Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CARTAS
Pe A~'l'TfJNI,(_f,.\l !I ,EYi .t
. D O .,
da _Companliia de JESU' ,r
TOM.O PRiN!J~}i; . b.
OFFERECIDO
AO E~HNENTISSIMO SENHOR
NUNO DA CUNH.A
E, ATTAYDE
Presbytero Cardeal da Santa' lgr~ja de Ro111a
do Titttlo de Santa Anajlajia , do Confelho
de Eflado , .Gué1~ra , e DeJPacho de Sua
Màgeflade , lnquifidor . Geral ne]l.es
Reynos, e Senhorios de Portugal., ·
~
LISBOA .OCCIDF:NTAL, .
Na Officina. da Congregaçaõ do Orat.orio~
J./. Cg • • •
M.DCC.XXXV.
CfJ~~ todas as li:enç as nece..ffarias!
l·
,-r"
·' ,,
.........., ..
' ' .) . . . .
~EMI~~ENT'ISSIMO SE,NHOit~
....
_A O he triluto·, he refli-.
,. · · · - ·· . tuiçaõ o· livro qne offe-
reço d V. Eminencia, pois a fita generofà·citrio.;
/idade fez a mais numeroja collecça?J das Cartas do.
Grande P adte Antonio J/ieyra , e com o/eo pa--..,
'#'ocinio (e re.fõlveraõ·muitos dos que co.m dijZ.ulpa--.
vel ,. PPª! cruel a.varez·a ;· guardava{; tafJ preciofas .
or~ginaes, a .fiallos de quem os havia de impri'-.
mtr, feni o·perigo de· os v:Ulgári.zar. Deve à me....
moria 40 .Âuthor fl. V. .Ernin~n.cia o matyor hene.,,
·ficio., pois neflas Cartas hrtlhaõ mais a4 foa dou..,,
trina moral, p:oJitlca ;.erudita, e_difireta, ti zelo
~· . - -
. . -lj,
* .. J
~~
tia Religiaõ , a fidelidade dfita P atria , ç fcien:. ~
eia, e a elegancia em qt1e floreceo, e que //.,
Eminencia tanto ama , e patrocina. 7'ambem de-.
vo a V. Eminen.cia mais o favor de me permittir
que · e~ concorrejfe, para que fe puhlicajfe Ohrt:t
tao excellente, dando~nos a efperança de que com
a fua protecçaõ fayaõ à luz outros efcritos tio
Grande P t1dre Antonio //leyra , e entre elles o
dez,e:fa?JO\/t•lJro,de Clavis Prop~etarum, qi~·e efte
Author prefena , naã rnen~ ·que a todas as outras
obras fuas. Na Co1''te de R oma, e nas prir1cipaes
f
·de Europa , em que 17. min~nfia !ªõdignan!en-
tt. ,tfppareceo., m:h~u // . Em1nenc1a., que .ainda
depoi~!!! qúaji meyo feculo perr!J._aneúaq os eccos
de/}e tnjigne Org.dor: mas pouco trnporJava , que
efle me influij]ê toda a faa eloquencia, fe a·rara
modeftia de //~ Eminencia tne naõ interpuz~ffe
inviolavel jilencio , para que o que he Dedicato...
ria , naõ continuaffe P anegyrico ; e ejle he q. uni- .
to facrificio , qite faço com violeni·ia nos preceito1
de V. Eminencia, que athe nefla parte hey de·fe..i.
{(ittr por affeélo, e por obrigaçaõ. ])eos guarde a·
Í< Eminencia mt,Útos annos. . . ~
:Bejo as mãos d~ V. Erriinenda.
Seo amigo, e rnayor cativo
'\
Conde de Ericeyra.: ..-··
... PRO.:
1
•'
~..
...
PR.OLOÇCJ~
AHEM €m6m à luz as promettidas e ·.
dezejada.s Cartas do Grande Padre
Antonio Vieyra Jl Gue fieln1ente fe ; ~o ...
pi àra~ dos feos odginaes. Efia he fó a Apolo.;.
gia ·Ôe que 1i.eceffü:aõ , porque o no1ue defie
infigne Author e a1fegura da injuil:a fuppofi,;,.
çaõ, ·de que. haja criticos taõ atre·vidos, (ple
poífaõ cenfurallas. A efre priniefro volume
.haõ de feguir~fe outr·os à prQporçaõ , 'lue :ie
forem juntando·ot1 ra5 Canás , havendo jà
hafrantes para frl)qrlarfe·g undo, e terceiro to~
mo. Na'Õ feduvida; que com os illuíl:res ex~
·éµ1plos do Eminentiffimo Senhqr Cardeal tia
Cunha , do Duque ·do Cadaval D. Nuno
Ahrares Pereira ., e ld:eoutros , :qu~ genetofa..,
n1e:nte enriqueceraõ ·o. .rnN,ndo li.teraria corn
" ' 1l
...; • , C1t(;S
,.
LI-
LICENCAS
do Santo Officio.
LlVRO que V. Eminencia foy fer- ·
vido n1andarme rever; tem por ti ...
tulo: Cartas do Padre Antonio f/i-
eyra , e eíl:e fobrefcrito baíl:a. para recommen-
daçaõ das mefmas Cartas. Os preceitos da ar-
te Oratoria faõ differentes dos que fe devem
obfetvar nas Cartas; mas como o juizo do Pa7"
dre Antonio Vieyra os podia dar em toda
materia, naõ faõ menos exce1lentes, no feo
genero , as fuas Cartas do que as fuas Ora-
ções Evangelic:is. 01nodo de dizer he diverfo,
·c omo pedia a differen~a dos efcritos.; mas o
Padre .Antonio Vieyra em huns e outros,
igual , e fempre o mefmo: Princepe, como
Tullio, dos Oradores, e Meíl:re, tambem co.-
mo
1110 ._elle , do e!tilo epiíl:olar. Publique n1.:.{e1
L
f~rve de Pr:ologo à fua Hiíl:oria ~ atüral ~ cha.,, ,
rnd. r-:inio,, fro, e Emperador jucundi!Timo a:
Vefpafiano á quem a efcrevía: e íe afüm fal ...
lava hú1n h o n1e1n taõ douto, e taõ .advertido
a hum Em pera dor provcüo em anno~ .e en1
niunfos , po rquê naõ u,faria o Padre AntoHio
Vi eyra de tern1 os fernelhantes, fallando con1
hum Princepe que eíl:ava na Bor da idade, e
que era rn'el hor Tit? ·[filho de 1:11~lhor V ef-,
p afiano J e melhor cp1e elle, delicias · Ge feos
vaffallos? No corpo da Carta diz tamben1 o
Padre Antonio Vieyra ao Princ.epe D. Theo-
d.ofi0, que lhe maada naquelle papel a fua
alma toda; e bem .o n1oftra a rnefrna. carta,
p orgue todahe alma. Nella lhe infpira os d·i..
lt ames e meyos mais opportuncs para fe fa-
zer temido, e amado : temido 4os inirnig os r,
amado dos Portuguezes. Nella o anima com
as razoen.s rnais fórtes e mais vivas a fahir a ·
campo na? fó para defender , mas para exce-
der com o valor os limites do Reyno , dila-
t ando-o dentro do dominio dos feos aggref-
fores. Nella finalmente lhe offerece com a al-
ma unidas todas fuas potencias para lhe affif-
.. tirem , como auxiliares na guerra.. Iíl:o he
(ainda que fumrnariamente,e mal referido) o
que diz àquelle Grande Princepe o Padre
An- f
Antonio Vieyra i e eíl:es õs qiie
chama atre~ .
vimen-tos do feo amor, e de que lhe pede pc:.:~ ·
daõ depoi~ d~ concluir a carta : mas feme"'I
lhantes atrevimentos naõ fó faõ proprios do~
. amor, fenaõ de hum entenditnento taõ v-a··
lente, como prudente, o qual naõ eftà atado
a os preceitos communs, e fabe fahir dell'es ,,.
fem fahir de fi, quando o pede a occafiaõ .. De-.
fia carta pois, e de todas a.s mais deíl:e livro
fçguramente poffo dizer , que faõ dignasr dq
Padre Antonio Vieyra que . as efcreveo, dig-
.nas de V. Eminenci~ a quem fe dedicaõ , ~
por todos os títulos dignas de {e eíl:a:mparem.,
Eíl:e he·o meo parecer: V. En;iin~ncia manda~
rà o que for mais acertado. Lisboa. Occid.en•i
tal, e Congregaçaó do Crato.r io em 1s.i. de·
Mayo de 1734,
Joaõ Col.
IMl·.;
r
EMINENTISSIMO SENHOR.
jt'• . [
', . Viíl:a. ·
//
·v·. líl:as as hi fo1'maç6ens 1 p~de-fe Íitiprí..:~.
. · n1ir .º prirnei~·.o tomo da~ Cartas d~ P~
Antonio Vieyra, e ~epois de impreífo; ~or . . .
rúuà para fe conferir, e dar licença que corr'a '.
fem a qual naõ .corre~à. Lisboa Occident'1il :
23 •..de Julho de 1734. . ·- · , ~.
' \
Alenéajlre. Teixeira
Silva. Caheâo. . ..
'
DO ORDI1'1 ARIO ..
Gouve.a.~
Db
n -o PAÇ-o
SE NHO .R.
M
ANDAME V. :rvLagefiade , que
. vendo eíl:e livro, o primeiro tomo
das Cartas do Padre Antonio Vi·
. eyra, enter·ponh.a o meo parecer; O preceito
de V. Magefl:ade faz precifa a obediencia ,
mas o refpeito, e o. nome do Author a faz im-
pra&icavel: Qpem hade fazer juizo das Car . .
tas de hum h01nem, que encheu o mundo to..;
<lo de a.dmii:açoens, fendo as rnefmas admi-
taçoens curta esfera à Íua gq1ndeza? De hurrt
a outro mundo o levou o defl:ino, muitos fo-
:riaõ os ·m?tivos, em que difcorriaõ os juiz os~
.n1as o ceri:o he, que a natureza, fr!T!pre pro-
vida, quiz moíhar, que hum f6 n1undo era
]Jequeno theatro para a reprefentaçaõ de
hum homem taõ grande. Em. Roma, cabeça
-d o·nuindo_, e cabeça toda, appa~eceo o Pi}\;
ore -<
1
dre Antonio Vieyra; e admira.da de taõ pro:
fúndo, . e degan.te juizo, conheceo , que a
vetdade do que via, era 111uito mayor, quG
agrandc ºt°'i niaõ, que foava natjuella Cu ri à.
pelos clarins da fama. O mefmo Pay da Cõ ...
panhia, e gi-ande-Pay., o Padre Paulo Oliva,
mandou imprimir, com o feo, o Serrnaõ do
Padre Antoni0 Vieyra na beatificaçaõ do
Santo Eíl:anislao, naõ fr enve'rgonliando, de
que eíl:e Filho pareceffe iinayor que o Pay;
n1as gue rnuito, fe cdta Agµia Evangdica the
a íi mefino fe excedia? Eu conheci em Madrid
ao Reverendiffirno Padre ~1eíl:re Frey Felip-,
peHortis de Mendoça Definidor Geral do.ç.
M ercenarios calçados, homen1 igualmente
douto, e virtuofo, que naõ lia os Ser.moens;
do Padre Antonio Vieyra,fe11aõ proíhado de
joelhos, dizendo1ne, <;1ue naqnella reverente
attençaõ mofl:rava os elogios , que naõ fa ...
biaõ explicar as vozes. O mundo fem contra.""•
diçaõ lhe deo a coroa de Princepe dos Orado...
res ! e a.inda que muitos guizera,.õ foguirlhe o·'
paílos,athê agora nenhú lhe chegou ao thro-'
no : trabalhaõ com fadiga , 111as direy ( corrHf>
dizia o n1efmo Pad~e para outr0 intento) qu .
como remaõ contra mare, he 1nais a agoa,
que fuaõ 'J que ia qMe vencem. E fe fubio taõ
glm·io".'.
tios i.P'r .eg.aa5lr
,. _.~lo·riefomerite ao :'Princip~d6'
.r~s; venh.a'õ à :luz as fuas Cartas., athe ag'Qt~ "
. .encubertas na ,ambiciofa curiofrd,ade dos fa....
bi~s, para quç naõ haja · 1mpet~o. ,de erudi,.
ç.~5· ,i de qtle efte Grande.· Padte naõ. fej~ ·Mo.;.
nanqa. ·Muitos efcrevéraõ liyros de Cartas , e
1
"
D. Alex:andre }'errey,rtJ~
~ • 1 .. " ' ' • : ' ' J t
1 '
..
.
"l . r ~ , .
•J
Soares. A/;reu~
·cv
.
Iílo · efl:ar confórme com o Origi~
nal, pode correr. Lisboa. Occiden~
tal 9. de Agofl:q de 17 3 j'º
/
'"
. .. ....~ .. ·
,, '.
'
."!ti.;"
., • 1
. ,..
'
('
...,,i .,
1.J . '
'\
.. 1 1
'
1
... Hr
l
.. i . r 1 í1 6 ') í "·t
.
', ~\.,
' '"
~
.,,J
. ..
,,
,,,.
... ''~1'
r • .::...,
·1
."l
·' l r:;
~,. \ 1) ( i. 1, 9 ;;~ :J :.
~ (• V
' ..., 1 .,
'J
J1 r•. l~,.1.~ 1•....
; •i ,;1·.._;
.. { ) . "'\....
J~ ........ ~ 1 ...
,.,,,,.,,.., .. e-
,1 .1d t ·•
•,
J r·
··'
•f'
..,
'1 .,. 'fl'
~ ~~j
.
1 ·) {
f
J "1 .. i
.. . ''
'" ~
"'....
• .. .
.. , ~.-. '4
.y. ·,J- .'...·
" '~ '*
...
') i' ' "
..
. ·1.
CAR ·T A. I.
j • !
~ ~,
.l
• ' • ) , - .. 1
tiaY1o
r t
éf-
1,
1 (.
Antótüio· V~eyra~ 1 }
' t.
.,'
iC AR...
DO P. ANTONIO V!EYRA. '~
·e A .R TA. ·I.I®
1
. l
me/mo
·N
Ao Miniflro.
, ... i J
' r
Se1~vid.or de·V . .M . ·
.A1:u:orúo 'Vieyr~.
' .. 1
•
' '
.
CAR..
DO P. Al\TTONIO VIEYRA. 7
CARTA. IV.
Ao mefmo Minijlro.
.va. .
As novas gue poíio dar a V. lVL de
Catalunh.a , fàõ : ha.ver lnun anno que lhe
falta Vizorey ; dlâ. norneado o Duque de
Mercurio , e fobre naõ acabar de çhegar ,
fe fa.lla varian1ente : ten1-fe pela. cauz a
1nais verdadeira , naõ querer , ou naô · lhe
poder dar hoje França. o fo.ff1 que elle naõ
hade ..:vir _; entretanto governa a guerra.
l\1:0.qJieur de Marcin Frances , o politico
D. Jofeph de Margarit Catalaõ : e a hun1
e outro .aíiiH:e fo1n titulo o Biíf)Ü_ de ~Aaria
·hu.ma das melhores cabeças de França. A
elle e ao Governador ou,ri fallar fobre as ·
couzas de Portugal , com huma noticia
taõ inteira de tudo , e co1n circuníl:ancias
taõ particulares , taõ miudas , e taõ inte-
B ij n ores 1 .:i.. 0
JI
12 C AR T ·A S
riores , que aflirmo a V. M. fiquey igual.;;.
mente efpantado do n1uito que fabem de
nos ' e magoado da pouca noticia que nos
temos delles , e dos mais. O poder que tem.
França em Catalunha naõ arriba de dous
1nil cavallos , e a.the quatorze 1nil infan""
·tes nos prefidios , fuíl:ent an.do tudo hà mais
·de hun1 anno à cuíl:a do Principado. As
confequencias que daqui tiraõ os Catala.és:,
e as que nos podemos t irar ' deixo ao dií;:,.,
curfo de V. M. Cotn eíl:e taõ pequeno po-
.<ler fe atreveo o Marques de Marcin a hit
efra {emana intentar huma interpreza fo ...
bre Tarragona ; havia de fer na noyte de
antehontem , e naõ {e fabe athegora .mais
que havetem.:..fe ouvido tiros pela madru...
gada, final de que foraõ fentidos. Os dias
paíf.1dos falüraõ os Caftelhanos da ·n1efma
Tarra.gona fobre eHa parte de Barcelo~a
~1ue fó diíl:a onze legoas, com hum exerci-
cito de~ 1 0 U. infantes, e 3 500, cavallos, ef...,
perando que com. a vizinhança <lefte po-
de haveria quem tomáíle a vos de Caftel-
la neíl:a Cidade ; n1as no , mefmo ponto
foraõ lançadas della , ·e levadas ·a França
.;e: a outras "partes , todas as peífoàs .P rinci...
paes
bO P. ·A NTONIO VIEY~A. 13
paes de que havia <jualciuer fofpeita , po-
-O:o que a nenhum fe lhe provou , nem
averiguou culpa ; e com eíl:e defengano fe
retirou . outra v.ez para Tarragona o ex·
ercito Caíl:elhano, defmantelando fón1ente
as fortifica:çoens de alguns lugares peque·~
nos que eftaõ junto à marinha fem exe.c u-
tarem hoíl:ilidade alguma , nem nas pef-
foas , nem nas fazendas , porque o feo in·
tento era ganhar com bom - tratamento
os animas dos Catalaens , e a efte finrqna-
fi todos os Cabos do exercito .eraõ naturaes
de Catalun~1a , como tambe.m o he D.
Joaõ 'de Quai~ay, a cuja --ordem vinha tudo.
O Colleitor ·que aqui eíl:â , <]Ue he boa
peffoa ,- e dezejofo de fer promovido para
.:eífe Reino , me <l.eo a nova do Cardeal
Albernos fer morto ; com que teremos
. ~menos em Roma hum grande inimigo. Ef-
-fava feo hofpede o DuGue del Infantaào ,
-que naõ havia muit_o era chegado con1 feo
Tio ·o P. Pedro Gonçalvez de ~.fendonça.
Sahio por Geral da Companhia o P. Fran""
dfco Picolomini Senenfe , e fe fizeraõ tam-
bem todos os Afliíl:entes, menos o de Por-
tugal , cuja eleiçaõ fe fufpendeo athe a che-
gada
14 C A R T A S
·gada dos_Padres Portuguezes , que ainda ·
ciue part1raq tarde , parece que hiraõ a
tempo ; eu o naõ tenho para fer mais
largo. Guarde Deos a V . M. muitos an-
nos como dezejo. Bar-celona 23. de Ja-
neiro de 16 50.
Antonio Vieyra.
C A. R TA V.
Ao PrinciJ/e V. Theodojioe
Senl1or .
EO Principe e meo Senhor da
, minha ahna. Pelos avizos que
· vaõ a S. Mageíl:ade entenderà V.
A. con1 que coraçaõ efcrevo efra , e mui-
to mais con1 que raiva , e com que impa-
ciencia , vendome prezo , e atado para
naõ poder em tal occafiaõ hirme deitar
aos pês de V. A. e acharme a feo lado em
todo o pl".'. rigo. 1fas eu romperey as cadeas
quanto mais de preifa mç for poílivel , e
par-
DO P. ANTONIO VIEYRA. 15
.partírey voando , fe naõ a fazer compa-
nhia nos tl'abalhos do principio , ao menos
·a ter parte; ~ias glor~as , e alegria do , {~n1 : .
que eíl::es fao os paílos por onde fe h.ao de
encaminhar os fucceffos , e felicidades def~
te f a.tal anno , ou fej a a guerra f ó e1n ter-
ra , ou fó no mar ., ou-juntan1.e ntc em an.1-~ .
bas as partes ; porque o 1neo r-0teiro naõ
efpecifica o genero , nem as particularida-
des della. , empregado todo em referir ,
a.dn1irar , e celebrar as viélorias.
Ah Senhor ! que falta pode fer que fa..,
ça a V. A. nefl:a occafiaõ efte fideliffi1no
criado , e <lua-O poucos confidero a V'. A.
-eom a refolu~aõ , e valor ;3 · e experiencia
qne he neceffaria para fabere1n aconfelhar
a V. A. o que . mais lhe conve1n etn taõ
a pertados cazos J n1as jà. que na pre~ _
zença naõ poífo , aconfelhe a V. A. a
minha alma que toda mando a V'. A.
nefre papel , e corn toda dla lhe digo ,
·que tanto que chegar dta nova , V. A.
logo fem efperar outro preceito , fe ponha
<le' cui-to o mais bizarro <iue poder fer , e fe
faya a cavallo por Lisboa, ·ferrr rnais appa-
rato, riem companhia ', que a que volunta- .<~
· - riamente
t6 C AR T A S
riamente feguir a V. A. moíhando-fe no
femblante n1uito alegre , e 1nuito- defafi1f-
tado , e chegando a ver , e reconhecer
com os olhos todas as partes em que fe
trabalhar, ínformando-fe dos deíignios , e
1nandando , e ordenando o que melhor a
V. A. parecer , que fempre frrà o mais a-
certado; rnandando repartir algum dinhei-
ro entre os foldados , e trabalhadores , e
fe ·v. A. por fua maõ o fizeífe levando pa-
ra iífo quantidade de dobroens , efi:e feria
o meo voto , e que V. A. fe humane co-
nhecendo os homens , e chamaRdo-os por
:fêo non1e , e f allando naõ fó aos grandes ,
e medianos , fe naõ ainda aos mais ordi-
narios ; porque defi:a maneira fe conquiíl:aõ
e fe conformaõ os coraçoens dos vaffallos
os quais fe V. A. tiver da fua parte , ne•
nhum poder de fóra ferà baíl:ante a entrar
em Portugal ; fendo pelo contrario muito
facil ainda qualq_uer outra mayor empreza
a quem tiveffe o domínio dos coraçoens •
. S. Magefi:ade tem nefta parte huma venta·
gem muito conhecida, que he efi:ar de pof...
fe , e poder dar , qúando Cafi:ella fó pode
prometer. Como. há poucos Antonios Vi...
eiras
DO P. ANTONiô V'IEYRA.. 17
eiras , ha tambem poucos que amem fo por
ainar , e S. M.ageítade naõ deve efperar fi-
nezas ·; fenaô contentar-.fe muito de que
fe queira.õ vender at1uelles, que lhe .for ne-
ceffario comprar. ·A_polvora, as bala~ , os
·c anhoens faõ conlprados ' e bem fe ve·o .
impeto com qu~ ferve.Q.1 , e o dlrago que
faze1n nos inin1igo& : e mais natural he em
nmitos homens o intereífe que neíl:es inf-
trnmentos a lnefma natureza. Os ciue me-
nos fatisfeitos eftiveren1 de S.. Magefl:ade , -
eifes . chegue "V. A. mais a . .íi ,. que impor-
tarà. pouco que no affeéto fe divida() as von-
tades corn tanto que no effeito S. Magef-
·t ade e V . A. as achem. obedientes e uni-
<las. Faca-fe V@ A. amar , e neíta fó pala-
vra digo a V. A. mais do que pudera em
largos difcur!.os. Con.íidere V. A. Senhor
1que efbi he prirr1ei:ra acçaõ em que V . .A.
hade adquirir non1e ou de mais , ou de
· n1erios grànde Princepe. A idade, o enge··
nho, as obrigaçoens, tudo efrâ empenhando
·a. v·. A. a obrár conforn1e feo Real fangue,,
·C moíhar ao mundo que he V . A, herdei-
ro de feos . famoíiffimos Primogenitores ,
naõ fó no cetro , mas n11üto 1nais no va-
. Tom. !. e lor.
18 . C A R T A S.
lor. Toda Europa , cujos ouvidos eftaõ
cheos de louvores de V. A. dl:â com os O"'!'
lhos neíl:a occaiiaõ ciue he a primeira em
que V. A. fahe a reprezentar no theatro
do mundo , e na qual o nome C]Ue V. A ..
ganhar com as fuas acçoens , ferà o por
que ferà avaliado e efrimado para fempre.
Naõ aconfelho a V. A. te1ueridades , ·mas
tenha Portugal e o mundo conceito de V ..
A. que antes defpreza os perigos do que
os reconhece. O Gue tocar á fegurança da
peífoa de V. A. deixe V. A. fempre ao a..
mor e zelo dos feos vaífallos , mas naõ a... .
ceitando neíl:a parte confelho, que de mui ... .
to longe poífa tocar ao decoro. A vida ef-
tâ [ó na maõ de Deos; e eíl:a he a occafiaõ
en1 (1ue f~rvem as filofotias GUe tantas
vezes ouvi a V. A. do defprezo della. Da
mefma criaçaõ de V. A. fahio Achilles a.
fer terror de Troya , e faina de Grecia; e
efi:a ~eíi11a defconfiartça [ a qual inculco a
-v. A. J o fez mais Achilles. Eya meo Prin....
çepe , defpid~-fe \!. A. dos livros , ciue he
chegado. o ternpo de eniinar aos Portugue-
zes , e ao mundo o que 'l. A. nelles te1n
eíl:udado. Armas , Guerra, Viét:orias, pôr
ban-
---
.
....
Antonio Vieyrà~
,.
< ,
e ij CAR~
C· A R ' T A ·s. r
1
C AR Tl A VI.
-..IÍ certo Minijlroº
, E tiaõ fora. d.e tanto ferviÇo de Deos;
naõ me atrevera a inqúietar a V. M.
a tal hora , tnas a cauza ine defcul-
P~, e a grande piedade de"V. M. me ani-
1na. Hoje fe remeteo a V. M. do Confelho
Ultramarino hu1na p·e tiçaõ de replica do
Procurador do Brazil e Padres Miffionarios
do Maranhãõ , a c1uem S. Mage.íl:ade man- -~
-da' ·pagar ametade da Ordinaria de que lhe
fez merce nos àizitnos da Bahia ; e por-
que corrend0 efte pag2.mento'·por maõs dos
Minifhos da Fazenda: daquelle Efi:ad~ fica.
muito incerto , antes totalmente he con10
fenaõ fora , como a experiencia te1n mof-
trado; e os Miffionarios no Maranhaõ naõ
tem , nem poderi1 ·ter outra couza de que
fe ii111entem , nen1 acudir ao ·c ulto Divi-
no, e às outras obrig1çoens da converfaõ,
para as quaes faõ n.:'.ceílarios refgates , e
outras couzas , CQIDO na replica fe apon-
ta.
DO P. Al'~TONI0 VIEYRA. 2J
ta ; pedeni · e in.íl:aõ os Padres que - o· dito
pagamento fe lh.es faça pot n1aõ dos con-
u~a1i:ad<1jres , ou rendeiros dos dizirnos , que
he o ineyo. que ·os Reys paífados tomàra,õ ,
_para que _os ditos . pagan1entos foífe,m effe···
étivos , affim ao Bifp.o e Clero, como aos
1nefmos Padres da Companhia,. por fe ex- .
periment3:r . que . todos os outros âpert~s
coxn que as Prov1foens R.eaes o .mandavao,
miõ eraõ · bail:aRtes contra as neceflidades
ela F·a.~enda , ou verdadeiras ,, ou fuppoftas,
que os Minifitr·~s allegavaõ ; as qu~es cou-
zas no tem~o prezente , por fer d~ guerras,
faõ n1~ús -ordinarias '.> e ainda_ mais juíl:ifi-
cadas ; con1 que ficarà de todo pergcndo-
fo a. n1iífaõ , e o fruto gue della fe ,efpera.
E com a ju{Hficaçaõ · da rdidencia a que
nos offerecemo$. ·[ qne era o ponto en) que
,r eparav:;i o Confdho J fica o negocio.fen1
intonven~ente algun1~ E affim me diífe o
C4>nde de Odemira, que o havia· de votar,
pQr fer nl3,tteria rrmitp dara, e o contrario
contrai o ferviço de S. .Magefrade , e o ·in-
tento que fe pretendia ; ~ do mefn10 pare-
cer fey que eíl:aõ os de1nais Confelheiros.
Corn S. Mageftade falley efra tarde ·fobre ~ '5"
eíl:a 1
12 C A R T A S
effa m.ateria, e porque elle fc parte fegurt ...
da feira- , e a (1uer deyxar refoluta , por-
que ailin1 importa pola brevidade com que
o navio em que haõ de hir os Padres Ie a-
Ereíta , foy fervido de n1e .dizer , que da
foa parte diffeife a v·. M . que folgaria que
eíla inforinaçaõ fe fizeífe a tempo, en1 que
con1 ella fe pudefi~c confultar pela 1nanhãa
no Confelho , e no ·111eíino dia fubiífe e fe
· defpachaífe : e o mefmo me rnanda dizer
ao Conde de Odemira. Con1· eíl:a vaõ· ·os
Alvarâs de que confraõ os exernplos , e o
pr~ncipal funda1nento .d a juíl:ificaçaõ da
a
noífa cauza , que V. M. nos fat· mer~e ,
de que naõ fayaõ da fua n1aõ , porque im....
portaõ. Tenho dito, e naõ reco1nendo mais,
porque a cauza fc recomenda por íi n1ef..
ma , e porque fey que para todas as do
ferviço de Deos eíl:â fempre muy prompto o
favor de V. M. ·que he a pedra fundamen ..
tal dos que fobre elle: haõ de ~ífentár feos
· votos. Affi1n, que a V. M. c'a berâ a .mayor
e principal parte d-0 merecimento deíl:a
fanta obra : e todos nôs ficaremos con1
nova obrígaçaõ de rogarmos a Deos · pela
vida e faude de V. M-. que o Senhar guar...i.
de
DO P. ANTONIO VIEYRA. 2~
de por nnütos ann~s, como havemos n;lit
ter. Por fer a hora que he , naõ vou le·~
var · eíl:e papel , rnas eíl:ünarey , que V.
M. ine mande dizer por palavra pelo, por1
tador quando o hirey bufqir (Collegio ·5. p
Creaclo de V. lVI.
Antonio Vieyra.
eART A . v11·.
LÍO. l!rincpe.. '·
. '
... Sen.hor .
51 A efcrev<.) a. V. A•.no Cabo Ver..,
1
DO P. ANTONIO VIEYRA. i7
Deos. Para o Maranhaõ vou voluntario
<]Uanto à minha ·primeira intençaõ, e vio-
lento <-1uanto à.fegunda; mas muy refignado,
e muy conforme , e com grandes e!11ei·an-
ças ·, d~ que efi:e cazo, naõ foy acazo, fe-
naõ difpoíiçaõ altiffima da Providencia Di-
vina·, como jà neíle Cabo Verde tenho ex-
peritnentado em taõ manifeílo fruto das al-..
inas , <]Ue quando naõ · chegue. a -confeguir
outro , [ó por eíl:e poífo dar por be1n em-
pregada a Miífaõ, e a vida . .O muito que nef-·
t a terra e nas vizinhas fe pode fazer ein
ben1 das almas , e a extrema necefiidade ein
, que ~fraõ , ávizo em carta. particul~r ·ao
Bifpo do Japaõ , para que o cõmunique a
V . A. eo modo com que facil e ·p romp-
tamente fe lhe pode acudir. Naõ encareço
eíl:e negocio, que he o ~nico que hoje t e-
nho no mundo , e o :unico c:iue ·o mundo
devia ter , porque conheço a piedade e ze-
lo de V. A. a, qu~. N. Senhor hade· fazer
por efi:e ferviço , naõ f ó o mayor Monar-
ca da terra' , rnas 'hum dos mayores do 1
/
Antonio . Vieyra.
C A·R·T ·A.-:~·VIII;
' . "
. ..
.... , ;' - ~ ' 1
//o mifTtfÜ,~{enho~. , ,.
. 'Se11ho r· · :: ··~ · ·
'
1
• • 1
D
,1 .. .. " (' .~.
/
DO P. ANTONIO VIEYRA. 31
pedir conta aos Reys de Portugal , ., ~. a V~
A. como a Princepe. do Brazil. Naõ peço
rendas , nem fufl:eutaçaõ para os que vie-
rem, que Deos os fufrentarà: o qrte ,fó pe-:_
ço he que venhaõ , e qut'. fej aõ ipµipo~ ..; ·~
de 1nuito efpirito; porque ainda qlJe os qu~
t::à eíl:amos, vamos fazendo , e hajamos d<:S
fazer tudo . o que podermos , ferri perdoai: ·
a trabalho , nem .perigo , J'r!effis quiçle~
multa , operard autem pauci : e fe .Chri.íl:o diz :
. Rol,ttte ergo Dominum mejfis 1 ut mittat ·ope-
rarios in vineam fitam , S. Mageítade e V.
A. tjue e.íl:aõ no feo lugar , faõ . os fenhores
de.íla vinha., a cujos Reaes pês pro.íl:rados o ·
pedimos com toda a iníl:ancia. Ao Procura-
dor do Brazil efcrevo trabalhe por nos
mandar em todos os navios alguns fogei-
tos , pedindo-os aos Superiores de ambas as
Províncias , mas naõ cottfio que e.íl:a dili-
gencia feja efficaz , fe V. A. naõ interpu-
zer fua Real authoridade, mandando-o affim
aos mefmos Superiores por huma ordem
muy apertada. Sejaõ, Senhor, e.íl:as as prin-
cipaes cadeiras que V. A. reparta: venháõ
muitos meíl:res da Fé a eníinar e reduzir à
Chriíl:o eíl:as gentilidades ; e perfuada-fe V.
A• .
Jo
ri . e "A R T A s
A. tneo Prü~cepe , que lhe haõde preíl:ar
mais a V. A. para a defenfaõ e eíl:abilida. .
de do Reyno -os exerci tos de almas que cà
fe redu.z irem ; que os de [oldados .que là fe
aliíl:arem. Non falvatur Rex per multam
virttit'em, ·&gigas non falvabitur in multitu-
dine virtutis futC, Fallax equu~ ad falutern: in
ahun:dantia aute virtutis fuce non falvahitur. Eçce
oculi Domini fuper mettJentú eum , et in eis ,
qul fperant fuper · mífericordia ejus. Pfalm.
3 2. 16. A mqito alta , e muito poderofa
peífo,a de V. A. guarde Deos como os vaf-
fa11os de V. A. e a Chriíl:andade hà 1niíl:er.
Maranhaõ i. 5. Janeiro ·de 16 5 3; ' ·
...
AntoJ?.iO Vieyra~
..'
DO P. ANTONIO VIEYRA. 33 .
·.
CARTA IX.
'A E!Rej fabre ds necejfida-
des ejpirituaes doMaranhaõ.
-
Senhor.
OMO. V. Mageíl:~de foy fervido en-
comendatme taõ particularmente a
J .converfaõ da g~ntilidade deíl:e Ef-
tado, e a confervaçaõ, e augmento de nof- ·
fa Santa Fé nelle, faltaria eu muito a eíl:a
obrigaçaõ , e a da conciencia , fenaõ déífe
conta a V. Magefi:ade dos grandes defem-
paros efpirituaes , que em todas efta~ par-
tes fe padecem , apontando com toda a
brevidade que 1ne for poffiv:el os danos ,
as cauzas delles , e os remedias com. que fe
lhe pode e deve acudir.
. Os moradores deíl:e novo mundo [ que
affim fe pode chamar] ou faõ Portuguezes,
ou Indios naturaes da terra. Os Indios hun.
faõ gentios que vivem nos fer.toens, infini-
7ôm. /., · E tos
34 C A R T A~ S
tos no numero , e divedidade de lingoas :
.o utros faõ pela mayor pàrte .Chriftãos
que vivem - entr~ os Portuguezes·~ Défres que
vivem entr_e os Portuguezes ·' huns faõ li-
vres , que eíl:aõ ttm fiias _aldeas-: outros L'lÕ
parte livres., parte cativos que rr1oraõ com
ós mefmos Portuguezes , e · os fervem em~
fuas cazas , e lavouras , e fem os quaes el-
les de neahurr1a maneira fe podem fuíl:en...
tar.
Os Po.r tuguezes, Senhor, vive1n nefi:as
partes ern- necefiidade efpiritual pouco me...
nos que extrema , com grande falta de
-doutrina, e de íàcran1éntos, ·havendo rt11ü"'
tos delles _que naõ ·ouvem rniffa. , nen1 ·pré ...
gaçaõ. em todo o . anp.o pola . naõ terem ·,
nem fabem_ os dias f'lntos para . os. güaH.{a...
re1'n , nem os guard.a:õ , ·ainda que os fai . .
baõ : nen1 hà quem a iífo os obrigue; ·o qual
defen1paro ht: ainda n1a-yoet· nas mulh~·res ,
fi~hos , e filhas, n1orrend0 ·naõ poucas ve ...
zes· huns e outros fem confrífaõ. · '·
A principal cauza d.ifto ( deixando ou...
tras rn~is remotas ) he a falta de Çu1·as e
Paroc_os ; porque em· toda a Çapita~ia
·do Maranhaõ naõ )1a mais que· dua~ Ig-~·€ ..
jaS
DO P. ANTONIO VIEYRA. 35
Jas curadas, huma na·terra firme, outra na
·Ilha, que he mais de fete legoas de co1npri-
do , e outras tantas de largo , e toda po-
voada ; co1n que· he impoflivel acudir hum
fó Sacerdote a todos os que o haõ- miíl:er,
principalmente havendo-fe de hfr a pe ,
porque em todas dlas pai·tes naõ ha ·nen- ·
hum genero de cav.algadura~ Accrefrenta-
fo a efra grande falta de Sacerdotes , ferem
·pela mayór parte os ·que ha, homens de pou. .
cas letras , e menos zelo das al111as ; por-
que oú vieraõ para · ca , degradados , ou
pof naõ terem preíl:imo ·c0111 ' que ganhar a
vidâ. em outra parte ' ' a vieraõ 'bufca,r a ef-
tas. Tambem pertence eíl:e Bíl:ado no efpi-
ritual ao Bifpo do Brazil , o qual refide
na Bahia, que he diíl:ancia de quinhentas
legoas com os ·O landezes no meyo , e fe1n
recurfo fenaõ por via do Reino ; com que
eítas ovelhas naõ- podem fer ouvidas , nen1
vizitadas , e vivem verdadeiramente fem
·paíl:or. · · .
· O i'emedio -deíl:e graviffirno dano he
o niultiplicarem-fe as Igrejas , e Curas nos
l~ga-res que parecerem n1ais actõ1nodados :
have( hwna Peiloa Eccleftaíl:ica de letras ,
E ij e
3~ . . C A R T A S .
' e zelo' que fej'a adminiíl:rador de todo eftê
Eítado, ou tenha ·o utro género de fuperríi.:. ·
tendencia. fobre o efpiritual de to4o elle ,.
como 11.à no Rio do Janeiro: ou ao ·menos
que ·para fuprir todas eítas faltas fe ·mande
i1umero bafrante de Religiofos, que tenha()·
por infrituto a falvaçaõ das aln1as, e que fe ...
j aõ peífoas o bfervantes do tal iníbtuto ; por-·
que o que tem feito grande mal a efl:e Ef.~
tado, faõ homens Religiofos de vida e dou... ··
' trina pouco ajuíl:ada. . '
- Os Indios que vivem erri caza dos Por~ '
tuguezes , pela n1iferia de feo eíl:ado , e pe..
la natural rudeza de <juafi todo~ , ainda
.Cm·rrmito n1ayor parte lhes ,tocaõ todos ó~
liefemparos efpirfruaes a.ciina : r~ferid0s. Múi...
tos delles , vivem "tf· niorrem .pagaõs , fem
feos · fenhores , nerr1 Parocos lhes pro cu:.
rarern baptifmo ·, ne111 fazerem efcrupulo
diífo. .os·que . terr1 noine , , e baptifmo . de
Chrifrãos ,, inuito.s. n _receberaq fom fane•'
r·en1 o que recebia,õ , e viven1 taõ gentios
com.o dantes eraõ , ·fendo muito raros , ain...
da dos n!ais ladinos ; os q_u.e fe defohrigaõ
·p'relá Quar'efma
. -'· e ha ·ChriftãoS' ·de feífenta
annos de idade que 'tmnça [e confeíifrraõ ..
" ' '
i
Os
(
'l
Antonio Vieyra.
CAR-
.
-.!
DO P. ANTONIO VIEYRA: 4,
-C.ARTA X.
A E/Rey. ·
Senhor.
N
O fim dà carta de que V. Magdbt.(.:
de me fez merce, n1e mandaV. Ma-
geíl:ade diga meo parecer fobre a
conveniencia de haver neíl::e Efiado , on
dous Capitaens Jviôres , ou hum fó _Ç~ver
nador. Eu, Senhor, razoens politicas nun-
ca as foube, e hoje as fey muito menos ; mas
por ob~de~er direy tofcamente "o · que n1é-
parece. Digo que menos mal fera hmn la-
<lraõ, que dous, e que mais difficultofos fe-
raõ de ·achár dous homens de bem , que
hum. Sendo. propoíl:os a Cataõ dous Ci-
dadaõs Romanos para o provimento ~e
duas praças, refpondeo que ambos lhe def-
contentavaõ,hum porque nada tinha , · ou~
·t ro porque nada lhe baíl:ava. Taes faõ os
dous Capitães Môres . em 'C_}Ue fe reparti o ef..,,
.te Governo. N, de -N .. -n:iÕ·teni·nada, N. do~·
- .'Tom. /. G N.
5..? • · ...C A R . T A S . .
N. naõ lhe baíl:a nada ; e eu naõ fey qual
he . mayor tentaçaéi , fe a rieceilidade , fe a
cobiça~ · Tudo quanto ha na Capitania do
Parà , tirando as terras , naõ val dez mil cru-
zados, como ht: notorio., e . ~eíl:a terra hade
tirar N. do · N. mais de cen1 mil cru-
zado3 e1n tres a.nnos ·, fegundo fe lhe vaõ
lo_gr.ando bem as induíl:rias. Tudo iíl:o fahe_
dq fangµe, e do fuor:· dos, triítes_ Indios ·, aos·
quaes. trata como. taQ efcra:vos feos , que
nenhum tem liberdade n·e m para deixar de
f.ervir a elle, nem P~ara poder _fervit a o~ ...
tretn : o que além ,da il}ju.íbça· Al!-e. fe faz.
aos Indios, he ·occafiaq: ·.de padetercm .rtiui...
tas neceílidades os Portugueze-s, e 'de pere-
cerem os pobres. Em huma .Ca_pjtanià def-
tas confeífey huma pobre~.· mulh~t' dtls q_ue
vieraõ das Ilhas-, ·a qua.l rµe diíf.e;cprn muitas
lagrimas, que de nove filhos, ,qu,_e tivera'; lhe
111o}·reraõ,em. tres mezes cinço filhos , d~ pu-:
r:a fome e · defemparo ; e oonfolandoa eu
pela morte de tantos filhos . refpondeo-m e:
Padr~, naõ faõ eíft!s os porque eu choro, fe ...
naõ pelos quatro q11e tenho· vivos fem ter
c.om. que os fuíl:entar. , ,,epeç9 ·a, D·eos_.1t~dos
os ·~as que _mQs lev:e. tambem, · Saõ ,lathmo~
, · .· '" fas ·
DO P. ANTONIO·VIEYRA. y1
fas· as 1niferias ·que paílà: eíl:a pobre gente
das Ilhas , porque como· naõ tem com que
agradecer , ·fe algu1n Indi0 ·.fe reparte ," nao
lhe chega a. elles ~ fenaõ aos poderof<>s ; e
h e eíl:e hu1n defe1npar9 a que V ; Magefia-
de por piedade · deveta n1andar acudir com )
effeito : mas tambe1n . a• jfr:o fe acode no$
capitulos de hum- pa:pel que co1n eíl:à 'Vay.
Tornando aos Indios do Parà, dos qua.:es 11
como 'd izia, fe ferve quem alli governá, (;o...
mo fo foráõ feos efcravos , é os tras quaú
todos occupados en1 feos intereífes , princi-
palmente no dos tabacos ; ob.rigan1e a con:-
cíen eia a i11anifeíl:ar a V. Mageíl:ade os grah..;.
des peccados , que por occaíiaõ deíl:e fer~-
viço fe comrrrntte-in. . ' . ·
Primeiramente ·nenhum defies Indios
vay fenaõ violentado e por força, e o traba~
.lho ' hé ·extefi}vo ., · e em que todos os an·
»nos morrem muitos ' por fer venenofiili1no o
vapor ·d<itabaco ·; o rigor com que faõ tr,a -
'tados he mais que de efcravos ; os nóm<.%
·que lhe chámnõ e ·que elles 1nuito fent e1n,
-felffintos; o ·comer· he quâíi nenhum; ·a pa-
g a taõ limitada, que naõ fa_tisfás a· m,enb':r
-.P3;_rte do tempo ) ·nem do ,trabalho ; e côL
G ij mo
io ,
51 ./' e A R 'T. A ·s. _,./) .
mo os tabacos fe lavraõ fen1pr·e em terras
fortes e novas e 1nuito difl:antes das Aldeas,.
efl:aõ. os Indios au"zentes de f uas 1nülheres ,
e ordinaria1nente elles e ellas em mao efl:a.!
