Você está na página 1de 358

.

\
""
COLLEcç·Ao
DA
1-1'

LEGISLAÇAO
ANTIG _-'\. E MODERN-A
DO

REINO DE PORTUGAL.
PARTE 1.
- -, ..
~

D A L E G IS LA Ç A Õ A N T I G A.

Por Refoluçaõ de S. bÍAGESTADE de l de


Setembro de 1786.

' , ...
... ~--:: -_

1'
·O RDENAGOENS
DO

SENHOR REY
D. MANUEL.
. - -

L 1 V ll O III.

COIMBRA:
,

-NA REAL IMPRENSA DA UNIFERSJDADE.


ANNo DE Mocq;xxxxvu.
/ ·

..
'

I'

' ..
TA V· O A D A
D O · T E R C E 1 R O L 1 V R O.,

TITULO 1. Das citaçoes e como ham de


feer fritas. pag. I
TIT. II. Em que cafos fe pode citar o Procu-
rador do Reo no começo da de01anda. 10
TI T. 111. Dos que podem fcer citados na Cor-
te , e dos que o nom podem feer , poíl:a
que nella fejam achados , e do-prJ_uilegio
dos Embai xadores. I2
·"'I'IT. IV. Dos que podem trazer feus conten-
dores aa Corte pér razam de feus priuile-
.
I 5
\
g1os.
TIT. V. Dos que podem feer citados). e tra-
zidos aa Corte , ainda que nom fejarn /
achados em ella, e do.que fe obri~ "'"~~ ~ - 1_
n{ponder em outro Juízo. 19
TIT. VI. ~e .Concelho, C9rregedor, ou Juiz ·
nom fejam citados fem Mandado .efpecial
d'El~ey. 23
TIT. VII. Dos que poç1em e deuem fee~ cita- ,
dos que pareçam peffoalm ente em Juizo. 24
TIT. VIH. Dos que nom podem feer- citados
por caufa de 'feus Officios , ou Peífoas, ou
Luguares, ou por algua outra caufa legi-
tima ; e quando os Officiaes feram fuf-
penfos. 27
TIT. IX. Do que he citado pera refponder
Liv. llL *3 . cm

"
1
cm huú tempo em defuairados Juizos, ou
fendo eirado foi chamado por E!Rey: 36
TIT. X. Dos que podem feer citados peran-
te os Juizes Ordinaríos, ·ainda que nom
fejam achados em feu Territorio. .39
TIT. XI. Dos priuilegiados a que per Noffos
· Priuilegios fam dados certos Juízes peran-
te quem ajam de reíponder. 41·
TIT. XU. Se o dia ., em que he aflinado ou
acaba o .termo , fer.á .contado no dito ter-
mor 42
TIT. XIH_. Do Autor que nom pareceo ao ·
termo pera que citou íeu contendor, ou
pareceo e fe abfentou. 43
·TlT. XIV. Em que modo fe procederá con-
' ra o Re0 que for ·reuel , e nom parecer
~ 1. - - ' -.-;:-~.:i'111Ó, pera que foi ci.t.1do. 46
T-IT. XV. Da ordem do Juizo. 47
TIT. XVI. Em que maneira fe procederá
.coHtra os demandados p0r efcripturas pa-
.bricas, ou Aluaraes que tem força de
.cfcriptura pubrica., ou reconhecidos pola
parte. · 6s
TIT. XVlL Em que cafQS o feahor do feito
. poderá reuoguar o Procurador, que em
elle feito teuer_ 70
TIT.- XVII[. Qiando o Offi{!:io do Procurador ·
r• ·efpira dada a fentença J ou por fe finar a
fua parte , e como ern tal cafo os herdei-
ios deuem feer citados. "Jl
T A v o A o n. . VJJ

TIT. XIX. ~ando fcrá o Autor obriguado


f.onnar feu libelo por efcripto. 73
TIT. XX. Do Reo que hc obriguaclo a dar
fiança, ou cauçam em Jui~o, por nom
poífuir bens de raiz. 75 ·
TIT. XXI. Em que cafos poderá o Juiz con-
firanger cada h\ía da~ partes, .que re-
fpondam aas preguntas que l~e fezer em
Juízo. 77
TIT. XXII. Como procederá o Juiz no feito,
quando for r.ecufado por fufpeito ; e da
~ fo~íiiçam poíl:a ao Tabaliam, ou Efcri-
ua .. 79- ·
TIT. XX II. Que nom julgue o Juiz em feu
feito, 'nem de feus parentes, nem dos /:.
Officiaes dante elle. """· _ ~ ~ .-l <.
TIT. XXIV. Das auçoes, e reconuençoê~o
TlT. XXV. Do que demanda em Juízo mais.
do que lhe he fleuido. 93 ·
TlT. XXVI. Do que demanda feu deuede>r
ante do. tempo a que lhe he obriguado. 9)
TIT. XX VII. Do que ·demanda o que jaa em ·
fitem. 96
TIT. XXVIII. Das fereas. 97
TIT. XXIX. Do juramento de calunia. 101
TIT. XXX. Do que ·he demandado por algüa
coufa , e nomea outro por Autor , que ·O
' · venha defender. 105
TIT. XXXI. Em que cafos ,aue1:am luguar as
autoria.s. li~
VIII T A V o A D .A.

TlT. XXXII. Q!e o marido nom polfa liti-


guar em Juizo fobre bens de raiz fem ou- .
torgua de fua molher. r 13
TIT. XXXIII. Do que requerer defpois do
feito. conclufo, que lhe dem termo pera
viir com razam de nouo, ou pera fazer
nouo Procurador. 1I7
TIT. 'xxxrv. Das pelfoas à que he defero
que nom procu·rem , ou voguem. 118
TIT.. XXXV. D~s peffoas a que .he .de.fefo
que nom varn a cafa dos Defernbargua-
dores a requerer feus feitos. ~
,TIT.XXXVI. ~{!em teiw de força no1 \ fe
proceda fum~riarnente fem <Ultra rdem
de Juízo. . 121

f .. ~ T"h. XXX'illl. Das excepçoés dilatarias. 123


, :3 - •
~-.1.°?'J.;:1R1éVlII. Das excepçoés perento;ias. :11.5
TIT~ XXXIX. Da conteftaçam da Lide. 128
TIT. XXXX. Em que .modo fe faram os ar...
ciguos ~ e q1:1anclo .a parte contra que Je
. der~rn ferá theuda depoer a elles. .
.,. TIT. XXXXI. Das dilaçoês que fedam aas
· partes para fazerem foas prouas •
.TIT. XXXXII. Das teíler.nunhas que ham de
feer pr.eguntadas.. .
TIT. XXXXIII. Da pena que a1;1eram as par-
,ces que falam com as tefternunhas. def-
pois que fa.m nomeadas . .
TI T~ XXXXIIII. Das contraditas e. repro-
r . ua~. 153

í
TA V O A D A. IX

TIT. XXXXV. Das proúas que fe deuem fa~


zer por efcripturas-pubricas. 15 8
TIT. XXXXVI. Da fee , que fe deue d.rr aos
eftormentos pubricos , e aas outras efcri-
pturas; e como fe podem redarguir de
falfo. I 69"
TIT. XXXXVII. Dos-embarguos que fe ale-
guam aas inquiriçoês ferem abertas, e pu-
bricadas. . 174
TIT. XXXXVlll. Das fentenças interlucu-
torias como podem feer reuoguadas.. i-77
tiT.""i(.XXXIX. Q!e os Juízes julg uem pola
. ver~de fabida ff.m embarguG do erro do ..
pro~o-. 18I
TIT. L. Das fentenças definitiua·s. J--~~7
TIT. LL Da condenaçam das cuílas. 19
TIT. LII. Da ordem que fe terá nas ap ft .
çoês , affi das fentenças interlucutm:ias ;
como definitiuas. l 9 8'
TIT. LIII. Das apellaçoes das fentenças in-·
terlucutorias, e quand·o fe pode dellas
apellar, e que nom ajam os autos por
apellaçam. 20:f
TIT. LHII. Das.apellaçoes das fentenças de..
finitiuas. 209
TIT. LV. Das apellaçoês que fahem das Ter-
ras das Ordens, e das Terras dos Fidal.-
gu9s. 21+
.T IT. L VI. O!!e todaiS as apellaçoês dos feitos
Liv. III. *+ ci...

,r
1
X TA V o A D A.

ciuees venham aa Cafa do Ciuel , e as dos


crimes aa Corte. :u6
TIT. L VIL ~e quando os Juízes da alçada
acharem que o Apellado he agrauado, de-
uemno defagrauar, pofto que nom apelle. 218
TIT. LVIIJ. ~e o Juiz de que foi apellado
nom poffa. enouar algúa coufa pendendo
a apellaçam. 2T<J
TIT. UX. Da maneira que fe terá, quando o
Juiz nom recebe a apellaçarn da .fentença
interlucutoria , e manda dar Eftormento
aa: Parte. ' l ,- "' ~ .
TIT. LX. Da fentença , que per Dereito/1ie
.' ninhüa, fe nom r.equere fe~r apellad~~ e
·,.T.,; em todo tempo pode feer reuoguaria. 224·
.JJ'!: _L~~rv<i1iando poderam apellar da ex~-
1. --i~ ··i da fentença ; e da declaraçam fei-
ta nella. 226
TIT. LXII. Q.!.ando, poderam apellar dos au-
tos, que fe fazem fóra do Juizo 1 e de que
efetlo feram as proteftaçoes, que fe fazem
fóra de1le. 229
- _TIT. LXIII. Dos que nom feram recebidos
a apellar. 237
TIT. LXIIII. ~ando muitos fam condena-
nados em hüa fentença 1 e huü foo apella
della. 240
TIT. LXV. Se pendendo a apellaçarn morrer
cada hü.a das partes, ou perecer a coufa.
demandada. 24'.2 '.

i
T A V o A D A~. X!

TIT. LXVI. ~and'o os litiguantes podem


aleguar, e prouar na caufa da apellaçam-,
ou agrauo , o que nom teuerem aleguado
na caufa principal. 244.
TIT. Lxvu. Dos que podem apellar das fen-
t cnças dadas antre as outras partes. 246
TIT~ LXVlII. Q!ando apellaram 'da- fenten-
ça condicional. 248--
TlT. LXIX. Como fe fará execuçam nos bens
do fiador , que /prometeo em J uizo pa-
guar por o Reo todo o em. que foífe con-
- ~ado. - 249'
•'
.T lT. LXX. Dt> que prometeo aprefcntar em
Juízo. a tempo ·.certo alguü demandado
fob certa pená, quando [e executará nelle J~ . ,·
a dita pena. 25~ , :\
TIT. LXXI. Das. execuções que fe"'"~ -U :rw~
~ -~
;
~
/ ..- \ \ - J "
geeralmente per as fentenças., e em bar-___.
guos ,.' que fe aleguam a nom fe fazerem, 25ll
TIT.. LXXII •. Da execuçam, que fe faz por o
Porteiro, e outr.os Officiaes, e do.que·lhe.
tolhe o penhor.. 27J'.
TIT. LXXIII. ~e nom aja: Porteiros efpe..
ciaes pera fazer as execuçoes nos . Lugua-
res onde ouuer Moordomos. 275;
TlT. LXXIIII. Q!ando o creedor, que pri-
. meiro ouuer- fentença , e fezer execuçam,
• preeederá os outros, pofto q,ue fejam pri-
meiros <:m tempo. 2 76,
r •.
* 5.
XII TA V o A D :A.'

TIT. LXXV. Como fe ham d'arrematar os


bens , e rendas dos Moorguados , ou Ca-
pelas , ou bens foreiros. 2 79
TlT. LXXVI. Como fe ham d'arrecadar, e
arrematar as coufas achadas de vento. . 2 8r
TIT. LXXVII. Dos agrauos das fentenças de ..
finitiuas , que fahem d'ante o Corregedor
da Corte , e Ouuidores , e Sobrejuizes ,
como e quando ham de feer recebidos, e
atempados, e como feram executados. 284
TIT. LXXVIII. Dos que pedem que lhe re-
uejam os. feitos. ~ ~. -
.TI T. LXXIX. ~e os deuedores , a que El-
.·- . Rey daa efpaço , daram fiança a paguar
· 1 as diuidas. - 297
· "TN;:. LXXX. Do que impetrou Graça d'El~
· ~ non poífa feer demandado atee
· '-erto tempo , como vfará della contra fi. 300
TIT. LXXXI. Dos Juízes Aluidros. . 303
TlT. LXXXII. Dos Aluidradores, que qyer
tanfo dezer como Aualiadores , ou Eíl:i-
madores. 307
TIT. LXXXIII. ~e ·nom dem Cartas de
Juíl:iça per enformaçoes, faluo per Eíl:or-
mentos d'agrauo, ou Cartas teílemunha-
ueis com repoíl:a dos Juizes , ou Corre-
gedores , e partes. JII;
,.
TIT. LXXXIIII. Do que trefmuda a coufa, J.
ou dereito que em ella tem, em alguii po-
derofo. Jij ~
T A V o A D A; XIII

TIT. LXXXV. Do juramento que fe dá pelo


Julguador aprazimento das partes) ou em
ajuda de fua .Proua. 3 IS
TIT. LXXXVI. Do menor de vinte cinco
annos contra que foi dada injufiamente
algua fenten~.a, e pede refiituiçam contra
ella. E como ferá citado, e dado Curador
·aa lide. 3I 9
TIT. LXXXVII. Do Orfaõ menor de vinte
cinco annos , que empetrou Graça d' El-
- Rey por que foffe auido por maior. 325
_,...... ,..:~:XXXVIlI. ~ando feram punidos o~ .
menores pelos deliccos que fezerem. 32 ~
TIT. LXXXIX. Dos que dam luguar aos .... · >
/
bens. ·,.\32?, ·
TIT. XC. Do que he de.m andado por coufa., .·.·=--"'-. .
por elle poffuida • e elle negua
poffe della.
em~p
· e-'a~3l
.
( .

;
I
o· TERCE IR_O LIVRO
DAS

ORDENACOÊS·. &
/

T I T U L O P R I M E I R O.
Das citaçoes e comó bam de jeer feitas. ·

As c.r T A ç 0 Ê s SE PODEM FAZER


t- ...- r.~atro modos. O primeiro he perante húa te-
ftemunha dando o Julguador licença aa parte , ..9 ~ a
qualquer outra pefi';a em feu, nome, pera 'i'-~ffer t:i:r
tar perante húa teftemúnha ao menos. E dtp.J~.~·
foomente ou rorgua·do ao Regedor d~ uíl:iça 'da Ç~ ~
fa. da Sopricaçaõ , e ao Guouernado-~ ·-· :..~@do
Crnel , e ao Chanceler Moor, ·e a eíles por razam de
fuas Dignidades , e preminencia de feus Officios. E
aíli o poderam fazer os Corregedores de Noffa Cor-
te por os·muitos requerimentos que lhe fam feitos ,
e neguociolf que lhe.ocorrem, a que co.nuem prouer
com -deligencia.
, I 0 -sEGu~oo modo de cit!lr he per Porteiro, e
eíl:e conuern a qualquer Porteiro per Nós efpeciàl-
mente deputado a alg uli Nofio Officia.l , ou geerai-..
mente dado per o Concelho dalgua Cidade., ou Vil-
_.~ la, ou qualquer outro Luguar que jurisdiçam tenha:
e tal Porteiro como efl:e pode cita<r fem licença de>
Liv. lll. A Jul •.
2 o TERC.E:lRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. 1.
Julguador, fe a citaçam ouuer de feer feita dentro
na· Cidade, Villa , ou .Luguar, ou feus arrabaldes: e
auendo de feer feita no Termo da Cidade, Villa , ou
' Luguar, nom a poderá fazer fem mandado do Jul-
guador , e o J ulguador nom lhe deue dar tal licença ·
pera citar algtí.1 peffoa em feito ciuel fobre algua
díuida, ou qualquer outra ob~iguaçam peifoal, faluo
rnoíl:rando-lhe o A utor efcriprura pubrica daquello
fobre que entende fazer a demanda, fe a quantidade
for tam grande que a requeira fegundo a Ordena-
çam em tal cafo feita, ou .fe o Autor'-diífer , que o
quer leixar -em juramento do Reo. E fe a ci ~~ ~
OU[Jer de feer feita fobre algüa auçam real , per que
0 1A'lfuyr_ .r.ntenda demandar alg.ü.'à coufa que lhe per-
f~nç_aJ, ae dereito , ou fobre alguu feito de injuria,
)~~ q-ualque~o feito crime, em taees cafos deué
o J ~ m.. .dr citar qualquer peífoa qu~ lhe for re-
quendú iem lhe feer moftrada outra efcriptura pu-
b ri ca: e o Julguador que mandar citar no termo de
qualquer Cidade, Vil Li, ou Luguar , fem fazer éa-
d a húa da_s deligencias fobreditas, alem da citaçam
feer ninhúa , paguará aa parte citada a3' cuíhs que
por caufa de tal ciraçam fezcr. _
2 E PODE o Juiz mandar citar em todo cafo na
terra onde f~r Juiz per Porteiro , e fóra de feu terri-
torio pod_erá mandar citar per Carta Precatoria fe_
gundo adiante ferá. declarado. ~
3 O TERCEIRO modo de citar he per Tabaliam ;
quando lhe he molhada algüa Carta No.ffa, ou da l-
gu u
D;t.:s 'clTAÇOENS E COMO R.AM DE SEER FEJr AS. 3
gui:i Corregedor ~ ou dou,tw aTguii Juiz per que lhe
he' m'nndado que cite . a peffoa contheudâ em dla , /

que pareça no termo em -ella a ili nado; e quando no


Luguar nom ouuer·Tabaliarn pubrico, ou nom po-
.rd~~ feer tam afJ.nha achado, faça effa citaçam , ou
· mande fazer o Juiz da, Terra, e mandará ao Efcri-
uam da Camara , que dee carta teftemunhauel · da
dita citaçam feelada com o feelo do Concelho , a
qual fará fee comprida perante aqudles que man-
daram fazer a dita .c itaçam, affi co-mo fe foffe eíl:or-
rnento . pubrico.
~sE as citaçoes fe ouue.rem ·de fazer en'! ·ar-·
güas Aldeas , o.u no Termo, onde nom oúuer: Ta- \
baliam, ou Efcriuam .,- o Juiz·ca Cidade, óu Vif~a .
mandará que a faça o Vintaneiro ·, ·ou Jurado d~tâl
Aldea,ou Limite, o qual.Jurado, Ol:l V.intaheiro vi-., _ ..
. tá dar fua. fee , . OU .a mandará . peI· efori" ..._· ao: •faf - ~
J.~iz, . o qual mandará a huü Tabaliatí1 da ~H"ta'ê1-
dade, ou Vi lia, que com a dita fee :da citaÇarn·· füe
paffe huü eíl:éírmento , e nom auendo hi,.Tàbâffaín
mand,a rá ao Efcriuam da Camara·, .que lhe · p~ffe
Carta Teíl:emunhauel com a dita{ee de_citàÇamjco-
mo em cima dito he.. "-. ·
5 E NAS Cartas Precatarias que .paffaretfr ,aa:!. .
guÜs Julguadores· pera outros, pera ferem· citada~ a1-
güas peífoas, fõra. de reu .territorio; o J ulguàdor·~~­
.r:i que taees Carttl.S forem dirigidas, fará fazer ·a dfra
" c1t~~am
. ' T a..b ai·
.per .
, 1~m ,,o.u . ~ r bu J·u ra dd"na
·P01\te1ro: '
maneira qúe erp cirÍia dito he. E nas Canas Preca.
A2 to.

-~.
1
(""'"'
.q, .o TrncEIRo LrvRo DAS ÜRDEN. T1T. J.
_torias fe deue declarar o Juiz ã que he cometido
que mande fazer a dita citaçam: e as Cartas que fo-
J<em dos Superiores hiram geeralmente dirigidas a
qualquer Tabaliam , â que a dita Carta for mofüa-
da , e em todas as fobreditas Cartas hirá declarado
aquelle que ha de fer citado , poendo feu nome , e
vn_de he morador, e a raz:im per que o citam, e ain-
da ha de feer declarado na Carta -onde ha de.pare-
cer, e em ·que dia, e a cujo requerimento he citado.
e fe ha de parecer peífoalmente, íe pqr Procurador,
e que venha , ou enuie feu Procurador bem enfor-.
mado pera defender-fe , e di-zer de feu d ~-no
: cafo onde pode mandar Procurador.
_ ._ '.6 E _o J u1z, que as taees -Cartas pera €itar.mán..
daf paífar .• deue primeiro fazer cada hüa das deli~
., , gencias fobreditas no parrafo precedente , que co~
m eça O~undo modo; fob _a pena nellc conthcuda •
.7 ~E sE em a dita Carta de citaçam for decla-
rada·a razam, per que .º Autor manda cita r o Reo,
e defpois o Autor quifer mudar a fubílanciia: da de-
manda em outro mod.O , do que he contheudo na
dita -Carta de citaçam , nom ferá ·o Reo theudo a
réfponder a tal demanda, faluo fendo outra vez ci.
tàdo ,_ e paguando-lhe ·primeiramente todas as cu -
1lns, que ouuertfeitas por caufa da dtaçam primeira.
. 8 O cy .ú. TO modo de citar he per Editos , e
eíl:e fe tem, quando a pcfloa que ha de feer citada '\\.~

nom he certa i e fe he. certa, -nom he 'certo, nem.fã . ·'7·


-,bido o lug,uar onde he; e pofto q,ue feja certo e-fabi>-
- do..

/
1
••
D~\S CITAÇOENS E COMO H.AM DE. SEER FEITAS. 5
tfo o luguar onde o que ha de.feer citado eíl:á, feo tal
luguar fo r periguofo, per onde com razam a tal cita-
çam fe nom deua fazer em pefioa do q_ue aíli fe re ...
quere frer citado, em taees cafos , ou outi:os ferne-
lhantes por onde a citaçam fe nom poíla , ou nom
deuot fazer em peífoa , Ordenamos que fejam dados
pregoes per as praças dos Luguares onde os Reos per
dereiw deuem , e podem fer demandados , e poft-os
Aluaraes de Editos nos pelourinhos , e em outros
luguares femelhantes, per que ham por citado, ou ci-
tados aquelle, ou aquelles, a que o cafo pertence,
q~:t.q: rro dia nos ditos pregoes, e Editos affinado,
ajam de parecer perante ~quelles, que mandarem
fazer a dita ..citaçam , o qual termo paífado procé.
damos Juize.s como for dereito. E quando rarcita-
çam ouuer de feer feita per Editos, deue-fe o Juiz
primeiramente enformar per inquiriçam,. íe o Ri () ' ,.
pode razoadamente feer achado, e feguramente <rita-
do per o Porteiro, ou per fua Carta Citaroria , fem
periguo daq.uelle que o ha de citar, cá em tal cafo
onde a. citaçam afü pode razoadamente foer feita ,.
norn fe deuem fazer Editos, e fazendo-fe em outr:i
_guifa, os Juizes da Moor Alçada a deuem reuoguar , .
e todo o Procelfo que della proceder ; e quando os
Editos fe ouuerem de poer , fe fará nelles mençarn
da dita deligencia , que foi feita per inquiriç_arn.
. 9 No I1RIMEIRO e fegundo e terceiro· modo de
citar deue feer feita a dita citaçarn em pcífoa do .ci ..
tádo.• e nom doutra guifa, falu.o quando o Juiz.: do.
nc:;--

:6 o TERCEIRO LIVR:O DAS ÜRDEN. TIT. I.

neguocio forem verdadeiro conhecimento per inqui~


riçam ~ que a parte que ha de feer citada, fe e[con•
deo, ou fe abfentou da Terra por _nom feer citado, em
guifa: que nom po& hi feer achado pera auerem de
o
· citar em fua peífoa, ainda qu/e feja certo luguar ,
onde a eífe tempo he, cá em ta_ees cafos como.eíl:es,
<leu e feer citado aa porta da ca(a de Jua morada; on-
de dle cofh1ma morar a moor parte do anno., .peran-
te fua molher, ou familiares de cafa ., ou vezinhos
da fua rua, e amigues , aos quaes deue feer requeri-
do, que notifiquem a dita citaçam ao dito abfent~ ,'
·que · a termo certo pareça perante.aquelle Jui~e
o affi manda citar, o qual termo lhe feja affinado ,
fegundo a enformaçam que eífe Juiz ouuer da.dif-
tancia do luguar, onde ao tempo da Citaça:n for o
· dito cit~do ; e QO- cafo onde fe nom poder faber o
e- arto do luguar , onde a dfe tempo .efteuer . o dito
Reo , entam deue fc;er ·citado per Editos , fegundo
já he declarado no quarto modo de-citar.-
ro E QYANDO ao Juiz que a citaçamnouamente
manda f(;lzer, for por a parte, que ·tal -citaçam re-
querer, aleguada cada hüa das ditas caufas , ou ou.
na·femelhante, poderá mar.idar poer na C,arta Cita-
toria, que fe acha_rem per inquiriçam , que _a parte
qué ha de feer citada, fe efc~nde pera nom ·feer cita.;
da em pefloa, que a citem aa, porta de fua morada;
e fem ' a dita càufa lhe nom feer aleguada nom deue
o Ju.iz n1:i.ndar poer a, ·dita claufula na Carta. ·/
ü · O CHANÇELEK · Mo_or ,. e o Corregedpr.: da.
~ ~º~
DAS CITAÇOENS E COMO HA"M DE SEER FEITAS. ·7
Corte podcram mandar citar em todo cafo que a
feus Officios pertence , atee cinco legoas donde Nós:
efteuermos , ou a Noffa Cafa da Sopricaçam , por
feus Aluaraes, ou Porteiros.
12 A cITAÇAM feit:i. fimpr.esmente entende-fe
pera a primeira Audiencia, que fe fezer defpois do
dia em que a parte he citada , e fe no dia em que a
citaçam for feita [e fezer Audiencia defpois da dita
citaçam , nom fcrá o citado obriguado hir aa dita
Audiencia, faluo fe expreífamente o que o citar. dif- .
fer, que o cita pera Audiencia , que naquelle dia fe. - .
hà"de fazer.
i3 A PARTE nom ferá mais citada de hua ve't
em cada huíi neguocio , e per aquella citaçam pro-
cederam atee fcntença dcfinitiua incl.u fiue,ainda que .
a citaçam frja feita fimpresmente , fem dizer em, el!' ,
la perentoriamente ; porque a citaçam feita no co-
.
-..
meço da demanda fe entenderá feita pera todos .
os aél:os judiciaes, corno dito he. Porem quando fe
der luguar aa proua no dito feito, e a parte, contra .
que·m fe d·á a inquiriçam, ao tempo que primeira-
mente foi citado, pareceo em juizo, e for prefente·
no luguar onde aili fe trata o fe~to ao •tempo que ·fe
ailina a dilaçam ., ferá citada pera .veer jurar as tefre..
munhas , e nom fendo prefente , .tendo Procurador
feito no dito juízo; ferá notificado ao íeu Procura.
11' dor , e nom fendo prefente, ou nom tendo Procura- .
dor , e fendo morador no dito luguar , fer<\. citada .
hWi peífo~ de fua cafa pera .•affi. veer jurar as tefte-
rn u:-
8 O TERCE-IRO LrvRo_ DAS ÜRDEN. TrT. I.

munhas; e [e nom for morador no dito luguar, nem


teuer Procurador , entonce nom ferá mais ncceílario
citarem a dita parte pera veer jurar , antes o faram
apregoar no juízo, e aa fu<i. reuelia ailinaram a ~:lila­
çam -; e fe a parte contra quem fe aíll tira a_inquiri-
çam, nuncá parcceo em juízo, em tal cafo , poíl:o
qué e.A-ee prefente no luguar onde fe tira a inquiri-
<;am , ou hi feja morador , nom lhe ferá feita cita-
çam pera veer jurar as teíl:emunhas, porque pois
fempre foi reuel, e nunca pareceo em juízo , nom
he neceífaria mais outra citaçam, que a dita p-rimei-
ra citaçam; e ·poíl:o que a parte, ou feu Procurad'or
~eja requerida pera veer jurar as teftemunhas ao tem-
po que fe der luguar aa proua , todauia quando affi
for citada a parte , ou feu Procurador, ferá ao tem-
po que fe ouuer de tirar ca-da hüa teíl:emunha no-
tificado aa dita parte , . ou feu Procurador~ notifi-
candolhe o dia, e luguar, e tempo : Conuem a fa.
ber, fe antes do rneo dia, fe defpois, em que ha de
feer preguntada. E fei1do nos ditos cafos preguntada
qualquer teftemunha fem feer fei~a a dita notifica-
, çam , o te.íl:ernunho que affi teuer dado a dita tefte-
munha ferá ninhuü·; e pera mais facilmente fe po-
der fazer a dita notificaçam Mandamos , que a par-
te , contra quem fe ouuerem de preguntar as taees
teftemunhas, em todo o •tempo da dilaçam eftee
por fi , ou per feu Procurador.no fim das audiencias
que fezer o Julguador; que a dita inquiriçam rnan- -~
d.ar tirar, no lugu~r onde_fe_a dita inquiriçam tira. ,
1
. ·pera.
DAS CITAÇOENS E COMO HAM DE SEER FEITAS. 9
pera alli o Tabaliam ou Efcriuam da dita inquiri-
çam affinar o dia , e lugua-r , e tempo .onde fe ham
de ,preguntar as ditas teíl:emunhas , e nom efiando
hi .a _parte , ou_f~ u Procurador , lhe affinará o dito
dia , tem_po , e luguar aa fua reuelia , atee a outra
Audiencia loguo feguinte, e afü fe fará em cada Au-
diencia , atee fe ~cabar a inquiriçam , ou dilaçam.
E nos, cafos que em cima diífemos • ql:lc ao ~empo
que fe affinar a dilaçam feja citada a parte -pera veer
j.urai: as tefi~munhas pe-r húa peífoa de fua cafa, ou
feja apreguoâdo aa füa reuelia , pera lhe affi11arem a
-dilaçarn , nom ferá neceífario mais notificaçam da
dia , e tempo, e luguar • como em cima dito he.
14 TooA a citaçam deue feer feita de dia em·
quánto o Sol durar , e fendo feita antes que o Sot
faia , ou defpois--que fe pofer, norn valerá coufa al-
gua.
15 A cITAÇAM que ·he feita em dia feriado a
honra e louuor de Deos, pera o citado refponder
em dia nom feriado , norn valerá , faluo onde ·re o
l{eo .qqifer abfentar pera outra parte , ou a auçain
do. Autor f9ff'e de tal qualidade , que pereceffe, fe a
çiçaçam nom foíle feita naquelle dia, cá em tàl ca-·
(o valerá a citaçam affi feita · em dia feriado, pera
refponder no dia nom feriado. _·
1!) E Q.YANDO algüa peífoa for citada no Luguar.
Qnde ha dç feer ou~icio, ou em feu Termo, e lhe for
'"ffinªdo certo te,rmo a q9e pareça , ao qual termo<>-
citado . nom pareceífe , nem menos o qu·e o fez ci-.
. L1J. lll. B tar ~
fo O TERCEIRO LtvRo DAS ÜRDEN. T1t. II.
tar , e defpois de paffacfo ó ditb termó vem o qúe
citou ajuizo) pera fazer apreguoar o citado J e pro-
ceder contra tlle , ou vem parecer o citado, pera
pedir que o abfoluam ab injlància , Mandamos que
etrt taees cafos a dita dtaçam feja auida por circum-
e
duéh , nom procedam por ella. E quando for ci-
tado per Carta fóra do. Luguar, e Termo ónde ha de
feer ouuido , nom ferá o termo circúmduéto , atee
nom ferem paífados vinte dias defpois do u:rmo af-
nnado ; porem fo ao termo da citaçam J ou dentro
dos vi'n~e pias cada ·hüa ,das partes vier requerer fua
j'uftiça ,. fer~ ~uuido. ·

TI TU L O II.
· En~ que.cqfos fe pode âtar o Procurador do Re~
n~ começo da _
demanda• .

G EERALMENTE e~ tedo cafu no começo


demanda deue feer eirada ·a parte prinéipa·l , a que
da
e neguocío toca ·, e noin feu Procurador, ainda que
frja geer~l ou efpecial pera aquelte att-0; pera que he
citado ; e fe aqtielle que citar querem for abfrnte
da Comarca., e Correiçam onde for morador ; · é'm,
tal ~afo Mandamos , que pofla fee·r citado fcu Pro..
~u'rador ·no começo da demarfda , fe teuer prÓCura~
. Çam .g_eedtl, OU efpedal fuffidentc peFa' aquelle·at.ffOj ~
:pertJ <}QC O querem citar i C f-c na.p.roc'u.caçam '.pofto· '\~
quç
· EM. Wli c;.s9s_sE_PODJ; cn A~ 9 P~Qe, PQ ~Eo. u
qu.e feja geeral pera d~rnflnpar 1 for contheudo, que
cífe Procurador nom poífa feer citado nos cafos on-
Çt; fe om1er de faz.~r noµa citapim 1 nqm poderá 9
git.a Proc4r~9or geeral feer citadc;>. Peroo fe pá ver-
tude da tal procuraçam o t.al Procurador ,â,e.m~n­
daífc algüa peffoa , poderá eífe demandado récon-
uiir o dito Procurador , fem embarguo da tal ~[au..
ful~ po~fta n!l prp,~yr:;ic;:J\Jll, fe for çat~fa .em ,que q.,i -
bª reçonuençílm, .fegupdo ~fo<;IJlQS .IJ.e.ík Lju,ro n<J
'I:itulo /)af CJuçoé.s e recr;mw1ççfs ; e dize..u.do t> çlj:t"
fro.ct,Ir}\.~or >. ._ql;!e nom tem .enfo.rma,ç.:J.m. pera :re...
fp9,n_c;l~r ª'ª rlit.11.' ,reco.n.u~nÇ!llJJ, fçer-,):J}:TJ;l~ d(<lqo.têm·
P.0 pera a~·uer,. f'l.<il qµnl tempo elle norn poqeráfeg:wir
o feito ~ro q.u>: !;le;,nªnda ~queHe que o teco.nuem. ·
iJ: , · E .ttotd f,ç~i0 _
ij.c hª-d<il 1~al .Pr.o curador fofücj~n,.
te, como ,di.tio he_, ;l}Q l1;1g1.1.ar pnd,e.fe ª ·de.mí;liriqa ou,.
uer .o.etra.uta.r l · em. t~l ç~ío . dieue feç,r ~ita<il~ .a 1part~
. prfaç:i~;i·l .erµ·(LJa p,e-Jfoa per Car.ta 'Çit;it6ri.a ·.do'Juiz
dó ~Úgua_r , ª·cqi1;1.e.fill .pe..rt~n~e :a jú.rifdi&~gn ~ :e c.0.nhe...
dm~nto dt;ífe.ifi::.ito., fe for certo _o luguar onqe a .effe
ªª
te:mppo .p Re0 e.fiá~ .ou. por~a...c,ié .f.ua . cafa, fe fe
çlle afaf~nnar por nom Jú,r. c,itado , .o.u ·per'Edi<J:QS ,
/
~uaniil0 nom :for cer~ .JP lüguar de foa ,eftad~ , . fe..
gundo ,compcipam~aé :Difü:mo$ n0 Titulo .prece,..
dieute .; e no €.ftÍO .on~e .,füremps , que.,o, .Prcic~~'\dor
poffa feer, dtado ·E.o çomeç,o .d a demau_'4·, . M~µ©a-
/ mos 1G}.we if.e™1<i> .e~Je :f~ffi<:iente J?rocura:do(~ .~~. ~ : füa
f rel!ldia 1poífam pi:oce.der, ~m. .e tam .com~rida,rnfn~,
. ~~mq f~ria,m· ,fe:a J,lwflie ,ipl'iuúp~L~~ fua ,ip.e.tr<?~}of--i
Je oitado. · 'lf 2 ·· · ·· ··T ·l"':
I2 o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN • .TIT. III.
T I T lJ L O III.

Dos que podem Jeer citados na Corte , e dos que o n(>m-


podem feer pofio que ne!la Jejam achados 1 e do pri:vi-
_iegio dos f,inbaixadores. ·

TODO aquelle' que he achado em Noffa Corte •


ou Cafa da Sopricaçam , pode feer citado pera ré-
fponder em ella, ~inda que ftja moràdor em outra·
parte; c ·affi os eílrangeiros, fendo achados na Noffà
Corte ~ poderam feer demandados em todos aquel-
1,es cafos , que em Noffo Reyno podem feer deman..
dados. Peroo ainda que .alguü feja achado na Cor- .
te ,fe elle hi non he morador, nom.pode hi,feer 'ci-
tado , pera hi" auer de refponder.-, em os cafos fe-
-~ - - guintes, primeiramente._O ·que for. achado em Nof~
fa Corte ·, fe erri ella nom-,he morador•, ·nom· podo
hi feer citado; fo a ella-veo chamad<;>- por Nós , eu
citado pera teftemunhar- em alguú feito , ou·. veo hi
<;om algifa apellaçarn., ou agrauo_., 'cm quanto hi.'por
cllo anâar. E affi dentro - em:feis dias, ·defpois quQ
acabar cada hufr dos fobreditos neguocios a: que veo•
por cadá hua' das razoes fofo ditas ·, nom .. poífa . hi
-feer cicadh ,. faluo Je for ·demandado por-alguú~con.-
-trád~> que·aja feito ria eorte., ·em·qualquer tempo
•que foU-e. Peroo.quaAdo ós taees. como os ~obredi,
,tos, que cm ella nom pqdem feer ·demandados.
·~-cm ella Citados,fe.ri-ll!_e~.ha ~nado. termoa_m1aQ~
• ~Q .
· Dos · ~E PODEM sEER CIT.ADOS ·N.A ConTF.. l :J

do o Autor o requerer, a que razoadamente poffam


tornar a fuas cafas , e hi refponder por a dita cita•
çam J que lhe ·am he feita J ou em outro luguar a1-
guú , onde fegundo a forma de feus contraétos por
<lerei.to fam theudos refponder , ao qual termo de.-
uem parecer, e refponder hi aa dita cit.açam, fera
cmbarguo da razam , e efcufa fufo dita.
' ,1 P.i;Roo fe alguü vier aa Corte com embaixada
de fóra do Reyno , ou dalgüa Cidade ,, ou Villa de
No!fos Reynos e Senhorios, cm tal cafo poderá foo--
m@nte fecr c:itado na Corte, . polo contraél:o que ellc
hi ouuer feito , defj1ois que hi v.eo por Embaixador, ,
e nom por outro contraélo que ante. hi aja feito em- ... .....
alguü tempo ; e iílo mefmo poderá feer, demanda ...
do por qualquer auçam temporal.>· que nom fe.ndo a,.
c!fe tempo intentada, pereceria o de.reito ·daquelle-,. •
cuja a dita auçam he ; porque. ern tal• cafo, poderá .
fecr demandado , atee qµe e!fa auçam feja perpe-
tuadíl·•. E defpois que effe Embaixador ouuer acaba ...
da fua, embaixada ,,e fom ·outra euidente neccffidade
efteuer mais na Corre , paffados . de21 dias , poderá
em tal cafo geeralmente feer em ella citado,. como .
qualquer outro do pouo; e fe elle demandar ou- .
trem na Corte durante o tempo de fua .embaixada ,,
poderá feer per elle reconuiido em.quanto durar a.
demanda , que elle affi prÍncipalmente fezer, , faluo ,
fe eífa demanda que clle affi fezer, for fobre inju-:-
ria , furto , ou roubo , . ou damn<>' que aja recebido, ,
de.fpoisq,ue dc..fua terra.partio , ,e. entrou em Noífoa.-
ner.-
·r+ O Trnc11.rno LIVRO DAS Ott0EN •. T1T. III.
Réynos e ;Simhorios ~ · ·ou querendo · perpetuar. algüa
.auçarn temporal, .q1:1.~ nom fendo a effe tempo ten-
tada pereària ; porque a demanda que elle affr fe-
zer por cada hüà das .ditas razoes ; .notn lhe deu~
·feer im.putad;,i., po.is que-<! foz · per · rn~cefüdade tam
eu.id(mte, .q.llie razoadamemte fe efcufar nôm pode.
2 SE ALGíUUM E1mibai:xador ·vier . a Nós · ~k fora
do Rey1 no -.com embaixada dalguü· Principe , ou
Co~munidade ; tanto que eNe enttar' em No1füs
'
R,eynos ' e Sen:ii.01;ios ; o auemos por fegl:l're de -qual~
\

.quer mal~.ficio , ' qué ~ni elles ouue.ffe cotnetida·em


qu~a.qúé.t tempo/ ante de elle (eer enuiado ·.tom a
dita embai.irndâ. E bén;i affi
' to'dos aqüeUes qu.e em
fo~ Ct>Hi)P.ª.n lüi viererr;r
·pml~' fentir, e aguard-â r 'p a
di1[a emhaixidá ~ nom fendo os ·que <!:Ol'll ell~ vierem
Noffos natú1:.i:es ; e por tà"riN~ m>WÍ d<mem {ee-r .tita-
dos ,. ac~tfados ·; ·~il.em d~ma.nda<los em N@íifa Corte >
eu ~m qu.~Ique,r crntra púte cle N0íf©s ReyhQs por
·ta.eCs ma1e;fkiós dlii-rante_fua embaixafla, e mais dez
.. dias, com@ dito l:ie ', fa'h1e acufand© eUes , ou -cada
nu·Ü clelles ·0utr-em , tomo .âite lhe.'

..

•,

t ;

TI.. ·
Dos éua: ·ponEM TRAZER. si:vs coNT. A_4 CoR1'E. i·5

T 1 TU LO IV.

Dos que pr;dem tt:a.ze.r Je1N 001Jfendor:es aa CtJrte pe.r


razam de faus pri;úlegio,r•

.o REGEDOR da - Cafa da Sopricaçam , . é o


Chanceler Moo.r, e os Veedores da Noffa Fazenda,
.e Defembarguadores da dita Cafa da Sopricaçam ,
·e .o Efcriuam da Chancelaria. de NofTa Corte, ·e Of-
fkiacs de Jufriça, qu.e continuadam~nte etn ella an-
dam , e os Efcriuaes que perante os Defembatgua-
dm·es efcreuem, e ham No!fo mantimento ordena-
do em cada huií mez, e bem aíli , o.s Efr:d4aés da.
Naifa Fazenda , podem trazer feus :Contendotes aa,
Corte, fe quiferem hi litiguar, poílo que frjam Au:.. .
tores~ do qual priuilegio i!fo m.efmo uíãram o Ef-..
críuam da No-ffa Puridade , e o Moordomo Moor »
,,Camareiro Moor , Alferes Moor , Guarda Moór , .
,, .
i

Meirinho Moor , Repoíleiro Moor, A_nadel Moor , .


Monteiro Moor, Copeiro_· Moor , Apoufentador.
Moor , .Coudel Moor , Porteiro Moor , Caçador
Moor, Almotacé Mooí:, Veedor da No!fa Cafa, e{ll .
quanto andarem em N.o!fa Córte , e eíl:o. pola ocu--
pa.çam do feruiço , que nos fazem continuada'rnent~
nos ditos Offici:os ,-de .que nom podem feer efcufos ; .
e poflo que alguü _dos f10bredüos aja .eontenda cofil.
alguü outro de fernelha.nte priuilegio 1 em todo eafo -
1

« kmpre litiguaram na Corte. ,


/ '- 1: . -Po&EM fe alguü_D.efembarguador da Cafa a._,
So• .

- .
i 6> O TERCETtt0 L1vRo DAS ÜROEN~ TrT: lV.
Sopricaçam teuer contenda com outro Defembar"".
b
o-uador da Cafa do Ciuel, em tal cafo o Autor . ..
fe-
guirá o foro ·do Reo. Conuem a faber ~os da Cafa da
Sopricaçam ao Corregedor da Corte; e os da Cafa
do Ciuel perante o feu Corregedor. ·
'.2 · E _
o GovERNADOR, e Chanceler, e Defembar-
guadores da Cafa do Ciuel , e os Efcriuaés della 1
_que Noífo mantimento tem_, quer fejam Reos, quer
.Autores , poderam trazer feus contendores aa dita
Gafa, fe quiferem perante o ·Corregedor della liti-
guar.
3 E o ORFAÕ baram menor de ,quatorze annos,
e a fcmea menor de doze, .e a viuua honeíl:a., ou
. peífoas . miferauees .tem priuilegio. ainda que fejam
.Autores, de efcolherem por feu Juiz o Corregedor
. da Corre, ou.Sobrejuizes da Cafa do Ciuel, ou Jui-
,zes Ordinariós do Luguar a que .dcreitaf11ente perten•
•• t . ..

.e e6a o conhecimento da tal demanda , qual elles


1rnte .quiferem ; e efta mefma efcolha, e priuilegio
.tei"á a viuua , ou orfaõ nos feitos , que ficaram co..
_·meçados por morte de feu ma-r ido, ou .pa y; ora fof- -
fe Autor, ora Reo : peroo ,fe algüü orfaõ, ou viu..:
.ua , . ou outra peífoa miferauel ouuer contenda com
-0utra de femelhante qualidade, em tal cafo Manda-
p)OS , que o Autor figua o foro do Reo , o qual Reo
poderá efcolher o Juiz Ordinario, ou os So~xejuizes
da Cafa do Ciuel , ou o Corregedor da Corte, .e on-
de lhe mais aprouµer de litiguar, alli.litiguará , fal- '•
uo fe effa· conten<la for fobre força noua 1 ou guarda, "
e
Dos Q.YE PODEM TRAZER sEus çóNT-• .AA Cô'R'fi::. q

e·condefilho , ou fobre fo!dadas ; -0u Jornaes, cá etn·


t~ees cafos poderá o Autor, ainda que privilegiado
nom feja, demandar pe1'ante o Corregedor da Cor-.
te, ou perante os Sobrejuizes, fe o dito Corregedor.
·ou Sobrejuizes eíl:euerem no Luguar onde fe tal de-
manda deu ia trautar ·, ou perante os Juizes Ordina-
rios do dito Luguar , a que o conhecimento per de-
.peito pertencer ; e aquelle que hua vez efcolher ferá
íeu Juiz , e nom poderá mais em effe feito tornar.
·outro.
4 ITEM nom poderá o orfaõ , viuua , ou mifera ..
vel pdfoa efcolher cada huu dos ditos Juízes no.
-0afo onde o feito pertencer ·a Nós, ou a No!Tos De-.
reitos Reaes, porque em taees cafos nom poderá ufar.,
de tal priuilegio ,porque o conhecimento delles per- ' ..
tence aos Officiaes , e Defembargadores, que per
Noff~,s Orçienaçoês p_era ello fam deputados. E t~d<>
<'> que dito Auemos acercá das . viuuas , auerá tam-
hem luguar em as molheres honeftas; e que hone~
f\:arnente viuerem , pofto que nunca foffem cafadà·s i
ernperoo fe as viuuas que ja foram -cafadas., 'OU tho-
lheres honeftas, que nunca foram cafadas , teuerem
jurifdiçam , nom gouuiram dos pri"uilegios per efi:a
No1Ia Ordenaçam aas viuuas outorguados.
5 lT.EM fe alguíí Official da No!Ta Juftiça· d e.
Noffa Corte , ou da Cafa do Ciuel , ·ou alguüs. dos
Officiaes Moores fufo nomead-qs ·quiferem cirnr j o~
demandar em a No!Ta Corte , ou Cafa -do Ciuel-, al.., ·'
g~ú orfaõ , <?U viuua , ou peffoa rnifcrauel > ou eífçs '·4:'
.L i<v. lll. -~ · . <Viu~
I 8 o TERCEIRO LTVRO DAS ÜRDEN. TIT. IV.

viuua) ou orfa5) e peíloa miferauel queirá deman-


dar alguú dos ditos Noffos Officiaes· Moeres 1 ou
Official da Juíl:iça da Nofla Cort~, ou Cafa do Ci-
uel, perante alguu daquelles que lhe fom dados por .
Ju izes , e efcolher podem per feus priuilegios , e.O-·.
mo dito he, em tal cafo Mandamos , -que feja noti-
ficado a Nós , pera Vermos a qualidade do feito, : e
defpofiçam do Autor, e do Reo , e affi Darmos hi
determinaçam , como acharmos que he dereito > . e
nos·beIT? parecer per prool das partes.
6 E lisTo ·que díto he nom auerá l uguar. em o
Regedor da Cafa.da Sopricaçam,.e Chanceler Moor,
r "-- ../, e: Defetnbarguadores della , · e no Guouernador . , e
{~ ~ -: . r-Chan:'celer" e Defembarguadores da Cafa do Ciuel /1
e Veedores da Fazenda, e Efcriuaes della , e AltIJo:O.
tacé Moei: , e ·Efcriuam da Chapcelaúa da Corte , e.
dà Cafa do Ciuel ~ ·· porque em todo .cafo , que elles
queiram demandar algua vfoua :, / orfaõ , .ou. pefioa .
miferauel , ou eira vi uua , orfaõ , ou peffoa_mifera- .
uel-', queira demandar a elles, fempre o .Corregedot.
da Cór~e., ou o Corregedor da dit~ Caía do Ciu_el.;.
ha -.ae Jeer-Juiz ; porque affi ·fe contem em o. priui-
legio., que lhe Temos.dado, o qual prece.de todos ps
priuile~ios das viuuas·, e peffoas rniferaueis _,e quaes-
quer outros. . ,,
7 E MANDAMOS, que ·em todo cafo ,'· que. per•
ten~a á Almotaçaria , feja o Reo citado e demanda~
oe
-elo pêrante o Almotacé . . feu foro, onde o. c.afo·
-ã:conteéer) fem embargµo. d~ qualq4çr priuilegio de-
foro a

;
i)os Qy r:. PODE-M TRAZER SEUS CONT. AA CoR TE. r 9
' foro·, que o Autor, ou Reo tenhà; faluo fendo Nós,
ou a Cafa da Sopricaçam ·em-eífe Lug.µàt', porque
' erttam poderá dei lo tomar conhecimi;nto ·o Corre-
gedo·r çios feitos ciueis da Noffa Corte. ~ · '·
8 E PORE ~ Nós Poderemos ' mandar em todo
cafo per fimpres petiçam traze'r ·perante Nós; per
•No1fü efpecial Mandado', qualqul::r feito , ainda que
· feja d' Almotaçaria , quando o ouuermos por. Noffo
feruiço, porque achamos por as Ordenaçoés :an:ti-
·guas, que affi foi antiguamente vfádo . por-·ds Reys
que ante Nós foram. ·
· -9 E os Procuradores , e Efcriuaés , e Enquere..
<fores da Noft• Corte poderam geeralmente · per au-
-étoridade do Chancelei· Moor citar fóra da Corte , e
·a ella·traier feus contendores perante o dito Chan-
celer Moor fobre feus falàrios ~ e efcripturas- que ,
· '. ajaril' feitas, e merecido em 'ella.
·. ' ·:.· ...
.~ • f' 4 .r ..
'

.~ i t ú L ó . V~, ...
r ;;. ::.: ' :'

Vos que podem fter ct'tados , {trazidó-s aa Corfe ~, lrlndfl;


·. 'que nom Jijam achados em el/a, '(;do 'quej~ obrlg'uozt
· a rejponder ern outro jui'zo. .· .::,

T OD~S aquelles , ·que. p~r


bem · d~·fe~s priu~le~
gios podem trazer feus . contendores ·aa Corte )' ·fe ..
!1; gundO já ·Auemos declarado: no·Titulo .precedente,.
·" e 2 ., · t.Q~
l"
20 o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. v:
,todos e!res podem feer demandados na Corte , ainda
<jue nollJ fejam achados em ella, e pera outra parté
.opm poderam feer citados ; cá pois por as ocupa-
çoes de feus Officios lhes he outorguado, que podem
trazer feus contendores aa 1Corte de quàlquer parte
oo Reyno ,, muito com maior razam lhes deue feer
putorguado, que nom poílàm feer em óutra parte
<kma.ndados , fenam em ella. E eíl:o fe nom deue
entender no 9rfaõ , viuua, e peffoa miferaucl, por.. .
que em .eíl:es .fe teerá a ma.neira, que he contheuda.
no. Titulo precedent~. E bem affi os Procuradores · ~
e. ~fcriuaés que procuram , e efcreuem cm Noff'a
r-~_ /, Corte perante_os .Noffos Officiaes da Juíl:iça, e -to-
{. r _ 11os os outros Noítos moradores, que de Nós ham mo-
. ' radia, ou manüme.n to , no tempo em qu,e fegundo.
~ No!ra, Ordenaçam ".encem fua.:. rnoi:adia , . ou .ma.m:i-
rnento: e bem aífi t,ados os .outros,, que ·com cada
huú dos foQ_reàitos continuadamente viue.rem ,, e
com elles andarem- em a·Noíla Corte , todbs eíl:es , -·
·e cada huü delles nom podem.feer demandados fe-
nam em a Noffa Corte, _poíl:o que no dito tempo
-{óra d~lfa· fejam achados; .fal.uo fe elles fóra.da .Cpr...
~t; ouuerem.feito algua força ,_ roubo , furto'>- inju.
i:ia , ou qualquer outro m~lefic.io ;. cà. em.taees ca~ ..
fos, e Cé\da,huÜ' Q_elles, poderam ·feer demandados,..
e acufados. em effes luguaies.onde os maleficios-fe-·
. -.zeram , e· cometeram , poíl:o que hi no_m fejam
.achados ., fe aquelles a que taees.. rnaleficios fqi:em~
tei~.os J. os q~.i.fer.em anteJu acufar J _e_.d.e_maudar.
. . l . ~.
Dos Q.YE Po.nrM sEER. cIT~ E TRAZ. AA Con:n. '.t"I

_ t E BEM affi Dizemos nos feitos das foldadas ,


guardas • e condefilhos , e em feitos de pequena:
qua_ntidade ; cá em taces feitos como . dl:es ·pode-
ram fecr demandados na Terra , fendo achados hi ~'
ou na Corte, onde mais prouuer aos Autores.
_ 2 ÜuTROSJ fe alguü priuilegiado fe·obriguaffe,
a.paguar algüa diu,ida, ou refponder por algüa .ra-
zam em algüa certa·Villa, ou Luguar; ou perante
alguü certo e declarado Juiz , em tal cafo poder:i
hi· perante elle fee-i: citado, e demandado, pQfto q~1e
~i nom Jeja achado , nom embarguante qµalquer
pi;iuilegio, que em contrairo t~nha ..E eíl:o Entende.....
i;nos e :Oe~laramos, que aja luguar geeralmente affi~
em aquelles que fendo demandados podem efco-·
l.her por feu Juiz o Corregedot; da Corte , ou os So..i
brejuizes da Ca(a do Ciuel, ou os Juízes Ordinarios. ,
, "J
-de [eu foro , como nos outros , que dereitamente:
Çeuem fer demandados na Corte , que poi& de feu·
prazimento fe obriguaram paguar, ou relponder em·
certo luguar fóra da Corte ,juíl:a e razoada coufa he,..
qu·e alli poffam. feer detnandadds •.
. 3 E Q.Y·AN oo algua ·peffoa· fe obriguaffe geeral~
mente rcfponder perante quaefquer.] uftiças , , onde ·
~ Autor o quife(fe deman~r, , em tal ca.fo poderá.
foomente feer demandado no luguar onde for acha-
do~ mas _nom .poderá. em outra parte feer citado; pe•
ra hir refponder a.oµtro Iuguar. , que nom feja de
feu foro, ainda que o Aut0r o hi ,qµeira deplanQar., .
poíl:o -que em çal .. obriguaç"m' rcou~ci-aífe J ui1~ de:
fe~ , foro.. + Ou..
22 o TERCEIRO LIVRO DAS ' ÜRDEN. TIT. V.
4 OurRosr fe alguü cometeo maleficio na Cor-
te ~ ff@m fendo a effe tempo morador no luguar
· onde a Corte efteuer , ou fez hi alguü contrnd:o >
perque fe obrigou a paguar hi , ou feer :citado ·e re-
e
ípondú na Corte, em taees .cafos cada huü delles
. poderá feer acufado e demandado em a Corte' ., ain-·
da que nom feja 'achado em ella. E bem affi dize-
mos naql!Clle, que' 'na Corte feze!fe alg~ü quàfi cóh-
traêto , trauta'ndo hi alguü neguocio ê:Yn nome dou-
tro , affi como feu Tutor, Curador, Procurador ·, e
'F eitór , ou per outra qualquer guifa N~gúocfadàr ,
' nom fendo h1 a effe tempo morador ; porque taees
r------ /5 - · : como :eftes poderam na ·corte feer demandàdos •
l..·"\ ~ainda· quê nom fejam achados em eJla. . . . .
·. 5 K PODEM .ainda:.. (eet citados pera: ·a Corte, e
e- ham em ella de i·efponder (perante os éorregedo..
.· res ~ou Ol;lti'os Defembarguadores, a que o ·tonh'eci ..
mento dos taees éafos pertencer ) os Concelhos ,
'co~·regedorcs, ·e Júites, e Alcaides Moores-, Ricos
e
Horriés, Ricas 'Donas' , e quaefquer outras peffoas
' f(!cuiarés, qtfe jurifdiçam ·ae Nós ieuerem, em"-qual-
quer p~rte de Nofros_Reynos é Sehhórios , e :os Me..
ftres das Ord~s , e 'os Comendadores 'que terh Lu-
gú:r a~ senhoriü , 'nos caros etn que a jurifdiçarn a
N6s pertenÇa, e affi as pefÍ'oas Ecciefiaíl:ica·s ~ que
_nom tem foperior Ecdefiafüco Ordirtario rio Rey-
rto, 1egundo ditremos no .fegundo Liuro, no Titulo
em
prihieifo. .E os fobr~ditós efté Capitulo 'podem
Jnefmo
' 'i'ifo fee'i citados é dçmandados phante os
So-
~E CoNC• CoRREG. ou Juiz NOM SEJAM CIT. 23

Sobrejuizes da Cafa do Ciuel , nos-cafos de que fe-


gundo o Regimento de feus Officios a elles poffa
pertencer o conhecimento, fe os Autores perante el-
Jes .os antes .quiferem demandar , e defpois qu~ o
Autor hüa vez efcolher o Córregedor da Corte , ou
vs Sobrejuizes, nom_poderá mais variar~ ·
6. OurRosr os Prelados de Noífos Reynos , que
de Nós, ou de Nolfos Predeceífores tem.jurifdiçam ·
temporal, ou Dereitos 'Reaees, vfando da jurifdiçam
contra tõrma dé fuas doaçoés , ou leuando os Derei-
tos Reaees , como nom deuem , podem feer citados
pera .a Noffa Corte , poílo que em ella nom fejam
achados , e hi refponderam.
,. . .

TI TU L .O VI.
; t'
~qe Concelho, Corregedor, ou..Jt(.iz nomfijam · citados,
, . . . . Jem . 7V!andado
. ifpecial d' E!Rry. ,

·C ONCELHO .alguü n m ferá citado aa petiçam'


0
dou~ro Con~elh<.>, ou de qualquer outra peífoa ;,fem.
e
Nqfrq Mappado efpe~ial : outrofi Corregedor , ou
qualquer Julguador temporal, durante o tempo .d~
fua , Co~reiç;un, ou Julgu:ado, nom podem feer e~·
tadps fem Noffo efpecial Mandado, faluo fe fo.1: po~
cat~ fa dalguü . ~aleficio, que.cada huü dellcs c~me.'
teíle , ou ouueffe cometido ante d~ Officio ,_ ou. d u.:..
1ante.o Officio, affi acerca.de feu Offi.cio ,.como fó.;;
r
ra.
: -14 O Ti:l'l.·CE.r.Ro J.:.rv~o :· DAS ÜRDEN •. Trr. VII'.
.ra <lelle, poJque entam·poderam feer citados, e acu::.
. fados por.eUo fem ·<n1tr.o Noíro ·Mandado: e quando
alguü quifer citar .Concelho, Corregedor, ou Juiz
•temporal, faça-G faber a Nós, pera veermos e efguar-
rlarmos a qualidade . do feito, e affi do Autor , e
Reo -: e porem Mandamos , que nom feja alguü
·Noífo Official tam oufado, que dee Carta pera citar
·concelho , Corregedor , ou Juiz temporal , em
.quanto durar o tempo de feus Officios fem Noffó
~fpecial Mandado.

TITULO vn. ··
'Dos· rjue podein e deuem'fier citados qué pareyàni
pef!oalme17Je _em Juifao,.

T.ooo aqaelleque -he _citado por feito ciu.e l, po...


de mandar .feu Pr:ocura.dor abaíl:ante , que 1 por elle
aja de refponder, e nom he theudo de hir refponder
.a j~izo por peíloa contra fua vontade, faluo quando
·o Julguador Ui.o mandar exprelfarnente pera lhe fa ..
2er algüas pr~guntas· , que .necelfariamenre per~en­
:çam a bem de feito, fem as quaes juíl:amente nom
pode feer defembargu.ado: em tal cafo .deue 0 :({eo
.per pelfoa hir aojuizo·refponder aas perguntas.- que
lhe forem f.éitas ; .e nom obedecendo elle ao maqda ..
-<lo.. do Julguador, nefte cafo poderlhe-ha.poer,pena .
de.. dinheiro, . o.u aue-lo ·p or r:euel , ,po!lo que ·feja
pre-
Dos Q!!E PODEM t DEVEM SEll:R crT .i\DOS. 25

prefente , e proceder contra el,le no feito aa fua re-


.. uelia, fegundo lhe bem parecer, e a qualidade dQ
feito requerer.
· . 1 . EM feito crime pode o Reo citado parecet~
por feu _Procurador abaíl:ante, que por elle refponda
em J uizo, fe o crime he tam leu e, em que nom cai.,
ba moor pena, que de degredo temporal, ou di pe'."'
ra fundo; porem eíl:o nom aue,rá luguar em o que
tomar Carta de Seguro, ou de Fiança , ou fendo pre"..:-
fo fobre foa menage pera andar pola Cidade , ou
:Villa, porque em cada huü deíl:es cafos , poíl:o quç
o crime feja leue , e em que caiba menor pena que
de degredo temporal• fempre os fobreditos feram
...,
obriguados parecer em peíloa em juizo; e fe moo>;
'>
)

pena hi coubeífe , nom lhe ferá recebido Procura":'


dor , nem Defenfor, mas ha pefioalmente de viii;
a Juizo defender-fe do crime em que he culpado; ~
7
.,
'
em outra gu.~fa procederam contra elle aa fua reue-
lia , como for achado per dereito.
2 E sE alguü for citado pera . peffoalmente re-
fponder em feito crime onde caiba mor pena que de
·degredo , poíl:o que em tal .cafo elle fe no!ll poífa
rlefender por .Procurador, !)Cm Defenfor , que por
.elle refponda ao feito principal, fe elle for impidi-
'do de tal e tam euidente necellidade, que peíiq_al:.
mente nom polfa parecer em Juízo, poderá manqa}:'
feu Procurador , que por elle em feu nome alegue,
e moíl:re o embarguo, e razarn de fua abfencia e
neceffidade ~ por que nom pode peífoalmente parecer
,-r . . ~~Lt:v. III. D 110

f
~6 o Ti,;RCEIRO LIVRO DAS -ÜRDEN. TIT. VII.
no dito juízo, o qual Procurador ferá ouuido acer-
éa do dito embarguo, e fe aleguar razam lidima acer.., -
ca do dito embarguo, frr-lhe-ha recebida; e pera ale-
guar tal embarguo , e abfencia , nom tam foomente
ferá recebido o Procurador, mas ainda qualquer
do pouo fem- Procuraçam, poíl-o que feja _menor de
vinte e cinco annos, molher, ou feruo.
3 E AINDA que o citado em feito crime, onde
foomente caiba pena de degredo temporal, ou di
pera fundo, poffa parecer por Procurador; porem fe
alguú Fidalguo, ou qualquer outro que de Nós Ter-
'ra teuer, vfar della , ou contra os moradores della ,
como nom deue, e Nós formos affi dello informado.
em todo cafo que nos bem parecer, e EntendeFmOS
affi por frruiço de Deos, e Noffo, o Poderem-os man-
car citar , que per peífoa pareça perante Nós a..
âia certo ~que pera ello lhe feja affinado , e fe efcu-
far do que aHi Formos contra elle enformado,e nom
parecendo elle peffoalmente perante Nós ao dito
termo, Mandaremos proceder contra elle corno re-
uel ·, como acharmos que he dereito ,e o cafo reque-
rér; e affi auerá luguar em·qualquer outro,_ que de
'Nós Terrã nom tenha, e ouuer feita algúa coufa ~
porque Nos pareça que com jufta razam: deue pare-
cer perante Nós peífoalménte , pe.ra fe efcufar do.
·mal que aili fezer.

TI.. ""'
l(

Dos . QYE . NOM PODEM S]i:ER CJTAI),OS. 27

T 1T .u t;o VIU.

Dos que nom potiem f eer rit ados por catifa de.feus Ojji-
cios , ott P1[oas, ou Luguores, ou por algüa outra
caiifa legrúma ; e quando os Ojftdaesjeram.fu.fpeefos.
-
Q UALQµERJulguado/ remporal, que pode
conhecer de feitos crimes , ou ciueis de tpda contia,
nom pode citar , nem feer eirado durante o_.tempo
de feu Officio , por nom feer tirado das pccupaçoes,
que ao Officio pertencem , faluo fe ª· auçam que el-
le quifeífe tentar contra outrem, ou. outn~:m COI~tra
elle foífe i.al, que pod,eria perec.er nom fendo tenta-


da durante o tempo de fcu Officio , cá em tal e<\fo
pode.rã citar , e demandar, e fee.r citado e. demanda~
do atee fee~· a dita a.uçam perpetuad~ por con~eíla~ ,
çam, pplo Autor nom perder fel! dereito por min-
goa .d a dita citaçam. Peró fe e!Ie ante de auer o dito
Officio, ou durante 9 Officio, ouueífe 'cõmetido al-
guü maleficio, affi acerca de fel! Officio, co~o fóra
(iielle, poderá ,feer demandado e acufado por ellc,
fem mais omro No{fo Mandado , e em eíle cafo fe-
i;á f~u .Officio dado, ou. come~.ido ~a ~~tr~m ; .que.
delle vfe,, atç:e elle. feer .l.iure, e achado por fem .cul-
pa· de:> maleficio. E eíl:a _fuípenfam .f.e fa~á a qual-
quer outro Offic~al de. qualquer qualidad~ q1:1e feja '·
que for acufado>por .~ífº• que fe digua teer feito _por
maliciª,em feu Officio,, que prouado mereceria per-
.. ' .D 2 . . ., . ··de-r
28 · O TncEIRo L1vRo DAS O~orn. TIT. VIH.

der o dito Officio , e eíl:o em quanto a 'dita acufa-


çam ou demanda durar, a qual fufpenfam fe fará
tanto que o libelo for recebido contra o acufado,
pofto que feja acufàdo por erro cometido per Of-
ficial, que por elle. feruia. E em quanto o libelo
nom for recebido nom ferá o dito Official affi acu-
fado furpenío, por fe dizer que he acuíado, fe ou-
tras culpas hi nom ouuer, porque pareça ao Julgua-
oor que deua feer fufpenfo antes que o libelo feja re-
cebido. Porem quanto aos Officiaes que forern pre-
fos quer em cadea , quer fobre fua menage por er-
ros do Officio, feram logo fufpenfos tanto que fo-
rem prefos. E fendo prefos por outros crimes fóra
do Officio em cadea pubrica, nom poderam feruir
feu Officio em quanto affim prefos eíl:euerem. Peró
-..,.,_,._ .. a Nós ficará prouer fobre as ditas fufpenfoés, con-
firada a qualidade do acufante e acufado, como fen-
tirmos- feer bem e feruiço de Deos, e Noffo.
1 E OUTRO s1 nom poderá o pad.re natural e le- •
gitimo, ou natural tam foomente, nem outro alguü
afcendente macho, ou femea, feer citado por feu fi,_'
lho, ou outro qual'q uer defcendente, poíl:o que fêja:
cmancipf!do J por ninhüa coufa ciuel J nem crime ,
nem o· patrono , nem q uaesquer defcendentes, nem
afcendentes do dito patrono , por feu liberto , fem
primeiro impetrarem licença· do Juiz·, que de tal'
t:aufa ouuer de conhecer ; e o·que·o·contra iro fezel'- ,l!J
cncorrerá em pena ·de cincoenta- cruzados doum
p.era. aquelle que affi for citad.J , fem a dita licençac
de>.
Dos QYE NOM PODEM SEER CITADOS. :29

do Juiz feer primeiro impetrada, fe a dita pena de-


mandar quifer. Porem fe antes que feja citado pola
dita pena quifer defiíl:ir da dita citaçam , e iníl:an-
cia daqudlc Juizo, podelo-ha fazer, e fazendo-o
.nom poderá feer demandado pola dita pena ; e [~
aquelle que em a dita p~na encorrer nom teuer fa..;
zenda , porque fe poffa paguar a dita pena , ferá _pu-
nido corporalmente , fegundo a qualidade das pef-
foas, e aluidro do Julguador.
2 NEM poderá feer citado o padre adoptiuo
per o filho adaptado durando o tempo da adopçarn,
nem o fogro , ou fogra per o genro, ou nora , em
quanto antre elles durar a- affinidade , nem o padra-
fio , ou madráíla per: feu enteado , ou enteada, ern
quanto durar antre elles a affinidade ; e a dita cita-
çam feita fem a dita licença impetrada ferá ninhüa •
e a ffi o procelfo que fe por ella fezer, (fem encorrer
na dita pena de cincoenta cruzados , nem em outra
algüa ) faluo fe o dito citado per füa vontade quifer
refponder , e nom requerer que fe anule a citaçam,
e aétos por ella feitos , porque em tal cafo parece
aprouar a dita dtaçam e aétos.
3· E 1\ss1 nom poderá o padre feer eirado por
feu filho , que em feu poder teuer , que fe cI:.ama
em-dereito filho familt".15, nem lhe ferá pera iffo con-
cedida licença per o Juiz , pof.lo q1:Je lhe requerida
feja ; faluo fetal filho teueffe alguns bens >ou fazen-
da , que ouuefTe guançados em aéto de guerra , ou·
letradura, ou per -doaçam NoHa ,. ( os quaes bens fe
em
30 o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN, TIT.-VIII.
em dereito chamam peculio cajire1!fe J ou quaji cajiven-
Je) e fob re el!es' ou coura que dclles dependa o qui-
fer dem andar, e cfco auendo o tal filho hidade com-
prida de vinte e cinco annos, em que he legitimada .
a pe!Toa , pera pode r por fi, e em fcu nome eíl:ar em
juizo , ou tendo impetrada Carta de Nós de fopri-
mento de hidade, que comúmente fe chàma de
emancipaçam.
4 E BEM affi polo díto modo poderá o padre
feer demandado por o filho familias · fobre ·aquelles
bens, e coufas aduenticias , em que o padre fegun-
êo d<i:fpofiçam ·de de rei to nom deu e auer o vfo e
fruito, ou pofto que nellas tenha vfo fruito, fe as o
dito -padre diffipaffe, ou gafta!Te, ou em tal manei-
ra danificaffe , que o filho as nom poderia defpois
~ .- -o; recobrar ao tempo que lhe ouueflem de feer reíl:i-
tuidas.
' 5 ITEM no .cafo onde o padre diz , que o filho
eíl:á fob feu poder. e o filho diz feer emancipado J
ou diz que por dereito deue feer feu pay coníhan-
gido ao emancipar.
6 · ITEM quando o filho pedir ao padre , que lhe
aee mantimento fegundo a facultade de feu patri-
momo.
• 7 Üu·TRo sr fendo o filho, ou liberto Tutor , ou
Curador , Feiror., ou Procurador doutrem , poderá
c:itar feu pay , ou feu patrono, e affi os feus afcen-
dentes, ou defcendentes, de que acima he fe;ita
n\ençam, fe os quifer demandar em nome .daquelle,
CUJO
\

Dos Q!JE NOM PODEM SEER CITADOS. 31

cujo Tutor, Curador, Feitor, ou Procurador -for,


poíl:o que nom aja impetrada a venia do J ulguador,
perante quem os quer demand a r. E rorem no cafo
onde corno Procurador o filho, ou liberto quifer
demandar cada hüa das ditas peíToas, nom o pod erá
fazer, íaluo auendo elle hidade comprida · de dez e
fete annos, e nom fabendo ao tempo que a dita
Prcicuraçam aceptou , que a dita demanda fe auia
de fazer contra as fobr editas peffoas , nem iífo mef-
mo o fabendo ao dito tempo o que o aili coníl:iruio
Procurador; porque achando que o fabia cada huu
delles , nom ferarn recebidos a poder fàzer tal de-
manda contra as ditas pcífoas , e todo o que ja for
feito pala d-ita Procuraçam ferá ninhuu. E no cafo
que ninhuú delles o fabia , ainda <>dito filho, ou li-
berto nom poderam demandar as fobreditas peffoas,
eíl:àndo o que o coníl:iruio por Procürador prefente ·-
no Luguar, ou c:m outro qualquér que fem a de;
manda perecer , ou fem receber perda, o que o affi
confütuio, poderia feer a ui fado polo dito filho, ou
liberto, que coníl:ituiíTe outro Procurador; porque
eíl:ando em tal Luguar nom feram os fobredito~ re-
cebidos a demandar as ditas peíToas, e todo o qu~
for fc:ito ferá ninhuú, como em cima dito he.
8 E SE o padre, ou patrono for Tutor , ou Cu,.
l'ador, Procurador, ou Feitor doutra algúa peífoa,
e o filho , ou liberto em feu proprio nome o quifer
,citar e demandar por coufa que pertc:nça a aqueUe >
cujo Tutor> ou Curador> .Procurador, ou Fe;ror o
pa-

I
32 o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. Tfr. VIII.
padre , ou patrono for, nom o poderá fazer , fe ..
nom em aquelles cafos, em que o demandar pode-
ria , fe em feu ·proprio nome o p:i.dre , ou patrono
foffe demandado , e impetrada primeiro a dita li-
cença.
9 1TEM nom pode feer citado o Creliguo na
Igreja em quanto celebrar o Officio Diuino. E. a ci--
taçam que fe faz em tai!uguar, e tempo, ferá aui-
da por ninhüa. E bem affi o Leiguo nom pode fcer
citado na Igreja no tempo em que efteuer em ella
ouuindo o dito Officio , e fe elle dteuer na Igreja fa-
lando, ou paífeando por ella, nom ouuindo o dito
Officio, em tal cafo poderá feer bem citado , e re-
fponderá a qualquer tempo que lhe for mandado.
10 ITEM o marido, nem a molher nom podem
feer citados ao dia cle fua vbda, nem di a noue dias
feguintes , contados do dia em que affi cafarem. E
a citaçam fe ita no dito tempo ferá auida por ni-
nhúa. E bem affi todos aquelles que andarem em
algüa feíl:a de voda , nom poderam em eífe dia em
que andarem em ella feer citados pera refponder
·em eífe dia , mas poderam feer citados pera refpon-
'd er no' dia feguinte, em que fe fezer Audiencia.
1 1 · E ou T ROS r o marido nom poderá feer citado
)lo tempo que teuer fua molher finada , nem o dia
. -em que for enterrada, nem deíle dia a noue dias fe.;.
ºguintes, ·e bem affi fe guar.d ará na: molhe~ a quem
morrer o marido, e do filho a quem morrer o pay f.·
ou mây, ou ~rmaõ; ou irmã, (l: do padre, ou madre
~"

e
)

, . Dos Qll'E NOM PODEM SEER CITADOS. 3J


:a, que morrer. filho , ou filha ; e a ,citaçam feita em
tal tempo feja auida pot~ ninhüa, e todolos outros
que · eíleuerem . com o dito finado , ou com elle fo...,
rem ao enterramento , poderam feer citados no dito
tempo pera refponderem , defpois que o finado for
enterrado, e . acabad~.f o Officio de feu enterrarpento.
I2 E sE alguü for citado fendo enfermo de tal
_enfermidade ', que . ra,zoadamente , nom poífa hir a
Juiio , auerá noue dias contado.s do dia que lhe a,
citaçam for feita pera hir , ou mandar feu Procura-
dor, -que por elle refponda no Juizo, pera que for
citaâo ; e durante o dito tempo dos n.oue dias nom
poderá o Juiz proceder contra elle , e procedendo
quanto hi fezer ferá ninht1Ü , fe elle for fabedor dii. '
enfermidade do citado , e nom o fabendo , poderá o
citado ilffi eQ.ferrno desfazer o procefio que contra
elle for order:iado , per remedia, de reíl:ituiçam da
daufula geeraJ.: e fe <\enfermidade for tam perlon~ .
guada , que dure r:nais ·dos dito.~ noue dia.s , em tal
cafo fe enformará o Julguador, fe o dito Reo enfer-
mo he tam aficado de fua enfermidade, porque ra..
zoadamente nom pode hir ao Juizo, nem rnan1~ar:
enformar pera ello feu Procurador ab~ftante , e en-
tam lhe dará de efp4ço outros noue dias, ·o.qual ter·
Jl10 paífado poderá o Julguador . proceder cont.ra, el~
le aa fua reuelia, ,nom ,mandando ProcµradQrJuffi..:
e;iente ao dáto Juízo,~ fe aconteceÍfe .alguü aíJi_À.u-:
' tor, como Reo feer e9fermo d,efpois qu.e ·a pema~.da1
;fufie começada , e a lide conteíl:apa , em ial ca(o..
. Li,p. 'JJL J::; . aue., "

I
.3;4 O Trn.cEIRo LtvRo DÁS Oru>r:N. TTT. "VIII.
_a üerá foornente huü efpaço de noue dias, pera fazer,
e·enformar, e mandar fru Procurador, o qual termo
pa!fado norn auerá mais outro, e poderá entam aa
f'ua reuelia proceder , nom mandando Procuradot,.
fuffi.ciente.
13 ITEM nom fetá citado o Preguoeiro em qua.n~
to apreguoar algúa coufa , que a feu Officio pettén-
ce , nem confüangido pera hir ao J uizo, nem· re-
f ponder em quanto affi andar apreguoando. Peró
çoderá feer citado em quanto andar a.preguoando ,
pera refpondcr defpois que deixar de a.pregt10ar.
t4 ·ITEM notn poderá feer citádo aquelle, que he
prefo ou encarcerado em cadea pubriea por auétori~
d ade de J uftiça ·, ou em fua cafa fobre fua menage ,
-pera a'uer de refponder por feito ciuel , em quanto
a-ffi for prefo. Peró bem poderá faer citado , poíl:o
que eíl:ee prefo ·' pera refpondcr defpois que for fol·
to-. E ·procedendo alguü J uiZ contra o que he prefo
por citaçam , que lhe he feita na cadea , ou em cafa
fohre fua menage em feito ciuel , tal proce!fo feja
·nirrhuü fabendo o dito Juiz como tal citaçam foi fei-
ta ao prefo ; e nom o fabendo o Juiz , o proceífo
que fe c:,:ontra tal prefo fezer valerá; porem o tal pre-
fo o poderá desfazer per via de reftituiçam, que em
dereito fe chama claufufa geeral. E eíl:o que dito aue-
füos do prefo, e encarce.rad_o , nom auerá luguar
quàndh dle foífa cita:do pera refponder · no Luguar
-onde·he·prtfo po·n :aufa leue, e de pequeno perjui-
·@ ;_ pol'que em ta.l cafo -bem pf.KicÚi confütuir fet.1
Pro~

-\
Dos Q.lJE NOM PODEM SEER CITADOS. 35
Procurador ,pera em feu nome refponder, poífo que
prefo feja. Nem ifio mefmo poderá feer citado o
que he prefo fobre fiança , ou a que he dada a Villa
por prifam, faluo fend,o a citaçam pera o Luguar em
que he prefo. Porem todo feguro por qualguer feito
crime poderá feer citado,-çorno que feguro nom fof.
fe. E bem affi todo prefo pode feer citado pera·fei ..
to ciuel, pera feguir a demanda que ant-e de fua pri..
f.am ·era ja começada.,. e affi pera fe executar a fen. '
tença , fe contra elle ja fora dada, ou fe der jazend()
prefo.
I·S 1TEM nom fei;á ninhuü citado per Porteiro í
nem perante teíl:"emunha , em fua cafa de morada ;
peró eftando elle aa fua porta ,- ou janella , ou den~
tro, em guifa que poífa feer viíl:o de fóra da rua 1 ~
em tal cafo poderá feer citado, e valerá a citaça.m •
com tanto que aqúelle que o citar a cite de fóra t
e nom entre em C$1fa; porem·bem poderá feer cita..,·
do cm fua cafa por Tabaliarn ~ ou Efcriuam , poc:
mandado do Julguador.

