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ECONOMIA

POLÍTICA

Ariel D. Birnkott
Revisão técnica:

Gustavo da Silva Santanna


Bacharel em Direito
Especialista em Direito Ambiental Nacional
e Internacional e em Direito Público
Mestre em Direito
Professor em cursos de graduação
e pós-graduação em Direito

S586e Silva, Filipe Prado Macedo da.


Economia política [ recurso eletrônico ] / Filipe Prado
Macedo da Silva, Ariel Dutra Birnkott, Jaíza Gomes Duarte
Lopes; [revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna]. – Porto
Alegre: SAGAH, 2018.

ISBN 978-85-9502-408-3

1. Política econômica. I. Birnkott, Ariel Dutra. II. Lopes, Jaíza


Gomes Duarte. III.Título.

CDU 338.2

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB -10/2147


Política cambial brasileira
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir o que é política cambial.


 Apontar a influência da política cambial no cotidiano do cidadão.
 Descrever o papel do Direito na política cambial.

Introdução
Como você sabe, o mundo está cada vez mais conectado e globalizado.
Nesse contexto, intensificou-se a transação de bens e serviços entre países
em todo o planeta. Dessa forma, é muito relevante que os profissionais
entendam a política cambial e as suas consequências.
O câmbio e as suas variações, assim como a política cambial ado-
tada pelos governos e as suas questões legais, têm importantes im-
plicações na economia de um país. Esses fatores afetam, por exemplo,
a sua competitividade, o seu nível de emprego e de inflação, entre
outros aspectos.
Neste capítulo, você vai estudar a política cambial brasileira. Vai enten-
der os principais conceitos do câmbio e a importância da existência das
trocas de moedas entre países. Além disso, vai ver quais são as principais
consequências das políticas e variações cambiais no cotidiano do cidadão
e na economia de maneira geral.
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Política cambial brasileira

Teoria das vantagens comparativas


O princípio das vantagens comparativas é a base da teoria clássica do comércio
internacional. Esse princípio propõe que cada país se especialize na produção
do bem em que é mais eficiente, ou seja, em que apresenta menor custo, ex-
portando, portanto, esse bem e importando os bens cujo custo de produção é
comparativamente mais alto.
Dessa forma, os países se especializam na produção de bens que possuem
vantagem comparativa e realizam trocas desses bens por bens que outros
países fabricam com menor custo relativo. Assim, as trocas trazem vantagens
para todos os envolvidos, de forma que conseguem consumir maior número
de bens com custos relativamente menores.
Você também deve saber que essa teoria é limitada, pois não pondera que
pode haver transformação na demanda e na oferta dos países. Além disso,
não leva em consideração a importância ou o quão necessário é o bem em
que cada país se especializa.
Diferentemente da teoria clássica das vantagens comparativas, a teoria
moderna do comércio internacional, denominada modelo de Heckscher-
-Ohlin, propõe que as vantagens comparativas são devidas à necessidade ou
à demasia relativa de fatores de produção.

Taxa de câmbio
A taxa de câmbio é o preço de uma moeda estrangeira em relação à moeda
nacional. Por exemplo, se a cotação do dólar é R$ 3,00, isso significa que cada
dólar vale R$ 3,00.
Portanto, quando falamos de valorização cambial, falamos de uma am-
pliação do preço da moeda nacional em comparação com outras moedas.
Contrariamente, uma desvalorização cambial indica uma perda do valor de
compra da moeda nacional.
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Figura 1. Taxa de câmbio R$/US$.


Fonte: Ávila (c2013/2018).

As taxas de câmbio trazem consequências econômicas relevantes, por


isso os países empregam diferentes regimes de câmbio que influenciam de
determinada maneira as taxas de câmbio.

Regimes cambiais
Existem basicamente dois tipos de regimes cambiais: taxas fixas de câmbio
e taxas flutuantes de câmbio.

Taxas fixas de câmbio

A taxa de câmbio é fixada pelo Banco Central, que tem a incumbência de


comprar divisas à taxa de câmbio estabelecida. Dessa maneira, a demanda e
a oferta de divisas se estabelecem ao valor definido.
A vantagem desse regime é que há maior controle de inflação, pois a
variação cambial impacta diretamente o custo das importações. Por outro
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lado, há desvantagens, como a maior vulnerabilidade das reservas cambiais


a ataques especulativos e a definição da taxa de juros, que fica relacionada ao
volume de reservas cambiais, tendo menor flexibilidade na política monetária.

