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1.
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SãoPaulo
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séculoXXXX
1.
Desafios da Habitação Popular no Brasil:
políticas recentes e tendências
Sérgio Azevedo

O
artigo busca realizar um balanço da política habitacional brasileira recente, para, posteriormen-

te, refletir sobre as tendências e alguns dos novos desafios que se apresentam nesse início de

século. Para tanto, na primeira seção discutimos as interfaces da questão habitacional com as
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demais políticas urbanas. A segunda seção é dedicada a contrastar de forma sucinta a retórica e a prática da

política habitacional logo após o período de redemocratização do país. Na terceira parte do texto, analisar-se-á

a trajetória da política habitacional nos anos 1990, seus impasses, constrangimentos e desafios. Por fim, a última

seção do artigo será dedicada à avaliação de algumas das alternativas de enfrentamento da questão habitacional

– com ênfase nos setores populares – e à reflexão sobre as possibilidades e perspectivas de atuação dos dife-

rentes níveis de governo nessa área.

Desafios da Habitação Popular no Brasil: políticas recentes e tendências


1. As interfaces da questão habitacional com Em função da interdependência da questão da
as demais políticas urbanas moradia com outras esferas recorrentes e comple-
mentares, nem sempre um simples incremento dos
A maioria das unidades habitacionais construí-
programas de habitação se apresenta como a solução
das no país nos últimos anos não contou com linhas
mais indicada para melhorar as condições habitacio-
de crédito governamentais, e a autoconstrução foi o
nais da população mais pobre. Em primeiro lugar,
tipo predominante do sistema construtivo1.
porque esses programas podem ser inviabilizados
Ao definir formas de apropriação e utilização caso outras políticas urbanas, como as de transpor-
do espaço permitidas ou proibidas no contexto de te, de energia elétrica, de esgotamento sanitário e de
uma economia de mercado extremamente hierar- abastecimento de água, não estejam integradas (Aze-
quizada e marcada por profundas desigualdades de vedo, 1990). Em segundo lugar, porque em certas
renda, a legislação urbana brasileira termina por se- ocasiões, em função do trade-off entre diversas polí-
parar a “cidade legal” – ocupada pelas classes médias, ticas públicas, mudanças em outros setores] – como
grupos de alta renda e apenas por parte dos setores maior investimento em saneamento básico (esgoto e
populares – da “cidade ilegal” destinada à maior parte água), incremento no nível de emprego, aumento do
das classes de baixa renda. Assim, a legislação “acaba salário mínimo, regularização fundiária, entre outras
por definir territórios dentro e fora da lei, ou seja, – podem ter um impacto muito maior nas condições
configura regiões de plena cidadania e regiões de ci- habitacionais das famílias de baixa renda do que um
dadania limitada” (Rolnik, 1997, p. 13). simples reforço dos investimentos no setor.
Essa hierarquização espacial agrava também Diante de um contexto desse tipo, não é por
as condições sociais dos mais pobres, ao desvalori- acaso que nas grandes metrópoles brasileiras os pro-
14 zar fortemente – tanto no plano simbólico quanto gramas de regularização fundiária – vinculados a
no econômico – as áreas não reguladas pelo Esta- melhorias urbanas – têm sido crescentemente vistos
do. Nesse sentido, pode-se dizer que “a ilegalidade é como um instrumento de política habitacional extre-
sem dúvida um critério que permite a aplicação de mamente importante na luta de um grande contigen-
conceitos como exclusão, segregação ou até mesmo te de moradores de favelas e de bairros clandestinos
apartheid ambiental” (Maricato, 1996, p. 57). em busca da integração socioeconômica.

1
Mesmo no período do Banco Nacional da Habitação (BNH) (1964/86), quando foi marcante a presença do Estado, calcula-se que cerca de 26% das novas
construções contaram com financiamento do Sistema Financeiro da Habitação (Melo, 1988).

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2. Política habitacional e redemocratização: Os que desejassem manter as indexações anu-
retórica e prática ais teriam um aumento correspondente à correção
monetária plena, ou seja, de 246,3%. Desnecessário
No início de 1985, quando se implantou a en-
dizer que, excetuando uma minoria de mal-informa-
tão chamada “Nova República”, o quadro existente
dos e de decisões não-racionais, a quase totalidade
no setor habitacional apresentava, resumidamente,
dos mutuários optou pela primeira alternativa, que
as seguintes características: baixo desempenho so-
incorporava a principal reivindicação da Coordena-
cial, alto nível de inadimplência, baixa liquidez do
ção Nacional dos Mutuários (112% de reajuste).
sistema, movimentos de mutuários organizados na-
cionalmente e grande expectativa de que as novas Analisemos brevemente os impactos dessa de-
autoridades pudessem resolver a crise do sistema cisão para o SFH e para os vários atores envolvidos
sem a penalização dos mutuários. nas negociações. Ressaltando inicialmente os aspec-
tos positivos, podemos dizer que, no essencial, o plei-
Em março daquele ano, foi formado, por inicia-
to dos mutuários foi atendido, tanto que podemos
tiva do então presidente do Banco Nacional da Habi-
considerar o primeiro ano da administração Sarney
tação (BNH), um grupo de trabalho de alto nível, com
(1985) como o fim das mobilizações e dos movimen-
atribuições de propor um encaminhamento para o
tos regionais e nacionais de mutuários. As entidades,
problema. Participavam desse grupo representan-
quando não se desintegraram, continuaram a existir
tes da Comissão Nacional dos Mutuários (CNM), do
exclusivamente no papel, sem maior capacidade de
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
aglutinação. O SFH e as entidades de crédito imobili-
Sócio-Econômicos (Dieese), da Associação Brasileira
ário tiveram a curto prazo uma melhora sensível, pois
das Companhias Habitacionais (ABC) e da Associa-
diminuíram-se os índices de inadimplência e cresceu
ção Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e
substancialmente a liquidez do sistema.
de Poupança (Abecip). Após trinta dias de negocia- 15
ções, as entidades envolvidas não lograram chegar a Entretanto, os efeitos perversos não podem
um consenso sobre a melhor de forma de enfrentar ser subestimados. Primeiramente, ao se conceder um
a inadimplência, a falta de liquidez e o déficit do SFH. subsídio dessa magnitude aos mutuários, sem nenhu-
Após pressões e contrapressões, mobilização de par- ma outra medida compensatória de receita, agravou-
lamentares e partidos, e muita discussão interna, o se substancialmente o já existente déficit do SFH. Em
governo finalmente tomou a decisão final. Todos os segundo lugar, como a maioria dos mutuários do en-
mutuários teriam um reajuste de 112%, desde que tão BNH era composto por famílias de renda média
optassem pela semestralidade das correções (Uni- e alta, um subsídio único para todas as faixas de fi-
camp, 1991). nanciamento, na prática, converteu-se numa política

