tãto mais havia1nos de procnnn..intr.o -
duzir nas outras nações eíte cõmercio'; p-orq
d_as rela~oen~ que.agora fe iuiprime1n-, fo cõ ...,
poem depois as h iíl:õrias. :. e .quem lnllis:..e n1e-
Jhor efcr:eveo de ft :, foy o q~e n1ais parte. teve
.nos annaes da.fama. Sem fahir. de Lisboa fe
pudera. a~har Itali'ano, F-rancts , e klemaõ
que efcreveffe e inaQ.daífe. im primi,p.a fuas t.er-
t-as .. Perdoe..-me V:. Senhoria .p his. loµcur.af>~
que amo.muito ·a noífa Patria; e-naõ . tenho
paciencia:para,a .ver.de.sluzida, quando :Oeos
ttos homeris a tem illuíh.ado i:ant:Os .As. nov.às:
). das rraos da-Indi~,eSi:o ·t-a~do Br.aq,il fo:õías:rt1e
lh~res '3.u~ podiamos dezejar~Deós ·ás traga.a·.·
. ,, . ( ". ·fül1.c
DO P. AN'1~0NIO VIEYRA. i91.
falvamento, para que nos naõ falte com q1ie
faz er oppoíiçaõ ao inimigo,que na efperança
de foos milhoens dizem quer fazer a guerra
de bolfa a bolfa, e naõ de braÇo a braço, rnas
e fofrimento dos noífos fold ados eíl:à fei to à
prova de mal pagados. N aõ repete o rebate
de ter a armada inin1iga lançado geó.te en1
Sagres, como diífe ·o Conde valido no dia do
correyo. Q.!.1eira. Deos c1ue eíl:e avizo tenhâ.
t:tõ pouca certeza, tomo o e.pie veyo a Aveiro,
de cajo Governador v! cu ~carta ein que de·..,
zia o avizà.ra S. Mageíl:ade, que a armada de
CaH:ella eíl:ava fobre a barra de L isboa.Se V .
Senhoria puder haver as profeciás de Santa
Hildegardis que andaõ em livro particular
de foa vida,fanneha V.Senhoria grande mer.it.
ce , porque tanto. que o pern11tnrem os pn•
1\ . • • •

meiros alentos,. quizera tornar a antiga tey~


ma , antes que o tempo chegue, e lhe tire a:
graça. Ao Senh.o r Marquês peço me tenha
aa fua, .e Deos guarde a V. Senhoria muitos-
arinos, con10 havemós tnifl:er. v:n1a Fránéa
10 de A.gofro· <;le 166 5•
. .. ·. .
Capellao e·menôt créádo-de,"tr. Senhorià.
.; . \

-
A.rl~'ónio· Vieyr.a.

Oo ij
• - J

·cAR•
C· A R '1" A S ·

CA
A' V. Rodrigo de Mene.zes
ENI-IOR : Sabe Deos que as cartas d
\l. ~ enhoria faõ para mitn o e.ntetteni-
n1 nto de toda a frmana em <-1uanto f.-.
eíperaõ, e depois que chegaõ o unico all ivi 1
de quanto padeço, affim n·a diffi.cultofa coL-
·alefcencia. da enfennidade paífada , com
no temor ou certeza das futuras) de que ne-
nhum n1edico duvida pela experierrcia de t -
dos eíl:es annos, e conhecida contrari~da e
deite fata.1 clin1a. Jà.naõ faHo a ·v,. Senhori:i
fteíta materia por fer de taõ pouco goíto ,
quando eu dezejo .dallo em tudo a V. Senh -
ria, e fó he bem que cuyde e n1e alegre das o,..-
cafoens Clu~ V. Senhoria te1n de o ·Iograr
muito grande, quanto o efrado deíta morta·
hdade permitte.L! a Relaçaõ,e póíl:o gue diz
muito, folgo de a haver de .reput ar ~ntes par
q
diminuta por encarecida, gue he a mayor
gloria do fucceífo, e' o rrí~is fegúro e-uriiverfal
teíl:emurilío ''de fui grandeza. N ~ eíl:ilo e
nar..-
DO P. A~NTONIO, VIEYRA. 19;.
narraçaõ della, depois de V. Senhoria ter jà
interpoíl:o feo P.arec~r, fico eu incap~s de dar
iui zo , porqu'e km foguir os i~pulfos da von-
tade, fe naõ fabe apartar nunça o me~ do ·que.
V. Se nhoria julga, ·corno taõ acertado fem-
pre , e tdl.Õ livre dós affeélos que cofH1maõ ef-:.i
·êurecer a rafa.ô. Àqtii ·chegaõ por varias par-·
tes pdfoas que v;em de Caítella, e todos fal-·
laõ pelo efblo da carta daguelle amigo, que.
com as feg~ndas noticias no las darà melho•
re~ do dezengano da perda, a qn;al naõ po-
deria eíl:ar diffi1nulada muitos dias por mais
que fem11ltiplicaífe1n os a~tificio.s' de tarace-
rra, Com tu.d o dizen1 conftanten1ente que el-
le fe apreO:a para voltar:couza gue parece im-
pot1ivel, pelas difficuldades de novo exercito,
e muito ~nais p~la~ do te1npo,e da C3:_mpanha.
5., vier,ferà para ultima ruitiafua, pofto que a
noifa feja taõ merecida no mal-gue agradece-
~os .aD~<;>~ as merces que nos faz, devendo
cün~derar gue fe pode alguma vez cançar fiia-
Pr ovid en~ia de fe pôr fen1pre da parte dos i?--
gratos. :Eu, Senhor, naõ poílo deixar de o íer
,ao mdi to'favor que V.Senhoria naõfó me faz
:a n1im., .fen.aõ ·a todos ,os n1eos ·recon1n1enda~
dos,por qu:e beijo a. V.Senh,ori~ a.111a·õ muitas.
ve...,
.
!-94 C A ·R T A S .
ve~es, e o farey c_o m n1ais particular gofro ~
.quando fouber que efrâ confrguida com effei-
to ~ el~iÇaõ daquelle R.e liçiofo qu~ aSenho~a
- D. Juliana tem authonfatio com íeo patroc1...
nio. Na graça do Senhor Marques me encõ-
mendo fen1pre, cuja peífoa, e a de V. Senho...
.ria Q.os guarde e coQferve Deos muitos annos ·
com.o Portugal ha II?-ifrer. Villa Franca 17
de Agoíl:o de 1665.

Capellaõ e menor Servidor de .\ T,


· Senhoria. ·

Antonio Vieyra.

CARTA LXXVII~
A V. Rodrigo de Menezes.
ENH OR : Qua11do V _. Senhória me
fãs merçe dizer que dezejàra fallar co-
migo, e com tanto encarecimento, que
.P?ffo diz.er eu, cujo.coraçaõ ~à mai~. de ~rei
anci
DO P. ANTONIO VIEYRA. 191
a.finos efrà cozendo difgoíl:os e difcurfos 1
.fem poder romper o íilendo? Eíla he aenfet-.
midade de que adoeço, e a falta deíl:e reme-
dio a que me hade matar , fe beos naõ abrir
algum extraordinario caminho com que me
yeja aos pes ~k V. Senhoria; pois todos_Qs or-,
d~nari os eíl:aõ taõ fechados. N aõ havia 1nif-
" ter o a.nirno de V. Senhoria tanto ddenga-
nos do mundo para V. Senhoria conhecer e
fe defenganar delle, mas aílim coíl:uma Deos
tratar a quem ama., e aos que quer fó para fi..
Mais deve Portugal ao Senhor Marques na:
foa conítancia,que no feo valor, e ma-is vene,.,
ro cu efta viétoria, do gue admiro todas as
fuas , conhecendo. do e!blo da Providencia.
~ivina que-na fragua <.1eíl:as-fomrafoens eítâ
lavrando e difponâo a S. E~cdlencia_ outras
coroas mayores. Do Porto me efcreven1 que
jà Caracena eíl:â depoíl:o do officio, e fubíl:i-
tuído outra vez 'Don1 Joaõ de AuCrria. Sinal.
certo , fe-·"ffim for.,, de-·cpJe as primeiras noti-
cias da batalha eftaõ jà bem defcnganad~~
em Madrid. O avizo o ·dirâ. Aqui fe diz que
o Conde de Caíl:rilho fe chama Ga;··cia,e fe dà
eífo. explicaçaõ ao ultimo verfo da decirna de
Bandarra. Sirva-.fe V- Senhoxia de 1ne dizer
~ fu
I (, I
29& - 'e A R T A ·s
fo he aíli1n. E tarnbem diíferaõ huns Frades da.
Serra d' Offa , cn1e a caza que os Duques de
:Bragança tem na T ap ada f~ cham.a a Cabana.
Efpero que tudo O)T1ais fe cumpra, e '-]1.le feja
nuüto cedo. A Senhora D. Juliana rnanda fa-
her de mirn en1 todos os correyos , fé tenho
Fepofl:;:l. de V. Senhoria acerca do Religiofo
ko recõ1nend:tdo, o qual eu naõ tenho co n·
fiança para lembrar a V. Senhoria depois de
ter dito, por quen1 efi:a eleiçaõ he patroci-
nada. Guarde Deos a V. Senhoria muitos
:annos > como dezejo e Portagal h a n1iíl:er..
V:.illa França 24 de Agofto de 166J.

~ Çapellaó e rnenor Servidor de V.~


· Senhoria«>

Antonio, Vieyra~

CAR• )
DO P . . ANTONIO VIEYRA. 297

CARTA LXXVIII.
AV. Rodrigo de Menezes .
. ENHOR: Com·o que leyo nefh1 carta
de V. Senhoria de 2 r ,. califico, e con. .
firmo mais o. nome qdou de loucuras
a0s dezejos do rneo zelo: e muy bem con-
vence V. Senhoria a-indifcriçaõ delle , en1
dezejar que . as noticias de noffas viétorias· fe
e.íl:endaõ pelo 'mundo em todas as lingoas ,:
quando o noffo defcuydo as dilata tanto na:
propria: e athe os mefrnos vencidos, .e ini-
nügos re.provaõ a deGgu~ldade do pouco que
fe efcrev:e.ao n1uito que fe obra:·. Grande be1n
fer.â que fayaõ outras ·relações çonformes cõ
a verdade, ainda que tarde, para que desfaça ,
e naõ perpetue o efquecimento o gue calou .<i
n.egligencia, 'o u a defgraça.• i De todo -.o· ge~
nero de palavras fomos avarentos·> e nenhum.
genero ha·de i-ngratidaõ ., en'l q-u~' a :noífa fe
naõ califique com Deos·:, ·e;e-ó·m os h~mens.
· A?1nauhãa ·entra .ol1nes d(} S·et-e1nbro··; em
que.·os interp'retes nos·tem a~-voróçado t~ntÔ
'";,Tom-. I. Pp a ex-
19g C A R T A S
a expeél:aç ~1Õ;e poíto gue o prazo parece muy
lin1itad<? para gran~es mudanç.as,en1 alguma
couza íe podem ~:i uíl:ar os dikurfos aíl:rolo-
--gicos con1 as confideraçoens politicas. Di·~
zem-mc que fr te.m formado neífa Corte hu·~
1111 Junta de l\tfiniíl:ros de ~odas os Tribunaes
J>.lra arbitrios de tirar dinheiro em grande
íàmma. A ncceílidade .o pede aílim, e nunca
íerâ taõ grande a fomma, como ·a neceflida-
de. I\![as h a~er chegado neíl:e mefrno tempo
a frota das Indias , nen1 he boa concurrencia
para a fama dos Eíl:rangeiros, nem para o a·..
lento dos inimigos. N aõ fallo na õpreffaõ
dos naturaes ; de cuja fidelidade , e <:>briga-
çaõ fo pode fiar tudo ; mas tambem pud~ra
f(;)brevir ·eíl:e . accid-ente n1enos . intempeílivo
em anuo mais abundante quéo prezente, cu-
Ja eíl:t'.rilidade por.- efras partes ·a1neàça muito
.aos pobres , e naõ em penha me rios aos ricos.
Eu .fempr.e me encoíl:o à par.te do rect;yo ; e
naõ fe~ fe,he ifto. covardfa, fe. he amor., Me;,
yos tem Deos com que acQdir a tudo, e bem
facil e:r~ o da idade , e novo àehague del!{ey
F di ppe , Ut um1s moriatur homo , ne tota ·Jf.ens
p.er,e.at. • . Milito e.íH-n1ey.·ver ·a .carta .daqu~lle a-
migo'.e (} defongano .dos .p r.imeiros artih cios
. ·. :. .. qµe
DO P. Al~TONIO· VIEYRA. ·1.99
que cada hora fe hiraõ decla.r~nd.o niais.~ in-
troduçaõ de graça de D. Joa-0 <.de Auíl:na he
materia problemat1ca : fe tiver a dos natu...
raes , de Gue mais fe pode duvidar , he cetto
que tem a dos Efrrangeiros, aílim em Flan...
des , .c omo e1n ltalía, com 1nayor conheci-
mento dos Eíl:ados, N açoens , e peífo1s, do
C]Ue teve nenhwn Refde Hefpanha depois de
Carlos; mas a fuppofiçaõ defre mefn10 cafo
<larâ mayores motivos, e efpertarà rnais os·
pretex to~ em França. Cartas hà para todo o
jogo, e mais fe as baralhar a noífa fortuna .
Nunca falley a V. Senhoria no ça.zament:o
da Infanta de Caíl:ella, e na dilaçaõ ; e no
defvanecimento dos noífos. O author da car. .
ta fabe , e coíl:uma lizonj ear : e' os meos pen-
famen tos tamhe1Íl metem lizonjea.do·amim
neíl:a ma.teria, e naõ poucas vez.es J nem·em
poucas occafioens. Muito ama Deos a S. Ma-
geíl:ade. N aõ conheço o Pregador- dos feos
a.nnos, mas fey que no Brazil hà açucar bran-
co, e mafcavado , e que ainda no fia.o ha.
mais e n1enos.' Os engenhos naquella terra
h~ queixas que eíl:aõ perdidos , e neíl:a ( o que
V.Senhoria por lhe fazer mercê acrediit:a)naõ
fó perdidos, mas de todo acabados; e melhor
Pp -ij foy
300 · C A R T A S
fqy que naõ cahifle o defcontentamento fo ...
bre a deiçaõ de V. Senhoria. Em tempo e;m
qu "' fó •v ala lizonj a, ·naõ podia parecer be;m
qµe111 profeíla fó a verdade : mas eUe terâ t-,a-
.cicncia em quantD ,Dcos o naõ 1nud1, . que fe . .
ra, fr eu n1e naõ engano, n1uito brevemente.
De Alen1anha vi hum notavel pro ,ligio por
rdaçaõ impreífa , que naõ refiro , porq'ue
,:fi1pponho hayerâi" chegado a V. Senhoria.
Tambem dizerr1.os que entendem das efhel-
las, que apparece0 eít.es dias hmna nova na
Nao Argos. Bom· progn_oíl:ico para os que 1

efpero,õ porin.a r as felicidades!-· A n1imha ef...


pçranç~ naõ limita .lugar , ne1n ··elemento.
De qualquer parte, e com gualguer nome que
Deos .rnande à fua Igrej'a o remedia da Chri-
frandade_,o aceitai·éy com igua}acçaõ de gra·
ças. V. Senhoria me tenha na ft1a ; , e o mef-
mo peço ao Margues meo Senhor,a cuj.~s pes
eftou fempre. Deos 1guarde,· a· '.V,;, _Senrrória
1

· muito5·amnos, ço"mo dez·ej_o ., e hav.ernos mif-


ter. Vi.lla Frané-a; ultimo, de Agofro de 1665.
_Cread'o· de V. Se.t.ih9ria".
AntohiÔ VieYFª·. ··
CAR·
DO P. ANTONIÇ> VIEYRA. 301

CARTA
.. LXXIX.
A V~ ,Rodrigo de Me1:ezes.
q
ENHOR: Mais novas, do V. Senho-
ria me dâ, fe me cõmunicàraõ neíl:e
correyo, cõ efpecialidade fobre a Prf-
foa do.Senhor Marquês gueDeos guar de,e fo-
br e o lugar onde V. Senhoria afüíl:ia aciuella
femana: e todas concordaõ muito com o no-
me ou definiçaõ de Babylonia, que he o que
melhor explica a confufaõ da noífa Corte, e
·as confufoens en1 <]Ue fe achaõ os entendi-
men tos , e vontades de todos os que amaõ o
corpo deíta cabeça , e zelaõ foa conferva-
çaõ. Nem me admira que com V. Senhoria
lhe chamar Babylonia,n1e dezeje V.Senhoria
.nell a.; porque os myíl:erios com que fe falla
por papel,accrefcentaõ o tormento, e as per-
plexidades, que fó podem ter allivio, <iuando
naõ remedia, n·a cõrnunicaçaõ da prefença.
Efra he a mayor penfaõ do meo deíl:erro, e do
.gril haõ; C]Ue fó por eíta caufa dezejàra muito
ver c:Jueb:rado, ou mudado para lugar, onde
. . a dif-
3oi .C A R T A S
a difrancia me naõ ímpoffibilitàra tanto eíl:e
allivio. Seja Deos bemdito <-1ue affim 0 difpôs
fua Providencia porimeyos, err1 que eu c-Ridey
que era elle fervido,e naõ offendido. Ma:s em
quanto me naõ falta.r a confolaçaõ tle que V.
Senhoria e o Senh<?r Marques paífaã;:-com
faude, em tndo o .mais me conformarey;efpe·
.rando o beneficio do tempo; que por todas as
vjas vay confirmando as efperanças que nos
.tem dado. -
Por todas as ràfoens que V.Senhoria pon-
dera, me parece tambem impoffivel a campa·
n h a que o inimigo publica, fem e1nbargo do
avizo de S. Magefrade, que-0 Reytor da U ni-
v eríidade teve de que elle intentava entrar
pela Província da Beira, e fe affirma efi:ar jà
em Alcantara o mefmo Marques de Cara.ce-
na com pê de exercito, como á.vizol.l Affonfo
Furtado mandando hir cõ preffa os auxiliares
deíl:as comarcas. Mais cuydado dâ a pefre de
Inglaterra, para cuja cautel~ mandou S. ~fa­
geíl:ade fe nomeaffé agui hum Guarda Môr da
faude, com fuperintendencia a todos os por..
tos deíl:a Coíl:a;porque havendo de fer admit..
t' dos, como tambem fe ordena, os navios ,
p eífoas .. e fazendas dos Inglezes, naõ coftuma
fer
DO P. ANTONIO VlEYRA. 303
fer a noffa vigilancia taõ exa.éta, gue nos fe-
gure do grande perigo. O anno tem trazido
a fo me, gue ainda fe te1ne mayor,fe as chuvas
que por e.íl:a parte começaõ, continuarem: e
nos vemos ameaçados no mefmo ten1po com
os tres açoutes que Deos denunciou a David
por hum peccado que naõ excedia de venial.
Naõ fey fe os noílos fobre as circuníl:ancias d:i
ingratidaõ merecem nome de venialidades.
Deos abra os olhos aos que taõ cegos efl:aõ
com os favores da Mifericordia,para que naõ
~xp erimentemos todos as execuções da Jufti-
ça. Ao Marques meo Senhor beijo mil vezes
amaõ pela mercê que me fas, cuja Peffoa e a
de V. Senhoria nos guarde a Divina Mage. .
frade como eu dezejo, e lhe peço, e Port1~gal
ha mifier. Villa Franca 7 de Setembro de
i665.

Capellaõ e menor Creado de V~


Senhoria.

Antonio Vieyra.

CAR-
I :- r
e .A R·T A.· Lxxxs
A V. R~drigo de Menezt:s~
ENHOR: Tamben1 eu qúe1~0 começar
pelo Ceo: e digo ciue v.1 a ei1rella no
lugar,eàs h':Jl·as, e.cõ.a. gra11deza, .eluz
admiravel, e mais circun"íl:àncias con1 qüe V.
Senhoriaadefcrevee tudo cõmunic:Juei a-Q Pa~
dre Çondone,, que he . Mathematiuo italia":'
.n o , e elle tamben1 <a obfe-rvou; e fegundo a
1

íua aíl:ronomia, diz que.he a ínefma Venus; a


:qual, ·pelo íitio em que agora· fo acha. com
o Sol ., efrâ c_h ea , e po.fiífo: fo m.oílira . do'1
·brada1nente mayor ciué "íi mefma ··e.rm·ou tro
tempo. V. Senhoria julgarâ fe eíl:a fua ra..
faõ he bem fundada, da qual eu naõ poífo
fàzer juiz o) e muito maís fendo~ epjc_pti~rada
à minha fé, que he foguir em tudo ,o parecer
de V. Senhoria. · ,
Vindo à terra; Nqtq.veis faõ as novidades
que V. Senhoria1ne:dit d~ mundo, e me perc ,
fuado, gue Dcos quer fem duvida hu1nilhar,
e acabar aos Olandezes. Sô nos faltava ago~
ra
. DO P. ANTONIO VIEYRA. 30;
ra que com a morte delRey Felippe fe con-
cluiíle huma paz ; Oll comprida tregoa entre
nós e Caíl:ella;para que defembaraçados deíl:e
impedimento pudeífemos empregar huma
boa, parte do noffo poder no Oriente; e ter
V . Senhoria iníhur11entos com que reduzir à
pratica as ideas do penfamento , e confeguir
os triumfos, qu~ t~mhem ~ntendo começou
eos a difpôr na eleiçaõ da Peífoa de V". Se-
nhoria.
As nova.s de Lisboa faõ lafl:imofas , e
mais q~e todas as que tocaõ ao noffo Ma~­
quês , e attenuaçaõ de fua Caza• . DiziaÕ··me
que começava a eíl:ar bem viíl:o do·Valido .,
n1as eíl:e defgoílo he mayor que tudo o que
p?de contra_pezar a graça dos. hqmens. D~­
nos Deos a fo.a , e a V. Senhoria guarde mui-
t os annos para oqne eu defua Providencia ef-
pero. Coimbra, onde jà. fico 15 de Seten1bro
de 1665. ·
Creado de V. Senhoria.
. ..t\ntonio Vieyra. .
-
· c4R...
306 C A R T A S

CARTA .L XXXI.

.
A V . Rodrigo de Menezes.

S
ENHOR: A occa!iaõ de que avizey a
V. Senhoria no correyo paffado, me
' ~em tomado o tempo de maneira, que
mal me deixa lugar de efcrever e.íl:as duas re ..
gras. Os aproclies fe apertaõ com grandiffi-
mo rigor, e naõ fey que fe pofla efpefar defta
viltoria J havendo taõ pouca occafiaõ para
tanta guerra. Qpeira Deos que m:t naõ fa:ça
quem no Ja faz. Efpero com cuydado are..
poíta. de V. Senhoria, e de todas as Ftbticias
queV. Senhoria puder colher, me iínporrarà
muito o roteiro, para faber como heyde nave-
gar em mar taõ tem pdl:uofo ' e noyte taõ ef-
cura.
Hontem foraõ os 20 de Setembro,e me ti~
nha ef-c:r1i:o Joaõ Nunes- da Cunha em carta
de 14 de Ag0.íl:o, que neíl:e dia ameaçavaõ as
eíl:rellas hum grande perigo neífa Corte, e
accrefcentava as palavras feguintes: O dia de
-._9 4.e Setembro he de _expeélaçaõ para efle R~yno,
- - ~o
DO P. ANTONIO VIEYRA . 307
ijlo he o qfe le nas e/lrellas: O Senhor dellas farâ o
quefor[eivido. !/. Paternidade gparde ~fia car-
ta,porq quero qfe conheçaõ os meos erros. Eu cuy-
doqueferà ofuccej/o no R.e)1no, mas podefer que.
fóra delle.A thequi as palavras da carta, a qual
eu moíl:rey logo entaõ, e todos nos admira...,
mos da fegurança daquelle rr1odo de falbr.
Naõ falta quem cuyde que he ajudado de al-
gum oraculo Religiofo da Cidade do Porto ,,
ou vizinhança fua;e como todas as cartas gue
tivemos do correyo,concordaõ em que o fuc-
ceífo de Alemtejo foy aos nove, e qu~ o ini-
migo vinhá intreprender huma praça, e que
~fhe torna1nos a artelharia, e muitos prifionei-
ros , e que o encontro foy' dentro e fora do
Rey-no : por todas eíl:as circuníl:ancias fe en-
tende que as eíl:rellas , ou oraculo fallou ver-
dade no .p1~imeiro progn-oíl:íco , e affin1 fe te-
me <JUe f!Oífa ter fido no fegundo , e Eºr eífa
tençaõ fe diífe-rll.Õ hontem n1uitas miífas, e fe
efpera corn mayor cuydado a certeza de ter
paífado aquelle dia com tanta paz de Lisboa,
faude e felicidade. da Peífoa de S.. Magefiade
-como havemos rnifter. O certo he, q_ue- n.a
prefença , . e:, na .auzencia aco1npanha .as nof.-
fas armas a, felicidade de feo General, de que
~q ij · dou

tn
308 ·e
A R T A S . .
dou a V. Senhoria o para.bem, e ao Marquês
n1eo Senhor, cujas mãos beij'o fen1pre. Deos
guarde a V. Senhoria rnuitos anno con10 de-
zejo. Coimbra 21 de Sete1nbro de 1665 .

Capellaõ e menor Creado de V.


Senhoria.
Antonio Vieyra.
\

CARTA .LXXXIIG
Ao Marque's . de GouVea.

e
l .

O M mais goíl:o dera a ·v. Excellen...


eia as boas Pafcoas, fe ·efl:ivera livre
.d o fuíl:o em que me tem as novas def..
t e correyo. Fra ncifco Paes Ferreira mas deo
de V. Excellencia ficar .com grande melhoria
do accide?te, e o Graõ Duque de. Tofcana
me aífegurou muito mais o haver V. Excel-
·lencía livrado de todo.operigo ;- mas o meo
cuydado naõ [~ fàtisfas athe me naõ confiar
com
DO P. ANTONIO VJEYRA. 309
com toda a fegurança de que V. Excellencia
eíl:â inteiramente reíl:ituido à faude que taõ
neceífaria nos he, e entre todos os creados
de V. Excellencia nenhum mais que eu deze-
ja. Eu hà mais de hum mes. que padeço mui-
to; mas todos os outros fentimentos ceífaràõ
fe o correyo que efperamos, me trouxer efl:a
alegre nova; pela qual offereço a Deos todas
minhas oraçoens e facrificios. O mefmo Se-
nhor guarde a V. · Excellencia como Portu-
gal , e os creados de V.· Excellencia have..
mos mifrer. Roma 2 8 de Março de 1670.

Creado de V. Excellencia. .·

Antonio Vieyr~.

CAR-
310 CARTAS
'

CARTA LXXXIII.
Ao 1\!larque's de Gouvea

T
ODOS os correyos me trazem me-
lhoradas novas da faude de V. Ex-
cellencia, com que tenho quanto
dezejo, nem quero outras .d o mundo. O de
Italia efrâ todo quieto,fem'mais novidade que
_nafcer hum filho ao Graõ Duque : que efte
moço fe deo mal fora do terreno de Floren-
ça . . O Papa v!ve, o.Cardeal reyna, e a.m bos
ó fazem bem , porque hum excede na fanti-
dade , outro na prudencia : e tirando os CJ Ue
dezej aõ a fucceífa.õ daquelles lugares , todos
os mais eíl:aõ contentes. De Fra.nça fe aviza
ter embarcado o '.Nuncio, ciue jà deve eftar
• .. en1 Portugal , e naõ rnuy longe a Duqu~za do
Cadaval , porque me dis F rancifco de An·
drade partiria de Parí's athe 1 5 ou 10 de Ma·
yo.Efpera-fe aqui por horas o Bifpo de Lans,
e ouço fe queixaõ em Portugal, que o noffo
Ernbaix:ador naõ applica à fua pretençaõ to.,
das as iníl:ancias , fendo que ten1 feito , e faz
as
DO P. ANTONIO VIEYRA. 311
a.s poffiveis. Ser o modo das Bull~s util e da-.
nofo, fe he implicaçaõ, he confeGuencia de
outra , c.iue efl:ou bem lembrado, advertio V.
Excellencia no feo voto. Eu naõ tive parte·
ndle negocio, como em nenhum outro : mas
jà tenho dado a V. Excellencia conta do gue
em Roma fe julga, e tem eíl:es olhos ·por fi o
e.íl:arem 1nais perto. l\1ais te1no nos negocios
de V . Excellenciaos noflos confelhos, que os
de Caíl:ella. Deos guarde a Excellentiffima
Peífóa de V. Excellencia como dezejo, e o
mefrr10 Portugal e creados de V. Excellencia
havemos mifrer. Ro1na 6. de Junho de 1670D

Creado de V. Excellenci~.

Antonio Vieyra.

CAR..