Considere, por exemplo, que nesse regime haja persistente desvalorização da moeda.
Se especuladores vão ao mercado apostando em uma queda com altas somas de
dinheiro, e outros participantes atentos à desvalorização também começam a vender
a moeda local com receio de perdas, torna-se cada vez mais difícil para o governo
manter a taxa de câmbio sem haver grande desvalorização.

É importante você saber que, nesse tipo de política, as moedas também


são negociadas no mercado internacional. Porém, os governos que adotam
esse regime implantam políticas para manter a sua moeda em determinado
valor ou faixa estabelecida.

Taxas flutuantes de câmbio

A taxa de câmbio varia conforme a demanda e a oferta de divisas. Nesse


regime, o Banco Central não tem a obrigação de comprar divisas no mercado.
O câmbio flutuante apresenta como vantagens uma política monetária mais
independente do câmbio, e as reservas cambiais ficam menos expostas a ataques
especulativos. A desvantagem desse regime é que a taxa de câmbio depende
da instabilidade e de mudanças dos mercados internacional e nacional. Além
disso, o controle das pressões inflacionárias relacionadas às desvalorizações
cambiais se torna mais complexo.
Entre os dois tipos de regimes, encontram-se regimes intermediários,
como o de flutuação suja. Nele, o câmbio flutuante é empregado, porém com
o Banco Central intervindo com o intuito de preservar a taxa de câmbio em
níveis apropriados, sem grandes flutuações.
Há também o regime de bandas cambiais, que é outro regime intermediário
empregado no Plano Real, no qual há flutuação do câmbio, porém dentro de
limites definidos pelo Banco Central. Dessa maneira, como há obrigação de
o Banco Central dispor de reservas para satisfazer o mercado, esse regime
acaba se enquadrando como política de câmbio fixo.
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O currency board também está sob o espectro do câmbio fixo. Nele, o


câmbio é fixado e a quantidade de moeda nacional deve variar em relação ao
fluxo de divisas. Dessa forma, a oferta de divisas fica dependente do volume
de reservas.

De maneira geral, as economias mais desenvolvidas adotam o câmbio flutuante,


tendo as suas moedas negociadas no mercado internacional e variando o seu valor
conforme a procura e a oferta da moeda, assim como ocorre nas bolsas de valores.

Política cambial brasileira atual


A política cambial se refere à intervenção na taxa de câmbio da moeda nacional
realizada pelas autoridades monetárias. Ela também se relaciona a quanto esses
agentes atuam para interferir no preço de mercado dessa moeda.
A política cambial pode perseguir diferentes objetivos, como o controle
de inflação, a busca de equilíbrio e competitividade no mercado externo e
mesmo o combate a crises que possam afetar a estabilidade financeira. As
estratégias utilizadas pelas autoridades monetárias dependem dos diferentes
objetivos da política cambial.
A economia brasileira, desde 1999, adota o regime de câmbio flutuante.
Nele, oficialmente, só deve haver intervenção no mercado de câmbio em
circunstâncias de clara discrepância nas taxas de câmbio, de forma a impedir
muita instabilidade. No entanto, o que se percebe é que as autoridades têm
atuado sobre o câmbio de forma frequente desde 2000.

Influência no cotidiano do cidadão


Assim como fazem as empresas, países e outras organizações, qualquer cidadão
que necessite realizar pagamento ou recebimento de moeda de outro país, seja
qual for o motivo (viagem internacional, compra de produto, pagamento de
serviço, etc.), precisa trocar a moeda de um país pela de outro, ou seja, realizar
uma operação de câmbio. Atualmente, é menos complicado e menos custoso
enviar dinheiro para o exterior, não sendo necessária qualquer autorização
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governamental para realizar esse tipo de transação, assim como para receber
recursos do exterior.
Porém, não é só quando o cidadão necessita realizar diretamente uma
operação de câmbio que ele é afetado pelo câmbio ou mesmo pela política
cambial do país em que reside. Diversas ocasiões do cotidiano são afetadas
pelo câmbio, mesmo que, na maioria das vezes, você nem perceba.

Um exemplo clássico é o pão, cujo custo é afetado pelas variações do câmbio, pois
o Brasil não é produtor da farinha de trigo e, portanto, deve importá-la para produzir
pão. Dessa forma, se o real está desvalorizado, a farinha importada se torna mais cara.
Consequentemente, a produção do pão também se torna mais custosa e esse custo
é repassado para o consumidor final, o que deixa o preço do pão mais elevado nas
prateleiras dos mercados.