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pública de redistribuição de rendas às avessas. Aliás, próprio governo. No referente ao conteúdo, a perple-
é de conhecimento público que o valor da maioria xidade foi ainda maior, já que quase nada se resgatou
das prestações de imóveis situados em bairros no- do controvertido processo de discussão em curso.
bres das principais cidades brasileiras – adquiridos A maneira como o governo incorporou o an-
através do SFH, poucos anos antes do citado reajuste tigo BNH à Caixa Econômica Federal tornou explí-
– não era, alguns anos depois, suficiente para alugar cita a falta de proposta clara para o setor. Em outras
casas relativamente modestas em áreas de periferia. palavras, nenhuma solução foi encaminhada para os
No âmbito institucional, o governo Sarney to- temas controvertidos que permeavam o debate ante-
mou diversas medidas iniciais que aparentemente rior. Nesse sentido, a pura desarticulação institucional
indicavam uma predisposição a profundas reformas. do Banco, sem o enfrentamento de questões subs-
Foi criada uma comissão de alto nível para propor su- tantivas, somente agravou os problemas existentes.
gestões, e, mais tarde, sob patrocínio federal e com o Constrangimentos como o do desequilíbrio financei-
apoio da Associação dos Arquitetos do Brasil, desen- ro do sistema não foram sequer tocados (Azevedo,
volveram-se debates regionais sobre as propostas em 1988; Melo, 1988).
pauta, envolvendo setores universitários, entidades A incorporação das atividades do BNH à Caixa
de classe e associações de mutuários (Valença, 1992). Econômica Federal fez com que a questão urbana, e
Os temas abordados eram os mais variados possíveis: em especial a habitacional, passasse a depender de
discutiam-se medidas de descentralização do BNH, uma instituição em que esses temas, embora impor-
com o fortalecimento das delegacias regionais, e até tantes, fossem objetivos setoriais. Do mesmo modo,
mudanças no sistema de financiamento, operação e ainda que considerada como agência financeira de
receita do sistema. Em função da complexidade da vocação social, a Caixa possui, como é natural, alguns
questão, da forma de encaminhamento das discus- paradigmas institucionais de um banco comercial,
16 sões e dos diferentes interesses envolvidos, estava-se como a busca de equilíbrio financeiro, retorno do ca-
ainda longe de se alcançar consenso sobre pontos pital aplicado etc. Nesse contexto, tornou-se difícil,
básicos da reforma, quando o governo decretou a ex- por exemplo, dinamizar programas alternativos, vol-
tinção do Banco (Melo, 1990). tados para os setores de menor renda e que exigem
A forma como se deu essa decisão foi motivo elevado grau de subsídios, envolvimento institucio-
de surpresa para as entidades envolvidas na refor- nal, desenvolvimento de pesquisas etc.
mulação do SFH, uma vez que ocorreu de maneira Evidentemente, poder-se-ia argumentar que a
abrupta e sem margem para contrapropostas. Esse política urbana e habitacional estará sempre a car-
procedimento se chocava com as declarações de in- go do respectivo ministério, atuando a Caixa apenas
tenções e encaminhamentos anteriores, feitos pelo como órgão gerenciador do sistema. Convém lem-

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brar, entretanto, que também no passado a política tação popular, como também diminuiu a capacidade
urbana e habitacional esteve vinculada formalmente dos estados e municípios em disciplinar a questão
a outros órgãos – Serviço Federal de Habitação e Ur- habitacional. Assim, a transformação das Cohab de
banismo (Serfhau), Conselho Nacional de Desenvol- agentes promotores em simples órgãos assessores
vimento Urbano (CNDU) e Ministério do Desenvol- e a obrigatoriedade dos mutuários finais de assumi-
vimento Urbano. rem os custos totais dos terrenos e da urbanização
acarretaram inúmeras conseqüências negativas no
Apesar disso, na prática, por ter controle so-
final dos anos 1980. Entre elas, podem-se citar:
bre recursos críticos, couberam ao BNH a definição
e a implementação concreta da política. Não havia a) a paulatina diminuição de poder por parte
por que supor que com a Caixa Econômica ocorres- das companhias habitacionais;
se uma situação muito diferente. Assim, apesar dos
b) a elevação da exigência de renda da cliente-
discursos e das diversas mudanças ministeriais – Mi-
la dos programas tradicionais, que passaram a voltar-
nistério do Desenvolvimento Urbano, Ministério da
se fundamentalmente para famílias com rendimen-
Habitação e Urbanismo, Ministério da Habitação e
tos mensais acima de cinco salários mínimos;
Bem-Estar Social –, a Caixa Econômica Federal foi o
carro-chefe da política habitacional vinculada ao Sis- c) a desaceleração dos programas alternativos
tema Financeiro da Habitação. (Azevedo, 1990).

Ressalte-se que no primeiro ano após a extin- Essa tendência “elitista” da política de habita-
ção do BNH – 1987 – as Companhias Habitacionais ção popular vinculada ao SFH não significou, entre-
(Cohab) financiaram 113.389 casas populares. Du- tanto, que os programas alternativos durante os pri-
rante o primeiro semestre de 1988, esse número caiu meiros anos da Nova República tenham tido pouca
drasticamente para 30.646 unidades devido às mu- importância. Pelo contrário, eles nunca foram tão
danças da política habitacional a partir da Resolução 17
fortes. Entre os desenvolvidos à margem do SFH, me-
1464, de 26/02/88, do Conselho Monetário Nacional, rece destaque especial o Programa Nacional de Mu-
e normas posteriores (CAIXA, 2000). Sob a alegação tirões Habitacionais, da Secretaria Especial de Ação
da necessidade de controle das dívidas dos estados e Comunitária (Seac). Apesar de suas especificidades
municípios, essa resolução criou medidas restritivas e dinamismo sem precedentes, ele apresenta muitos
ao acesso a créditos por parte das Cohab. Do mesmo pontos em comum com os programas alternativos
modo, ao criar novas normas para se adaptar à cita- que o antecederam (Profilub, Promorar, João de Bar-
da resolução e a outras que lhe sucederam, a Caixa ro etc.), tanto no referente ao papel do poder pú-
Econômica Federal terminou, na prática, não só por blico local, quanto no que diz respeito à atuação da
transferir à iniciativa privada os créditos para a habi- população beneficiada.

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Por outro lado, em seus poucos anos de vida, unidades financiadas não tenham sido construídas,
a trajetória institucional da Seac exemplifica bem em razão, entre outros fatores, do baixo financia-
a falta de uma política clara para o setor. Vinculada mento unitário aliado à inflação galopante e à má
inicialmente à Secretaria de Planejamento, ela passa utilização dos recursos.
posteriormente para a Casa Civil da Presidência da
O processo inflacionário, por si só, dificultou
República, Ministério da Habitação e do Bem-Estar
enormemente o cumprimento das metas físicas
Social, Ministério da Previdência e, por fim, ao Mi-
programadas, em virtude do aumento exorbitante
nistério do Interior.
dos preços dos materiais de construção e serviços.
O programa habitacional da Seac funcionava Por outro lado, a dependência exclusiva de verbas
com verba a fundo perdido do Orçamento Geral orçamentárias, somada à situação de crise econômi-
da União (OGU) e se propunha a atingir as famílias ca e fiscal, levava ao temor de que não se consegui-
com renda mensal inferior a três salários mínimos, ria manter o programa com o mesmo dinamismo
normalmente preteridas pelos programas tradicio- dos dois anos anteriores. Havia ainda o desafio da
nais. Seu formato institucional previa o estabeleci- busca de um maior controle das metas quantitati-
mento de um convênio entre a Seac, a instituição vas do programa, sem tornar a sua estrutura pesada
conveniada – que poderia ser a prefeitura ou um e onerosa. Ressalte-se também que a inexistência
órgão do governo estadual – e a sociedade comu- de uma política clara de prioridades para alocação
nitária habitacional, formada pelos participantes de de recursos tornou o programa uma presa fácil do
cada projeto. clientelismo e de toda sorte de tráfico de influên-
Na maioria dos estados, o escritório local da cias (Valença, 1999).
Seac realizava diretamente convênios com as prefei- A experiência histórica brasileira mostra que
18 turas. Em alguns deles, no entanto, as atividades da sempre que um programa habitacional altamente
Seac foram centralizadas em um único órgão esta- subsidiado permite um grau muito alto de liberdade
dual, que coordenava e promovia o programa, nor- na alocação de recursos, as regiões menos desenvol-
malmente com um nome de identificação estadual. vidas e os estados com dificuldades políticas junto
Do ponto de vista formal, pode-se dizer que ao governo central terminam seriamente prejudica-
no curto espaço de menos de dois anos o progra- dos, como ocorreu com a Fundação da Casa Popular
ma se propôs a financiar cerca de 550.000 unidades durante o período populista (1946/1963) (Azevedo
habitacionais (Seac, 1988), enquanto nesse mesmo e Andrade, 1982). Assim, por exemplo, enquanto o
período as Cohab financiaram menos de 150.000 Nordeste abriga aproximadamente 35% da popula-
(CAIXA, 2000). Supõe-se que mais de um terço das ção brasileira, somente 15,6% dos recursos do Pro-

