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2.

INSTRUMENTOS DA POLÍTICA COMERCIAL


a.1) TARIFAS

Os países dispõem de diversos instrumentos de política comercial. Dentre estes,


destaca-se as tarifas.
Importante fonte, não só de controle para os países, mas também de arrecadação.
“O imposto sobre importações – denominado tarifa – é cobrado quando a
mercadoria entra no país. Pode ser específico, “ad valorem” ou misto.” (CARVALHO;
SILVA, 2004, p.56).
O imposto específico é calculado sobre o valor da unidade de medida importada,
tendo-se como exemplo a tarifa de US$ 454.00 cobrada por tonelada de suco de laranja
brasileiro importada pelos Estados Unidos. Já a ad valorem, que é a mais usada, é
calculada com base na unidade monetária, ou seja, um percentual sobre o valor da
mercadoria importada. A mista, é a utilização da forma específica com a ad valorem ao
mesmo tempo. (CARVALHO; SILVA, 2004).
As tarifas exercem efeitos importantes na economia, como já mencionado, na
arrecadação.
Outra forma de ação da tarifa, que sempre se reflete no preço dos produtos, é no
bolso do consumidor final.
Interfere também nas produções, tanto nos países de origem, que tendem a vender
menos, com uma tarifação maior no destino, quanto no destino, que tende a produzir mais,
já que o produto importado encarece.

a.2) SUBSÍDIOS

Outro instrumento de política comercial adotado pelos governos é o subsídio.


Resulta de ações governamentais, tencionando a manutenção das populações em seu
local de origem, transformar os produtos das empresas nacionais em produtos competitivos
– mesmo que sejam não competitivos – e, também, mediante pagamentos em dinheiro,
fomentar o consumo de produtos nacionais.

O subsídio, quando empregado como instrumento de política comercial, consiste em


pagamentos, diretos ou indiretos, feitos pelo governo, para encorajar exportações
ou desencorajar importações. Em ambos os casos, equivale a um imposto negativo
e representa, portanto, uma redução de custo para o produtor. (CARVALHO; SILVA,
2004, p.65).

O repasse dos subsídios dá-se de distintas formas.

Em geral, a concessão de subsídios se dá por meio de pagamentos em dinheiro,


redução de impostos ou financiamentos a taxas de juros inferiores às de mercado.
Há casos em que o governo compra do fornecedor a um determinado preço e
revende por menos aos consumidores. No Brasil, essa forma foi adotada no
passado com o trigo. (CARVALHO; SILVA, 2004, p.66).

O subsídio tem sido combatido ferozmente nos últimos anos, tendo sido objeto de
muitas rodadas de negociação da OMC, inclusive da Rodada Doha, em andamento, mas,
também os que o combatem, o adotam.
Curso: Administração – Componente Curricular: Políticas Brasileiras de Comércio Internacional
Ano/Semestre Letivo: 2014/I – Ano/Semestre do Curso: 4º/VIII – Professor: Gerson Miguel Lauermann
55 9651 2785 – e-mail: glauermann@gmail.com – website: www.fema.com.br
b) OUTRAS FORMAS DE PROTEÇÃO

Além das tarifas e subsídios, que mormente são barreiras tarifárias, ou que,
envolvem pecúnia, existem outras formas de proteção que os países podem e adotam em
relação à proteção de suas economias.

b.1) QUOTAS DE IMPORTAÇÃO

São restrições quantitativas que são impostas sobre as importações. Podem incidir
sobre a quantidade ou sobre o valor.
“Por quota entendem-se as restrições quantitativas impostas sobre o volume ou o
valor das importações. Podem ser fixadas em acordos entre países ou ser resultado de
decisão unilateral.” (CARVALHO; SILVA, 2004, p.70)
Esse sistema pode trazer mais prejuízos, principalmente ao consumidor final que as
tarifas, eis que poderá ocasionar falta do produto ou ainda, obrigar o consumidor a comprar
produtos de baixa qualidade, em detrimento ao produto importado. Traz prejuízo também
ao governo pois não representa arrecadação, pelo menos não no momento da importação.
“É um equívoco pensar que este sistema é preferível a tarifas, supondo que não
eleve preços. Sempre que são impostas restrições quantitativas, a insuficiência de oferta
resultante provoca alta de preço do mesmo modo que as tarifas.” (CARVALHO; SILVA,
2004, p.70)
Alguns países usam este sistema para arrecadar de outra forma, através de leilão
das quotas no mercado. Isso possibilitaria que se evitasse a concentração das licenças nas
mãos de poucas empresas.

Um agravante adicional é que a política de quotas pode envolver corrupção da


burocracia estatal responsável pela concessão de licenças. Esse problema pode ser
contornado se as licenças forem leiloadas no mercado, processo pelo qual a receita
adicional para a ser apropriada pelo governo, evitando-se assim, a concentração de
lucro nas mãos de poucos importadores. (CARVALHO; SILVA, 2004, p.70)

As quotas, como a maioria das barreiras protecionistas, tem como mote principal, a
proteção à indústria nacional.

b.2) CONTROLES CAMBIAIS

São restrições administrativas sobre transações que envolvam divisas.

Correspondem a restrições administrativas sobre transações que envolvam divisas.


