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4 AS BASES DE UMA POLÍTICA INDUSTRIAL

Em linhas gerais, a política pública de desenvolvimento nacional, deve contemplar e


orientar-se a partir das próximas premissas:
a) Aumento da competitividade; b) Equalização do déficit do setor público; c)
Equilíbrio no balanço de pagamentos; d) Redução do “risco Brasil”; e) Reforma tributária e
previdenciária; f) Ampliação dos investimentos em infra-estrutura; g) Políticas e programas
de inclusão social.
Considerando-se estas diretrizes e somando-se a elas algumas mais de natureza
tecnológica, o país tende a estabelecer um desenvolvimento harmônico.
Para avançar, alguns critérios são estabelecidos, tendo-se em conta 11
fundamentais, a saber: consistência macroeconômica, ajuste externo, seletividade,
horizontalidade, cooperação, sustentabilidade, espacialidade, inovação, normas
comerciais, defesa do consumidor, defesa da concorrência e regulação.

4.1 CONSISTÊNCIA MACROECONÔMICA


No momento em que as estruturas de mercado reforçam a sua internacionalização e
as economias nacionais ajustam-se a padrões globais de competição, a política industrial
assume um caráter marcadamente microeconômico. Há certo consenso de que esse
caráter não deve afrontar as grandes metas de estabilização macroeconômicas.
A política industrial também deve ajudara a compor um sistema institucional
cooperativo, com incertezas e riscos reduzidos, buscando o permanente combate aos
custos de transação e criando um ambiente estável, com regras claras e acessíveis a
todos, favorável ao investimento produtivo e incentivador da competitividade.
Neste contexto, a política industrial constitui parte de um sistema complexo do
desenvolvimento econômico sustentável, cada vez mais aberto à competição no mercado
global.

4.2 AJUSTE EXTERNO


Adotada a visão global de inserção competitiva da economia num ambiente de
estabilidade macroeconômica, cabe à política industrial apoiar o crescimento da
produtividade (advinda de vários fatores, entre eles a abertura de mercados). No entanto,
torna-se imperioso corrigir os desequilíbrios que dela surgem. O principal e o mais genérico
deles é o crescimento mais acelerado das importações diante das exportações. A situação
torna-se mais dramática em alguns exemplos críticos (o de eletroeletrônicos, por exemplo).
A experiência brasileira e internacional indica que alguns setores ganham competitividade
nos mercados interno e externo, mas tem uma cadeia de fornecimento vulnerável
extremamente dependente das importações. Torna-se necessária uma política agressiva
de atração de investimentos diretos, complementar a um sistema direcionado de crédito
para segmentos exportadores, para não comprometer o ajuste do balanço de pagamentos,
além de promover um forte efeito multiplicador de emprego e renda qualificados.

4.3 SELETIVIDADE OU “ESCOLHA DE VENCEDORES”


No ambiente competitivo, alguns segmentos industriais são mais afetados do que
outros em margens, capacidade de inversão, emprego, absorção de tecnologia, etc.
Adotar políticas industriais genéricas, somente de princípios, é desprezar as
diferenciações setoriais existentes.

Curso: Administração – Componente Curricular: Políticas Brasileiras de Comércio Internacional


Ano/Semestre Letivo: 2014/I – Ano/Semestre do Curso: 4º/VIII – Professor: Gerson Miguel Lauermann
55 9651 2785 – e-mail: glauermann@gmail.com – website: www.fema.com.br
O critério de seletividade deve então apontar como garantia de tratamento
diferenciado a problemas e potenciais específicos, garantindo condições de adaptação e
flexibilidade no uso de instrumentos de fortalecimento da capacidade competitiva para um
período determinado.
Assim, para a diretriz de ajuste externo por meio de crédito oficial, por exemplo,
torna-se imperiosa a concessão de tratamento diferenciado apenas àqueles agentes que
efetivamente contribuam para o propósito de atingir metas de comércio exterior.
Já quando a questão é a promoção da tecnologia, os instrumentos eleitos devem
restringir-se às empresas que tenham condições de alcançar padrões adequados ao
mercado que procuram atender, seja externo, seja interno. Trata-se a rigor, de “eleger
vencedores”, segundo metas preestabelecidas de forma consistente com os ajustes
macroeconômicos maiores.