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grama Nacional de Mutirões Habitacionais (85.914 na prática a distribuição estabelecida pelo Conse-
unidades) foram investidos na região (Seac, 1988). lho Curador do FGTS, através da Resolução 25, de
Apesar de todos esses constrangimentos e de- 26/10/90 (Unicamp, 1991, p. 42). A construção de
ficiências, não se pode negar-lhe o impacto. Foi a unidades convencionais também continuou privile-
primeira vez na trajetória da política popular brasilei- giando setores populares de renda mais elevada.
ra que um programa alternativo apresentou melhor O Plano de Ação Imediata para a Habitação
desempenho quantitativo do que os convencionais. (Paih), lançado em maio de 1990 e apresentado
Devido ao seu frágil formato institucional, ele termi- como medida de caráter emergencial, se propunha
nou junto com o mandato do primeiro presidente a financiar em 180 dias cerca de 245 mil habitações,
civil da chamada Nova República. correspondente a investimento da ordem de 140 mi-
lhões de VRF, montante que significa um custo mé-
dio de 570 VRF por unidade. Totalmente financiado
3. A política habitacional nos anos 1990: as com recursos do FGTS, com juros reais entre 3,5%
ambigüidades e a busca de democratização
e 5,55 ao ano para o mutuário final, o plano tinha
O governo Collor pouco inovou nos seus dois como população-alvo as famílias com renda média
anos e meio de mandato em relação à administração de até cinco salários mínimos. O Paih possuía três
anterior no referente a mudanças no Sistema Finan- vertentes: “programa de moradias populares” (uni-
ceiro da Habitação. Possivelmente, devido à ênfase e dades acabadas), “programa de lotes urbanizados”
primazia no combate à inflação, todos os programas (com ou sem cesta básica de materiais) e “programa
sociais de maior envergadura, prometidos durante de ação municipal para habitação popular” (unida-
a campanha, foram postergados para um segundo des acabadas e lotes urbanizados). Enquanto para
momento. Em relação especificamente à habitação os dois primeiros programas os agentes promotores
popular, houve o que Marcus André Melo chama de eram variados (Cohab, Cooperativas, Entidades de 19
“banalização” da política, com dissociação das ativi- Previdência, Carteiras Militares etc.), para o último
dades de saneamento e desenvolvimento urbano e este papel caberia exclusivamente à prefeitura. A co-
sua transformação em uma política distributiva, ago- ordenação geral ficaria a cargo do Ministério de Ação
ra vinculada ao novo Ministério da Ação Social. Da Social / Secretaria Nacional da Habitação, atuando a
mesma forma que o governo anterior, a alocação das Caixa Econômica Federal como banco de segunda
unidades construídas tanto pelos programas popu- linha, isto é, com a responsabilidade de implementar
lares convencionais quanto pelos alternativos – es- os programas através dos agentes promotores.A CAI-
tes últimos baseados na autoconstrução – continuou XApoderia atuar também como agente financeiro, do
sendo feita por critérios aleatórios, não respeitando mesmo modo que os bancos e as Caixas Econômicas

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estaduais então existentes, as sociedades de crédito do saldo devedor, ou pelo pagamento das mensalida-
imobiliário e as companhias habitacionais. des restantes, sem correção e juros. Normalmente, a
segunda opção de quitação foi a mais vantajosa, oca-
A avaliação do Paih mostra o não-cumprimento
sionando na prática subsídios substanciais. Permitiu-
de várias das metas estabelecidas: o prazo estimado
se também o uso do FGTS para a quitação antecipa-
de 180 dias alongou-se por mais de 18 meses; o custo
da. Boa parte dos mutuários de classe média logrou
unitário médio foi de cerca de 670 VRFs, bem supe-
liberar seus imóveis por preços bastante acessíveis.
rior ao previsto inicialmente (570 VRFs), ocasionan-
O governo conseguiu momentaneamente aumentar
do uma diminuição de 245 mil para 210 mil unidades
o fluxo de caixa para financiamentos habitacionais,
(Unicamp, 1991). Por fim, por motivos clientelistas e
mas seguramente isso significou maiores subsídios
lobby de setores empresarias da construção civil de
e agravamento ainda maior da crise. O contra-argu-
regiões menos desenvolvidas, especialmente do Nor-
mento do governo era que essa receita estava perdi-
deste, o plano não logrou seguir os percentuais de
da devido aos baixos valores das prestações e que,
alocação de recursos definidos pelo Conselho Cura-
assim, pelo menos, fora possível resgatar parte dessa
dor do FGTS para os diversos estados da federação
verba. Para os setores médios, foi extinto o Plano de
(Schvasberg, 1993).
Equivalência Salarial e terminou-se com o “perdão”
Durante a administração Collor, não houve tam- dos resíduos do saldo devedor, através do Fundo de
bém nenhuma iniciativa para rediscutir em profundi- Compensação das Variações Salariais (FCVS).
dade o SFH. Houve apenas “maquiagens” de efeitos e
Com a destituição de Collor e a posse do pre-
legalidade duvidosa como as contidas na Medida Pro-
sidente Itamar, houve uma busca de mudança nos
visória 294, de 31 de janeiro de 1991. Em seu artigo
rumos da política habitacional especialmente no re-
20, modifica-se o reajuste das prestações, vinculadas
ferente às classes de baixa renda, por meio dos pro-
ao Plano de Equivalência Salarial, supondo que o au-
20 gramas Habitar Brasil e Morar Município, que funcio-
mento real de salários semestrais deve ser maior que
navam por fora do Sistema Financeiro da Habitação.
a remuneração da caderneta de poupança. Assim, as
prestações seriam reajustadas mensalmente pela re- Entretanto, pouco foi feito para mudar o qua-
muneração das cadernetas e na data-base seria acres- dro conhecido de crise estrutural do SFH. Com a ex-
cido o ganho real de salário porventura existente. tinção do FCVS, criou-se um plano de amortização
Procurava-se, com esta medida, diminuir através de baseado no comprometimento de renda (em subs-
artifício legal – contestado pelos mutuários e poste- tituição ao antigo Plano de Equivalência Salarial) e
riormente derrubado pela justiça – o rombo histórico definiram-se percentuais máximos de cobranças de
do Sistema Financeiro da Habitação. Ainda em 1991, taxas e despesas cartoriais etc.Além disso, houve um
foi facilitada a quitação da casa própria pela metade esforço de obrigar os bancos a respeitarem a lei e a