/ t.<j
'
· CARTAS
-··· . . .... .
''
. '

Ao NlarqtJte's de Gouvea0
DE que V. Excelle·ncJ.arrne fes.mer-
. cê, recebi'em Iode Nove1nb.ro ·c om
a Relaç.aõ, e duas copias i'n clufas,
que he o mefrrto que .m andanne v·.Excellen--
.cia as Proreci~s com. o Cõinentó. Naõ fey o
que diraõ agora os que fundàraõ ta.ó grande
n1aquina fobre huina prefunçaõ fallivel. O
que ine fe,s ri.t; e triumf~I-, 1 muito (. cqmo faço
em todos os fucceífos de V . Excellencia) he a
fi1nta fi nceridade, corn que ·v . Excellencia
confirmou o feo.voto, ç impugnou os conK
trarios'_, fó. com ref~rir a confulta, parece~
Ies , e refol uçaõ deffa Corte.
Ella he coufa admiravel , que os Co nfe~
lheiros de Caíl.:ella fe confonnem tanto com
os noífos , e que tenhaõ taõ pouca chriíl:an·
dade e política, que quiferaõ para o feo R ey-
no' e [ó para elle' o que nos lançamos do
noífo.
DO P. ANTONIO VIEYRA. 31 3
r10ífo. Mas nem por iffo entendo fe daraõ por
mais carregados n a~· fuas confcieocias, no
que tinhaõ tranli~ h1.ntado paraH.olanda e ln~
glaterra, naõ fendo roe:Jos o que te1.n vi ndo
para Italia, º 11:.de .q1:1an~o fe foubc a rdolnça~
de Portugal, fe diile: E o peor hc, que fenao
haõde de confeífar os Portuguezes ·diflo. O
negocio de Inglaterra no." ajuda a acabar de
_entender, fe quizermos, q uanto nos deven1os
fi ar de correfpondencias, ne eru efperan-
ças fundadas mais que em Deos fen1 nós. 1""'c~
mi n1uito que D. ·F rancifco de Mello frgu.Hie
o brio de fe querer fahir da Cot:te ; mas em
quanto ella fe acõmodar com a diffimulaçaô,
parece que obra1·a taõ prudentemente, çomo
nôs em nos prevenirmos de tal poder, e opi-
niaõ, que fe rios naõ façàõ defprefos fen1 te-
mor; e melhor fora naõ querer introduzfr
no mundo huma novidade d~ que naó po-
diaõ nafcer fena(, monftros , nem qllem·os a
confelhou devia de os ap.tevet;e tambetn terâ_
prevenido o remedio, para que naõ tnorraõ
fem baptifmo.
O Refidente dl:â jà melhor; e e_m d\:ado,
que lhe diífe ·eu hoje, que importava ou tôf·
nar a adoecer, ou fahir a publico; havend-0
1óm. !. · Rr tres
1 {l
314 · C A R T A S
tres n1ezes que eíl:â em Italia, e dous em Ro..
ma. lvfas em Portugal fe efquecem tanto del-.
le, gue fobre lhe eíl:are1n devendo fete meza-
das, athegora nem·1nezada , nein ajuda de
cuíl:o lhe tem vindo, e athe carta lhe faltou
nefre correyo. "
Efpera-fe ·a prenhes de França, e ainda
que hoje correr·aõ novas de alguma perturba-
çaõ co·níideravel,. ·naõ fe lhe dâ credito. As
gazetas de Ancona dizem que o Abbade de S.
Germa n trazia ajuíl:·ado o [ocorro de dous
terços Portuguezes e liga entre França e Por-
tugal contra os Holandezes na India. O
fecreto deíl::a negociaçaõ me faz prova ...
vel poder fer aífim.· Quanto aos apparatos
Francezes fe re1n confervado impenetravel-
1:

mente às• int.elligencias· de . t~do o mun-


, do.
· · Aqui naõ hà novidade mais, <]Ue o come-
.ç at a exe1 cer com o non1e de Jefos o Embai-
xador Jefuita : a caza dizem que ferâ·muy
1ulida , mas todos de roupas largas; fendo
certo que naõ fal~arâ hum Miniíl:ro taõ Re-
ligiofo de coa cor dar a aut horidade com a
modefba . .Deos guarde a V. Excellencia em
todos -os tempos, como o noífo Reyno, e os
. . Orea·
DO P. ANTONIO VIEYRA. 31) .
Creados de V. Excellencia havemos n1ifrer.
Roma 19 de Dezembro de 1670.

Creado de V. Excellencia.

Antonio Vieyra.

CARTA LXXX.V.
'

.Ao Marques de Gouvea.


XCELLENTISSIMO Senhor. Fal-
toume nefte correyo carta de V. Ex-
cellencia e nern por iífo me tenho por
menos favorecido, por que fey ciuanto tem-
po levaõ as vizitas , e quam precifa he a pã.ga
deitas dividas, de que jà coníidero a V. Ex...
cellencia mais defempenhado. ·
Aqui .n aõ hà novidade. Pot toda a fema-
na que vem, ~e diíie hontem o noífo Embai-
xador , hiraõ os Bifpá dos com as letras aber._
tas ou cerradas , fobre que [e fizeraõ .duas
Congregaçoens; e ainda 'rtaõ eftâ t~foluto:,
Rr ij me·

(,'
316 C A R TA S
n1elhor fora naõ intentar ,que naõ confeguir,
nem dezejar os fins, fenaõ fe haõde aplicar
os meyos. Acabada eíl:a funçaõ; e naõ ha-
·vendo Capellos, porqu~ efi:es que haviá eíl:a5
providos, parece que fica pouco que faz er ,
e n1enos que efperar. .
Fez o Vice-Rey de Napoles Embaixador
de obediencia as fuas entradas com grande
oíl:entaçaõ, eu as vi, porque paífaraõ pela.
11o·f.L1 porta , fendo taõ pouco curiofo que
n1oi:re.m Papas, e fe coroaõ, e nada vej o.
Mais .__gôíl:o de ver em Roma as ruinas e defen-
ganas do gue foy , que a vaidade, e varieda-
de do que he, e com iíl:o n1e parece o n1un do
muito eíl:reito, e a minha cella muito larga,
[ó me falta poder -dif-correr c-0m V. Excellen-
-cia fubre i-íl:o hutna tard~, a.·i-nda que\flaÕ fo~
J"a à vifra das moletas de Tejo_, nem das hor-
•t is de Santo Antaõ. Hoje c-omeçaõ as mafca-
.ras do Carnaval , em <j-Ue eu digo as tiraõ ,
porque verdadeira-mente moftraõ .que naõ
faõ por dentro, e que parecem -por f.ó-ra.
Muito nos ma.'1oonb
'º fucoeíf<il da Rainha
.que Deos .guarde.) e muito mais ·O confelhe
'lae.a tl-ôj-K.oa meter e·m tal per.\:g-o: -de cà.o v1,
e·efcr~vi_ , -e·.Jio:je-r-ecebi .crarta-em-que dando-
me
DO P. ANTONIO VIEYRAº 3 rt'
me a nova, me chamaraõ profeta, mas fem-
pre o Íerâ, quem de mâs refoluçoens. prog-
noíl:icar femelhantes fucceífos.
N efta Corte eftâ o Padre Aptonio V as de·
q fou antigo amigo, e o pudera fer de 1nenos
tempo a eH:a parte pelafen1elhãça d afortuna:
Em Lisboa o trataraõ corno inconfidente ,
fendo hu1n dos mais finos Portuguezes de
q11antos fe prezaõ deíl:e nome; V . Ex cellen-
cia deve ter baílante informaçaõ de feos ta-
lentos, e a melhor de todas ferâ a experien-
cia, que toda a rn erc~ que V. Excellencia lhe
fizer, a ~eceberey muy particular.
Eu fi~o trabalhando na Canonizaçaõ dos
:Martyres,que por muitos,e Portuguezes, tem
encontrado .grandes embaraços na einula-
çaõ, com tudo efperarnos que antes da Paf-
coa nos dê S. Santidade efras ·boas feíl:as , paf-
fadas eUas,entrarey em confulta com a minha
v.ida , efperando a r efoluçaõ do que tem o lu-
gar de Deos, porqu~ naõ ciuero ter parte nel-
la. Vejo que fo inclinaõ a que fe efcreva, e fó
me inclino a naõ ter ne1n rnofrrar inclina-
.çaõ, e a fazer o que me ordenarem que he a
mais feg:ura razaõ,que -po:ífo dar a Deos ciuan-
do me pedir conta, para (1ue íó trato de n1e
apa~

li
- -- ---.

318 ·. ·e . ~ R T A S ·. . .
-aparelhar, e com 1íl:o a tenho dado de 1n1111 a
V . Excellencia quanto de prefente poífo.
Deos guarde a V. Excellencia muitos annos,
·como o noílo Reyno, e os Creados de V. Ex-
cellencia havemos miíl:er. Roma 31 de ja..
neiro de r 67 r. ·

C,reado de V. Excellencia.
Antonio Vieyra.

CARTA LXXXVIe
.Ao Marque's de Go-ucz1eae

E
XCELLENTISSIMO Senhor : efie
correyo que trouxe deíla Corte no·
vas do novg defcobr.iméto de minas,
me enriquiceo com duas cartas da maõ de V.
Excellencia, que beijo mil vezes por tanta
merc~, e honra, e dou graças a hoífo Senhor~
que V. Excellencia paífe com a f aude que ha..
vemos miíl:er, ainda que entre'neyes, de que
athegora aqui eframos livres,
Acar.,
--
DO P. ANTONIO V'IEYRA. 319
A carta em que V. Excellencia dà os pa-
rabens ao Senhor.Embaixador de h~.ver bota-
do de parte o negocio dos Bifpados, lhe quis
moíha.r ante hontem, mas fendo jà dadas as
onze pela rr1edida dos noifos relogios, ain-
da o achey na cama r'efrituindo ao !ono [ co-,
mo me diíferaõ J as horas que lhe tinhaõ
tirado as comedias do Carnaval, que aqui
fe faze m de noite, e digo que fe fazem , e
naõ fe reprezentaõ , porque o que fe vê ,
mais parece obrado pela .natureza, que fin-
gido pela arte , mudando-fe de repente os
edificios ,e m bofques , a terra em mar , os
penhafcos em Jardins , e o melhor que if:
to tem , he , que tambem o podemos v,er
GS Pa:dres· da Companhia nos no:ífos Serni-
harios) onde eíl:e anno fe·recitàraõ pelos n1ef-
mos efrudantes duas famofas hiíl:orias, huma
d.e Santa Ita ;··outra de Santo Canuto; nas
noffas quarenta horas fe reprezentou pelo
mefmo artificio. a batalha de Jofué, com o
Sol parado , que foy COt;!Za mageíl:ofa, e mui-
to para ver , naõ fe vendo mais que os re·
flexos dos lumes , que era.õ mais de feis mil,
e tudo iíl:o he o que poífo dizer defres dias
-a V. Excellencia, o de1nais fr o houver, hi-

l'B
~-........~-~-~~-----------··~-------

3 t~ C A R '1~ A S
r" no Proprio que cada dia parte, e naõ a.ca ..
ba.
Das novas do Norte terà ·v. Excellen-
da nefia Corte rnais frefras , e certas noti~
c·as. As de Levante ptom.ete1n grandes no-
Yidades neíta primavera, porque os appara-
tos do Turco,affim da. terra,co1no maritimos,
íàõ formidaveis. Huns .tàllao e1n Malta, ou~
tros etn Sicilia , e efra voz fe tem por mais
prova vel. Hum grande Princepe de Polonia
a.ggra.vado de fe lhe negar certo poíl:o que
pertendi::t , moíl:rou quam pouco merecedor
era deile, com fo fugeitar ao 'I'urco, e lhe ju...
rar fidelidade. Tan1be1n fe paJfáraõ à Tran-
íilvani~ alguns Senhores, e Magiíl:ra.dos dos
ide U ngria , e de Croacia fe efcrevem cou--
-zas femelhantes, que aqui naõ daõ muito
·cuidado. Caza huma fobrinha. do Cardeal
Nepote co1n hum Princepe da Caza. Urfina ,
Gue ferâ herdeiro della , e para hum feo Ir·
maõ Frade de S. Don1ingos , dizem que ef-
tà deíl:inado hum dos primeiros Cappel!os
que vagarem , m-as os Eminentiffimos paf-
['lndo muitos de 70. annos, fe defen.dem da
·acatura galharda.roente.Sua Santidade Deos
o guarde efl-:1 muito bern difpoíl:o , e pro·
mete
DO P. ANTONIO VIEYRA. 32r
mete guardar o depoíi to por mais tempo do
que fuppos a concordia dos Eleitores. He
de vida innocentiffima, e mais benernerito
dos Santos, que muitos de feos Anteceífo-
res juntos. Efperamos a declaraçaõ dos qua-
renta Martyres do Brafil , n-1as he a 1nayor
difficuldade ferem muitos. O noiTo màlogra-
do Princepe cà anda eftan1pado nas ,gaze-
tas , e @e boa maõ me efcrevem , ,fe repete
a viagem .de Salvaterra. Daqui por diante
começaràõ a fer mais pontuaes as novas Çe
Madrid ·, em que fernpre ·efperó <?OID ancia
muito boas de V. Excellencia. Deos guar-
de a V. Excellencià muitos annos . como
àezejo , e os creados de V. Éxcellencià
havemos mifter. Roma 14. de Feverefro de
167 1. ,.
1 ,

··Creado de V. Excellencia ..
Antonio 'Vieyra.
,

· Ss · · .J.. CÁR""'
I 7 'I
ÇARTA LXXXVII.
..LÍO Márque/ de GorJvea~

E
XCELLEN1"ISSIMOSenhor:dizem
(1ue parte ·a manhãa hum correyo,
e pofi:o qué'o proprio, e ordinario,en-
tendo·· chegaràõ nos mefmos dias. ., naõ ciue..
r o deixar de folicitar ós favores de :v. Ex~
cellencia por todos , corno em ·toq()s os ef-
. 11 . •
. pero. ·,. . . . 1~ _ ·: 1 t' .

, . Emfini · , ,va~> nerte defpacho :' fete Bifpa...


d0s, a .fabr...t :. Guarda , Lisboa , Coimbra,
Leiria·, Goa , B.ahía , ·e hwiI ·it1 partibus
para o Capellaõ 1vt:ôr com titulo de Hipo-
nia , e ferâ o Senhor Luís de Soufa dignif-
limo fi1cceífor d'e Santo· A,gpíl:inhd. ,Lem-
brame hum dito d ElRey D. Joaõ ao Ca.-
1

pellaõ Môr Manoel da Cunha, n1as naõ que-


ro faz~r mqnor ia dos IJ10r,t os, porque me naõ
cauzé'm as fauda~de s, que íne naõ n1erecem os
1

vivos. Eítes faõ os Bifpados da primeira pl a-


na, fobre que ferà muito para ouvir o Arce-
bifpo de Evora, poíl:q que fe1n raza·Õ ; mas
... · · como
- ,.,-

DO P~ ANTONIO VIYERA. 313


conio falla taõ alto, tambem ca chegaõ as
fuas queixas, como chegaõ os feos votos.
Vaõ as Bullas abertas, e ainda naõ fey como
fe concordou eíl:a duvida: ouço que diz-em ,
Dileélofilio Regi Portugal!it:e,e que mais ab ai-
xo fe nomea D. Pedro Princepe, e Governa-
dor de Portugal, que, fem embargo das re-
gras em meyo, fe deivem entender como fub-
íl:an.tivos continuados. O que tenho por cer-
to, he que os termos, quaefquer que fejaõ,de-
ve1n fer muito honoroficos, e muito fem ef-
crupulo , pois o Senhor En1baixador os ad-
mittio, tendo trabalhado- neíl:e ponto , como
nos demais,tanto a Portugueza no valor, co-
mo à Romana na deíl:reza. Se elles entendem
huma couza , e nos entendemos outr'l, cada.
hum cu· darà o que lhe eftiver me~hor. V aõ
poderes ao Nuncio para f~grar os primeiros
Bifpos, com affiíl:encia de duas Dignidades ;
dellt~ fe naõ fabe mais, que h_a :er partido de:
Pans para a Roc~ella , e fufpe1tarfo em Ma...:
drid que dl:ava occulto naquella, Corte,. mas
ainda que eu ·renho taõ grande ·ópiniaõ d.a fua
grandeza, .naõ me parece taõ pequena çou-
za o 1?uncio de Po.r tugal, q~é fe pude{fe ef-
1: ndei: nella.Ifto he,Senho"r,tud o que poffô
Ss. ij dizer
324 C A R T A S . .
dizer de prezente , n1ais por fallar. com V.
E.xcellencia, que por dar noticia~ de Roma ,
guando V .Excellencia as ten1 mais ver,dadei-
ras e puras da mefma fonte , onde eu acudo
poucas vezes , porque naõ tenho fede, nein
v4zilha. Deps guarde a V. Excellencià mui-
tos annos,como dezejo, e con10 o noffo Rey..,
no, e os creados de V. Excellencia havemos;
miíl:er. Ro1na 21 de Fevereiro de 1671.

Creado de V,. Excellencia.


Antonio v·ieyra. ..

C.A R·T A :LX:XXVIIle


; Ao Marques.de Gouveap·
, • 1

-
~

E
XCELLENTISSIMO Senhor: pelo
correyo ordinatio , e pdo . proprio
_ que defpachou ~Senhor En;ibaixador
pouco <lepois,efcr~yi ant~s.de haver.recebid
-~tima de V, Excel!encia 1 que como fem-
pre
no. P. ~NT-ON JQYV1EYRA . 32)
pre digo., e nu~1ca (aberey bafrantem~nte de.-
darar, h e o unico alliyio de.íl:e de.íl:erro, co- '
m o, o unico argumentp de que ainda naõ ef...
tou d·e tó.dp '(~pulta<loi, pois,viyo na me.ma-
ria de V ·. E:Kcdlencia. · ·
· D~qu1 naõ ha que a.vizar, mais ciue hirem ·
ndla·oçcaíiaõ 'trc;.s,Bifpados, Braga, Porto ,
e Alga'rve. .D.o p·rimeiro ,1e ul·tin10 dou a V.
Excel}en(:ia· Q ~pa.toabcm, e naõ fey fe mais d9
1

ultim9 ·, por<]ueJey quanto corre a V. Excel-


lencia pelas veas mais a amizqde, que_o fan-
gue. .
D~ Lisbo1~ nàÕ fe:ãv-J~a cqu.z,a _q1te tenha
nome, inais qa prizaõ de D.Francifco de Li-
ma,e o ~lJiviQ da de D~:Francifco de Brito,an1-
bos por culpas ultramarinas . . A defgraÇa de
Villa Franca, me diz D. Theodofio, foy muy
antevi'íl:3:, e qúe entre os brados do:s quepe.-
cliaõ fe.naõ fizdf.e a jornílda' .de Salvatetta,
entràraõ tambem. os requerimentos do Juiz
do.P.ov'o. Da letra.julgai:n.'V .'Rxcellenkia,que
tambern· em Roma fe pa!faõ muitos frios. 0 .s
cobe;rt9res p_e p~pa aquent~õ cà mel.hor, que
os de ~;a. shid ·, r.pfts naõ faõ tau la1~gos ~ue fe
fte,nd,a_õ,a t9dos , ·coni .tudo efi:aõ co~t~ntes
os·povos> porqu~ ·fe ~ira--·menos lãa ãs ove-
.· · lhas )

I 7 /..
3 t6 C A ,.R ; T A S . ' i ._
,"t

lhas, que em outro .tempo. Jà. reprezentey a


1

V. Excellencia a ami~ade que profeffo com


o Padre A ritonio V as ,, 'e as obrigaçoeins ~ue
lhe dt:tvo, em qua!1to<na-~~ canço a Y.. Excel-
len~i~ com_outros ~emoriaes: o c1ue digo ;
porque hontern 1ne pedió hum para. -v-. Ex-
cellencia ham Frade Cafrelhano. Excellen-
tiffimo Senhor·, D_ eos guardç a V ..Éxcellen...
Citt; como Portugàl, e' ~os creados <le V :Ex--
cellencia havemos mifrer~ Roma ultimo de
Fevereiro de 16.71. · · ·

· Creadó de V..Excel.lencia
'

Vieyra.
'

." ·J Aii~Q.tiio

-e ARTA LXXXIX.
. Ao Marques. ife Gouvea~ ··

E
XCELLENTISSI~10 Senhor-: man 00

dame'V ~ Excéllencia que me _erpende


11~_correfpo.n~encia, e naõ- po~le ha"'
ver para num preceito, nem de máyor hbnr:i,
nem
.
DO P. 'AN'TONI0 VJEYRA. 1
32.7
nem de n1ayor·goít-o ;. pofto q1ie efpero tenha
a cxp,erienc:ia moftrado a V .Excellencia, que
naõ por emenda de algum defcuido, mas por
conhe;c in1ento;dç. minha obsigaça õ; tenho .e.u
fatisfeito.a )e.fia em todos ·os correyos, naõ f6
ordinaâos),)m-as,, extrap.r dinarios de que hey
1 ,

tido' noticiá, e fe naõ chego à teJ!a de todos,


he pQr~ue a 111inha,cella no meyo.de Roma:i
eílâ muito longe da~ Curia.. ..· . ~, -
Nella_·naõ ha.<mt1~â .oovid.ade pub.lica
mais, ·q ue haver fallecido. o Cardeal Gineti
com ,taõ a p.re!fada morte, .com.o larga vida,
porque..fen.d o ·efla der"87 aritf0~ 1; dnviJa . ..fe sue
1

çhegaffe a ter huma hora em que foubeífe


<lue morria; rrias viv.eo fempre como que1n
fabia que havia de morrer. Vagàraõ por fu.a
mo.Fteihons lugares ,que.logo íoraq Jn·ovidos
com :O ac,erto· ciue Sua Saütidade c.oíl:uma ,
fac cedendo no. Vicariato de Rom:a o Senhor
Cardeal Altieri. A vacancia. do Capel.,lo tem
mhi't~s ·~: e 1nui110,@ignós op711ofitores; .a quem
fe ·enten'de ·naõ ferâ muy . agradavel a vinda
elo Senhor .Bifpo de Lans que fe.efpera brev.é-
mente,. e ,dep{)is ddle a do Duque feo Irmaõ,
Embaixador extraordinario.
Ifio-he t!Udo o- que ky de Ron1a, mas tam-
·r · - - bem
3·2s .~ L s...
' Ci" ~. Jl>'IY:A .,
tambern darey ~L V 1 Excéllerrci~ . nova:> de
1v1adrid:; que aq1Ii chegàra~» - de :Lisboa·, ontle
ainda o Limoeiro parece que dà fruto. l-{a
.aqui hnma carta de là., em que.:· fe di·z que em
hun1 encontro matàraõ, a V~ Exaellencia cin-
. co ~acayos ~ e hum cocheir'o , e accrefcenta ~1
(gazeta de Genóva, que·efra _n ova foy receb.iqa
.e m Lisboa com indignaçaõ. A dita carta· he
de ,2.9 de Ja!_leiro ,' 1nas fdy Deos fer~ido que
1

. ti veífe eu a· de que V . Excellencia me fes mer·


cê de onze de Fever.e iro, e outra de Fr~ncif-.
co Ferreira Paes da n1efma data; com que fo
tirou a fi.1bíiíl:enda : a e_fra quimera. De outras
·me a vizàraõ, que naõ refiro a V .Excellenda,
porque naõ .faõ tanto -para rit , ·e certo que
me puderaõ _deixar viver e'm Roma, os que
naõ quizeraõ que e.u viveífe. €m Portugal. O
tempo os poderâ defenganar, ainda que nem
iífo efpero, porque nenhuO'.!a couza defenga-.
na a quem quer enganarfe. ·
Ouço que vaõ ·nefra barcada os Bifpados
de Evora, Lamecro, Vizeo, e Funchal.Dos de ..
fe
mais negocios , os ha , terâ V. Excellenc~a
as noticias por humà e outra fonte, daquel·
las, de que naõ bebo; .; . · .
Paífey dl:es qni~ie di~s quafi fempre em
cama
DO P. AN.TONIO VIEYRA. 31·9
cama de h:uma difluxaõ, de que. tenho pouco
menos que perdido hum ouvido, e, fegundo
o que fe ouve , naõ he grande perda. O que
dezejo, he "9ue V. Excellencía paífe com a
faude q ue havernos mífrer, e que a purgara-
dical o haja fido de maneira, que ficaífe V.
Excellencia livre de toda a«:iueixa. "
A Canonizaçaõ dos cinco Santos eíl:â di-
latada athe o Domingo de P aftor Bonus, co~
que a dos noffos Martyres e(perarâ athe .ª
Co ngregaçaõ àa femana feguinte, fe naõ fo-
breviet outro ·ac.cidente que apror.ogue mai~.·
Deos guarde a V . Excellencia mui tos annos i
como Portugal , e os creados de V .. Excellen-
cia havemos mifrer. Roma 14de Março 4e
1671 .. . .

'
Creado de V , Excellencià&
r
·.

·~ntonio . Vieyr~ . .
; • • 1

:.. · . .
..... .
~

Tt LCAR··
CARTAS

CARTA XC.
Ao Ma~que's de Gouvea.

E
XCELLENTISSIMO Senhor: Dou
infinitas graças a Noffo Senhor pelo
fuíto de ciue nos livrou eíl:e 'correyo ,
C{Ue era igual ao meo cuidado, com 'a s rioti-
~ias que Jeyo neíta, de que V. Excellencia me
fe z mercê, e efpero que a n1oderaça0 , com
CJU - V ,Excellencia tem refoluto negar ao go-.
íl:o os regalos defia; e da noffa' Corte, ferâ
n1ais prezente prefervativo para naõ pàde•
cer taõ fen!iveis mortificaçoens. O voto.;: co-:.
mo jà 1ne lembra o roguey muito a V. Exce1-
lencia, e agora com o zelo e confiança de
taõ an.tig? _creado ~ e com ? sxperie~cia de
navegante, torno a pedir com rnayor iníl:an-
cia -, naõ fej a voto , como os das tempef·
tades, pois ella f~y taõ grande.·
Aqui ~naõ ha~ovid<\de máis que o matri-
monio da fobrinha do Cardeal Patraõ com o
fobrinho do Cardeal U ríino herdeiro da-
tinella Caza, aos quaes ante hontem lançou a
-, ' :· : ben ç-aõ
DO P. ANTONIO VIEYRA. 3 31
bençaõ Sua Santidade; com que o noífo Pro-
teétor ficarâ mais entrado em Palacio, e na
graça, e nós poderàõ fer mais efficazes os au-
xilias da fua ..
O Senhor Embaixador ,_me diíferaõ em
fua caza, que fecretamerite hia mandando
embarcar algum fato , e que fazia contas
com os mercadores, que o alfifrem, que f~õ fi-
naes de algull_l_ movimento, de que naõ te-
mos 1:1oticias por outra via.
. A manhãa fe celebra a Canonizaç~õ dos
cinco Santos Confeffores , e depois della fe
entenderâ com muita applicaçaõ na dos 40
Martyres, que ainda naõ efraõ livres de ini·
migos. Deos guarde a V. Excellencia com a
faude, que eu lhe peço em todos meos facrifi.,.
cio·s , e o Reyno, e creados de V. EKcellencia
havemos miíl:er. Roma 11 de Abril de 1671 ~

-· r
Creàdo de V. Excellencia

·Antonio V.ievra..
L t 1 •.

.
• r

Tt ij CAR-

I 7<1
33i C A R T A _S

CARTA XCI .
.d~ Marque's de Gouvea.

E
XCELLEN'".('ISSIMO Senhor ~: Eíl:as
cartas, de que V. Excellencia me faz
mercê, tem trocado ~s effeitos·~ por...
ciue coíl:umando trazer o fi?ayor allivio, ha
n1uitos _correyos que multiplicaõ .pezares.
N aõ quizera ver o achaque. taõ contumâs, e
o~ accidentes, ainda que menores, taõ.repeti"'
dos;e dezejàraeíl:ar muy perto, para que ~meo
amor receitaffe·a V ,Excellencia hum fe:creto,
CjUe em femelhantes circunítancias he o .mais
feguro e o mais prezente. Senhor-, ~ o qu.e.im·
porta,he viver,; efe Madrid fe naõ accommo...
dar a iffo, feja em outra parte ..Como creado
quetaõ verdadeiramen~e ama a V ..Ex.c ellen·
eia, naõ quizefá que V. Excellencia [e acon..
felhàra neíte cazo com a fila generofidade,
fenaõ com a ra (aõ. O mayor ferviço que V.
ExceUencia pôde fazer à Patria, he confervar
a faude e a vida para a honrar, authorizar,. e
go'vernar muitos annos. Naõ me deixa o meo
.. __,,_- fenti·
DO P. ANTONIO. ~VIEYRA. 3.33
fentimento, e ·o m eo temor hir por diante
neíl:a materia, e fe V. Excellenciâ o julgar
por demaziado, lance toda dta culpa ao n1eo
coraçaõ, que toda outra dor fofrera mais fa-
cilmente ,- que as penfoens da que nem imagi-
nar fe atreve. Efpero que a Primavera neffe
1ugar fej a máis con"íl:an e que neíl:e, onde tem.
rigores de Julho, ainda que hoje, fendo as..tres
da tarde,naõ vejo-o·que efcrevo.N aõ ha outr_a
novidade deíta banda., poíl:o ciue hontem me
<liffe Guem tem 1obri gaçaõ,de.faber do mundo,
que à Çandia-.erã.õ ,cheg~das cincoenta gran-
<les Ç;ilês_de .Co·níl:àtitinopla com fequitp de .
outros appara.t0s '; 1que fe foraõ certos, deve".".
raõ fazer , i;nayor ·rumór. Deos guarde a Ex-
.cellePJtiffima
. .Peíloa de V.. Excellencia mui-
JOS ;a,nnos,com ·a faude que Portugal ,e os cre-
ados,de·v. :Excellencia havemos m.ifrer. Ro-
ma t. 5 de Abril de 1671 •
.-. ;... :~ ..... J 1 • ')

. '
J

~ntonio ·Vieyra.