·r
; ·!

-·~
TJ-i

ti·
J
36
'I
o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. IX.
..·TITULO IX.

Do que he citado pera refpondtr em huü tempo. tm dif-


uairados Juiz.os , ou fendo citado frfi chamado por
E!Rey.

SENDO o Reo citado , que a huG dia aja de pa-


. recer perante defuaira<los Jaizcs, e eífes Jaizes nom
fam iguaes , em tal guifa que huü' Juiz tem jurifdi~
pm fobre outro per via d'apellaçam, ou agrauo, ou
fimpres querella, em tal càfo;deuc o citado hir pri-
meiramente refponder perante o maior Juiz , e can-
to que fe ,acabar a Audiencia deífe Juiz, deu e logu~
hir refponder perante o menor ; e'fe os Juízes per-
,-· ante que he citado·fam iguaes ·, e as caufas porque
he ci~ado fom iguaes , que hüa nom he mais graue
que 'l_outra, nom embarguante que o Reo feja theu~
.rlo .de refponder; e hir perante os ditós Juízes,' peró
·ficará em feu aluidro hir, e refponder primeiro, per~
ante qual lhe mais aprouuer; e defpois que fe aca.,.
bar a Audiencia daquelle huú Juiz, deue loguo hir
refponder perante o outro, e durante a Audiencia
do Juiz a que primeiro for nom ferá auido porre-
uel no outro Juizo, pera que foi citado. Peró fe a
.çaufa de huü Juízo foífe mais graue que a outra, de-..
ue o citado hir primeiramente ao Juizo. da caufa
mais graue, e de maior perjuizo, e tanto qu-e fe aca-
bar a Audicncia d.a caufa mais perjudk:ia.1 , entam
hirá
.
•' bo QlJE HE Cl T. PERA RESP, EM HUM TEMPO. 3:7

hirá refponder aa outra caufa, que nom he de tanta


fuíl:ancia, e em todo cafo onde o Rco for citado pe-
ra refponder a huü dia _certo por duas caufas, ou
mais , perante huü Juiz a requerimento de húa par-
te, ou partes diuerfas, cntam hirá fempre refponder
perante elle, affi por hüa coufa como pola outra , e
nom hindo , ou nom mandando Procurador fuffi-
ciente, poderá hi feer auido ppr rcuel.
1 E SE o Reo foffe citado pera refponder a huü
dia certo em defuairadas Villas, ou Concelhos, fe a
diílancia dos luguares foffe tam grande ,que ~lle ra-
zoadamente nom podeíTe no dito, dia parecer per-
ante os ditos Juízes ambos, em tal cafo hir~ primei-
ramente aaquelle Juizo, a que fegundo a diíl:inçam
que em cima fizemo~ he theudo parecer, e fazer hi
_feu Procura.d or, e deshi hir loguo Jl outro Juízo,. Oll
mandar feu Procurador , e poderá fi_car no primei..:
ro , ou fazer Procurador fufficiente per~ ·os ditos '
Juízos, como lhe mais aprouuer, auendo pera ello
efpaço razoado , fegundo for a d.iíl:ancia de huü lu~
guar pera outro •
.2 E SE defpois que o Reo foffe. citado pe~a huü
Juízo ouneíle feito alguü: contraéto ,. ·ou algúa outra
coufa, porque foíle citado pera outro·Juízo, em que·
,ouueífe de refponder ao dia, pera que primeiramen-
te foi citado pera outro Juízo, em tal cafo ferá eUe
theudo hir refponder aas citaçoes ambas , e norn.
hindo aos ditos Jurzos ambos, ou nom mandando
Procur.idore~ fufficientes 1 poderá feer. auido per re-.
llell
J'S o TERCEI-RO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. IX,
ue1 •em aque1le Juízo onde nom parecer per fi, nem
per outrem , com [eu poder comprido, ainda que
os Auditorias deíl:es J uizes concorram em huú tem-
po.
3 E sE alguü foífe ,citado pera refponder a cer,;,
to dia perar:te alguü JUÍ'l, e ante deffe día elle fof-
fe chamado per Nós , ou per a Rainha Minha 1\fo•
. lher, ou pelo Príncipe Meu Filho, em tal cafo elle
hirá primeiro ·ao dito chamado , e durante o tempo
de íua bida , eíl:ada, ou tornada, e mais dous dias
pera repoufar ( fe a diíl:ancia dos Luguares for mais
de vinte leguoas ,_ e fe for menos auerá huü dia )
nom ferá theudo refponder aa dita citaçam , ceffart-
do acerca de tal chamamento , bida , vinda , ou
eíl:ada toda arte , ou enguano. E efto fe entenderá
'quando Nós , ou a Rainha , ou Príncipe efteuermos
fóra daquelle Luguar , pera onde o dito Re.o era ci-
tado ; cá em outra guifa: refponderá ·a a dita citaçam
'fen'l embargue de affi feer chamado. E quando Nós
·nos ~ifermos feruir delle > Poderemos dar remedia
acerc4 da dita citaçarn, como for Noffa Merce, e G
Entendermos por Noffo feruiço.

T I..

'\ i

ttl Dos Q!JE PODEM sEER c1T. PER. os Ju1zES Otw. 39

T l TU LO X.

Dos que podem feer citados perante os Juizes Ordinarios,


aind,1 que nom f ejam a chados em jeu Cf'errilorio.

T 000 homem póde citar feu adueríario


o Juiz Ordinario de fru foro, fe o feu aduerfario hi
p~rante .
he mor~dor no Luguar , e hi for achado ; peró fc fe
elle abfent;ir, poderá o Juiz mandalo citar per fua
Carta Deprecatoria pera os Juízes dó Luguar onde
quer que for, declarando cm a dita citaçam a ra·
21\m,
. \
poFque o afli manda eitar fóra de feu Territo·
.
r10.
'. E PODERA' o Juiz Ordinario mandar citar fq-
1
Fa de feu Territorro qualqo~r pdfoa, que lhe reque-
r ido for , fe lhe for mofüada efcriptura pubrica ,
perque elle fe obrigúou a refponder , ou paguar no
dito Luguar onde elle he Juiz, fegundo em cima
d iílemos nefte Liuro no Titulo .Dos que podem Jeer
â tados e trazidos aa Crírte.
i E OUTRO s1 poderá o dito Juiz Ordinario man-
dar citar fóra da fua jurifdiÇorm aqµelle que for her-
eeiro doutro, que morauã- no feu Territorio _, que
perante clle podera feer citado por a tal caufa , que
~m tal cafo feguir'á o dito citado o ford daquelle , ,
cujo herdeiro. he , ferrr embargm:> de priuilegio que
tenha .; faluo fe tal priuilegio for encorporado em.
der eito •.
3.. K
I

4 o . ··o iERcEino" ;L1vRo DAs óttntN . .TIT. X. ·


3 E PODERA '. O Juiz Ordinario manda1.1 citar fó-
ra da fua jurifdiçam todo aquelle, que quiferem ci-
tar por caufa dalguu neguocio que trautaffe no Lu-
guar -de fua jurifdiçam, affi como fe pôde poer ex-
emplo no Tutor , Curador , Feitor, Neguociador,
Pi'ocurador, e qualquer outro de femelhantc condi- ·
çam; cá em tal caro ferá demandado no Luguar on- ·
de o dito negüocio tratito1,1 ~ ou adrriiniíl:rou ..
4 E OUTRO SI fe algua peffoa efieuer em poífe:
dalgC1a coufa, e for por dla demandado antes ·que
paífe o anno: e dia, contando do dia que a começou
poffuir', poíl:o que . a coufa eíl:ee em outro Luguar,
e nom cm aquelle
1
onde ·o poffuidor for morador,
ferá theudo refponder por ella perante o Juiz de feu ·
foro , ou perante o Juiz do Lt.iguar onde -a ' coufa ·
eíl:euer fituada , onde mais prouuer ao Autor fazer a:
dita demanda.
· 5· E SE o poffuidor eíl:euer em poffe pacifica-
mente por anno· e dia ein prefença de feu aduerfa-:
rio,:· fendo demandado defpois que paffar o dito an~
no e dia , nom fcrá tal pofiuidor obriguado refpon.. · ·'
der por a coufa que affi poífüir , fenom perante o
Ju.j z de feu foro. E fe o poffuidpr for Creliguo d'Or-
des facras; ou Beneficiado , ferá demandado peran-
te ó Juiz .de feu foro , poftà que feja deman:dado
antes do anno e dia. ~er a coufa feja .fitúada onde ·
ellç for mora:dor , quer erri outra parte. ·
.6 . E SE algüa peffoa for citada perante alguü
N o!fo Juiz, onde com dereito e razam auia de re...
fpon-
Pos PRIVILEGIADOS A QYE PER Nossos PRrv. 4r

fponder, e_defpois de feer citado fe foi morar a ou-


tra parte fóra da Noff.'l jurifdiçam, ou daquelle Juiz,
perante quem foi prim eiramente citado, eíle tal fe-
rá demandado perant~ o Juiz , perante quem pri-
meiramente foi citado ~ pofi_o que ja nom eílee' no
feu Territorio , nem em Noífa jurifdiçarn.

T 1 TU LO XI~

Dos priuilegiados a que per Nojjos Priuilegios Jam da-


dos certos Juizes perante quem ajam de rejponder.

S E alg.üas peffoas _teuerem priuilegios , per que


cfpecialmente , lhes fejam outorguadps certos Juizes -....
pera conhecer de fuas caufas e demandas , nom po-
deram feer citados, nem demandados , falu-0 peran-
te os ditos Juízes; peró as di-tas pe!Toas priuilegia-!
das podem feer citados e demandadas perante os
Corregedores de No!Ta Corte, no luguar -0nde Nós·
formos , ou atee cinco leguoas derredor, e os ditos
!=orregedores conheceram , e defembarguaram eífes
feitos em quanto Nós hi formos, e tanto que Partir-
mos de!Te Luguar, os leixaram no ponto e eirado em
que a elfe tempo forem aos ditos feus Juízes.
1 E ESTO que dito he nom auerá luguar na viu-
ua que honeíl:amente viue:e no orfaõ menor de qua ..
torze annos , ou peífoa miferauel , porque taees co ..
Lh.J. lll · F mo
42· o TERCEIRO L .IVRO DAS ÜRDEN. TIT. XII.
mo efl:es nom refponderam perante o dito Correge..
dor contra fuas vontades ; faluo em cafo de força J
foldadas J guarda , condefilho, quando os Autores
quiferem ante perante elle litiguar. E bem affi ~e­
remos, que o Efcolar que continuadamente apren-
de , e eíl:uda nas Efcola:s Geeraes da Noffa Cidade
de Lisboa , nom feja coníl:rangido , em quanto aíli
aprender nas ditas Efcolàs , a refponder e litiguar
perante o dito Corregedor ;· porque taees como eftes
ham de refponder perante o feu Conferuador.

T 1 TU LO XII.

Se o dia 1 em que he ajfinado ou acaba, o termo., fará


contado no dito termo.

E A todo termo que for affinado p9r qualquer


rna'neira que feja J nom fe entenderá no dito termo
o dia em que o tal termo for affinado j e fendo am~
nado termo de mes , ou de anno J todo rnes fe en.J
tenderá de trinta dias , e todo anno fe entenderá dó ,
dié\ feguinte , defpois <lo dia em que for affinado ;
atee outros tantos dias daquelle mes do ailno f~
guinte.
1 E ASSINANDO alguú Julguador termo a algüa
parte, que atee certos dias ou mefes pareça: em Jui..
1 zo, ou faça alguü outro aéto judicial , o dia derra..
deiro em que Je acabar o ter.mo ferá comprendido·
em
\ .
:Do AUTOR QYE NOM PARECF;O AO 'FERMO. 43
em elle ; faluo fe o dito dia for feriado, em: que tal
aél:o fe nom pofTa fazer, porque cm tal cafo n 0 m fe-
rá o dito derradeiro dia contado no dito termo, mas
ferá obriguado aquellç a qüe tal termo foi affinado,
fazer 'o que lhe foi mandado no primeiro dia log~10
feguinte nom feriado, em que o ditÕ aél:o fe poffa
fazer,

T I T U L O XIII.

1 Do Autor que nom parecto ao termo pera que citou Jeu


_ contendor , ou pareceo eJe abfentou.

S E algüa peffoa fezer citar outra perante alguü


J.ulgúador, e o citado parecer em J uizo por fi , Oll
por feu Proc-urador , no termo pera que for , citado ,
e nom parecer o que o"fez citar por fi, nem por feu
Procurador , ou fe parecer, e no.m fez Procurador ,
nem pos libelo, ou petiçam por efcripro, e o dito ei-
rado pedir ao dito Juiz, que o abfolua da tal cita-
çam , pois o que o fez citar nom parei:~ , o Juiz 9
abfoluerá da dita citaçam e iníl:ancia , e cof;!dena.r~
o Autor nai;l cuíl:as ; e fe defpois o tornar a citar , e
o citado parecer, e nom par~cer o que o fez cira.r,
abfoluelo-ha oµtr.a vez daqµellFl in,íl:ancia, e cond~- ­
·.nanLo Autor rias CL1'íl:as ; e fe defpois Ç)lltra vez ter-
ceira o fezer citar, e o citado parecer em Jui_zo pola
!obredita 1n.ane~~·a ,,e no.m pa~ç;q:r 9 qus: o J~E cjt~r.,
, . F 2 fe ..
44 o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XIII. ~

ferá o citado abfolto, e o que o fez citar -condenado


nas cuftas, e noi:n o poderá mais por aqudla caufa
citar em tempo alguü: e fe o citar outra vez, fazen-
do o citado certo , como já tres vezes foi abfolto de
\
tres citaçoes , que pola dita caufa lhe foram feitas,
nbm ferá mais o dito Autor ouuido fobre a dita
caufa, em -que aili tres vezes foi reuel.
r E SE o Autor parecer em J uizo , e nom fezer
Procurador , e der libelo, çu petiçam por efcripto ,
e entonce fe abfentar , e o libelo nom for de rece-
ber, e o Reo quifer feguir a · demanda aa reuelia
do Autor, poderá reque-rer ao Juiz que lhe ailine o
fegundo -e terceiro . termo , e fe nom vier correger
nos tres termos, abfoluerá o Reo de toda caufa, con.-
denando o Autor nas cuíl:as. E fe quando o Autor
fe abfentar, e o libelo for já recebido, ou o Julgua~
dor o receber defpois delle fe abfentar , poderá o
Reo·feguir o feito, e moftrar todo feu dereito aa. re.:
uelia do Autor, e o Julgador ailinará todos os ter..
mos ao Autor, aili pera replica, como pera todos
os outros termos, fazendo-o apreguoar a cada ter-
mo ; e aa fua reuelia lhe a!Tinàrá pera cada termo de
todos os Aél:os judiciaes o tempo e dilaçam que lhe
- affinari~ fe. prefente foífe , fegundo a ordem do J uH
zo', como fe foffe prefente. E rnmo o feito f<_>r con..
clufo pera final fentença, julguari por elle o Julgua..
dor; abfoluendo em todo-da dita demanda , fe tanto
pelo (eito fe moíl:rar , per que mereça feer abfolto; e
moítrando.fe tanto polo feito~ porque o-Reo-aja de
. f~<:~
) ' Do ACToR QYE NOM PARECEO AO !IJ;RMo. 45
feer condenado, cm1denalo-ha, poílo que o Autor
feja abfente , pois o Reo quis feguir o Juízo ,aa re-
uelia do Autor ; e nom fe moílrando tanto por o fei-
to , per que mereça abfoluçam , nem per que po.ífa
condenar o Reo fem fe fazer algüa deligencia em
fauor do Autor,. em tal cafo nom curará de tal de-
ligencia , pois o Autor he abfente, mas abfoluerá o
Reo da iníl:ancia do J uizo, e condenará o Autor nas
cufü1s.
'.2 PERÓ fe o Reo qiüfer tanto que o Autor fe
abfenta em qualquer parte do Juizo ( fem leixar Pro-
curador como dito he ) pedir que o abfoluam da-
quella inílancia , . e nom quifer feguir o feito aa re-
uelia do Autor, o Julguador o abfoluerá da dita in--
fiancia, e condenará o Autor üas cuftas;a qual efco-
lha terá o Reo em qualquer parte do Juízo, poíl:o
que defpois que o Autor fe abfentar , elle requerer
que procedam contra o Autor aa reuelia. Porem em
tal cafo ·nom ferá o Autor condenado nas cuftas ,
foornente naquellas qu~ montar até o tempo que o
:Autor fe abfentou , e elle podera requerer que o ab-
foludiem ab iníl:ancia ; porque as mais <±ue fe def-
pois fezeram, procedendo aa reuelia do Autor, atee -
o dito tempo que elle pede abfoluçam da inftancia ,.
fe determinaram no fim do feito J quando fe ó feito
finalmente fentenciar, fegundo fe a<:har per- juftiçà.
3 E PROSEGUINDO o Autor o feito por fi ~ou feu
Procurador , fe guardará o que diremos 110 Titulo,
Da ordem do Juizo.
\
46 O TERCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TrT. XIV.

4 E EM todos os cafos que diffemos neíle Titu ..


io , que o Reo feja abfolto cla iníl:ancia , e conde-
nado-o Autor nas cuíl:as , nom ferá já mais recebido
o Autor tornar aa dita demanda , Jaluo paguando
primeiramente ao dito Reo todas as cuíl:as em que
fui condenado , qtiando o Reo foi abfolto da inílan..
éia, fe lhas já norn teuer paguas.

TITULO XIV.

Em que modo fe procederá contra ó Reo que for reud,


e nom parecer ao termo, pera que foi citado. l•

S .E o Reo -fendo citado por qualquer a~çam


foal ,. ou real, ou de qualquer qualidade que feja,
pef..
...:·
for reuel , ·e mméa parecer em Juizo por fi, nem per
feu Procurador, ao termo· que lhe for affinado , e
mais tres dias , que ferá efperado ~ ([e for citado por
'Carta pera a Corte. , ou pera a Cafa do Ciuel) ou pa ..
recer, e fe -abfentar fein leixar Procurador, o Autor'
feg11irá feu feito aa f ua reuelia fem ·poder requerer
contra elle, que o metam em poife de ninhuús bens
por benêficio do primeiro, nem fegundo decreto ,
o qual feito feguírá fegundo diremos no Titulo Da
ordem do Juizo~ _ ·
· 1 PE-RÓ fe a--párte que for reuel pa!7ecer em J ui ..
'20, ante que a fentença feja paífada pola Chancela.:.
ria , ou entregue aa parte onde nom ouuer -de paffar ·
· . '· · pola
,
I
DA ORDEM DO Jurzo. 4-7
pola Chancelaria , tomará o feito no ponto em que
o achar , como he contheudo no Titulo Da ordem d(}
j uiz.o no parrafo Eje antes dafentença. E fendo a dita
fentença já paffada pala Çhancelaria , ou entregue
aa p arte , onde nom ouu~l: Chancelaria pera paffar ,
quando a parte que foi reuel pare_c er , nom ferá em
effe J uizo mais ouuido, fobre aquello que aa fua re-
uelia foi determinado , faluo per via dernbarguos,
fegundo no Titulo. Das e.wcuçoes he contheudo no
parrafo E bem afli quando o Reo condenado. Peró fe ~
fantença for fobre a apellaçam fee'r deferta, e nom fe-
guida , guardar-fe-ha o que ao diante diremos -~º
Titulo Da ordem que.fe deue teer nas apellaçoes. E bem
affi nos outros cafos hi declarados.
2 E ESTO que dito he norh auerá luguar quando
o Reo for demandado por efcriptura pubrica, por-
_q ue ndl:e cafo fe procederá fegundo diremos nefte
•Liuro no Titulo Das efcripturas pubricas.

T 1 T .U LO XV.

_,\
48 · O TERCEIRO LrvRo DAS ÜRDEN. TIT. XV. '
\

efcripto, ou per palaura, conteíl.açam , j1:iramento,


de calunia, artigos contrairas, de repricaçam, ou
trepricaçam , e depoimento a elles, e aili os ouEros
aétos neceffarios ao Juizo , fegundo adiante ein os
Titulos -feguintes compridamente ferá declarado; e
em tal maneira que, quando o feito finalmente for
· conclufo, o Juiz feja compridamente enformado da
verdade , em maneira que juftamentê poífa dar fen-
tença dabfoluc/am , óu condenaçam, conforme aa
petiçam.
r E NO começo das demandas dirá o Juiz a
ambas as partes, que antes que façam defpefas, e fe
antre elles figuam odios , e diffenfoés fe deuem de
concordar , e nom curar de gnaíl:ar fuas f~zendas.·
por feguirem fuas vontades, porque o vencimento
da caufa fempre he muito duuidofo: e ifto que Di-:
ze.mos de enduzire~ as partes a c~ncordia , nom he,
de neceffidade ~ mas fooment~ de honeíl:idade , nol!
cafos em que o bem poderem fazer ; peró dl:o nom
auerá luguar nos feitos ·crimes ; ··quando os cafos·fo-
rem taees, que fegundo as Ordenaçoês a Juíl:iça aja
·Iuguar. ' ·
2 E Ao Autor pertence, ante que· comece a de-
manda, auer confclho fe tem dereito em o que quer
deman'd at, e fe tem proua de tdl:emunhas , ou efcri- ·
pturas, em o cafo em que teftemunhas fe nom ham
de recebe:r,.por que da~ameQte poffa prouar fua ten~
çam ; e aili bufcar Proc.urador, que füa caufa aja de
. procurar em tal µlaneira, que ame que o feito co~
me-
I

'
1
DA ORDRM DO Jurw. '4-9
mece ·tenha preíl:es todas as couf<its ,que pera ella Ih~
fam neceífarias , que lhe nom faleça algüa , fendo
certo , que .lhe nom ferá dado tempo pera delibe-
Far , pofto que o peça , fobre aquello pera que fez
citar feu aduerfario ; faluo fe no profeguimento do.
feito o Reo aleguaffe tal coufa , que o dito Autor
nom teueffe razam de faber quando a demanda co-.
meçou , porque em.tal cafo lhe poderá· feer dado
tempo fe o pedir , pera fobre ello deliberar fe pro..
feguirá mais a dita demanda , ou defiílirá della •
. 3 E AO Reo conuem, tanto que for citado, e fou-
ber o que lhe querem demandar , hir a Audiencia
pera que he cita.do, ou mandar pera ello Procurador.
abaftan.te , ·e quando nom poder hír por fi , . nem,
mandar Prnn1rador , mandará efcufador , que por
dle alegue a razam que teue pera nom poder hir •.
011 mandar Procurador ; porque norn o fazendo affi
fe poderá contra elle proceder aa fua reuelia.
4 E DESPoIS que o Reo vier a Juízo por fi , ou1
po~ feu Procurad.or , auerá entarn viíl:a do libelo ou
petiçam, que contra elle he dado; e fe pedir tempo.
pera deliberar, ou auer feu confelho, fe co.ntende.r:í-
em fe defender, ou fe fatisfará ao Autor , em ma-:
neira que ceife de o mais demandar, fer-lhe-ha ou ...
torguado ; e affi pera bufcar e fazer Procurador ; e,
viir com fuas recufaço~s , e excepçoês , e defe~foés .•
fegundo adiante Diremos. Peró fe for eirado , p~r_.
Carta , em que feja declarada a coufa que lhe que..
rem demandar, e aill a razarn que o Autor per-a el~
Liv. IIL G la
50 O TERcErno LrvRo DAS 01mEN. T1T. XV.
., 1\
lo tem , e na dita Carta lhe for affinado termo ra... _
zoado a que pare~a , em o qual termo elle bem po...
derá auer feu con!Clho , fe feguirá a demanda , ou
de!iíl:ir"á della , en;i tal cafo nom lhe forá concedido
tempo pera deliberar, poíl:o que o peça.
5 E TANTO que- o Autor em juiw aprefentar o
libelo ·, loguo dee fiança aas cuftas no dia ern que
o der,· ou jure como a nom acha, e que fe pbrig4a
cle ~s paguar da cadea, nom dâi;ido bens defembar ..
guados , Je nellas for condenàdo ; e·norn a dando •
ou nom jurando, como dito, he , abf.oluerá o -Reo da
ihftancia, e condenará o.Autor nas cuftas, poíl:o que
à pa1:te teriha bens , e feja abonado; e fe a parte nom
cfteuer prefenre no Luguar onde f e a demanda trau-
t.a r, e feu Procurador offerecer o libelo, em tal cafo
nom offerecendo o dito Procurador a fiança pola
parte, obriguar-fe-ha em nome da dita fua parte•
que fendo co).1denado nas cufta.s , que a fua parte as .
paguará da. cadea, como dito he; pera o que abaíl:a~..
hí a Procuraçam que lhe for feita pera procurar o -
dito feito~ aiqda que feja apud afta; faluo fe o Auto1·:
for peífoa que nom feja da Noífa jurifdiçam ; porque
tal coíno eíl:e dará fiança aas cuftas em aprefe_ntan..
do o libelo, e nom a dando , poflo que jure que a
JiOm acha, nom lhe ferá recebido feu libelo , antes
procederá abfolµendo o Reo--ah injlancia-, ou de toda
á·càufa, fegurÍdo forma de Noffàs Ordenaçoés. ·
,.. "' 6. E sE defpais,quc o libelo for dado, e affinaclo
termo.ao R.to·,ee.ra refponde! a elle ,Je. o.Autor d:f....
po~
ÚA ORDEM DO Jurzo. sr
pois fezer algtía adiçam de coufa qúe nom foffe óe•
clarada na ciraçam .bt.J libelo, ferá dado ao Re.o .ou-
tro termo pera auer feu confelho , e refpondet aa
dí ta a diçam ; e eíle prazo ferá mais breue que feer
poder , fegundo o cafo for, o qual ficará em aluidro
do Julguador.
7 E Q!.JANTAs vezes o Autor fezer noua adiçam
a feu libelo du petiçam ; tantas vezes ferá dado ao
Reo termo pera fe aconfelbar e refponder ao em..
adido fe o pedir; e eíl:o fe entenda, fe o Reo ke pre..
fente no Luguar em que lhe fazem a demanda, eni
que affi he feita a dita .a diçam ; ca fe for abfente , e
foornente litigua por [eu .Procurador,. nom ferá o di· ·,
to Procurador conílrangido a refponder aa dita adi-
çam, atee que a parte principal feja citàda pera en-
formar o _dito Procurador do que deue reíponder aa
dita adiçam.
8 E s.ENDo alguu citado por força, noua, que fe
tligua te~r feita a~te que paífe anno e dia, defpois
que a dita força foi feita, nom ferá dado termo ac>
Reo pera auer feu confelho J faluo fe no libelo, o\i
petiçam, ou allçam intentada por palaura, que o-Au ..
tor dá fobre a dita força, emade outra coufa , aalem
da força; ou fe o dito Reo ped.ir termo pera recufar
o dito Juiz , nom pera refpender aa força ; porque
ém eil:es 'd.ous cafos. foo~ente lhes deue .f eer . dad.o
termo, com tanto que no cafo da ·recufaçam logu<>
-a. entente por palaura , cleclaransf o .a ·caufa .por,qµe
entende de recufar a· di:t0 Juiz:- e norn a deciarand<f
• Gz ~
52 O Tmcr;rno LrvRo DAS ÜRDEN. TIT. XV.

loguo , nom lhe feja mais dado _termo, pera. dla, e ~


Jui.z proceda no feito como for dereito. ,
9. E . DESPors, que ao Reo for ailinado tern-10 a
que refponda ao libelo ou petiçam do Autor ,. antes.
que am a ella refponda, nem fale a. bem de feito,.po-
nha qualquer excepçam que teuer, fe quifer recufar.
a peífoa d_o Juiz ,ou declinar fuajurifdí_çam; ou di-
gua contra a citaçam fe ~foi feita como e pera onde
.tiom deuia,. ou em. tempo qüe nom deu ia, ou qual-
quer outra q.ue teuer contra a peífoa que o fez ci""
tar ;, porque fe Ioguo no p_rincipio taees excepçpês--
nom pofer, parece con_fentir ·n a peífo~ do.Juiz. que.
Q mandot1 ci.t ar por em feu foro refponder ,_. e..falar·
a bem. do feito; e por tanto nom poderá. defpois :de....
c~inar o. foro deífe Juiz, nem diz.er contra . a ~it_a­
~anh p9fto que a ci~açam . foffe fe.ita como .nom .de-
ui·a ; e poendo o Reo cada hüa das ditas..excepçoês _,
~ fendo ~al que deua (eer. recebida,. ~ - confeífando-a. .
9 Autor ·, ou prouaqdo-a.o dito I{eo, o Juiz .a bfol-
':JÇ!,fá o dito Rep de tal citaçam, fe ~ excepça~1 for
de declinar.,!uajµrifdiçam ,condenando o Autor na!il
' c;uíl:as, ,fe.aoJülguadÇ>r bem parecer ,_feg_u ndo .a cu~
pa que ,achar: ao dito Autor no ditp cafq ., e-:reme~e-.
lo-ha ao Juiz a qµe pertem:er,, auendo por citado o.
~iro Reo; pera hir. profeguir. a .dita caufa no dito Júi·
zo a qúe pertencer.;,. e efto Jendo :º Ryo .prefente , Oll..
{eu.rumciente Pro~urador p.era .ello",.;a qual remiífam
fará a requerim.ento do Autor, ou .de feu Procura~
·p.or.;. porq1;lÇ nom o re~erendof ()-ALJtor ,_ne.m fea
. Fio"!-

,.
I DA ORDEM DO Ju1zo. 53
Proc~rador, nom remeterá o Juiz o Reo, mas abfol-
uelo-ha daquella iníl:ancia, e quando o Autor o tor-
nar a cit.a r , lhe paguará as cuíl:as ; e fe a e.xcepçam
foomeme for poíla contra a citaçam , ou contra a
parte que o fez citar, fendo de receber, e prouada,
abfoluerá o Juiz o_ dito Reo de tal citaçam ; e ci-
tando-o outra vez comd deue-,-norn fer~ o dito Au..:.
tor àuuido , atee que primeiramente pague ao Reo
as CL~ílas da dita primeira citáçam. ·
IO ITEM quando as partes, ou cada húa dellas
/ vierem a J uizo per Procuradores , ou Procurador.•·
-o Juiz v.erá com deligencia as procuraçoés .fe fam
abaítanres pera o cafo em que fam offerecidas, e
achando que nom fam fufficientes, fe for procura-
çam do Autor, e o Reo pedir abfoluçam viíto como
nom he a procuraçam fufficiente, _abfolua <;> Reo da
citaçain que lhe foi feita , e condene o Autor nas .
cuíl:as ; e fe for a procuraçam do Reo nom abaítan..
te, e o Autor o requerer, aja o dito Reo por reuel •
~ aa fua reuelia proceda no feito como for dereito ; .
e fe as procuraçoés lhe parecerem abaftantes , a:íli o .
declare per feu defembarguo ; peró fe defpois fe
achar que as ditas procuraçoes nom eram abaflan--
tes, o dito Juiz ferá obriguado paguar aas partes
per feus bens todas as perdas e cuítas , que as partes.
J?Or ello receberem ,;fegundo direnios _neíl:e~ Liuro ·
no. Titulq 5Z,ue julguem pala verdade jabida•.
11 E SE cada hüa das partes ,pofer cxcepçam 1
~ntra a peifoa do Procurador ~ .p.or.feer.iml?.idido de.~
. . ~~ '
54 o TERCEIRO LIVRO DAS 0RD!N. TíT. XV.
tal impedimento ou inhabilidade, que o por derei-
to nom pode feer, fe aquelle que tal procuraçam fez
era fabedor de tal impedimento, ou inhabilidade,
quando tal procuraçam fez , fe terá a maneira acima
dita, quando as procuraçoes nom fam abaftantes; e
nom fendo fabedor o que tal procuraçam fez de tal
impedimento na peífoa do que fez Procurador , em
tal cafo o Juiz mandará citar aquelle que tal procu-
raçam. fez , ailinando-lhe termo a que venha fazer
outro Procurador, corno dito he no .I-Jiuro primeiro
no Tit!.llo Dos Procuradores; e norn vindO', ou rnan..:
dando procuraçam feita a peífoa que o poffa feer, fe
for Autor abfoluerá o Reo da inílancia do Juízo,
corno dito he, e fe for Reo proceder-fe-ha aa fuá
reuelia.
I 2 E NOM confentiram os Julguadores aas partes_,
nem a feus Procuradores, requeredores, ou confelhei..
tos, que razoem mais que fenhas vezes, em manei-
ra que cada huõ digua por fua parte todo o que qui-
fer dizer em huas foos razoés ; quer feja fobre o li-
belo~ ou fob!e outra qualquer coufa em que ouue::::
rem de razoar , ou fobre a definitiua : e nom lhes
confentíram razoar per palaura ; faluo fe o feito ou ..
uer de feer vifto em Rolaçam, e a Nós , ou aos Def-
embargadores que o ouuerem de julguar, parecer
bem em alguns cafos, e duuidas efpeciaes , que de.
uem feer ouuidos per palaura ; e entam nom diram
coufa aigüa do que ja teuerem dito por efcriptõ em
eífe. feitp ., fegundo ja he dito no Titulo Dos Procu~
radores~ 13 E
'I
D_,i,. ORDEM DO Juizo. 55
13 E MANDAMOS que nenhúa das part«es nom ra-
zoe fobre ninhuus artiguos , que fe nos feitos feze-
rem , faluo fobre o libelo razoaram fenhas vezes •.f. @
Reo primeiro , ainda. que o Autor com o libelo of-
fereça efêriptu.ra, e o Autor por derra<j;eiiro. E os ou-
tros artiguos 1!©dos vam conclufós. fem nir.ihua das
parnes ra11oar·fiobre dles; e fe o que fezer os aniguos
quaefquer que fejam., tirando o libelo , der algúas
tazoes com elles, Qi!eremos que lhe fejam ri.fcadas
em modo,. que fe nom poífam ler, e a·lem diífo o
;Procurador que taees razoes com os a·r tiguos der •
paguará aa parte contrair.a h1i-l reaes. Peró fe com
os fobreditos artiguo~ afora o libelo offerecer algiía
Efcriptura , ou Autos , en~once poderá a parte que
a offerecer, razoar corn a dita- Efcriptura , ou Au-
tos, e a outra parte lhe refponderá , e fe. em alguli
dqs ditos artiguos, em que affi Mandamos que as
partes nom ajam v.iíl:a,ao Julguador parecer defpois
de viíl:os os <li.tos artiguos, que 'he neceífario que as
partes razoem , poderá' mandar. qµe razoem de de.e
reito , primeiro aquelle contra quem fe der , e o que -
fez o .artiguo lhe refponderá por derradeiro.
• 1+ E PosTo que cada hua das partes Autor, 011·
Reo, ou Opoente tenha tomado em eífe feito dous~ ­
·ou mais Procuradores , nom lhe feja por iífo a.ffina...
do mais· termo pera razoarem , do que fegundo a
qualidade do feito fe daria a hu·Ü' foo Procurador, e ·
aquelle que no feito ouuer de efcreuer •e razoar, po-
dcrá,cõmuniC.ar e p:ratl:icar o feito.;. e du.uidas., e de.,.
.;;eito..
'
36 o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRbEN. T1T. XV.
o
-reito delle com outro , ou outros Procuradores
que a parte teuer, e elle foo efcreuerá , de maneira
que nom efcreua duas vezes hüa coura, per aquellas
nem per outras palauras ; e fe vier alguú ailiíl:ente
a cada hüa das partes , ou for chamado por Autor,
e quifer ajudar o Reo ·, e cada huü quifer fazer feu
Procurador, e nom o que cada húa das partes tem
feito , pode-Io-ham fazer; porem nom ferá ailinado
termo a cada huú dos dit~s Procuradores por fi ,
mas ajuntar-fe-ham ·ambos os Procuradores, ou os
mais que forem, e faram huü foo razoado, como
dito he, quar;ido fam dous Procuradores , ou mais
por hüa foo parte; e o Procurador que o contraira
fezer pague ·por cada ves des crnzados pera a Pieda-
de, e tirem-lhe as razoes do feito, e nom lhe fejam
recebidas , nem viíl:as, e o J ulguador que iíl:o nom
guardar , pague aà parte contraira todas as cuftas •
que por .caufa do tal retardamento fe fezerem.
15 ÜuTRo sr todos os termos, que os Julguado..
r-es ailinarem aas partes, ou a feus Procuradores em
J uizo ~ fejam auidos por perentorios , fem os ditos
Julguadores poderem reformar ·o termo, ou tempo
que tenham dado , riem perdoar , nem delle fazer
graça algúa ; ante per eíle mefmo' fetto a parte, e feu
Procurador fejam auidos por lançados do que lhe
for mandado com que venham, pofio que a parte
nom acufe fua contumacia ; nem fe requeira fobre
ello outra obra , mandado, pronunciaç~m, nem de-
daraç~m. do Julguador; e o tal Julguador fomJiente
terá
D,\ ORDEM DO J UIZO. 57
terá poder pera affinar huü foo termo , que igual e
·J:"azoado lhe parecer , o qual paifado nunca o reíl:e-
tuirá a elle·, faluo aleguando-lhe , e prouando algúa
tàl razam, ou impedimento, per que per -remedio
de Dereito , por claufula geeral ou efpecial deu a de
feer reíl:etuido a outro termo.
16 E o Procurador que nom der o feito ao ter-
mo que lhe for affinado , poíl:o que nom feja acufado
pera o dar, paguará vinte cruzados, amet:.ide pera a
parte, e a outra metade pera as defpefas da Rola-
çam; e deíl:a metade da Rolaçam auerá quem o acu-
far e fezer executar ametade, p..oíl.o que feja a mefma
parte; porem nom tolhemos , que defpois que deer /
o feito ao termo que lhe era affinado , fenom fatisfe- ,
zer com os artiguos com que auia de vi ir, fe lhe pera
artiguos era dado , que poifa pedir o fegundo , ou
terceiro termo pera os ditos artiguos , fe aindª lhe
couber•
. 17 E MANDAMOS que quando o Autor fegue o
feito per fi , ou per feu Procurador, que lhe feja af-
finado termo pera viir com libelo , e nom vindCl
com elle ~ ou vindo, e nom fendo bem formado , o
Julguador lhe affine outro termo fegundo, a·que ve- ·
nha com elle , ou ocorregua em forma que feja de
receber ; e nom fatisfazendo ao que. lhe for manda-
do no dito termo , feja-lhe affinado outro terceiro
termo a que fatisfaça ·; e [e nefie terceiro termo nom
fatisfe;z.er , nom lhe feja dado mais termo pera ..viir
c._om libelo , nem pera correger , mas feja de todo
Liv. III. H -· lan..
58 o TERCEIRO LIVRO D:AS ÜRDEN. TIT. XV.
lançado, e norn feja mais ouuido, faluo per benefi-
cio de reíl:ituiçam , fendo cafo em que por Dereito
lhe aja de feer concedida, e o Reo feja abfolto de
toda a demanda, e entonce ferá o Autor condenado
nas cuftas. E fendo~lhe recebido o libelo, e ao Reo
a contrariedade, ou defefa, entonce poderá o Autor.
viir com reprica, pera a qual lhe feram ilfo mefmo
affinados outros tres termo~ , como Diffemos no li-
helo ; , e fe dentro dos ditos termos nom vier com,
reprica , ou vier com tal que nom feja de receber s
ferá de todo de lia lançado; faluo fe jurar que de nouo
veo aa fua noticia defpois dos ditos tres termos paf-
fados .; porque em tal cafo lhe ferá dado huü foo ter•
mo pera viir com ella , e fe nom for recebida da..o ·
quella vez , nom a poderá mais correger, nem lhe-
ferá pera ello dad·o termo alguú; faluo -fe ao Julgua-
dor parecer que a tn;lteria do dito artiguo he boa, e
fe pode correger, poderá mandar aa parte que a eor-· . ·
J!(:gua, 'e nom a corregendo daquella vez em forma
<:JUe feja de receber , nom lhe poderá mais o dito
Julguador dar outro .termo : e pofio que-lhe nom feja
Jecebido o libelo em cada huü dos primeiros dous.
t.ermos, ou a reprica no derradeiro termo, ou lhe fe-·
J~ mandado correger em cada huü dos outrog ter.. ·
mos ,' nom ·auerá eufias de retardamento -neíl:e cafo ; .
e, vindo o Autor com libelo contra o Reo , fem lhe
!ter pera iíio termo affinado, ferá effe libelo contado
l'(o conto dos tres termos, affi como feria fe lhe foffe
mandacl'o que vie!fe ·c om clle ,_e. lhe pera iífo foffe-
termc:> affinado. i.S . E ,
DA ORDEM no Ju1zo.

18 E ESTE mefmo modo de proceder acerca dos


termos, fe terá com Opoente quando o hi ouuer.
porque a opoíiçam he como libelo.
I 9 E Qy AN oo o Autor nom pareceo ao termo •
pera que citou feu contendor, ou pareceo, e fe abfen-
tou , fe procederá como Diffémos em feu Titulo
atras.
- 20 E QYANDO o Reo feguir feu feito per fi, ou
per feu Procurador, como o libelo for recebido con-
tra elle, ferá affinado ao dito Reo termo conuenien-
te a que venha com fua contrariedade, e nom vindo
com ella: ao dito termo , ou vindo, e nom fendo bem
formada, o Julguador-lhe affine·outro termo fegun-
do a que venha com ella, ou acorregua em Jórina
que feja de receber ; e nom farisfazendo ao que lhe
for mandado no dito termo , feja-lhe affinado outro
.terceiro termo a que fatisfaça ; e fe a efte terceiro
termb a parte , ou feu Proc~rador nom fatisfezer ,
nom lhe feja dado mais termo pera viir com contra-
riedade, antes- feja de todo della lançado, e nom ·lhe
feja dado mais luguar pera viir com ella ; faluo fe
jurar que de nouo veo a:a fua noticia defpois dos di-
tos tres termos ferem pafiados, porque em tal cafo
lhe ferá dado huü foo termo pera viir com ella ; e
fe nom for recebida da-que!Ja vez, nom 'a poderá
mais correger , nem lhe ferá pera ello dado termo
alguú ; faluo fe ao Julguador parecer, que a rnateria
do dito artiguo he boa , e fe pode correger , poderá
a
mandarªª parte ·que acorregua, e nom corregeu- .
}!2 · · do ·
'60 O TERCEIRO LIVRO DAS OrmtN. Tn. XV.
do daquella vez em forma que feja de receber, nom
lhe poderá mais o dito Julguador dar outro termo;
e fc a fezer em forma que feja de receber, e ao Au-
tor for recebida a reprica , poderá o Reo viir com
treprica, pera a qual lhe feram ilfo mefmo ailinados
outros tres termos , como DiHcmo~ na conrrarieda-
·ac; e poíl:o que lhe nom feja recebida a. contrarieda-.
de, ou treprica no derradeiro termo, oY lhe feja man-
çlado correger em cada hl1Ü dos outros termos, nom.:
'1Uerá cuíl:as de retardamento.
21 E .Q!JANDo o Reo vier a Juízo, e defpois. de
nelle parecer • fendo já no dito Juizo conünuad<>
f;Om elle .alguú termo do f~ito , e fe abfentar fem.
leixar Procurador ; e bem aili quamio- o Reo nunca.
11areceo em Juiz.o por fi , nem feu Procurador , pro-,
, cederá o Juiz contra elle aa fua i;euelia , a ffinando-
lbe tres termos dfoerfos pera .c ontrariedade, e.outros
~res pera a treprica, fazendo-o apreguoar,. e dando-
lhe tempo pera cada termo ,, affi como lhe daria fe:
pre.fente foíle ; e affi profeguirá o feito aa reuelia do,
Reo·pera .os outr.os altos j udiciaes , fazendo-o fem-
prc apreguoar pera cada huü dos outros termos e ·
aél:os , e dando-lhe tempo como fe prefonte foffe'.
atee final fentença ; e fendo affi condufo , poderá <>.
Julguador ·condenar o Reo , achando que· merece
feer condenado , ou abfoluclo ainda que feja aa. fua:
reuelia, achando que merece feer abfolto , e far-íe-
ha execuçam pola dita fentença condenatoria , e o .
Reo poderá viir com embarguos a ella, fegundo Di-.
iemos no Titulo .Das (#clifoes... !2 l E
Dl\ cRDrM no Jurzo. 61

1.2 E SE antes da frntença feet dada o dito Reo _


vier feguir o feito, . tomalo-ha no ponto em que o
achar, fem feer reftituido a viir com contrariedade,
ou com qualquer outro artiguo , fe já delle era lan- .
çado, nem com qualquer outra coufa de que for
lançado; faluo por beneficio de reíl:ituiçam , fendo
cafo em que por Dereito lhe deue feer concedida.
23 EMI' EHÓ poílo que o Autor, ou Reo nom
venha com os fobreditos arriguos aos ter.mos que·
lhe em cima Mandamos , e ajam de feer de todo
lançados como dito he , ~eremos , que fe pelo fei-
to fe mo:íl:rar tanto do de rei to de cada h üa das' par-
tes , per que fe poífa dar certa determinaçam , que
em tal cafo fe julgue pola verdade fabida, [em em-
barguo de feer lançado dos ditos artiguos.
24 E A u E Mos por bem , q uc tirando o libelo , oll
opoíiçam , ou contrariedade , ou reprica , ou treprica.
de que em cima Diífe!-11os, que podiam correger tres
\:ezes; em todos os mais artiguos_, que·o Autor , oa
Reo , ou Opoente quiferem fazer. no feito, affi comO'
artiguos dependenres , ~u acumulatiuos , ou de fo-
bornaçam , ou de incompetencia, nem em outros.
quaefqucr artiguos que fejam, poíl:o que de:nouo fe ..
jam, como em cima Diífemos , fe nom forem rece-
bidos da primeira vez que os offerecerem, nom os.
poderá mais correger a parte, nem feu Procurador ,.
nem lh~ · frrá pera ello dado termo alguü ; e outrOJ
tanto fe guoardará na contrariedade, ou reprica ,·OU:
treprica, que fc fezerem a e.a da. huü. dos ditos arri...
guos.. ?-
62 o T.E'R,Cf.IRO LIVRO DAS ÜRDEN. TJT. XV.
guos : porem fe ao J ulguador parecer , qye a mate-
ria .dos ditos artiguos he boa , e fe pode correger,
poderá mandar aa parte que os corregua , e nom os
corregendo daquella vez em fórma que fejam de
receber , nom lhe poderá ja mais o dito Julguador
.d~r outro termo, e a parte , ou Procurador , que ca-
da huü dos ditos artiguos, que da primeira vez no:n .
foram recebidos, correger fem mandado do Julgua-
. dor , como dito he , aalem de lhe nom ferem rece-
. bidos , paguará aa parte as cuíl:as do retardamento
em dobro.
25 EMPE RÓ fendo os feitos trautados perante
taees Julguadores de que aja Apellaçam, ou Agrauo
pera a Nofia Cafa da Sopricaçam , ou do Ciuel L fe
os que de taees Apellaçoés, ou Agrauos conhecerem,
acharem que alguü. dos libelos • ou artiguos quaes-
qucr dos fobreditos , fam de receber na fórma em
que perante os primeiros Juízes foram oJferecidos ,
os. recebam, e procedam fobre elles corno for Derei-
e
to ; achando que a parte foi bem deitada dos libe-
/ los , ou artjguos , polos nom offerecer em os ditos·
termos, ou por nQm ferem em forma .pera recel;>~r,
feja-lhe affinado huü foo termo a que fatisfaça -com
feu libelo • ou artiguos, em tal forma que de rece-
ber fejam , e fatisfazendo no dito termo, lhe fejam
recebidos , e nom fatisfazendo , nom lhe feja dado
mais luguar pera com elles viir , nem pera os corre-
g~r, e feja em todo delles lançado , e o feito fe de..
termine finalmente como for Dereito.
DA ORDEM DO Ju1zo,_
'26 E POSTO que aa parte na primeira inflancia
nom foffem dados os termos , que pera cada huü
dos artiguos fobrcditos lhe Mandamos dar , nom
)he ferá na caufa da Apellaçam, ou A'grauo dado
mais que huü foo termo, e dos ditos retardamentos
nom aucrá cuílas , ora fejam os ditos artiguos rece-
bidos , ora nom ; porem na final fentença auerá as
cuíl:as fegundo NofTas Ordenaçoes. Ernperó fe o fd-
t-o [e retardar por cu! pa de cada húa das partes, -0u
de feus Proc9radores, por offerecerem aniguos de
fufpeiçam, ou d'efcomunham, ou de incompetencia,
ou po r aleguarem algüa declinatorfa ao Juízo, . ou
ouuos artiguos femelhantes , cujo fim nom he pera
abfoluer, ou condenàr na caufa que principalmente
no Juízo he intentada, os quaes lhe nom foram r~':"­
ccbidos ·, ou fendo recebidos, fe nom forem proua.:.
dos ; Mandamos que a parte, por cuja culpa fetal
retardamento fezer, feja loguo por eífe mefmo feito
auida por condenada em todalas cuíl:as de tal ·1:etar-
damento, e loguo fejam contadas, e executadas, e
paguas aa outra parte, fem mais lhe ferem toma-
das , poíl:o que a parte que a$ leuar feja finalmente
v..enc~da- , e em .as cuíl:as condenada ; e fe as loguo-
nom paguar, fendo prefente no Luguar onde fe o fei--
to trauta, ou fendo abfente -defpois que paffar. o tem-
_p o quc.t for affinado a feu Procurador. pera lho noti,..
.ficar, em q\ila:n to affi nom paguar nom feja ouuido
ate"e que- pague, ou as offereça em Juízo ; affi .as em·
que foi condenado, como. alil que crecerern palas
nom ,
-64 o TER.CEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TTT. XV.
nom paguar ; peró a outra parte que nom retardou
feja ouuida , e dado liuramento a reuelia do que tal
-retard4mcnto fez, fe o requerer.
27 E o Procurador per cuja negrigencia, culpa,
ou ignorancia a parte for danificada , e o quifer re-
·querer, feja obriguado todo lhe compoer , e fatisfa-
zer perante o Julguador , que de tal feito conheéer,
que dello te1'á .milhor conhecimento, fem pera ello
pcder aleguar priui!egio geeral , ou efpecial de feu
foro.
::i S ÜuTRO s1 o Autor, ou Reo feram obriguados
ofT'crecer com feu libelo, ou artiguos , todalas e[cri-
pturas de que fezerem mençam , ou neceífarias fo-
rem fegundo Dereito pera a proua de tal libelo, ou
artiguos, poíl:o que fe a ellas nom refeiram ; e nom
fe offerecendo loguo todas juntamente , norn lhe re-
ceberam tal libelo, ou artiguos: porem fe o Reo an-
tes de fazer os ditos artiguos jurar que ha de:fundar
os ditos artiguos em algüa efcriptura, e que a nom
tem neffe Luguar, e a tem em outro certo Luguar,
Íeja-lhe dado tempoconuinhauel pera a trazer. E to-
das outras efcripwras de que fe as partes entende-
rem dajudar, feram obriguadas de as offerecer den-
tro no termo que lhe for affinado ·pera darem fuas
· prouas , e affi de requerer o depoimento da parte ,
ou partes ; fe efperar de o dar em fua proua; e nom
as offerecendo, e11tam nom lhe fejam mais recebi-
das neffe Juízo; e iffo mefmo nom pedindo o depoi-
mento dentro da dilaçam , nom coníl:rangerain mais
a
I
EM QyE MANEIRA SE PROC. 'c oN.TRA os DEM. 6 s
a outra parte a depoer , fàluo .por benefido de reíl:i-
tuiçam, como dito he.

T 1 TU LO XVI.

Em que maneira fe prÓ'cederá contra os deman~ados por


refcripturas pubriras , ou 'A!uaraes que tem força de
efcriptura pubrica, oú ·reconhecidof po!a parte.

P
~ 1

GRQYE as dema~das qu~ ;a~


, fundadas em
efcripturas pubricas, deuem com muita razam mais·
breuemente de feer acabadas, e pera qu~" os creedo-
res poffam fem delonga cobrar o que J J.he for de'u'i-·
do, .e feu paguamentó fe nom delongue mm as ·ma-'
liciofas extepçoes , que os deuedores muitas vezes
poem ao que per efcripturas pubricas fam obriga-
dos, Mandamos que, tanto gue algüa. peffoa em
Juízo demandar :outrn por razam dalgüa coufa ; .ou
quantidade , que .Jhe feja obriguada dar , ou entre.:. .
guar , e o AatoT amoíl:rar efcriptura pubrica da di~
ta obriguaçam ' .OU Aluará feito' e amnado por ral
pe:ífoa a q,ue fe ·deaa dar·tanta fee como a efcriptu ...
ra- puhric·a,-0 Juiz q tle de tal cau fa ·conhecer affín·e lo-·
:guo termo .d e dez dias perentorios a effe, que fe affi_.
. rnq!lrar feer o'briguado, a que pague ao" Autor toda
o na dita efcriptura, ou Aluará contehudo, ou amo:-
ftre pagua, ou .quitaçam ,. ou alegue, e proue den ....
r : Liv. III. I tro
6á O TERCEIRO l...rvRo DAS ÜRDEN. Tn. XVI;
tro dos ditos dez dias qualq ~1er outra raz,am de em- :
barg uos , que teuer a nom paguar , ou comprir o
que affi por a dita ercriptura, ou Aluará fe m Qíl:rar
fee-r obriguado ; e palTados os ditos dez dias nom
amofhando, nem prquando o Reo pagua, ou quita-
çam , ou outra tal razam que o defobrigue de pa-
guar, feja logo condenado por fentença , que pagu~
ao Autor todo aquello em que affi fe moftrar feer
obriguado. Emperó fe o dito Reo dentro dos dez
dias aleguar raées razoes e embarguos, que prouan-
do-os deueria feer releuado da condenaçam , ou de
parte della , e por os nom poder prouar dentro dos
dez dias for. condenado; aíli como fe o Reo aleguaf-
fe, que tem efcriptura de, pagua, ou de quitaçam ;
ou .quifcr pre>Ua r , que foi já da d.ila diuida abfolto·
por. fentença., que paífou em coufa julguada; ou que
o dito Autot leixou em Juizo em feu juramento a
dita diuida , e que elle Reo jurou que a nom deuia;
ou .que fobre a dita diuida foi foita tranfauÇam, ou
a!.eg~iar outras ta ees razoes ' que ao Juiz pareça,
que feg undo Deteito fe deuam de receber, em ral
cafo Mandamos que as receba, e aíline ao Reo ter-
. i'no conueniente a que molhe fuas efcripturas , ou
proue o que aíli aleguar, fe for cafo em que fegun-
do No!fas Ordenaçoes fe deua de receber proua de,
tefiemunhas ; 'o qual termo ferá fegundo a .diíl:ancia.
do Luguar onde o dito Reopor juramento dos Auan-
gelhos diíTer; querem fuas efcripturas, ou teíl:emu•
nha.s 1 per que entende prouar fuas excepçoés.;.e tan~
l to.
EM QYE MANEIRA SE PROC . CO N TRA os PEM. 67

to que forem recebidas as taees excepçoes, que por


t eíl:emunhas fe pode1:n prouar, ferá obriguado de as
loguo nomear todas , e o~ nomes dellas terá em fe-
gredo o Efcriuam, ou Tabaliam do feito atee o R eo
dar fu a proua , e feer mandado dar os no.rnes dellas
ao Autor : e a execuç.am da fentença requerendo-a
e> Autor fe fará toda via com effeé1:o nos bens do
condenado aos tempos ordenados , pofto que os e~ ..
ba·r.guos íejam recebidos • [em de tal cond~naçam ,
nem execuçam fe receber Apella·çam , nem Agrauo;
·e o Autor nom receberá, nem auerá aa fua maõ aqud-
lo em que lhe o Reo for condenado , fem primeiro
dar fianç.a abafiante aa foma daquello, que affi ouuer
.de receber, e a outro tanto; e eíl:o quando o Reo ale-
.guar taees raz.oés, per que da dita condena:çam de-
ua de feer releuado • como em cima dito he ; e nom
..dando o dito Autor a dita fiança , · o dinheiro que o
Reo paguar, ou da execuçam fe fezer . fe poerá em
maõ de peffoa .fiel e abonada , que o tenba atee o
feit0 feer finalmente determinado {obre as exce-
pçoes ~ que .ao Reo forem <Cecebidas.
• 1 E :P ROVANDO o Reo no tempo que lhe for af-
finado taees razoes • ou razam J per que deua feer
abfolto do con:tehudo na ebriguaçam ql!le o Autor
offereceo, e do que contra dle foi julgado, Manda-
mos que o Autor feja l-0guo condenado. que torne
'ªº dito Reo todo aqu ello em que lhe foi condenado,
e mais paguará outro tanto de pena , e paguará ao
·Reo todas as cuíl:a~ <> e dizema ., e quaefquer outros
l 2 ..de-
\
68 o TÉllCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XVI.
dereitos, que o dito Reo por razarn da dita conde-
naç;\m teuer pagu~s, e bem am lhe pagu e as cuíl:as
que o dito Reo defpois fez ataa fim do feito. E fe o
dito Reo,por bem da proua que deu defpois da fen-
tença , for ahfolto de parte da condenaçam , e norn
de toda , em tal cafo ferá 0 Autor condenado, que
lhe torne aquello de que for abfolw com outro tan-
. to de pena, e a dizema, e cuftas que'.n:i.quella parte
montar~. E da pena do dobro ·~ · que Mandamos Pª;
guar ao Autor pola maa demanda que fez, ferá
ametade pera a Piedade ,. e a outra metade pera. o
dito Reo,
2 E NOM prouando o dito Re0• aqueHo que· fe
obriguou prouar dentro no termo que lhe for affina-
do , ~erenws que, aalem da primeira condenaçarn
em que já foi condenado , pague por pena da maa
caufa que defondeo outro tarúo como foi o pi:inci-
pal em que foi condenado,. da quíll pena ametade
ferá pera a Piedade, e a outra metade pera o-Autor•
e mais lhe paguará todas as cuüas , quc-defpois da
primeira condenaç:am. fe1;er, e a. dize.ma .. e guaes- ·
quer outros dereitos , que deíla feg_unda condena-
çam fc vencerem.
J E Q11 ·f. N oo o Reo for citado por-a dita efcri-.
ptura pubrica, e n ~:nn puecer em Juizo por fi , nem
fei.J Procurador, feer-lhe-ham affinados os ditos dez
dias, como em cima dito he , e ferá condenado
p;:iifados os ditos dez dias, e executado na forma e
maneira que e.rn cima Diífemos, qua11do he p·r<:.-
fen-
EM QYE MANEIRA SE PROC. CONTRA OS DEM. 69
fente , e alegua os embarguos dentro dos dez dias.
4 E DESTA fegunda fentença,ou da deneguaçam
de nom receber os embarguos , podera apellar, ou
agrauar qualquer das partes, fe o Juiz que do feito
conhecer for tal , que de fua fentença fe poífa ap.el-
lar, ou agrauar , e foi a quantidade tanta ~ em que
caiba Apellaçam , ou Agrauo.
5 E Q.U E REMOS que eito, que dito he das diuidas
que fe"d emandam por efcripturas pubricas, aja itfo
·mefmo luguar em qualquer diuida que fe deuer ,- e
demandar per viguor dalgua fentença, que pa!far
em coufa julguada, quando fe demandar por via de
auçam, que naça deífa fentença.
6 E QYANDO a diuida contheuda na fentença fe
demandar per via de execuçam , requerendo que fe
execute a fentença nos bens do cendenado, fe com-
prirá o que hc contehudo nô Titulo Das execuroes
.que fe fazem geera/mente polasfentenças , e o·que por as
outras Noffas Ordenaçoes acerca das execuçoes das
fentenças he determinado.
7 E ESTA Ordenaçam· fe- eptenderá foomente
nas proprias peffoas, que fczcrem as taees efcriptu-_
ras, e nom em outras ni11hlias petfoas.
8 E SENoo·aprefentados em Juízo alguis Alua-
raes, ou conhecimentos çontra· algua · pe{foa, que
nom feja daquell-a's peífoas, a-c-újos Aluarnes fe deua
dar tanta fee como a efcriptura pubrica , e for de-
mandada pelo contéhudo nos ditos Aluaraes , fe
aquelle contra quem fe aprefentam os taees Alua-
raes ,
70 O ºTERCEIRO LIVRO DAS ÜttDEN. T1T. XVII.
raes, os reconhecer em Juízo que fom por elle fei-
tos e aífinados, ou affinados foomente, reconhecen-
do elle auer feito a obriguaçam contehuda no dito
Aluará , lhe ailinará dez dias a que venha com em-
barguos ; e fe procederá por o tal Aluará , e [e ex-
ecutará como fc ha de proceder, e execut":r por as
efcripturas pubricas ; e pera o reconhecimento dos
taees Aluaraes o Juiz poderá coní\ranger as partes
que deponham, nom paftando a contia de trima mil
reaes.

T I T U L O XVII.

Em que cqfos ~ Jenbor do feito poderá reuoguar o Pro-


curador, que em elle feito teue_r.

PODERÁ toda pe(foa reuoguar qualquer Procu-


rador, que teuer feiro em qualquer tempo, e parte
do Juizo, e fazer outro Procuradqr, com tanto que
o notifique ao .p rimeiro Pro~urador, e ao Juiz da
<:aufa ; e paguará ao primeiro Procurador todo o que
teuer merec·ido no feito , e affi toda perda e dãno,
que por o afli fazer Procurador, .e defpois tornar a
reuoguar , .o dito Procurador receber , e efto atee a
lide feer conteftada : e iffo mefm<> poderá o Procu-
rador atee o dito tempo leixar a procuraçam, notifi-
cando-o affi ao fenhor -Oo preito , e em quanto lho
nem notificar ferá obriguado a feguir o feito , e
def-

I
{

EM QYE CASOS O SENHOR DO FUTO ETC, 71

defpois de liotificado, e Ieixada a dita procuraçam,


nom procurará pola outra parte contraira, defpois
que do fenhor do feito ouuer recebido alguü preço,
ou fabido os fegredos da demanda ; cá em taees ca-
fos, aindã que liuremente poíla leixar a procura-
çam , tornando o preço que ouue , ou defrontando
/fbldo por liura, fegundo o que ouuer merecido,
n.o m poderá procurar pola outra parte contraira, e
fazendo o. contraira ferá punido, como he contehu-.
do ná quinto Liuro no Titulo l)os Aduogadõs e Pro-
curadorrs.
1 E DESPOIS que o Procurador ouuer a li.de con-
teftada, nom o poderá o fenhor do preito reuoguar, e
fazer outro , fe o fcu Procurador o contrad.iffei:; fal-
uo fe eífe fenhor do preito aleguar algüa jufta razam,
pera que o affi aja de fazer, .f. fe eíle Procurador
foífe impedido de alguu tal impedimento ,. que ra-
zoadamente nom podeífe feu feito bem procurar~
; ou nouarncnte foíle feiro feu imiguo, ou amiguo d-e
feu contendor; cá em taees cafos , e outvos frme-
lhantes , póde o fenhor do preito reuoguat: feu Pro-
curador , ainda que a li.de com elle feja conteftada,,
poíl:o que o dito -íeu Procurador o contradigua : e
bem aili nos ditos cafos, e cada huü delles ,, pod·er;í
,o Procurador dcfpois da lide conteíl:ada leixa.' l'.-:0
feito, e a procuraçam, notificando-o affi ao fenhor
do preito pera fazer outro Pwcurador , ~ue feu feito,
..procure. /

T 1...
\
72 b TERCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XVIII.

T l T U L O XVIII.

Jtuando o Of!iri'o do Procurador efpirct dada a Jentença ,·


·ou porJe finar ·ajua parte, e como em tal cqfo os her-
deiros deuemjee-r citados..

TANTO que cada hua das partes [e fina em


qualquer tempo ,e .parte do Juizo ., loguo ceffa o Juí-
zo ., e a iníl:ancia aerre fei.to' e nom hir.am . por elle
mais em diante, atee que os herdeiros daquelle que
fe finou fejam nouamehte pera ello ci,tados.
.J Ou'l'RO s.i: o Offi.cio de Procurndor, que he

.eíl:abdecido pera rrocura·r . em Juizo, efpira em to-


do , e fe acaba ;tanto que em o feito he dada fenten-
ç:a dc.finitiua .; péró quando affi o Juiz ju·l guar con-
t-ra aquelle , .cujo Procurador elle for., de·ue 'º dit0
Procurador .apellar de fua fentença ., ou agrauar fen- ,
do cafo d'agra1Jo, ainda que lhe nom fé'.ja dado po- ·
d~r pera e-llo na -procuraçam, ~as nom poderá fe-
guir eífa Apellaçam ., ou Agra1Jo fem noua proclua-
.çam do fe1;ihor do preito pei-a a feg.µi.r , porque na
Apellaçam ., ou Agrauo fe começa noua in{lancia ,
.e o Procurador que nom apelhr, ne-m agrauar da
femença, que foi dada contra a fua parte .;io tempo
que _he obriguado ~ fendo prefentre, ou'.fabed.or da
.fentença ., e fendo .cafo em que caiba Apellaçam, ou
Agrauo, paguará aa fua ·parte todas perdas, e dãno~
que fe -mofl:rar que · re,cebeo por nom apellar, ou
;agrnuar.. - 2 E
~ANDO SERA' o AuToR OBRIGUADO ET e. 73

2 E sE defpois da fentença definitiua feer dada


fe recrecerem acerca da di ta demanda ( perante o
Juiz que a fentença deu) alguas duuidas, ou por via
d'embarg uos, ou por outra qualquer via , poderá o
Procurador , que na dita iníl:ancia foi Procurador ,
procurar iífo mefmo fobre os em barguos , ou duui-
das que fobre a ~ita fentença fe mouerem, fem rnaii
auer outra noua procuraçam.

TITULO XIX.

~uanJo fer/i o Au lr!r olmg;uadoformar feu libel~


pw ejcripto. •

E M todo cafo em que o Autor demandar em Jui~


zo contia que paífe de mil reaes brancos J ou coufa.
que os valha, feja obriguado de dar fua petiçam per
efcripto em forma deuida , moíl:rando loguo efcri-
ptura pubrica daquello que demandar , fe for tal
cafo em que por Dereiro, ou Ordenaçam fe requeira
proua per elcriptura ; porem fe a demanda for por
c[criptura pubrica , proceder- fe-ha .fegundo Diífe-
mos no Titulo Em que maneira Je procederá contra os·
demandados por ejcripturas.
1 E SE a coufa, ou·corytia demandada nom paf..
fardos ditos ·mil reaes, em tal cafo nom ferá ·o Au ..·
tor coníl:rangido a formar fua petiçam por efcripto .»
mas pode-la-ha dizer em Juízo per palaura~e o Ta-~
· Li.v. III. K ba.,
74 O TERCEIRO L1v1{0 DAS Orrnrn. T1T. XIX.
'baliam, ou Efcriuam efcreuerá no procdfo, e de-tal_
petiçam nom mandará o Julguador dar a viíl:a aas
partes , mas ouui-las-ha a ellas , ou a feus Procura-
dores fumariarnente per palaura : porem fe as partes
quiferem dar proua ao que aili differem, o Juiz lhe
dee luguar a iífo , e o Efcriuam efcreua tudo , e o
Juiz fem dar viíl:a a ninhuií Procurador dará fen-
tença ; e da fentença, que o Juiz em tal cafo der , o
Tabaliam , ou Efcriuam nom tirará fcntença do pro-
ceffo, foomente huµ Aluará aílinado polo Julgua-
dor , pera fe por elle fazer cxecuçarn. E eíl:o todo
( - .
que dito he fe cntenderá ..nom fendo fobre bens de
raiz.
2 E ~u TRO s1 em toda .demanda mouida fobre
força, ·roubo, guarda, condefilh;, ou foldadas, nof!l
fe'rá o Autor obriguado formar petiçam ' per efcri- -
pto , pofto que paffe a dita contia de mil reaes ; po-
rem fe a quifer fonnar per efcripto, pode-lo-ha fa ..
zer; e no cafo da guarda , e condeíilho, e foldadas ,
ferá obriguado a moftrar efcriptura pubrka) quando·
a· contia for tamanha , em .que [e requeira. fegundo.
fórrna da Ordenaçam.
- 3 E EM todos efks cafos aqui exceptuados, co...
mo quando .a contia nom palfar·dos ditos mil reaes,:
procederá o Julguador fumarianiente fem outro
eftrepito, nem figura de Juizo , foomente fabid~ a
verdade , em tal . maneira que pe1· ella. affi. fabida
poifa julguar.
. "
T I..
Do REO QYE I-IE OBRIGUADO A DAR 'FIANÇA. 75

T 1 TU LO XX.

Do Reo que he obriguado a dar fiança, ou cauçam em


Juizo, por nom pqffuir bens de raiz.

S E o Autor mo;~ffe demanda contra o Reo fo-


bre algüa coufa mouel , dizendo que lhe pertencia
· per dereito , enteÍ1tando fobre ella algua auçam
real, ou pefioal , e o Reo nom poífuiffe bens de raiz
feus , que valeffem tanto como a dita coufa mouel
dem<mdada, em tal cafo fendo o Julguador pera el-
lo requerido , conftrangerá o dito Reo que fatisfaça
com penhores ~ ou fiadores abaftantes pera ello, que
dl:ará fempre a Juizo da fobredita contenda, e que
nom desbaratará a dita coura demandada atee o fei-
to feer findo per fentença definitiua , em tal guifa ,
que . fendo eífa. coufa julguada ao dito Autor , lhe
poffa loguo feer entregue fem outra delonga, e dif-
ficuldade ; e nom fatisfazendo, corno dito he , poerá
o dito J ulguador em focreíl:o eífa coufa demandada
atee _o feito feer findo , pera feer entregue a aquelie
a que pertencer.
I E SE no cafo fofo dito o Autor renunciaffe a
demanda fobredita , ou fe affaílaffe della hindo pera
outra parte , nom Ieixando Procurador pera ~ profe...
guir, em tal cafo mandará o Julguador que feja a
dita coufa entregue ao dito Reo, pofto que lhe fofTe
focreíl:ada condicionalmente , .f. atee que a dita de..
manda foffe finalmente determinada. ·
K:2 2 E
76 O TERCEIRO LrvRo DAS OrrnEN. TIT. XX.
2 E SE alguu homem demandar . outro por al-
guua contia de dinheiro, ou qualquer outra guanti~
d ade, e o demandado foífe peífoa fcifpeita, que nom
poffuiíle bens de raiz, nem teueífe fazenda de bens
moueis, que valeffern tanto como a contia, ou quan-
t~dade demandada, perque razoadamente fe tolheffe
a fufpeiçam de fua abfencia , ou fogida , em tal cafo.
mandará o Julguador ao Reo ,que fatisf~ça com pe-
nhores, ou fiadores abaílantes de eftar a Juízo fobre
a dita contenda, atee que aja final determinaçam.
3 E NO.M daúdo a dita fatifdaçam fará o Julgua-
dor focreíl:o em qualquer cóufa fua, onde quer que
achada for, que valha ,·Qptro tanto como a coµfa de-
mandada ; e nom lhe fendo achada tal coufa fua,.
nem querendo-elle fatisfazer em Juízo, como dito
he, em tal cafo fe ao Juiz parecer que he tal peffoa,
que ligeiramente fe poderá abfentar pera outra par-
te , por fe delle nom fazer dereito, manda-lo-ha·
prender, ou entreguar a fiadores ídoneos , quê o
aprefentem em Juízo a todo tempo que requeridos
forem, tomando primeirament~ eífe J ulguador al-
guu furnario conhecimento náquelle_s cafos que. por,
teíl:emunhas fe podem prouar , p~r que ao me rio$ fe
moftre conjeéturadamente o dito Reo feer obrigua..
do ao que lhe he demandado.
4 E Tooo eíl:o que dito he auerá luguar no-ca-
fo onde o dito Autor nunca ouueffe aprouada a pef-
{oa do. dito Reo ; cá fe elle ouueffe feito alguü" con..
t.raét.o com o dito Reo ,, per ciu~ lhe. fotfe obrig.uadu
a~
EM Q!.Il> CASOS PODERA' o Jurz, ET e. ' ·77
,, aa dita demanda em tempo que elle Reo nom te-
ueffe bens de raiz , nem outra fazenda mouel , e o
dito Autor foffe de-llo fabedor, em tal cafo nom lhe
pode demandar a dita fatifdaçam , nem lhe ha de
frer por el!o feito o dito focreílo, nem prifam, pois
o dito Autor ao tempo do contraé1:o aprouou a pef-
foa do Reo, fabendo que era fufpeito, como dito he.

T 1 TU LO XXI.

Em que cajos poderá o Juiz conflranger- cada hua do$


partes , quç rejpondam aas preguntas que lhefezerc
em Jut'zo.

TODO Julguador pode, e d'eueno ·começo da


demanda, ante que a lide feja conteftada, fazer pre.:.
guntas ias partes , quaes lhe bem parecer pera boa
ordenaçam do proceífo , ou pera decifam da caufa ,
fegundo elle vir que o feito reqµere , e poderá con-
~ranger as ditas .partes que refpondam aas pregun-
tas , que lhe per elle for.em feitas ,. poendo-_lhes pe.--
na de dinheiro, ou auendo-as por reuees prefentes ~
e procedendo contra ellas no feito ªª fua reuelia 'fe-
gundo lhe bem p'\recer, e a qualidade do feito re-
_q uerer; fe aas·pregun.tas nom quiferem refponder.
1 . E SERA' auifado, que q,u ando fazer preguntas. ·
~m feito crime).ou ciuel a algüa parte ). as ·fará pré-.
fente:
o TERC_EIRO LIVRO .DAS ÜRDEN.
/

7S TIT. XXI.
fente dous Tabalia€s, ou Efcriuaes, huü que efcre...
ua , e outro que feja pr~fente ; e nom auendo fcnom
hum , entonce as faça perante o dito Efcriuam, e
duas teftemunhas.
2 E SE o Autor demanda.ífe ao Reo algüa coufa
·por fua ·, affi mouel como raiz, é o Julguador pre-
guntaffe ao Reo fe poffuia a dita coufa-demandada
polo Autor , e elle refpondeffe que a nom poffuia, e
o Autor prouaífe o contraira, em tal cafo por o dito
Reo affi feer conuencido de mentira, ferá loguo pri-
uado da poíle da dita coufa, e ferá entregue ao dito
·Au~or atee que a demanda finalmente feja determi-
nada fobre a propriedade de.lia, e entam ferá entre- ·
gue a aquelle a que a coufa for julguada;.e eíl:a pena
lhe he dada pola mentira, que oufou dizer ao Jul-
guador , por tal que a elle feja cafüguo , e a outros
exemplo • fegundo mais compridamente Diremos
i1efte Liuro no Titulo Do que he demandado por coufa
por elle pef!ui'da.
· . 3 E. DESPois que a lide for conteíl:ada no feito •
bem poderá o Julguador conftrartger algüa das par-
tes, que contra foas vontades refpondam aas pre-
guntas que lhe por elle forem feitas pera boa or-
denaçam do proceílo: porem nom as poderá·fazer
acerca da decifam da caufa , faluo no depoimento
dos artiguo's feitos por cada hüa das partes ; cá em
tcrl i::afo a parte contrá que · ·os artiguos forern feitos
ferá ' theuda de depoer a elles por juramento dos
Aua:ngelhos ; fegundo mais larguameme Diremos
neíl:e
CoMO PROCEDERA' o Juiz NO FEITO. 79
neíl:e Liuro no Titulo Em que modo fe deuem fazer o.s
Arlig;uos, Porem nos fótos que fe defpacharem em
Rolaçam , os Juizes delles poderam em toda parte
fazer as preguntas que lhes bem parecer.

T I T U L O XXII.

Como procederá o Juiz:. no feito , quando for recufado por


Jufpeito ; ·e dajujpeiçam po}la ao 'Iabaliam, ou E/cri..
uam.