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canalizarem pelo menos parte da arrecadação das ca- população-alvo seriam as famílias de baixa renda e as
dernetas para investimentos habitacionais direciona- que vivem em áreas de risco.
dos à classe média. Esperava-se com isso alcançar, até
Para se ter acesso a estes financiamentos, en-
o final do governo Itamar, investimentos da ordem de
tre outras exigências, era obrigatória a criação de um
1,4 bilhão de dólares (Azevedo, 1996).
Conselho Estadual ou Municipal de Bem-Estar Social,
Em relação à produção de casas populares, a bem como de um respectivo Fundo Estadual ou Mu-
administração Itamar procurou atuar em duas fren- nicipal de Bem-Estar Social, para onde os recursos
tes. Primeiramente, buscou terminar até meados de deveriam ser canalizados.
1994 cerca de 260 mil casas financiadas pelo gover-
Além dos custos de urbanização dos terrenos,
no anterior, através das linhas de financiamento tra-
legalização, elaboração do projeto técnico, pavimen-
dicionais (FGTS), recursos do Fundo de Desenvolvi-
tação de ruas e eletrificação era exigida uma contra-
mento Social (FDS) e verbas orçamentárias. Previa-se,
partida claramente definida do governo estadual ou
segundo declaração do então secretário Nacional da
municipal envolvido (10% do investimento federal
Habitação, a aplicação de aproximadamente 800 mil
para as regiões menos desenvolvidas e 20% para as
dólares para a conclusão dessas casas. Em segundo
demais).Todo o projeto deveria ser feito em parceria
lugar, lançou o Programa Habitar Brasil, voltado para
com organizações comunitárias locais.
municípios de mais de 50 mil habitantes, e o Morar
Município, destinado aos municípios de menor por- Os projetos poderiam prever construção de
te. O financiamento federal para esses programas moradias, urbanização de favelas, produção de lotes
– estimados em 100 mil dólares para o ano de 1993 urbanizados e melhorias habitacionais, mas os bene-
– previa verbas orçamentárias e parte dos recursos ficiários desses programas deveriam ser proprietá-
arrecadados pelo Imposto Provisório sobre Movi- rios ou ter a posse dos terrenos.
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mentações Financeiras (IPMF), que terminou não No caso de construção de moradias ou melho-
ocorrendo dentro do montante previsto, em função rias habitacionais, o regime de trabalho deveria ser
de prioridades do Plano de Estabilização Econômica de “ajuda mútua” ou “auto-ajuda”, enquanto caberia
(Azevedo, 1996). ao governo estadual ou municipal a obrigação de
Na verdade, apesar de nomenclaturas diferen- prestar assistência técnica, através de equipe inter-
tes, os referidos programas tinham as mesmas carac- disciplinar. Esse custo, no entanto, não poderia ultra-
terísticas básicas. Capitaneados, na época, pelo Mi- passar 5% do financiamento fornecido pela União.
nistério do Bem-Estar Social, previam a participação No caso de obras de infra-estrutura e equipamentos
de governos estaduais e prefeitura municipais. Sua comunitários, além das modalidades citadas, eram

Desafios da Habitação Popular no Brasil: políticas recentes e tendências


permitidos administração direta ou contrato de em- Conselhos e fundos. Não há dúvida de que, para a
preitada a firmas particulares. maioria dos pequenos municípios, corria-se o risco
da criação apenas formal desses mecanismos, como
Em se tratando de produção de moradias e lo-
ocorreu nos últimos anos com outras exigências si-
tes urbanizados, seriam cobradas dos beneficiários
milares feitas por leis federais e estaduais (Conselho
parcelas mensais de pelo menos 5% do salário míni-
de Saúde, Educação, Criança e Adolescente, Assistên-
mo vigente, pelo período mínimo de cinco anos. Os
cia Social etc.).
recursos arrecadados seriam reaplicados no Fundo
Estadual ou Municipal de Bem-Estar Social. Caberia Convém lembrar que, apesar de propor a cria-
ao Conselho estadual ou municipal criar as normas ção de fundos estaduais e municipais, o governo
complementares necessárias à matéria. não logrou, até o final da administração Itamar, a for-
mação de um fundo federal. Os mencionados pro-
Por fim, durante esse prazo de carência míni-
gramas dependeram fundamentalmente de verbas
mo de cinco anos, as casas e os lotes urbanizados
orçamentárias ou de recursos provisórios (IPMF), o
deveriam permanecer como patrimônio do fundo
que os fragilizou institucionalmente. Tampouco se
estadual ou municipal. Nesse período, os beneficiá-
conseguiu avançar na formação de um Conselho
rios firmariam um contrato de concessão de uso, dis-
federal, similar aos propostos para os governos esta-
positivo que não se aplicaria quando o terreno fosse
duais e municipais.
de sua propriedade.
Apesar de apresentarem um avanço significati- Ressalte-se, entretanto, que, com o objetivo de
vo, ao proporem a formação de Conselhos para gerir reformar e criar um novo arranjo institucional para
a política habitacional – em que, além de membros o setor, tanto a proposta de criação de um Conselho
indicados pelo governo, previa-se a participação de quanto a de criação de um fundo federal voltados
representantes da sociedade civil – e a criação de para a área habitacional foram no início dos anos
22 1990 questões em pauta na Câmara de Deputados.
fundos específicos que permitiriam, em princípio,
verbas constantes e pontuais para a produção de Essa discussão, iniciada em 1992 por meio da
habitações populares, além de evitarem possíveis constituição de um Fórum Nacional de Habitação,
tentativas de desvios dos recursos repassados pela envolvendo inúmeras instituições da sociedade civil
União, os programas mencionados possuíam vários e órgãos públicos vinculados à questão habitacional,
constrangimentos. Mesmo sendo uma iniciativa de se organizou em torno de três propostas, cada uma
política descentralizadora, eles pecavam por uma representando determinados blocos de interesses:
excessiva padronização. Em outras palavras, faziam parte da burocracia pública da política habitacional
tábula rasa da enorme heterogeneidade dos muni- (Fórum dos Secretários Estaduais de Habitação), os
cípios brasileiros, exigindo de todos a formação de construtores e o setor popular organizado. Elas ti-

Coleção Habitare - Habitação Social nas Metrópoles Brasileiras - Uma avaliação das políticas habitacionais em Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo no final do século XX
nham como ponto comum a busca da restauração de sação das Variações Salariais (FCVS) com os agentes
uma nova aliança entre os interesses envolvidos no financeiros e o FGTS;
financiamento, produção e uso da moradia, através c) implementar novas formas de captação de
da criação de um Conselho Nacional de Habitação, recursos para o setor imobiliário a partir de empre-
com a função de gerir a política habitacional, e de sas de capitalização e seguros, fundos mútuos e fun-
um fundo específico para garantir o financiamento dações de previdência privada, entre outros.
do setor. Evidencia também a preocupação de não
deixar exclusivamente na mão de um órgão gover- Como elemento chave da nova política, passa-
namental os rumos da política habitacional, abrindo se a discutir a questão habitacional de forma inte-
perspectivas de um tipo de participação neocorpo- grada à política urbana e à política de saneamento
rativa em que segmentos da sociedade civil teriam ambiental, através da Secretaria de Política Urbana.
assento. As sugestões sobre o formato institucional Nessa mesma linha de busca de articulação entre
deste Conselho variavam bastante, e a proposta do políticas complementares e recorrentes, defende
uma política fundiária urbana adequada de modo a
movimento popular era a única em que os represen-
desestimular a formação de estoques de terras para
tantes da sociedade civil seriam majoritários.
fins especulativos.
A administração Fernando Henrique, que to-
Ainda, segundo o programa habitacional da
mou posse no início de 1995, apresentou como
primeira administração Fernando Henrique Cardoso,
proposta para o triênio 1996-1999 a aplicação de
sugeria-se reforçar o papel dos governos municipais
R$ 26,5 bilhões para beneficiar 1.394.900 famílias,
como agentes promotores da habitação popular, in-
utilizando aproximadamente R$ 19,6 bilhões de re-
centivando-os inclusive a adotar linhas de ação diver-
cursos oriundos do FGTS e R$ 6,9 milhões prove-
sificadas, voltadas para urbanização de favelas e recu-
nientes da contrapartida de estados e municípios 23
peração de áreas degradadas. Eram propostas, entre
(Sepurb, 1996c). outras, as seguintes medidas no campo da habitação
Em linhas gerais, do ponto de vista financeiro, popular: apoiar programas geradores de tecnologia
as iniciativas para viabilizar essa proposta seriam: simplificada que possibilitassem a construção de
moradias de qualidade a custo reduzido; privilegiar
a) continuar os esforços visando o saneamento
as formas associativas e cooperativas de produção
do FGTS, com o objetivo de proteger os recursos dos
de habitações e incentivar programas de assistência
trabalhadores, bem como ampliar a capacidade de in-
técnica aos órgãos, entidades e organizações comu-
vestimento habitacional do fundo;
nitárias, comprometidas com soluções locais e inte-
b) securitizar a dívida do Fundo de Compen- gradas de interesse social.