' .
CAR-
.. , ,

C.A R TA XCII.
~

. • 1

XCELLENTISSIMO Senhor: D u~
pli.cadamente rnechegàraõ as novas,
primeiro . da: conhecida melhor~a, e
depois da inteira faude;con1 que, a Deos gra..
. ças, tem V. Ex'célLencia.·entrado nos meze-s
que n1ais no Ia ·aífegµr;aõ. ·Eíl::as novas fi m ,
-.que; .p.ódem fa.rar 1os ouvidos,fem temor de que
-nenhumas ou.fra.s os faç.~õ adoecer.
- ·P arte ·eíl::e ·proprio ' com afegunda-·parte
das Bullas, que foy muito mais facil.. de·con..,
-ceder, que de concordára:primeira.E certô,
·que efi:e fó argumento baftava para fe entenc-
der na noífa terra o pouco que fom'os _à ma-
dos neíl:a. Qual dos dous exemplares_nos po-
de eíl:ar melhor~ Ouv.L;.e vi q~e l~ lhe ,chamà-
raõ moriíl:ruoíidade; cori10 fe o naõ fora hum
Rey com exercido , e fem nome. Ifro fe quiz
conco-rdar, e affim ·o rezavaõ as Bullas,que de
nenhum outro modo podiaõ hir abertas' en 4

tendendo o Pontífice, e feos Minifrros, que fe


no>
DO P. ANTONIO VIEYRA. 335
nos fazia huma grand·e" gr·a'ia, com'o ag ora,.
entenderaõ, que em a renunciarmos pos fa-
riaõ offenfa , e as confequen:cias o moíl:rà-
,.,
rao.
Aqui naõ ha Iibvtd.áde ntais , gtte éorrer
eíl:es dias, que o mar kdriatico andava infef-
tado de muitas galês do Turco , ciue he certo
faz grandes prevenÇ:oen.s· nos pQrt~s 111ai's vi-
zinhos a eíl:as coíl:as , e em di:íl:ancia de me-
nos de vin~e legoas.
Sua Santidade- celebrou ante honrem o
<lia de fua Coroaçaõ , ciue cà fe chamaõ os
di:_s. d~s m-~~~}r~s, P?rq~e . .~od~~ lhe íignifi-
cao que ,V ~p:t mfütOS rerneJhantéS, e he O' m_e -
flO S quefedezeja; mas a difpoíiçaõ ·em <]Ue fe
âcha , promett.,~ que lh~ naõ darà eíl:e gofto
em m uitos· ~nnos. · · ·.
Fes-fe a pdmeira Conp;regaçaõ, que cha-
maõ J?:r.epa~atori~ dos noffo~ Martyres,durou.
quatrq hor~f CQfQ , ~ran~e rontr.overfi a :. di-
vidtraÕ . . f(f Q,S y9tos, gos Cp,nfuJtp..i;es ; tnas ef-
peramos ter os dos Cardeaes , <lue f áõ os de-
cííivos : e <]Ue Sua Santidade naõ ne.gue efra
gloria afro merecimento, cujas provas fe fi-
çaõ...:c.orrobqraJjldo: 'ª mayor qifficuldade he
ferem quarenta P~dres da Companhia ., e
· ,muitos
6 CARTAS
muitos do Confultores de outras Religioens;
einulaçaõ que c.hega ao-Ce , naõ_póde fer le-
naõ muito grande. Deos guarde a V. Excel-
leaci:i muitos annos,con10 Portugal,-e os cr e~
ados de \T. Exeellericia havemos miíler. R o-
m,r1i, cle ~'layo de 16jr .. :

Creado de V. Excellencia. ·
. -
A toriio Vieyraª

Ao ·.Lo/larque de Gottt:i'ea . .

E
XCELLENTISSIMO Senhor: Com
o proprio dey conta a V. Excellencía
do pouco q;u~ elle veyo bufcar e le~·:i,
e do n ai ,tamhem pouco,que entaõ feoffe re--
ceo~ A~ora temos a Corte no campo, onde fe
va.õ os .Emin ntiíiimos defpedir delle, athe as
mu 'lçoens j fa efra ~tambem o no.fio Emb.ti•
xador m i li"l'!e de negocios,doqueconfidê-'
ro
DO P. ANTONIO VI!YRA. 337
roa V. Excellencia enco1nendando fe1npre
~ Deos, como devo, o bom fucceífo de to-
dos.
Os rmnores ·do .Turco eíl:aõ . em Iilen~
Cio, mas naõ o caíl:igo dos que fe fiaraõ na fua
vizinhança. Mandou o Emperador degol-·
lar ao Conde Nadafi:i em Viena, ao Con-
de Serin, e ao Man111es Frangipani em Ne-
oíl:at·, e en1 Poífonio de U ngria a Francifco
Romi~)peífoa tambem de ct;)nta,alem de mui-
tos outros de menor calidade ,que juntamen..,
te foraõ juftiçados , e entendc-fe, que tam-
1

be1}1 ,_ pa~~~r,à a exe~tJçaõ a algumas cabeças


do genero f~:11inino; A.s caufas , dize1n , _qu~
fe eltamparao, e nao todas, pela enorn1J.d.a~~
de de algumas. . .
- Aqu1 agora nos tem em fufpenfaõ a jor·
nada e exercito de ElRey de França a Dun-
querque pela vizinhança de Flandes , Ollan-
da, e Inglaterra, fobre a qual fe difcorre
com in~icios . paffados e. prezentes muito a
favor da Fé. Se affim for , ferà acçaõ ver da...,
deiramente chriíl:ianiffin1a. .
· Eu fico como fempre aos pês de y.. Ex-·
cellencia, cuja Excéll.entiffima Peífda Deos
guarde . muitos annos ~ como Portugal e os
:Tom.!. 'Tv creados
- .
3~ 8 · . · C ·tA R T A· S · · , -
c~~ados de V. Exce1Jecycia··havemos miíl:er·.
Roma z. 3. de Mayo de 1671~

·- ·Creado de V. Excellencia.· ·

Antonio Vieyra. ·

>eARTA- '
.
xc1V . .
Marques de. Go11vea.
. '

~ Ao

.
S
E algum dia ~aõ .teve lugar o Si va-
les,'bene efl, ego quidem valeo; he na eíl:i-
r.i lidade deíl:e correyo .. Da minha faude
.naõ o poífo affirmar com tan·ta. certeza, co-
mo porem a tenho da de V. Excellenciafem-
pre de bem em melhor, he tudo o que· poífo
tlefejar. · ·
Eu ,Senhor, prêguey em Roma dous Ser,..
moens , porque -era:, p Governador de Santo
Antonio hum filho do Senlior Embaixador
,. a quem todos d.evemos efta obediencia por
' -• .. fua.
DO P. ANTONI'O VIEYRA. 33·9
fua peífoa, e mais pela que reprefenta, ainda
que n-em a Ílnagem , nem o fanto haj aõ feito .
milagres por mim. -
Jà diífe a V. Excellencia qYe me naõ
atrevo a pn~gar em Roma .11 porgue os Ita...
Jianos naõ entendem o que digo, e os Caíl:e-
lhanos querem entender mais do CjUe digo;
e aílim ficou eíl:e anno. Santo Antonio fen1 -
Sermaõ, naõ faltando neíl:a Corte Portugue~
zes que poderiaõ . naõ fe ha:ver efcufado, pois
tinhaõ menos juíbficada caufa. Eu fico tiran-
do em limpo eíl:es e outros Sermões no pou..:
co. .tempo que me dâ lugar a deplanda dos
Martyr.es .. ~ aõ fahiràõ à lµz fen.1 primeiro te-
rem a approvaçaõ de V. Excellencia, com
a qual' rne poífo prometter a do mundo. Deos
guarde a V. Excellenci'a. Roma 20. de Junhe
de 1671.
Creado de V. Excellencja

Antonio Vieyra.

·vvij CAR.-

I &' J
' CART:N.S..

C A RT A .: xcV.
.~·_Ao Marques de .Gouvea.
.. ...

E
. (" ~

·XCELLEI\TffISSII\fO ·Senhor: Ef:..


· erevo a V. Excellencia do ~- Purgatc'""
rio ; taes faõ- asi calmas com gue aqui
fe p~ffa, de que tambem riaÕ'· confideroJivre ·
Madrid ., poH:o que·com mayores tlefenfivos.,
O que for in1elhor patta o eíl:abelecimento da:
faude de V. '.Excellenc.ia, he o que detlejo ao
tempo, e · ~J ·que peço~ à.. C'autela .de V;Excel'"1
lencl.
·a • . J ' . '" 1 ~ r r ) ' ._ ·. '
1 - ••
, ·, f 'i

·_ LaíHmofo foy o incendio ido .Efcurial, e


de .pe·ores ,confeqnencias a pei·da de Panan1à,
que aqrfr fe confola con~ a efperança, de que
es aggreíió.res fe ·cõntentà:ràô ~cc1n o faque..
.A.os c~frellianos ~ -a nos quizera mais ·na-
vios, pojs fe naõ podem unir comoutras po n-
tes Monarquias taõ divididas. Por avizos·de
Fland~s. e Inglaterra fe fabem aqui novas de
Goa e 'Bombai'm de athe fim âe Novembro
ào anno paífado, em que nem era chegado o
Vice-Rey,nem navio algum da fua conferva.
· ·-_, Gaf-
DO P. ANTONIO -VIEYRA. 34z
Gafpar de A breu de o conrta da fua pro-
moçaõ, ou mudança para eíl:a Refidencia,
com os ordenados de Joaõ de·Roxas , e copia
àa ~arta em que S: A. ordena ~o Marques das
Minas lhe.entregue os·papds, e ~fe recolha à
fua caza, o que dizem farà depois da refref..
c:ada·, p<:>rque o Rdiâ'ente fe' pa:ífava d'alli a
5uinze dias a França com fua caza athe 1Vf ar-
1elha' e promeite_efpérarem ltal.i;t as muta-
çoens. Efpe1·afe _o Proprio com a ultima xefo ..
lu9aõ fobre o ponto das: Bull~, em. que pare-
ce naõ haverà difficuldade , como nunca a
tem o}inenos , depois âe ·concedidp ' Q m·ais.
Afiim.Je cuidá ç~ ,.mas de la fe efcreveo ac_er...
to Miniího noífo , qué mais fabe ofandeõ no
feo ,,que o fizudo no alheyo. O que fuppoem
1

eftc ditado, comprehenderà V .. Excellencia


t.nõlhor do que eu fey dizer. Deos ·guarde . a
Ex c~llentíffima Peífoa: de·V. Excelle'ncia co-
mo o noífo Reyno, e os creados de V. E:xcel-
lencia have.mos n1ifl:et~ Roma 18 de Julho de
i67l·· l <
'
Creado 'de V. Excellenciá ·

_Antonio ·Vieyra.
··- CAK~
r

e A R: TA s_.
tGAR:T A XCVI·.
Ao Marq~te's de Gouvea...-
1·i. XCELLENTISSIMO Senlior:Nun·
c:i me deraõ cuidado os negocios de
\T. Excellenda neffa Corte, porque ·
quando naõ tenha.ó a fortuaa que depende d ·
vontades alheas, fempre teraõ muy fegur~ ·
do acerto que eftà fóra dafua jurifdicçaõ. A
.f.tude de V. Excellencia he a que me deo-cw•

<]Ue,r.
dado' do qual porem me livraõ as novas
ExceHenciá me fa.z mercê, que d.limo
infinita1nente, fem ferJifonja Italiana, e~
m.o he a palavra. ·
N aõ-chega o proprio, e fe he por vir muy
e rregado de dinheiro , trarà o que fe ha mi..
iler. O ~{arques das ~1inas entrou acompa"'
nhado de deudos, e fahirà [como jâ .fe diíid
neífa Corte ] acompanhado de deudas ; fe
bem he tanta a fua pont11alidade, que lhe te"'
nho ouvido muitas vezes naõ hade· ficar de·
·endo nada a ningu~m, e eíl:a feri para - º"'
ma a melhor gu.arniçaõ das.fuas librês.
.. .- .
DO P. ANTONIO VfEYRA. S4.3
J?or Ollanda vieraõ novas da Chin~ que
0 Emperador havia de levantar o deíl:erro
a<i. Pregadores Catho.l icos:e q tinha admitti-
do a taõ gr3:nde fam·iliari~ade tres Padres da
Com panhia, que hiaõ quaíi todos os dias a Pa-
lacio a fazer lhe demoníl-raçoens afrronomi-
cas de que h e müito affeiçoado. ] à iíl:<? faô
principias de levantar os olhos ao Ceo. ._
V. Excellencia·aceite eíl:as novas ec clefi-
aíl:icas; pois a paz dos polit'icos naõ dà por
efia banda ma teria a outras. V . Excellencia
me naõ di!fe nàda do nombramento do·Pa·d re
Confeifor ;- eu digo a V. Excellencia ciue jà
e[tâ. pre fentado a S. Santidade. Deos guarde
a Excellentiffima: Pdfoa de V. Excéllenda
e orno dezejo, e os creados de V. Excdlenci(]
havemos miíl:er. Roma 1 de Agoíto de 1671_..
\ .r:i .
. "
.:

.
,
Creado .de _V, Excellehc.ia.

.A ntonio VieyJa.

CAR-
3
C~ ll 'l' A . $ ~

'

T.A xo·v 1 · 1

.Ao Mar'que's de Gouvea.


XCELLENTISSIMO Senhor : Ef..
. cr vo eíl:as poucas regras furtadas_
a.os direitos, porqae fica.mos com a
meya parte da Cafa, fazendo os exerci cios ef.;
piritnaes, e nefte co~u:urfo de oraçoens em
que . s minhas podem participar o ~ered·
menta das dos compnnlieiros, me naõ eique-
çoi de as offerecer, como fempre faço, pe a :...
. a, efi:ado, e felicidade dos negocios de -;-~
ExceHcncia.
Os d qui me parece fe da.5 por cone ~:T:
dos : tarda o Proprio, e em todos os ord·na·
rios fe diz ao Senhor Embaixador que por el·
le lhe efc ·evem. O Refidente eltarâ cedo e .t
talia., vem por A vinhaõ embarcarfe a Nifa,
ou Monaco, mas pr tefta que fe naõ hai!"'
dedarar por Relidente a.the naõ receb~r asª'"'
1

judas de cufto , porque aqui quer começar.!.


entrada. , cômo tambem o Senhor Embaix ...•
do.r a fahida, pela fatisfaçaõ das dividas. Af.,
fill\
DO P2A·N TONIO V:IEYRA. ·34;
rtm que aresfrefcada hade. vir de ·P ortugaJ•
.o Br~ç.o . de S. Ni.cql.ªo,dt; que efcrevi~a.V:.
Excelle,nci4, :ainda ~dte.~ .ul tinios ·d.ias conti:.
nuav a ~s fangrias,Q.lei_ra Deosfejaõ par.afau-·
de uQiverfal do c.orpo; na Cab.e.~a naõ te-m
feit o ·aballo algum. o ·eos guarde .a Excelleri-
.ri.flima Peífoa: de V ..Ex€ellencia com,0 deze:-
jo, e os ·creados de \T. Excellencia hav.t'r1~s
miíler. Roma 12. de Setembro de .167r. "
,.,...
. .
.C ·r eado .de: V ..·Excellencia . '!
' '
'• .

.A'r\tpnio Yieyra. ·
"' • ' ' ' 1

., , ·~ :· • . < "

.·.Ao .Marque.'s d~- Çôu.veft.~ ~:


l!·t' ~ • ,,. '
• • • .. • ~ J

] ~: XCELLENTISSIMO Senhor ·: Jà·. ~e.


,. v.ay conhecendo em Roma ·a entra~
. ela do inverno .pela . ~ardança ;.do$
cor;teyós cl,e Madrid; •n1.as -os do mefi:rü> in-:-
v-.erp.o. CúiúeÇaõ Jà .a J~ze.r. feos;, effeitos no~
e .'lbrf! .. f. . X~.'· . · me.o~
·346 ·.·. 'C A R T A S
meos anno~; co1n as· repedçoens dos acha. .
4ues.. E{Hmarey que a differença dos de V.
.·Excellencia ~ ~a~a tao ~-~ande no~ te1hpos~
·~ue todos feJ ao pata a faude de V. Excel-
:len cia os mais accomodados, e que V. Ex..
·cellencia os paffe taõ livre de toda a quei·
·xa , que eu o eíl:ej a tambem de todo o cui-
<tlado.
O Padr.e Confeífor em que falley a V~
Excellencia, nao era o do noífo ~rincepe, fe~
naõ o da Rainha~Catharina,o Padre Everardo
:que vive neíl::a Cafa com parte da authorida-
.de de Inctuiíidor Geral , .e toda a modeítia.
qfe pode,dezejar em hum Religiofo da Com""
panhia, que nos edifica e dâ exemplo a todos.
··A no~11ina que di.zi?-, he. para G Capello de
Cardeal , fobr~ que hzeraô txtraordinárias
inftancias o Embaixador e mais Miniílrós de
Cat\:ella na promoçaõ· <]tle .houve qe dous
Capellos qu.e dtavaõ vagos; e por naõ def-
goíl:ar as _Coroas, os co?fervou .s. Santidade
1n peltore, onde ainda eltaõ; naõ fe du<Vídan-
.·do., que os· eleitos nefra forma (ejaõ o Bif.
po' ide ·Laol\, e. o Irmaã do Duque de Gra·
yfria . ., qtte cazou com a fobrinha .do Car~
.~eil }.l,atr-aõ ; he R.e!igiofo ~e -S. -Do1ningos;
. . . . n.".lo'"'
\_:,...... ... . . . .. . ~·
. DO P. ANTbNIO VItYR.A. 347
naõ tem 24 ~no.os de· idade; mas alem dos.
merecimentos da calidade, concorrem nel.-
te os de grandes virtudes ' nao fendo a
menor, dizer-f:·que naõ quer o Capello .. . ·
Os Gentis-homens do noífo Embai-
xador tiveraõ hum encontro dia do Trium-
fo, da Cruz com as carroças dos CaFdeaes
Rofpilhofi , e Chífi, em que defra parte fi ...
caraõ alguns feridos, e o Cardeal. Chifi fe
pôs em armas; mas no mefmo dia ficou tu-
do comp.oíl:o por n1ediaçaõ do mefrno Ein•
ba.ixador de Caíl:eUa. O Senhor ;Marques
das Minas fe portou com grande authorida-
<le , cortezia , prudencia , e valor , porque
tanto CJUe foube do cafo , e que os feos crea-
tfos haviaõ . excedido, os defpedio, e man-
dou ter com·priment0 con1 o Cardeal Chiíi
{ cuja carr.oça foy á. ínais offen4ida ) e no-
r.uhHco eíl:evct a fua caía defarmada , fem
admittir. ofFerecimento de Francezes , nem
Sabo.yanos, nem· do· mefmo Embaixador de
Caíl:eUa, que lhe offereceo fua famil-ia,, e to-
da aNaçaõ: e no mefrno dia, no mayor fer-
vor das p.revençoens contrarias , fa.hio feo
filho a paff'ear nó campo·como coíWmavà-, . 1
e- -0. tu.ais que Vi. Excellencia lera em ·rel'a.;;i,
Xx ij çocn$
. -s-" . ~I A R· ·T A ,, s · ..
e~ r -
34
? ··•

ç.9eris mais miudas , á que eu naõ· poffo-ef--i


t.e:nderme. '- · ·· ·
J -O · Reíiden~e eíl:â em Leorne·, mas,o P.ro•
prio . naõ : ac-ab~ ~e chegar ; ·é para a entra··
d~-~ e fahida he neceífario que elle venha ;,
e.._que tr-aga. Tem-fe por fe1n 'duvida· o ro.m-:
pim~pttO do. Turco cpm Alemanha; mas cui-·
da-fe .naõ ferà .eíl:e -inverlio. ·ElRey de Po-:·
lon-ia 'eíl:â.em ca-mpânha contra os eoífàç:os; '.
C(:Hreo que . lhe dera huma grande :rotta »
n1as : a~:· novas daqnellas partes naõ -re co.íl:u~
.1p.aõ . orer -agui fenaõ 40 ·terceiro' c6rr-eyo~ ,
__. __ _A·. fdl:a de S-! __ Franci(co de Borja fe f'ts:
~-p feo · dia com-· oyta\'ado ·; o
apparato ·hé.
r.iquiffimo ,-·_mas . naõ : de~materia · que ·fedei-'
.r.eta·,- ouro ~ fohre carmefim·, ·e fempre ·che"'! ·
g.;anl:-·a.arm·a:ç.aõ a -trinta miLcruzados. ·da·nóf. ·
fa- -mo~da -';· mas -fervirà ·ao. S~nto, mais que
~:eíl::a .o ccafiaõ, porque,excep,to; a mulica t u-
do o m.ais ficarà em cafa. J;íl:a he a modef-
tia dós Padr~s da Companhia de Roma, ·<]ue
naõ 'luizeraõ competir cõ nerihúa das outras
&eligioens. Efperamos ·a ·relaçaõ das feíl:as
~e . Madrid , , nas de Lisboa naõ· fo falla pa~·;
~.arr~, -as _de Alemanha foraõ honradas com·
à >pre(ç-tfça dp . E~perador qµe_fo.y n~ . pro~.
,~, ,, :: ,_· : .~ · ciífaõ
DO ~· :J\1~T.ONIO . V:IEYRA. :349
dffa? ·' e_co~. a da Emper atriz que . aífiíl:io
com o ,Em perador ao Senriaõ , e ambos co-
meraõ ·no noífo r~feirorio . Morreo ·em Si-
cilia- apreífad~mente 0 Cardeal Vifçonti ,
com -cujoCa·peilo-fe poder~õ acedmod:a r·as·
differenças , e fahir do peito d.e· S. San tida~
de os . Cardeaes~ ·De6~ guarde .~a 'Excelléniif..:
fan a Peífoa de V. Excellencia como o1·nof-
e
fo Reyno , os ·cre_a_dos de. v~ _ Excellénçi~:'
have1nos mi!ler. Roma 26 'Cle ·setembro de
1671. . ..

.. -

-'
·vie ,Yra:_· ·
'

Antonio

.
"
,- - i'


., .
.
. ·; ; . '\. ~ )

: C.AR...
31)0 , ·r C A -R T . A ·S .'

'f A. XCIX .
.
~ Ao Marque's . de ·Gouvea.

E
XCELLENTISSIMO Senhor:Toda
efba: femana fuppils naõ. . podia: efcrc~
ver a V .. E:x:c:ell.encia neít,e correyo,
e agora faço efta:S .duas regras' para que a
falta dellas naõ accrefcentem mayor fuppoft ..
çaõ ao achaque. Com a entrada· do inver..
no carregou a ddluxaõ da cabeça fobr e hu--
ma hlàFt~ -do ro{ho,, <.te ma~dra·- q~e fo raõ
rieceffarias ventozas farjadas , e outros re-
medias violentos , fem bafrar-em para des-
fazerem a inchaçáõ , e tirar de todo as do..
res com ·que (\inda fico , , fe bem melhora-
do, hav~rido, paifa-Oo cm cama todo o oy..
tavario de S. Francifco de Borja. Vay o
raconto da feíl:a , e naõ ha 011tra novidl-
de. O Senhor Marques das Minas fe an da
licenciando do Sagrado Collegio, e fe en..
tende que terà em Roma poucos dias do
mes feguinte. O Refidente fe efpera atb e os
dezanove defte. Da-me cuidado a faude de
v.
DO P. ANTONIO VIEYRA . ..3ft-
.V. Excellencia , mas efpeto iia6 fentirâ jà
-efie anno a differença d-0 clima ., e aflin1
.peço a Deos com todas as minhas infra.n•
-cias. . Deos guarde a. Ex,ceUentiffima. Peífoa
<le V. Exte,lencia como o noífo Reyno e os
-creados de V. Excellen'éi~ havemr>s :inifterr
Roma 10 de Outubro de 1671.

Creado de V. Ex:cellencía.

Antonio Vieyra.