SE o Reo qui.fer recufar o Juiz, por fufpeito, po..


nha loguo a recufaçarn ·no começo antes que refpon-
da aa demanda principal, porque fe .a loguo nqm
pofer, nom ljle fer~ rec~bidil defpois que fçzer .al":'
guü ado, por que pareça confentir em elle ; faluo fé
ouuer fufpeiçam de nouo, ·porque a fufpeiçam ..qu~
vem de .riouo (e pode poer em todo tempo ante d'<l
femença , no.m fazendo a parte defpois que dr::Jlo ou~
lJ,er noticia alguü at-J:o •, p,~r qµe pareça;,~µer COf?fe!.1.,.
tido no J1Jiz, como .dii;o he .: e. c:iefpo~s que a/en.:.
tença .definitiua for ·dada, nnm -pQderá fecr recufado
pot fulpeito o Juiz RUe a. fe :1tença deu, fe for fun ..
dada em. caufa t;al .. qu€ t,en\lil feu nacimentG antes.
da lenrença·, poflo.q\le a parte . ~legue, ejure .qHe 1'·
~uue de n9uo, ·; ; par qu~ptg a~gij~s peífoas, , .:.pq~q
Que fai pan;l .aS caµJ'!,s·pqr~ que pod~m ~~c1:1fai.; .o~ Jµl,
gua~
80 O TERCEIRO LrvRO ·i:>ALÔRDEN. TIT. XXII ..
·guadores ,os nom. recufam, efperando que a fenten.:.
ça fairá por fua parte , e fe he contra elles vem com
fufpeiçam de nouo, dizendo que entam a fouberam,
e pera lhe feer -recebida , juram que ante da fenten-
ça a nom fabiam , nem veo aa fua noticia ; e porque
e
fe IÍom 'dee azo a ferrielhantes pe1juros , malicias
cometerem , , Mandamos que · nom feja recebida
fufpeiçam alguua, que fe alegue a qualquer Julgua-
dor 'defpois da defenitiua per elle dada , fe teue feu
nacirnento ~nte da dita fentença , como dito he : e
efto auerá lugua_r quando a pàrte, que a fufpeiçam
pofer, trautou feu feito por fi, ou por feu Procura- ~
dor ; porem fe. fe proceder contrá alguü abfente por
Editos~ podúá ent~m poer fufpeiÇ~rri ao )ulguador
que a fent~nça deu pera anular os aétos , e fentcnça
contra e11~ em fua abfenci~ dada : e bem affi fe def-
:poi!) da fentenÇa definitiuà de houo fe feguio ·a-lguu
tal c·~fe> o~ feito-, 'pefque o Ju)guador que a fenten..;
ça deu deu a de feer auido por fufpeito, ou o recu-
fant-e juran que entonce a foube, •poíl:o que ouueíl'e
naci menta ante da .fen{ença, p~derá feer por tal fuf~
pe-iÇái~l recufado, pera ·qtie de :bi a-diante nom co-
ªª
nl:i~ya dos erri'.larguos :, $fe forem poíl:os dita fen-
.:tença ~ ne~, de' coufâ algua que ao dito feito per-
tença: emperó os a&os, e fentença que antes da fuf-
pciÇam foram· pàffa~os ~ hbm feram per razam da
Íloua fofpei:çam ·anulados) . nem rréuoguados j e bem
' affi ([e alem1- do'Juiz;'•,do feitt> ·,f ri[em' no ·defpacho
tlelie bu~r~s 1 Julguadórd ,.?CJuCDefuinbatguadores de
que
CoMo PROCEDERA' o Ju1z NO FHTo. 81

que a parte nom foube como elles auiàm de feer


no defpacho do feito , em tal caía poderá a dita
pane poer a foípciçam ao dito J ulguador, que affi
nom foube que auia de feer no feiro pera anular o
defembarguo, ou fenrença, em que o dito Julgua-
dor a que hc poíl:a fufpeiçam foi.
1 E POSTO QYE o Reo peça a· viíl:a do libelo em
Juizo perante o.. Juiz , nom fe entenderá que por
iífo aja confenrido cm elle pera o nom poder ao
diante recufar ; fe contra elle teuer lidima recufa-
çam , e nom teuer feiro a parte alg uü outro ado,
por que pareça auer confentido em elle, com.o dito
he.
2 ITEM fe o Reo entender recufar o dito Juiz
por :fufpeito ' e por outras alguas razoes entende
declina·r feu foro, primeiramente poerá a recufaçam
em forma, ante que alegue outra qualquer razam·
declinatoria do foro ; cá leixando a recufaçam da.
peffoa do Juiz , e aleguando outra declinatoria dó
foro e jurifdiçam , nom poderá defpois recufar o
Juiz por fufpeito, porque parece auer confentido
em fua peffoa , aleguando perante elle declinatoria,
como dito he.
\
3 E QYANDO algúa das partes ouuer fufpeiçam
ao Julguador, deue-lha loguo tentar por palaura ~
declarando a caufa porque entende recufar o dito
J ulguador ; e nom a declarando loguo , norn ~he feja
dado mais termo pera ella, e o Julguador hirá com
'O feito por diante ; ~ declarando-a por palaura, co..,
Liv. IlL L mo
82 o TERCE.IRO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. XXII~
mo dito he, o Julgua·dor lhe mandará que venha
loguo com ella per efcripto atee primeira Audien-
cia, e nom o fazendo affi a parte, vaa o Julguador
por o feito em dianre, e valha feu procedimento ; e
vindo com ella per efcripto, [e o feito -for na Corte,
remeta-a ao Chanceler Moor; e fe o feito for na Ca-
fa do Ciuel , feja leuada ao Chanceler da dita Cafa;
e fendo pofta a alguü Corregedor da Comarca, feja
leuada ao Chanceler da dita Correiçam ; e fendo <J.
;fufpeiçam poíl:a em forma que proceda, affi o jul-
guem, e o dito Juiz nom proceda mais em o dito
feito atee fobre a dita fufpeiçam feer dado final def-
em barguo; cá procedendo per.eífe mefmo feito ferá.
ninhuü rodo o per elle procedido, e mais emendará·
aa parte todo o dãno que por ello receber , e as cu-
ftas que fobre ello fezer ; e o dito Chanceler Moor ,_
ou Chanceler da Cafa do Ciuel, ou Chanceler da
dita Comarca , mandem ao J ulguador, a que affi
he pofia a dita fufpeiçam , que deponha a ella por
o juramento que fez em feu Officio; e querendo a~
parte mais prouar, fe teuer a proua no Luguar onde
o feito fe t.rauta , lhe dará termo de tres dias pera a.
prouar ; e jurando a parte que tem as tefiemunhas
fóra do Luguar onde fe o feito trautar, lhe ferá dado.
termo perentorio o mais breue que . feer pofia , fe-
gundo a diftancia do ·Luguar onde as teíl:emunhas
forem , nom_lhe dando porem mais termo de vinte·
dias pera qualquer I;uguar , pofto que allegue que:
tem fua proua fóra do Reyno ., nem em as. Ilhas •·
nem
CoMO PROCEDERA' o Juiz NO FEITO. 83_

nem em qualq~er o~tro Luguar, pera que aja meíl:er


mais termo; e fe tal Lt.Jguar for, onde jurar que tem .
fuas reflemunh.as pera a dita fufpeiçam , que verifi-
melmente norn as poíl'a dar dentro dos vinte dias,
nom lhe feram dados os vinte dias, poíl:o que os
peça; porque parece que os pede pera dilatar. E fc
a demanda fe trautar perante qualquer outro Jul-
guador, tanto que a fufpe içam for propoíl:a, o dito
Julguador mande' ás partes que fe louuem em huma
peíloa , que julgue a dita fufpeiçam, e nom fe con,.
cardando cm hua , entonce·tomarani cada huü fua
· peíloa que a julgue. E fendo as ditas peífoas em que
Je aili as partes louuarem defuairadas no julguar da
dita fufpeiçam , entonce veja o dito defuairo o Ve-
reador mais velho do dito Luguar, fe fufpeito nom
for, e fe o for, vaà a outro, e com aquelle com que
concordar · poeram defembarguo ; e fe for julguadÇ>
que a fufpeiçam norn procede, vaa o Juiz a que foi
poíl:a polo feito em diante; e fe for julguado que
procede , os Juízes da fufpeiçam mandem ao dit()
Julguador ,que deponha, e dee luguar aa proua~ affi
como he ditos quando a furpeiçam hejulguada polo
Chanceler Moor: e Mandamos que aos Juízes , erµ
que fe as partes louuarem pera a dita fofpeiçam , qµe
tomem conhecimento da dita fufpeiçam, e a defem.-
'barguem como acharem por Dereito, fem receber
apellaçam, nem agrauo de fua fentençà; faluo quan..
·do julguarem, que alguü Juiz he fufpeito, porque
.entam a parte que fe fentir ·a grauada poderá tir~r
L 2 . cffor..:.
34 o TE.RCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN.; TIT. XXII•.
eílormento d'agrauo pera . o Corregedor da Comar-
ca, e elle conhecerá do dito agrauo, e Q determina·-
rá finalmente fem mais apellaçam , nem agrauo"; e
nom o querendo o dito Juiz Corníífarío fazer, o Juiz
Ordinario o coíl:rangu a emprazando-o-, que per pef-
foa pareça perante Nós a certo dia moíl:rar ra~:am,
porque nom cumpre feu mandado.
4 I TE Mr em qualquer Cidade , ou Villa de N c.> f-
fos Reynos , quando farri dous Juizes Ordinarios , e
huü delles he recufado , e ;:iuído por fLÍfpeito em a1-
guü feito, loguo feu parceiro fica por fufpeito, e [e...
rá o feito remetido aos J uizes do anno pafTado ; e fc
~mbos, oa cada huü d elles forem fufpeitos, lou-
uar-fe-am as partes em dous homens bons do Lu,.
guar, ou em huu que do feito conheça como Juiz·-.
e a erre ferá o feito remet-ido polos Juizes do a_nn~
pafTado ,_que o julguem, e determinem, afüm co..
mo faria m os.Juizes Ordinarios, fe fufpeit_os norn
foffem , fem por iílo leu arem efportulas, nem pre•
·mio alg uu. E eílo nom fe ente~de nos O ffi ciae; da
Corte, ou da Cafa do Ciuel, porque ainda que huü
feja fufpeito , nom leixará por tanto o outro feer
Juiz , affi como fe feu parceiro nom fofTe fufpeito~. ·
5 E QY1\NT0 aas fufpeiçoés que cada hua das
partes teuer ao Tabaliam, ot~ Efcriuam dante -os di.,.
tos Jul guadores das Cidades , Vilias , ou Lugua.res r,
. ou Comarcas de Noffos Reynos, lha inteqtarnm·per-
a nte o Juiz _qa caufa, tanto que lha fouberem ·; por....
q ue fe defJ.~ois d~ lha_fabcrem o lcixarom _efcr.e.ue..r.•
. thf\,
CoMO PROCEDERA' o Juiz NO FEITO. 8.5

Ih~ norn poderam poer ; faluo jurando que a ouue..


ram de nouo , e o Julguador lhe mandará que venha
·loguo com ella por efcripto atee o outro dia, e nom
vindo atee o dito termo, o lançará dclla ; e vindo
com ella ao dito termo, lhe dará Juízes aa dita fuf..
peiçam , que vejam fe procede , e a determinem fi-
nalmente fem mais do que por <tlles for julgu.a do ,
e determinado, auer apellaçam , nein agrauo. E jul-.. ,
guando-o por nom fufpeiro , hirá por o feito em
diante, e julguando-o por fufpeito , fe dará outro
Ta baliam, ou Efcriuam dante o dito Julguador ;, e
rudo o que o dito Efcriuam , ou Tabaliam ,.que affi
foi julguado por fufpeito, teuer efcripto atee lhe feeir
intentada a fufpeiçam ferá valiofo; e ,ao que for
julguado por fufpeito fe defrarreguará o dito feitÓ
-. da deftrebuiçam, e lhe ferá dado outro~
6 E PORQYE aas vezes fe poem em No!fa Corte
muitas fufpeiço~s nom v.erdadeiras', a fim de dilatar·
os feitos, de que fe Fecrece perda , e dãno ,.e grand.e ·
jmpedimento pera feus ,defpachos , quenendo a eíl:o·.
prouer, Mandamos que qualquer · parte qm: pofe:r.-
fufpeiçam a alguü Julguador, ou Offü;ial da Noffa~
Corte, e Cafa da Sopricaçam, ou do Ciuel,fe lhe re--
cebida for, e por o depoimento nom. abafiar pera·
feer julgl!ado por fufpeito,, qµifer o·recufante dar a·
. dia p.rou~, fe o feito .e111 .que fe ·pufer f1;1fpeiçam fQI';
~iuel, e de contia.de -vinte miLreaes ,.ou di ·pera c'i-.
1:na , ou de coufa que os valha , _ou crime de q~al-.
'J..Ue.r q_ualidade q.ue feja ,_nom . lheJej~ dada. difaç~m~ •
.a.
86 O TERCE-IRO L1v1w DAS ÜRDEN. T1T. XXII.

a menos que ponha em maõ do Efcriuam que a in.


quiriçam ouuer de tirar, º'!doutro que o Chanceler
Moor, ou Chanceler da Cafa do Ciuel ordenar, dez
cruzados, ou-fua juft:a valia, em os quaes condena-
rá o dito recufante pera as defpezas da Rolaçam , fe
a dita fufpeiçam pola _proua que a ella der nom for
prouada. E quando a demanda for de menor contia
no feito ciuel , àu for tam proue, affi no Ciuel, co-
rno no Crime , que verifimelmente nonvpoífa poer
os ditos dez cruzados , nom ferá o que a fufpeiçam
pofer obriguado a poer a dita cauçam , mas proce-
der-fe-ha fobre ella como for Dereito; peró fe a fuf-
peiçam nom for prouada , affi nefte cafo, como no
de cima, fempre a parte que a pofer , e a nom pro-
•Uar , ferá condenada aa parte contraira em as cuftas
do retardamento do proceffo • e em quaefquer ou-
tras que por eíl:a razam fezer, polas quaes fe loguo
realmente e com effeél:o faça ' execuçam ; e o que
as vencer nom ferá obriguado as tornar aa parte que
lhas paguou, pofto que na final fentença feja vence..
dor no principal e cuftas.
7 E PORQY E Somos enformado, que muitos li...
·tiguantes por dilatarem feus feitos , e caufas , quan-
do feus feiros vem a alguüs Defembarguadores, fe-
gu"ndo Noffa Ordenaçam os mandam cirar, dizen-
do, que lhes fam em algüas obriguaçoés, e defpois
·de Gs tere:n ·citados .. lhe intentam fufpeiçarn , di-
z endo que andam cóm elles em demanda, as quaes
.fufpeiçoes lhe fam ·recebid_'.ls , o que he em grande
per-
Co~IO PROÚDERA' O JUIZ NO FE 1 T o. 87
perjuizo ·das partes contraíra ~ , e por euitar os feme-
l hantes enguanos, Mandamos que achando que as
femelhantes fufpeiçoes fam poílas por as ditas cita-
çoes, por coufas que as ditas partes poderam de-
mandar antes de fe faber, como o dito Julguador
era Juiz de feu feito, ihe nom fejam recebidas taees
fufpeiçoes ~ e fem embargue dellas defembargue-m
os ditos feitQs. ·
8 ÜuTRo sr Mandamos, que quando alguü Def-
embarguador de cada húa das Noffas Cafas, ou Cm-
.regedor da Comarca forjulguado por fufpeito a al-
g uüa peffoa , que nem por iífo fique fufpeito a todos
feus parentes, e criados , como atee qui <dgüas ve.,.
zes fe cuílumou, foomente ficará [ufpeito-ao~ afcen-
dentes, ou defcendentes daquelle a que he julguado
e
por fufpeito, a feu foÚo, e fogra , e a feus irrnaõs,.
e cunhados cafados com fuas irmãs, é a feu~ primos
com irmaõs, e aos criados daquelle a quein.foijul-
guado por fufpeito, que em fua cafa ao dito tempQ
e íleuerem viuend-o com elle foomente ; e a todos os
.o utros parentes fóra dos ditos gráos , ou criados ,.
q ue em fua cafa nom eíl:euerem, noin feram os dí:..
tos Julguadores fufpeitos, poíl:o que affi fejám jµl-
guados por fufpeitos ao dito feu pa1·ente, ou fenhor,,
faluo fe lhe vierem com noua. fufpeiçam , que fojiJ;i
dt;: receber..

'I I-
88 O Tmcrrn.o LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XXIII.

T I T U L O XXIII.

!3{Jte 120111 julgue o Juiz em/eu feito , nem de Jeus pa-


rentes, nem dos Ojficiaes dante el!e.

N INHUÜ Julguador conhecerá, nem julguará


em feito) ou coufa ) que a elle pertença , ou a cada
huü dos feus parentes· dentro do quarto gráo, ou
cunhados atee o _dito quarto gráo, em quanto durar
Q c1mhadio, (os quaes gráos fe contaram por a ma-

neira que fe comam, fegund-0 defpofiçam do Derei-


to Canonico) nem dos que com elle viuem, ou fer-
uem , nem de feito que alguú Official dante elle aja
. com alguüa peíloa , ou outrem com elle ; faluo fe a
pane contraira confentir, que o dito Julguador feja
Juiz do Official dante elle, porque entam o ferá,
\
pofto que o dito Official- o recufe , dizendo que he
.Official dante elle ; faluo fe ouuer outra razam de
fufpeiçam ; e a aleguar, e prouar •.
1 E SE eífe Julguador nom for Defembarguador
da Noffa Cafa da Sopricaçam, ©U do Ciuel, ou Cor-
regedor da Comarca, ou Juiz de Fora, ou Ouuidor
·d'alguü Senhor de Terras, remeta eífe feito aos J ui-
'Zes ,que foram em eífe Luguar o anno paífado, fe
·nom forem fufpeitos ; e fendo fufpeitos remeta-o a
huü homé bom aprazimento das partes, que o def-
embargue affi eomo eífe Julguador o,defembargua-
ra, fe fufpeito nom foífe; e fetal Julguador for Of-
ficial ·da Noífa Corte , o Corregedor, ou o Chance-
.. lei:
~E NOM JUtGUE o Jurz EM SEU FEITO ET e. 89
ler Moor ( fegundo diífemos em feus títulos ) o co-
meta a outro Defembarguador feni fufpeita , que de
tal feito conheça, e o defembargue; e fe for da Ca-
fa do Ciuel comera-o o Guouernador, ou Chanceler
_da dita Cafa polo modo fohredito; e fe for Correge-
dor da Comarca, ou Ouuidor de Senhor , o~-Jui~
de Fora , cometa-o a huü homem bom mais a pra-
zimento das partes , darido a pellaçam , e agraµo.
2 PERÓ fe alguú Official dante alguü J ulguador
cometer alguü maleficio em feu Officio, efie Jul..
guador, perante o qual for. Official , o poderá punir
fegundo achar per Dereito , dando de fua fentença
, :apellaçam , ou agrauo , fegundo a jurdiçam que de
Nós teuer ; e quando o maleficio for tal , que nom
toque a feu Officio, em tal cafo Mandamos, que ef-
fe Julguador .n om conheça de feu feito, ainda que
o conhecimento de tal maleficio pertença a fua jur...
diçam , porque o Auemos em ello por fufpeito, por
razam d_e affi feer Official dante elle ; faluo fe o dito
crime .for notorio, e feito em fua prefença, ca em tal
cafo bem o poderá punir, fegundo achar per Derei ...
to, dando porem fernpre de fua fentença apellaçam,
ou agrauo. E eíl:o que Ordenamos no Official do
Julguador, que·comete crime contra alguú ourro >
Mandamos que aja luguar em qualquer crime , que
outrem contra elle ouuer cometido. cm prefença do
dito Juiz, como dito he , ou em fua abfencia , ou
contra o mefmo Julguador, porque em taees cafo~
Liv. III. .M pro..
90 O TERCEIRO L1vRo DAS ÜRDEN. TrT. XXIV.

procederá fegundo diremos no Liuro quinto no Ti-


tulo Dos que fazem , Ol1 .dizem injuria aos Julguadores.

T 1 T U L O XXIV.

Das auçoes, e reconuençoes.

A ~ATURA da auçam , .e reconuençâm he, que


ambas andem igual paifo, e ambas fejam determi-
nadas em hua fentença . .Pcró que primeiro fe ref-·
ponderá ao :libélo·do Autor , e primeiro ferá conte-
fiado q4e o dó Reo ·, e por confeguinte todolos ou-
tros .Autos judiciaes, e tanto que for refpondido ao
libelo do Autor', e conteíl:ado -; loguo fe refponderá
ào libelo do Reo. E aITi di em diante, e quando for
iiada fentença definitiua , primeiro ferá julguada a·
a.uçam do Autor , e deshi loguo ferá julguada are-.
t:onuençam. do Reo, em tal guifa , que auçam e. re-
conuençam ambas fejam detcerminadas, e julguadas
em huü tempo, e ern hüa fentença.
I . E I!S'PO que dito he auerá luguar, quando are-
conuençam for começada antes que a auçam feja.
<;onteíl:ada , ou loguo defpois da conteíl:açam , ante~.
que o Autor faça fua proua ; cá fe a reconuençam
for começada defpois da al!lçam conteíl:ada, e o Au:.
t'or ouuer dada fua proua , a reconuençarn perderá..
foa. 11at0ra quanto a eíl:a parte J. e nom andará igual-
paf-
DAS AUÇOENS, E R.ECONVENÇOENS. 91'

paffo, mas cada hüa fará feu curfo como per Derei ..
to milhor poder, fem hüa ag uardar a outta.
'.2. E DIZEMOS que a conuençarn , e: reconuençam
tem optra natura :·Conuem a faber, fe o Reo duran-
- te a primeira demanda quifer demandar o Autor,
nom o poderá demandar em outro J uizo fe nom
perante aquelle rnefmo Juiz , perante que ·he de-
mandado ; cá nom parece feer juíh razam , que o
Autor. pendente a primeira demanda ouuefTe. de feer
afadiguado per o Reo em outro Juizo , faluo em
aquelle onde já começou.litig uar primeiramente • .
3 ITEM fe o Reo quifer demandar o dito Aut0r
perante aquelle Juiz, perante que he demandado •
norn poderá tal Juiz feer' recufado polo dito Aut,o r;
cá pois o elle já efcolheo per Juiz na primeira de-
manda , nom he razam que o poffa recuf~r per ní,..
tlhüa guifa ; porem ha hi taees conuençoes em q4e
. nom cabe reconuençam : Conuem-a faber, conuen-
çam d'esbulho, guarda, e condefilho, e de feito cri-
me, em que a juíl:iça aueria luguar, poíl:o que a par..
tJe nom acufafie; porque eíl:as conuençoes fam pri-
uilegíadas , e nom cabe em ellas reconuençam ., por
tal que nom feja impedida a reíl:ituiçam da coufa
esbulhada , ou poíl:a em gu'arda, e condefilho , nem
acufaçam de feito crime. . ,.
4 A RECONVENÇAM nom ha luguar, nem _fe pó-
de fazer, faluo naquelle cafo onde ella he de tal .na-
tura , que o Juiz aja jurdiçam pera deUa conhecer>
fendo principalmente ententada.: ..póde-fe poer. <;;x:.:.
>-. M 2 empJo
·'·

9·2 o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TtT. XXIV.


emplo no Embaixador, que na~ pode feer deman-
dado na Corte durante o tempo de fua Embaixada:
peró efro nom ernbarguante , fc elle hi demandar
outrem poderá hi feer reconuindo, fe a reconuençam'-
for de tal natura e qualidade~ em que o Juiz aja jur-
diçam pera deli a conhecer ·;" cá fe ella foífe de tal-
gualidade, que nom coubeffe na jurdiçam do dito
Juiz, fendo ementada principalmente, em tal cafo
nom auerá luguar a reconuençam per ninhíía gui-
:fa , porque o confentimento do Autor , de que he
caufada a reconuençam, nom póde obrar onde' a na-
tura da caufa nom padece, que o Juiz aja fobre ella
jurdiçam.
5 ITEM fe o Juiz conheceífe dalguü feito, em
que fegundo Dereito deua proceder fumariamentc ,
em ta-l cafo auerá luguar a reconuençam , fe for de
tal qualidade, em que fumariamente fe deua proce-
der. E fe a reconuençam fofie tal, que requereífe
conhecimento ordinario, nom [e poderia fazer, fal ..
ll~ fe o Reo renunciaífe o priuilegio da reconuen-
çam , per que he outorguado, que ambas procedam
igual paífo ; cá entam bem fe poderia fazer- a recon ...
uençam, mas andará cada hua per feu curfq : Con-
uem a faber, a conuençam fumaria mente, e a recon ...
uençam per via ordinar!a , fegundo forma . de De".'
reiro.
6 E' NA caufa âa apel'laçam nom ha luguar are..;
·,conuençam , porque o apellante vai ao Juiz ·d'apel•
l açam po{ ne.ceífldade , _entendendo q!Je he agr'aua~
·- · - do
Do CUJE DEMANDA. EM Jutzo MAIS Q.VE o DEVIDO. 93

do da fentença contra elle dada; ,e efpera feer rele-


uado per a apellaçam. .
. 7 E SE dous homens fe louuarem em Juize;s al--
uidros 1 que ajam de julguar 1 e determinar algüa
queíl:am antré elles, nom poderá o Reo fazer recorí-
.uençam contra o Autor peran'te os J uizes aluidros ,
porque nom .forom efcolheitos por Juizes foomente
por vontade do Autor, _m as per vontade e confen-
timento dambos. E por tanto fe foífe per Nós dele..
guado alguü Juiz antre duas partes de aprazi'mento,
e confentimento <lambas , nom poderá a reconuen-
çam feer feita ·p erante o dito Juiz, pois per conf~n­
timcnto <lambas foi deleguado; porque a reconuen ..
çam nom tem luguar, fenom qµando ó Juiz he. efco-
lheito per vontade e aprazimento foo. do · A~tor•.

T l TU LO XXV.

· Do que demanda em Juizo .- màis do qrte lhe he deuido• .

Tono aquelle que demand.ar qualquer outro .em ,


Juizo fobre algua auçam pdfoal, por qualquer diui .....
djl que lhe deua ,.fe demandar malidofamente mais
do que lhe verdadeiramente he deuido ,_vencerá foo...
mente aquella parte. que·prouar· que lhe he deuida l> .
e o Reo fer.á abfolu.to em aqwella·pane, em q9e fc ·
rooftrar norn.fee~ obrig~~~o •.E .q~rnnto , aas cuftas fe.,...
fÍ i
' 94 o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRbEN. TIT. xxv.
rá o Autor condenado em ellas em tresdobro ,
·· naquella parte em que o Reo for abloluto, por elle
affi demandar maliciofamente o que 1-he nom era ·<le-
uido, e o Reo ferá foomente condenado nas cuíl:as fin~
gelas daquella parte em que for condenado. Porem
.fe o Autor antes da lide conteíl:ada fe decer de de-
mandàr ·o que affi demandaua mais do que lhe era
deuído, podelo-h~ fazer fem feer condenado em cÚ-
fias em dobro , nem em tresdobro , porem paguará .
as cuíl:as fingelas >que atee ali foram feitas, da parte
que cou·ber aa quantidade de que fe deceo, quando
de todo fe nom decer da dita demanda ; porque fe.
a
fe âece~ de toda dema.n da >ferá condenado eh1 to-
das as ditas cuftas íingelas. E quando o demandadàr
por ignorancia , ou fua fim preza, fem outro engua~
no, e malícia, demandaffe ao Reo em Juízo rna·is
dàquello que I'he foffe deuiào, em tal cafo ferá conde-
~ado nas cuftas fingelas, ou em dohro , fegundo a
fim preza , ou culpa em que for achado, fe nom ou-
uer jufra razam de litiguar, fegundo he contheudo
no Tüulo Da c.ondenaçam das cujlas;
r PERó fe ó Reo prquar que o Autor com en-
guano o foz .dbriguar por efcri ptura pubrica, ou per.;
a'nte teftemunhas, em mais daquello que verdadeira-
·m ente for a diuida, fe o dito Autor per tal obrigua-
·çam affi enguanofament~ feita dernandar o Reo em
.J uiz.o,.. o dito Reo feja abfoluto, affi daquello que
:~erdadeiramente for deuido; como do rnais que per
. >enguano foi :acttecentádo ~ e pofio,que defpois d~ <ti-
. · - · tado
Do QYE DEMANDA stu DEV.ED. ANTE DO TEMPO. 95 •,
ta do o Reo (e queira o Autor arrepender, nom lei-
xará de encorrer na dita pena. Porem fe aalem do
dito enguano entrar fimulaçarn, emcorrerá nas pena~
g ue fam contheudas no Titulo flue nom faça pejfoà
c;lgüa confraflo jimulado. .

T 1 T U · L O XXVI.

I)o que demanda jeu deuedor ante do tempo a qut·


lhe he obriguado.

S E algu°lí citar a outro , e der petiçam por efcri:


pto, ou por palaura contra elle ( quer o Reo pareça
em Juizo por íi , ou por feu Procurador, .quer nom}
flnte ' de viir o tempo', ou condiçai:n, em que lhe he
obriguado fazer, ou paguar algüa coufa, tal peIToa
nom ferá recebida em Juizo a fazer tal demanda' ·e
lhe paguará as cuíl:as q~e lhe fez fazer .e m dobro~.
E fe defppis que o dito tempo, ou condiçam vier,.
o quifer tornar a demandar por aquello qué ja qui~ .
demandar antes de viir o tempo, ou condiçam, nor:,n
ferá a ello recebido, fe nom paguando ,primeiro as.
·ditas cuíl:as, fe as ainda nom teuêr paguas, e a~lem·
.deíl:o au.erá . o Reo Jodo aquelle tempo que faleci~
;pera deuer feer demandado , quando o Autor pri~
meirarnente d.emfindou ,,com outro tanto.. ·
96 O TERCEtRo L1vRó DAS 0Rt>EN. T1r. XXVII.

T I T U L b XXVII.

Do que demanda o que ja em ji tem.

S E algüa peífoa for obriguada a outra em al~üa


diui<la 1 _e lha paguou toda, ou parte della, fe aquel-
le que a Tecebeo outra vez demandar o que ja tem
recebido, e- l~e for prouado, feja o dito Autor con..,
denado que torne ao Reo em dobro todo o que j á
delle tinha recebido com as cuftas iífo mefmo em
dobro , ou fe lhe ainda he _deuedor em alguua p:irte
da diuida , defconte-fe-Ihe dclla o dito dobro , fe
aqti'ello em que lhe a)nda for deuedor pera ello aba-
ftar , e nom abaíl:ando pague-lho o Autor por feus
bens. Porem fe antes da lide conteíl:ada o Autor fe
quifer decer do que affi pedia do que ja em fi tinha,
"'º podàá fazer fem pena algúa , foomente paguará
as cuílas aa parte , que atee fe decer lhe fez fazer,
.cm dobro.
I E PORQYE muitas vezes acontece, que algua~
partes que demandam o que em fi tem, por defrau-
'dar efta Ordenaçam , poem em fim ç}e fuas auçoes
ou petitorio do libelo, defpois de declararem a cou ..
fa certa que pedem , que lhe leuaram em conta ; ou
<que proteíl:am de lhe leuar em conta todo o que mo-
.firar -0 Reo que tem paguo, querendo tirar os dito'S
modos , é enguanos ,. Mandamos que a dita claufula.
ou proteíl:açam o nom po-ífa efcufar da dita pena do
dobro, e cuíl:as, fe fe achar que na quantidade certa
o.u'e declarou pedia o que em fi tinha. T I~
D A s F 'E R E A s. 97
T I T U L O XXVIII.

Das ferea-s •

.E M TRES maneiras faro ordenadas as fereas.


-Aprimeira, e maior, he por louuor e honra de Deos,
·e dos Santos. Conuem a faber, todos os Dominguos,
·e feíl:as, e ~ias que a Igreja manda guardar. Em
·maneira . que peíloa algüa nom ferá ouuida en) Jui-
zo nos ditos dias , e fendo em cada huü dos ditos
.dias .algúa -coufa em Juizo demandada , ou juJgua-
da, ferá auido por ninhuü tal procedimento, e fen;;.
teriça , poíl:o que foffe feiw com expreffo confenti.;.
mento ., e apra?.imento d'ambalas partes.
. 1 A SEGUNDA maneira. de fereas he, quando Nós.
~per alguüs refpeétos Mandarmos que fe nom façam
geeralmente Audiencias em Noffús Reynos , e Se..
-nhorios , ou em alguü certo Luguar , porque ta~e&
~ .fereas a ili per Nós -ordenadas, fe deuem em todo ,
.guardar, e qualquer Auto que fe em taees fereas fe-
··Zer em Juizo, feja auido por ninhuü, aili corno fei ..
·to c'o ntra Noílo Mandado , e Ordenaçam •
• 2 A TERCEIRA ' maneira he das fereas, que fede ..
uem dar pera colhimento do pam, e vinho, as quaes
\faffi OUtOrguadaS por pwl COfnUm dO p0U0 I ·e eíl:aS
4am de dous mefes. feró eftes dous mefes fe daram
.polos Julguadores, fegt:mdo a defpofiçarn ., e necef...
~fidaCle das terras , repartindo os tempos aas fazoes,
.cm que fe taees fruitos ouuerem de colher. Com
1. Liv. III. N tan.
9S o_ TERCEIRO LrvRo DAS ÜRDEN. _TrT. XX VIII.

tanto que nom paífe dos ditos dous mefes por todas
as ditas fereas , que em cada huü anno derem .. E
qualquer Auto judicial , que. em taees fcrcas fem
confentirn ento d'ambalas partes fe fezer , feja auido
, por ninhuü, faluo nos cafos feguintes.
, . 3 PRIMEIRAMENTE fe a demanda for fobre oco-
lhimento dos ditos fruitos , qual das partes os co-
lherá , e apanhará, nom . lhe concederá o Julguador
fereas, pofto que per cada hüa das partes fejam pe-
..,didas.
\ · . 4 E EM qualquer cafo .em que for contenda an-
tre algiías partes fobre o colhimento dalguüs frui-
-t os , em tempo que fe poderiam perder , fe ·<i: de-
manda muito duraífe , procederá oJuiz fumaria,.
mente fem eíl:repito , ~ figura de Juizo, e fem outra.
<clelongua , de maneira que os ditos fruitos fe nom
·pei·cam por razam da _dita delongua.
, 5 ITEM poderá o Ju.iz em as ditas fe~eas dar Tu~
tores, ou Curadores aos orfaõs, ou menorés de hida- .
.de. Outro fi poderá remouer' os ditos Tutores , ou
Curadores , fe achar que fam fufpeitos aos ·ditos or...
faõ~, ou menores , e bem affi poderá ouuir as excu ..
façoes dos ditos Tutores , ou Curadores , ej ulguar
fobre elles o que lhe per Dereito parecer.
: 6 OuTRO s.i poderá ouuir os feitos, que forem
mouidos fobre mantimentos, que algúa pelfoa di..
gua lhe ferem deu idos per Dereito , affi como fe, o
orfaõ demandafi'e feu Tutor per razam do dito man~
tim~.nto , ou .o filho a feu pay , ou outras femelhan.;!
:.ie.s
Ú AS F E R E AS.

tes peíl'oas a qµe per Dereito tal mantimento for de..


uido •
. 7 ITEM poderá ouuir, e julguar fobre demanda
que faça algüa molher que ficaífe prenhe , pedindo
que a meteffem em poíie dalguús bens que lhe per-
tenceffern , rer rázam da criança que teueífe no ven..
t.re.
.. 8 1TEM poderá ouuir qualquer feito m@ido fo-
bre alguu feer de menor , ou maior hidade , ou fo-
bre catiueiro, ·ou liberdade. ·
9 ÜuTRo sr poderá ·ouuir qualquer feito, rnoui.-
clo fobre a pubricaçam , e aber~ura dalguu teftamen-
to , ou fe foífe contenda fobre os bens ·dalguü que
foíle deuedor d'outro, e fe finaífe, e·feus bens ficaf7
fem defemparados por hi nom auer herdeiros , ou
por elfes que o foífem os nom quererem acepfar, , fa
o creedor a que tal · di.uida for dei.tida· reql!lerer que
o metam em poífe de .taees bens ·, ou que fe entre.:.
guaffem a peífoa fiel que. os guardaífe , e aprouei~
taffe , em tal maneira que fe. nom perdeífem , nem
danificaffem.
- IO ITEM poderá mmir·qualquer feito que fe mo~
uer fobre cometimento de paz , ou treguoa , ou
fobre ordenança de gente que fe ordene pera guar-
da :da Terra , ou per outra qualquer coufa que per..i
tença -a prol comum , ou fobre ·cafriguo que fe aja;
àe .dair a .tredores, ou a ladroés pubricos teedores de
caminhos., , . ·
, . :11 •. E A:coRD-AN-Do-sE o Autor e Reo de profe•
~ N2 ~~
10:> O TERcErno L1vRo DAS Oa.oEN. TIT. XX VIII.
guirem feu feito fem embarguo das ditas fereas :1
que fam eíl:abelecidas pera colhimento do dito pam,
e 'vinho, bem o podem fazer, fe o Julguador os qui-
fer ouuir, e valerá todo o que for feito em o tempo
de taee~ fereas. Peró fe alguú quifeffe demandar ou-
tro, e a auçam foífe t~l que pereceria, fe em o tem-
. po das ditas fereas nom foffe ementada , bem pode-
ram elles mouer tal demanda, eo Juiz feráobrigua-
do de o ouuir com o Reo atee a dita auçam feer
perpetuada per conteíl:açam da lide; e tanto que affi
for petpetuada nom hira o ]ufa (fem confentimen- ·
to d'ambalas partes) mais per o dito feito em dian-
te, mas ailinar-lhes-ha termo a que o venham fe-
guir paffadas as ditas fereas.
'n E sE.Noo dada fenteriça contr<1. alguu em dia
nom feriado·, poderá apellar de tal fentença ., poíl:<>
que feja em dia feriadb pera colher pam , e vinho ;
fe o cafo for tal em que caiba apellaçam, e for apel-
làdo dentro dos dez dias, que fam ordenados per ·...
Dereito pera os apellantes poderem apellar.
13 ITEM_ nom aueram luguar as ditas fereas .em
feito crime , onde o acufado he prefo ; peró fe o :fei..·
to ( poíl:o qué feja crime) fe for ciuelmente intenta..-
do, demandando o Autor algiía coufa que lhe foífe
roubada, ou furtada, ou lhe foífe' feito alguü dãno '·
ou offenfa, per que recebeffe perda em fua fazenda,
fe o Reo nom for prefo poderá o Autor pedir as di..
tas fereas , e fer-lhe-ham outorguadas ; e nom as pe~
. dindo , .PrGceder-fe-ha em feu feito fem embargu()
Qel .. ·
.. --··---
Dff JURAMENTO DE CALUNIA. IOI

dellas. Peró fe o dito Autor demandaffe emenda , e


· vinguança dalgúa injuria ; ou offenfa que lhe foffe
feita fem alguú outro dãno da fazenda, aueram Ju ..
guar as ditas fereas , e contra vontade do Reo 11om
deue o Juiz proceder no feito , em qu-anto ellas du..
rarern.
14 E PosTo Q!.JE . o Autor ou Reo nom tenham
herdades , nem vinhas, de que ajam de colher pam,
ou vinho , fe pedirem as ditas fereas, fer-lhe-ham
· Óutorguadas. ·
1 5 E Nos feitos qJ e íe trautarem na NofTa Cor-
te , e Cafa da Sopricaçam , e affi na Cafa do Ciuel,
nom fe daram as ditas fereas de pam , e vinho ; por
quanto em luguar de lias fam ordenados de efpaço
cada anno os mefes de Setembro, e Oéh1bro.

T I 1 U L O XXIX.

Do juramento de calunia.

TANTO que em qualquer feito a lide for con..;:


teftada , loguo o Juiz de feu Officio fem outro re-
querimento das partes dee juramento de cálunia
affi ao Autor como ao Reo, 6 qual juramento .ferá
uniuerfal pera todo o feito em efta forma : conuem
a faber , o Autor jurará que nom moue effa deman..
da com tençam maliciofa ' mas por ~ntender que
tem jufta razain pera a mouer) e profeguir atee fim â.
e
102 O TERcl'!rno LrvRo DAS ÜRDEN. Tri. XXIX.
e bem a m o Reo jurará, que juíl:amente entende de-
fender effa demanda , e nom al eguará , nem prouará
em ella coufa algüa per malicia , ou enguano, mas
que verdadeiramente fé defenderá fempre atee fim
do feito , fegundo fua conciencia. E fe cada hüa das
par~em ju íl:a raza m recufar o dito juramento, fe
·for Autor per~erá toda auçam que teuer, e fe for
Reo ferá auido por confeffado o que lhe o Autor de-
mandar. E p~ró que fegundo Dereito ajam d'auer a
dita pena . ·-~eremos que feja am julguado por fen.-
tença.
• 1 HA hi outro juramento de calunia , que fe
chama particular, e efle fe dá em toda parte do fei ..i
to , affi ante da lide conteíl:ada· , como defpois em
qualquer outro Auto , que algúa das partes queira
fazer, ou razam que alegue, feda outra parte o Juiz
for requerido pera lhe dar o dito juramento , o qual
fe fará em eíl:a forma : Conuem a faber , que em
efta razam, que elfa parte alegua , ou Auto que en-
tende fazer , nom ufará dalgüa calunia, ou arte , e
·engua:no, mas que obrará hi bem, e verdadeiramen..
t e fegundo fua conciencia: e fe algüa das p'artes, fen-
do requerida per o Juiz pera fazer o dito juramen~
to, o recufar fem juíl:a .razam , auerá a pena con-
theuda no capitolo fufo efcrito. E poíl:o que as par~
tes principaes quando fam prefentes deuam neceffa..J
r iamente por fi fazer os ditos juramentos : Conuerni
a faber , uniuerfal, e particular; peró fe os Procura--.
do.res forem requeridos pera os fazer em feu nome J'
- ' fa~
Do JURAMENTO DE CALUNIA. 103

falos-harn em eíla forma : Conuern a faber 1 que elles


trabalharam a todo feu verdadeiro poder , como as
partes que ajudarem aleguem foomente o que for
juíl:o 1 e razoado, porque juíl:amente poffam auer vi-
toria de feús feitos , e quanto em elles for nom lei-
.xaram por feu eíl:udo coufa algüa , per que o Derei-
to de fuas partes poífa perecer, nem aleguaram per
fi, nem lhes daram confelho, que aleguem, ou pro-
uem a"lgüa coufa, ou razam , per que o preito fem
jufta razam feja perlonguado , ou a parte contraira
danificada. E eíl:e juramento faram os Procuradores
das ditas partes em feu nome , como Procuradores ,
aalem do juramento que fazem as partes principaes,
como dito he.
2 E SE as partes principaes norn forem prefen-
.te~ 1 poderam feus ;Procuradores fazer os ditos jura:·
mentas em nome das ditas partes , referindo a ellas
.as palauras do dito juramento , fegundo em cima
rlito he. E pera eíl:o fe fazer, he neceífario que ajam
efpecial mandado pera jurar de calunia , ou fe a
parte quifer r"irar Carta·, pera que jure a fua parte
fOntraira de calunia onde quer que efteuer, feer-lhe~
ha dada ; porem em quanto elle nom jurar, ou noni
recufar o dito juramento fem jufta caufa , nom lei..
xara.rn de correr os termos , .e o feito hir por diante, '
affi CDmo fe ja teueífe jurado. ·
3 E ACONTECENDO que a parte princi-pal feja
~bfente de tam longua .diíl:ancia , que pom poffa feer
~chado pera dar a feu Prncurador PQ,der, per que
JlOÍ~
104 o T1'1tCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. T1T. XX,IX.
·poffa fazer o dito juramento, nem menos tirar a
Carta pera onde a fua parte. contraira efteuer, ferá
·dado juramento ao dito Procurador, ainda que pera
ello nom tenha efpecial mandado, o qual fe dará na
forma fofo declarada. Porem o feito nom fe retarda-
Tá por caufa do dito juramento, como dito he.
· 4 E sE o Tutor, ou Curador lidimo, datiuo, Oll
teftamentario , mouer oú defender algüa demanda
em nome daquelle, cuja tutoria, ou curadia inini-
ftra , fará elle os ditos juramentos , jurando em foa
alma, e em feu proprio nome ; peró fe aqudle , cuja
tutoria' ou curadia elle miniílrar' for maior de qua-
torze annos, e difcreto, e de bom juizo, nom lei-
xará de jurar por feer menor de vinte e cinco an-
nbs, fendo pera ello requerido : e efta forma do ju-
ramento fofo dita fe guardará perante os Juize ~r-
dinarios , e Deleguados. /
5 E TANTO que affi os ditos juramentefs' de ca ..
lunia forem dados, fe aíl"entaram nos feitos por ter_..
mo , como as partes , ou feus Procuradores os rece-
~beram ; e achando-fe que fezeram nos feitos , ou ale.
guaram algua coufa que nom deu iam , por malicia 11
feram acufados, e puni~os por fee perjurai.

I •

TI•
Do o.in: HE DEMANDADO !'!OR At'c. cous.A ET e. 105

- T 1 T· U L O XXX.

Do que he demandado por algúa c.oufa, e_nomea outro


por -Autor, que ovenha defe11der.

S E o poffuidor da coufa mouel -, ou raiz , he por


ella dem!lndado , e alegua Autor, fe o_feito ·he tal ,
em que o poffa aleguar, o Juiz lhe affiriará tempo
razoado, fegundo a diftancia do Luguar onde aquel-
ie que he nomeado -por Autor a eífe -tempo efteuer.
e no dito -terino fe fobreftará no feito _; e fe a eífe
term.o . o dito Reo nom trouuer aquelle que nomear
_por Autor., ou trazendo-o elle o nom queira ~efen­
der, virá o dito Rf;o auifado pera refponder Ioguo
~a dem~nda, que lhe he feita, negando, ou confef-
fando, e outro termo nom aja; e trazendo elle o que
nomeou por Autor-, e elle o queira defender , entam -
aja _eífe nomeado por Autor. termo pera em-outro
dia viir .refponder, negando, ou confefi'ando derei-
tamente aa de~anda ; e fe eífe que nome~do for por.
Autor quifer chamar outro Autor, affine.:lhe termo
,o Juiz a qu_e o tragua, ê affi aos outros que vierem
por Autores , fe m~rns forem ; e nos termos que lhe
affi forem affinados nom receba o Juiz apellaçam,
nem àgça!!_o, e fe lha receber nom valha. E Manda.;;_
mos que fe .alguü nomear Autor, feja theudo de ju- ·
.rar, que o nom nomea maliciofaiuente, nem pera·
perlong1,Jar o feito, e nom querendo jurar, nom lhe
.feja r_ecebicla a Autoria.
Li'J.'. III. o 1 ITEM
-rn6 ü "fflR<C'ErRO LivRo D.i\'S ÜR·D-EN, 'fr!fi. X.XX. --
1 'ITEM (e nquelle ~ue he ntimearlo por Autor
per o Reo_, que he demandado por a coufa que del-
kotn1e p-er titul·o ·de c0rnpr-a, ou efcaimbo , '.0.U oü-
tro qualquer fe.melharn.re título, e elle vem, e o que~
defender, defendelo-ha naquelle Juízo em que tire
oha:rnada por Autor , o qual .rnom -pocl·e ·declina:r,.
; ( pofi:o que nom feja .cio foro defle Juiz por .DeJt'ei--
to , ou per Priuil-egio efpecial.) faluo ~e dle -que l:Yê~
nomeado por Autor difier , que aquella coufa -fqb-r.e-
qtie he contenda ouue de :Nó-s pur M·erce qu·e .Ih'e
cldla Feizemos, e que Nos pertencia per Dereito; cá,
cm tal ·eafo forá remetiqo :o feito ao Juiz dos Noffqs
Feitos pera fe veer hi per Dereito ; fe a dita coufa,
. pertence a Nós.•
2 ÜUTRO sr, fe alguü he demandado por-couf<i>
que poffua ._, e elle quer chamar Autor , conuem a
fober , aquelle que lhe a 'Coufa vendeo , ou eícaim..
bou _, ou outro qualquer d'e que a dita coufa ouue •·
nomealo-ha , e ·chamalo..:ha ante das inquir!çoes-
abertas 'C pubri_c adas; e nom o .chàmando atee effe:
1

tlempo, ·nmn ferá .o dito Autor obríguado a .lhe pa-


guar o dãno qu·e receber por a dita .coufa lhe feer ti--
rada por fentença , . pofto que o tf'!o Autor nomeado•
foffe fab-edor, que o dito Reo era demandado · em,
Juizo p-<>Ja dita :toufa. E thamarido-o affi , e·nom'
·vindo- o 'diro Autor, ou nofn o mandando defender~,
feguirá o dito Reo . a dema11da fiel e verdacfoita~
mente;- e fendo vencido noJuizo-principal,_e d'apcl..
la_~am 1 a q_ual fe~á. obrigµado profegµir atee fim ~
· · f~r" .
Do 'QQI!. mr DEMANDADO .POR ALG. cousA ET c. . 101
ferá o dit© Autor theudo-a lhe·compoer com o- do~
bro toda a perda , e dâno.qu~· por eUo receber , e
affi lhe ferá obriguado , n_o calo onde o dito nomea-
do por Autor vier defender o Reo , e for vencido
no feito em que he chamado por Autor: porem º'
Reo affi demandado nom ferá obriguado agrauar ,
nem feguir agrauo , quando tal fentença for dada
por Juiz de-que nom aja-apellaçam) e eíl:e dobro.
fe-
' .
rá obriguado o nomeado _p~r Autor compoer, quan-/
da o elle affi prometer em alguú contrauto , porque
nom o 'prometendo ferá foomente obriguado com-
poer a coufa vencida com feu intereífe , ou paguar
o preço que por ella recebeo·, qual o Reo vencido
mais quifer. Porem fe o Reo demandado nomear
Autor, e o fezer citar, que o venha defender, e effe
.Autor p6r elle nomeado, e citado norn vier, e effe
Reo principal profeguir a demanda fem malicia ã
nem enguano, affi na caufa principal, como d'apel...
liaçam, eJor contra elle da.da fentença injuíl:amente •-
, e contra Dereito, ou per inorancia do Juiz, ou por
malícia, por querer fazer dãno a.o dito -Reo, ou ,por
querer fauorecer ~o Autor príncipal , em taees cafos
fer~ aquelle que foi nomeado por Autor obriguado
eompoer ao dito Reo a perda , e dãno que recebeo
por caufa da dita inju.íl:a fentença ·contra elle dada •
e ficar-lhe-ha ao dito chamado por Autm feu De-
Feito refguardado contra os Juizes , que a fentença- .
injufia deram, fe contra elles teuer Dereito •
.J · E EM todo cafo onde o comprador , . ou qual ..
· O2 ·quer.;
108 O .TERCEIRO LIVR0 DAS ÜRDEN. TIT. xxx.
quer outro poíluidor dalgüa coufa , que 0uue por
qt;a_lquer titulo, foi deli a esbulhado, Ol'.l roubado, ou
lhe foi furtada , ou a dita coufa pereceo- per alguü
cafo fortuito, nom ferá obriguado aquelle de que
cffe poífuidor ouue a dita coufa a lha compoet, por-
que tal roubo , ou esbulho , furto , ou cafo forttútc>
· que aconteceo ao dito poíluidor , . nom deue com
juíla razam empecer a aquelie de que elle .Comprou,.
ou por qual q uer titulo ouue a dita coufa.
4- . E QyALQUER que vender coufa alhea ferá obri-
guado a compoer ao comprador a dita coufa c0_1Jl' ·
feu interdfe , como dito he; faluo fe o. comprador
era f~bedor como a dita -coufa era alhea, porque em
tal cafo nom fer..á obriguado o vendedor a lha com-
poer , nem a lhe tornar o preço , e porem u tal pre.-.
ço fe perderá pera os catiuos, fendo o vendedor iífa
i;nefmo fabedor ao tempo da venda que a dita couf<i
era alhea.
5 E sE o nomeado por Autor pera defender Q:.
Reo pri!Ki pa_l vem a J uizo , e.diz que o quer defen~
. der, que o Reo principal .fe vaa em paz, e fique to'"".
do o feito. a elle .• e o .p rincipa1 Autor nom quer con-.
fentir em ello, por dizer que nom quer litiguar fe~ -
nqm c·o m o Reo principal, que he poífu-idor·da cou--
fa demandada , fe efte fegundo Ree> nomeado- por-
Autor difler, que elle quer defender o Reo· princi--
pal corh tençam .de inouar , e tolher a primeira au .. ·
çam do. Autor principal, que toda feja trefmudada-i
cm elle, eíl:o nom. poder<j.. elle faz.er çontra. v.ontade-
. ~o. d~t.o. AÚtor principal._ · ~, E:
Do Q!JÉ HE DEMANDADO POR ALG. COUSA ET e. rn9·
,- 6 E SE effe nomeado por Autor qúer defender o
Reo princ'ipal , affi como Procurador em coufa fua
propria, a que pertence todo o proueito: e dãno da
demanda, por feer theudo a compoer o vencimento
della , em tal qfo fe eÜe fe obJiguàr , e der penha;..
res, ou fiadores em J uizo , que fendo a fentença da-
da' contra elle. fará em tal guifa, que liuremente [e...
rá executada na co~1fa demandada) ou pàguará, ]o..
guo todo o_interdfe ao dito Autor prindpal ~em tal
cafo poderá elle defende lo, ainda que feja contra
vontade do Autor principal, e profeguir a demanda
atee fim.
7 Prn.ó fe o Autor principal di.ffer no começ<t
do feito , e razoadamente mofirar, que o dito Re0
principal he mais fiel, e mais verdadeiro homem
que o Reo nomeado por Autor ,e por tanto lhe per.. .
tence· mais àuer ·a demanda com elle, em tal <!:afo.
'a
nom ferá theudo litigwar com o fegund0 Reo ,)nas
conuirá ao dito Reo principal defender,. e profeguil!
por íi a demanda.
8 E E~ todo cafo onde o fegundo ' Reo pode·
contra vontade do pri.ncipal Autor litiguar. , e pro..

a:
feguir ; . demanda rn~ e!Ie ,. feg1;1ndo dito he , fo:
/ aco_:1te<:er que pertença a be~ feito de [e ?zerer''
, alguas preguntas ao Reo pnnc1pa.J ,. podera. bem. o
Julguador do Jeito faze-lo. viir perante fi ,. pera lhe·
auer de refponder a e11as ,. affi. como fe principal ....
mente perante elle litigµaífe com, o dito,Autor. pr.in,..,
cipaJ!.. /
J lO O TERCEIRO L1vno DAS OR.DEN. TrT. XXX.
'
9 E SE alguü foffe demandado por algúa coufa
mouel , ou de raiz, que elle poffuiífe, e teueífe em
nome doutro , affi como feu-laurador , colono , in-
quilino, rendeiro, feitor" ou procurador, ou por
outra guifa femelhante, elle póde , e deue nõmear
por Autor · aa tal demanda o fenhor da coufa 1 . em
cujo nome a poffue, e a que principalmente eífa de-
manda pertence ;·e tanto que o nomear, fe o Autor
quifer feguír a demanda, fará citar ao dito fenbor ,
que venha defender a dita demanda a termo certo,
que lhe pera ello feja affinado; e nom viAdo ao dito
termo per íi , nem per feu Procurador , fe procede-
rá aa fua reuelia ; e fendo cafo que aquelle que pof-
fue a dita coufa nomear por fenhor da dita .coufa ai ...
güa peffoa , em cujo nome nom poffuia a dita cou-
fa, .paguará: as cuíl:as todas, ..que _fe por ello caufa-
rem, em dobro, e alem diffo ferá punido polo Juiz
da dita éaufa c;orporalmente, fegundo à qualidade
da malicia' etn que for com prendido; e vindo elle a
defender a demanda ao termo que lhe foi affil1ado ,
ferá ouuido cortl feu dereito perante o Juiz de feu
foro, pois he demandado por a co~fa que diz feer
fua, e de que eflá de poffe, per _aq':1elle que primei-
ramente foi citado por ella : peró fe a éoufa eíl:euer
em huú Luguar, e_o Reo que he chamado por fenhor
.morar em outro Luguar , auerá o Autor faculdade
pera demandar o dito Reo _ande a coufa eflieuer, ou
Gnde o Reo morar. qual mais aprouuer ao ditO-Au-
tor; e quando o quifer citar no Luguar onde a .c:ouf<i
efte..
,,EM IUJE ·C.A'sos ·A VERAM LVGt:TAR. AS AUTORIAS • . III

~f.teu"e r 1, o rp0merá fazer, fetldo o Reo .por ella de- .


,tna!Ad~dé ames que paífe o anno e dia ,. contado do
diia rque ·a cmne.çou. a poífuir, fegundo mais largua-
®ilii1.te Úiífernos Jleíle Liuro no Tirülo Dos que po-
Áem Jêe,r .citados perante os Jub:q Ordinartos.

T I T U L O XXXI.

. Em que ct!fos aueram luguar as .aUf()rias. . \

E · ~ TODO cafo o~de a1guú for demandado por


a1güa coufa mouel , ou de raiz , que elle tenha· , o~
poífua em feu nome, ou d'outrem, aíli em feito cí-
uel , como crime ciuelmente intentado, pera cobra.r
e auer a dita coufa , pode chamar .por Autor qual.,.
quer peífoa que entender prouar, de ·que a ouuclfe;
e em feire crime criminalmente intentado .nom aue•
,rá luguar a dita. autoria •.
1 E_POREM fe alguü .demandaffe algua coufa , .
dizendo. que lhe fora funada:, .a qual fofle achada;
em pqdet d"o1:1tro , e elle demandado por ella. 11õ-
meaffe por Autor a·l guú cer.to, que lha ouueífe ven ..
êida, dada, ou efcan;1bada· &c.iferá recebido aa_dita;
autoria ; e fe effe nomeado _por .l\utor nomear outrC! , .
ferá recebido a ello ,« affi di em diante; e fe dfe der-
i:adeir.o vier a Juizo ,, e mofirar. que ouue eífa coufa.
do principal Autoi, e demandador, ferá.loguo·eff'e:
B.eo p rincipal {\ q~e primeir~ente. foi.demandado )i
abfol-
11 '.2 o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. XXXt
abfolto da dita demanda·, e condenado o dito Auter
nas cuíl:as em dobro ; ou em tresdobro , fegundo a
malicia em que for achado, e mais paguará a ver-
dadeira extimaçam da coufa em dobro ao' dito Reo
que a~ for abfolto , polo affi dema,ndar maliciofa-
mente. /
2 E sE aqtielle que derradeiramente ·am for no-
meado por Autor nom vie·r a Juizo, ou vindo nom
qui[er feer Autor aa dita demanda , em tal cafo fi-
cará com todo encarreguo do furto aquelle que der-
radeiramente vier a autoria , e fe deu por Aütor aa
dema'n da; ficando-lhe refguardado feu dereito con-
tra aquelle que nomeou por Autor, e o norn quis
feer, pera·contra elle prouar como lhe a dita couf~
deu , vendeo , ou efcambou.
3 E EM todo cafo dos fobreditos onde · o Autor
principal prouar a coufa demandada feer fua, e que
·lhe fÕi forrada, fer~lhe-ha a cotifa entregue defpois
que a verdade for fabida:. ·com eífes que affi norriea-
<los forem por Autores, fe quiferem vi ir defender a
dita clemanda , e autoria , fem por ella _paguar ao
Reo principal demandado ·o preço, o~ qualquer ou-
tra coufa que por ella deu, a aquelle de que a ouue ;
ficando· porem ao dito Reo refguardado íf'u dereit0-
cContra aquelle de ~ue a dita ,coufa ouue.


TI... ·
QQE .Ó MAR. NOM POSSA L!T. SEM OUT. DA MOLH! Il,l

T I T U L O XXXII .

. ~ué o marido nom poffa litiguar em Juizo [obre bms


de raiz jem outorgua de Jua 1110/her.

TODO homem que for cafado . nom poderá fem


procuraçam J ou outorgua de fua molher, nem a mo-
lher fem a procuraçam de feu marido , litiguar em
Juizo fobre bens de raiz f~us proprios , ou de foro
feito pe'ra fempre , ou em certas pefToas , ou arren-
to
. <lamento foi pera fempre, ou a tempo certo; com
. tanto que tal arrendamento paffe. de dez anno~ ;-por-
que em taees arrendamentQs, que paffam de dez an-
. nos, 9 fenhorio prôueitofo da coufa arrendadil ·paífa .
· a aquelle a que o arrendamento he feito: e iffo mef-
. mo nom poderá litiguar em Juizo fobre o dereito
· d'algüas r.endas·, penfoes , tenças, foros , ou ttibu-
. tos , q1:1e lhe fejam deuidos perpetuamente , ou em
· peffoas, ou a tempo certo, que paífe de dez annos_,
como dito l)e _; porque taees foros, rendas., penfoé~_,
pu tributos feguem a natureza, e qualidade dos ben!
· de raiz, e :por taees fam auidàS , e julguados ; ou
, fob,; e Dercitos Reaes, ou quaefquer bens em que ca-
da huü delles , marido . ou molher , tenham o vfo
fruito foomente, poíl:o que as demandas fejam fobre
forças dos ditos l;:>pJs, _ou . De.rei~os,, qq~r (ejam cafa-
dM p~r,qarta çle m.et;lde , q~uer ._-ppr:,efote e ·arras : e
fa'?endo algüa jdas di~as peffoa~ o ,contrairo,. féja aui-·
Ç~·-por n~n..h,u,~ ,quantq ·4i for foi to, no.µioqo1que Di•.
~:1f-iv. IJL , · ·,I> · re•.
I 14 o TERCEIRO LIVRO D'AS ÜRDEN. TIT. xxxu.
remos neíle Liuro no Titulo Jtue julguem pola verda-
de Jabida ..
1 E PERA o Julguador efn efto nom poder er-
rar , Mandamos que tanto que fe perante elle algüa
d em anda mouer . fobre bens de raiz , ou de fóro ,.
rendas , ou tributos , como dito he, fap por jura-
mento d0s Auangelhos pregunta a toda·s. as part~
fe _fam cafados, e dizendo que fi, mande ao Autor»
0u Opocnte, ou Affiftente > que tragua procura~arn ·
'1e fua molh.er abaíl:ante pena fazer tal demand-:t~, a(~
fina.o do-lhe termo·conueniente pera ello; € affi lhe
:mande que faça citar a molher do Reo, fe ó ríláridd
nom teuer procuraçam, per.a eH_o abaftante ~. e affi
mande ao Re0 que cite a molh.er daquell.e qu.e cha,_
mar por Autor~
< 2 E: N.OM trazendo o. dito Autor , ou Opoent~- ;. ·
eu .Affiíl:ent~ procuraçam de fua molher, fiam o:re-
ceba a tal demanda , e abfolua e Reo da inftanéia>
'1.o-J u-izo: e- affi o abfoluerá, fe ~ dit~ A1:1tor nom: fe..
úr citai' a molher do. Re:o ,, no' cafo, ein qu~ o dita:
Reo nom. lenha fqa proturaçam fufficiente ;,e fêratn
, es Julguadorb ·auífa.dos, que faç_arn affentá'r 11os pro..1
eeífos as taees procuraçoés , e affi. as preguntas qué:
affi fezerem aas. ditas partes , _e as r:epoíl:as que-a- el~
tas der.em; e fe as ditas preg·untas nom fêzernrn.,.. ou
proced'e1:em "hos dítos- feitds fam· pro_curaçoe"s foffiii
cientes das m'<YlneFes ;. •e p0t--.diúfrà. ·dellÓ taees prefJ
e effos fe anularhm:·>- ,pet Teus b@ns feFam: obriguãda í
pagua:r·-aa.s. páí:t:es.. t08'as. as• cuffas J, p'eitdâs j '!e_dãnd~·
··,.que·
,. \. } . • " y- •

•• J, •
~E O MAR. NOM POSSA LIT. SEM OU'I\ DA MOLH, I Y5

que por ello receberem. E fe as dit~s partes , ou ca-


da hüa deUas por jurame'nto differem, que nom fam
cafados, e defpois for achado que o eram, Manda-
mos que os proceílos atee eíle tempo feitos fejam
anulados, como diremos no Titulo ftue julguem pola
verdade Ja~ida ; e.aquelle; ou aquelles , que jur.aram
falfo , ajam a pena de perjuros, e mais paguem as
cuíl:as _.do tal proceílo, e a ili as peffoaes à aq uelle que
nom for comprendido no dito juramento; e fendo
ambas as partes no dito juramento comprendidas,.
paguaram as ditas cuíl:as , conuem a faber , as do
proceffo aos Ófficiaes que as ouuerem d'auer , e te-
uerem merecido, e as peífoaes pera os catiuos.
3 E Sli: no começo do feito as partes ambas , ou
cada húa dellas nom forem cafados, e de_fpois do fei-
to começado algua dellas ,ou ambas vierem a cafar,.
i:anto que o Juiz ~fto fouber, ailine-lhes tempo a
qúe traguam procuraçGes de fuas molheres, e com
ellas ·vaam por ,o dito feito em diante , .como dito
he, ~ ~ Julguador que eíl:o aili nom fezer, aja a pe..
na fufo dita.
+ E s-E o Julguador nom fouber , nem teuer ra-
zam de faber, que as ditas partes, ou cada hüa del-
las defpois da demanda começada cafaram , em tal
-cafo eile Bom auerá pena algúa , e o proceífo feito
por efle valerá , aili corno fe as partes trouueífem as
pro<::uraçoés de foas ·molheres .; cá pois o feito foi
éomeçado antes que as partes, ou cada húa dellas .
fo.ífem cafados, ·e o cafamento fe fez defpois encu-
. P~ bcr-

,
II 6. o TERCEIRO LIVRO DAS -0RDEN. T1t. XXXU..:'
bertamente, em tal guifa que o Juiz nom teue ra-
zam de o fab~r ,' nom ferá por ello o procelfo anu ....
lado • .
5 E NO cafo em que o marido , e a. molher am~
bos forem citados , fe a molher nom pare.c er per fi ,.
nem per outrem , o marido que parecer. poderá hir..·
.per o feito em diante, e valerá. o proceífo, e femen-.
ça que em elle for dada·, aili ·como re·~unbos. folfem
prefentes ; e eíl;a. maneira fe terá quando.o marido.,.
e a molher ambos forem citados, e a·molher foG- .
mente pareceo.em Juizo por. fi, ou. por feu Procura-.
dor , fendo affi o marido , ou molher , . que nom. pa-.
recer ao tempo da citaçam:. apreguoado hüa foo~ v:ez~.
e mais nom em.rodo o proceffo; porque por aque)la,
foo vez que. for a.pregµoado - fer.á ai.lido, por. citadQ)
pera todos os termos , e autos j _u diciaes.. ,
6 E ACQN.TECENPO ·<'J.Ue o mar;ido queira-demarr-i
· dar em J.uizo alguus ben.s de raiz proprios ., . ou der
foro , tributos-, rendas , ou penfo~s , . como · dito he , ,
e fua m9lher lhe nom ·quifer dar p.era -ello ,confenti-
rnento ...nemSazer Prpcur.ador, pera .tal d.e m anda, el,..,
le a poderá per fi foo fazer . ; a~endo RrimeirameH,te
- :
auétoridade dos Juizes donde for.em moradores, ao~ ,
quaes .Nós Mandamos que:lha dem ,, . fendo c;:ettos ;, ..
que a dita fu.a molher lhe nom qµer qa_r o--tlito ·éon"!'·
frntimento ,_. e que elle -he· tal, qU,e poderá, e fabei:<ii
fazer a dita demanda·bem , e-verdadeiramente,.fém:.
malícia, . e ·por feu .proueito, e da dita fua molher.:.:
e. efta. maneira. fe terá . q~ando o.marido nom.:quifer:
' d~ :
Do <i,Q•E RE<wlm.E DES-Pors. Do _F·E ITo coNcLuso. 11.7

demandar , .e a ~gfüer O· quifer fazer , auendo pri-


meiramente a dita auétoridade, a qual lhe ferá outor- ·
guaqa. com as qualidades fufo ditas. ·

T 1· T- Ú L O' - XXXIII.

]J)o que requere defpoir do feito cônclefo , que ·the dem


· termo pera viir com razam, de. nouo ,_ou pera fazer no....
. uo Procurador:..

Q :ESPOIS q~e o feito .for finalmente conduíó·s:,


nom ferá dado a.ninhúa das partes·, nem a feus Pro~
curadores, poíl:o que Procurador de·nouo queira fal.
zer, mas o Juiz .o.julgue finalmente ,. fegundo pet;
Dereiro lhe parecer;. faluo fe cada hua . das partes-
per juramento dos.Auangelhos differ, que tem algüa
tal razam • que pouamente·veo .aa fua noticia, por..
que em.efte foo ·cafo ferá . o .feito dado a feu ,Procµ-
pdor , fe ao ·Juiz parecer. qµe tal razam he pera .re-
çeber ; ,e, perâ. eíl:o·non'l lhe fej!l affinado .maior: ter..
mo, que.atee primeira a.udíencia;, .e nom vindo com
dfa razam ao dito -termo por. fi ,, ou por·feu Procu-
mdor ,.o. Jµlguadorjµlg~e o .feito .corno Ih.e Barecer.,.
c.:omo:dito h.e..

'
I J 8 o TER·C.. LIVRO DAS ÜRDJl!N. TIT. XXXIV.

T I T U "L O XXXIV. ·

Das p~tfoas a que he defefo • que nom procurem)


ou voguem.
N INHUÜ FidalguQ,o~·C~valeiro·nom feja ou-
·u ido cG>mo Procurador d'outrem em J uizo, fali.ia por
aque.Uas peífoas que com elles viue·r em , e por feus
cafeiros, que viuerem , e laurarem em fuas herdades,
e por feus amos, e moordomos : e quand·o por cada
huü dos fobreditos forem a Juízo, vaam honefta-
mente, e fem ·afruadas manfamente falem ao Juiz,
e aà parte contraira , refertàndo , e aleguando com
toda honeftidade o ·dereito daquelle , porque aili fo-
rem requerer, e fazendo-o d'outra manei.ra; o Jul-
guador lhe mandé fob c:erta pena , que lhe razoada
parecer 1 que fe 1.v aam loguo da Audi-encia, e nom
tornem ·-mais a ella ~ ·e tornando mais nom os ou-
çam, e executem em feus bens a dita pena.
•l ITEM os Creliguos, e Religiofos nom vaam aas
i\udiencias pei-a voguar, nem J!>rocurar por outrem,
faluo por fi, ou polos feus.: du por 'at}uelles' , porque
de Deteito o podem fazer, affi. como por fua Igreja ,
-e por as ·peffoas m.iferauees, e por feu padre., 01:1 ma-
dre , ou outros a.fcendentes, ou irrnaõs; e quando
affi aas Audiencias forem requerer, e -procmrar feus
feitos, ou daquelles, porque o .podem fazer, deman-
dem , e defendam feu dereito honeftamente fem
efcándalo, nem arroido; e fe o aili nom fezerem, di-
guam..
PAs PE-SSOM A Cl.YE .HÉ blFEsO tittoGuR.. ou voe. u9
13uam-l)1€S de Noffa· pârte que fe vàam ' deixem
feus. Pro<euradore-s te f€ b fazer ném qlliferetn , nam
os ouçam mais; e fe o Crtliguo for Autor abfoluam
o R€'©.cla infiancia ào Juízo,€ fe tornar a citar a par-
te _n'Om o ouçam· a·E€'ê que primdra.mehte pague aa
re
p~rte as cu fias da prin1eira infl:ancia '; e. O· Creli ..
guo , ou Rdigiofo for Re·o , prdéeda-fe aa fua féUê.1.
Jia atee que conftitua Pr9cumdor, que por ellé a di-
ta demanda profigua.
2 E DE.FENDEMOS que ninhuü homem poderofo
pof'razam d'õ Officio,. affi como c·aêlá"huu êfos Nof-
Jos J ulg1:.1adores de cada hffa das No'!fas Rolaçoés ,
ou dos Noífos Veedores da Fazenda,. ou qualquer
outtc:J Nt>ífo ~ Offidal da· Juíl:iça igual deft:,e·s i. . ou.
maior, nom a.uõg;hle 1 R.em -pro.cüre em pÜ,bric0 , nem
cfcondi_do , nem ac?nfelhe •: nem dig_ua fel! pã:Íe<Z~r
em <etfüfa.q.ue 11.fe feJa , ~teguntá.d.a acetc-a d~ deman-
da mtmida ,. .oú- 'qt:f~ te po!Ia mouet por aigua peíloa ,.
faluo po.r No·ffe. 2fpédal Aluará , r.iem . iffo mefmo.
réqueira .p.<t>r .nkihüa: pa:r'te qtl~ deníanda tragua•; e fe.
ál'gucfi:, ~elles i© cont!iá~rn •. tezt'lr-, Mandamos que nom:
fejah,muido, é m<rl& '.f€ra:.ilf füfp@nfr>s,defe.us Offi(:ios
atee N'oti_1.Múc~ ,.' e dl:ó l(:; ilom·. éntenda-· nas fuas .
àemàndas ~ · ott dàqú.elfos. á qué eUes, fejam fofp~itos;.
~á pbtltaées c.<::>rfio1e,füWpocff6ram· a,uoguar, e procu-.
tal' ê'ti'l."j tt:i.m ;e aíli aêbJ.1'te:'ih:aµíes}'€ requerer por el-
les / 'tôm.:>táhM - qü~i Và3fu.'·á:e_íle jui,.,zo honeíl:ameR .....
u, fugufido,Hiff~mos · nó ·e-otneç0 d.eíl:e Titulo•. ·
-1:13, E M-iA•N.D!AlvlOS.1 qué, rufihãá: p1dioa. requtÜra· all.i...
~.
guu.
f • • - ·
t •'-"
120 O TERc. L1vRo DAS 0RL)tN; TrT: XXXV.
guü dos .fobreditos Noífos Officiaes, pera procurar
.por ella em Juizo. , ou voguar por efcripto fóra ·do
Juizo. -ou que-requeira por elle , nom fendo das [o ..
. bredit.as peífoas 'Ílo parrafo precedente exceptuadas ;
.. ~requerendo algüa peffoa alguü dos fobreditos pe-
,ra o que dito he , e cada huü dos ditos O.fficiaes por
.clle procurar , ou auoguar, ou requerer , auerá as
penas que fam poíl:as no quinto Liuro aos que pe-
dem Cartas de Roguos. ·

T I T U L O XXXV.

Das pef!oas a que be defefo , que nom ·vaarn a cafa


dõs Dejembarguadores a requererJeus feitos. · .

~N IN.HUA .pefl'oa d~. q_ualqu~r efr~do, fort~, ~


.c-0ndiçam que feja,. como fo Efcudeiro, 'e di pera
.cima , que na Noffa Corte , e Cafa da Sopricaçam,
<:>u_do Giuel trouxer demançla perãnte alguü Defem-
·b arguador de cada htia das .ditas ·Ça.fas ,· nom vaa
ª
por fi, nem men<Js fel!: Proçuraçlo.t .ca~1. de ..n.inhu ü
·.dos ditos Defembarguadores, q1.1e forem Juiz, ou
Juízes de feu feito, em quanto a;dita .de.manda du'-
.rar, .fob pena .de paguar aa parte toda,s ~a~ cufü1s i:iue
..itee . o dito tempq forem,-feüa~, e fe,qlais vezes lá
for, tantas vezes qlilaQt\\S 1for lhe feram· tornadas a
contar t0das as cuíhs defde o cqmeço dó feito atee
o diio tempo, cqmo fe ainda lhe nom foran;) conta-
. '··
Ças,
~E EM FEITO DE FORÇA NOVA SE PROC, SUM. 121

das, e atee as nom paguar nom ferá ouuido , e íe


procederá. aa íua reuelia. As quaes cuíl:as paguará
a parte por foomente hir a caía do Deíembargua-
dor, em quanto o feito durar , e o Procurador quan-
do fe lhe prouar ,- que foi a cafa do dito Dcfembar-
guador, e lhe falou no dito feito, cujo Procurador
era ; e as ditas cufl:as norn ferarn mais tornadas aa
parte que as paguar , poíl:o que a parte que as leua
feja vencida, .e em as cuílas condenada. E fendo Q
mefmo que as leu ar vencedor em cuflas, fer-lhe-am
contadas como que as nunca teueffe leuado; e Man-
damos aos ditos Defembarguadores , que os nom
confentam , nem ouçam em fuas caías, antes lhes
diguam da Noffa parte que fe vaam.
1 E MANDAMOS, que fe algüa parte defpois de
trazer feito perante alguü Noffo Defembarguador
lhe diífer, ou fezer algüa injuria, aalem da pena que
por Noífas Ordenaçoes merecer , o dito Defembar-
guador fique, e feja Juiz do feu feito, como o fo ..
_ra, [e lhe a dita injuria nom dWera, ou fezera.

T l T U L O XXXVI..

"!5(,ue em feito de força noua /e proceda jumariamente


- .fam outra ordem de Juizo.

T ODOLOS Julguadores que conhecerem de for..