·d o, e·oS- filhos fem quem os fi1íl:ente, por...:.
que naõ "tfe.m os pays ten1po para fazer fnas
roça:s ; ·com. que as Aldeas eíl:aõ fen1pre eni
gta:ndiilima fom·~ e'1niferia.· '1'""'atnbem aili111
áuZ'e'ntes: e ~divididos naõ pode1n · os Indios
·fer ddutrinados, e.vivem fe111 conhecimento
·d a Fé , nem ouven1 Miífa, nen1 a te1n _para
·a ouvir , nem- fe ·confe:ílaõ pela Qparefrna ·:;
nem recebem nenhu1n ·outr~- fucran1ento i
ainda na ínorte-: e ailim morre1n e'fe vaõ-à-0·
inferno ·fem haver" ·quen1 tenha cuidado de
. . feos corpos, ne1n de fuas almas ·: fendo j1:1n;..
ta1nente cauza efi:as crueldades de qüe mui-
tos Indios jà Chrifi:ãos fe auzentaõ de fuas
povoaçoens·, e fe vaõ p~a. a ºgentilidad6 ·, , e
de que-' :os Gentios · do fertao- ·naõ queiraõ ·vir
·para nôs , temendo-fe do trabalho' a·que os_
obrigaõ ' a que elles ae nenhum modo . faõ
coíl:umados, e ailimfe v.em a perder as cõn-
verfoens , e os jà convertidos--: : ·.e .os cque go-
. vernaõ faõ os ·primeiros que · {e perdem ,.,. ;e
o( feg:undos feraõ os qu~ os.-. confeb.tem: ; e
.., · ·.· iíto
DO P. Al~TOI~IO VIEYRA.- 5l
iíto he o que cá [e faz hoje ' e o que fe fez
athegora.
Affin1 ciue , Senhor, concienda e ' mai~:
conciencia ·he o principal e unico talento
Gue fe hà de bufcar no's que vieren1 gover-
nar efl:e Eíl:ado. Se houveife dous ho111ens de
·c onciencia, e outros que ·lhe fi1cceddfem,
naõ haveria inconvenientes ein eílar o ,Go-
verno dividido. Mas fe naõ houver mais que
hum, venha hum que governe tudo, e tra-
t e. do krviço de Deos e de. V. Mageíl:a.de, e
{e naõ houve.r nenhu1n , como athegora pa-
rece que naõ houve ' n,q.õ venha nenhun1'
-qqe melhor fe goverúarâ o Eítado fem elle,
que com elle; fe para . ajufl:iça houver hu 1n
l~etnn:lo~:e.éto _ ~pára b politico baíl:a .a .-Ca-
·mera., e para a guerra \~m Sargento Mayor,
e eífe dos da terra , e naõ de Elvas , nem
de Flandes i porque eíl:e Eílado tendo tan-
t as l~goas de cofl:a e de ilhas e de rios a-
bertos , naõ fe háde defender , ne1n póde,
con1 fortalezas' nem con1 exercitos' fenaõ
com afialtos, com canoas, e principahnen-
.te com Indios, e muitos Irtdios; e eíl:a guer-
ira fó à fabem fazer os moradores que ·con-
·quiíl:araõ ifto , ~ naõ os _que vem de: Por~
· - tugal,
'-11
~4 CARTA' S
tugal. E bem fe vio por experiencia , que
·hu111 Governador gue veio de Portugal ,
N. de N. perdeo o .Maranhaõ, e hum Ca...
pitaõ ~Iôr Antonio.Teixeyra que cà fe ele ..
geo o 1i:eíhmrou, e iíl:ofem [ocorro do Rei-
no. Aqui ha ho111ens de boa calidade que
podem gover~ar com .rriais . noticia' etam-
·bem com 1na1s ·remor : ·e ainda que tratem
d.o feo intereífe ' fe1npre ferâ com muito
mayor m?deraçaõ , e tudo o <-1ue grang~a.:
rem ficara na. te1~ra , com que · ella fe hira.
·at~grnentando: e fo desfrutarem a herda.de jl
forá como donos , e naõ coino rendeiros ,
que he o ~ue fazem os que vem de Portu-'
gal. Mas huma vez que os Indios eíl:i~·erem.
independentes dos Governadores, arranc~."ª.
da eíl:a rais , que he o peccado capita:l e
original defre Efrado, .ceífaràõ tambem t<?"'
dos os outr?s que: delle fe fegue~ , e Deos
terà mais motivo de nos fazer merce. · · ·
Efre he, SenhÓr , o ier1tir de quaíi todos,
mas o 'tnco fentir ., e o meo -chorar , e ·o
meo lamentar , he que tenho vindo a efre
Efrado , e trazido 'a eHe t~ntos Religiofo·s
muito fervas de Deos [ó com intento de· o
fe~virmos mais e com 1nais qui::.:taçaõ , e
de
DO P. ANTONIO VIEYRA. ;_5
de naõ tratarrnos de outra couza que da
fal vaçaõ de noífas almas , e das deíl:a po-
bre gente , frm nos divertirmos a nenhum
outro cuidado ,. como athegora pela. banda~
tle de De<?s temos feito , e que , a pezar de tu-
do iílo , feja taõ poderofo o Demonio nef-
te Efi:ado , e V. :Niagefi:ade -taõ mal fervi-
do nelle , que os que mais nos deveraõ fa::;
vorecer e ajudar , e ainda compadecer-fe
de noffos trabalhos, por rraõ dizer , edifi-
car-fe da confrancia e alegria com que os
vem padecer e defprezar, eíles fejaõ os que
nos ten1 poíl:o no mayor trabalho de todos,
perturbando noífa.s Miífoens , impedindo o
remedio e falvaçaõ de tantas almas , e fo . .
bre tudo a quietaçaõ dás noífas , principal-
mente da minha que he a· rpais fraca, fen""
dome neceffario andar com pleitos , e re""
querimentos, e informaçoens , e ainda defcer
ao particular de efcrevervidas e procedimen~
tos alheas ., de que fó Deos he verdadeiro
Juiz , e o que eu náõ poífo fazer fen1 gra n-·
de pena , e ainda efcrupulo , pofi:o que tu...
cio o que digo, Senhor , he fem payxaõ , ne1n
odio a~g?m c?ntra as peífoas de quem fal-
lo , e fomente pqrque V. Mag~íl:ade naõ
, pode
56 . C A. R T A S .
.Pode deferir ao remedio que pedimos fem
Ter inteiramente inforn1ado , e eíl:a infor-
maçaõ fe naõ pode fazer ft:m nomear as pef-
foas ~ue nos encontraõ , e as cauzas e in-
tereífes que a iíl:o as movem, para que fe ata--
lhem. ·
Aílim que, .Rey e Senhor, V. Mageíl:ade
mande con.Gderar fe he bem que eíl.:es In-
dios íirvaõ a Deos, ·a V. Mageíl.:ade, a Re-
publica ' aos pobres ' e a confervaçaõ de
muitos outros Indios: ou que, defprezados
todos e.fl:es refpeitos , Grvaõ com tantas of-
fenfas de Deos aos intereífes de hu1n f6 ho-
1nem ~ que he· o que fempre fizeraõ e fa-
zem. E porque a difrancia do lugar naõ fo,,..
fre dilaçoens, nem interlocutorias, V. :fyfa-
gefrade fe firva de mandar tomar no 11arti-
cular de noífas Miífoens hun1a refoluçaõ ul-
tima , com a ·qual nos livre V; Mageíl:ade
por huma ves de requerünentos e de de-
mandas com os Miniíl:ros de ·V. Magefl:a...
de ; ·porque fe naõ eíl:ivermos totalmente
izentos delles' nunca poderemos confeguir
o fim para que viemos, da converfaõ e fal-
vaçaõ das aln1as , e ferà melhor.retirarmo ..
nos a-tratar f6 da quie~açaõ das no:ífas.
A
DO P. ANTONIO VIEYRA: '"57
A muito Alta ·e muito 'poderofa ·peífoa
de V. Mageíl:ade guarde Deos como a Clui-
ft andade e os VaíEillos de V. Mageíl:ade
h avemos miíl:er. Maranhaõ 4. de Abril de
J.6 54·
· Antonio Vfeyra.
CARTA XI.
A E,!Rey.
Senhor."
ECEBI a carta qae V. Mageíl:ade
me fez merce mandar efcrever , e
. _ · depois ·de a venerar com todo o af-
fecto que devo , achou a minha a!1na nel-
l a: toda a cônfolaçaõ-que V . Mageíl:ade por
fo::i: _piedade e. grandeza quls que eu com
dla recebeífe .. ·Dou infinitas graças ~ Deos
pe~o grande zelo da jufriça e L'llvaçaõ das
almas que tem poíl:o na de V. Mageíl:ade,
para que aílim como tem fido . reíl:aurador
~a 1iberdade dos Ponuguezcs , o [eja tam-
. Tom. l -· H bem
·rS ' . e A R T . A' s .
·hem d.a~ deíl:es· pobres Braz1s ,, qüe hà. trin~
ta e outo ah.nos padecem taõ injriíl:os cà..,
-tiveiros e tiranias ·taõ indignas do nome
Ehriíl:aõ. Eu li ::i.os Indios aflim do Parà co~
n10 deíl:e Maranhaõ a carta de V. 1viage:-
íl:ad~; tr.adu~ida na fua lingoa , e com ella
ficàraõ n1uy confolados, e animados, e fe a-
cabaraõ dedefenganar,que o naõ frrem athe-
gora remediadas fuas o.ppreífoens , era por
naõ chegarem aos ouvidos de V. MageH:a-
de feos clamores : efperaõ pelos effeitos
defras promeifas , tendo por certo que lhe
naõ fuccederâ com ellas o que athegora com
as demais , pois ·as vem firmadas pela Real
n1a.õ de V. Magefl:ade.
· V. Mageíl:ade me faz merce dizer , qué
mandou fe con-firmaífem os ·d efpachos com
tudo o que de cá apontey ; ~nas temo que
aconteça ao Maranhaõ o que nas enfer-
midades _agudas , que entre as receitas e os
xemedios, peore o enfermo de maneira , que
quando fe lhe, verri a applicar, he neceífario
que fejaõ outros mais e.fficazes. Tudo nefl:e
Eíl:ado tem deíl:ruido a ' demaziada cobiça
dos que governaõ, e ~inda depois de taõ a•
cabado , naõ acabaõ de" continuar· os me
~ . yos
DO P. ANTONIO VIEYRA. 59
:yos de mais o confi.1111ir. O Maranhaõ e o
Parà he huma Rochella de Portugal., e hu-
.ma Conquiíl:a por c_onquiflar ·,: e hum a tér,
ra ond·e V._Mageíl:ade he. nomeado , ·mas
naõ obedecido. , , · i·
.' Vim com -as ordens de V. , Mageíl:ade ,
.em que tanto ·me encarregou a confervaçiõ
deíl:as Gentilidades ·, e aos (Govern.ador~s <t
Capitaens. Môres que ·me deífeni toda _a a-
juda , e favor que lhe pediífe para as. jor-
:n adas: que fe- houveífem de fazer .'ao (erraõ.
Aprezentey as ditas 0rdens a:o .Capitaõ M.ô r
-:N. ~e N. e togo _aífentamos que a primeira
-Miífàõ foífe o defcobrimenro '. dos Indios
lbirai arâs , de que há fama neíl:as partes
que:- faõ defcendentes ·de homens de Eur.opa
que aqui vieraõ dar em hum naufragio. Fef-
fe eíl:e ajuíl:a1nento no primeiro de Março
de 1653. para fe .e xecutar em Junho do
·n1efmo anno : e fazendo eu'.. todas as dili-
.gen cias, e muitas mais das que me tocavaõ,
.o Capitaõ Môr me foy en.tretendo fempre
,c om promeífas e de1non~haçoens exte-
riores .de prevençoens a_the panfr o ·ultimo
navio daq_u elle anno, paraque eu jà 'n aõ ti..
:yeífe por tinde avizar a V.- 1viageítade. Par. .
, H ij . t.ido
'-14
60 e 'A R T A s· .·
tido o navio , fuy às Aldeas a fazer reze..-
nha da gente e das armas que tinhaõ ·para
a jornada ,.-e tanto que o ·capitaõ Môr me
teve tambem. auzente ' fez numa junta a
que chamou as peífoas que elle quls , e por
feos votos , poíl:o que naõ de todos ~ fe af-
fentou , que naõ era tempo de hir ao dito
dt!Ícobrimento ~ e ·diífo · fe fez hum auto ,
com que ficou desfeita a Miífaõ. Eíl:e,. ·Se·-
nhor , foy o pretexto , mas a cauza que fe
teve por vetdadeira, era , porque.os Indios
neíl:e Maranhaõ faõ poucos. , e fe queria a...
proveitar delles COlilO aproveita , . OU OCCU-:-
.pando-os em couzas de feos intereifes , ·0t -
repartindo-os com quem lhos f a,be ag·r ade;
cer. E prova-fe claramen·te ·que·núncá teve
tençaõ de que a jornada Je fizeífe- ; porque
havendo de · fer ·dezoito ou vinte·· Canoas
as que havia de ter prevenidas, pedindolhe
cn hun1a ; tanto que fe desfez , a ·Miífaõ pa:...
nt hir ao Par:i' cuíl:oulhe rriuitO "O bufcalla
para ma dar: e [obre tudo nv i11efino tem·
.p o em que fe havia de ·difpôr a jornada ,
n1andou eil fa·z lr duas , ·grandes ·lav.ouras
.{,k tabaco , as .quaes . era forÇa ..qu<t1 fo .co-
lhcífem e bcnefiçhifen1 no. roefn10 terripo;
epe"".
DO P. ANTONIO VIEYRA. 6r
e pelos mefmos I~dios que haviaõ de hir a -
ella, por naõ haver outros. E naõ he de crer
que hum h~mem que he pobre , e tem de-
zejo de o naõ fer 1, quizeífe perder a fua la-
voura, ~plantar o que naõ havia de colher.
E eítes indicies eraõ taõ manifeíl::os ainda
antes de fe defcobrir o effeito delles , que
por vezes mos avizàraõ os Padres que an-
.davaõ pelas Aldeas, advertindome que me
·naõ fiaífe das promeíias do Capitaõ Môr ,
porciue elles naõ viaõ difpofi.çaõ nenhuma
11os. I ndios , e os trazia o dito Capitaõ Môr
occunados
L
todos em cou.zas muito alheas
.
do
noffo penfamento. Finalmente o tempo em
que a !Vfiíiaõ fe aífentou, era naõ fó baftan~
te , fenaõ dobrado· do que fe havia miíl:er
para a prevençáõ , e difpàíiçaõ della ,
-<juanto vay de Março a Junho. A!Iim que
.fe faltou o tempo , foy porque o naõ qu1s
'. a prov,eii:ar ~ quern tinha obrigaçaõ diífo, e
·mais fazendo1he· eu continuas len1branças,
_cómo fazia. ·· ·
Defenganado deíl:a Miífaõ, ou engana-
do nella , -partin1.e para. o Parâ com os Pa-
dres que tinha detidó, e tratando de paífar
·ao Rio das Alinaionas me offereceo o Ca...
· pita3
~~
6i, C A R T A S .
pitaõ Mô-r dalli N . do N . outra Miífaõ pa...
ra o Rio dos Tocantins, ern que fe dizia ef-
t-aren1 abaladas muitas Aldeas de Indios pa-
ra fe decerem. Aceitey ,. e tratey logo de
fe difpôr tudo o que nos era neceffario ,
mas as traças e enganos com que neíl:e ne-
gocio fe houve N. do N. e as maguin.as
que ordio para levar o effeito deíl:a entra-
da ao fim de feos intereífes , he im poffivel
podello eu.reprezentar a V. Magefl:ad ~ . Pri--
111eiramente dizendo elle que os Indios eraõ
·ni.ais de ·dez , ou doze mil , tratou de os
repartir todos pelos n1oradores , que era
· hum modo corado de os cativar e vender ,
fem mais differença que chamar a venda
repartiçaõ, e ao preço agradecimento. Por
. vezes me diífe que os havia de repartir na
forma fobredita, offerecendon1e que tom a..,
ria del~es para a_s no!fas Aldeas *do Mara··
nhaõ e Par~ tod~s os que qui~eífe , o que
eu de nenhuma maneira aceitey : fó diíle
que os Indios, _quando guizeffem vir por fu a
vontade , fe haviaõ de pôr em fuas Aldeas
nos lugares gué'foífem mais accõmodados à
fim converfaõ e confervaçaõ , porque iíl:o
era o que S. Mage.íl:ade ordenava, ·e o con..
trario ,
DO P. ANTóNlO VItYRA. - ·~3
t rario, .n1anifdta violenci_a e injufHça. Pro-"
curey gue antes que os ditos Indios defcefiem
do fertaõ _-, fe lhe fizeífem mantimentos ;
p ara qJ-1e vindo naõ morreífe-1n a fome , co-'-
1110 fuccede ordinariàmente ein femelhan-
,tes cazos; mas.N. doN. ine refpondeo por
vezes , que morreífem muito embora , que
n1elhor era -rnorrerem cà que no fertaõ ,
.porque morriaõ baptizados. · ·_
Eíl:a he hum a das cauzàs gue te1n .def:
traido infinidade de Indios nefte ·Efta--
d.o , tirarem-nos de fuas terras e trazerem-
n os ás noffas fem lhe terem prevenidos os
m antimentos de que fe J<ode fuíl:entar ; .
mas faze1n-110 _,_affi1n os. Clúe govetnaõ, por·-
que fe houveren1 de fazer as prevençoens·
neceífarias, hade-fe gaíl:ar 1nuito ten1po nel-
las , e entre tanto pa!faõ-fe os feos t res an-
n os , e elles antes guerem cincoenta Indios
que os íirvaõ , ainda que 1norraõ quinhen--:
tos , que 1nuitos n1il vivos e confervad os ,
de que elles fe naõ haj aõ de aproveitar. En1-
fim depois de grandes b atalhas vin1 a con""'
fe guir que os Indios fe houveífem de t raz er
para quàtro Aldeas das antigas do Parà_, em-·
que fe pudeffem me11os incommodament~
· '."' ·
~·
- do11..
•'l;l
64 C A R '""f A S
·doutrina~·, fendo que V. Magdtade nas ó .1·...
dens que. foy fervido darn1e, ordena que 9s
·Jndios que defcerem do fertaõ fe ponhaõ no
luga~ que eu eleger e julgar por mais ton·+
veniente ; mas nada diíl:o me quer confen~
tir nem gúardár_ N. do N. , e ainda no a-
juíl:amento das quatro Aldeas referidas fal-
tou logo com a palavra mandando que fof-
fell?- trazidos os.·Indios para outo Aldeas , e
eífas ·as que mais acornmodadas ficavaõ aos
'feos tabacbs e outros intereífes. · .
Nas f obreditas ordens · n1anda V;· Mà"'
geíl:ade que as Miífoens ao fertaõ , ou p·o r
n1ar , ou por terra , as faça eu na fonna que
julgar e tiver por melhor : e NO particü-
l ar das ditas MHfoens [ó encarrega V. Ma""'
geíl:ade aos Governadores , e Capitàens Mô.:.
n~s , que n1e dem. Canoas e Indios con1 pef.'..
foas praticas, e o demais que for neceífarro;.
Affi m n1ais manda ·V. Magefoade no Regi-
n1ento dos Capitaens Môres, que ·fob pena
de cazo n1ayor , nenhuma . peffoa fecular
de qualquer eíl:ado ou condiçaõ que fej a; ~
poffa hir ao fertaõ bufcar os Gentios por
nenhum 1nodo , nem trazellos , ainda que
fej a p~r fua vontade > e fen1 embargo , Se~
·- ) nho~
DO P-. ANTONIO VIEYRA. 6;
11hor deíl:as duas ordens de ·v. Màgeíl:ade,
a primeira taõ particular., e a fegunda taõ .
apertada, entregou N. do N. efta jornada
do Rio dos Tocantins a hum. Gafpar Car-
dofo, ferreii-o altual com tenda aherta, fá-
zendo-o Capitaõ e Cabo 'della ; a eH:e ho-,
mem deo o regin1ento du que fe b avià
de obrar., ordenandolhe que elle fizeífe as
praticas aos Indios , -e que os . frouxeífe ·, e
puzeffe· nos hígares que lhe nomeava , . em--
fiin entregando tudo à fi.ia difpofiçaõ : e fó'
no cabo do·regünet1to lhe dizia que n1e déf-
fe conta do que . h.zeífe. Repliquey a dte
regimento, e mo.íhey a N. do N. as ordens ele
V. Mageíl:ade, requerilhe da parte do fer-
viço de Deos e de V. Mag~íl:ade que. nos
naõ quizeife peàurbar as noífas .Miffoens ,
nem intrometter-fe nó que V. 1vfageíl:ade
nos encomendava a Nos, e naõ a elle, an--
tes a elle o prohib~a ; e que fe era necef-
fa.i,:io hir Capitaõ ·e foldados para. a fegu-
rança da jornada , que foífe111 n1uito em-
bora, mas ·que eífes entendeíiem fó no que
·toc~ífe à guerra,. e naõ no particular ·de pra·-
ticar ; ou defcer os _Indios , pois· V. Ma-
geítade no-lo ·enco111endàva ·a Nôs , . e· para
T'om. /. .1 · iífo
66 C A R T A. S
iífo mandava• vir Padres, Lincroas do Bra...:
zil a tantas defpezas fi1as : e fobre tudo pro.:.
hibe expreífamente , e fob taõ graves pe-.
nas , que nenhuma peífoa fecular ·pudeífe,
hir bufcar lndios : mas de nada diíl:o fez.
cazo N. do N. dizendo que naõ havia de
mudar o feo regimento , e aíiim o deo ao
dito Gafpar Cardozo, rnandandol\le que o
guardaífe inviolavelmente. Succedeo iíl:o
tudo no mefmo dia da partida ; hindome
jà einbarcar , veyo ter comigo o Vigario
Geral do Parà N. de N. de quen1 V. Ma-
geíl:ade por outra via terâ .. largas informa-
çoens , intimo amigo e confidente de· N.
do N. trouxeme o dito Vi gari o hun1 pa...
pel , em que N. do N . ordenava a Gafpar
Cardozo , que feguiífe na jornada ó que eu
difpuze!fe; mas aqui eíl:eve o mayor enga- ·
no de todos , porque debaixo deita orden1
1he deo N. do N. outra em contrario , em
<ine lhe mandava que a naõ guardaífe , e
fiz eífe em tudo o que dizia no regimento
c:iue lhe der a : e em effeito aílin1 o fez e
comprio o dito Gafpar Cardozo.
Partiinos para o Rio dos Tocantins , eu
e outro~ trcs . Religiofcs , todos Sa:cerdotes·
'I'heo..
DO P. AN'l~ONIO · VIEYRA. 67
·T heologos e praticos na lingoa da terra , .
e dous delles iníignes nelb. Navega111os
pel.o Rio acima duzentas e cincoenta le-
goas , chegam?s ao .l ugar oade e~avaõ os
Indios gue hiamos bnfcar ; e Gaípar Car-
d.oz'O fo.y o que conforme o íeo regimento
r
governou rnpre tudo' e o gue em feo no-
me antes ·de, chegar nrnndava embaixada
aos· Indios , e. a é-]uem ell_es foraõ reconhe-
cer depois de chegado , e o que _lhes di{fo
que os, hia bufcar da parte ~e 1{. 1\1av,eíl:a-
d.e e ·do Governador, e o que lhes fazia as
rraticas por ni.eyo de hum 1nulato qúe lhe
fervia de interprete : e no 1nefino tem·po ef-
ta vamos Nos nas noífa.s barracas, mudos co . .
tno fe nos naõ pertencera aquella empre'"'
za . , ·nen1 tivera1nos lingoas , ne1n tanta
authoridade como o ferreiro para fa.llar, nen1
forarnos aquelle~ .homens a que_:n V. Ma-
gefi:ade mandou v1r ao Maranhao con1 tan-
tos empenhos f() ·para e:íl:e fim , nem G·aC-
par Cardozo . foífe focular a que1n ,r. Ma-
gefrade o prohibe fob pena de ca.zo rnayor.
Fiz por tres vezes requerimento aó dito
Gafpar Cardozo, fe naõ int:rometteffe no gue
lhe naõ tocava, e éra proprio de noífa pro--
1 ij fiífaõ
68 C A ' R TAS
fiífaõ e o para que V. Mageíl.:ade nos man::
dàra; mofb-eilhe e li-lhe diante dos Padres
e de outo ou dés foldados gue levava con ·
figo, a ordem de V. Mageíl.:ade e a do Ca~
pit~õ Môr , e refpondeo publicamente que
a de ~v. Mageíl:ade naõ podia guardar ,'e·
que a do Capitaõ Mô_r naõ queria. Be1n en-
'tenderaõ todos que efre modo de fallar era:-
de quen1 fe fiava e.m orde111 fe·c reta que ti-,
nlia encontrada, e aíli.m 1no declarou o inef. . .
n10 Gafpar Cardozo por muitas vezesi e a
differentes .peffoas , como confla por cer•
tidoen;) juradas , nas quaes , e em outras
que envie> poderâ. V. MageH:ade ni.andar Yer
Ôi1tras m,uit;as circuníl:ancias deite ca:zo, n1:ny
notavei~ 'e indignas: ·
.Emfin1, Senhor /os pobres Indio3 no.s di~
ziaõ que naõ ·queriaõ fazer outra cóuza fe~
- 11~1õ .o. que os ·P adres quizeífen1 ;:, ·e o qw~
ElRty . n1àndava , tra:zendo fempre ElRey
-na boca, : mas 1 Gafpar·.~ard?zo; ~ os feos)
parte co1n promeffas , pa.1~te com aineaços,
.parte com lhes daren.1 d ·rnaíiada1nente de
heber , e os tiraren1 de fe.o juizo, -parte com
lhes dizen:1n que os Pad'.res haviaõ de tirar
aos Principaes a_s muitas ·mulhere.s que qo12-
. tumavao
DO P. "ANTONIO VIEYRA. 69
tumavaõ ter ; para com iíl:o os alienarem de
N ôs : com eíl:as e outras femelhantes vio·-
len c.ias e· impiedades arrancàraõ de fuas
terras 1netade dos Indios que alli eíl:avaõ ,
( e feria() por todos mil almas') e os trouxe-
raõ pelo . rio abaixo , e defpois ·de G afpar
Cardozo repartir alguns pelos foldados, e
levar outros para fua caza , a mayor par.,.
te de todos fe.puzeraõ na aldea chan1ada de
1'101·ajuba, fe1n e1nbargo de naõ ·haver nel-,
la 1nantimentos alguns para fe fuíl:~nt<J,rem ,
inas he eíl:a Aldea a que . eíl:â n1ais perto dos
princip.aes tabacos de N. do N. ·.
· Eíl:e foy, Senhor, b fin1d e fra1n~l lograd ~
itiffaõ, na qual fe fe guardaraõ as qrdens de
.:V. Mageílade , e os Padres fe fic araõ com
os , Indios , como elles e N qs pretendíamos
p ara fe defcerem defpois c01n1nodamente ,
·a ilin1 deíl:as como . de tres outras nacoens
>
.v.i zinhas efperavamos traz er em muy poú-
(: 0 tempo à Fé de Chriíl:o 1nais ·d e cinco ou
-:·",C AR rt ~A··_
,. •.. 1 .. •
XII~
. A Ei.Rq::. ' 1.,
·SenliorfP·
J .. • • • ..
E
SABE Deos ~ que tom muiit; zelo de
feo fervÍftJ , dcz~io , que .fe guarde
. J juftiça a ef[a p~brf: gente .? pí-1ra .º
ft:tt · ~JQ.f. encormnetJ.dtJ mitJtt! .rne .adv1rtaes de
'·'\ ~7'1me /, · K. · tu ..
74 . C A .R T A ' S ..., '
ttf;t:ÍiJ ' , q1 rfJUe· 'ÚOS parecei· n.ecejJctrt() ' ,· fi:Jr,,o,
: q11e fazeis nijfo muito ferviço a De"Os e.:tt,
mim. EH:as .pa~avras , Senhor '· faô de y:.
Jviageflacte , na carta que .foy fervido Ii1an~
d.ar·-1ne efcrever , e xnuito dignas de V. };ia-.
gdl:ade , e porc1ue as injuíl:iç'as que fe fa. .
zerr1 a dl:a pobre , e rniferabilifGn1a gente
n.a(i câbe1n e:m. nenhun1, papel ' direy fó-.
mente nefl:e o modo com que fo- poderàõ
remediar , . ~epoi.s de o . ter coníiderado e
encon)m.eú.dado a. 'D eos , © o ter conferido
com. algurnas peffoas d:is mais. ·antigas, e:x:-
peri1J1enta4as., e ·l?e,m ipt~ncionadas deite E-
Hado , poft:o que f aõ nelle poucos os que
podem dar juiz~ nefta 1na.teria ,, que (ejaõ
Lvres ~e_ I~tfpei~~ '. e di~nos: }l~ f~ , P?'rque
todos fao 111tereffados :nos.Inct1os., .e v1vem,
e fe reinedeaõ das meíinas injuíbças , qu~
V. MageH:ad~ ~ezeJa .'r'emediar. .
O remedia pois ,,~ Senhor , confi:íl:e em
que fe 1nude ' r
m:elhorr~ 'a forma ' porque
athegora foraô governados os Indios , o
que fe poder à faz.e r mandando V,. ~age.:.
-flade guardar os.·c a,pitulos .feguir.i't~s . .
· I. Qie os Governà4or.es e Capitaens,;
M.ôres naõ .tenhaõ jurifdiçaõ algum:a f obr~
e -OS di-c
DO P. AN·'f0I'TI0 VIEYRA.. 7f ,
t)S ditos I.ndios nat.uraes da terra., aífim Chri-
frãos corno Gentios , e ne1n ·para os ma.rr--··
dar ;; nen1. para os repartir , netl.1 para. ·ou-
tra algum~ -c:;ouza ·' falvo . na aéh1al occ:1r1.
fiaõ de guerra,' a que fetaõ obriga.dos·::11, a~
codir, elles,, e as peffoas que o~ tiverem. a. fro
ca.rgo :> con10· f azêm. em toda. a parte ; e_ ~
para ferviço dos. <;;overnadores r fe lhe no-
1nearà hum numero d~ Indios convenien-
te , attendendo ·à calidade e anthcfridade
do Cargo .11 e 'à quantidade (iüe houver dos
ditos lndios. · · · . · · , ·. ..
· H. Que os Indios · tenhaõ hrun ·P roçu··
r.ador Ger;t em cada Capitania 1 ·o q_rial
Procurador affin1 ·rnefmo fej,a inder>endente
ti:Os 'uo-verna
_j r.!11 d. ores· e ·'.."."'A1-p1taen~
.. . ..M!I·
· o.tcs e r:n
to<~as as cou~a.s·, perte11cent,~s àos ruefrno$
lndios , · e eH:·e ·P roe1uador _feja hum:i das
pdfoas n1ais prim:ipaes, e:authoriza.das ,. e
conhecida por de melliores proc.:dinl\."ntos.,,
.ao ·,qual eleger.à o povo' no principio 4e cada
anno , "podendo confirmar ao tnefmo , ou
eleger onti9 ern caz.o que naõ dê boa f1-
tisfaçaõ de feo officio; o qual oflh.:·o exercir-·
tarà ··com a jurifdiçaê.~ _, e r~A>s caz os que ao
~iante fe, apontaõ. ·. · · . . · "'
~ K ij UI. Q~e
jJ;, CAR.'fAS . · ··.
III . ue os ditos l ndios eftej aõ. tó~·
t:alm nte fuj eitos , e fej aõ governados por.
pdfo<i.s Re. igiofas , na forma que fe coíl:uma,
em todo o Eíl.:ado do Brazil , por quanto
depois de {e intentarem todos os n1eyos ,
ten1 mofb:ado a exper.i encia que fegundo o
natural e a capacidade dos Indios , f6 por
efre rrmdo podem fer ben1 governados , e
confe1·varem-fe en1 fuas Aldeas.
IV. Qpe no principio ·de cada a.nno
fe faça Lifra de todos os Indios de fervíço
que houver nas Aldeas de cada Capita.n.ia:i'
·~ juntamente de todos os moradores della,
e que confonne o numero dos ditos Indios;
e dos ditos mora.dores ' fe faça repartiça . .
dos Indios. que houverern de fervir aquelle
-:inno·a cada hum , havendo refpeito à po···
breza , ou cabedal dos d'tos moradores ;·
de inaneira que a dita repartiçaõ fe faça
<:.om toda a igualdade , fendo en1 prirne.i.,,
ro lug~:.1,· providos os ~ebre~ .; paxa q1le na~Õ
:pereçao , e as fobreditas híl:as , e repa:ru-.
?fªÕ a tãça. ·o Prelado dos Religiofos que·
adrr iniítrar os ditos lndios , e -0 Procura--
.dor Geral de cada Capitania conforme fitai
cont:íencias, fi~m.na dita repartiçaõ fe podei
!: ' ' - meter
Dó P.
AI~TONtô ·VlEYlt1L· 1;r.
fil.eter Governador, nem Carnera, nem ou--:
tra alguma peífoa de qualquer caHdade gue
feja ; e ein qualquer duvida que houver por
parte dos Ir1dios ou 1noradores a eerca d~
repartiçaõ , recorreràõ ao dito Prelado , e
Procurador , e dtaraõ pelo g.ue elle5 refol-
,1ere1n fem appellaçaõ) nem a.ggravo, nem _
forn1a alguxna. d.e juizo.
V. Q!ie , por quanto as Alcleas ~aaõ
t'lotavelmen.te diminu.idas , os Indios fc
unaõ do n1odo que parecer mais conveni-
ente , e ein que os_rnefn1os Indi9s fe con-
forma1'em 1 e fe reduzaõ a menor nun1ero
à~ Aldeas , para que fej aõ , e ·poffa.õ ·fer
melhor doutrinados 11 e que as ditas Al-
deas affin1 unidas fe ponhaõ nos fitios e lu-
garet. que for-em n1ais accê}rnodades , affin1:
para o for.viço da R.epu.blica. , co111p para a
confervaçaõ dos me!i:nos lndios.
VI. . (l,ue para que os Indios tenhaõ
tempo de acodir às fua.s la.vouras , e fa-
milias , e poífaõ hir à~ jor~<Ldas dos Jer-
·t oens que íe haõ de fazer para defcer ou~·
tros , e os converte!;" à noífa San.ta Fe, ne-
nhurn Indio poífa·trabalhar f6ra da fua AI,..
dea cada anno 1nais. que. quatto mezes .,
. " f}S
78, .e A R 'T' A S
os quaes quatro 111ezes naõ reraõ jontos por
huma vez ·, fonaõ repartidos .eI.n duas , pa""I
ta que deH:a n1a11eira.. fe evitem os defer-'
viços. de Deos que fe feguem de eíl:are1n
muito t esnpo auzentes de ft1a.s cazas.
VIL (h1e para que os Indios fejaõ pa··
rros de feo trabalho , nenhum. Indio hirà
Ícrvir a morador algum , nem ainda nas
obtas pu~licas do f~rviço de.S. Mageftade,
fen1 fo lhe depoíitar prirneiro o feo paga...
n:1ento , o qual pore1n fe lhes naõ entrega~
r â fertaõ trázendo·efcrito de que tem tra-
balh.ado o tempo porque fe concertaràiõ, e
para o 9ito ·depofito dbs p:igamentos' havfro'
rà hun1a arca Cotn ·duas chaves· ettí cadaí
Aldea, hun1a que terà 'o Religiofo gue ad.;.
m iniH:rar , e out~·a o Principal . da. rnefnl,~
Aldea. ·
VIII. ·-Q!le t0dâs as ferríanas em todos
os quinze dias canfonne o nu1neto das Al...
deas, ~áver~à huma feira dos Indios, à qual
cada Alde.a por ·feo .tjutno tr.arâ a .vender i:o ...
dos os frutos dasfuas lavouras, e o inais que.
ti~ere1n ; o que fervirâ .àili1n de que as Pº"'
voações dos Portuguezes'. tenh~.õ abund::i.ncia
de manti11umt9s, c.on10 ·de que os .In.dios fo.v
vem
no P. A.1'1TON10'· ViEYRA. '79
'\~em- delhs ,as couzas neceífarias a fco uzo,
l!. fe a11in1en1 co1n efi:e cõrnercio a traba~·
l.har ; .e para t1ue J.1aô fo lhes poHa ·fazer
al ffUlTi engano not; preços. das couzas que
lh~s fo1;e1n ,'dadas por·cõmutaçaõ das fixas j
prdidirâ nefbt feira o ·P rocurador dos In..--
dios , ou a .pdfoa a 'iuem elle o cé,1netet ,
e~ei~a. !'º~ ~)1e ., e p~lo ~rela.do ~os R..elil"
gmi.os ; que . na , Cap1tar.ua tnrerem a feo
cargo· bs ·Indios ~ .'
·. IX.. ·Q~1e as et1tradas gue fe fizerem
?lo ferta5, as façaõ 'fomente peí-Ioas ecclefi ...
.-afl:ica.s··;.i' co.n10 ·"\l. 1\1ageíladé tc1n ordena"?'
. do 'aos · capitat~ns '.l\/!:ôres •f úb pena de· ca~~o
may01~,: en1 Jeos Regimentos , e ·que os ·Re"'"
Jigiofos , que· fizeren1 á:s -. dirtas ·efrt:rridas:, fc.;
.J
~aõ · os •mefr.rt·os oue 1
adminiftren1 · :os Ir1dios
em fitas Aldeas. Porque . fendo da mefrna
fubjeifaÕ e doutrina , m·d hor os -0hédece-
r~Õ; , e r.efpeitat.àõ , e hi.taõycon'l elles rt1ais
fegnros de algu111a r·ebelHaõ , .on'• ttaiçàõ. ·
. X. Q~e pela cauz1. fobredita: , e: por
evitar bandos entre (}S Ir1dios que natural·P
:iwente faõ varios, ·e inc·oníl:ai1tes ') e ·d ezejo-
fo~ de 'novidàdes· , e pa.ra·-que a doutr1na
iqu~ apren.der~t.n, feja .a mefnla·entre todos
'"·:..,' · , fe1n
~,º ·e A R T A ·s
fén1 diveríida.des de pareceres , de que·{e
pôderr1 fegriir ~rav es inconvenientes, ai11.da
que neíl:e Efi:ado ha differentes Religioens ,
·ó c:ttgo dos Indios fe encomrr1ende a hu...
ma fó, aquella que V. Mageíl:ade j.ulgai- que
o fa,râ com rnayor inteireza 1 Hefinterdle ,
~ zelo , affi1;n do fanriço de Deos ,, ~ [11...
vaçaõ das almas , como do bem publica.
· . XI. Q1:1e ne'nhm1;s 'lndios fe def~àô do
fertaõ fe1n primeir? f~lhe.fa~~r~m fua. · :o~
ças , e Alcfeas , onde. poffao viver ,. e <iU..C
-naõ fejaõ obrigados a entrar na pauta dos
Indios do ferviço, na forma acitna dit~ , fe ..
naõ depois de ~íl:aren1 mú:y defeançados.ílo
trabalho do camíi\ho ·, e·doutrina<L{Gls , e
·dorneíl:icados, e capazes de ferem . a:pplica...
dos ~o dito fenriç.o dos moradores, que fem....
p~· e fe dere fazer fem nenhuma violencia ·'
ne.m oppreffaõ 'dos Içdios. · .
. XII. Qie: .fe rias çn'tí'adas , ql,le fe, fi~
zerem ao fert.aõ forein · a:chaidos alguns ln·..
dios de cor~:.i , ou que · de alguma . outra
. m aneira fejaõ julgados por jufl:a1nente
. cativos , eftes taes fo poderàõ - J-efgatar ,
com ~ondiç~LÕ , c1ue os Re:ligh5fos corr1 aíft...
íten ~la do Cabo que . foJ: Julguem·prüneiro
0 5'
',.
.1
DO P. ANTONIO VfEYRA. Sr.
os ditos cativeiros por juftos e . licitas ,.
~xaminando-os .por fi mefinos : e para efh~
firn hiraõ fempre· às ditas Jornadas Religio-
fos. que fejaõ juntamente ,bons Lingoa.s ~ e
bons Theologo.s , e· quando meP,os ·, qut!
hurr1 feja bom:Theol9g9, outrp bom Lin-
bo·oa • · ' .
.XUI. Q,!le em cazo que os ditos ref.
gates fo faç.a õ nas entradas . do ·f ertaõ '· a
repartiÇ.:lÕ delles fe faça pr:o rata por JO-
dos ós moradores do Eíl:ado , çonfótnie ·o
numero dos l ndios qu~ fe refgátarem , ~_o
.•neçando ·fempre pelos. n1ais_ póbi:_es , para:
que tenhaõ quem _ o~- aJ u~é : ~ os i:_eparti-
dores fer.aõ os mefmo~ P.rócurado1~ Geral,.
e Prelado da·Religiaõ, que, corno h,éa di-
to, h~õde repartir os Indios .forros para o
{erviç.o. , · · . . .
x·xv. Que por qua11to as j or_n a.das ao
fertaõ que fe fazem , f aõ ordinadamente
per.igofas· por razaõ~ do.s barbaros , par::i, fe--
gurar os Religiofos e os Ihdios que! forem .
uas dita: jornadas ) haja co·mpanhia de fol-
dados bran~os , a qual ou inteira ou ·di-
vidida lhe de. efcolta ~ çonf6rme a neceffi-·
dade o pedir : e qu,e a dita .companhia fe
, Tom: I: · L .. chame
-Si C A R T A S
chan1e .da'. propagaçaõ da Fe , e paria ella
fera efcolhido capitaõ e foldados de ma...
yor chriíl:andade e capacidade para o íer~
taõ , aos quaes V. Mageíl:ade fionre com
algum privilegio particular : e que o dito
capitaõ e foldados naõ feja cornpanhia
creada de novo , fenaõ huma das mefmas
que ha , formada de ramo dellas , e que fó
cfteja fi~jeita aos Governadores ,- e Capi-
taens M~res em occa!iaõ de gue.tra aétua1,
ou ddiéto que commetteífe , e no mais. ef-
tarà à dipoliçaõ do Prelado mayor da Re-
ligiaõ -que tiver a feo cargo as Miffoens do
fertaõ , que tambem ferà Miílionario Çeral
de. todo o E.íl:ado : e confórme o -que. o di-
to Miffionario Geral difpuzer, .o dito Capi~•1
taõ ouvirà , , ou mandarà · os foldados que
f~rem nece~arios para cada huma das Mif"
f oens com feos Cabos , ·e os ditos Cabos fó,..
mente teraõ jurifdiçaõ na difpofiçaô da
guerra e·n1 cazo qúe fo haja ·d.e fazer , a .
qual fempre fera defenfiva , e de nenh11<
~a .-manei~a fe ·i~tr.ometeraõ a praticar ~o .
Ind1os, nem por fi , ne111 por outren1 ~ fob
pen~ de cazo mayo.r 1 como V. Magefiade-
tem <Jrdepado. .·
XV. <1!1e
' -
DO P. ANTONIO VfEYRA. 83
XV. QJ_1e as peças que fo levare111 ao
fertaõ para os ditos refgates, hiraõ e11tre ·
gues ao dito Cabo que for nas ditas entra~
das ' ou a alguma. aas ditas peífoas bran-
cas que foren1 na 111efma tropa :1 de quem
povo mais as confiar , .o qual darâ con 4
'
_Antonio Vieyr,1.
AR
A E!Rey-~
Sen.I1or-
O M eíl:a rerpeto a V,. l\1a~eíh1àe a·
relaçaõ do que fe tem oDrado tJa
e:xecnç.aõ da Ley de V. Magefhtde
fobre a, liberdade dos Indíos Mu.iros fica.ó
fantenciados ao .cativeiro por prevalece.r o
nu1nero dos votos 1nais que o pezo i!as ra...
zoens. V. Mageíl:ade fendo fe.rvido,,as poder.à .
mandar pezar ein balanças mais fieis que
as deíl:e Efrado , onde tudo nadoi.1 fempre
em fan~e dos pobres Indios ., e ainda Íól•)
gaõ de fe afogar nelle os ·que <lttzejaõ ti..,,
1·ar do perigo aos demais. Con1 . tudo fe
puzeraõ em liberdade m-qitos, cuja jufiiça
- por
no P. ANTONió '\rtl!YRA~
po1· notoria efcapou das unhas aos julga-
'I
dores. Tudo· o que neíl:e partiettlar , e no~
àernais fe tem obrado a favor das Chrifran-
dades, e·em obediencia da Ley , e Regünen~
to de Vu Mageíl:ade , fe deve ao Governa..,
dor Andre v·idal , que en1 recebendo as
ordens de V. J\1ageíl:ade, fe embarcou logo .
p ara. efia Capitania do Patà a .dar a cxecu·d
çaõ inuitas couz3.s que fern fu:i p.r ezença
fenaõ podia.ó confeguir fe o braço ecclefi.-
aíl:ico ajudara ao fecular , tudo fe puzera
facilmente em ordem,_e jufti.ça , mas co~
:tno as cabeças das Religioens tem opinioérit
contrarias as qut: V . Mageftade manda pra""
ticar , efraõ ás concfoncias como dantes ';>
t. O <J_Ue -naÕ nafce deft:as raizes , dura fc' em
quanto dura. o te1nor. J. à _~izern que, vint
óutro Governador, 'e entao tudo fera co..,
n10 dantes era , e eu e1n parte aili.n1 o te-
:mo , porque todos os que cà. coftumaraõ
't'ir adiegora tra'.i,:iaõ os olhos fó no inte...
reffe , e todos os intereífes defl:a terra con..,·
:Cifrem f(J no fangue , e fuoi dos Indios ..