4.4 HORIZONTALIDADE
A diversidade repousa sobre condições gerais de produção, tanto no âmbito
institucional como no campo dos bens públicos e privados de consumo coletivo.
Inicialmente, é importante formular e consolidar regras institucionais claras que contribuam
para a redução do risco e da incerteza associados aos negócios, garantindo condições de
competitividade interna e externa equivalente para todos os segmentos industriais. Isso
implica garantia ao cumprimento de contratos, respeito as normas técnicas, acordos de
comércio internacional, lei de patentes e direitos de propriedade intelectual, entre outros.
Mais que isso, as metas de qualidade e certificação de processos e produtos para o
mercado interno e externo tornam-se críticas no momento em que barreiras não tarifárias e
códigos ambientais e de defesa do consumidor são cada vez mais aceitos.
A oferta de infra-estrutura de qualidade (transportes, energia, saneamento, etc)
figura como outra condição que reflete no desempenho industrial e sistêmico. Embora fora
do âmbito da política industrial, há de se reconhecer que as “capacitações sociais”
expressas no acesso à educação, à saúde e ao bem-estar são igualmente relevantes para
o sucesso de políticas normativas na área industrial. A horizontalidade exige ainda a
consolidação de um conjunto de normas institucionais, particularmente a consolidação de
regimes tributários não-onerosos e infra-estrutura tecnológica básica entre outras.

4.5 COOPERAÇÃO
Segundo os autores neo-shumpterianos, a concorrência se dá em torno das
inovações tecnológicas. No entanto, se formas de competitividade surgem não apenas do
funcionamento de agentes econômicos isolados ou rivais, mas de formas de cooperação
dentro das cadeias produtivas internas.
Os conhecidos APL’s são clusters regionais e produção e distribuição cuja
competitividade surge exatamente dos sistemas de cooperação produtiva e de gestão. As
políticas de apoio a clusters locais são hoje mais que um modismo. Tratam de reconhecer
a força da cooperação comunitária nos destinos da competitividade da economia como um
todo. Essa força competitiva sugere a possibilidade de intervenções específicas, capazes
de potencializar externalidades positivas, o que já é percebido por agentes financeiros
(“crédito por aproximação”), governos locais e estaduais, associações de classe,
universidades e institutos de pesquisa, entre outros atores.

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4.6 SUSTENTABILIDADE
A sociedade moderna evolui para adotar códigos de conduta universalmente aceitos,
apoiados em quatro parâmetros básicos: preservação da natureza, eliminação da pobreza,
crescimento econômico e garantias para as gerações futuras. A concepção de
desenvolvimento sustentável deve, portanto, impregnar a política industrial, com respeito
aos fundamentos estabelecidos internacionalmente e de exploração racional dos recursos
naturais, para atender os interesses nacionais.
Os conflitos entre crescimento econômico e sustentabilidade ambiental e social tem
de ser reduzidos com o avanço da ciência e da tecnologia e das normas e códigos
socialmente pactuados.

4.7 ESPACIALIDADE
O desenvolvimento industrial deve provocar uma aproximação com as grandes
metas de desenvolvimento contempladas no PPA, incluindo a redução de desigualdades
regionais e a melhora na distribuição espacial da renda. Isso indica quer as políticas
industriais e tecnológicas tem de ser pautadas por uma preocupação de desenvolvimento
econômico regional.
O país já adota tais políticas, que precisam ser aperfeiçoadas principalmente para
evitar a guerra fiscal e atitudes discricionárias e práticas ilegais e corrupção.

