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ver, cujas características principais eram as seguintes: a) dependência vis-à-vis da exporta-
ção de uns poucos produtos primários; b) dependência crescente com respeito à tecnologia
utilizada, mesmo quando se desenvolvia uma indústria local de equipamentos; c) demanda
demasiadamente diversificada, relativamente ao nível de acumulação alcançado, e d) não
aproveitamento pleno das possibilidades da tecnologia utilizada, em razão da dispersão dos
investimentos.” (Celso Furtado, Pequena introdução ao desenvolvimento, p. 130-131)
“A reconstrução do sistema capitalista, sob a tutela dos Estados Unidos, no terceiro quartel do sécu-
lo atual, fez-se no sentido de integração dos mercados nacionais dos países centrais. Os sistemas
nacionais, cujas rivalidades conduziram aos dois conflitos mundiais, foram progressivamente des-
mantelados, passando as suas grandes empresas a estruturar-se globalmente. [...] A nova orientação
tomada pelo capitalismo privilegiou a tecnologia que se havia desenvolvido nos Estados Unidos sob
a influência de seu imenso mercado interno. E também acicatou a concentração do poder econômi-
co favorecendo as empresas com capacidade de ação global. Do ponto de vista da periferia, essas
modificações adquiriram uma grande significação, pois, enquanto o capitalismo dos sistemas nacio-
nais, tutelados por Estados rivais, era por definição nacionalista, voltado para a integração interna, o
capitalismo das grandes firmas é naturalmente cosmopolita, orientado para o livre-cambismo e a
livre transferência de recursos entre países.” (Ibidem, p. 131, grifo meu)
- o impacto das transformações estruturais que têm lugar no centro seguem duas etapas:
1) firmas centrais participam da industrialização e consolidam posições já ocupadas anteri-
ormente ou conquistam novas – em ambas as possibilidades, as indústrias, muitas vezes
complementares das importações, enlaçam uma maior penetração e, consequentemente,
agem para aprofundar a dependência externa
2) Em uma segunda fase, essas firmas se empenharão em reabrir as economias periféricas,
mediante a diversificação de suas exportações, no quadro de uma reconstrução sobre bases
novas do sistema de divisão internacional do trabalho
- ainda que o Estado corrija certos efeitos dessa tendência estrutural, dois traços não se modificam:
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1) a primazia da tecnologia do produto, o que quer dizer que a empresa que a detém possui
o maior poder de mercado, lembrando que a industrialização foi guiada pela demanda de
bens finais, na qual não correspondeu um avanço paralelo das indústrias de bens de pro-
dução
2) subutilização de capacidade produtiva, ou deseconomias de escala
- a industrialização se configura como um sistema oligopolista que, através das empresas transna-
cionais, controla os setores mais dinâmicos e se impõe às firmas locais, o que só é possível medi-
ante o supremo controle da tecnologia
“A nova divisão internacional do trabalho permite-lhes [às transnacionais] alcançar um duplo obje-
tivo: abrir espaço para a industrialização periférica no quadro da modernização – o que amplia o
espaço de utilização da técnica disponível – e reforçar a posição que ocupam no sistema capitalista,
em particular a posição frente às poderosas organizações sindicais do centro.” (Ibidem, p. 138)
- não custa lembrar: a inovação e difusão do progresso técnico só é impulsionado quando existe
uma pressão no sentido de aumentar a taxa de salários, ou seja, onde emerge uma tendência vir-
tual à escassez de mão de obra
- na periferia, é graças ao Estado que parte do excedente é canalizado para impulsionar os investi-
mentos ligados ao mercado interno dentro de um sentido social mais amplo
“Mas não imaginemos que a ação do Estado se faz em contradição com a modernização, ou se apre-
senta como uma opção a ela. A verdade é que o Estado intervém para ampliar as avenidas de uma
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industrialização que tende a perder fôlego quando apoiada apenas na modernização.” (Ibidem, p.
139)
- dado que o salário é mantido estável, a elevação da produtividade, que é o que define o nível do
excedente, limita o alcance da industrialização, restrita, portanto, aos bens finais que determinam
a modernização da economia
- devido à restrição do mercado, as opções de canalização do excedente econômico, que
pode ser direcionado para o desenvolvimento das forças produtivas – acumulação – ou
para a diversificação da produção – criação de mercado –, se cairá fatalmente na queda da
produtividade e, consequentemente, na queda do excedente, evidenciando a inevitabilida-
de do reforço da estrutura de dominação centro-periferia quando a industrialização é con-
duzida pelas transnacionais
“a solução definitiva somente poderia vir das exportações industriais, vale dizer, no quadro de um
novo sistema de divisão internacional do trabalho.” (Ibidem, p. 140)
“Como todo sistema de normas, a OEI é a expressão exterior de relações de força, de uma estrutura
de poder, a qual, por sua vez, se projeta na miríade de atividades econômicas inscritas na divisão
internacional do trabalho. Destarte, modificar a OEI significa, de uma ou outra forma, reestruturar
essas atividades tanto ao nível da localização da produção como no que respeita à apropriação do
excedente. [...] Em contraste com o período anterior, em que o marco nacional definia o plano de
racionalidade das decisões ordenadoras das economias centrais capitalistas, a nova fase, que se pôde
chamar de pós-nacional, se caracterizaria por uma interdependência crescente dessas economias e
pela homogeneização dos níveis de produtividade e renda.” (Ibidem, p. 142)
“Se se pretende captar a lógica da atual OEI é necessário inseri-la no quadro da evolução do capita-
lismo na fase de integração dos mercados dos países centrais. Alguns traços do processo histórico
que a produziu merecem referência particular. Primo: o desmantelamento das barreiras protecionis-
tas ocorrido nos últimos decênios decorreu, essencialmente, de negociações entre economias cen-
trais e estimulou a complementaridade entre essas economias. Favoreceu-se, assim, o intercâmbio
de produtos manufaturados entre países dotados de sistemas industriais altamente diversificados,
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relegando-se a segundo plano o intercâmbio com países de indústria incipiente. Teve-se em vista
abrir espaço para as indústrias na vanguarda tecnológica e para economias de escala. Secundo: o
estilo tecnológico que se impôs por toda parte traduz as condições específicas do desenvolvimento
da economia norte-americana, marcado pelo fácil acesso a abundantes recursos naturais, pela con-
cepção privatista da propriedade das fontes dos recursos não renováveis, pela organização de gran-
des empresas capacitadas para atuar num espaço continental, pela escassez relativa de mão de obra,
elevados salários e padrões de consumo altamente diversificados.” (Ibidem, p. 142-143)
O quadro global
“A aceleração do crescimento nos segmentos retardados do centro, ou seja, a homogeneização
deste, tornou mais nítida a linha demarcatória entre centro e periferia. O caráter capital-in-
tensive da tecnologia que se impôs por toda parte, como consequência dessa homogeneização,
colocou a periferia em face da disjuntiva seguinte: instalar-se em tecnologias cada vez mais
obsoletas no plano internacional ou enveredar por uma tecnologia que acentuaria dentro de
cada país a heterogeneidade estrutural, agravando as desigualdades.” (Ibidem, p. 144)
- a OEI, que tem na alta produtividade e no desenvolvimento tecnológico das economias centrais
um de seus aspectos fundamentais, exacerba as disparidades no mundo
“Mas as raízes da crise que se manifestou na OEI durante a primeira metade dos 70 convém busca-
la na própria lógica interna desta última. Portanto é para o funcionamento do centro da economia
capitalista que nos devemos voltar.” (Ibidem, p. 146)
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