De Andxe Vidal direy a V~ Magefl:ade
o q_ue me naõ atrevi ,athegora , por. n1e naõ
aprdfar 1 e po1·que tenho conhecido tan-
- M i.i to~ t,o
'1! C A R 1~ A 'S '
tos 101nens, [e_r c1ue ha 111ífrer Ítn ito tem--
p·o para fe conhecer· hurn ho1nen1. '"'f1~'1n
V. 1v!agefiade 1nuy poucos no feo Reyno
·que fej aõ con10 Andre V"idal ,. eui:u1~ ~-:ohhei..
. 11ouco 1na1s
c1a . llue d e v1na
•fl.
, e· '"ama . h e
1
·4
;
-~!Rey~ r
,· ·. Senl1or.- ·
R
carta: de V. ·Mageíl:ade
O,Il efcdta
, . ! çm 9. -de-·A_bril de' 16)). me orçe... ·
_' · ··" 'na V : Mag~íl:ade por feo Real -,,--e
CathOlico ·, zelq và dando c<;>nt,a 'fempre a
"V-~ Magefta:de. dd ql!le for fuçcedendo ·· ne.f-
tas · ~l~rMtandades , · e do que fe offerecer
neceffario :t:.ara o..bem' dellas ; como llefte fa-
f.ey.. Tan.,, {, ,
?4 e ·A R· T A s· .
Tanto que ch~guey , Senhor , ao Ma-
ranhaõ conforme o Regimento de V. Ma-
gefi:ade , ton1ey •logo poífe das Aldeas dos
.Indios , e enviey a eflas Religiofos ,. que
com mayor aflifl:encia dÓ que athegora tra...
taífem de fua doutrina , como fazem com
grande proveito daquellas almas. ...
Ao· Parà onde he mayor o defemparo
me paffey logo , e porque as Aldeas eíb1.õ '
muy difi:antes· , . e rnuy defpovoadas de g~n...
te pelas\ dezordens do ·tempo palfado , re..,
parti por ellas tres Miífoens , cada huma de
dous Religiofos , paraque cpntinuamente as
andem correndo , e ,,iíit_ando em quanto~
fe naõ ajuntaõ confórn1e a ordem de V.
Magefrade , ,e fe poem em capacidade de
haver nellas reíidencia. Tambem. deixey
dous Padres no Gurup~ que he outra ·Capi-
tania fita entre o Maranhaõ e Parà ·onde
hà duas Aldeas de Indios.
Ao Gurupâ que he n~ bo~a do rio das
Almafonas naõ pude hir, por fer forçofa a
minha afliíl:encia no Parâ ao exame, e jui..,j
.zo dos c_ativeir9s. ,da Ley de J652. e para
-0utros negocios de ferviç-0 de .Deos , e de
.V. Mageíl:ade ; · m~ ·enviey doU?_ _Religiofus
quç
DO P. ;AN.T ONIO VIEYRA. 95
que tomaífem à fua conta as Aldeas daquel-
le deíhito, levaraõ eíl:es Religiofos cotníi-
go 1nais de ce1n Indios libertados , dos que
os :Portuguezes tinhaõ cativado no tio das
Almafonas , fendo atnigos , e confederados
noífos·', e foy eíl:e refgate hum a; boa prova
das novas ordens de )Vi Mageíl:ad·e a favor
dos lndios que· os Padres lhe foraõ publi--
car , . e cbm que elles ficaraõ muy conten-
tes , e an1.1nados , e Jà faõ partidos por di-
ferentes braços do ·rio a levar a mefma no-
va aos de fuas .naçoens , algumas das, quaes
faõ populofií1i1nas , e fe efperaõ ·por efre
meyo grandes converfoens.
· A .grande Ilha chamada dos Joa.nes foy
entra . Mi~aq , de dous Religiofos en1 compa-
nhia das tropas de·guerra que a ellà, fe man-
daraõ pelas rafoens de que jà fe fez avizo
a V. Mageflade, e poíl:-0 que os Padr es tem
offerecido a pâz àquellas naçoens ' mas co. .·
rno he en1 companhia d.as armas , e elles
eíl:aõ .taô efcandalizados ·dos agravos que dos
Portuguez~s tem r4lcebido , ·naõ ad1nitiraõ
a.t_hegora a pratica da pâz , e hà pontas ef-
_peranças de q~e venhaõ taõ cedo a admi-
tilla 1 .porque dizem" qúe conhecern muy
. :. bem
96 . C · A R .T ' A S
bem a verdade dos Portuguezes , e que naõ
querem que os cativem com o tantas vezes
fizeraõ ; e eíl:a experiencia taõ larga das.
injuíhças que fempre lhe fizemos, Senhor ,
he a tnayor di.fficuldade que tem .a tonver..
faõ deitas ?:entilidades. Quando vim ·a pri...
meira vez foraõ dous Padres ao rio de Pi-
narê , que he no Maranhaõ, fizeraõ decer
alguma gente de nàçaõ Guaj ajâras , e por
. temor do trato que viaõ dar aos ·outros ln·
dios ;·fe tornou grande4Jarte delles para os
111atos. Da ~11ff~õ· Aúe fiz ao rio ·dos -T o-
cantins jà V. Mag-eílade foyinformado co-.
mo aquelles Indios fe repartiraõ , e defp.e-
daÇaraõ por onde quis-- a _Çàbiça de quem
ent~õ governava ; agora achey que muito~
eíl:avaõ vendidos por ·c ativos.- '
Neíl:e mefmo anno m,.andara.õ os Padres
huma embaixada ( con10 ci dizem ·) _à iJ.à...
·~aõ dos Topinambas ; . que -d'ií~a: trézentas
legoas p.elo 1n~.(ino· riõ. àcima, e he a ge11...
te mais nobre , e· mais vakrofa de todas
·eflas terras· ; e _levaiaõ tais nov~ _alguns
dos que de 'là viçr-aõ , que -hin9,o .os Padres
bufcar a todos,-·ho\lve·muitos que naõ qui-
zeraõ vir , dizendo , qµe do bom tr.ato que
· lhe
DO !f.. ANTONIO VIEYRA.' 97
lhe fazia~, Q&~P'àdres bem Gertifi cados ; mas
que f ó dos f>.·~ ~ü~es\ {f .temia5 , e ciue
e m quanto na&i ~·nJfuaõ mayores experien-
d as de fe guardar~]Q as novas ore.kns de
·v. Magefra.de que os Padres lhe conta\'.aÕ,
nao f e queriaõ defcer para taõ perto dos
P.ortuguezes~ Hl:o diíferaõ , e fiieraõ mui- .
t os dos mais velhos daquella naçaõ , e ·dos
qüe paredaõ entre elles mais . prudentes, a
quem feguiaõ os de fua obediencia. Mas
cnttr"os, a quem Deos parece tinha efcolhi-
do, fe ~ VÍeraÕ . de muy bo~, vontade COiI> OS
Padres~ . ch~gàraõ a efl:à Cidade do Pari na.
vytava de todos os Santos com feffenta ca~·
·:u.oas .c arregaüas deíl:a gente, em que vinhaõ
1nais de mil àlmas· ; dàs quaes no caminho
f-0raõ algu111a~ para o Geo , dos demais ef-
taõ jà 'baptiza.dos os·innocentes, e os .adul-
tos fe vaõ cathequizando. '
·chegados eftes Indio's fuccedeo hüa cou-
za digna de fe íàbet'. pata i·e1nedio d_e muitas
-que neH:e Eíl:ado fe uzaõ do mefmo gene-
ro. Haverâ ·oito annos que fe fez huma en-
trada à eíl:a· mefma. naçiõ dos '"f opinam-
hàs , de que foy por Cabo hum ]3ertto Rn-
drigues de Oliveirá, ·e trouxeraõ muitos dos
Tumo l · ·N · - ditos e. 3
9S. Ç· AR .T-AS .
dii:o.s Indios · por efcravos ~ fuccede:o . pois
g~e' entre_os que agora vieraõ, muitos ··a:d1a
1;àõ cà feos irmãos , e parentes ; e fend o
-:filhos dos mefmos pays , e das n1efffi'.tl:S
fl!ãys , huns faõ livres , outros efcravos ?
fein mais razaõ de differença. ·, "que . ferem
huns trazidos pelos .Padres da Companhia,
e. ou.tros pelos Officiaes das tropas. Tarn-
be.m neíta de Bento Rodrigues ·tinha: hido
hum Rdigiofo 'de ~c-erta Religíaõ . ; o qual
trouxe grande cantidade .dos ditos e(cr-av.os,
e foy eíl:e hl;lm dos g~andes impedimen~os
crue . os Padres achàraõ _p ara reduzir eíl:es.
Iiidios , porque quan:do -lhe .allegavaõ que
eraõ Religiofos ·., e que os naõ J:;laviaõ d e~
cativar, co1no tinhaõ feito os Capita.és P'o r-
tuguezes , lhe refpondiaõ elles , que tarn~
bem aquelle era Religi:ofo, e os cativàra ;-
e fe os Indios das.noffas Chrííl:andades.lhes
naõ explicàraõ o differente moao dos Pa-
dres da Companhia _, ~aftàra ·efré exernplo
para naõ fe reduzir~m.
. Efra boa opiníaõ :que os Padres ten1 e~
tre os ·Indios ., os co.nfervou , .,e ·defendeo en~
tre elles fem efcolta · de folqados , porque·
naõ levàraõ· çomfi.go ma.is . .Pçi>rtuguezes qixe
· · . . hum
DO P. AN1~01 ~HO ''\rIEYRA. '9'$f
hmn cir.nrgiaõ, com.;.a athe hoje nunca ·vi ...,
fta. , fe1tdo ·muitas e n1uy barbaras as ' na···
çoens por cujas terras paíiaraõ ; a. ntes ttc>u....
xera.ô os Principaes , cu Cabeças de dtras ·
dellas , _'perfi1idindo-os a que tambem fe~·
guiífem, e fe c1uizeífe1n · d,~fcer a fe1·· 1VaífaUos:
d.e V .. Magdbide : ~ e- co1n elles té'fn.ó s jà
affenrado .o ien1po , e ô 111odo cóin ·qtre: ó'
haõ. de fazer. I-iunn1i deitas . t1açoetts ti.'e ::t
dos Catingàs , que fempre. f<)ràÕ in:.iinigos·'
dos Portughezes , e com guerras e affaltós
te:m feit.o rnuitos ·da1ú1s à.s noílas terras ;
que lhé fic.aõ n1ais· vizinhas ,;.: n_ias·jà ficaõ
d.e ·paz , affim COJ? ·no(co " tomo t:o1n ou-
t ra naçaõ tarnb~1n amiga, corn quen1 tr~
ziaõ guerra. Demais defr.as trouxer~õ 9s '
Padres noticias_ de. qutras naçoens qu.é· ha~·
hit~.õ pot .todo aq~elle Rio dos J.'ocatttín~, ·
mui~·~s dás quaes fall~õ a. Fngoa geral, . e
fe efpeta que com pouca difficuldade fe' re.:..
<luziràõ a noff~. Santa F e. . . -·
' . Efl:as faõ , Senho.r , :as obras , e os·
1ugá-
res én1 _q?e...ficarno.s ao preze~te oc~upados
os R.ehg1ofos . da Companhia. que neíla ,
Miffaõ nos acharnós , os qqaes fomos p~r
tõdos ·vinte ,r e d~: ·dous · en1 dous eftain.õs.,
N ij di·..
100 C A R 1.~ A S
dividos por onde o pede a mayor neceíli_;
dade. Da volta que faço para o Maranhaõ,
determino de envjar Miffaõ aos Indios do
Camud, e do Searâ; que eíl:aõ para a parte
do Sul , e he tanto o nun1ero delles , co-
mo a neceffidade que_ten1 de doutrina.·
Agora reprezentárey ·a V. Magefrade as
couz as de ·que necefiita eíl:a Miífaõ para fer
c:ultivada como conv.·em , e.: fo ·colher delLt
o copiofo fruto , que .foa grandeza promct·..
te. A. meífe he muita , e <?S operarios pou-
cos ; e eíl:a he a prin1efra couza · de q .e·
fobre todas neceili't amps. ·Ao. Padre Geral,.
e aos Provinciaes de 11 9rtugal e do Bra~::il
tenho dado conta defta falta : e pofro ·gue
efpero de feo . zdo e charid4d~ , que naõ
:fa}ta~àõ con1 dle foccorro a hurna empre. .
za taõ pr.o prja do ·n9ífo inftituto 'rara q1~e
elles o façaõ ço1n n1ayq;.>pt ompt.idaõ e ef-
feito, importaria muitó_CJUe V. l\1ageíl;a.de
o m.andaífe recõm.endar co1n todo o aper·-i1.1
t.o aos _mefmos Provinciaes <le Portugal e
~razil , e juntamente ao Padre Geral , e
~ ffiften~e de Roma, naõ fó para que o or·"'
denem aíiim aos 11?-efinos Provincia.es, mas _
para que ~e ltalia, ( das Qutr~s naçoeµs de.
_ _______ EurºJ?ª·
DO P. ANTONIO V'IEYRA: io1
Europa' nbs venhaõ Mifiionarios, con10 cof-
t umaõ hir pàra a.s Mii1oe1::is da India ·' Ja·..
paõ, e China., co~ que.ellas ~e tenTaugme.n-·
tado de: fuge1tos de grandes letras ·e··vu-
tudes. , .qae naturaln1ente ~s . augm~ntàrà:õ;
podendo prometter a \T. Magefi:a·de " que
qu.anto f?r· crefcendo" ~qui o .~1un1ero . dos
Miffiorta.nos , crefcera tambem ó das con-
ve1f o·ens ·da's aln1as a ·111ui tqs 1iülh a.res por
cada. hum. · · ·' · ·
A fegünda . couza .que muito hà n1ifte.u.·
dht Miífaõ , he '·'.que V. Mageft:ade ; Se".
nhor ' nos faça merce de que (poífa.rnos vi.-.
ver. ndla q.uieta € pacificamente 'fern as pe1~-.
turha:çoens e perfeguiçoens com que ·os Por-
tuguezes eccldiaíl:icos e feculate's continua· ·
mente nns inolefraõ· e ürquietao. 'remos.
contra nôs o Povo, as :R:eli"gioens , os D o ...
natarios das Capitanias 1\1Ôres , e iguàl-'
mente todC)s ~s que 11effe Reyno , e. néfte
Eíl:ado faõ i,nter:eífa.dos no fai1gu'7 e fuor dos
lndios , cuja meno1idade nôs fó defende"'
mos ·; e porque fuftentamos _que fe l~es
guardem =as Leys e Regimentos de V . Ma-
gdtade , e os livramos fe ·n aõ ca.~ivem , e .
q~ "·ÔS aue ferve.in lhe paguem o ~o tra:. ·
.. ·. · ~\ - · balho ,
~cnr .~ ' ',· e·'A
R . 1'1 A ·s,
balho . ; por eíl:as duas ca:uzas taõ jufl:i..,
ficadas· ·e ncorremos no odio ~ e perfegui-
çaõ de todos : e he neceífario que ga.íl:em'os
em·n0s .. defender d1d1:as ·batalhas o .t:en1p·o ,
qúe fora rnelhor empregado na cor,tquiíta
dá: Fe, e exetcicio da doutrina a qrie vie-
mos. . ,
O :renrndio que iíl:o tem , e que fó .põ ..
de (er e.fféétiyo ,.. h:e qu.e V. Mageftade neffa.
Coite fe íirva de naõ admittir requerimento
alg'ui:n fobre ás rriaterias. da nova . Ley e . R e·~
gin1entó , que ·[obre taõ maduras délibera....
çroens V. Mageítad"e ·mandou guaU<d!~r nefte
Eíl:ado·, n1 andando·V . ·Mageíl:ad.e paífar De...
(;fetos .aos Concelhos áonde tocar, que riaõ
fej a admittido , riem ouvid0 nel1€s quem
. fobFe efres · pai·ticulares·pret'e nder ·it1novar ,.
ou alterar couza alguma . .E pai:a V .. Mage-
íl:àde o haver por ·heri1, e. mandar affirn ; ha
muitas e. rnuy for.ç ofas. rafoe.ns ; que. que""'
ro apontar aq.ui ,.pcira:qú.e .fejaõ pr'ezentei a,
V. Mag(tíl:ade. · ·· .t '. .. . ·
. Primeira: Porqu'e ·as·con7~ais: q.µe:V~ M,a ....
gd.lade foy fervido 'refolver, tod;3s to1..a$ t!.*a-
nlinada~ ·e co.tifuhadas corri âs ··pÇ!ÍfQa'S ·mais<
t.-imoratas::,. e de-mayor.esrletr.as. que: ·v:~ '~Nfuí..4
' ,,; .• ,ii,
geíl:ade
~
· .- DO P:,-'. ANTOl'HQ· V:IEYRA~ •to~
_geH:a~e - ~~n' en1 .feos :&~yno.s. S:gu~1da: pÓ~·~
que eíl:~ ·cpnfolt~ , e reíoluçaô íe tomou: .de~~
pois { d~ f:ereJn :v·1fta~ todas .as Ley~ ·antigas ~
B r~v~es ~ <lbs Siúninos Pf:nlt!fic·es ,. Confri.kâs
do Concelho·Ultrarnarif.lo., e·todos os' mais
dçi.cuí;nentos que po4ia· haver na n1atêria~
't'et<teira.'-: P0.n1ue de ·tudo fe deo_primeitó
viíla ao
R1;ocurador do.Maranhaõ ~ P~r':l . .; 0:s
1
e A .:t ~r 1 .A
A ~l~ainha®
• '· 1 • ·."' ) • '.o
"
Senhorae
•
(.
~ \ ..) . (!• ..: • ..:, i
, CAR~
DO P. ANTONIO VIEYR.A. !.13
A E!~ey.··
• f * •
r
•' '1
Seri.I1ot. ·
1, '' t'
. ' '
~ :(
.· · ). ·· Goveroado~r Dt Pedro .dct ~~~n~ ; '
" feg~ndo ~s iníl:~ndas corn 9.ue tetn .
1. ~ , . peqido !1ce1:1ça :ª V~ ~agdtade ·
para fe recolher ao ..Reyno , efi1era &zello
na nionçaõ _ddl:.e- inverno , en1 qua11to ;par~""
r..~·'·ªº Rio dà.s . Almázonas a affentar huma·
A. XVII.
(
C . A ~·it '4
.·11~ Bijpo 4o .JaJ'dq~ .
' ' "
·s enhor
'
Bi(ptl~
' .
01".'.JTRA a vontade , e contra o en..
. , tendirri.ento efcrevo eí1a · a V. Se-
,.. _;. nhoria. ', Confra a vontade , . porque
ke tnateda que mitito finto ' e que a _todos
nos eíl:â 1nnito i:nal : contra. o entendin1en-
to., porque me diz o noífo Governador ~
amigo D: Pedro de· Mello, gue na inonçaõ
deíl:e inverno hade pártir para o Reyno ,
p·o rque lhe hade vir f':lcceífor de Lisboa, a
ciue~ .de . nenhum .modo me· poífo perfiiadir ,, ·
por . mais· q_ue fey as iníl:ancias que . elle tem
.feito.· Eu qu.is reprezentâr com todo o en,
carecimento" a S. Mageíl:ade ; e pedir a V.
Senhoria , naõ fó que acabaífe D. Pedro o
feo governo , ~as que .· éontinuaífe nelle
-por muito mais·tein_p o , e o naõ fiz, por-
que me co·n vinhá · por noífa amizade , e
. n:~ ~ra rafaõ.~u.e 1~1e paga!Ie as obrigações
"" .
"l :/. ~ ~·..,J;.-
_, oue
l ...
~t8 . . , :C A ·x_ . T. ' ÷':S "'·
que lhe tenho , C(}fil moftrar , que era mais
amio-o meõ do. que. feo: S'e eu me engana1~,' -
1
b '
e fucced~r -o ·que elle dii , lâ oterà V". Se-·
nhoria aonde Y. Senhoria -com os feos ·
poderes , pois eu naõ yalho ·n ada , lhe pode
fazer agradecer o ~uito. que nos tem foito
e faz , qu.~ naõ .repito-_ a V. Senl1ori;;t; póís
he efle aíliunpto a mais ordinaria materia
das · .m inhas cartas: E1n fu1nma digo : que
cites . dous 1. a:nnos e 'meyo fe te1n 1 .obr~âo
muito .em· fendço ·de Deos , .e:de 1S. Mage/1wa'
frade , e fe ten1~lançàd.o .fu.ndame11.t'os 'a.mui..-
to .1nàyores obraf~· ,. . e tudo fo deve ·à ·difpo:...
fi.çaõ e· e:x:ecuçaõ de D •.·Pedro , fem a quat·
ne.nhu1na' cortza fo pu~er.~ ·c0nfeguif,.e mui..,
to menos tantas; e ta.o difficultofas e detan...,.
ta jrnpórta:ncia; Qoeir~ · Debs -~_ue · là ·o fa:i ...
bao conhecer ?S que fo_. te~ os olhos n~~
ftontcitas~ ·do· Alemittejo ., e naõ confiderad: ,
qué o ~ey.no ·de.'B ortugal naõ: fi>y. fún.dadd
p~ra fe efte~der por ~eaíl:ella; , fett~ó~ par~
chlatar a- :E~ de Chnfto 1 e .- o ~eyno . de -
_Deos pelo ..rnund.o ... ~.: 5'..~ .Magefta-de ~ repre-e ·
_zento, q~1e · irnportar~ ·_aind.a: p~·a feo fe.rvif'
\;o , <]Ue cos deíbz qua:lida.dé , fe .preme..;.em
co.mo .inei:ecem, Bata. qU.e.h~jà: quen11 ooht!~
· nue
_po P. 'A NTONIO VffiYRA. rt.9
núe ·. o qrte .'. D , Pedro tem; comeÇado ; ·e
qúé venh . fucà~d~:rlhe ,tal peífoa , CJ.ue na~
defmanche o que 12om taõ bo1n. zelo . , e
com taõ bons trabalhos fe vay fitzendo. Se
:tl~U.I}) ~llivci Q. f!1"Ç· fiJ:a~ lltr,~~fen,çi~ , aefre ..1,{i-
dalgo ,. he .dezeJar v.er multos·"de' {11a.s qua-
lidades junto da Pelfoa de S.' M·a geHade, e
mais .,110 t't;1rft.l?º _l(rêlZ.el{'Ce, en-1 que taõ nece··
!fario h.e~ o bom coraçaõ ,, e fidelidade ,
valor e honra ': tudo iíl:o tenho conheéido
eni D. ·pe drd depois que o trato. Jà eu dif-
1
C AR -T A" · XVIII~
W
Áo 'JJuqué do Cadaval•..
. -
ENH·OR: com. .razaõ diz V. Excel...
lenda, que ·and.aõ os trabalhos ettca·
déados. E quanto ao dó.Senho! Con·
de de Soure , naõ acho outro allivio a taõ
grande materia de {entirriento 1nais , que a
confideraçaõ de ,haver Deo.s trocado· as fen
tenças , deix~ndo-nos ·a vida do Conde pa-
ra muitos annos, como h:.tv~mos miíl:éi, e
levando para o Çéo aqüelle penhor , · ·cuja
faudade fe pod·e confolar com 1nuitos·outto,,.
que Deos ainda lhs darà,_ Mas applkando
.a'ª.
- - J
DO P. ANTONIO VIEYRA.· rir
a ·cadeá dos trabalhos aos · meos ·, tem-fe
ella travado de maneira, que fi~ndo o meo
mayor fentimento a auzencia' de V. Éxcel-
lencia deífa Corte , guafi me vem a fer al-·
livio , Oll remedio .a ·mefma auzencia, poiS'
·feria nova circuníl:a,ncia·. de pena falta.r me·
a communicaçaõ de V. Excellencia, fe V.
Excellencia faltar de Lisboa. ~~arrarey oca-·
zo como tem paífado ; poíl:o que jà dey a
V . Excellencia as primeiras noticias delle.
Tive avizo haverà CJ.uinze dias , que me
eftava decretado novo defl:erro: huma Ver ...
faõ diz , que para o Brazil ·, outra para
o Maranhaõ , outra para Angola ; fahio
~ iíl:o de hum dos mayores Minifl:ros , e com·
termos ·taõ eff~étivos , que fe tomou infor-
maç.aõ dos nayios que havia para aqudlas
-partes. Dezejey faber a cauza defl:a novi~
dade , ·e no .correo paífado me avizaraõ ·,
O\l notificaraõ fora por huma carta ou car-
t as que .eu efcrevera a V. Exq~llencia , dif-
_correndo fobre as "paz e~ do Minho , a fa-
vor da negoçiaça.õ ·, e de quem a obrava
&e. e que cõmunicando V. Excellencia ef-
t as .cartas , chegara de maõ em maõ o que
nellas !e dizia a parte, onde· de tudo fe fi-
7orn. /, Q zera.
'lfí
i22 C.A R T A S · ··
zer~ i( _p~lavras forn1aes ) rehnadiffima pe.;,
çonha. Naõ hà heregia que fe naõ tirãífe
da Sagrada ~Efcritura, e com tudo as · pala-
vras faõ diltadas pelo Efpirito Santo, ·más
naõ eíl:â o mal nas palavras ; fen4õ na
interpretaçaõ que lhes querem dar : e é:o-
1;ó.o dizem que fora~ de maõ em tnaõ '·be1n
pode fer que chegaíiem ta.õ differentes , que
totalmente naõ fofft<m as minhas , é a1Iin1-
o creo. Mas de qualquer modo que · haja;
ou' naõ haja íido, eu e~ou .pela fei'itença ,
e hirey para onde me mandarem. , ·feja
Afri ca , ou America , que ·em toda . a par."=
te· ha terra par.a o . corpo ., e Deo~ para ~-a~
abna , e là nos~ ach~r~iµos toqos .diante da-!
<iuelle Tribunal , opde·· fó ·i:efl:emur.i.ha <li
verClade ' · fen~e11çea· a jufriç,"a ' '-e 11unc;ª' ·he ,
eondei1ada a. innocencja·. Ale·m. déíl:e-cafl:i.;:.
go que :d izeirr ~ar decretado , fe~e n~ti.~ ·
b€a 0utro , ·pofr6 que me riaõ declaraõ de
~rie tribunal- iàhio· ,· -:em que me ordenaõ
por modo de .confelho ' que ine abftenha
de ·efcrever àquella Perfonagem, a quem ef..
€revi _o fobredito ( ,porque naõ nma1eaõ á. -
Peífoa de V. Excellencia) e que fó- o faça ,
por · eíta vez , dando fatisfaç·:iõ · de mirh e ~
. ' ~~
. D9 rp,
ANTO~IO .VIEYRA. iz 3
conta~ da occaftaõ. E{ta h~, Senhor, toda a
hifroria com que entrou o anno de 166 3 ·,
e fe vay declarando por critico contra inün
pois naõ fó defterraõ a V . Exçellencia d~
L isboa , mas· a mini · de V. Exc.e llencia, da
qual fentença o n1eo çoraç:aõ fo ri muito no
n1eyo do feo fen.tiil).ento , ·appellando. dos
irtfi:rume.ntos da rmemoria para·a ·mefn1a me ...
moria , ·e dando grâças a Deos , porque
o.s que tem jurifrliçaõ fobre o papel ) naõ
a ·tem' fobre a ~ aln1a. Saõ hoje os vinte que
V. Excellencia ten1 finalado por dia decre-
t'orio da1par'tida. ·O tempo eilà dara e con-
certad9 :;_ainda . que· o naõ efteja o mundo ..
O que
importa, he que V .'.Excellencia t enha
:muy boa ·viagem ,' e que V ·. Excellencia a
procur@ fazer· com . o mayor defcanço ·, 'e
cómodidade,- e (e V. Excellencia em Gou-
vea achar·1nenos Lisboa , tambem ferà al.:.
livio o achalla lnenos ; e nenhuma couza
fàltara: ·â:' V.·Excdlencia em toda a parte ,
:pois fe lev:a· comfigo . .De mim naõ tenho
qu.e dizer ·a v~ Ex:cellencia, poi-que o ·me.f~
mo __ que tenho dito ; ferve para. todos os
tem-pos , pois fol!. e hey de ~er o mefn:io em
t odos.. Se .co1n . effeito .me n1 andarem em- '
.· · ·. ,Qij barcar;
11 4 e A R T A: s
barcar ; como na hora da morte naõ hà re..:
ferva.çaõ , aproveitarme-hey do privilegio
para dizer a V. Excellencia o a Dio : no
entre tanto , fe .m e naõ he licito proc~rar
novas de V. Excellentia em direitura, fallo
hey por .outra via , que náõ me '11a~de ·im-
pe'd ir ·todas os homens. - E quando elles o
façaõ; as de Deos eíl:aõ fora d~ fm1. jurifdi-
çaõ , .e empregar-fe-ha o meo affê&d todo .
em -oraçoens, e facrificios, rogando ao me(.;.
mo Senlior como fempre faço ·, ,pel~ fe- ·
Jicidade da Peífoa e Gaza d.e V. Exn~~1len~ia~
·e fobre tudo , · pedindo a fqa Djvi.na Ma-
gefrade, tenha a V. Excellencia no nume.-.-
ro de feos V a.ífallos '· con.fervando feíh'Pre'"·
a .V. Excellenêia em fua gra.ça ···c ôm·..gran-
de;s augmenros della, que he ~ o que fó hade ,
·durar, e o que·fó importa. Guarde~ Deos . ·!
CARTA XIX.
'~ .
'
Ao.Marques de Gouvea.
ENHOR. Naõ poderey dizer _a V.
Excellencia que tenho boas feíl:as ,
- . póis me fa~taõ novas de V. Excellen-
c:ia, fem as quais he força crefça o cuidado
em que {ernpre me . tem a faude de.. V. Ex- ·
w lencia nos rigores deífe lugar , e deíl:e
tempo. Queira .N., Senhor feja outra a çau-
fa:- ; com, ·a. qual _mais facilmente me com-
por ~y... - , , , , 0 ~ 1 "
CAR-
..
CAR' T A ·xx.
~. AVº Rodrig~ , de Meneze.tº '
' '
CARTA XXI.
A'D. Rodrigo de Mene.zes.
ENHOR. Vaõ efl:as 1·egras, pois V.
Senhoria lho c.onfente , acon1 panhar
• a V. Senhoria na peregrinaçaõ de
,Salvaterra , e teíl:ifica,r o mayor goíl:o com
que ? fizera, fe lhe fo~a permittido , qu ~m
as efcreve ; e bem pode V. Senhoria dar'"'
ine credito , que he eíl:e o termo n1ais
encarecido com que o meo coraçaõ pode
râ declarar o extremo com que ama ·, e fe
i-econhece obrigado à peífoa de V. Senho.:..
ria; pois naõ haveria outra força, nem ref..
peito humano que o obrigaífe a tornar a ve't
o mundo depois de eíl:ar taõ defenganado,
e aborrecido delle. Mas comQ em V. Se-
nhoria fe quebràraõ todas as leys do mef-
mo mundo ' razaõ era que fe quebraílem
tambem todas , para de mais perto fervir ,
venerar , e lograr a prezença de V. Senho-
ria. Bem fey que pelo bordo de V. Senho-
ria naõ faz a nao agoa : e efre conhecimen-
R ij to
132 C A _R T . .A S..
to [ó. me bafra , ainda que tudo o mais fe
per dêra , para que a minha fatisf~çaõ e
gofro naõ po!fa j à mais fazer naufragio.
Tudo o mais pe'rtençe ao exterior, e eu fó
quizera viver dos bens da alma ', en1 que
naõ tem poder o tempo , nem jurifdiçaõ a
fortuna. A de S. Mageftade que Deos guar-
de , ainda he mayor do que provâraõ os
·fucce!fos ·do anno paffado: e em' mim pof-
to que feja particular iníl:ituto o conheéel-
la , naõ he merecimento o dezejalla; por-
que [obre as obrigaÇoens de V aífallo , te-
nho as que herdey dos mortos , e ·as que
dêvo aos vivos , e as que efpero ·dever~ <t
Peífoa de S. Mageíl:ade ; quando a:ffimr na--
verdade do meo affeét:o ; como nas minhas
interpretaçoens reconhecer hu1n merror Da·:-
niel· , e lograr huma mayor 11onarquia.
E que feria , Senhor n1eo , fe ô principio .
ddla felicidade eI'tiveífe guardado pai·a o
Senh0r Marques,como principal infrrumen-
to delta ·? Eu naõ acho natquelle noífo Profeta
n1ais que hun1 fó encontro co1n os Caíl:e-
lhanos, que efraria ainda por cmnprir: mas
dfe de tanta. . .felicidade , que haja de af-
fombi-ar o mundo. Se efl:a ultima fentença
hade
DO P~ AN'TONIO VIEYRA: 133
hade ter algmna interlocutoria , naõ 1ne
coníl:a , fó poderey affirmar que naõ faz
_m ençaõ della algu1na o 1nefmo Author. Eíl:a
he hmna d.as razoens , p·on1ue feriaõ de
grande importan.ci~ apreffarem-fe os 1neyos
da fu.Ceeífaõ .a noífos Princepes. Nenhum
fontimento . tenho de que o cazamento de
França. naõ eíteja concluido. Pod.erâ fer
que tenha Deos determin~do . outra uniaõ
mais vizinha , e _de mayor grap.deza , e
convenienc.ia. Entte... tanto eíl:im? a pere-
grinaçaõ de V. Senhoria fobre taõ repeti-
íl as afiiíl::~ncias do -Corpo Santo, e 1nc ale-
gra fum1nan1eote que a alma delle tenha.
taõ bom goíl:o. Emfim Senhor , naõ he
ternpo de o to1nar a V.· Senhoria. Aquelle
papel fe vay f azend-o,, <]Uanto o permitte a
frieza do tc1npo ; e a fraqueza da faude ;
n1as naõ o verâ o mundo , femciue V. Se-
nhoria o veja , e o emende primeiro. A·~
.quelles, docum'ent0s en1 que; falley na. carta
paffada·, naõ de1n cu.ida.do a V. Senhoria ,
porque ainda depois do Entrudo virà() a
tempo. A obra lia.de 1er larga , e jà oco. .
néça a fer , e ain<la naõ he obra. Que o
Seul...or · Marques 111e tenha em. fua graça,
- efri-
3i
:r34 C A R T A S
efrimo quanto devo , e pofto que em to-
dos os n1eos facrificios tenho particular
cuydado de os offerecer a Deos pola vida, .
eíl:ado , e felicidade de Sua Excellencia ,
<laçiui pordi-ante o farey com o mayor af-
feéto e iníl:ancia que pede a occaliaõ. Dros
guarde a ,.{. Senhoria muitos annos como
dezejo e havemos miíler. Coimbra 28. de
Jandro de 1664. ·
Creado de V. Senhoria .
' '
Anto11io Viey~a . ..
C AR T ~ A
I '
XXII~
AV. Rodrigo de Mene~ese
ENHOR. Go~ grande cuydado. ef•
. perava neíl:e correyo por .c €rtas no.-.
· .vas que efpalhou n~íl:a U nivedidacle
o paífado em muitas cartas deífa noíf.a Cor--'
t e ' em que o odio ' e emulaçaõ parec~
eftâ hoje mais .defaforado ) ou furi0fo doi
que
po P._ANTONIO VIEYRA: t3)
que em ·outros tempos : mas co1n as novas
que V. Senhoria ine fez mercê dar de ha....
ver chegado o SenhQr Marques à Provin-
cia , e do qae havia difpofro ein ~vionte
mór , e com as mais particularida.des que
o P_a dre Reytor de S. Antaõ n1e enviou, do
aplaufo e feitas publicas com que S. Excel-
lencih entràra e forà .recebido e1n Evorâ ,
naõ fó ~eífou o cuydado , mas fe conver-
ceo na. mayor alegria e efrimaçaõ ' de que
eu logo rrte fiz Crol'J.iíl:a, por fei: àffim ne-
ceifai:ior Tanto prevalecern na nofla Patria
t>s rumores contra a verdade , e as inven~
~oens. ou fufpeitas de poucos contra. o co-
nhecimento · e experiencia de todos. ·
As juíHficaçoens do livro do Beato A·-
madeó eíHmey- grandemente ver pela va~
riedade e in certez:t com q úe h.elle fallaõ
I' s Authores : e o melhor que tem , he efra-
Creado de V. Senhoria.
Antonio Vieyra.
C A. R T A XXIIIu . ./S
·s
AV. Rodrigo de Menezes()
ENHOR. Sõ nas faudades d.e V. Se..;
. nhoria creo , e fe as de V~ Senhoria
' faõ de me ver , e as de outros de me
ouvir , as minhas todas faõ de ver ~ ouvir
a V. ·Senhoria que he · o que mais dezejo
neíl:a vida. Eu , Senhor , naõ preguti!y a Cirt;..,
za , tjem ·detenni~o pregar. a vivos , nem
-a mortos , porque athe pelos mortos me
calumniaõ os 1vivos, e quando padeço tan;.
· tt~ pef o q~1.e na{~ di:tfe_' naõ n1~ quero é:X:~
por. a mayores nfco.s pelo que .d1ífer , e pa~
x'a que V,, Senhoria veja quam cµriofa. he
í', a boa
DO P. ANTONIO VIEYRA. 139
a boa vontade de 1neos calmnniadores ,
ndre mefmo correyo fe n1andou informar
certo Miniíl.:ro deíla Corte fe efl:ivera eu erri
Coimbra pela Cinza , porque fe affirmava
em Lisboa que eíl:ava eu là efcondido neffe
tempo ; fe eu tivera habilidade para fcme·-
lhantes furtos , quem os havia de fab er
primeiro "que V. Senhoria? Mas tornando
aos Sermoens , ainda que _naõ po!fo 1nan-
dar a V . Senhoria o de Cinza que naõ hou-
ve, poderey ren1eter outros,e todos, e aili1n
o pro me.to tanto ·q ue a i1fo der lugar a Obra
c01n que efi:ou entre n1ãos , a qual he ne-
ceífario que fe ap.reífe , porque naõ venh~
<lepo}s do tempo ~ trabalho nella quanto
poffo , e mais ·do que poífo. As Profecias
ele S. F.rey Gil eíl:imey muito. O livro de
Serafino de Razis procurey por terceira
peífoa como avizey a V. Senhoria , a re-·
poíl::a depois de muitos dias , foy que no
-Collegio. do Carmo naõ havia tal livro ,
nem ainda noticia delle. O Padre frey Ifi~
<loro da Luz , que he grande meo amigo,
e tomou por .fua conta eíl:a diligencia·, en...
tende que o dono do livro o riaõ quis em-
pr'·eíl:ar , e tomou efl:e defvio , e como me
·, s ij db
140 C A R . 'T A S
dizem que compoen1 fobre o Apocalypfe, te-
rà rafaõ para o fazer , n1as ainda havera
tempo para nos ajudarmos do que V. Se-
nhoria ten1 mandado vir de França. A no-
va do defcazam~nto tem Gdo mais aceita
de rnuitos do que foy a do cazarnento , e
eu entro t'amben1 neíl:e nun1ero , porque
havendo o noífo Rey de cazar co-in Elha
de vaífallo , naõ faltaria huma lavradora
em Portugal , quando o Juiz do Povo n.aõ
tivdfe fillia. .Atrevo··me a dizer iíl:o fó a
V. Senhoria , porque me diíferaõ , que a-
the os rr1efmos Cazamentey ros eraõ de.fl:e
.p arecer. Algum dia o naõ fuy eu de que o
Princepe D. Theodofto cazaíie em Sabo-
ya , · porque naõ era hen1 · que ó privaífe-
m·os de huma taõ grande elperança como
a de ·poder cazar com a Princeza de Ca-
H:ella , e vir a herdar Efpa.nha , pois por
certo que n1e naõ deve menos -a.mor ElRey
que Deos guarde , nem lhe efpero , nem
profetizo menos felitidades ·, antes eíl:a he
a 1nenor das fuas., e ·que ferà fe as preven,..
çoens ·de Ca'íl:élla foffem as difpofiçoens ·.de
tudo iíl:o t Deos pode mais que elles , e a-
1na-nos mais que à elles , e naõ me pe~a
· de
·no P. ANTONIO VIEYRA. 141
de ver ao Senhor Marquês taõ empenhado
ein taõ notaveis tempos. Deos guarde a
V. Senhoria c;:om tanta vida e felicidade
como a V. Senhoria dezejo. Coimbra ulti--
mo de Março de 1664.
Creado de V. Senhoria
\ • V
Antonio V'ieyra
.e _A R TA XXIV6
AV. R~dr_igo de Menezes
;
Çreado de V. 'Senhoria.
Antoni~ Vieyra.
CAR..
.C A R T A S
~ CARTA. XXV.
-AV. Rodrig·o de Menezes.
-s,
.
ENHOR. Muito re ·deteve eíl::a car-
ta de V ; Se~ho.ria que recebi em 2 5.
fendo efcrita aos 1 2. devia de· fer a
'.~auz~ a 3.uzencia do Padre Reytor que foy
.Pª-ífar a _feíl:a à banda dalem· logrando os
privilegias da liberdade , que eu ~he naõ
envej o mais que athe o Loreto. Mas tor..
nando , à carta : fçy ·recebida con1 mayor
goíl:o , pôrque foy efperada com mais con1•
pridas faudades, e ella me trouxe as feíl:as ,
ciue fe1n ella na.ó hà outra via p~1onde
chegaífem , e fem pre que me trouxerem taõ
boas novas ·de·V. Senhoria,, e do Senhor Mar-
quês"qu~ De'os guarde, feraõ para mim no·
vas Pafcoas.
Eíl:a minha com rafaõ fe pode chamar
certidaõ de fupervivencia , porque quando
efcrevi a ultima, ficava jà com rebates de
grave doença de que ainda naõ eíl:ou total ...
mente livre , pofto que lhe tenho aplica-
- do
DO P . .f\.N'rONTO VIEYRA. 14)
do os reroedios negativos ·com todo ·o ri-
gor , p.o~·, n1e naõ (qgeiitta:r ao dos medices:
vayme parecendo ~ll.e efcaparey , q·ue na5
ferà pequena merce de·Deos em tempo que
os ares deíl:a Cidade ' and·a õ taõ contágio-
fos. Morre muita· gente ; fogem todos ·os
que podem ; e ninguern .fahe de caza , fe ...
naõ com os defenfi.vos de pefte , tendà-fe
mandado a ffim com , pregoens' publicos , a·
reqtmrünento dos· rr1e1inos que vivem das
no.ifas enfermidades. Neíl:e mefmo Abril fe
u m padecido aqui os 1nais rigor.ofos frios
de Dezembro , e as mayores cahnas de Ju.:..
lho em que nos fican1os abrazando : e naõ
he muito que com a intemperança defl:es
extremos fejaõ tantas as doenças , e taõ a-
gudas , que fó nefra freguefta do Salvador-
fe cnterraraõ hontem cinco , fendo huma·
das que fe efrimaõ por mais [adias. Dou o
para.bem a V. Senhoria de fe efcrever nefl:e·
n1efmo tempo , que naõ hà doenças em
Alemtejo , <1ue he grande difpofiçaõ para
os feiices .foccdfos ; que,,..aquella Província:
nos promette eíl:e annO' ·c om a prezença do
Senhor ~iarquês. ·
N aõ poffo encárecer a V. Senhoria quan-·
~ Tom. I. T to
Lt.6 C .'A R T .A. S . _
to··_.efrimey _, · e fe ·eíl:imou ·ne:fl:e ·Coll~gio à
r:elaçaõ por menor do exercito que S. Ex~
cellencia tem prevenido para efl:a Campa- ·
nha. Fizeraõ-fe muitas copias para hirem
a tQdos os Collegios defra banda. , que fe-
:taõ de granqe animo para todos ; e tan1··
e
bem para que -f fayba , O que Nem todos
publicaõ . .Por eftarafaõ 1 qu~faeu jà repre- ·
zentar a V. S.enhoria que-ímp.ottaría mui-
to , quando V .. Senhoria me faz. mercê ef-
crever , virem as novas do que paífar em,
Aleintejo, para que conA:e fempre da ver-.
d.a4e ·, e para que tenhaõ oppoftçaõ , e fc
naõ de credito âs que· coíl:umaó efpa1har
as p.ennas d.os mencis .affeétos._ Mas ·efyero·
qué haõ ~1e (er- os fuceeífos: taõ grandes, .e
ta3 i11anifef\:os. ~ .qu~ o·s n.aõ: poíf:i efcutecer
nenhuma eh v~J.a. Todas as· p·rofecias· n10
piro111eàem affim· , e [6 m@ fa·z temor, que
eri.tr.e o mundo prez.ente ' e a. g1oria que fe
efpera hajá·aigum"1 purgat9rio em: inej~º ,
tio! qual fe_pagueIÍ:L" peccados· ·de (!fcandalo
publico , c.taj.o l,iem·e-dio~dezej ara eu que to..,
ma.ra0. _m.uiqfü·por fua · c.onta , · naõ os , ~e""
gadores que dizem en1 con1inu1n , Ienaõ os
<t:onfeffóres; os Confelheir.os ,··e os àniig.os
l.- ., · • · • .. :. que
DO
P. ·:A?~TONIO' VIEYRA.. "'.r:47
.qne pbdem ·fallar - em partiCular. Na(, .Pº""'.-
nhamos a Deos em .eftado ein 'iue deixe
de nos fazer mer.cês , por nàô par:ecer irt~
·ufto. '· · ' · · ·
j Se o .Sernlao
..... u:.c
"1 _,,. B. . e·o·
1:;.a.n:t a ~g·ra,e1a
'
:/.'vera
e1n efia.do de fe poder let , frira co1n efra :,
mas con~b ª "nlayor. p~ute foy"pôr apont'a....
mentos , he ·1 neocíl"+rio Linfc5rrriiild 1 d.e iw~
·vn , para ·que· foja o ·q11e eta. ·-·o ·printipü,
·que po~ 1à. a11da cop'iado , .vi eu an~e~ -de
:v.ir ~' n1as te1n n:uy. y~nca.s pal~;~as . que
c:oncoirdent ·com·' (i) . ong1nal , , ·:.é tràê~ i\ndaõ
a rnayor ·parte· ·dos· tneos de ni:iíh:lra. cofu
outros ' s~e ~ ri.a.ó .fa.õ ; e tudo fe pode
t ·re. .
rrtediar: Í<Jmente Cô!I'i a d.ht;nlpa: s.~:, Deô~
quizer ·que affim· foja , ellê ·datâ faudt-.,i Por
agor~ · quizeta··ver ·fe·: poífo levar âo ckh'o
e.R:a Obta ·que para l1ue foja obra tie•ne<.':ef:..
fürio fáyà ·a t~mpo· ; ou an.tes do tetnpo. A:...
gora 1n1t ~retirty a 'ViUa:·rfr;artcãi :por ótdem
~los n'ledioos., e ·efpe!<o· 'ter mâis·hór.ás-d·e gae
ptometto a Y..· ~,enhoti<t , {1ueº r1a:õ- perd€-
r~y ne.nhuma das, <i.UJC pud.tr aproveitar fem
nfço.