Desafios da Habitação Popular no Brasil: políticas recentes e tendências


Quanto às iniciativas de alcance social do iní- cípios (Sepurb, 1996a, 1996b).
cio da primeira administração FHC, merece desta- Entre 1996 e 2000, o desempenho do governo,
que o Programa de Conclusão de Empreendimentos no que diz respeito à política de habitação popular
Habitacionais, que visava recuperar investimentos já stricto sensu, ficou aquém do inicialmente planejado,
realizados com recursos do FGTS que não geraram pois para o Pró-Moradia foram investidos cerca de R$
os benefícios esperados, especialmente para viabi- 830 milhões, em recursos do FGTS, para a construção
lizar a comercialização de conjuntos habitacionais de 155.219 unidades residenciais, a um custo médio
contratados até 1991 por empresas privadas, que se unitário de R$ 5.400,00. No mesmo período, com re-
encontravam inacabados em virtude de problemas cursos a fundo perdido do OGU, foram alocados no
de financiamento na época. Morar Melhor / Habitar Brasil em torno de R$ 860
Por sua vez, os Programas de Crédito Direto milhões que resultaram na construção de 294.595
ao Cidadão, denominados Cred-Mac e Cred-Casa, moradias, com custo unitário médio de R$ 2.920,00
voltados para famílias com até oito salários mínimos (CAIXA, 2000).
de renda média mensal (atuando, inclusive, no setor Ressalte-se, entretanto, que em políticas recor-
informal), possibilitariam a oferta de crédito para a rentes e complementares às políticas habitacionais
aquisição de materiais de construção, visando à me- populares os aportes da União foram bem mais subs-
lhoria ou à construção de habitações. Sua principal tanciais. Por meio de financiamento do FGTS, o go-
característica residia na forma de financiamento mais verno federal investiu, entre 1996 e 2000, em torno
simplificada, já que esses programas não seguiam as de R$ 2,7 bilhões em saneamento básico (Pró-Sanea-
regras do Sistema Financeiro da Habitação. mento). No citado período, foram aplicados cerca de
No setor social, destacam-se o Pró-Moradia e R$ 2,5 bilhões de recursos orçamentários do OGU
24 o Programa Habitar Brasil, voltados para o poder pú- em diversos programas de infra-estrutura e sanea-
blico (estados e municípios) e financiados, respec- mento (CAIXA, 2000).
tivamente, com recursos do FGTS e do Orçamento Por fim, quanto às propostas não dinamizadas
Geral da União. Seus principais objetivos seriam a de novas políticas habitacionais, deve ser lembrado
urbanização de áreas degradadas para fins habita- o Programa de Arrendamento Residencial (PAR), vol-
cionais, a regularização fundiária e a produção de tado para atingir uma clientela na faixa entre qua-
lotes urbanizados. Nessas duas iniciativas, buscava- tro e seis salários mínimos de renda familiar. Ainda
se beneficiar 677.100 famílias, investindo R$ 5,2 que proposto como forma de leasing habitacional,
bilhões, sendo R$ 4 bilhões de recursos do FGTS esse programa parece não ter sido pensado com a
e R$ 1,2 milhão da contrapartida de estados e muni- mesma filosofia de seus congêneres europeus. O “ar-

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rendamento” aqui teria mais o objetivo de facilitar a ral 9.512 / 97, do denominado Sistema Financeiro
retomada dos imóveis em caso de inadimplência do Imobiliário (SFI), em moldes totalmente diferentes
mutuário, evitando longas batalhas judiciais2. do SFH, criado junto com o extinto Banco Nacional
da Habitação e que até hoje financia a maior par-
Para os setores médios (renda familiar mensal
te dos programas existentes, por meio de recursos
de até 12 salários mínimos), tem se destacado ao lon-
da caderneta de poupança e do FGTS. Inspirado na
go dos últimos anos o Programa Carta de Crédito,
experiência norte-americana, o novo sistema opera
que utiliza recursos do FGTS e das cadernetas de
exclusivamente com recursos da iniciativa privada
poupança. Trata-se de fornecer uma linha de crédito
nacional e internacional. O ponto de destaque do SFI
direta ao cidadão, que pode escolher a melhor alter- é a chamada alienação fiduciária, pela qual o mutuá-
nativa para resolver seu problema de moradia, den- rio somente torna-se proprietário do imóvel quando
tre as modalidades de aquisição de habitação pronta, quita o financiamento. Com isso, o financiador pode
nova ou usada. retomar rapidamente os imóveis em inadimplência.
Merece também destaque o Programa de Fi- Tanto o período permitido para atrasos quanto os
nanciamento à Produção e ao Crédito Individual, prazos de financiamento e as taxas de juros serão fi-
voltado para apoiar a indústria da construção civil xados, através de contrato, entre os agentes fiduciário
na produção de projetos habitacionais destinados e fiduciante, sem interferência do Estado. Pelo texto
à parcela da população de renda média e alta que da lei, os assalariados poderão utilizar os recursos
opte por um contrato de financiamento vinculado do FGTS para abater as dívidas. O objetivo de seus
ao imóvel.Trata-se de programa praticamente similar mentores seria atrair não só capitais internacionais
como recursos dos fundos de pensão, uma vez que
ao que foi hegemônico durante o período BNH para
financiando apenas parte do custo do imóvel (cabe
os setores de maior renda, exceto no que respeita ao
ao comprador arcar diretamente com parte dos cus-
financiamento que, além dos recursos das cadernetas
tos) e com a possibilidade de rápida retomada em 25
de poupança, abre a possibilidade de outras fontes
caso de inadimplência – além da inexistência de re-
complementares (Companhias Hipotecárias e Fun-
gulação governamental para prazos, taxa de juros e
dos de Investimento Imobiliário).
comprometimento máximo de renda familiar com
Mas, a maior novidade na área habitacional as prestações – dificilmente haveria possibilidade de
nos anos 1990 foi a aprovação, através da Lei Fede- prejuízo para o investidor.

2
Tradicionalmente, nos casos graves de inadimplência, a CAIXA tem optado pelo leilão com as residências ocupadas, mas isso acarreta uma diminuição nos preços
dos arremates das mesmas.

