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O crescimento econômico
O exame agora a ser feito é das componentes do crescimento econômico de longo prazo.
Trata-se de um dos debates mais importantes e polêmicos da ciência econômica, no que
concerne à maneira mais eficiente de alcança-lo.
Antes de entrarmos na questão que pretendemos responder, é necessário um
esclarecimento sobre a terminologia: crescimento econômico não é sinônimo de
desenvolvimento econômico. As prescrições que existem para que se alcance algum deles não
servem, necessariamente, para o outro. Os conceitos não são condições necessárias ou
suficientes um do outro, podendo, inclusive, as políticas implementadas para promover um se
tornarem empecilhos para a promoção do outro. Crescimento econômico é antes de tudo
crescimento da renda do país como um todo, não importando, ao menos não de maneira
imediata, a sua distribuição. Já o desenvolvimento econômico é um conceito debatido inclusive
em sua definição mais básica. A maior parte dos estudiosos concorda que um dos eixos
fundamentais é, justamente, a distribuição de renda e o aumento do poder de compra das
famílias, entre outras coisas; e deve vir alinhado com outros desenvolvimentos, como o social
e o aprimoramento das instituições políticas, por exemplo. Aqui debateremos apenas o
crescimento econômico.
O referencial teórico aqui adotado será, em um primeiro momento, o Modelo de Solow-
Swan, não obstante a existência de vários outros modelos importantes, como modelo de Meade,
o modelo de Harrod-Domar, o modelo de Robinson, o modelo bi setorial de Lewis, o modelo
de Kaldor, o modelo de Ramsey-Cass-Koopmans, e muitos outros. A análise inicial a ser feita,
portanto, será um descritivo e uma tentativa de aplicação do modelo neoliberal tradicional.
Depois, examinaremos o modelo de crescimento endógeno ortodoxo, para tentar explicar as
determinantes da taxa de crescimento. Também neste caso, há outros modelos que tentam
explicar isto, como o modelo de Weil, Romer e Mankiw (capital humano), o modelo de
Schumpeter, e outros.
Para que uma economia possa crescer, e sustentar uma taxa de crescimento positiva e
significativa ao longo do tempo, é preciso que haja, dado que a economia como um todo possui
retornos constantes de escala:
• o nível de produção depende só da quantidade de capital, do estoque de
conhecimento (que determina a produtividade do trabalho) e da quantidade de
trabalhadores;
• há identidade entre o montante de recursos que é poupado e o que é investido;
• a taxa de crescimento do capital é a poupança descontada da depreciação;
• as taxas de poupança, depreciação, de crescimento da produtividade e do número
de trabalhadores são exógenas;
Neste caso, através de manipulações algébricas que aqui não serão abordadas, a taxa de
crescimento de longo prazo da economia é a taxa de crescimento do estoque de capital. Assim,
antes de tudo, para que haja um crescimento efetivo o governo deve estimular o investimento
privado, o que quer dizer, finalmente, estimular a poupança.
Mas há que se fazer uma observação: uma das premissas do modelo anteriormente
discutido é que haja pleno emprego dos meios de produção (capital e trabalho). Caso não haja
ociosidade de fatores, antes de se falar em crescimento de longo prazo, deve-se promover a
aplicação de todos meios produtivos. Ou seja, inclusive na teoria econômica, a discussão deve
ser feita na sequência que aqui empregamos: em primeiro lugar o crescimento de curto prazo,
isto é, o emprego de todos os fatores de produção, para depois discutirmos o crescimento de
longo prazo da economia como um todo.
O exame agora deverá focar nos determinantes do desenvolvimento de cada fator de
produção. Ou seja, como podemos incrementar a produtividade dos fatores, ao invés de
falarmos do aumento de seus estoques. Abordaremos, então, a teoria do crescimento endógeno,
assim chamada porque endogeniza a taxa de produtividade do capital e do trabalho, isto é, as
torna variáveis a serem determinadas. E o que as determina, de acordo com esta teoria, é o nível
de investimento em educação, capacitação, inovação e pesquisa (P&D).
Assim, ao se investir no aprimoramento de sua mão de obra, tornando-a mais produtiva;
e no setor de pesquisa, que irá se expandir e desenvolver processos de produção mais eficientes
e um capital mais eficaz e que se deprecie de forma mais lenta, as variáveis que determinam a
taxa de crescimento aumentam. Este investimento pode, inclusive, promover o incremento
desta taxa, ou seja, pode agir para acelerar o processo.
Duas coisas importante a serem ditas sobre esta teoria: primeiro, que aqui também se
deve assumir a alocação plena de fatores de produção. A segunda é que o processo de
crescimento que ela propõe é lento. Isto porque, ao se expandir o setor de pesquisa, no médio
prazo, se retira pessoas do setor de produção direta (dada a premissa teórica de pleno emprego).