Uma forma de controle cambial é dificultar a importação por meio de licenças para
compra de moeda estrangeira. Outra é o emprego de taxas múltiplas de câmbio:
quanto maior o interesse em proteger determinado produto, maior a taxa de câmbio
fixada para sua importação. Ambos integraram a política de substituição de
importações brasileira. (CARVALHO; SILVA, 2004, p.71)

No Brasil, esse sistema foi empregado nos anos 1950.

b.3) PROIBIÇÃO DE IMPORTAÇÃO


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Uma medida extrema, que pode ser adotada pelos países é a proibição de
importação.
É a forma mais direta de controle e pode ser seletiva em função da mercadoria ou
do país de origem. Nesse último caso, se o impedimento à importação se dá por
razões políticas, é denominado embargo comercial. Um exemplo recente é a
barreira imposta pelos Estados Unidos às importações procedentes de Cuba.
(CARVALHO; SILVA, 2004, p.71)

O país que determina embargo comercial, em alguns casos, pode ainda recomendar
que seus parceiros comerciais procedam da mesma forma. Por muito tempo Cuba
conseguia comercializar seus produtos somente com alguns países alinhados com sua
filosofia política. Isso normalmente implica em atraso para o país que sofreu o embargo,
ocasionando enormes perdas econômicas, tecnológicas e de desenvolvimento.

b.4) MONOPÓLIO ESTATAL

Situação em que o governo centraliza todas as importações de determinado produto


ou setor.

Por monopólio estatal entende-se a situação em que o próprio governo centraliza a


importação de determinado produto e impede a atuação de outros agentes nesse
mercado. Em alguns casos, delega o direito de monopólio de importação a uma
empresa específica, mediante pagamento e sob certas regras. (CARVALHO; SILVA,
2004, p.71)

No Brasil temos o exemplo clássico da importação de petróleo, que somente pode


ser feita pela Petrobrás.

b.5) LEIS DE COMPRAS DE PRODUTOS NACIONAIS

Essa regra pode ser aplicada quando o governo quiser impedir o ingresso de
produtos estrangeiros, privilegiando produtos nacionais. No Brasil esta proteção ocorreu no
período do programa de substituição das importações.

Estas leis podem ser específicas para as compras públicas ou abranger todos os
possíveis interessados. Por meio deste sistema, o governo baixa normas visando
impedir a importação de determinado produto, caso exista produção de similar
nacional. (CARVALHO; SILVA, 2004, p.71)

Essa proteção também configura uma prática não interessante no tocante ao


comércio internacional, eis que, normalmente, o país sofre represália dos demais que não
conseguem exportar-lhe os produtos.

b.6) DEPÓSITO PRÉVIO À IMPORTAÇÃO

Nesta modalidade, somente empresas bem capitalizadas conseguem realizar suas


importações, eis que obriga as empresa a realizarem depósitos prévios, dos valores da
importação.

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Antes da efetiva importação de determinada mercadoria, seu valor total, ou com
percentual dele, é recolhido por órgão do governo, normalmente o Banco Central, e
permanece retido por determinado período de tempo. Esse método, além de
dificultar a importação, constitui também empréstimo forçado ao governo.
(CARVALHO; SILVA, 2004, p.71)

Esse método ajudava os governos a sanar os déficits e foi empregado pelo governo
Jânio Quadros, como o nome de Letras de Importação.

b.7) BARREIRAS NÃO-TARIFÁRIAS

Das barreiras vistas, a sua maioria é barreira não-tarifária (BNT) e normalmente são
de ordem burocrática.

As barreiras não-tarifárias correspondem a restrições impostas pelo funcionamento


normal da burocracia e nem sempre visam reduzir a importação. Observe-se que a
maioria das formas de proteção mencionadas acima não envolve tarifas, mas o
termo barreiras não-tarifárias (BNT) tem sido empregado para designar restrições
relacionadas a regulamentos sanitários e de saúde, normas técnicas, padrões de
segurança, dificuldades relativas à documentação, inspeção e outras práticas que
podem dificultar o comércio. (CARVALHO; SILVA, 2004, p.71)

Muitas vezes, também, estas barreiras são invisíveis e não necessariamente


dependem de ordem expressa das autoridades aduaneiras, senão da interpretação pessoal
dos operadores ou, atitude pessoal.

b.8) ACORDOS VOLUNTÁRIOS DE RESTRIÇÃO ÀS EXPORTAÇÕES (AVRE)

Estes acordos tiveram origem após a Segunda Guerra Mundial, quando os países,
muitos tentando recompor suas economias empresas, negociaram vários acordos de
restrição de exportações.

Por esses acordos, por intermédio de negociações bilaterais, o parceiro exportador


se compromete a restringir a quantidade exportada ao mercado importador. Embora
o país exportador possa estar interessado em aumentar suas vendas, é compelido a
restringi-las porque, se não proceder assim, poderá ser submetido a restrições
ainda mais severas. (CARVALHO; SILVA, 2004, p.71)

Os EUA, Japão, Coréia, Taiwan, Brasil e alguns países ainda em desenvolvimento


utilizam destes acordos, já desde 1957, quando surgiram os primeiros.
Cabe salientar que estes acordos ferem o princípio da não-discriminação, que serão
vistos quando estudados o GATT e a OMC.

REFERÊNCIAS
CARVALHO, Maria Auxiliadora de; SILVA, César Roberto Leite da. Economia
Internacional. 3ª ed. São Paulo: Saraiva 2004. Capítulos 4 e 5.

RATTI, Bruno. Comércio Internacional e Câmbio. 10ª Edição. São Paulo: Aduaneiras,
2000. Cap. 17 e 18.

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