N~õ me/inatidou Vf •.'Senhoria o efcrito ·
de frey Joaõ da Silveira, e f6 me diífe V. Se--
.. ,_, ., ,. ·" T ij nhoria.
148 C A R T A S
nhoi-ia que o livro eítava no Collegio def...
ta U niverfidade ·, mas fem nomear o Reli-
giofo que o tinha. A diligencia em cõmum
fez o Mefl:re frey IGdoro da Luz, meo gran-
de amigo , mas refponderaõ-lhe con10 avi-
zey ~V. Senhoria , que naõ havia no Col ~
legio tal livr?, nem noticia de tal Author.
Sobre o Abba.de Joaquim efcrevi haverà
dous correyos , e poíl:o que tan1bem me fe-
rarr1 neceífarios os outros papeis que vi guan-
do ·v . Senhoria rnos mando.u. a Xabregas ,
ainda naõ chego ao ·lugar aonde elles fer-
vem. Os alicerces e primeiras paredes vaõ
todas fuqdadas em authoridade Divina : _e
pa.fqlo_de .v.er qu.am , gt4l.ndes t11~f0uras efl:aõ
-efço,ntlidós noque~ _to9o.& frazérn.entre·.lnâos,
e di'1;nte e-0s 9lhos. Jà tomara qúe algum a
parte ~Jl:ivera em·,e{l:ado de fe 1ap,rêzentar
~os. de v_. Sçphorig ~ 11l~~ ·D.eüs. ajudar à•
.mefmo ·,S_.enhor .- ggar~,e .a V;. Senhoria m.ui-
. tos ãnnos q>mo ··dezajo · CQimbrâ . 28. <3,e
Abril de _1664. .
Creado .de V. Senhoria...
> ,. •
CAR ..;
DO P. 'ANTONIO .VIEYRA. 149
• f '
~ ARTA . xxv1· ~ ·
A.V. Rodrigo t!e Menezes~
ENHOR. Ainda as Naos dà India
na altura do Cabo -v erde n aõ eftai·aõ,
· .e pofto que nos perdoaraõ _o degre-
<lo ,_fadecemos em Coimbra a.~ calmas de
Guine , e tnenos mal fora fe f o fe padece-
r a.ó .as caln1as , rnas fiiõ as doenças taõ ge-
_r aes•, . e taõ- malignas , que jà .os medicos
,lhe1 m-andaraõ aplicar os defoníivos da pef-·
.,_e ; e falta pnuco para. lhe darem o nome ;
e fpero ·nà Divina bon'd ade que naõ hàde dar
t amanho càíl:igo a efta terra' poíl:o que baf-
tem f6 os meos -pecca.dos para o merecer ,
imás quando affi1n fuccedeífe ' tamberi.1 coii-
;fro une hàde dar fua graça para dedic ar .·a
vida ao ferviço ~ e cura deíl:as aln1as , co..
mó jalho tenho offerecido' com. l1ue darey
por bem trocada. a. minha n1iífaô. Affin1
que , Senhor, quando a r eíl:ituiçaõ de que V .
Senhoria tanto fe lembra por m.e fazer ffi(jf ..:,
~ê, .?, tiv~J:~ ~lgum ·lugar , ·naõ he o d t em-
• \ • . ._
"
_ .. -:V
po g9
J.O' · . . C .AR .T A ·s. r
po prezente , em que pode haver occaliaõ
de.. fazer a Deos , que tanto nos merece., al..
gum particular ferviço. ·
As novas que V. Senhori~ .me faz mer-
cê dar do Senh-or Marquês que Deos guar-
de, eíl:in10 fempre igualinente e agora ·1nui-
to rnais pela circunftancia do tempo em GUC
hin1os entrando .. O inimigo como Author ,
fahira prin1eiro , e Nos obfervaremos feos
dcfignios fegundo as leys da guerra d~fenfi...
va ; n1as ofucceflo da Campanha confiíl:e n à.
viétoria, e e.íl:a hàde fer ·daquelle.a.quern n ·eos
a quizer dar , e hade c:1uerer dalla a .qµen
a tiver promettido . .E certo:, que fe naõ ti;;..
vera tanta confiança nas fuas · proirieífas ~·
naõ fey fe me defconfiaraõ os nóffos n1ere...
eimenros : n1as Deos pode primeiro cafH .ar
,aos culpados , e depois fazer os cafHga:dp1,,
viétoriofos : permitta V. Senhoria e~es re...
ceos ao meo an1or , ·que _quem ama muito;
teme tudo. · · ~ . · 1. ·," •. r
O ·meo recomendado do perdaõ , tardou·
erú me ayizar da merc~ qúe r.eC.ebera ·de V~
Senhoria ; pela qual.r.0 1<to a h~ijrar a. ri.i..aa a.
1
. .
://_'D·.11.'fJdrigo de Menezes. ·
8
ENHOR. O cuida.do co.m q1ie .efpe-·
· ro novas da faude de V. Senhoria,
\.;: particularmente depois que fe efcre-
ve , ~que ta1nbem Lisbóa naõ eíl:â fadia ,:
merece toda a merc~ que V. Senhoria me
faz 1 poíl:o que qua11do olho para a minha
indignidade, conheç quam devedor· fica
kmpre o. 1neo cora.çaó ao exceífo com qu~
V,. Senhoria n1e honr.a ; efpero na. hon ela-:
• r
...'
' - • de
"
1151-r C .A · R T A S. '
de Divina me hade dar vida , e tempo .e m.
qúe moíl:re a V. Senhoria. , que , ainda que
fou indio-no
b
de tanto favor, na6 fou ingra -
to a elle. · , . . ., .
1 .
~ 1
' .. , 1
'1
. ·CARTA, XXIX. ·
·s
·AV. 'R'ôdr.igo aé-Menezçi.•.
.
. '
.. '
Creado de V. Senhori~.
XX
 V. Rodrigo de Menezes~
ENI-IOR. As cartas de que V. Se.il·
nhoda me fez merc~ eíl:a femana ~ fi ...
· zera.ó no moo ànirrio os effeitos que
fempre , e ma.yores -, fe podem fer ; por""."
que os favores de ·v. Senhoria fempre ·faõ
avantajados. Daqui pordiante · as efperare .
com .a mefma ancia , mas com mayor t y-
,· . Xij dado .
\
:r64 . C A R T A S . 1
~lado , pois temos ao Senhor Marques que
Deos guarde , e o noífo exercito em cam ..
panha ' ·com hu111a refoluçaõ em que os in-
~conveni.entes faõ . taõ conhecidos , o rifc;o
t;aõ certo , e a ·utilidade nenhum.a. ~al
neíl:a rffateria feja o 111eo parecer, tenho jà
manifeíl:ado a V. Senhoria : e tambe1n V.
Senhori3; ver!a que _me n.aõ qeci delle , de-
.Pois de ver ·a primeira ' propofl:a de Ale~1..,
tejo , e todas fuas razoens , que faõ todas
as que fe podem conGderar pela parte con-
trariá. Acharaõ-fe ne.íl:a Q!iinta a fe1nana
paífada alguns Religiofos muito bem . e~
tendido~ , _ e como em .Coimbra tudo faõ
difputas , na quarta feira à noyte · ~n1· que
fe (fperavaõ as cartas iio correyo , fe dif-
p~~to~1 _a qµ,eíl:aõ , Se ~-ºtl'V~n.ha , ou naõ, fahir
d n0ífa exercitQ·, e fqy ·couza para mitn
~aravilhofa , e poucas vezes viíl:a , <]Ue
rodos conoordaffem em que naõ convinha
íàhJr· " fendo que os voJos ·dos. Religi()fos
faõ ordin3rriamente os mais arrojados. Che""
-garaõ ·emfim pela manhãa as cartas ,. e
inofhandó-lhe eu a fegunda propo~a, {0y
-grandi.ffimo Q applaufo que fe fez à todas a-8
razoens della ,· e:· friuo.favaõ todos . grande~
-
mentQ
DO P. ANTONIO VI'.EYRA: 161
mente com a fua opiniaõ , poíl:o que naõ
havia de quem tdunfo.r , por fer , como di·~
go, de todos . No correyo do Minho tive
carta de peífoa que tem as melhores intel-
ligencias , en1 que me dizia que fabia de
certo que o intento do inimigo era cançar-
.nos , e quebrantar-nos efre veràõ , para
depois nos entrar com todo o poder , o qual
hia. ajun:tando fecretarnente de todas as
pattes ,. e que a eíl:e fim tinha junto o Con-
l-le de Cafttilho Q"rande fomma de dinheiro
pe moeda nova ; e fabbado tivçn1os ca,.i;t~
V
l.~. · miífa0
DO P. ANTONIO VIEYRA." 167
miiTaô D'i_v.tna , que o noífo exercito fay~
a pezar dos juízos hun1anos. O effeito mof-
tr ar~ quaes faõ os fins defta fua Providen-
cia. E porque efta hade chegar a V . Se-
nl-ioria jà ~epois do Corpo de Deos , digo
a. ·v. ~ Senhoria que hum Mathematico d e
boa vida , fciencia , e muito amigo do ·
R eyno , diz que ameaÇaõ as eíl:rellas na-..
q_LI;eUç .dia _a fortngal hum cafo fa,taL ·;Naõ
duvi<!lo que o. Santiffimo Sacramento feja.
m uy offendi.do ne.íl:e Reyno , mas en1 nen-
h nm da Chriíl:andade h e n1àis venerado. ,
neµi fer~ido : pod~rà fér , que feja a fata-
J.i,dade (fe tem algum fundamentõ ) a h1ef-
ip à fahida à _çampanha , cpm taõ pouco
fi 1}} e utili.d age ·, tomo· fe conG.dera .. Atre.,.
·v or,n~- a fallar aJftm , porque. fallo com. V~.
Senhoria. Deos fabe , e pôde mais q'ue os
h o1nens ) e anda taõ zelofo de fuas . nüfe-
ricordias , que por tod~s _as vüis quer que
çopP.eça,mos.: .que fà.õ :füas . .P.or mon1éntos.
~fperamos . muy boas novas: o Senhor dos ex-
ç-rcitos a quem offerecemos todas noffas
o ra~oens e facrificios , no las 1nande qnaes
h avem.os 1nifl:er , e . a, V. Senhoria guarde
muitos annos para mayores felicidades co..,.
. . mo
i68 t A R T A S .
m9 · dezejo Villa Franca ~,,._ de Junho de
:.:-664.
Creado de V. Senhoria;
. ..
Antonio Vieyra.' .
m~
DO P. ANTONIO VIEYRA. 169.
ma do anno paífado , que muito me mo-
leítaõ e enfraquecem. Entramos e1n Efrio,
que naõ he bom tempo para curas , mas
julga o Doutor Sanfins que he neceífario
applicar alg:uns . medicamentos , e affim o
con1eça a fazer. Deos; que he o verdadeirGI
medico , darâ o que for fervido. No mefmo
dia deíl:e meo accidenre i:ecebi . a nova de
V. Senhoria haver livrado do da pedra ,
que f9y · e he para 1nim. o mayor allivio , ·
pois eíl:imo e devo eíl:imar a faude de V.,·
SenhQria n1uito n1ais que apropria.
A n1ercê que me faz · o "Senhor Mar- ·
ques que . Deos guarde , e o affeéto de que·
f-ou devedor a S. Ex:cellencia, conheço muiS'll.
to. bem ; ·e fe e.u fora .digno de que Deo~
ouvira .minhas oraçoP.nS , tambem V. Se..c ·
nh oria conhecera nos effeitos gue naõ he .
n1eo an_irno defagradecido , e que f.:1.be n1eo ·
coraçaõ d.ezeja,r , _a.inda que naõ poífa fa-
tisfazer. N aõ poílo agora offere_cer n1ais fa-
crifitios que os da penitenda ; poH:o que
f4õ tnuitos , e con.tinuos ,. e com grande·
~:lf~éto os que nefre Collegio fe fazem a D.eos
pelo bon1 fucceífo . de noífas . armas , etn cu- ·
ja felicidade cqnúdero a V. Senhoria igu~· ·
-::IOm:. l
- \1 .> - •
Y almente
i7o( .. · C A R . T \·;A s· . '" ' -
aimente· ert1penhado ~ pelo tq1n.n'\.un1 ; ·cô.:: _.
mo· pcl.0 particular. Queira: Noflh. Set1h-Or
dar-·nos · muito que fefrej âr ·c om eíl:e' dobta- ;
dc»goílo. 0 meo coraçaõ e o 1neb jui~oJe ·
naõ aparta.hum. ponto do de V. Sehliori.a·, :
e ·affim efpero as novas con1 tantó' alYoro- '
ço,comofuít.o. Quandovejo os ineyos' q~{efe ·
emprendem , parecen1e. que· tir~inés os o-
lhos do fhn , e de todos ôs ,Jins. Se quere·. .
1110S hon~·a e credito C'Olil O ffiUQdO , qu~ .
111ayor credito , que ilaÕ fe atrever o ini-
n1íg_? a pelejar co~- o noffo exercito ? ·e fo
quere~os u~ilidade e. _conv~1ücsncias , g_ue
~a.yor utilidad€ . -que· C61'lfe~·var · ·f!" rr_~frr1?1
~~rcito , e a hõffa ca·v allaria intétra ; e·
J'tferider a P-rov·incia ; e a cam pa.n hâ ; . ~ os~
frutos d.dla en1 ta:l anno , e ac.crefoentar
fagurarrça para· o futuro con1 fotti~<iar_ Ós
p~ítos de mayor importancia? Tl!-do Hl:o fe:
a~~ifca , e fe pode petdér,em qualquer ·au.;
zen eia do noífo exercito, e na · diíl:anci~ de
v -alenç.a naõ fe reprezentaõ rrieno~ i-if~os
que noutras emprezas. Emfim; Senhor,qua_n-~
do contra todas efras razoen:s cóhG.der.o · a:
refoluça0 que fe mandou tb·mai: ;~ nã? .Poíf~
deixar de entender , que hà. -debaixo ·qella:.
r .... : ., ,á,lgu~
DO p; ANTONIO VIEYRA. i7.r
algum intento particular da ~rovi~encia
Divina , que o tempo nos · moíl:rarâ qual
feja : e para todo o fucceífo efl:imo gran...
demente que o Senhor Marques tenha ~lu
ma e outra vez declarado feo parecer , que
t ambem fe aviza he o de todo o exercito"
. , A carta de Madrid aJuda muito o ·pen-
Jàmento de V. Senhoria, e me adro.ira que
os noífos Confelheiros façaõ taõ pouca po n'...
(.1eraçaõ daquellás noticias , que naõ fa.õ
para defprezar.. A relaçaõ. impreíf..1. em, Se.,.
vilha folguey e folgàraõ muito todos de .
ver: fica guardada com os mais papeis. A
profecias do Abbade Joáquim na'0 ·viera&
ainda. Os A'n agrammas e tudo o mais defr
geneto; efhmarey ; ·e certo que he grande
a mortificaçaõ com que mé vejo atalhado,
porque hia a Obra vento em popa , e ca....
da vez fe defcobdaõ mayores ' e n1ais fi.r
mes efperanças , mas ainda . as . naõ percq
de que Deos m·e naõ hadê matar antes. d
chegar ao porto dez_ejad~ . D.eos guarde "·.
V;. Senhoria muitos anil.os conio· dezejo.
üoirnbra 23" de Junho de 1664. ·
! ' ·Creado · de V. Senhoria.· - ·. , .. ·
._ ,::-, , ' Antonio Vieyrà. ~ ...... ·
",. Y ij CAR-
l7:Z. e· A R TA. S
'
Creado. de .V . Senhoria•.- ;
~ . , ·· ~; · .:Ant©ni~ .v.iey,r~~
Capellaõ e menor·Creado'de V~
Senhoria. · · · . · · . - · ·
J "
Al.~to,nio . V~eyra·. ·
' < • \. • '~ ••
-· (~ ARTA ·XXXV.,. r
. (•,
··An~o1'~~ y)~yr~.
' "'.l " • •
CAR~
DO P. 2\NTôNIO VItYRA7 ·1~x.
.
GARTA.XXXV
'
.. .. . . . . '
ARTA ·XXXVII.
~ '
• 1
Antonio Vieyrth
r
t>O P, ANTONIO VIEYRA.:
AV ..Radrigo de Meneze~.
ENHOR: Todas a.s cartas de V. se:..·
nhoria faõ para mim de igual con....
· tentamento , e fe em algumas fe Pº"°
de confiderar m'á yor ' he nas mais largas'
como efl:a que ultimamente ~ecebi , por-
que beijo a V. Senhoi-ia a maõ ...
O meo affeél:o , e cuidado merece a()
Senhor Marciues que Deos guarde, a merce
que n1e faz , e lembrança que de n1im tem.'
A qriietaçaõ das fronteiras de Alemtej o he
a coroa dos bons fucceífos de Sua Excel ..
~encía pela femelhança que tem de paz ,
que eu eatendo deve fér fempre mais de·.;.
zejada , que as ínayores viltorias. A pon• ·
deraçaõ com que V. Senhoria as con1ide...
ra por obras puramente da maõ de Deos »
merce gra~de for.a fua ,, que eíl:ivera muy
impreífa no conhecimento de todos para.
que nos naõ··fizeffe-mos indignoS' dà ·con'....·
tínuaçaõ delles ., e certo que quando 11 n~ · ·
·rf!!ti. 1. fl.a, · ~~\.
x.89 C A . R ·'!· A- ·s
1
CARTA XL.
·Av. R.odrigo de lVlenez?cs
~s ENH o R =A fét:ude de v. senhoria ;
e a melhoria do ~enhor Marques que
. Deos, guarde efbmo quanto devo, e
que eil:a noticia chegaífe prin1eiro que !i
das queixas de S. Excellench1 clue he gran...
de n1erce de Deos naõ paífare1n a maisfo..
bre_tanto trabalho , e em clima , e teínp
taõ · rigorofo. As' calmas defres dias fora.ó
por ca taõ extraordinarias, que fe naõ lem...
braõ os homens de outras fernelha.ntes >
mas lembravame eu muito pelos' :J efpeitos
1
-
Bbij CAR;
( I
·19&
'
·e A R. T A s.
. . \. ' ' 1 - ..
1
:
:.A'lJ. Rodrigo de Menezes . .
'l . ' ~ .
\;
-Antonio .Vieyra. ·
. .
'
CARTA· XLII.
A ']). Rodrigo de N.fenezes.··
S
~NHOR: Naõ fey que defvio pudef. .
· fem. ter as minhas ~artas ~os correyos
paílados que as retar.da.ffe ·, porq_ue
fen1pre fe entregaõ muito a te1npo , e pee
.las mefn1as vias , nem hà nellas occafiaõ
que de motivo à curioíidad:e , de ·q ue ·mui.-
. tas vez~s fe tem queixado os 'defterra.dos
deíl:a band'!_; mas eftimo q~ _:ain.dá .qUe tarde,
che~
DO P. AN~rÇNIO'V1EYRA~' 1'99
chegá~~m , p,oís facf 'teítemnnhas do meo
fui dado , e· fobte tudo , que as de V. Se·..
nhoria me tragaõ. boas novasd•t faude de
V. Senhoria e do Senhor Marquês que Deos
guarde, ci:.,rr10 dezejo.
' A la.rg<.t , e [retirada de "Arronches he
huma .nova. viaoria en1 confequenti~ da
primeira, que f e naõ de-ve feH:ej ar menos ;
e affün Je efpera a-ultirrta ·certeza ddla corr1
granc1e alvoroço , veio em muy boa occa-
fi:iõ para que o Senhor M·arqu.ês entraffe em
Lisbo<l. con1 1nayor aplauzo , rnas tudo ifto
naõ faõ m.ais que as veíperas -dos triunias
que eu ·a s."ExceUe.ncia · ~fpeí·o. .
1
:A~ntonio Vieyra.
CA. 1
·.A..·XI~.III m
C1 1. ·R ~r A ·XIwIV ~
.A Ve .R9dr~go de M{ne;~·,es6)
EN!-I OR. : Quern poderà', con1i.go dht
íe1nana corn duas cartas de V~ fü~..
. nhoria , e h .u1na do Sen 1or I\1arque
que Deos guarde? Na.ô b~~jo.· F,Lma.p. r~ped:--
"~
id<1111ente a S. Excellencia, porque n1e naõ
1 1
- Crea.do de V. Senhoria..
.Antonio Vieyra.
.·CARTA
. ' '
XLVI ~
AV.:Rodrigo.de Menezes •.·
' ,
S
ENHOR: _Com eíl:a ultima carta de ·
, V. Senhoria acabey de crer o que
\....., naé cda ·' e conhecer o mundo em
CjUe vivemos , cujos myfrerios [ó pode al-
cança1r a Providencia infinita que o gover-
na , e dera eu 1nuita:s paffadas por fallar e
ou.vir a V~ Senhoria ·r1efl:a materia , c1ue o
pode fer ·dos mayores difcurfos , e tambem
das mayores . fufpenfoens. . Q!Jantas vezes
c-onfegue Deos feos intentos pelos cami-
nhos, po~ onde ps- querem eftorvar os ho.-
._.~: ' . mens !
I• • ,.
·i o8 C A R 'T A S ··
mens ! Ainda. que V. Senhoria poder'1·que~
rer o retiro de Cantanhede , Deos ·quer a
V. Senhoria na occupaçaõ , e inquietaçaõ
de Lisboa. Ningnem ferve n1elhor a Deos ,
que quem o ferve como , e ·onde elle quer,
e efta he a verdadeira filofo fia , naõ fó
.Chrifl:ãa, fenaõ ainda Eíl:oica. Do Santo da.
devoç.aõ . de V. Senhoria ouço por cà mila--
gres bem notaveis ; eíHmo que V. Senho...
ria feja e1l:e anno, ~ o que vem Juiz da fua
confraria , e eu pregara na fdl:a de muito
boa vontade , naõ para del-icadezas ; nem
conceitos , fenaõ •para edificaçaõ dos fieis .
·N aõ ·alim pó os outros Sermoens , porque
todos os infrantes que me deixaõ livres os
meos achaques, emprego naqueUoutra obra,·
-·que bem vejo· quanto importa fahir a tem- ·
· .po. Cà n1e mandaraõ o papel do :Flamen ..
go , e tambem vi por efcrito ,q uanto fe tem
-contentado delle Pedro Fernande~ Montei-
ro , de gue naõ pouco · me admirey. N aõ
he a minha fe taõ ·cega , tjue fe convença
· ou fe cative de taõ leves fundamentos. Nun-
ca V. Senhoria ,lne diífe :nada acerca dos
fugeitos que às profecias·põdé111 ·for oppo~ .
fitores , e fe alem do R.ey ·prezente do au-
zente,,
DO P. ANTONIO VIEYRAª
2ente, e do. defunto , e ainda do Cafl:elha-
io'
no que ~àmbem> 'he ~·eclma fext"a geraç.à:õ,
occorre ·a --V-. Senhoria outro · algttm que
poífa faz~.r ~rgumento ,_~~n4~- que naõ c4e-
gue -a fundar eprniiaõ. ,_Pergnntd iíto, · pof..
que guern difputa as m.aterias ex profdfo J)
hé bem ql,le toque-todo~ os. pontos ,. e:eii;"o
favo agui. ·Tivemos hO:ntem grande inun""
daçaõ do Mondego com hllma ter-rivel tem_'-
peftade, mas hav·era querido Oeos que naõ
~lcançaífe a frotà , pela qual fe fazem mui_.
t as oraçoens. Se ~Padre. Joa~-. Pimenta., Pro..,
cur.ador 1Geral do. Braz.il' óffere·cer ' a.. V. Sei'.
ithoí-ia huma cârta,_:m.iuha ·de reco1nenda""
.çaõ , . todb · o fayor f"!· :itl.i·erce ·que Vr. s~..,,:
nhoxfa. lhe fizer·, ·ha;v.e_r_e.y pot proprüis, por..:.
que .lhe devió ' grau.cl.es ohrigaçoens. ·' e na:õ
tenho óutro dezem,penho ·mais que a graça
em que V. Senhoria me tem. ·A meo ..:Amo
p Senhor 1 Ma~,rqu6.s, qne Deos .guarde .; beijo
fempre a maõ ;1e '.Deos me guard.e a V. Se~
n.horia muitIDs annos como dçzej.o. Coin1.-
bra 10 d.e Nove1nbrQ de 1664; · ,·
( · · · r-C-re~Ho
..
~ dê_\t.
~ ..
Seriho~Íâ.
,.
~
·
~,t· '; .. Antonio Yieyra~ · · · · . r
~· :1;em. lfj, · Dd , - .....CAR-
.' O A-.R.: .T !A .~S
~ ~I ~
.'ai:MefiezeS~ .~
oi. , • ._.. • • 1 • !J ,
.,
/IV~ 1~oa;;go
S
f' ' ... : I' \ ' .. • • " ' ~~ ~ .. • '
. r
·- Antonio. Vi~yrtb · ··
~" :.. ~ .,-.. . ! ~ ;<.. .. 1 . .. " •• • •• ~~ - :~~
' I{
Dd ij CAlt·
1 o
it ei :· . :,.. .T ..;:C/ A ~·lt· í't:'." .1il lS ....
-e~.~:t$ - : 'tt~ií1. ;
, .. '}' 1 !l' .,,,, · ~'.,' '1
1
';• ).' · ', 'i• p• l,;1 •
5
! .~ ~ t
·r
. • ! !' ,. ..
•J (
.,
•t
)IV.i~_odrti,o de Menezes._
. .. ' ' • i .
S
.ENIIÇ>R : Y.oltà hojé-0 ~ol pari nôs,
ê. oom raffiro te.o l>eni~no· ,. que(!fpe o
fe ·fáceilitém, os cárµirthos ,aos corre...
, . yos -éon1 qÚe me n,a_õ fal~em , 'como neft
as nqvas tle' V. Se11hor~a ,--em cujâ efp
ranç~ ~ fe palfa·com áUiivíiô- pan.f!! · da foma ...
na - e com dobtadoJtormento a : rdto idel..
la ,'e da ·feguinte, ate qu~>cheguem. . e
creyo que as aµzei:cia~ _de y. Senho~ia tam ...
bem concoi-rem a eft~ def.eni::on ro ,, mas
pois affim o pern1ite Deos e o aconfelhaõ
os tempos , eu me componho com a
parte de pa~i~n.cia. qu.~ ~e cabe , e peço
ao mefmo Senh~r 1, eomponha o que eH ~
1àhe que o hà miíl:er , de maneira, que fora.
e dentro haja t~nta paz , e focego quanta
para feo mefrno ferviço he neceffaria. Em
grande f ufpenfaõ tem po.lto a todos eíl:e
P<?~tentofo Cometa, que na grandeza tenho
~ ;· !'º~
DO P. ANTONIO VIEYRA. irr
por naõ inferior ao de 1618 e o mefmo jul-
ga o Doutor San1fins que o vio em idade
que .podia fazer melhor juízo delle que eu.
Os livros naõ pronoíl:icaõ coufas de ,gof..
to , e fe forem contra Caíl:ella, como ie ef-
pera, naõ deixàraõ de fer em utilidade nof-
fa. A vida delRey Felippe tem contrafi
todas as leys da natureza, e o Cometa ver-
dadeiramente he funeíl.:o e funeral. Mas ne~
nhnm mortal daquelles a que1n ameaça~
e.íl:as vozes do Ceo, fe ·d eve ter por feguro
n a terra , e fora muy bom que a todos fe
~ he fizera dl:a lembrança, V. Senhoria me
farâ grande n1erc~ dizer me os juízos .que lã
fe faze1n ; o c1ue eu fó po.ífo dizer a V. Se-
nhoria hc , que hà dias que eíl:e porte~to.
nos tardava a mitn e a alguns aID:igos da
2nefma opiniaõ , e elperanças , porque fen-
do eíl:as taõ grandes e taõ fataes , parecia
coufa alhea da ordinaria Providencia de
Deos nos cafos e1n que houve mudanças
notaveis no n1undo , naõ prevenir , é a-
moeíl:ar ao mefmo mundo com os prenµn-
cios dellas , paraque ninguem o poífa ~e-.
gar por Author de todas. A occafia3 e éir~
cuníl::ancia do tempo he a mais preciz~5l~-~- ~
To~. /,, Ee fe.
i:r & C . A R '"f A S ,
fe po~ia ima.gina.t nem dezej ar ; e as no~
'1"as que vem de Alemtejo de prevençoensr'
extraordinarias do iniinigo, párece que con ...
cordaõ cól'tl eíl:e farol do Ceo. A mais fe-
gura refohtç·aÕ he pôr os olhos nelle , e
proêur~.r tello muy pro~icio , porque de là
há<le -v1t a boa , ou ma fentença aos que
fore1n dignos della. E finto grandemente
:nàõ vet nos anünos·deíl:a banda mais con1..-
rnoçàõ que a da curiofidade , e là pôde fe r
que feja ó mefmo; co1no fe Deos houveífe
áe acender no Ceo ociófamente hum cor--
po taõ prodigiofo , ou produGllo de novo,
como outros quere1n ; porque fe averiguoti
que o de 1618. tinha trezentas e oitenta
1nil legoas de comprido ·, que he coufa que
excede toda a ad1niraçaõ , n1as ainda haõ
de fer n1ayóres as que eíl:e anun'.da. Eu con-
feiTo a V. Senhoria que a minha fe fe con~
"'! :firma muit o com eíl:e teíl:emunho taõ claro
de Deos, e tomara valer alguma coufa con1
fua Divina Magcfi:ade , e que feos fervas ,
pois ~em tantos , applacàraõ fua juíta ira,
que fe~pre deve defcarregar f0bre g·ran<le
patte da Chriíl::andade. G·rnrdt; D~os a -V .
Senhoria muitos 4nnos, çomt> dezejo. e hâ.J
vemos
DO P. AN ..fONIO VIEYRA. 1151
vemos miíl:er. Coimbra 1:z. de Dezembto-
de 1664.
,C ARTA L.
A V~ / Rodrigo de Menezes.
ENHOR : D.ezejo a V. Senhoria t
ao Senhor ~!arques que Deos guar·
de, taõ-alegres principios de anno, co-
n10 foraõ p~ra mim as feftas com o favor·
de d1ias, c.a:rtas de·V. Senhoria no meyo de
tantas occnpaçoens, mas nunca V. Senho-
ria tem· in1pedim.e·nt.o para multiplicar a
mercê que me faz, -porque beijo mil vez e
a maõ a V. Senh.t>da,.
Bem me parecia ·a min1 q e naõ .havia
ltar entre tantas opinioens) quem deífe o
.Ee ij feo
íto C A R T ·A S
feo voto para ·a·cadeira ao opp.ohtor recõ'1. .:·
mendado de V. Senhoria, e fobre fer con -
forme aos Eíl:atutos da U niverftdade a in-
t~lligencia daqueHe texto', tem por G o ap-
plaufo geral de todos ; o que a mim me
fatisfaz muito he a informaçaõ de V. Se-
nhoria , que. femp1~e tepho por muy verda-
deirá , e defintéreffada ; ainda que V .
Senhoria confeífe a affeiçaõ do f ugeito :
admirom_e de ver quantos affeiçoados tem
de perto , e de longe. O Reytor dizem gue
naõ hade vagar· as cadeiras fep.aõ no fi m
do anrio , eritaq ver~mos ·. que .forte tem ,
porque a _ pode ter rnuitO grande fem offeri...,
fa de nenhum dos . oppofitores. .
· Jà diífe a V. Senhoria qaando em Coim...
bra fe ·con1eçou a obfervar , ou a ver o Co...
meta ( porque naõ hà quem o po~a obfer-
var e1n toda eíl:a U niveríidade ) pagando
EIRey huma Cadeira de Mathen1atica·, e fe
V. Senhoria me naõ mandàra dizer o lu.-
. gar do Ceo onde fahe , aincfa cà o naõ fou-
beramos. A figura em toda a parte he a.
mefma , mas a cor naõ o parece ·, ferà pe-s
la differ.ença dos·ares,- .e..d.o·s vap.ores ;1 athe..;
gora fe nos reprezentou fempre pallido , ·e
: ·_ . ;funefto,..
DO P. ANTONIO VIEYRA.· 111
fnneíl:o;Sanfins fe refolve em que he Saturni-
no, e que annund'.a enfermidades. O certo he
que _fegnndo.·o que dizen1 os profeífo:·es d.dl:a
arte fundados nos exemplos das h1ftonas,
fem pre D--eos co!.h:ima ameaçar trabalhos e
caíl:igos 'com femelhantes finaes , e quan.-
do menos ferà 1nuito util que nôs o inter...
pretemos aílim , paraque o Ceo ache 1nenos
que executar ' e fa.ça a emenda ' o que ha-
via de fazer a juíl:iça. Deífa Corte chegou
â(lui hum Padre que nos contou hum gran-
le exe1nplo de hum amigo de V. Senho-
ria , que foy) muy e.íl:imad® , e _louvado de
todos.
O C_o meta de 1 5"77. a qrie fe attribue .a
perda delRey D. Sebaíl:iaõ , ,fegundo a con-
ta d_et Vº Senhoria , fahio ou appareceo n~
mefmo dia que eíl:e, e naõ falta quem aché
grandes'. "myíl:erios neíl:a correfpondencia ,
que ·veríd adeiramente he notavel. Eu fiz
meo eil:udo ·no cafo , naõ como Mathe-
matico , mas como marinheiro , que he o
mais a que fe eíl:ende a minha arte , ou ex-
periencia : e aê:hey hum texto , que pare-
ceo n~tavd a algumas peífoas a quem o
~ommuniquey , e he de Ptolemeo no tex. .
! . to
211 C A R T A S .
to 54 Cum htec oftenta orienta/ia fltnt , &
falem antecedunt , & in oriente apparent, cç-
let:itatem eventús fecuturi Jignificant. E como
efl:e Cometa feja taõ propriamente orien...
tal , e appareça no me.fino_ ponto do Ori-
ente , onde nafce o Sol , e và diante do mef-
. mo Sol , e com curfo taõ , apreífado, parece
fe hà ·verdade no texto , que naõ tardaràõ
1nuito feos effeitos , .que he o que have··
n1os miíl:er , e o qu~ promette a circunfian-
cia. do tempo , e. o concurfo de todas as
outras caufas. .
Efta vay por via do Padre 'Procurador
do Brazil , que he mais affifl:ente no Colle-
gio , que o Padre R.eytor ., e a elle. pode V .
Senhoria mandar erifreg.ar o livro do Ab-
bade Joaquim. A merce ·que V.· Senhoria
faz à noffa Provincia, pagarà Deos .a Se- ·v.
nhoria , ·e o mefmo Senh.or guarde a V.
Senhoria ·muitos annos como 'dezejo e ha..
vemos miíl:er. ·Coimbra 19 de DeZembro
de 1664. . --,
Gapellaõ e menor C.read~ de V:·~e!Í~ori~.
. .. . ~· .
Antonio Vieyt~.: . ·i~_,
. CAR-
DO P. ANTONIO VIEYRA. 2 23
CARTA LI:
A V. ·R.odrigo de Menezes.
ENI-IOR : Jà no correyo paífado fi-
gnifiquey a V. Senhoria o fentimen-
to· da occaíiaõ' porque me havia fal-
u do carta de V. Senhoria , e pofro que
com a noticia que V. Senhoria n1e faz n1er··
ce neíl:a ulti1na, fica alliviado o cuydado do
perigo do mal , naõ ..he menor o ein que
me deixà ~ ~ifficuldade ·com que fe admit-
tem os remedias ' por cuja .falta ' de muito
leves princípios fe vem a padecer grandes
danos. Terrível penfaõ he viver da vid
tilhea , e foberana · obrigaç.aõ confervar a
propria como a. -de todos. Por muitas par-
tes nos .chega efra mefma queixa involta
no me.fino ·r e·c eo· , que fó fe põc1e eíl:ima
pe1o que ·argue de amor e benevolencia ge-
ral , gue verdadeiramente fe experim en ta
- melhor ao longe , e he notavel o exceífo
com que fe deixa conhecer.
O ~ometa fe nos mofl:rou ainda quintà
· feira
114 C A R T A S
feira muitó diminuido da cauda , depois o
encobriiaõ as ferraç.oens , e perpetuas .c hu-,
vas , com que os dias vaõ triíl:iffimos. Aos
1 3' quaft ~fpaço de vinte e quatro horas fe
cobrio tudo de neve altiffima, chovendo co-
piofamente no mefmo tempo , e ventando
por efpaço de quatro horas com tal ,furia a
efpaços , que fe duràra .n1ais tempo , e com
n1ayor continuaçaõ , nenhuma couza ficà-
:ra em pê ; o eíl:ra.go nos ·olivaes, .e em to ..
do o gener~ de arvores foy gràndiílimo , e
mayor nos 'montes·,. que nos valles, humas
arrancadas de todo, outra~ quebradas. N a
:nofL1. quiata da Cheira yiei:aõ ao.chaõ mais
de duzéntos ipinheiros , que· fuõ alli muy
grandes-e fortes , e neíl:a cerca do Colle-
gio vinte e quatro cipreíl:es, e muitos mais .
na de Santa Cruz. Queira Oeos _que naõ paífe
o caíl:igo dos corpos vegetativos às· vidas _
racionaes ciue faõ as que offendem. Gran-
de efcand'alo he que ainda ameaçados os_n aõ
remámos , e grande barbaria q.ue. queira-
mos fér valentes contra · o Ceo. Os j~izos
dos Mathematieos fempre fe ' conformaõ
mais com o que obfervaõ na terra , mas a
fua fciencia que ainda naõ conhece a ín-
fiuencia
DO P. ANTONIO V:IEYRA. 1·2;
fluepcia 4as efrrellas que fe :vem. h,a fois .mil
annos ,/ tomo hàde conhecer a fignificaçaõ
de hun1 final que to.dos ós di'as tem vade-
(iade , e mais he ·guia;do' pelos ~ rumos ·'d a
Providencia., que pelos"mo.~ime.iitos' ·d a na-
t ureza. Efras co'n1e0:uras a ·meo ver perten~
cem mais aos lidos nas hiíl:orias ,: q_ue . aos
obfervadores das eíl:rellas ; para que fe tiren1
os effeitos pel'os, ettll)plo~ .,,·pois a primei- ·
ra éàuza , e fua ju~iça ·he -fempre a mef-
n1a. Ifi:o he o ciue. fe pratica neíl:a U 1:1iver-
.fidad.e entre os mais. entenâidos ., e .timo.'..-
!:atos , 'e' o Oppofitor amigo de V. Senho-
ria he 0 m.ayor fautor deíl:a opinia5 taõ
1
, •. :9 , ..... . . . _Y.
- ,-~· r .. . · ~
. . ,. r .... _ J 1 . ,- •
, CAR~
DO P. \:ANTONIO.V.:lÊYRJL f1.'27
. Senhoiia~. ·; ;. ,, .... -- \ · ; ·
f t Lt •À (.l •f '_., f .. ! \ 1
•
·1
~.. 1 j { \I i <.; t "1 '"\
J <f ~
'1 - •
f .r:': ,A 'ritónió·''Vi.éyra1~ . 1
. f
.. . ~J ! r . , ,, . . . 4 • ! . . l ..
CAR..; -'
-- 1
DO P. ANTONIO VIEYRA.
C A: R T A LIII.
A V . Rodrigo de MeneZes.
' EN-HOR : Muito n1al me vay con1
a auzericiai de V .. Senhoria ., porque
.- · _ ·naõ:_f6 tardaã , os correyos , mas che-
gaõ . (em carta ,_e tl;ldo acrefcenta o cuyda-
do. Jà. nos livra.m·os dos pdmeiro$· fuftos
qm~· foi:aõ .d~ te1npd'.l;ades ' ua1~fi'agios ' 1 ie
pupro{~ , d~~;i.ítre~~ ; · ago~·a l}os tf m · em (qf.
.penfão ·as fa.pgr1as <:\,e .S: Mageil:ad'e , que
ain ~à (e naõ ~verigua fe faõ ·effeitos da mon7
taria-, ...ot:i qe qq~n~~ª· Be_m ·pud~,ra ( Deo.s
o guarde ) dezeíl::ima1: menos a faude , e
~rri(càr i~eno~ ·a v,i da , pois vivem. tantos
<lella. Por éà fe falla ein ~orte do Papa, e
delRey Phelipe, ambas pór via de JCaH:ella,,
e por iífo dignas de menos credito , fe af-
iÍm fo!Ie jà. _o Corneta, como diziaõ os an-
tigo s·~ fé _tinha expiádo; os effeitos que tem.
cauzado nos elementos , faõ violentiílimos ,
ainda hum dia deíl:es --deo â coíl:a com hum
Navio do Parâ, de que efcaparaõ al~1 ns
,. h_ Q...,
r:30 · e· A ~R 'T A"· S ... '_1:
1
C A ·RT A LIV.
A 'D. Rodrigo de Menezes. 1
Capellaõ e menor·Cr~a40 de .V
. Senhoriaº . · ·
Á!ltonio · .Vieyra~
--
DO P. ANTO!~IO VIEYRA. 237
CAR.'T A. LVI9
A 'D. Rodrigo de J\!fenezes.-
E!~HOR: Sinto que os achaques de
V. Senhoria fo hajaõ dilatado tan-
to tempo , 111as os tempos naõ vaõ
para menos , fe faõ em Lisboa, corno en1
Coimbra. Tal rigor , e tal variedade
:nunca fe vio. O nof{o Doutor Sanfins te-
me (:iue os effeitos deíb. s cauzas , e da
cel eíl:e que as move fejaõ peóres , e mais
genies , imas ao ccaíiaõ que nês damos
~o Ceo e aos elementos , he a que mais fe
deve te1ner como V. Senhoria ten1e. Ba{:
Unte inimigo era Caíl:ella para querermos
ter a Deos da nofi"a parte : terrivel couza
Tera fe tivermos ambos eíl:es poderes con-
tra nôs. Por cà foa que fazem os Caíl:elha- .
nos mayores esforços que nunca. Dos fa-
ores ultimes , e das felicidades que Deos
t em .apparelhadas a Portugal-; eíl:on fen1 pre
certo com a n1efma firmeza, mas antes del-
las na.õ fey .fe nos quererà Deos purificar
com
Anto11io Vieyraº'
CAR..
DO P. AN'TONIO VIEYRA. 139
CARTA LVII.
AV. Rodrigo de Menezes.
ENI-IOR : Muito e:íl:in10 fempre as
novas de V. Senhoria , e deíl:a ves
efl:imey tambem como jà diífe o acha-
que pela occafiaõ em gue veio, e pelo fuíl:o
de que meJivrou,por razaõ das novas que por
eíta banda corriaõ, que naõ fey como o meo
coraçaõ fe havia de acõmodar com efcrevcr
a. V. Senhoria de Março a Março , quando as
monçoens do correyo de cada femal!a me
parece tardaõ tanto. Jà .agora fe vaõ pondo
mais em ordem , mas a primavera naõ a-
1ba de chegar: eíl:es faõ os effeitos Satur-
ninos qüe caufa o Cometa, e tambem naõ
faltaõ os de Marte. Fica prezo Salvador
Correa por hu1n defafio, e Antonio de Sal-
'. anha pelo haver apadrinhado, havendo fi-
o eíl:a pendencia effeito de outra mais pu-
lica. Roque Monteiro tambem efrâ prezo
por
1 • 'I
240 C A R 'T A S
i1or outra valentia. :Naõ fey fe prognofti ca
iíl:o , ou aconíelha que athe os eíl:udantes,
e Clcr.igos devem tornar as armas , e aHim
era bem que foife, e que ninguem trataíie
de outra coufa, fe he verdad,e con10 .fo ef...
crcve , que o inimigo faz dous exercites ,
e que Marcim paffa a governar o d.e G a...