4.8 INOVAÇÃO
O processo de acumulação de capital ocorre a partir da introdução de inovações
tecnológicas. Por sua natureza, as atividade inovativas demandam aplicação de recursos
que se traduzem, entre outros, em: produção, acumulação e difusão de conhecimentos de
longa maturação, aplicação de recursos financeiros com retorno incerto, formulação e
aplicação de mecanismos de proteção de direitos.
Essas características implicam a necessidade de articulação entre diversas
organizações públicas e privadas (empresas, universidades, institutos de pesquisa,
laboratórios de ensaios e análises, etc.), além de normas jurídicas que atendam à dinâmica
da inovação. Nada garante que a presença destas organizações resulte na introdução de
novos produtos ou processos no sistema econômico. Para que isso ocorra, é necessário
que o atual Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia caminhe para incorporar a maior
participação da inovação, esta feita por atores do mercado.
Hoje, o aumento da dependência de fontes tecnológicas externas, provenientes das
novas arquiteturas de gestão das empresas transnacionais, demanda de esforço adicional,
sobretudo quando se leva em consideração a dimensão macroeconômica que atualmente
representa a conta “tecnologia” no balanço de pagamentos.

4.9 NORMAS COMERCIAIS


As relações comerciais de uma economia dependem de como o setor produtivo
responde a normas que regulamentam o comércio interno e internacional. Estas são
traduzidas em acordos comerciais, barreiras fitossanitárias, legislação ambiental, leis
trabalhistas, normalização, certificação de conformidade, introdução e difusão de normas
técnicas, metrologia, etc. Também abrangem o respeito à legislação aduaneira, aos
sistemas de regulação de crédito e financiamento e ao fluxo de capitais, entre outros.
Durante a década de 90, as autoridades brasileiras sancionaram um conjunto de
convenções internacionais e acordos comerciais no âmbito do GATT, da OIT, da OMC, do
Mercosul, etc. Todos eles tem influência sobre as normas comerciais e aduaneiras, a
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propriedade industrial, as relações trabalhistas, os códigos ambientais e outros aspectos.
Na agenda nacional encontram-se em discussão acordos comerciais quanto à formação da
ALCA e relativos à UE. Esses elementos essenciais devem ser considerados quando se
trata da formulação de intervenções normativas na economia.

4.10 DEFESA DO CONSUMIDOR


O Código de Defesa do Consumidor é recente, mas se veem seus efeitos sobre os
agentes produtores e consumidores. Não há dúvidas que a garantia de sanções contra o
desrespeito aos direitos do consumidor contribui para aumentar o bem-estar geral de toda
a população.
Na década de 80, a Assembleia Geral da ONU estabeleceu diretrizes básicas para a
proteção do consumidor, ressaltando a importância de que os governos fizessem o mesmo.
Em razão do resgate da importância do comércio internacional, o direitos dos
consumidores passou a se difundir em grande escala nos países em desenvolvimento.

4.11 DEFESA DA CONCORRÊNCIA E REGULAÇÃO


A dinâmica da organização industrial calcada na acumulação e no crescimento das
firmas gera assimetrias muitas vezes traduzidas no abuso do poder de mercado. Esse
processo ganha grandes dimensões quando findo o processo de reforma patrimonial, com
o advento das concessões e privatizações. A dinâmica tecnológica também impõe
mudanças na estruturação de mercados, com fusões, aquisições e alterações de controle
acionário, entre outros fatores.
No Brasil, compete ao CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica,
órgão vinculado ao Ministério da Justiça, prevenir e reprimir infrações contra a ordem
econômica, garantindo a concorrência.
A legislação básica fundamenta-se em princípios constitucionais de liberdade de
iniciativa, livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumidores e
repressão ao abuso do poder econômico. Ademais, para os segmentos de alto interesse
público (energia, telecomunicações, transporte, exploração mineral e de combustíveis
líquidos, recursos hídricos, proteção do crédito, etc.), a regulação do mercado, realizada
por agências especializadas, deve compor um quadro institucional irreversível no futuro.

REFERÊNCIAS

CAMPANARIO, Milton de Abreu et al. Política Industrial 1. Org. Afonso Fleury, Maria
Tereza Leme Fleury. 1ª ed. São Paulo: Publifolha 2004

Curso: Administração – Componente Curricular: Políticas Brasileiras de Comércio Internacional


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