CARTA C..
Ao Marques t/e Go11vtaf)
. XCELLENTISSIMO Senhor: .Eíl:as
. . faõ as unicas regrat_g_l.Je efcrevo nefte-
correyo por naõ fafta·r à unica obri•
gaçaõ , ainda que taõ mal tratado como de
hontem a efta parte 1ne acho. Tragatne Deos
m:elhores riovas di faud~ de V; Excdlencia~
. Mo~
-;ri . , - <i ·Q" A . R ... T'-- A ~ S,~ -:- 'T

-... . .; I\1otteo .hontem..0 Car.d eal C'eHi . , ·-que


foy hum dos que efbveraõ proxirJ10.s ao P n...
li-ficado ; e ta1nbem · corn~o . a üwfrna nova
.do. Gardeal Pallaviciho l1ue eít'â.. en1· BQfo ..
n-ha -, 1;:_f6 fe verifiça :dt;:i.r em perigo ; 1:om
que. haV..ei:à Capellos ~àíl:antes para fe fafis ..
· ·azer aos intereífe~ mais pqd~rofos . : .. ~ .o.P:L-
dre Everardo poderà exercitar o novo car".'
go de ~1?J:>ai,x<idor . fên-~ o' 1~.epa,rd d<) lra'bító1
que naõ fó dizem efl:â v_e ncid0 , mas com
grande app~<?.VaÇ:aÕ e applaufo dá Cardeal
P atr ao.. , \
~
. : .."\
O :rvíarques Embaixador fe parte dentro
de dous ou tres dias , e entendo o terâ V.
Excellênc.::ia po~. ~ofpe-de nê"!Ia'Cort<:C O Re-
fide ritê ajuda !e naõ lt!.vau.ti:.da 2an1ía .;-' a ntes
eíl:â recafíido;q,úe fobre os fe~s annos he rui m
queda ...0 -emoaraÇo déD. FranCi(éo qé1'1el-
lo "em Inglàterra ·nós dj cuidàdo ~ ...e a ·mim
muito grande a .refoluçao a que fe inclina ..
:v-a , ·pois ~ap· eíl:af!Jos em t:~mpo de ptovo.;
.cai,_ ~u _de·darar mais)q.iIJ?igos; .e .fou én tal
cp:1e. ;me : daõ !Ilais, cui~aqo efias . :e ' OUt!as
éou~a. ~ qµe a JJ1il;1ha /eb~e .. ·. - · , ·
;·. Jà ,dey -<:on~a a V ..Excellenci.a .que f~ ef~
~~:vaõ- ~!·ª'~~~iµd~ 1 ,: e .Po.nd'? el!l; · ~i_d_e..tprr~~
, . -+~. ,.. , • 1mp.reu .
DO P. ÀNTÇrNío·v1EyÍtA.· _ 353
impre:!fàõ !!tlguns·dos meos· Se1:müehs; ten-
do huma das lingúas ·a Caíl:elhana; tenh9
noti cia que fe trataõ de reíl:an1par os q?e -neC.
fes Reynos andaõ divulgàdos , e ferfi err~
peyor qu·e o priméiro e fem utilidade de
que1n tómar eíte empenho. Se fotfe facil a.
lium ereadó de V. Exoelleniia· ·tirarme hünt
1

pr ivilegio par~ que em nenhum. l,ley_n o de


Efpanha. fe. poífaõ ·imprimii' obr·as·.1ninhas,
na forn1a em que fe coíl:uma conceqer aos
=Authores, .ppr ·efpaço .dos d.es·annos,que ef.-
itaõ· erri u~o ;' kriá ineice ínuy particular g~
V. ExceJleric!~ n1e _ m· an~ari.~ fa~er, e por-
que fey que·,peçô -eft:à~a V:; Exte!lencia, a naõ .
encareço mais. "' ,_.
· ~

De Mác~o·:chegàr.aa càrtas efcritas nef-- .


te m efn;l.o -. anno em que fe affirma o recebi-
mento âo ·noff0 E-mbaix11dor com extraor...
àinada benevolencia' e nunca viíl:os. favo~
res do . Emp·era~.qr ·da. China , liberdade a
todos os Chriíl.:aos , e grandes outras efpe-
ranças ·de ílorecer aquella Igreja e o noífo
comercio, que tambem efl:â livre. He a car-
ta. de hum Religiofo da Companhia Alemaõ,
vinda por via de Olanda à Roma em me ...
nos de onze mezes.
-:.Tom. !. ·- - Yy ·NaQ
J 9o
C TA ·
' a~ cuide que p deífe efrreVC"r _ t ;
m11s o fa.U r e m V. Exi.:ellend de n.J ..
~~r nlodo na - ' deixar de me. tlar alen-
t1 • D s çrua.rd a Ex eU o iffi a P ffi
· . E .t;tllen 1 ., on1 º' noffo Reyno e
• S· r ~d d \r. fu:~U.ern.:iaha~·em-0s mH:
·ter.: · oma 7·. de Novembro de t671.
1

A eRe nlom nto me diz.en' he certó


fit: . P:.idre E er rd-0i d~! nomea o ,. r ;i..
·~" p · de Ed ffa na. Syi' a com ohedie ia de
~.. ·~~:.t ~lo unpe .iirnento dt> quarto. Y ~
DO }l. A TONI·O ViEYRA:

CA.R ,

Ao fllfarques de Gouvea
XCELLENT'ISSHvIO Senhor :· E .;...
mo eu muito que o in.ve~no de ),!a '
drid naõ defcubra taõ mâ cara co...
tno o de ~1na, em que as eh .vas e o~; friG ·
tem fitcil ranedit>, mas athegora fenaó ten
achadq para -o~ rayos com qae fr.equeJ:11 ·e•
mente nos vizita. , e 'Cô-filO OS ll~tOS detíl:a ter-
ra faõ taõ revetenciado-s -do-Ceo, hemayo
o tem nr que :a.'CJS cabe a iS piq eao. .
O Ma1-ques l!.mha'ixâdor partio aos dê;g
<lireiti1ra a L!orne , h ve o ·.tt1a. d-ad·
vizitar ào Graõ Daque por feo filho D.
joa.õ. ·Sahio em ·J?om tempo , rnas feguir~
fe iogo n1uit~ trabalhofos 'ias, e·n-aõ er·
1

eil:es os peores- , fe fe .-çmbra-r-donde fahio;


e pa.~a qncl-e vay. ·
O Padre Everardo ef\;â ia en1 1abito A-r ·
chiepi&6pail ; f obre o qu-al t:onfonr. .
tido da C'Ompanhia, com que nc~ · ed-·fic~
/ ,Y y ij. ~ant~
I . !
'.r .J::..
.'11 ~ U' , ' i-' ~·
"""'
1....J
A" ; R
,
.
7' ....~1\. .'S
wi R ":•
'

'
:;!} ,. ...1 1 ~ - 1 . - ~ • . ) --11..

tani:o neíl:a Cafa, como fompre fes com feo


raro exemplo. 'T'etneo-fe eíl:es dias que cer-
to accitfon1~e do Jyi:ai·qul~S de Aíl:orga t.he a-
preffa'ffte 'a reíl:ituiçaõ -;'-más parece ~que naõ
.''l-]Ue~· h~r ao . Ceo .fem. .paífa.r pe~o. purgato. .
·h:>: de . 'Napoles. '. 1 1 ~. • . .~ ,

~ Continuaõ en1 Inglaterra. as refi{~enci as


Cj_ ."e ·hem. d1.".Çl:-i1;raõ o, a1mor da.qi.ielle~ i:arente
n1ais ' Coro;i; que a Peffo~ de feo cu.,ü ha"".
ifo . .As ;·eíolnçoens mey~.s fo1T1pre ven1 a pa.~
·;n u nefl:.i~s extremos. fendo o .•~1~1e ·V \ ExceJ ..
\~fi ~·ü1 a,<:onfolha:va o.de m.afa conve· -quit~ta.
··id ;~21tcia 1' e 1naís fogura fam.a. 1. ; · · r ·
-· Efpera.n1os o parto deita pr~nhes {le
franç.a, <leque efcreve com affm.nbro D~
arte- Ribei 9. ·Se o tayo, ( con10 fo er;tt,epde)
ca:hi: fobre Olanda, qt't~ rnào era e~~ ·mos
gora prevenidos para a reíl:auraçaõ da Tn.,
día. Dou~ Padres que aqui chegaraõ dac u "l~
la parre.s , .dizen1 que t dos os Gentios ef-
"aná aEzados da infidelidade dos O landezesr
naõ fazem fenaÕ gritarnos de fua tyrania:
Efcrevo eítas e femelh1ntes noticias a J?ortu"'
gal -, e refpondel_!1-n1e que tud~ fe dizia ,
m~s .Que . naõ hà cabedal ,. e cu perco e tor-
no aperder. a. paciencia ji perdida , vendo
DO P. AI~TON~O VJ};YRA.· 157
os meyos que de prezente fe tomaõ para
nos fazermos ricos.
V aõ continuando as foberbiffimas cxe~
quias do Cardeal Antonio, e de prezente fe
fi cá fab.ri~an<lo neíl:a noífa Igreja h~1ma n1à-
quina que cufl:a da noffa moeda o n1elhor de
doze. mil cruzados , com que os herdeiros
pudera.ó cazar mui.tas Orfaõ.s e dai mayor
goíl:o a ..alma· do .defun~o. . Acaba a vida, e
naõ acaba a vaidade J E)Çcellentiffimo Se-
nhor , Deos guarde a Exc;ellentHiima Pe!{o::l.
de V. Excellencia como dezejo e os crea-
dos de V. Excellencia havemosmHl:er. B..9...i
ma -21 de Novembro de 1671·. ,

.-.C~ado de V.·E:xcellencia.

Antonio . Vieyra~· ·

"

l · AR~
/()
··Ao .Marque! de Go1Jvea.
'\

. . ..., ,. .

E
~

'

XCELLENTISSIMO Senhor : R.e.4


cebi a de' que V ..~x~~Henfi~ .' ~efei
mercê, -efcrita em 1 o de N ovemhro~
com a. relaçaõ, e duas copias inclufas, qt e
h o mefmo que mandar-me V.-E~ceUen.:.
êia ás profecias ~om o comento.·· Na.ô fey
que dira.õ agora os que. fandaraõ· taõ ~rmi'
de maquina fobre· hama prefunçao t~to .. 1·
liveI. O gue me fes rit,..e triunfar m~ito { co~
mo fuço--e:t\'t tôdo~ os fttú:dlos de -V. Ex-.
cellencia) he a fanta Íinceridade com que
V. Excellencia confin;:iou o feo voto, e im-
pugnou os cor;trarios , f 6_com referir a con...
f ulta 1 pà!ecer, étefoiuçaõ. de!fa Corte : eHa
he couza adrniravel, que os Confelheiros d
Caíl:ella fe conformem tanto com os nofTo:;,
e que tenhaõ taõ pouca chrifrandade e po-
lítica> que q,ueiraõ para o feo Reyno, e fó pa
ra elle, o que nôs lançamos do noffo ; ma5
n~ or iífo entendo fe daraõ pol' muy
car':.
DO P. ANT0NIO V!EYRA.' . ~59
C'Jftegados nas ft1as conciendas no qfo tinha
t ranfplantado.para I-Iollarida, e lnglaterra j

naõ fendo menos o que te.rn vindo para Italia,


onde quando fe foube a. refoluçaõ de Por-
iugal- fe diífe: E o peor he, que fe naõ n-aõde
~onfeífar os; Portuguefes diíto.. : . ,
O negocie de Inglaterra nos ajuda a aca.., .
barmos ele entender , fe quizermos ;. .quan··
to nos· de~en1os fiar de correfpondencias.., ~.
nem efperanç.a.s fiindadas Jtiai6 que tm. Déo$»
~ en1 n&J 'T en1i mrutQ fJM J;t F.randfco4'
MeHo feguHfe e bút) ti~ fe ·querer fahir da
Corte , nuts ein· ~ttanto ·et1e fe .ac::c .?:n1~dar
t om a díffi1nu1açao,cr~i1'<~ que.obrar~ taõ ptu:-
_dentemente wmo n.&s e1,n nos prevenir tle
f;al poder e opiniaõ , que naõ fe nbs Jaç.aõ
defprezm fem temor ; e ·roetho-r que . tu._d ·
fora haver feguido adisjuntiva. ., t.iln da CQ-P
roa , ou éta Re-ge·n da., e naõ qu,eret· intro~
ciuzir n-o mundo huma novidade de que 1 ai
podiaõ na:fcer fena:õ mo~n:ros , rn:as quem·
.os aconfelhou devii de ·os· arftever , tam""
bem te:râ pr~venido- orem. d'o para que na"':'
·s:torraõ fen~ baptifmo.. ·
... O Rdidente eftâ jâ ihell1or , e em eA:ado_.'
~,. .ite_lhe ~liff~ ~u hoje , que imporp1.va , ·O}l
_ . -~: ., , · ior.nar
I~.
360. · . Ç A ,. R · T A: ·s .-~ . -
~tornar a adoec~r ' _o u (ahir a publico,-·ha--
·vendo tres mezes que efrâ en;i I talia ~ e dous
(·ém R?ma , ~i.as em Portugal fe etgue~em
tant'1 delle , que fob're lhe efr::trerrí d.~ven~
,do fete mezadas , é_lthegob1 1n:en1 mezáda ~
nem ajuda. de cutl-0 lhe ten1 vindo , e a,the
·tartá lhe 'faltou nefr·e correb. ·
·' Efpera.-fe aprenhes cle Fran-ça, de que hoje
-correraõ nova_s de algufr!a i>erturbaçaõ con·
fideravel ., a que fenaõ ~à cr~dito. · .A~ gazetàs
de Ancona, dizem qu~ o Abba~e. cf_e S.'G et:-
'1ria,n . trouxe. ajuíl:ado hum ,foc0'rro ·.d'e dous
·terços· Portug11efes 'e : lig~ e!ltre_·~rrán\a e
1
.; ·

.; Portugal contra os.llollandezes ·na ln<Ha, O


~ fecreto .deíl:a_ negociaçaõ me fas pro-vavd
·poder· fer affim ,-quando o dos a·paratos.Fran...
·ce(es fe tetn confervado impenetravel_âs in""
-~ tellig6ndas de todo o · n\undo. · ". . .
.-:, '· Aqui ·naõ-. ~a novidade mais que' hav~r
de começar a exer.cer. com <o ·norne .de JEsL-s
ffEmbai,x adór ·dosJefuiias .; a Cafa dizem que
1

·~ fer-à :ti:my htzida 1 (.mas tod.ós ·de"'. roupas. far..


,., gas 1 fendo certo. ciue naõ· faltar~· ·hum. Mi-
niíl:ro taõ Religiofo de co~cordar~, à autho.·
,.rída.de ·c.om a inodeftj~\.: . .10 .1:fnvérn'o ~ i\the..
,g-0ra.· vay .rn;o4.er~90~ ~~os :. gu~~·'de a ~.. :.~ ..
: · · ........ ..
" •• .,.. •
: . . . . · 1
çe11, en"'."'
~J.1.
DO P. A:NTONIO VIEYRA. 361
cellencia em todos os tempos , co111o·Q noífo
Reyno, e os e.reades d,e V. Exceliencia ha're··
mos nlifter. Ron1a 10 de Dezembro de 1671.

Creado de V. Excellencia~

Antonio V'ieyra.

CA .R T A
..//o·Marque's. .de Go11,~veae1 ·
XCELLENTISSIMO Senh_or : Coro
meçarey eíl:a por onde acahaõ to-
das; dezej:tndo a V. Excellencia os
bons annos' .e muito melhorado~ que o paf-
fado. Bem me lembro que eíla uzança íe ti-
nha .jà. exterrniriado da ·noífa Corte, e per-
mittido ·f ó ;tós~ Janeireiros , mas como o no ...
vo Senado de Lisboa fe em prega todo en1
refufcitar antiguidades, €m quanto me naõ
confra ·do que ordeha neíl:a parte , permit-
.. Tom. 1. Zz tame
36 t .. . C. A R T A S . -
tame V. Excellencia, que o affeéto c0m que
dezejo a 'l. Excellencia todas as felicida-
des, figa deíta vez o r.:eremonial de Por tu~
galo velho, e verdadeiramente,Senhor, que
v.aõ os annôs taõ eíl:ere,i.s de novidades, que
fe o começaren1 huns e acabarem outros :i nos
naõ der efLi taõ ordinaria µiateria, naõ ha-
vera côtn qne encher hu1n quarto de pa-
pel ·, ainda que fe_ja taô pequeno como efte
Rom:aná. Os Embaixadores de Hefpanha
fe naõ n1udaraõ ainda, nem o nofio Re!iden-
t~, que j i ~orneça a andar por cafa , teve
a primeira audien.c ia do Papa. Iíl.:o , e muito
f ·io he o ,qu~ f ó hà em .~orna. , D~os guar..
de a "'if. Exçellencia, como os creados de V.
Excellencia haven1os 1nifter. Ron1a 3 de Ja...
·.neiro de 1672.

Creado d~ 'l. Excelfencia

Antonio 'Vieyra.

CAR~
DO P. ANTONIO .V IEYRA. 361

CARTA CIV. ·
Ao Marques de Gouvea. _
~ XCELLENTISSIMO Senhor: Me-
lhoradas novas me trouxe efre ·cor-
reyo, com que fiquey livre do gran-
de cui d~do,com que havia paffado efl:es quin-
ze dias , que en1 femelhante fufpenfaõ faõ
mezes largos. Os daqui ainda nos naõ d~õ
noY:is da primavera, em que tantas novida- _
dei fe efperaõ
As propofras do Embaixador de França
neila Corte bem moíhaõ o contrario do
que aífeguraõ , e fegundo huns avizos fecre-
tos que hoje vl. de Olanda, la fe defefpera
totalmente da paz , con1 que as prevenções
fuas e de Flandes fe apertaõ, altercando-fe
ainda fobre o Generalato das. armas na'Pef-
foa do Princepe de Orange, en1 que as Pro-
d ncias naõ eíl:aõ unidas, e coni a Paz de
Colonia. fal ta aqueHa efperança, e crefce e
temor. ,
O M an1foíl:o de França ainda naõ he
Zz ij ma-
19r;
364 e ·A R T,, A s ·
Manifefto , m:1s veyo à Rainha de Suecia.
Dizem contetn tres pontos prihcipaes. Pri-
n1eiro que ElRey Chriíhaniílimo lhe fos
guerra por fere1n os inimigos da Igreja Ca-
tholica, qae mayores danos tem feitoa os
l:ftados de todos os Príncipes Chriíl:ãos, cu~
ja fat'sfaÇ~õ e~l~ quer tomar, ·e lhe perten"'
ce por mais v1z1nho.
Segundo:que fem embargo do poder co:. t:
que fe achaõ f uas Armas , eíl:â difpoíl:o a · •
e itar a paz, fe os Olandezes quizerem -vii
en1 condiçoens juíl:as , e que eftas fejaõ .1
reftituiçaõ do que tem occupado a feos le-
gitimos Senhores , e aqui entraõ algumas
praças de Flandes a ElRey de Hefpanha ,
o- mares da Pefcaria dos Arenques a ElRe -
de Inglaterra , a India a ElRey de Port'··
gal, as Cõmendas de 11alta , certas Ciàa~
des a alguns Princepes de A lemanha &,.'.
Terceiro : dà a entender , que o m o~ e
tambem . a querer fazer eíl:a refiituiçaõ o
haverem algurn> de feos mayores concor .. ·~
do para a fua liberdade na guerra que fiz :
raõ contra H efpanha , com que crecera 0 à
opulencia em que hoje fe achaõ, fendo co ~
zà ia.digna , <- ue de. tais príncipim ·te nh~õ
·· c:recid
DO P. ANTONIO VIEYRA. 305
crefcido a eíl:ado, que prezumaõ fazer op-
uofiçaõ 'às Cotoas , r.e Republicas da Euro-
pa. Iíl:o he o l]Ue entendi da peífoa que vio
0 Manifeíl:o.
Beijo a V. Excellencia a maõ pela mer-
cc do privilegio, fem o qual me naõ acom-
rnoda:ey a fazer ·a irnpref!'aõ, porque naõ ~e
atraveíle outra, e fe imp1da o gaíl:o dos h-
yros , principalmente em Roma , onde a
differença da noffa moeda o faz muy con'-
<leravel. Deos guarde a V. Excellencia mui-
. tos annos _,como dezejo , _e os creados de V.
:txcellencia havemos miíl:er. Roma 30 de Ja-
adro de 167z.,

Creado de Vª Excellencia.

..
Antonio Viey~a.'
......~

t
\
C A ·R- T A 'S

CARTA CV.
Ao Marques .de G·ou1;ea6

E
XCELLENTISSIMO Senhor : Os.
· mefn1os_dias jà tnayores que trazem
\na.is de. preffa. as novas de V. Excel-
lenicia ' entend(l) eu. . que faõ a ca:ufa natural
1

,àre 1nas trazerem taõ melhoradas , con1 que


dezejo, que feja perpetua a prirnaV'era .
. . Muito he que o-Senho.r Marques das ]vfi ...
nas naõ tiveffe chegado a Madrid~ aos 13
de Janeiro , quando fe pro~ettia eftar mui-
to antes em Lisb-oa. !(pero que a. co.n feren...
eia que terà com V . Excellencia neífa Cor-
te, feja muy util às refoluçoens da noffa.
O que V. Excelleucia me dis , de B fe
impedir a publicaçaõ · dos moti".:os daquella
em qué V. Excellencia foy de contrario pa...
recer , naõ entendi fenaõ -depois que 11 em
h_uma c:,arta, ciue fe prohibira pelo Santo 0 1:
flcio certo _papel efi:ampado en1 lingua ca..
frelhana , en1 que a execuçaõ fe perfoadüt
com razoens politicas, as q,uais fe diz tam~
. . ,. · bem
DO P. ANTONl'O -VlEYRA. 3'67
bem foraõ cenfuradas na dita prohibiçaõ
pot impias , e .efcandalozas, e proximas a
herdia~ , . _
O -nm,ffu Rdidente teve a primeira. audi-
encia de s ~ Sántidade Domingo paffado ,
de que ficou muito fatisfeito. Tem toda_s
as preeminencias do ultimo Reíidente ,- CJUC
aqui houve de Hefpanha , e para as con-
fervar com decencia , necefI ta de fer me-
lhor affiíl:ido do que athegora .
.~ O Embaixador de França ficav a em Mar·~
fel ha , e h ontem correo , que eíl:aria aqui
dentro em dous dias. Se a gue.rra fe rom·
per , como fe tem ·par fem duvida, poden1
' fucceder occurrencias em que a authorida-
de de Hefpanha fe !Zonfrrvemelhor com Mi-
ni:íl:ro de capa e efpada ,, que de Mantele-
te , e eíl:a razaõ, que aqui he adv-ertida de
me
ffiU ÍtO S, alenta a efperança de ver HlUl-
tO ,cedo neí~a Curia o Senhor Marciues de
.Lic~e , poíl:o que a promeífa com que eu
diífe 1ne naõ defpedia de S. Excellenc.ia ,
n;..m era para e lÕ longe, nem para taõ tar-
de , mas D eos fa.be melhor cornprir as pro-
fecias do <JUe os ho1nens , podem comprir os
<lezejos. Os meos bem conhece V. Excel-
- len cia.
1

368 C A R T A S
lencia que faõ de animo, nem intereffado;
·.nem _defagradecido. Deos guarde a Excel..
.lenti!Iima Peífoa de V. Excellencia mui..
tos apnos, como-dezejo, e os creados de V .
.Excellencia havemos mifler:. Roma 13. dt
Fevereiro. ·de 1672. · ~

Creado de V. Excellencia

Antonio V ieyra.

.e AR:T A GVI.
~ · Ao Marq11é's de Gouvea.
·E XCELLENTISSIMO Senhor: Naõ
dou a V. Excellencia o parabem da
promoçaõ do Senhor Bifpo de Co
imbra : ao méfmo Bifpado f~ deve dar , e
a todo o Reyno. Naõ poderà ·S. A. fazer
inuitas eleiçôens femelhantes , mas fendo
unico o exemplar, juíl:o era .que fe puzeíie
em theatro taó publico, e para que da fonte,
· · o~ e
DO P. A:N1.0NIO VIEY!tA. 369 .
onde fe vaõ beber as fciencias , fe leve , e
derrame por toda a parte a reformaçaõ dos
cofl:umes .
. A tardança ·axgue pleito nas pertenções, ·
mas a vittoria aílegura, que na:õ podia ha-
ver pleito no merecimento , por efi:a mefrr1a.
caafa " efl:imo g_ue V. Excellencia eíliYeífe· .
auz. .nte ndla ,occafiaõ. .
Cà tàmbem tiven1os eíl:a. femana. pro-.
moçaõ ·de Cardeaes, hu1n em França, ou-
tro em Alemanha, e o terceiro na Caza U r-
fina , ficando d.ous ÍA peétore. Efperavafe que :
tarnbem fahiffem ndl:a mare o Senhor Bif~
po de Lans e o Arcebifpado, de Edeífa ,
mas o· vento que lhes faltou , fe dividio pe-
los Cervellos dos difcurfivos, que fempre .adi-
vinhaõ a peor pai:te. Tarda o En1baixador
de França , com cuja vinda fe prognoítica
alguma borrafca' mas o piloto he taõ def-
t1: 0 , que de tudo fahera fahir fem perder
viagem.
Chegaõ repetidos avizos das anguíl:ias
dos Olandezes na riniaõ de Inglaterra com
França , e· dl.fcorrem os Hefpanhoes 1nais
fizudos , que o l.ugar que Hefpanha deve
tomar para ver o fucceífo defta tragedia ,
Tom. !. Aa'a - he
toe
370 CAR'fAS
he o da neutralidade. Beijo a 1na.õ a V.
Ex·cellencia pelo en1penho do n1eo privile-
gio: parece que hc defpacho que fe naõ de-
Te negai· , quando naõ peço licenç.a para
imprüuir-? mas gue fe naõ de a outrem pa-
ra eíl:ampar o n1eo , ou· naõ meo, em meo
nome. Fica Roma toda em mafcara e com
os mais rigorofos frios, que jà rn.ais fe pade-
aeraõ nella. Deos guarde a Excellentiffima
l1eífoa. de V. Excellencia, como deiejo, e os
creados de. V. Excellencia havemos rnifier.
P,oma 17 de F~vereiro de 1672.

Creado de V. Excellencia

Antonio Vieyra~

.
:
. t CAR~
DO P. A 'N1"'0. no \'IEYRA. 37'l

AR A CVII .
.L1o Marques de Gou'vea.
XCELLENTI.SSIJ\10 Senhor : ·v ay
entrando a priinavera çon1 muito
..MiiL-- . melhor roíto para os Conezaos , que

para. os lavradores, naõ fem temor de efre...


rilidaqe' que fobre a do anno paífado [e te-·
me chegue a fer fome. Eu efpero que os
medican1entos app~iéados nella , tefritua.õ
a V. Excellencia a ta~ inteira faude , qtte
a dieta naõ pafie os limites da qüarefma, que
aqui fe paífa co1n mais fa~il difpenfaçaõ dá
carne, que dos ovos. .
";f odos os avizos de Flandes publicaõ, .
que_Cafiella ~em ratificado a liga com Olan-
q
da , e pofro a política d~ Roma feguindo a-
ciuella . fua ta,õ fabid1 maxin1a , enten:"
1
le que eíl:a dezuniaõ he' aq~e n1elhor pode
eíl:ar à Corte , os que a confideraõ com~
Eccleíiaíl:ica , e . com anirt10 mais zeiozo,
temeJn ciue feja el'n menor' Utilidade do Ef• .
tado Catholico , e augtriento dos 41ereges.
Aaa ij De
. .
37i C A R T A S .
De França com tudo fe entende que ao
m.enos por efte anno fe confervarà Caftel-
la na neutralidade; corn que ella, e feos A l""'
liados teraõ te1npo de verfe no efpelho da
fortuna , que darà baíl:antes ·tnoíl:ras de fi
nos pritneiros encontros. A repoíl:a de os
Ollandezes ciuererem reconhecer a fober a-
ni<:t dos lvfares à Inglaterra,_~ naõ ao Rey ,
nem ao Reyno , ·pareçe liçaõ dtudada nos
n1efmos livros_, con1 que ao principíoJ1os re~
plkou Inglaterra ; fe jà naõ for cafligo da ...
quella femrazaõ. Be1n creyo q .ue naõ pa-
receremos pouco g~ntil-hon1ens a eífa Da-
ma , e n1ais quando v·. Excellencia he o
retrato , onde a ar.te parece natureza. 1Vfui-
to ten1 que fuprir de prezente, fegundo ou·~
ç-o, o favor do pincel , e naõ me atrevo a
·~Hidar , porque naõ leyo fenaõ defcuidos , .
e defatençoe'ns , e feria mais utH perder a
:mernoria que aplicar o difcurfo. O Einbai-
xador de França fe efpera por horas-, , e naõ
acaba de cheg.a-r.~ Corre , yu.e o Cardeal Por-
tocarrero teve bilhete de Palacio , em que
~he aífeguraõ que hum_ dos dous Capellos
refervados in pe«Qt_o re, ferà dq Arcebifpo Em-
paixa;d~it" , e que affi1n .o podia fazer faber à
._, . Ra-
DO l\ ANTONIO VIEYRAG 3i'j
R ainha , e que fe efpera o E1nbaixador de
Franç.a para fe ajuHar con1 elle :.1 que por
agor·z <l0 a ft1a non-1ina ao Senhor Bifpo-cle
J...,ans , ficando refervada a de Portugal pa-
ra ·a rünóra promoçaõ. Se affin1 for, bem
fC poderia c,onfQrrnar com efia compofiçaõ
o Senhor Duqu ~ de Aveiro. O c1ue fobre
tudo de:lejo, he a perfeita faude de V . Ex-
cellencia, cuja Excellentiíii~a Peffoa Deos
guarde rrmitos annos, como Portugal 'J e os
cread.os de v·. Excellenc.ia havemos mifi:e ·,
Roma 12 de I'Viarço de 167?..

Creado de V . Excellenci~

'1

CAR-
3~ .
. .

A CVII .
"' (
l'

..CA

XCELLEN'I'ISSIM.O Senhor : Se
os Medices de Madrid na.ó faõ mais
~- .fegurcs que os d1 rtoífa terrà , pou...
co me co nfola dizer-n1e V. Excelleucia que
com a n1ayor · vizfr1hança do Sol fe hàde
entregàr V. Exce1lencia em fuas rn'áos; m ~s
eíl:a mefrna defconf1ança me obriga, como a
menor Cflpellaõ de V . Excellencia, a appli·
car toda"' a forca do meo facrihcio defde o
_ primeiro de Abril por diante a efi:e requeri-
mento.
Todas as cartas.de Flandes, e Alen1anha.
fuppoen1 a liga deífa Corte com Olanda que
ja começa a fallar mais animozan1ente , ef..
perando que com o Generalato do Prince..
pe d~ Orange fiquem mais mitigadas as in..
fl.uencias de Inglaterra.
Hontem fahio eíl:ampada reforindofe :1
impreffaõ de Paris, a liíl:a dos exercitos del..
Rey de França, na qual fe numeraõ fete mii
Por..
DO P. ÁNTONIO VIEYRA . .3/5
Portuguezes ! a faber tres rnil' infante$ e qua ...
tro inil Dragoens. Naõ cuidey que h';iviá
· ta nta peçonha· na noífa terra , nem tarita
induíhía 'em a lançar fora; e bem feraõ ne-·
ceifarias aos Olandezes todas as pedras ba-
zares, que trazem da India.
Efperafe com grande cuidado o correyo
extraordipario da Corte fobre a promcçaõ
dos tres Cardeaes. ElRey de França naõ deo
as graças pelo de Toloza , antes fe dis ef-
creve.ra com diffabor, temendo-fe de I-Ief-
panha algun1 igu~l , ~u m.ay~r.' O Cardeal
Gmvina a.c.eitou fihahnente. Fvraõ taõ· e.ffi-
cazes as razoens do Senhor Cardeal Patraõ,.
que naõ foy neceflario pr'eceito, corno fedi-
zia a S. Santitlade ( fallo peila.• boca do vu~­
go) que naõ te:t;iho rega:tei.r~s ; taõ ptat\c~s,
como aquella de V. Exc;:eUencia.
Todos me pergnntaõ. que :fuzen1os'"" G:pm
a India, e quando refpondo, C]Ue •efte ítnno
· vaõ tres naos, rimfe ·d e m-ítn_, e eu porque
n a6 fey rir , nem poífo chorar ·' encÕllilendo
a Deos a~uelles, a quem V. Excellencia.pro-
poem, e ioform·a.· O n1efmo Senh.c1:r guar-
de a V. ExceUenda muitos anno~, c0mo o
Reyno , e os cread0s de V:_ · ExceHenda
. h~
:,7(,J
L . CARTAS 'f

h~.ven1os 111ifl:er. Roma 26 de Março de :


1612~
.
y.
l .J

Creado de 12.xcellencia~-
.J

Antonio Vieyra.
.
CARTA CIX.i
.