.liza, ficando Carracena e.m Ale1n-tejo. Li ...
vre-nos Deos do te rc·e iro, que he o que eu
.m ais temo, e por parte.donde fe teme m e...
nos. V i o Prognoíl:ico de Joaõ Nunes da
Cunha ern que refponde ao de Caíl:ella ,
.q_ue fe p1'.01nete eH:e anno a reíl::auraçaõ
de Portugal; elle diz que as viltorias haõ ...
d e. fer noí1à$ , os perigos ein. Veneza , e
Conílantinopla , e as doeaças graves com
perigo de contagio en1 toda Efpanha: bom
he h ir para a lndi:i en1 tal te~po , n1as
Deos he Senhor dos tempos. Bom fora pa..
ra tudo fe tomaffe o confelho de V . Se·
nhoria. , e que fizeífemos 1nuito todos por
rnc recer as mizericordias , e naõ provocar
os caH:igos. Guarde Deos a V. Senhoria·mui-
tos an'.1Js cpmo ·dezej o e havemos miíter , 1
.., .. 1' .
.At1ton1o · vieyra~ ·.
-CAR.T A LIX.
7f. 7?_~ Rodrigo de Menezes.
S
ENHOR: Naõ poífo deixar de me
admirar com V. Senhoria da varie-
dade do tempo, a qual nefl:e mefmo
clia ·tem fido t1l, que amanhecendo muito
claro, eíl:â a t?-rde con1 . tal cerraç~-0 , que
p~r~ce noyte techacla : f.prtiffim?-s faõ as Íil""
tl~~ncias daquelle . m~theoro ; e a ~ais .~ll:..
. I~
·D O P. -ANTONIO VIEYRA.~·24)
ra de todas , he a gue V. Senhoria c.onfi..,
dera na du,reza dos coraçoens , nos quaes
vejo os 1nefmos effeito.s , fem haver que1n
fe lenibre de que Deos. nos pode caíligar ,
nem ainda. aquelles, que ten1 por officio fa.-.
zer dhts len1branças. Hontem fe 1ne eíl:e~-· ,
ve queixan~o Sanfins ·dos .P regadores ~ aos.
quaes fe i1ao ouve palavra , . que fe conforme·
êom as an1eaças do Ceo , devendo fer as , fuas
vozes o preg.aõ daquelle açoyte. : t?do o
rnco temor he que antes das. efpentdas feli-
cidades dê. Deos a:lguma gratlde ·fatisfaçaõ .
à fu~ ;j1iftiç:a. Se ·o Papel he de Car,ra,c;ena 11 ·
el le bem tern poíl:o .o· po'nto ,, n1as ha lnif. .."
rer 1nuita polvo.ra pa~ra 'taõ grande tiro . .
Quanto folgara ·agora Li~bo;i de fe ver for-a .
ti.fcada! O pcor qµe ~en1 , .he a· fua . rnefmJt.,
fama. , porgue hun1a vez que o inimigo fe
delibere ~ eífa ernpreza, medindo as forças
com a opiniaõ , neceífarian1ente haõde fer
muy friperiores ao que· conhecemos os· de · ,
caza. Como tem9 que ·a -Ba~yloni'a Euro-.
?ea , faja Babylonia na c,<tnfuzaõ , naõ o ..
lendo .nos , mm;o,s ' nem ·nos defenfores !
mas bafl:a .fello nos peccados." V. Senhorim.
aplka1·à a:femellliança do tex.to ao -de1nais , -
qu~
l '3 7
'-46 e A R ~r A s'
que eu tiaõ digo . .Deos nos dê a uniaõ que
V. Senhoria ~ezeja nos pequenos, nos Gra11"4
des , e nos Mayores.
A'cerca do Papel que V. Senhoria vio
naquella 1naõ , tenho j à dado a V. Senho-
ria as noticias , mas nurH::a podetey.' éxpli...
car o fentiinento, que tenho defi:a violencia,
que tem. 'fido' a ma.is profiada, tiue fe pode.
-i,1nagi11ar ~ e con10 fe pedil@ pata ht1m nm'
que fey V. Senhoria 1nui'to 'dezeja, fuppus
que V. Senhoria haveria por bem , que eu
cortaífe eíte pequeno retalho da peça , pa-
r,a .que o prindpal; co1nprador· j11fgaffe· fo
lhe fervia , ou o fei:via. ' P.or efta cáufa fiz
eleiçaõ daquelles Capitulos,1nais capazes por
fua materia, da · aceitaçaõ de S. Mag,eH:ade,
ainda que a Obra toda ven1 ·ª fer fua , rnas
as' outras lpartes della neceí!itaõ de fé , e
para eíl:a bafraõ os olhos : fe por efte meyo
fe confeguir que a impr~ífaõ. fe và·fazer onde
V. Senhoria emende as· ~r-ra.tas, efruzarnie~
hà o trabalho de maad.a;r em ped~-ços to-
do o livro, em que naõ .ciuero qae haja .p a...
layra , que V. Senhoria naõ' aprov~· primei ...
ro j da-ndo-m~ eíl:a confiança a meree qµe
V. Senhoria me fa.z , mas fe riaõ baílar efte-
obfequio
DO P.' ANTONIO VIEYRA.' 141
obfequio para gue fe conced21J ( poíl:o que na'Õ
fe pede ) .à 1nudapça de lugar ; tenho por
certd' ·que :m.orrer~õ os trabalho , e fe fe . .
pultaràõ ~~ntes ?ç na~i~o~, po~que P?-ra,.,fa-
ihir-em . a·luz·,'ten:i a difflcml'dade' (1ue j'à rê-
prezentey a V . .senhoria , que f6 fe -pode:U,
·rà v:encer com à prezença ,: e ainda com a
arithor.idade Real ·, que he1 ta1nbem hum
dos. fins~ por onde; me parece~ :· acdta"vel a
.abeitur·a C:le!te caminho.
1 · . ·
Sobre ,Efdras tenho eu algum. penfa1nen....
eo ; que terey por verdadeiro , eri1 <juar~to
1
rn
.L-2f p. l) J •
.' a,e1 ''"A"'
J.v.1.enezes.
/T '' . ,
1 1
'
,_,~oq;rtgo
'
·-" EN1IOR\ ~ Por via: do Padre J'oaõ Pi~
.. rnenta,p.rocurey·f.e deffe cotíta ~itJ V. Se~
1
CARTA IJXI.
A V. Rodrigo de Menezes.
ENHOR : Muito eíl:imo que V. Se...
nhoria haja paífa.do com be1n o traba-
lho da. Semana fanta , e fe elle foy taõ
grande como fe efcreveo por 1nuitas vias , a...
inda he mais para efl:imar, e feriaõ ·às Pafcoas
verdadeiram.ente taõ ~legres como eu as-de ...
1
zej ey a V. Senhoria. ·
As minhas co11tinuaõ,con10 começara.ó ,
honten1 foy o dia. 2.I da doença,e hoje naõ h e
ainda o primeiro da m,dhoria.Efper amos por
Sanfins pa.ra, fe refolver o modo que fe hade
tqmar na cu!'a~ N aõ era por éerto efl:e o tem..,
po em que eu menos houveffe de fenti.r o ver.,
me affim impedido, 1nas he bem que fo faça a
vontade de Deos enaõ a noífa. As doenças
vaõ picando,e fazend.o-fe malignas. Confer...
ve Deos a V. Senhoria a faude que havemos
miíl:er, que nas que importa.ô taõ pouco, me ...
nos he ainda o que fe perde. Verdadeiramen-:
te que ~aõ eraã dles annos,em que entra1nos,
· para
DO P . .ANTON.IO VIEYRA. 151
11:i.ra n1orrer. Hontem affirmou hum Conego
deíl:a Sé, Ma~oel d~s Reys de Carvalho, <J.'na
vefpera do d19J. err1 q_o Con1e~a voltou a cau-
da para o Oriente, o vira elle, e toda a fua fa-
milia cor.re1· ·c om g.ra.nde preífa para o lugar
onde efl:ava a L ua J e inetter a cauda pelo me-
yo della , e que efl:e taõ·~xtraordinario mov. i-
mento fora taõ apreffaoo , e fenfivel , que o
<lHhnguiaõ e notavaõ claramente os olhos.
Dizem me que he pdfoa digna de toda a fé. '
De Lisboa fe efcr.eveo nelle correyo chegara
por vi a de Italia, que o Turco tinha quebrado
a. tregoa, fe he verdade , tudo faõ difpofições
muito _proximas do qfe efpera. Guarde Deos
a V. Senhoria. mt,Ütos annos, como dezejoi.
Coimbra 26 de Abril de 166 5 b
t '
·.
li ij CAR'"'
1'{0
CARTAS
C A R T A LXII .
A V~ Rodrigo de MenezeJ.
,,. ~ 1 '
CARTA LXIII.
LÍ v.~ Rotlrigo de ~enezesl)
S
ENH O R : N·aõ podia V. Senhoria ter
mais certas novas· do efl:ad'o de minha
· faude, qa falta de as haver proçÇ.r~~t?
de V. Senhoria nos dous Correyo~ paífados. ·
-· . Màs
DO P. ANTONIO VIEYRA . 255
~ias hontem foy Deos fervido, que o Doutor
Sanfins 1ne achaífe livre da febre, com que
nos perfuadimos fer intermitente, e naõ ha-
bitual, que he o que mais fe teme nefta ·Cida·-
de,e Collegio,onde ae thica,e a phtizica pare...
cc 4tem feito o feo aífento. N aõ ceífaõ con1
tudo os creci1nentos de·todos os dias, para cn-
jo remedio, depois de experimentados todos
os outros,fe n1e receitaõ agora os ares de Vil-·
la franca. Deos, com cuja vontade me deze.,.
jo confórmar fempre, naõ depende de luga-
res: elle fara o que for fervido 1 e fe n1e con-
fervar a vida para ver chegar a Europa as vi-
toríozas bandeiras do Oriente, naõ ferey eu o
que com menor affeéto, e aplaufo celebrarey
fem pre os triunfos de V. Senhoria.Antes dcl-
les nos tem etn grande fi1fpenfaõ os fi1cceífos
da guerr_a defte anno, para cuja operaçaõ ª""
inda. en1 Mayo naõ efiaõ eleitos. os Cabos ,
pofto que ha dias. continuaõ as levas; mas to-
das por efta parte de mininos, que mais pare-
ce.m·vid:imas.. cle li erodes , que defcnfores de
Portugal.Das prevençoefls de baft:imentos ti-
rados dos Afientiftas he tal a opiniaõ deHe
annq, como foraõ as-experiendas do paífado.
Ftanç.a nos tem foccorrido fó com os Caza...
'·· mentes
..
2r6 ·. CA ' RTA ·S
nu~ntos, de que.ta1nb,en1 fe efcreve de Lisboa
o que \T. Senh?._ria tne diz,1nas honte chegou.
nova ( naõ fey fe he c·e.rtfl) de t1ue temos no-
vos provin1entos., ou norneaçac> d.e Bifpados,
fobre que ·v, Senhoria fara ·a difcurfo que eu
naõ fey entender. Os prodigios continuaõ , e
na.ó faõ rr1enores os de:Roma, doilde fe eícre-
ve houve tres dias de trevas pálpave~s, c0m o
as do .i.;gypto,
~
com o t]I o!e .
.. eo,_e a .t ena parece
começaõ ~· folenizar as vdperas,e expe~a-ç~õ
do a,nno de: 66. As r~á-~r.:;t·s de,. C'aH:eHa íaõ taõ
_va:ria.s , qhum.as nos p.1tomet.tcrm. rpúità' guer ...
·ra, outras nenhúa. v·.'. Sonhotja -1ue 'far-a·1ner""
q
ce dizer, con10 ferripre\ o de~o c1~er;re t~·Q.l...
hem folgarey faber fe citas duas ·Naos d.e Jn....
glaterra ,unidas en1 hu1na;que' di',Zeni "entrara
neff e Porto :i fa.õ na forrna que; dé 'lã; fe pinta.ó,
e fe paífa hum barco por entr.e OS. oofl:~.dos de
dentro , e em que . parte tem·. (~S n1aíl:(').s , e
quantos faõ ,. e con1 qriantos l,eines r fi.~1 go;vêr-
na. Deos nos dô ~ft raõ·fegriro;e ~otn taõ·.bons
Pilotos; como havemós n1ifter ;·e gu~.:rde a, V.
Senhoria niuitos annos;co1110 de~ejo·. Coün..
hra 6 de !·Aayo de 166 5'. ~ · · , ,';' ~
1 • • · •
CARTA LXIV.:
A V. Rodrigo de Menezes.
ENHOR : As melhores receitas para
n1im faõ fempre as cart3;S de V.Senho...
ria, pois fó nellas acho certo o allivio>
e ein todas as outras athe agora tenho expe-
&·imentado taõ pouco retnedio,que com cada
hum dos gue me aplicaõ, crece, e empeora
o mal, e eíl:e he o eíl:ado em que fico, quaíi cõ
50 dias de cama. Começou a doença dia de
R amos. em huma cezaõ declarada, e defpois
flcou em huma tercàm ,, notha com os creci-
Inentos riotl:urnos ,· que por naõ ferem reco-
~ hecidos dos medícos , e as agoas moíl:rarem
cozimento,.me deixàraõ paflar oyto dias fem
a.pplicár remedia. Ao cabo delles, foy o pri-
"Ileiro humas fanguifugas , e porque eíl:e naõ
_aproveitou , me deraõ quatro fangr i.as nos
pes, e no dia 14 huma purga, com que íe acre--
centou a febre, que ainda fenaõ j ulgav ~ por
continua : ao dia 18 fe ap plicou con tra e:íl:a:, .
outra fangr~ a de pe , e nada mais athe o dia
. Tom. I. Kk f.7 em .
2-58 . C A R T ,A S -
27 em que houv.e nova purga fem 1.n elhoria:
Continuey defpois cõ huns xaropes de fran-
gaõ, e raízes deoreticas; com que no dia 4r
.e no feguinte roe deraõ duas fangrias nos bra...
ços, havendo jà muitos dias que a febre muy
conheddamente naõ defpede, e os crecimen-
~os d,uraõ toda a noyte,occupando toda atar-
Qe ·a.ntecedente os correyos·delles, ·que naõ
p.affaõ de bocejos,e e:xitrémidad'es f~ias~o ma...
yor i;eceyo he de que a febre on fe faça, o~ .fe'!'!
j~a jà habini~l, e'de que a ·debi.lidade do fugei..
·f.O fique. i.ncapaz de ,o utros remedios)por.q1Jã..r
.i o fe. vio u.ltirµame·n te que o L-tngue era todo
c,leforado que foy- C<lUZa de pararem . co'rn as
fángri~s ; n1as as agoas fempre perfeita$ na
cpr , ·e·fedimeni:o. Deíl:a inforinaçaõ .taõ
miµda julgarà V. Se11horh1 o conceito que eu
tenho da medicina;.e. boticas de V."Senlioria,
naõ fendo neceífaria mais prova, que dizer-
.nie :V.Senhoria te1n dado a1gun1a applicaçaõ
a: eíla fciencia, e conf01·n1e a ella efpero a di«>?
roçaõ de V. Senhoria parace feguir neíl:e par..t
ticular, como em todos. r '
. ' .J '
' ~f : .
CAR.T A
. .
Lxv·.
A Vf) Rodrigo de l\4enezes.:
ENHOR: Tomàra eu ~er muit as pa·~
lavras com que poder declarar a ·v . Se~
·.nlioria a eítimaçaõ', q'faço.do affeéto,
e r.epetidas finezas com qüe o 'cuydado de V •
.senhoria folidta minha faudê. Mas o Jilécio
e o. cé:nr:~çaõ;que .V ..Seiilhor.i<r taõ ben1 conhe....
ce,me. ~defen1pi.erl.h.araõ mel1TtC>1'•tldl:e dezejo;e
obr.igaçaõi: e affim peço a V. Senhor.ia fe fir .w.
va de ent~nder deíl:as regras ..o que .çom ne"'
nhumas,letràs fe-pôde dizer. . .
Faltou-me carta 'de V. Senhoria as horas
ordinariás do correyo, e quando já 1ne com ...
punha com faher por outra via,que naõ havia
·motivo .d e euydaâo, que pudeífe occafio nar
eíl:a falta, fe dobrou o fentimento diella com
a noticia de que a carta fe perdera.Ailin1 o.diz
q
huma rrmlher , trouxe hontem à noyte a ef~
ta caz.a a: cai~a, ·.de que.-V, Senhoria 1ne faz
mer.,,.
Jt6t , C A R. T ~ S
merce,que reconheci pelo fine.te dos lacres, e
n1uito mais pelo que trazia dentro , que tudo
chegou a falvan1ento, exceptas :rs partes li~
qrtidas ; qne, fe1n quebrar o vidro, padeçeraõ
al gun1 naufragio: em tudo fe ve e reconheçe o
a111or de V. Senhoria,e quam grande,e verda..
deiro he, o que affin.1 fupre as difl:ància~, e de
taõ longe aplka os rernedios. Eu o ·~enho fuf-
~pendido athe nev.o ·avii.o de V: , S,enhoria ·'
rporcJ;lSle naõ fey o 'te!~l'.l,p~ n:ent a q1(f;at1tid.ade,
-ªP.1 que a ttiaga fe deve•toin ~r ,que -~ ;··-Senho..
riaJne fa:~-;J, m~rç~ dizer ' e;Jnntãm~hte~q.uaes
iiãõ as agoas. em que fe·hade fazer. aí:i~fu.z:aõ
··dos JJos. A'febre; e os orecíi,ilentos contitmaõ
0
.Antonio.
' '
1
' ,
A
.
1J~ Ródr!j,q. :de.Menezes
S
'
. •'""':.J..t\ t. .. ... :. •
1 -
DO P. ANTONIO 'VIEYRA'" i6;r.
me naõ poífo perfuadir fe naõ CJ.ue debaixo
deíl:es accidentes fe encobre grande fuftan- 1
v·. q
• • .
< • •
·· Senhoria~ ·
...!--~ . ~
· ·. · ·~ ·"·
'.j ~\ •
.. " •1.t "'·'
DO :R. ANTONIO VIEYRA . 26'9
CAR T IA LXVIIIe
.A V.. Rodrigo de Menezes.
ENHOR: Se ocontentamento fizera
milagres -, tiverarne V_. Se11ho1~ia neíl:a
···hor-a afros pês _,ajudando ~celebrar a.
nova. <:lefte fuccclfoj con\ qú l\.1arquês qD~os
guirdl~>i>c"$,Ofllbt'Odas fuas felicidades;e Deos
nos tornou,a dar por fua maõ .ó Reyno :, c:iue
tanta:~ ve~.e's rtoste1n d.;id() poi· ella. lvfas.pois
o eíl:ado -cla minha enfennidade ·me naõ··c011-
fente eftà peqi'lena dernonfrraçaõ, contento""!
me com que v·. Senhoria tenha conheci-
do, qit~ entr t~dos os cread.os da Caza de
V. Senhoria, nenhum tanto tem fefrejado e
dtimado . efre-triunfo della, de que dou a, Vº
Senfr~-ria. llf ".vr.z,Ctl ciparabem. Deos guar-
1
CARTA LXIX.
A JJ. Rodrigo de Menezes,,
S
ENHOR: Jàno correyo paffadq,dey
a V. Senhoria o parabe111 , . e ajudey a
. feíl:ejar ( pofro que naõ ç.on10 eu quife-
ra) eíl:e ultimo milagre do Ceo, e eíl:a feli<::i-
dade taõ efrranha de todo o ~eyno , e taõ
particular , e.taõ propr1a da Peífoa , e Caza
de V. Senhoria. Con1 .as cartas~ liíl:a~ 4o.Se.-
nhor Marques,que mil aci.nos vhtí:\,,de .q:ue V·
Senhoria me fez merce, crefceraõ as noti--
cias, e os aplaufos, os qnaesrcáda dia fe...aug
mentaõ com as novas circun.ílancias-,que v.a·
chegando, em que .a grandeza daviétotia , . e
as n1ifericordias de Deos fo conhecem n't-àis ,
e mais. Agora fe efpera çQro g-ra11de alvo.r o-
,,--.... .ço a relaçaõ de todo o f'l;'lcceff-o;, em,q1'C t:of--
tumamQs fer m~nos ven.Q!;irof~s .,:que na ,-cain
panha. ·Q ?eira Deos encami.~har a,~oria dn
noífo Mexcurio de; man~ira _, qye ;..a glor.ia_ de
tamanho cafo naõ fique efcurec1da ~ e-acabe
de conhecer Europa; -, é o mu~do o que he
Por..
DO P. ANTONIO VIEYRA: 27r
Portugal ern qu.antro 11li~ '4i!iegª- b~rt'Vemente
o tempo do que hàde fer. O voto de V. Se--
nh.oria acerca dos progreífos do exercito
me n.aõ parece fó o melhor , mas o unico ,
porque etn ,qualguer outro apparecem gran-
desi nconv~nientes, e em nenhum taõ grandci
aballo h.à feito, como e.íl:a enrràda pode cau~
zar nos anin1os de todos _os Cafrelhanos, · e
muito mais nos que t.em votado na paz, prin ...
cipalmente aéommodándo-·fe ElRey a ella.
co~~@ filt:it~ífai &fi:a·campanha ? .que ·na{) po ..
dia: fer m.dhor par~ de ·todo Q ~t'.fenganar ...
Os c'lam~1~es feriaõ geraes , e todos cahiriaõ
í.Obre Cafrrilho, em·cuja obíl:inaça.õ f6men ...
te parece. fe poilerà fi1.íl:entar hoje a opinia@
contraria, e fe_h ;e certo· como . efcrevern to ...
dos' , que ·.o inimigo tinha e tem arn1':tda-)
tambem eíl:a ·invazaõ ··taõ interior ferv.ifia.
n~õ pouco de divertir, e-fufpend~r quàlqrter ·
inten.:o della ·, porque naõ 'me perfuado
que fo te1n feito o empenho, o hajaõ de que-.
rer perder totalrµent~ podendo-o ein pregar,
qu~rrdo,·m~~~©S • toíl:a' do Algarve , em que
nao fera "-bfficl'lltofo obrarem alguma couza;
pofl:o que c.le'. rnenõr confequencia, com que
ueíraõ mQ:f.ffi.rar ao mundo q1tefe defquitaraõ
dr
271 C A -R TAS
_do defcredito paífado. Nenhuma couza máis
dezej.o , faber que .o modo com que fe ten1
portado nelle o Carracena dep~is de haver
blazonado tanto. Seja Deos bemdito,que af-.
fi1n confunde a foberba de noíios inimigos , e
nos exalta a nôs , fendo ingratos, e naõ hu..
-mildes. Tudo faõ exceífos de fua Mifericor..
.dia, e novas obrigaçoens de con1eçar ao fer-
v-ir, ou de acabar jà de o offender tanto~ Naõ
fe me ti~a da meinoria as m11itas vezes G'ue
;v. Senhoria em todas fuas cartas repetia efte
noífo defmerecimento ,. a cujo reconheci-..
rt1erito atribuo eu em grande parte a merce
<]ue nos fez. O mefmo Senhor gua~de a V.
Senhoria muitos ~nnos,, como dezejo, e ha...
vemos mifl:er. Villa Franca· 29 deJúnho de
166)-. 1 •
Anton~o Vieyra.
CAR'"'
DO P. ANTONIO VIEYRA. 273
CART-A LXX . ·
A Tl.e Roqrigo de ·Mene.zes.
"' EN'HOR : A terceira vez he dla que
,T.
· fallo a Senhoria namerçc)qr~_e Deos
\
·
nos res por rr1ao- d.o ;)ennor
Cfl e• 1
lv.1.arqnes,
'7df "
Çapella.õ e menor.Creado de V.
Senhoria .
Antonio 'Jieyra.
CAR~
DO P. ANTONIO VIEYRAª.
C A.R TA LXXI.
A 'J)f) Rod~rigo de Menezes e.
·Antonio Vieyra..
) 1
C A .R .T A LXXII.
'A 7J. Rodrigo de Menezes.
"""· ENH·O _R.: Come~ándo pelo·fim da de
·v. Senhoria,dou~ a. V ·. Senhoria o p ara..;
· hem da chegada <lo Senhor Marques q
q
Deosguar@e, com vida e faude, h e f6 ó que'
fa}tav:a p~ra aperféi~oar o goíl:o de táma--·
nhas felicidades, em que ~cnüm me na.ô toca
a merior parte, 'p.oíl:o qüe fou o·n1en-or creada~
da Caia d~- V.Seahorfà.: Agofa de'z eja ra 111 ~ü..>
to fabe r o triunfo? com qqe S. Excellencia foy
réc-ebMo·-e1n 'List>ú_a ; pofro que · n) e· fe'rl1 bra~
kr.ley ·dá <tt1y~ja R-01na!é.4,. <]~te aen41anr-QJe~
,. ' ,j ' i.i. ·
,,,,; - nera1
280· . CA.R'l"'A ·S
neral t.r.iunfafle tres vezes , e naõ ten~o me..
lhor conceito da.~oífa ~ os inimigos da cam-
panha podem-fe vencer huma , e muitas
·v ezes;· os da noffa Corte faõfinvenciveis: a~
quelles co1n as viétÔrias vaõ-fe din~inuindo ,
eíl:es com ellas crefcem mais. Porca éhegou
hurr1a liíl:a" ou rol de 1nerces, e Títulos, em
que muit~'J$ eíl:ranharaô naõ ver o nome do
Senhor l\1arques , eu pelo contrario o efHmey
n1'uito' . porque quem foy dono de toda avi~
ltoria, naõ he be111 que fe conte no 1nefmo
nmnero dos qfó tivei-ao alguma parte nell a.
A con!ide.raçaõ do que fora de nôs., fo a naõ
ganhatàmos , he .·amayo~ de todas. Eu a fiz
111uitas vezes depois do íucceífo ~e a tinha tã-
bem frito <intes delle, porque corno 1nenos
ani111.o fà, temia o que nos podia fi1cceder, e
naõ efperava taõ íingulares mifericordias ,
quando com taõ repetidos exceff0s de ingra..
tidaõ provocamos a Divina jufHça. 'Por cà fo
publicaõ feftas, e com n;iuita rafaõ, rr1as eu
antes quizera ver chorar peccados , e emen·
dar vida.s,para que fizeifemos feguras as feli..,
cidades.
O qqe ag.o ra fe fegue naõ fey com que pa...
~vras o diga a: V. Senhori,a:.porque fe. c.o~·re a
- · rriinha
DO P. ANTONIO VIEYRA. .283
rnos ·à Prov.idt;ncia Divinq.,, e de quanto Jüas
difpo íiçoens foraõ encaminhadas en1 tud0 .a.
notfo rem,e~io , e .credito. O d.~mai~ que fe
ae
ouve' e fe-~íl:ra. n ha >' ~ªõJi.,e par:a r~na.di<:> ..
1
C reado de V.··Serihq'.tia. ·
Antoµio , Vieyra.
J
f . . .
• t -> • CAR..
DO P. AN1"0Nid VIEYRA.
1
zSt
roiúha iri.dig~nidade da eiceffiva honra 'eniér...;.
cê .que me ' faz a Senhora D. 'Juliana. ,1 pó is
quer e.me or~ena,que hum me1nori'al ql"fe tein
com V. Senhoria, fe prezente a V. Senhoria
tJOl' f9Ínha . . 1;naõ. V çm a.for o requerüne~nto:
que o Padre Frey Diogo do ·E fpinheiro feja
eleito e~n Capitulo por Confrífor d_e Santa
Clara de Cpünbra, e que para ifro , .fe for ne-
ceffarió; mande 5. A. ·num recado a.o Viíita...
dor. Os rn_e·r ecimentos da peífoa faõ; fer Re ...
ligíofo de rnuita authoridade, e _virtude, e
que fervi o ·a S. Mag·eíl:aae ·nas fronteiras em
tempd-db Senhot D ~ Alváro. o ·motivo prin-
ci;:_~l_;? ~~.ry•~<? d~ .De9s,, e ?· g~íl:o,r-e confola-
çao efpi.tttual que defl:a.f'.le1çao tera.-a Senho:.~
• 1 -
T'om. J~ Nn pes•
/ÇS-
A
~ 82 ; • i_., . C A i R ·T · A S ' · ·
pez. E J)eo~ ·m~ guarde a V .. se·nhoria. muitos
ann.os , como dezej0 ·, e havemos mifl:er;.
VillaFranc;a iode Julho de 1665. _, _
.'
:,-, ~apei.11~~: 1~ ~~no.r · C~~a~o:,d~, V.
-1 , )Senhoria. l •
. ·, ·
' f • ' ' •, 1 •
I
. .r
.. f , t 1 'J),. \
J
DO Pº ~ ANTONIO VIEYRA. ~35
.. ' '·
CAR1~A LX.XVI-G
.;
A Ti. Rodrii,O de l\llen~z;s~
ENHOR ·: Em grande +eíl:ituiç.aõ me
dlâ~ temporal e efpiriq1alrnent~, aquel-
la vontade , contra a qual , depois d~ ·
taõ largo tempo, ·e ~a circunfiancia de ta-·
manha occaÍJaõ , naõ aproveitaõ diligen-
cias, nem porfias:·e digo, temporal ·e efpiritu-
almente; porque quem tant'o me aparta. da
prefença de ·v. Senhoria, naõ fó tire priva .do
allivio das faudades, mas tarnb.ern da grande
coníofaçàõ e alento 1qué o meo . efj)irito re....
ceberia com a cõmunkaçaõ de V. Sen,horia)
-cuja alma vejo taõ unida e conforme ein tudo
co.m a vontade de Deos, e com diétames e
o
refolriço'ei1s·ta{} fupe.riotes a tudo que fegue
e eíl:ima eíl:e inai entendido inundo, ern que
"Vivemos. Ben1 neceífaria 'he toda. dla gene~
roftdade para fazer pouco cazo do que V. Se-
n
nhoria me diz ' gue eu naõ fó admirado '
mas .coriTido de qem hum.a Naçao taõ honra-
da. como·a no.ff~, haj~ quen1 tal chegue adi-
zer>
1S·& . e A R T ' A · s· ' 4 •
157
2:88 C AR .T ·A .·s . - .
que eíhl. tanto fobre ell.e_, e .o ve de perto, rr1e
1
·Antonio V~e}trâ~-,.'! ·
.C.ART A·,LxxV. I .
8
• ' IJ • • •
-
A.rl~'ónio· Vieyr.a.
Oo ij
• - J
·cAR•
C· A R '1" A S ·
CA
A' V. Rodrigo de Mene.zes
ENI-IOR : Sabe Deos que as cartas d
\l. ~ enhoria faõ para mitn o e.ntetteni-
n1 nto de toda a frmana em <-1uanto f.-.
eíperaõ, e depois que chegaõ o unico all ivi 1
de quanto padeço, affim n·a diffi.cultofa coL-
·alefcencia. da enfennidade paífada , com
no temor ou certeza das futuras) de que ne-
nhum n1edico duvida pela experierrcia de t -
dos eíl:es annos, e conhecida contrari~da e
deite fata.1 clin1a. Jà.naõ faHo a ·v,. Senhori:i
fteíta materia por fer de taõ pouco goíto ,
quando eu dezejo .dallo em tudo a V. Senh -
ria, e fó he bem que cuyde e n1e alegre das o,..-
cafoens Clu~ V. Senhoria te1n de o ·Iograr
muito grande, quanto o efrado deíta morta·
hdade permitte.L! a Relaçaõ,e póíl:o gue diz
muito, folgo de a haver de .reput ar ~ntes par
q
diminuta por encarecida, gue he a mayor
gloria do fucceífo, e' o rrí~is fegúro e-uriiverfal
teíl:emurilío ''de fui grandeza. N ~ eíl:ilo e
nar..-
DO P. A~NTONIO, VIEYRA. 19;.
narraçaõ della, depois de V. Senhoria ter jà
interpoíl:o feo P.arec~r, fico eu incap~s de dar
iui zo , porqu'e km foguir os i~pulfos da von-
tade, fe naõ fabe apartar nunça o me~ do ·que.
V. Se nhoria julga, ·corno taõ acertado fem-
pre , e tdl.Õ livre dós affeélos que cofH1maõ ef-:.i
·êurecer a rafa.ô. Àqtii ·chegaõ por varias par-·
tes pdfoas que v;em de Caítella, e todos fal-·
laõ pelo efblo da carta daguelle amigo, que.
com as feg~ndas noticias no las darà melho•
re~ do dezengano da perda, a qn;al naõ po-
deria eíl:ar diffi1nulada muitos dias por mais
que fem11ltiplicaífe1n os a~tificio.s' de tarace-
rra, Com tu.d o dizen1 conftanten1ente que el-
le fe apreO:a para voltar:couza gue parece im-
pot1ivel, pelas difficuldades de novo exercito,
e muito ~nais p~la~ do te1npo,e da C3:_mpanha.
5., vier,ferà para ultima ruitiafua, pofto que a
noifa feja taõ merecida no mal-gue agradece-
~os .aD~<;>~ as merces que nos faz, devendo
cün~derar gue fe pode alguma vez cançar fiia-
Pr ovid en~ia de fe pôr fen1pre da parte dos i?--
gratos. :Eu, Senhor, naõ poílo deixar de o íer
,ao mdi to'favor que V.Senhoria naõfó me faz
:a n1im., .fen.aõ ·a todos ,os n1eos ·recon1n1enda~
dos,por qu:e beijo a. V.Senh,ori~ a.111a·õ muitas.
ve...,
.
!-94 C A ·R T A S .
ve~es, e o farey c_o m n1ais particular gofro ~
.quando fouber que efrâ confrguida com effei-
to ~ el~iÇaõ daquelle R.e liçiofo qu~ aSenho~a
- D. Juliana tem authonfatio com íeo patroc1...
nio. Na graça do Senhor Marques me encõ-
mendo fen1pre, cuja peífoa, e a de V. Senho...
.ria Q.os guarde e coQferve Deos muitos annos ·
com.o Portugal ha II?-ifrer. Villa Franca 17
de Agoíl:o de 1665.
Antonio Vieyra.
CARTA LXXVII~
A V. Rodrigo de Menezes.
ENH OR : Qua11do V _. Senhória me
fãs merçe dizer que dezejàra fallar co-
migo, e com tanto encarecimento, que
.P?ffo diz.er eu, cujo.coraçaõ ~à mai~. de ~rei
anci
DO P. ANTONIO VIEYRA. 191
a.finos efrà cozendo difgoíl:os e difcurfos 1
.fem poder romper o íilendo? Eíla he aenfet-.
midade de que adoeço, e a falta deíl:e reme-
dio a que me hade matar , fe beos naõ abrir
algum extraordinario caminho com que me
yeja aos pes ~k V. Senhoria; pois todos_Qs or-,
d~nari os eíl:aõ taõ fechados. N aõ havia 1nif-
" ter o a.nirno de V. Senhoria tanto ddenga-
nos do mundo para V. Senhoria conhecer e
fe defenganar delle, mas aílim coíl:uma Deos
tratar a quem ama., e aos que quer fó para fi..
Mais deve Portugal ao Senhor Marques na:
foa conítancia,que no feo valor, e ma-is vene,.,
ro cu efta viétoria, do gue admiro todas as
fuas , conhecendo. do e!blo da Providencia.
~ivina que-na fragua <.1eíl:as-fomrafoens eítâ
lavrando e difponâo a S. E~cdlencia_ outras
coroas mayores. Do Porto me efcreven1 que
jà Caracena eíl:â depoíl:o do officio, e fubíl:i-
tuído outra vez 'Don1 Joaõ de AuCrria. Sinal.
certo , fe-·"ffim for.,, de-·cpJe as primeiras noti-
cias da batalha eftaõ jà bem defcnganad~~
em Madrid. O avizo o ·dirâ. Aqui fe diz que
o Conde de Caíl:rilho fe chama Ga;··cia,e fe dà
eífo. explicaçaõ ao ultimo verfo da decirna de
Bandarra. Sirva-.fe V- Senhoxia de 1ne dizer
~ fu
I (, I
29& - 'e A R T A ·s
fo he aíli1n. E tarnbem diíferaõ huns Frades da.
Serra d' Offa , cn1e a caza que os Duques de
:Bragança tem na T ap ada f~ cham.a a Cabana.
Efpero que tudo O)T1ais fe cumpra, e '-]1.le feja
nuüto cedo. A Senhora D. Juliana rnanda fa-
her de mirn en1 todos os correyos , fé tenho
Fepofl:;:l. de V. Senhoria acerca do Religiofo
ko recõ1nend:tdo, o qual eu naõ tenho co n·
fiança para lembrar a V. Senhoria depois de
ter dito, por quen1 efi:a eleiçaõ he patroci-
nada. Guarde Deos a V. Senhoria muitos
:annos > como dezejo e Portagal h a n1iíl:er..
V:.illa França 24 de Agofto de 166J.
Antonio, Vieyra~
CAR• )
DO P . . ANTONIO VIEYRA. 297
CARTA LXXVIII.
AV. Rodrigo de Menezes .
. ENHOR: Com·o que leyo nefh1 carta
de V. Senhoria de 2 r ,. califico, e con. .
firmo mais o. nome qdou de loucuras
a0s dezejos do rneo zelo: e muy bem con-
vence V. Senhoria a-indifcriçaõ delle , en1
dezejar que . as noticias de noffas viétorias· fe
e.íl:endaõ pelo 'mundo em todas as lingoas ,:
quando o noffo defcuydo as dilata tanto na:
propria: e athe os mefrnos vencidos, .e ini-
nügos re.provaõ a deGgu~ldade do pouco que
fe efcrev:e.ao n1uito que fe obra:·. Grande be1n
fer.â que fayaõ outras ·relações çonformes cõ
a verdade, ainda que tarde, para que desfaça ,
e naõ perpetue o efquecimento o gue calou .<i
n.egligencia, 'o u a defgraça.• i De todo -.o· ge~
nero de palavras fomos avarentos·> e nenhum.
genero ha·de i-ngratidaõ ., en'l q-u~' a :noífa fe
naõ califique com Deos·:, ·e;e-ó·m os h~mens.
· A?1nauhãa ·entra .ol1nes d(} S·et-e1nbro··; em
que.·os interp'retes nos·tem a~-voróçado t~ntÔ
'";,Tom-. I. Pp a ex-
19g C A R T A S
a expeél:aç ~1Õ;e poíto gue o prazo parece muy
lin1itad<? para gran~es mudanç.as,en1 alguma
couza íe podem ~:i uíl:ar os dikurfos aíl:rolo-
--gicos con1 as confideraçoens politicas. Di·~
zem-mc que fr te.m formado neífa Corte hu·~
1111 Junta de l\tfiniíl:ros de ~odas os Tribunaes
J>.lra arbitrios de tirar dinheiro em grande
íàmma. A ncceílidade .o pede aílim, e nunca
íerâ taõ grande a fomma, como ·a neceflida-
de. I\![as h a~er chegado neíl:e mefrno tempo
a frota das Indias , nen1 he boa concurrencia
para a fama dos Eíl:rangeiros, nem para o a·..
lento dos inimigos. N aõ fallo na õpreffaõ
dos naturaes ; de cuja fidelidade , e <:>briga-
çaõ fo pode fiar tudo ; mas tambem pud~ra
f(;)brevir ·eíl:e . accid-ente n1enos . intempeílivo
em anuo mais abundante quéo prezente, cu-
Ja eíl:t'.rilidade por.- efras partes ·a1neàça muito
.aos pobres , e naõ em penha me rios aos ricos.
Eu .fempr.e me encoíl:o à par.te do rect;yo ; e
naõ fe~ fe,he ifto. covardfa, fe. he amor., Me;,
yos tem Deos com que acQdir a tudo, e bem
facil e:r~ o da idade , e novo àehague del!{ey
F di ppe , Ut um1s moriatur homo , ne tota ·Jf.ens
p.er,e.at. • . Milito e.íH-n1ey.·ver ·a .carta .daqu~lle a-
migo'.e (} defongano .dos .p r.imeiros artih cios
. ·. :. .. qµe
DO P. Al~TONIO· VIEYRA. ·1.99
que cada hora fe hiraõ decla.r~nd.o niais.~ in-
troduçaõ de graça de D. Joa-0 <.de Auíl:na he
materia problemat1ca : fe tiver a dos natu...
raes , de Gue mais fe pode duvidar , he cetto
que tem a dos Efrrangeiros, aílim em Flan...
des , .c omo e1n ltalía, com 1nayor conheci-
mento dos Eíl:ados, N açoens , e peífo1s, do
C]Ue teve nenhwn Refde Hefpanha depois de
Carlos; mas a fuppofiçaõ defre mefn10 cafo
<larâ mayores motivos, e efpertarà rnais os·
pretex to~ em França. Cartas hà para todo o
jogo, e mais fe as baralhar a noífa fortuna .
Nunca falley a V. Senhoria no ça.zament:o
da Infanta de Caíl:ella, e na dilaçaõ ; e no
defvanecimento dos noífos. O author da car. .
ta fabe , e coíl:uma lizonj ear : e' os meos pen-
famen tos tamhe1Íl metem lizonjea.do·amim
neíl:a ma.teria, e naõ poucas vez.es J nem·em
poucas occafioens. Muito ama Deos a S. Ma-
geíl:ade. N aõ conheço o Pregador- dos feos
a.nnos, mas fey que no Brazil hà açucar bran-
co, e mafcavado , e que ainda no fia.o ha.
mais e n1enos.' Os engenhos naquella terra
h~ queixas que eíl:aõ perdidos , e neíl:a ( o que
V.Senhoria por lhe fazer mercê acrediit:a)naõ
fó perdidos, mas de todo acabados; e melhor
Pp -ij foy
300 · C A R T A S
fqy que naõ cahifle o defcontentamento fo ...
bre a deiçaõ de V. Senhoria. Em tempo e;m
qu "' fó •v ala lizonj a, ·naõ podia parecer be;m
qµe111 profeíla fó a verdade : mas eUe terâ t-,a-
.cicncia em quantD ,Dcos o naõ 1nud1, . que fe . .
ra, fr eu n1e naõ engano, n1uito brevemente.
De Alen1anha vi hum notavel pro ,ligio por
rdaçaõ impreífa , que naõ refiro , porq'ue
,:fi1pponho hayerâi" chegado a V. Senhoria.
Tambem dizerr1.os que entendem das efhel-
las, que apparece0 eít.es dias hmna nova na
Nao Argos. Bom· progn_oíl:ico para os que 1
CARTA
.. LXXIX.
A V~ ,Rodrigo de Me1:ezes.
q
ENHOR: Mais novas, do V. Senho-
ria me dâ, fe me cõmunicàraõ neíl:e
correyo, cõ efpecialidade fobre a Prf-
foa do.Senhor Marquês gueDeos guar de,e fo-
br e o lugar onde V. Senhoria afüíl:ia aciuella
femana: e todas concordaõ muito com o no-
me ou definiçaõ de Babylonia, que he o que
melhor explica a confufaõ da noífa Corte, e
·as confufoens en1 <]Ue fe achaõ os entendi-
men tos , e vontades de todos os que amaõ o
corpo deíta cabeça , e zelaõ foa conferva-
çaõ. Nem me admira que com V. Senhoria
lhe chamar Babylonia,n1e dezeje V.Senhoria
.nell a.; porque os myíl:erios com que fe falla
por papel,accrefcentaõ o tormento, e as per-
plexidades, que fó podem ter allivio, <iuando
naõ remedia, n·a cõrnunicaçaõ da prefença.
Efra he a mayor penfaõ do meo deíl:erro, e do
.gril haõ; C]Ue fó por eíta caufa dezejàra muito
ver c:Jueb:rado, ou mudado para lugar, onde
. . a dif-
3oi .C A R T A S
a difrancia me naõ ímpoffibilitàra tanto eíl:e
allivio. Seja Deos bemdito <-1ue affim 0 difpôs
fua Providencia porimeyos, err1 que eu c-Ridey
que era elle fervido,e naõ offendido. Ma:s em
quanto me naõ falta.r a confolaçaõ tle que V.
Senhoria e o Senh<?r Marques paífaã;:-com
faude, em tndo o .mais me conformarey;efpe·
.rando o beneficio do tempo; que por todas as
vjas vay confirmando as efperanças que nos
.tem dado. -
Por todas as ràfoens que V.Senhoria pon-
dera, me parece tambem impoffivel a campa·
n h a que o inimigo publica, fem e1nbargo do
avizo de S. Magefrade, que-0 Reytor da U ni-
v eríidade teve de que elle intentava entrar
pela Província da Beira, e fe affirma efi:ar jà
em Alcantara o mefmo Marques de Cara.ce-
na com pê de exercito, como á.vizol.l Affonfo
Furtado mandando hir cõ preffa os auxiliares
deíl:as comarcas. Mais cuydado dâ a pefre de
Inglaterra, para cuja cautel~ mandou S. ~fa
geíl:ade fe nomeaffé agui hum Guarda Môr da
faude, com fuperintendencia a todos os por..
tos deíl:a Coíl:a;porque havendo de fer admit..
t' dos, como tambem fe ordena, os navios ,
p eífoas .. e fazendas dos Inglezes, naõ coftuma
fer
DO P. ANTONIO VlEYRA. 303
fer a noffa vigilancia taõ exa.éta, gue nos fe-
gure do grande perigo. O anno tem trazido
a fo me, gue ainda fe te1ne mayor,fe as chuvas
que por e.íl:a parte começaõ, continuarem: e
nos vemos ameaçados no mefmo ten1po com
os tres açoutes que Deos denunciou a David
por hum peccado que naõ excedia de venial.
