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5 POLÍTICA COMERCIAL NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO

Uma das preocupações mais pontuais das nações é o seu desenvolvimento.


Diferentes elementos compõem as estratégias de cada nação rumo ao
desenvolvimento. O nível de renda é elemento fundamental para qualquer política
desenvolvimentista dos países.
Muitas também foram as crenças que nortearam as ações dos países rumo ao
desenvolvimento.

Por cerca de 30 anos após a Segunda Guerra Mundial, as políticas comerciais


em muitos países em desenvolvimento foram intensamente influenciadas pela
crença de que a chave para o desenvolvimento econômico era criar um forte
setor manufatureiro, e que a melhor maneira de criar tal setor era protegendo
os manufatureiros domésticos da concorrência internacional. (KRUGMAN;
OBSTFELD, 2005, p. 191).

Melhorar o nível de renda da população é objetivo maior de qualquer ação de


desenvolvimento. Entretanto, as diferenças que existem entre uma região e outra nos
países, o chamado dualismo econômico, faz que com este mereça atenção especial
dos governantes.

5.1 INDUSTRIALIZAÇÃO PELA SUBSTITUIÇÃO DAS IMPORTAÇÕES

Da Segunda Guerra Mundial à década de 1970, para acelerar seu crescimento,


muitos países em desenvolvimento limitaram as importações de bens
manufaturados, com o objetivo de fomentar um setor manufatureiro que
atendesse o mercado doméstico. Essa estratégia se tornou popular por muitos
motivos, mas os argumentos da teoria econômica a favor da substituição de
importações desempenharam papel importante nesse crescimento.
(KRUGMAN; OBSTFELD, 2005, p. 192).

O ponto de partida do argumento foi a constatação de que os países menos


desenvolvidos, tradicionais exportadores de produtos primários e importadores
de industrializados, tendiam a ser permanentemente prejudicados no comércio
internacional porque as relações (ou termos) de trocas lhes eram
desfavoráveis.
[...]
Segundo Prebish, exportando produtos primários, os países da América Latina
perdiam capacidade de importar bens industrializados, considerados essenciais
para o crescimento econômico. Para superar este estrangulamento, propunha
que o Estado promovesse o desenvolvimento de uma indústria dinâmica, capaz
de substituir os produtos antes importados. (CARVALHO, 2004, p. 95).

5.2 O ARGUMENTO DA INDÚSTRIA NASCENTE


O termo indústria nascente refere-se à etapa do desenvolvimento em que a
indústria ainda não alcançou um nível de produção que lhe permita beneficiar-
se das economias de escala. Nessa etapa, seu custo por unidade produzida é
elevado e, se tiver que concorrer com firmas estrangeiras, estabelecidas a mais
tempo, não tem chance de sobrevivência. (CARVALHO, 2004, p. 89).

Curso: Administração – Componente Curricular: Políticas Brasileiras de Comércio Internacional


Ano/Semestre Letivo: 2014/I – Ano/Semestre do Curso: 4º/VIII – Professor: Gerson Miguel Lauermann
55 9651 2785 – e-mail: glauermann@gmail.com – website: www.fema.com.br
O argumento da indústria nascente parece muito plausível e, na verdade, tem
sido persuasivo para muitos governos. Contudo, os economistas viram nele
várias armadilhas, o que sugere a necessidade de usá-lo com cautela.
Em primeiro lugar, nem sempre é bom intervir hoje nas indústrias que terão
uma vantagem comparativa no futuro. Suponha que um país atualmente
trabalho-abundante esteja no processo de acumular capital: quando ele
acumular capital suficiente, terá uma vantagem comparativa nas indústrias
capital-intensivas. Isso não significa que o país deva tentar desenvolver essas
indústrias imediatamente.
[...]
Em segundo lugar, a proteção às manufaturas não faz nenhum bem, a não ser
que a proteção em si ajude a tornar a indústria competitiva. O Paquistão e a
Índia vêm protegendo seus setores manufatureiros há décadas e,
recentemente, têm começado a fomentar exportações significativas de bens
manufaturados. (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005, p. 192).

5.3 PROBLEMAS DA ECONOMIA DUAL


Embora a política comercial dos países menos desenvolvidos seja em parte
uma resposta a seu atraso relativo em comparação às nações avançadas, ela
é também uma resposta ao desenvolvimento desigual dentro do país. Muitas
vezes um setor industrial relativamente moderno, capital-intensivo e com
salários elevados convive no mesmo país com um setor agrícola tradicional
muito pobre. A divisão de uma única economia em dois setores que parecem
estar em níveis muito diferentes de desenvolvimento é denominada dualismo
econômico, e uma economia com esta característica é considerada uma
economia dual. (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005, p. 196).