_. Ao J.\1arq_ue's de ,Gouveaº

E
XCELLENTISSIMO Senhor : As
novas da fa~de de · v: Excellen cfa
faõ as que me diíl:inguem , e meqem
os tempos , e em quanto eflas me naõ di-
zem que V . Excellencia ten1 experiment'a.,,
do nos .remedios tudo o que promettein os
Medicos ~ainda que os dias vaõ taõ creci...
dos , na~ creyo que he ~hegada ·a prima..
vera.
Tambem n~ífa Corte fe retarda as das
campanhas ,_ e Íe dâ cada dia·-mayor tmate.C
r:ia aos juizos Romanos para· prometter_em
. cada
.DO P. ANTONIO VIEYRA. 377 ·
cada. hum conforme feo· aífell:o differentes
fucceffos à'guerra , naõ fendo poucos os <qut::
ainda prefumem .que a saõ hade haver, cou-
za que feria ma.is maravilhofa e ridicula
que o parto dos montes. Muitos efperaõ
que tan1bem faremos figura. neíl:e theatro:
e outros entendem que feria mais feguro ef-
tar ao panno , e fe fe movem de vagar os
Gigantes que levaõ às cofras taõ grande pe-
zo : muito mais fe coníidera que o faraó os
que faõ de meya efl:atura. V. Excellencia
eftâ fo1n cuidado ; porque c0nfidera que os
Pilotos do Tejo faheraõ pôr a barca. em fal-
vo no meyo defta torme11ta; e eu tenho pa-
ra min1 que affim ferà, fe elles quizerem fe-
guir os roteiros de quem e.íl:â mais perto
elos de Mançanares. .
Aqui ·chegou o Ernbaixado.r de França
que eíl:eve detido alguns dias por achagu~
de S. Santidade ( verdadeiro e naõ fuppo..,
fto ) e jà anteh.ontem fes a primeira entra-
da com grande aceitaçaõ- de Palacio. Efpe-
ra-fe que entre as duas Pafroas ·fahiràõ do
peito os dous Capellos.
As Chuvas promettem ln·elhores novi- .
dades , naõ fendo pequen.a · a que admirou
·Tom. I. B bb · Sicilia
;,78 • C A R T A S .
Sicilia quando vio entrar por feos portós
·n aos de Lisboa carregadas de trigo. Deos
guarde a V. Excellepcia muitos annos co...
mo dezejo , e os creados de V . Excellen-
cia havemos 1niíl:er. Roma 9 de Abril de
167;z,.

Creado de V . Excellencia, ·

.. ' . Antonio Vieyra.


CARTA ex.
Ao Marques de Gouvea.

E XCELLENTISSIMO Senhor : Co-


meçando pela ultima claufula da de
V. Excellencia; verdadeiramente o
~id ergo erit nohis 7 he ciueíl:aõ muy propria
do tempo , e thema fobre que eu pregàra
muy facilmente na no1fa terra, fe nella hou•
vera efperanças de fruto. De là fe e{creve,
· naõ
.. DO P. ANTONIO VlE'XRA . 379
nao fey co111 que fundamento , que os Mi- .
nifhos eíl:aõ divididos , huns por França ,
outros .por Caíl:ella; muito unidos os qaize-.
ra. eu entre fi, e cm:i arnbas, e contra que~
fe fes taõ poderofo co~ o noíTo ~eyno ,
que naõ fendo nada, da gue entender a to-
do o 1n1.1ndo. Pregue V. Excellenci~, . pois
cH:.l rnais perto , e o pàde fazer , e fabe
com melhores razoens·, e he rnelhor ouvi-
do. O thema tambem pudera fervir para
eíl:a Corte , e para ·toda a Italia. O Turco
efrâ com cento e oyteóta mil combatentes a-
meaçando a U ngria , e a Croacia, em que te-
râ. o paffo aberto Íe Ih~ naõ fecharem ; .e
l'laÕ fey fe o faraó as chaves de S. Pedro.
Outros avizos nos dâ o Ceo de µiais perto
na Romania. · Começando das· Ribeiras do
ma.r Adriatico, fuccedeo hum tal terren1oto,
que cauzou notaveis ruinas em cinco ou
feis cidades, cahindo cazas con1 I grej a.s, com
morte de 1nuita gente, por9ue foy na ho-
ra em que eH:avaõ ao Officio das Trevas. Em
Meflina he taõ grande a fome, que fe comem
athe os cavallos, e o povo amotinado quei-
mou as cazas aos.Jurados, e pofro que o an-
no promctte boas novidades , como fe fe-
. Bhb ij meo11
3~@ ·.
C A R .T· A S
meou pouêo, naô fe efpera colher muito ~
e ten1e-fe grande careíl:ia. ~ corn que as pa...
nhotas de Roma baixaraõ jà de oyto a feis.
Tudo iíl:o fe confola com a liberdade
de confciencia. de Inglaterra ·e Olanda, que
he o primeiro fruto deíl:es appanuos bellicos;
que quando naõ tenhaõ-outro, jà naõ feraõ
baldados. O que eu fo~re tudo dezejo, be
que a Primavera feja n1uito favoravel à fau..
de de. V. Excellencia , pois tanto depende
<lella.··o bem noífo univerfal , e affirn o pea
ço a Deos que guarde a Excellentiffima Pd:.
ffqa de V. Exçellencia ·como dezejo e os
creados de. V. ·Excellencia havernos n1iíter&
Roma 13 de Abril 167i.

Creado de V. Excellencia.

Antonio Vieyra&

CAR...
CARTA CXI.
Ao Marques de Gouveatf
XCELLENTISSIMO Senhor : -Naõ
me dà V. Excellencia taõ boas no-
vas , como eu efper ava na fé dos Me-
dices , e auxilios da Primavera. ·Se· a de ~1a­
drid he c-o mo a de Roma , ainda podemos
confiar álgum bom etfeito da mudança .do
tempo , o qual aqui fe defatou em taes di-
lnvios éle agoa, que de oyto dias a efra par-
te , hontem ·f{)y .o prin1eiro e1n que vimos
a cara ao Sol.
Entre· dl:es nublados fahiraõ do peito de
S. Santidade o·s dous Capellos com applau-
fo de ambos os Einbaixadores e Naçoens ;.
e poíl:o que o correyo que haverà paffado a
Portugal , leva carta em que fe nos perfilha
eíla graça ; o certo he que no extra8:o da
elei.çaõ que fe publicou pela eíl:amparia A-
pofrolica, o primeiro fe chama Gallus, e o
fegundo HifPanus .
. Corre hü avizo don1eftico de Turim, em q
. k
38 i - , . ·e .Ã '.R T A S .· .. \.
fe dis havia chegado ~ àquella Corte hum
Enviado Francez, o qua·I dizia entre outras
couza~, que de Franca haviaõ partido mui-
tas na.os ?ara a India com ca.rtas fecha das
de ElRey, ·e ,ordem para fe abrirem en1 tan-
tos de iVíarço. As prin1eir::ts arguem. alguma
confequen.cia, que fe p0derà colligir melhor
das propoíiçoeris .que fize.r em Lisboa o En...
viado daquella.Coroa. Em grande fufpenfaõ
,nos tem. a fua refoluçaõ , da qual 1ne fazem
duv idar algumas noticias que de là ouvi ler,
e muito n1ais as que V. Excellenda me in-..
finua. . .. .
Com as chuvas naõ ten1 chegado •tthe..
gora os a.vizos d.e V enez.a , nem ten1os do
'rurco mais clareza que o referido na Poíb.
paífada. O cuidado en1·Alernanha he o mef-
n10 , e o fegredo da marca de ElRey de
I rança taõ . mifreriofo; que de hum dia para
o outro fe na!> fabe ; .a fama he f ormidavel,
e rnais formidavd a ·ruido da moeda, de que
-fe contaõ oytenta carros, cada hum com
meyo milhaõ de livras ; tnas affim no Ga..
riíino dos foldados , como nas liíl:as do di"'
nheiro, faõ faceis de multiplicar as cifras.
O fucceífo moílrarà fe fe-oífende ou fe agra-
da
·no p~ AN1"'0NIO. 'VlEYRA. 3s·l
ela a fortuna detla pompa, e da futura viéto-
ria, jà cantada em todas as lingoas. Suppo-
nho CJUC jà haverà cheg~do às mãos de V. ·
Excellencia a fábula das Raiis com o Sol ,
elegante e difere ta, fe naõ foy fabul a.Na nof--
fa terra naõ fe tem a bon1 agouro cantar os
Gallos antes de tempo; e me lerrbrou a efie
propofito certo cafo de Lisboa> com C]Ue V.
Excellencia mandou inquietar a vizinhan-
ça , e madrugou menos ao Paço naquelle
dia. O que importa he que V. Excellencia
tenha a inteira faude que os creados de V.
Excellencia dezejamos , e havemos rr1iíl:er.
Deos guarde a V. E:u::ellericia muitos annos
Roma 11 de Mayo de 1671. .
' '.
Cr~ado de V~ Excellencia

.Antonio V1eyra.

CARcr
• t)
\ .. '•

1 -·

~~1o A~farq11e'.s: de .Goi1vea"


'
XCELLE~1TISSIMO Senhor ~- De~·
1
. ( zej o c1ue a entrada do Veraõ fej~
. · ..,/ n1àis fa.vor.a,vd aos achaques de Vº
Excellen.da i do que o te1n fido -à.~111inh~i. ve""
lhice por(1ue de oyto dias a ·efta parte me
naõ deixa huma. febre enta que teve prin...
i)

cipio en1 hurµa. ardentiflima efirnera >e fiUe...


ro antes hir pâífarido affirn-·~ que entregar~·
me aos I\líedicos .Romano§ .i• de cujas :m ios
iâõ muy poucos os que efc~.paõ , e por iífo
fe uzaõ aqui n1ais as prevet1çoens que os
remedi os. · · ·
-Continuaõ os terremotos de Italia. > e jà
fe começaõ a fontir en1 Roma. Quarta fej..
ra , terceira oytava do Efpi:dto Santo , fef!tt
n.efta minha ceHa <]Ue fe movia a cadeira em
que efl:ava affentado., e porque 9utro Padre
que eíl:ava em pe naõ f~ntio o mefn10 mo...
vi~ento , naõ me quis dar por author de
terremot<>S; mas no dfa. feguinte fe publica..
raõ
DO P. '·AN!'(l:L..,UO VIEYRA. 38 5
raõ nrnitas teíl:erin1nha.s de o haver advei.,.,
tido aquella meftna hora, e·fe 1.1.lofofou que
devia fer correfpondencia de algum 1nayor
movimento fuccedido e111 outra- parte; e aJ-
fi m foy,, porque na n1dina hóra houve gran-
de tre.mo.r de _terra na Cal abria e Rornania,·
e particuJarmente ern Aqui la, Loreto ~ f: ou-
tros lugares entre os <-1naes fe dis ficou to-
j•

tal.mente arruinada Matrigne, que he povo


mais de tres mil almas que tiveraõ tempo
de fa1var as vidas . .
, Do 'Turco ve-111 melhores novas, _que ti·.. .
·nha·fufr>endido a marcha -P?I' potidas da li-_ ·
ga , que fe efc.reve efl:ar fe1ta _cor:itra .elJ.e.- :» ·
entr~_}lôl.o,nia. e·Mofcoyia. ·· . .
ElRey· de Fr:ança d~ixando {obre ·Maf-: i
t ric.h 1 5 mil homens em hum lugar ton1a-
do por força ao~ Liegefes,, e ·~m. outros dous
claquellês confins, fe paflou ·a Nuis com to-
do o corpo do exercito : e fe fufpeita que
pretende paffar o Iífel para entrar no cora....
çaõ d.e -~~anda . ~~ duas armadas de Ingla.-
tel'ra e I 1ran-ç2._ eíl:a·õ jà unidas, e fe dividem
em tres .efquadras , que, conforme as cores
das bandeiras , fe chama huma a Branca ~ _
outra a. Azul, outra a "VT ermelha. A palma
:., %m~ /,. Ccc que
386 __ C .A 'R 'T A S
ciue he a de verde, veremos a que parte in..,
dina. O certo h.e que os Olandezes pot fal-
ta. de ventura , ou diligencia perderaõ o
partido de pelejar corn ellas divididas , ou
.de as naõ -deixar unir, .fem primeiro occu...
parem o Canal. Naõ fomos fo nôs_os que tar...
damos.
De Lisboa fo efcreve ( naõ a mim ) que
ó povo .eíl:â com Caíl:ella , e os Miniíl:ros
· com França , excepto hum Ma.rqnes , gue
tambern nomeaõ , e dizem. fegue e fuftent a
a vôs do povo. Efra en1 outro ternpo era .a
vAs de Deos,que15uarde a.ExcellentHfima Pef-
foa de V. Excellencia coir.10 ·dezejo , e os
creados de V. Excellencia havernos ·n1iíl:er.
Roma 18. de Junho. de 167 i.

e.reado de V º Excellencia.

Antonio Vieyr~ ..

.;

·. ·CAR-
DO P. AN'"fONIO V·IEYRA. ·387

C AR~_ TA CXIII~;
Ao Ji1a·rqtte's de G·oitvea.
· ·-~ XCEl.. LENTISSIMO Senhor .: Do-
!# -<!( brada pen~ he ~adecer os a.~haque!
.1;. ~-4' e os remed1os, de que a cOntlnuaç:ao
(c01no acon tece, e eu ten.ho expe·r imentado)
·vencerâ a refiítencia, que quando fe naõ ren:~
de ao aço, mofrra verdadeiramente fer gran."·
·de ; mas o ·1nefmo genero , da cura parece
que affegu'ra ferem as queixas de V. E:x:'celL..
lencia da(1uellas, que ainda que daõ mole.:.
fria, naõ trazem- perigo. Eíl::as faõ as con"'
folaçoens 9úe bufco no difcuríb ., quando as
novas que V . Excdlencia me dâ , naõ faõ
a!i da inteira rnelhoria, e perfeita. faude qu_~
a V. Exéellencia dezejo e a Deos peço.
Aqui naõ ha 111ais novidade ·que a ·rnot'"'
te do Cardeal M-at1chini , c9m que dlaõ va.;;·
gos dous Capellos, que, fegundo o que.fe en ..
·tende,, foraõ dados brevemente a Rofpilho•
zi , e Coloria.
O Inverno fe defpedio dois dias depois
Ccc ij -do
388' -' ... e· A ·R - 'T A· S
do .S. Joaõ com hun1 rayo cahido em Pa...
la·cio no quarto de S~ Santidade, que 9epois
de levar a bandeirola ·do relogio, ·entrou na
Capella privada onde dis m.ilfa , e fem fa-
zer dano fe f'Óy enterrar _no jardim-. ·
Cada dia chegaõ novas dos grandes pro...
·.g r eífos que fazen. por terra as armas d'El-
.Rey de França , rr1ayores do que fe imaginou.
.Parece . que naõ he. igual o ,poder ,·' ou que
'h .e menor ~- fortuna; porque hav endo-fe da~
.do .batalha. aos 7 do paífa.do todo o d_ia e
pq.rte da noyte, dizem a~ ·Relaçoens Ç.e Olan...
~a e Bruífelas , que a vietoria ficou pelo~.
Olandez(;:s; e elles fenhores do n1ar, e pof=
to que os, F rancez~s o neguem; e haverem
.tido cort~yo de r 5 , o naõ molharem_.~d o­
cumentos he-argumento, que fa.s muito fuf=
peitofa a ôpiniaõ que defendem , fe bem a
.authoridade contraria naõ he de todo ·fem
fufpeita. Efperaõ-fe as particularidades no
c.o rreyo fegui nte, e entre. tanto. fe fente que
e_fl:a Corte naõ por à-lutos pel~s fucceílos ·,
tendo por mais. conyeniente. para a republi-
CL.a do .univ.erfo, que fe.1ev,ante por huma.
parte , e fe abata por outra~ Tambem · fe
4is que o Go-ve_rnador de Flandes depois def-
,- ·.. ta
DO P .'. AN1~0N'IC) VlEYRA. 38:9
ta batalha affifl:e aos Olandezes com rnayo:r
prorqpt_idaõ e po~e!.: .e aJguns~ efperaõ <]lle
eH:es foccorros -feJ ao: ali'1da ndta can1panha
mais· declarados, fe o Iniperio fe vir feguro
<las ;umas ~o Ti~rco ,, cujo exercito ou.ef-.
tâ t9talJAen,t e. par~do , 011 marcha lenta~·
xnente, depo"is da confederaçaõ de Polonia
com o Mofcovita. Deos guarde ~ Excellen-
'tiílima Peífoa dé .V. Excdlencia como de·..
z~j·o . , e.·os. crea<los :.de V. Exce~l~nc}'a· ha-
·we1nqs_mifter. Roma, 28 ,de Junhp de 167~~D
;

- Crea<lo de ''· Excellencia

(. ·. ' ...

.. : j ..

..... 1 t

CAR=
e;·A. -R. ~r A· s ,,
'

_ Ao Marque~ ·dê ·Gouvea•.


XCELLENTISSU\~O ·Senhor : Eíl:a
de V. Ex'Cellencia. de 4 de ·Mayo.me
-::._miio--1....tl chegou àcs :mãos muito ~àrd.e , · e· me
canzou naõ pequeno cuida.~o , pelo que ha.,.
via ~ido ria do correyo proximo ; e _aflim
1ne fuy' logo , a bufcai· nov~s . de V. Excel""
lencia , que .me deo o Reíidente, confirma""
das com os bons principios da primavera ,
e efperanças do -défen1penho das promeífas_
dos ~íedicos. Coji jia , que J:ie a -graça e glo-
ria com que aqui fe acabaõ ·os Se ·rr10ens.
N aõ tenho que dizer a. V. Excellencia
das caufa3 das attençoens do n1undo fob re
, noífas acçoens e refoluçoens , pois V. Ex..
ceUencia as redus àqueiles dous contrapof..,
tos, do que havemos feito, e do que n'aõ fa ..
zemos. Verdadeiramente he aíiim, e os que
nos achamos por eftas partes , naõ achamos
. . . ji
DO P. ANTONIO VIEYRA. 391
jà que refponder a tanto filencio. N aõ fa-
bi•a eu que o noffo Norte tinha hido de Le-
vante. As eíl:r~llas que mudaõ oslugares ,
bem podem mudar ventura. .
Aqui fe continua na expeltaçaõ defre.
parto , de que_ os Hefpanhoes fentem a$
dores, e os Francezes ante tempo tem co...
meçado os repiques. Se os Olandezes me-
terem a fua armada no Canal antes da uniaõ
das outras duas , teraõ ventagem , onde f ó
fe lhes conhece partido igual. Lembraõ os
italianos a repofra do Governador de Flan-
des , a quen1 ElRey de França, com hum
Enviado . e carta çm que o tratava de JJ1on
Coefjn, mandou pedír"Jaculdade para ·os feos
exercitos 1narcharem por .algumas terras da..-
quelles Paizes. Elle refpondeo que fobre a
materia- naõ tinha ordem algum a dó feo
Rey : que expediria logo hum correyo a
Madrid, e que no entretanto fizeíf~ S. Ma-
gefrade o que lhe parecdfe , reprefentando
fómente os tratados que . Hefpanha tinha
com os Eíl:ados de Olanda. O tudo e o na~
da da íignificaçaõ deftas palav-ra,s , he o que
aqui fe devia· eftimar, pela femelhança cp1c
tem com as repoftas Ro1nana.s.
O Tur-
391- C A _R. ·J,,. ~,: ·S
·· ·
.... O 'l\ir.c·o,fogru1d,o os uldn1os avizos; pa~
r ece -.efpera ver empenhadas as arrnas Chri...
· ftans pa:ra declarar· as fuas , e no entreta11""
to as· tern dividjdas em dous troç.os ., arnea...:
ç~nülo com hum a ·poJ.onia, e com .ó outro
a_lJ ngria.'. De Alem.a.nha fê efcreve, que viu-
.do o I;,m perador 4e Luxemburg· de vifita:r
a Emp~::ratriz Leonora, hun1 ·utJ.garo no ca,
ininho lhe" dera huma carta,. em·c:i.u~ o àvi~
. z.avaõ' que e.íl:iveífe .ad.ver~ido li porque em
· efpaço de fois femanas naõ .efr'aria fegnr?;
en1 Viena. Temos por Governador ~e Ca.n..;·
dia hum . J;>·Qrtug:ues Baxà chamado . Franc~
·Maemet, qµe fas·grandes fa.vores aos Chri""
·Hãos i e dizer;n os ItaH::inos,,, ·que -ai·nda ha..,·i
v;,ebi _em. -Portugal .ç~m. ' qu~ prover . ou~ras;
praças. . . .· .. · , :. ,
O terren1oto .,. .de, Rimira.i
. .
·' e ma.is Ci....
dades da Rom~na fe ; :ç9rr1unicou por de
baixo- d.,.o mar coµi ·as Jlhas do. Archipel a~·
go ·,,·porque Qa Hfefmahor-.a·;cahiraq muitos.
. · ~dificios , a;the em Chipre, e fe (overteo, com
rnais de 70 .mil alm4s·, a celebrada , Ilha de,
Cõs :, p~tda de.·Hippocrates · e··Ap~llese
Deos ,gual(de ., a V~ Exe.e llenda muitos ªª""
nos,, como tj.ezejo, ,e .os: cread0s. ~dç , V ; ~:X"'.
· · .celle.ncia
DO P. ANTONIO' VIEYRA~· 393
cellencia· havemos miíl:er. Ron1a 4 d.e Ju...
lho de 1672. ·· ·

Creado de V. ExceUencia

Antonio Vieyra~

CAR ·T A CXVº
• 1 • •

_/J.o ',Marqite's de Gouvea·.


-l-

' _,

E
1

XCELLEN'TISSIMO Senhor: No
correyo paífado naõ efcrevi, itnpe•
__,/ <lido de hun:a grande febre , que foy
D eos. fervido defpedir-fe ao quinto dia, de
que ainda naq fico convalecido , mas com
grande contentamento de V . Excellenci~
me. dizer vay tanto por diante a melhoria,.
que jà hoje efpero em ·Deos feja taõ íntd"'.'
r a faude con10 havemos mifi:er .
.As primeiras novas que a ~fia Corte che..;
garaõ da guerra de Franç,a, que por mar e
: .Tom. !. Ddd terra
394 . C A R T .A S . .
terra, f-oraõ· as mefmas que tar-nbe1n aqui fe ,
ieceberaõ de Bruffellas e Anvers; mas du~
rou pouco efl:a a.legri. ~ aos ~11nifrros e par-
ciaes dos vizinhos de V. Exceliencia; por-
que com aífombro de todos fe começaraõ
a verificar os progreíTos do exercito , que
eíl:ando jà f~nhor de cinco Provincias, tem
reduzido a de Olanda à unica efperança ,
ou defefperaça.õ de romper os Diques , e
al<1.gar as campanhas,para_ter tempo de pa-
ltear, como jà fe efcreve, fazem. Os que
difcorriaõ de outra mané ira, tem a difcu! pa
da razaõ, e exemplos paflàdos; e os Olan-
dezes o caO:igo que merecia·õ. Dos outros
intereífados nefra difgraça naõ fe falla,pol;que
tem o que quizeraõ.
O ron1pimento entre Saboya e Genova
vay continuando , e hum dia defies tiveraõ
hum encontro, em t1ue -f1cou de melhor par··
tido a Re publjca. Sua Santidade inter-
poen1 fua autho1·idade para o aiuíl:amento
das differenças ,-o que naõ fer:i difficuítofo, fe
º" intentos· de Saboya naõ tem rr1ais fundas
i;aizes, que as de 1~urin1. Breven1ente fe fa- '·
berà a verdade deíl:e fegredo, Gue jà parece
vay rebentando por ~d:antua, onde a gente
·· . · de
DO P. ANTONIO VIEYRA. 395
de oçruerra daqudle Ducado fe ata:cou ·com a
de_Milaõ , e dizen1 que fe lhe rneteo prezi-
dio Francez.
As couzás de Polonia (donde nunca vem
nova que tenha coníl:ancia ) he certo que
eíl:aõ muy duvidofas , e ElRey com taõ pou,.
co partido , que eíl:es dias fe diífe , eitavà
retirado a hu1n Cailello , e hoje corre que
lhe cortàraõ a cabeça. He boa a occaGaõ
para o Turco , cujo €xercito eíl:ava jà nôs
confins da V allaquia. Eíl:as faõ as novas
que aqui fe ouvem ; e as que a mim me to-
caõ no cotaçaõ, faõ capitularem os Olan-
dezes fobre a noífa India, digo, fob1·e aquel-
la India que foy noffa , e podera fer nefra
occaúaõ , fe concorreraõ no theatro outras
perfonagens, onde huma fó fas figura. Deos
gua):de a V. E.x cellencia muitos annos co~
mo dezejo, e os creados de V. Excellencia.:
havemos mifter. Roma 30 de Julho de-1.672.

Creado de V. Excellencia ·

Antonio V.ieyra~

Ddd ij · CAR:-
:(, / I
~ CARTA CXVL .
' .

-Ao Marques ,de .Gouveà. ,


'
E
XCELLENTISSIMO. Senhor: : Co-
. 1no V. Excellencia 1ne dà boas no~
___./ .vas de:; fua faude ou n1elhoria, tenho
todas as que dezej o e hey miíl:er. Todo o
n1eo cuidado efrâ em Madrid, porque os fi-
lencios de Lisboa naõ merecem , riem que-
·r.ern merecer cuidados. Pa.rece que 1 · noífa
terra fe paflou a outro murtdo, porque nef-
te ne1n ella fe ouve , nem hà quem ·fall e
ndla. Os Italianos nos pergun_taõ as . cau,.
fas deite filencio no meyo de tantos·.fumo·
Jes.· ,- e naõ temos. outnÍ rep.ofr·a mais qµe
j

n1eter-nos no efcuro de algum grande my-


frer1o , cujos ·ar canos, conto n'aÕ chegaõ a
V. Excellencia, ao menos por aquella anti-
ga reg_ateira, naõ fó fufpeito , ITI<!S :conhe-
ço com grande dor quaes poffaõ fer , ou
naõ fer. . _
Os p'rogreífos das armas Francez·as cor-
rem a paífo mais lento, e naõ fó porque os
.. - '· ,.. . ,
_, . • .' • j
o· lan
~· -
-------------~-

DO P. ANTONIO ·ViEYRJ\. .j97


, O landezes .lhe deitaraõ agoa na fervura.
H e certo qu.e deFois que DS pre!idios. Hef-
cpanhões entraraõ . nas praças , começaraõ
d las a fer fort~s , enfiando tempo e'fangue.
A ílim ,como· a morte de Longavilla foy o
foflego de Polonia, ·affin1 Gllçrem C]Ue a fe-
·.rida do Condê foffe reparo de Olanda. To-
dos os avizos .Qe A1en1anha concordaõ na
.uniaõ de hum grande exercito pago por tres
meze$, que e.íl:arà em Egra aos 2 5 de Agoíl:o,
compoíl:o de . ~o mil foldados do :Em.pera-
dor , e vinte e ci_n.co mit do Marquês de
,Brarrden;iburg , e . o-qti;as tropas de · outros
,Pi:incepes, eni Qume~o de fetenta mil. · ~om·­
batentes, fendo o Ge~1.e~al _de tudo Monte-
cu culi. · , ·
Hontem corn.~o "Pº! hu1n Extraotdina-
rio chegado do camp-0 a Turitn, que ElRey
<.1e França fe recolhia a Pariz, onde feriaõ
juntos aos 8 de Agoíl:a GS Cõmiflarios de
Olanda e. inglaterra ·para a compofrçaõ da
guerra , e ajuíl:amento das condiçoens. Ef-
tou vendo neíl:a concordia perdida e·defpe-
daçada aquella; a que chamamos noífa ln dia
As hoíHlidades de Saboya e Genova con-
t inuaõ com recíprocos danos, cm que cada
.,. - huma
391! C .A R T .A S .
huma . das partes fe attrib1:-Je a ventagem.'
Grefcer.n as levas de. ambos os partidos ; é
crefce o receyo de CJ.ue a campanha de Olau..
da fe paffe a Italia ; onde os Lirios tomem
raizes. O Pontifice tem interpoíl:o fo a au ..
thoridade para apagar eíl:as f;àiícas ,de que
fe preve o incendio; mas na5 tendo eífeito
da primeira vez. , -0 n1eL'110 fe prefo.me da
fegunda. A. Canícula vay fu.riofa , e di...
zem., os Aíl:rologos Romanos que nella hade
morrer httn1 grande Togato. D~os gµarde
a Excellentiílima: Peífoa de V. Excellencia
rnuitos . annos como dezejo ., e os creados
de V. Excellencia havemos mider. Romít
13 de Agofl:o de 1672.

Creado de V. Excellenciaº

Antonio ·vieyrâ.