Assim, os efeitos disto só serão efetivos quando os produtos das inovações forem aplicados, o
que pode demorar alguns anos. Ou seja, este incremento da renda após a expansão do setor de
pesquisa nacional ocorre na forma do que se convencionou chamar de “Curva J”: há um
decréscimo brusco após a implementação da política, ocorrendo uma recuperação gradual ao
longo do tempo, com um acréscimo ao final do ajuste.
Aliás, dado esta observação, é pertinente que se ressalte que, de forma geral, é raro que
o processo de crescimento econômico seja livre de percalços, uma vez que é bastante possível
e frequente que haja conflitos entre o curto, o médio e o longo prazo.
Como se disse, o governo, no curto e médio prazo possui várias ferramentas para
promover a poupança, que é a condição mais importante para se obter o crescimento no modelo
de Solow-Swan. Mas, como se disse, se as políticas promovem a poupança, desestimulam o
investimento, ou seja, a identidade que o modelo admite pode não ocorrer. Desta forma, o
crescimento não se efetiva. Além disso, mais poupança é menos consumo presente, por óbvio.
Então, se houver um crescimento econômico, e o consumo arrefecido, podemos cair em uma
situação de deflação generalizada, o que gera pressão sobre o setor produtivo e pode consumir
o crescimento econômico que se tentou promover. Pelo contrário, se houver um aumento do
consumo, sem que se tenha conseguido estimular a produção, há o oposto, isto é, inflação, que
também pode destruir o crescimento. É bastante possível também que isto ocorra, dado que a
propensão a consumir é maior que a poupar, então o consumo tende a crescer mais que a
poupança e o investimento.
Sobre esta questão, do consumo na teoria do crescimento econômico, vale citar a “regra
de ouro da acumulação de capital”. Existe um nível de estoque de capital que maximiza o
consumo de longo prazo. Ele existe quando a poupança está no nível conhecido como “taxa de
ouro”. Este pode ser determinado algebricamente, mas isto não será feito neste trabalho. O que
se deve discutir, em primeiro lugar, é que um estoque de capital por trabalhador superior ao da
regra de ouro leva a um consumo por trabalhador menor que o máximo que poderia se ter e
manter o equilíbrio. Vale lembrar que, para o modelo de Solow, crescimento é, justamente, o
incremento no estoque de capital. Então se desenvolver quer dizer abrir mão de consumo. E, o
mais importante: não há nenhuma força tendencial que leve a economia, no seu processo de
crescimento, para o nível da “regra de ouro”. Se os operadores das políticas econômicas
quiserem alcança-lo, devem promover este cenário, mexendo nos estímulos à poupança, para
tornar a taxa de poupança igual a “taxa de ouro”. O equilíbrio tendencial do modelo de
crescimento ortodoxo, o chamado “estado estacionário” tende a conduzir a um estoque de
capital por trabalhador maior que o da “regra de ouro”, com as consequências que acima se
mencionou.
Para finalizar a análise, devemos examinar rapidamente os efeitos que o processo de
crescimento pode causar com o setor externo.
Há uma taxa de crescimento que mantém o equilíbrio externo e este é determinado pela
Lei de Thirlwall. Basicamente, para que possamos encontrar esta taxa ótima devemos dividir a
taxa de crescimento das exportações pela elasticidade renda da demanda por importações. Ou
seja, há um limitante externo ao crescimento, que se não for respeitado provoca déficits ou
superávits no balanço de pagamentos. isto pode, entre outras coisas, diminuir o poder do
governo de conduzir a política cambial e a eficácia da mesma. Cabe mencionar aqui um
paradigma econômico conhecido como “Condição de Marshall-Lerner”, que afirma que,
embora na forma de uma “Curva J”, uma depreciação real na taxa de câmbio causa uma melhora
na balança comercial. E o contrário também vale. Assim, taxas de crescimento muito elevadas
podem gerar desequilíbrios externos que podem ser gravíssimos em países que dependem muito
do setor externo, tanto para importar como para escoar o que produz internamente na forma de
importações. Sobre este possível desequilíbrio, ele pode implicar também no chamado efeito
do crescimento empobrecedor, causado pela deterioração dos meios de troca: o desequilíbrio
fica tão acentuado que provoca uma saída maciça de capital do país, podendo levar à pobreza
uma parcela significativa da população, especialmente aquela que depende do setor externo
para consumir.
Além disso, sobre o panorama geral da economia mundial, cabe uma palavra sobre o
debate se há convergência, tendencial ou necessariamente, da riqueza, e mesmo das taxas de
crescimento, entre as nações. Vários artigos foram publicados sobre isto e, mesmo que admita
a existência de livre trânsito entre os países de todos os fatores de produção, não se pode afirmar
esta convergência. Isto porque a taxa de crescimento depende das dotações iniciais, porque elas
dão as condições das ações que cada operador das políticas econômicas pode e deve tomar,
como estímulos, por exemplo. a análise se torna ainda mais grave quando se leva em conta a
existência de possíveis protecionismos e fatores não econômicos, como a cultura. Logo, a
economia do desenvolvimento pode conduzir sim a existência de poder econômico em
desequilíbrio, inclusive a nível global e macroeconômico.