Naõ fey fe os noílos fobre as circuníl:ancias d:i
ingratidaõ merecem nome de venialidades.
Deos abra os olhos aos que taõ cegos efl:aõ
com os favores da Mifericordia,para que naõ
~xp erimentemos todos as execuções da Jufti-
ça. Ao Marques meo Senhor beijo mil vezes
amaõ pela mercê que me fas, cuja Peffoa e a
de V. Senhoria nos guarde a Divina Mage. .
frade como eu dezejo, e lhe peço, e Port1~gal
ha mifier. Villa Franca 7 de Setembro de
i665.
Antonio Vieyra.
CAR-
I :- r
e .A R·T A.· Lxxxs
A V. R~drigo de Menezt:s~
ENHOR: Tamben1 eu qúe1~0 começar
pelo Ceo: e digo ciue v.1 a ei1rella no
lugar,eàs h':Jl·as, e.cõ.a. gra11deza, .eluz
admiravel, e mais circun"íl:àncias con1 qüe V.
Senhoriaadefcrevee tudo cõmunic:Juei a-Q Pa~
dre Çondone,, que he . Mathematiuo italia":'
.n o , e elle tamben1 <a obfe-rvou; e fegundo a
1
CARTA .L XXXI.
.
A V . Rodrigo de Menezes.
S
ENHOR: A occa!iaõ de que avizey a
V. Senhoria no correyo paffado, me
' ~em tomado o tempo de maneira, que
mal me deixa lugar de efcrever e.íl:as duas re ..
gras. Os aproclies fe apertaõ com grandiffi-
mo rigor, e naõ fey que fe pofla efpefar defta
viltoria J havendo taõ pouca occafiaõ para
tanta guerra. Qpeira Deos que m:t naõ fa:ça
quem no Ja faz. Efpero com cuydado are..
poíta. de V. Senhoria, e de todas as Ftbticias
queV. Senhoria puder colher, me iínporrarà
muito o roteiro, para faber como heyde nave-
gar em mar taõ tem pdl:uofo ' e noyte taõ ef-
cura.
Hontem foraõ os 20 de Setembro,e me ti~
nha ef-c:r1i:o Joaõ Nunes- da Cunha em carta
de 14 de Ag0.íl:o, que neíl:e dia ameaçavaõ as
eíl:rellas hum grande perigo neífa Corte, e
accrefcentava as palavras feguintes: O dia de
-._9 4.e Setembro he de _expeélaçaõ para efle R~yno,
- - ~o
DO P. ANTONIO VIEYRA . 307
ijlo he o qfe le nas e/lrellas: O Senhor dellas farâ o
quefor[eivido. !/. Paternidade gparde ~fia car-
ta,porq quero qfe conheçaõ os meos erros. Eu cuy-
doqueferà ofuccej/o no R.e)1no, mas podefer que.
fóra delle.A thequi as palavras da carta, a qual
eu moíl:rey logo entaõ, e todos nos admira...,
mos da fegurança daquelle rr1odo de falbr.
Naõ falta quem cuyde que he ajudado de al-
gum oraculo Religiofo da Cidade do Porto ,,
ou vizinhança fua;e como todas as cartas gue
tivemos do correyo,concordaõ em que o fuc-
ceífo de Alemtejo foy aos nove, e qu~ o ini-
migo vinhá intreprender huma praça, e que
~fhe torna1nos a artelharia, e muitos prifionei-
ros , e que o encontro foy' dentro e fora do
Rey-no : por todas eíl:as circuníl:ancias fe en-
tende que as eíl:rellas , ou oraculo fallou ver-
dade no .p1~imeiro progn-oíl:íco , e affin1 fe te-
me <JUe f!Oífa ter fido no fegundo , e Eºr eífa
tençaõ fe diífe-rll.Õ hontem n1uitas miífas, e fe
efpera corn mayor cuydado a certeza de ter
paífado aquelle dia com tanta paz de Lisboa,
faude e felicidade. da Peífoa de S.. Magefiade
-como havemos rnifter. O certo he, q_ue- n.a
prefença , . e:, na .auzencia aco1npanha .as nof.-
fas armas a, felicidade de feo General, de que
~q ij · dou
tn
308 ·e
A R T A S . .
dou a V. Senhoria o para.bem, e ao Marquês
n1eo Senhor, cujas mãos beij'o fen1pre. Deos
guarde a V. Senhoria rnuitos anno con10 de-
zejo. Coimbra 21 de Sete1nbro de 1665 .
CARTA .LXXXIIG
Ao Marque's . de GouVea.
e
l .
Creado de V. Excellencia. .·
Antonio Vieyr~.
CAR-
310 CARTAS
'
CARTA LXXXIII.
Ao 1\!larque's de Gouvea
T
ODOS os correyos me trazem me-
lhoradas novas da faude de V. Ex-
cellencia, com que tenho quanto
dezejo, nem quero outras .d o mundo. O de
Italia efrâ todo quieto,fem'mais novidade que
_nafcer hum filho ao Graõ Duque : que efte
moço fe deo mal fora do terreno de Floren-
ça . . O Papa v!ve, o.Cardeal reyna, e a.m bos
ó fazem bem , porque hum excede na fanti-
dade , outro na prudencia : e tirando os CJ Ue
dezej aõ a fucceífa.õ daquelles lugares , todos
os mais eíl:aõ contentes. De Fra.nça fe aviza
ter embarcado o '.Nuncio, ciue jà deve eftar
• .. en1 Portugal , e naõ rnuy longe a Duqu~za do
Cadaval , porque me dis F rancifco de An·
drade partiria de Parí's athe 1 5 ou 10 de Ma·
yo.Efpera-fe aqui por horas o Bifpo de Lans,
e ouço fe queixaõ em Portugal, que o noffo
Ernbaix:ador naõ applica à fua pretençaõ to.,
das as iníl:ancias , fendo que ten1 feito , e faz
as
DO P. ANTONIO VIEYRA. 311
a.s poffiveis. Ser o modo das Bull~s util e da-.
nofo, fe he implicaçaõ, he confeGuencia de
outra , c.iue efl:ou bem lembrado, advertio V.
Excellencia no feo voto. Eu naõ tive parte·
ndle negocio, como em nenhum outro : mas
jà tenho dado a V. Excellencia conta do gue
em Roma fe julga, e tem eíl:es olhos ·por fi o
e.íl:arem 1nais perto. l\1ais te1no nos negocios
de V . Excellenciaos noflos confelhos, que os
de Caíl:ella. Deos guarde a Excellentiffima
Peífóa de V. Excellencia como dezejo, e o
mefrr10 Portugal e creados de V. Excellencia
havemos mifrer. Ro1na 6. de Junho de 1670D
Creado de V. Excellenci~.
Antonio Vieyra.
CAR..
/ t.<j
'
· CARTAS
-··· . . .... .
''
. '
Ao NlarqtJte's de Gouvea0
DE que V. Excelle·ncJ.arrne fes.mer-
. cê, recebi'em Iode Nove1nb.ro ·c om
a Relaç.aõ, e duas copias i'n clufas,
que he o mefrrto que .m andanne v·.Excellen--
.cia as Proreci~s com. o Cõinentó. Naõ fey o
que diraõ agora os que fundàraõ ta.ó grande
n1aquina fobre huina prefunçaõ fallivel. O
que ine fe,s ri.t; e triumf~I-, 1 muito (. cqmo faço
em todos os fucceífos de V . Excellencia) he a
fi1nta fi nceridade, corn que ·v . Excellencia
confirmou o feo.voto, ç impugnou os conK
trarios'_, fó. com ref~rir a confulta, parece~
Ies , e refol uçaõ deffa Corte.
Ella he coufa admiravel , que os Co nfe~
lheiros de Caíl.:ella fe confonnem tanto com
os noífos , e que tenhaõ taõ pouca chriíl:an·
dade e política, que quiferaõ para o feo R ey-
no' e [ó para elle' o que nos lançamos do
noífo.
DO P. ANTONIO VIEYRA. 31 3
r10ífo. Mas nem por iffo entendo fe daraõ por
mais carregados n a~· fuas confcieocias, no
que tinhaõ tranli~ h1.ntado paraH.olanda e ln~
glaterra, naõ fendo roe:Jos o que te1.n vi ndo
para Italia, º 11:.de .q1:1an~o fe foubc a rdolnça~
de Portugal, fe diile: E o peor hc, que fenao
haõde de confeífar os Portuguezes ·diflo. O
negocio de Inglaterra no." ajuda a acabar de
_entender, fe quizermos, q uanto nos deven1os
fi ar de correfpondencias, ne eru efperan-
ças fundadas mais que em Deos fen1 nós. 1""'c~
mi n1uito que D. ·F rancifco de Mello frgu.Hie
o brio de fe querer fahir da Cot:te ; mas em
quanto ella fe acõmodar com a diffimulaçaô,
parece que obra1·a taõ prudentemente, çomo
nôs em nos prevenirmos de tal poder, e opi-
niaõ, que fe rios naõ façàõ defprefos fen1 te-
mor; e melhor fora naõ querer introduzfr
no mundo huma novidade d~ que naó po-
diaõ nafcer fena(, monftros , nem qllem·os a
confelhou devia de os ap.tevet;e tambetn terâ_
prevenido o remedio, para que naõ tnorraõ
fem baptifmo.
O Refidente dl:â jà melhor; e e_m d\:ado,
que lhe diífe ·eu hoje, que importava ou tôf·
nar a adoecer, ou fahir a publico; havend-0
1óm. !. · Rr tres
1 {l
314 · C A R T A S
tres n1ezes que eíl:â em Italia, e dous em Ro..
ma. lvfas em Portugal fe efquecem tanto del-.
le, gue fobre lhe eíl:are1n devendo fete meza-
das, athegora nem·1nezada , nein ajuda de
cuíl:o lhe tem vindo, e athe carta lhe faltou
nefre correyo. "
Efpera-fe ·a prenhes de França, e ainda
que hoje correr·aõ novas de alguma perturba-
çaõ co·níideravel,. ·naõ fe lhe dâ credito. As
gazetas de Ancona dizem que o Abbade de S.
Germa n trazia ajuíl:·ado o [ocorro de dous
terços Portuguezes e liga entre França e Por-
tugal contra os Holandezes na India. O
fecreto deíl::a negociaçaõ me faz prova ...
vel poder fer aífim.· Quanto aos apparatos
Francezes fe re1n confervado impenetravel-
1:
Creado de V. Excellencia.
Antonio Vieyra.
CARTA LXXX.V.
'
(,'
316 C A R TA S
n1elhor fora naõ intentar ,que naõ confeguir,
nem dezejar os fins, fenaõ fe haõde aplicar
os meyos. Acabada eíl:a funçaõ; e naõ ha-
·vendo Capellos, porqu~ efi:es que haviá eíl:a5
providos, parece que fica pouco que faz er ,
e n1enos que efperar. .
Fez o Vice-Rey de Napoles Embaixador
de obediencia as fuas entradas com grande
oíl:entaçaõ, eu as vi, porque paífaraõ pela.
11o·f.L1 porta , fendo taõ pouco curiofo que
n1oi:re.m Papas, e fe coroaõ, e nada vej o.
Mais .__gôíl:o de ver em Roma as ruinas e defen-
ganas do gue foy , que a vaidade, e varieda-
de do que he, e com iíl:o n1e parece o n1un do
muito eíl:reito, e a minha cella muito larga,
[ó me falta poder -dif-correr c-0m V. Excellen-
-cia fubre i-íl:o hutna tard~, a.·i-nda que\flaÕ fo~
J"a à vifra das moletas de Tejo_, nem das hor-
•t is de Santo Antaõ. Hoje c-omeçaõ as mafca-
.ras do Carnaval , em <j-Ue eu digo as tiraõ ,
porque verdadeira-mente moftraõ .que naõ
faõ por dentro, e que parecem -por f.ó-ra.
Muito nos ma.'1oonb
'º fucoeíf<il da Rainha
.que Deos .guarde.) e muito mais ·O confelhe
'lae.a tl-ôj-K.oa meter e·m tal per.\:g-o: -de cà.o v1,
e·efcr~vi_ , -e·.Jio:je-r-ecebi .crarta-em-que dando-
me
DO P. ANTONIO VIEYRAº 3 rt'
me a nova, me chamaraõ profeta, mas fem-
pre o Íerâ, quem de mâs refoluçoens. prog-
noíl:icar femelhantes fucceífos.
N efta Corte eftâ o Padre Aptonio V as de·
q fou antigo amigo, e o pudera fer de 1nenos
tempo a eH:a parte pelafen1elhãça d afortuna:
Em Lisboa o trataraõ corno inconfidente ,
fendo hu1n dos mais finos Portuguezes de
q11antos fe prezaõ deíl:e nome; V . Ex cellen-
cia deve ter baílante informaçaõ de feos ta-
lentos, e a melhor de todas ferâ a experien-
cia, que toda a rn erc~ que V. Excellencia lhe
fizer, a ~eceberey muy particular.
Eu fi~o trabalhando na Canonizaçaõ dos
:Martyres,que por muitos,e Portuguezes, tem
encontrado .grandes embaraços na einula-
çaõ, com tudo efperarnos que antes da Paf-
coa nos dê S. Santidade efras ·boas feíl:as , paf-
fadas eUas,entrarey em confulta com a minha
v.ida , efperando a r efoluçaõ do que tem o lu-
gar de Deos, porqu~ naõ ciuero ter parte nel-
la. Vejo que fo inclinaõ a que fe efcreva, e fó
me inclino a naõ ter ne1n rnofrrar inclina-
.çaõ, e a fazer o que me ordenarem que he a
mais feg:ura razaõ,que -po:ífo dar a Deos ciuan-
do me pedir conta, para (1ue íó trato de n1e
apa~
li
- -- ---.
318 ·. ·e . ~ R T A S ·. . .
-aparelhar, e com 1íl:o a tenho dado de 1n1111 a
V . Excellencia quanto de prefente poífo.
Deos guarde a V. Excellencia muitos annos,
·como o noílo Reyno, e os Creados de V. Ex-
cellencia havemos miíl:er. Roma 31 de ja..
neiro de r 67 r. ·
C,reado de V. Excellencia.
Antonio Vieyra.
CARTA LXXXVIe
.Ao Marque's de Go-ucz1eae
E
XCELLENTISSIMO Senhor : efie
correyo que trouxe deíla Corte no·
vas do novg defcobr.iméto de minas,
me enriquiceo com duas cartas da maõ de V.
Excellencia, que beijo mil vezes por tanta
merc~, e honra, e dou graças a hoífo Senhor~
que V. Excellencia paífe com a f aude que ha..
vemos miíl:er, ainda que entre'neyes, de que
athegora aqui eframos livres,
Acar.,
--
DO P. ANTONIO V'IEYRA. 319
A carta em que V. Excellencia dà os pa-
rabens ao Senhor.Embaixador de h~.ver bota-
do de parte o negocio dos Bifpados, lhe quis
moíha.r ante hontem, mas fendo jà dadas as
onze pela rr1edida dos noifos relogios, ain-
da o achey na cama r'efrituindo ao !ono [ co-,
mo me diíferaõ J as horas que lhe tinhaõ
tirado as comedias do Carnaval, que aqui
fe faze m de noite, e digo que fe fazem , e
naõ fe reprezentaõ , porque o que fe vê ,
mais parece obrado pela .natureza, que fin-
gido pela arte , mudando-fe de repente os
edificios ,e m bofques , a terra em mar , os
penhafcos em Jardins , e o melhor que if:
to tem , he , que tambem o podemos v,er
GS Pa:dres· da Companhia nos no:ífos Serni-
harios) onde eíl:e anno fe·recitàraõ pelos n1ef-
mos efrudantes duas famofas hiíl:orias, huma
d.e Santa Ita ;··outra de Santo Canuto; nas
noffas quarenta horas fe reprezentou pelo
mefmo artificio. a batalha de Jofué, com o
Sol parado , que foy COt;!Za mageíl:ofa, e mui-
to para ver , naõ fe vendo mais que os re·
flexos dos lumes , que era.õ mais de feis mil,
e tudo iíl:o he o que poífo dizer defres dias
-a V. Excellencia, o de1nais fr o houver, hi-
rà
l'B
~-........~-~-~~-----------··~-------
3 t~ C A R '1~ A S
r" no Proprio que cada dia parte, e naõ a.ca ..
ba.
Das novas do Norte terà ·v. Excellen-
da nefia Corte rnais frefras , e certas noti~
c·as. As de Levante ptom.ete1n grandes no-
Yidades neíta primavera, porque os appara-
tos do Turco,affim da. terra,co1no maritimos,
íàõ formidaveis. Huns .tàllao e1n Malta, ou~
tros etn Sicilia , e efra voz fe tem por mais
prova vel. Hum grande Princepe de Polonia
a.ggra.vado de fe lhe negar certo poíl:o que
pertendi::t , moíl:rou quam pouco merecedor
era deile, com fo fugeitar ao 'I'urco, e lhe ju...
rar fidelidade. Tan1be1n fe paJfáraõ à Tran-
íilvani~ alguns Senhores, e Magiíl:ra.dos dos
ide U ngria , e de Croacia fe efcrevem cou--
-zas femelhantes, que aqui naõ daõ muito
·cuidado. Caza huma fobrinha. do Cardeal
Nepote co1n hum Princepe da Caza. Urfina ,
Gue ferâ herdeiro della , e para hum feo Ir·
maõ Frade de S. Don1ingos , dizem que ef-
tà deíl:inado hum dos primeiros Cappel!os
que vagarem , m-as os Eminentiffimos paf-
['lndo muitos de 70. annos, fe defen.dem da
·acatura galharda.roente.Sua Santidade Deos
o guarde efl-:1 muito bern difpoíl:o , e pro·
mete
DO P. ANTONIO VIEYRA. 32r
mete guardar o depoíi to por mais tempo do
que fuppos a concordia dos Eleitores. He
de vida innocentiffima, e mais benernerito
dos Santos, que muitos de feos Anteceífo-
res juntos. Efperamos a declaraçaõ dos qua-
renta Martyres do Brafil , n-1as he a 1nayor
difficuldade ferem muitos. O noiTo màlogra-
do Princepe cà anda eftan1pado nas ,gaze-
tas , e @e boa maõ me efcrevem , ,fe repete
a viagem .de Salvaterra. Daqui por diante
começaràõ a fer mais pontuaes as novas Çe
Madrid ·, em que fernpre ·efperó <?OID ancia
muito boas de V. Excellencia. Deos guar-
de a V. Excellencià muitos annos . como
àezejo , e os creados de V. Éxcellencià
havemos mifter. Roma 14. de Feverefro de
167 1. ,.
1 ,
··Creado de V. Excellencia ..
Antonio 'Vieyra.
,
· Ss · · .J.. CÁR""'
I 7 'I
ÇARTA LXXXVII.
..LÍO Márque/ de GorJvea~
E
XCELLEN1"ISSIMOSenhor:dizem
(1ue parte ·a manhãa hum correyo,
e pofi:o qué'o proprio, e ordinario,en-
tendo·· chegaràõ nos mefmos dias. ., naõ ciue..
r o deixar de folicitar ós favores de :v. Ex~
cellencia por todos , corno em ·toq()s os ef-
. 11 . •
. pero. ·,. . . . 1~ _ ·: 1 t' .
-
~
E
XCELLENTISSIMO Senhor: pelo
correyo ordinatio , e pdo . proprio
_ que defpachou ~Senhor En;ibaixador
pouco <lepois,efcr~yi ant~s.de haver.recebid
-~tima de V, Excel!encia 1 que como fem-
pre
no. P. ~NT-ON JQYV1EYRA . 32)
pre digo., e nu~1ca (aberey bafrantem~nte de.-
darar, h e o unico alliyio de.íl:e de.íl:erro, co- '
m o, o unico argumentp de que ainda naõ ef...
tou d·e tó.dp '(~pulta<loi, pois,viyo na me.ma-
ria de V ·. E:Kcdlencia. · ·
· D~qu1 naõ ha que a.vizar, mais ciue hirem ·
ndla·oçcaíiaõ 'trc;.s,Bifpados, Braga, Porto ,
e Alga'rve. .D.o p·rimeiro ,1e ul·tin10 dou a V.
Excel}en(:ia· Q ~pa.toabcm, e naõ fey fe mais d9
1
I 7 /..
3 t6 C A ,.R ; T A S . ' i ._
,"t
· Creadó de V..Excel.lencia
'
Vieyra.
'
." ·J Aii~Q.tiio
-e ARTA LXXXIX.
. Ao Marques. ife Gouvea~ ··
E
XCELLENTISSI~10 Senhor-: man 00
'
Creado de V , Excellencià&
r
·.
·~ntonio . Vieyr~ . .
; • • 1
:.. · . .
..... .
~
Tt LCAR··
CARTAS
CARTA XC.
Ao Ma~que's de Gouvea.
E
XCELLENTISSIMO Senhor: Dou
infinitas graças a Noffo Senhor pelo
fuíto de ciue nos livrou eíl:e 'correyo ,
C{Ue era igual ao meo cuidado, com 'a s rioti-
~ias que Jeyo neíta, de que V. Excellencia me
fe z mercê, e efpero que a n1oderaça0 , com
CJU - V ,Excellencia tem refoluto negar ao go-.
íl:o os regalos defia; e da noffa' Corte, ferâ
n1ais prezente prefervativo para naõ pàde•
cer taõ fen!iveis mortificaçoens. O voto.;: co-:.
mo jà 1ne lembra o roguey muito a V. Exce1-
lencia, e agora com o zelo e confiança de
taõ an.tig? _creado ~ e com ? sxperie~cia de
navegante, torno a pedir com rnayor iníl:an-
cia -, naõ fej a voto , como os das tempef·
tades, pois ella f~y taõ grande.·
Aqui ~naõ ha~ovid<\de máis que o matri-
monio da fobrinha do Cardeal Patraõ com o
fobrinho do Cardeal U ríino herdeiro da-
tinella Caza, aos quaes ante hontem lançou a
-, ' :· : ben ç-aõ
DO P. ANTONIO VIEYRA. 3 31
bençaõ Sua Santidade; com que o noífo Pro-
teétor ficarâ mais entrado em Palacio, e na
graça, e nós poderàõ fer mais efficazes os au-
xilias da fua ..
O Senhor Embaixador ,_me diíferaõ em
fua caza, que fecretamerite hia mandando
embarcar algum fato , e que fazia contas
com os mercadores, que o alfifrem, que f~õ fi-
naes de algull_l_ movimento, de que naõ te-
mos 1:1oticias por outra via.
. A manhãa fe celebra a Canonizaç~õ dos
cinco Santos Confeffores , e depois della fe
entenderâ com muita applicaçaõ na dos 40
Martyres, que ainda naõ efraõ livres de ini·
migos. Deos guarde a V. Excellencia com a
faude, que eu lhe peço em todos meos facrifi.,.
cio·s , e o Reyno, e creados de V. EKcellencia
havemos miíl:er. Roma 11 de Abril de 1671 ~
-· r
Creàdo de V. Excellencia
·Antonio V.ievra..
L t 1 •.
.
• r
Tt ij CAR-
I 7<1
33i C A R T A _S
CARTA XCI .
.d~ Marque's de Gouvea.
E
XCELLEN'".('ISSIMO Senhor ~: Eíl:as
cartas, de que V. Excellencia me faz
mercê, tem trocado ~s effeitos·~ por...
ciue coíl:umando trazer o fi?ayor allivio, ha
n1uitos _correyos que multiplicaõ .pezares.
N aõ quizera ver o achaque. taõ contumâs, e
o~ accidentes, ainda que menores, taõ.repeti"'
dos;e dezejàraeíl:ar muy perto, para que ~meo
amor receitaffe·a V ,Excellencia hum fe:creto,
CjUe em femelhantes circunítancias he o .mais
feguro e o mais prezente. Senhor-, ~ o qu.e.im·
porta,he viver,; efe Madrid fe naõ accommo...
dar a iffo, feja em outra parte ..Como creado
quetaõ verdadeiramen~e ama a V ..Ex.c ellen·
eia, naõ quizefá que V. Excellencia [e acon..
felhàra neíte cazo com a fila generofidade,
fenaõ com a ra (aõ. O mayor ferviço que V.
ExceUencia pôde fazer à Patria, he confervar
a faude e a vida para a honrar, authorizar,. e
go'vernar muitos annos. Naõ me deixa o meo
.. __,,_- fenti·
DO P. ANTONIO. ~VIEYRA. 3.33
fentimento, e ·o m eo temor hir por diante
neíl:a materia, e fe V. Excellenciâ o julgar
por demaziado, lance toda dta culpa ao n1eo
coraçaõ, que toda outra dor fofrera mais fa-
cilmente ,- que as penfoens da que nem imagi-
nar fe atreve. Efpero que a Primavera neffe
1ugar fej a máis con"íl:an e que neíl:e, onde tem.
rigores de Julho, ainda que hoje, fendo as..tres
da tarde,naõ vejo-o·que efcrevo.N aõ ha outr_a
novidade deíta banda., poíl:o ciue hontem me
<liffe Guem tem 1obri gaçaõ,de.faber do mundo,
que à Çandia-.erã.õ ,cheg~das cincoenta gran-
<les Ç;ilês_de .Co·níl:àtitinopla com fequitp de .
outros appara.t0s '; 1que fe foraõ certos, deve".".
raõ fazer , i;nayor ·rumór. Deos guarde a Ex-
.cellePJtiffima
. .Peíloa de V.. Excellencia mui-
JOS ;a,nnos,com ·a faude que Portugal ,e os cre-
ados,de·v. :Excellencia havemos m.ifrer. Ro-
ma t. 5 de Abril de 1671 •
.-. ;... :~ ..... J 1 • ')
. '
J
~ntonio ·Vieyra.
' .
CAR-
.. , ,
C.A R TA XCII.
~
. • 1
XCELLENTISSIMO Senhor: D u~
pli.cadamente rnechegàraõ as novas,
primeiro . da: conhecida melhor~a, e
depois da inteira faude;con1 que, a Deos gra..
. ças, tem V. Ex'célLencia.·entrado nos meze-s
que n1ais no Ia ·aífegµr;aõ. ·Eíl::as novas fi m ,
-.que; .p.ódem fa.rar 1os ouvidos,fem temor de que
-nenhumas ou.fra.s os faç.~õ adoecer.
- ·P arte ·eíl::e ·proprio ' com afegunda-·parte
das Bullas, que foy muito mais facil.. de·con..,
-ceder, que de concordára:primeira.E certô,
·que efi:e fó argumento baftava para fe entenc-
der na noífa terra o pouco que fom'os _à ma-
dos neíl:a. Qual dos dous exemplares_nos po-
de eíl:ar melhor~ Ouv.L;.e vi q~e l~ lhe ,chamà-
raõ moriíl:ruoíidade; cori10 fe o naõ fora hum
Rey com exercido , e fem nome. Ifro fe quiz
conco-rdar, e affim ·o rezavaõ as Bullas,que de
nenhum outro modo podiaõ hir abertas' en 4
Creado de V. Excellencia. ·
. -
A toriio Vieyraª
Ao ·.Lo/larque de Gottt:i'ea . .
E
XCELLENTISSIMO Senhor: Com
o proprio dey conta a V. Excellencía
do pouco q;u~ elle veyo bufcar e le~·:i,
e do n ai ,tamhem pouco,que entaõ feoffe re--
ceo~ A~ora temos a Corte no campo, onde fe
va.õ os .Emin ntiíiimos defpedir delle, athe as
mu 'lçoens j fa efra ~tambem o no.fio Emb.ti•
xador m i li"l'!e de negocios,doqueconfidê-'
ro
DO P. ANTONIO VI!YRA. 337
roa V. Excellencia enco1nendando fe1npre
~ Deos, como devo, o bom fucceífo de to-
dos.
Os rmnores ·do .Turco eíl:aõ . em Iilen~
Cio, mas naõ o caíl:igo dos que fe fiaraõ na fua
vizinhança. Mandou o Emperador degol-·
lar ao Conde Nadafi:i em Viena, ao Con-
de Serin, e ao Man111es Frangipani em Ne-
oíl:at·, e en1 Poífonio de U ngria a Francifco
Romi~)peífoa tambem de ct;)nta,alem de mui-
tos outros de menor calidade ,que juntamen..,
te foraõ juftiçados , e entendc-fe, que tam-
1
·- ·Creado de V. Excellencia.· ·
Antonio Vieyra. ·
>eARTA- '
.
xc1V . .
Marques de. Go11vea.
. '
~ Ao
.
S
E algum dia ~aõ .teve lugar o Si va-
les,'bene efl, ego quidem valeo; he na eíl:i-
r.i lidade deíl:e correyo .. Da minha faude
.naõ o poífo affirmar com tan·ta. certeza, co-
mo porem a tenho da de V. Excellenciafem-
pre de bem em melhor, he tudo o que· poífo
tlefejar. · ·
Eu ,Senhor, prêguey em Roma dous Ser,..
moens , porque -era:, p Governador de Santo
Antonio hum filho do Senlior Embaixador
,. a quem todos d.evemos efta obediencia por
' -• .. fua.
DO P. ANTONI'O VIEYRA. 33·9
fua peífoa, e mais pela que reprefenta, ainda
que n-em a Ílnagem , nem o fanto haj aõ feito .
milagres por mim. -
Jà diífe a V. Excellencia qYe me naõ
atrevo a pn~gar em Roma .11 porgue os Ita...
Jianos naõ entendem o que digo, e os Caíl:e-
lhanos querem entender mais do CjUe digo;
e aílim ficou eíl:e anno. Santo Antonio fen1 -
Sermaõ, naõ faltando neíl:a Corte Portugue~
zes que poderiaõ . naõ fe ha:ver efcufado, pois
tinhaõ menos juíbficada caufa. Eu fico tiran-
do em limpo eíl:es e outros Sermões no pou..:
co. .tempo que me dâ lugar a deplanda dos
Martyr.es .. ~ aõ fahiràõ à lµz fen.1 primeiro te-
rem a approvaçaõ de V. Excellencia, com
a qual' rne poífo prometter a do mundo. Deos
guarde a V. Excellenci'a. Roma 20. de Junhe
de 1671.
Creado de V. Excellencja
Antonio Vieyra.
·vvij CAR.-
I &' J
' CART:N.S..
C A RT A .: xcV.
.~·_Ao Marques de .Gouvea.
.. ...
E
. (" ~
_Antonio ·Vieyra.
··- CAK~
r
e A R: TA s_.
tGAR:T A XCVI·.
Ao Marq~te's de Gouvea...-
1·i. XCELLENTISSIMO Senlior:Nun·
c:i me deraõ cuidado os negocios de
\T. Excellenda neffa Corte, porque ·
quando naõ tenha.ó a fortuaa que depende d ·
vontades alheas, fempre teraõ muy fegur~ ·
do acerto que eftà fóra dafua jurifdicçaõ. A
.f.tude de V. Excellencia he a que me deo-cw•
<]Ue,r.
dado' do qual porem me livraõ as novas
ExceHenciá me fa.z mercê, que d.limo
infinita1nente, fem ferJifonja Italiana, e~
m.o he a palavra. ·
N aõ-chega o proprio, e fe he por vir muy
e rregado de dinheiro , trarà o que fe ha mi..
iler. O ~{arques das ~1inas entrou acompa"'
nhado de deudos, e fahirà [como jâ .fe diíid
neífa Corte ] acompanhado de deudas ; fe
bem he tanta a fua pont11alidade, que lhe te"'
nho ouvido muitas vezes naõ hade· ficar de·
·endo nada a ningu~m, e eíl:a feri para - º"'
ma a melhor gu.arniçaõ das.fuas librês.
.. .- .
DO P. ANTONIO VfEYRA. S4.3
J?or Ollanda vieraõ novas da Chin~ que
0 Emperador havia de levantar o deíl:erro
a<i. Pregadores Catho.l icos:e q tinha admitti-
do a taõ gr3:nde fam·iliari~ade tres Padres da
Com panhia, que hiaõ quaíi todos os dias a Pa-
lacio a fazer lhe demoníl-raçoens afrronomi-
cas de que h e müito affeiçoado. ] à iíl:<? faô
principias de levantar os olhos ao Ceo. ._
V. Excellencia·aceite eíl:as novas ec clefi-
aíl:icas; pois a paz dos polit'icos naõ dà por
efia banda ma teria a outras. V . Excellencia
me naõ di!fe nàda do nombramento do·Pa·d re
Confeifor ;- eu digo a V. Excellencia ciue jà
e[tâ. pre fentado a S. Santidade. Deos guarde
a Excellentiffima: Pdfoa de V. Excéllenda
e orno dezejo, e os creados de V. Excdlenci(]
havemos miíl:er. Roma 1 de Agoíto de 1671_..
\ .r:i .
. "
.:
.
,
Creado .de _V, Excellehc.ia.
.A ntonio VieyJa.
CAR-
3
C~ ll 'l' A . $ ~
'
T.A xo·v 1 · 1
.A'r\tpnio Yieyra. ·
"' • ' ' ' 1
., , ·~ :· • . < "
.. -
-'
·vie ,Yra:_· ·
'
Antonio
.
"
,- - i'
'·
., .
.
. ·; ; . '\. ~ )
: C.AR...
31)0 , ·r C A -R T . A ·S .'
'f A. XCIX .
.
~ Ao Marque's . de ·Gouvea.
E
XCELLENTISSIMO Senhor:Toda
efba: femana fuppils naõ. . podia: efcrc~
ver a V .. E:x:c:ell.encia neít,e correyo,
e agora faço efta:S .duas regras' para que a
falta dellas naõ accrefcentem mayor fuppoft ..
çaõ ao achaque. Com a entrada· do inver..
no carregou a ddluxaõ da cabeça fobr e hu--
ma hlàFt~ -do ro{ho,, <.te ma~dra·- q~e fo raõ
rieceffarias ventozas farjadas , e outros re-
medias violentos , fem bafrar-em para des-
fazerem a inchaçáõ , e tirar de todo as do..
res com ·que (\inda fico , , fe bem melhora-
do, hav~rido, paifa-Oo cm cama todo o oy..
tavario de S. Francifco de Borja. Vay o
raconto da feíl:a , e naõ ha 011tra novidl-
de. O Senhor Marques das Minas fe an da
licenciando do Sagrado Collegio, e fe en..
tende que terà em Roma poucos dias do
mes feguinte. O Refidente fe efpera atb e os
dezanove defte. Da-me cuidado a faude de
v.
DO P. ANTONIO VIEYRA . ..3ft-
.V. Excellencia , mas efpeto iia6 fentirâ jà
-efie anno a differença d-0 clima ., e aflin1
.peço a Deos com todas as minhas infra.n•
-cias. . Deos guarde a. Ex,ceUentiffima. Peífoa
<le V. Exte,lencia como o noífo Reyno e os
-creados de V. Excellen'éi~ havemr>s :inifterr
Roma 10 de Outubro de 1671.
Creado de V. Ex:cellencía.
Antonio Vieyra.
CARTA C..
Ao Marques t/e Go11vtaf)
. XCELLENTISSIMO Senhor: .Eíl:as
. . faõ as unicas regrat_g_l.Je efcrevo nefte-
correyo por naõ fafta·r à unica obri•
gaçaõ , ainda que taõ mal tratado como de
hontem a efta parte 1ne acho. Tragatne Deos
m:elhores riovas di faud~ de V; Excdlencia~
. Mo~
-;ri . , - <i ·Q" A . R ... T'-- A ~ S,~ -:- 'T
CA.R ,
•
Ao fllfarques de Gouvea
XCELLENT'ISSHvIO Senhor :· E .;...
mo eu muito que o in.ve~no de ),!a '
drid naõ defcubra taõ mâ cara co...
tno o de ~1na, em que as eh .vas e o~; friG ·
tem fitcil ranedit>, mas athegora fenaó ten
achadq para -o~ rayos com qae fr.equeJ:11 ·e•
mente nos vizita. , e 'Cô-filO OS ll~tOS detíl:a ter-
ra faõ taõ revetenciado-s -do-Ceo, hemayo
o tem nr que :a.'CJS cabe a iS piq eao. .
O Ma1-ques l!.mha'ixâdor partio aos dê;g
<lireiti1ra a L!orne , h ve o ·.tt1a. d-ad·
vizitar ào Graõ Daque por feo filho D.
joa.õ. ·Sahio em ·J?om tempo , rnas feguir~
fe iogo n1uit~ trabalhofos 'ias, e·n-aõ er·
1
.-.C~ado de V.·E:xcellencia.
Antonio . Vieyra~· ·
"
l · AR~
/()
··Ao .Marque! de Go1Jvea.
'\
. . ..., ,. .
E
~
'
Creado de V. Excellencia~
Antonio V'ieyra.
CA .R T A
..//o·Marque's. .de Go11,~veae1 ·
XCELLENTISSIMO Senh_or : Coro
meçarey eíl:a por onde acahaõ to-
das; dezej:tndo a V. Excellencia os
bons annos' .e muito melhorado~ que o paf-
fado. Bem me lembro que eíla uzança íe ti-
nha .jà. exterrniriado da ·noífa Corte, e per-
mittido ·f ó ;tós~ Janeireiros , mas como o no ...
vo Senado de Lisboa fe em prega todo en1
refufcitar antiguidades, €m quanto me naõ
confra ·do que ordeha neíl:a parte , permit-
.. Tom. 1. Zz tame
36 t .. . C. A R T A S . -
tame V. Excellencia, que o affeéto c0m que
dezejo a 'l. Excellencia todas as felicida-
des, figa deíta vez o r.:eremonial de Por tu~
galo velho, e verdadeiramente,Senhor, que
v.aõ os annôs taõ eíl:ere,i.s de novidades, que
fe o começaren1 huns e acabarem outros :i nos
naõ der efLi taõ ordinaria µiateria, naõ ha-
vera côtn qne encher hu1n quarto de pa-
pel ·, ainda que fe_ja taô pequeno como efte
Rom:aná. Os Embaixadores de Hefpanha
fe naõ n1udaraõ ainda, nem o nofio Re!iden-
t~, que j i ~orneça a andar por cafa , teve
a primeira audien.c ia do Papa. Iíl.:o , e muito
f ·io he o ,qu~ f ó hà em .~orna. , D~os guar..
de a "'if. Exçellencia, como os creados de V.
Excellencia haven1os 1nifter. Ron1a 3 de Ja...
·.neiro de 1672.
Antonio 'Vieyra.
CAR~
DO P. ANTONIO .V IEYRA. 361
CARTA CIV. ·
Ao Marques de Gouvea. _
~ XCELLENTISSIMO Senhor: Me-
lhoradas novas me trouxe efre ·cor-
reyo, com que fiquey livre do gran-
de cui d~do,com que havia paffado efl:es quin-
ze dias , que en1 femelhante fufpenfaõ faõ
mezes largos. Os daqui ainda nos naõ d~õ
noY:is da primavera, em que tantas novida- _
dei fe efperaõ
As propofras do Embaixador de França
neila Corte bem moíhaõ o contrario do
que aífeguraõ , e fegundo huns avizos fecre-
tos que hoje vl. de Olanda, la fe defefpera
totalmente da paz , con1 que as prevenções
fuas e de Flandes fe apertaõ, altercando-fe
ainda fobre o Generalato das. armas na'Pef-
foa do Princepe de Orange, en1 que as Pro-
d ncias naõ eíl:aõ unidas, e coni a Paz de
Colonia. fal ta aqueHa efperança, e crefce e
temor. ,
O M an1foíl:o de França ainda naõ he
Zz ij ma-
19r;
364 e ·A R T,, A s ·
Manifefto , m:1s veyo à Rainha de Suecia.
Dizem contetn tres pontos prihcipaes. Pri-
n1eiro que ElRey Chriíhaniílimo lhe fos
guerra por fere1n os inimigos da Igreja Ca-
tholica, qae mayores danos tem feitoa os
l:ftados de todos os Príncipes Chriíl:ãos, cu~
ja fat'sfaÇ~õ e~l~ quer tomar, ·e lhe perten"'
ce por mais v1z1nho.
Segundo:que fem embargo do poder co:. t:
que fe achaõ f uas Armas , eíl:â difpoíl:o a · •
e itar a paz, fe os Olandezes quizerem -vii
en1 condiçoens juíl:as , e que eftas fejaõ .1
reftituiçaõ do que tem occupado a feos le-
gitimos Senhores , e aqui entraõ algumas
praças de Flandes a ElRey de Hefpanha ,
o- mares da Pefcaria dos Arenques a ElRe -
de Inglaterra , a India a ElRey de Port'··
gal, as Cõmendas de 11alta , certas Ciàa~
des a alguns Princepes de A lemanha &,.'.
Terceiro : dà a entender , que o m o~ e
tambem . a querer fazer eíl:a refiituiçaõ o
haverem algurn> de feos mayores concor .. ·~
do para a fua liberdade na guerra que fiz :
raõ contra H efpanha , com que crecera 0 à
opulencia em que hoje fe achaõ, fendo co ~
zà ia.digna , <- ue de. tais príncipim ·te nh~õ
·· c:recid
DO P. ANTONIO VIEYRA. 305
crefcido a eíl:ado, que prezumaõ fazer op-
uofiçaõ 'às Cotoas , r.e Republicas da Euro-
pa. Iíl:o he o l]Ue entendi da peífoa que vio
0 Manifeíl:o.
Beijo a V. Excellencia a maõ pela mer-
cc do privilegio, fem o qual me naõ acom-
rnoda:ey a fazer ·a irnpref!'aõ, porque naõ ~e
atraveíle outra, e fe imp1da o gaíl:o dos h-
yros , principalmente em Roma , onde a
differença da noffa moeda o faz muy con'-
<leravel. Deos guarde a V. Excellencia mui-
. tos annos _,como dezejo , _e os creados de V.
:txcellencia havemos miíl:er. Roma 30 de Ja-
adro de 167z.,
Creado de Vª Excellencia.
..
Antonio Viey~a.'
......~
t
\
C A ·R- T A 'S
CARTA CV.
Ao Marques .de G·ou1;ea6
E
XCELLENTISSIMO Senhor : Os.
· mefn1os_dias jà tnayores que trazem
\na.is de. preffa. as novas de V. Excel-
lenicia ' entend(l) eu. . que faõ a ca:ufa natural
1
368 C A R T A S
lencia que faõ de animo, nem intereffado;
·.nem _defagradecido. Deos guarde a Excel..
.lenti!Iima Peífoa de V. Excellencia mui..
tos apnos, como-dezejo, e os creados de V .
.Excellencia havemos mifler:. Roma 13. dt
Fevereiro. ·de 1672. · ~
Creado de V. Excellencia
Antonio V ieyra.
.e AR:T A GVI.
~ · Ao Marq11é's de Gouvea.
·E XCELLENTISSIMO Senhor: Naõ
dou a V. Excellencia o parabem da
promoçaõ do Senhor Bifpo de Co
imbra : ao méfmo Bifpado f~ deve dar , e
a todo o Reyno. Naõ poderà ·S. A. fazer
inuitas eleiçôens femelhantes , mas fendo
unico o exemplar, juíl:o era .que fe puzeíie
em theatro taó publico, e para que da fonte,
· · o~ e
DO P. A:N1.0NIO VIEY!tA. 369 .
onde fe vaõ beber as fciencias , fe leve , e
derrame por toda a parte a reformaçaõ dos
cofl:umes .
. A tardança ·axgue pleito nas pertenções, ·
mas a vittoria aílegura, que na:õ podia ha-
ver pleito no merecimento , por efi:a mefrr1a.
caafa " efl:imo g_ue V. Excellencia eíliYeífe· .
auz. .nte ndla ,occafiaõ. .
Cà tàmbem tiven1os eíl:a. femana. pro-.
moçaõ ·de Cardeaes, hu1n em França, ou-
tro em Alemanha, e o terceiro na Caza U r-
fina , ficando d.ous ÍA peétore. Efperavafe que :
tarnbem fahiffem ndl:a mare o Senhor Bif~
po de Lans e o Arcebifpado, de Edeífa ,
mas o· vento que lhes faltou , fe dividio pe-
los Cervellos dos difcurfivos, que fempre .adi-
vinhaõ a peor pai:te. Tarda o En1baixador
de França , com cuja vinda fe prognoítica
alguma borrafca' mas o piloto he taõ def-
t1: 0 , que de tudo fahera fahir fem perder
viagem.
Chegaõ repetidos avizos das anguíl:ias
dos Olandezes na riniaõ de Inglaterra com
França , e· dl.fcorrem os Hefpanhoes 1nais
fizudos , que o l.ugar que Hefpanha deve
tomar para ver o fucceífo defta tragedia ,
Tom. !. Aa'a - he
toe
370 CAR'fAS
he o da neutralidade. Beijo a 1na.õ a V.