ças nouas, quando as taees demandas fe começarem
Liv. Ili. Q... · an..
I 22 o TERc. LrvRO. DA3 ÜRDEN. TIT. xxxvr..
antes d'anno e dia, do dia que a força fe differ feer
feira, nom guardem em os feitos dellas ordem, nem
figura de Juizo, mas fem delongua , nem . outra
mais voguaria defernbarguem os ditos feitos~ nom-
confirangendo o Autor a dar libelo em efcripto com
. ·aquella folenid:ide , que fe dá nos feitos em que ~ ­
guªrda a ordem do Juizo; e foomente inandem ao
Autor, que dee foa petiçam por -efcripto, ou adi-
gua·por palaura perante o Julguador ', e efcreuà-a Q ·
Tabaliam, ou Efcriuam no proceffo ,.e o Reo a con.,.-
teíle neguando, ou confeffando ; e nos d-itos·feitos-
poderam os Julguadores proceder em todolos dias , .
pofto que fejam feriados pera- colhimento dos paes '"·
e vinhos.
' ÜvTrw-sr abreuiaram. quanto poderem as di--.
laçoés , que em os outros Juizos fohem a feer da:..
· das , dando fooménte hlia dilaçam perentoria a ca.,. .
da hüa das partes ; e faram quaefquer pregunt-as aas :
partes, que forem . neceffarias , em qµalquer parte d~ ·
Juízo ;. e poderam fenten.ciar os ditos feitos-eíl:ando:·.
affentados, ou e'rn pé ,.e a fentença que em elles de- -
:rem.feja valiofa, e fem embarguo de nos ditos ~fertos­
nom feer f~ita conclufam.
'2 - -E PERÓ· que fegundo Dereito em.eftes feitos~
de forças nouas nom: fe aja de receber- apellàçanv_..
porque eíl:o poder-ia feer em pe~juizo dos esbulha--
dos:, e os Juizes Ordinarios das Terras .comunmen-
te nom-fam ·Letrados pera·fegundo Dereito -faberem1
jµlgµar. os ditos feitos,_Temos por. bem .que as par-:" -
tes.
DAS EXC'EPÇOENS DILA TO RIAS. I 23

tes em elles· pofiam ·a pcllar , nos cafos em que fe-


gundo por Noílas Ordenaçoês fe pode apellar.
3 ÜuTRo s1 · fe per ignorancia , ou negrigencia
do J ulguador nom for feita conteílaçam nos feito:t '
das taees forças, fem embarguo dello o proceífo ferá
valiofo, fe a verdade he íàbida em modo q1:1e o Juiz
porra dar fentença final.
4 E ESTO que dito he, que fe nom guarde or.•
dem de J uizo em eíles feitos de forças nouas , En-
tendemos foomente quando a demanda for fobre a
força ; cá fe for fobre a pena que os forçadores de-
uem d'auer, Mandamos que em tal cafo fe guarde a.
ordem do Juizo.

-------------------- (

T 1T U L O XXXVII.

Das excepçoes dilatarias •

.A S. excepçoes dilatarias f~m


em tres rnan~;as,
hüa fe poem contra a peffoa do Autor, quando con-
tra .elle fe alegua que nom he peífoa lidima pera
eíl:ar em Juizo , ou con~ra o Procurador: , que nom
tem fufficlente procuraçam , ou he inhauel pera po.,
der feer Procurador , ou contra a peífoa . do Juiz.
quando he recufado por fufpeito. A outra efguarpa
a jurifdiçam do Juiz, quando o Reo declina feu foro
per Dereito, ou PriuiTegio efpecial, que lhe per Nós
feja outorguado,. A .outra efguarda o proceffo, e bem
'Q...2 da
124 O Trnc. LrvRo DAS ÜRDEN. T1T.XXXVII.
do feito , quando o Reo alegua efpaço aa demanda,
o qual lhe he outorguado por Dereito , ou por Gra-.
ça cfpecial No!fa ; ou alegua efpaço aa diuida por
que he demandado, dizendo que nom he obriguado
fe nom a -cerro dia,_o qual ainda nom he cheguado, _
~u fob certa con<liçam , que ainda nom he compri-
da • e outras femelhantes.
1 E .TODAS eílas excepçoés fe ham de poer e aie-
guar ante da lide conteíl:ada : primeiramente fe ha
de aleguar a excepçam que efguarda a peífoa do
Juiz ; cá fe o Reo leixaífe de aleguar a excepçam ,
que efguarda a peffoa do Juiz , fabendo que lhe era
fufpeíto, e aleguaffe excepçam declinatoria do foro.,
nom o poderá mais em effe proceffo recufar por fu_,
fpeito, porque bem parece confentir em fua pe!foa ~- .
_pois que fabendp que lhe era füfpeito, alegou per-
ante elle a excepçam declinatoria do forn.
2 E ·DESPors deíl:a excepçam, quf;. efguarda a
peffoa do Juiz ~ fe ha de poer a que efguarda fua j.u -
rifdiçam ; porque fe o Reo leixando de aleguar a ex-
cepçam declinatoria do foro aleguaífe a excepçam
que, efguarda ·o proceffo , e bem do feito_, nom po-
derá já mais declinar o foro de tal Juiz, fe o Juiz.
he capaz de tal proroguaçain, porque parece au.er
proroguada fua jurifdiçam,. aleguando perante elle.
a excepçam dilataria , que efguarda o proceífo , e
bem do feito.
3 E POSTO QYE a excepçam dilataria fe aja de
alcguar antes da lide conteftada·, peró fe aq_uelk a
que_
DAS EXCEP.ÇOENS PERENTORTAS. 125

(]Ue pertenceífe aleguar tal excepçam nom foífe


della fabedor, ou tal excepçam lhe fobreuieffe def-.
pois nouamente-, em taees cafos como eftes bem po-
derá feer poíl:a e aleguada defpois da lide conteftada,

T I T U LO _XXXVllI.

Das o.:cepçoes perentorias• .

-A EXCEPQAM perentoria~~ chamada aquell'a:.:


que poem fim a todo o neguocio principal , e defl:as
printipalmeme fam tres , que embarguam a conte-
ftaçam : conuem a faber , fentença , tranfauçam , e
juramento ; com tanto que aquelle que as alegua fe
offereça proualas loguo , conuem ·a faber, atee dez
dias , fem fe receber ao Autor contrarieda:de algífa
aa dita excepçam p.tee o Julguador veer a dita pro- -
ua/ , que fe nos ditos dez dias fezer; e vendo o Jul-
guador que a proua, affinará ao Autor termo pera
contrariar , ~ a parte poderá repricar, e elle trepri-
car, e dará luguar aa prou.a a ambas as partes.,_ affi-
. nando-lhe dilaçam conueniente , fem cmbarguo da
dilaçam que já for' affinada ao Reo dos ditos dez.
dias ; e nom as prouando atee o dito termo • nom
embarguaram a conteftaça.rn -,, mas fem embargue»
dellas mandará_ o Julguaçlor ao. Reo que·contefte a.
lide, e procederá por o feito em d.iante, ficando ref- _
~uarda.do ao Reo feu dereito 1 pera poder aleguar ai..
. dii-.
126 O Trnc. L1vRo DAS ÜRDEN. TIT. XXXVIII.
dita excepçam perentoria ao diante , ao tempo con-
theudo em NoíTas Ordenaçoes: e nom tam foomen-
te eíl:as tres embarguam a coAteíl:açam , mas ainda
todas aquellas , que per riguor de Dereito tolhem a
.auçam principal , conuem a faber ., a prefcriçam, e
pagua ~e quitaçam, e todas aquellas que nacem das
conuenças feitas fobre alguü crime, ou injuria, ou
qualquer outra auçam famofa, e bem affi quaefquer
outras que concludam o Autor norn teer por Derei-
:to auçam pera demandar ; as quaes excepçoes a par-
te poderá poer pe.ra embarguar o procefio ame da
.lide conteíl:ada , com tanto que as proue dentro dos
.d ez dias , e fé procedei:á nellas no modo e maneira
que dito he. E querendo-as poer defpois da lide
:eonteíl:ada, as ·poerá ao tempo contheudo em Nof-
fas Ordenaçoes, como acima dito he.
I Too A excepçam perentoria de qualquer natu-
reza, e qualidade que feja, fe aleguará como o libelo
for recebido, e lide conteftada, aos termos que Dif-
femos neíl:e Liuro no Titulo Da ordem do Juizo, que
.o Reo ha de viir com fua contrariedade. E nôm a
.aleguando nos ditos termos , nom lhe ferá mais re-
<:ebida , faluo fe jurar que de nouo veo aa fua noti-
óa, defpois dos ditos termos ferem paffados, por-
que entam a·poderá aleguar, tanto ,.que de nouo vier
aa fua noticia , ou fendo ella de tal natureza , que
anulaífe toào o proceífo, e Juizo; cá em tal cafo a
poderá aleguar em todo tempo , affi ante da fenten ..
ça , como defpois , como Diremos no Titulo Da,;
exemçoes &e. 2 E
DAS ..ÉXCEPÇOirns PERENTORIAS. I 27

·2 E TODO Julguador perante quem fe pofer al-


güa excepçam perentoria , que nom feja daqu ellas
que podem ·embarguar a conteíl:açam, nom a rece-
berá, nem dará luguar aa proua della antes da dira
contdlaHm feer feita ; peró fe o Reo em fua exce-
pçam perentoria confeffaífe a auçam do Autor, em ·
tal cafo auerá o Julguador a dita auçam por proua-
da pola dita confiílam, e receberá a dita excepçam
fe for poíl:a · em fórma que feja de receber , e affi.
dará luguar aa proua della. E quanto he aas exce..,
pçoes prejudiciaes , Mandamos que acercá dellas fe
gua_rde a d ifpoÍ1çam do Dereito Comum.
J E SENDO poíl:a excepçam d'efcomunh_am, de--
ue-fe dar· termo perentorio de oiro dias pera fe pro--
uar, e nom fe prouando a eífe termo condenará lo-
guo o Juiz a parte que a aleguo'u nas cuftas Cobre el-
lo feitas , e mais procederá polo féito em diante,
afü como fe nunca foífe ·poíla•-
4 ' E sE o Juiz for. fabedor,. que o Autor he ·pu-
brico efcomunguado, lançalo-ha da ·dernanda, ainda
que pola outra.parte ·nam feja requ~rido •.
5 E NOM poderá feer aleguada em huú Juízo
mais de duas vezes ,. faluo no cafo .onde ella noua-
mente fobreuieíle, ou o Reo fezeffe loguo dello cer•
to em eífe Juízo, fem outra dilaçam algua.
6 E SENDO eífa excepçam pofia, e aleguada con-
tra- o Juiz , o Superi'or; c.onhecerá.della , ~ dará fobre
cllo final determinaçam,fegundo ,achar por Dereito.
Da-q~al determinaçftm.nom auerá .aP..ellaçam , . nern ,
agr,a-·
128 O TERc. L1vRo DAS ÜRDEN. T1T. XXXIX.

agrauo ; e fe em effe luguar onde tal cafo acontecer


nom eíl:euer Superior deffe Juiz a eífe tempo, lou-
uar-fe-ham as partes em Juiz, ou Juizes, que ajam
de conhecer da dita excepçam , e daram fobre ello
. determinaçam_,como acharem per Dereito) fem mais
apellaçam, nem agrauo.

T 1T U L O XXXIX.

Da conte.fiaça~ da lide.

TANTO que o Julguador julguar, que o libelo


do Autor procede , mandará ao Reo (fendo prefen-
te , por fi , ou por feu Procurador ) que o conteíle,
affinando-lhe pera ello termo atee primeira Audien-
cia ,. em o qual termo o Reo conteíl:ará neguando,
ou confeífando dereitamente a auçam do Autor , ou
dizendo perfeél:amente a verdade do feito como fe
paffou , e nom pola claufula geeral , a qual he con-
feffar o Reo o que he por elle, e neguar o que he
contra ellé ; e eíl:es modos de conteíl:ar abaíl:am , e
por qualquer modo delles que fe fizer [erá a lide
auida por conteíl:ada , e nom conteftando o Reo por
cada _h uü dos ditos modos ao termo que lhe pera el--
.Jo for affinado, ou proceífando-fe o feito aa fua re-
uelia, o Julguador contefte por elle por ncguaçam,
e vaa per o frito em di~nte, affi como fe a lide foífe
per o dito Reo conteftada.
1 E
.EM Q!.TE MODO SE F'ARAM o'S ARTW.. El' C. 129

- r E SE no tempo que o Julguador manda ao Reo


que conteíl:e, elle di{for que tem embarguos lid.i.mos
aconteílar, mande-lhe o Ju1guadot: qHe os atente
loguo per palaura; e fe forem d'aqHeH~s que ernbar-
guam a centeíl:açaõ, de que já Diílemos no Titulo
das excepçoês perentorias , ailine-'lhe termo ra-
zoado, a que venha com elles , e vii:ido com elles
. ao termo qL~e Ih.e for aílinado, fe faça o feito con-
crufo, e pronunóe o Julguador fe faõ de receber._
ou n0m; e achando que faõ de receber, proceda fe...
gundo Diílemos no Tüulo das excepçoes pe~en...
to rias.

· T l T U L O XXXX.
Em vue modo :fe faram os arttguos , e .quando a par~e
·contra que fe derem je.rá theuda depoer a ·elles•

.P ERA ,os artiguos ferem :feitos e~ f6rma. pera


.que a outra pa·rte, -contra que federem., feja obrigua...
. da depoer a elles; fe requerem feis c~ufas : a primei ...
n,-qMe f-ejarn feitos fobre-coufa h rra, porque 'fe fo ..
, I"em fobre coufa incerta fundados, nom ferá . a out,ra.
parte obriiguada depoer a -elles .. atli con~o fe o Amor
demandaffe húa herdade,, Ol!l cafa. '• e Hôm pofeíle e,m .
.feus artiguos ·o h1gtaar-cérto, onde tal herdade pu cafa
, ,eftá, e as demarcaçoés, e confrontaçoês, com . que
..~emarca> e confronta; ou fe demandaífe huü feru<0;,
'· " Liv. III. . R . . . ·ou
13tl () Tuc., L1v1w UAs ©RDE:N. TIT • .XXXX.

(H:J táualô, ou Clutr-a qualquer toufa mouel 1 oufen10-


úenle, e nom declaraffé os fihaes certos, ou qualid<l•
tleíl dá dita coufa, tal artiguo nom he de receber, nem
a p<1tttt õbtiguada. depoer n elle; peró. fe o ::i,niguo he
inc~rto nom por ref peito daqueH~ que o faz, mas por
refpéitt> daquellé c;:tilntra quem f'e faz, pôr-que quanto
ã elle he interto p0r fe ern elle trautar d'alguü feito
alheo, que elle nmh tem raiam de faber, tal artiguo
lie de receber, e agudle contra que fc deu pode pe-
~ir témpo rarnad9 ·pera deliberar, e depoer a elle._
E fe éin o rempo que lhe for dado ouuer comprida
cmformaçam do contheudo no dito artiguo, poderá a
elle depoer certamente, frgundo a enformaçam . que
ouuer, e nom podendo compridamente fer enforma-
dà, poderá ( depoendo-ao dito artiguo) dizer que nom
fabe, n_e m cree o contheudo em elle, e nom. ferá con-.
ftrangido pera mJis diz.er , pois he preguntàdo por
feito alheo, que elle nom tem razàõ de fiibet. /
1 E sE tal artiguo tratalfe do feito proprio daquet-
le _que a elle hade dépoer, e tal feito foífe antiguo ,
fer-lhe-ha dado. rempo razoado pera_ auer fru acor...
do , e deliberar ac€rca delle; e po!lo.gue o feito nom·
foíle antiguo, fe 'for muíto intricado fer-lhe-ha dado
o dito termo como dfro he, e n0n fenào i-ntricado
mas claro., depoerá logH-0 a elle ,. declarando_ a ver.,..
dade, fem. auer pera. ello. outra dilaçam.
2 A SEGU_N DA coufa que fe requere he, que .fe-
jam pertencentes, porqire nom fehdo pertencente'S
ao.feit.o principal de qucfe tr.auta ' ·nom fam <k rece--
bei:~
EM QlTE MOD~ SE FARAM'. os ARTIGUOS E'l' e. r3r

ber , nem a par.te contra que Íe dam _he obrigua-


da depoer a elles , aíli como fe o Autor deIIJandaífe
ao Reo cem cruzados, e pera eíl:o fezeífe artiguoi
que he obriguado lhos dar, porqwe ElRey eftá em
França.
3 PERó poíl:o que o artiguc nom feja pertericen..
te nece(fariamente ao feito que fe trauta, fe !Pr pei'-
tencente prefomptiuamente , tal artiguo f-erá qe re-
.receber., aíli e-orno fe o Autor dernandaífe ·hua her-
dade, 01:1 cafa ao Reo par fua, ·e faz artig1w que ein.
outro t·empo foi fenhor de tal he·r dade, :ou cafa;_por-
que pc:>íl:o qwe taI artigu-0 nom concruda necelfaria.
mente, concruô.e prefurnptiuamcnte~ porq1,1e fegun-
·uo Dereito -aquelle que em algu-ü tempo foi ftnhol..·- -
<le algúa coufa, prefomc-fe ainda agtwra o feér •
atee que fe moftre o contraira ; e .por tanto tal arti-
guo he de receber, e a eutra parte contra que fe dá
·he obriguado depoer a el!e.
+ E PODE ainda huü artigt'to feet nom f,erten-
cénte per fi, mas junto com outro ferá pertencente,
aíli como fe o Autor derria.ndafie ao Reo cem cruza:--
-<los, e fezeífe huú art.iguo ~ q•..Je Pedr-o ou Joane he
pu brico N otario , e fezeífe outro em que diífeíle, que
o dito Pedro ou Joaro:e fezera o. eíl:o.rmento"de como
lhe os ditos cem cru7.ados fam deuidos; porque
poíl:o que o avtiguo. q1.t1e Pedro ou Joane he pub.ri--
·c o Notario ,.per fi nom feja pertenceHte, juntando ct
-outrn, em qae diz que fe.z -O eftormento da diuidá •
he perte\)cent:~, e por ello he de ·-receber ., e G Re()
-0briguado depoer a elle. . R l . , )
s A ÚRel!l'RA C(}u!à que fe requere he , que os
ár-tiguos n_Qm fejarn em fi contrairas, porque fenda
os artigu0s em fi contrairas per -maneira que a parte
que os pocm fe contradiz nelles , nom feram taees
artiguos recebidos , e per confeguinte a outra parte
nom rerá theuda depoer a elks ..
6 E POSTO que a parte,. que offerece os artiguos 1 ·
nóm feja nelles em, fi conrrairo,. fe elle fezer huü
art.iguo qu.e· dependa d' outro , fendo taees que ajam.
de feer per. o-Julguador recebidos, fe a parte contrai"
ra depoendo, ao primeiro .artiguo o neguar, nom ferá
theudo depoer ao fegundo attiguo , por nom cahir
em ·contràríeda<le ~. pode-fe poer exemplo, fe a
parte fez huú artiguo ,. em. que fe contem que Pedro.
fez feu folene Teíl:amefito ,.e em outro feguinte ar-
Üguo diífe,.que o d.ito .Pedr0;0 leixou ern o-dito Te-
ftamento por feu herdeim; fe a parte depoendo aos
ditos artiguos neguou o primeiro artiguo , nom ferá
theudo refponder, nem depoer ao fegundo ;_porque
confelfando o-fegund.Q feria. em fi. contraira~ e cairia...
em perju1:0,
7 E DESPOIS. que·a parte-hií'a vez d"epofêr aos arti-.
guos, poíl:o que nom d eponha a elles dereitamente,
' .Oeguando·,. ou, confe-!fando .. nom ferá theudo mais.
outra v.ez depoer a elles, faluo fe. abertas. as. inquiri-
çoes eqe f:oífe nouamente enformado <;la verdade peI!
ellas, a qual antes nom fabia; porque em tal.cafo, pofto
·que ja depofefie aos artiguos em tempo que nom era
:fube.dor da verdad_e >. ferá. theudo. depoer outr.a .. vez:
a.
EM QYE MODO SE FARJ\M os ARTIGUOS !T-. c.. 133

a elles , fe lhe for re"Cjuerido i pela noua enformaçam'


que defp~is ouue da: çoufa ~
8 A-QYARTJ\ coufa que fe requere he, que os
artiguos fejam fondádos em coufa que confiíl:a ·em ,
feito , e nom em ponto de Dereito ; e por tanto fe o
artiguo for fundado em Dereito", nom feja a part<;
obr,iguada depoer a elle; e refpondendo elle a tal ar-
tiguo, fe feu depoimento nom. for conforme aa def-
po.fiçam do Dereito, tal depoimento nom terá efeélo ,
alguú.
9 Prnó fe o artiguo non for fundado em Dereito
Comum~ mas em Dereito d ~alguü Reyno, Cidade>
ou ViHa ; fe he daquelle. Reyrio, Cidade, ou Villa onde·
a demanda fe rrauta, fe tal Dereito nom heefcripto.·, ..
affi corno Cuílume vfad0 per longuo tempo, pode-
fe ddle articufar, e a parte ferá theuda dcpoer a elle.;
e fe. tal Dereito for efcripto·, nom depoerá ~ parte ~
elle , afü corno fe fo,ffe fundado em Dereito Comum,
porem poder-fe-ha deHe articular.
10 E ARTICULANDO-si:: do Dereito d'alguü outro:
Reyno, ou Cidade, donde a demanda fe nom trauta ,1
depoerá, e refponderá a pàrte a-tal artiguo: pode- fe
poer exemplo , erri Frorença he Eíl:atuto que o mê-.
nor de dezoito armas nom poíla fazer Teframrnto. ,.
fe a parte fez.e r artiguo do dito Eftaruto por fe .en-
t<ender. ajudar ddle em feu feito, ;:ffponderá, e de-
poerá a parte contraira a elle ,_ porque por feer De-.
teito de Luguar certo pode-fe prouar, e todo agu ellO'·
que fe pode prouar ,fe pode por Dere.ito articular; e-
. ~~
' !34 o TERC. LIVRO DAS ÜROEN'.• TIT. xxxx.
per confeg1únte a parte refponderá a elle , p orque <t
artig1m foi introdudo , pera que polo depoiment()
a elle feito per confüfam feja a par.te releuada d.e dar
·..a elle proua. ,
'· u A Q!,TINTA coufa he , que crs artiguos nom fe ..
· jam neguatiuos; peró fe alguW. artiguo for neguati..
uo, refpon.derá a parte, contra q 11e fe poem, a . elle;
porque pofto ·qlle feja regra em Dereito, que a negua-
üua [e nom .póde prouar, e pe.r coníeguinte fe nom
pode articular~ eíl:a regra nom he. fempre verdadei..
.ra, porqu~ bem fe pode prouar fe he coartada a certo
tempo, ·e a certo luguar ·; e bem aili fe podG prouar •
fe a neguatiua he retornada em afirmatiua, e pode-fe
ainda prouar per confiílam àa parte feita no depoi-
mento, ·e pois fe pode prouar pode-fe artirnlar, com
tanto que, quando for mera neguatiua , fc articule
pera fe deixar flo juramento da pane·cofltra que fe
poem , e nom pera fe dar a tal artiguo outra proua •
pois fe aom pode por outra maneira prouar.
I 2 A s EXT A cowfa, que he neceífaria pera o liti-
guame·feer ob•iguado depoer ao'!> artiguos, he, que
riom fejam os' artiguos c~iminofos, porque no feito
crime nom he a parte obriguada depoe.r aos artigu@s ·
que contra elle forem dados; porque fendo con..
íhaogido pera a elies depoer. fempre neguaria o cri-
me de que folfe acufado, e feria caufa de cahir em
perjuro, por efcufar a pena que por -o tal maleficio
/
mereceria fe o ctrnfdfaffe; e bem affi nom feni obr·i..
.guad0 de depoeit' aos artiguos, por que f9ífe deman...
· dado
. EM QYE MODO SE FARAM OS ARTTGU05 ETC. 13'5

dado por algúa pena pecuniaria, ou fendo taees que


encorreria nella, fe confeffaífe os _ditos artiguos.
13 E SE a parte contra que fam offerecidos os ar.;..
tiguos lhe he mandado por o Julguador , que depo-
nha a elles , defpois do_juramento ·de calunia, e da
lide conteftada recufa de o fuzer fern, jufla caufa
ern prefrnça do dito julguador, ferá hauido por
confeffado; ou poíl:o que nom feja preíente o Jul..
guador, fe elle mandar dizer aa parte por o Efcri-
uarn , ou Ta baliam do feito, que deponha, e que fe·
non depofer que o hauerá por confeífado , e a tal
parte nom quifer depoer ao termo que lhe he am-
uado fem jull:a caufa, em tal cafo o Julguador ha.
uerá os ardguo"s por confe{fados, tendo a outra par- ·
te já jurado de calunia, e fendo a lide conteíl:ada:
e bem affi fe o mandar citar por o Porteiro, que ve-
nha a Jui'ZO perante elle dito Julguador a depoer ,
deu e-lhe iífo mefm°' mandat dizer , que nom vindo
que o .hauerá por confeífado ;. e fe nom vier ao ter~
mo qué lhe affi mandar affinar fem jufia caufa, ha-
'uelo-há por confeffado, tendo a outra parte jurado,
e fendo a lide conteftada cornt> dito he. E porem
requere-fe que affi feja julguado pot fentença, por·-
que fe elle rnorreffe antes que affi foífe per fentença,:,
julguado, nom paífaria. contra feu herdeiro a pena-
qu·e lhe he por-Dereito dada pola defobediencia, que ·
afil cometeo em nom q~erer_ compnr o mandado.
d·o Julgu,ador•.
1
J36 . o TtRC. LIVRO Di\S ÜRDEN. TIT. XXXXt.

T 1 T U L O XXXXI.
Da-s dilaçoês que Je darn aas parl.es para fazerem
Juas proua!.

·D ESPOIS que os J ulguadores receberem os arti•'


guos aas partes . dar.... lhes-ham dilaçam , em que fa-
çam fuas prol.ias ; porem .fe algüa das partes req,u e-
rer, que a outra parte contraira deponha aos artiguos
que lhe fam recebidos primeiro que lhe feja affina-
da ciilaçam, e gue ·lhe feja âado vifta do depoimen"."
to pera veer fe he delle -contente , e a dita parte con..
traira for prefente no Luguar onde fe o feito trauta,
e Juiz -0 •rnnfhangua primeiro que affine dilaçam
aa parte que o depoimento requere, que deponha, na
fórma que Diflemos no Titulo precedente. E quan-
do ouuer d'affina·r difaçam , fe ouuerem de fazer a
proua no Luguar onde fe trauta o feiro, affinará pri-
meiro aas partes hüa foo dilaçam, a quedem fua pro-
ua no dito Luguar ., c0m tanto que .nom paffe de
vinte dias , a qual acabada nom lhe poderá mais re-
formar; fa1uo fe antes que fe acabaífe a dita dila"'
çam, a pane pediíle outra di1apm, e juraífe que
a nom pecl.e por alg.üa arte, ou enguano , mas foo ..
mente aa boafee, porque noin pode poer maior de-
ligencia Lla dilaçarn que já OU\:lf, e .qH·f por fi OU por •
outrem non foube · ninhl:ia coufa do çontheud~ na
inquiriçarn. que já he tirada; porque em tal cafo
dar..
DAS DlLAÇOENS QYE SE DAM AAS PART •. ET e. IJ'T

dar-lhe-ha o Julguador ( com eíl:a folenidade ) ou-


tra d.ilaçam tamanha como. elle entrnder que coni·
razam lhe deue dar, nom paífando de dez dias ; ·e -
paffada eíl:a dilaçam nom lhe dará .mais outra. -
I E QYANDO a inquiriçam ouuer de feer dada
fóra do Luguar donde fe a demand~ traura, em Nof-
• fos Reynos, ou no,s Noífos Luguares d' Africa~affinará
o Julguador hua foo dilaçam perentoria, fegundo a
difiancia do Luguar, e qualjda<le do neguocio. ·
2 E SE ouuer de feer em cada hüa das Noífas
Ilhas , affinará o Julguador o teúno . que lhe ·bem
.parecer, fegundo a diíl:ancia dellas, e -a qualidade
do tempo for, quando aJiinar a dilaçam •.
3 E SE ouuer de feer na India, affi!lará o Julgua-
tlor huú anno e meo, o qual correrá do tempo que
partir a primeira Frota , ou Armada pera laa. '
4 E SE a inquiriçam ouuer de feer feita fóra do
Reyno, ou dos fobreditos Luguares, fe ou111er de feer
no Reyno de Caíl:ella , que he Reyno mais Comar-
ca m, affinará o Julguador tres mefes de dilaçam,
ou mais, fegundo a diilancia do Luguar; porque po-
derá feer em o dito Reyno Luguar tam remot-0, que
raz-oadamente fe dará mais huú mez, e affi feram
quatro rnefes, affi que o mais dos tres rnefes ficará
em aluidro do Julguador.
5 E SE ouuer de feer a dita inqliiriçarn feita em
Araguam, ou em ·França, dar-lhe-ha feis mefes, e di
em diante fegundo a diftancia do Luguar do dit<>
Reyno, como dito he nb de Cafiella.
Liv. Ill. S 6
~ ··

13·S O TERc. L1vRo DAS ÜRD'EN. TrT. XXXXI..


6 E SE ~ouuer de feer feita em Ingraterra , ou em
Frandes, ou outra fernelhante Terra, dar-lhe-ha,m
noue mefes, e di em diante fegundo a defpofiçam do
tempo ·, e qualidade do neguocio.
7 E QYANDO ouuer de feer \feira em ~ma, ou
em Rodes, dar-lhe-ham huü anno, e di em diante
fegundo a qualidade do feito, e defpofiçam do tem-
po, ficando a maioria do tempo limitado em todo
cafo em aluidro do J ulguador: as quaes ·dilaçoes a!fi
acabadas nom poderá o J ulguador dar , nem refor-
mar outra, fenom fe for a prazimento das partes, ou
-per via de reíl:ituiçam, ou prouando a parte tal legi,.
timo impedimento, que fegundo defpofiçam de De-
·reito lhe deua feer reformada. E bem affi Manda-
:mos, que quando as partes ou cada húa dellas diffe-
rem, que ham de fazer fuas prouas em diuerfos Lu-
. guares, que as partes façam :repartiçam de quantos
·dias ham de gaftar em huü Luguar pera a dita pro~
ua, e quantos em outro Luguar.; e notn fe concor...
tlando as partes na dita repartiçam que affi l)am de
fazer, o Juiz do feito verá as ditas reparriçoes , e as
concordará o mais a proueito das· partes que poder;
'C íe a proua ouuer de feer affi no Luguar onde fe o
feito trauta, _como em outros Luguares, fempre fe
acabará primeiro de fazer a proua no Luguar onde
fe a demanda trauta, e defpois nos outros Luguares
fegundo fua repartiçam, faluo fe as partes fe acorda-
rem em outra maneira. E em todos os cafos fobredi ..
ditos onde as partes pedirem dilaçam pera cada hui:i
dos
DAs DILAÇOE:NS Q!JE S'E DAM .us PARTES ET e. 139
dos ditos Luguares • fe as partes contrairas pedirem
que lhe dem juramento fe as aleguam bem e verda..
deiramente, o Juiz lho dará.
· 8 E MAND~Mos que quando as ditas partes no..
rnearem fuas teftemunhas nas Indias , ou Ilhas de.
Sam Thome, e Príncipe, ou em Roma, ou em Ot.Jtre~
.a lguüs Reynos, que nom fejam éíl:es Noífos de Portu ...
gual, e dos Alguarues, e em Africa, nem nas outras
Ilhas, nem em Caíl:ella, e jurarem · que as al€guam •
e querem dar bem e verdadeiramente nas ditas ln-
àias , Ilhas de Sam Thome, e Príncipe, Reynos, e
Prouincias outras , fóra dos acima declarados , .Jhes
feja dada a dita clilaçam fegúndo a diftancia for , e
Noífas Ordenaçoes declaram; e porem o Juiz do
feito hirá por elle em diante, e o defpachará final ..
mente fegundo achar prouado polo dito feito , e in..
quiriçoés que fe tirarem nos ditos Noílos Reynos,
e Ilhas outras, , e Caftella , e dará fentença como
achar que he Dereito. E fendo a dita fentença con-
. àenatoria , fe dará a execuçarn com efeé1:o fegun-
qo Noffas Ordenaçoes ; e a p"arte que receber o di ..
nheiro .• ou coufa outra da dita fentença e condena-
çam , dará primeiro fü\11ça • pola qual jfe obriguará ,
que fe defpois polas inquiri"çoes, que vierem das [<li- ·
tas Indias, Ilhas de Sam Thome, e Príncipe, Ro-
ma • ou Reynos outros, pera que lhe foi dada dila-
çam., ·fe a dita fentença fe reuoguar , tornar todo o
<linheiro, e coufas outras que aili recebe-0 com as cu.-
fias em dobro, em que mais ferá condenado. E fen ..
S 2 do

I
140 o TERc. LIVRO DAS 01rn. TIT. xxxxr.
do a tal fentença abfolutoria, ella fe tornará a con-
firmar, ou reuoguar, fegundo fe achar polas inquiri-
çoés , que affi defpois vieran:i da~ ditas lndias, Ilhas
de Sam Thome, e Príncipe, e Reynos outros, que fe
ha de fazer ; e nom dando fi ança fe fará toda via ex-
ecuçam , e fe depofi.tará atee virem as inquiriçoés , e
fobre ellas fe dar fentença, affi e na maneira que he
. contheudo no Titulo Das e.recuçoes., quando o conde-
nado vem com embarguos , e o vencedor nom dá
fiança. E porem fe os contraél:os, ou cafos fobre que a
demanda for, fe fizeram nas ditas Indias , Ilhas de
Sam Tome, e Príncipe, Roma, ou Reynos outros,
em tal cafo efto nom auerá luguar; porque quando
affi for, coufa jufta he que onde\os contraét:os ou cou-
fas outras, fobre que as demandas fam ~ fe fezeram,
que laa fe ajam de prouar, e bem parece, que a dila-
çam que pera laa pedem o nom fazem por malícia
algüa. E bem affi nom auerá luguar quaiido as·partes
todas, affi -Autores como Reos, quiferem fazer fua
proua nas ditas Indias , e Luguares outros atrás de-
declarados.
9 E QYANTO aos feitos crimes daquelles que fam
prefos em prifam pubrica, ou fobre fua menage, Aue-
mos por bem, e ~eremos, que pofto que o Acufador
peça dilaçam pera prouar nas ditas lndias , Ilhas de
SamThome, e Príncipe, Roma,~ Reynos outros, lhe
nom feja dada ;_porque parece que o Acufador, que
cm taees Reynos quer prouar, que o faz mais por teer
9 Acufa.go ·per longuo. tempo, em. prifam , que por
tee~
DAS DILAÇOENS QYE SE DAM AAS PA.RT. ET e. 141

teer laa 4 di~a proua ; e por tanto lhe nom ferá dada
a dita dilaçam pera as -ditas partes, e Reynos eíl:ra-
. nhos, e fe deípachará o feito_ fegundo fe achar pro-
uado pelos autos , e inquiriçoes , que fe tirarem em
Noffos Reynos, e Ilhas, e Reynos de Caftella : e fe o
Reo prefo acufado criminalmente, ou polo ciuel que
dependa d.o crime , pediífe dilaçam pera as ditas In-
dias, e Ilhas, e Reynos outros, fer-lhe-M dada fe-
gundo o Dereito, e Noífas Ordenaçoes o mandam.
I o E ou R A N oo o tempo da dilaça_ m , ( que for
dentro em Noífos Reynos, e Ilhas, Luguares d' Afri-
ca, e Reyno de Caíl:eila )_que o JuJguador der a .cada
hÚ'\ das partes, nom fará o dito Julguador em effe
feito inouaçam algü3 , .nem fe entremeterá de e.nten-
der nelle; faluo naquello fobre que foi dada dilaçam,
affi comó em receber as teftemunhas, ou veer as
efcripturas , e priuilegios; que perante elle forem da-
das em proua.
I r E EM todos os cafos acima ditos , onde for af-
. fin ada dilaçam aas partes , fe nom trouxerem fuas
inquiriçoes no tempo da dilaçam , feram dellas lan- _
çados ; e o feito fc defpachará fem ellas. Porem fe
antes de o feito feer fentenceado finalmente, ou def-
pois de feer fentenceado, pofto que a fentença fej a
feita, e affinada, e palfç pala Chancelaria, fe antes que
a pane ie vaa com ella do Luguar onde a Corte efte-
uer, a outra parte contraira vier com a' in~uiríçoes,
que foram tiradas dentro do tempo da di14~am, ·ou
tom efcripturas , ~ue no~eou d.edarad~ e efpe-.
Cl "'!
14 2 o TERc. LrvRo oAs ORoEN. TrT. xxxxu;
cifieadamente a fubftancia deHas dentro da dilaçam
pera dar em fua proua, ou pofto que as nom nomeaf-
fe, !e dentro na dilaçam as tirou das Notas pera as
dar em proua, poderam feer ouuidQs com feu dereito,
como foram fe com ellas vieram em tempo, e a fen-
. tença nom fora dada; e cr que affi embarguar com
·as ditas i!1quiriçoes ou efcripturas paguará primeiro
as cufl:as do retardamento.
12 E SE a feotença for dada no Luguar onde o
vencedor for morador, pQdeiá embarguar com as dl-
tas inquiriçoes, e efcripturas fobreditas, antes que
a fentença paffe pola Chancelaria, ou onde npm ou-
uer de feer paflada pola Chancellaria , antes que feja
entregue aa parte.

T 1 T U L O XXXXII.
Das tejlemunhas que ham de Jeer preguntadas.

D ESPOIS que o . Julguador affinar termo aai


partes pera darem fuas prouas, fe as partes ou _cada
hua dellas for prefente na Audiencia, o Juiz lhe
mandará que nomee as teftemunhas que entende dar
em o feito, e ferá obriguado de as nomear naquelle
dia, ou ai:ee o outro a mais tardar; e nom as nornean-
'
do a effe termo nom lhe fejam mais recebidas : e
nom eftando na Audiencia, as poderá nomear ao
Efcriuam do feito, em quanto durar a dilaçam ; -po-
reI}l
D.AS TESTEM, QY~E HAM D.E SER PREGUNTADAS• 143
rem fe duranclo a d.i!açam , eftando a parte prcfente
n.o ,Lugwar o:nde fe o feito trauta, a parte contraira
lhe quifer fazer affill.ar o cfüo .termo pera que as no-
mee, poderá requerer ao Juiz ào feito, que mande
notificar por o Porteiro, ou Efcriuam do feiro, aa 'dita
parte que as nomee, e vaa dar ao E(criu~m: e fendo~
lhe afli notificado ferá obriguado de as nomear na-
q uelle dia, ou atee o outro a mais rardar; e nom as no~
meando a eíle termo, nom lhe fejam mais recebidas.
I E SE as inquiriçoés ouuerem de feer tiradas em
outra parte fora do Luguar onde o feito for traorado,
norn fendo ja notificado , ou mandado aa parte que
nomee as teíl:emunhas, tanto que a Carta por que fe
a inquiriçam ouuer de tirar for aprefentada ao Juiz p
pnde fe ouuer de tirar a dita inquiriçam, e a que a
dita Carta for dirigida , ferá .obriguada a dita pcrrte
'1 ue a d ira Carta leuar, ou quem a por el!e aprefentar',
de nomear as teftemunhas que no dito Luguar ouuer
de dar no dia que a aífl aprefentar, ou atee outro dia;
e norn as nomeando atee o dito termo) nom ferá
mais recebido. a ellas. ~Mandamo~ que ninhüa par...
te poífa mais teíl:emunhas dar , e. nomear a cada huü
artiguo, quando forem em fi diuerfos, que atee quin-
ze teíl:emunhas; e quando foomente teuer huu artiguo
pera prouar por teftemunhas , ou teuer muitos arti...
guos dé hua mefma fubftancia, e cafo, nom poder:i
ear ao dito artiguo ou artiguos mais que atee vinte
teftemunhas por todas; e fe a todos os artiguos, pofto
que em fi fejam diuerfos-, quifer nomear e dar vinte
iefte'P.
144 o TERc. LrvRo oAs ORo. TrT. xx:xxrr.
teíl:~munhas, e que ihe fejam todas as ditas yinte te-
ftemunhas preguntadas por todolos artiguos e cada
huü. delles, pode- lo-ha fazer, e fer-Ihe-ham pregun-
tadas, e mais nam. ·
-. 2 E Nos feit()S das injurias verbaes fe pregunta-
ram por cada hum artigo de cada Auto d'injuria, ou
por cada huü dos outros mais artiguos , fendo em fi
diuerfos, fete teíl:emunhas, e mais nam; e fe foomen-
te for huu arriguo, ou hüa petíçam, que nom feja ar-
ticulada, poderá dar atee dez teíl:emunhas foomente.
3 PoREM em todos os cafos acima ditos, Qnde for
lançado de ·poder nomear as teíl:cmunhas , por as
nom nome~r em temp_o, fe durando a dilaçam que
a elle , ou aa fua parte contraira for affinada , as ou-
uer de noUo, e jurar que as ouue de nouo defpois do
termo a que as ouuera de nomear feer pafiado, fer.
lhe-ham recebidas, com tanto que nom paffe o nu-
mero fobredito : e iffo mefmo no cafo onde as já
teuer nomeadas, fe durando a dilaçam jurar que ou-
ue outras teíl:emunhas de nouo aalem das que tem
nomeadas, fer-Ihe-ham recebidas aos artiguos que
as nomear, com tanto que por todas , aíli as que já
teuer nomeadas , como as que ouuer de nouo, nom
paífe o numero fobredito; e fe paífo.rem e quiíer lei-
xar das que já tem nomeadas '· e que lhe recebam
as denouo, pode-lo-há iffo mefmo fazer , com tanto
que nom paffe o numero fobredito , e que nom fe.
jam as que aíli quer Ieixar ja pregl1ntadas.
4 E SE por qualquer maneira foram preguntadas
mais
. '

DAS TESTEM. Q!:TE HAM DE SEER PRRGUNTADAS. f4~'

mais teíl:emunhas que o numero das fobreditas, Man ..


damos que as que derradeiramente foram pregunta•
das defpois que o numero foi cheo fejam ninhüas >
e de ninhuü viguor, e fejam de todo rifcadas e ro-
tas que nunca fe poffam leer.
5 ITEM fe algúa das partes requerer que algüas
teíl:emunhas venham per peffoa aa Corte , pera te-
flemunharem nouamente na Corte, ou pera ferem
repreguntadas pelos teíl:emunhos que já tinham da.,.
dos, e aos Defembarguadores , que no defembar·-
guar do feito forem , parecer neceffario, a parte
que iíl:o requerer paguará aas ditas teíl:emtrnhas as
defpefas que em fua vinda, eílada, e tornada verda-
deiramente defpenderem , contando-lhe do caminho
a íeis leguoas pôr dia, e mais o que de feus Offi-
cios e meíl:eres perderem por affi hirem f.óra de fuas
cafas tefkmunhar, e ponha loguo eife que eíl:o re..
J querer cauçam em Juízo, pera paguar as ditas defpe-
fas , primeiramente que as teftemunhas fejam cha":'
madas, por tal que as teftemunhas nom ajam razain
de feer detheudas na Corte por caufa da dita pagua.
Porem fe as teftemunhas, que affi for requerido que
venham, efteverem em cada hüa das Ilhas, ou em os
Noffos Luguares d' Alem, nom as mandaram viir fem
Noffo efpecial Mandado•
. 6 ITEM fe o Autor ante da demanda começad~
requereffe ao Julguador, que lhe fejam preguntadas
alguas teíl:emunhas fobre a coufa que entende de-
mandar , aleguando que as teíl:emunhas fam mui.to
Liv. III. T ve..
146 o TERC. 1.rvRo Dl\S ÜRDEN'. TIT. xxxxn.
:velhas, ou enfermas de grande enfe rmi dade , ou.
eíl:am auiadas pera fe partir ,pera fóra do Reyno, e
que feus ditos eftem c errad~s pera os dar . em aj uda
de fua proua, e fe abrirem e pubricare m ao tempo
que co·m dereito fe deua de fazer, manda-las-ha o
Ju1g uador preg untar, fendo elle primeira.m ente en-
form ado da dita velhice, e enfermidade, ou longua
iabfencia , como dito he;. fendo Õutro fi a parte con-
traira citada pera veer como juram em fua peífoa
fe poder feer achada, fe nom aa porta de fua cafa
prefente fua molher ,. ou vezinhança, q·ue lho ajam
.de notí:ficar.
7 E SE por parte do Reo for feito femelha.nte re-
querimento, ainda que as teíl:emunhas nom fejam
velhas, nem emfermas, nem efperem feer ab.fentes 1>
feram preguntadas em todo cafo, fendo a parte ci-
tada pera veer como juram em fua peíloa, ou em
foa qifa, e as inquiriçoês çarradas. affi como dito he
no requerimento feito por parte do Autor, porque
elle Reo- nom he certo quando lhe ferá feita a de-
manda~ nem eíl:á em feu poder de lhe feer feita tar-
de ou cedo, e fe lhe affi nom ·foífem preguntadas as
teíl:emunhas em todo tempo por elle requerido po-
deriam · falecer ao terripo da demanda feita, e affi
poderia perecer feu dereito. ·
8 E SE a parte que ouuer de feer citâda pera veel"
j urar nom efteuer no Luguar onde a teftemunha oll
t eíl:emunhas fe h.am de preguntat , nem teuel" hi
molher, nem filhos, nem faJniliares. , a que fe aja
de
DAS TESTEM. QYE HAM DE SEER PREGUNTADAS. 141

<le notificar, e eíl:euer :tam longe que fe ouueíl'e de


feer citada, a teíl:emunha poderia partir, ou falecer)
em tal cafo o Julguador preguntará a tal teíl:emu-
nha ou teíl:emunhas , fem a parte feer citada , fican.l
<lo-lhe feu dereito refguardado pera poer fuas conJ.
tradiras. _
9 E NESTES cafos, em que affi Maridamos que a8
teíl:emunh!ls fejam preguntadas, fe a parte nom fop
citada em fua peffoa , nom fe preguntaram · fe norrt
pefioa_s conhecidas :-por o Juiz , -OU- Tabaliam ,. ou Ert•
queredor , ou por húa. teíl:emunha conhecida, qwe
<ligua por jur~mento que as conhece, e fabe onde fam
moradores; e o dito da tal teíl:emunha íe efcreuer~
na inquiriçam , e ferá por elle affinado.
10 SE algüa das partes deu algum . por rdlemu~
nha em feu feito, nom o poderá detpois teprouar erw
erre feito, nem em outro alguü; faluo fe aleguar al-
güa razam foficiente que de nouo ouueffe per que
feja reprouado : e poderá porem irnpunar feu ditoj
arguindo-o defalfo, e nom verdadeiro, fe o entender) /
de prouar; ca por. o dar por teíl:emunha aprouou foo-
mente fua peífoa , mas nom feu dito, fenom quan.to
bom, e verdadeiro for. 1

r r Tooo homem pode geeralmente fcer teftemu-


nha ; e ferá preguntado em todo cafo que for nomea-
do por teíl:emunha , pofl:o que lhe feja poíl:a contra-:
dita ante que fe:ia preguntado, faluo em eíl:es cafoSí
que fe feguem.
12 P1uM&IRAMENTE o padre, ou madre.nom po~
Tz dem
148 O TERc. LIVRO DAS ÜROEN. TIT. XXXXU.

dem ' feer teftcmunhas , nem feram pregunta~os nos


feitos dos filhos por elles, nem contra elles,. e bem
affi o auô , ou bifauô. , por o neto ,. ou bifneto , e .di.
em diante por el!es , nem contra elles ,. e aili o r.ieto ,
.ou l:;lifneto. no feito do auô , ou bifauô ; podem po-
rem o padre , oy madre feer preguntados no feito
do filh0,. ou filha, quando for a queíl:am fobre a hi-
dade fua , por que tem razam mais de o_faber que
outra ninhbia peffoa ; peró nom lhe daram fee com-
prida,. mas feram cridas como pdfoas fufpeitas.
13 ITEM o feruo nom pode feer teíl:emunha,.nem
ferá preguntado geeralmente em feito alguií, falue>
nos cafos por Dereito efpecialmente determinados •.
14 ITEM o irmaõ nom pode feer teftemunba,nem
ferá geeralmente preguntado no feito do irmaõ pl'.>r
elle , nem contra eHe, fe aquelle que fe Clá por tefte..:
munha eftá fob poder, e guouerno do irmaõ, por que-,.
ou contra que fe requerer feer preguntado,. ou fe <>
feito em que he dado por te-ftemunha he cr.ime , ou
ciuel em que fe trnu~e , e moua queíl:am de todos.
:kus bens , ou maior parte delles.
15 ITEM Judeu, ou Mouro nom pode·feer teíl:e•
munha, nem ferá preguntado em feito que huü Chrí-
ftaó aja com outro. E bem aili o homem defafifa-
do fem memoria , e por tal geeralmente ~auido) e o
menor de quatorze annos, nom podem feer teíl:emu-
nhas , nem feram preguntados por teíl:emunhas em
feito de qualquer qualidade que feja ; porem algüas
vezes acuíl:umam os Julgua:dores em feitos cnmes
ffilJl-

/
DAS TESTEM, Qy'E HAM DE SEER PREGUNTADAS. 149

to graues preguntar os meno.res de quatorze annos


fem juramento aa ·minguoa d'outra proua, por fe em•
formarem na verdade do ferto por a graueza do cri-
me, o que Auemos por bem feito por o maleficio
nom ficar fem pena. ''
16 !TEM o· imiguo capital d'alguúdoutro nom ferá
preguntado por teíl:emunha contra elle, e Declaramos
feer imiguo capital d'outro o que com elle em alguú
tempo ouue , ou ha alguü feiro crime, ou ciuel , em
que fe traute , e moua d.e manda de todolos bens, ou
moor parte de cada huü delles, ou que oaueífe mor·
Fº, aleijado, ou mal ferido aquelle, que foffe dado
por teíl:emunha contra elle , ou contra fua molher ,
e feu filho, ou neto, ou feu irmaõ , ou ouueífe feito
a cada hum delles alguü grande furto, ou roubo , ou
injuria , ou ouueffe cometido adulterio com a rno-
lher de cada huü delles ; o que iífo mefmo auerá lu-
guar quando a teíl:emunha tçuer cometido cada huú
dos ditos cafos contra a parte, ou contra fua rnolher,
filho, ou neto , ou irmaõ.
17 E EM todos efies cafos, e cada hum de!Ies, nom
ferá alguii dos fobreditos pFeguntado por teftemu-
nha ·, fe o Julguador ouuer por certa enformaçam que
o dito diuido , ou imizade he antre aquelle que he
dado por-teíl::emunha , e algüa das partes por que fe
nomeou, ou contra quem fe nomea por tefl:cmunha.;
e fe o Julguador tal enformaçam nom ouuer, e a par-
te , que recufa a dira teíl:emunha- feer preguntada •
quifer prouar cada hüa das ditas razoes ,.por que en-:
ten"".
r50 O Ti;;Rc. LrvRo oAs ÜRDEN. TIT. XXXXII.

tende recufar feu teíl:emunho, receber-lhe-há fobre·


ello proua, e prouando·a nom confenta que feja pre- _
guntada como dito he.
1 8 E BEM aíli Mandamos que nom feja pregun-
tado prefo alguü por teíl:emunha , em quanto em
Noffas cadeas pubricas for prdo; faluo fe àntes que
foffe prefo era ja nomeado por teíl:emunha : aconte-
cendo porem, que alguü homem feja pr_efo por feiro
ciuel, ou por alguü leue delié1:o, cuja pena quando
fe prouaffe nom mereceria pena corporal , nem de
degredo que paífe de feis mefes fora da Vil!a e Ter-
mo, fendo peffoa de boa fama , e aprouada, bem po-
derá feer preguntada eh1 qualquer feito. E affi pode ..
ram feer preguntados quaefquer prefos acerca dos ca-
fos, e maleficios que aqueceram, e fe fizeram na ca-
dea, e fer-lhe-há dada aquella fee, .que bem parecer
aos Noffos Defembarguadores, quando os taees feitos
julguarem.
19 E GEER.HMENTE em todos os our~os cafos que
acontecerem , ainda que alguú feja recufado de te-
ftemunha por fufpeito, e a recufaçam feja lidima •
e poíl:a ao_tempo deuido, Mandamos que nom lei-
xe por tanto o Julguador de o mandar preguntar, e
poer feu teíl:emunho no proceíl~ do feito , affi como
cada húa das outras teíl:emunhas, que recuíados nom
forem; e fe for dada proua aa recufaçam que lhe
r
for pofta, veja o Julguador eífa .proua, e fegundo viir
a qualidade da recufaçam, e proua fobre ello feita, affi
dee fee ,. e crença aa dita teíl:emunha.
\

20
DA PEN. QYE AVE. AS PART. QYE FAL. COM AS TES. 151
· 20 E EM todo cafo onde algüas peffoas nom qui"
ferem teftemunhar, o Julguador as contrangerá que
teftemunhem , penhorando-as , e açabarcando-lhe
as portas, e poendo-as em prifam , fe taees peffoas_
forem em que razoadamente caiba prifam , e forem
em euidente defobediencia. E fe taees pefioas foref11. /
que o Julguador apremar, nem confiranger pofia, fe -
forem na Noíla Jurifdiçam faça-no-lo a faber, fe tam
neceiTaria coufa for , pera hi Prouermos com Derei-
to; e fe as teftemunhas nom forem tam necefia-
rias, ou nom forem da Noífa J1,1rifdiçam, mande..
lhes preguntar outras em feu loguo.

T 1 T U L O XXXXIII.
Da pena que aueram as partes que falam com as ttf!.-e~
mtmhas de/pois qi.te Jam nomeadas.

TANTO que cáda húa das partes nomear em


Juizo ás teílemunhas, per que entender prouar fua
tençam, Mandamos que do dia que forem nomea ...
das atee darem feus te:Qemunhos ninhuas das ditas
partes, affi o que - as nomear, como aquelle contra
quem forem nomeadas ,. per fi,. nem por outrem por
feu mandado fale com ellas a de parte, e foo; e faz en.
do cada hü-a da~ partes o contra iro, e prouando-fe,
ou per jurarnent~ das mefmas tefiemunhas , ou per
outra_proua i todo 0 qt1e a .tdkmunha difier em fa.,
' uo..ç
r52 O Tnc. LrvRo DAS ÜRDEN. T1T. XXXXIII.
uor daquelle , que affi con~ ella falar , ferá ninhuü e
de ninhuü efeéto , e mais pagu ará aa parte contrai-
ra dez cruzados por cada 'hüa te il:emunha , com que
affi falar ; e elTa mefma pena aueram , falando-lhe
perante outrc::m, roguando-lhe que em feu fauor di-
guam o contraira da verdade, ou a calem. E pro-
metendo-lhe por eUo algíia coufa auerá a pena que
he contheudo no quinto ~Liuro no Titulo Do que dif-
Je1 tejfemunho /alfa no parrafo final.
1 E PERA que os Julguadores milhar poífam fa-
-b er, !e algúa das partes' falou com as teílemunhas an-
, tcs de ferem pr.eguntadas contra eíla noífa defefa ,
Mandamos, que tanto que for dado juramento aa te-
fternu11ha , antes qu~ dee feu teíl:ernunho fobre o ca-
fo pera que princip:ilrnente he nomeada , feja pre-
guntada fe falou algüa das partes com ella foo def-
póis de feer nomeada , ou lhe reque~eo que leixaffe
de dizer a verdadé do que foubeífe em aquelle fei-
t o; e todo o que a teíl:emunha diífer efcreua-o o Ta-
baliam, ou Efcriuam ,·no começo do teíl:emunho.

TI-
DAS CONTRADITAS E REPROVAS, 15·3

T I T U L O XXXXIUI.
Das contraditas e reprouas.

PERA a parte poder viir com contraditas dirá 10-


guo ( tanto que o juramento for dado aa teíl:emunha,
ou atee o outro dia a mais tardar , fendo prefente no
Luguar onde fe a teíl:emunha tirar ) ao Ta baliam, Oll .
Efcriuam que a tirar, que lhe tem contradita ~ efpe-
- cificando-lhe a caufa da contradita; e nom lha poen,.
do afli efpecificada atee -o dito rempo como dito he,
nam lha poderá mais poer em ninhuú tempo: e nom
fendo a parte prefrnte no Luguar ·ao tempo que fe a
dita teíl:emunha preguntar, nom ferá obriguado a lha.
atentar ao· dito tempo , mas tanto que as inquiriç-õe~
forem acabadas, ou atee o outro dia , defpois de as
inquirições ferem acabadas , pedirá por fiou· por feu
Procurador os nomes das teíl:emunhas , pera viir com
as contraditas; e nom ·pedindo os nomes atee o ·dito
'termo nom lhe feram mais dados.
· 1 ·E QYANDO as inquiriçoés forem tiradas füra do
Luguar onde fc o feito trauta por Carta, fe atentaram
as contraditas, e poeram perante o Julguador que a
dita Carta mandar comprir, atentando-as, ou pedin-
do-as aos tempos que dito he, e formando-as em fór-
rna que fejarn de receber, receba-lhas , aquellas que
por Dereito forem de receber ; e dentro da dilaçam
que na Carta (por que fe a inquiriçam tirou) for afli-
nada lhe ma1~dará , que faça fua proua ; e fendó a
Liv. Ili. U- di..
r 54 O T _E:Rc. LrvRo DAS 0Ro. TrT. XXXXIIII.
- .

&laçam da Carta já paílada , ou tam pouca que nom


abafte, fe o dito Juiz viir que nom eíleue por aquel- ·
le que pos as contraditas de nofu acabar a proua das
ditas contraditas dentro na dilaÇam, lhe dará a mais
dilaçam que viir que he neceffaria; e nom fat1sfazen-
do perante o dito Juiz que a dita Carta mandou com-
prir como dito he, nom lhe feram mais dados os no·
rnes, nem dado luguar pera viir com ellas polo Juiz
do feito.
2 E POSTO que no termo acima dito nom atente
as ditas contraditas ao tempo que as teftemunhas ju-
raram , fendo prefente no Luguar, ou fendo abfente • .
nom peça os nomes dellas pera viir com contra-
ditas , ou pedindo-as nom vier com · ellas ao termo
que lhe foi ailinado , e por ello feja dellas lançado ,
fe jurar que as ouue defpois de nouo, e que as nom
fabia, nem foube atee o dito tempo em qu~ as pede,
e que nom tem fabido por fi , nem por outrem coufa
·algúa do que as teftemunhas tem teftemunhado,
com efte juramento, e folemnidade lhe feram dados
os ditos nomes das teíl:emunhas , e dado luguar que
venha com a~ contraditas , com tanto que as ponha
antes que as inquiriçoés fejam abertas e pubricadas;
porque defpois de ferem abertas e pubricadas, e a
parte ouuer a viíl:a ou fabedoria dellas , nom poderá
mais poci: contraditas; faluo fe eífa parte quifer pro..
uar, que a teíl:emunha qúe quifer impunar por con-
tradita foi fobornada , e corrompida polà outra parre
por preço, ou outra coufa que lhe deu> ou prometeo
p~r
DAS CONTRADITAS E REPROVAS. I 5)'
por tcftemunhar contra elle falfamente; porque em
tal cafo bem o pode impunar, e poer-lhe contradita
defpois que as inquiriçoês forem arbertas e pubri-
cadas.
3 E o QYE dito he do poer das contraditas perante
o Juiz, que a inquiriçam tirat por Carta , nom auerá
Juguar nos prefos ; porque pofto que nom vam ou
enuiem pedir os nomes , e poer as contraditas ao
termo fobredito fer-lhes-ham dados os nomes J ~
poderá viir com fuas contraditas perante o Juiz do
fe_ito antes d'abertas e pubricadas.
4- E QY ANDO as contraditas forem recebidas pre•
guntaram atee tres teíl:emunhas a"c:ada huü artiguo
de contradita , que for recebida , e mais nom, e eíl:o
poíl:o que a hüa teíl:emunha fejani poíl:os muitos ar•
tiguos de contraditas; e querendo a parte viir com
reprouas nom lhe feram .recebidas, o que a ili Auemos
por bem por menos longura dos feitos; faluo fe as
reprouas forem de parentefco atee o fegun,do gráo
incleftue , contando fegundo Dereito Canonico , ou
de irnizade, que eíl:as -foomente Mandamos que fe
recebam, fendo em fórma que fejam de receber.
5 E PODERA' a teíl:emunha íeer impunada por feu
defeél:o, ou maldade, aili como farn Judeus, e Mou-
ros que em o feito de Chriíl:aõ nom podem teíl:emu-
nhar, como temos dito no Titulo Das tejlemunhas
que ham .feer preguntadas. Emperó fo for contenda
antre Judeu e Chriihõ valeram_ igualmente os teíl:e-
munhos dos Judeus com os dos Chriftaõs ,_ fendo
U 2 da-
156 O TE11c. LrvRo DAS 0Ro. TrT. X XX XIII! ..
dados os Judeus polo .Chriftaõ , e os Chi:iftaõs polo
Judeu~
6 OuTRÓ sI qualquer peffoa que for comprendi-
do em falfidade , e norn for julguado per fentença.,,
nom ferá. por iífo deitado de teftemwiha , fe o pqr
outra coufa nom deitarem ..: ·
7 E POSTO QyE alguü feja comprendido em falíi-
dade, e julguado per feniença por falfo, nom deixará
porem feer preguntado por tefiemunha no feito em
que foli nomeado, e a parte contra que for aprefen-
tado. lhe poderá poer- contradita da dita falfidacle , e
fegundo, a contradita for prouada aíli ferá feu tefte-
munho impunado em tode., .ou em pane.
8 OuTRo SJ podem frer impunadas as teftemu-
nnha.s , fe fe obriguaíle a pirouar , que a teftemunha
diffe aa par.te q.ue demandaíle tal coufa , e que ellê
feria fua teftemunha, ou fe piometeo fazer todo ma.J,
e dãno. que podeffe a aquelle contra que quer feer
teftemunha.
9 E PODEM ainda feel' imptmadas as teffemu--
nhas ,, fe aq uelle que quer tefternunhar he imigu.o
daquelle contra ql:le quer feer teftemunha .... ou he
. imiguo d'algum feu parente de fegundo com irmaõ
·pera cima, ou fe a parte contra que quer feer tefte-
munha he imiguo d'·a iguú paFente da dita teftemu--
munha de fegundo com irmaõ pera cima, ou fe fez
algüa deshonra , ou diffe taees palauras affi a elle
como a cada huü de feus parentes de fegundo com
irmaõ pera cima, em que caiba emend~ e corre..
gimento. 10
DAS CONTRADITAS E REPROVAS. 157
10 E ESTO auerá luguar fe a imizade e malqueren-
ça íe caufou antes que o feito foífe começado, por
que fe foi defpois do feito começado ha-fe de veer
fe a imizade fe começou primeiro da parte daquelle
cujo he o feito , fe da parte do que qu-er feer teíl:e•
munha ;_e fe fe começou da parte daquelle que quer
.feer teíl:emunha , bem o pode deitar por contradita,
que nom valha feu teílemunho contra elle ;. e fe fe
começou da parte daquelle cujo he o feito, nom o
poderá por efta caufa lançar de teílemunha, fe o per
outra caufa nom lançar; por quanto pois a imizade
começou da fua parte defpois da demanda começa-
da, parece que o fez por nom feer teftemunha con-
tra elle naquelle feito, e pera que o podefie defpois
lançar per contraditas. por razam da dita imizade,
e por tanto lhe nom feram recebidas taees contra-
ditas.
1I E PODE iffo mefmo feer impunada por contra-
dita por razam de parentefro atee o quarto gráo in-
c!fiue ( contanc_lo íegundo Dereito Canonico ) que
tenha com a parte que o dá por teftemunha.
15~ o TERC. LtVRO DAS ÜRDEN. TIT. xxxxv.
T 1 T U L O XXXXV.
Das prouas ~ue /e deueni fazer por efcripturas
· pubricas.

·TO DO LOS contraétos, aue~ças, e conuenças, pa-


él:os, cornpofiçoês, affi de compras e vendas , como
d'efcaimbos e perrnudações, dotes, arras, doaçoes,
efüpulaçoês, prornilfoês, aforamentos, arrenda menta,
·em preftidos , encomendas , guardas, e condefil hos, e
quaefquer outros contraél:os, e firmidoés, de qualquer
·natura e condipm que ú:jam , affi perpetuas comct_
a certo tempo, e por qualquer nome por Dereito ou
·Cuíl:ume de No!fos Reynos nomeados, quer fejam de
màior ou menor condiçam , ou de maior ou menor ·
.força, e vertude, que eíl:es expre!fos e declarados , que
quaefquer peífoas, affi pubricas como priuad~s, Con-
celhos, Comunidades, Collegios, Confrarias, affi ho-
.mens corno molheres, de quaelquer eílado e condi.,.
( çam que fejam, fezerem, e afirmar quiferem em to-
dos No!fos Reynos~ e Senhorios, fe forem fobre bens
de raiz , e a contia da obriguaç.a m paffar de feifcen-
tos reaes , ou fe forem fobre bens , e coufas moueis,
e a quantidade da diuida pa!far de trinta mil reaes
brancos, e bem affi toda las paguas , quiraçoês , íol~­
çoês, renunciações, tranfauçoês, remi!foês , diuifoes,
e partiçoes de heranças , e de quaefquer outros bens, '
reuoguaçoes, efpaços de diuidas, e de quaefquer
obriguaçoes , affi reaes como peffoaes, paéto, ou con-
uen-
DAS PROV. QYESE DEV. FAZ. POR ESCRIPT. PUB. 159
uença de nom demandar, e outras quaefquer inoua-
çoes dos ditos contrac'tos , ou firmidões , ou d'outros
de qualquer 'n atura, e condiçam que fejam, aili per
razam de feitos crimes, .como ciueis, reaes ou pef-
foaes, que paffarem das ditas contias de trinta mil
reaes nas coufas rnoueis , ou de feis centos reaes nos
bens de ra:iz, fejam afirmados e feitos per efcri-
pturas feitas per Tabaliaes pubricos, ou Efçriuam au-
tentico, que pera iffo tenha auétoridade , perante te-
fternunhas, ou por Noffas Cartas; e nom ferá em os
· taees cafos ( em que fegundo dífpofiçam defia Noffa
Ley fe requere efcríptura pubrica ) recebida proua
algúa de teíl:emunhas. E fe recebidas forem, tal pro..
ua ferá ninhúa, e de njphuü efeéto, pofio que a par-·
te o nom oponha.
I ·E nom foomente efto auerá luguar nos contra•
él:os, e difpofiçoés _fobreditas, que forem feitas em
Noffos Reynos , e SenhorÍos, mas ainda nos que fo,a. ·'
rem feiros fóra delles, onde Nós etn hoíl:e Formos,
ou Eíl:euermos, ou em algúa armada que per Nós,·
ou per alguü Noffo Capitam por Noffo mandado for
feita; e nos contraétos feitos fóra em algüa outra
parte fe guarde o Dereito Comum , e Ordenaçoés, e
Cuíl:umes do Reyno , onde eífes eftormentos , e con-
traétos forem feitos. E nos contraétqs feitos em Ca•
rauelas , ou Naos que de Noffo Reyno parti.rern ,·e.m
quaÕto andarem e efteuerem no Mar, vu Rios da
Noífa Conquiíla, e Comercio, e Nauegaçam, ou fei-
tos em alguús Luguares da dita Conquifta, e Co-·
mer-
r6o O TERC. LrvRo DAS ÜRDEN. T1T. XXXXV.
mercio ( fe hi nom ouuer Noífo Tabaliam pubrico )
(_ Mandamos que o Efcriuam que for ordenado em al-
guú dos ditos Nauios abaíl::e como Tabaliam ; e fe o
c·ontra&o for por elle efcripto, e affinadà, e polas par-
tes contrahentes , e teíl:emunhas , como auia de feer
feito por Ta baliam pubrico , fe o hi ouuera, feja aui-
da a tal efcriptura por e[criptura pubrica~ e tanto que
chegu1r ao Luguar dos Noífos Reyn.os donde partio,
ou onde ouuer de defcarreguar J dee loguo os taees
contra_:'tos a huü Ta.baliam pubrico do dito Luguar.
2 E POSTO Q!!E nas coafas moueis [e pofta receber
proua de teíl:ernunhas atee contia de trinta mil reaes,
affi pera prouar o contraéto , como pera fe prnuar a
pagua, diíl:raél::o, ou quitaçam, emperô fe o contraéto
principal for feito, celebrado , e prouado per efcri-
ptura pubrica, poíl:o que feja de menos contia que
os ditos trinta mil reaes , prouar-fe-há a pagua, ou
quitaçam, ou diíl:raéto per outra efcri ptura pubr.i.ca,
e nom ferá ern tal cafo recebida proua de teíl:emu-
nhas; e quando o contr.aéto fe .proua r per teíl:emu-
nhas, ou per confiífam da parte , e no m per efcriptu-
ra , poder-fe-há prouar o diíl:raéto por teftemunhas.
3 E DEFENDEMos,e Mandamos a todo-los Noífos
Defembarguadores, Corregedores, Ouuidores, Jui-
zes. e Juíl:iças de NolJos Reynos, e Senhorios, ;que
nom recebam peífoa algüa a demandar em Juizo a
outro alguú, nem mandem citar por Carta, nem Por-
teiro, nem per outra maneira por razam d'alguú..eon-
traéto ou cafos fobreditos, exn~e- req ueíra proua
per
. DAS .P!lOV. QYE SE OEV. FAZ. POR ESCRIPT. PUB~ r6r
per efcriptura; faluo amofüando-lhe primeiramente
eíl:ormento pubrico, ou outra autentica efcr.iptura,
per que pofTa prouar fu_a tençam. E poíl:o que as
partes aleguem que tem algúa efcriptura priuad_a.
·aílinada pola parte contraira com cinco teíl:emunhas
ou mais, nom ábaíl:ará a dita efcriptura priuada
com quaefquer teftemunhas, que nella eíl:euerem.
. 4 PERÓ fe a parte differ ao Julguador . que quer
1 leixar no juramento do Reo a coufa que entende de-
mandar, manda-lo-ha o Juiz citar per Carta, ou Por..
teiro, ou outra maneira pera vi ir perante · elle ; e fe
efta·parte citada por juramento dos Auangelhos ne...
guar o que lhe o Autor demanda, abfolua-o wguo o
Juiz deíla demanda, e condene o Autor nas cuil:as,
que lhe por caUía de tal citaçam fez fazer ; e fe o
citado nom quifer jurar e recufar o juramento, e o
Autor jurar que o Reo lhe he obriguado em aquello
que lhe demanda, condene o Juiz o Reo per fenten ...
, ça em aquello que o Autor .jurar que o Reo lhe he
obriguado paguar , pois o Reo em cujo juramento
o Autor o leixaua nom quis jurar.
5 E ESTO auerá l_uguar, quando a parte que he
demandada, e nom quis jurar, he a parte principal
que tem razam de faber a verdade do que lhe de-
mandam; porque fe for herdeiro que feja demanda-
do por coufa ql'le foffe poíl:a em guarda, e condeíi-
lho a feu anteceffor, ou a outra pe<foa.que nom te-
nha ·raiam de faber o que lhe demandam , em tal
cafo fe o Reo júrar que tal coufa nom tem, nem fabe
Liv. 111. X. q
162 o TERC. LIVRO DAS ÜR.DEN"'TIT. xxxxv.
.o que fe della fez, feja abfolto da demanda , e nom
,ficará no juramento do Autor, fe outra proua abaílan-
te e pera tal cafo neceífaria nom teuer 1 e fe o Reo
nom quifer aili jurar poderá referer o juramento ao
Autor , e nam querendo o Autor jurar _ferá o Reo
abfoko da demanda.
- 6 E SE alguü herdeiro, ou teftamenteiro de-
·m andar algüa p~!Ioa por coufa, ou diuida:, em que
foik obriguado ao finado anreceífor deffe herdeiro .,
ou teftamemeiro, e o Autor nom teuer efcriptura
pubrica do que demanda , ou nom tem proua de te.!.
fiemunhas, no cafo em que teftemunhas podem íeer
<recebidas, pode-o deixar no juramento do Reo; e
jurando que o nom deu e, feja abfolto- do que lhe fo_ç
demandado; e nom querendo jurar, ferá condenado--
no que contra elle for pedido, e nom poderá em tal
1
cafo refererojuramento ao Autor; pois que élle Reo
·tem razam de fabet a verdade da coufa , e o Autor.
narn , por cr feito nom feer com elle trautado.
7 E EsTo que dito he do juramento que fe d·&:
fobre a auça~rincipal, Mandamos que aja luguat:.
nas ·excepçoes , e repricaçoes, e quaefquer óutros·
artiguos.
8 · E SE o Reo que for demandado aleg~ar algüa
·~xcepçam, ou razam , affi como abfoluça,rtl , pagua >- .
ou quitaçam, ou efpaço., ou tranfauçam , ou. dele.o -
guaçam , ou pacto de nom feer demandado '· otl
compromiflo, ou coufa julguada, ou qualquer outra.
femelhante razam, ~m q_ue feg,,undo a determin~
çam
DAS PROV. QYE SE DEV. FAZ. POR ESCRIPT. PUB. I6J.