Desafios da Habitação Popular no Brasil: políticas recentes e tendências


Um eventual revigoramento do atual Sistema nal, como também a pouca amplitude e o fracasso da
Financeiro da Habitação depende da resolução de maior parte dessas intervenções governamentais.
uma complicada questão política sobre como co-
Em uma sociedade extremamente heterogênea
brir o déficit acumulado ao longo das últimas déca-
e desigual como a brasileira, questões aparentemente
das. Por outro lado, o desempenho do novo Sistema
universais como educação, serviços de saúde, sanea-
Financeiro Imobiliário, ainda em fase de implemen-
mento e habitação não são facilmente comparáveis e
tação, depende de inúmeras variáveis financeiras e
muito menos intercambiáveis entre alguns dos diver-
econômicas, bem como de alianças de interesses e
sos “submundos” sociais. Assim, no referente ao habi-
de um formato institucional que lhe permitam con-
tat, temas como necessidades habitacionais, aluguel,
ceder financiamentos em larga escala e em fluxo
habitação adequada, tamanho de terreno, infra-estru-
constante. Evidentemente, este é um sistema que
tura, entre outros – que em geral são tratados como
somente pode ser utilizado para setores de renda
mais alta, uma vez que seria duvidoso que, em uma se estivessem vinculados a um único mercado –, têm,
conjuntura de juros altos, fosse capaz de atingir uma na verdade, significados muito variados, dependendo
clientela mais ampla. dos setores sociais a que se referem.
Comecemos pelas alternativas que se abrem
para os setores populares, que mesmo durante a fase
4. Perspectivas e cenários para a questão da áurea do BNH foram os menos beneficiados. Nessas
moradia no início do novo século
condições, a opção habitacional para a maioria da
A rápida urbanização das últimas décadas do população pobre, formada por um considerável con-
século XX – aliada a um processo de “industrializa- tingente de desempregados e de trabalhadores even-
ção tardia” que incorporou somente uma pequena tuais, têm sido os cortiços, favelas e bairros clandes-
26 parcela dos trabalhadores urbanos – acarretou pro- tinos, localizados fundamentalmente nas metrópoles
blemas urbanos complexos e de difícil enfrentamen- e grandes cidades. Assim, a autoconstrução torna-se
to por parte do poder público. a solução possível para amplas camadas populares
Entre as diversas carências da população de bai- resolverem seus problemas habitacionais. Em função
xa renda vinculadas ao habitat (saneamento, abaste- da escassez de recursos e de tempo disponível, essas
cimento de água, energia elétrica, transporte etc.), a construções prolongam-se por um largo período de
que apareceu com mais evidência e centralidade foi tempo e se caracterizam pelo tamanho reduzido, bai-
o déficit de moradia. Esse contexto explica, em parte, xa qualidade dos materiais empregados, acabamento
não só por que o poder público, em termos de política precário e tendência à deterioração precoce (Marica-
urbana, priorizou historicamente a questão habitacio- to, 1979; Ribeiro e Azevedo, 1996).

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A experiência tem demonstrado que, apesar nobres, mas com acesso relativamente rápido através
dos subsídios diretos e indiretos, nos países subde- de serviços de transportes (auto-estradas, metrôs de
senvolvidos as casas populares são ainda muito caras superfície etc.), e pela recuperação de parte de an-
para a maioria dos setores de baixa renda. Nessas cir- tigos bairros populares, bem localizados na estrutu-
cunstâncias, a política habitacional enfrenta um di- ra das cidades, impondo-lhes uma nova significação
lema de difícil solução: se subsidia em maior escala, simbólica, concomitante com a criação de externali-
compromete drasticamente a produção quantitativa dades exclusivas, que os diferenciariam do resto da
de casas; se busca um nível maior de eficácia – atra- área (Ribeiro e Azevedo, 1996).
vés do retorno de parte do capital aplicado –, exclui
As estratégias de parte dos setores médios e
uma considerável parcela da população dos progra-
de alta renda supracitadas significam a criação de
mas tradicionais de habitação popular.
“ilhas” de classe média incrustadas na periferia ou
É por esse motivo que, nas últimas décadas, em antigos bairros populares. Se atentarmos para
tanto no Brasil como em muitos outros países em o fato de que, concomitantemente a esse proces-
desenvolvimento, pesquisadores, autoridades gover- so, está em curso o adensamento das favelas e dos
namentais e líderes comunitários vêem os chamados bairros populares já consolidados, podemos ante-
programas alternativos de habitação popular como ver o que chamaríamos de “diminuição perversa da
uma das formas de tentar responder às necessidades segregação espacial”. O maior “convívio forçado”,
habitacionais das populações de baixa renda. em espaços contíguos, dos estratos médios e altos
com setores populares, em um contexto de desa-
Embora a retórica oficial continue a exaltar
gregação social e de baixo crescimento econômico,
as qualidades dos chamados programas alternativos
tende a desencadear um recrudescimento dos pre-
como forma de enfrentar os problemas habitacionais
conceitos sociais e uma identificação mecanicista
dos setores populares, os impactos concretos dessas
de pobres como sinônimo de “classes perigosas”
iniciativas ainda necessitam de estudos mais detalha- 27
(Ribeiro e Azevedo, 1996).
dos3. Em contraposição e como estratégia para en-
frentar a crise de moradia, parte dos setores médios Parte desse comportamento das classes mé-
e altos optou, entre outras alternativas, pela partici- dias está relacionada com a trajetória ascendente da
pação em condomínios fechados afastados das áreas violência urbana. Entretanto, a tendência de ver o

3
Durante o período BNH, esses programas corresponderam a cerca de 265 mil unidades habitacionais, significando apenas 5,95% do total dos financiamentos do
Banco (Azevedo, 1988, p. 117). Convém lembrar, entretanto, que após 1985 a maioria dos programas de habitação popular nos três níveis de governo, imple-
mentados fora do SFH, privilegiaram os programas alternativos (mutirão, autoconstrução, cooperativas de autogestão etc.) que, em muitos casos, apresentaram
resultados satisfatórios (Azevedo, 1990).

Desafios da Habitação Popular no Brasil: políticas recentes e tendências


“outro” de classe inferior como um inimigo em po- O debate sobre as possibilidades de reforma
tencial tende a cristalizar preconceitos ideológicos do SFH, iniciado em dezembro de 1992 na Câmara
nas elites, que obscurecem a necessidade da busca dos Deputados por ocasião do Simpósio Nacional da
de soluções econômicas e políticas de âmbito mais Habitação, do qual participaram parlamentares de vá-
amplo (diminuição dos níveis de pobreza absoluta, rios partidos, representantes de sindicatos e numero-
ampliação das possibilidades de ascensão social, re- sas associações da sociedade organizada, não logrou
restaurar uma aliança suficientemente forte entre os
forma do Estado etc.) e terminam por enfatizar res-
diversos atores envolvidos no financiamento, na pro-
postas individuais imediatistas, incapazes de atacar
dução e no uso da moradia, para ensejar modifica-
as raízes do problema.Além disso, acarretam proble-
ções estruturais no Sistema Financeiro da Habitação.
mas que não só afetam negativamente a estrutura
urbana das cidades como também as próprias con- Nas discussões sobre as reformas do SFH, des-
de a primeira metade dos anos 1990, as propostas
dições habitacionais desses setores. Ou seja, levam
de descentralização estavam sempre amarradas aos
a um aumento exacerbado nos serviços de seguran-
possíveis novos formatos institucionais da política
ça e de taxas de condomínios, ao “aprisionamento”
federal. Apesar de suas diferenças, no que diz respei-
das pessoas em suas residências e à diminuição da
to ao papel dos diferentes âmbitos de governo, elas
importância da “rua”, enquanto espaço público de apresentavam uma certa similitude. À União caberia
convívio social, intercâmbio, socialização e lazer. definir a macropolítica e arcar com a maior parte dos
(Ribeiro e Azevedo, 1996). financiamentos;aos estados federados,realizar ativida-
Por outro lado, também se poderia supor al- de reguladora dentro de seus respectivos territórios,
guns efeitos positivos não esperados decorrentes des- suplementar uma parte dos recursos, desenvolver
os programas clássicos das Cohab e eventualmente
sa conjuntura. Em primeiro lugar, uma maior pressão
– quando por fragilidade de setores organizados da
28 dos setores populares cobrando do poder público
sociedade ou do poder municipal – implementar di-
maiores investimentos de infra-estrutura, equipamen-
retamente alguns projetos alternativos para os seto-
tos comunitários e outras melhorias habitacionais,
res de baixa renda. Aos governos locais era destinada
tendo em vista o efeito demonstração. Numa con- uma grande responsabilidade pela implementação
juntura democrática, em que o voto possui o mesmo da política na “ponta da linha”: seja oferecendo ter-
peso, independente da classe social do votante, este é renos e/ou participando de obras de infra-estrutura
um cacife não desprezível.Aliás, apesar da crise fiscal como contrapartida de recursos repassados de ou-
e econômica, a melhora dos indicadores sociais nas tros níveis de governo, seja se responsabilizando di-
duas últimas décadas pode ser explicada, em grande retamente pela execução das obras, seja ainda acom-
parte, por fatores de ordem política. panhando ou orientando os setores organizados da