Ex·cellencia pelo en1penho do n1eo privile-
gio: parece que hc defpacho que fe naõ de-
Te negai· , quando naõ peço licenç.a para
imprüuir-? mas gue fe naõ de a outrem pa-
ra eíl:ampar o n1eo , ou· naõ meo, em meo
nome. Fica Roma toda em mafcara e com
os mais rigorofos frios, que jà rn.ais fe pade-
aeraõ nella. Deos guarde a Excellentiffima
l1eífoa. de V. Excellencia, como deiejo, e os
creados de. V. Excellencia havemos rnifier.
P,oma 17 de F~vereiro de 1672.
Creado de V. Excellencia
Antonio Vieyra~
.
:
. t CAR~
DO P. A 'N1"'0. no \'IEYRA. 37'l
AR A CVII .
.L1o Marques de Gou'vea.
XCELLENTI.SSIJ\10 Senhor : ·v ay
entrando a priinavera çon1 muito
..MiiL-- . melhor roíto para os Conezaos , que
Creado de V . Excellenci~
'1
CAR-
3~ .
. .
A CVII .
"' (
l'
..CA
XCELLEN'I'ISSIM.O Senhor : Se
os Medices de Madrid na.ó faõ mais
~- .fegurcs que os d1 rtoífa terrà , pou...
co me co nfola dizer-n1e V. Excelleucia que
com a n1ayor · vizfr1hança do Sol fe hàde
entregàr V. Exce1lencia em fuas rn'áos; m ~s
eíl:a mefrna defconf1ança me obriga, como a
menor Cflpellaõ de V . Excellencia, a appli·
car toda"' a forca do meo facrihcio defde o
_ primeiro de Abril por diante a efi:e requeri-
mento.
Todas as cartas.de Flandes, e Alen1anha.
fuppoen1 a liga deífa Corte com Olanda que
ja começa a fallar mais animozan1ente , ef..
perando que com o Generalato do Prince..
pe d~ Orange fiquem mais mitigadas as in..
fl.uencias de Inglaterra.
Hontem fahio eíl:ampada reforindofe :1
impreffaõ de Paris, a liíl:a dos exercitos del..
Rey de França, na qual fe numeraõ fete mii
Por..
DO P. ÁNTONIO VIEYRA . .3/5
Portuguezes ! a faber tres rnil' infante$ e qua ...
tro inil Dragoens. Naõ cuidey que h';iviá
· ta nta peçonha· na noífa terra , nem tarita
induíhía 'em a lançar fora; e bem feraõ ne-·
ceifarias aos Olandezes todas as pedras ba-
zares, que trazem da India.
Efperafe com grande cuidado o correyo
extraordipario da Corte fobre a promcçaõ
dos tres Cardeaes. ElRey de França naõ deo
as graças pelo de Toloza , antes fe dis ef-
creve.ra com diffabor, temendo-fe de I-Ief-
panha algun1 igu~l , ~u m.ay~r.' O Cardeal
Gmvina a.c.eitou fihahnente. Fvraõ taõ· e.ffi-
cazes as razoens do Senhor Cardeal Patraõ,.
que naõ foy neceflario pr'eceito, corno fedi-
zia a S. Santitlade ( fallo peila.• boca do vu~
go) que naõ te:t;iho rega:tei.r~s ; taõ ptat\c~s,
como aquella de V. Exc;:eUencia.
Todos me pergnntaõ. que :fuzen1os'"" G:pm
a India, e quando refpondo, C]Ue •efte ítnno
· vaõ tres naos, rimfe ·d e m-ítn_, e eu porque
n a6 fey rir , nem poífo chorar ·' encÕllilendo
a Deos a~uelles, a quem V. Excellencia.pro-
poem, e ioform·a.· O n1efmo Senh.c1:r guar-
de a V. ExceUenda muitos anno~, c0mo o
Reyno , e os cread0s de V:_ · ExceHenda
. h~
:,7(,J
L . CARTAS 'f
Creado de 12.xcellencia~-
.J
Antonio Vieyra.
.
CARTA CIX.i
.
_. Ao J.\1arq_ue's de ,Gouveaº
E
XCELLENTISSIMO Senhor : As
novas da fa~de de · v: Excellen cfa
faõ as que me diíl:inguem , e meqem
os tempos , e em quanto eflas me naõ di-
zem que V . Excellencia ten1 experiment'a.,,
do nos .remedios tudo o que promettein os
Medicos ~ainda que os dias vaõ taõ creci...
dos , na~ creyo que he ~hegada ·a prima..
vera.
Tambem n~ífa Corte fe retarda as das
campanhas ,_ e Íe dâ cada dia·-mayor tmate.C
r:ia aos juizos Romanos para· prometter_em
. cada
.DO P. ANTONIO VIEYRA. 377 ·
cada. hum conforme feo· aífell:o differentes
fucceffos à'guerra , naõ fendo poucos os <qut::
ainda prefumem .que a saõ hade haver, cou-
za que feria ma.is maravilhofa e ridicula
que o parto dos montes. Muitos efperaõ
que tan1bem faremos figura. neíl:e theatro:
e outros entendem que feria mais feguro ef-
tar ao panno , e fe fe movem de vagar os
Gigantes que levaõ às cofras taõ grande pe-
zo : muito mais fe coníidera que o faraó os
que faõ de meya efl:atura. V. Excellencia
eftâ fo1n cuidado ; porque c0nfidera que os
Pilotos do Tejo faheraõ pôr a barca. em fal-
vo no meyo defta torme11ta; e eu tenho pa-
ra min1 que affim ferà, fe elles quizerem fe-
guir os roteiros de quem e.íl:â mais perto
elos de Mançanares. .
Aqui ·chegou o Ernbaixado.r de França
que eíl:eve detido alguns dias por achagu~
de S. Santidade ( verdadeiro e naõ fuppo..,
fto ) e jà anteh.ontem fes a primeira entra-
da com grande aceitaçaõ- de Palacio. Efpe-
ra-fe que entre as duas Pafroas ·fahiràõ do
peito os dous Capellos.
As Chuvas promettem ln·elhores novi- .
dades , naõ fendo pequen.a · a que admirou
·Tom. I. B bb · Sicilia
;,78 • C A R T A S .
Sicilia quando vio entrar por feos portós
·n aos de Lisboa carregadas de trigo. Deos
guarde a V. Excellepcia muitos annos co...
mo dezejo , e os creados de V . Excellen-
cia havemos 1niíl:er. Roma 9 de Abril de
167;z,.
Creado de V . Excellencia, ·
CARTA ex.
Ao Marques de Gouvea.
Creado de V. Excellencia.
Antonio Vieyra&
CAR...
CARTA CXI.
Ao Marques de Gouveatf
XCELLENTISSIMO Senhor : -Naõ
me dà V. Excellencia taõ boas no-
vas , como eu efper ava na fé dos Me-
dices , e auxilios da Primavera. ·Se· a de ~1a
drid he c-o mo a de Roma , ainda podemos
confiar álgum bom etfeito da mudança .do
tempo , o qual aqui fe defatou em taes di-
lnvios éle agoa, que de oyto dias a efra par-
te , hontem ·f{)y .o prin1eiro e1n que vimos
a cara ao Sol.
Entre· dl:es nublados fahiraõ do peito de
S. Santidade o·s dous Capellos com applau-
fo de ambos os Einbaixadores e Naçoens ;.
e poíl:o que o correyo que haverà paffado a
Portugal , leva carta em que fe nos perfilha
eíla graça ; o certo he que no extra8:o da
elei.çaõ que fe publicou pela eíl:amparia A-
pofrolica, o primeiro fe chama Gallus, e o
fegundo HifPanus .
. Corre hü avizo don1eftico de Turim, em q
. k
38 i - , . ·e .Ã '.R T A S .· .. \.
fe dis havia chegado ~ àquella Corte hum
Enviado Francez, o qua·I dizia entre outras
couza~, que de Franca haviaõ partido mui-
tas na.os ?ara a India com ca.rtas fecha das
de ElRey, ·e ,ordem para fe abrirem en1 tan-
tos de iVíarço. As prin1eir::ts arguem. alguma
confequen.cia, que fe p0derà colligir melhor
das propoíiçoeris .que fize.r em Lisboa o En...
viado daquella.Coroa. Em grande fufpenfaõ
,nos tem. a fua refoluçaõ , da qual 1ne fazem
duv idar algumas noticias que de là ouvi ler,
e muito n1ais as que V. Excellenda me in-..
finua. . .. .
Com as chuvas naõ ten1 chegado •tthe..
gora os a.vizos d.e V enez.a , nem ten1os do
'rurco mais clareza que o referido na Poíb.
paífada. O cuidado en1·Alernanha he o mef-
n10 , e o fegredo da marca de ElRey de
I rança taõ . mifreriofo; que de hum dia para
o outro fe na!> fabe ; .a fama he f ormidavel,
e rnais formidavd a ·ruido da moeda, de que
-fe contaõ oytenta carros, cada hum com
meyo milhaõ de livras ; tnas affim no Ga..
riíino dos foldados , como nas liíl:as do di"'
nheiro, faõ faceis de multiplicar as cifras.
O fucceífo moílrarà fe fe-oífende ou fe agra-
da
·no p~ AN1"'0NIO. 'VlEYRA. 3s·l
ela a fortuna detla pompa, e da futura viéto-
ria, jà cantada em todas as lingoas. Suppo-
nho CJUC jà haverà cheg~do às mãos de V. ·
Excellencia a fábula das Raiis com o Sol ,
elegante e difere ta, fe naõ foy fabul a.Na nof--
fa terra naõ fe tem a bon1 agouro cantar os
Gallos antes de tempo; e me lerrbrou a efie
propofito certo cafo de Lisboa> com C]Ue V.
Excellencia mandou inquietar a vizinhan-
ça , e madrugou menos ao Paço naquelle
dia. O que importa he que V. Excellencia
tenha a inteira faude que os creados de V.
Excellencia dezejamos , e havemos rr1iíl:er.
Deos guarde a V. E:u::ellericia muitos annos
Roma 11 de Mayo de 1671. .
' '.
Cr~ado de V~ Excellencia
.Antonio V1eyra.
CARcr
• t)
\ .. '•
1 -·
e.reado de V º Excellencia.
Antonio Vieyr~ ..
.;
·. ·CAR-
DO P. AN'"fONIO V·IEYRA. ·387
C AR~_ TA CXIII~;
Ao Ji1a·rqtte's de G·oitvea.
· ·-~ XCEl.. LENTISSIMO Senhor .: Do-
!# -<!( brada pen~ he ~adecer os a.~haque!
.1;. ~-4' e os remed1os, de que a cOntlnuaç:ao
(c01no acon tece, e eu ten.ho expe·r imentado)
·vencerâ a refiítencia, que quando fe naõ ren:~
de ao aço, mofrra verdadeiramente fer gran."·
·de ; mas o ·1nefmo genero , da cura parece
que affegu'ra ferem as queixas de V. E:x:'celL..
lencia da(1uellas, que ainda que daõ mole.:.
fria, naõ trazem- perigo. Eíl::as faõ as con"'
folaçoens 9úe bufco no difcuríb ., quando as
novas que V . Excdlencia me dâ , naõ faõ
a!i da inteira rnelhoria, e perfeita. faude qu_~
a V. Exéellencia dezejo e a Deos peço.
Aqui naõ ha 111ais novidade ·que a ·rnot'"'
te do Cardeal M-at1chini , c9m que dlaõ va.;;·
gos dous Capellos, que, fegundo o que.fe en ..
·tende,, foraõ dados brevemente a Rofpilho•
zi , e Coloria.
O Inverno fe defpedio dois dias depois
Ccc ij -do
388' -' ... e· A ·R - 'T A· S
do .S. Joaõ com hun1 rayo cahido em Pa...
la·cio no quarto de S~ Santidade, que 9epois
de levar a bandeirola ·do relogio, ·entrou na
Capella privada onde dis m.ilfa , e fem fa-
zer dano fe f'Óy enterrar _no jardim-. ·
Cada dia chegaõ novas dos grandes pro...
·.g r eífos que fazen. por terra as armas d'El-
.Rey de França , rr1ayores do que fe imaginou.
.Parece . que naõ he. igual o ,poder ,·' ou que
'h .e menor ~- fortuna; porque hav endo-fe da~
.do .batalha. aos 7 do paífa.do todo o d_ia e
pq.rte da noyte, dizem a~ ·Relaçoens Ç.e Olan...
~a e Bruífelas , que a vietoria ficou pelo~.
Olandez(;:s; e elles fenhores do n1ar, e pof=
to que os, F rancez~s o neguem; e haverem
.tido cort~yo de r 5 , o naõ molharem_.~d o
cumentos he-argumento, que fa.s muito fuf=
peitofa a ôpiniaõ que defendem , fe bem a
.authoridade contraria naõ he de todo ·fem
fufpeita. Efperaõ-fe as particularidades no
c.o rreyo fegui nte, e entre. tanto. fe fente que
e_fl:a Corte naõ por à-lutos pel~s fucceílos ·,
tendo por mais. conyeniente. para a republi-
CL.a do .univ.erfo, que fe.1ev,ante por huma.
parte , e fe abata por outra~ Tambem · fe
4is que o Go-ve_rnador de Flandes depois def-
,- ·.. ta
DO P .'. AN1~0N'IC) VlEYRA. 38:9
ta batalha affifl:e aos Olandezes com rnayo:r
prorqpt_idaõ e po~e!.: .e aJguns~ efperaõ <]lle
eH:es foccorros -feJ ao: ali'1da ndta can1panha
mais· declarados, fe o Iniperio fe vir feguro
<las ;umas ~o Ti~rco ,, cujo exercito ou.ef-.
tâ t9talJAen,t e. par~do , 011 marcha lenta~·
xnente, depo"is da confederaçaõ de Polonia
com o Mofcovita. Deos guarde ~ Excellen-
'tiílima Peífoa dé .V. Excdlencia como de·..
z~j·o . , e.·os. crea<los :.de V. Exce~l~nc}'a· ha-
·we1nqs_mifter. Roma, 28 ,de Junhp de 167~~D
;
(. ·. ' ...
.. : j ..
..... 1 t
CAR=
e;·A. -R. ~r A· s ,,
'
Creado de V. ExceUencia
Antonio Vieyra~
CAR ·T A CXVº
• 1 • •
' _,
E
1
XCELLEN'TISSIMO Senhor: No
correyo paífado naõ efcrevi, itnpe•
__,/ <lido de hun:a grande febre , que foy
D eos. fervido defpedir-fe ao quinto dia, de
que ainda naq fico convalecido , mas com
grande contentamento de V . Excellenci~
me. dizer vay tanto por diante a melhoria,.
que jà hoje efpero em ·Deos feja taõ íntd"'.'
r a faude con10 havemos mifi:er .
.As primeiras novas que a ~fia Corte che..;
garaõ da guerra de Franç,a, que por mar e
: .Tom. !. Ddd terra
394 . C A R T .A S . .
terra, f-oraõ· as mefmas que tar-nbe1n aqui fe ,
ieceberaõ de Bruffellas e Anvers; mas du~
rou pouco efl:a a.legri. ~ aos ~11nifrros e par-
ciaes dos vizinhos de V. Exceliencia; por-
que com aífombro de todos fe começaraõ
a verificar os progreíTos do exercito , que
eíl:ando jà f~nhor de cinco Provincias, tem
reduzido a de Olanda à unica efperança ,
ou defefperaça.õ de romper os Diques , e
al<1.gar as campanhas,para_ter tempo de pa-
ltear, como jà fe efcreve, fazem. Os que
difcorriaõ de outra mané ira, tem a difcu! pa
da razaõ, e exemplos paflàdos; e os Olan-
dezes o caO:igo que merecia·õ. Dos outros
intereífados nefra difgraça naõ fe falla,pol;que
tem o que quizeraõ.
O ron1pimento entre Saboya e Genova
vay continuando , e hum dia defies tiveraõ
hum encontro, em t1ue -f1cou de melhor par··
tido a Re publjca. Sua Santidade inter-
poen1 fua autho1·idade para o aiuíl:amento
das differenças ,-o que naõ fer:i difficuítofo, fe
º" intentos· de Saboya naõ tem rr1ais fundas
i;aizes, que as de 1~urin1. Breven1ente fe fa- '·
berà a verdade deíl:e fegredo, Gue jà parece
vay rebentando por ~d:antua, onde a gente
·· . · de
DO P. ANTONIO VIEYRA. 395
de oçruerra daqudle Ducado fe ata:cou ·com a
de_Milaõ , e dizen1 que fe lhe rneteo prezi-
dio Francez.
As couzás de Polonia (donde nunca vem
nova que tenha coníl:ancia ) he certo que
eíl:aõ muy duvidofas , e ElRey com taõ pou,.
co partido , que eíl:es dias fe diífe , eitavà
retirado a hu1n Cailello , e hoje corre que
lhe cortàraõ a cabeça. He boa a occaGaõ
para o Turco , cujo €xercito eíl:ava jà nôs
confins da V allaquia. Eíl:as faõ as novas
que aqui fe ouvem ; e as que a mim me to-
caõ no cotaçaõ, faõ capitularem os Olan-
dezes fobre a noífa India, digo, fob1·e aquel-
la India que foy noffa , e podera fer nefra
occaúaõ , fe concorreraõ no theatro outras
perfonagens, onde huma fó fas figura. Deos
gua):de a V. E.x cellencia muitos annos co~
mo dezejo, e os creados de V. Excellencia.:
havemos mifter. Roma 30 de Julho de-1.672.
Creado de V. Excellencia ·
Antonio V.ieyra~
Ddd ij · CAR:-
:(, / I
~ CARTA CXVL .
' .
Creado de V. Excellenciaº
Antonio ·vieyrâ.
CAR~
DO P. ANTONIO VIEYRA. 399
CARTA.· CXVII.
Ao Marques de Gouvea.
XCELLENTISSIMO Senhor: Me-
1 rece o meo affeéto a V. Excellencia
· o cuidado que V. Excellencia · por
fu a grandeza me fa.s merce fignificar da mi-
nha faude. d eíl:io fe vay defpedindo , e
com ameaçar o jnverno, foy elle taõ rigo•
rofo, que quafi o fas dezejar; mas t~do fe-
rà toleravel, com· C]Ue V. Excellencia paffe
fe m queixa, e con1 a inteira faude que ha-
vemos n1ifrer. -
Tambem naõ repito as :1ovas do Nor-
t e ,"porqµe neífa Corte fe fabem ig11a1n1ente,
ou fe ignorar, como nefra, onde naõ fó os
difcurfos faõ diverfos , como, os dezejos ,
mas tambem os affeétos fe dividem em opi-
nioens. As do exercito de A.lem~.nha, de que
pa rece depende tudo, naõ faõ intdligiveis;
o certo he que tarda, naõ [ó porque fo.ef-
pera.,
460 ' . C A .R T A S . .
pera, mas porque Montecuculi fe move com
os paífos da gota e da velhice. quida-fe que
naõ fó ~Üecia he a remora , mas tamb em
alguns Prince pes do mefmo Imperio , que
naõ querem gente armada nos feos Eíl:ados.
Dpresk_e nko qener,a l d<?s Coífacos ~ebel4es,
ajudado de Ta.rtaroS" e Turcos, deo huma
grande rota aos de Polonia , com que di-
zem fe acha·o ·Reyná . em igual coníl:erna.-
çaõ , e c on1 ô exercito do 'Turco aífedian...
do ·a mais forte praça: das fuas fronteiras-.
- Tem .feito grande ruido neíl:a Corte hu:..
·ma nova. m andada·deffa pela N uncio , e ou~
tras peffoas ·de anthoridade ,. em qne fer e..
fere que, no noífo Reyno hã grandes fedi"?
·çoens .e ·n1otins, por naõ fey que propoftas
-Oo M iniíl:ro de França, en1 que . fe falia em
guerra. contra Hefpan ha , e reíl:ituiçaõ de
ElRey .D. Affonfo.· Efperam~ com anda o
correyo de Lisboa, que nos tire deíl:e cuida..
do , que fobre t1ntos outros naõ1he peque..
no .. · Lembre·-fe Deos da India , do Brazil, e
de tudo, e a 'V . Excellericia guarde muitos
annos como dezejo, e havemos mifter. Ro.._
n'la ro de Seten1bro· de 1672.
No
DO 1;1.- ANTONIO VIEYRA. 401
_No correyo paífado pedi -á V. Excel-
lencia Í.:1.vor para a pretcnçaõ de certo Mi-
niího de N apoles ; mas he tal a futileza Ita-
liana , que me advertio a peífoa intereffàdá,
que a diligencia do mayor Miniftro de ou~
tra Coroa, fe foífe c,o nhecida, podia fazer
mal ao -negocio. Reprezento a V. Excel-
lencia eíl:e efcrupulo ; por iífo mefmo e~i ...
marey mais o bom effeito_, que torno a pe""
dir a \T. Excellencia com o mefmo enca-
recimento.
Creado de V. Excellenéia.
·Antonio Vieyra.
CARTA CXVIII.
- Ao Marques de Gouveaº
E
XCELLENTISSl!\{0 Senhor: Naõ
.me diz V. Excellencia quanto tenha
ajudado o Veraõ os medicamentos:
e deite filencio de queixas infiro , e inter..
pretp a grande melhoria ou inteira faude
que dezejo, e de que dou a V-. Excellencia
o paraben1. . . .
Eíl:é correyo nos livrou do cuidado em
que no~ tinhaõ poíl:o as novas da noífa Cor-
te, que deffa fe efpalhaõ, as quaes eu fe m-
pre tive por falfas ou muito duvidofas, ad-
vertindo, que nem H.a carta do Reíide~Je ;
nem na. minha fazia V. Excdlenciá mençaõ
de t al - couza, con1 que a Secretaria de V .
Excellencia naõ aquiíl:ou pouco credito com
os primeiros Ã'iiniíl:ros, que avizados do feo ,
quizeraõ informar de nôs. .
Emfim : parece que o exercito de Alema-
nha vay defenganando os que o naõ criaõ,
ori. moíhavaõ defprezallo, e fó com fe ·avi-
. zinhar
DO P. A~1 TONIO ''IEYRA. 403
zinhar às fronteiras, tem feito levantar es
.çitios de Groeninguen e Maíl:rich,, ficando ef-
te fómente bloqueado, e havendo-fe paífa-
do Turena ao Rheno com fuas tropas , va-
ra. que,- juntas com as de Mnniler, e Colo-
nia efperem os defignios das Imperiaes, e
lhe façaõ oppofiçaõ : entre tanto Orange
fc eíl:abelece , e os povos o ajudaõ a def-
fazer a Republica e nome de Eíl:ados.
Se V. Excellencia ouvir dizer que o Pa-
dr e Vieyra preg.ou,em Roma em lingoa It a-
liana, naõ condene V. Ex.cellencia a teme-
ridade , porque elle a teve por tal ; _reíifl:io
fempre , naõ .fó a os empenhos .d e grandes
Senhores deíl:a. Corte, mas ao dezejo , e in..
fiancias do feo Geral, o qual, por ultin1a re ...
foh1ça.õ , lhe pôs obediencia que pregaffe ,
refpondendo a todas . as fuas obj_ecç.oens :
que lhe mandava, que fe deshonraífe a fi,
o deshonraffe a elle, e,deshon_ratfe a Compa..
nhia ;· e aflim o fis. Deos guarde a ·E~celle n
tiffin;ia Peífoa de -v ..
Excelle11.cia , ,corno o
,nQífo -R.e~I\º ; e os creado.s de. V. Excellen-
cia hav~mos miíl:er. Ro~a 2:4· ,de _Sete~
.bi:o.. de 16,72.
- r Eee ij Di-
404 e A R r:r A. s . '
· Dizem as ·Gazetas impreífas , gue de
Portugal vem dous mil infantes em foc.:cor--
ro de Saboya 11 de que crexo o que devo.
Creado de V. Excellencia
l'
e A Rtr A CIX.
Ao Mc1rq'ue's de Got1~vet1.
o defenfado deíl:a ultima carta de
·v. ExceUei1cia vejo, qne ou a (1uei-
xa dos achaques t em totalmente
~anç ado , ou dâ ba,íl:antes tregoas à guerra.
taõ porfiada e importnna. Eu recebi a di~
ta çarta na n1efma .~ora etn que entrava a
fazer os exercicios , que honte1n 'fe termi-
naraõ com .as vefperas de S.. Franc'ifco ; e
bem· ,neceífarios me eraõ oy to dias ~e me-
ditaça.õ para m e naõ defvanecer.ern os fa-
v ores, ou verdadeirámente graças, com que
V.
D·O P. ANTONIO VIEYRA. 405
V. ·Excellencia me honra. V à 'p or diante a
faude, que he _o que nos inipori:a; e eu de-
zejo , e a rnin1 n1e bafia defl:e mundo ter
fe1npre feguro o meo l:ugar aos. p~s de V.
Excellencia.
Mais cuidado me deraõ os avifos do Con..:
de de Umati'és_'.! fe lhe naõ tiveraõ taõ di-
'm inui:@ a fé as experiencias dos pa{fados;
com tudo ,ha carta en1 Roma em que avi.;..
faõ .d.e Paris, que Chúmberg pafia a Portu-
gal, ....~ ("'l~"'e jà tem partidü ~ mas tambem o-s
Evangeh:. . .ls daguella 'Corte naõ faõ cano-
n1c0s. -
O termo da fufpenfaõ das armas ·entre
Sahoya e Gen!0va . <t a i-abon hon tem , e po-
fl:o qu~. d.e fa,mn.11a ) o tra parte eftaõ no-
meadds Cõmiffarios para o trat'a do de pâz ,
e que o lugar do congreffo feja'. o Cafal ,
cluv1da-fe ~huito da condufaõ; pela muita.
gente de :França que fe vay juntando .em
Afti , e Penharola : e ·intellig-ericias fecre-
ta·s , que fe affirma, ter· aquelle Rey com o
Duque de Mantua. ·o certo he que os Ge-
novezes fe naõ fiaõ, ·e vaõ crefcendn as fuas
tropas, para .governo das quaes fe chamàraõ
t>S noífos dous foldados Pefinga, _e V anichei~
. li'
4~' .. C A R 'T .Jl: S . :.
li, a hu:m dos quaes ·d eraõ a fuperintenden;
eia da Ribeira d.o Poente, ao outro a de Le..
vante. .
Na ·mefma .Genova fe achàraõ efras dias
D. Frandfco de Lima, que pa!Iarà alli o ln-
.vento ~ e com a. Priinavera o t erem(i)s em
1
. Crea_d o de V. Excellencia.
Aptonio Vieyra. ·
CAR-
40S- C A R T A. S
.· Ao ·Marqrtes qe Go11vea.
..
e
E
XCELLENTISSIMO Senhor :- Dou
·a. .V . .Excellencia ~s ,gra~as pelas re..,
laçcoens .Ul tramannas , de que veyo
acon1panhada ella ultima de V. J:.xe:ellen-
cia , fe bem a melhor de todas , é para mim
de mayor eíl:imaçaõ, he logrir V. Excellen-
cia a faude que "lhe dezejo; fem o cuidado em
que nos pôs o Inverno paífado.
Verdadeiramente naõ fou dos m·ais or..,
gulhozos no dezejo dos fin~ , poil:o que fe
reprefentem muito uteis : e fó finto que na
noífa terra fe ·naõ trate taõ promptamente
dos meios , como pede a neceffidade : nem
fou taõ amigo de companhia', que em mui...
tas· ma terias , naõ tenha por mais verdadei...
ra. maxima. Antes jõ , que hem acompanha--
do. Hto he o que fempre me doe, •e .grito
quanto poífo contra os que nos querem li-
gados contra a India, onde he melhor ter
· · hum
DO P. :ANT()NIO VIEYRA. 409
hum inimigo, que tres ·todos deíiguaes na.
fe , e mayores no poder. .
·se eu naõ conhecera os arcanos de Por...
tugal, e athe onde chegaõ as chaves do feo
feg redo, confolarar~e con1 as confi~erações
defre; 1nas todos os noífos pcnfamentos fa-
hem-fe primeiro no mundo que nos Confe...
lhos de Eíl:ado ; e ainda que eíl:es fahiraó
. muito acertados como eu preíiuno, e foífem
muito fecretos , as rafoens naõ faõ as que
fu íl:entaõos Eíl:ados, fenaõ as execuçoens ;
e eíl:as hem as hà, nem as pode haver fem ·
meyos. De boa vontade trocàra eu todos os
noífos fegredos e confelhos com que fe fou:"'
beffe em França, Inglaterra, e Caíl:ella, que
tinhamas no Tejo huma muito poderofa ar ...
füada, e muito dinheiro com que armar ou-
tras, e grandes exercitas, quando nos fof-
, fe m ne~e.ífa.rios ; porque fó iíl:o caufa refpei ...
to nos tn1m1gos, .e m,a~tem o amor, ou cor--
r efpondencia dos amigos. Fora o eu de to ...
dos ) e cuidàra de todos que podem naõ (j
fer; e fiaramé f6 do meo, com tal defcon•
fiança, q1;le fe1npre o fora accrefcentando ~'
e fazendo mais feguro. ·Se iíl:o he murmu•
raçaõ , iíl:o 'he o que murmura o meo amor,
Tom. I.- -Fff
-..... tendo
~
,
410 C A R T A S
tendo por companheiros todos aquelles que
con1 an1or ou fom elle olhaõ para as nof-
fas couzas.
~1orreo o Cardeal d'Eíl:e, com que eíl:aõ
vagos tres Capellos , que feraõ provavel-
mente de Colona) Rofpilhoíi , e Crecencio.
A guerra de Italia cre-fe que fen1 duvida
fe porà em paz brevemente. A de Hollan-
da depende dos dous exercitas que diíl:a-vaõ
fó humajornada., Segredo dizem os ultimas
avizos. Corre por certo -que o Turco tem
tomado Nf aminies, chave de Polor'lia, e que
a U ngria com alguns foccorros do mefmo
Turco fe começava a folevar) tendo jà torn a-
do alguma Cidade, e obrigado a fe retirarem
alguns preíidios do ·Imperio , que por oc-
cafiaõ do exercito fe haviaõ diminuido. Deos
guaràe a Excellentiflima Pefloa de V. Excd-
lecia muitos annos,como os creados de V .Exc6'
havemos.miíl:er.R0m4 8 de Outubro de 1672.
Creado de V . Excellencia.
Antonio· Vieyra.·
',
CAR.-
DO P. ANTONIO VIEYRA. 41L
CAll TA CXXIO
Ao Marques de Gou·vea.
E
XCELLENTISSIIY10 Senhor:Gran~·:
de fuíl:o me cauzou eíl:a carta de V.
Excellencia com as priineiras regras,.
lembrado da erifipola de Lisboa.Con10 Deos-
foy fervido que V . Excellencia livraíTe taõ
brevernente, poíl:o que com a penfaõ de fris
fangrias , que neífa terra he hun1 nu1nero
inaudito, 'dou ao n1efmo Senhor as graças, e
a V. Excellencia o parabem, fendo circun...
ítancia para mim de grande eíl:imaçaõ, qhu--
ma e outra nova pudeífem vir juntas no n1ef....
mo correyo, que he a unica conveniencia,:
ou defronto,- com que alguma ves fe fabo~
reaõ as penfoens da auzencia , fabendo ... fe
os males depois de paflados.
Beijo mil vezes ·a maõ a V. Excellencii
pelo extr~mo do favor cmn gue, fem embar-
go cio achaque , na mefma 1nanhãa foy fer...,
vido tomar tanto de bayxo de fua protec~
~aõ o requerimento ou defpacho do meo re~
Fff ij cõmendadod
41z. C A R '1"" A S "
cõn1endado. Nem podia neíl:a Corte e cafa
haver para 1nin1 mayor credito que faber-fe
ne11a, me fas V. Excellencia taõ particular
n1erce. Os efcrupulos de ci.ue fis avizo a V .
Excdl--encia na fegunda iníl:ancia, fe conver-
teraõ agora em dobradas rfperanças, e as p ef~
foas empenhadas fe promettem o gue per-
tendem com tanta fegurança, como fe jà o ti-
veraõ alcançado, de que eu naõ duvido, e
o torno a fopplicar a V. Excellencia com to-·
do o encarecimento; porgue cada dia cref-
cem mais as obrigaçoens que devo ao Irmaõ
elo pertendente. V. Excellencia fe naõ quis
vingar de mim, e eu o faço com o Sermaõ
inclufo, ciue taõ pouco inerece os portes.
lvfandou·-me o Padre Geral que pregaífe em
Italiano, e naõ baíl:araõ as minbas taõ juíl:i-
:6cadas refríl:encias para que me naõ puzefie
obediencia; e o peyor he,quefendo eí1e o pri-
meiro , naõ querem os Eminentiffimos que
feja o ultimo , e jà me tem intimado duas
Capellas, em que fe ajunta o Sagrado Col-
iegio' podendo ter por agouro que'r erem ºª'"'
vir hu ma lingua barbara.
Polonia eíl:à quaíi occupada pelo Turco;
e, a bom livrar, ficarà efte com duas Provin-
das,r
DO P. ANTONIO VIEYRA: 4!j
d as de Polonia e U crania, confinantes por
huma parte·com os feos Eíl:ados, e pelas ou-
tras tres cortl a mefma Polonia, Alemanha>
e U ngria, e dahi .co1n paífo aberto para Ita-
lía. Começa efta vizinhança a dar grande
cuidado em Roma, e fe fizeraõ jà varias con ...
gregaçoens de Efi:ã.do, em que mais fe reco ...
nhece o perigo, do que fe acha o remedia.·
Falla-fe en1 Bulia da Cruzada, que he n1eyo
fo bre pouco effeétivo, geralmente mal acei-
to. Alguma peífoa bem grande fey cu, que
poem os olhos na retirada de Portugal, e me
cõmunicou,eíl:e penfamento, na·õ de zomba..
ria. Se he o primeiro que o dis , naõ ferà o pri...
meiro que o prediífe. O certo he que eíl:e ac•
c idente farà mudar a fcena a toda a Europa.
Deos guarde a Excellentiffima Peffoa de V.
Excellencia como eu e os creados de V.Excel-
lencia havemos miíl:er. Roma 22 de Outu·
bro de 1672. ·
Creado de V. Excellencia.
Antonio Vieyra.
C.AR~
CARTAS '
"CARTA CXXII.
,,.
. Ao Marques de Gouveae
E
XCELLENTISSIMO Senhor: Com
. -1 ~oda a alma finto as queixas que nef-.
· ta ultima leyo da pouca melhoria de
V. Excellencia. Queira o Senhor da faude e
dos tempos, que eíl:e Inverno nos feja mais
favoravel aos achaques de V. -Excellencia
que o paffado , e que V. Excellencia poífa
trocar o me1:ecimento da paciencia com o
da acçaõ de graças que faõ as que eu deze ...
jo poder dar ao mefmo Senhor, totalmen•
te livre deite cuidado. HoJie che1Iou
o avizo
da fufpenfaõ de armas entre Saboya e Ge·
nova, .c om duas viltorias ultimas dos Saboy..,
ardos. Parece que fe pôs a balança da repu"'
.raçaõ em equilibrio, e pendendo para aquel...
la parte a inclinaçaõ delRey de França; en..
tende Italia íe farà a paz con1 as condições
do feo refpeito, fem fe attender aos apices da
juítiça.
Huma efquadra Franceza de fete ou oyto
· navios
DO P. ;~ANTONIO VIEYRA: 415
n avios fe começou a empenhar na ~lturadeLe
orne, a entrar dentro no porto para queimar
algumas naos Olandezas que alli fe achavaõ
defarmadas; mas fendo avizado o ~ra·õ Du-
qu·e , venceo com razaõ e cortezia o que pa·
recia principio de mayor .r ompimento_: e fo
cõfervou a immunidade daquelle porto, o qual
com tudo fe fechou e reforçou de annas,
e vigilancia, e .ailim fe continua. · .
As mâs novas de Polo.nia continuaõ com
a cer_teza d~ fer t~n1ad~ Leopolis, e d'~l~ey ~
.e Rainha ( ·d e CUJa retu~aqa fe faHa) nao ha
que
·couz·a coníl::ante ;- e ifr-o he tudo o [e ou.-
·ve p-0:r dtas partes ·, deixando o novo cami-
nho· dos dous exercitos pleiteant~, e a nova
marcha do :. Pr,i ncepe ·de Conde a Lorena ,.
de que V. Exc'ellenáa terà mais vizinhos-e-
certos avizos . •Guarde Deos a V. ExceUencia
m uitos annos con1 a inteira faude que a Sua
·Divina Mageíl::ade peço em todos meos facri-
·ficios. Roma 5 de Novembro de 'I 67 r~ ·
Creado de V. Exc.
Antonio Vieyi:a. \
CAR~
._ _J
. ..( ')
- o<;./
t:t- r & • · C A 'R T A S
E
XCELLENTISSIMO Senhor: N aõ
quero que V. Excellencia me mande
encobrir a noticia de feos achaques,
porque a quem ama e dezeja tanto a inteira
faude de V. Excellencia mais o affiige a fof:
penfaõ e cuidado, que as I?efmas noticias•
.Sirva-fe V. E.xcellencia d~ int~rpretar o fer ...
·viço d€ S. A. e zelo da Patria, n1ais a fav o.r
da mefma Patria e do mefmo Prin cepe. Se os
ares de Lisboa pron1etteren1 ~ como parece,
mais faude que os de Madrid ·, reíl:ituafeno,s
V. Excellencia àquell.a Corte, pois ferà n1ais
util, ainda ao bem publico, viver V. Excel ..
lenda mais livre de queixas nella, que Pª ""
decer tlnto neífa ; e a!Tim creyo que o de•
vemos reprefentar a V. Excellencia, e que•
rer . todos os que fomos creados de V. Ex...
cellencia. Os dous exercitos de Alemanha
e França, parece, que fo naõ querem aviíl:ar,
yem que faiba o mundo feos intentos , ço.m
- tudP
· DO P. A~NTONIO VIEYRA. 417
tudo . fe tem por mais pro ~ vel , que o de
Alemanha fe encaminha à Lorena, para on-
de partio o Princepe de Conde. Se o acci-
dente de Cadiz (como fe aviza de Genova)
he verdadeiro, naõ poderà deixar de dar no-
vos motivos ao rompimento que aqui fe te ....
me e dezej a variamente. · ·
As armas de Saboya e Genova .eíl:aõ fuf-
penfas , e a Paz no arbitrio .de França, a
qual começa a eH:ar n1ais bem viíl:a neíl:a
Corte, porque promette introduzir na:s con-
diçoens a viétoria de dous pleitos, gne a Re-
publica ti:nha com a Igreja fobre o Inqui...,
Iidor e Arcebifpo. .
. As couzas de Polonia p~omettem alguma
n1elhoria; os·Comiífarios daquelle Reyno ti-
nhaõ ajuílado com o Turco deixarlhe Ka-
minies , e as duas Provincias de U crania,
remido jà o fitio de Leopolis com -certa
fúma de dinheiro;mas naõ tjuis a Nobreza Po...
laca ratificar o tratado, e querem: profegufr
·i guerra com juramento de ~uniaõ e fldeli-
dade ·ª ElRey, e cominaçaõ de perda de of-
fic~u. e eíl:ados a todos · os que contravierem
a eíl:a refoluçaõ , havendo-fe logo cortado
ã cabeça a hun1 que a quis reíiílir ; co1n tu-
"'. Tom. I. , _Ggg d~
·4·18 C A ·R T A S ·'
do fegu iaõ ainda o partido contrario, mais
de quarenta cabeças, com que fe te1nen1 no-
vos tumultos. Os ultimes avizos dizem que
o 'Turco fe paflava a ajudar os rebeldes .de
V ngria , e haverà mais que recear defb.
parte.
Os noílos novos Prefidentes f6 faõ aquel-
les ,que lo~rarà a paz, e P?deràõ quietamen-
te adminittrar juíl:iça ; íe bem me efcreve
algum grande Miniflro, que andavaõ entre
mãos ·embrioens de tal ·expeltaçaõ , que fe
chegare1n a fahir a luz , tamben1 faremo
papel no theatro do mundo. O certo he que
nos dà bafi:antes cabellos a occafiaõ', fe fou-
berrnos tecer as tranças. Deos guarde a
Excellentiffima Peífoa de V. Excellencia,co-
mo o R~yno , e os creados de V. Excel-
lencia havemos mifrer. Roma 19 de No..
vembro de 1672.
Creado de V. Excellencia.
Antonio Vieyra.
( .
. · · ·CAR·
DO P. ANTONIO VIEYRA. 4r9
·CART.A CXXIV.
Ao M,arque's _de Gouvea.
E
XCELLENTISSIMO Senhor : Mui-
tos dias hà que naõ recebi carta de
V. Excellencia, que totalmente n1e
alliviaífe o cuidado, como a deíta Po!l:a. Dou
·i nfinitas graças a Deos, que parece quer con-
feífemos [ó a elle a divida da faude de V.
Excellencia, e naõ ao tempo) de cujo be~
· n éficio a efperavamos, e affim ferà màis fe~
gura. ··
.A qui naú ha novi.d ade fenaõ he dlar
S. Santidade muito bem difpoíl:o , havendo
oytenta e tres annos : fegundafeü:a fes con...
íiíl:orio em que fe efperava o provimento dos
tres Capellos vagos ; mas entende-fe , que
efpera que fej aõ mais , e que o naõ eng a...
·n arà a efperança. ~ ,.
- Hontem â moyte deixey ungido o Con,.;
d e de _Mefquitella fem nenhuma efperança.
Ggg ij - de
\
~-1 -
·~p.o C A R .T A S
de vida, perdidos os fentidos e movimen...
to muitas horas, n1as hoje amanheceo ref..
a
tituido tudo ' e com grandes indicias de
vida, p0íl:o que os tnedicos, hum dos qua-es
he Miguel Lopes, a naõ feguraõ de todo.
Veyo da India por terra athe Alexandri a,
d'alli a Malta, e ~e Malta a Marçelha, do n-
de encaminhou a Genova, e tendo paífado
por Florença chegou agui con1 febre dia da ·
Conceiçaõ, e da cama fe tra:tava hontem de
o levarem à fepultura, que elle naõ quis no-
mear, nem fazer te!tamento , porque naõ
tem de gue. O Reíidente o afliíl:e com gran- .
de cuidado , e todos os Portuguezes fazem
o mefmo ' exceptos os mais ricos. .
De Portugal feefcreve com grande affe ...
veraçaõ a liga comeffa Coroa, e com Olan-
da , mas como V. Excellencia no correyo
a.ntecedente ao paífado me diífe o naõ fabi a,
nem queria faber , poíl:o que fe referem faõ
muy aceitaveis , em nada lhe dou credito. O
certo he que as couzas de França fe vaõ pon..
do em taõ differente dl:_ado, que podem ani:
mar feos opp0fitores, que he nova razao
ele eu os naõ confiderar taõ liberaes ; mas
os empenhos faô taõ grandes , e a fortuna ..
tao
DO P. ANT'ONIO VIEYRA: 4i 1
t aõ varia , que fernpre aceitarà quem pu-
zer em feguro o feo partido. O que eu fo-
bre tudo dezejo , _he que as influencias do
inverno, pois faõ taõ beneficas, fejaõ inui-
to confi:aótes , e que V. Excellencia ouça.
os vilhancicos de Madrid com o inteiro gof-
to e faudc que a V. Excellencia dezejo:
.Deos guarde a Excellentiffima Peffo.a de V ,
:Excellericia como os creados de V. Excel-
lencia havemos miíl:er. )loma l7 de De~
zembro- de 1672. "'
. Creado de V. Excellencia •
. \
!
Antonio Vieyri.
o
CARTAS
·c -A RT A CXXVe
·_Ao Marques ·de Go1:1vea.
E
XCELLENTISSIMO Senhor: T ar...
:> dou efl:e correyo cit'lco d.ias ·m ais do
que coíl:uma, e melhor fora naõ ha•
. do, pois me havia de tirar o ôp-ran-
v.é ·. ch. ega
1 1
Creado de V. Excellencia
....«\ntonio Vieyra.
C ARTA CXXVI.
Ao Marque's de Gouvea.
XCELLENTISSIMO Senhor : A
car.ta c:jue recebi nefl:a Po.íl:a _, pare.;.
ce repoíl:a da q:ue efcrevi na paff'ada,
em que iníl:antemente pedia e protefrava a
V. Exce.! lencia a mudança do clima; mas
corno elle tempera o rigor con1 que a_the:~
'gora tem tratado a faude de V. Excellencia,
11aõ -.m e fica lugar , fenaõ de ped.i r -a Deos
~con:-c
414 C A R T .A S
a continuaç1õ da melhoria, e admirar o ex..
nimidade de ,r.
ceflivo e generoíiffimo zelo com g a magna-
Excellencia facrifica ao bem
da Patria, e ferviço do Princepe, o que neíl:a.
vida excede todo o p1·eço. , e naõ pode ter
outra remuneraçaõ no mundQ. ·que a gloria
de obrar aflirn. ··
O modo da morte do Marques de ~fa ..
rialva me laíl:imou rr1ais , que a n1efma 1nor~
te. Aqui o lemos n1uitas vezes nas gazetas
de Genova e Ancona pa!Iado a Caíl:ella ,
fegundo _de U efcreviaõ , por defgoíl:ado. Se
aflim fofle naõ feria a .primeira ves , que a
força defte toxico produziífe féiüelhan tes
effeücs; mas o l\fedico ·Miguef Lopes , que
hoje eíl:â em· Roma, me diife , que o cu~
ràra em hurna ultima ertferíni~lade de que
lhe prognoíhcàra femelhante acide nte ,
fe naõ fe preveniífe com. outros remedios.
