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03. Que argumentos Nurkse adota para explicar a baixa indução ao investimento em países
pobres? Como ele sustenta haver baixa rentabilidade para o investimento nesses países, a
despeito de sua aceitação da teoria neoclássica sobre os rendimentos superiores do capital
em países onde o mesmo é escasso?
R.: Nurske argumenta que a resistência do capital privado em dedicar-se aos mercados internos
dos países subdesenvolvidos explica-se por dois fatores: a pobreza dos consumidores locais nos
países atrasados e os amplos mercados de produtos primários nos centros industriais do mundo
em vigorosa expansão durante o século XIX. O baixo incentivo ao investimento privado na
economia nacional de uma zona de baixa renda pode, incidentalmente, afetar tanto o capital
nacional como o estrangeiro. Pode, em certo grau, contribuir para explicar a observação
geralmente feita de que a poupança interna dos países subdesenvolvidos tende a ser utilizada de
modo improdutivo, como o entesouramento, assim como tende a ser exportada ou transformada
em propriedades territoriais.
O autor menciona que o investimento privado norteia-se, geralmente, pelo impulso da demanda
de mercado e o investimento privado internacional funciona da mesma forma. Exemplo especial
da relação entre os incentivos do investimento e a demanda de mercado pode ser encontrado no
princípio de aceleração. A relação ocorre tanto na dimensão espacial quanto na temporal, mas de
formas diferentes. A teoria convencional das proporções dos fatores e dos movimentos de capital
diz que nos países onde o capital é escasso em relação à terra e à mão de obra, a produtividade
marginal e, portanto, o rendimento do capital, serão elevados e que, a não ser por algum
obstáculo, o capital se deslocaria das zonas onde é relativamente abundante para as zonas de
escassez de capital. Porém, esta ideia está condicionada pelo fato de que o rendimento
potencialmente elevado do capital nas zonas pobres é verificado quando os investimentos são
empreendidos simultaneamente em certo número de indústrias complementares ou em serviços
públicos de caráter geral que servem pra aumentar a produtividade em diferentes setores.
Mesmo que os fatores políticos e outros tipos de riscos sejam deixados de lado, não se pode
garantir que os motivos que incentivam individualmente o homem de negócios propiciem,
automaticamente, uma corrente de fundos dos países ricos para os países pobres. A produtividade
marginal do capital pode ser efetivamente elevada nos países pobres, mas não necessariamente
em termos de interesses privados. Ainda, o investimento privado direto tem limites: o empresário
privado estrangeiro pode não ter poder para romper o impasse originado pela baixa produtividade,
pela falta de poder aquisitivo real e pelos deficientes estímulos ao investimento na economia
interna de uma zona atrasada.
04. Por que Nurkse afirma que é falha a tese de que a formação interna de poupança não é
possível devido ao baixo nível absoluto da renda, mas que a poupança estará disponível à
medida que aumente a produtividade e a renda real?
R.: Nurske afirma que essa teoria é falha porque não é somente o nível absoluto de renda real que
determina a capacidade de poupança, mas também o nível relativo. Embora o nível absoluto
tenha aumentado, os países mais pobres inclusos, é duvidoso que a poupança tenha sido facilitada.
Pelo contrário, pode ter se tornado mais difícil porque, ao mesmo tempo, observa-se uma
diminuição nos níveis de renda relativos em comparação com os dos países economicamente
adiantados. Segundo o autor, as grandes e crescentes diferenças entre os níveis de renda de
países diferentes, em conjunto com uma consciência maior deste fato, podem vir a elevar a
propensão marginal ao consumo nas nações mais pobres, a reduzir sua capacidade de poupança e
a enfraquecer sua balança de pagamentos.
Bloco II
R.: A inovação, para Furtado, é fruto da criatividade humana, uma faculdade do homem para
inovar e é essa faculdade que possibilita o avanço da racionalidade no comportamento, que cria o
desenvolvimento. Para agir com maior eficiência o homem utiliza de técnicas que ampliam sua
capacidade operativa frente ao uso de instrumentos. Estas técnicas somente se transmitem
mediante um processo de acumulação. Portanto o desenvolvimento da capacidade do homem
para agir e para produzir funda-se num misto de inventividade e acumulação. Neste sentido, a
ideia de desenvolvimento esta ligada a de eficiência, de maior racionalidade no comportamento
humano.
A inovação pode ocorrer na própria esfera dos fins que o homem persegue, seja individualmente
ou coletivamente, e também com respeito aos meios, que derivam diretamente da ação. Furtado
argumenta que (é a inovação na esfera dos fins que nos impede de apreender a realidade social
com base no conceito de tempo cosmológico. A morfogênese social traduz, por um lado, a
invenção de novos valores substantivos e, por outro, a ampliação do horizonte de possibilidades
com respeito a valores já conhecidos trazida pelo avanço das técnicas. A mutabilidade ao nível dos
fins engendra a descontinuidade entre futuro e passado.)
10. Por que Furtado considera a acumulação como “cimento da estratificação social e da
legitimação do sistema de poder” e como “vetor do progresso das técnicas”?
R.: Segundo Furtado, os recursos acumulados, cuja utilização final é transferida para o futuro, são
aqueles que não são essenciais a` imediata sobrevivência da coletividade. Mas se os padrões de
consumo são desiguais entre os membros, os recursos não essenciais têm múltiplas utilizações,
sendo a acumulação para as forças produtivas apenas uma delas. Assim, a teoria do excedente
liga-se a teoria da estratificação social e, por meio desta, ao estudo das formas de dominação que
alimentam as desigualdades no quadro social, e também definem as decisões tomadas a respeito
da utilização do excedente. Furtado argumenta que os sistemas de dominação social limitam a
satisfação completa das necessidades básicas da população, e por isso, é a estratificação social
que permite a emergência do excedente, que é o recurso usado para o desenvolvimento das
forças produtivas.
A acumulação sob forma de excedente, então, possui três vertentes principais: a primeira está
relacionada com a reprodução das desigualdades sociais; a segunda relaciona-se especificamente
com o desenvolvimento das forças produtivas, independentemente dos fins as quais se dedicam;
por fim, a terceira articula-se com a estabilidade e legitimação dos sistemas de dominação social.
14. Quais as características das três fases da industrialização periférica identificadas por Furtado?
Em qual delas as empresas transnacionais desempenharam papel central?