Efeito das variações nas taxas cambiais sobre


importações e exportações
Quando ocorre uma desvalorização cambial, ou seja, quando o preço do
dólar sobe em relação ao real, os produtos brasileiros fi cam relativamente
mais baratos. Afi nal, com a mesma quantidade de dólares, os compradores
do exterior conseguem adquirir mais produtos do Brasil. Dessa forma, há
uma tendência a aumentar as exportações e, por outro lado, uma propensão a
reduzir as importações. Isso ocorre porque os produtos estrangeiros se tornam
relativamente mais caros, já que é necessária uma maior quantidade de reais
para comprar um dólar. Quando há valorização cambial, o contrário ocorre, ou
seja, há incentivo às importações e desincentivo às exportações.

Efeito das variações nas taxas cambiais sobre a inflação


Quando o câmbio se valoriza, a moeda nacional se torna mais valiosa frente
às moedas estrangeiras, de forma a incentivar as importações. Isso infl uen-
cia a queda de preços internamente, devido à concorrência dos produtos
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estrangeiros com o mercado nacional. Essa valorização cambial utilizada


como instrumento de controle da inflação é chamada de âncora cambial.
Essa política cambial é geralmente utilizada juntamente a uma abertura
comercial, com menores tarifas de importação e reduções de protecionismo
ao mercado interno.
No entanto, essa política, apesar de eficiente no combate da inflação e
de se prestar também a impulsionar a eficiência da economia interna por
meio da exposição à concorrência externa, apresenta um lado negativo ao
setor exportador. Este, ao ter o preço relativo do seu produto elevado, reduz
o seu mercado e atinge também os setores que antes não eram expostos à
concorrência internacional.

Se, por um lado, uma desvalorização cambial promove um aumento nas exportações,
por outro o efeito mais rápido é o de aumento dos custos das importações, causando
um aumento do nível da inflação. Isso ocorre devido ao aumento dos custos de
produção causado principalmente pela elevação de preços de produtos básicos,
como o petróleo e a farinha.

Relações entre taxa de câmbio, taxa de juros e inflação


As mudanças nas taxas de juros nacionais, ao produzirem saída ou entrada de
capitais no país, acabam por influenciar as taxas de câmbio. Ou seja, quando
as taxas de juros internas são maiores do que as externas, o país se torna mais
interessante para investimento de capital financeiro e, portanto, há um aumento
da entrada de capitais no país. Isso expande a oferta de divisas internacionais,
acarretando uma diminuição da taxa de câmbio, ou seja, uma valorização
da moeda nacional. Além disso, como os investidores do mercado nacional
também se interessam em investir no mercado interno, há uma redução da
demanda por divisas, diminuindo também a saída de divisas do país, o que
reforça ainda mais a alta da moeda nacional. Quando há redução das taxas de
juros nacionais, o contrário ocorre, provocando, portanto, uma desvalorização
da moeda nacional.
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O movimento de capitais financeiros deve ocorrer em um país até o mo-


mento em que se alcance a denominada paridade da taxa de juros, que ocorre
quando a diferença entre as taxas de juros interna e externa se torna igual à
alteração prevista da taxa de câmbio. Esse é o momento em que os ganhos
com juros do investidor internacional são anulados pela desvalorização da
moeda nacional.
Uma economia forte e em franco desenvolvimento também pode atrair
capital estrangeiro, pois um forte crescimento pode indicar que investimen-
tos em negócios no local podem prosperar e gerar bons retornos para os
investidores. Um movimento desse tipo deve gerar valorização da moeda
local, pois, antes de realizar os investimentos em indústrias, equipamentos,
etc., os investidores estrangeiros terão que trocar a sua moeda pela moeda
local, aumentando, portanto, a demanda da moeda local e, consequentemente,
levando à sua valorização.

Ainda que moedas muito voláteis também podem ser um problema para empresas
multinacionais com unidades em países com essa característica ou para empresas
que tenham fornecedores e/ou compradores em locais com câmbio instável. Isso,
logicamente, cria uma incerteza a mais para qualquer negócio. Considere, por exemplo,
que uma quantidade de vendas em certo país em dado momento é capaz de pagar
uma certa quantidade de produtos aos fornecedores internacionais. Quando esse
país tem a sua moeda intensamente desvalorizada, a mesma quantidade de vendas
não será suficiente para suprir o pagamento daquela quantidade de produtos aos
fornecedores internacionais.