·çam deíl:a NoíTa Ordenaçam feja necefTaria efcriptu-


ra autentica, nom feja recebida tal excepçam, ou
.defefa , [e nom amoíl:rar eíl:ormento ou efcriptura
pubrica, como dito he na parte das auçoês ; e affi per
effa maneira fe faça na repricaçarrt, e trepricaçam ,
affi da parte ao Autor ·como do Reo. Emperó por-
que per Dereito mais fauor he deuido ao Reo que ao
Autor, porque o Reo nom tem razam d.e viir tam
apercebido a Juízo como o Autor, Temos por bem
que fe o Reo nom trouuer loguo configuo-a Juízo a
efcriptura, per que entende prouar a razam que ale;;.
gua pera fua- defefa, e diffe·r per juramento que a
tem em outro certo luguar, e que a nom pode loguo
ao prefente amofü-ar, lhe feja dado tempo conui-
nhauel fegundo a diftancia do luguar, onde diírer
que a tem , pera que a poífa auer, e aprefentar em
Juízo. E o que dito he da excepçam, e trepricaçam,
nom íe entenda naquelle que aleguar prefcripçam,
porque efta fe poderá prouar por teftemunhas.
9 E EM todo cafo onde o Reo nom pode prouar
a pagua fenom por efcriptura pubrica , [e ene· mo-
fttar Aluará priuado da dita pagua como paguou ao
Autor, pofto que nom feja qas pcffoas a cujos Aluã-
raes fe dá tanta fee como efcriptura pubrica , Q!e-
remos que o Juiz de feu officio lhe pregunte por
juramento dos Auangelhos, [e o dito Aluará he feu,
e jurando que he feu abfolua o Reo, e neguando-o
condene o Reo. Porem fe o dito Reo quifer querelar;
e prouar como o conhecimento he do Autor, lerá re4
X2 ' •.. f ·cç- ~
164 o TERc. L1vRo oAs ORoEN. T1r. xxxxv.
cebido a ifio, e prouando-o ferá o Autor punido de
fee perjuro. Porem uom poderá o dito Reo por tal
proua, nem condenaçam de fre perjuro , feer rele-
uado da condenaçam do dinheiro em que elle Reo
foi condenado per o dito Autor neguar o dito AI-
/ ,
uara.
10 E ESTA Noíla Ley, quanto aa proua das e[cri-
pturas pubricas , fe nom entenda nem aja luguar
nos contraélos, e.conuenças, e outras quaefquer fir-
rnidoês , ou pagwas , e quitaçoes feitas amre pay e
filho natural, ou filho conrra o pay natural, e nom
adoptiuo, e antre filho e may, ou feitas antre fogm
e fogra ,. e genro .ou nora, ( durando o matrimonio )
.p oílo que as -demandas dos taees contraétos a ili fei-
tos durante o matrimonio fe façam defpois do ma-.
n:imonio feer feparado. E antre irma0s, quer fejam
conjunéêos de pay e de may, quer de qualquer del-
les foomente, e antre .primos com irmaõs, e a·ntrc:
fobr'inho e tio irmaõ do pay, ou da may ;. porque
antre ~ftas peffoas ~eremos que fe receba· proÚa
por teíl:emunhas,. pofto qHe a demanda íeja fobre
bens de raiz,. ou fobre moor conda que trinta mil. re.-
aes. Porem fe antre eílas pe(foas for contraél:-ado por
cfcriptura pubrica, nom fe poderá prnuar os difha ..
él:os, paguás , ou quitaçoês. antre elles rnefmos· fei-
tas ·, feaom por outra efr:riptura pubri-ca ;· p0rque
poi~ podendo c0;ntraétar fem-efcriptura· q uiferam fa-
zer efcriptura· pubrica-,. Q:!eremos que iífo-mefmo
. odiftraéto.._pag.ua.,. ou- quitaç~m ,_feja .por e[criptu ..
ra. p.Ubr.ica... 1;.1; E
DAS PROV. QYE SE DEV, FAZ. POR ESCRIPT. PUB. 165
r 1 E AVEMos iffo rnefmo por bem , que fe al-
guu c.ontraéto for feito antre as ditas peffoas , que
podem prouar por t~íl:emunhas feus contracl:os, e
conuenças , ·e defpois algúa outra peffoa , poíl:o que
nom fcja das fobreditas, lhes vier a foceder por qual-
quer via que feja, vniuerfal, ou particular, pode.vá o
dito foceffor prouar por teílemunhas os ditos con-
traétos, e conuenças em que aili focedeo ,_ afü como
o poderia prouar cada hüa das ditas pcffoas priuile..
giadas que o contraélo, ou conuença fez.
r 2 ÜuTRo. SI fendo antre alguus mercadores fei.:.
ta parçaria fobre alguus traétos, arrendamentos, ou
mercadorias, fe a dita parçaria for feita e prouada:
por efcriptura pubrica, poder-fe-am prouar por te-
ilemunhas, e por qualquer outra maneira de proua,,
fegundo defpofiçam do Der.eito Comum,. quaefquer
duuidilS· que antre elles,. ou. feus herdeiros fobre a·
dita parç.ar.ia e coufas d.ella dependentes, ou ª' ellas
pertencentes, fe rnouerem , pofio que efcriptura pu-
brica pera prouar as taees.coufas fe nom amoíl:re ..
I J. Ou -i:1w sI nom auerá. luguar nas·paguas, que·
fe fezerem d'algua penfam, ou penfoes d'alguü· foro;.
ou de cenLo,. ou d'alugueres, ou. çi'arrendamentos,.
porqµe. poflo que os contrados princjpaes-fejam fei-
tos por efc.riptur.a pubrica, fe a pagua ou paguas· das.
ditas penfoes, q.ue aili forem feitas, nom,paífarem de·
trinta mil reaes , poder-fe-am prouar por tefiemu-.
nhas •.
L4,. NEM. auerá.Iug!Jar efta.Noífa Ley, nos . Alua~.
rae "
166 O TERC. LrvRo IDA's Ç)RDEN. TrT. XXXXV.
raes feitos e affinados :p or Arcebifpos, Bifpos , Apa-
des Bentos, ou Ficlalguos de Solar~ ou Caualeiros
por Nós confirmados , ou Ivf eítres em Teologia , ou
Doutores em Canones, ou em Leys, feitos em eftudo
vniuerfal por exame, ou Officiaes da Juftiça que fe-
jam do Noífo Defembarguo, porque por a qualida-
9e de fµas pe'íloas ~eremos que lhe feja dada eíl:a
auél:oridade, que aos Aluaraes que por elles forem
feitos e affinados, fendo cuntra elles, feja dada tan-
ta fee como a efcripturas pubricas. E poíl:o que os
Aluaraes fejam aílinados per cada huíí dos fobredi-
ws ., fe nom forem feitos de fua letra, e de fua maõ,
auerá a dita Ley Iuguar em elles. Porem fendo os
taees Aluaraes affinados por cada huü dos Arcebif-
pos, e Bifpos das Cidades de Noífos Reynos, e Se-
nhorios; ou dos Infantes, Duques, Mefires, Mar- -
quefes , ou Condes. e feitos por feus Efcriuaês, lhe
ferá dada -tanta fee como que fofrem feitos e amna-
dos por elles.
r 5 NEM auerá iffo mefmo luguar nos emprefü-
dos de roupas de camas , e de vefür , e alfaias de
cafa, beílas, e armas , e prata empreíl:ada pera be-
berem por eUa, ou comerem nella, porque nom fe
poderiam tam afinha fazer as efcripturas em taees
empreftidos das .ditas coufas ; e por tanto Auemos
por bem , que em taees cafos fe receba proua de te-
ftemunhas fegundo a defpofiçam do Dereiro Co-
mum, poílo que o preço das taees coufas ,e-xceda a
dita foma de trinta mil reaes.
16
DAS PROV. ~E S~ DEV. FAZ. POR ESCRIPT. l'UB. 167

I 6 NEM. aja luguar nas fifas, e paguarnento del-


tas, nem dos out(OS tributos , e Dereitos Noffos,
porque em eíl.o ~eremos que fe guarde o que fe
fempre guardou , affi por Nós , corno contra Nós.
J 7 ~ÜuT1<.o· s1 nom aja luguar nas compras e ven-
das das mercadorias, que forem feitas per Correto..:
res antre os E ftrangeiros e Naturaes do Reyno, affi
das mercadorias que os Eftrangeiros v'ende_rerri, ·c o-
mo das que comprarem per Corretores; e·iffo mef-..
mo nom auerá luguar nas mercadorias feitas antr~
os Naturaes do Reyno, ..fendo feitas per Corretor pera:
iffo efpecialmente deputado _; porque em tal ca(ç> fe
·poderam p_i:ouar os ditos contraél:os per o Corretor
que as mercadorias fez com duas teftemu"nhas di-
gnas de fee ~ em tal guifa.. que fejam tres teíl:emu--
nhas., contando hi o-Corretor ; e quando o contra-
. éto da mercadoria· for confeffado pola$ partes , e for-
antre elles defuairo fobre a quantidade do preço , ou:·
d'outra algüa qualidade, e cir.t:unftancia, em tal·ca--
fo Mandamos,. que feja crido o.Corretor por jura-.
mento dos Auangelbos, que: lhe feja dado aalein do'
juramento que fez,_ quan"do lhe foi. dado o Officio._
I 8- NEM auerá luguar nas coufas- dadas a Pre-
guoeiros ,. e a A delas pera-venderem , ou a Alfaiates,,
· e outros Officiaes pera coferem e adubarem,. em oS>-
quaes ~eremos que fe receba proua, por teftemu ..
. }lhas , com9' por Dereito Comum fe deue de fazer~ .
I 9, E NOM auerá luguar nos contraél:os .dos cafa-
m~n~os ,. q!Janto peétenç_a aa. conj,~nçam do cafaa..
uien~
1·6-S o TERiC. LIVRO DAS 0Rt)'EN. TIT. xxxxv.
ment~-; e quanto aos dotes , e quaefquer outras con-
uenças , ·e prom~tímentos feitos nos caíarnentos ,
auerá luguar o que acima neíl:e Titulo dito Auemos
no parrafo que começa E ejla Nq!fa Ley.
~o ! TEM nbm auerá luguar nos quaíi contraétos,
porque em elles fe nom requere conuença, nem con-
fentimento d'arnbas as partes. /r
2 r · NEM auerá luguar nos arrendamentos, que fe
fezerem de bens de raiz por huü foo anno por preço
que nom P.aílar de trinta mil reaes ; p6i:que em tal
cafo íe poderâ prouar fem efcriptura pubrica ,.·por
aquella proua que fegundo defpoíiçam de Dereito ,
e d.e- Nolfas Ordenaçoés for foficiente .
. 22 E PORQ..UE péra fraudar a dita Ordenaçam
mÚ.itas vezes fendo os contraétos feitos de · maior
contia de trinta mil reaes nos bes moueis, as partes
foomente demandam trinta mil reaes, e di pera bai-
xo, e veo muitas vezes em duuida fe fe poderia de-
uidir a dita fuma, Mandamos que mollrando-fe que
a dita contia he de contraéto , que quando foi feito
paífaua de trinta mil rea.es., nom fejam ouúidos ,
,pofto que queiram pedi\- trinta mil reaes foomente,
e di pera baixo ; porque pois o contraéto por bem
da dita Ordenáçam por affi paífar de trinta mil re-
aes, e feer feito fem efcriptura, fe nom pode pro..
uar por teíl:emunhas, nem feer ouuido em Juízo,
nom he razam que ninhüa quantidade do dito con-
traéto fe poífa pedir.
23 NEM auerá luguar a dita·Ley ' nos contraéi:os

\
fimu-.
.DA F.U Q..UE SI! D'BVE DAR. AOS ESTO!lM, PUB. EC T. 1-69

fimulados • porque muitas vezes acontece, que as


partes ·por defraudarem -o Dereito Ciuel, ou Cano-
nico, fazem enguanofamcnte alguus contraél:os fi-
muiados ; affi como fe as partes teueífem vontade.
de fazer huü c9ntraé1:0 onzeneiro , e por defraudar o
Dereito que defende as vforas, fcze.ram alguü outr.o
contratl:o por mudarem a fubíl:ancia da verdade, que
t inham em vontade de fazer; em tal cafo, pOl'que a
verdade foi antre e!lb •encuberta no contraé1:o íi.mu-
lado, e o enguano foi nelle foomente declarado,
Auemos por bem que tal enguano, e fimulaÇ:am ,
[e paffa prouac por teíl:emunhas ; porque o enguano.
fempre fe faz encubertamente , e por tantO' nom fc
,poderia prouar por ef.Criptura pubrica.

T I T U L O XXXXVI.

Da fie, que /e deue dar aos ejloY~leHtos pubriéo!,


e aas outras efcripturas; e como Je podem redar- ·
gutr de Ja!Jo. ;
· '

S· E alguü eíl:~rmento
faz .mcnçaõ d'out-ro eftor~
·
menta , nom dará o Julguador fee a ·tal eíl:ormentó -...
de que o outro faz mençam; íaluo fendo úioíl:raào g -.
principal, de que em elle he ,feita mençam; ou - eUc'.. ·
for emcorporadq no que delle foz men<;.im -perarüe : >
:a parte, a que·o principal eftorm<:;nto _p ertence; ou -.
Liv. Iil.. Y . .. .. ..
. aquel
qo o TERc. LrvRo · oAs CJRorn. TIT. ·xxxxvr.:
aquelle eíl:ormento de que o outro faz men·ç am fur ·
feito por aqu elle Tabaliam, que fez o principal , e
o diro Tabaliarn affi o dig ua, e declare no eflorn1en·
to q.ue do ·omro faz mençam ; cá em tal caro· lhe
d arnm fee aíli como f e ci principal fofie moíl:rado •.
I E Q.Y ANTO aos- Ahiaraes > ou Cartas per Nós
·affinadas, em que Fezermos mençam d'alg~as efcri'-
pturas ou aflinados que outrém feze!fe , nom fe fará -
obra por tal Aluará ou Carta em-perjuizo d'outrem »
( quanto he por r.efpeéto da <liu efcriptura ou am..
nado ) fem fe mo.íl:rar o dito affinado ou efcriptura,,.
.
de '. que affi no dito Noffo. Aluará . ou Car.ta Fezermos.
·r nençam.
2 ITEM Mandamos, que os li~ros dos Efcriuae$
cas Alfandeguas , portag~s, e fifas, e·de quaefquer
.outros Dei"eitos Rea~s façam fre comprida ant:re·Nôs
e o pouo.
J l TEM fe aJ:guú mofüar ef.criptuM pub rica em·
Juizo, a qual for fufp eira por teer algü a rafura., oa·
anhelinha, ou ca11celal1'!ent© em lugua r fufpeito·!),
éu por feer fufpeito·o Tabaliam que a feze r ,.por ra..
zam que já foíle achado em algGa falfrdade' ou fen~
- do ' u pi:oduzen.te fufpeitô,, a-uendo emcuftumer d e
ptoth:1zit tm Juizo algúa efcriptura fufp.eita, nom
tht rehí dada foe; fe ~ 'nvm corroborar ' e fezer boa >
~ ver.âa'd'ei.ra. pt::>t âs. tefl:emunhas ..em ella contheudas;
~.' -fe jíi foretn nnadas, ou:ahfênteS' por·grande ah...
fenda qtie notn. potram foer ~uid~s, ferá corn:iqora...
tia por quae.!qu·er- ou tias teftemunhaJ». dignas de f ee i
ou
DA F.EE ,Q.YE SE DEVE DAR AOS ESTOrt.M. PUB. ET e. I7l

ou efcripturas pubricas; ~ o que a offerecer, nom


a corroborando na maneira fobredita, fer;i auido por
falfario~ e auerá a pena de falfario íe outra excuf'a-
çam nom der ·, porque pareça nom íeer culpado na.
dita falíidade, na maneira qae he contheudo ncr
quinto Liüro no Titulo Dos que vfam d'efcriptura:, ott.
tejlemu~has fa{fas.
4 E SE alguu eíl:ormento . fufpeito de. falfo for
trazido em Juizo, e a parte que o aprefentar difrer,
que nom quer delle ufar di em dié;lnte, feja auido
por nom verdadeiro. E a cerca da pena do que affi
'O offcr~cer fe guardará. o qu.e he conthe~do no <li-

.to Titulo Dos que vjam d'efcriptimzs, ou tejlemunba;,


falfas.
5 E ACONTECENDO, que a parte contra que ~m
Juizo he offerecido alguü eíl:ormento, ou efcriptll""
ra pubrica. aleguar, e quifer prouar, quç tal efl:or-
mento ou efcriptura he falfa, ora o alegue per via
·d'acufaçam,. ou per via de excepçam, o Juiz que
do feito conhecer o nom receberá a ello fem prirnei-
ramente fe obriguarJ e fubfcreuer, que nom prol:lan- .
do a dita falGdade aja aquella mefrna pena que aue-
ria aqtielle, que por fua parte alegua a dita. efcri-
ptura fe falfa foffe ; e feita ~ dita fubfcriçam lhe .
faça fazer declaraçam da razam . da falfidade , em,
qual parte he falfa, e de que guifa, e como, e ·em
que maneira enteq~e pro1,1ar effa razam de falfidade,.
e todas as outras .circuníl:ancias , _porque fe milhõr
poffa entender , e conh.e cer a r~tzam da f.alfidade , fe_ ,
. Y .2 he.
171. o Trne. LIVR@ DJ\S Orrnrm. TIT. xxxxvr.
pe com verdade, fe .com malicia aleguada; ·e loguo
fem ·mitro interualo faça vi ir perante :fi o Ta baliam~
ou Efcriuam, que o eHormentó, ou efcriptura fez, e
iílo mefmo algua , ou algüa.s das teíl:emunhas em o
cftormento, ou efcápturn nomeadas , pera ferem lo-
guo prcguntadas fobre a verdade da efcriptura, pera.
;ruer enformaçam, fe a falfidade foi poíl:a com ten-
cram verdadeira, ou maliciofa; e por qualquer pre-
. fumpçam de falfidade, ou de malicia, que achar con-
tra cada húa·das pártes, prenda loguo aquelle Úmtl'a<
quem a, prefumpçam achar, e nom feja falto atee <>
feir,o fcer por Dereito determinado: e fe as partes.
quiferem dar mais proua a feus artiguos de faMidade.,.
.. aalem da dita deligencia o Juiz lhe a:ílinará dilaçarn.
{egundo o cafo for ; porem fe a parte que .rffi alegua
·a dita falíidade diiler.., que nom pode declarar a fór•
~~ da falfidade fem. primeiro viir a nota, fubefcre-
9er-fe-ha na maneira fobredita, e tendo aíli feita ;i.
. dita fubícrirçam pera auer a fobredita pena., o Juiz:
mandará viir a dita nota, e o Tablliam com ella, aa
<;ufta da parte ~e defpois de vinda fará fa~er. as. fo-
breditas declaraçoes , e artiguos dellas , e- eíl:o fend0-
~m fua Jurifdiçani; e fendo o Tabaliam fóra da fua,
jurifdiçám mandará fazer .exame· febre a dita rio~a:
prefente a parte , paffand-0 p:ira iífo fua Carta Preca-..
toria,. e defpoi.s: de vindo. o exame fará fazer as fo""..
breditas declaraçoes , e artiguos della-s.
· 6 E QYANDo a1 parte, que moue, ou defende al:--
gi:ia.. dema.n.da íobre. algu.ú c;ontra.élo ( de. q.ue al<::gou.
·· "' íeer .
D.t\
.
FEE Q.!JE S'E DEVE DAR .AOS ESTORM. PUB, EC T, l7J
feer feita efcriptura pubrica ) aleguar que a perdeo
por alguú caío ,-e quizer tirar outra da nota, auerá
Carta Noíla paífada polo Chanceler Moor em fórma
acuftumada, porque lhe feja dado outro eílormento
pola nota, o qual fe lhe dará com falua, e prefente a
parte; e fe acontecer que a nota feja perdida, e qui-
'frr o Autor prou;tr por teíl:emunhas como o dito
cíl:ormento foi notado, e a dita nota, e eíl:ormentos
perdi~os, ferá recebido, e ouuido com a parte a que
pertencer, e prouando-o per homens difcretos , e
entendidos, que declaradamente diguam o theor do
dito ellormento , e como foi notado, e perdido , tal
proua faça fee , a ili como fe o dito eílormento f.oífe
produzido. E em cafo que fe proue o ditoefiorrnerr-
to feer notadoJ e perdido , fe as teftemunhas affi ~040
taueis nom differem cla•ramente o teor do dito con-
traéto contheudo no di:to eíl:ormento , tal' proua noin
aproueitará ao requerente ;. faluo prou'!ndo elle , que
·no te-rnpo- em que o dito eíl:ormento a.u ia de feer -
prod uzido, foi perdido por aazo e culpa da parte·
cbmraira; e fend~- a dj.t;a pr01:rn por peífoas- que nom
fcjam das a€ima ditas,. as taees tefiemunhas foram
foqmeme mea proua.
7 E SENDO alguü eftormento produziâo em Jui-
zo, o qual c0ntenha em íi algüa contrariedade, nom'
Jhe ferá dada f-ee ; faluo fe por algiía. razam , ou d:if-
tinçam a dita contrariedade p~der feer ajudada:, e:
trazida a boa concordança : e·quancfo algüa: parte::
otferecer dous efiormentos. ou mais ,, que. fejam com·-
trai.":"
i74 O TERC. LrvRo DAS ÜRD. TrT. XXXXVII.
. ~ -

trairas huü ao outro , nom lhe ferá dada fee ; faluo


- podendo a dit1 contraried:ide feer ajudada por algüa
diíl:inçam r::izoada, e traz.ida a Goncordança como
·dito he !1() outr9 cafo. E fe duas partes produfferem
dous eíl:ormentos, dos quaes huú he contrairo ao ou-
tro, dará o Juiz fee ao mais digno eíl:ormento , cón-
uem a faber, feito por Notario .mais autorizado, e .-
que . teue!fe· teíl:.e munhas mais not!lueis dignas di:
maior fee.

T I T U · L O XXXXVII.
Dos embarguos que-.fe aleguam aas t°Hqttiriço"is ft renz
abertas ., e pubricadas.

T ANTO que as inquiriçoes fam acabadas, pre.;


guntaram. os J ulguadores aas partes , fe ham' alguüs
embarguos a ferem abertas, e imbricadas;. e algüas
vezes aeontece ~iirem com embarguos dizendo , que
lhe ficaram algüas teftemunhas por preguntar, affi
do principál, como das contraditas, hüas por nom
ferern achadas na Terra, e outras por ferem mortas
àefpois de ferem nomeadas, e outras por nom que:..
i;erem teíl:emunhar, requ'erendo, que lhe preguntem
outras teíl:emunhas em logu·o dellas .; em eíl.-es cafos
enformar-fe-ha o Julguador na verdade J e achando
que affi he como dizem , dar-lhes-ha luguar pera
preguhrar outras teíl:emunhas em loguo das que .
mor-
-Vos IMBARG. QYE SE ALEG. AAs lNQYJRIÇ. ET e. 175
tnortas forem, ou norn poderem feer achadas· na Ter-
ra; e aquellas que teíl:emunhar nom quifcrem con.-
íl:rangua-as' ou tome outras em feu luguâr ' com_o
he contheudo neíl:e Liuro no Titulo Das teflemunhas
9ue ham dejeer preg~-nladas. .
, 1 E ouT«.:11.s vezes aleguam as partes contra ag in-
q_uiriçoés a ferem abertas, e pubricadas, porque fo•
ra·m tiradas deuaífarnente, fem ferem citadas as par-
tes , nem chamadas, nem fabendo de lias parte; em
eíl:e cafo mandará o Julguador, que fe façam judi...
ciaes , preguntando as tefternunhas outra vez, e ven•
do a parte como juram, e cíl:o fendo as teílemunhas
no Reyno,; e fendo fóra do Reyno ,. ou mortas , fq--
lhe- há dada tanta fee como. que a parte as vira jurar,
pofio que nom fejam repreguntadas , foomente . fe-
!ªm dados aa parte os nomes. das teíl:emunhas pera
viir com contraditas, a ellas ..
z MulTAS vezes fe alegua a embarguar a pubricn•
· çam, que foram as inq,uiriçoés tiradas per. E11quere-
-dor, ou Ta baliam, fufpeitos de fufpeiçam muito eui:
dente; em eíl:e cafo enformar-fe-ha o Julguador.'fobre-
ello, e fe achar que a fufpeiçam he mm grande, q!Je-
muito faça as inquiriçoes duüidofas, e·fufpeitas , e·
a fu.fpeiçam lhe foi pofra ,_e aleguada ante que as in-
quiriçoes foffem começadas ,.e d.efpois a· parte nunca.
cm ello per ninhiiia guifa confentio, faça o Juiz:
·queimqr as ditas inquiriçoes, affi e·: original., corno .os:
tliesla,dos, e el,Ias queimadas faça preguntar outra vez:
as teftcmunhas per outr.o Tabaliam ). O.U Efcriuam·..
ºª
t76 O Time. LIV~O DAS ÓRonr. Trr-. XXXXVIIJ. r
ou 'Enqueredor , em loguo daguelle que for achado
por fufpeito) ªªculta daquelle que achar eulpado) e
aalem deíl:o l~e dee aquella pena que achar por De- .
rdtô.
3 E ouTRAs vezes fe alegua contra a pubricaçam,
que foram poíl:as contraditas a algüas ·teíl:emunhas.
e que nõm foram recebidas; em tal cafo verá o Jul- '
guador as inquiriçoes, e efguardará, fe aquellas -te-
teíl:emunhas, a que fam poíl:as contraditas , fe fe
lançam polo cuíl:ume, confefTando as fufpeiçoés que
fam pollàs: e em eífe .cafo nom cure de lias: e por ·
femelhante faça onde achar, que as teíl:emunhas nom
dizem algúa coufa fubíl:ancial, ou fe algâas dizem
algúa coufa , .que tangua a fubíl:ancia do (eito, ha hi
outras teíl:emunhas a que nom he poíl:a contradita
ninhüa, ·que dizem aquello mefmo, ou mais; em efks
cafos nom receberá as contraditas, ~~s fem embar-
guo~ dellas auerá as inquiriçoes por abertas , e pu-
bricadas, e mandará que ajam as partes viíl:a dellas
fe quiferem.

T I..
DAS S!NTlNÇ. INTÊRLUC. COMO POl). SEER REV. I 77

. ··T I T :u L O XXXXVIII.
Das flnlenças interlucu/orias iomo. podem fetr reuo.
· guadas.

S ENTENÇA interlucutoria he chamada


reito qualqurr fentença, ou mandadó, que o Juiz
e~ De-

daa, ou manda em alguú feito ante que dee fenten-


ça definitiua. E todo Juiz pode reuoguar fua fentença
interlucutoria ante que dee a definitiua ; cá defpois-
que a definüiua he dada já fe nom antremeterá mais
o Juiz pera julguar em aquelk feito, que já he fin-
d9 per fentença definitiua, e affi a femença definitiua
nom poderá feer por o Juiz que a deu mais reuo-
guada, porque o Juiz deu por ella fim a rodo feu
Juízo •
. · 1 EMPERÓ.fe a fentença interluéutoria foífe tal ,
que fizeife fim ao Juizo, e proceífo , tal fentença in-
.. terlucutoria nom poderia· feer mais reuoguada; aíli
como fe o Juiz julguou que nom procedia o libelo,
ou abfolueo o .Reo da inftancia do J uizo , ou nóm
recebeo o Autor aa demanda, ou outro cafo ferne- /
lhante; porque em cada huü deftes cafos o Juiz deu
fim a feu Juizo; por tanto nom pode mais em elle
proceder, nem fazer outra coufa algüé\ : e bem aill
·onde o Juiz recebeífe ~lguil apellaçam d'algúa fen-
tença definitiua , nom poder,á derpois -reuoguar a tal
fentença interlucutorja-, porque afii re~ebeo a dita._
apellaçam ! ·poreill fe a·dita inte.rlu~utoria foi:. de de ...
. .J,iv. Ill, _ Z " ne""'.
17S· O TERC. LrvRo DAS 01m. Tn. XXX.XVIFL

neguaçam d'apdhça-m de ' feni eÓJfa « definitiua, po- (


dela-ha reuoguar 1 e receber apellaçam, [e lhe de
Dcreito parecer de receber ; e dlo em todo tem.pó ,
ames que a fentença feja entregue aa parte:
2 E A SENTENÇA irrterlucutoria pode feer reuo:;.
gua.da atee dez. dias J contados do1dia' em que f4>i da-
dà, fa a parte tonltra que foi dad·a aleguar ~r cmde
a.ja de feer reuoguada , e o Juiz que a deu ac;:h~r por
Der:eito. que a. deue r:euoguar; e fe o Juiz a qu.ifer re~
uoguar de fcu propri© moto fem requerimento dat
parte , em tal cafo a poderá. bem reuoguâr a tod4J-
tern po, fe achar por Dereito que nom' foi juftamentC!'
dada, Gom ta.n to que a reuogue a1:ite da fentença de.•
f.inititia, e ella feja tal fentença interlucutoria que fe..
gundo Dereito poffa feer reuoguaqa , fegundo já Dif..;
femos no capitolo fupra proximo.
. 3 -E SE o Juiz. d eu algüa fentençá interlucutoria,
a- qual mandou· loguo exec;-_u rar ante que a parte fe·
d ella .agrauaffe , e defpois a p arte pede feer reuógua~
d·a , já eífe Jui z di em diante nom pode mais reuo•
as
guar; faltio de prazimentO' (1.'ambas,. partes antre.
que he a contenda. · i
4' E 11osro QY E feja apellado da-fentença interll:l ~
cutoria pol'a· parte que fo délla· fentio ai rauada, J!>ó~ ·
derá o Juii reuoguala, ainda que tal feja, que fegun~
cfo Dereito fe poffa della ap<dlar; porque a apellaç·a m'
:l'fli ãntrepoíl:a- nom embargua o· Juiz poder 1reuoguar
a fentença, folhe bem parecer.
5 E sE,a pa-rte agrauada da fenten9fl interlucuta-
~·~~
.~ 1.'JAS S·ENTEN.Ç. ·INURLUC. COMO POD. Srl!ER· RE'v. r79
1

ria re<ij1uerer ao Ju:iz que a reuogue, e eUe a nom qui-


fer reuoguar , fe a fentença for tal de que fegundo
. DeJ.Ó~o .Ciud fe poífa ap>ella·r, poderá .a parte ~pellar 1
efer-lhe-ha J,leççbida apellaça.m, eop Juízes que deUa
conhecerem a reuoguaram , ou confirm(.\ram, fegun-
,clo1·achàrern' por Dereita.; e fe for tal que fegundo
Dere1to .Ciuel della nom poífa feer apellado, poderá
.a part.e çontra que foi dada, requerer ao Juiz , que a
::reuogue; e fo a reuoguar .nom qui[er, ton1ará loguo
·Eílor.m~ntó ou Carta teftemunhauel, fegwndo Dire·
..JJJO~ neíte Liuro no Titulo Da maneir.a quefi /e.rá·1
quando P Juiz nom rec~be apellaçam da fentenfa inter.,,
Ju eu t or:ia. ·
6 SE alguú Jui.i ddle em alguú feito fentença
iinterlucuroria,, e por fua abfencia foffe ou1tro ·Juio;
-ful?roguaào em feu loguo, ou deleguado, ou fubde ...
1:.kguado outro Juiz, ou efpiraífe feu Officio de jul-
.'.gUado per morte, ou per qualquer outro modo, po•
.detá o dito J ui.z affi fubroguado, ·deleguado , ou
d"ubdeleguado, ou fo.ceífor no Officio do julguado;
.reuoguar; e emendar a dira fentença interlucutoria ,
, affi como a reuoguar poderia o primeiro Juiz que
~dita fentença deu; porque todo feu poder he tref..
.paífado ao outro .que .defpois vem, como dito he. Po ..
~em eíl:o nom auerá luguar, quando o Juiz que lei ..
xou o Offic.io foífe Noílo Defembarguador, e lhe fof,..
:fe p.or Nós dado autuo ·Officio na dita Cafa , ou fi ...
.caíf~ na Noffa. Rolaç.am; e nella foífe prefente; por
qu,e em.tal ;C:afo, pois çlle he preú:nte., ·a, .elle pe.rten~
Z2 cer~
1 80. O ~ERc. LrvRo DAS ÜRDEN. TrT. XXXXVIII~

cerá reuoguar , e interpretar fua interlucutoria ,. e


nom ao foceffor. .
7 SE a· fenrença interlucutoria for Mia vez nmo-
guada l jánorn poderá outra. vez feer reuoguada em
ml'tra fórmv
8 E _DEFENDEMOS, que ninhuü Julguador nom
ponha em ninhuüs artiguos, que receber, que os rece·
be Si ti in quantum , nem menos Saluo jure impert~·nen·
tiurn, nem por fe milhor faber a verdade, . nem oú-
. tras femelhantes palauras , foomente vejam os arii-
. guos fe concludem em tal modo que os deuam re-
ceber, e entam os recebam; e ·parecendo-lhes que
nom fam de receber, pronunciem que os nom recc-
be.m , ou os mandem correger fegundo for a materia
·delles : e o Julguador que pofer a dica interlucutoria
. c~ntra fqrma deíl:a Ordenaçam, e a Jlom comprir
. co~o nella he contheudo, affi em feito ciuel com~,
·em crime , fe no tal cafo teuer alçada paguará vinte:
cntzados, e fe delle-ouuer ·apellaçam ou agrauo pa--
. guará Cilez cruzados. os quaes feram pera a pa•rte em
,cujo perjuizo for poíl:a a dita interlucutoria·; e fe a ·
tal interlucutoria for poíl:a em Rol~çam, ou for affi•
nada por muitos, encorrerá na dita. pena o Juiz· dt>.
·feito que a dita interlucutoi=ia pofer-, e·norn os ou-
tros; e as partes que o quiferem demandar, fe for era
. cafo que do dito Julguador aja apelfaçamou agraucr_,
Foderar.n tomar Eílormento-pera os feus Superiores.
o poderem prouer, ou por fi:mprez petiçam ,Je Su.- o
perior efteue~ n~ mefmo. Luguar qnde aíli eftcuer·~ ·
. ~1)-i·
~E os JurZEs JULG. POLA VERD. SABIDA ETC. 181

Inferior; e fe for Julguador , que delle no dito cafo


nom aja apellaçam nem agrauo, podelo-ham a!
partes demandar perante o Regedor da Noffa Cafa
da Sopricaçam, o qual com aquelles Defembargua.
dores que lhe bem parecer condenará o dito Julgua-
dor na dira pena. E fe o tal Julguador for Defem-
barguador da Caf~ do Ciuel, ou Corregedor da Eftre.
madura, ou Juízes, em cafo que deÜes nom aja ape}..
-l açam, nem agrauo, fc os ta~es feitos pertenceriam
por apellaçam a Cafa do Ciuel : o Guouernador com
aquelles Defembarguadores da dita Cafa·, que lhe
bem parecer, conhecerá, e condenará o dito Defem..
1barguador, Corregedor da Eíl:rc:J)'ladura , ou Juízes.
na dita pena J e a fará d~r a. execuçam.,

T 1 T U L O XXXXIX..
' .
·!R.,ue os Juizesjulguem pola verdade Jabida flm embari8
guo do erro. do procef!oL

P ~RQ~JE Noífa tençam he· To1herimos.todos os


rnodos, per que as demandas, e proceífos pofiarn-
feer perlonguadas, e dar ordem que com breuidade
,venham a·final determinaçam com guarda do Derei....
.t@-, e J1:1íl:iça d'ambas as partes,, Mandamos-,.que o.-.
J 1i1ízes.julguem, e determinem os feitos; fegundo , a
~erdade que. pelos procdfos. for prouada. e. fabida1,,.
QQID,
. 182 O TERC. L1vR:o DAS ÜRPEN. TrT. X XXX IX•

.nom julguando mais do qu.e pelo Autor for pedido~


pofto que o prnceífo feja mal ordenado , ou errado•
,o u raelle disfaleça algúa foleniclade, que pe.ra boa or-
dem e fobíl:ar.icia ·do Juízo fo requeira, per maneira
que nom feja ,ninhuü condenado, nem abfolto per o
.erro clo proceffo, mas pola verdade, e dereito que
demandar ou defender, fabida per as prouas, ou per
confüfam da parte, fem \mbarguo de qNalquer erro.
que no proceílo feja achado; affi como fe nom foffe
dado ou poíl:o libelo em forma deu ida, ~ ob.rigua-
torio , ou fe nom foífe dado jwramento de calunia
aas partes , ou nom f@1fe a lide · conteíl:ada , ou nom
foffem as inquiriçoes abelítas e pubricadas , ou nom
foffe a fentença definitiua pubricada por o Julgua..
dor , ou lhe nom foífem todos os termos das Noílas
Ol.'àeaa9oes aílinados. pera correger feus artiguos , ou
viir com eUes, ou falcceffe no proceffo outra algüa
coufa fubíl:ãncial do J uizo igual·de cada hüa deíl:as,
ou de menor fubíl:ancia, a qual fegundo Dereito fen ..
do falecida, ou errada no proceífo, todo Juizo, e
fentença) que delle proceda, feria ninhuú ; porque
fem embarguo deíl:o Mandamos, que nom feja por
iífo o proce(fo anulado. nem fe pofl"a dizer a fenten..
ça ( [e já'ldada for, poíl:o que feja paífada em coufa
julguada } ninr:'ja, fe l verdade for por o proceífo .
fabida, e o Julguador julgou o que lhe De úto pa-
receo per as prouas no proceffo feitas fobre a verda-
de ~ e fubftancià da eoufa. E porem .fe no .rnefmQ
primeiro Juizo an.,tes da fen~ença definitiµa, ou an
cafo
~Ê OS JtJIZES }ULG, POL-A VERD. SABIDA EC T. l S3

c'afo d'apellaçam, ou agrauo anves da fentença, for


~lcguado por cada. hü~ das d'itacs partes , como foi
cada hum dos ditos _er.ros T-10 proce(fo, poderá cada
huü dos ditGJs Julguadore.s fop rir o dito erro fe ne-
ceífario for,. fem por ello os autos ferem ninhuús;
porem defpois da· f.enibe.nça feer dad·a, fe os ditos eF-
rus nom fo1•em foprid-Os em cada huu dos ditos Juí-
zos, nom [e poderá aleg uar é:ada- lrnú dos ditos erros,
o.u nulidades ; e alegu a:ndo-fe, nom feram recebidos,
e toda via os autos e fencenças feram valiofas.
1 E sE o erro do p1ioceffo for por fe aleguar,
que nom interueo procuraçam das molheres , ou que
fe trautou o feito por Procurador nom fuficiente,
ou que fendo o feito d 'alguü menor de vinte cinco.
annos, e maior de quatorze, ou a · fem~a de doze,.
nom interueo procuy-ç-am, quand~ era Autor, ou ci ..
taçam quando-era ~eo d'ambos , conuem a faber '.afii'.
do menor, com~ do C1:1rador ;. auendo porem c1ta-
çam ou procuraça1n de cada huü· delles, em taees'
cafos , ou cada hutí delles ,,fe fe aleguar o tal erro no·
primeiro Juiw_ antes de o Juiz teer dada fentença.a,
ciJe rnefmo· o foprirá , mandand'o ao que fez a pro.-:
curaçam nom fufic iente ,. que ª ' faça fuficiente ·; ou fe·
o erro era d<:! disfalecer ª' procuraçam da- molher"'
mande ao marido, quando for Autor, que tragua ou-.
tergua, e procun1.çam de fua molher pera o d"ito fei.;...
te;. ou fe o er-ro era do disfalecimento da procura ....
pm- do menor> ou de feu- Curador-, (Orno dito· he .,
~a.n.daruio vii~ ·a. procur:aç,am, q_ue. falecer de cada\
huij1
1 s4 o TE.1t.c. L1vR0: DAS ORo. T1T. xxxxrx~
huü delles que nom interueo; e aílinanâo-lhe . pera
ello termo conu~niente , fégundo a diílancia do Lu-
guar onde eíleuer o que affi ha de fazer a-. procura-
çam. E fe o que trautou- o feito fern procuraçam da
molher, ou de menor , ou Curador , nos càfos. fobre-
ditos, ou fem feer citada cada hua dns fobreditas pef-
foas nos cafos fobreditos , onde fe requeria citaçam ,
f0r Reo, mandará ao Autor . que faça citar a pe!foa,
que fe requeria feer citacja, e feita a dita citaçam
procederam no feito, pofto que a dita peífoa affi cita ...
da nom mande procuraçam ; e efto todo fará , fem .
por ello os autos atee alli prÓceífados ferem auidos·
por ninhuus. .
. 2 . E sE já for dada fentença polo dito Juiz da
p~imeira iníl:ancia., e cada huu dos taees erros for
·aleguado na caufa d'apellaçam, ou agrauo, antes
de a fentença feer dada na iníl:ància d'apefüça m-,
- -OU · agrauo, .em tal cafo os Juízes d'apell<!çam, ou
agrauo, fopriram a tal erro, como dito he , fem por
clle os autos atee alli proceílados ~~rem auidos por
ninhuús; porem Q Juiz d'ap~ll;içam ou agrauo, que
o tal erro mandar foprir, condenará o Juiz da pri-
meira infürncia, ou d'apellaçam , fe o erro. for [o ...
prido po1as feus Superiores , nas c:uftas do retarda·
menta, que fe-fezerem em quanto fe foprir o _dito
erro, - e cada fiuü pola parte que proceffou; e fo-
prindo cada huµ dos ditos jl)izes antes de dar fen-
tença ., todos _os autos feitG>.s defde o principio feram
.. . . ro.. .-
valiofos; e fe ~ada huu dos fobreditcis erros nom for
~E OS JuIZES JULG.• POLA VERD. SABIDA ETC. 185

foprido por cada huú dos ditos Juizes, fuas fenten~


ças e autos feram ninhuús. e cada huü dos ditos Jui-
zes que os proceífou feri obriguado aas cuílas. am
peffoaes , como do prnceífo , pola parte que cada
·huu proceífou.
3 E Nos ditos cafos, pofio que ajam de julguar
polos ditos autos, quando affi mandam foprir o dito-
erro, fe defpois que a peífoa que traz a procuraçam
fuficiente , ou a peífoa que de nouo he citada, qui-
fer aleguar algüa coufa de nouo ( que de receber fe-
ja ) nos autos , ou dar mais tefiernunhas, das que
fam dadas aos artiguçs, queja fam recebidos ,juran-
do que o aleguam fem rnalicia, fer-lhe-ha recebido.
4 E SE em alguü dos cafos fobreditos, quando
for mandado que venha a procuraçam fuficiente, ou
da molher, ou d'outra pe!Toa, que feja neceífaria, e
a dita peíloa cuja procuraçam fe manda trazer J a
nom quifer. dar , em tal caro abfolueram o Reo da
infl:ancia do Juízo, e o Julguador ou Julguadores,
que o tal feito proceffaram fen\ a dita procuraçam.
paguaram todas as cuftas que as partes por ello fe-
zerem. Porem fe a molher fem juíl:a caufa recufar
de lhe dar tal outorgua , e procuraçam, e parecer ,'
aos Ju1guadores, que lhe deue de feer dada auétori-
dade, pera poder profeguir a dita demanda ( fegun-
do Auemos dito no Titulo §(ue o marido nom pojfa li-
tiguar em Juizo fohre bens de raiz Jem aulloridade de
Jua molher, no parrafo final ) em tal cafo hiram com
o feito por diante.
Liv. 111. Aa 5 E
186 O TERc. L1vRo DAS ÜRDEN. TIT. XXXXIX.

5 E si o erro do proceffo for por fe aleguar •


que falece a citaçam da parte , ou que foi feita citaM
çam., que por Dereiro foíle ninhúa, affi como fe
foffe citado o menor de quatorze armos, e a fem-ea
de doze , e fe proceffaffe contra elle, fem lhe feer
dado Tutor; ou fem feer citado feu Tutor-, no cafo
q1;1-e o·ceueffe, ou que fe _trautou com Procurador
falfo, que ofereceo falía procuraçam, em cada huü
dos taees cafos o tal erro fe nom poderá foprir em
ninhüa parte de qualquer J uizo que feja aleguado;
antes todo proceffo ferá ninhuü, e o J ulguador, que
os taees autos proceílou , ferá obriguado aas cuíl:as. ,
no cafo que proceffou fern citaçam, ou com citaçarn
ninhüa.
6 ÜuTKo s1 fe os Juizes d.'alçada acharem, que
o Autor tem prouada fua tençam fegundo a auçam
por elle em feu 1ibelo intentada, e que por effa au-
çam nom pode auer vencimento do 'que demanda,
e que lhe conuiria for.mar nouo libelo fobre outra
auçam, fundada em algua razarn por o dito Autor
aleguad'a ', fe os Juizes acharem por o proceífo pro.-
uado todo, ou a maior parte daquella auçam, que
fegundo riguor qe Dereito lhe fora neceffario inten-
tar, mandaram ao Autor que declare a razam que
alegua em eíle mefmo proceffo fem outro nouo li-
belo, e viíl:a fua· razam mandem ao Reo, que re-
fponda a ella, e affi va·m por-o feito em diante como
acharem põt Dereito; e fe acharem que fam taees.
razoes à que fe deua de dar proua;, o Jui1: lhes rece~
· ba

\
D As s E N TE N f A s D E F r N 1 T r V As. 1"87

·b a a dita proua, e nom o mandem tornar aos Juizes


· de que a elles o feiro veo por apellaÇam , ou agra-
uo, nem conftranguarn ao Autor que venha .c om
~ut-ro libelo de nouo, como dito he. ,

T 1 TU LO L.
·Das jenúnças definitiuas.

TODO Julguador ferá bem auifado, quando o


feito for conclufo fobre a definitiua , que veja e ex-
amine com boa deligencia todo o procelJo ...,aíli o li-
belo, com<;> a cont'eflaçam, artiguos dereitos, ~ con-
trairos, e os depoimentos a elles feitqs , e aíli as in-
quiriçoes do principal , contrariedade, e das con-
.traditas , e proua feita a elles, e as razoes ·akguadas
de hüa e da out~a parte, e aíli dee a fentença deflni-
tiua, , fegundo o que achar prouado de húa . parte e
da outra , ainda que lhe a confciencia dite o con-
ti-airo, e elle faiba í:l verdade feer em contra iro, do
·.que no feito for prouado; porque foomente ao Prin-
.c ipe, que nom reconhece Superior, he dado e ou-
·torguado por Dereito , que julgue fegundo fua con-
fciencia, nom cu-r ando d'aleguaçoes, ou prouas em
contraira feitas polas partes ; por quanto he fobre a
· Ley , e o Dereifo norn prefurrie que fc aja de cor-
romper por afeiça_m ;aqual prefurnpçam he aíli tam
vehemente, por razam de fua alta preminencia, que ·
Aa ·2 fe
188 O TERCErno LIVRO DAS ÜRDEN. TrT. L.

fe nom receberá contra ella em tempo alguu pro-


ua em contraira ; e aos outros J ulguadores he man-
dado, que julguem fegundo o que acharem alegua-
do e prouado polos feitos, como dito he; faluo fe
o Julguador viífe algua coufa como Juiz em auto
judi'cial , que nom eíl:eueífe no feito, cá em tal ca-
fo poderá fegundo fua confciencia mandar ·ajuntar
os autos, que vio como Juiz em auto judicial; e
tanto que forem juntos, julguará fegundo a proua
do feito, e o~ autos que aili fegundo fua confciencia
mandou ajuntar. Porem eíl:o no~ auerá luguar nos
feitos ciueis , em que ja os ditos autos ( per qu~ affi
o dito Juiz foffe ~nformado, fegundo fua confc.ien-
cia ) fofiem aleguados, e a pa.rte deHes lançada :
porque em . tal cafo o Juiz os. noaí mandará ajun-
tar, e j ulguará palas pvouas que-eíl:euer.em no feito.
1 · E AINDA ferá auifado; que (empre dee a. fim,..
tença cônforme ao libelo ; conuem a faber, conde-.
·nanoo, ou abfoluendo, em tod-0 ou em. part~, fe-
gundo o que achar prouado polo feitó-, como dito
he; e fe achar que proua tanto ., que façam~~ pr-0-
ua, julguará fegundo Diremos ndl;e Liuro no Ti-
tulo Do juramento que Je dá polo Julguador a prazi-
mento das partes. Nem julguará mais daquello que he
ped ido polo Autor, quanto ao principal. E quanto
aas cuftas, frui tos, e intereífe, pode julguar aquello
que fe moíl:rar polo feito, que fe aconteceffc defpois
·aa lide' conteíl:ada em diante, ainda que pola parte
nom feja pedido; porque toda.las coufas que aconte-
cem
D AS SE N TE N Ç AS D E F J N 1 T 1 .V AS. I 89
cem em Juízo defpois da lide conteíl:ada perten-
cem ao Officio do Juiz, ainda que nom fejam pe-
didas.
2 SERA' ainda auifado, que dee fentença certa _;
conuem a faber, em certa quantidade, ou em certà
coufa ; cá fe deífe fentença incerta, ou condicional,
nom valerá nada ; faluo fe a fentença incerta·podef-
fc feer certeficada por os autos da proceflo, ou fe
podefie' liquidar na execuçam da fentença, affi como
os fruiras , e intereífe, de que emcima-Falarn0s; e
.ainda fe poderia dar fenténça condicional, fe a con-
diçam loguo foffe comprida , · conuem a faber, fe o
Julguador condenaífe o Reo na quello que lhe o Au-
tor juraífe, que lhe era deuido; cá em tal cafo vale...
-rá a fentença: peró nom Tolhemos, fe á fentênça
for injuílamente dada , e contra Dereito da parte ,
que fe nom poffa emendar no artiguo da apella-
çam, fe della for apellado em tempo deuido , e for
cafo d'apellaçam , fegundo adiante Diremos mais
compridamente no titulo Das apellaçoés.
3 E POREM alguas vezes nos Juiz.os, e auçoês
principaes , fe pode pedir , e dar fentença geerat., e ,
incerta : pode-fe póer exemplo 'na quelle, que fe
diz herdeiro d~outro. pedindo feer- declarado por
he.rdeiro, e que feja entregue de toda a herança-, que
vniuerfalmente ficou daquclle cujo.herdeiro fe diz~
E bem affi. no herdeiro que demanda a outro herdei,.
ro, e fe~ . parcei-ro na:. herança " par:tiçam de toda a
herança. \•niucrfal, em_que ambos . fam herdeirps ,'
pe-
190 · O TERCEIRO LrvRo oAs 0RDEN. TrT. L.

pera auer a fua parte da herança ; cá em taees cafos


como efles podem faze_r as petiçoes geeraes , . e in-
certas , e per confeguinte as fentenças, por que ham
de feer conformes , podem feer geeraes: e peró que
affi fejam geeraes., e incertas, neceífariamente con-
uem que fe certefiquem defpois ao tempo da execu-
çam ; cá entam fe certeficará , quaes faro as coufas
da-herança, e quaes nom, per as prouas que fobre
ello feram feiras ._ ·
4 E PORQY& muitas· vezes acontece, que antes
d'os Julguadores poerem fentença mandam os fei-
tos ao Contador, que faça conta, e ponha em fo-
ma o que fe proua polo feito , Mandamos que
fempre o J ulguador em faees cafos declare as adi-
çoes, e coufas, que o Contador ha de leuar em con-
ta, e poer em foma , e quaes nom, em inodo que o
Contador nom faça mais que contar, e afamar o
que polo Julguador lhe for 111andado; e iffo mefmo
faram os ditqs Julguadores, quand~ for duuida fo-
bre o que fe deue partir, porque primeiro que man-
dem os feitos aos Partidores decl ~ raram , e determi-
naram, quaes fam as coufas que fe ham de trazer aa
partilha, e quaes nom. ·
5 E DESPOIS que o Julguador der hüa vez fen-
tença definitiua em alguü feito, e a pubricar, ou der
ao Efcriuam , ou Tabaliam , pera lhe poer o termo
da pubricaçam J i10m tem mais poder de a reuo-
guar , dando outra contraira polos mefmàs autos; e
Je'a reuogúaffe, e detfe -0utra contraira defpois, a
ou-
DAS S E N T E N Ç A S D "E F T N 1 T. I V A S. I 9I

outra fegunda _ferá ninhüa ; faluo fe fo!fc reuoguada


por via d'embarguos, taees -que pQr Dereito, por o
nelles aleguado, ou prouado, a deueíle .reuoguar. Pe- _
ró fe o J ulguador der _algúa fentença definiriua, que
tenha em fi algúas palauras efcuras , e intrica,das ,.
bem a poderá declarar; porque outorguado he por
Dereiro ao J ulguador, que poffa declarar, e inter-
prer.a r qualquer íentença por elle dada, ainda que
feja definitiua, fe duuidofa for; e notn . foÓmente ~
effe Julguador que effa fentença deu, mas ainda ao
feu foceílÓr que lhe focedeo o Officio de julguar ;
faluo fe for NoíT'o Defembarguador, porque entonce
fe guardará tambem na definitiua, pera a poder in-
terpretar, o que diíT'emos no Titulo Das fantenr·as in-
terlucutorias , no ,parrafo Se alguu Juiz. ·
6 E PORQ!lE as mais _das vezes os Julguadore!
norn de~laram 'nas fentenças de.6nitiuas, que. nbs fei-
tos por elles fam poílas, a caufa , ou. caufas, em que
fe ·fundam a abfoluer, ou condenar por ellas as par-
tes , foomente dizem R_ite vijlos os artiguos do Au/()r ,. ~
Reo, e lnquiriçoes, e ejcripturas por as partes ojferecidas,
e como o Autor proua milhor fua tenram, !u artiguos ,
que condenam o Reo &e., ou quando abfoluem di-
.zem ~ue v1jlo como o Autor nom proua tanto, ou dizem
~ue vi.fio co1no o Reo proua milhor, 6 abfoluem , fem
.tnàis declar.a r que he o que fe proua, por onde fe ,.
fundam a dar tal fentença , do que fe feguem mui-
·tos inconuenientes, affi de as partes nom f'!_berem
-0 que he, _g.ue-aos Julguadores que a fentença_de-ra~ j

pa-
i92 o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. ÍIT. L.
pareceo que era prouado, ou nom prouado, por
onde vem com embarguos , ou apellam , ou agra- _
uam, o que aas vezes nom fariam, fe lhe foíle decla..
rado ; e affi tambem quando apellaffem , QU agra-
uaífem , os J uizcs da moor alçada íentiriam milhar
os fundamentos, qúe os Juii.es inferiores tiueram;
e por eui tar os ditos inconuenientes , e outros , que
fe podem feguir, e por o affi Auermos por bem de
Juíl:iça, e pera milhar defpacho dos litiguantes.
Mandamos, que daqui por diante todos os Noífos
Defernbarguadores , Corregedores das Comarcas, e
todos os Ouuidores, e Juízes de Fóra , poíl:o que
cada huu dos fobreditos Letrados nom fejam , e
quaefquer outros J ulguadores , que Letrad.os forem 1
que fentenças definitiúas pofereti1 , declarem etn fu-
1

as fentenças ( affi na primeira inftancia , como na


caufa d'apellaçam , ou agrauo, ou na caufa da re-
uifta ) a caufa, ou caufas , per que fe fundam a con-
denar, ou abfolner, ou a confirmar, ou reuoguar,
dizendo efpecificadamente o que he, que fe proua,
e por que caufas do feito fe fundam a darem fuas
fentenças ; e o J ulguador que pofer a dita fentença
·definitiua contra fórma defta Ordenaçam , e a nom
comprir como nella he contheudo, fe no tal cafo
teuer -alçada paguará vinte cruzados, e fe delle ou-
uer apellaçam , ou agrauo, paguará dez cruzados ,
os quaes feram pera a parte, em cujo perjuizo for
poíl:a a dica fentença definitiua ; e fe a fentença for
pofta em Rolaçam , ou for afünada per muiros , en-
cor-
D As S E N TE N Ç A! D E F I N I T 1 V A: s. ·193
çorrerá na dita pena o Juiz do feiro, que a dita fen•
tença pofer, e norn os ·outros; e as partes que as ditas
penas quiferem demandar, fe for em cafo , que do
dito Julguador aja apellaçam , ou agrauo, poderam
tomar Eftormento pera o dito Superior o por elle
prouer, ou por fimprez periçarn, fe o Superior efte-
uer no mefmo Luguar, onde affi eíleuer o Inferior.
7 E sE for Julguador, em que do dito cafo. nom aja
apellaçã , nem agrauo , podelo-ham as partes deman-
dar perante o Regedór da Noffa Cafa da Sopricaç~m ...
o qual com aquelles Defembarguadores que lhe bem
parecer condenará o dito Julguador na dita pena.
8 E SE o tal Julguador for Defembarguador da.
Cafa do Ciuel , ou Corregedor da Eftremadura , ou
Juizes, nos cafos que delles nom ha hi apellaçam nem
agrauo, fe os taees feitos pertenciam por apellaçam
aa Cafa do Ciuel , o Guouernador ( com aquelles
De.fembarguadores da diça Cafa que lhe bem pare-
cer ) conhecerá dello, e condenará o dito Defem-
barguador, Corregedor da Eftrern.a dura, ou Juízes,
na dita pena , e a fará da.~ aa execuçam.
9 E os Efcri.uaes, ou Tabaliaes, que as Cartas das
fentenças definitiuas fezerem , poeram em ellas to--
das as forças do feiro, affi da parte do Autor como
do Reo, per maneira que fe algüa demanda fere- .
crecer Jobre effa coufa antre effas partes , ou antrc:
outras~ que fe poffa por ella fentença faber, qual foi
a demanda que fez o Autor, e defefa que pos o ReQ
demandado , e de que foi liure, ou condenado •
. Li'll. III. Bb · TI..
194 O ·TrncEIRo LIVRO DAS ÜRDE!lf. T1T. LI.
TI TU .L O LI.
Da condmaçam d4s cujJas.

·s EGUNDO defpofiçam de Deieito' a parte, que


for vencida, e condenada em qualquer feiro, de
qualquer qualidade que feja, affi ciuel, como crime,
qiler feja o Reo ·vencido, quer o Autor,ferá o venci-
do no .principal co"ndenado nas -cuftas a"O vencedor ;
. per:ó fe- o Autor, poíl:o ·que ó Rco .feja abfoluto, ou-
ue jüfta razam de litiguar, ferá relcüado das cuíl:as.
I E QyANDO nom ouudfe juíl:a razam pera liti-
·guar J mas teu'e razam cólorada pera: demandar, ferá
foomenté 'condenado nas ·cuftas do proceffo , e rele-
uado ;das ci.iftas .pelfoaes. .
2 E PORQ.l!E acontece algüas vezes, que o Au-
tor no começo do procefio parece que tem jufta
razam pera demanda:·r , e defpois per curfo do pro·
ceifo, abertas as inqu'iriçoês , ou per algua outra
nianeira · fe moftra nom teer déreito na rlemanda ·,
per que ceffa o fundamento que ouue, em que fe
fundo~ pera litiguar , em· tal cafo ferá condenado
nas cuftas foorriente feitas, des aquelle ·tempo, que
elle affi pode ~onhecer ;c~ino norn tinha razam pera
feguir ·a "dita demahda, e ferá réleuado das que fo-
ram feitas . antes que elle foffe,. ou deueífe feer em
eonhecimento da verdade fuhftancial do"feito, corno
dito he.
J É isso méfmo fe o Reo condenado teuer jufta 1
· . ra~
.D A eo N D ~ N A ç A M DAs e u s T A s. . I 9) .
raiam de fe defender , póderá ( poíl:o que feja con•
denado no principal) feer releu;ldado das .c uftas pef..
foaes; 11om ferá porem ~em nínhuií 1.:afo ( co'mo for
condenado no principal)releuado das -cufias do pro•
ceffo, pofto que juíl:a razam ouudfe de litiguar.
4 E ~NO.E o vencido foi em culpa foomente de
fazer demanda ,que nom deuera, fe.m ou.tra ma:licú~.;
em ·tal cafo ferá condenado nas cuftas .fingelas ; ·C
quando elle for achado em malicia, entam ferá ·con!'"
denado nas cu fias em dobro , ou em tresdobro, fe ..
gundo a malícia em que for achado; e porque acer-.
€a deíl:o fe nom pode dar certa doétrina, ficará'. em
aluidro do Julguador. E em todo ca(o onde ·co v,e n'.""
ciclo he condenado nas cuftas em dobro,.ou em tref•
dobro, e nom lhe forem achados bens, em que fe
faça execuçam , ferá prefo atee que as pague da ca-
dea, porque a dita condenaçam procedeo de malí-
cia que he auida ·por maleficio. · ·
· 5 F SE o Reo foffe · condenado em parte do que
foi demandado, e em parte fo{fe abfoluto, o Julgua;-
dor ·condenará nas cuftas o Reo pola parte, em que
foi condenado do prirycipal , e o Autor pola parte ;
, ·cm que o Reo. foi abfoluto ~ efguardando. o.Julgu ~ú:lor
fempre, fe ouue hi rnalicia , ou. ignoráncia · no de-
mandar ., ou jufta razam . de litiguar, e affi pronun-
ciará fobre as cu fias dobradas, ou fingelas, ou fo.r:rt
cuftas , ou nas do proceffo , fegundo em cima Diílt-
mos; nom podendo porem nunca releuar o: R€o das
cuftas · Çlo proceífo por aquêlla parte, em-que - foi
Bb 2 con-
196 o TERCIHRO LIVRO 01'.S ÜROEN. T1T. LI.
(ondenado, como dito he; e em femdhante conde~
naçam , quando nas cuftas ouuer de condenar affi
Autor, como Reo; nom dir:i como vencem, e fam _
vencidos, mas verá a parte, em qµe o Reo he con-
denado , e a parte em que he abfolto, auendo refpe-
&o .;to que foi demandado, e dirá expreJfamente,
que éondena o Reo em tanta parte das cuftas , como
terça, ou quarta parte J ou outra femelharite cota J e
outro tanto n0 Autor~ pera .que o Contador que as
oúue,r de contar faiba claramente as cuftas, em que
caôa hu'ú he c0i;id~nado·. "· -: .
6 , E ESTE mefmo modo de declarar a condena•
çam das cuftas terá, quando a fentença for fobre au-
çam i e reconuençam •
.•·7 · E BEM affi ,foi d~antiguamente vfado em eftes.
Reinos, que nos ~eitos .c.iúeis, que fam antre Nos
e cad,a.huü do ·poup ;nom ha cuíl:as ~ , quer o Procu-
rador dos Noffos Feitos feja Autor; quer Re0, e
Nós affi Mandamo-s que fa guarde ; porem nos fei-
tos crimes, quando alguú for acufado polo Prome-
tor ,da Juíliça, e for ·condenado, fempre condena-
:rám o dito Reo nas cuftas.. do proceffo.
' 8 E BEM affi Mandamos ; que antre o padre e a
madre, e o filho, ou· filha, ou genro, em quanto eftá
cafado com fua filha, e.ambos eftam, e moram jun·
tamente em cafa mantheuda, norn auerá cuftas pef-
foaés , ÍQc;>mente pod~ifá .auer · do procetfo, ·.feguhdo
acima Diffçmos ,;r porem 1 fo 'O'ffi~trimonio for, fepera-~
<lo. ;lntre o genro e a·filha por morte• ou por, jui-
ZO'
. D.A ~ O N D .E N A Ç J\ M D A S C U S T .A S, 197

zo. da Igreja, . quer perpetuament~, quer a tempo


certo, e durante o dito teinpo foffe . algúa demanda
antre o padre, ou madre, e o dito genro, guardar~
fe-ha antre epes a regra , que fe guarda antre os
eftranhos ,·íeg.u ndo emcima Temos declarado.
9 E MANDA Mos, que fe em alguü feito crime o
acufado fe chamar aas Ordens, e for remetido.a ellas,
ferá condenado nas cufüis, affi peffoaes, . como do
· proceffo, que fe fezerem .des que o libelo for recebi-
-do ~tee fe chamar aas Ordens, e nom ferá 'entregue
ao Ecdefiaíl:ico atee as noin paguar.,
10 E SE alguü for acufado por parte da J uíl:iça •
·p or algüa deuaffa por qualquer cafo, fem contra
elle auer querela polo dito cafo, e fem embarguo
de affi fe moíl:rar contra elle_tanto pala. deuafla, que
·abaftou pera feer acufado pala Juíl:iça, for abfolu".".
to, por arnoíl:rar tanto de feu dereito ém fua de-
fefa, ou contraditas, por que õ mereceo feer; em tal
cafo ,· poílo que feja abfoluto, fempre o Julguador, -
que o abfoluer, poerá na fentença, que o tal abfolu-
to ·pague as cuftas de fe_u liuramento•

..
198 O TERCEIRO LrvRo DAS ÜRD. TIT. LII.
T 1 TU LO Lll.
D<t ordem que /e terá nas apellaroes, aj]i das fentença-s
interlucutorias, como dejinitiuas.
-
QUANDO algüa das partes apellar da fentenÇa·,
que contra elle for dada , e a apellaçam lhe for re-
cebida ( quer a fentença feja interlucutoria, quer
definitiua, nos cafos em que das interlucutorias fe
pode apellar, como Diremos no Titulo feguinte )
pareceram as partes ambas, affi o Apellado, como
. 9 Apellante, (por fi, ou por feus Procuradores fufi-
. cientes, nos cafos em que por Procuradores podem Ii-
tiguar) perante os J uizes. que de tal apellaçam ajam
de conhecei', ao termo que lhes por o Juiz (de que
foi apellado) for affinado; e parecendo ao dito ter-
mo aueram viíl:a dos autos da apellaçam , fe a pe-
direm, e razoaram fobre ella' fenhas vezes, e defpois
que o feito ·for conclufo vejam-no os Sobrejuizes·,
ou quaesquer··o utros Julguadores, a que o c·o nheci-
mento de tal apellaçam pertencer~ · E fe for ap~llado
de fentença interlucutoria • e.acharem que foi bem
apellado, e que o Apellante foi agrauado polo Juiz,
affi o determinem , e nom mandem tornar o feito
ao Juiz de' que foi apella9o. mas vam polo feito
em diante, e o determinem fi'nalmente, como acha-
rem por Dereiro; faluo fe o Apellante e o Apellado
ambos requererem. que· fe torne·o feito aa Terra,
perante o Juiz de que foi apellado; porque cm tal
. '
· cafo

)
DA QYE 199
1
ORO. SE .TERA NAS AP)'i:L.LAÇOENS, EC T,

cafo fe tornar.á, e ferá aílinàdo _termo , a que o vam


laa feguir. _ . ,
- · I E ACI:IANDO que 'fo.i mal .apellado, e que o Apel-
lante nom foi agra~ado polo Juiz, .ªm o julguem,_
e .condenem o Apellante. nas cuftas d'apellaçam , e
affinem termo aas partes , a que tornem fcguir feu
frito perante o Juiz de que foi apellado, e mandem
ao Juiz, que vaa polo feito em diante, e o. determi•
ne
/
finalmente,
.
come;> for Den:ito;
-
faluo fe o Apella-
do quifer ante litiguar, e profeguir feu feito perante
os Juízes da apellaçam; porque em tal cafo ficará o
feito perante elles, e nom tornai:á _mais aa Terra;
porque pois o Apellante efcolheo por frus Juizes os
Juizes da alçada, apellando pera elles, nom .os po-
derá com juíla razam mais rernfar.
· 2 E QYANDo o Apella~te foomente parecer ap
termo com fua apellaçarri, e o Apellado nom vier,.
ferá atendido tres dias, aalem do termo que lhe foi .
aíllnado; e nom vindo, p~ífados os ditos tres dias, o
Apellante o faça apreguoar na Audie!).cia, como Dif-
femos no Titulo Dos.Sobrejuizes, e aa f~a reueiia fe
proceda na caufa da apc;llaçam. E fe achare.m '. que
apellou bem, ficará o feit-0 perante o~ Juizes da apel-
laçam , e procedam nelle, e o determinarám final-
ment~, como acharem por.J)ercito;; e ach~ndo -que
foi· mal apellado, _nqm procedam hi mais. no feito ,
e o remetam ao Juiz, de.que foi apellado ,. mandan-
do... Ihe que proceda ~o feito, . e o determine . final-
mente, fellJ embar:guo d~ dita ~pelJaçarn ,.·que dellc .
foi mal antrepofta. J
' 200 o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. .LII.
3 E v_rNoo o Apellado profeguir a apellaçam ao
termo que lhe for affinado, e non vindo o apellante
fi:
por- nem por outrem , com_ a dita apellaçam , e
fazendo o Apellado certo aos Jµizes da apellaçam
do termo, que a elle e ao apellante foi affinado pera
virem feguir fua apellaçam, por Eíl:ormento pu~
brico do dia do <i.parecer, ou por Carta teíl:emunha-
uel , e patfados os tres clias de Corte defpois do ter-
mo pa!fado , e fendo o Apellante apreguoado , como
dito he, aueram os Juizes da alçada a apellaçam
por deferta e nóm feguid~ , e condenaram o Apel-
lante nas cuíl:as do dia d'aparecer, e mandaram ao
Juiz, ou Juizes d.e que foi apellado, que procedam
~o feito, e o determinem finalmente como for De-
·. reito; porem fe o Apellante que foi reuel for Auror,
nom feja recebido a profeguir a demanda , atee pa-
guar ao Apellado todas as ditas cuíl:as do dia élo apa- ,
recer.
4 E SE a fentença de que for apellado for defi-
nitiua, e·as partes ambas parecerem ao termo per-
ante os Juízes da apellaçam por fi, ou por feus fufi-
- cientes Procuradores, procedam os Juizes da apel-
Jáçam no feito , e o determinem finalmente como
fQ.J:. Dereito.
5 E Q.1TANno o Apeilante foomente parecer ao
termo com fua apeltaçam, e o Apellado nom vier•
ferá atendido tres dias aalem do termo, que lhe foi
,affinado; e nom vindo, paífados os ditos tres dias·,
o Apellante o faça apreguoar na Audi_encia, e acuf~
f ua

I
DA eRo. QyE si; TERA' NAS AP.ELLAÇOENS ET e ~ .20 I

fua conturn:acia; ctimo dito ·he, .e aa füa ·reue1ia ft


proceda na caufa da apellaçarn, e os Juizf;s. da apel-
laçam determinaram o feito finalmente como acha..
rern por Dereito.
· 6 E vrnoo o Apellado profeguir fua apellaçam
ao termo que lhe foi affinado, e nom vindo o Apel":'
lante por fi , ·nem por feu, Procurador, onde Procu-
rad9r deue feer recebido, e fazendo o Apellado cer-
to aos Juizes da apellaçam do termo> que a elle, e
ao Apcllante foi affinado, pera virem feguir fua apel-
laçam , por Eftorrnento pubrico de dia d'aparecer,
ou Carta teílemunhauel, e paífados tres dias de Cor~
te defpois do termo palfado, e feodo o Apellante
apreguoado, e acufado de fua contumacia, corno
dito he , aueram os Juízes da ape llaçam a dita
apellaçam por deferta , e nom feguida , e condena-
rnm o Apellante nas cuíl:as do dia do aparecer , e
nom ferá o Apellante mais recebido a profeguir a ·
dita apeUaçam, e mandaram que,a fentença de que
for apellado fe cumpra, e fe dee a exccuça.m; fal-
uo fe o Apellante aleguar, .e prouar alguü jufto e
legitimo impedimento , per que nom podefie hir aa
Corte com a dita apellaçam, nem ·enuiala por QJJ...
trem.
7 OuTRo sr porque Noífa tençam he prouer
aos Apellantes por algi:ia maneira , que de todo-
nom percam feu dereiro fe o teuerem , pofto q~e
cm aprefentarem , · e fegui.rern fuas apellaçoês fe-
jarn em algua parte negrigentes , Mandamos, ql.le
- Lir;. Ili. Cc !1'!
202 o TERCEIRO LIVRO D.AS ÜRDEN~ TIT. LII.
no eafo onde o. Apeltado. vier com o dia d~aparecer
ao termo dtuido 1 e aa- reuelia do Apellan.t e ouuer
fentença> por que feja a apellaç.am auida por deferta_,_
e nom feguida per os.Juízes. d:aapellaçam 1 e porque
mandem comprir a fentença, de que foi apellado,
pofto que a fen.tença feja feita> e affinada, e paffe
pola Chancelaria Je ante que a parte fe vaa com el-
f
la d.o Luguar > onde a Corte ~íl:euer ~ vier o. pel-
lame com a apellaçam ,. os J u:lZes. da apellaçam lha
Iecebam,. fem embarguo de a fentença ja feer con-
tra elk dada pelo dia d~aparecer, paguando primei-
ramente aa outra parte todas as cufias,. que fe feze-
i;am fobre o dia d.o. aparecer, e defombarguem e!Ie
feito. da apef.laçam, como for Dereito. E efto. que
rlito he nom auerá luguar nas apellaçoes dos .mo-
radores no Luguar onde a Noílà Corte,. ou Cafa da
Soprica~am ,. ou do Ciuel eíl:eucr,. em que as ditas
apeUaçoes fe ham d.e trautar; porque eíl:es poderam
. purguar fuas reuelias 1 ante que as fentenças paífem
pola Chan.cellaria ;, e fe atee entarn as. nom purgua-
1em, defpois. que a. fcnçença palfar aa ma.ó da. Par-
te, ou de feu. Procurador ,. nom ferá mais recebi.do
a.. pur.guar foa reuelia,. nem mais ouui.do fobre eíl:O'.
8 E ESTO que dito. Auemos da apellaçam , que
ferá auida por de.ferta ,, quando o A.pellante a nom
profeguir, e o Apellado faz certo d.ella polo dia
e'aparecer > nom auerá. h1guar nos feitos crimes,, em
que a Juíl:iça poífa, e aja luguar; porque em taees
~afos, pofto que o A.pellante nom profigua a apel ...
la-
DAS APEL, DAS SENTf:NÇAS INTERLUCU·T. ETC. 20J

laçam, o Juiz de que foi apellado enu1ará a apel~


laçam aa Corte ., e eíl:o , fe for apellado da fentença.
definitiua, ou de tal interlucutoria , de que fegundo
NoíTas Ordenaçoes o )uiz apellaria, quando a Parte
nom apellaffe; e os Ouuidores defembarguaram o
feito polos autos da apellaçam. e nom por o ditô
dia d•aparecer foomente.

T I T U L O LIII.
Das ap'f!llaçoes das .fentenças interlucutorias, e quando
· .fe pode de/las apellar, e que nom ajam os at{tos por.
apellaçam.

D·E quaefquer femenças interlucutorias ,"que fo-


rem dadas per quaefquer Julguadores, de que fede-
ua pera Nós apdlar fem outro meio, ou per alguü
meio, nom poderá algüa das Partes apellar; faluo
fe 0 feito fobre que for dada a fentença interlucuto-
1

ria for de tal natura, que per t:al interlucutoria "fe-


ja o feiro acabado, per maneira 'que o Juiz, que tal
fentença deu, nom pode em elle por aquella cita-
çam mais proceder, nem d_a r fentença definitiua no
principal , .mas he loguo finda a citaçam ; affi como
fe a ·Parte pede aõ Jüiz, que lhe mande citar a outra·
Parte, e o Juiz determina que nom ha de feer cita-
do, ou julgua ql.1e a citaçam que he já feita .he ni ..
nhüa , ou nom valiofa , ou fe pronuncia por nom
Cc ~ Ju~

'
204 o TERCUR0. LIV.RQ DAS ÜRDEN.. TI:T.. LIH.
Jui~, o.u ju1gua ·qu.e o. demandado nom he theudo
i;efponder •. ou q,ue o d.e mandador nom he petToa pe-
:ta. demandar ... ou que Q lib.do. ou. petiçam nom. pro-
cede, n0:tn te.nd.o já. outro. . termo. pera con:eger, e
aJfi. em. todos os àuti:os caf.os feme.lhantes ( porque
p,9m. pedem todos feei: dedarados.e.rn eíl:a Ley, mas
procederam os Julguadore_s de femelhauel a feme,.
lh_auel ) ferá. recebida a apellaÇ,am da fentença in..
terlu.cu*oria.,
1 E PODE iffo mefmo féer apdlado da fentença:
interlucutoria. quando he tal, que fe delia nom fof-
fe apell'ado·fo executa ria, ante que o- Juiz proceda
a defin;itiua ,. e p.o la fen_tença· definitiua que defpois.
foffe dada,. e pola apellaçam ~ue da fentença defini-
tiua. foífe antrepofta ,, fe nom poderia recobrar o dã"'.'
nó,. que por a e.xecuçam da. interlu.c utoria a Parte
teueífe r-e.cebido ;, am. como fe·o Juiz julguaífe-, que
metam a1guü a tormento ,, porque fendo feita execu-
pm de tal interlucutoria, j á- nunca mais ·a Parte po-
deria. recobrar. o dãno recebido i porem Mand·amos
que em- todo cafo,. em que defpois da. fente.n.ç a in-
, teducutor.ia. o. Juiz nom pode· mais proceder aa fen...;
t~nça. definitiua, pera por ella, ou polo. Juiz., que
da apellaçam que della foífe antrepoíl:a·,. fc. poder
corr.eg~r a. dita fentença interlucutoria ,. ou fe. fe po-
de defpois da imerlucutoria . proceder a d.e finrtiua-,
nom íe poder.ia. o dãno q.ue ja. fofie feito.pda execu-
çam da interlu€utoria ante da defi.nitiua· recobrar-,
.uem emendar ,. feja rec.ebida. a apellaçam da. fenten,.
.. ~
DAS APEL, DAS SENTENÇAS INTEIUUCUT. ETC, 205

ça interlucutoria, e feja atempada aas Partes, p_e ra


hirem feguir perante os Juízes da apellaçam.
2 E PODER-SE-HA tambem apellar da fentença in-
terlucutoria, fe o Juiz mandar citar a Parte fó.i:a da
fua Jurifdiçam, pera parecer e refponder perante el-
le, a tempo que em eífe Luguar andaífe notoriam~n­
te. grande peíl:elenci~ , ou fe o Reo teue11e em eífe
Luguar grandes. ~ notorios imiguos; porque pois
nom pode viir a tal Luguar fem perigua de fua pef-
' . foa, poderá apellar ~e tal mandado do Jui.z, que o
affi manda citar, fe de tal razam lhe nom conhecer.
J: E os J uizes que deuern conhecer das apella-
çoes, que faem ·das fentenças definitiuas, conheçam.
das apellaçoes das fentenças interlucutorias , em
aqueHes -cafos, que fegundo efta 1.Noffa Ley dellas
podem apellar, ·
4 E o Q.!!B apellar da fentença interiucutor!a apel-
lará tantu que pubric~da for ou atee des dias, con-
1

/ ·tados do dia da pubricaç.a m, com tanto>que o Apel-


lante defpois de tal fentença dada nom faça alguii
auto, pe11 .que ~proue a dita fentença ;: e no cafo on-
de o ApeHante e feu Procurador forem abfenres ao
tempo da pubi:icaÇam da fcmten~a, eontar-fe-ham os.
de::z dias do tempo-que cada huu delles for fabedor ,.
como.a d.ita. ínterlltc.utoria era. pubr:icada.
5. E Q.Y AN.oo. a fen-tença. for dada no Luguar on-
de eíl:euerem. os Sobreju-izes" ou Ouuidores, que da.
apellaçam aja.m: de conhecer , O. Juiz affinará te! mO
aa.s Partes.a, a que a. vani, feguir o mais breue qu~ fe<~r
po...
206 o TERCE-IRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LIII.
poder; e mandará, que o _Efcriuam leue o proprio
proceffo, em que fedeu a fentença apellada, peran-
te os ditos Sobrej uizes , ou Ouu idores, pera verem
- .por elle compridamente o dereito das parres, e da-
)·em determinaçam, como acharem por Dereito. E
fe o Apellante for negrigente em requernr, que fe le-
ue o proceífo, os Juizes da apellaçam daram defpa-
cho ao Apellado por hüa certidam de dia d'apare-
cer, que lhe dará o Tabaliam do feito aa reuelia
do Ape1lante, que por finem por outrem notn fezer
trazer o proceffo, auendo a apellaçam por deferta, e
nom feguida ; enefre cafo pofto que a apellaçam fe
d.efpache polo procefTo, fempre tanto que for defpa'-
chada a dita apellaçam mandaram tornar o proceífo
a-o Juiz que-a ape1laçam recebeo , poHo que achem
que o Apellante foi agrauado. /
6 E SR for apellado ( fóra do Luguar ~ onde a
Corte-> ou Superior eíl:euer ) da fenttnça interlucu.:.
foria, e apellaçam for recebida, o Juiz affill.ará ter.;.
ino aas Partes de trinta dias , ou de meno~, fegun.:..
do a diíl:an~ia_ do Luguar, que vam fegúir fua apel ...
laçam , mandando-lhe dar o treslado della , guar-
dando em todo, affi acerca do tempo pera poder
profeguir .a apellaçam, como pera a deferçam de!.:
la, o que Diremos no Titulo feguinte ;<iuando he
apellado da fentença definitiua. E o Juiz de que foi
apellado nom procederá mais neffe feito, nem fará
coufa algü~, em quanto pender o outro da apella-
çam.
7 E
DAS APEL. DAS SENTENÇ'AS INTERLUCUT. ET C. 207

7 E QlJANDO a apellaçam dafentença interlucu-


toria, que for antrcpofla fóra da Corte, norn for re-
cebida por o Juiz que a dita fentença deu, a Parte
contra que foi dada tornará Eftormento d'agrauo,
ou Carta tefl:ernunhauel, fegundo for o Juiz de que
fe agraua, <:com fua refpoíla a aprefentará.na Cor-
te atee trinta dias , fegundo Diremos neíl:e Liuro ,
no Titulo Da maneira que /e terá quando o Juiz nom
recebe apellaçam da Jeniença inter/ucutoria.
8 E v IN oo alguú Eftormento, ou Carta teíl:emu-
nhauel de cada huú dos ditos cafos, que fegundo eíl:a;
Ordenaçam era de receber a apellaçarn, os Juízes
Superiores, que dos taees agrauos ouuer~m de conhe-
cer, lhe receberam a dita apellaçarn, e paífaram Car-
ta em forma acuíl:umada ; e quando fe achar que
nom he agrauado em o Julguador nom receber apel-
laçam de tal imerlt1cutoria, por nom feer dos cafos ..
·cm que fe deua: receber apellaçam das in.terh1cuto-
iias, os Juízes Superiores nom recebam a dita apel-
laçam ; mas fe a interl.ucutoria for de emendar <t
emendaram , pofio que <> agrauo vieffe fuome?'lte
fobre o nom receber da apellaçam , e neíl:e cafo fem ..
pre mandaram tornar o. foito aa Terra :: e fe polos
ditos Eflormentos o eafq.nom viena.ili iníhué.1:0,. pera
que·fe potra dar; prouifam certa fe h~ agrauado na
dita interlucutoria ,_ e lhe parecer ao J:ulguador ne-
ceílarío. fazer algua bi;eue deligencia, pera poder
dar defpacho no d iro Eíl:ormento, fala-ha; e fe for de
tal q~alidade.a.. que_ fe nom poífa dar prouifam 'certa
' ' fc
20'8 Ü TERCElM LIVRO DAS ÜRDEN. Tff. LJife
fe he agra.uado , ou nom , fem (obre iífo fazerem
longua delígencia',poeram defembarguo, que fe nom
pode dar prouifam polo dito Eíl:ormento, que vaa o
Juíz inferior polo feito em diante , feqi nunca em
os taees Eíl:ormentos , nem em outros , affi de feito
-ciuel (ainda que fej~ dos Noffos Feito~) nem de cri-
me, nem de coufas tocantes a Refidos, e Capelas, ·
e coufas . piadofas , nem de ninhúa outra qualidade
que feja , _afli os Juízes Superiores, Defernbargua-
dores , Corregedores , e Ouuidores das Noffas Cafas
da Sopricaçam , e do CiueL, Corregedores das Co-
marcas , e Ouuidores dos Senhores , e Fidalguos , e
outros quaefquer que dos fobreditos agrauos conhe-
çam, poderem auer os autos por apellaçam, nem po-
nham tal defembarguo em ninhuu agrauo, que a
elles venha das ditas fentenças interlucutorias, nem
d'àutos extrajudiciaes : e qualq'uer dos ditos Supe-
riores, que ouuer os autos por apellaçam , paguará
cem cruzados de pena por a primeira vez, ameta-
de pera a Parte, e a outra pera a Noffa Camara, e
os
mais as cuíl:as aa Parte , que fobre iífo fezer , e
autos, e feitÓ que fobre i{fo fe fezerem , fejam ni-
nhuus; e pola fegunda vez , aalem das ditas penas,
feram priuados dos Officios , pera os n;ais nom po-
dére m f eruir.