CAR~
DO P. ANTONIO VIEYRA. 399

CARTA.· CXVII.
Ao Marques de Gouvea.
XCELLENTISSIMO Senhor: Me-
1 rece o meo affeéto a V. Excellencia
· o cuidado que V. Excellencia · por
fu a grandeza me fa.s merce fignificar da mi-
nha faude. d eíl:io fe vay defpedindo , e
com ameaçar o jnverno, foy elle taõ rigo•
rofo, que quafi o fas dezejar; mas t~do fe-
rà toleravel, com· C]Ue V. Excellencia paffe
fe m queixa, e con1 a inteira faude que ha-
vemos n1ifrer. -
Tambem naõ repito as :1ovas do Nor-
t e ,"porqµe neífa Corte fe fabem ig11a1n1ente,
ou fe ignorar, como nefra, onde naõ fó os
difcurfos faõ diverfos , como, os dezejos ,
mas tambem os affeétos fe dividem em opi-
nioens. As do exercito de A.lem~.nha, de que
pa rece depende tudo, naõ faõ intdligiveis;
o certo he que tarda, naõ [ó porque fo.ef-
pera.,
460 ' . C A .R T A S . .
pera, mas porque Montecuculi fe move com
os paífos da gota e da velhice. quida-fe que
naõ fó ~Üecia he a remora , mas tamb em
alguns Prince pes do mefmo Imperio , que
naõ querem gente armada nos feos Eíl:ados.
Dpresk_e nko qener,a l d<?s Coífacos ~ebel4es,
ajudado de Ta.rtaroS" e Turcos, deo huma
grande rota aos de Polonia , com que di-
zem fe acha·o ·Reyná . em igual coníl:erna.-
çaõ , e c on1 ô exercito do 'Turco aífedian...
do ·a mais forte praça: das fuas fronteiras-.
- Tem .feito grande ruido neíl:a Corte hu:..
·ma nova. m andada·deffa pela N uncio , e ou~
tras peffoas ·de anthoridade ,. em qne fer e..
fere que, no noífo Reyno hã grandes fedi"?
·çoens .e ·n1otins, por naõ fey que propoftas
-Oo M iniíl:ro de França, en1 que . fe falia em
guerra. contra Hefpan ha , e reíl:ituiçaõ de
ElRey .D. Affonfo.· Efperam~ com anda o
correyo de Lisboa, que nos tire deíl:e cuida..
do , que fobre t1ntos outros naõ1he peque..
no .. · Lembre·-fe Deos da India , do Brazil, e
de tudo, e a 'V . Excellericia guarde muitos
annos como dezejo, e havemos mifter. Ro.._
n'la ro de Seten1bro· de 1672.

No
DO 1;1.- ANTONIO VIEYRA. 401
_No correyo paífado pedi -á V. Excel-
lencia Í.:1.vor para a pretcnçaõ de certo Mi-
niího de N apoles ; mas he tal a futileza Ita-
liana , que me advertio a peífoa intereffàdá,
que a diligencia do mayor Miniftro de ou~
tra Coroa, fe foífe c,o nhecida, podia fazer
mal ao -negocio. Reprezento a V. Excel-
lencia eíl:e efcrupulo ; por iífo mefmo e~i ...
marey mais o bom effeito_, que torno a pe""
dir a \T. Excellencia com o mefmo enca-
recimento.

Creado de V. Excellenéia.

·Antonio Vieyra.

-. ·7õm. /, Eee CAR...


CAR~""AS

CARTA CXVIII.

- Ao Marques de Gouveaº

E
XCELLENTISSl!\{0 Senhor: Naõ
.me diz V. Excellencia quanto tenha
ajudado o Veraõ os medicamentos:
e deite filencio de queixas infiro , e inter..
pretp a grande melhoria ou inteira faude
que dezejo, e de que dou a V-. Excellencia
o paraben1. . . .
Eíl:é correyo nos livrou do cuidado em
que no~ tinhaõ poíl:o as novas da noífa Cor-
te, que deffa fe efpalhaõ, as quaes eu fe m-
pre tive por falfas ou muito duvidofas, ad-
vertindo, que nem H.a carta do Reíide~Je ;
nem na. minha fazia V. Excdlenciá mençaõ
de t al - couza, con1 que a Secretaria de V .
Excellencia naõ aquiíl:ou pouco credito com
os primeiros Ã'iiniíl:ros, que avizados do feo ,
quizeraõ informar de nôs. .
Emfim : parece que o exercito de Alema-
nha vay defenganando os que o naõ criaõ,
ori. moíhavaõ defprezallo, e fó com fe ·avi-
. zinhar
DO P. A~1 TONIO ''IEYRA. 403
zinhar às fronteiras, tem feito levantar es
.çitios de Groeninguen e Maíl:rich,, ficando ef-
te fómente bloqueado, e havendo-fe paífa-
do Turena ao Rheno com fuas tropas , va-
ra. que,- juntas com as de Mnniler, e Colo-
nia efperem os defignios das Imperiaes, e
lhe façaõ oppofiçaõ : entre tanto Orange
fc eíl:abelece , e os povos o ajudaõ a def-
fazer a Republica e nome de Eíl:ados.
Se V. Excellencia ouvir dizer que o Pa-
dr e Vieyra preg.ou,em Roma em lingoa It a-
liana, naõ condene V. Ex.cellencia a teme-
ridade , porque elle a teve por tal ; _reíifl:io
fempre , naõ .fó a os empenhos .d e grandes
Senhores deíl:a. Corte, mas ao dezejo , e in..
fiancias do feo Geral, o qual, por ultin1a re ...
foh1ça.õ , lhe pôs obediencia que pregaffe ,
refpondendo a todas . as fuas obj_ecç.oens :
que lhe mandava, que fe deshonraífe a fi,
o deshonraffe a elle, e,deshon_ratfe a Compa..
nhia ;· e aflim o fis. Deos guarde a ·E~celle n­
tiffin;ia Peífoa de -v ..
Excelle11.cia , ,corno o
,nQífo -R.e~I\º ; e os creado.s de. V. Excellen-
cia hav~mos miíl:er. Ro~a 2:4· ,de _Sete~­
.bi:o.. de 16,72.

- r Eee ij Di-
404 e A R r:r A. s . '
· Dizem as ·Gazetas impreífas , gue de
Portugal vem dous mil infantes em foc.:cor--
ro de Saboya 11 de que crexo o que devo.

Creado de V. Excellencia
l'

l\. .n tonio \T .ieyra.

e A Rtr A CIX.
Ao Mc1rq'ue's de Got1~vet1.
o defenfado deíl:a ultima carta de
·v. ExceUei1cia vejo, qne ou a (1uei-
xa dos achaques t em totalmente
~anç ado , ou dâ ba,íl:antes tregoas à guerra.
taõ porfiada e importnna. Eu recebi a di~
ta çarta na n1efma .~ora etn que entrava a
fazer os exercicios , que honte1n 'fe termi-
naraõ com .as vefperas de S.. Franc'ifco ; e
bem· ,neceífarios me eraõ oy to dias ~e me-
ditaça.õ para m e naõ defvanecer.ern os fa-
v ores, ou verdadeirámente graças, com que
V.
D·O P. ANTONIO VIEYRA. 405
V. ·Excellencia me honra. V à 'p or diante a
faude, que he _o que nos inipori:a; e eu de-
zejo , e a rnin1 n1e bafia defl:e mundo ter
fe1npre feguro o meo l:ugar aos. p~s de V.
Excellencia.
Mais cuidado me deraõ os avifos do Con..:
de de Umati'és_'.! fe lhe naõ tiveraõ taõ di-
'm inui:@ a fé as experiencias dos pa{fados;
com tudo ,ha carta en1 Roma em que avi.;..
faõ .d.e Paris, que Chúmberg pafia a Portu-
gal, ....~ ("'l~"'e jà tem partidü ~ mas tambem o-s
Evangeh:. . .ls daguella 'Corte naõ faõ cano-
n1c0s. -
O termo da fufpenfaõ das armas ·entre
Sahoya e Gen!0va . <t a i-abon hon tem , e po-
fl:o qu~. d.e fa,mn.11a ) o tra parte eftaõ no-
meadds Cõmiffarios para o trat'a do de pâz ,
e que o lugar do congreffo feja'. o Cafal ,
cluv1da-fe ~huito da condufaõ; pela muita.
gente de :França que fe vay juntando .em
Afti , e Penharola : e ·intellig-ericias fecre-
ta·s , que fe affirma, ter· aquelle Rey com o
Duque de Mantua. ·o certo he que os Ge-
novezes fe naõ fiaõ, ·e vaõ crefcendn as fuas
tropas, para .governo das quaes fe chamàraõ
t>S noífos dous foldados Pefinga, _e V anichei~
. li'
4~' .. C A R 'T .Jl: S . :.
li, a hu:m dos quaes ·d eraõ a fuperintenden;
eia da Ribeira d.o Poente, ao outro a de Le..
vante. .
Na ·mefma .Genova fe achàraõ efras dias
D. Frandfco de Lima, que pa!Iarà alli o ln-
.vento ~ e com a. Priinavera o t erem(i)s em
1

:Roma : ,e·o C0nde de Mefquitella, que fe naõ


fa.be per onde 'V'eyo, e. a·o prefénte fica na
-Co-rte do Graõ Duque. So falta neíl:a Sce-
na .a alma do . l\farqU,es de Sande .para fe in-
·teit:ar a Tragedia. · · 1f1_, ~'~
os· dous exercitos naõ .quer~.. ~~ " àcabar
1

de aviíl:ar-fe, como nem Poloniá de unir:fe;


ant~s fe efcr.eve nefra P~íta, 4,ue com as no-
vas·de exerc1tos fe começa a por em campo ,
-e a ·p arcialidade ·contraria naõ fe teceya de
guerras civis. O Turc<:' mandou cortar a ca-
beça ao General que leva.11tou o aífedio de
Leopolis , e fe entende.quer invernar fora de
cafa ·
Anté-hontem vindo em carroça o Pa...
··tri:arca,:naõ _{ey fe deJerufafen1,fe de Alexan-
·dda, lhe atiraraõ quatro arcabufadas de que
fiéou mal ferido. Tinha eíl.:e Prelado o go...
.ver no de certo R·e colhimento de Senhoras ,
··huina das ques,. por (er her.deira de Gram ca..
.. .- . . . fa'
DO P. ÂNTONIO'VIEYRA. 407
fa, entre ella fe reparte a fufpeita defte ca-
fo , que en1 Roma he inaudito, e de pernicio-
fiffimo exemplo.
O Cardeal U rfino dtâ muy contente
com lhe ha.v-erem chegado de Portugal as
fuas penfoens. He Proteétor de França, ede
Polonia, e noffo: e tem capacidade para tu-
do, fe os intereffes de tantas Coroas a tive-
ren1 par a fe naõ encontrarem. Deos guar-
de a V. Excellencia &e. Roma 3 de Outu'-
bro de 1671 •

. Crea_d o de V. Excellencia.

Aptonio Vieyra. ·

CAR-
40S- C A R T A. S

.· Ao ·Marqrtes qe Go11vea.
..
e

E
XCELLENTISSIMO Senhor :- Dou
·a. .V . .Excellencia ~s ,gra~as pelas re..,
laçcoens .Ul tramannas , de que veyo
acon1panhada ella ultima de V. J:.xe:ellen-
cia , fe bem a melhor de todas , é para mim
de mayor eíl:imaçaõ, he logrir V. Excellen-
cia a faude que "lhe dezejo; fem o cuidado em
que nos pôs o Inverno paífado.
Verdadeiramente naõ fou dos m·ais or..,
gulhozos no dezejo dos fin~ , poil:o que fe
reprefentem muito uteis : e fó finto que na
noífa terra fe ·naõ trate taõ promptamente
dos meios , como pede a neceffidade : nem
fou taõ amigo de companhia', que em mui...
tas· ma terias , naõ tenha por mais verdadei...
ra. maxima. Antes jõ , que hem acompanha--
do. Hto he o que fempre me doe, •e .grito
quanto poífo contra os que nos querem li-
gados contra a India, onde he melhor ter
· · hum
DO P. :ANT()NIO VIEYRA. 409
hum inimigo, que tres ·todos deíiguaes na.
fe , e mayores no poder. .
·se eu naõ conhecera os arcanos de Por...
tugal, e athe onde chegaõ as chaves do feo
feg redo, confolarar~e con1 as confi~erações
defre; 1nas todos os noífos pcnfamentos fa-
hem-fe primeiro no mundo que nos Confe...
lhos de Eíl:ado ; e ainda que eíl:es fahiraó
. muito acertados como eu preíiuno, e foífem
muito fecretos , as rafoens naõ faõ as que
fu íl:entaõos Eíl:ados, fenaõ as execuçoens ;
e eíl:as hem as hà, nem as pode haver fem ·
meyos. De boa vontade trocàra eu todos os
noífos fegredos e confelhos com que fe fou:"'
beffe em França, Inglaterra, e Caíl:ella, que
tinhamas no Tejo huma muito poderofa ar ...
füada, e muito dinheiro com que armar ou-
tras, e grandes exercitas, quando nos fof-
, fe m ne~e.ífa.rios ; porque fó iíl:o caufa refpei ...
to nos tn1m1gos, .e m,a~tem o amor, ou cor--
r efpondencia dos amigos. Fora o eu de to ...
dos ) e cuidàra de todos que podem naõ (j
fer; e fiaramé f6 do meo, com tal defcon•
fiança, q1;le fe1npre o fora accrefcentando ~'
e fazendo mais feguro. ·Se iíl:o he murmu•
raçaõ , iíl:o 'he o que murmura o meo amor,
Tom. I.- -Fff
-..... tendo
~
,
410 C A R T A S
tendo por companheiros todos aquelles que
con1 an1or ou fom elle olhaõ para as nof-
fas couzas.
~1orreo o Cardeal d'Eíl:e, com que eíl:aõ
vagos tres Capellos , que feraõ provavel-
mente de Colona) Rofpilhoíi , e Crecencio.
A guerra de Italia cre-fe que fen1 duvida
fe porà em paz brevemente. A de Hollan-
da depende dos dous exercitas que diíl:a-vaõ
fó humajornada., Segredo dizem os ultimas
avizos. Corre por certo -que o Turco tem
tomado Nf aminies, chave de Polor'lia, e que
a U ngria com alguns foccorros do mefmo
Turco fe começava a folevar) tendo jà torn a-
do alguma Cidade, e obrigado a fe retirarem
alguns preíidios do ·Imperio , que por oc-
cafiaõ do exercito fe haviaõ diminuido. Deos
guaràe a Excellentiflima Pefloa de V. Excd-
lecia muitos annos,como os creados de V .Exc6'
havemos.miíl:er.R0m4 8 de Outubro de 1672.

Creado de V . Excellencia.

Antonio· Vieyra.·
',

CAR.-
DO P. ANTONIO VIEYRA. 41L

CAll TA CXXIO
Ao Marques de Gou·vea.

E
XCELLENTISSIIY10 Senhor:Gran~·:
de fuíl:o me cauzou eíl:a carta de V.
Excellencia com as priineiras regras,.
lembrado da erifipola de Lisboa.Con10 Deos-
foy fervido que V . Excellencia livraíTe taõ
brevernente, poíl:o que com a penfaõ de fris
fangrias , que neífa terra he hun1 nu1nero
inaudito, 'dou ao n1efmo Senhor as graças, e
a V. Excellencia o parabem, fendo circun...
ítancia para mim de grande eíl:imaçaõ, qhu--
ma e outra nova pudeífem vir juntas no n1ef....
mo correyo, que he a unica conveniencia,:
ou defronto,- com que alguma ves fe fabo~
reaõ as penfoens da auzencia , fabendo ... fe
os males depois de paflados.
Beijo mil vezes ·a maõ a V. Excellencii
pelo extr~mo do favor cmn gue, fem embar-
go cio achaque , na mefma 1nanhãa foy fer...,
vido tomar tanto de bayxo de fua protec~
~aõ o requerimento ou defpacho do meo re~
Fff ij cõmendadod
41z. C A R '1"" A S "
cõn1endado. Nem podia neíl:a Corte e cafa
haver para 1nin1 mayor credito que faber-fe
ne11a, me fas V. Excellencia taõ particular
n1erce. Os efcrupulos de ci.ue fis avizo a V .
Excdl--encia na fegunda iníl:ancia, fe conver-
teraõ agora em dobradas rfperanças, e as p ef~
foas empenhadas fe promettem o gue per-
tendem com tanta fegurança, como fe jà o ti-
veraõ alcançado, de que eu naõ duvido, e
o torno a fopplicar a V. Excellencia com to-·
do o encarecimento; porgue cada dia cref-
cem mais as obrigaçoens que devo ao Irmaõ
elo pertendente. V. Excellencia fe naõ quis
vingar de mim, e eu o faço com o Sermaõ
inclufo, ciue taõ pouco inerece os portes.
lvfandou·-me o Padre Geral que pregaífe em
Italiano, e naõ baíl:araõ as minbas taõ juíl:i-
:6cadas refríl:encias para que me naõ puzefie
obediencia; e o peyor he,quefendo eí1e o pri-
meiro , naõ querem os Eminentiffimos que
feja o ultimo , e jà me tem intimado duas
Capellas, em que fe ajunta o Sagrado Col-
iegio' podendo ter por agouro que'r erem ºª'"'
vir hu ma lingua barbara.
Polonia eíl:à quaíi occupada pelo Turco;
e, a bom livrar, ficarà efte com duas Provin-
das,r
DO P. ANTONIO VIEYRA: 4!j
d as de Polonia e U crania, confinantes por
huma parte·com os feos Eíl:ados, e pelas ou-
tras tres cortl a mefma Polonia, Alemanha>
e U ngria, e dahi .co1n paífo aberto para Ita-
lía. Começa efta vizinhança a dar grande
cuidado em Roma, e fe fizeraõ jà varias con ...
gregaçoens de Efi:ã.do, em que mais fe reco ...
nhece o perigo, do que fe acha o remedia.·
Falla-fe en1 Bulia da Cruzada, que he n1eyo
fo bre pouco effeétivo, geralmente mal acei-
to. Alguma peífoa bem grande fey cu, que
poem os olhos na retirada de Portugal, e me
cõmunicou,eíl:e penfamento, na·õ de zomba..
ria. Se he o primeiro que o dis , naõ ferà o pri...
meiro que o prediífe. O certo he que eíl:e ac•
c idente farà mudar a fcena a toda a Europa.
Deos guarde a Excellentiffima Peffoa de V.
Excellencia como eu e os creados de V.Excel-
lencia havemos miíl:er. Roma 22 de Outu·
bro de 1672. ·

Creado de V. Excellencia.
Antonio Vieyra.
C.AR~
CARTAS '

"CARTA CXXII.
,,.

. Ao Marques de Gouveae

E
XCELLENTISSIMO Senhor: Com
. -1 ~oda a alma finto as queixas que nef-.
· ta ultima leyo da pouca melhoria de
V. Excellencia. Queira o Senhor da faude e
dos tempos, que eíl:e Inverno nos feja mais
favoravel aos achaques de V. -Excellencia
que o paffado , e que V. Excellencia poífa
trocar o me1:ecimento da paciencia com o
da acçaõ de graças que faõ as que eu deze ...
jo poder dar ao mefmo Senhor, totalmen•
te livre deite cuidado. HoJie che1Iou
o avizo
da fufpenfaõ de armas entre Saboya e Ge·
nova, .c om duas viltorias ultimas dos Saboy..,
ardos. Parece que fe pôs a balança da repu"'
.raçaõ em equilibrio, e pendendo para aquel...
la parte a inclinaçaõ delRey de França; en..
tende Italia íe farà a paz con1 as condições
do feo refpeito, fem fe attender aos apices da
juítiça.
Huma efquadra Franceza de fete ou oyto
· navios
DO P. ;~ANTONIO VIEYRA: 415
n avios fe começou a empenhar na ~lturadeLe­
orne, a entrar dentro no porto para queimar
algumas naos Olandezas que alli fe achavaõ
defarmadas; mas fendo avizado o ~ra·õ Du-
qu·e , venceo com razaõ e cortezia o que pa·
recia principio de mayor .r ompimento_: e fo
cõfervou a immunidade daquelle porto, o qual
com tudo fe fechou e reforçou de annas,
e vigilancia, e .ailim fe continua. · .
As mâs novas de Polo.nia continuaõ com
a cer_teza d~ fer t~n1ad~ Leopolis, e d'~l~ey ~
.e Rainha ( ·d e CUJa retu~aqa fe faHa) nao ha
que
·couz·a coníl::ante ;- e ifr-o he tudo o [e ou.-
·ve p-0:r dtas partes ·, deixando o novo cami-
nho· dos dous exercitos pleiteant~, e a nova
marcha do :. Pr,i ncepe ·de Conde a Lorena ,.
de que V. Exc'ellenáa terà mais vizinhos-e-
certos avizos . •Guarde Deos a V. ExceUencia
m uitos annos con1 a inteira faude que a Sua
·Divina Mageíl::ade peço em todos meos facri-
·ficios. Roma 5 de Novembro de 'I 67 r~ ·

Creado de V. Exc.
Antonio Vieyi:a. \

CAR~
._ _J

. ..( ')
- o<;./
t:t- r & • · C A 'R T A S

CAR T A ' CXXIII ~


Ao. Marques de ·GouoZ;ea.

E
XCELLENTISSIMO Senhor: N aõ
quero que V. Excellencia me mande
encobrir a noticia de feos achaques,
porque a quem ama e dezeja tanto a inteira
faude de V. Excellencia mais o affiige a fof:
penfaõ e cuidado, que as I?efmas noticias•
.Sirva-fe V. E.xcellencia d~ int~rpretar o fer ...
·viço d€ S. A. e zelo da Patria, n1ais a fav o.r
da mefma Patria e do mefmo Prin cepe. Se os
ares de Lisboa pron1etteren1 ~ como parece,
mais faude que os de Madrid ·, reíl:ituafeno,s
V. Excellencia àquell.a Corte, pois ferà n1ais
util, ainda ao bem publico, viver V. Excel ..
lenda mais livre de queixas nella, que Pª ""
decer tlnto neífa ; e a!Tim creyo que o de•
vemos reprefentar a V. Excellencia, e que•
rer . todos os que fomos creados de V. Ex...
cellencia. Os dous exercitos de Alemanha
e França, parece, que fo naõ querem aviíl:ar,
yem que faiba o mundo feos intentos , ço.m
- tudP
· DO P. A~NTONIO VIEYRA. 417
tudo . fe tem por mais pro ~ vel , que o de
Alemanha fe encaminha à Lorena, para on-
de partio o Princepe de Conde. Se o acci-
dente de Cadiz (como fe aviza de Genova)
he verdadeiro, naõ poderà deixar de dar no-
vos motivos ao rompimento que aqui fe te ....
me e dezej a variamente. · ·
As armas de Saboya e Genova .eíl:aõ fuf-
penfas , e a Paz no arbitrio .de França, a
qual começa a eH:ar n1ais bem viíl:a neíl:a
Corte, porque promette introduzir na:s con-
diçoens a viétoria de dous pleitos, gne a Re-
publica ti:nha com a Igreja fobre o Inqui...,
Iidor e Arcebifpo. .
. As couzas de Polonia p~omettem alguma
n1elhoria; os·Comiífarios daquelle Reyno ti-
nhaõ ajuílado com o Turco deixarlhe Ka-
minies , e as duas Provincias de U crania,
remido jà o fitio de Leopolis com -certa
fúma de dinheiro;mas naõ tjuis a Nobreza Po...
laca ratificar o tratado, e querem: profegufr
·i guerra com juramento de ~uniaõ e fldeli-
dade ·ª ElRey, e cominaçaõ de perda de of-
fic~u. e eíl:ados a todos · os que contravierem
a eíl:a refoluçaõ , havendo-fe logo cortado
ã cabeça a hun1 que a quis reíiílir ; co1n tu-
"'. Tom. I. , _Ggg d~
·4·18 C A ·R T A S ·'
do fegu iaõ ainda o partido contrario, mais
de quarenta cabeças, com que fe te1nen1 no-
vos tumultos. Os ultimes avizos dizem que
o 'Turco fe paflava a ajudar os rebeldes .de
V ngria , e haverà mais que recear defb.
parte.
Os noílos novos Prefidentes f6 faõ aquel-
les ,que lo~rarà a paz, e P?deràõ quietamen-
te adminittrar juíl:iça ; íe bem me efcreve
algum grande Miniflro, que andavaõ entre
mãos ·embrioens de tal ·expeltaçaõ , que fe
chegare1n a fahir a luz , tamben1 faremo
papel no theatro do mundo. O certo he que
nos dà bafi:antes cabellos a occafiaõ', fe fou-
berrnos tecer as tranças. Deos guarde a
Excellentiffima Peífoa de V. Excellencia,co-
mo o R~yno , e os creados de V. Excel-
lencia havemos mifrer. Roma 19 de No..
vembro de 1672.

Creado de V. Excellencia.

Antonio Vieyra.

( .
. · · ·CAR·
DO P. ANTONIO VIEYRA. 4r9

·CART.A CXXIV.
Ao M,arque's _de Gouvea.

E
XCELLENTISSIMO Senhor : Mui-
tos dias hà que naõ recebi carta de
V. Excellencia, que totalmente n1e
alliviaífe o cuidado, como a deíta Po!l:a. Dou
·i nfinitas graças a Deos, que parece quer con-
feífemos [ó a elle a divida da faude de V.
Excellencia, e naõ ao tempo) de cujo be~
· n éficio a efperavamos, e affim ferà màis fe~
gura. ··
.A qui naú ha novi.d ade fenaõ he dlar
S. Santidade muito bem difpoíl:o , havendo
oytenta e tres annos : fegundafeü:a fes con...
íiíl:orio em que fe efperava o provimento dos
tres Capellos vagos ; mas entende-fe , que
efpera que fej aõ mais , e que o naõ eng a...
·n arà a efperança. ~ ,.
- Hontem â moyte deixey ungido o Con,.;
d e de _Mefquitella fem nenhuma efperança.
Ggg ij - de
\
~-1 -
·~p.o C A R .T A S
de vida, perdidos os fentidos e movimen...
to muitas horas, n1as hoje amanheceo ref..
a
tituido tudo ' e com grandes indicias de
vida, p0íl:o que os tnedicos, hum dos qua-es
he Miguel Lopes, a naõ feguraõ de todo.
Veyo da India por terra athe Alexandri a,
d'alli a Malta, e ~e Malta a Marçelha, do n-
de encaminhou a Genova, e tendo paífado
por Florença chegou agui con1 febre dia da ·
Conceiçaõ, e da cama fe tra:tava hontem de
o levarem à fepultura, que elle naõ quis no-
mear, nem fazer te!tamento , porque naõ
tem de gue. O Reíidente o afliíl:e com gran- .
de cuidado , e todos os Portuguezes fazem
o mefmo ' exceptos os mais ricos. .
De Portugal feefcreve com grande affe ...
veraçaõ a liga comeffa Coroa, e com Olan-
da , mas como V. Excellencia no correyo
a.ntecedente ao paífado me diífe o naõ fabi a,
nem queria faber , poíl:o que fe referem faõ
muy aceitaveis , em nada lhe dou credito. O
certo he que as couzas de França fe vaõ pon..
do em taõ differente dl:_ado, que podem ani:
mar feos opp0fitores, que he nova razao
ele eu os naõ confiderar taõ liberaes ; mas
os empenhos faô taõ grandes , e a fortuna ..
tao
DO P. ANT'ONIO VIEYRA: 4i 1
t aõ varia , que fernpre aceitarà quem pu-
zer em feguro o feo partido. O que eu fo-
bre tudo dezejo , _he que as influencias do
inverno, pois faõ taõ beneficas, fejaõ inui-
to confi:aótes , e que V. Excellencia ouça.
os vilhancicos de Madrid com o inteiro gof-
to e faudc que a V. Excellencia dezejo:
.Deos guarde a Excellentiffima Peffo.a de V ,
:Excellericia como os creados de V. Excel-
lencia havemos miíl:er. )loma l7 de De~
zembro- de 1672. "'

. Creado de V. Excellencia •
. \
!
Antonio Vieyri.

o
CARTAS

·c -A RT A CXXVe
·_Ao Marques ·de Go1:1vea.

E
XCELLENTISSIMO Senhor: T ar...
:> dou efl:e correyo cit'lco d.ias ·m ais do
que coíl:uma, e melhor fora naõ ha•
. do, pois me havia de tirar o ôp-ran-
v.é ·. ch. ega
1 1

de contentamento , que com as novas do


paífado tinha recebido. Emfin1 , Senh or ,
eu as naõ efpe1:0 j à feguras de 1Vfadrid , e
nenhurna _couza tan.tç:> d.e.z ejo, como yer ref:
tituiclá a V. Excellencia. à noífa Corte , ef"'
perando da f~gunda natureza dos feos ares
o qtte a prirneira deífes nos promettia. Vi·,,
ver h.e o ·que ÍJ.l\po~ta · a. V. Excellencia , a
feos tré-a dbs , e à "P-átda ; cujos intereífes
com eífa Coroa , e com nenhuma outra po...
clem pezar tanto con10 eíl:e. Aceyte V. Ex..
cellencia eíl:a propoíl:a como de hum taõ
antigo creado da cafa de V. Excellencia , e
de hum coraçâõ taõ obrigado, e taõ fiel , e
porque naõ hà couza nova _deíl:a banda ·de
r 'j,Ue poder avizar ' firva-fe V. Excellencia
~ ·'~ . ·) ·de
DO P. ANTONIO VIEYRA: 4t;
de receber eíl:as regras como memorial , e
def pachallo como peço , pois tanto impor ...
ta. Deos guarde a Excellentifiirna Peífea de
V. Excellencia· muitos annos como dezejo,
e os creados de V. Excellencia have1nos rnif-
tir. Roma ultimo de Dezen1bro de 1672. ··

Creado de V. Excellencia

....«\ntonio Vieyra.