Papel do Direito na política cambial


No Brasil, o mercado de câmbio é regulamentado pelo Conselho Monetário
Nacional (CMN) e pelo Banco Central do Brasil (BCB).
De maneira simplificada, o câmbio pode funcionar de forma fixa ou flutu-
ante, dependendo da participação do Estado ao controlar as taxas de câmbio.
No Brasil, a intervenção do Estado no controle das taxas de câmbio é definida
pelo CMN, que é responsável pela elaboração das políticas cambiais. Já a
execução das medidas é feita pelo BCB, conforme o disposto na Lei nº. 4.595,
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de 31 de dezembro de 1964, relativa ao Sistema Financeiro Nacional (SFN).


Essa lei afirma que (BRASIL, 1964):

Art. 3º A política do Conselho Monetário Nacional objetivará:


I — Adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da
economia nacional e seu processo de desenvolvimento;
II — Regular o valor interno da moeda, para tanto prevenindo ou corrigindo
os surtos inflacionários ou deflacionários de origem interna ou externa,
as depressões econômicas e outros desequilíbrios oriundos de fenômenos
conjunturais;
III — Regular o valor externo da moeda e o equilíbrio no balanço de paga-
mento do País, tendo em vista a melhor utilização dos recursos em moeda
estrangeira; [...]
VII — Coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária, fiscal e da
dívida pública, interna e externa. [...]

Art. 11 Compete ainda ao Banco Central da República do Brasil:


I — Entender-se, em nome do Governo Brasileiro, com as instituições finan-
ceiras estrangeiras e internacionais;
II — Promover, como agente do Governo Federal, a colocação de emprésti-
mos internos ou externos, podendo, também, encarregar-se dos respectivos
serviços;
III — Atuar no sentido do funcionamento regular do mercado cambial, da
estabilidade relativa das taxas de câmbio e do equilíbrio no balanço de paga-
mentos, podendo para esse fim comprar e vender ouro e moeda estrangeira,
bem como realizar operações de crédito no exterior, inclusive os referentes
aos Direitos Especiais de Saque, e separar os mercados de câmbio financeiro
e comercial; [...]

A globalização da economia e a consequente possibilidade de inves-


tidores, empreendedores e empresas operarem em diferentes locais no
mundo, buscando melhores retornos, fazem com que haja um fluxo intenso
de capitais no planeta. Isso traz consequências econômicas relevantes aos
mercados financeiros de cada local, situação que tem estimulado debates
sobre o estabelecimento de ferramentas de gestão dos fluxos financeiros de
capital. No entanto, encontram-se diversas dificuldades para a criação de
tais instrumentos. Portanto, o mais provável é que a administração continue
sendo efetuada por cada país, por meio dos procedimentos de controle de
entrada e saída de capitais.
Uma alternativa para restringir os investimentos especulativos em certo
país é, por exemplo, dificultar a saída desses investimentos, de forma a
não causarem grande desvalorização da moeda. Porém, uma consequência
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problemática seria que, se os investidores não puderem retirar facilmente


os seus investimentos, eles provavelmente não vão investir em locais com
tal restrição.

Você pode consultar integralmente a lei relativa ao SFN


no link a seguir:

https://goo.gl/KrqZ9Y

ÁVILA, L. Política cambial: por que o dólar sobe? Clube dos Poupadores, c2013/2018.
Disponível em: <http://www.clubedospoupadores.com/cambio-e-ouro/politica-
-cambial.html>. Acesso em: 03 jan. 2018.
BRASIL. Lei nº. 4.595, de 31 de dezembro de 1964. Brasília, DF, 1964. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4595.htm>. Acesso em: 21 mar. 2018.

Leituras recomendadas
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Cartilha de câmbio. Brasília, DF, 2014. Disponível em:
<www.bcb.gov.br/?CARTCAMBIO>. Acesso em: 27 dez. 2017.
EQUIPE DE PROFESSORES DA USP. Manual de economia. São Paulo: Saraiva, 2004.
HUBBARD, R. G.; OBRIEN, A. Introdução à economia. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009.
LUPORINI, V.; SOUZA, F. E. P. A política cambial brasileira de facto: 1999-2015. Estudos
Econômicos, São Paulo, v. 46, n. 4, p. 909-936, 2016.
MANKIW, N. G.; MONTEIRO, M. J. C. Introdução à economia: princípios de micro e
macroeconomia. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
MASSO, F. Direito Econômico esquematizado. 2. ed. São Paulo: Método, 2013.
VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro. São Paulo: Atlas, 2002. v. 2.
WHEELAN, C. Economia nua e crua: o que é, para que serve, como funciona. Rio de
Janeiro: Zahar, 2014.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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