. rr I•
DAS APELLAÇOENS DAS SENTENÇ. DEFINITIVAS • .209

T 1 T U L O LIIII.
Das eipellaçoes das Jentenças definitiuas.

T ODO aquelle que apella; quifer da fentença



defü:iitiua, fe for dada perante elle, ou feu Procura-
dor, apellará atee dez dias primeiros feguintes, con-·
tados d'aq.uella ora , em que a fentença for dada em
diante, com tanto que effe Apellante em eífe tem-
po dos dez dias nom faça alguü auto, per que aja
confentido em a dita fentença ; e no cafo onde o
Apellante e [eu Procurador forem abfentcs ao tem-
po da pubricaçam da fentença, contar-fe-ham os
dez dias do tempo que cada huü delles foi fabe-
dor, como a fentença foi dada. .
1 E DECLARAMOS; que o que quifer apellar vaa J
apellar a Audiencia perante o Julguador, que a
fentença deu, e fe norn . ouuer Audiencia primeiro
que fe acabem os dez -dia~ , vaa apellar p.e rante o
~fcriu~m, ou Tabaliam ·ao feito , e como fezerem a
pr1rtteira Audiencia o h irá notificar a ella; e fendo
a Parte 1 que quer apellar, fabedor da fentença de
que quer apellar, fóra do Luguar onde a fentença
for dada , em tal cafo hirá dentro dos dez dias,
captados da ora que o foube, a Audienc::ia do Juiz
, ·Ordinario quç for no dito 1Luguar, e hi perante elle
apellará, e pedirá, que dello lhe dern hüa cenidam
·do rempo em que apella, a qual lhe o dito Juiz Or-
dinario (perante quem apella ) mandará dar, pera .
~iv. 111. Dd hir
210 -O TERCEIRO LrvRo DAS ÜRD. T1T. LUII.

hir aprefentar ao Juiz, que a fentença deu , a qual


lhe aprefentará por fi , ou por feu Procurador, den-
tro do tempo que razoadamente poffa hir do dito
Luguar donde apellar ao Luguar ·onde a fentenl.
ça foi dada, contando a feis leguoas por dia.
2 E TANTO que a parte apellar da fentença , e
lhe for recebida a apellaçam, requererá loguo ao
Julguador, que a fentença deu, que lhe mande fa-
zer a apellaçam; e o J ulguador mandará logwa ao
Ta baliam ou Efrriuam, que teuer o feitei, qu-e a
faça loguo fem outra delongua, e o Tabaliarn ou
Efcriuam ferá bem deligente, pera o aili fazer, e
fendo negrigente o Julguador Õ coníl:rangerá , e
apremará, poendo-lJ:ie aquella pena ,. que lhe razam
parecer.·
3 E sE o A pellante, defpois que elle por fiou per
feu Procurador apellar, fe leixar eftar feis mefes
fem fazer tresladar a apellaçam , e atempar tempo
ao Apellado a que a vaa feguir, em tal cafo já nom
poderá mais feguir a dita apellaçam , e o Juiz que
a fentença deu a requerimento do Apellado aja a
apellaçam por deferta e n0m feguida , fendo pri- ·
rneiro o Apellante requerido pera a dita deferçam, ·
pera dezer fe ouue alguü juíl:o e legitimo empedi..;
menta, por onde nom .podeffe viir tirar a dita ápel•
la~am, nem enuiala tirar por outrem, o que auerá
luguar, pofto que a parte feja abfente, e nom feja
fabedor como feu Procurador apellou ; e pera efte
cafo deíla- deferçam nom ferá .obriguado citar ~
me-
DAS APELLAÇOtNS DAS SENTENÇ. DEFINITIVAS. 2q

rnolher do Apellante, poíl:o que feja fobre bens de


raiz: porem fe 0 ApeUante por fi ou por -feu Procu•
,rador fez atempar a dita apellaçam antre eUe . e _o
Apellado, poíl:o que o Apellante nom tire a apel-
laçarn dentro do~ feis mefes , o Juiz que a fentença.
deu nq>m poderá auer apellaçam por ·deferta ;. por .
que ne.lle cafo poderá o Apellado, pois já apellaçam
_he atempada, tirar dia d'apar.e cer, e 10 Juiz Supe- -
.rior a auerá por derferta , e nom feguida. ·
•. 4- E sE .dentro dos ditos feis mefes o Apellado
..quifer feguir feu ,dereito, por veer que o A pellante
quer efperar feis mefes, poderá citar o Apellarite,
~ a.ffi ,foa molher neíl:e cafo ; fendo fobre bens de
.faiz, e o ApelladoJ trazerá a procuraçam da f ua, e
J he far.á affinar termo pera feguir a apellaça m ; e fe
() Apellante. a nom tirar, elle tirará dia d'apare.cer,
;polo qu~l auerá prouifam : e quando o Apellante ~
.ou Apellado · ouuerem~ de feer citados pera fegui-
.mento da apellaçam, far-fe-há a dita citaçam em
peífoa da propria parte, poíl:o que tenha Procura- -
por. fuficiente, faluo fe a parte for abfente da .Co-
~arca; porque em tal cafo abaíl:ará feer citado (!)
feu fufi.ciente Procurador pera ello: e fendo a apel-
laçam de feito trautado fobre bens de raiz, e as .
·partes ou algüa dellas for cafado, fe o marido ·te-
.qer prot11raçam fu fidente da molher ·pera ·tal pro:.
,feg~imento pofl:a ·no feito., abaítará feer . citado o
mal!id~fo©rnenre, ;, e· nom a tendo, entaõ .fe citará ·a
,molher,. pera feguir a apellaçam , pofto que já foffe
citada pera a primeira iníl:ancia. · Dd 2 )
212 o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRD. TIT. LIIII. '
5 E TANTO que a apellaçam for acabada e con;.
certada per eíle Tabaliam , ou Efcriuam, e aféladâ
com o felo a que pertencer, ferá entregue aa part~
fe for o feiro ciuel , ou a hãa peffoa fegura fe o
feito for crime , affinando loguo termo de trinta
dias> a que com ella pareça perante o Superior, ou.
Superiores a que ouuerem de viir ; poderá porem o
Julguador ahreuiar effe termo, fegu-ndo"a diíl:anciá
do Luguar onde eíl:o acontecer : e nom a aprefen:.
tando ao dito termo fe guardará o que Diffemos
neíl:e Liuro no Titulo Da ordem queJe tn·á nas apef-
/açoés.
6 E SERA' recebida a apellaçam e atempada·
como dito he, quando a contia demandada ou a va~
lia da coufa fem as cuíl:as do feito pafiar de mil
reaes, ou .das outras fomas fegundo a diíl:inçam que
Diífemos no Titulo Dos Juízes Ordinarios. E fendo a
demanda fobre menos contia nom poífa a Parte
apellar, nem lhe feja recebida apeilí!çam, pofio que
-apelle ; faluo fe a demanda for fobre Dereitos Reaes,
-Ou fobre armas, ou penas d•arrnas, ou de fangue;
· porque em tal cafo poderá a parte apellar de qual,..
quer quantidade., ou valia, em que feja condenada,
e lhe ferá recebida a apellaçam.
7 E SENDO dada algãa fentença definitiua por
alguü J ulguadot, e cada hüa das partes apellar, feri.-
do caro de que [e deuerá receber 'a_pellaçam J e o
dito Julguador a nom receber, achando os Juizes
Superiores feer cafo d'apellaçam, e que ouuera
·de
DAS APELLAÇOENS DAS SENTENÇ. DEFINITIVAS / 21_3

de feer recebida, e o Juiz Inferior a nom quis rece-


ber, em tal cafo a recebam, e paffem Carta em fó~-
. ma acufiumada, e condenem o Julguador, que affi
a dita apellaçam nom recebeo, nas cuíl:a:s em do-
bro pera a Parte. E querendo a dita Parte profeguic
contra o dito Juiz feu intereffe J ,podelo-ha fazer J e
Mandamos que lh,e feja ,julguado com as cuíl:~s
fingelas e ficará .em fua efcolha qualquer deíl:as
1
que qu!frr profeguir , nom Tolhendo a mais pena,
que por out~as Noffas Ordenaçoés fam dadas aos
que deneguam a apellaçam, ou ,nom apellarn onde
ham de apellar.
8 E NO cafo que o Juiz Inferior recebetfe apel-
Jaçam d'algúa fentença ~efinitiua a algüa parte, e
a outra parte contraira o pofeffe por agrauo nos
autos, fem dello tirar Eíl:ormento , por dezer que
nom, era cafo d'apellaçam, os Sobrejuizes, ou outros
.Noífos Juizes, que de tal apellaçam ajam de conhe-
cer, pronunciaram fobre o dito agrauo, conuern a
faber, fe era cafo d'apellaçam ou nom, poíl:o que
lhe a apellaçarn .feja deuoluta; e achando que nom
era cafo d'apellaçam affi o pronunciaram , e nom
iram mais por o feito em diante.

,,

,TI~
. ~I4 o TE!lCEIRO LIVRO DAS ÜRD. TIT. LV.
T 1 TU L Q LV.
- .
;Das apellaçoes que fahem, das '!'erras das Orde1!s ,, e daí _
'l'err;as dos Fidalguos.

:T ODAS as apellações q~e fahirem d'ante os;


, Juízes das Terras clas Ordens, de-Chriíl:ãos, Santia-
;go, e Auis, e do. Efprital:, e ·bem affi das Tem!s de
. quaefquer Prelados, ou Fidalguos, e d'outras quaef-
quer peífoas·, aíli Eclefiafücas, corno Seculares·.
·que de Nós Jmifdiçõe& tem, hiram aos Mcíl:res das
ditas Orde~s em f~as Terras, e aos; 0utros Senhorios
-em as foas, ou aos feus Ouuidor-es, e delles viram as
apellaç0es . aos No fios Sobrejuizes , ou Ouuidores,
ou a quaefquer m1tros Noífos Defembarguadores, a
que o conhecimento das taees apeilaçoes fegund<t
. as qualidades dos fei.tos pertencer ; faluo fe a N offa
Cafa da Sopricaçam elteuer no Lwguar, onde a fen-
tença de que fe apella he dada , ou a cinco leguoas
de redor , por que em tal cafo fem mais hirem aos;
Ouuidores dos ditos ·Senhores, viram dereitamenre
aos Ouuidores da NG>ffa Cafa; porem fo os feu·s Ou-
uidon;s eíl:euerern clentro . daes ditas ·cifrco leguoas ,
em tal cafo hiram primeiro a elles.
1 E AS apdlaçoes que fahirem dante os feus
Ouuidores, ou dante outras quaefquer peffoas, a que
elles em particular , ou em geeral cometerem o co:-
nhecimento d'algü<ts apellaçoes , ou d'outrôs quaef-
quer cafos, de qq.e elles po!fam conhecer, nom hi-
ram
DAs APEL. o.1JE- sAHEM DAS TER. DAS ÜRó. ÉT e. i2I5

ram aós ditos Meftres, nem a outros· qaae.fquer ;~e­


nhores das Terras, donde as taees apellaçoes fu.hirerrr,
nem tomaram dellas conhecimento per fi , nem por
outrem, per maneira algúa ; mas dos ditos Ouui.;.
dores, ou daquelles a que as taees apeHaçoés forert:l
com t!:tidas, apellaram dereitamente pera Nós, e
Noffos De.femharguadores, e Officiaes pera iffo otde;.
nàdos, fem os dites Senhores tomarem mais conhe-
cimento das ditas apellaçoes.
2 E nom ameacem por fi , nem pm: Qutrem ,. aQ
Partes , que delles, e de feus Ouuidores apellarem,
nem lhe façam , nem confinta'in fazer ·coníhangi-
mentó alguü, nem outra fem razam; per que as
Partes nom oufem d'apellar , ou apellando nom
oufem frguir füas apellaçoês; e outro fi: nõm âêhe-
guem aos Apellantes as apellaçoes pera 'Nós , em
os cafos em que por Dereito, e Noífas Ordenaçoe'S
fe pôdem delles ápellar : e o que o contraito fezer
perca todo o Dereito, e Jurifdiçam que teuer, peta
viirem a elle as apellaço~s dós Julzes d'aquelle' LiJ1.
guar, ond~ efto acontecer ; é di em diante vel'füam
as apellaçoes .de.ífe Lugúàr ~dereitan1ente a Nó's , e à
Noífos Defembarguadores, como polos Reys Nof-
fos Predeceffores antiguamen'te foi ordenado; por:..
que ' fegundo Dereito, e gecral Cufiun\ e -de Noifos
Reynos, cm todas as doaço~s per és Reys~ feifas- frm.L.
pre ficaua refgua'rdacto ao Rey as 'a-pe!Wçoés, .é ju.4
fhça rüáior , e' outras cóufas que fiC:a ao Rey em
fin al e cohhecimeRte> do vniuetfa.l e füp1emo Se-
nhàrio. 5
·216 o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRD. TIT. LVI.

-. 3 ·'. J;:MPERÓ, fe a alguü~ forem outorguacfos prJ.,.


,uilegios polos Reys· paífados, que os feitos ciueis
·fezeílem em elles fim , ' fem outra apellaçam, nem
agrauo, e eíl:euere,m fem p re em poffe de vfar dos
dito$ . priuüégins , e fendo por Nós confirmados,
~Mandamos ,, · que lhes fe jam guardados em quinto
-~fãrem bem, e como deuem das ditas Jurifdiçoés ~
.e frm .dãno do pouo; porque nóm o fazendo ellés
affi ficará a Nós Procedermos contra elles , como
fo.ç Derei~p •.

· T I T U L O L VI.
'
teue todas as apel!açoés dos.Jeitos ciueis venham aa Gafa·
-. · . -. do Ciuet, e as dos crimes aa Corte; ·

.T Oda~ a; apellaço~s ~iueis,


.dos fd:tos que nom
forem fobre D erei tos Reaes, e de coufa q·ue perten-
ça aa. Noffa ]j'azenda, que fa.hirem de. qualquer par...
.t;e de Nollos Reynos.· , venli.am ·ao~ Noffos Sobrejui-
~es da. Noffa 1 Caía d@ Ciuel, que eíl:á em a Noífa
Cidade de Li xboa ;, e elles as defembarguem fegun-
do Q Regimento que lhe Temos d ado: emperó nom
;t~mar.arIJ _co.r;ihecimento da~ apell.açoes, que fahi-
·r em das ;Terras 4a. Raynha', porque eíl:a~ hirám a feu
.Ouuidor, que·aHda em a Noffa Cafa da Sopricaçam;
nem conheceram os ditos Sobrejuizes iífo mefmo
,das apellaçoes _, que fahirerµ do Lµguar _, onde Nós, .
\ .. .' :OU ·
QEE TODAS AS APEL. DOS FEI'T. civ. VENH. ET e .. '2 I 7

ou a dit~ Noffa Cafa da Sopricaçam Eíl:euermos, ou


a cinco leguoas arredor, as guaes fernpre . viram aos
Noílos Ouuidores , que andam em a NoHa Corte.
como fempre . foi de curtume; faluo eíl:ando a . dita
Cafa da Sopricaçam em. a dita Cidade de Lixboa,
ou em qualquer outro Luguar onde a dita Cafa do
CiueI eíl:euer; porque em tal cafo nom conhecer:im
os ditos Ouuidores das apellaçoés dós feitos ciueis
da dita Cidade e feu Termo, mas conheceram del-
las õs Sobrejuizes , como de todas as outras que vi-
erem de qualquer parte do Reyno, fegundCíhe con-
theudo no primeiro Liuro, no Título D os Sobrejuizes.
· r E AS apellaçoes dos feitos crimes ·viram de to-
do o Reyno aa Nõílà Corte e Cafa da Sopricaçam,
e fcram viíl:a~ e defembarguadas per os Ouuiciores
em Rolaçam; faluo as que fahirem da dita Cidade
de Li~boa, e de todos os outros Lugu ares da Eíl:re-
. madura, q~e ham de hir a Noffos Ouuidores ·da di-
ta Cafa do Ciuel ~ com .tanto que nom fejam das
. Terras da Raynha, de que ha de conhecer feu Ou-
uidor, nem das Terras dos Meílrados, que ham de
viir ao$ Ouuidores-da dita Caía da Sopricaçam, 01,1
d'.outros alguús ,Senhores que per priuilegios tenham
de nom entrarem em fuas Terras' os Corregedores.
das Comarcas ; . porque as apellaçoes deíl:es Lugua-
res hiram aos Ouuidores da Cafa da Sopricaçam. E
eftando a dita Cafa da Sopricaçam :cin cada huu
dos Luguares da Eftremadura, as·apellaçoes do di..;.
to Luguar, e dos _q ue efieuerem arredor cinco leguo..
. Liv. III. Ee a~
218 O TERCEIRO LrvRo DAS ÜRDEN. TrT. LVIJ.
as viram aos Ouuidores da dita Caía~ e ·nom aos da.
Çafa do Ciuel: e eíl:o nom auerá iuguar nas apella •
..çoes da Cidade de Lixb.oa, e feu Termo; porque eíl:as
.ham de hir aos Ouuidores da dita Cafa do Ciuel,
poíl:o que a Noffa Cafa da Sopricaçam eíle~ em a
dita Cidade, ou dentro das cinco .leguoas de lia, co..-
mo dito Auemos no primeiro Liuro, no Titulo Dos
Ou-uidores.

T I T U L O L VII.
!f(ue quando os Juízes da alçada acharem que o .Apellado
· he agrauado, deuemno dejagrauar, poflo que nom
apelle.

N OM foomente proueram os Juízes que das apel..


façoês conhecerem aos A pellantes, quando per os
proceífos acharem que lhes he feito agrauo pelos
Juízes de que for apellado , mas ainda que achem
que o Apellante nom he agrauado, fe acharem que
ao A pellado foi feito agrauo, prouer-lhe-ha m, e cor-
regeram, e emendaram feu agrauo, poíl:o que nom
feja per elle, nem· per feu Procurador arcllado, nem
aleguado dfe agrauo perante os J uizes da alçada.
I EMPERÓ, feno cafo da ápellaçam, perante os
Juízes que della conhecerem, o Apellante que nom
foi agrauado per a·fentença do Juiz principal, de. que
apellou , renunciar eífa apellaça~ , e fe oferecer pa..
guar
~E o Jurz D~ .QlJIMffiI AP.EL. ~O.M POS. ENQV. ET c. H9
guar ao Apellado todas as cuílas, que teper feitas
á cerca. de todo o proce!To ~ poder- fe-ha decer da
apellaçam em todo o tempo, ante que o. feito feja
finalmente defembarguado per os Juizes da alçada,
e cffes Juizes norn poderam nem deuern mais de tal
apellaçarn canhecer , nem poderam defagrauar o
Apellado , pofto que polo feito achem que foi agra-
uado pelo Juiz pr"incipa'l; pois e.lle nom apellou, e
o Apellante fe deceo d'apeUaçam, que he auido co-
mo fe da dita fentença nom apellaffe • .

T 1 T U L O L VIII.
, ~te o Juiz .de que foi apellado nom pojfa enouar algüa:
coiifa pendendo a ape!laçam.

S EGUNDO defpofiçam de Dereito tanm qbe a


apellaçam he .antrepofta , a ili da fen tença interlucu_.
toria de que fe pode apellar, como da definit.iua,
loguo a Jurifdiçam do Juiz de que he apellado he
fufpenfa, em . tante, que pendendo eífa apellaçam
nom poderá já mais eaouar coufo. algúa, nem- at.en,.
tar, atee que o artiguo da apellaçam .feja finalmen-
te determinado: e efto auerá luguar, poíl:o que a
· a apellaçam nom feia recebida per effe Juiz de que
foi apellado; porque em todo· cafo, em )ue per o~
Juizes da alçada for achado que foi bem apellado,
fempre reuoguaram todo aquello que acharem feito•
. Ee2 ,. e
··. 220 o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LVIII.
e atentado defpoís que a apellaçam foi antrepofta co~
mo dito hc , e afli o que foi feito , e atentado def-
pois da fentença feer pubricada, atee a apellaçam
feer eni:repofta.
1 Prnó fe pendendo a caufa na apellaçam ..os
Juízes da alçada acharem, ·que o Apellante conde~
nado em algí.la coufa de i:aiz difiipa, e guaíl:a os
fruitos, e rendas della, mandaram eíles Juizes fo-
creftar efTes frui tos e rendas em maõ dt; huu ho-
mem bom , leiguo, e fiel, e abonado, que os tenha
em feu poder, atee que eíla apellaçam de todo feja
finda e determinada, pera entam ferem entregues
a quem for achado que pertence de Dereito.
2 E Posro QYE o condenado Apellante nç>m
gtlafle , e confuma os ditos fruitos e rendas 1 corno
dito he, fe o Apellado requ_E.rer que fejam efrri:-
ptos em cada huu anno , e poíl:os em inuentario-,.
pera virem .a boa recadaçam J e nom recrecer fob;·e
elle~ duuida e demanda, os Juizes da alçada o man.,.
daram affi .fazer per Tabaliam pubrico, ou alguií
ou tro fiel Efcriuam, onde . Tabaliam nom ouuer;
ficándo porei:n a coufa e fruitos della em poder-delre
condenado , atee o feito feer findo, e fe determinar
o que for Dereito." .

TI~
DA MAN. Q!J'E SE TERA' QYANDO o Juiz, ET e. · 221

T 1 TU LO LIX.
Da ma~eira que Je terá , quando o Juiz nom recebe a ·
apellaçatn da.jentença interlucutoria , f manda dar
Ejiorrnento aa Parte.

QUANDO algüa Parte apellar d'algüa fe~ten...


ça ínterlucutoria , e o Juiz lhe nom receber a apel-
laçam, fe o Apellante pedir_Eíl:orrnento d'agrauc) aq
Tabalíam , ou Carra teíl:en:iunhauel 'aO Efcriuam do
feito, e o Jui,z mandar~ que lho dem ~om fua re--:
poíl:a , e com os autos do proceífo, fe a Parte norn
quifer leuar tados os autos , por lhe nom ferem ne-
celfarios penl defpacho. de.feu agrauo, o Juiz feja
obriguado d_e dar loguo fua. repoíl:a por, palaura ao
r~querimento qo Apellante, ou por. efcripto , atee
dous dias contados de roornento a momento, decla,.
rando na repofta. aq1telles.autos.foomente do,pro(;ef..,
fo, que pert'<:ncerem a eHe agrauo ,.. e mais nam •
.por os 'quaes autos elle ,poíia moftrar., como nom
..agr1_luou a dita Par.t e; e fe_. a Pane r.e pricar a eífa re ...
.poíl:a dada_. põr o. Juiz ., dee ·o Tabaliam, ou, Efcri ...
.uam Carta teíl:ernunhawel , , com o reqµerimento -da
,Parte, e repoíl:a do Juiz, e reprica . da Parte apel-
lante, ou agrauante , fegundo mais cor.npridamen-
tç Diífemos no Titulo.Dos 'Ta.baJiaês d4S Notqs,, dan~ .
,do fua fee e teíl:enrnnho no Eftormento ·, pu Cana,
0

fe aquello que. he dado em :repofta pG>l 0 Jujz, e re.:


pricado. .pala·Parte agi:auante, he ·am na .v:e~dade, ~
' ' fe .
2Q.2 .Q TsRcErno LrvRcf DAS ÜRE>EN. -TrT. LIX...
fe cont~m affi·-rio procelfo, -como- per elle he dito, '
em tal guiía, que os Juizes d"I alçada, poífam pola
_fee, e tdl:emunho de!Te Ta baliam , ou Efcriuaril,
feer perfeél:atnenre·enformados na verdade, pera da-
rem defpacho no agrauo, corrio acharem. por-De-
rei to.
:r E o TABA'LIAM, ou Efcriuam, que fezer Eíl-or-
nrento, ou Cart(l, a faça em tal guifa, que feja con-
forme aa verdade:, e aos autos do feito, de que fa-
hir o agrauo·, e-nformando-fe compridamente per o
procdfo , per manei•ra q.ue nom feja defpois achado
t> contrairo ; porqlJ.e achando-fe polo procello que
deu a dita fee , e teíl:emunho mal, e como nom .de-
uia, paguará aa Parte todo o dâno; que por ifTo -re:..
ceber, e cuíl:as ·que fezer, e mais ferá -priuado do
Officio , e ferá degradado quatro annos pera cada
huú dos Lugt;1ares d' Africa. ·
2 . E NOM querendo o Juiz dar fua repoíl:a na
maneira , ,e no tempo que dito he, Mandamgs ao
Tabatiam, ou Efcriuam do feito, que dee Efrormen-
t0, ou Carta teftemunhauel do dito agrauo aa Par-
t-e apell~nte , ou agr<ruante , com o tre.slado foo-
ínente daquelles autos· do proceífo, que por fua par-
t:e {orem requeridos, pef·a por. ef!es amoíl:rar como
!)e agrauado ; e em todo cafo receber~ o dito Ta-
baliam ,. ou-Efcrüiam , ·qualquer 'refp•o fta, que ;a ou..
tr~ Parte, a que tocar, quifer dar, •e a eféreu·erá •n0
Eílotrnento , ou .Ca:rta · teíl:emunhauel', e o entre-
gua-rá aa ;Patte ao térmo e na FnanéÜa -que dito ~Aue:-
mos
DA MAN. Q!!E SE· TERA' QJJANDO _O JuIZ ' ET e. 223
' .
mos no primeiro Liuro , no Titulo Dos 'l'abaliaes
das Noias, no parraf~ . E je algíia ; e fob as penas
nelle contheudas ; e fe os autos, que o Juiz, ou a
Parte contráira derem em repoíl:a, que .o requeren-
fe nom quifer leuar, .a Parte contraira diíler que os
quer paguai, e requerer que vam no, Eftormento;
o Efcriuam, ou Ta baliam os tresladará, e meterá no
dito Eílormento, ou Carta teíle,munhauel, "àinda
que o requerente o recufe, e nom paífoni o EHor-
mento fem elles.
3 E MANDAMOS, que os ditos requerimentos, e
tepo!las fe nom ponham no feito principal, foomen-
te eíl:em na maõ do Efcriuam apartados do feito, e
o feito fá por diante; e fe fe ouuei: defpois tresladai"
a apellaçam do dito feito, nom fe treslad~ram os
ditos requerimento.s e repoíl:as na dita apellãçam;
porem íe ca:da 'húa-das Partes requerer, que fejam
tresladados na dita apellaçam, tresladar-fe-ha aa cu-
fia daquelle, q_ue o requerer. .
o
4 E MANDAMQS, que dito Eílormento, ou Car-
tâ teíl:emúnhauel que ,affi tirar, feja aprefentada per...
ante o Juiz Superior , a qtie pertence, 'àentro de
trinta dias, éontados do dia que agrauar da fei1ten~
ça interlucutoria ; com tanto que agraue dentro no
tempo , cm que fe pope apellar das fentenças inter~
lucmorias, ou definitiuas, fegundo Notfas Ordena-.
çoês : e nom a ofer.e cendo dentro dos ditos trint"
dias, ·nom lhe ferá ,dada, Pronifam , ~:nem ferá maiS: .
~obre o dito- agFauo ouuido, ·pofto .que polo Eftor~
men..
224 o 'tERCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LIX •
. ,
menta -, ou Carta teftemunhauel fe moíl:re, que he
agrauado; faluo fe o Tabaliam, ou Efcriuam , que
paífar o dito Eftormento, ou Carta .teílernunhauel ~
der fee que riam efteue polo que aíli tira o dito
Efiormento de o nom tirar · mais cedo ; porque em
effe cafo fe contaram os trinta dias do dia que lhe
o dito Tabaliam, ou Efcriuam acabou o dito Eftor-
rnento , e lho entregou:. e porem fe o dito Eíl:or-
mento fe tirar d'ante alguu Julg~ador de qualquer
das Nolfas Ilhas, ou d'outro Luguar de Nolfos Re y-
nos , e Senhorios, donde nom podem viir aa Naifa
· Corre por terra , o Juiz donde fe tirar o dito Eíl:or..:
mento lhe affinará termo conuinhauel, a que apre-
fente o dito Eíl:or menta, fegundo for a qualidade do-
tempo, e a d-iftancia do clito Luguar danei~ fe tira.

TI -TU LO LX.

Da Jentença ·' que per Dereito he ninhüa , je, nom re-


quer.e j eer apellado, e ·Cm todo tempo podefeer re-
:. uoguada.

Q, UANDO a fenten~a -he. per Dereito ninhüa ,


nunca já mais em tempo alguü palra em coufa .jul~
guada;, mas. em rodo tempo fe pode poer contra el-
la, 'que he ninhüa, .-e de ninhuü valor, e fe:m alguü
. efeél:o , e por .ta1 ~to nom he r.teceífario feer ddla apel-:
ladg. E he per Pereit9 a fentença nixi}lüa ,, quando
he
he filada fern a parte feer primeiro dtada; ou be
·coirtra orxti::i fen'teAça j.á dada; 'ou foi da<la por peita-1
ou preço, que o Juiz ouue ·; ou fe foi da<la per falfa
pTOUa; ·OU fo eram muitos Juizes deleguados > e al-.
guüs deram frntença fem ·os 'outros> .ou fe foi cladài.
per Juiz incornpettFlte) etn parte) 'OQ e-m todo·; O\l'
quando foi dada contfa Dereiro exprdfo, a1Ii .conro
fe . o j criiz j:ulguaile dereitame-nte, qu-e o menor de
quatorze annos podia fa'ler .reft-amenro., ou .podia.
feer tefternunha, ou outra coufa feme'lha11te. q'~
feja contra Dereito expr:eíio-. ou Nolfa Ordenaçam •.•
1 E rosrn . QYE. de tal fentença feja apellado 1
nolill ferá po·r ~ffo .feita per Dercit-o oalgúa. aj:rida qué
a a.pellaçam pa:reça auto ·aprou-atiuo ·della. por que
parece o :A pellante aprouar a dita nullidadc; porque
pois a fcmença do começo foi ninhua·, já per niRhuii
<auto feguinre pode' feer confirmada-; fahro fe per
Nós de certa fciem:ia for ·confrrmada, porque o Rcy
he Ley an.irnada fobre a te'rra , e pode fazer Ley, e
r~1:wg1:1al}l .. quando viir que túlilpré de fe alll fazer.. ·
2 EM P'EilÓ fe o J ui:z; julguafie ·c ontra 'O dereito
\la parte , e nom ·contra Dereito ·expreílo, ilom (era
a fer.itença por Oereito niahüa. mas he dita a1gúà.,
poífo que feja dada contra ·o dere-ito da patte 'Con-.
tra ·que foffe dada: e por tahto he .neceffarl.õ. qiie a
parte apelle de ta-! fcntença -~w tempo limitado pen
apd.lar; porqu~: non'l apellando"' ficatá a f€'.ntença frr""
me,. coino fe foffe bem julguado; faluo (e o fei·r0
-for crime, em que a Juítiça aja 11lguari ·pocql<le ·ep'l
· Liv. Ili. Ff · tàees
·'

~~6 Q TERtEH~o L~vR.o. J;>As On.o... Tr'.l'. . LXL

~es. cafo$ os Juiz~s , .apellar.am por parte da· J:ufü ...


~a'· poft9 que .a,s partes norn apel!'.".m , como fe dirá
ma,i.s com.prida~1eote no ~into _Liui;o. E pode-fe
poer . ex~mpl~., . qua!1d'<?"º Juii: julgua contFa o de-
{Çitp d<t pllrte.,. e norp ,contra Dereito. expreífo , aíli
~om~ fe. foífe . contenda Sobre o. teftamento d 1alguü
menor -~~._quat;or~e annos ,. d!zex:ido-fe _por hüa _par..
t-c .,. q4e· .O·, 'fe~~c,locera .menor . de quatorze annos
ao .~~~po qu.e fez. ote.ftamenro, e da out1a parte fc.
dilfeífe,, que erl} maioi:,. e pofto q1;1e . polas inquiri..
5oé'.s _fe prouaífe ... qu.e era .roenoi; da dita idade ao·
dito. teJl1po,, o Juiz. ju-lguou o dito teíl:amento por-
bom e va:liofo, norn aue.ndo i:efpeito • coma he por
DereitQ dete.rminad0< ,. que. <;>.tdlamento feito per o
menor ck .quatorze .annos.: he ninhuü •. mas ouu~·
I.efpeit9', cornp.. fe nom prouaua frer menor, fenc4l
porem pr:ouad~. o.contrai~o palas inquiriçoes ..

T J. T U L . O LXI..
. .. .
'(11.a11.d~ poderam:apetlar da e.xecuçaf!Z . da.ftntenfa ; t d4
· dçç/arar.amJeüa nella.

T RES ma~ei;as. ha hi d·I! ~xecutores. ;


huüs fam
exeçutorcs de .feito , affi como fam Porteiros , . AI.,, _
c:aides , Meirinhos • q~e fam deputados per.a exc.
,c:ut~r as ceufas .da J1,iftfça., e de tae~s eoma·eftea .9
fi.UC np~ 1te.m iHr-ifdiçam > n~m po.dem tom~r co,.
nhc-
~ANIJO POD. APEL. DA EXECUÇ-. f>A R-NT: :É•fc.• 227
11he-címento de contenda, !\em feito alguu, foomen ..
te fam dep1'1tados pera fazerem o que .lhe~ ma:n.;
cfam , fe nom pode apelfa.r ·; mas q11anido elles paffa~
rem o que lhes .for mandado-, e fizerem o que nom
deuem, agrauar-fe-ham ào J u·lguirdor, que mcaÍidoa
fazer a execuçarn:, pera que corregua: o agrauo, q.ttC\.
per 0 executor for foi.to; e qtrand0 o Julguader ·()'
t:torn correger, podetam delle apelfar,, fe1iâ'O' a com.-
tia ta1 de que Ie poffa apetlar..
1 OuTRos exeoctores. ha h'i., que lê dizem de -
Derefto, e efres· fam em
duas mane.iras, ltiia he;
qoando Nós Cometem.os ~ e-xetuçam c:l' algua fen ..
tença dada por Nós, ou por Noffos Oeferti ba:rguado ..
.res, a·a'lguúÍ Julgt!aclor ., e di~fte fe pôde apeUai.", ·fe
ieue exceder o modo d~ e:xecuçam..
" 2 E@ modo da exe<;:HÇan.'l fe pode ·exceder per
bí.ia de quatro· maReiras. h hiia. he) fe o ·ex~·curor fat
icxecuçam em maior quantidade · d.o que fe 'c ont'em
na; fentença ~ a oufra he) quando faz ·e~etuçam . em
trnitra. c011fa, e:rrnm nàquella, que nà frnrença h e
1

CotRhe'!llda.; a oratr:t' he, q~1a.n:<i0 ·faz . exeéh~::tm . fem


dta<:r a parte , c0ntra que fo a ex-e«:uçarri. ruandét\fa!.
z·er~ nos. cafos em qtre podOereito ~·eue 'p"rvrneiivà:. ·
m'ente féer ciratla, feg'undo ·Di'l"etnàs río Tltld<J' Da!s
~ecuç~l!'S ;· a ·outt~ he, quandõ a pa.trte êor.tdenadá- a.1e•
~a embargu_!iÍ a e<xe~u.Çam: taeés.êauf~s.~ eernba:r..
guos , que ft:gundo Deteito deuem ·feer ,t"e·c«~htdó'S~
que fam aquelles que defpois da fentença defini"tioa
te podem poer , e aleguar , e o executor lhos nom
~ J ·,,_ Ff 2 rece·
228 Ô 'TERCEIRO L1.vRo DAS ÜRD. Tn. LXI'. /

.fecebe·; e porem excedendQ o Julguador o modo da


cxecuçam per cada hüa das ditas maneiras , po-
deram licita mente ddle apeHa.r..
3 Ou~ro ex.ecutor ha hi,de Denúto,.que he quan-
d.o ·Nós Cometemos. a. &lguti, a. execuçam d'algüa.
·couf~, que· nom he-per. Nós, nem per outrem jul-
guada·> nem precedeo. fobr.e elfa conhecimento al..;..
gu.ú ;.-2 qual ,, pofto que no. mandado da. execuçam
lhe nom feja comet'ido. conhecimento alguü, deue
eonhecer;·do neguocid principal ,. affi como fe a elle
foífe ·expreífamente 'cometido.,. e ·enformar-fe-ha da
Y.erdade··> fegundo.a> relaçam que per a pai:te Nos-fo~.
feita conthrnda n·a Carta da comiflàm ; e de tal
executor. como efie fe po_d erá apellar em todo cafü ~
affi como de qualquer outro ., a que feja cometido a
conhecimento de todo g neguoc!o principal, re·ª·
contia for tamanha·,. àe qµe-fegundo Noffas· Orde....
naçoes fe poífa. apell.ar-•.
4 Outro s1 por quanto·todo Julguador pode per
Dereito. a todo umpo declarar, e interpretar · fu~
. ttntença ~- fe em dla ouuer alguas palallra:s , ou deci"'!'
fam duuidofa • fo a; parte, contra que afii for feita
a dita declaraçam, ou interpretaçam ,. fentir que hc
tii~o agrauada, poderá d<dla apellar. e fer-lhe-ha
.i:eeebida apellaçam; com tanto que ~pellc ao termo
.dp Dereito ,__e a quantidade feja. tal >. em q~e caib~,
.~~pella~~lll·. . . . .

r '
' ~ANDO POD. APEL. _DOS AUTj QYE SE. FAZ. ET e. 229

T l T U L O LXII.
f<uando poderam apeitar dos autos, que je fazem fora ·dp
Juiz.o, t de que ejdlafaram as protejiaçoes, que /e , fa-
zem fóra delle.

H A hi alguús autos extrajudiciaes,. que fe trau-


tam e fazem em modo de jurifdiçam , e eíl:es con-
uem foomente aas Vniuerfidades das Cidades , Vil-
las, e Concelhos , Collegios, e Confrarias , e quaef·
quer outros femelhantes, quando juntamente fazem
alguüs al)tos , que per fuas Ordenaçoés antiguas e
fentenças . lhes pertence fazer em. fuas Vereaçoés,
ou Confrarias; e deíl:es podem licitamente apellar
· { pera Nós, e, Noffos Defembarguadores, e ,Qfficiaes
pera iffo ordenad(}s ) quaefquer partes ; que fe fen-
tirem agrauadas dos autos per elles feitos; faluo fe
os autos forem taees, que fegundo Noífas Ordena-
çoes, ou priuilegios que lhe per Nós forem dados ou
confirmados , façam fim , e acabamento em elles
pá fua. determinaçam; porem em tal cafo, pofto
· que· nom poffam delles apellar, poder-fe-ham agrae-
uar a Nós por fimprez querela, fazendo primeira-
mente requerimento aos Officiaes da Vniuerfidade,
do que fe alguú fcntir agrauado, declarando o agra-
uo ,_-que·lhe he feito, e requerendo que lhe -feja cor-
r-cgido, ~ emenda~o com dereito ·e joíl:iça ; e quan•
do lhe not,n ·for .emendado ., peça. Carta teíl:emu nha ..
uel., ou Eftormc:nto d.' agrauo, com a repofta dos Of-
fi,
1J.O O TeRcnIRO L1vRo DAS ÜR[). Tr'l'. LXII. -
iiciaes,, .pera. Sermos enformado per as taees efcri ..
~turas., fe a dita parte he agra~ada, e füe Prouer~
'mos cerno for juftiça. ·
'· 1 E 1u fo outrns autos extrajudkiaes, qu_ e fe
morn fazem per mod9 e vfa de ju1ifdiçam, nem
pertencem a muitos, cerno Vniuerfidade, mas a
íing1.11la,re~ pefloas , e deites, fe forem taees que po-
nham .fim a álgúas demandas,. nom poderam del~
.}as apeJ:Ia:r aquellas partes, de cujo prazer -e confen...
-timefito os taees aútos foram feitos , mas p.oderam
dellas apellai" quaefquer outros, que fe d.i.guam da-
nificados polos ditos autos) declarando nas apella ...
.ções. r~zam .-legiti ma, . e aprouada, pe.r que delles
.apeUam., aíli como fe d-iíforem, que os ditos au-
·1os faJn em fraude., e d.ãnG .delles Ap.ellantes ; e po...
de-!e. poer exemplo., fe dous litigantes litigü:iffem
fobre hifa -eoufa, e fezeifem . tranfauçam .. ou jura-
meato fobre effa demanda e.m perjuizo. d~alguú
terGei°w ~ os que affi fezeffem .a çlita "trarifauçam .no1'1)
p.Gderam 'llpdlar,. !TIªS aquelléS, em cujo. .fraude :e
perjl!liz'O. feito füfftt, poderam. apeHar~ deçfara.ndo n~
-apella-ça.m a razam. lidima -e aprouada d~ fraude e
enguamo t ; por. q.ue-a fii foi fej'ta a dita!tranfau'ça m, ·ou
}ura-ment-0 em dãao e petju.izo .do.s· Aptt'llantes » .e
H>iP>aram. Efto1'men-to pubd:eo,da' dita. apel'1açarµ -,.·:ct
aprefonta-tó-.hi\tn a@s.Sobreju.ii·es-, ou quae:fquerou;. '
tros, Julguadores í a que-o C()nhecimento per,çericer;
os :quaes { :.,.iíla a apeUaçaO\ ) mandaram tomar. ao
pr.imcivo~ eíl:açlo ·todo Clqucl'l() que.for feito,. e at~ll-L
7 .1 ta-
<iEAN·I:>O ]>QD." A.PEL~ D©S AUT •. Q!'~ SE FAZ. l't C. :231

tad0 em dãno dos Apellantes., defpois da apell:aça·m


feer antrepofta. ' .·
2. E:BEM·affi f.e ~lguús Partidores, e Aualiadóres
cfcolheitos per al:güa Cidade , ou Villa, ou a prazi~
mento de partes, fezerem algtii paniçam,, ou aua ...
liaçam, de que fe algíía parte fentir a grau ada, . po-
derá de tal aualiaçam ou ·partiçam apdlar, com tan..:. .
to que a dita. apellapm feja amrepofta· atee os dez
dias., que fam .dados pera apellar,_e o ./\peHante de~
~lare na apellaçam a caafa legitima, e razam do
agrauo, que lhe he feito ·na dita partiçam, ou aua-
- liarríento ,,_per que fe fonda apdlar:: e efta apdlaçam
tem tal efeét:o, que todo aquello, que for a:tentado
defpois que aili for antrepofia,. ferá per os-. J.iúzes
da apellaçam tornado, e re_fütu:id0; ao primeiro eíla.-
do em que ante cílaua; peró fe a parte agi;aua_da '
per a dita partiçam ou aualiamento nom quifer
apellar; poderá . reqúerer o Juiz da Terra ·,,_ implo-
rando{eu Officio, recontando-lhe compridamente
a razam de feu agr:auo, e pedind·o~lhe que lhe fa,..
ça reduzir a dita par~içam ou aualiarnento_ ajuizo
de bons homens, ·djgno& de fee, e fem fufpeita, em
que fe as ditas partes louuem,. ou os ·efcofüa .o Juiz
de íeu Officio, nom íe querendo a.s panes Iou.uar : e
fendo tal ·r.eq.uerimento fei:to ao. juiz, e achando
feer agrauadô no cónth.eudo em feu requerimento,
manda-lo ..ha affi·comp.rir; os; qu:ies ·homens bons
"Cjarn' Je ~ .dita paniçafl) e 'aua1iaçam he jufta ) e
fcita.c.olilU: .cl.e.ue , 0.u ,fe hc a p~rte em dla agrn11ada, /
e
:232 O T _ERCElRO Lrv-a.o DAS ÜR.DEN. T~T. LXtl.·
e.correguam o ag;auo, que -.a~ha-rem feito, .e po..
nham: _todo em tal igualança , que as partes nom
recebam dâno : per<?, porque a parte nom rcquereo
eíl:o per vfa da apellaçam , · nom fará o Juiz algüit
cnot:1aça!Jl acerca do feito atentado pe·r a primei:.. :
.-ra aualiaçam ou partiçam., atee -que veja o que oi; ·
fegundos e[colheitos fobre dlo fezeram _• e acorda-
r~m, e determina-mm; e aqueUo faça aHi comprir; ·
.a uendo-o por coufa finda., e determinada , fem ou-
tra deloRgua.
·3 . E.ourn.os autos e:x:trajudtciaes ha hi, que noni
. poeltl fim aas demandas; e eíks [am .em tres ma-
neiras 1 porque ha .hi huús que fam começados, e
acaba.do~, ,e ·outros . que fam começados, e nom
acabados, ·e ·outros que nom fam >Começados J mas
foomente fam cominatorios. No primeiro cafo nom
fe .pode apellar de taees amos, mas fam peli De-
reito introduétos outros remedias . de prnuimen-
to, a que chamam interdiflos recuper.atorios, irer 01
quaes·~ fabida a verdade fumaria mente, todos os au ..
tos feitos e atentados fera~ tornados, e reíl:ituidos
. ao primeim eftado; ,affi como fe-huü homem esbu ...
lhafie outrn de a~güa coufa. que dle p0ffuiffc pa ..
c:ificarnente , 'Cm tal cafo nom fe acha por Dereito;
que de tal auto poifa apelfar, mas he dado o dit<J
remedi o, que fe chama interdi"élo •.per o qual ( prn-
uando eHe com0 foi i.njuíl:amente esb111hado ) fer-á
foguo reftituido aa paíle da cou'fa, fern outro em•
barg1rn ~ nem ferá o ·q~e esbufüou releu ado da dita
re-
~ANDO POD. APEL: DOS AUT. Q!JE SE FAZ.ETC. 2JJ

reftituiçam, ainda que digua , que a coufa csbulha-


da he fua, e tem em ella propriedade, ou qualquer
outro dereito.
4 No fegu.ndo caío dos autos que fam começa-
dos e nom acabados. he achado huü foo cafo em
Dereito, em o qual ( pofto que nom podem apel-
lar ) podem denunciar , fegundo vfança de cada
huu Luguar, a qual denunciaçam tem tanto cfeéto
e viguor, como apellaçam ; conuem a faber, quando
alguem edifica nouarnente algüa obra, · que a ou ..
· tro, he perjudicial, tolheiido-lhe a viíl:a ·de fuas ca-
fas ou algúa outra feruidai:n que lhe feja deuida •
pode aquelle a que fe affi tolhe a dita viíl:a, ou fer-
uidam, per fi denunciar ao dito edificante, lançando
certas pedras na obra, fegundo Dereito e vfança da
Terra, que mais nom faça naquella obra, pois a elle
he perjudicial ~ e defpois que aquella denunciaçam
aíli for feita, fendo mais edificado na dita obra, o
Juiz da Terra, fendo pera iffo requerido, manda-
rá desfazer todo aquel_lo que afIJ mais for edifica-
do, e defpois· que todo for tornado ao primeiro
eíl:ado, entam tomará o Juiz conhecimento da du-
uida, e contenda , e fará dereito aas partes.
5 E Q.!J A NTO ao terceiro cafo dos autes extraj u-
diciaes , que norn fam começados , mas cominato-
rios, Dizemos, que a parte que fe teme ou recea
feer agrauada per a outra parte , fe pode foccorrer
aos Juizes da Terra, implorando- feu Officio, que
o prouejam como lhe nom feja feito agrauo.
Li'll. IIL Gg 6
234 O TERCEIRO Lrvtto DAS ÜRDEN. TIT. LXII.
6 E PoD,ERA' ainda fóra do J uizo apellar de t<il -.._
cominaçam, conuem a faber, pocndo-fe fob pode- -
rio do Juiz, requerendo, e protefl:ando de fua par-
te a aquelle de que [e teme feer agraÚado, que tal
agrauo lhe non faça. E fe defpois do dito requeri,.
mento, e protefl:açam affi feita, for algúa -nouidade
cometida, ou atentada, mandará o Juiz ( [e for re•
querido ) tornar, e: reílituir todo ao primeiro efta ..
dó' e em tal -proteftaçam ferá inferta' e declarada
a caufa veriíimel e razoada~ por que affi proteíl:ou;
pode-fe poer exemplo, fr alguü fe temer d'outro •
que o queira ofender na pe!foa > ou lhe queira fem
razam ocupar, e tomar fu<is coufas, elle poderá ( fe
quifer) requerer ao Juiz, que fegure a elte e a fua~
coufas do outro, que o quifer ofender, a qual fegu-
rança lhe o Juiz. dará;. e fe defpois della elle rece-
ber ofenfa daquelle de que foi feguro ,_ reíl:ituilo-
ha o Juiz, e tornará todo o que foi cometido e aten-
tado defpois da dita fegurança dada , e mais proce-
derá contra aquelle que a quebrantou, e menos pre-
zou feu mandado, como achar por Dereito.
7 E SE alguü nom quifer hir dereitamente· ao
Juiz, póde fóra do Juizo proteíl:ar a aqueile de que
fe recea feer ofendido na peíloa ou bens, fometen-
do-fe, e poendo-fe fub o poderio do Juiz, reque ..
rendo da fua parte que lhe nom faça tal ofenfa •
deêlaranc;lo algüa jufta caufa e verifimel razam em
que fe funda fazer a dita proteftaçam; e fe defpois
que clla affi for feita, dellc ,..-eceber algüa ofenfa.
cm
.QEANDO POD. APEL. DOS AUT. QyE SE FAZ:.- ETC. 2J5
cm feus bens, o.Juiz da Terra fendo requerido
per elle, e enformado foomenre da dita protellaçam,
mandará Ioguo todo tornar ao primeiro eftado em
qu~ ante eftaua, e fe lhe for feita ofenfa na peífoa ,
procederá contra elle afperamente, a ili como contra
aquelle, que cometteo coufa graue , e defprezou o
requerimento que lhe foi feito por parte da Juíl:iça.
8 E PODE-SE ainda poer exemplo no creedor,
.a que foi d_a do per conuença das partes poder pera
.vender o penhor, fe a tempo cerro nam foífe pagua.
.a diuida, e paffado o dito tempo quer vender o pe-
.nhor, que hc de grande preço, por diuida pequena,
ou nom quer receber a pagua que lhe 6 deuedor ofe-
rece ; poderá o deuedor em tal cafo proteíl:ar, e re-
_querer -1 he da parte do Juiz, que lhe nom vend.a m
.feu penhor, porque loguo quer paguar; e fe defpois
da dita protcíl:açam o dito creedor algua coufa
fezefle e atentaffe, todo ferá tornado ao primeiro
-eftado per o Juiz da Terra, per vertude e viguor da
dita proteílaçam feita como dito he, am como cou-
fa ennouada defpois da apellaç~m antrepoíl:a.
9 OuTRo exemplo fe pode poer no deuedor,
que he obriguado a muitos creedores , e per fua
morte elles feguraram feu herdeiro da, terça , o~
quarta, ou quinta parte &c. da diuida, e que aíli
.poderia feguramente entrar na herança , fe a maior
parte dos creedores per refpeito da quantidade da
diuida, ou per refpeito do conto, fe farn iguaes na
quantidad.e, confentirnm na çlita fegur~nça_ , ai.11da
- Gg 2 · que
236 O TERCEIRO L1vRo DAS ÜRDEN. TrT. LXU.
que os mais poucos na quantidade, o_u no conto em
ella , nom confentam , e defacordem, nom o pode-
r~m contradizer, mas conuirá neceífari-amente eíla...
rem. ao ·a cordo da maior parte- por refpeéto da
quantidade deuida ; e quando os creedores forem
iguaes na quantidade, ferá valiofa a parte d'aquelles,
que forem em maior conto co~o dito he: peró fe
a mais pequena parte dos creedores defacordantes
fentifle • que a concordia da maior parte era funda-
da em alguü euidente enguano, ou malícia, po~ al-
guü guanço feu, ou dãno da outra parte mais peque:..
na, em tal caío efta mais pequena parte poderá pro-
teíl:ar polo acordo feito pela maior parte, enfennd©,
e de-d arando na dita proteíl:açam o dito enguano, e
arte euidente, em que fe fundou a maior parte fa~
Zel' a dita concordança; e fe defpois da dita prote-
ftaçam affi antrepoíl:a foífe algüa coufa enouada.
ou atentada, ferá todo polo Juiz reftitu.i<lo, e torna:..
do ao primeiro eftado ,_e affi em qualquer outro au-
i:o femelhante, que pertença, ou aja de fel'.er feito-
per muitos; porque ainda que o acordo da maial'
parte aja de feer firme ,. e 'jlliofo, e _preualecer fo.
pre o acordo da outra pa~té - mais pequena , porem
fe effa parte mais pequena fentir , que a outra maior
parte he fundada. em algüa arte, ou enguano eui-
dente, póde a mais pequena parte apcllar do acor-
do affi feito per a maior parte como dito he.
10 E EM- cada huü dos cafos fobreditos contheu~
dos neíl:a Ordenaçam ninhuu Julguador Superior
nom
. Dos Q.YE NOM SERAM RECEBIDOS A APELLAR~ 231

nom auerá os autos 1 por apellaçam ·, foomente pror


nunciará fegundo Diffemos nefte liuro no Titulo
Das apellaçoes das fentenças interlucutorias.

-----------------------
T 1 T U L O LXUI.
DoJ que nom firam recebidos a apellar.

O REVEL verdadeiro nom deue feer recebido a


apellar, e reuel verdadeiro pera nom feer_ recebido
a apellar, he aquelle que pordi, nem po·r feu Pro-
curador norn pareceo em Juizo atee fe dar fentença
definitiua, e fendo citado pera apellar diffe, que
nom queria , nem entendia hir a Audiencia , ou fe
calou, ou diíle que hiria, porem em cada huü dcíl:e~
·cafos nom foi, nom auendo razam lidima ,. por que
'--
leixaíle de hir a ·ella, tal como efte he dito reuel ver-
dadeiro. E -ainda fe alguü fabendo que o queriam
citar pera apellar, çii!f~, que pofto que o citafi.em
nom hiria á Audiencia, tal como efle ferá auid'o pot
v·erdadeiro reuel, ainda que nom feja mais eirado
pera' apellàt, e nom ferá recebido a apellar; falue
cheguando áAudiencia pera que foi citad0 pera apel-
lar ante que o Juiz fe aleuante da Seda. Porem fe al ..
guü pareceffe na primeira inftancia em qualquer
parte do Juizo por fi, ou feu Procurador, poíl:o que
ao tempo da fentença· definitiua foffe ·abfente por fi,.ct
.por feu Procurador, efte tal nom ferá ·auido por re-
uel em ninhuü. cafo dos fobreditos , pera nom fec:r
te...
238 o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN'. TIT. LXHf.

recebido a apellar, ainda que nom vaa á Audiencia


pera que foi citado pera apellar, mas poderá apel-
lar dentro de dez dias do dia que foi citado , fe já
a,ntes nom viera aa ~ua notjcia a tal fentença . .
1 . E 'NoM ferá recebido a apellar o que apeffa
defpois dos dez dias contados daquella ora e mo-
mento que a fentença foi dada , fe ante do dito ter-
mo nom apellou; porque aqueUe termo he por De-
reifo affinado aos que apellar ·qúerem das fentenças
de que fe agrauadoi' fentem; o qual termo fe en"!
tenderá em aquelle que eíl:euer prefente por fi', ou
por rrocurador ao tempo que a fentença foi dada
contra elie ; porque fe elle foffe abfcnte ao dito
tempo, ou feu Prornrador, nom lhe ferá contado o
termo dos ditos dez dias; faluo des aquella ora que
fe moíl:raífe que elle, ou feu Procurador fôra fabedor
como a fentença foi dada contra elle, como já Diffe-
mos no Titulo Das apellaçoés das Jentenças definitiuas.
2 ITEM nom ferá recebido a apellar aquelle que
per: algúa guifa confentio na fentença dada contra el-
le; cá fe alguú foffe prefente ao tempo que a fenten·
ça contra elle foífe dada , nom apellando della , e fa-
zende> alguú auto, por que moíl:raífe confentir em
clla, nom ferá já mais recebido a a:pdlar della ; affi
como fe pediffe tempo para paguar aquello em que
era condenado, em tal cafo ainda que ouueffc apel-
lado da fentença, per tal auto moftraua confentir
cm clla , e renunciar a apellaçam , em tanto que já
mais a nom poderá profeguir em alguü tempo.
3
Dos Q!JE NOM SERAM RECEBIDOS A APELLAR. 239
3 1 TEM nom poderá apellar, aquelle que he
condenado em tam pequena quantidade que nom
paffa de mil reaes, como he declarado no Titulo
Das (lpe!lações das fentenças definitiuas, e no Titulo
Dos Juizes Ordinarios.
4 ITEM nom ferá recebido a apellar aquelle que
apella do mero executor, que nom excede o modo
em fua execuçam ) o qual exceffo fe entende f~­
gundo já.cm cima Diffemos no Titulo ~tando po-
deram apellar da exeruçam da fentença. .
5 E TODO cíl:o que dito he em eíl:e Titulo ha
luguar nas apeilaçoés em feitos ciueis, ou crimes ci-
uelmente intentados; cá nos feitos crimes crimi-
nalmente intentados, e em que a Juíl:iça aja luguar ~
em todo tempo, e em todo cafo ferá o Apellante
recebido a apellaçam, quanto aa pena pubrica do di-
to crime foomente; porem fe loguo ao tempo da
fentenÇa pubricada, ou atee dez dias, o Julguador
apellar por parte da J uíl:iça, poíl:o que cada hüa
das partes nom apelle , ferá prouido a todas as par-
tes, affi quanto aa pena crime, como aa ciuel. E ain-
da que elle nom apelle ,' fempre o Juiz apellará pala
Juftiça, fe o feito for de tal qualidade ~m que aja
de apellar, ainda que a parte nom apelle, fegundo '.\
Ordenaçam fobre ello feita , como mais comprida-
mente Diremos no ~into Liuro , no Titulo Em
que cafos prenderam o mal feitor &e. E nom o fa'.'"
zendo o Juiz affi, aucrá as penas conthcudas no di..
to Titulq,.
T J..
240 O TERCEIRO LrvRo DAS ÜRD. TrT. LXlIII.
T 1 T U L O LXIIII.
§luanào muitos fam condenados em h'iia flntmça ,
e huüjoo opel!a dello.

SE dous: ou tres, ou mais Tutores, ou Curado-


dores, ou Procuradores foffem demandados jun{ta- -
mente todos por algüa adminiíl:raçam conjunéta • e
nunca an.tre el!es partida, porque adminiftraram
como nom deuiam, e todos junétamente foflem
condenados em húa fentença, e huü delles apellaf-
fe della, fem apellar cada huú dos outros, e def-
pois foífe a apellaçam achada por juíl:a, e dereita 1
non foomente releuará o A pellante , mas ainda cada
huü dos outros que da fentença nom apellaram.
E eíl:o por quanto a dita adminiíl:raçam era toda
conj unél:a, e nunca fora déuiía, ou partida antre OS·
ditos Tutores, Curadores, ou Procuradores; e porem
affi elles como a dita adminiftraçam feram todos
julguados por huü corpo fem outra deuifam.
1 E sE muitos herdeiros de huú finado, jazendo
a herança por partir antre elles, foílem demandados
por toda a herança, ou parte del!a, ou certa cou-
fa, ou por algüa diuida, em que deziam o finado
feer obriguado, fe todos foífem condenados em hüa
fentença, e huü foo della apellaífe fem os outros•
fendo achada a dita apellaçam por jufta e dereita,
nom foomente releuaria o Apellante, mas ainda aos
outros que della nom apellarem por a razam fobre-
dita. 2
~ANDO MUITOS SAM COND. l!M HUA SENT. ET e. 24r

2 E ESTO que dito he nos cafos fobrcditos en-


tender-fe-ha, faluo fe aquelles que das ditas fentcn-
- ças nom apellaram ouueíl'em confentido em ellas
expreffa ou caladamente ; <:anuem a faber, pedindo
tempo pera paguar, ou fazendo outro alguü auto
fernelhante, per que ·fe moftraffe auerem~
do ~m ella, porque entam a dita apellaçam re!eua-.
ria foomente ao A pellante , e nom os outros que
ouueífem co11fent-ido na fent<:_nça como dito he.
3 El\IPERÓ fe nos cafos fufo ditos muitos Tu-
tores, Curadores , Procuradores, ou herdeiros d'al-
gua adminiftraçam, ou herança conjunéta, e nunca
antre elles partida, foffem todos junétà.mente conde-
nados em hí.'ía íentença, da qual nom folfe apella-
rlo per algúa parte , e defpois alguü das condena-
. dos desfezeífe, e refc indiífe a dita fent~nça per bem
· d'alguú priuilegio que lhe foíl'e 'efpecialmente ou-
t-0.rguado per Dereito, pelo qual foíle reffüuido con-
tra dia , com.tem a faber, por feer menor de vinte
cinco annos , ou por outro alguu priuilegio , tal re-
fiitulçam ó.om aproueitará a ninhuú dos outro's ;
porque eíl:a reíl:ituiçam nom vem per via geeral,
mas per graça e priuilegio em -efpecial outorguado
particularmente ; faluo fe a coufá fobre que era a di~
ta contenda foffe indiuidua, e que nom podeífe feer
partida; porque em tal cafo pois he coufa que em fi
nom padece partiçam , ou déuifam , a reílituiçam
dada a huü aproueitará aos outros neceífariamente•

- Liv. lll. Hh . TI-


242 O TE.RCEIRo L1vRo DAS ÜRDEN. TrT. LXV.

TITULO LXV.
Se pendendo a apel!açam morrer cada' húa das partes,
ou perecer a cou/a dmwndada.

S E pendendo a caufa principal ou da apellaçam


falece!fe cad~ hüa das partes da vida de-O-e mundo i
paflará a inftancia do feito a feus herdeiros naquelle
ponto e eftado. em que fo!fe achado ao tempo de
feu falecimento ; peró nom procederam mais. per o
feito em diante atee que fejam chamados os herdei_.. ·
ros do finado.
1 E sE foffe contenda fobre alguü feruo, ou fer~ ·
ua , ou nauio , ~u befta , e pendend~ o artiguo da
apellaçam morreífe o dito feruo, ou ferua ~ ou beíla,
ou pereceífe o nauio, nom leixaram por tanto de hir
polo feito em diante ; porque ainda que o fe'ito pa ..
reça feer findo quanto aa coufa principal que er:i
demandada, nom he porem findo quanto ao inte-
reffe , e aas rendas , e proueitos que dellas defcen-
deram , a que poderá feer theu.do o Reo fe for ven-
c::ido no principal; .e por tanto fe o Autor ou feus
herdeiros quiferem proceder , hiram polo feito em
diant<: atee auerem fim no dito intereíTe, fruitos,
ou rendas como dito he.
2 E SE a parte contra que fo!fe dada a dita fen-
tença ãpellaife della, e foife-lhe termo affinado a que
ouueífe de profeguir, e pendendo o dito termo mor-
reife, nom correrá. o tempo do dito termo a feus
her-
St PENO. A APEL. MOR. CADA HUA DAS PART. ETC. 243
7
herdeiros , mas fer-lhe-ha reformado ao menos ou-
tro tamanho, como foi dado ao morto, ou mais fe-
gundo aluidro de bom Julguador. · - ·
· 3 E SE alguli homem foffe acufado, e condena-
do de tal crime, que fegundo Dereito deu e perder
os bens per fentença dada contra elle J e pendendo
apellaçam elle morreífe, fica o feito findo nom foo-
mente quanto aa pena do corpo, mas ainda quanto
aa pena dos bens; faluo fe o crime foífe tal , que per
eífe mefmo feito o maJfeitor perdeff e os bens, affi co-
mo nos crimes em que os Dereitos eftabeleceram que
pelo feito foomente fe percam os bens fem outra
fentença.
4
E sE· o crime foífe tal, que a condenaçam del-
le nom trouueífe neceífariamente perda dos bens , e
o Reo foíle condenado em pena corporal, e mais
que perdeffe os bens , em tal cafo fe o Reo morreíl"~
pendendo o artiguo da apellaçam, feria o feito fin-
do quanto aa pena do co~po, . mas nom quanto aa pe-
na dos bens; e por tanto procederam polo feito ·em
diante , pera fe veer fe.n Reo era culpado no crime,
.e . per confeguinte julguarem os bens por perdidos,
affi como foi julguado pelo Juiz principal.

•·.
~
-Hh 2 T J..
244 o TE~CEIRO LIVRO_DAS ÜRDE"N. TIT. LXVI• .
T 1 T U T O LX VI,
!!(uandó os litiguantes podem· aleguar, e prouar na raufa
da apetlaçam, ou agrauo, o que n.om teuerern. alegua-
do na ca.ufa princ.ipal,

E AS partes litiguantes podem por Dereito are..


guar, e prouar na caufa da apellaçam qualquer ra-
zam noua .. que no feito principal nom tenham al'e-
guada, e fazer deHa artiguo; e fe nom for recebido
da primeira vez, ou nom vier com dle no primeiro
·termo, poderá correger outra vez ; e fe o nom fezer
em fórma que feja de receber, ou nom vier com d-
J·e dentro no dito fegundo termo ,. nom poderá já
mais auer outro termo,. nem correger, e fei:á de to-
do lançado.; e outros dous termos pola maneira fO-
bredita fe daram pera a contrariedade, ou reprica,
ou treprica, que fe fez.e rem aos ditos artiguos fe re ...
cebidos forem.
I E s·ERA' auifado affi o Apellante como o ApeI:...
lado , quando a primeira vez. cada huú ouuer viíl:a
da apellaçam, ou do feito do agrauo • que nom fa-.
ça artiguos em luguar das razoes , foomente alegue
de feu dereito por razoes, e nellas poderá aleguar
a razam de que quer fazer artiguo; e fazendo o con- ,
t rairo,. o Procurador que o fezer pague quinhentos
r eaes pera as defpefas da Rolaçam ,. e mais os ditos
a rtiguos lhe fejam contados por razoes , e mandem
d ar a viíl:a nefte cafo dos ditos artiguos aa outra par..
te .
~ANDO OS LIT!G. PODEM ALEGUAR ETC. 245 .

te, e nom fendo os artiguos de receber feja o feito


fentenciado fem elle auer viíl:a pera razoar.
2 E QYANTO aos artiguos que foram aleguados
na primeira inftancia, e Horn foram xecebidos, guar..:.
dar-fe-ha o que Diffemos neíl:e Liuro , no Titulo Da
ordem do Juizo no parrafo Perófindo. E as partes nom
poderam de nouo dar proua fobre a razam , que no
feito principal lhes foffe recebida,. a que j·á foi dada
·na primeira iníl:ancia proua, a qual foífe hi acabada
e pu.bricada ,; porque em tal cafo norn f eram reee-.
bidos a dar na caufa da apellaçam óu agrauo mais
proua de teílemunhas ; porque fe defpois da inqui-
riçam acabada e pubricada na caufa principal fe
deffe luguar a fe preguntarem mais teO.emJJnh:as na-
caufa da apellaçam,. feria caufa de fe· fazerem mui- .
tas falfidades , e induzirem , e foborna~em as tefte.•
munhas pera dezerem , · poíl:o que nom foíle verda:"'.'
de, o que ria caufa principal nom teueílem prnua-
do; porem fe quifer ofe.recer efcripturas na caufa da
~pellaçam , ou agrauo >pera os artigt1ós a que já foi
dada proua , e de quejá. era lançado na primeira ifl-
ftanóa, podelas-ha oferecer, porque na·s efcripturaii
ceffa a razarn do temor da fobornaçam. ,, que ha nas
teílemunhas.
3 E SE os Superiores na caufo da apelTaçam 01:1
agrauo. mandarem por meter o feiro ~m ordem, que
façam hbe1o na caufa. da apellaçam, e fezerem con-
trariedade,. reprica , e treprica, q,ue fejarn confor°'
mes a auçam ~ntentada na primejra in(lanc:;ia , en~.
tal
246 O TERCEIRO LrvRo DAS ÜRDEN. TrT. LXVII.
tal cafo nom fe dará mais luguar aa proua , e fe jul-
guará pola proua que he feita na primeira iníl:ancia;
faluo fe nos ditos artiguos, que affi na caufa da apel-
laçam ou ag.rauo forem feitos, for recebido alguü
outro d'outra maneira, de que nom foi articuladq
na primeira iníl:ancia, nem dado luguar aa proua;
porque em tal cafo fe dará luguar aa proua ao dito
artiguo foomente, e aa contrariedade, reprica, ou
treprica que ao dito artiguo for feita, e recebida.

T 1 T U L O LXVII.
Dos que pDdem apellar das fentenças dadas antre
as outras partes.

POSTO QPE a fentença nom aproueita, nem


c:mpece foomente a aquelles antre que he dada, ·po-
derá porem della apellar nom foomente cada huú
dos litiguantes , que fe da fentença fentir agrauado,
mas ainda qualquer outro, a que o feito poffa to~ar,
e lhe da dita fentença poffa viir alguü perjuizo, affi
como fe huü herdeiro confenriffe conluiofamente
feer condenado em perjuizo dos 'outros herdeiros,
ou fe foffe contenda antre huü que fe diffeffe feer
herdeiro d'alguu finado abinteftado, e outro que fe
diffeffe herdeiro per teftamente ; e.fendo dada fen-
tença contra o teftamento , e nom fendo apellado
pelo que fe dezia herdeil"o pelo teftamenco, poderam
· apel- ·
Dos Q!JE PODEM. APELLAR DAS SENTENÇ. ET e. 247

apellar della quaefquer herdeiros, que foífem infti-


t~idos no dito teíhmento, e os leguatarios a que
em o dito teíl:amenw foífem le!xados alguüs legua-
dos, pofio que com elles nom fo!Te trautada a de- _
manda ; porque poderiam elles taees razoes aleguar.
na caufa d'apellaçam, que por ello deueria feer j,ul-
guado por o dito teíl:amen~o, e affi os outros her-
deiros e leguatarios, que affi apel!alfem, per vertu-
de da d.ira apellaçam conferuariam fel! dereito da
dita herança e leguados, a qual ligeiramente ·per
outra via nom poderiam cobrar.
l , E BEM affi no cafo onde o creedor e o deue ..
dor folfem. ambos em contenda fobre diuida, e foíle
dada fentença contra o deuedor, que teuelfe dado
fiad or, ainda que eíl:e deue9or condenado nom apel-
laffe da dita fentença, e ouueíle confentido em ella,
pode rá o' fi ador apellar , fe. entender que acerca def-
fe feito ou fentença he feito alguü conluio em feu
perjuizo, e ferá ouuido na caufa da apellaçam com
feu dereito, affi como fe o dito feito folfe princi-
palmente com elle tramado; e porem fe o vende-
dor deffe· fi ador ao comprador da coufa vendida a
lhe compoer todo 'dãno que guuer recebido, no cafo ·
que lhe feja vencida per alguü outro, e defpois a
venceffe alguü per fentença , ainda que eífe com-
prador nom apellaffe da fentença contra elle dada,.
ou confentiffe exprellamente em ella , poderá o fia-:
dor apellar della, fe entender que he feito alguü en~
guano, ou conluio em feu perjuizo, pera o desfazet
ll()
248 O TERCEIRO L1vito DAS ÜRDEN. TIT. LXVIII.

no cafo da apellaçam; porque a fentença que antre


os ditos litig uantes affi for dada, ou auença, e tranf-
ayçam que antre elles for feita, nom pode perjudi-
<;ar, nem empecer a quaefquer outros nom chama-
dos , a que eífe neguocio poífa tocar, fe achado for
que em algua parte lhes he perjudicial: e efto que
dito he em efl-es cafos aqui efpec.ifícadôs , auerá lu-
guar em quaefquer outros femelhantes em que ara-
zam pa_reça feer iguoal deíl:es.

T I T U L O LXVIIT.
i?(}tando apellaram da fentença condiciona!.

G EERA L determ.inaçam he de Dereito, que to-


da fentença definitiua deue feer pura", e nom teer em
fi condiçam algüa. E porem fcm embarguo deíl:o
fe algüa fentença foíle condicional J nom ferá por
iffo ninhüa de Dereito , como feria fe foíle dada
c-0ntra Der~ito expreífo , 01.t dada per quem nom
teueífe Jurifdiçam, fegundo he dito no Titulo §{_uan-
do a fentença he per Dereito ninhüa; e por tanto fe da
fentença condicional nom for apellado ao tempo per
Dereito limitado , paílará em coufa julguada, o que
nom faria fe fo{fe per Dereito ninhüa; e o tempo
pera apellar da fentença condicional ferá contado
daquelle tempo e ora, que a fentença foi pubricada,
fem fe efperar o tempo, a que a condiçam feja com ..
pn..
. · coMO SE FÁRA' EXJ;CUÇ. NOS BENS DO FrAD. ET e~ ~49

prida, per maneira , que fe da fentença condicional


nom for apellado atee dez dias contados do tempo 1
e m0mento, quando foi dada, já mais nom poderá
apcllar della aquelle, que foi fabedor como fora da-
da contra el!e, e podéra bem della apellar fe quife-
ra; e paffará a tal fentença em couía julguada, aíli
como fe fora pura fem condiçam algüa.
/

T I T U L O LXIX.
Comô fe fará execuçam nos bens do Ji.~dor , que promeleo
. em Juiz.o paguar por o Reo todo o tm que fo.J!e con-
denado.

F IANDO·algüa peífoa outra em Juizo, prome•


t~ndo de paguar por elle todo. aquello, em que foífc
condenado no feito fobre que foífe a contenda, fen ..
· do a parte principal condenada per fentença defini-
tiua que ouueffe pa{fado em couía julguada, pe.r dfa
mefma fentença ferá feita cxecuçam no~ bens do di"."
to Dador, fem elle per-1 ello feer mais citado, nem ;
chamado, nem ordenado contra elle outro alguií
proceífo, mas foomente por a primeira fentença ,
que fahio do primeiro proceífo ordenado contra o
principal conde~pdo , ferá feita exectrçam nos bens
-r"' deffe fiador, como dito he. Peró fcm embarguo de-
fto poderá effe fiador dizer, e aleguar, que fe tenha.
acerca da d_ita exeqzçam aquella ordem ,.que os De.._
. Li-iJ. Jlf.. l! fCl'!;
250 o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LXIX.
reitos ordenaram , que fe aja de teer antre o deue-
dor e o fiador, que o fiou em alguu contraél:o fóra
do Juízo, prometendo de paguar por elle; conuem
a faber, que primeiro fcja condena.do o principal.
eeuedor' e feita execuçam nos feus bens) fe prefente
for; e nom fendo achados feus bens abaílantes pera:
a dita diu ida em todo ) ou em parte) entam ferá de-
mandado effe fi ador, e .feita execuçam em feus bens,
ern aquella parte em que os bens do principal deue-
dor nom abaíl:arem pera a dita condcnaçam. E nom
fendo · o principal deuedor na Terra, ençam fe .e;>
fiador quií@r poderá pedir tempo razoado, fegundo
à difü~ncia do Luguar onde for, a que o poffa citar ,e
aprefentar em Juizo, pera moílrar bens defembar-
guados , e abaíl:antcs pera a dira condenaçam , e ["e
fazer a dita execuçam em elles, os quaes _moíl:r.ados,
ficará li ure effe fiador; e nom vindo o dito condena..:
do, nem molhando os d itos bens defembarguados ;:---
entam fe fará execuçam Nos bens deífe fiador em.
aquella parte, em qu e os bens do condenado nom
abaíl:arem; e paguando o dito fiador a dita conde-
n.a çam em parte , ou em toclo•,. trefpaifa.ram em elle:
todolos dereitos e auções , que o Yencedor da. dita.
condenaçam ouueffe, e lhe per Derúto pertenceífe.
contra o dito condenado~ pera auer. recurfo contra:
elle, e feus bens, que na Terra .forem achados, e
com.pridarnentc auer, e cobrar o. qu~ por eUe teuer.·
p.aguo com todalas cuíl:a~, e inter-effes, e perdas it.
qlle par caufa da. d.ita fiança. QU.Uer recebidas.
~1...

f
Do 1Q.!!E PROM. APRES. EM Jurzo A TEMPO ET e. 251

TI TU LO LXX.
Do que prometeo aprefentar em Juizo a tempo certo al-
guü demandado Job certa pena, quando Je executará
nel!f a dita pena. ·
'!

SE algC1apeffoa prometer em Juízo aprefentar hi


outra pelfoa a certo . tempo fob certa pena, P?fto
que fe acabe o dito tempo, em que fe affi obriguou
de o aprefentar ., terá aalcm do dito temp9 pµü.wez
pera o poder aprefentar j (em enco~rer n·a qita. pen~,
.e paffado o dito me.~ aalem do dito tempp ;. em qu~
fe affi obriguou
. _de o. aprefentar, ~ nom o tenq9
.aprefentado, encorrerá na dita pena, e fe far.á por
ella execuçam fegunclo fua obtiguaçam ; e e e!Tó, gµ~
dito he :no fiador, auerá luguar em todos os feus·her•
~deiros.;

T I :e U L O LXXI.
)Jas execuções quefe fiizem geeralmente per as jenten~
ças, e embarguos , que Je aleguam a nom /e faze-
reffz.