C ARTA CXXVI.
Ao Marque's de Gouvea.
XCELLENTISSIMO Senhor : A
car.ta c:jue recebi nefl:a Po.íl:a _, pare.;.
ce repoíl:a da q:ue efcrevi na paff'ada,
em que iníl:antemente pedia e protefrava a
V. Exce.! lencia a mudança do clima; mas
corno elle tempera o rigor con1 que a_the:~
'gora tem tratado a faude de V. Excellencia,
11aõ -.m e fica lugar , fenaõ de ped.i r -a Deos
~con:-c
414 C A R T .A S
a continuaç1õ da melhoria, e admirar o ex..

nimidade de ,r.
ceflivo e generoíiffimo zelo com g a magna-
Excellencia facrifica ao bem
da Patria, e ferviço do Princepe, o que neíl:a.
vida excede todo o p1·eço. , e naõ pode ter
outra remuneraçaõ no mundQ. ·que a gloria
de obrar aflirn. ··
O modo da morte do Marques de ~fa ..
rialva me laíl:imou rr1ais , que a n1efma 1nor~
te. Aqui o lemos n1uitas vezes nas gazetas
de Genova e Ancona pa!Iado a Caíl:ella ,
fegundo _de U efcreviaõ , por defgoíl:ado. Se
aflim fofle naõ feria a .primeira ves , que a
força defte toxico produziífe féiüelhan tes
effeücs; mas o l\fedico ·Miguef Lopes , que
hoje eíl:â em· Roma, me diife , que o cu~
ràra em hurna ultima ertferíni~lade de que
lhe prognoíhcàra femelhante acide nte ,
fe naõ fe preveniífe com. outros remedios.
O primeiro dia deíl:e anno amanheceo
da mefma forte morto o Càrdeal Gualtieri,
e em menos de dous annos fe contaõ feis
Cardeaes mortos por eíl:e modo, e faõ jâ des
os que S. Santidade tem enterrado , cuidan..
do todo o Conclave quando o elegeo, que fe-:
.ria -elle o prin1eiro.
Corre
DO P. ANTONIO _V1EYRA 42;
C@rre que Babilonia eíl:â ton1ada do Perfia·-
no; n1as tambem fe imagin~ que he fama
efpalhada pelo Graõ Vizir; como ç0{h1n1á,
para defruidar os Princepes Chrifraõs. Tam-
bern fe diffe eftes dias, que Charler<?y eíl:a-
va ·tomada pelo Princepe ·de Orange , aju-
dado co111 foccorros e artelharia de Flan-
des ; mas as cartas de Bruífellas ·que ch~g.a,­
r aõ honrem , defafrontaraõ os Francezes
deíl:e fucceífo , e mortificaraõ naõ pouco
aos Caftelhanos , que cantavaõ a viétori~
· co.m o fua. '
Honte1n.
me avifáraõ de Florenca,. - .eH:a-
~ .
va ren©vada e.m·Portugal a antiga liga_coin
Fra11ça, c:1ue eu naõ po.lfo c!er; mas fe eíl:es
faõ os embrioens .e m que fe 1ne fallàva, bem
podem temer-fe moníl:ros. Deos. guarde a
Excellentjf1ima peffoa de V. Excellencia, co-
mo os creados de V. Ex.cellencia havemo
miíl:er. Roma 14 de Janeiro de i.~72.

Cteado de V. Exceliencia
Antonio \(icyra.. ·
T'op;~ · 1• .
CARTA CXXVII.
Ao .l\:farque's de Go1Jvea.

E
XCELLENTISSIMO Senhor: N~õ
he novo en1 V. Excellencia honrar-
--/ me em tudo, nem as minhas cartas
podem receber mayor honra, CJUe dizer-me
V. Excellencia lhe faõ de allivio. O certo
he, qu . fe como nellas .fe trefiada a alma ,
fo pudera co1n :ellas ínfundir a faude ;, jà V.
E~cellencia ·a naõ veria de lo.nge, que he o
ciue eu fobre tudo finto. ·
Aqui fe paífa tremendo, os frios faõ ri ...
gorofiffimos, ~ os remedios., ainda que naõ
faltaõ , tambein faõ dariofos , a quem os
naõ ha cofl:um~do . .A paz de Genova fe tem
por conc1uida , mas aind1 naõ eíl:â firma-
da , e os Genovezes no mefmo tempo vaõ
alliíl:ando Efguifaros, .e Grifoens, e licenci- ·
ando todos os foldados Francezes, qrie n1i-
litavaõ em feo ferviço.
Jà avifey a V. Excellencia, que aqui cor-
ree
DO P. ANTONIO V:IEYRA. 4i7
reo que .Charlei-oy efi:ava. to1náda. pel'o Pri11-
cepe de Or-ahge co1n fôccorto das tropas de
Flandes , governadas por 1\iareim ; , nov~ q:Ué
tambem fe tev\ P<:>r_ certa em Paris , toh.~
notavel · confternaçao daquella Corte , cr.>-
mo de là efcrevem os ,, mefmos Francezes.
Triunfavaõ em Roma .. os. viz.inho-s de 'l.
Excellencia, mas dep~is 9ue fe foube a: ver"'• .
d ade do fucceffo, elles chorá<} l e os Gallos
cantaõ. · 1' - •· ' •

·Agora fe d1i•, rt1a1Útb_ú ,ElRe') de ·Fra1iça.


huma refoluta embaixada. â Rrtinha Cathot..·
lica , com declaraçaõ de guerra, no cafo em
que o Governa~or de Flandes haja da.dp o
dito foccorro p r ordem·fui l e quando i'laÕ,
o dito Governador feja logo removido do
poíl:o com as mais dem~níl:raçoens, que pe··
de a temeridade do cafo ; .que ailim l.h'e cha-
ma.ó.. ·
1

Os Alernaens eftaõ aquartelados , as


pontes febre o Rheno é rios ~izinhos ro-
tas, e o dinheiro de Caíl:ella e Olanda ,
como . dizem os Italianos , bebido. As cou-
zas de Polonia peyor que nunca, porque as
diffenfoens interiores tem chegado a rom-
pimento com fangue de ambas as par.t~~ ,
· , Hhh ij 8'o

~··,
'428 t eA ' R ,_r A s ~.
e o partido de ElRey ·qntes dimitl11e ; qci.e
crefc_e. Os Suecos,fe entende,efraõ corri Fran~
ç.ne Bran-deub\ng obriga.dos a acodir às'fro11-
teiras , e deJen'lpara.r outras partes do feo
Efi:ado ., onde os Biípo de Nlu'nfl:er ·the ·hà
<>.c curado proximan1ente a.lguris lugares.
lito he tudo o ~ue fe paíia em· Ro1na, .pe...
10.9' avizos 111ais auth.entico,s • . Deos guarde
a EJ\cellentiffima Peífoa de V. ExcellenCia,
como o noffo Reyno , e os creados de V .
E~c\:llencia havemos miH:er Ronia i8 de
Janeiro <le 1673 ~ .

Cre11do d.e V. ·Excellencia. ·

Antonio Vieyra.

C.AR-
DO P. ~NTON10 · V1EYRA , 419
; .
l ' ,. . ...

·6 AltT A EXXVIII.
~ ~

-
E
XCELLÉNTISSIMO.Senhor: I-Ion-
• tem chegou o correyo; e hoje pat-
te; ·a: de.ti:lê1-tiada tardaôÇá fazia jà
{ufp"eitar que o tériáo defvalijado alguns fal-
.
.t ead0res ·FraQcezes, como .fizeraõ eíl:es dias
a . out ·o ddfa Corte 1 que hia para Alema-
;

nhà; ·n'las •eu·depoi-s que> ll a carta de V."Ex:..


1

cellencia, entendi que tarda.r ã , porque me


trazia taõ . boas ·nov·as. EfHmo guanto naõ
fey; nem ·poífo encarecer , que' as queixas
de ' ''~ · Excellencia tenhaõ ceffàdo ; e ainda.
- que o tempo , e os n1edicamentos te~ha,õ
fua parte rios ~on~ ·effeitos da fa-yde ', eu dou
toda a gloria, e todas as gràças ao Author
de todo o hem. · · ' ·-
Os vizinhos de V. Excellencia ahdaõ
p0r eüa banda muito cabHcaidos , pofro
que fazem . quanto podem pelo diffin1ulàr ;
antevem e terne1n o rompimento , e ne.íl:e
theatro do mundo lhes dà mais ·c uidàdo a.
reputa-
4.30 C A' R .T <A S
reputaçaõ , ainda que o naõ faibaõ enten..
der, nem dizer. Tambern vejo que luta a
neceíiidade con1 a foberba, e que eíl:a cof·
tuma cahir , e aquella naõ póde vencer.
Sermos nês as remoras dos feos impulfos ,
ta.mbem o exprimentamos , porque fempre
fe doe1n defl:a parte, e ainda que lh·e queira:.
mos fegurar o e,ontrario,naõ a.os daõ credito.
Em Roma fe. vaõ continuando as feftas
do Carnaval com mais concurfo ·a ellas ,
que as quareq~a horas. Eu preguey fobre ..efr
affumpto nas <le S. ,Lpurenço ..·en1 Damafõ
antehontem, co.m ta0 pouco fruto em Italia-
no, como ferà e~ Portugues no ~ermaõ de
Cinza, que faço no no!fo -S. Antonio. Affif..
tiraõ no de S. Lour~n.ço dezanove Car"'
dea.es ; e para que V. ExC.ellencia veja por
quaõ Portugues me reputa.õ os. vizinhos de
V. Excellencia, notou-fe, que faltàraõ os da
fac~aõ Hefpanhola , podendo mais com ·
Eminentiflimo Nidardo as razoens do .pre
frnte Miniíl:erio , que as da antiga irn1an ..
qade. Naõ he eíta a primeira ves, qúe ;:on-
fdfo a V. Exc.ellepçia os meos efcrupulos ,
a.inda que he hum peçq1do refervado, e qu
fó fio dofi~illo de V. Excellencia; e V. Ex-
I
cellenci•
DO P. ANTONIO VIEYRA. 4-31
ce lencia me dara a abfolviçaõ. Deos guar-
êe a Excellentiilin1a Peflóa de V. Excellen...
eia muitos annos , como Portugal , e os
crea.dos d . Excellencia havemos n ifter.
Roma 11 de Fevereiro de I673.

rea o de V. Excellencia.

Antonio Vieyra.

e TA CXXIX.
Ao 1.Warques de Gouvea.
XCELLENTIS !MO enhor: Don
a r. Excdle eia o parabem da no-
. · .a do Senh r Duque ln úíGdo~
Gera '1 q-ua na.ó deixarà de fe. e nfirma-
J

& e~ '.í'.' .a ,. , r fa ta de ape1 05 ag s,


-à tres ntíl e ann(l o ut ft acref:
ce::1ta1.a_, ). e _ · eo<J. e in 0e , ta d1 a, , a
outro') . . . oi.TS. ,.; e ef a a- cr pt< tr > e fe-
g! 0
4j°2. . ·e A R .T A S . ,
gundo as poucas efperanças, com que alguns
Eminentiffimos fe achaõ, de longa vida, n:iõ
parece que fo contentarà a morte de ac~...
bar o anno fem tornar a avizar 'o Sacro Col-
legio. Eu ainda que naõ p1 ego efre anno o
1

l'viandato , tenho algun1as duvidas fobre o


t./ 1rn dile~~~i/fet /itr;s 1 poíto. '19~ a faude, e ro~
buíl:a diípoGçaõ do Pontífice pron1ettem que
n aõ fora o ln jinem , ante dieni feflum P afchte.
Com tudo antes de ter.m os eil:a nova de Lis-
boa, 111e âiífe o noílo Refidente; que lhe ti-
nhaõ dado, ou promeífas, ou feguras efpe-
peranças. As deíl:a terra naõ merecê tanta fé,
como a fua ·fe perfuade. O~ Princepes ·dos
arcanos o faberaõ n?elhor , que eu fó fallo
pela boca do _vulgo :, e fem ter regateira na
praça Navona. .· ~ · ·.,
Naõ fey em que fe fundàraõ os temores
de eQ:ar Amíl:erdam rendi~a , porque fa õ
n1uitç differentes as novas , e fupp.o fiçoens
com que daquell<i banda, 6 da rnefma Fian...
ça fe efcreve. O certo parece que he, ha·
verem os Francezes. roto a guerr1 ~na !ndia
.c~m o~ Olandezes , e occupado hmti Caf-
J ello e p~rto ·na Ilha de Ceilaq , ·rendo rr0s
:pr_ime~ro adoÇado efta irrupçaõ dâs no~a
· . Con-
DO P. ANTONIO VIEYRA. · 433
C<?_n quiítas com a falfa. nova · 9e havermos
recuperado Cochim. · ·
A eíl:e ponto chega a carta. de Geüova, em
que fe dis por mayor haverem alli chegado
avizos do Norte pouco favoraveis às armas
de França, e naõ fe oflerece de prefente ma--
teria a que fe applicar eíl:a l'loticia, fenaõ
. ao exercito de Turena , que fabemos fer
partido em foccorro de Munfrer f obre hu·
ma Praça citiada pelo Marques de Brandem...
burg. Eu fico muito atrazado na faude , e
com poucas efperanças de a recuperar neíte
clima, porque ha muitos dias, que o dl:a-
mago me naõ logra aliivento por exceífo de
frio;mas em quanto durar a vida,eftou fempre
ao ferviço de V. Excellencia com o mefmo
coraçaõ. Deos guarde a Excellentiffima Pef-
foa de V. Excellericia muitos annos, como
Portugal , e 0s creados de V. Excallencia
ha remos mifter. Roma 2 5 de Fevereiro de
1673
Creado de V. Excellencia.
Antonio Vieyra.
Tur11. l. Iii

' jo
. 434 C ARTAS

CARTA CXXX.
Ao Marques de Gouvea.

E
XCELLENTISSIMOSenhor:Jà os
correyos com a fua menor tardança
nos trazem melhores novas das ne-
ves, que por eíl:as bandas em · algumas par-
t es chegàraõ a igualar as ruas com os telha...
dos , co111 tudo as naõ vimos nefi:à Corte ~
como neífa onde o frio·, ou a frieza he ma-
yor.
A difpoGçaõ que os Medicas chamaõ
neutra, quizera eu antes para a convalecen...
ça do noffo Reyno que para a faude de V.
Exc~llencia. Naõ fó ·o Conde de Humanes
pela fua parte , mas tamben1 os Miniíl:ro.s
Fr~ncezes pela fua, ouço que nos receitaõ
iníl:antemente o contra.,rio , mas as conje-
éturas prefentes nos promettem pàs com to-
dos os que perfuadem a guerra a qnem tem
taõ pouco com que a fuíl:eatar. ' .
A 14 do mes paifado entrou Inglate~ra
em Parlamento, taõ folicitada da amizade
- . dos
DO P. ANTONlO ViEYRA. 43)
=dos Olandezes, como de mutua Religiaõ;
e fe entende que por eíl:es dous intereífes,
alem do CTeral., naõ virà aquelle ·Reyno em
dar o dinheiro neceífario para as delpezas
da nova Armada, naõ efr~ndo França em ef-
tado de o fupprir ; ·com C]Ue os dous Reys ou
daraõ , ou aceitaraõ as condiçoens à C]Ue os
obrigar a neceffidade.
Polonia fe vay difpondo à uniaõ e de fe-
z a., mas vagarofameate : e o Turco, fegun-
. do referem os avizos de Veneza, faur1ca
em toda a parte o mayor poder naval , com
que ja mais as fuas armas fe viraõ no mar.
Teme-fe muito à Sicília _, que tambem com-
figo naõ eíl:â pacifica. De alguma das nof-
fas Ilhas chegaõ por cà novas:> que querem
indiciar o mefmo; mas com a rnudança,gue
dizem , de Confeífor e Medico fe fararà tudo
em corpo e alma. Envejo a V. Excellencia
a quarefma de Madrid , porque aqui fe ou--
ve todos os quarenta dias o mefmo Prega-
dor. Tireme Deos a paz e falvo de hum
Seraõm Italiano que heyde fazer a frmana
que v~m, a Rainha de Suecia, cujo extraor-
di nario e fublime genio fe fatisfaz mal, ain-
d~ do que naõ he ordinario. Deos guarde
Iii ij a Ex-

31
436' C A R T A S
a Excellentiffima P.efloa de V. Excellencia
como dezejo, e os creados de V. Excellen~
'eia havemos miíl:er. Roma r r de Março de
1673.

Creado de V. Exceilencia

Antonio Vieyra~

·CARTA CXXXI
Ao _Marques de Gouveae-

E
XCELLENTISSHvIO Senhor! Com
grande difficuldade. poffo fazer eíl:as
breves regras ' pela pouca faude com
Gue fico ; mas naõ he bem. que falte eu _à
minha obrigaçaõ , em quanto de todo me
naõ falta a vida. '
Sobre o negocio do recommendado de
V. Excellenéia falley logo ao Refident~->
que
DO P. ANTONIO VIEYRA. 437
qu~ me difle efl:ava · ·pofi:o em via , e en-
tendi o tinha tomado tanto :à fua conta.,
que naõ quer t"enha outrem- o merecimento
em fervir ao gofi:o de V. Excdlencia. N if-
to lhe acho muita razaõ, e eu tarnbem fi-
zera o mefmo , fe con1 os documentos da
materia o puderà folicitar f mas fem. elles
naõ fey que faça n1ais que ratificar de no-
vo _aos pes de V. Excellencia que eíl:ou fem-
pre a elles para obedecer , e feguir as ~r­
àens de V. Excellencia ·em tudo o que V .
Excellencia for fervido mandar-me; e ifro
fem nenhum efcrupulo , porque fey ciue o
affeél:o e Theologia de V. Excellencia fe a ..
coita fempre às opinioens mais provaveis . .
Da faude e vida da Senhora Rainha de
Inglaterra li hontem em huns a'Vizos da-
<]Uella banda muito ruins novas; mas naõ
devem ter fundamento , pois mas naõ da
Duarte Ribeiro. As de Polonia faõ fó dos
preliminares da uniaõ, à que fempre accre-
fcem difficuldades. O Turco affiíl:e aos re-
, beldes de U Egria ~ e os Aíl:rologos. Italia-
nos rt•~o aífeguraõ delle efra fua terra ; e
tambem parece _CJue fallaõ na noífa , ,e na
Il J. Terceira. As pazes de Geç.ova com
Sa-
43 8 · C A ..R .1"' .A S . - ·
Saboya fe- havia.ó de p11blicar honte1n, ce~
dendo a Republica em·algu.ns pontos do ho ...
norifico, por conforvar o de Fr3:nça. Deos
guarde a V. Excellencia muitos annos .co ..
mo dezcjo, e os creados de V. Excellenda.
havemos mifl:er. Ron~a 15 de Março de
1673.

Creado de V. Excellencia ·,

.Antonio V ieyra"
\.

CAR~f A CXXXII
Ao.Marques de Gouvet1.
)CCELLEN'TISSIMO Senhor: Bern
creyo da falta de carta m_inha no
-'li&..-"""' · correyo paflado, infe~iria V. Excel-
lencia ficar eu em efi:ado que o naõ ·pode- .
ria efcrever; e affim. foy, -porque ainda hoje
faço eít.as regras na cama, para onde me trnu-
xeraõ em b.r aços hà dezoito dias, ferido ·'lii
caheça,
·n o P. ANT·ONIO VIEYRA. 439
, cabeça , e eíl:ropeado de huma perna, por
haver cahido de noyte por huma efcada de
pedra,. com grande perigo da vida por fer
defcend~ e de rofro,com todo o pezo do cor-
po, e dos meos annos. - Mas a Deos graças;
depois dos coíl:umados martyrios , j à me co-
meço a)evantar [obre humas muletas. Ago-
ra me receitaõ os ares de Albano, donde
rn€ recolherey 'e m ciuanto, ou quando naõ
permittirem mais auzencia e mais allivio
as mutaçoens de Roma.
A morte de Pedro Fernandes Monteiro
fenti, porque -0 merecia o feo zelo, e tam-
bém o que falta·em muitos. Os finaes de
'-predeíl:inaçaõ com que acabou, naõ bailaràõ
contra as lingoas dos que invejaõ a heran-
ça de feos filhos , a quem fe prognoíl:icaõ
.cuílofos pleitos com a Fazenda Real. Ao
Conde de Caíl:ello-melhor aviz'a õ, que aa
·hora da m,o rte fizera huma folemne decla-
raçaõ e proteftaça6 de fua innocencia por
meyo do Padre Confeífor. Naõ fey fe baíl:a-
r.j; ~<te. .. ,,.fl:emunho para o tirar de Turim ,
onde [e acha bem viíl:o, más faudof0.. de :Ilia
r'-::'à. Os dias paílados efcrevi a V. Excel-
le- ~'ª que no antecedente fo publicara a pàs
de
440 CARTAS
de Genová com Saboya; mas naõ foy afiirn ;
porque fe dilatou athe fabbado r 5 do cor-
rente. Elles naõ eíl:aõ fatisfeitos por alguns
pontos de reputaçaõ; nos quaes julgàraõ de-
··viaõ .fatisfazer rnais a. ElRey de França ,
·que ao Duque. Na pàs de Olanda fe . fa.lla
muito, e fe cre a dezejaõ todos os -interef..
fa.dos , e naõ menos os vitoriofos. Só os po...
bres Catholicos de Inglaterra tem jà a guer..,
.ra declara.da e nomeadarnente os Jefuitas.
Polonia ei1â iquieta,, e ElRey reconhecido ,
n1as naõ parece que em tennos de fahir eite
anno em campanha contra o ,..furco, de cu··
. jas armas efcreven:i gran.des apparatos os v e..
nezianos, e no refi:o da Italia he mayor o
receyo, que a prevençaõ. EíHmarey que eíl:e
correyo nos traga inuito melhoradas ;novas
de fa.ude de V. ExceHencia, que he o que fó
rne dà cuidado d'alem dos Pirineos~ E Deos
nos guarde a V. Ex:cellencia muitos annos
como o Reyno, e os creados de V .. Excel ...
lenda haverr10s mifter. Ito·m a 27 de Abril
de 1673. j.
1
. • •

1"' Creado de V. Ex-cellençia~ il.


Antonio Vieyra.
CAR..,'
DO P. AN~ONIO . VIE.YRA~ 441

CARTA CXXXIII~
/lo Marques de Gouvea_.
'C
:
OM grande cuidado e alvoroço ,ef-
p;ro êíl:e co~reyo, entende~do .que
Jª me podera trazet a dezeJada no-
va dos bons effeitos que o~ Me~icos prome...
tiaõ à inteira faude de V. Excellencia na
cura da Primavera, que pord.l:a banda tem
fido ·mais quente que frefca. ·
Com o ultimo Extraordinario deíta Cor ...
te fe tem accrefcentado a confufaõ , e naõ
vencido as di:tHculdades, que cada dia faõ ,
ou fe fazem mayores contra a breve expe-
. diçaõ_, ou declaraçaõ dos dous · Capellos.
Carregaõ-fe as defculpa.s fobre o 11arque-s
de Aftorga, e tambem fe affirmaõ ·occult1s
inff uencias de muitos poderofos Miniíl:ros de
Hefpanna: Prefume-fe que iíto fe quer dila- ·
tar athe quehaja cinco Capellos vagos, com
quP juntamente .fe fatisfaçaõ as obrigaçoens
. Tom •. !. Kkk . da.
4 ..p, , e A R ·rr A s
da Cafa. Rofpilhofi, e as do no,v o parenta...
do da Cafà Coiona, a quem eflà prometti··
do, e os fei-viços e merecimentos de Mo n-
fanhor Crefcenti Meíl:re de Camera de Sua
Santidade, que geralmen te fe efpera ferà feo
fu cceffor. Os Embaixadores de l-Iefpanha e
F-rança, como taõ intereffados nefra promo-
çaõ,fe unen1 fortiffi1narnente no requerin1en..
to della , e fe vifitaõ frequenterr1ente com
Jarg as conferencias.
. ·Publicada e1n França e Inglaterra a
Guerra contra Olanda, vay-fe paffando aqui
e paffar-fe-hà todo o ~.fayo e1n difcurfos e
.erognoíl:icos do fucceífo , q ue nem todos af-
feguraõ aos authores. Tem-fe por certo .q ue
lhe naõ faraõ embaraço as armas do Empera-
dor , e que eftas teraõ affás que fazer na reíif-
~en cia .do Turco, cujos defignios fe naõ co-
nhecem athegora com certeza,.porque as·dif-
fenfoens de Polonia parece_que o convidaõ ·
àquella parte, e as obrigaçoens e intelligen-
cias dalJ ngria e Croada, parece., o naõ cha-
m aõ menos a eíl:a. Os avizos . de Veneza
concordaõ em ·q ue tem feito ponte iobre o
Danubio, e que vay marchand0 para Bel~
..gra~o com oytenta mil Cavallos e fet :nt_~
mu
DO P. ANTONIO .VlEYRA. 44~
mil Infantes, a quem feguirà o Graõ Vifir
com o reíl:ante do exercito que fe forma
d:n Andrinopoli.
Suppoem os Italianos que aproveitan-
dofe Portugal da occafiaõ,recuperarà a India,
n1as quando ouvem que partiraõ para là f ó
tres Naos, e que .óaõ ha dinheiro, dizem
o que naõ refiro por naõ molefrar mais a
V. Excellencia. Efcrevem de Lisboa que te-
mos lá facçoens de Cabelleiras, e Golilhas. /

Deos nos conferve na pàs que nos deo e a


V. Excellenda guarde Deos muitos annos.
Roma 7 de Mayo de 16;73.

Creado de V. Excellencia.

Antonio Vieyra.