O primeiro dia deíl:e anno amanheceo
da mefma forte morto o Càrdeal Gualtieri,
e em menos de dous annos fe contaõ feis
Cardeaes mortos por eíl:e modo, e faõ jâ des
os que S. Santidade tem enterrado , cuidan..
do todo o Conclave quando o elegeo, que fe-:
.ria -elle o prin1eiro.
Corre
DO P. ANTONIO _V1EYRA 42;
C@rre que Babilonia eíl:â ton1ada do Perfia·-
no; n1as tambem fe imagin~ que he fama
efpalhada pelo Graõ Vizir; como ç0{h1n1á,
para defruidar os Princepes Chrifraõs. Tam-
bern fe diffe eftes dias, que Charler<?y eíl:a-
va ·tomada pelo Princepe ·de Orange , aju-
dado co111 foccorros e artelharia de Flan-
des ; mas as cartas de Bruífellas ·que ch~g.a,
r aõ honrem , defafrontaraõ os Francezes
deíl:e fucceífo , e mortificaraõ naõ pouco
aos Caftelhanos , que cantavaõ a viétori~
· co.m o fua. '
Honte1n.
me avifáraõ de Florenca,. - .eH:a-
~ .
va ren©vada e.m·Portugal a antiga liga_coin
Fra11ça, c:1ue eu naõ po.lfo c!er; mas fe eíl:es
faõ os embrioens .e m que fe 1ne fallàva, bem
podem temer-fe moníl:ros. Deos. guarde a
Excellentjf1ima peffoa de V. Excellencia, co-
mo os creados de V. Ex.cellencia havemo
miíl:er. Roma 14 de Janeiro de i.~72.
Cteado de V. Exceliencia
Antonio \(icyra.. ·
T'op;~ · 1• .
CARTA CXXVII.
Ao .l\:farque's de Go1Jvea.
E
XCELLENTISSIMO Senhor: N~õ
he novo en1 V. Excellencia honrar-
--/ me em tudo, nem as minhas cartas
podem receber mayor honra, CJUe dizer-me
V. Excellencia lhe faõ de allivio. O certo
he, qu . fe como nellas .fe trefiada a alma ,
fo pudera co1n :ellas ínfundir a faude ;, jà V.
E~cellencia ·a naõ veria de lo.nge, que he o
ciue eu fobre tudo finto. ·
Aqui fe paífa tremendo, os frios faõ ri ...
gorofiffimos, ~ os remedios., ainda que naõ
faltaõ , tambein faõ dariofos , a quem os
naõ ha cofl:um~do . .A paz de Genova fe tem
por conc1uida , mas aind1 naõ eíl:â firma-
da , e os Genovezes no mefmo tempo vaõ
alliíl:ando Efguifaros, .e Grifoens, e licenci- ·
ando todos os foldados Francezes, qrie n1i-
litavaõ em feo ferviço.
Jà avifey a V. Excellencia, que aqui cor-
ree
DO P. ANTONIO V:IEYRA. 4i7
reo que .Charlei-oy efi:ava. to1náda. pel'o Pri11-
cepe de Or-ahge co1n fôccorto das tropas de
Flandes , governadas por 1\iareim ; , nov~ q:Ué
tambem fe tev\ P<:>r_ certa em Paris , toh.~
notavel · confternaçao daquella Corte , cr.>-
mo de là efcrevem os ,, mefmos Francezes.
Triunfavaõ em Roma .. os. viz.inho-s de 'l.
Excellencia, mas dep~is 9ue fe foube a: ver"'• .
d ade do fucceffo, elles chorá<} l e os Gallos
cantaõ. · 1' - •· ' •
~··,
'428 t eA ' R ,_r A s ~.
e o partido de ElRey ·qntes dimitl11e ; qci.e
crefc_e. Os Suecos,fe entende,efraõ corri Fran~
ç.ne Bran-deub\ng obriga.dos a acodir às'fro11-
teiras , e deJen'lpara.r outras partes do feo
Efi:ado ., onde os Biípo de Nlu'nfl:er ·the ·hà
<>.c curado proximan1ente a.lguris lugares.
lito he tudo o ~ue fe paíia em· Ro1na, .pe...
10.9' avizos 111ais auth.entico,s • . Deos guarde
a EJ\cellentiffima Peífoa de V. ExcellenCia,
como o noffo Reyno , e os creados de V .
E~c\:llencia havemos miH:er Ronia i8 de
Janeiro <le 1673 ~ .
Antonio Vieyra.
C.AR-
DO P. ~NTON10 · V1EYRA , 419
; .
l ' ,. . ...
·6 AltT A EXXVIII.
~ ~
-
E
XCELLÉNTISSIMO.Senhor: I-Ion-
• tem chegou o correyo; e hoje pat-
te; ·a: de.ti:lê1-tiada tardaôÇá fazia jà
{ufp"eitar que o tériáo defvalijado alguns fal-
.
.t ead0res ·FraQcezes, como .fizeraõ eíl:es dias
a . out ·o ddfa Corte 1 que hia para Alema-
;
rea o de V. Excellencia.
Antonio Vieyra.
e TA CXXIX.
Ao 1.Warques de Gouvea.
XCELLENTIS !MO enhor: Don
a r. Excdle eia o parabem da no-
. · .a do Senh r Duque ln úíGdo~
Gera '1 q-ua na.ó deixarà de fe. e nfirma-
J
' jo
. 434 C ARTAS
CARTA CXXX.
Ao Marques de Gouvea.
E
XCELLENTISSIMOSenhor:Jà os
correyos com a fua menor tardança
nos trazem melhores novas das ne-
ves, que por eíl:as bandas em · algumas par-
t es chegàraõ a igualar as ruas com os telha...
dos , co111 tudo as naõ vimos nefi:à Corte ~
como neífa onde o frio·, ou a frieza he ma-
yor.
A difpoGçaõ que os Medicas chamaõ
neutra, quizera eu antes para a convalecen...
ça do noffo Reyno que para a faude de V.
Exc~llencia. Naõ fó ·o Conde de Humanes
pela fua parte , mas tamben1 os Miniíl:ro.s
Fr~ncezes pela fua, ouço que nos receitaõ
iníl:antemente o contra.,rio , mas as conje-
éturas prefentes nos promettem pàs com to-
dos os que perfuadem a guerra a qnem tem
taõ pouco com que a fuíl:eatar. ' .
A 14 do mes paifado entrou Inglate~ra
em Parlamento, taõ folicitada da amizade
- . dos
DO P. ANTONlO ViEYRA. 43)
=dos Olandezes, como de mutua Religiaõ;
e fe entende que por eíl:es dous intereífes,
alem do CTeral., naõ virà aquelle ·Reyno em
dar o dinheiro neceífario para as delpezas
da nova Armada, naõ efr~ndo França em ef-
tado de o fupprir ; ·com C]Ue os dous Reys ou
daraõ , ou aceitaraõ as condiçoens à C]Ue os
obrigar a neceffidade.
Polonia fe vay difpondo à uniaõ e de fe-
z a., mas vagarofameate : e o Turco, fegun-
. do referem os avizos de Veneza, faur1ca
em toda a parte o mayor poder naval , com
que ja mais as fuas armas fe viraõ no mar.
Teme-fe muito à Sicília _, que tambem com-
figo naõ eíl:â pacifica. De alguma das nof-
fas Ilhas chegaõ por cà novas:> que querem
indiciar o mefmo; mas com a rnudança,gue
dizem , de Confeífor e Medico fe fararà tudo
em corpo e alma. Envejo a V. Excellencia
a quarefma de Madrid , porque aqui fe ou--
ve todos os quarenta dias o mefmo Prega-
dor. Tireme Deos a paz e falvo de hum
Seraõm Italiano que heyde fazer a frmana
que v~m, a Rainha de Suecia, cujo extraor-
di nario e fublime genio fe fatisfaz mal, ain-
d~ do que naõ he ordinario. Deos guarde
Iii ij a Ex-
31
436' C A R T A S
a Excellentiffima P.efloa de V. Excellencia
como dezejo, e os creados de V. Excellen~
'eia havemos miíl:er. Roma r r de Março de
1673.
Creado de V. Exceilencia
Antonio Vieyra~
·CARTA CXXXI
Ao _Marques de Gouveae-
E
XCELLENTISSHvIO Senhor! Com
grande difficuldade. poffo fazer eíl:as
breves regras ' pela pouca faude com
Gue fico ; mas naõ he bem. que falte eu _à
minha obrigaçaõ , em quanto de todo me
naõ falta a vida. '
Sobre o negocio do recommendado de
V. Excellenéia falley logo ao Refident~->
que
DO P. ANTONIO VIEYRA. 437
qu~ me difle efl:ava · ·pofi:o em via , e en-
tendi o tinha tomado tanto :à fua conta.,
que naõ quer t"enha outrem- o merecimento
em fervir ao gofi:o de V. Excdlencia. N if-
to lhe acho muita razaõ, e eu tarnbem fi-
zera o mefmo , fe con1 os documentos da
materia o puderà folicitar f mas fem. elles
naõ fey que faça n1ais que ratificar de no-
vo _aos pes de V. Excellencia que eíl:ou fem-
pre a elles para obedecer , e feguir as ~r
àens de V. Excellencia ·em tudo o que V .
Excellencia for fervido mandar-me; e ifro
fem nenhum efcrupulo , porque fey ciue o
affeél:o e Theologia de V. Excellencia fe a ..
coita fempre às opinioens mais provaveis . .
Da faude e vida da Senhora Rainha de
Inglaterra li hontem em huns a'Vizos da-
<]Uella banda muito ruins novas; mas naõ
devem ter fundamento , pois mas naõ da
Duarte Ribeiro. As de Polonia faõ fó dos
preliminares da uniaõ, à que fempre accre-
fcem difficuldades. O Turco affiíl:e aos re-
, beldes de U Egria ~ e os Aíl:rologos. Italia-
nos rt•~o aífeguraõ delle efra fua terra ; e
tambem parece _CJue fallaõ na noífa , ,e na
Il J. Terceira. As pazes de Geç.ova com
Sa-
43 8 · C A ..R .1"' .A S . - ·
Saboya fe- havia.ó de p11blicar honte1n, ce~
dendo a Republica em·algu.ns pontos do ho ...
norifico, por conforvar o de Fr3:nça. Deos
guarde a V. Excellencia muitos annos .co ..
mo dezcjo, e os creados de V. Excellenda.
havemos mifl:er. Ron~a 15 de Março de
1673.
Creado de V. Excellencia ·,
.Antonio V ieyra"
\.
CAR~f A CXXXII
Ao.Marques de Gouvet1.
)CCELLEN'TISSIMO Senhor: Bern
creyo da falta de carta m_inha no
-'li&..-"""' · correyo paflado, infe~iria V. Excel-
lencia ficar eu em efi:ado que o naõ ·pode- .
ria efcrever; e affim. foy, -porque ainda hoje
faço eít.as regras na cama, para onde me trnu-
xeraõ em b.r aços hà dezoito dias, ferido ·'lii
caheça,
·n o P. ANT·ONIO VIEYRA. 439
, cabeça , e eíl:ropeado de huma perna, por
haver cahido de noyte por huma efcada de
pedra,. com grande perigo da vida por fer
defcend~ e de rofro,com todo o pezo do cor-
po, e dos meos annos. - Mas a Deos graças;
depois dos coíl:umados martyrios , j à me co-
meço a)evantar [obre humas muletas. Ago-
ra me receitaõ os ares de Albano, donde
rn€ recolherey 'e m ciuanto, ou quando naõ
permittirem mais auzencia e mais allivio
as mutaçoens de Roma.
A morte de Pedro Fernandes Monteiro
fenti, porque -0 merecia o feo zelo, e tam-
bém o que falta·em muitos. Os finaes de
'-predeíl:inaçaõ com que acabou, naõ bailaràõ
contra as lingoas dos que invejaõ a heran-
ça de feos filhos , a quem fe prognoíl:icaõ
.cuílofos pleitos com a Fazenda Real. Ao
Conde de Caíl:ello-melhor aviz'a õ, que aa
·hora da m,o rte fizera huma folemne decla-
raçaõ e proteftaça6 de fua innocencia por
meyo do Padre Confeífor. Naõ fey fe baíl:a-
r.j; ~<te. .. ,,.fl:emunho para o tirar de Turim ,
onde [e acha bem viíl:o, más faudof0.. de :Ilia
r'-::'à. Os dias paílados efcrevi a V. Excel-
le- ~'ª que no antecedente fo publicara a pàs
de
440 CARTAS
de Genová com Saboya; mas naõ foy afiirn ;
porque fe dilatou athe fabbado r 5 do cor-
rente. Elles naõ eíl:aõ fatisfeitos por alguns
pontos de reputaçaõ; nos quaes julgàraõ de-
··viaõ .fatisfazer rnais a. ElRey de França ,
·que ao Duque. Na pàs de Olanda fe . fa.lla
muito, e fe cre a dezejaõ todos os -interef..
fa.dos , e naõ menos os vitoriofos. Só os po...
bres Catholicos de Inglaterra tem jà a guer..,
.ra declara.da e nomeadarnente os Jefuitas.
Polonia ei1â iquieta,, e ElRey reconhecido ,
n1as naõ parece que em tennos de fahir eite
anno em campanha contra o ,..furco, de cu··
. jas armas efcreven:i gran.des apparatos os v e..
nezianos, e no refi:o da Italia he mayor o
receyo, que a prevençaõ. EíHmarey que eíl:e
correyo nos traga inuito melhoradas ;novas
de fa.ude de V. ExceHencia, que he o que fó
rne dà cuidado d'alem dos Pirineos~ E Deos
nos guarde a V. Ex:cellencia muitos annos
como o Reyno, e os creados de V .. Excel ...
lenda haverr10s mifter. Ito·m a 27 de Abril
de 1673. j.
1
. • •
CARTA CXXXIII~
/lo Marques de Gouvea_.
'C
:
OM grande cuidado e alvoroço ,ef-
p;ro êíl:e co~reyo, entende~do .que
Jª me podera trazet a dezeJada no-
va dos bons effeitos que o~ Me~icos prome...
tiaõ à inteira faude de V. Excellencia na
cura da Primavera, que pord.l:a banda tem
fido ·mais quente que frefca. ·
Com o ultimo Extraordinario deíta Cor ...
te fe tem accrefcentado a confufaõ , e naõ
vencido as di:tHculdades, que cada dia faõ ,
ou fe fazem mayores contra a breve expe-
. diçaõ_, ou declaraçaõ dos dous · Capellos.
Carregaõ-fe as defculpa.s fobre o 11arque-s
de Aftorga, e tambem fe affirmaõ ·occult1s
inff uencias de muitos poderofos Miniíl:ros de
Hefpanna: Prefume-fe que iíto fe quer dila- ·
tar athe quehaja cinco Capellos vagos, com
quP juntamente .fe fatisfaçaõ as obrigaçoens
. Tom •. !. Kkk . da.
4 ..p, , e A R ·rr A s
da Cafa. Rofpilhofi, e as do no,v o parenta...
do da Cafà Coiona, a quem eflà prometti··
do, e os fei-viços e merecimentos de Mo n-
fanhor Crefcenti Meíl:re de Camera de Sua
Santidade, que geralmen te fe efpera ferà feo
fu cceffor. Os Embaixadores de l-Iefpanha e
F-rança, como taõ intereffados nefra promo-
çaõ,fe unen1 fortiffi1narnente no requerin1en..
to della , e fe vifitaõ frequenterr1ente com
Jarg as conferencias.
. ·Publicada e1n França e Inglaterra a
Guerra contra Olanda, vay-fe paffando aqui
e paffar-fe-hà todo o ~.fayo e1n difcurfos e
.erognoíl:icos do fucceífo , q ue nem todos af-
feguraõ aos authores. Tem-fe por certo .q ue
lhe naõ faraõ embaraço as armas do Empera-
dor , e que eftas teraõ affás que fazer na reíif-
~en cia .do Turco, cujos defignios fe naõ co-
nhecem athegora com certeza,.porque as·dif-
fenfoens de Polonia parece_que o convidaõ ·
àquella parte, e as obrigaçoens e intelligen-
cias dalJ ngria e Croada, parece., o naõ cha-
m aõ menos a eíl:a. Os avizos . de Veneza
concordaõ em ·q ue tem feito ponte iobre o
Danubio, e que vay marchand0 para Bel~
..gra~o com oytenta mil Cavallos e fet :nt_~
mu
DO P. ANTONIO .VlEYRA. 44~
mil Infantes, a quem feguirà o Graõ Vifir
com o reíl:ante do exercito que fe forma
d:n Andrinopoli.
Suppoem os Italianos que aproveitan-
dofe Portugal da occafiaõ,recuperarà a India,
n1as quando ouvem que partiraõ para là f ó
tres Naos, e que .óaõ ha dinheiro, dizem
o que naõ refiro por naõ molefrar mais a
V. Excellencia. Efcrevem de Lisboa que te-
mos lá facçoens de Cabelleiras, e Golilhas. /
Creado de V. Excellencia.
Antonio Vieyra.
Kk ij CA ...
4444 · C ' A R. T A ·S ·
CAR1~A CXXXIV. ,
Ao Marques de .Gouvea.. ,
E
'·
CARTA ··cxxxv.
Ao Marques de Gouvea.
'
'T
XCELLENTISSIMO Senhor: Naõ
quizera que a faude de .Excellencia
fofle neutra ; defie genero, e por efi:e
meyo fe paffa ao fi.111 gue tanto dezejamos
e havemos miíl:er. Supra Deos o que athe-·
gora naõ pode a medicina, pois o merece
a fineza com que V. Excellencia. efrima
mais o bem da Patria que o da faude, e quer
antes a paciencia , que a mudança. Ouço
que fe aconfelha efra a V. Excellencia .c om
todo o amor e efficacia , mas eu me naõ
quero retratar de fer mayor generoíidade
fervir aos Princepes que obedecer aos Pays,
pofro que he o diétame da Senhora Mai::-
queza qne eíl:â em Lisboa , e do mais fiel
creado que V. Excellencia tem 1em Ro ...
ma.
Aqui fe fes agora promoçaõ de quatro
Cardeaes
448 ó A·R TA s
Cardeaes, N erli, Flor~ntino,que eftava Nun...:
cio em França, Ca-~áldi, Genoves, Thezou...
reiro da Camera Apoftolica, Cafanati., Na-
politano Secretario da Congregaçaõ de Bif...
pose Regulares; Bafadoni, Veneziano, Pro··
curador de S. IVIarcos , que foy En1baixador
ne!la Corte ., ne.íl:a, e na de Inglaterra; to-
dos .a lfim Italianos ; ficando o quinto Ca-
pello in peElore, ·e naõ . fen'do, nen1 haven-
âo fer rpara Portugal , pofto que .os preten""
dentes , daquelle Reyno fe deixàraõ facil...
mente enganar na ciença, ou efperan~él do
contrario.
.Senterr1 os Gaíl:elhanos por cà , que çm
Madrid fe feguiffem ·votos de paz , que os
Francezes igualmente e!Hmaõ e çelebraõ,
promettendo-fe a ~ltim~ vitl:oria d.e Olan""
da, que ferà o principio da fua guerra. ·Peyor
he [ó, que bem ou mal acompanhado. J?e
Polonia e do Turco -ainda naõ hà couza
'
certa , mais que 'Os r.uin~ v aticitiios , que
cóíl:uma prometter a pouca ~niaõ e pouéo
dinheiro. Deos proveja deíl:es dour foco!ro.s
ao noffo Reyno , donde fe efcrever;n muitas
-couzas em cont.r ario ., e a V. Excellencia.
guarde, como dezej o , e ~ mefmo Reyn~ , e
os
DO P.-ANTONIO VIEYRA. 4-4~
os creados de V. Excellencia havemos mif-
rer. Roma 17 de Junho de 1673.
Creado de V. Excellencia
...~ntonio Vieyra..
CARTACXXXVI.
. Ao Marques de Gouveatb
E
XCELLENTISSIMO Senhor : Mui ...
tos dias hà me naõ alegràraõ tan-
to as cartas de que V. Excellencia;
me fas mercê , como efi:e efcritinho de 3I ·
de Mayo , todo de dentro e fora da m aõ de
V. Excellencia , gue parece hum grande re-
greífo da intefra faud~ ,, de V. Excellencia
eíl:ar reíHtuido. àqúclla· antiga diligencia,.:
e robuíl:êz , com que r.fepois de haver viíi-
tado todo o hofpital ,_ às oyto horas da man-
hãa em menores dias que os d'ag·o ra, tinha
V. Excellencia defpachado por 111aõ pto;·,
Tom. 1. Lll pria
450 C AR T A S
pria a mayor parte do correyo.
N eíl:e foube qi1e mandàra V. Bxeellen...
eia requer1er a graça do Chantrado de Evo-
ra para htlm filho _da Senhora, <Sondeffa de
Santa Cru~: e tambem V. Excellencia ha...
. vera f'1:bido as grandes diligencias e em..,
penhos, que ainda defta Corte fe fazem pe-
lo mefmo beneficio. V. Excellencia fen1-
pre obrou com menos trabalho , e mayor
effeito, porque applica, -e fe ferve dos inf..
trumentos mais proporcionados , como V.
Excellençi._a fez neíl:a úccafiaõ , em gue ~f.·
pero prevaleça o_ refpeito de· V~ Exce~len ...
ci~ a todas. as outras negociaçoens : as que
couberae na minha esfera, foraõ, apontar as
ra~ões, da pr.eferencia,e incom:paravel excefio
della, com-tudo o mais, naõ .fondo neceílaria
niuita eloqué·cia para o perfuadir, e- o dig~ pa-
rn·gue feja prefente a V. Exc. que naõ falto à
müi:ha oorigaçaõ, nem 1ne he neceffa-r io . nas
mater-ias de farviço de V. EX!ccllencia outro·
av-izo ·, que a nGticia delle-.
·. Aqui oomeçll:Õ a. chegar- as. p.i:imeiras ·
flores· da Campflnha, que· queren.dofe co-
lher· em Sa:ns cfe e;ante, por [e-haverem d'éf--
Cll_b_eno· certas inte1iigencias. , [e patfou o
. ex.erc1to
. DO P . .ANTONIO .VlEYRA. ~ri
. exercito d'ElRey Chriíl:ianiflimo a M~.íl:rich.:
1nenos bem prefidiado eH:e anno , que o
paífado , e com manifeíl:o rifco , fo nefia
Corte , e na de Viena fe na.ó derretem os
gelos da ' fri~ldade Aie.mã.a .
· Das Armadas navaes fane.mos <]Ue fe
combateraõ em Oíl:ende aos fete- do pa!fa-
do , e que <lutou aqueHa. bata1na del<..1e ó
meyo dia athe às oyto , em que fe- viraõ
arder, e voar alguns Navios, porque o vert-
t o os hia amparando ; ~ fe entende, !ilie no
<lia feguinte tocnariaõ .a provar , ou conti..
nuar fáttuna. Dentro em quatro dias fe ef-
pera aqui hum Etnbayxador de Mofcovià,
De Polonia e Turco 11aõ ha mais que
preparaçoens. Deos guarde á V. Excellen•
eia muitos annos , como d Reyno , e o
creados de V. Excellencia havemos mifte;.
Roma e> primeiro de Julho de 1673.
Creado de V. Excellencià.
Antonio Vieyr-a.
.
Lll ij CAR..
451 C A R T A S
CAR1~A CXXXVII.
Ao Marqu.e's .de Gouv.ea. ·
E
XC::ELLENTISSIMO Senhor: Naõ
fou taõ defvanecido, que cuide, me-
rece a minha faude o cuidado de
V. Excellencia, mas fou taõ experimenta ..
do na n1ercê com que V. Excellencia hon . . ·
- ra a efte creado feo , que naõ duvido . to-
da a demoníl:raçaõ que V. Exc. he fervido
.f ignificarme. De Deos a V. E.xc. a inteira
faude que eu dezejo, que tudo o mais im--
porta po,uco. Nem o retiro de Albano, nem
outros divertimentos me ajudaõ a reparar os
dous principios da vida , em que fempre
me vejo mais atrazado, naõ podendo dor-
mir, nem lograr o comer; co1n que de no-
·vo me receitaõ os ares de Napoles , que
por ferem deífa Coroa , . naõ fey fe me fe-
raõ mais favoraveis ; ma~ ainda naõ fey o
ciue ferà em quanto eframos nos mezes em
que fe naõ pôde entrar , nem fahir de Roma.
. Aqui
,
DO P. ANTONIO. VIEYRA. 4.53
Aqui fe ficaõ dando batalhas [obre o
Chantrado de Evora , em c:iue no fegundo.
.correyo foy foccorrido hum filho do Con-
de de \ 7 illa Flor com huma carta, em que
S. A. ordena ao Refidente o peça para elle
em fe o nome, com que fe fufpenderaõ to-
t1as as a.rrnas do noffo Reyno, affiíl:id:is po.,.
<lerofamente de quantas Purpuras ha em
Roma, empenhadas as mais dellas por in-·
tercetfaõ deíia Corte: e iíl:o he tudo o que
poffo dizer a V . Excellencia fobre eíl:e ne-
gocio , em que o Refidente , ~orno jà ef-
crevi, fe mofrrou taõ fervidor de V. Excel-
lencia , que naõ- qui~ deixar parte de-me ...
r_eci.mento aos crcadbs que V. _Excellencia
agm tem.
·_ Tambem ouço , porque o naõ fey por
via mais authentica, que cedo hirà a S.- A.
hum Breve extraordinario para que íe coroe;
[ó me havia dito o Refidente por vezes ,
GUe S. Santidade de motu proprio lhe fal-
lava niífo; e me declarou m ais o dezejo e
conveniencia da cooperaçaõ. E que me di-
. ra V. Exceltencia a correr em Roma, c:iue
ElRey Carlos II. caza com a Princeza de
Portugal, allegandofe exemplos J de que os.
.; . _ def.
4J4 C A R T A S .
ddpoforios fe podem celebrar ern taô pou.,;
cos .anno,, r En naó pe.rgunto a V. Excel:.
iencia eíl:e arcano , porque e naõ c1·eyo ;
. ·ruas fe V .Exc. mo perguntar, quem fe nom.ea
·por author ddl:a grande obra., podello-hey
dizer a V. Excellencia , e quando tenha
qualqu@r fundamento , direy tambem·o qu~
finto. .
Se V. Excdlencia rern mais. certas no·
tiçias do fncceffo das fres batalhas navaes
~ue 3.qui chegaõ: por Fb.ndes, e França, tf...
vr';trà V. E:xtcellencia a Roma da mayor
confufaõ, ~m que fe viraõ as duas pareia...
lidades ; fe bem a de França, com ·as hof-
tilidad@s con·tra Genova, fempre vay dimi ..
_ nuindo entre os Italianos. Em quanto fe
naõ confegue o 6.m de lançarem os Reali...
ftas g©nte ~m: terra de Zelanda , ou Oian-
da, fe eíl:aõ <l.e .m elhor partido os Olande-
zes, ainda que fe queitm.em Ruiter e Tromp.
Poionia m1l an:;natl;a. co,m o dantes.No Tur ..
QO. atll-eg0ra naõ fe, fali.a, conw o anno pa.f-
fado. As Gah~s d'e Maiha tiveraõ , huma vi~
étoria, em q.u e. tomàrao qua·nro Navios. , e
tmtf-Os· quatro maitto ricos . Agora me d_i-
~m." que SJChemhevg he paífado a lngla...
terra
DO P. AN1TON.IO VIEYRA. 45 5'
talia para ·go'v·er:nar as armas terrdhes em
Ze1andaJ, ou Ola nda, com que parece: fe ef-
pera po.dede·fazer @defe11nb:n_que.Beos guar-
de a V.Excelfon-cia·muit:os·annos,com:o deze~
Jo, e-os· cread©~ de. V. Excellerrcia havemos1
miiler.. Ro1na· 111. dh Julho dé 167 ;.
Cr:ead©·de·V. Excellencia.
Antonio Vieyra,.
. .
:c _A R TA CXXXV1[I.·
~- Ao · Marques de· Go14vea~
E
' .
)f€E1.~EN1JISSIMQ. Senhor. : Hon-
ten~. ch.eg'àraõ-- aqui · dous Pad resA~~
raibidos- , dando de, cordonaços as
mutaçoens i de R:.on'la' que me- de'ra:õ muito·
p-a rticuJa:res· e mdhorad-as · novas· da· faude·
de. V . Ex-c ellência:, con-1.as ·quaes· me tinhaõ
a-ífaz fubor.nado: ~ fe eu fora_ Miniího. da
Con-
4;6 C A R T AS
Congregaçaõ , aonde vem bufcar ta.ó cali...
ficada juíl:iça. Eu me offereci a fervillos em
c_]nanto por mim , e pelos amigos preíl:ar ;i
como farey, e devo em tudo o que V. Ex-
c:ellen ci~ fo.r fervido ordenarme. Jà raeífa.
Corte fe crerà, que ElRey de França ci-
tiou, e rendeo Mafirich em menos de quin ...
ze di.as. Todos os Italianos que eíl:avaõ den··
tro , e os Cabos Hefpanhoes morreraõ , e
depois que ficàraõ íõ os foldados Olande-
dezes , fendo mais de quatro 1nil , naõ Pº""
de o Governador ,. matando mais de vinte,,
obrigaUos a que fizeffo.in cara ao inimigo,
e affi.rn fe rendeo. Eíl:es faõ os valentes que
nos tem em feo poder Mina, Ceilaõ , Ma...
laca , Cõchin1 , e tudo o mais. N aõ fey fe
bafi:arà efi:e exemplo , fobre o de Pernam-
buco e Angola, pa.ra que os conheçamos ;
e nos conheçamos , e naõ queiramos , que
das vittorias de França fejaõ os mais ricos
defpojos os noífos. Jà naõ po!fo refponder
às injurias que aqui fe dizem contra nós ,
naõ ficando de fóra os vizinhos de V.· Ex...
cellencia com terem mais apparente defcul..,.
pa. Os Polacos, com.o fe aconfelhàraõ co1n
huma terra que eu fey :> naõ fazem nada na
· · fua
DO P. ANTONIO VIEYRA. 4s1
,fua. O Turco eíl:i ja com grandê .exercito
.cm campanha. , efperaõ-fe as novas que fe
podem efperar; e aqui fe vive, e bebe frio
alegremente; eíl:amos em vefpera de Santo
.Ignacio, dia muito occupado neíl:a Caza..
·Deos guarde a V. Excellencia ~ como deze-
jo , e os creados de V. Excellencia, e o
no!Io Reyno ha rniíl:er. Ron1a 30. d~ Ju·.
:.fho de 1673.
Creado de V. Excellencia.
Antonio Vieyra:
·e ARTA CXXXIX. 1
- Ao Marques de Gouvea•
.·E ·
·
XCELLENTISSIMO Senhor : Ha
muitos qias me falta o coíl:umado
favor de novas de V. Excellencia,
:e comparando a noffa Corte com a de Ma""!
e Tom. I. - · Mmm . drid >.
·458 C A R T A S
·drid, neit~ differença naõ lhe acho outra,·
·<jUe a de frr Corte e111 Cortes, e por iífo ._eu
tambe1n com advertend~ (e naõ defcuido)
·1ne tenho abíhdo em alguns correyos ~-e to-
niar o tempo a V. Excellencia, que fup~
ponho muy occupaclo em confolhos , pois
naõ acabaõ de fahü- as refoluçoens, que teú1
fufpenfa a expeétaç.aõ. do mundo.
Efte noífo goza feliciffima paz, e naõ
fe fabe o no~ne a /temor, nem a guerra,
mais que ciuando chegaõ os correyos do
Norte, em que athegora a tem embargado
os gelos, poíl:o que com duas fangrias, hu:..
· ma ~m Borgonha, outra no Palatinado, de
que naõ correo n1uito fangue. .
A Genova fe pedem ainda de França os
Artilheiros > que conftantemente fe negaõe
No 'Turco naõ fe falla. Kaminies eftà ci-
ti'ada pelos Polacos, e apertada em tal fór-
rna, que por hofas fe efpera a foa recupe ...
raçaõ. N eíl:e rnez, efcrevem, [e farà a e1ei-
çaõ de Rey: e queáthegora moftraõ ter n1e-
lhor partido o Duque de Lorena, e o filho
do Princepe de Conde. A coroaçaõ de S.
A. fe efpera e dezeja , e fe prognoftica ~ '
9ue ferà com aufpici0s de clení.encfa, _haf...
. · · ··. tando
DO P. AN1~0NIO ·VIEYRA. 4))
tando por caftigo a algll11S delinquentes h~...
vello merecido. Ao Senhor Bifpo Conde ,
fe ainda he hofpede de V. Excellencia , bei•
jo mil vezes a maõ , e Deos guarde a V •
.Excellencia. R oma 7. de Abril de 167 4.
Creado de V. Excellen,cia
Antonio Vieyrá\.
C ·A RTA CXXXX.
Ao Marques de Gouveae ·
E
XCELLENTISSIMO Senhor: Hu..·
·n1a carta que n deíl:e correo' diz ,
que fervem neífa Corte os Confe-
lhos de Eíl:ado; e eíl:a occupaçaõ, junta com
a da continua affiíl:encia do Paço, creyo de
a caufa de me. faltarem ha tantos dias no-
vas de V. Excellencia. Nunca tanto as he
zejey, nem ta~to as houve miíter, porque
Mmm ij de
46'e C A R T A S
depois que V. Exc'ellencia me ·fez mercê
dizer, achàra Lisboa convertida em Baby-
lonia, todas as confufoens que de là fe ef-
crevem , fe me fazem criveis; e fendo tan-
tas e taes , que excedem toda a fé , bem
conjeéturo qual ferà em todas as materias
o voto de V. Excellencia, mas temo mui-
to, que naõ fejafeguido, pois todos os avi-
zos vem cheyos de queixas, e dilaçoens, que
faõ melhores para temperar achaques, que
para farar enfermidades agudas , e de íimp..
tomas taõ perigofos, como por ca fe pu- /
bHcaõ. Os que V. Excellencia n'outro ten1-
po chamava vizinhos, nos promettem pou-
cos n1ezes de vida , e os que agora faõ vi-
zinhos de V. Excellencia nas reíhicçoens,
e mi.íl:erios com que fal iaõ; parece que i:e-.
ceyaõ o mefmo. Sirvafe V. Excellencia pe-
'ia mercê que ·v. Excellencia me coíl:uma:
faz€r, naõ de communicarn1e os arcanvs
facrofantos, mas de mandarme participar
o que diz a regateira de V. Excellencia :r
que fempre ferà mais, ou mais certo, do
que mo.íl:raõ faber os noífos Miniíhos def-
tas bandas.
Das guerras e pazes do Norte terà. V.
Ex. .
DO P. ANTONIO VIEYRAr' 461
Excellencia mais .frefras noticias das 9ue
aqui chegaõ todas as femanas. As de Le-
vante faõ fempre incertas, e aflim fe diz de
novo; Gue o avizo de haver o 1'"'urco meti-
do foccorro em Ka1ninies he falfo. D'ElRey
de Polonia naõ ha ainda refoluçaõ. Accref-
centa-fe aos oppofitores de França e Lo-
rena, e Brandeburg o filho do Mofcovita
com grandes partidos, hum dos c:iuaes he
fazer-fe Catholico. Qaqui foy algum dinhey-
1·0 ( naõ muito) tirado das decimas dos Ec-
cleíiafticos, entrando ta1nbem . os Regula"."
res, c:iue para eíl:e fin1 fe lhes impuzeraõ de
~ovo. O Embayxador de Veneza reclamou
pela fua Republica. O de Genova efl:à jà
accommodado com França , de.fi.íl:indo· El-
Rey da pretençaõ dos bombardeiros , e
mandando reftituir a gale a Marfdha , em
que fe · efpera triunfante Mon.fenhor Du-
razzo. Correo eíl:es dias, que D. Domin ...
gos. de Guzman fora morto em Bolonha de
hum arcabuzaç·o; agora fe começa a dizer
<_J ue fora. falfo; mas he coHume neíl:a terra
matarem os homens' ·aas Gazeta·s , e avifos
p ubl.icos ou fecretos., quando naõ querem,
ou naõ podem ·vingar-fe de outra maneira.
: o
46t C A R T A S
O Papa naõ fó vive, mas eíl:à . para. viver_
muitos annos.
· A Rayn ha de
Suecia efrà mal tratada
de huma queda, e eu fou taõ defcortes ,
ciue naõ fuy à fua antecamera faber como
eíl:ava, fendo pafiadas tres ou quatro [ema-
nas; o que naõ digo fem myíl:erio, por cer-
ta allufaõ de huma· carta que recebi neíl:e
correyo; e folgarey que là fe fayba , que
poíl:o que fiz todas as prégaçoens, naõ acei-.
tey o titulo , nem provifaõ , nem beijey a
maõ àquella Mageíl:ade, nem fiz aéto , pe-.
lo qual me pudeíle obrigar ao reconheci-
mento do feo ferviço .o mais efpeculativo
Jurifconfulto; [alvo fe algum efperava-, que
eu lhe déíf~ conta da obediencia dos meos
Prelados. Se a V. Excellencia chegou algu..
ma noticia da allufaõ que digo, e a mim.
n1e naõ declaraõ , eíl:imarey muito faber o
fundamento, porque eu lho naõ acho, nem
de falto. &e. Qeos guarde a V. Excellencia~
Roma 2 r. de Abril de 167 4.
Creado de V. Exc.
4.ntonio Yieyra·.
A
DO P. ANTONIO VIEYRA." -463
A Senhora D. Maria Henriques, iíl:o he,
Irmãa do Torre, me mandou -agora rega-
lar com huns doces à Portugueza por eu
andar indifpoíl:o, acompanhando o n1imo
I
CGiTI hum efcrito de muito rnà letra , em
que me pede o faval· de \T. Excellencia. fo-
bre hun1a reviíl:a de certa demanda de feo
' Irmaõ, que eíl:à ·em maõ elos Dezembarga-
dores Joaõ-Carvalho de Maris , e Joaõ de
Roxas de Azeve.d o. V. E::ccellencia pela mer-
cê C]Ue fempre me fez nefre Tribunal, fe fir-
va ampararme neíl:e foborno, def6rte que
na© tiq ue obrigado à reíl:ituiçaõ, e para
·q ue ·v.
Excellencia incline fua piedade a fa:--
vorecer a caufa _, accrefcenta a fupplicante,
.q ue ameta de do procedido C]Ue lhe p erten-
ce, a t em dedicado ao dote de duas fo bri-
nhas ' qu e ciuer meter fr eiras' e nefra terra
chô 1nelhor conta de fi , que em Bej a. E
{obre t udo me guarde D e9s a V. Excellen-
cia. Segred o na fórma do m emorial, que fo-
- bre tr es fe n tenç as confórn1es, efpero que
tenha j uítiça.
.. t
'·CAJt ...
CARTAS
Ao Marque's de Gouvça.
XCELLENTISSIMO Senhor : Por
certo que naõ faberey fignificar a
V. Excellencia os effeitos que cau..
fo11 na minha alma eíl:a carta de que V. Ex..
cellencia me fez merce, efcrita e1n 2-4 de
Abril, havendo tantos dias que fe tinha def..
continuado eíl:e favor, nunca interrompido
em quanto V. Excellencia efreve em Ma·
drid. Os ar~s de Lisb.o a, bem fey que me
naõ faõ propicios, mas tambem me tem en~
.finado a experiencia , que a benignidade do
animo de V. Excellencia naõ fe muda com
os climas.Eaílim me ficafó lugar defentir,que
a caufa deíla differença feja a que V. Ex-
,. cellencia tem padecido na faude : quererà
Deos que as agoas de Afpaà c~m a entrada
da Primavera tenhaõ obrado os milagres
que os Medicos promettiaõ da fua taõ ce...
lebrada. virtude ; mas tambem tenho ou ..
· vi do
DO P. AN1o\ONIO VIEYRA. 465
~rido gue fóra da terra do feo nafcimento
naõ coflumaõ ter tanta efficacia. A nova
Raynha de Polonia, Franceza de J'.'Jaçaõ ,
tem t al propriedade , (_]Ue concebendo na-
quelle R.eyno, para que folhe logrem os par-
tos, bade vir a parir à França. E pois fal-
ley en1 Polonia , ,q uero pagar à rega_teira
de V. Excellencia de quem fempre naõ fó fuy
devoto, mas devotiffimo às fuas frutas no·-
vas, de gue V. Excellen eia foy ferv ido fa··
zerme participante , muito differentes das
que por ca fç vendem.
Eíl:a manhãa chegouExtraordinario de Po-
lonia, contra a efperança de todos os avi-
fos, . que aos 20 de Mayo fora eleito por
r:y o General Sobiekhi com univérfal ap-
plaufo, ven cendo as invejas da ultima vi-
l.toria que teve contra os Turcos, e os em-
penhos de todos os Preteníores , que era
hum Ir_m aõ d'ElRey de Dinamarca , hun1
filho do Eleytor de Brandemburg , e Gu-
tro do Princepe de Conde , e con1 n1a-
yor partido que todos, o Duque de Lore-
na , naõ fallando no de Parma , ·em cuja
coroaçaõ eíl:ava m y empenhada a Caza Bar-
herina. A Irmãa do Emperador que fe ef..
7óm. !. Nnn perava
~ '\(D
- 1
1
466 CARTAS ·
pera.va ca.zaffe nefta eleiçaõ , tornarà, fe..:
gundo fe cre, para Viena, onde ella naô
ferà muito applaudida , -t.porque Sobieíchi
por affetto e beneficies, he todo Frances ;
mas rerà Polonia a Coroa na cabeça de
hum grande foldado ' bem neceflario con-
tra os exercitos do Turco , que unido com
o Tartaro campeava fem reíifrencia. El-
Rey de França, quando fe cuidava hiria fo ....
bre Flandres , enveftío a Franche-conte ,
onde entrou nos primeiros de 1.vfa y·o, pon""
do Gtio a Befançon, que athegora fe defen·..
de galhardamente. O Conde Caprara por
carta que ~ui efcreveo a hum feo Irmaõ,
como h.um dos Generaes do Imperio , pro-
mette introduzir foccorro a viva força, fem
embargo da oppo!içaõ do N[arifcal de ·Tu...
rena, prevenido por ElRey para lhe impe-
dir o paífo. De Flandres para onde pa.rtiG'·
o Princepe de Conde, (e naõ ouvem athego-
ra mais que bravatas. Vi carta de peífoa
fidedigna, em que fe referia haver dito o
Conde de Aífentar,que a Liga fe achava com ·
cincoenta mil cavallos. Trõp e Ruiter tinhaõ
partido a embarcarfe na Armada, G~e {obre
hum grande numero de V azos grandes, lev~
mais
DO P. ANTOl'l.I O VIEYRA. 467
mais de cento menores para o defem lJar-
que. Naõ fe fabe onde defcarregara o ra-
yo; que fe entende ferà de pouco effeito
em qualquer porto de Fra9ça. De N apo-
les , Sicilia, e Sardenha partern as Gales a
aJuntarfe c01n as. do Dugue de ·r o.d is e.m
Barcelona, e dizen1 os antigos vizinhos de
V. Excellencia 1 que eíl:as co1n as demais,
e1n numero de trinta e cinco) encorporada.~
co1n a Armada de Cadis, e outros Navios
Olandezes citiaràõ Colibre por mar, nar . ..
chando por terra o Dúque de S. Gennan
com vinte e oyto nlil infan t es , ·e oyto nlil
cavallos. Se affi1n he, bern tera .que fazer o
Conde , ou Duque de Scho1nberg , mas p:a··
rece a forma do apparato ·mayor que o n ..
1ne da ernpreza. O Papa eíl:à para abrir e
fechar a porta do Anno Santo, e ífto he tu
cio o qn~ poífo dizer a V. Excel1e11c1a· de{:.
tas partes, fendo 1nuito mais as novas que
pudera dar de Lisboa. O noífo :R elidente
da a entender q ue S. A. fe coroa , e affirn
O· H em hmua 'C3.rta fua j e com fel'Ctl.1 eíteS
fegredos taõ publicas, naõ mereço. fer par~·
ticipante delles : e acc ·efcentava a dita
cana, ferà [em duvida, .ainda qt;ie nenhuma.
· Nnn ij cut1..a.
~ t.)1
4.68 C A. R 1 A S .
outra o diífe:ffe, e {.anteS> o contrario. Ao
Senhor BifjJo Conde, rrre.o Senhor, beijo. mil
vezes a maõ, e rhe alegro de ·que os achaques
de ·S,, Illuíl:riíli.rt}a kjaõ os qi:,1e·.mais aifegu·~
.l·aõ ambas a.s raizes da vida. Deos guatde
a. ·V; _Exceil encia muiü>s annos , como e.íl:e
R.eyno, hoje mais gue nunca,- e os creaçlos
de "l. Excellencici haven1os ·nüfl:er_. R.oula
3. de Junho de 1674. -· · · · · ·
1 1,.
' '
Creaclo' de V$ Excellenci~
.Antonio V~eyra. .:
FIM
.
do.Primeiro
. Torno.
- ~
rc· -