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sociedade (cooperativas, grupos de mutirão etc.) en- consenso sobre fontes de recursos orçamentários
volvidos com os diferentes projetos. permanentes (Arretche, 2000).
Essas propostas de descentralização não tinham O governo paulista logrou, em 1989, aprovar
como objetivo a criação de sistemas autônomos em uma lei na Assembléia Legislativa que aumentava o
âmbito estadual e municipal. Entretanto, com a desar- ICMS em 1%, com objetivo de criar uma fonte cons-
ticulação do Sistema Financeiro da Habitação, a par- tante e livre para aplicação em habitação popular.
tir de 1987 tanto alguns estados, ao se organizarem Isto permitiu que a Companhia Habitacional Estadual
para fazerem jus a possíveis repasses federais, quanto (CDHU) elaborasse uma política própria, abrangendo
muitos municípios de grande porte, para se habilita- programas, mecanismos de comercialização e formas
rem a repasses federais e estaduais, terminaram por de subsídios próprios. Os recursos oriundos do ICMS
criar uma estrutura institucional que lhes permitiu a têm permitido desde então um aporte constante e
criação de sistemas híbridos capazes, de um lado, de extremamente significativo para a produção de ha-
se articularem com iniciativas oriundas de um nível bitações de interesse social naquele estado. Basta ver
que os gastos orçamentários nessa rubrica passaram
mais alto de governo e, de outro, de experimentarem,
de R$ 167 milhões, em 1988, para mais de R$ 400
com diferentes graus de institucionalização e de so-
milhões em 1994 (Arretche, 2000, p. 107-109).
fisticação, políticas habitacionais autônomas.
Além do estado de São Paulo, também o Cea-
No que se refere aos governos estaduais, o nó
rá, nas administrações Tasso e Ciro, utilizou primor-
górdio dessas políticas independentes foi a busca de
dialmente verbas orçamentárias para financiamento
uma fonte de financiamento própria, ao mesmo tem-
de sua política de habitação popular com formato
po significativa e constante, de modo a assegurar um
institucional próprio e às margens das agências fede-
desempenho regular e consistente.
rais, lançando mão dos recursos do FGTS apenas de
Nesse sentido, a experiência do estado de São forma suplementar.Ainda assim,“não se pode afirmar 29
Paulo foi a única que até o momento apresentou êxi- que se tenha constituído no estado do Ceará um Sis-
to na configuração de um completo Sistema Estadual tema Estadual de Habitação, dado que não se registra
de Habitação. A experiência paulista incentivou ou- a institucionalização de recursos fiscais que garan-
tros governos – por exemplo, Bahia, Minas Gerais e tam um fluxo contínuo de oferta de bens” (Arretche,
Rio Grande do Sul – a buscar, em suas respectivas 2000, p. 118).
Assembléias Legislativas, apoio para a criação de Sis- Ao longo da década de 1990, a maioria dos es-
temas Estaduais de Habitação autônomos. O malogro tados optou por manter sua dependência de fontes
desses projetos se deveu, principalmente, às dificul- federais, ainda que muitos desses programas nacio-
dades dos governadores em obter, dos legislativos, nais tenham ganhado na esfera estadual nomes fanta-

Desafios da Habitação Popular no Brasil: políticas recentes e tendências


sia, como estratégia de vários governos para angariar sicos: autoconstrução, mutirão, legalização de lotes,
maior legitimidade política em suas respectivas po- urbanização de favelas etc.
pulações (Azevedo, 1996). Entre esses, alguns poucos As dificuldades de se realizar atualmente um
estados – como foi o caso, entre outros, da Bahia, Per- balanço geral sobre a ação municipal na área habi-
nambuco e Paraná – conseguiram, por diferentes mo- tacional no Brasil decorrem da amplitude dessa in-
tivos, angariar vultosos repasses do governo federal, tervenção, da diversidade de programas, da carência
distintamente da maior parte das administrações es- de informações e das distintas metodologias empre-
taduais, que, em virtude de questões endógenas, não gadas nas diversas pesquisas realizadas, o que nem
logrou captar recursos relevantes, como ocorreu, por sempre possibilita a comparabilidade dessas experi-
exemplo, com o Rio Grande do Sul (Arretche, 2000). ências. Apesar disso, os estudos já realizados explici-
Deve ser ressaltado que, além de programas fe- tam não só diversos constrangimentos, mas também
derais e estaduais, há uma tendência ao surgimento potencialidades e impactos não negligenciáveis des-
de um sem-número de programas de âmbito local, ses programas.
para esta faixa de menor renda, abrangendo desde a No que diz respeito aos constrangimentos,
construção de conjuntos, reurbanização de áreas de- para parte da literatura especializada, ainda que em
gradadas, mutirão e lotes urbanizados (Pnud, 1996).A determinadas circunstâncias essas ações possam até
crise fiscal do Estado, especialmente nos âmbitos fe- vir a ter um impacto relevante, na maioria dos casos,
deral e estadual, e a conseqüente diminuição de ver- a dependência de verbas orçamentárias e a inexis-
bas para as necessidades habitacionais, aliadas a um tência de fontes de recursos específicos e constan-
contexto democrático que amplia a pressão popular, tes pressupõem a sujeição dessas iniciativas às prio-
acarretaram um processo difuso e não planejado de ridades conjunturais do governo. Por não possuir o
30 descentralização, que poderíamos chamar de uma controle sobre verbas ou fundos especiais e por seu
“municipalização selvagem” da política habitacional caráter distributivo, esses programas tenderiam a se
para os setores de menor renda ou, como preferem transformar a médio prazo em um “poço sem fun-
Adauto e Luiz César, de uma “descentralização por do”, em que os recursos são sempre muito inferiores
ausência” (Cardoso e Ribeiro, 1999). às demandas. Além disso, com o passar do tempo, a
Esses programas podem apresentar diversas disputa com outros programas sociais por dotações
vertentes e envolver diferentes agências, esferas de orçamentárias possivelmente se tornaria constante e
governo e mesmo Organizações Não-Governamen- acirrada (Azevedo, 1996).
tais, bem como priorizar projetos tradicionais (cons- A enorme clientela potencial dessas iniciativas,
trução de conjuntos) ou programas alternativos clás- aliada à escassez e não previsibilidade de recursos, e,