Kk ij CA ...
4444 · C ' A R. T A ·S ·

CAR1~A CXXXIV. ,
Ao Marques de .Gouvea.. ,

E

XCELLÊNTISSIMO Se1,1hor: Fal-


tey com carta a feman~ . paífada por
dlar fora de Roma em lugar onde
naõ tive por quem a pudeífe rem·e tter:. Era
efi:e Albano, muy accreditado pela bondade
de feos ares , e onde a mayor e melhor par··
te da Corte vay lograr · efte beneficio nos
dias da Pri1navera, rnas para mim naõ hà
mudança em que experimente melhoria ,
porque fempre me levo comigo.
Eíl:a mefn1a experiencia me eníina ore-
purar por n1enos efficâs a .·mudança de Ma-
drid a Lisb<Ja., que eu tinha por unico re-
n1edio à faude, de V. Excellencia. Sinto que
o achaque teime ;anto. a repetir , que na.ó
baíl:em tantos aúxilios da medicina ao ven-
. ,cer , e feja V. Excellencia obrigado a tirar
f~ngue; e fó me confola , que nos ·prínc1-
píos da Primavera o que he remedia, pode
fer juntamente prevençaõ.~ ·
En1
DO P. /i.~TONJO VlEVRA. 44J
Em Roma naõ hà novidadé.; temeo..:fe .
grande a femana paífada, porc1ue S. Santi-
dade fe .achou mal, de modo, que naõ pode ·
dar a bençaõ en1 dia da Afcençaõ, n1as ho-
jà e a manhãa a.ffiítirà jà a todas as funções.
defta Solemnidade.
~ · Para a nomeaçaõ de Capellos fe efpera-
v~ (oífem mais que os cinco, e fe teme fe-
_ja o primeiro o do Cardeal Brancacio, que
fica fobre 81 annos doente, e recabido.
De Polonia naõ ha mais qui: a perfeve-
rança da uniaõ; mas duv!da-fe que eíl:e an--
no poíiaõ fahir em campanha. Trinta mil
combatentes com ciue o Mofcovita os man-
dava affifrir, dizem fe1raõ desfeitos pelo Tar-
taro, e que o Turco vay reforçando as fuas.
tropas. No poder naval- naõ fe falla , e fe
alliviaõ os receyos com ' a maxirna daquelle
lmperio em naõ em prender duas guerras no
mefmo tempo. Em Alemanha fe arrnaõ to-
dos os Princepes; naõ fe fabem os intentos;
fervem as negociaçoens. T em-fe por certo
o cazamento do Emperador com a Princefa
inípruch , e que fara a viagem com gran-
de rodeyo por naõ pa!Iar pellas terras de ou-
tro Princepe. .
ElRey
446 CART· AS
ElRey de França jà ·fica em campanha
e o Princepe de Conde em Utrecht. 'Tem-
~e por mais provavel que ferà atacada al-
guma praça de Flandes , e tanto mais [e cre,
quànto dize.n1 aqui os Cafl:elhanos gue em
Cadis fe fazia reprezalia em toda a prata da
frota pertencente a mercantes Francezes.
Tambem ouço que os dous Reys fazem no.o
vas iníl:ancias na J?.Offa Corte pelo rompi-
men~o com Caíl:ella. O certo he: que algum
de feos Miniíl:ros deo hum memorial ao Pa~
pa fobre o provimento do Bifpade de Ceu• .
ta, em que nos tratava taõ indecentemen...
te, e com tais fuppofiçoens na finceridade
da pàs , que naõ ferà muito de eftranhar
termo la por fofpeitofa , e tratarmos os vi...
zinhos como declarados inimigos ; mas nif-
to naõ nos dizem nada de nóvo. Deos guar-
de a Excellentiflima Peífóa de V. Excellen-
cia muitos annos , como dezej o , e o noífo
Reyno, e os creados de V. Excellencia ha-
vemos miíl:er. ~orna 10 de :fylayo de 1673.
·Creado de V. Excellehcia
Antonio Vieyra.
CAR·
DO P. AN'"f•O NIO VIEYRA. 447

CARTA ··cxxxv.
Ao Marques de Gouvea.
'

'T
XCELLENTISSIMO Senhor: Naõ
quizera que a faude de .Excellencia
fofle neutra ; defie genero, e por efi:e
meyo fe paffa ao fi.111 gue tanto dezejamos
e havemos miíl:er. Supra Deos o que athe-·
gora naõ pode a medicina, pois o merece
a fineza com que V. Excellencia. efrima
mais o bem da Patria que o da faude, e quer
antes a paciencia , que a mudança. Ouço
que fe aconfelha efra a V. Excellencia .c om
todo o amor e efficacia , mas eu me naõ
quero retratar de fer mayor generoíidade
fervir aos Princepes que obedecer aos Pays,
pofro que he o diétame da Senhora Mai::-
queza qne eíl:â em Lisboa , e do mais fiel
creado que V. Excellencia tem 1em Ro ...
ma.
Aqui fe fes agora promoçaõ de quatro
Cardeaes
448 ó A·R TA s
Cardeaes, N erli, Flor~ntino,que eftava Nun...:
cio em França, Ca-~áldi, Genoves, Thezou...
reiro da Camera Apoftolica, Cafanati., Na-
politano Secretario da Congregaçaõ de Bif...
pose Regulares; Bafadoni, Veneziano, Pro··
curador de S. IVIarcos , que foy En1baixador
ne!la Corte ., ne.íl:a, e na de Inglaterra; to-
dos .a lfim Italianos ; ficando o quinto Ca-
pello in peElore, ·e naõ . fen'do, nen1 haven-
âo fer rpara Portugal , pofto que .os preten""
dentes , daquelle Reyno fe deixàraõ facil...
mente enganar na ciença, ou efperan~él do
contrario.
.Senterr1 os Gaíl:elhanos por cà , que çm
Madrid fe feguiffem ·votos de paz , que os
Francezes igualmente e!Hmaõ e çelebraõ,
promettendo-fe a ~ltim~ vitl:oria d.e Olan""
da, que ferà o principio da fua guerra. ·Peyor
he [ó, que bem ou mal acompanhado. J?e
Polonia e do Turco -ainda naõ hà couza
'
certa , mais que 'Os r.uin~ v aticitiios , que
cóíl:uma prometter a pouca ~niaõ e pouéo
dinheiro. Deos proveja deíl:es dour foco!ro.s
ao noffo Reyno , donde fe efcrever;n muitas
-couzas em cont.r ario ., e a V. Excellencia.
guarde, como dezej o , e ~ mefmo Reyn~ , e
os
DO P.-ANTONIO VIEYRA. 4-4~
os creados de V. Excellencia havemos mif-
rer. Roma 17 de Junho de 1673.

Creado de V. Excellencia

...~ntonio Vieyra..

CARTACXXXVI.
. Ao Marques de Gouveatb

E
XCELLENTISSIMO Senhor : Mui ...
tos dias hà me naõ alegràraõ tan-
to as cartas de que V. Excellencia;
me fas mercê , como efi:e efcritinho de 3I ·
de Mayo , todo de dentro e fora da m aõ de
V. Excellencia , gue parece hum grande re-
greífo da intefra faud~ ,, de V. Excellencia
eíl:ar reíHtuido. àqúclla· antiga diligencia,.:
e robuíl:êz , com que r.fepois de haver viíi-
tado todo o hofpital ,_ às oyto horas da man-
hãa em menores dias que os d'ag·o ra, tinha
V. Excellencia defpachado por 111aõ pto;·,
Tom. 1. Lll pria
450 C AR T A S
pria a mayor parte do correyo.
N eíl:e foube qi1e mandàra V. Bxeellen...
eia requer1er a graça do Chantrado de Evo-
ra para htlm filho _da Senhora, <Sondeffa de
Santa Cru~: e tambem V. Excellencia ha...
. vera f'1:bido as grandes diligencias e em..,
penhos, que ainda defta Corte fe fazem pe-
lo mefmo beneficio. V. Excellencia fen1-
pre obrou com menos trabalho , e mayor
effeito, porque applica, -e fe ferve dos inf..
trumentos mais proporcionados , como V.
Excellençi._a fez neíl:a úccafiaõ , em gue ~f.·
pero prevaleça o_ refpeito de· V~ Exce~len ...
ci~ a todas. as outras negociaçoens : as que
couberae na minha esfera, foraõ, apontar as
ra~ões, da pr.eferencia,e incom:paravel excefio
della, com-tudo o mais, naõ .fondo neceílaria
niuita eloqué·cia para o perfuadir, e- o dig~ pa-
rn·gue feja prefente a V. Exc. que naõ falto à
müi:ha oorigaçaõ, nem 1ne he neceffa-r io . nas
mater-ias de farviço de V. EX!ccllencia outro·
av-izo ·, que a nGticia delle-.
·. Aqui oomeçll:Õ a. chegar- as. p.i:imeiras ·
flores· da Campflnha, que· queren.dofe co-
lher· em Sa:ns cfe e;ante, por [e-haverem d'éf--
Cll_b_eno· certas inte1iigencias. , [e patfou o
. ex.erc1to
. DO P . .ANTONIO .VlEYRA. ~ri
. exercito d'ElRey Chriíl:ianiflimo a M~.íl:rich.:
1nenos bem prefidiado eH:e anno , que o
paífado , e com manifeíl:o rifco , fo nefia
Corte , e na de Viena fe na.ó derretem os
gelos da ' fri~ldade Aie.mã.a .
· Das Armadas navaes fane.mos <]Ue fe
combateraõ em Oíl:ende aos fete- do pa!fa-
do , e que <lutou aqueHa. bata1na del<..1e ó
meyo dia athe às oyto , em que fe- viraõ
arder, e voar alguns Navios, porque o vert-
t o os hia amparando ; ~ fe entende, !ilie no
<lia feguinte tocnariaõ .a provar , ou conti..
nuar fáttuna. Dentro em quatro dias fe ef-
pera aqui hum Etnbayxador de Mofcovià,
De Polonia e Turco 11aõ ha mais que
preparaçoens. Deos guarde á V. Excellen•
eia muitos annos , como d Reyno , e o
creados de V. Excellencia havemos mifte;.
Roma e> primeiro de Julho de 1673.

Creado de V. Excellencià.

Antonio Vieyr-a.
.
Lll ij CAR..
451 C A R T A S

CAR1~A CXXXVII.
Ao Marqu.e's .de Gouv.ea. ·

E
XC::ELLENTISSIMO Senhor: Naõ
fou taõ defvanecido, que cuide, me-
rece a minha faude o cuidado de
V. Excellencia, mas fou taõ experimenta ..
do na n1ercê com que V. Excellencia hon . . ·
- ra a efte creado feo , que naõ duvido . to-
da a demoníl:raçaõ que V. Exc. he fervido
.f ignificarme. De Deos a V. E.xc. a inteira
faude que eu dezejo, que tudo o mais im--
porta po,uco. Nem o retiro de Albano, nem
outros divertimentos me ajudaõ a reparar os
dous principios da vida , em que fempre
me vejo mais atrazado, naõ podendo dor-
mir, nem lograr o comer; co1n que de no-
·vo me receitaõ os ares de Napoles , que
por ferem deífa Coroa , . naõ fey fe me fe-
raõ mais favoraveis ; ma~ ainda naõ fey o
ciue ferà em quanto eframos nos mezes em
que fe naõ pôde entrar , nem fahir de Roma.
. Aqui

,
DO P. ANTONIO. VIEYRA. 4.53
Aqui fe ficaõ dando batalhas [obre o
Chantrado de Evora , em c:iue no fegundo.
.correyo foy foccorrido hum filho do Con-
de de \ 7 illa Flor com huma carta, em que
S. A. ordena ao Refidente o peça para elle
em fe o nome, com que fe fufpenderaõ to-
t1as as a.rrnas do noffo Reyno, affiíl:id:is po.,.
<lerofamente de quantas Purpuras ha em
Roma, empenhadas as mais dellas por in-·
tercetfaõ deíia Corte: e iíl:o he tudo o que
poffo dizer a V . Excellencia fobre eíl:e ne-
gocio , em que o Refidente , ~orno jà ef-
crevi, fe mofrrou taõ fervidor de V. Excel-
lencia , que naõ- qui~ deixar parte de-me ...
r_eci.mento aos crcadbs que V. _Excellencia
agm tem.
·_ Tambem ouço , porque o naõ fey por
via mais authentica, que cedo hirà a S.- A.
hum Breve extraordinario para que íe coroe;
[ó me havia dito o Refidente por vezes ,
GUe S. Santidade de motu proprio lhe fal-
lava niífo; e me declarou m ais o dezejo e
conveniencia da cooperaçaõ. E que me di-
. ra V. Exceltencia a correr em Roma, c:iue
ElRey Carlos II. caza com a Princeza de
Portugal, allegandofe exemplos J de que os.
.; . _ def.
4J4 C A R T A S .
ddpoforios fe podem celebrar ern taô pou.,;
cos .anno,, r En naó pe.rgunto a V. Excel:.
iencia eíl:e arcano , porque e naõ c1·eyo ;
. ·ruas fe V .Exc. mo perguntar, quem fe nom.ea
·por author ddl:a grande obra., podello-hey
dizer a V. Excellencia , e quando tenha
qualqu@r fundamento , direy tambem·o qu~
finto. .
Se V. Excdlencia rern mais. certas no·
tiçias do fncceffo das fres batalhas navaes
~ue 3.qui chegaõ: por Fb.ndes, e França, tf...
vr';trà V. E:xtcellencia a Roma da mayor
confufaõ, ~m que fe viraõ as duas pareia...
lidades ; fe bem a de França, com ·as hof-
tilidad@s con·tra Genova, fempre vay dimi ..
_ nuindo entre os Italianos. Em quanto fe
naõ confegue o 6.m de lançarem os Reali...
ftas g©nte ~m: terra de Zelanda , ou Oian-
da, fe eíl:aõ <l.e .m elhor partido os Olande-
zes, ainda que fe queitm.em Ruiter e Tromp.
Poionia m1l an:;natl;a. co,m o dantes.No Tur ..
QO. atll-eg0ra naõ fe, fali.a, conw o anno pa.f-
fado. As Gah~s d'e Maiha tiveraõ , huma vi~
étoria, em q.u e. tomàrao qua·nro Navios. , e
tmtf-Os· quatro maitto ricos . Agora me d_i-
~m." que SJChemhevg he paífado a lngla...
terra
DO P. AN1TON.IO VIEYRA. 45 5'
talia para ·go'v·er:nar as armas terrdhes em
Ze1andaJ, ou Ola nda, com que parece: fe ef-
pera po.dede·fazer @defe11nb:n_que.Beos guar-
de a V.Excelfon-cia·muit:os·annos,com:o deze~
Jo, e-os· cread©~ de. V. Excellerrcia havemos1
miiler.. Ro1na· 111. dh Julho dé 167 ;.

Cr:ead©·de·V. Excellencia.

Antonio Vieyra,.
. .
:c _A R TA CXXXV1[I.·
~- Ao · Marques de· Go14vea~

E
' .
)f€E1.~EN1JISSIMQ. Senhor. : Hon-
ten~. ch.eg'àraõ-- aqui · dous Pad resA~~
raibidos- , dando de, cordonaços as
mutaçoens i de R:.on'la' que me- de'ra:õ muito·
p-a rticuJa:res· e mdhorad-as · novas· da· faude·
de. V . Ex-c ellência:, con-1.as ·quaes· me tinhaõ
a-ífaz fubor.nado: ~ fe eu fora_ Miniího. da
Con-
4;6 C A R T AS
Congregaçaõ , aonde vem bufcar ta.ó cali...
ficada juíl:iça. Eu me offereci a fervillos em
c_]nanto por mim , e pelos amigos preíl:ar ;i
como farey, e devo em tudo o que V. Ex-
c:ellen ci~ fo.r fervido ordenarme. Jà raeífa.
Corte fe crerà, que ElRey de França ci-
tiou, e rendeo Mafirich em menos de quin ...
ze di.as. Todos os Italianos que eíl:avaõ den··
tro , e os Cabos Hefpanhoes morreraõ , e
depois que ficàraõ íõ os foldados Olande-
dezes , fendo mais de quatro 1nil , naõ Pº""
de o Governador ,. matando mais de vinte,,
obrigaUos a que fizeffo.in cara ao inimigo,
e affi.rn fe rendeo. Eíl:es faõ os valentes que
nos tem em feo poder Mina, Ceilaõ , Ma...
laca , Cõchin1 , e tudo o mais. N aõ fey fe
bafi:arà efi:e exemplo , fobre o de Pernam-
buco e Angola, pa.ra que os conheçamos ;
e nos conheçamos , e naõ queiramos , que
das vittorias de França fejaõ os mais ricos
defpojos os noífos. Jà naõ po!fo refponder
às injurias que aqui fe dizem contra nós ,
naõ ficando de fóra os vizinhos de V.· Ex...
cellencia com terem mais apparente defcul..,.
pa. Os Polacos, com.o fe aconfelhàraõ co1n
huma terra que eu fey :> naõ fazem nada na
· · fua
DO P. ANTONIO VIEYRA. 4s1
,fua. O Turco eíl:i ja com grandê .exercito
.cm campanha. , efperaõ-fe as novas que fe
podem efperar; e aqui fe vive, e bebe frio
alegremente; eíl:amos em vefpera de Santo
.Ignacio, dia muito occupado neíl:a Caza..
·Deos guarde a V. Excellencia ~ como deze-
jo , e os creados de V. Excellencia, e o
no!Io Reyno ha rniíl:er. Ron1a 30. d~ Ju·.
:.fho de 1673.

Creado de V. Excellencia.

Antonio Vieyra:

·e ARTA CXXXIX. 1

- Ao Marques de Gouvea•
.·E ·
·
XCELLENTISSIMO Senhor : Ha
muitos qias me falta o coíl:umado
favor de novas de V. Excellencia,
:e comparando a noffa Corte com a de Ma""!
e Tom. I. - · Mmm . drid >.
·458 C A R T A S
·drid, neit~ differença naõ lhe acho outra,·
·<jUe a de frr Corte e111 Cortes, e por iífo ._eu
tambe1n com advertend~ (e naõ defcuido)
·1ne tenho abíhdo em alguns correyos ~-e to-
niar o tempo a V. Excellencia, que fup~
ponho muy occupaclo em confolhos , pois
naõ acabaõ de fahü- as refoluçoens, que teú1
fufpenfa a expeétaç.aõ. do mundo.
Efte noífo goza feliciffima paz, e naõ
fe fabe o no~ne a /temor, nem a guerra,
mais que ciuando chegaõ os correyos do
Norte, em que athegora a tem embargado
os gelos, poíl:o que com duas fangrias, hu:..
· ma ~m Borgonha, outra no Palatinado, de
que naõ correo n1uito fangue. .
A Genova fe pedem ainda de França os
Artilheiros > que conftantemente fe negaõe
No 'Turco naõ fe falla. Kaminies eftà ci-
ti'ada pelos Polacos, e apertada em tal fór-
rna, que por hofas fe efpera a foa recupe ...
raçaõ. N eíl:e rnez, efcrevem, [e farà a e1ei-
çaõ de Rey: e queáthegora moftraõ ter n1e-
lhor partido o Duque de Lorena, e o filho
do Princepe de Conde. A coroaçaõ de S.
A. fe efpera e dezeja , e fe prognoftica ~ '
9ue ferà com aufpici0s de clení.encfa, _haf...
. · · ··. tando
DO P. AN1~0NIO ·VIEYRA. 4))
tando por caftigo a algll11S delinquentes h~...
vello merecido. Ao Senhor Bifpo Conde ,
fe ainda he hofpede de V. Excellencia , bei•
jo mil vezes a maõ , e Deos guarde a V •
.Excellencia. R oma 7. de Abril de 167 4.

Creado de V. Excellen,cia

Antonio Vieyrá\.

C ·A RTA CXXXX.
Ao Marques de Gouveae ·

E
XCELLENTISSIMO Senhor: Hu..·
·n1a carta que n deíl:e correo' diz ,
que fervem neífa Corte os Confe-
lhos de Eíl:ado; e eíl:a occupaçaõ, junta com
a da continua affiíl:encia do Paço, creyo de
a caufa de me. faltarem ha tantos dias no-
vas de V. Excellencia. Nunca tanto as he
zejey, nem ta~to as houve miíter, porque
Mmm ij de
46'e C A R T A S
depois que V. Exc'ellencia me ·fez mercê
dizer, achàra Lisboa convertida em Baby-
lonia, todas as confufoens que de là fe ef-
crevem , fe me fazem criveis; e fendo tan-
tas e taes , que excedem toda a fé , bem
conjeéturo qual ferà em todas as materias
o voto de V. Excellencia, mas temo mui-
to, que naõ fejafeguido, pois todos os avi-
zos vem cheyos de queixas, e dilaçoens, que
faõ melhores para temperar achaques, que
para farar enfermidades agudas , e de íimp..
tomas taõ perigofos, como por ca fe pu- /
bHcaõ. Os que V. Excellencia n'outro ten1-
po chamava vizinhos, nos promettem pou-
cos n1ezes de vida , e os que agora faõ vi-
zinhos de V. Excellencia nas reíhicçoens,
e mi.íl:erios com que fal iaõ; parece que i:e-.
ceyaõ o mefmo. Sirvafe V. Excellencia pe-
'ia mercê que ·v. Excellencia me coíl:uma:
faz€r, naõ de communicarn1e os arcanvs
facrofantos, mas de mandarme participar
o que diz a regateira de V. Excellencia :r
que fempre ferà mais, ou mais certo, do
que mo.íl:raõ faber os noífos Miniíhos def-
tas bandas.
Das guerras e pazes do Norte terà. V.
Ex. .
DO P. ANTONIO VIEYRAr' 461
Excellencia mais .frefras noticias das 9ue
aqui chegaõ todas as femanas. As de Le-
vante faõ fempre incertas, e aflim fe diz de
novo; Gue o avizo de haver o 1'"'urco meti-
do foccorro em Ka1ninies he falfo. D'ElRey
de Polonia naõ ha ainda refoluçaõ. Accref-
centa-fe aos oppofitores de França e Lo-
rena, e Brandeburg o filho do Mofcovita
com grandes partidos, hum dos c:iuaes he
fazer-fe Catholico. Qaqui foy algum dinhey-
1·0 ( naõ muito) tirado das decimas dos Ec-
cleíiafticos, entrando ta1nbem . os Regula"."
res, c:iue para eíl:e fin1 fe lhes impuzeraõ de
~ovo. O Embayxador de Veneza reclamou
pela fua Republica. O de Genova efl:à jà
accommodado com França , de.fi.íl:indo· El-
Rey da pretençaõ dos bombardeiros , e
mandando reftituir a gale a Marfdha , em
que fe · efpera triunfante Mon.fenhor Du-
razzo. Correo eíl:es dias, que D. Domin ...
gos. de Guzman fora morto em Bolonha de
hum arcabuzaç·o; agora fe começa a dizer
<_J ue fora. falfo; mas he coHume neíl:a terra
matarem os homens' ·aas Gazeta·s , e avifos
p ubl.icos ou fecretos., quando naõ querem,
ou naõ podem ·vingar-fe de outra maneira.
: o
46t C A R T A S
O Papa naõ fó vive, mas eíl:à . para. viver_
muitos annos.
· A Rayn ha de
Suecia efrà mal tratada
de huma queda, e eu fou taõ defcortes ,
ciue naõ fuy à fua antecamera faber como
eíl:ava, fendo pafiadas tres ou quatro [ema-
nas; o que naõ digo fem myíl:erio, por cer-
ta allufaõ de huma· carta que recebi neíl:e
correyo; e folgarey que là fe fayba , que
poíl:o que fiz todas as prégaçoens, naõ acei-.
tey o titulo , nem provifaõ , nem beijey a
maõ àquella Mageíl:ade, nem fiz aéto , pe-.
lo qual me pudeíle obrigar ao reconheci-
mento do feo ferviço .o mais efpeculativo
Jurifconfulto; [alvo fe algum efperava-, que
eu lhe déíf~ conta da obediencia dos meos
Prelados. Se a V. Excellencia chegou algu..
ma noticia da allufaõ que digo, e a mim.
n1e naõ declaraõ , eíl:imarey muito faber o
fundamento, porque eu lho naõ acho, nem
de falto. &e. Qeos guarde a V. Excellencia~
Roma 2 r. de Abril de 167 4.
Creado de V. Exc.
4.ntonio Yieyra·.
A
DO P. ANTONIO VIEYRA." -463
A Senhora D. Maria Henriques, iíl:o he,
Irmãa do Torre, me mandou -agora rega-
lar com huns doces à Portugueza por eu
andar indifpoíl:o, acompanhando o n1imo
I
CGiTI hum efcrito de muito rnà letra , em
que me pede o faval· de \T. Excellencia. fo-
bre hun1a reviíl:a de certa demanda de feo
' Irmaõ, que eíl:à ·em maõ elos Dezembarga-
dores Joaõ-Carvalho de Maris , e Joaõ de
Roxas de Azeve.d o. V. E::ccellencia pela mer-
cê C]Ue fempre me fez nefre Tribunal, fe fir-
va ampararme neíl:e foborno, def6rte que
na© tiq ue obrigado à reíl:ituiçaõ, e para
·q ue ·v.
Excellencia incline fua piedade a fa:--
vorecer a caufa _, accrefcenta a fupplicante,
.q ue ameta de do procedido C]Ue lhe p erten-
ce, a t em dedicado ao dote de duas fo bri-
nhas ' qu e ciuer meter fr eiras' e nefra terra
chô 1nelhor conta de fi , que em Bej a. E
{obre t udo me guarde D e9s a V. Excellen-
cia. Segred o na fórma do m emorial, que fo-
- bre tr es fe n tenç as confórn1es, efpero que
tenha j uítiça.

.. t
'·CAJt ...
CARTAS

Ao Marque's de Gouvça.
XCELLENTISSIMO Senhor : Por
certo que naõ faberey fignificar a
V. Excellencia os effeitos que cau..
fo11 na minha alma eíl:a carta de que V. Ex..
cellencia me fez merce, efcrita e1n 2-4 de
Abril, havendo tantos dias que fe tinha def..
continuado eíl:e favor, nunca interrompido
em quanto V. Excellencia efreve em Ma·
drid. Os ar~s de Lisb.o a, bem fey que me
naõ faõ propicios, mas tambem me tem en~
.finado a experiencia , que a benignidade do
animo de V. Excellencia naõ fe muda com
os climas.Eaílim me ficafó lugar defentir,que
a caufa deíla differença feja a que V. Ex-
,. cellencia tem padecido na faude : quererà
Deos que as agoas de Afpaà c~m a entrada
da Primavera tenhaõ obrado os milagres
que os Medicos promettiaõ da fua taõ ce...
lebrada. virtude ; mas tambem tenho ou ..
· vi do
DO P. AN1o\ONIO VIEYRA. 465
~rido gue fóra da terra do feo nafcimento
naõ coflumaõ ter tanta efficacia. A nova
Raynha de Polonia, Franceza de J'.'Jaçaõ ,
tem t al propriedade , (_]Ue concebendo na-
quelle R.eyno, para que folhe logrem os par-
tos, bade vir a parir à França. E pois fal-
ley en1 Polonia , ,q uero pagar à rega_teira
de V. Excellencia de quem fempre naõ fó fuy
devoto, mas devotiffimo às fuas frutas no·-
vas, de gue V. Excellen eia foy ferv ido fa··
zerme participante , muito differentes das
que por ca fç vendem.
Eíl:a manhãa chegouExtraordinario de Po-
lonia, contra a efperança de todos os avi-
fos, . que aos 20 de Mayo fora eleito por
r:y o General Sobiekhi com univérfal ap-
plaufo, ven cendo as invejas da ultima vi-
l.toria que teve contra os Turcos, e os em-
penhos de todos os Preteníores , que era
hum Ir_m aõ d'ElRey de Dinamarca , hun1
filho do Eleytor de Brandemburg , e Gu-
tro do Princepe de Conde , e con1 n1a-
yor partido que todos, o Duque de Lore-
na , naõ fallando no de Parma , ·em cuja
coroaçaõ eíl:ava m y empenhada a Caza Bar-
herina. A Irmãa do Emperador que fe ef..
7óm. !. Nnn perava
~ '\(D
- 1
1

466 CARTAS ·
pera.va ca.zaffe nefta eleiçaõ , tornarà, fe..:
gundo fe cre, para Viena, onde ella naô
ferà muito applaudida , -t.porque Sobieíchi
por affetto e beneficies, he todo Frances ;
mas rerà Polonia a Coroa na cabeça de
hum grande foldado ' bem neceflario con-
tra os exercitos do Turco , que unido com
o Tartaro campeava fem reíifrencia. El-
Rey de França, quando fe cuidava hiria fo ....
bre Flandres , enveftío a Franche-conte ,
onde entrou nos primeiros de 1.vfa y·o, pon""
do Gtio a Befançon, que athegora fe defen·..
de galhardamente. O Conde Caprara por
carta que ~ui efcreveo a hum feo Irmaõ,
como h.um dos Generaes do Imperio , pro-
mette introduzir foccorro a viva força, fem
embargo da oppo!içaõ do N[arifcal de ·Tu...
rena, prevenido por ElRey para lhe impe-
dir o paífo. De Flandres para onde pa.rtiG'·
o Princepe de Conde, (e naõ ouvem athego-
ra mais que bravatas. Vi carta de peífoa
fidedigna, em que fe referia haver dito o
Conde de Aífentar,que a Liga fe achava com ·
cincoenta mil cavallos. Trõp e Ruiter tinhaõ
partido a embarcarfe na Armada, G~e {obre
hum grande numero de V azos grandes, lev~
mais
DO P. ANTOl'l.I O VIEYRA. 467
mais de cento menores para o defem lJar-
que. Naõ fe fabe onde defcarregara o ra-
yo; que fe entende ferà de pouco effeito
em qualquer porto de Fra9ça. De N apo-
les , Sicilia, e Sardenha partern as Gales a
aJuntarfe c01n as. do Dugue de ·r o.d is e.m
Barcelona, e dizen1 os antigos vizinhos de
V. Excellencia 1 que eíl:as co1n as demais,
e1n numero de trinta e cinco) encorporada.~
co1n a Armada de Cadis, e outros Navios
Olandezes citiaràõ Colibre por mar, nar . ..
chando por terra o Dúque de S. Gennan
com vinte e oyto nlil infan t es , ·e oyto nlil
cavallos. Se affi1n he, bern tera .que fazer o
Conde , ou Duque de Scho1nberg , mas p:a··
rece a forma do apparato ·mayor que o n ..
1ne da ernpreza. O Papa eíl:à para abrir e
fechar a porta do Anno Santo, e ífto he tu
cio o qn~ poífo dizer a V. Excel1e11c1a· de{:.
tas partes, fendo 1nuito mais as novas que
pudera dar de Lisboa. O noífo :R elidente
da a entender q ue S. A. fe coroa , e affirn
O· H em hmua 'C3.rta fua j e com fel'Ctl.1 eíteS
fegredos taõ publicas, naõ mereço. fer par~·
ticipante delles : e acc ·efcentava a dita
cana, ferà [em duvida, .ainda qt;ie nenhuma.
· Nnn ij cut1..a.
~ t.)1
4.68 C A. R 1 A S .
outra o diífe:ffe, e {.anteS> o contrario. Ao
Senhor BifjJo Conde, rrre.o Senhor, beijo. mil
vezes a maõ, e rhe alegro de ·que os achaques
de ·S,, Illuíl:riíli.rt}a kjaõ os qi:,1e·.mais aifegu·~
.l·aõ ambas a.s raizes da vida. Deos guatde
a. ·V; _Exceil encia muiü>s annos , como e.íl:e
R.eyno, hoje mais gue nunca,- e os creaçlos
de "l. Excellencici haven1os ·nüfl:er_. R.oula
3. de Junho de 1674. -· · · · · ·
1 1,.

' '

Creaclo' de V$ Excellenci~

.Antonio V~eyra. .:

FIM
.
do.Primeiro
. Torno.
- ~
rc· -

Você também pode gostar