:·Q UANDO algüa fentençª- for àprefentada a~!;-<


...., .guü Julguador, .pala qu al fe deu a fazer, :e-xec;uçam ,
fendo o dito Julguador requerido pera eÍlo J a rnan~
;-Oará com delig~ncia exe~utf r: -~ fendo a c~nd~na ...
. !.:..i
- hi pm
2p o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRO. TIT. LXXI.
çam por algüa auçam peífoal, que defcenda de con-
traéto, ou quafi contraél:o, por que algüa parte fe-
ja condenada, que pague ao vencedor a1gua ·quan-
tidade de dinheiro, pam, vinho, azeite, ou qualquer
outra coufa, que fe cuftuma contar, pefar, medir,
em tal cafo ferá o dito condenado requerido que
/ pague o contheudo na dita fentença, ou dee penha..
res. ' abaftantes aa condenaçam, fendo achado no
Luguar onde fe faz a execuçam; e nom fendo hi
achado pera feer requerido., feja citado, fegundo a
fórma que Diffemos nefte Liuro, no Tirnlo Das ci,..
Jaçoés; o qual requerimento lhe ferá feito pelo Taba-
liam, ou Efcriuam , que for prefeme, ou pelo Por-
teiro, no cafo onde o Porteiro abafta pera a penho-
-ra ·, fegundo he contheudo no Titulo Da execuçain,.
·que fe faz por o Porteiro, e ferá efcripto polo Efcri--
uam, que os preguoes ouuer de efcreuer, por fe_c
do Porteiro que o requerer ; e feita a_ dita notifica-
çam, e requerimento 1 nonl ferâ neceffari'o feer o,
çondenado mais requerido ao tempo da venda, e:
arremataçam dos ditos penhores; e eíle requerimen-
'to fe affentará nos autos da penhora p.oJo. dite Efcr.l-
\lam, ou Tabaliam" como dito he; e nom a- affen-
tando, encorra en~ pena de perdimento do Officio ::
( fe loguo nom paguar o contheudo na fcntença. 1
noip lhe fcrá mais dado tempa J nem efpaço alguü",.
antes. fer<i loguo feita penhora em tantos. d.e feus
bens,.que·abaíl:em pera a dita condenaçam~
1 E POS.TO.Q:J/E' a parte aleg,u e que te.!U em.bar...
guo1
_DAS EXECUÇÕES Q.YE SE EAZEM GEER.ALM. n ·c. :2 53

'
guos aa dita fentença 4e qualquer qualidade qtie fe- '
jam, e venha com elles em tempo deuido, e fe-
jam taees ,'que ao J ulguador pareça que fam de re-
ceber, ou que os deue de remeter ao Julguador, ou
Julguadores que a fentença de"ram, e poíl:o que
fobre elles receba apellaçam, fem embarguo de os.
aíli remeter) ou delles conhecer. ou de receber a . I

dita apellaçam, o dito Juiz vaa com fua execuçam


por diante) nom querendo o dito condenado pa-
guar ; e àuido o dinheiro , que fe da dit~ execuçam
fezer, fe o vencedor quifer dar fiança aba.fiante na
Terra ao tornar, trazendo o condenado Prouifam
polos embarguos, que lhe feja o dito dinheiro tor-
nado, feer:..lhe-há entregue. A qual fiança hade feer:.
per que fe .obrigue b fiador de o tornar fem mais o.
pri11cipal feer requerido, e fem outra figura, nem
orde.ni de Juízo. E 11om querendo ~dita parte ven-
a
cedor dar dita fiança) ou nom a podendo dar) toda
via fe fará a dita execuçam , nom paguando o con•
rlenado ; e o dinheiro fe poerá em depo.fito, atee fc
dar final determinaçam fobre os ditos embarguos;
e fegundo o que for determinado fobre os ditos em-
barguos affi fe fará do dinheiro, que em depofitq- .
efieuer.
2 E SENDO a fentença, per que fe tal execuçam
fez, reuoguada em parte, ou em todo,. Ma·ndamos,
,que os bens , que pola dita fentença a.ili i:euoguada
foram vendidos, fejam tornados a· aquelle cujos:
/

~ram a e a.o comprador feja. tornado o preç_o >. q.ue


poi·
V
2·54 O TERclnRo LrvRo DAS OR:o. Trr. LXXI.
por· elles 'deu, e cuíl:as que o dito comprador fez
na dita arrimataçam, aa cufia d'aquelle que a tal
execuçam fez fazer , ou por feu fiadõr, nom lhe
achando a elle !aguo bens, fem outra delongua coqro
_emcima Diffemos. E eíl:o, fe a fentença. em todo for-
reuoguada ; · porque fendo em parte reuoguada , o
mefmo que ficar condenado em parte, paguará fol-
<lo aa liura ao comprador as ditas cufias ,_ fegundo a
part'e em que am ficar condenado ' J e a demafia fe
auerá polo ·que a dita execuçam affi fez fazer, ·como
, dito he, em modo -que o comprador , que os ditos
bens affi fia de tórnar, nom perca coufa alglia do
feu ;,com tanto que a peífoa, que affi a dita feptença
ouue no cafo dos embarguos, per a qual a primei-
ra foi reuoguada em parte, ou em todo , requeira ,
que lhe fejam tornados es bens, . que lhe aíli foram
\rendidos pola dita primeira -fentença do dia , que a
fentença fobre os emb0trguos for paífada per No!fa
Chancelaria, a huü mez, nom fendo embarguada
na dita Chancelaria pala parte -contraira ; porque
hom o requerendo dentro no dito mez, nom lhe fe•
ram mais os ditos bens totnados , foornente auerá
b preço polo depofito, ou polo vencedor na .primei-
ra fentença, fe o recebeo, ou per feu fiador , como
émcima he declarado,_E em cafo que .0 comprador
de taees bens os torne J como emci ma dito he ,. nom
tornará ·as nouidades, que teuer recebidas dos taees
bens, que affi. comprou ; ·e aquelle) a que fe os ditos
bens tornarem, poderá pedir .·as nouidades a ,a quel•

le,
'·'
DAS EXECUÇÕES Q,l!E $E FAZEM GEERALM. n e. 2 S5
le , que lhos fez vender, o qual lhas paguará todas , ·
fe a fentença for reuoguada em todo , ou aquella
p.arte que lhe montar foldo aa liura, fegund9 a parte
ddl;,t em que o condenarem. E porem quando o dito
comprador dos ditos belíls teuer feitas algüas bem-
feiterias, feer-lhe-ham paguas per .a quelle, a que fe
Gs dicos bens tornam, compenfando porem em tal
.cafo as nouidades q~ teuer recebidas; porque pofto
que e01cim,a Diguamos, que lhe nom (ejam defcon-
tadas as nouidades, e que as pague o que os ditos.
bens fez vender, fegundo a parte em que a fentença
for rcuoguada , Auemos por bem , que onde ouuer
bernfaitorias, fe fa_ça a dica cornpenfaçam, e o que
affi os ditos bens fez vender ficará liure d'aquella
parte que montar nas nouidades, que affi fe comi
'·penfarem com as ditas bem feitorias.
3 E POREM quando os embarguos forem poíl:o~.
p.o r alguü menor, nos quaes peça refütuiçam, e lhe
for ·concedida, guardar-fe-ha acerc~ da execuçain
o que Dirémos neíle Liuro , n.o Tiwlo Do. menor de
vinte cinco annos, contra que foi dada injujlamente alg'iia:
fen./emça &c.
< 4 E SERA' auifado o Official, que fezer a penha ..
ra, que fe o dito condenado for pref_,ente ao tempo-
da penhora, lhe pregunte fe tem bens mGU.ees, e di-
zendo que os ceem , lhe mande que os. moílre, e dee
.- atee o outro dia, pera fe neHes fazer execuçam ; e di-
zendo que _os nom tem, ou nom os moílrando, ~·
panda ao dito tempo defembarguadas > feer-lhe-h~
, lo-: ,,
256 O TERCEIRO trvRo DAS On.o. TrT. LXXJ.
· loguo feita penhora em quaefquer bens mouees, que
o vencedor moíl:rar 1 ou nos de raiz, qual a parte, que
a execuçam requere, mais quifer, fem mais o dito
condenado poder aleguar, que tinha bens mouees »
em que fe 'primeiro ouuera de fazer execuçam. E
fempre tomará os penhores que lhe o eito condenado
der, dando-lhe tantos em que ao dito Official pare•
ça que aja abaflança; e nom lhe dando tantos , en-
tonçe lhe tomará os que lhe mais parecer que aba.
fiaram.
5 E sEN.oo o condenado abfente ao tempo da pe~
, nhora, o Ef~riuam, qUe aa dita penhora for prefente,
fe enformará affi na cafa do cond.enado, como pola
vezinhança fu111ariamente por alguas teíl:emunhas ;
que fobre iffo per fi foo tirará, e aírentará no auto, fe
o condenado tem neíre Luguar, ou feu Termo, .bens
mouees, e fegun~o o que achar pela dita enforma-
çam, affi fará a penhora, fatendo primeito penhora
nos bens mouees , que nos -de raiz. E fe os mouees
forem ta'ees, que lhe pareça que nom abaftaram pera
a condenaçam, far~ loguo iifo mefmo penhora nos
bens de raiz, em tanta parte que lhe pareça, que .
razoadamente abafü.1rá pera a dita condenaçam , em
maneira ., .q ue nom faça mais execuçam nos bens mo•
uees, nem de raiz do' condenado~ que quantos razoa ..
damente poffam abaíl:ar aa dita condenaçam, ou di ..
uida, por que he penhorado, poíl:o que a diuida feja
Noffa. E o que o contraira maliciofamente feier, pa ..
gue aa parte .toda perda, e dã~o, que ·receber, e
mais fer-lhe-ha eftranhado como for Den:ito.. 6,
PÀs txE.c.r.r9õEs.cur<E1si&1F:A.ZE.M;:cn~°R.AtM · E:r.'c :· i''.bS.7

, i6 ri E ip ·a,. pen.rhm:raifor feita pofotPorteiiro fobmen ..


teJem Efcr.i uam •·[\Q-. Oa.f@. -q~e a pode ·fazer, 1 o mêf-
rno Pi©rteird fa enformará comp dito htt. e .dará fqia.
fee d a'm:Eforiuam1,.~ .que ) bs·1prbguoes ~ ouue.r. .d.e.dere-
. ~ue·r ;.ida ?itta(<fieligencia :q4efez, . pera!fab.er fíC t•inha
.01<::óndenado/ h>.ens rrnouees; em ;modo que1on'der! Jfe
mo{,trali, 1quç .o :·cohdenacfo · ~inha .mouces, fempre
-adies fe faça .priroei10 execuprn, que.. nos .de .niz ~ .·
- r' 'l ''' E neàsr.0. <&sc.defpois fo corndonadd ·q·ueirac pro-
Ü::u; ,1 que , ao iriempoqdà>p.eRhora~itiniha .bfn~ 'mouees
.a.bafbantes !pera 'a ·eond_elilàçam .)·inoni fe; desfará'. ~ pbr
iifo,.a execuçam ';·faluo ,Ji:>r.<?-~ªhdo..fe .qkte: o _dito .. Offi-
.óal, que ar.cliça r d~li.gim.~ia fei11liobre ~d3 b<ms monees.
~Ci!1, ouue niJfo, iiitaliciQfam~mte: :; 1 pprgti~., érn ·_tal -cãfo
íeiá. ptmide' :pidito ,Offülia.J.;1Jegundo :·a mal-iei'a. ·em
·queYor iach~c.do," e . a exbctíçam·:{e desfará ,., e kfará
routra de·(aouo·; •e !polos bens dq dito Qffiçial faça. o
Julguador.•faüsfa~er. aas·par,tes tod0 ,o dãno, que por
iello. m.i.uce·r.em. .recebido. ·; ' · · 'i r . -
~ .8 . 1E n:li':OS · caú:>s fob.r;ecfüos onpe o Offici<J.l tomar
;>OS penhores ·; (e ·poder achar húa 1·c9ufa . mouel., que
~ v,alha; a';êhntia d~ c.ondenaçam ;· em .~lla foq.n;;i.c;rge fa-
- ça e:xec.uç,am ,· e: ~~ · o faça nos, bens . d~ raiz; e pofto
' qu:e o.<ib.nqenado que.irn f:azer óos oens de raiz m9-
. ~-uées~;.~·pe!11a. .f-0o:meqte ao darem ·ei;r1 : pregu~ m os d i:~s
:l:qú'.e os mo.ueos •aufam .de andá.r; ·e1que lhe 0.0)ll (e-
·~am tomados.,~s · mou.ees J nom (exª a ~Jlq reçe~id~;
~falunlfe ·_a parte , .,que .a exeic:µ_çam.r.equere, for dello
contente •

'
.. (n Liv. III. Kk
'. \

~2i5S O ,T.E.P.CEl.Re>ih.JVJIUHll'4'Sl@.RJl>'Vf,23:'.ItT.'JL*XI!:I

··~19 r<í<0ll1"R:Oj Sl c~~rr~m:ós-., ·q.de.'af@~ke:mpo.:qtiii o oito


..:oJEaial, oi;;.uer '.d e f~zeo 1p:~rüi.ava ,nferrdo. OiCoí:idenado
zpri<meiro reql!lerido•; r~eino1in lhe.dknd0 bens··1triri>u.ell"S
- eomo·1dito_,he 11 e:;àoegdu1enf0límuç;u-nsiqcél .ê hncbecii
i: motiee8">11cVdit:o L4~uar: )! , r:eq.ue-gêhd.osai!pa-rte.. q ic
1

• lhd fa-ça: cxeaú;çam rnel:le~ ~; uu·no ea[ol qub r~- {l>t:nhmruL


.fe fail em abfencin a:o·Reo condenado 1:ç:ú çliFI. q:1:1al;;.
quer ·cafo~ ontje ·ou,uer càeJfazenpel!libior~ .~os: benS:'rrur'"
- uees-, ·quÇ' fo-o dita comleriaqro fon iEfOl!ldfilr.o~· ou \Ca-
o:ualeiro ,wo.U Eidalglm \;·J.0.ur cl bpeqrnovma ,:..<!llll Noff@.
.. Defe ní1baf.gúàd0r- "' :ourm-olhei:de-·"l!arda~ huü rdos fobre-
.d i ios, ou : mo-J.h:e.r- Fidalgua, rJ cla· clitaL0.flicial aahar
. fóra da cafa algtiüs .bens mGUl2es féus-; ié;m que po!il a
1

. fazer penbior~: , 1que ;abaíl:e1aà" cdí-1tri'a _,cp~cque •ha'de


":penho'r ar, 'façam ·a 'penháráf~t'e exife1.fça1tn inos i dir0s
.,bens.• e nóm rios iq11e refbetteretn~1 d.~it?td ·em ·oáfa:··~-re .
nom acha.ndo fora de cafa •bens <\lguüstmGL1ees , ou
·os qu~ achar inom abaüairem pera paguan-\ent<;>!• da
diuida, peçam de fóra penhó bófenhorxlal'€afa ; 1ou
1

aos que ·hi aehárêm; e<fo lho !0gud1d·ar::rrom qúlife-


re1-;'1,-ehtrem dentro e·tn1 cafa., e'façam a penHora nos
bens que li.i -ad1arem ,, como·deuem. E o.Official q.uc:
· a execuçá-m fezer, que refio nom guardar .~fe:rá cafti-
guado pelo -Julguá'a-or , -fegt.1.ndo fora qua:Hda-de-1da
~ pe!Toa queJ rrenh0Fár1_; . e' riiús a-pôffoa ;perihoraç.i füc:
podef-á ·ifio m~efrno. 1Jemandanr iinjur..ia, 1 e lhe ·ferá
julguacla, • fogu1~do a-qualidade. de foa: peffoa, e do
e:x:ee:!To que ·o-dito,.Offic:ial .iacze~:.ea :da que :ifütol1ke
cuuer fçito. .- ir.~1·:0::>
••\1. :;.\ JO
DAs:!:x:EcuçõE · Q!nni r~zEM'.GEE.RALM~ ·.Eir. ·c. • 15,~ ·

·-I'O E~fP'E.RÓ nom penhorar~m os F:idalgú<fi , e'


Caualeiros '• e Noffos ·;l)efembarig.ué\dotesr ~ ·nos ·caua ..
los ~ nem emt as a-rrnas) Il(!ll(I <em tGSl licU!iOS , nem etn )
vefüdos· de·{eu •Corpo, netit,1 afcis · moiher~s '.: dõS ,fo..,
b1:editos, nem. molhere.s Fidal:guas •nos feus. vefüdos ,.
e .de feus corpos , e camas de fuàs p-effo-as , au·endo:.
.r~peÍl!O l ao que 1lbe a e-ada_hJ.uu1 henaceffat•f@Hpera.
fou, feraiçli>") e,.vfo ; frguado-a.qtialidadre- de foas«pef-·•
ÍQas., e eíl:o .., pofro·que .outr.os:pe-M.nor.n ·tel'lham; e '
nes,rnais rcaualos , _e vefüiclos <, e cada1hií.a das•.fob'.re-
ditas coufas , que lhe nom foremmeceffàrias, como
dit0·he ; .fofárá. exec.~·çam1, quarndo::0utr:ds:hens :rho ...
u~es, o'u de· raiz nom<Uu.e i:cm.Jl eíl:o~ifer norí\ cm'll·
teR<ila-nos roubo's ',: e1malfeitorias :1!p:6rque por·1faites ~
cafos fer.am' penho.rad0s., e;1 conftrangidos•; atee ·que '
paguem affi por feas1bens , poíl:o que·fejam dos fe;.
breàitos, , ~ c.om0 1I<Ios i c9rpos; ·: , ; c-t•.- '- •·. 2.
<-· I 1 E .BEM, A~~·1 -riMa adamos, 1quer Fl©m • .fe: ·faça .
penhora-,,'.J nem .e:Xec.®,çam pe.r qiuitla:s iiNbffas,; r.ID.em .1
d!our-ras ,quat!fqMer p~ífoas nos caualós, mim' em ar- ·
mas ),dos-que foremrAcontiados em cauafos·earmas :i
nem da-q'ueHé's <q àeecc0Jil:tínµada1)ilente cufiu maf.em:1
.teerlanm"M! ,;·e> câoalo1qe1eftada .per.~_1Nóífo . Ser'U•iço ,~
nemrTe façai ·penli.b ra•:.. nemr exeóu~àml ii·às feus 'l?ois!
tl1iarad6-, que teuerem, e-lhes forem1necdfaTÍQs pera-:
láurarem<- fuas ·he.rd~des, .. nem em as , fementés que1
teaer:em<,: erll:fe neceífaria;s · for:cfm1 p i ràr asrfarnear -;(
. :nem faram ·iffo ;mefmo peA'hol:a; ne:tn"«XeGuça:m nasi
arm·as doS''.Vaífalos·1,1• nerti'lpós:·Aconttatlos em amei:..
~ ,, Kk 2 fes,
f~s, OlJ ,o!lrras armas ·; poíl:o q,u e nom íejam Acon-
tiados ern-.qualos ., nero ·fe far.á ;exe1cuf;_a m nas1arma1C
d9s ,Beeíl:ejros, de caualo , .n.em do .conto., m~m dos 1
Aoontiad0s i:..em ·beefta de;gu;m:ucha ;1. ou 1Iança, e ·,
dardo. ~ e de quaefquer outros que ar.mas tenham "pe-
ra Nolfo Semiço., Peró.-fe os .fobreditos teuerem al- ·
güas ar,rnas 1em1 ~afa de algdüsJ Rreguo.e iros, ou A~,.., ,.
meii:?s. ou ,em .outros Jugliaires ~pera 'vends:q: pode-:r
ram. l'lell-ail fazerJex.ecuÇa-rn comq_.nas outraef eoufas·; '
nem faram pehhbra nas ;armas ·~ .e efpinguardas , e
beeíl:as que teueriem os Efpinguardeiros, e"tBeeíl:ei-
ros de-.m(i)li1t.e., que. teuerem Nqífos. priuilegios, 'q ue.
1

noro forem: peta '~em:ler. ..,, J comOiemàin:rà ) dito he.,


amoflirando·as dicas ,pelfoasi_c:ontheudas rneíl:e parra- r
. fo outros feus ,ben_s mc>tlees', ou •de·r.aii 'defernbargua-.
dos, em que fe p~Ila fazer execuçam.
12 E MANDAMOS, que daqui e.n;i diante .os bens
mouees ln0m andem ,-nais em.pl1<égl!lam ,ique dez dias
'continuas do dia 'da penhora errn diante .. e os bens
de ·raiz nom andaram mais emi pregm}ín, que trinta
dias continuas do dia da penhora :em diante, . no!ll
contando ·os .Domingubs i nenn ~os-, dias Sá1n&os, <í}UC
a, Igreja ma3dà gunttdar ; .por.que [neftes fe. n0m dará
preguaffi;, faluo .fe for no mia que fe · ouuer ,de fazer
a arremat'!.çam nos Luguares onde aos Dorninguos 1

e di~s Sanétos ( por entonce fe ajuntar mais gente·)


fe cuíl:uinam, fªzi1en r as 1 ~frrerria.tàçoes. E poflo que os
ditos - ,bens .. meuees e de ·i1aiz, foj:im , tomados junta-
mente 1 por lhe_. parécer que os mouees nom. ~baíl:a-
uam .1
DAS !UC,UÇÕES Q.!!E "SE FAZEM GEEÍlALM. ETC. 261

uam , fejam 1oguo metidos em preguam huus, e os


outrns, e -correram os preguoes, affi dos mouees, co-
rno de raiz. E acabados os dez dias arremataram oi ;
rnouees , e os de raii defpois de fe acabarem os trin-
ta dias , e em todos os dez dias os mouees, e em to-
dos os trinta os .de raiz andar-arn em preguam po-
las Praças, e Luguares pubricos da Cidade , Villa ,
ou Luguar, onde fe as execuçoes e remataçoes mme-
rem de fazer; e o Tabaliam. ou Efcriuam ferá .pre-
fente cada dia ao preguam, que o Porteiro der no
luguar mais principal, e os outros preguoes efcre-
uerá·o dito do Porteiro, que os der, nos autos da ex.
ccuçam ; e paífaâo o termo dos ditos preguoes nom
ferá neceífario o condenado feer mais requerido pera
dizer fe tem embarguos a arremataçam , porque o
requerimento que lhe foi feito, que paguaffe, ou
àeífe penhores , abafta. Mas paffado o tempo dos
preguoes, os bens, em que. for feita·pen hora, fe arre-
_mataram, e venderam a quem por elles .mais der.
A qual arremataçam fe fará fcmpre por mandado
do Julguador, que a penhora e execuçam mandou
fazer. Porem fe as ·partes·condenadas quÍferem dar,
e auer os preguoês ·por corridbs , e que lhe efperem
.os dias, que os bens auiam Ç'andar em preguam, e
2ffinarem o termo em que o affi diguam, e o que

- re9uere a execuçam for contente, pode-lo-ha fazfr J


e- o executor .nom meterá os ditos bens em•pre-.
guam ; e nom paguando atee o derradeiro dia dos
que auiam d'andar em.preguam, fer-lhe-ham ven-
di-
262 O TncnRo LrvRo'. oA:s ÜRDEN. TrT; LXXI:
didos no de-rradeiro dia ., .em que fe acabar o dito·1
termo , andando o dito d.ia foomente em preguam,
a :qual ar.r<t:maras;am fe· fará fein mais a .parte feer
requel'.rida ~ e '.fe a ptrn.hora:-for em bens <le raiz, ferá
a{finado ·O dita termo pclo condenado~ · e por fua
molher ., fe for cafado.
13 E MANDA Mos ., que .fe atee .o de-r.radeiro dia .
des preguoés aom fe achar qt:lem lance em quaef~ ·
q«er bens, que affi andarem ern pl:eguam, ou fe·
:Ian.çar pouco, e o vencedor quifer mais lançar, en- ·
ta-m poderi lançar o vencedor., ou quem por elle
requerer a execuÇam .; com tanto que peça licença .
.ao JulguaGlor, que a. eJ<:ecuçam manda fai.er, o qual
lha dará no dito derradeiro dia.., quando viir que '
-0utrem nom 1ança ., ou que lança pnuco, e que ·elle
quer maisfançar. -
14 E MAND'AMos, qtie emtodcrcafo onde fe faz .
:a. penhora e execuçam ., que fernpre o condenado•
pague as cuíl:as do proceflo" da execuçam , e·affi o
Efcriuam ., e Porteirn~ e Preguoeiro de tudo o que
lhe for contado.
1 5 E SE alguíi deuedor defpois de fee:r cond.e-·
nado em algiia quantidade de dinheiro , pam-, ou
vinho ·, ou oetra femelhante ·confa que fe cuftuma•
.Conta·r, pefa-r , ou mech.r , emalhear feus he.ns em·
pe-rjuizo do vencedor~ por em elles {e nom fazer ex-·
ecuçam, Mandamos, qúe feja 1prefo-, e o num fol- 1 '"
tom atee compridamente•fal!isfazer ao vencedor, fcm'
poder fazer ce.ífam. E fendo. o Llita deuedon caiado~
e
.DAS'l.EJ<l\'.C VÇÕE$ ...CW i.S!'.t.Mzl!:M 1GEERi.1H.M. : ET e. 2·63

~ teuer bens mouees ,~e -de raiz ,re por fe fazer execm-
;çam da fentença. que contra,elle for dada ,_nos ben~
:de raiz_, ~ emalhear os ._bens mouees .defpois de fecr
.conde1w,do ,. por'.petjudicat arfuâ molher, Mandamos
-<:JUe . .féja prefo, 1 e nom .o~ foltem~atee que..tragua os
bens mouees, que . emalheou, pera fe nelles faz~r
.cxecuçam, em tal guifa, que a molher nom feja dãni-
·ficada nos bens .d e .r:ai'l: . por 1a emalheaçarn • qu.e.o
. marido fez. dos. bens ·mouees.
, i 6 E MANUA.Mi©s 1 que fe o cque :for ·.c ondena'do
. em/ algüa quantidaale ; per.. que deua:de feer penho-
. rado, e o dia.em que for requerido com-a.-fentenç"
cque pague, ou dee penhores , e os nom quifer dll'r
. tenrlo..:os , . ou fe pmmu~ que efcondeo os penhores
, por lhos; nom Jachare:ffi , ·ou os. d'eu taees . de qµe"a
e.parte vencedor , ou o executôr. fe nom contentou ,
por nom ferem de tanta valia corno a c.ondenaç.am ,
. e deípois frndo vendidos fe nom adiar. ,por elles ·a
<dita · con_d enaçam , que·o dito ..condenado ,íeja outra
(.Vez pe.nhor~ do. em tantos beris , que abaftem , fem
1 mais feer .requerido ·pera a ·dita penhora, nem arre-

:; mataçam; e eftes penhores ; que affi nouamente to-


~ marem, andaram em preguam os dias nefta Qrdena-
<çam .ordenados ; e. paguará .o dito condenado ao di-
:::to venceclor,todàs.as cuftas peífoaes, que fezer defde
to tempo que Lfe acabou~ a remataçam dos 'primeiros
·-' penhores, que lhe· foram tomados , que nom 'aba-
J:flaram ,~ atee .realmente o dito vencedor feer paguo
de todo o que lhe he.<deuido :.por a. düa :fentença •
~.. · quer

(
264 O TrncEíRo LrvRO 'DAS 01.HrEN. T1T, i.XXI.
· quer o vencedor feja d'eligente em requerer feu Pª"".
guamento. quer pam ; e fendo a parte vencedor, ou
o executor contente ªº tem,po da _púmeira penhora
dos bens , que lhe fam dados . ~a penl).ora ., .dn tal
cafo 0 vencedor nom leuará cuftas de peifoa do c~m..
po em que fe afil fezer a dita fegunda execuçam.
17 E .PoRQ.YE muitas vezesas partes,condenadas
.aleguam , que tem embarguos .aa fentença, que fe
executa _, Mandamos, que fe quiferem viir com·em-
~bàrguos j que lhe· pareça que fam .de reeeb.er, que os
dem loguo dn efcripto ao Exe0ucor, q~e a aita .exe-
.-cuçam fezer, do dia que for-requerida., que pague
ou dee penhores , ou dCJ> dia em que fo.r .penhor:a~o
a feis dias primeiros.feg4intes. E f.e o diro ce.ndemr~
·d a quifer auer vifta .da,Jentrença antes que os faça;.
1

a Efcriuam lhe dará o treslado. 'Porem em tal cafu


e dito condenado terá cuidado de a .pedir, e auer
~m modo, que dentro dos ditos feis ·clias os aprefen-
. +e; porque norn os aprefent~ndo affi. ·em efcripto
-Oentro dos ditos feis dias , neim forá mais rec.e bido
.a alcguar embarguos algu.íis. de qualquer ·q:u<llidade,
.e natureza que fejam ., nem ouuido acerca delles pe:>r
via d'ç:mb~rguos , , poft.o que ·per palau.ra os teueífe .
.aleguados;; faluo fe j.ura1, que os ouue de nouo defpo)s
-Oe paífado' o :dito termo dos c:}.itos ·feis dias,. 1:porq.ue
.cntam· os poderá a:feguar ·cm _quanto os bens norn
forem arrematados, ou quando alegaar q1.1e a execu- .
·çam, e arremataçam fe faz corno nQm. dcue ,contra
' ', fürma de Noilas O~denaçoê's. ,,; ·- , ,1 • • . ;.

Ji
DA& EX:.ECU.ÇÕES Q!FE SE F:AZEl'il GEERi\'LNf.• .ET'C. 2~5

i.8 E os embarguos., com que as partes condena ..


~fas poderam vFr .dentro do dito tempo., fam fodos
os embarguos de nulidade ., aíli como., que a-fentença
foi dada contra parte nom citada , ou nom ·legiti~
·mamente .citada, ou .que foi .dada ·contra outra fen-
tença já dada ., ou que foi dada por peita -. ou preço ·
que o Ju.iz ouue!J 0u que foi dada p0r falfa .pt9U.ª ·t
-0u que foi dada .por Juiz incompetente em parte J
·ou em todo, ou fob!'e bens de raiz fem procuraçam ..
ou citaçam da molher, ou com falfo :Procurador.,
.ou com •outras :frmelhantes ,, per que fe ·concruda
fegundo _Dereito a fentença feer ninhüa. E bem affi.
-poderam viir com quaefquer ·emba.rgnos que forem
.de tal qualidad e~ que nom ·- 0fendam., nem desfaçam.
.a fentença j á -contra O·cohdenade dada., a:ffi como a.
compenfaçam., e eutras de feme.J.hante.naturcza., .e
.qualidad-e, .que·.nom desfazem ., nem ofendem a fen-
tença como dito .he , as quaes exGepçoês d 'embar..
.guos todas fobreditas fe rnceberarn, fendo em fórma
,que fejam de receber, pofto que as nom ouueffe de
Jlouo,fejá na ·caufa principal nom foram akguadas.
J9 E QYANoe os er.nbarguos nm;n forem cle ni ..
:nhua das qualidades fobredttas ., porem for.em taees·-.
que .ofendam ., e desfaçam .as fentenps defit1itiuas .,
nom 'fe poderam poer., .e aleguctr ao dito tempo da
cxecuçarn .; faluo fejurar que nouamente vieram a
,"! fua notioia,defpois .que a fentença ·foi dada ~ e paíla..
da pE>la ·Chancdaria., quando a fentença he de qua ...
lidade que ha de paffar por a Chancelaria, ou fe
.Liv. 111. - LI . ellc .
'.2 .66 O TERCEIRO LrvR,o _DAS 0Ro. TIT. LXXI.

e!Te que as aleguaífe foJTe Caualeiro, ou ruftico la-


urador, e cada hu.ü delles moraffe, e litigualTe em
a·lgúa Aldea , ou Luguar onde nom ouueífe Letrados
· com que razoadamenre fe pode!Te aconfelhar; por
que taees coffi.:o efks por priuilegio efpecial ·, que
lhes por Dereito he outorguado, podem aleguar os
taees embarguos defpois das fentenças definitiuas,
ain~a que as ofenpam, ou desfaça~ em todo, ou
parte dellas , como dito he.
20 E BEM ASSI, quando o Reo condenado foíle con-
denado aa fua reuelia por nunca parecer em Juiz<>
p.o r fi, nem por feu Procurador, atee fe dar contra.
elle a fentença, pola qual fe pede execuçam con--
tra dle , tal como eíl:e , fe em fua peffoa nom foi ci-
tado, poderá aleguar quaefquer em barguos de qual-,.
quer qualidade que fejam '· poíl:o que os de nouo
nom ouueffe, com tan.to que os aleguaffe dentro dos.
ditos feis dias, corno' emcima dito he. E, porem fe
fendo citado. em fua peffoa nom pareceo em J uizo.
por fi, nem. por feu Procurador, por nom querer~­
nom po_d erá viir com taees embarguos-, fenom co-
mo podéra vi ir frpor fi, ou feu- Procurador. litiguá-
i:a, como emcima Diffenios.
2 e E DECLAR:AMOS, que todos os fohreditos em-

..
barguos, que nefta Ordenapm Diffemos que fe p0;._
dem · poer aa exeçuça.m, fe poderam iffo. mefmo.
·poer _aa Chancelaria·;: e bem affi. os que Diffemos ,
que fe nom podem poer aa execuçam, nom fe po •
deram poer aa Chanc_elad.a ). defpois. q1J_e a fentença.
for .dada.. - . , 22:

/
DAS EXP:CUÇOES QJJE SE FAZEM GEERALM. ETC, '26·7

-'22 E MANDAMOS, que quando a parte contra que


for dada fentença for prefente aa pu bricaçam della ,
e -lhe nom pcfer ernbarguos, ou fe lhos pofer pa!Tar
·a fentença fem embarguo delles, ~ for entregue aa
parte, íe defpois á execuçam da dita fcntença quifer
poer alguüs embarguos, nom lhe íerarii recebidos;
faluo fe a parte condenada jurar, que os ouue de
nouo defpois da fentença f eer entregue ªª parte.
· 23 E o Juiz, que contra defpófiçam deíl:a No!Ta
Ley receber a:·lguüs embarguos, por efie mefmo fei.
tà encorra em pena de tres mil reaes, ametade pera.
os catiuos , e a outra metade peia a pane , que re-
querer a exccuçam da fentença.
24 E PARÁ fe poder faber fe os embarguos, que
a ,parte condenada a execuçarn pofer, foram jã ale-
guados:, e poíl:os perante o Juiz , q11e ã fentença
<lea , ·l\1:andamos ,'que em quaeíquer fenrenças que
fe derem em Noífa Corte, ou na Cafa do Ciuel, ou
per os Defemba.rgt.iadotes ·, e quaefquer outros Jul-.
. guadores, qUe tenham alçada, fe ponha, e a!Tente'
polós Efcriuaês , ou Tabaliaês , fob pena de perdi ...
meoto €19s Ofücios , { fe ó ·affi nom fezerern') íe foi· a
parte condenada prelente aa pubricaçam da fenten-
ça, e fe deípois della pubricada foram poi· ella ,'ou
feu Procurador poftos alguus em.barguos a nom p'af-·
far pola Chancelaria, e o que fobre ta~es embarguos
. ~
t fe poíros foram ) foi. pronunciado, e façam cof~r
·os ditos embarguos , e @ defembarguo fobré eHes'
~fado no feito de que a fentcnça fahio :~ e fe defpoi's ª'
· Ll 2 <lita
.àita parte . condenada; jurar.: perante· o Juiz , que ª'
execuçam, ha de falier -,. que-ouue·alguus embarguos
de nouo-,Je ao dito~ Juiz pa.receF- que farn d-e rece-
ber, remeta-'os aos,.Jui11es que a. fen..tença deram, e·
affihe termo conueniente·aas-pa·rtes ,. a. que perante
elles pareçam._E fe:-os Sobrejuizes,_ou outros quaef~
_quer Defembarguadores. , que a· f~ntença deram ·"'
acharem. que · aqueUes embarguos jáSóram· alegua-.
eos no . feitff antes. da fentença,, ou defpois deli a•·
mandem. loguo . prender· ª' parte que taees, embar--
guos pos , e· a- cwll'danem, cm pena de degredo de
dous. annos:pera cada-huü dos Luguares d' Alem , e_
mais que pague aa parte:· cuja,, fentença embarguoll:
todas as..cuftas- peífoaes , que por razam. dos. ditos.
embarguos. fez.,, em tr:.efdobro •.
2_5 E- EM; todo, cafõ onde a parte-vier con;i quaef...
quer emba.rguos ,. e os. Juizes . acharem,_ que taees
embarguos-nunca, foram aleguados. por aq uelle, que
jurou ~, que nouamente vieram,aa fua noticia, e fem·
em barguo ·ddks for auida. a-fentença• por bem da-
da , ,ou por nom- ferem de receber , ou- por a, parte·
qué -os·aleguou-os nom.prouar fend~.:.lhe recebidos , .
frmpre condena-raro a parte que <>s pos·has cuftas
em dobro., fem da dita- condcmaçam fe poder excufar
por razam' nem caufa- ,. que por·fua parte.- por al,.
güa guifa. fe.poHa dezer, nem aleguar ~-
2.6 E: EST2A. mefrna condenaçam de cufras · em ,do- ..
bro pola dita maneira- em todo cafo .fe fará, nom
crnb.a.rguantc , 'luando, pofer os taees embarguo!l ªª'
Chan~
D1.s ExEcuçÕEs QYE sE FAZJrn· GEERAI:M•· E1' e. 269
Chancelaria ·, e lhe nom forem recebidos , ou os
nqm prouar ,,poíl:o que a principal, fentenç;t foífe fem
euíl:as. '
2_7 . E, EM . t-odo cafo·onde· qualquer. pai'te vier com
~mbarguos def.pois da fenten<fa , ~ m tal. t empo que
lhe de uam de feer recebidos , feer-1-be-há dado pr-i-
meiramente juramento, fe os alegua bem e verda-
deiramenie, e·os efpera.de pwuar ,_ou fe os .faz poin
dilatar•
2_8 E POD-ER·A" o ]'ui'l d-a- execuçam connecer fé
quife,r dbs embarguos , fe os nom quifer remeter .
aos Juízes que a fentença deram, e determinará.
·. fobre elles o que lhe Dernirn parece:, e dará apel!a.:.
çam. e ag,rauo nos-.cafos. que deue,. a. qual apellaçam ·
e·agrauo- fémprc dará, o· Juiz d-a execuctam pera os
Juízes que a fentença d éram., fe forem Superiores
deíl:.e Juiz da execuç,a m;; faluo fe a qunntia de que
fe pede execuçam, coubei: na: alçada- do execut~r~,
porque eni:~m nom-tlará.apellaçam nem .'a grauo: po-
J'.em fe a fentença de que -fe pede -a exeCl:lçam for de
qualidade,. que -o conhecimento;.. da ta-1·· caufa- origi ...
nahnente nom pertenceria.ao Juiz, perante -quem fo
pede · a .execuçam,, como -fe-foíle coufa que perten ..
ceffe o- conhecimento· aos Officjaes da Noffa Fazen-
da, ou .Noífos ·Dereitos Reaes, ou . outros femelhan-
t.e s, em· taees cafos _o Juiz , .que a,execuçam - fezei:: -,
nom conhecerá-dos. ditos em-barguos , mas remete-
los-há ao Juiz,, ou .Juízes que a ,fentença deram.
2~9.,. E. s~, o Jµiz . da, exécuç~m,. nom . quifer conhe...
cer,
273 o TER'C-URO LIVRO DAS ÜROEN. TIT. LXXI.
-eer dos embarguos, e fezer delles remiífam, fempre
·e em .todo cafo os remeta aos J ulguadores, que ·a
fentença deram; porque pois elles deram a fenten-
ça pri1.1 cipal. elles deuem conhecer dos einbarguos
a ella poíl:os; faluo fe a dita fentença for já confir-
mada em parte ou em tod c} por outros J ulguadores
Su2criores; porque entam por euitar circuitos hiram
taees einbarguos, ou apellaçam , e agrnuo fobreditos
aos Superiores , que a dita derradeira fentença con-
firmaram, e os embarguantes 1:wm pÓderam aleguar
( p~r a nte os Juízes que a fentença püncipal deram,
. ou confirmaram ) outí-os embarguos, fe nom aquel-
les, que em ternp~ deu ido teuerem aleguados peran-
te o Juiz da execuçam; faluo aquelles que jwar, que
ouue de nauo, que fejam taees, que por Dereito de.-
uam de feer recebidos.
30 E C)YANDO a fentença~ de que fe requere execu-
çam, for per que alguü. fcja condenado em algüa au-
çam real 1 ou peífoal, que entregue algüa coufa ·certa
o
ao vencedor, aITTnar-Ihe-ha Juiz da ·execuçam ter-
mo de dez dias , a que a entregue fe hi for achado;
e norn fendo hi achado , ferá eirado - pera lhe affina-
rem termo de dez dias aa foa reuelia, fe nom vier aa
·dita citaçam, a qual citaçam ferá feita fegundo Dif.;.
femos neíle Liuro, no Titulo Das âtações; o qual ter-
mo paffado fe a nom cntreguar, feer-lhe-ha tomada
forço tamente per a J uíl:iÇa. fegu_ndo o cafo requerer~
fem mais feer a parte condenada pern ello citada. E
f;e ()dito condeiudo teuer embatglilos -aa dita fen-
ten-
DAS EXECUÇÕES ~- E SE FAZJlM GEERALM. n · e. 27r
t<:nça , os aprefentará dentro de feis .dias do dia que
lhe for aílinado o dito termo dos dez dias, e pa!fa-
dos os dez dias entreguaram a pane da coufa em que
he condenado, como dito he; e eílo; quer .vieífe com
embargues ao. dito tempo, qi1er nom. Porem no ca- ,
fo que :vier com embargues ao dito tempo, o ven-
cedor dará fiança ( quando a coufa em que he frita
condenaçam nom for de raiz ) a ella, e a. todas per-
das, e .dãnos,, como emcima Di!Temos, quando a
condenaçam he em quantidade. E quando a coufa
em que he feita condenaç:im for de raiz, dará fian-
ça aas nonidades foomente ; e :10m téndo- fiança,
em tal cafo o executor mandará focreílar as coufas-
de que for feita condenaçam, e poer em arrecada-
çam os frui tos, fe forem bens de ra-iz. E em todo o.
mais procederá o Julguador fobre os embargues na-
fórma e maneira, que emcima Diffemos ne-íl:a Orde-
naçam acerca das outras execuçoês.
31 E SE effe condenado maliciofamente leixou de
po!fuir elfa ~oufa j u.Iguada, por fe nom fazer em dia.
execu,çam, defpois da lide com elle conteíl:ada-em di-
ante, far-fe-ha e-x ecuçam em cll~ fe achada for em
poder d'aquellc em que foi em alheada, fem feer com
elle outro proceffo ordenado, fe foi fabedor como a'.
dita coufa era litigi.ofa ao-tempo que foi trefmuda-
da. em dle,. ou fe teu e juíl:a razam de o faber. PerQ-.
Í'e o vencedor quifer foomenre a verdadeira. valia·
della, a qua-l nom foi eftimada na fentença, em ' tal
cafo· taxará. o Julgua-d or a valia della com confelho.
d.' al,..
2.72 O TERCEJRo_L1vRo DAS ÜRDEN. TIT. LXXI-.

0
d'alguus que ajam dello bom conhecimento, e atee
a dita taxaçam poderá 'º d.iro vencedor jurar aos S.
AuangeÍhos fobre a valia della, e -fegundo feu jura-
,mento ferá o dito Reo comlenado,,jurando' elle atee
.a dita taxaçam ., e mais narn. E fe o vencedor quifer
auer nom foQmente a verdadeira .cxtimaçam da .cou-
.fa , mas fegundo a afeiçam que .a ella auia, em tal
cafo jurará ell~ fobre a dita - afeiçam, e defpeis do
dito juramento f>Ode o Juiz taxah, e fegundo a dita
.taxaçain afli condenará o dito Reo, e ·f ará execuçam
em feus bens fem 01:1tra citaçam cla parte. E nora
fendo .ao .dito condenado achad0s ·bens defembar-
guados.~ por que.fe faça execuçam em todo ' aque~,lo
em que affi for condenado, Mandamos, que .feja
prefo ., e nom fol'to .( nem poffa fazer -ceifam .) atee
que todo entregue liurernente .pera ·fe fazer a dita
cxecuçam defembarguadameme, ·e ne cafo em que
a coufa vem já na featença eftimada , -c0mprirá ~
Juiz, e executará a dita...fentença na extimaçam fem.
outro juramento., e uxaçam, nem .condena.ça1:n de
intereffe~
32 E MANDAMos •• que vindo alg\ia peffoa a em-
.bargua.r algífa coufa. em que fe peça (J.-execuçam. affi
moueL, como de raiz, por di'ler,, que a dita coufa.
pertence a elle.~ e que nom .foi ouuido fobr.e -ella, e
que po.r .tanto nom deu.e feer entregue ao .vencedor•
ou aleguar outro qualquer embargua a fe nom dar a
fentença a execuçam, que em trtl cafo a execuçam fe -
.fa,ça no condenado.; e fendo a .ra4am dó embai:guo 2
icom.
DA EXECUÇAM QYE SE FAZ POR o PoRT. ET ·c. 17j
com que tal terceiro embarguante vem, tal que por
Dere!to lhe deua feer recebida, o vencedor dará fian..
ça aa coufa de que affi fe pede a execuçam , e lhe
ferá entregue; e nom a dando ferá poíl:a a dita coufa.
em ~ue fe aili fez a execuçam em poder de huu ter..
ceiro, atee finalmênte fe determinar fobre o dito ·
embarguo.

T I T U L O LXXII.
Da execuçàm , quefi faz por o Porteiro_, e_outros
Ojficiae s , e do que lhe tolhe o penhor~

S E a fentença de que fe requere execu~àm patrar


de contia de mil reaes , o Julguador a rriandará ex-
ecutar por huü Tabaliarn, ou Efr:tiuam d'ant~ elle,
-0 qual leuará cornfiguo .o Porteiro pera tornar os pe-.
~hores , e o dito Tabaliam ou Efcriuam requererá
aa parte condenada que pague , ou dce penhores,
como Diffemos no Titulo precedente, o qual reque..
rimento efcreueráno auto da penhora , e polo dito
requerimento ficará loguo requerido pera arremata..
çam, e comprirá em todo acerca da dita execuçam
o que hi Diífemos. E fe a co.ndenaçam nom paífar
_d e mil reaes, em tal cafo mandará fazer íl dit!l pe ..
nhora polo Porteiro fem .mais Efcriuatn , o qual
Porteiro leuará o Aluará da dita condenaçam , e fa ..
rá o dito requerimento aa parte; e nom qm;rendo
Liv. lll. Mm pa..
274 o TERCE:IRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LXXII.
paguar o penhorará, e dará de todo fee ao Tabaliam,
eu Efcriuam que os pregueis ouuer de efcreuer •
guardando i.ífo mefmo acerca da dita penhora o
que Diffemos no Titulo precedente; e affi o Efcri-
uam como Porte~ro, quando fezerem penhora por
·A luará, ou fentença, nom receberam aa parte conde-
nada cauçam algüa , mas favam fua penhora , como
dito he. E nom lhes contradigua peffoa algua ·a dita
penhora -por·força,' -nem lhes tólha o penhor em que
affi quiferem penhorar. E quando o Porteiro quifer
fazer algua penhor-a, e execuçam fem Carta No!fa,
ou fenténça , ou fentença d'alguú No!fo Julguador,
ou Aluará, dizendo que a quer fazer por mandado
de algüa Juftiça que pera-iffo tenha auétoridade , e
effe contra quem fe faz a execúçam qúer · dar boa
cauçam, ou penhores perante teftemunhas pera hir
eftar .a Juizo, e o Porteiro nom quer receber a cau-
çam , e o quer penhorar, fe a parte lhe requerer
perante dous ou tres homês bons , que o nom pe-
Flhore, pois quer dar cauçam pera eftar a dereito,
poder-lhe-ha tolher o penhor , e por força fe necef-
fario for, fem por iífo encdrrer em pena algüa ; e
nom querendo a parre { que o Porteiro quer penho ..
rar) dar a dita cauçam , nom poderá tolher o pe..o
nhor ao Porteiro ; e fe llio tolher, em efte cafo pa-
guará noue centos rcaes pera a Noffa Chancelada P
e fe nom teuer bens per que fe pague a dita pena~
feja prefo, e o nom faltem atee que a pague.
i E SE lhe tolher, ou lhe nom quifer leixar to-'.'
mar
-
~E NOM AJA PoR TE IR.OS ESPECIAIS ET e. :27 s
mar o penhor affi ao Porteiro , como a outro Official
.da Juftiça; quando o foífe penhorar por Carta, ou Al-
llará que leuaífe d'alguü Julguador, auerá a penà.
que Diremos no ~imo Liuro, no Titµlo Dos qtf.t
rej'zjlem aa Jufliça, por quanto o Aueroos por refi-
.ftencia. ·

T I T U L O LXXIII.
!1(ue no1n aja Porteiros efpeciaes pe1'a fazer as execu.
çoés nos Luguares ()nde ouuer Moordomos, , '

M ANDA~OS, que ..nos Luguares· onde anti-


guamente fempre ouue, e ora ha Moordomos, norn
aja hi Porteirós efpeciaes péra fazer as·execuçoês ..
mas façam-nas os ditos l\!Ioordomos; e onde Moor-
domos nom ouuer, os Porteiros das Cidades ;e'Vil-
las, e Luguares façam as execuçoes, aili como as
fazem .eífes Moordomos nos Luguares onde os ha. ·
I EMPERÓ fe per os Reys 'Noílos Predeceílores,,
ou per, N6s, e Noífas . Cartas fam dados .alguGs Por..:
teiros , ou Sacadores aos Arc,ebifpos, Bifpos, Me-
ftres , Ordes , Cabidos , Mqefteiros , Ab~des , e Pii-.
·ores , e algúas grandes peíloas pera executarem :> e .
.arrecadarem fuas. diuidas , taees .como eftes pode-.
ram fazer as execuçoes per· as fentenças deíles a
que ·affi per Noífa.s Cartas fqrem outorgu<\dqs., ,pofro
que em efl:es Luguar~s aja .Mçoi:.do[\'los •.
Mm 2 i
. '-

276 O T~RCEIR.O L1vRo DAS ÜRD. trr. J;;XXIIII.


2 E POSTO QYE 0s Porteiros, e Sacadores que
aos Prelados, e Meíl:res , e aos outro~ fobreditos fo-
rem dados, façam as execuçoes nos bens de feus de-
. uedores nos Luguares· onde ouuer Moordomos, nom
·Perderemos Nós ·per iffi> a dereito do Moordomado
que de taees execuçoés Nos pertence auer, mas Aue-
Joemos, ou NolTos Moordomos ; e fe etfe.s Porteiros,
ou Sacadores antes qui~erem leixar fazer execuçoes
aos No!fos Moordomos, ou Porreiros, façam-nas el-
Jes como fazem geeralmente per as outras fentenças
de- cada huil do Pouo. · ·

T I T U t. O LXXIIII~

fluanefo o creeáor, que primeiro ouuer fentelzça, e fizer


execuçam , precederá os outros,.. po.fla que Jejanz,pr,i..
111eiros em. te'ltlpa.

SE algüa peílôa for ohriguada a muitos creeàoreir~


e alguü delles o demandar por fua diu·ida ,. e anda
com eHe a feito·perante o Juiz,. a que o conhecimen·-
to pertencer , e ouuer contra eHe fentença ,. e fezer
per ella penhora em' feus bens,. e and~ando ainda em
almoeda , ou fendo Já vendidos, e arrematado.s , vier
outro creedor ,·a que effe condenado por Dereito era
primeiramente obriguado paguar , e requerer que
cm os ditos bens ( fe ainda nom forem vendidos ).
{e façà execuçam por fua diuida, por füa o~riguaçam
· de~
'
0EANDO O CREED. Q!7E PRJM. OUV. SENT, ETC. 277
deuer preceder a outra fegu ndo Dereito, ou que lhe
entreguem o dinheiro, fc já os bens forem vendidos,
nom lhe feja recebida tal razam, fe o creedor que
ouue a fentença demandou o deuedor em prefença
d'aquelle que diz, e alegua, que a fua diuida deue
preceder, e ell_e nunca o contradifle per fi, nem per.
outrem , nem o refertou perante o Juiz em quanto
o feito durou ; faluo fe aquelle, que diz que a fua
diuida era primeira , norn era no Luguar onde fe
trautou a demanda, nem teu e razam de faber quan..
do o dito cteedor demandaua fu a diuida ; porque
nom fendo elle no Luguar onde fe a demanda trau..
·taua, ou fe foi prefente .referto.u, e protefiou peran-
o
te Juiz de auer fua diuida primeiro-, e o deuedor
nom teuer outros bens, per que elfe. primeiro creedor
poífa auer paguarnento de fua diuida; porque em
eíl:es cafos o creedor que precede por eíl:es bens , em
que fe faz execuçarn , ou por-preço d'dles, auerá pri-
meirafl)ente paguaménto de fua diuida, poíl:o que o
.dito preço já: foffe entregue ao outro creedor. E po ..
rem ten do o deuedor outros bens, por que o creedor
que deue preceder potra auer feu p.aguar.nento, aja~o
por elles , e nom per os bens em que o outro cree...
dor per fua fentença fe'L primeiro ·execuça.m , e pe-
nhor~ ~
1 E TODO o que dito he auerá luguar affi nas au-
.çoês reaes, como peífoaes.
'l E SE dous ereedores ouuerem fentençá contra
huú deuedor, QU em huü Juiz.o ,. ou em diuerf~s~ ,
aque
273 O TERCEIRO L1vRo DAS ÜRD. TrT. LXXIIII.
~quelle que primeiramente fezer a execuçam, ou
· ·'penhora per fua fentença, precederá o outro que
defpois quifer fazer execuçam em aquelles bens, em
que he já feita penhora pola fentença do outro cree ..
do_r ; poíl:o que efle que mais tarde requere execu-
çam ouue!Ie prim~iro fua fentença contra o deue-
dor , e poílo que foffe primeiro creedor, e ainda
que pertenda reer auçam real; faluo fe o que pri-
m eiro ouue fentença , e primeiro foi creedor, tcue
alguü legitimo , e fam neceílario impedimento ,,
por que nom pode ·e xecutar fua fentença; porque em
tal cafo, pois nom foi negrigente, nom lhe ferá im-
putado por nom fazer a execuçam ao tempo que
deuia, pois a nom pode fazer polo impedimento
que lhe fobreueo. E poíl:o que já foífe entregue o
p~eço que fe ouue polos bens arrematados a aquell~
que primeiro fez execuçam, poderá requerer fu.a
cxecuçam no dito preço , prouando o dito impedi-
mento.
3 E PORF.M quando alguü quebrar, ~eremos,
·que dentro de huü mez inteiro do dia que quebrar
•nom aproueite deligencia algüa, que qualquer cree-
dor fezer no dito mez , affi acerca d 'auer fentença ,
·como de fazer primeiro penhora, e execuçam no
dito mez, pera pàr ello poder preceder os outros.•
foomente fe auerá refpeél:o pera a precedencia fegun-
do for a qualidade da obriguaçarn ; e paílado o dito
mez enram auerá luguar a deípoíiçam deíl:a Ley, fe-
. f;Undo nella he contheudo.
Co~rn sE HAM o' ARREMATAR os BENS ET e.

T I T U L O LXXV.
Como ft ham d' arrematar os bens , e rendas dos 'Moor-
/

guados , ou Capelas , ou bens foreiros.

S ,ENDO feita execuç~m e penhora em alguus bens


de Moorguado., ou Capela, por ver'tude d'algüa fen-
tep.ça, e andando em preguam o tempo ordenado,
fe a fentença foi dada contra o lnfütuidor, ou a con-
denaçam for por ca~fa ·d'algüa diuída , ou ob~igua­
çam que procedeífe da pefioa do lníl:ituidor, que d
dito Moórguado, ou Capela primeirárriente iníl:ituio>
e Órdenou, em tal cafo poder-fe-ham vender e arre-
matar tantos dos ditos bens do Moorguado,' ou Ca-
pela, que razoada mente poífa.m abaíl:ar pera pagua-
mento da dita ditrida ; porque pois aquélle que o
Moorguad~, eíl:abeleceo obriguou eífes b~ns, de que
dotou o dito Moorguado, ou Capela, ou clle fc obri-
guou aa dità diuida , com razam fe podem vender e
arrematar por fua diuida, como quaefquer outros
bens.
l E Q!J'ANDo. a condenaçam procedeo da diuida,
ou obriguaçam do Senhor, ou do Adminiftrador do
Moorguado, e Capela, e nom do Iníl:ituidor, erri tal
. cafo nom fe poderam Ós bens do Moorguado; ou Ca-
pela arrematar, nem vender, ,mas arrendar-fe-ham
foomente em cada huu anno , e paguaàos todos os
cncarreguos, pera que eíl:es bens foram pelo Inil:itui-
dor ordenados., e aili as cuíl:as e d<tfpefas, que acerca
def-
280 o TERC!IRO LIVRO DAS ÜRDEN. TIT. LXXV.
delres bens, e colhirnent:o dos fruitos forem feitos,
todo o mais que fobejar, ·q ue o Adminiíl:rador pera fi
aja d'auer, ferá entr~gue em cada huü anno ao cree-
<lor que a fentença ouue contra o dito Adminiíha-
dor , atee feer paguo e entregue de toda fua diuida.
2 E Q!JANTo aas diuidas que por morte do dito
Adminiftrador fiquarem, fe guardará o que Dire-
mos no ~arto Li tiro, no Titulo Do //qjfalo d' ElRey
que obrigua caualo 1 e-armas &e.
- 3 E Q!JANTO aa execuçam, que fe requerer nos
bens da Coroa do Reyno, que alguús de Nós tem de
juro e de herdade, ou em merce. ou nos affenta-
mentes que de Nós tenham por raza'.m de feus ca-
famentos, ou por qualquer outra razam , fe guardará
o que Diremos no ~arto Liuro , no Titulo Do Yaf-
/alo d' ElRey que obrigua o caucúo, e· -armas.
4 E SE_ os bens em que for feita penhora forem
de foro, ou ·d'arrendamento ·que paífe de dez annos
pera . cima, feram vendidos , e arrematados pubri-
camente--a quem por elles mús der com todo feu
foro , e encarrÇguo a que forem obriguados ; e eíl:o ,
pom fendo acb~dos ao con enado outros bçns pa-
trimoniaes, em q _.a fazer e~ecuçam , porqúe
fe poíta .fazer inteiro paguamento ao creedor que a
fentença ouue; e eíl:o, fem embarguo qu~ no contra-
él:o do aforamento, ou arrendamento feja poíl:o, que
os bens fofo ditos nom . pofram feer vendidos, nem
emalheados fem confentimento do Senhorio , por-
J que a dita claufula nom ha luguar na venda feita

por

/
CoMo .sE HAM n'ARREcAD. E AJ.tREMAT.·E.T e. 28I

por neceflidade_, e rnandado da Juíl:iça; feiá porem


o dito Senhorio requerido áo tempo <la arremataçam
.fe os quer tanto por tanto, como mais comprida-
mente Diremos no ~arto Liuro, no Titufo Do fo-
reiro que vendeo ofaro por auéloridade do Senhorio.

T I T U L O LXXVI.
Como ft ham d' arrecadar, e arrematar as coufas
achadas de vento.

S
)

ENDO alguüs bois, vacas, ou ou~ro qüalquer


guado, ou beíl:as achadas de vento, o Moordomo, ou
Rendeiro, ou qualque.r_ que carreguo teuer de arre-
cadar as coufas do vento, as faça loguo efcreuer, e
· ~dfentar no liuro por o Efcriuam dos Dereitos Reaeso;
ou Tabaliam pera iffo ordenado , o qual efcreuerá o
dia, e mez, e anno , e a cor, e íinaes da coufa acha-
da , e Q nome de quem a achou, e o luguar onde
foi achada; e fe as achar outra algüa pe!foa, que nom
feja o l{endeiro, ou Moordomo, e às tomar, o noti-
fique loguo ao dito Rendeiro, ou Moordomo, do dia
que a achar a cinco dias; e nom lho notificando ao .
dito tempo paguará a dita beíl:a, ou guado, que affi
achou em dobro ao Rendeiro, ou M oordorno , ou
a aquelle que teuer carreguo d'arrecadar ~s coufas
do vento.
1 E EM cada hüa Cidade, ou Villa aucrá huú lu-
, Lip. III. Nn guar
282 O TERCEIRO LrvRo DAS ÜRo. Tn;. LXXVI.
'g uar affinado conueniente pera efto, -que feja acerca
da Vil la, pera a clle trazerem as beílas 1 e guados do
vento; e feram hi trazidos por o Moordomo ou
Rendeiro aa terça feira de cada hüa fom_ana, atee fe
acabarem quatro mefes contados do dia que forem
aífentados· no liuro ,. e eíl:o nos Luguares onde fe cu-
íl:uma fazerem feiras nos ditos dias da terçã' feira.
E nos outros Luguares trazeram ·as ditas coufas do
vento ao dito luguar em qualquer outro dia de ca-
da fom ana, fegu;1do for o cuftume do Luguar, em
os quaes dias fe apreguoaram os guados, e beílas do·
vento ; e efcreuerá os ditos preguoes o dito Efcri-
uam dos Dereitos Reaes ,. ou Tabaliam pera iffo or-
denado, em feu. liuro, pera fe pod\er faber como as
ditas coufas affi andam de vento, e viir a noticia de
feus donos, pera as viirem ~equerer e arrecadar.
2 E SE dentro dos ditos quatro mefes vier feu
dono d'aquella coufa que for achada de vento, e fe-
zer 'certo que he fua, fer-lhe-ha entregue, e elle pa~
guará ao lv,Ioordomo ou Rendeiro as éuftas que fez
em manter e gua,rdar a dita ·coufa , fe della fe nom
feruio. ·
3 E PASSADOS os ditos quatro mefes , nom lhe
fahindo dono, o Julguador a que o conhecimento
pertencer, fendo requerido e vendo os Autos , fei-
tos na fórma fobredita, julguará ao dito Moordo.. .
mo, àu a aquelle a que o dereito do vento perten ..
cer, os ditos guados , ou beíl:as que affi andaFem de
yento; e tanto que -lhe forem julguadas ' as poderá
·Ven-
CoMo SE HAM D'ARRECAD. 11: ARREMAT. ET e. 28] .

vender e arrematar a quem lhe aprouuer, e fará


deli as como de coufa fua. E pofto que defpois de
lhe ferem julguadas ~enham feus donos a deman-
dalas, nom feram ouuidos, nem recebidos a tal de-
manda.
4 E ANTES do dito guado, ou beftas ferem jul-
guadas na maneira fobredita, o Moordorno, ou Ren-
deiro, nem aquelle cujo for o dcreito do vento,.nom
podera m vender, matar, nem alhear per maneira al- ·
gua o dito guado, ou beíl:as, nem efconder, nem le-
uar pera outra parte as coufas que affi trouxerem do
vento, mas todo o tempo dos ditos quatro mefes
as trazeram no Termo da Cidade? ou Villa onde
forem achados, e em luguar que as pofiam veer, e
f.aber onde andam ; e o que o contraira fezer feja
prefo, e aja aquella pena que aueria, fe as dicas cou-
fas furtaffe. Emperó fe em algúa Cidade, ou Villa
for per Foral ordenado , ou por Poíl:ura, ou Cuíl:u-
rne antigu-o vfado, e longuamente praticado, que as
coufas do vento ajam mais tempo d'andar em pre-
guam que os ditos quatro rnefes, Mandamos que fe
guarde o tal Foral, ou Poíl:ura, ou antiguo Cuíl:ume
do dito Luguar, affi acerca do m,ais tempo a que fe
a•jam·de julguar, como da ordem e folemnidade que
fe niHo deua de guardar.

Nn 2 TI~
.284 O TERCEIRO L1vRo DAS Orrn. T1T. LXXVII.

T 1 TU LO LXXVII.
Dos agrauos dasjenten~as definitiuas, quefahem d'ante .
o Corregedor da Corte, e Ouuidores, e Sobrejuizes,
como e quando ham de feer recebidos , e atempados,
e como feram executados.

O S Sobrejuizes, que ellam em a Cafa do Ciuel,


julguaram os feitos que a feus Officios penencerem,
fem delles fe poder agrauar, atee contia de quatro
marcos de prata , ou fua verdadeira valia , que pe-
los tempos valer , nom entrando neíla contia as cu-
ftas da demanda ; porque atee a dita contia lhe Da-
mos alçada , fegundo he contheudo no Titulo Dos
Sobrejuizes.
1 E PASSANDO a contia fobre que for a deman-
da a vafiá de quatro marcos de prata, poderá qual-
quer das partes que fe fentir agrauada agrauar de
fua fentença , e fer-lhe-ha recebido feu agrauo ,
com tanto que agraue dentro de dez dias contados
do dia da pubricaçam dá fentença , fe elle ou fell
Procurador for prefente aa dita pubricaçam ·; e nom
fendo prefente , contar-fe-.ha_m os dez dias do tem-
po que a pa_rte , ou feu Procurador for fabedor da
dita fentença.
-2 E EM todo cafo que for agrauado da fentença
dos Sobrejuizes , e o agrauo for recebido , paguará
a parte agrauante noue centos reaes pera a Chance-
. lal'ia da dita Cafa do Ciuel.
3
Dos AGRAVOS DAS SENTENÇAS DEFINIT. ET e. 285

3 E SE a contia fobre que for a demanda, em


que a fentença for dada por os Sobrejuizes, de que
for agrauado , nom paífar de oito marcos de prata,
oll fua verdadeira valia, que valer ao tempo da fen-
tença, nom entrando nefta contia as cuftas, hirá o
agrauo aos Defembarguadores do Agrauo da dita
Cafa do Ciuel, os quaes o defernbarguaram fegundo
Regimento de feus Officios. _
4 E sE a contia fobre que for a demanda, em··_
que a fentença for dada ·por os Sobrejuizes, de que ,
for agrauado, paífar de oito marcos de prata, ou fua-
verdadeira valia , a-fóra as cuíl:as , hirá o agrauo>·
aa Cafa da Sopricaçam. '
5 E SENDO a fentença dada por o Corregedor da -
Corte.• ou per alguus outros Defembarguadores, que-
cm luguar do Corregedor defembarguem alguüs fei...;
tos per Noífa comiífam , ou de quem pera ifio Nof..
fo poder teuer , fe a contia fobre que for a deman-
da, em que a dita fentença for dada , paífar de tres
mil reaes , ou fendo dada por os Ouuidores da Cafa
da Sopric_açam paífar de valia de quatro marcos de
prata , nom contando as cuftas , poderam as partes
agrauar, fe fe fentirem agrauadas , e fer-lhe-ha re-
cebido feu agrauo pera o& Defembarguadores dos
Agrauos da dita Cafa da Sopri<::açam , e o Agrauan.o.
te ferá obriguado paguar os noue centos reaes do
agrauo pera a Chancelaria da Corte.
6 E SE a contià fobre que for a demanda, em
que a fentença for dada por o Corregedor , nom paf-
far
z86 O TERcECRo L1vRo DAS ÜRD. T1T. LXXVII. .
far .d e tre~ mil reaes, ou fendo dada por os ditos
Ouuidores nom paffar de quatro marcos , afóra as
c:;.uíl:as, nom receberam della agraHo, porque atee a
dita contia ~eremos que tenham alçada.
1 7 E os Ouu.idores das Ilhas, que na Noffa Caía
da Sopricaçam andam, teram alçada nos feitos ci-
u:eis atee cem.mil reaes; e paffando a contia dos cem
mil reaes, nom contando as cuíl:as, poderam delles
agrauar1, e receberam o agrauo pera os Defembar-
g.uadoi:es, do Agrauo da dita -Cafa da Sopricaçam.
: 8 E. DJ;!CLARAMOS que pera fe veer, e faber fe he
aafo d'agrauo , por fe dezer que cabe na alçada que
Temos dada ao.s Sobrejuizes, ou que ferá concedi-.
do o agrauo pera húa Cafa ,, ou. pera outra, quer o
Reo agraue, quer o Autor, fempre fe oulhe a quan-
tidade polo Autor pedida., ou a valia da coufa por
clle pedida, e eíl:o, poíl:o que a quantia Ol:l valia da
condenaçam caiba na alçada do Julguador. A qual
,confideraça~1 fe auerá iífo mefmo pera veer fe he
cafo d'.agrauo , ou nam , quand? fe agrauar do Cor-
~regedor da NoíTa Corte, ou de cada huü dos ditos
Ouuidores, e affi mefmo nas apellaçoes d'ante quaef-
quer J uizes.
e 9 E POR Q.Y ÁNTO muitas vezes as demandas fam
fobre poffe d'algüa ,coufa, e fe. daa fentença foomente
fobre a poffe, ~ lhe fica refguardado aa outra parte
feu dereito fobr.e a propriedade, e vem muitas vezes
cm duuidft como fe aualiará a polfe pera concedi-
mento do,agrauo , Declaramos, que fe aualie a dita
pofie
Dos AGRAVOS DAS SENTENÇAS DEFINIT. ET e. 287

poífe em menos amet~de do ·que valer .a proprieda..


~ de, e fegundo a valia da dita po!fe affi fé c·onced~..
· rá, ou deneguará o dito agrauo , e fe verá fe fe i::on..
cederá pera hua Cafa, ou pera oUtra. '
10 E POR QyANTO as partes faziam atee orá
·muito guaíl:o, e pa'ffaua muita dilaçam, · em ·hirem
fazer certo da valia das·coufas demanrlad'a s, defpo'i:s
·que os Juizes da caufa d'apellaç·a·rh tinham dado
fcntença, pera fe faber fe ·be cáfo d'ag1'áuo , e. affi
pera fe veer pera qual das Ca(as fe ha de conceder>
por euitar as femelhantes dilaçoes, e' defpefa aas par..
tes, Mandamos, que tanto que os Juizes inferiores fe ..
ceberem as apellaçoês, antes. que as atempem', 'fa:--
çam louuar :is partes cada huü ·em fua pefioa, e fe
defuairarem, lhes dem huü terceiro que aualie a·cou-
!fa que he pedida, e o que diíTerem fe ponha no ca..
bo da apellaçam ; faluo feno mefmo feito de que he
. apellado fe tratou fobre a valia ..( da coura demanda-.
da, e fobre dlo fe fezeram artiguos, e inquiriçoes ;
porque em tal cafo nom fará o d.iro Juiz mais au·a-
liaçam. E o jll'iz que a apellaçaQ1 atempar fein nel:..
la mandar feita a dita aualiaçam , no cafo em que
por eíla Ordenaçarp Mandamos que a faça ·, e affi o
Tabaliam. do feito, paguaram ambos as. cuftas, que
por a nom mandar f~ defpois fezerem. . ,
11 E MANDAMOS que quándo as partes ·a graua-
rem d'ante os Corregedores' de Noffa Corte , Ou.uio.
dores, e Sobrejutzes , ou quaeíi:iuer Defembúgua-
dores de_que aja agrauo > af.Ii das fentenças defini ri!..
uas,,
288 O TERCEIRO L1~Ro DAS ÜRo. Tn. LXXVH•
. uas, ou de interlucutorias, e mandados, que ouuc ..
, rem força de definititJaS, affi Como nom receber li-
. pelo a'O Autor, ou deneguar-lhe fua auçam, ou de-
mandando fumaria que nom. caiba em fua alç.ada,
paguaram o dinheiro que polo dito agrauo he orde-
,nado dentro de dous mefes , contados da pubrica-
çam da tal fentença, e aprefentaram / o feito perante
os diros Defernbarguadores dos Agrauos em termo
,de dous mefes , contados d o dia que a fentença for
pa!fada pola Chancelaria , ·pera poder feer ei;rregue
aa parte. Porem fe for ernbarguada na Chancelaria
pola parte que agrauou, correr-lhe-ham os ditos
.dous mefes do tempo que a femença for por elle
cmbarguada a_o temp.o da dada na Chancelaria. -
12 E SE por ventura a parte contraira aleguar
embargues a no~ feer concedido o agrauo , ou o
J ulguador que o oúuer de conceder o deteuer antes
que o conceda,. por querer veer fe o concederá, ou
deneguará, todo o tempo que fr guaíhr no profe-
guimento dos ditos embarguos, ou o J ulguador o
deteuer, nom fe contará nos ditos dous mefes. E fe
.acontecer que os ditos dous mefes fe acabem no
cfpaço , aprefentará a deligencia na primeira Audi-
cncia que fe fezer defpois do efpaço.
i3 E QYANDO as partes, que ouuerem de feer ci-
tadas pera profeguimento do agrauo, efkuerem nas
J lhas , ou fóra do Reyno , ficará em arbitrio dos
Julguadores de lhe ailinar o termo, que lhe parecer
,conueniente pera cnar a pay-te, e pera aprefentar o
agra-
Dos AGRAVOS DAS SENTENÇAS DEIPINITIV. ET e. 2S9
agrauo, fegundo a diíl:ancia do Luguar onde a parte
eíl:euer, e a qualidade do tempo. ,
I4 E sE acontecer que a parte contra que he da-
da a fentença nom agrauar della, ou tendo agrau ado
nom paguar, ou nom feguir o dito agrauo em o tem-
·P º fobredito, e a'l'eguar embarguos aa dita fentença,
fobre os quaes for dada fentençé\, de que ilfo meímo -
agrauar, e paguar, e frguir o agrauo em o termo de-
u ido, os Defembarguadores do agrauo lhe d aram a
prouifam , que em Dereito acharem, quanto ao con-
theudo nos ditos embarguos, e da primeira fenten-
ça noln conheceram\ faluo fe polos ditos embarguos
fé rnoíhar tanto, per que deuam anula-la ou modefi-
ca-la em parte, ou em todo; porque entam o faram,
como poderam fazer, e conhecer os Juizes de que
foi agrauado.
15 E NOM paguando os Agrauantes o dinheiro do
agrauo , ou pagu ando e nom fcguindo o agrauo aos
tempos acima declarados , nom o poderam mais
profcguir, nem fejam a ello mais recebidos ; faluo
amoftrando alguli cam lidimo e neceffario embarguo,
por que o fazer nom poderam ; porque em cal cafo
fc focorrerarn a Nós, e ·Nós lhe Proueremos como
for Oereito; faluo fe aleguaITe fcer menor , e que lhe
ha de f~er concedida reíl:ituiçam , porque neíle cafo
lhe poderam prouer os Juizes que lhe ouuerem de
conceder o agrauo, fem mais hirem a Nós .
. 16 E EM todo cafo onde o Agrauante for tam 12:º-
pre, que jure que nom tem bens moueis, nem âc /
. Liv. Ili. Oo raiz. >
z90 o TERCEIRO LIVRO DAS Orrn. TIT. LXXVII.

raiz, nem por onde pague o agrauo, (dizendo na Au..:.


diencia huü Pater Nojler pola alma d'ElRey D. De.
nis ) feer....fue-há auido como que paguaffe os noue
centos reaes, com tanto que tire de todo ccrtidam
dentro no tempo que auia de paguar o agrauo •
• I 7 E MANDA Mos, que quando for agrauado d'ante
·os Sobrcjuizes, e lhe parecer que he cafo d'agrauo ;
elles por fi o poffam conceder, e concedendo-o, o
feito hirá aos Defembarguadores do Agrauo, a que
dereiramente ·pertencer, perante os quaes a parte
contraira poderá requerer fua juíl:iça, fe lhe parecer
que nom era cafo d'agrauo, e lhe ferá por elles pro ~
u.ido fe acharem que nom era cafo d'agrauo , e que
clle pos por agrauo n'? auto do proceffo de affi feer
concedido o dito agrauo. E parecendo aos ditos
Sobrejuizes, que o agrauo nom he de receber, le•
uem o feito aa Rolaçam da Cafa do Ciuel, e na Me•
fa grande perante o ·Guouernador fc determinará fe
he cafo d'agrauo, ou nom, e como hi for determi ..
nado fe comprirá, e gmirdará.
I 8 E Q1JEREMos que fe ambas as partes agraua..
rem , e hüa dellas foomente paguar o agrauo; e o
aprefentar em t<;mpo deuido , que fe nom poffa
prouer a outra parte, que o agrauo nom paguou cm
tempo..! poílo que achem que he agrauado; porque
poíl:o que o feito feja trazido ao agrauo , nom fica
commum pera feer ·prouido a ambas as partes con.-
trairas, como de Oereito he na apellaçam. Peró fe ,
forem muitos Reos J ou Autores , ou Opoentcs , e
hu'1
Dos AGRAVOS DAS SENTRNÇAS DEFINITIV. F.T e. '29t

huü foo 'lgrauar, e paguar, e feguir o agrauo, e os


outros ndrn, guardar-fe-ha neíl:e cafo o que Diíie-
mos no cafo da apellaçam, no Titulo 1'(_,utmdo muitos
Jam condenados em biia jenteitça.
19 E EM todo cafo que per os Juízes do agrau<>
for achado, que o Agrauante he agrauado polo Cor-
regedor, ou Ouuidores , ou Sobrejuizes, em todo,
ol.i em a maior parte d'aquello fobre que agrauou,
mandaram tornar ao dito Agrauante o dinheiro que
paguou em a NolTa ChanceJaria . por lhe feer o dito
agrauo concedido ; -e affi lhe mandaram tornar o di-
nheiro do agrauo, quando for achado que nom pa..
guou em tempo, e nefte cafo lhe tornaram qualquer
dinheiro que teuer paguo, ora feja o ordenado, ora
.por auença. O qual dinheiro mandaram tornar por
Aluará, quando foi paguo na Chancelaria da mefma
Cafa , donde fam os Defembarguadores do Agrauo
que o mandam tornar; e [e o dito dinheiro do agra"."
uo foi paguo n~ Cafa do Ciuel, e os Defembargua •
.res do agrauo da Cafa da Sopricaçarn o mandarem
,tornar, paílará por Carta fel ada. Porem fe as Cafas
.eíl:euerem juntàs, ou dentro de cinco leguoas hüa da
outra, paf:t"\rá por Aluará.
20 E POLAS ditas fentenças de que affi for agra•
uado, tendo a parte agrauante paguo o agrauo, e
aprefentando perante os Defernbarguadores em tem-
po deuido, como dito he, fe , nom fará execuçam
nos bens do condenado dentro em feis mefes conti-
nuas , contados- do dia que for concedido o agrauo,
Oo 2 e
~92 o TERCEIRO LIVRO DAS ÔRD. TIT. LXXVII.
e defernbarguado de quaefquer embarguos pera fe
·poder feguir, fe tanto durar o defpacho na caufa.
' do agrauo. Porem tanto que a parte vencedor teuer
a fentença paffada pala Chancelaria, poíl:o que por
dia fe nom aja de fazer execuçam por durarem os
ditós feis rnefes, o condenado que nom teuer . bens
,de raiz dará fiança abafl:ante · aa dita condenaçam,
e nom a dando ferá executada loguo a dita fenten-
ça, fem mais efperarem polos fejs mefes. E o que
bens de raiz teuer J que valham o contheudo na dita
condenaçam, nom os poderá emalhear durando a
dita demanda,, mas. loguo ficaram hipotecados por
eífe mefmo feito, e por eíl:a Noffa Ordenaçam, pera
paguamento da dita condena1am. E paífando os di·
tos feis mefes, e nom fendo defpac:hado o dito agra-
uo, foram executadas as ditas fentenças, affi e na
maneira que Diffemos , que fe executaífem as fen-
tenças, quando aa execuçam vem com embarguos •
fegundo Diífemos neíl:e Liuro, no Titulo Das execu..
f'óes. E fe defpois da fentença. feer executada fo re..
uoguar no agrauo em parte 'ou em todo, fe guar..
dará e comprirá todo o que hi Diífemos, quando a
fen(en~a foífe reuoguada por via d'embarguos•.