5.4 SINTOMAS DO DUALISMO


Não há uma definição precisa de economia dual, mas em geral ela se
caracteriza por um setor ‘moderno’ (que normalmente produz bens
manufaturados protegidos contra a concorrência das importações) que
contrasta nitidamente com o resto da economia de muitas maneiras:
1. O valor do produto por trabalhador é muito maior no setor moderno do que
no resto da economia. Na maioria dos países em desenvolvimento, os bens
produzidos por um trabalhador no setor manufatureiro tem um preço muitas
vezes superior ao dos produzidos por um trabalhador rural. Às vezes essa
diferença chega a 15 para 1.
2. Acompanhando o valor elevado do produto por trabalhador está um salário
mais alto. Os trabalhadores da indústria podem receber dez vezes o que os
trabalhadores rurais recebem (embora seus salários ainda pareçam baixos, se
comparados aos dos Estados Unidos, da Europa Ocidental ou Japão).
3. Embora os salários sejam altos no setor manufatureiro, os retornos de
capital não são necessariamente grandes. Na verdade, muitas vezes parece
até que o capital aufere retornos mais baixos no setor manufatureiro.
4. o valor elevado do produto por trabalhador no setor moderno é, pelo menos
em parte, devido à maior intensidade de capital na produção. Nos países
menos desenvolvidos, as manufaturas normalmente tem uma intensidade de
capital muito maior do que a agricultura (isso não é verdadeiro nos países
avançados, onde a agricultura é bastante capital-intensiva). No mundo em
desenvolvimento, os trabalhadores rurais frequentemente trabalham com
ferramentas primitivas, enquanto as instalações industriais não são muito
diferentes das instalações das nações avançadas.
5. Muitos países menos desenvolvidos tem um problema de desemprego
persistente. Sobretudo nas áreas urbanas, há um grande número de pessoas
sem emprego ou com trabalhos esporádicos, cujos salários são extremamente
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baixos. Esses desempregados urbanos coexistem com os trabalhadores
industriais urbanos relativamente bem pagos. (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005,
p. 197).

5.5 INDUSTRIALIZAÇÃO ORIENTADA PARA EXPORTAÇÕES


Como apontamos anteriormente, nas décadas de 1950 e 1960 havia uma
crença generalizada de que os países em desenvolvimento poderiam criar
bases industriais somente substituindo importações por bens manufaturados
domésticos. No entanto, de meados da década de 1960 em diante, tornou-se
cada vez mais claro que havia outro caminho possível para a industrialização:
eram as exportações de bens manufaturados, principalmente para as nações
avançadas. Além disso, os países que se desenvolveram dessa maneira – um
grupo que o Banco Mundial agora chama de economias asiáticas de alto
desempenho (EAADs) – atingiram um crescimento econômico espetacular,
em alguns casos de mais de 10 por cento ao ano. (KRUGMAN; OBSTFELD,
2005, p. 200).

5.6 RESUMO
1. A política comercial nos países menos desenvolvidos pode ser analisada a
partir das mesmas ferramentas analíticas utilizadas para discutir o caso dos
países desenvolvidos. As questões características dos países em
desenvolvimento são, entretanto, diferentes. Em particular, sua política
comercial está preocupada com dois objetivos: promover a industrialização e
enfrentar o desenvolvimento desigual da economia doméstica.
2. Com frequência, a política econômica governamental para promover a
industrialização tem sido justificada pelo argumento da indústria nascente,
segundo o qual as novas indústrias precisam ser temporariamente protegidas
contra a concorrência dos sólidos rivais estrangeiros. O argumento da indústria
nascente é válido somente se puder ser usado como argumento de falha de
mercado a favor da intervenção. Duas justificativas comuns são a existência de
mercados imperfeitos de capitais e o problema da apropriabilidade do
conhecimento gerado pelas firmas pioneiras.
3. Apoiados no argumento da indústria nascente, muitos países menos
desenvolvidos tem perseguido políticas de industrialização pela substituição
das importações, nas quais as indústrias domésticas são criadas sob a
proteção de tarifas ou cotas de importação. Embora essas políticas tenham
sido bem-sucedidas em promover as manufaturas, de modo geral não tem
produzido os ganhos esperados em termos de crescimento econômico e
qualidade de vida. Muitos economistas agora criticam duramente os resultados
da substituição de importações, argumentando que ela fomentou uma
produção ineficiente a custos elevados.
4. A maioria dos países em desenvolvimento caracteriza-se pelo dualismo
econômico: um setor industrial capital-intensivo com salários altos coexiste com
um setor tradicional com salários baixos. Em geral, as economias duais
também enfrentam sério problema de desemprego urbano.
5. Às vezes, essa diferença entre os salários dos setores moderno e tradicional
tem sido utilizada como um argumento a favor da proteção, em formas de
tarifas para o setor industrial. Esse é o argumento dos diferenciais de salários a
favor da proteção. Hoje, esse ponto de vista não desfruta mais da credibilidade
entre os economistas. Análises mais recentes sugerem que a proteção
aumenta o êxodo rural, o que piora o desemprego urbano e pode piorar os
sintomas do dualismo.
6. O ponto de vista de que o desenvolvimento econômico deve ocorrer por
meio da substituição de importações, bem como o pessimismo que se difundiu
acerca do desenvolvimento econômico a medida que a industrialização pela
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substituição de importações parece ter fracassado, foram derrotados pelo
crescimento econômico rápido de muitas economias asiáticas. Essas
economias asiáticas de alto desempenho (EAADs) tem se industrializado não
pela substituição de importações, mas pela exportação de bens
manufaturados. Elas se caracterizam tanto por altíssimas razões entre
comércio e renda nacional como por taxas de crescimento extremamente altas.
Os motivos para o sucesso das EAADs são bastante controversos. Alguns
observadores apontam o fato de que, embora não pratiquem o livre comércio,
elas tem taxas de proteção mais baixas do que outros países em
desenvolvimento. Outros atribuem papel principal as políticas industriais
intervencionistas praticadas por algumas das EAADs. Pesquisas recentes
sugerem, contudo, que as raízes do sucesso podem estar em grande parte em
fatores domésticos, em especial nas taxas altas de poupança e na melhora
rápida do nível de instrução. (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005, p. 204).

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Maria Auxiliadora de; SILVA, César Roberto Leite da. Economia
Internacional. 3ª ed. São Paulo: Saraiva 2004.

KRUGMAN, Paul R. & OBSTFELD, Maurice. Economia Internacional: Teoria e


Política. 6ª ed. Makron Books, São Paulo, 2005.

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