.TI~
. Dos Q,yr PEDEM Q.YE LHE REVEJAM os FEITOS. 293

T 1 T U L O LXXVIIL
Dos que pedem que lhe rerujam os feitos.

D ESPOIS que os feitos que em Relaça~ ham


.d e feer vifiÓs, e . defemb~rgwados, forem em ella fen,..
tencia<los, oU forem defembarguados polos No.ífoo
Defembarguadores dos Agrauos da Caía da S0pri-
caçam, ou do Ciuel, nos cafos que a elles. fegundo
o Regimento de feus Officios pertence o conheci- .
mento, ou fendo fentenciados por os Sobrej'uizes ~
ou per o_Corregeqor da Noífa Corte, ou Ouuiaores:><
cabendo em fuas. alçadas, nom feram mais reuiíl:os
cm ninhuü cafo.; faluofe os condenados aleguarem 11
que as fentenças foram dadas per fa!fas prouas 1
ou per falfas efcripturas , dedarando ,, e efpe.ófican-
do a falfidade , a qual noin foffe antes akguada F1ef-
fes feitos,. ou fe foi aleguada nom foi recebida,. ou
ct!eguando que as fentenças foram dadas per Juizes
fobornados, e peitados pe!!a dareljll as ditas fenten-
ças >ou quando N6s per graça efpecrat. Mandarmos
reuer algüas fentenças ,. e os proceífos donde fahi-.
ram, pafto q.u.e as dita-s CQufas c0mtra taees fenten-
ç~s fe nom aleguem: a qual Reuiíla Mandamos qw.c
fe nom faça em ninhuü dos, ditos. cafos_ fem Noffo
efpecial mandado. ·
1 . E NOS ca.fos €>ndc os condenados nom alegua..;

rem falfidade de teftemunhas, ou de efcr.ipturas, ou


fobornaçam dos Jui~es • e foomente .p er graça ~fpe...
cial
294 O TERCEIRO Lrvito DAS Orrn. T1T. LX.XVIII.

ciat pedirem que lhe Mandemos reuer os feitos,


dezendo que foram per as fentenças agrauados , e
aleguando as caufas de feus agrauG>s, nom lhe feram
taees Reuiftas outorguadas; . faluo auendo Nós pri ..
meíramente enforrnaçam per dous Letrados, a que
o feito de que fe pedir Reuiíl:a Mandarmos veer,
·e fendo ambos conformes que he cafo pera lhe feer
~onÚdida, por parecer per o feito que a fentença nom
foi · dereitamente. d;ida , ou poç algüa tal fufpeiçam
;que · Sintamos acerca dos Defembarguadores que no ·
feito forah1, que poíl:o .que. fe noin poífa poer em tür-
ma pera por Dereito proceder, Nos pareça porem
-q ue ·abaíl:a pera o Nós Auermos de mandar reuer,
-- ou por parecer o feito em fi tal, e de tal q1~alidade,
e a fentença nom bem dada, que notoriamente con-
ceba em fi, que nom deua de pa!far fem feer milhor
éxaminada. -
2 . E A PARTE, a que conçedermos a .Reuifl:a per
qualquer modo que feja, poerá feífenta cruzados
d'ouro do Noffó cunho, ou fua juíl:a valia, em cau-
çam, em maõ do Recebedor ,da Noffa Chancelaria
perante o Efcriuam della . .E achando-fe por os J ui-
zes da Reuiíl:a, que o que a dita Reuifta impetrou foi
cm todo agrauado, e corregerem em Í:odo a fenten-
ça que contra elle foi dada, mandar-lhe-ham tornar
os ditos feffenta cruzados •. E fe a fe1~tença .for reuo.-
guada em parte, mandar-lhe-ham tornar outra tan-
ta parte dos ditos feífenta cruzados, quanto rnon•
tar na parte da fentença ·q.ue foi reuoguada, e mais
na.m.
. Dos Qyi PEDEM QlJE LHt REVEJAM os FEITOS. 295.

nam-. E achando que o qu-e impetrou a Reuifia nom


foi em algua parte agrauado, lhe nom tornaram cou ~
fa algua dos diros cruzados, os quaes Apropriamos, e
~eremos que ajam os Defembarguadores que a fen-
tença ( de que fe pedia a Reuiíl:a ) deram. E o Re-
gedor da Cafa da Sopricaçam, com os Defembatgua.i.
dores que forem na Reuiíl:a, determinaram qtian ..
ta parte fe tornará dos feífenta cruzados aa parte, ou.
ferá dada aos Defembarguadores fobrcditos, quan-
do for reuoguada em parte. Porem fe for peffoa pro.-
ue. ou miferauel, a que Concedermos a àita Reui ..
fta, ficará a Nós Mandarmos que fe paguem os ditos
feffenta cruzados , ou nom , ou que fe r~ueja feu fei .. ,
to fem poerem os ditos. feífenta crufados , que aífr
Ordenamos que fe ponham.
3 E PERAQYE as demandas ajam fim, e os ven-
cedores nom eftem fempre duuidofos de feu Derei•
to , Mandamo·s que as Reuiftas, que per efpecial
graça fe requerem, as peçam e requeiram atee dous
mefes, contados do dia que as fentenças foram !JU.. .
bricadas; e nom as- pedindo no dito tempo, nom
lhes i feram . oiltorguadas, nem fuas petições rece~
bidas.
4 E NO cafo em que affi Ouuermos por bem
mandar .--r eu,e r alguü feito, os Defembarguadorcs.
que foram na primeira fentença , nom feram pre-
fentes ao reuimento , íaluo fe pera enformaçam de>
feito, ou pera declaraçam da tençam, e fundamento
que teueram no dar da fentença, parecer neceífario
'lU~
~96 O TERCEIRO LrvRo DAS Oirn. TrT. LXXVIII.
I
que huíí ou dous delles, affi de húa parte, como da
outra, quando foflem defuairados, fejam prefentes ,
entonçe o fcram ( fendo pera eíl:o chamados ) tan•
t-0s dos ,que foram proo, como dos que foram con;:ra.
~ 5 E sERAM no reuirnento do feito tantos Def-
embarguadores, que na parte, em que os mais del-
les forem acordados, aja mais conto de vozes que
as que forem na primeira fentença que ouuerem de
r.euer, affi como fe na primeira fentença foram qua- .
tro vozes conformes, feram no reuimento noue, ou
,onze · Defembarguadores , ou mais, em tal maneira,,
que na parte em que acordarem os mais defles do
.re1Jimento fejam cinco vozes, ou feis; ou di pera
cima, de guifa, que fejam mais que as que foram na
primeira fentença pera a auerem de reuoguar.
, 6 PoREM quando Nós no reuimcnto d'alguü
feito Mandarmos eíl:ar menos Defembarguadores ,
ou por hi nom auer tantos que na Reuiíl:a fe poífam
meter'· ou por niífo Metermos taees, e de tanta con-
fiança, que Nos pareça, que poíl:o que fejam menos
em conto ( que os primeiros.) fam de tanta auét:o-
r.idade que abaíl:am pera o dito reuimento ~ Manda-
mos, que o defembarguo fe ponha em tal feito fe:-
gundo o que for determinado> e acordado palas
mais vozes d'aqueUes que foram no reuimento do
dito feito, e por fua determinaçam faça fim o frito,
~ paffe a fentença, poíl:o que o conto das vozes, que
forem em reuoguaçam da primeira fentença , feja
menos q.ue d'aquelles que foram na dita primeira
fentença. 7 ·
~F. os DEV. A QyE E1.REY DAA lSPAÇO liT (', 291
7 OuTtrn s1 Mandamos que no reuimento dos
feitos, nas Reuiíl:as que por eípecial Graça Conce..;
dermos, as partes nom poffam aleguar nem dizer
c.oufa algua de fóra dos Autos; faluo fe forem ale-
guações de Dereito, mas por aquelles meímos Au-
tos por que foi dada a primeira íentença julguem o
feito os Defembarguadores que o ouuerem de reuer,
e fe juíl:ifique, ou reproue a fentença, de que for pe-
d·ida a Reuiíl:a. Porem fe aos Defembarguadores da
Reui!l:a, ou a cada huu delles parecer, que he necef-
fario pera o defpacho do feito repreguntar algüa
Jeíl:emunha que no feito já foffe pregunrada, ou fa-
zer viir algús Autos proprios, cujos treslados já an ...
darem nos Autos, por que a primeira fentença foi
dada, poderarn mandar fazer cada húa das ditas de ...
ligencias. E quanto a11s outras Reuiíl:as que nom fam.
por efpecial graça, que emcim:i Diffemos no co-
meço de.fie Titulo, pod.e ram aleguar e prouar as
caufas , por que lhe foi concedida a Reuiíla, é as
partes fejam ouuidas fobre ello com feu dereito.

--------·---·---·----
T I T U L O LXXIX.
~te os deuedores , a que ElRey daa efpaço , daratn.
· fiança a paguar as diu.idas.

QUANDO Dermos alguú efpaç~


aos deuedo...
res, ou aos litiguantes, ( o qual quando o Fezermos
ferá com juíl:a .caufa, e por alguú tempo hone!l:o e
J..iv. III~ fp • ~"'
298 O Tmctrtto Lrv~o DAS 0.Ro. Ti.r. LXXIX.:
razoado ) o deuedor que tal efpaço impetrar nom·
guozará delle , fem dar fiança abaftante em Juizo,,
ou penhores pera fegurança , e paguamento da di:..
ui da, acabado o dito efpaço; a qual fiança fer.á obri-
guado a dar tanto que pola diuida for rcqu.erido , e:
nom ferá releuado de dar a dita fianp ,_ pofto que.
feja abonado, e tenha bens em abafi~nça pera a di-
ta diuida.
1 · E ;ENDO o deuedor que impetrar o. efpa'Ço já.:
condenado ,per fentença, que pafiar em wufa jul-
guada, poder-fe-ha per eHa fazer execuçam. nos.
bens do fiador acabado. o dito efpaço, nom fend0> .
achados em abaftança bens ao principal deuedor ~
fem contra o .dito· fiador fe ordenar outro p11oce!To ;;;
faluo que ferá citado .. e ouuido fumariam.ente feni
outro eftrepito, nem figura de Juízo.
- 2 E Q!JANDO o de.uedor que impetrnr o efpa'ÇOi
nom for ainda per fentença condenado,. o fiador que:
o fiar, pera o deuedol' poder guouuir do dil!o efpa-ço.,
nom. ferá executado por tal fi:adoria,. a: menos que O!
deuedor impetrat; te feja demandado. , e condenado-
per fentença.• E nom fendo achados a.o dito·princi-
pal deuedor .bens. pera fa.tisfaçam da dita cliuidct, po..
derá feer demandado,, e executado o. fiador,. fend()·
primeiramente condenado. per fentença. per. via. ordi-
naria >. affi como, qua}ciuer Olltl10. fiador d'e COntraél:o-•.
3 E SENDO aJguu deuedor per r-azam. dfalguii.
·COntraét:o, em que tenha renunciado qualqner efpa..
ço ~ou Graça. q_ue qe Nós. o.uudfe impetrado). ou aQ,
--, ' ,, - ' ~i~
~E OS- DEV. A QyE E1REY DAA. ESPAÇO IT C. l9~

°diante impetraífe, nom poderá em tal cafo guouuir


do eípaço, poílo que deípois da obriguaçam o im•
. petra!fe ;' faluo fe na Carta do eípaço, que lhe Outor-
guamos, for feita .expreífa mençam da dita renun-
'Ciaçam, e fem embarguo della Mandarmos que o
.impetrante guouua do dito eípaço, o qual efpaço nom
Entendemos dar em taees cafos , fenom com muita
razam , e juila caufa.
4 E PER femelhante maneira, fe o deued9r for
obriguado paguar a feu creedor a tempo certo, Nós
lhe Poderemos tolher aquelle tempo, e mandar que
paguem loguo; faluo fe o efpaço for muito grande,
porque entam o nom Tiraremos de todo , mas Po-
deloemos abreuiar , e tirar delle algüa parte , que
com razam Nos pareça, que por algüa j uíl:a caufa
fe ,deua de tirar.
5 E Q..UANDO Nós Ouuermos por Noffo feruiço
efpa·çar geeralmente os feitos, e demandas d'alguüs~.
que forem aa guerra, ou em algüas armadas feitas
per Noffo Mandado , nom feram obriguados dar
fiança. E nom fe entenderá taees e[paços ferem con..
.cedidos nos feitos que a Nós pertencerem, nem en1
'OS que forem findos per frntenças , nem em os fei ..
tos das forças, e roubos, e guardas, e condeíilhos,
ou foldadas, e jornaes de mancebos j nem em os
feitos que os deuedores trouuerem com outros, que
Nos fcií-em fcruir nas ditas armadas, ou guerra;
faluo fe expreffamente for declarado, que o tal eípa-
' ~ço aja tambem h1guar em os ditos cafos.
Pp ~ 'l' ~!?
- 300 . o TERCEIRO LIVRO DAS ÜRD. TIT. LXXX~ -
T I T U L O LXXX. (

Do que impetrou Graça d' E!Rey, que nom poJ!a jeer. de.-
mandado atee ctrlo tempo. como vfará ddJa conlraji•.

Q UAL~ER deuedor, qtie impetrar de Nós


Graça, per que' geeralmente nom poffa feer deman..
dado per feus creedores atee certo tempo, nom poi.
·derá demandar ninhuü feu deuedor durando o dito-
tempo; por quanto elle deue vfar acerca de feus de-
uedores daquelle dereito, que impetrou contra feus
. creedores. E efto auerá luguar , poílo q u.e el\e nom.
vfe deíla Graça que aíll impetrou, porqU:e nom foi .
demandado per alguü feu creedor durando o dita
·tempo, e per confeguinte nom vfou da dita Graça >
porque lhe nom foi necefiario, por norn viir cafo em
que della podeífe vfar. Mas quando ao tempo que
clle começou a demandar feus deuedores. já eíl:e qu~­
impetrou a dita Graç:i. leixa-ra de vfar della _por a.
expreffame'.lte renunci ar ,_ ou porque fendo deman-
dado per feu creedor refponde o ªª demanda, e pa--
gou a diuida , nom querendo vfar do efpaço que t ~
. nha, em tal-cafo poderá liutemente demandar fet:6
deucdores durando o te.mpo da dita Graça , e nora
ferá tneudo vfar della contra fr, pois nom quiz vfa.r-
d.dla por fi contra feus creedores.
1 E SE o deu.eçlor impetrar a dita Graç_a. ct:>rítra-
. huú , ou contra certos feus creedotes, , em tal cafo-
~fa.rá contra ft d'aqu_
ella. G.ra~a,. _e Der.eito em aque~
- . ,· !a~
Do QYE IMPETROU GRAÇA D'ELR.EY ET e. 301

las diuidas foomente que lhê deuerem aguelles con- .


tra que elle impetrou a dita Graça; e querendo elle
demandar cada huü delles durando o tempo da fua
Graça , nom ferá recebido aa demanda em outra
tanta quantidade, como for aquella que elle deue,
fobre que affi guançou a dita Graça.
2 E ESTo que dito he no principio deíl:e Titulo,
auerá luguar nos cafos em que o deuedor impetrar
a Graça, e a feu requerimento e petiçam lhe for ou-
torguada; porque fendo outorguada fem feu reque-
rimento , affi como fe por caufa de guerra, ou d'al-
güa armada Deffemos geeral efpaço aos que em
dia foífem em todas fuas diuidas, e demandas pot
tempo certo, poderam os taees deuedores, a que tal
efpaço geeral for dado, demandar no dito efpaço
feus deuedores, e nom feram theudos vfar do dito ·
efpaço contra fi, fe elles nom vfaram delle contra
-feus creedores , quer por nom quererem vfar delk,
quer por nom poderem, nem viir cafo em que lhe
foíle neceífario vfar de tal efpaço, que fem feu re-
CJUerimento foi outorguado contra feus. creedmes; e
. vfando ellcs do dito efpaço contra. feus creedores.,
pofro que feja efpa~o geeral,. e fem feu. requerimen-
to outorguado, feram theudos vfar delle conrra fi,,
e nom feram recebidos a demandar feus deuedores
. durando o dito efpaço. 1 .

3 E SENDO cafo que o·Tutor'· ou Curador d'al ...


guú 111enor , ou defafifado •. ou de qualquer outro
(].UC for regido per Tutor ,. ou Curador,, impetra.r-
perai.
302 O TERCEIRO LrvRo DAS ÜRDEN. TrT. LXXX.
pera effe menor, ou defafifado &e. a dita Graça, nom
empecerá ao menor ou defafifado effa Graça, pera.
feer theudo vfar della contra fi; faluo em quanto
·troutjeffe proueito com efeito a eífe mena} ou def-
afifado. e nom mais.
4- OuTRo s1_fe alguú Procurador fem auél:o"rída-
,de expreífa, ou efpecia1 mandado d'aquelle cujo Pro ..
curador for, impetrar femelhante Graça pe-ra aquel.-
le que o fez Procurador., nom empecerá a aquelle
em cujo nome for impetrada, nem ferá theudo ,';fa r ~
/ deHa contra fi; faluo fe a elle per alguú modo apro-
uar e confirmar, ( vfando della ) porque em tal cafo
lhe empecerá como fe a elle mefmo impetraífe ;' e o
Procurador, que a tal Graça fem efpecial mandado
i mpetrou, ferá theudo vfar della contra fi mefmo •
aili como fe a ouueífe impetrada pera fi.
5 E SE o deuedor , que impetrou a Gra-ça que
·nom poffa feer·demandado atee certo tempo, teuer
dado fiador ao creedor ,, nom aproueitará ào fiador
tal efpaço; porque a Graça a ili rnncedida he peífoal •
p9r feer outorguada aa peífoa do deuedor, e nom
pode paffar a outra, p eíloa , ·e deue feer imputado ae>
deuedor , que a Graça irnpetrou ~ porque nom fez
cm el1a mençam do fiador.
6 E POSTO Q!JE a Graça afii impetrada nom paf-
fe fegundo Dereito aos herdeiroi; d'aquelle que a im-
·petrou, por feer priuilegiC> peffoal que nom trefpaf..
fa da peíioa do impetra:nte, como dito he, pafla po..:.
·rem a pena deíl:e edito1aili aos herdeiros ·do impe- ·
tran-

/
Dos Ju I z Es AL V I D I{ o s. 303
ttante, corno d'aquelle contra que foi impetrada;
aili como fe os her..deiros do impetrante quiferem de-
mandar alguüs deuedores d'aqueUe que a dita Graça
impetrou, nom os poderam áemandar durando o
tempo da dita Graça, affi como elle mefmo impe-
trante fe viuo fo(fe os nom poderia demandar. E
bem affi fe o impetrante demandaífe os . herdeiros
d'aquelle contra que a dita Graça impetrou, nom os
poderá demandar durando o tempo da. dita Graça .
pela razam fobredita. A qual nom foomente auerá
luguar naquelle contra que a Graça for impetrada~
mas ainda nos feus herdeiros, como clito he.

T 1 T U L O LXXXI.
Dos Juizes Aluidros.

p OSTO Q.!JE algiias partes comprometam em


aiguü Juiz, ot1 Juizes Arbitras, e fe obriguem no'
compromiífo e!hr por fua determimçam e fenten-
ça , e·que della nom poífam apellar, nem agrauar,,
e o que o contrairo fezer pague aa. outra parte eerta,
pena; e ainda que no compromiffo digua que pa-
guada a pena,. ou nom paguada, fique fempre a fen-
tença dos Aluidros firme e valiofa,.. poderá a parte
-~ue fe fentir agrauada, fem embarguo· de-todo eílo,,
apellar de fua fentença pera os Sobrejuizes, fem pa-
g.uar a dita pena ~ e (e os Arbitros lhe deneguare.l.'l)
apel"'!
304 O TERcEtRo Lrvti..ô nÀs ÜRb. Tn. LXXXI.

apellaçam, faç.m i-lha dar os Juizes Ordinarios. Pe··


ró fe os Juízes da apellaçam confirmarem a fenten:--
ça dos Arbitrns de que for apellado, paguará o apel-
lante ao vencedor a pena contheuda no -compromif-
- fo; p0rque_nom fe pode efcufar de a paguar, pois
prometeo nom viir contra a fentença, e he achado
que injuíl:amente della apellou. E pofto que as par. ·
tes renunciem o beneficio defta Ley, a tal renun-
ciaçam ferá de ninhuú efeéto , e fe guardará o fobre-
dito.
1 E NO cafo em que for apellado dos Juizes Ar-
bitres , e recebida apellaçam , todas as prouas , affi
de teíl:emunhas , como de efcripturas , que pera am- -
bas as partes fejam dadas perante os Arbitras , fa-
• ram fee perante -os Juizes da apellaç·a m, affi e tam
compridamente, como já fezeram perante eíres Ar-
bitras durando o feu J uizo. Porem fe algúa das par-
tes aleguar algüa razam , per que pareça que as te-
ftemunhas preguntadas perante os J uizes Arbitros
nom foram preguntadas nn fórma deuida, os Juizes
da apel1açam as mandaram outra vez preguntar na
fó.rma acuíl:umada , e d'outra guifa nom valeram
feus teíl:emunhos perante os Juízes da apellaçam. E
fe algüas teílemunhas forem já a eíl:e tempo mortas,
fon,un feus teflemunhos valiofos, e fe lhe dará tanta
fee , como fe foffem preguntadas per effes mefmos
Ju.i:zes da apellaçam.
'.2 E SE cada húa das partes nom apellar da dita·
fentença dada polos Arbitras em tempo ,deuido , tal
fen~
n -0.s 1 u r !/.. E s A Lv rn R º s. . 3os·
. .
fen~ença dos A.rbi~ros fe da'rá a execuçam po1os Ju;i.;
:zes Ordina.rios, que.r no compromiffo fofie poíla pe ..
na) quer nom., a.ili como fe.daria (:la execuçam., fen-
do dada por os Ju.i.zes Ordi:narios .; porem--no cafo
<>nde for .poíla no c-0mprorniffo,, ficará em efcolha
do condenado paguar a pena, ou eilar pola .fentcnça.
a qual efcolha ;p..oderá fazer ·do til.ia que for ·requeri-
eo a r.r-es 'dias, .com tanto que quando .aili efcolher
de pagua-r .a pena., pague foguo a dita pena ., e nom
a pag.uan<:le loguo fe faça execuçam pela dita fen-
tença, fem ma.is guomJ.ir da dita .efcolba : emperó fe
110 dito .compromiífo for pofta claufula, que ·paguada
a .pena, !0U nom paguada, fique a fentença femprn va-
lida, em tal cafo auerá luguar a dita efcolha , mas a
{entença fe dará em todo aa execuÇam.
· 3 E PODE RAM .as .partes t0mar por feu Juiz arbi-.
tw o Juiz ordinario ., ou deleguado.
· 4. E .s'E as partes com premeterem em buií foo
Juiz arbitro, e ell~ ou cada hüa das .p;lrtes fe finar
antes da fentença definitiua., loguo efj)ira., e he em
todo diffoh.ito ·o ·compromiífo., affi corno fe nunca
fora feito ., nem feram·os h'erdeiros das pa,rtes .prin-:
cipaes th·eudos dl:ar per effe CGlmpromilfo. · ~....
/ 5 E BEM ·affi nom feram theudas as partes eíl:ar
polo .compromiífo, quando o Juiz Arbitr-o foífe ab ..
fente de tam .grande e longuª abfencia,, que nom po[...
fa ju1guar o feí.to, fobre que em dlo foi compro-.
metido.. .
6 E srnoo comprometida cm dous ·,. ou tres .Ar...;
Liv. lll. ~ · pi-
bitros , cm mais, fe alguü del1es o nom poder feer ·~
ou (e finar , ou for abfente ante da fentenca definiti-
va , . de tal abfencia ., que julguar nom poffa eíle fei-
tio, os ,omros fe.us parceiros nom poderam julguar,.
nem rnandar coufa algüa acerca do tal feito , mas.
Çfpirará;c ferá de todo diffoluto o dito compromiffo,,
afü c9mo fe .nom f.olfe feito; faluo feno compromif..
fo for..declarado; que cada..huü delles feja Juiz injó•
Ndo,, po_rque em tal cafo P,oderá cada huü delles peli
íi julguar. fem o outro pa-fceiro ,· aili como fe em el ..
le foo foífe comprometido: Peró fe dous, ou tres Ar-
bitras. cqmeçaxem conhecer do feito, fazendo alguü
Auto .Judicial-., já mais n0m poderá huu fem o ou-
n-ojulguar o .dito feito , pofto que no compromiffo
digua, que cada huú delles poffa feer Juiz infolido: .
' . 7 · E Ó,yAND'O .as partes comprometerem em ~res.
Juizes Arbitras ,. poflo que no cornpromiífo fe ·nom
ckdàre ; que cada huú poífa feer Juiz injolido, feto-
rlos 'tres forem juntos , poderam os dous delles jul":'
guar fegundo que ambos acordarem, aiada que Q
terceiro contra'digua fua femença·; e fendo huü delles
-a'bfe~te , os dous non1 poderam fem clle julgu~r, e·
.,.-- / j 1.1Jguando fem elle nom valerá fua fentença.
·, ··s. .E s·E for comprometido .em dous J uizes Arbi-
tras valerá o compramitfo , fe elles ambos forem
acór~ad0s ·em a fentença , ·e determinaçam ,do feito ;·
-e fendo defacoFdados , ·nom valerá o cornprornrfio >-
faluo fe em elle for declarado terceiro certo .-e no~
·méatlo •. Peró fe ·no tompromifl;o differ ·que difoor..
• •1 dan-

/'
.D' o s A t V l D R A· D oR E s. j©'I

ilando ·OS dous Arbitras elles poffam e(colher huü.


tercei·ro ,1 ou que as partes fe poffam louuar e efco-
lher huü terceiro pera concordar com cada huü dos
Arbitras princi.paes , nom v,alerá tal compromilTo ,
. fe os dous principaes Arbitras forem . defcordados
na determinaçam do feito ,. nem feram elles theudos
efcolher o terceiro; e poíl:o que o efcolham, nom fe.
t"am as partes obriguadas eftar por feu juízo , nem
feram. iifo mefmo as partes confüangidas pera fe
fouuarem em terceiro.

T I T U L O LXXXII.
Dos Aluidradores, que quer tanto dezer comtJ
Auafiadores, ou Ejlimadores.

-E NTRE os Juizes Aluidros, e os Aluidr~dórt-"~


ha hi diferença ; porque os Juizes Aluidros nom..
foomente conhecem das coufas, e razoés que coníi ..
fiem em feito, mas ainda d'aquellas que eftam em
riguor de Dereito ; e guardaram ifio mefmo os Autos
Judiciaes, affi como fam theudos de·os~ gmtrdar · µ~
J uizes Ordinarios, e Deieguados-. E os A luidradores
conheceram foomente das coufas que efra.m em fei ..
to. E quando perante elles for aleguado algua coufa.,
em que caiba duuida de Dereito, remetela-ham .a0s
Jui zesda Terra, que a defemb'<i rg uem, e determinem
C'Omo acharem por Dereito, e di em diante,auida foa
Qq i ,!ie..
f;!eterrnfoaçam . procederam em feu a!uidr:amento.'
fegundo: lhe bem;pa-recer , guai'dando fernpre ·a vfan-.
p geeral da- Terra ,. qu11: ao·tempo de fru. aluidra ..
mentó for actlffumada.•, ·
1 E ESTE~ Aluidr-adcm~s- íeram ajuramentados
aos·Sanélos, Auangelhos , .que bem e verdadeirament~
façam o aluidramento·g,ue U1es for en.c:ommendadà,.
p0fpoendo t0d'a a(eiçan~- e <:>dio qufi ~jam a ca0a.hifa.
'!as partes, a que pertencer o ah1idrament0'. E ha em ·
dl:es Reynos alguüs Luguares , onde fam eftes Alui ..
dradores enlegid.os pelos Officiaes deffas Cidades , e
Viil'as, per~ · g('.'.eralmente fazerem eíl:es al-urdramen-
tos , e eftes feram ajuramentado~ loguo' no começo ,,:
quando fore,m enlegidos pera tal carrcguo. E fe as
partes·-, a que o aluidraménto pertencer ) ouuercm [u....
fpeiç am a alguii dos . ditos·' Aluid'r adores, notifica: la- :
ham. aos Juizes que o mandaram fazer , pera elks
verem·füafufpei~am-,. fe he·tal.q,i.ie proceda·, e a.ffi co'.9 ·
meterem- a dito aluidrnrnent-0:.·a outra peffoa·fem fu-
fpeiia ,em tal guifa 1 que frmpre o aluidramento fej~
feito per homem.fem fofpeita,. e o·mais a praiimento
das pai"tes- que feeF poffa. E efles Aluidraqores -que
..-.-:-.:/, ~.\:3l forem- eltél:es~_e ·de~u.tad0s_ em. as ditas Cidades~ e
· · • · ., V11las, p€ra·fazer os ditos alurdr.amcntos,. corno d1t<>
·he, gua.rdaram .acer.<:a· delles as Ordenanças que per ·
efias .Cidad'es, .ou Villas forern ·per-a.elloJeitas •.E acon..
- tecendo alguü. ca.fo. ,. que nom feja terminado per as.
ditas. Ordenanças deffas Cidades , ou Vilfas ,. entàm
ie.terminaram e.íl.e.s cafos per NoJTas Ordenaçpes.. ·
~~
z E sE..acont'ecer que os ditos Aluidradores de(-
uairem, e defcorden'i em feu aluidrarriento, os Juize:s,
que o rnandarem fazer efcolheram outm terceiro de
prazimento das partes, que fe acorde com cada huu
dos ditos principaes;. e fe as partes fe nom quiferem
lou.u ar no ·dito tercéiro >os ditos Ju~zes, de feu Of-
:ficio o efcolheram > efguardando porem q_ue fempre-o
façam o mais aprazimento das partes que poderem.
3 E SE dous Alu,idradores efcolheitos, ·de prazi-
mento das partes, e juramentado;; a0s Swcl0s Auan·-
gelhos fezerem algüa extima-çam ,. ou a1t1idramento
cm que .a mbos fejam concor.dados ,. fe a,lgüa _das pat:-
tes a ·que o aluidra.memo.pcmencer., d·iíler q~ nom fai
juílarnente feito, e que h.e agrauado. em elle-, póde-.-
fe focorrer aos Juizes> que o manda-mm fazer-, recon-
.tando a razam de feu. agmHo.. E os ditos Ju.izes ...fem
emba·rguo do d.ito,aluidr-a.mento affi feei: fei,to ,. ve--
ra.m por fi: a.s coufa.s que affi for,em eílimadas·; e alui-
d'radas , e -o- al uichamento: que a.ili for feira , e per
juramento de feu: Officio. alu.idralas--ha.m outra vez ,,,
frgundo.feu· vei:qad.eiro.a-luidr.o,.e ju-izo,, eo~prman­
do>: .adend~, ou min.guoan.do o dito aluidrament0 affi
feito per, os pr.i1~cip~es. Aluidradores >: fegµndo. lh.es.
bem. parecer ..
+: , E SE per ventura·os ditos Ju~zes forem dífcor.
dados. em feus aluidra mentas , louuar-fe-ham as p,ar7
t~s e1~ huü. ter.c.eirojuramentado,.q.ue a.j.a. de concor""'
dcer com. cada. hüa .das tenç.oes dos ditos Juizes ; -~
swm fe. querendo louu:at em clle _,_. efcolham ... no ~~ ·
Juii-
';3 t;~ O 'tER'ClffRo L1vRn tus O&o~ T1t. LXXXII~
.Juizei de feu .· Officio o mais a pra.z itnento das pa_rtes
e
qqe bem poderem ' acordando com cada huú del...
les , fique feu acordo findo e determinado, e já nun-
ca poífa em alguü tempo feer mctis contraditQ, nem
reuog uado. · ·
. 5 ·E ORDENA Mos que quando alguü aluidramen-
50 for feito per Aluidradores aprouados·per as partes
juramentados como dito he, fe algúa deilas fê fenti r _
agrauada em feu aluidramento, e pediF que íeja re-
,duzido ao aluidro e bom juizo dos Juízes, como ·di:..
to he ,. qt.te eíl:o poffa fazer do dia que o aluidramen..
-to for feito até huú anno comprido , querelando-fe
.aos dito:s Juízes do dito aluidramento norn juíl:a-
rnente feito , ou reclamando-fe delle em ·qualquer
·outra parte, e filhando dello affi eíl:ormento pubrico..
E nom fe querelando, ou reclamando. até o dito anno,
-como dito he , di em diante norn poderá mais -con•
tradizer o dita aluidrarnento ·, mas ficará pera todo
fetnpre .firme, affi como fe jaa fegundariamente foífe
aprouado pelos Jnizes, como dito he.
6 E sit o aualiamento for hüa vez feito e afirma.o
' do pelos Aluidradores aprouados pelas partes , , "·nom
_ / Ç,~·fe podem ddle chamar agrauados ; faluo • dizendo
·· ' e aleg uando aquelle que ' fe delle querelar, que he
agrauado por elle, ao menos na fexta parte do jt1íl:o
-e verdádeiro aluidramento ; e· fe . o agrauo affi ale~·
'guado pella parte nom' cheguar aa·fexta parte dojui.
'fto e ·verdadeiro aluidramento, nom ferá ouuida; nem
~~he conhec~ram do tal agrauô •
. ,,
Q.e'i;:· NOM DEM CART. mr JusT. PER EN·l"ORM'.. ET e.. 3:ri
7 E ·s-E as partes fe louuarem em alg,uü, ou algús-
Aluid.radores, prometendo de eíl:ar., e guardar fcu al-
widramento fob certa pen:i ,. e d.eípois algüa dellas.
reclamar,. e contradiffer o aluidrarnento, aíli como fe·
foffe. feito injuíl:amente , reco.rrendo-fe aos Juizes.
que por feu bom aluídramenta ,. ejuizo o emendem,
e corregu.am ,. e elles nam fufpeitos aprouarem , e
co11firmarem o dito aluidramento por bom , a. parte
que. affi irnpunou , e .reclamou o dito aNaliamento,.
pague a pena em elle conth.e uda aa outra parte, que
per elle efieuer , ·e femfilre o aprnuou.
~
-~·------------·----

T 1 T U L O LXXXIII . .
!f..,ue nom dem· Cartaã de. Juflir;a per enformaçoes , /aluo ,
per Ejionnentos d'agrauo, ou . Cartas tejlemunhauees:
.com repojia. dos.. Juizcs >. ou Corr(gedores > e partes. .

-MAND~.\-MOS ,, e Defendemos a todolos Noffos.


Defembarguadores ,, e Corr-egedores ,. e a todolos ou-
ÚQS Julguadores, affi da Juíl:iça, corno da Fazenda,.
que-por fops petiçoes; ou enformaçoês-, norn pafiem ~~-:.
Cartás alguas; e quando as partes requererem taees.
Cartas ,. mandem-lhes que traguam Efrorment@'
d'agrauo, ou Carta reílernunhauel, com a repofia do,
Corregedor,ou Ouuidor, ou de qualquer Julguàdor de
que fe agrauarem. E bem aili com a repoíl:a• da par....
te,_ ou partes a q_ue o neguocio per.tence.r., fe pera de-
cifam.
·3 r ~ O TERCEIRO L:rvRo nAs 0Rn. TrT. LXXXIU.·
díam dos taees agrauos a repoíl:a das panes for ne..;
e-effaria, per maneira, que per eífes Eíl:ormentos, ou
Cartas teíl:emt.inhauees , poffam os Defembarguado-
res, que d-0s taees agrauos ouuerem de conhecer, auer
co'mprido conhecim.e ntó da coufa fobre que for a
contenda, e poffam dar eerto defembarguo, fegundo
per Dereiro achareln.
I E EsTo que díto he nom auera luguar nas Car~
ta s pera manter em poífe, ou reíl:ituir aa pofle alguu
que della digua feer esbulhado; poi:que as taees Car-
tas Mandamos que fc dem per os Defembarguado-
res, a que pertence dar as femelhantes Cartas, po..
fl:o que as partes as peçam per firnprez peti'çam, co~
mo fe fempre cufüimou fazer.
2 NEM auerá luguar nas Cattas _de Merce , e
Graça , que fe dam per · Efiilo da Corte em fórma ,
affi como Cartas . de legitimaçam , e perfilhamen-
tos , e confirmaçam das Doaçoes, e dos Juizes ele-
étos' nas--Cidades, e Vilias de N olTos Reynos, e de re-
ftituiçam de fama a aqueles que forem infamados ,
e outras fernelhnntes Cartas Graciofas , em que fe
nom requeira repoíl:a de alguus Juizes , nem ·cha.!
J
, S.~~· mamento d'algüa outra parte ; porque taees como
' .' •· , efl:as , que fam de voluntaria jurifdiçam , fe podem e
·ham de dar geeralmente per Nós, e Noífos Officiaes,
fégundo o poder que a cada huu Temos dado com
feu Officio, fem outra repofta do Corregedor, neín-
3uiz , ·nem parte contraira 1 ·am como atee aqui fe
~ufturnaram fempre dar~
'·'l·I
. Do QgE ' T!USMUO. A COUSA ou DEREITO ET e. J l'J

T I T U L O . LXXXIIII•
. Do que trefmud,,1 a coufa, ou dereito que em e/la tem ,
·t m a/guü poderofo. .

.S E alguü teuer auçam contra outro affi re~l
peffoal , e ante da demanda começada a ceder , ou
som()

-trefmudar em alguü poderofo por razam do Officio ,


.aquelle que tal ceifam affi fezer perca toda auçam,
e dereito que hi ouuer, e aquelle que fez a dita cef-
fam , .nem aquelle a que foi feita , nunca já mais
poífam vfar d'alguü dereito que _h i teu.eílem; porque
todo Auemos por perdido, e aalem deíl:o Nós Dare ..
mos ao dito NotTo OfficiaL que tal coufa fezer a pc:.
na, que Acharmos que per Dereito~merece.
I E PER femelhante guifa., fe o potfuidor d'al ...
güa coufa , receando ... fe feer demandado por ella ,. a
trefmudatTe em alguu poderofo por razam do.Of..
ficio, por dar a feu aduerfario mais duro conte;ndor,.
perderá o dereito .que em a dita coufa . teuer, . e fer4
apricado a feu contendor.
2 E SE a ceífam, ou trefmudamento da auçam
foíle feita em algüa peíloa nom pederofa per razam--.::- ~
do Officio, mas per qualquer outra razam, a ili como
rCaualaria , ou outra dignidade, em tal cafo Man-
damos que aquellc, a que tal ceffam, ou tref muda ...
mento d'auçam for feita, nom poífa della vfar, 11ern.
feja per ella recebido aa demanda: e aquelle que a
fezer faça fua demanda fe quifer., affi como a faria.
LJv. III. Rf an'"!
-sr 4 :01'ERc. Lr.vRo -oAS'ORoEN. TrT. ~xxxnn~

ante ,da foa ce!fam; pcró' quli! a no'm poderá.fazer fe


nam per fi mefmo, e nom ferá·recebido a ella per ni-.
nhuü Procurador, porque efto lhe Dap1os por pena-
por a ceifam , e trefrtrndamento que affi fez. engÚ",..
nofamente ao poderofo, por desfraudar aa outra par.te,
penfando de lhe dai duro aduerfario per. que feu de-_
reiro folfe dãncficado.
3 E SE alguü efperando, ou arreceando fce r.
~emandado por algúa auç_ a m real ou peífoal ce--
1,

<leífe ou nefmudaífe a coufa poffuidft , ou o .c\ereito-,


per que fe entendia defençier "e_ m algua peífoa-pode ...
rafa fem Officio, tal ceifam, e trefmudaçam nom.
-valerá d·c Deteito, e aquelle a que-am foifeita , nom-.
poderá della vfar, porque foi feita enguanofamente, .
pera dãnificar a outra -parte, d;i.ndo,,.lh~ -adYerfari-o
cmm que nom podeffe alcançar dereito, ou fe o ai- _
tançaffe fo!fe -com gram trabal_hÇ> e f!J.qigua : e fem
c mbárguo da 'dita cdlam, e treímudarnento a(Ti fei-.
to, poderá o Autor demanda~ aquell'e que eflaua.-,
~ m poífe da couía trcfmµda·da, affi, c~om<;> (e -a._ditl-.
trefmuda~am norn forre feit:a •.
1

.. ls~
Do JU'RAM. o..yt SE DA' Pno JutGUAF>OR n e. 3r5
T 1 T U L O LXXX'V.

Do juramento que:fe dá pelo Julguador a praziment1


das ,partes , ou em aju.da de Jua proua.

S E o Autor fez mea proua de fua tençam, ou ·


·o Reo de íua excepçam, o Julguador fendo reque-
rido pera e!lo lhe dará juramento em ajuda de fua
proua, e com feu juramento ficará proua inteira.
E eíl:o ha luguar affi nos feitos ciuees , como nos
·crimes ciuelmente intentados. E Dizemos que he
feita mea proua por- hüa teíl:~rnunha fem fufpeita.
que deponha compridamente do feito fobre que _ti.e·
a contenda , ou per confiffam feita pela parte fóra
do J uizo, ou por efcriptura priuada, juíl:ificada por
comparaçam da letra, ou por qualquer outro modo:
que fegundo Dereíto he feita mea proua. Pcró De-
claramos, que fe a coufa , ou quantidade fobre que
.he a contenda foífe grande, ou de grande valia 1 ern
tal cafo norn ha luguar eíl:a Ley, nem o juramente>
de que fala; porque entam nom . prouando o Autor·
compridamente. fua tençam, ou o Reo fua exce-
pçam, nom auerá vencimento.
1 E PODE-SE dizer quantidade, ou coufa gran··
de, ou pequena, por refpell:o das pelfoas litiguantes;
cá taees peffoas poderiam feer, que huú marco de ·
prata ferá grande quantia, e taees que cem dobras''
feria pequena, affi que aqualidade das peffoas faz a
coufa,.ou quantidade fobre que he a contenda, feer'
grilnde, ou pequena. Rr 2 2
~ t6 O TE.1H:. ·LrvRo DAS ÜRDEN.. Tn. LXXXV.;.

E SE o Autor nom he fabedor da, coufa, nem


2
ha juíl:a razam de a íaber, em tal caro' ainda que a
ccwfa @u quantidade da demanda íeja pecp1ena· nom
lhe fer<Í dado,jmamento,. mas ferá o Reo abfoluto;
nem ferá dado tal j .u rarnento em nin.huü cafo a~
Autoi;, poflo que faç.a mea proua.,. quando elle fop
peíToa torpe e vil~- cá. 11;0m parece juíl:0 ,. que per ju-
ramento de tal peífoa ninhuú. aja de feer condena-.
I
doL E. bem affi norn f,erá. dado jui:amento· ao Reo.
{endo. p.eífoa vi1, ainda que ouueífe (eita mea pr-oua
fobre algüa excepçam por eile. aleguada, que lhe foffe
recebida; porem çm êada hu.ú d.eíl:es, cafos por moor.
auondança ferá dado juramento a.a. pa·i te contraira,..
e fegundo feu juramento. aíli frrá j;ulguado ...
-. 3 E S.E algü<li f entenç.a foffe daçia pQr hem de,
tal juramento,. q~re fe chama. em De rei to neceffario·J)-
fe ii.o defpois foffem. achadas. algüas efcripturas pu-
~ricas., por q.ue fe m.oH:r.affe o dito jurame.nJo-. nom,
Ífer ~erdadeiro .,, em .tal cafõ ferá a dita, fentença re--
'ijpgu;tda. E_ fe a: elita feQtença foffe dada. por bem)
QEJ 'juram.ento judicial, conuem a faber., que fofle:
<l~do por o Juiz. a h.úa. das partes á requerimento.
};._~a outra, ou por be.m do. J.u,ramento. 'l,oluntario- ~
(Qnu.em, a faber ,, que fe defle em Jtüzo p.gr hüa
parte aa.outra. de.: ~onfenümento . e attéloridade do,
lulgua,d.Qr,, e.m_, e(tes caf.os ,,. nom fe reµoguará. a dita:
f.entença por.. vertude d.os E!lorrnen.ços. achados def• .
pois., ainda- que por · elles fe moftraffe a_pa.rte noml
ai.t~r j_
ura.d.o.d_ere,it'lme;1te. i. e l?ode.fo affinar razam:.
·.~
QQ;
.... -
Do JURAM. <11YE SI DA' PILO JuLGlTADOR ET e. 317

de diferença, porque . no juramentõ nece!fario n©m


pode feer em culpa da parte contra que he dada a·
dir:i [enre.nÇa, pois que o juramento foi dado aa ou·- _
tra p~rte contra fua vontade, e no junun-ento judicial,
ou voluntario, pode fcer imputado aa parte que deu·
juramento ªª outra, ou confrntio- ~m- el}e feer-lhe
dado, por o qual foi a. dita fente·nça dada. E por
aqui DeterminamOB, que onde o Autor per mirr--
guoa de nom teer. eícriptura pubrirn leixar a de-
manda no juramento do Reo, e per feu juramento
foffc abfoluto, ainda que defpois o. Autor achaffe
algvas efcripturas .pubricas., por qu~. fo moíl:raífo o
d iro R:éo nom jurar verdadei'ramente, nom fe pode.:.
ria. por tanto reuoguar a dita fent:ença-, per que o di-.
to Reo foífe abfoluto1o ,E. pofto que o·Autor em tal
cafo queira querelaF do-dito . Reo que juróu-falfarnen-
te) n:om ferá recebido. a tal querela- n;em. acufaçam ; .
e por femelhante fe faça onde o- Au-tor jurou fobre·
algüa· excepç.a m _.que-o-Reo nom podia, prouar fe.,.
1-1om por efcr.i.ptur.a pubrica; çá em ou-tm g-uiía fe..
0

ria aazo e ocafiam ,.per que a Ley que Auemes fei-


ta foh;e as efcripturns- pubricas ligeiramente· podia .
íeer anich~l3da, e os feitos fat-fe-h-i am inmortaes õ .--- ;_,.
fem fim. Porem f e p0fo Reo, foi moíhadq alguü. Gc~ '
, nhecimento, que diifeffe feer do Autor, e o neguaf--
fe por jµr.amento, poderá o Reo,defpois-ctµerelar, [e ..
gundo Diílemos neik Liuro, no Titulo .Das-prouas:
911:e ft /aram por ejcripturas.pubri cas ,. no par rafo . E em,
1 t e.dq cefo.. '
(.. .-: j
3 I 8 -O T.ERCETRO LIVRO DAS ÜRD. T1T. LXXXV~

4 E POR norn Darmos aazo aas partes tornarem


atreuimento pera jurarem falfarnente, quando em feu
juramento foíle leixado, Mandamos que .fendo da- -
da algüa fentença por bem d'alguü juramento judi-
cial, ou voluntario, e defpois fe moíl:rar algua efcri-
ptura pubrica fem alguu vicio, e fufpeiçam, per
a qual conhecidamente fe moíl:rf o juramento feer
falfo, os Juizes, ou Defembarguadores, que de tal fei-
to conhecer.em , façam-No faber a Nós, pera fabida
a verdade Ordenarmos o que fê fobre ello aja de fa ...
zer por bem e juíl:iça das partes.
5 E SENDO prouado contra alguü, que hc ladram,
ou roubador de algüa cafa' ou nauio J ou d'outra:
coufa femelhante, e for dado juramento ao roubado~
ou forçado, fobre as coufas que lhe foram tomadas,
e o ladram, ou -roubador, ou forçador for conde-
nado fegtmdo o dito juramento, ainda que defpois
feja achada algüa efcriptura pubrica, per que fe mo..
ftre o dito juramento. nom feer verdadeiro, nom fe-
rá poc tanto a dita fentença reuoguada·, ainda que o
dito juramento foffe dado ao roubado contra vonta..
de do roubador; porque eílo he aíli determinado poi; .
::-i- Dereito em odio do roubador, e ladram~ pelo furto.
·.e roubo., que fez da coufa alhea.

' . '

TI·
.Do• MEN. DE y rNTE CINCO AN. CONTR. Q!.JE ET C, '3 I <)

, T r Tu L·o Lxxxv1.
Do menor de vinte cinco annos contra qu.f foi dada injú-,
fiamente algüa fantença, e pede rejlt;tuiçc_1m contra.efla.. '
E como fará · citado, e dado qiYador aa lide. ·

S E contra alguü menor· de :vinte , cincO annos for


dada injuítamente algüa fentença, poderá o menor.
contra ella pedir., e impet.rar refütuiçam. Affi' como .
fe os autos do procefio foffem juftamente ordenados,
e por elles o menor nom recebem~ agrauo, e fe- ·
gundo os merecimentos do proceífo ouuera ·de fahir
a fentenca por elle, e fahio contra elle' em tal cafo,
poderá pedir reíl:ituíçarn contra ·a fentença, a qual.
lhe ferá concedida, ·e pór ella tornado ao eílado ell)
que era antes da fentença feer contra el!e dada. ·
1_ E BEM aíli onde o dito menor foífe kf<;> e dã..
nificado acerca-dos autos do proceífo, affi .como em-
algüa interlucutoria contra elle dada, da ·qual elle
nunca 'apellou por fi > nem por outrem, ou . leixou·
d'aleguar algüa razam no feito, ou leixou de dar
fua proua > a quar fe a dera ou.. aleguara ou,uer,l ven•
cimento delle, em. taees cafos e outros femelhantes
{e.rá effe menor reíl:ituido foomente a aquelle auto-.
em que ·a-m foi lefo, e recebeo dãnificamento, e nom
<;ontra a fentença; porque a fentença em .t al.caía foi
dada fegundo - os mcritos do proce!fo, -e a.ffi o dito -
menor nom recebeo dãno della , mas foomente dos .
~u.tos prece.dentes 1 e ,por tanto c.ontra-.efü:s f ei:á r.e"l'-
. ft~

p
(3 20 O Timc1mto LrvRo DAS ÜRD~ TrT. LXXXVI.
fütuido 1 a qual reftitui~am affi ·feita ~ontra clles
fe;á per confeguinte emendad~ a dita _fentença ; por
qúe toda fentcnp deue feer dada fegurido os autos
do proceífo, ·conu~m a fab'er , fegundo o que por as
partes foi: aleguado , e prouado, e confeffado.
2 E Tooo cíl:o, que·dito he, auerá luguar no ca ...
fó .011de o mei10r ouüeffe trautado·· ·todo feu feito per
fcu Tutor, ou Curador, ainda que ao tempo da pu.
bricaçam da fentença . n-0rn foífe prefen te; cá fe o
feito do menor foíle . ~rautado por elle mefmo fem
aúé.tmielade do dito Tutor, ou Curador, em tal ca.f~ a ·
fentença dada col1tra·elle ferá per Dereito ninhúa, e
affi · nom · ferá ·neceífaria ninhüa reíl:ituiçarn .contra
'clla, porque regra geeral he em Dereito, ~1eft al-
·gitü tem acerca. do que requere alguü, remedio ordinario,
110m Ih.e ferá dadr;, e outr;rguàdo outri; remedio extraor...
dinario ; porctue onde o menor nom he legitimamen ...
te ·defefo tem per De rei to remedio ord inario, pera.
cm todo tempo dizer que a dita fentença: que con_tra
eUe · foi dada he ninhúa, e por tan.to •nom lhe ferá
o.litorguado outro remédio extta~rdinario l aíli ·como
he o beneficio da reftituiçam, que he outorg~ado
aos menores no dãno que receberam por caufa de
fua menoridade.
3 E MANDAMOS, que quando fe ouuer de trautar
em JuizO algüa caufa ciuel ou crime d'alguu ,n1enor
·de' vinte cinco annos, que nom .for emancipado, ou
caf~do ·, f~ o dito menor for Reo , e ainda .nom paffar
, de quatorze annos, ferá citado feu Tutor fe o teuec;
e
Do MEN. DE VINTE CINCO AN. CONTR. QYE tT e. 321

e nom o tendo , o que demandar quifrr requererá,


que lhe feja dado pera o citar, e norn ferá neceffa-
rio feer ~ dito menor citado: e fendo maior de qua-
torze annos ferá citado o mefrno menor, e mais feu
Cu·rador fe o teuer , e núm o tendo , o mefmo que o
quifer demandar lho fará dar. E por o meírno modo
quando o menor for Autor, fendo menor de quator-
ze annos, nom ferá ouuido por íi em J uiz_o , mas o
feu Tutor demandará por elle , e valerá o dito Jui-
. zo rfem proçuraçam do menor. E fendo o menor
maior de quatorze annos entonce ferá neceffari0
( poíl:o que feu Curador queira fazer por elle a de~
manda) parecer eJle rpenor em Juizo, e fazer feu
Procurador com auéloridade do Curador , a qual
abaíl:ará fern outra procuraçam do Curador; e nom
tendo Curador, o Juiz que da caufa ouuer de conhe-
cer o notifiçará ao Juiz dos Orfaõs pera lho dar, e
· co~ fua procuraçam ou auétoridade feguir fua de-
manda. E fendo d' outra maneira o dito Juizo trau-
tado em qualql:ler dos cafos acima ditos neíl:e par-
rafo 'os taees autos e fente~ça·s por elles dadas frram
ninhuüs.
4 E Nos ditos cafos ., pofl:o que tenha Tutor , ou
·~urador, ferá dado j urarnento ao feu Procurador•
fe o teuer, que bem e verdadeiramente procure pelo
1dito menoq e fendo o feito ·trautado aa re.uelia d~al­
guii menor, ou de feu Tutor, ou Curador, o Juiz
da caufa dará huú Procurador da fua Audiencia, que
·lhe milhor parecer , por Curador aa dita demanda,
,, Liv. IIL Sii ~
322 O TERCEIRO LivRo DAS 0Ro. TrT. LXXXVI•

e lhe dará juramento que bem e verdadeiramente
procure a dita caufa, o qual Procurador auerá en-
form'açam do Tutor ou Curador, que o menor teuer,
ou lhe for dado, e defenderá o dito menor o milhar
que poder. E fendo o fei.to trautado fem lhe feer
dado o d iro Curador aa lide da fórma fobredita, fe-
·ram os autos, e fente·nças por os ditos nu tos dadas
ninhüas ; e nom vindo o diro Tutor ou Curador
pera dar énformaçarri ao dito Procurador, e por ello
fe der fentença contra o menor, pola qual fe requei-
ra execuçam , Mandamos que a execuçarn da fen-
tença affi dada fe faça nos bens do tal Tutor, ou Cu-
rador, e nom nos bens do dito menor. E nom ten-
do o dito Tutor ou Curador bens, em que fe a dita
'execuçam poffa fazer, Mandamos que fe faça nos
- bens do Juiz, que tal Tutor ou Curador deu. E nom
tendo o dito Juiz, ou feus herdeiros ( fe já finado
for r bens em que fe a dita execuça·m poíla fa-
zer, em tal cafo fe faça a dita execuçam nos bens
do dito menor , fic,a ndo-lhe refgqardado feu <lerei~
to pera poder pedir ·reíl:ituiçam in integrum, que por
Dereito lhe he outorguada, e affi pera poder auer
·emenda, e corregimento do dãno que recebeo .pôr
culpa, ou negrigencia de feu Tutor, ou Curador·, pêr
os bens deíle Tutor, ou Curador, ·ou do Juiz que~
_deu, ou de feus herdeiros como dito he. E quando
·a auçam for r.eal, pofto que o Autor feja metido
em poffe da coufa demandada, poderá o menor vfar \
; do beneficio de reftituiçam • ~ auer emenda do dã~ 1
,,
. '•
no

Do MEN. DE VINTE CINCO AN. CONTR. Q11E ET e. 323
no que por culpa ou negrigencia de feu Tutor, ou
Curador, receber por feus bens, ou do Juiz que tal
Tutor, ou Curador deu,. como dito he.
5 E SENDO outorguada reíl:ituiçam a alguu me-
nor contra algífa fentei1ça dada contra el!e, OLl con..
tra alguus Autos do proceffo, per que a dita fenten-
ça mereceífe per éonfeguinte feer reuogu:tda, tan-
to que a dita refütuiçam a Nós for pedida por en-
formaçam fobre ello feita, ou aos Juizes a que dello
pertencer ·o conhecimento , loguo ferá efpaçada a
execuçam della, fe ainda nom for feita , atee que
a queíl:am da dita reíl:ituiçam feja de todo finda e
defembarguada; e quando achado for que lhe ha de
feer deneguada, far-fe-ha a dita execuçam fegunde>
fórma da dita fentença.
6 E ESTO nom auerá Iuguar, quando a dita reíl:i-
tuiçam for pedida maliciofamente pera dilatar a di-
ta execuçam, ou quando for pedida por alguú ca-
lado por refpeéto de fua molher feer menor; cá em "
taees cafos nom ferá dilatada a execuçam por cauf'a
da dita rcíl:ituiçam affi pedida, mas ferá loguo a
dita fentença executada, dando primeiramente o
vencedor da dita fentença fatifdaçam folene com
penhores, ou fiadores abaílantes, que fendo ao def-
pois achado o dito menor lefo , que' merecer auer o
dito beneficio de reíl:ituiçam , e a dita fentença per
~Iguü modo reuoguada, p'àífa o dito menor _compri-
damente auer fatisfaçam de todo feu Dereito, e efe..
éto do beneficio de reftituiçam affi outorgL·1ado.
324 O TERc. LrvRo DAS ÜRD. TrT. LXXXVI.
7 E EM todo caro que o menor fe digua Jefo per
algüa fentença, ou per alguüs autos do proceffo, que
fe trauearem ·ante de feet de hidade comprida de
vinte cinco annos, deue pedir a reíl:ituiçam atee
idade de vinte cinco annos, e-mais quatro annos, que
fam vinte nau.e; porque aquelles . quatro lhe farn
outorguados por Dereito aa'lem da legitima e com-
prida hidade de vinte cinco annos, períl pedir a dita
reíl:ituiçam do que affi fez ante-dos vinte cirico Jan-
nos; e nom a pedindo ao dito tempo,já mais a nom
po,d crá _5lemandar , faluo fend~ em o dito tempo
impidido de ral, ' e t:am lidimo, e neceffario impi-
dimento , que a pedir nom podeffe ; cá em tal cafo
feer-lhe-ha proUido, fegundo for achado por Dereito
que o deue feer. A qual reíl:ituiçam. -M~ndamos, que
pofh affi pedir perante Nós por fimprez emforma-
ç:am, ou perante os Juizes Ordinarios, ou Delegua-
dos, que o feito princip:tlmente defembarguaram:
e fe eff es Juizes forem Com promiffarios , em tal ca-
fo · feja pedida perante Nós .• ou perante os Ordina-
rios deffe Luguar, onde eíle feito principa'lmente foi
defembarguado,\\

.TI~
Do ÜRt'. MENOR DE VINTE .CINCO ÁN1"0S . ET . c. '325
T 1 T U L O LXXXVII.
Do .Orjaõ menor de vinte cincf) annos, que impetrou
Graça d' E/Rey por que fqffe auido·por maior. ·

T ANTO que o Orfaõ baram achegua a vint~


annosJ e a femea a dezoito, loguo pode impetrar
Noffa Carta de Graça, ( paffada pelos Noffos Def-
embargua-dores do Paaço ) por que lhe fejam eptre-
gues feus bens, e ajam delles liure e comprida ad-
miniílraçam; e antes de tal Carta lhe feer paffada,
traram certidam por Eftormento pubríco dos Juizes
do Lnguar, onde elles menores forem moradores, ç
feus bens teucrem, em que venham preguntad.as
teílemunhas dignas de fee, que diguarn que fabem,
que fam de bom fifo e difcriçam ,. em tal guífa , que
-razoadamente bem pcderarn reger e míníílrar os di-
tos ·bens; e fem trazerem o dito Efiormento nom lhe
ferá concedida a dita Carta.
1 E IMPETRANDO a·lguü Orfaõ menor a dita
Graça como dito he, di em diante ferá auido por
maior de vinte cinco annos, em tal ·guifa, que ainda
que elle feja achado Iefo por caufa de fua fimpreza
em alguü contraéto . por elle feito, defpois da dita
Cart'!- _lhe feer concedida , norn ferá reJrituidb ao
dãno e lefam , que affi ouuer recebido em o dito
•contraéto, por feer feito ao tempo ·que já he auido
por maior, como dito he; porque a hidade que lhe
~ eífe tempo faleceo pera comprimento .'dos vinte-'
.cin..
326 O TERC. LrvRo DAS 01m. TrT. LXXXVII. '
cinco annos lhe. he foprida por a dita graça, que affi
ouue impetrada. '
2 EM PERÓ ainda que alguú Orfaõ aja de Nós
impetrada a dita Graça em a dita hidade de vinte
annos, ou dezoito, como dito he, [e elle vender on
apenhar bens de raiz, que ouuer, ou parte delles, tal
venda ou apenhamen.ro ferá 'ninhuu, e de ninhuü va ..
lor, affi como fe o dito menor nom ouuelTe impe~
trada a dita Carta, porque a dita Graça por Nós ou ..
torguada nom fe eftende a emlheaçam ou a penha- ·
mento affi feito dos bens de raiz, como dito he; fal-
uo fe a dita ema,lheaçam for feirn. por auél:oridade de
Juíl:iça, au na Graça por Nós outorguada expreífa..
mente foffe declarado, que elle dito menor podeffe
Jiuremente vender ou apenhar os ditos b"ens de raiz ...
.aíli como maior de vinte cinco annos ; porque em
cada huü deftes cafos ferá o t'ontraél:o valiofo, e
nom poderá já mais em alguü tempo pedir- reftitui~
-çam da venda ou apenhamento"""'que delles fezer,.
defpoi-s da Graça impetrada, por o beneficio da re-
·fütuiÇarn , que por .Dereito he .outarguado aos me..
•nores, quando fam lefos.
·3 E AVEMOS p0r hem, que·fe aquelle que impe~
·t róu a dita Graça, p0r que foi auido por maior, ou o
.que for cafado fend0 de vinte annos ( fegundq Dif-
femos no primeiro Liuro, no Titulo Do Juiz dos Or-
faõs ) litiguar em Juizo fobre quaefquer bens, aíli
rnouees _, ·c omo de raiz, nom fe po!fa no dito Juizo
rcfütufr, nem contra os autos., nem contra a fent~n:..
~ª3.
Do ÜRF. MENOR DE VINTE CINCO ANNCS ET e. 327

ça ~ nem anular os ditos autos, nem a dita fentença ;


pois nom fe pod~ dizer qu~ liriguou fem auétorida-
de de Jufüça.
4 EMPERÓ a molper de .qualquer cafado; que
paífar de vinte annos, .e ella for menor de vinte an-
nos, e for kfa affi nos contraétos, como nos Ju'i.;.
zos, pode p~dir reíl:ituiçam, e feer-Ihe-ha . concedi-
da, e a tal refiituiçam aproueitará ao marido, affi
(Orno fe elle foíle menor de vinte annos; e pelo mef-
nio modo, fe a molher folfe maior, e o marido me-
. nor, e o marido foífe reíl:ituido , a tal reíl:ituiçam
aproueitará aa molher •
. 5 E TAL GraÇa affi' impetrada nom aproueitará
;io impetrante, a que foi algüa coufa, prometida, da-.
da, ou leixada e'"m alguü co11traél:o, ou teftam,en~
~o , ou per qutra qualquer guifa, pera auer quando
~ffe impetrante foffe de lidima, ou comprida hida-.
dade, & e; porque ,n om poderá .elle auer ou dernan.,
dar a dita coufa affi prometida, ou leixada, atee·
que aja verdadeiramente a dita lidima, e comprida
.h idade de vinte cinco annos. .
lo.

TI.
J2 8 O TERCr LIVRO DAS ÜRD. TIT. LXXXVIII • .
T I T U L O LXXXVIII.

~uando / eram punidos os menores pelos deliflos r;.ue .


fez erem.

Q U ANDO alguü homem, ou molher ; que de


vinte annos paífar, cometer qualquer deliél:o , lhe
ferá dada a pena total, que lhe ferja dada, íe de vinte
cinco annos .paífaíle. E fe o dito delinquente fofle
de hidade de dezafete annos atee vinte , em efta hi-
dade ficará em arbítrio dos J ulguadores dar-lhe a
pena total, ou diminuir-lha, e em tal cafo o Julguâ-
dor oulhará: o modo com qu.e o dito delicrn, de que
affi for acufado, foi cometido, e as circuníl:~ncias
delle, e a peffoa do dito menor; e fe o achar em
tanta rnalicia, que lhe pareça que rne.rece total pena,
da.r-lha-ha, poíl:9 que feja pena de morte natural;
e parecendo-lhe que a nom merece, lha poderá de·
roinuir fegundo a qualidade, ou fimpreza com que
acha·r que o dito deliéto foi cometido. E quando o
dito delinquente foífe menor de dezafete annos com•
pridos, em tal cafo, pofto que .o deliéto mePeça mor-
te natural, nom lhe ferá dada em ninhuü cafo, mas
ficará em feu arbítrio dar-lhe outra menor pena; e
nom fendo o deliéto tal, em que caiba pena de mor-
te natural, fe guardará a difpofiçam do Dercito Co-.
mum.

T 1~
Dos Q.UE DAM LUGUAR Aos BENS.

T l TU L .O LXXXIX.

Dos que dam luguar aos bens.

P ORQYE com o .remedio de poder faur ceffam,


.que geeralmente era dado aos que eram obriguados
ppr caufa 'Ciuel ., ,tinham os deuedores atreuimento
tde fazerem muitas malicias, e enguanos, as quaes fe
Jhe ,norn .p odiam ' proua>r como por experiencia por
wezes Je ·vi0 ., e os c-reedores ficauam muito dãnifi-
tcados , '~erendo Nós a efto prouer., Mandamos ,
' .q ue em todos os contraétos., que foram feitos defde
•OS vinte cinco dias do mez deJulho de quinhentos e
.d~zafeis annos., ·e affi ..nos que ao diante fe fezerem 1
inom potra algun deuedor fazer ceffam de feus bens•
.e fe a fezer nom valha ., nem aja efeéto alguü ; faluct
querendo o deuedor prouar ~que ao tempo que co11-
.traél:ou com o creeàor, ou .creedores., eHe tinha tanta
fazenda füa, que os creed.ores bem podiam eftar fé-
guras de feu paguamento, e par lhe fobreuiir _a1guii
.cafo , ou dãno , ou perda fem fua culpa ( por onde
fua fazenda foffe demenoicla, ou perdida) nom pode
paguar.: Ou fe o dito deuedar log1rn no contracto da
obriguaçam, por qualquer maneira que for feito, de-
darnu ao fe11 creedor, ou creedores, como nom tinha
fazenda ; ou fe a tinha , que a tinha obriguada a ou.-
tras peífoas , porque neíl:es caí-Os~ e cada huú delles,1
..poderá fazer <::eff'am. E quando affi fezer ceifam , .nos
~af.o~ em que Dizemos que·a pode fazerr, fe eHe ,o'u-
,Liv. III. . Té . uêi:
330 O TrncEIRO L1v1rn DAS ÜRDEN.T1T:-LXXXIX.

uer alguüs outros bens de nouo defpoi_s de feita a


ceffc1m, ferá por elles obriguado aa dita diuid~, com
tanto que lhe fiquem tantos bens , em que razoada-
rnente fe pofT:.1 manter , fegLu1do feu eílado -e co11di-
liªm, em tal guifa, qne nom pereça de fame, fe-
gundo aluidro de bom Juiz.
' I E AQYELLE que .der luguar aos bens moíl:ra-
los-ha todos por efcripto feito, e affinado por fua
maõ , fe foÚber efcreuer ; e fe nom foub.er efcreuer,
.mande-os efcreuer a outrem • e elle aillne eífe ·efcri-
,pto por fua maõ ; ou mande fazer inuentario delles
a huü Ta baliam pubrico, ou Efcriuam que faça fee,
de como effe deuedor declarou , e affinou eífes bens
todos, que a effe tempo -auia em o dito efcripto con-
~heudos, e :afirmando que nom tinha mais. E affi
<ledarará as diuidas . todas que deue , e que lhe de-
uem; e as pelfoas, a que clle declarar que deue, feram
~citadas pera ·a dita ceifam. O qual rol ferá aprefen..
tado em j"uizo ao Juiz a· que eíl:e conhecimento per..
itencer ~ por tal, que defpois fo fe poder mc:>íl:rar que
'.élle a cífe tempo auia alguüs bens outros , aalerri
:d'aq\Jelles que affi declarou em o dito efcripto , co~
.mo dito he , nom poífa guouuir ·da dita cefiam de
.bens, que aill ouuer feita.
2 E PRAZENDo ao c·reedor, contra que fe quer fa..
zer a ceíiam, que o deuedor ,aja efpaço de cinco an~
dJOS pera paguar eífa diuida, feer-lhe-ha outorguado
<C -dito e[paço , o qual efpaço paífado fe ·o dite deue-

·dor nom pagoar a diuida ferá prefo > e ainda ~uc


, ! que1~
Dos OJ)'E DAM LUGUAR. AOS BENS. 331
queira dar luguar aos bens já nom poderá em per-
juizo dos creedores , mas ferá prefo atee que pague
fem embarguo da dita ceffam.
3 E SEN no muitos creedores , e huús lhe quei ..
ram da1· o dito efpaço ., e outr.os nam, mas que to-.
.dauía dcé loguo luguar aos bens erre deuedo·r' ou fe-
ja ,prefo ., em tal cafo eíl:ará o Ju-lguador por aquella .
,parte a que mais for deuido, e aquella confirmará.
E ainda que de hua pane foffe huú foo creedor , e
.da outra foílem muitos , fe a aquelle huú foo foffe
mús d.cuido que a todolos outros , aqueUe foo pre~
ualecerá fobre ·.todolos outros, em tal g~iifa., que fe
nom .efguarde acerca d.eíl:o o conto dos. creedores •
.n,1as foomente i foma, e quamidade da diuida, comQ
-dito he. Peró fendo o conto dos cr.eedorss, e foma • ·
e quant·idade · das diuidas toda igual" em tal cafo
preualecei-á aquel!a pane, que outorgua que feja da-
do o dito efpaço de cinco annos, como .dito hc. por
feer dfa parte mais piadofa. ·
4 E No .cafo onde todos os creedores fe acord af-
o
f~m 1 que deuedor ·ouueffe efpaço de .cine-0 ann,os
·pera paguar todas as di·uidas , frrá o d~uedor obri-
,guado a aceitalo ., ainda que nom queira ; porque
·d ia eleiçam de -cinco annos, m.i dar luguar aos bens,
·he por Dereito ouwrguada aos creedores, e pois el- ·
o
les efcolhem que deuedor aja o dito efpaço de cin-
.co·annos", nom o poderá recufar o de-uedor. · ·
5 E EM rodo cafo onde o deuedor quifer fazer
ceífam .. e alguü creeder requerer, que prendam eíle
Tt2 de•
..
., ~

-
332 O TERCEIRO LrvRo DAS ÜRD. TrT. LXXXIX.
dei.ledor que aíli quizer fazer ceifam; ferá toguo pre-
' fo, e fendo prefo fe liquidará fe a pode fazer ou aomL·
6 E Toooaquelle,q.ue qu-ifer darluguar aos bens~
fará ceffam em Juizo, confeffando todas as diuidas
p~r que a faz , decJa.rando ainda .. e amofhando to-
clolos bens que a effe tempo· teuer, e-amo díto he , e
foomente lhe ficaram os veftidos , que a elfe tempo
teue>r veftidos ; com. ranto que hom fejam.. de muito.
grande val'oi.:: , por que alguus creedores. podeffem
auer paguamento·de fuas diuidas; e fe for duuida fe
fam de grande preço, ou- no.m , ficará em alu.idro do
Ju!guador.
7 E DECLARA MOS todo eíl:o· ,. que díto he , nom
auer luguar 11mde for querelado d'alguú, ou lhefor
prouado, poíl:o que·nom querele,.. que-he bulram e
inliçador; porque em tal cafo, .ainda que fuas diuidas
defcendam de coufa ciuel , já eíle ciuel he conuerti-
do em crime, pois he culpado. de bulrarn, e por
tanto J.he nom valerá a G€-ílam.
· 8 E BEM Assr nom. poderam fazer ceífam- d-e feus ,
bens os que fe acoutarem nas <::afas dos;. Fidalguos : ~
nos lugu.arcs onde Nós-Eíl:euer-mos em peffoa , € -.Ra
. Cidade de Li,xboa , por nom ferem demandados por
foas diuidas , nom acodindo aas citaçoês que lhes
por ello forem feitasJegu.ndo mais larguamente Di-
remos no Q'.into Li.um, no Timlo §(.':'e os Fidalgµos
e Prelados nom acolham maifeitor:es.

...

/
,,
Do QyE HE DEMAND. POR COUSA POR ELLE ross . 333

TITULO XC.
-
Do que he d;mandad~ por couja por elle pojfuida , e e!lt
negua cjlar em pojfe delta,

s ENDO alguü demandado em Juizo per atgúa


auçam real por algua coufa que elle poffua , e fendo
preguntado pelo Juiz fe eílá em poffe della o ne-
guar • prouando o Autor como elle eftaua éin poíTe
della , loguo fem ourro proceffo, nem libelo, nem
conteíl:açam , ferá priuado da poffe da dita coufa , e
ferá tranfrnudada ao dito Autor; e fe o ditó Reo qui-
fer auer a dita coufa , ferá feito delle Reo Autor , e
e do Autor Reo. E eílo foi aili dado por p~_pa ao di•
to Reo , por affi neguar ao Juiz poífuir. a coufa l - e
lhe feer prouado o contr~iro ..
r E ESTo auerá luguar quando o dito ·Reo ne.-
guar em Juizo poffuir a dita coufa , e o dito Autor.
lhe proualfe o contraira ; cá.fe o dito Reo • defp0is
que ouueffe neguado pol1uir a dita .coufa ·" ante que
o Autor prouaHe o oontrairo , . eHe rnnfeít'líle ·eíla-r .
. em poffe della ., em tal cafo ·nom . auerá ~a di~a.· pena ·, .
porque pois o dito·.Autor foi rekuado de daP proua .
fob;e a dita coufa·. , . nom., fe poàe corn ·j ufta : dzam .
agrauar , por o dito. Reo fíi:er releuadoda di.ra pena ;
pcró poderá o,dito Amor fe qtitfor dizer ... que nom
quer aceptar, a dita : co11fl{fam . affi · feita 1 per , o dito .
Reo, e que:·quer, dar foa proua .come o Reo po'ífoe, a
-dita coufa., .e..:;ecufando ~íli· o .Autor, de acepta.r.a. d1-º
ta
334 O TERCEIRO LrvRo D.AS Orrn. TIT. XC.
t1 confiff.'lm , o dito Reo ferá priuado da dita poífe
como dito he. E fazendo elle Reo a dita confdfam
defpois que o dito Autor ouueffc prouado como eíl:a-
ua em poíle dclla , jaa lhe tal confüfam nom pre..
fiaria , mas fer'ia priuado da dita poffe.
2 E NO cafo onde o Autor ouueíle prouado co-
mo o .dito Reo eftaua em poffe da dita coufa , e eHe
dilfeffe, e aleguaffe a dita coufa feer lua , oferece11-.
do-fe a o prouar loguo fem outra dilaçam , jaa lhe
tal razam nom preíl"ará , nem íerá recebido a ella .;
porque efte calo em Dereito e[pecialmentc he priui-
Iegiado ., ( affi como o cafo de e-sbulhe ) onde femc-
lhanJc rà·zam nom ferá recebida , · ma.s fodauia o es-
pulhado ante d'outra coufa ferá refti!uido a fua pof-
fe , .de que foi .esbulhado.
3 E DESPors que no cafo fuío dit0 o Autor for
cntrngue da dita. polfe , fe o dito Reo quifer prouM
.como a dita coufa l1e fua ., e lhe pertence de Dereito • -
,p er nouo Juízo ferá recebido ad!o, e fer-lhe-ha fe.ito
<Comprimento de Dereito. E poderá ainda em effe
nouo Juízo ·mudar a neguaçam fobre a dita poíle,.
e dizer, que eftaua em poffe deHa , fe fe entender
.d'ajudar da dita p0ffe., por dizer que poífoio a dita
,coufa por muitos tempos .com alguü título., 0nàe
p91Tu caufar algua prefcnipçam por conferuaçam de
todo .feu dereito .. ou por algüa outra razarn de que
fe .peílà cem Der:eito ajudar; p0rque fem embarguo
qµe feja em fi c0ntr.a jro, pod_çlo-ha fazer J pois qui:
;0s, Jui.iPi Í"lJIJ 4çf@.ix.ado§ ~ ~n.c4 que _feja antre .çf-
,'- fas
Do QyE HE DEM ANO. POR COúSA POR F.LLE POSS. 335

fas peíloas mermas , com tanto que alegue algüa j~'::


fta razam , por que fe mcma de reuoguar a dita con-
:fiíl"am , aili como aleguando ignorancia colorada por
caufa d'algua juíl:a razam que ouue a nom fabçr,
que potiuia a dita coufa ao _tempo que aíii neguou
poffuila , como dito he.

Fim do Terceiro Livro.

A pag. 6 , l. 4• pera averem lea-fi penro averem


42, Tit.12, lin. i . EA lea-fe EM .
78 , §. 3 , Ji11. 4- e 5. orden.açam lea-Je orde-
nança
214, T. 55, lin. 2, de Chriílãos lea-Je de Chriílo
283 , §. 4, lin. 9. achados lea-Je achadas
:F3 , §. 6 , lin. 3 e 4, calado lea-Je cafad@
~ -

/
,.

(..

' '

Você também pode gostar