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em muitos casos, à falta de critérios bem definidos de zível para o público-alvo das políticas habitacionais
prioridades, favoreceria o surgimento de práticas de implementadas. Assim, “do ponto de vista da origem
favoritismo e de clientelismo político. Assim, embora dos recursos utilizados, os municípios foram respon-
a lógica de alocação desses recursos possa ser bastan- sáveis, de forma autônoma, pelo financiamento de
te variada, o fator de legitimação política e de apoio ações que beneficiaram cerca de 37% das famílias, e
eleitoral tende a ter grande importância na definição participaram do financiamento de outros programas,
da população-alvo desses programas, na maioria dos que beneficiaram cerca de 21% das famílias” (Cardo-
casos pontuais e/ou intermitentes e vinculados a so e Ribeiro, 1999, p. 17. Grifo nosso). Em outras pala-
uma determinada administração. Mesmo tratando-se vras, nas cidades estudadas, em média, quase 60% das
de bens escassos e de impacto pouco significativo famílias atendidas por projetos habitacionais tiveram
para a maioria da população pobre dos respectivos algum tipo de aporte oriundo dos cofres municipais,
e mais de um terço delas foi atendido exclusivamen-
municípios, esse modelo teria a capacidade de criar
te com recursos orçamentários dos governos locais.
forte expectativa nos setores populares. Não é por
outro motivo que, nas últimas campanhas eleitorais Essa mesma pesquisa revela diferenças signifi-
municipais, muitos candidatos venham usando o so- cativas entre as várias regiões do país. Nesse sentido,
nho da “casa própria” como uma das bandeiras para o Nordeste, que apresenta um quadro de carências
lograr apoio popular (Azevedo, 1996). mais dramático, é justamente onde se localizam as
piores performances, em comparação às cidades do
No que se refere às potencialidades desses
Sul – região em que os municípios apresentam situa-
programas municipais, desenvolvidos especialmente
ção financeira relativamente mais confortável e onde
nos anos 1990, estudos recentes têm demonstrado se pôde constatar, em média, um melhor desempe-
as grandes possibilidades de inovação institucional nho. Segundo os pesquisadores, seria possível supor
e de adaptabilidade às idiossincrasias locais. Em ou- que esse diferencial 31
tras palavras, essas iniciativas têm funcionado como
diz respeito, por um lado, ao volume de recur-
um grande “laboratório” que permite a socialização
sos – financeiros, técnicos e administrativos –
de inúmeras experiências bem-sucedidas, muitas das
que esses municípios dispõem para fazer face
quais premiadas internacionalmente (Bonduki, 1996;
às suas necessidades; por outro lado, no caso
Souza, 1997).
do Nordeste, é também conseqüência da cul-
Além disso, pesquisa recente envolvendo 45 tura política local, onde as práticas clientelistas
cidades grandes e médias nas diferentes regiões do estão mais enraizadas no cotidiano e corres-
país revelou que em muitas delas o impacto dessas pondem a mecanismos ainda não superados
ações está longe de poder ser considerado despre- de reprodução do poder, a nível local. (Ibid.)

Desafios da Habitação Popular no Brasil: políticas recentes e tendências


No que concerne ao Nordeste, essa análise basea- 5. Posfácio: à guisa de conclusão
da na “cultura política local” acaba sendo matizada
A partir da ascensão do governo Lula e da cria-
pelos próprios autores, quando afirmam encontrar
ção do Ministério das Cidades, um cenário baseado
fortes similaridades em municípios metropolitanos
na aproximação institucional da política urbana (lato
do Sudeste. sensu), habitacional, de saneamento e de transporte,
Outro fator que merece destaque diz respei- com características de políticas regulatórias centra-
to à importância da questão institucional, pois foi lizadas, buscando envolver as três esferas de gover-
constatada uma forte correlação entre a existência no, possibilitou avanços significativos nos primeiros
trinta meses de governo. Ressalte-se que a proposta
de estruturas administrativas mais sofisticadas (Co-
do Ministério das Cidades apresenta desde o início
hab, órgãos de planejamento, secretarias de habi-
do governo apoio de atores relevantes: possuía de-
tação, instrumentos de política urbana etc.) e um
fensores nas burocracias estaduais (Associação Bra-
melhor desempenho na área habitacional. Ressal-
sileira de Cohab; Fórum Nacional de Secretários de
te-se, particularmente, a importância da legislação Habitação) e em setores organizados da população
sobre as conhecidas Áreas Especiais de Interesse civil (Fórum Nacional de Reforma Urbana, Movimen-
Social, que foram responsáveis por importantes to Nacional de Luta pela Moradia, Frente Nacional
avanços na regularização fundiária, permitindo do Saneamento, movimentos voltados para trans-
que considerável contigente de setores de baixa porte público urbano de passageiros, além de redes
renda se incorporasse à “cidade legal” (Cardoso e voltadas para equacionar a governança metropolita-
Ribeiro, 1999). na), estes últimos aliados de longa data dos partidos
hegemônicos na coalizão governamental e, portanto,
A política do novo governo seria a de estabe- com poder de pressão não desprezível sobre a atual
32 lecer parcerias com os estados federados e, especial- administração federal.
mente, com os municípios – envolvendo a partici-
O Ministério capitaneado por Olívio Dutra,
pação de setores organizados da sociedade –, como
tendo como secretária executiva Ermínia Maricato,
forma tanto de democratizar o processo de acesso
conseguiu recrutar – tanto nos quadros efetivos da
à casa própria – aumentando sua transparência e Administração federal quanto nos de outras institui-
colaborando para minimizar as práticas clientelistas ções públicas e universidades do país – uma equipe
tradicionais (Cardoso, 2003) – quanto de dinamizar extremamente qualificada. Apesar das idiossincrasias
a produção da habitação popular e a urbanização e das diferentes áreas e de fricções decorrentes das es-
regularização fundiária de assentamentos precários pecificidades das lideranças das diversas diretorias, a
(vilas, favelas e bairros clandestinos etc.). cúpula ministerial, por meio de um trabalho de co-

Coleção Habitare - Habitação Social nas Metrópoles Brasileiras - Uma avaliação das políticas habitacionais em Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo no final do século XX
ordenação interna – apoiado por inúmeros seminá- Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS)
rios envolvendo entidades da sociedade organizada previstos na Lei Federal 11.124/2005, aprovada no
de vocação urbana e especialistas e consultores de Congresso Nacional após 13 anos de tramitação. A
diversas tendências –, logrou aparar arestas e avançar tese perseguida para a mudança de paradigma na
em propostas de regulação de políticas essenciais área de habitação é a seguinte:
para as cidades brasileiras. Além disso, percebendo a) buscar segurança jurídica e ampliar recursos
que muitas dessas políticas transcendiam o Ministé- financeiros para o mercado privado de moradias para
rio, envidou-se para envolver não só outras agências a classe média. Dessa forma, espera-se que a classe mé-
e Ministérios que apresentavam fortes interfaces com dia não dispute recursos federais com as faixas de bai-
as ações em curso, como também buscou integrar xa renda, como aconteceu nos governos anteriores;
outros níveis de governo, sempre com a participação b) ampliar os recursos e dar prioridade de in-
dos diferentes movimentos urbanos. vestimentos que estão sob gestão federal e nacional
Em relação à Habitação, esse tema passou a para as faixas de rendas mais baixas (92% do déficit
habitacional está situado abaixo de cinco salários mí-
receber uma visão mais holística levando em conta
nimos). Dessa forma, espera-se conter o crescimento
não só a construção de novas moradias, mas também
das favelas e das ocupações urbanas ilegais.
“issues”, que, por vezes, são até mais importante para
enfrentar a questão do habitat, como regularização
2. Ampliação dos recursos federais e nova
fundiária, saneamento, infra-estrutura, transporte pú-
orientação para o enfrentamento da questão
blico, entre outros. habitacional
Como lembra Ermínia Maricato (Maricato,2005), Com recursos geridos pelo governo federal,
nos 30 meses da gestão do Ministro Olívio Dutra, entre em 2003 e 2004 foram contratados R$ 10,7 bilhões
os diversos êxitos alcançados, podem-se ressaltar: para atender a 760 mil famílias com imóveis novos e 33
usados, aquisição de material para construção, refor-
1. Nova política nacional de habitação: mudança mas de moradia e urbanização de favelas. Em 2005, as
de paradigma metas de contratação são atender a 640 mil famílias
com a aplicação de R$ 10,6 bilhões.
Após longa ausência, o novo Sistema Nacional
de Habitação inclui o mercado privado (para ampliar Enquanto a aplicação dos recursos sob gestão
a oferta para a classe média) e a habitação de inte- federal estava fortalecendo a concentração da renda
resse social. O novo marco regulatório e a nova es- no país, já que a maior parte deles era dirigida para
trutura serão complementados pelo Fundo Nacional as faixas de renda situadas acima de cinco salários
de Habitação de Interesse Social (FNHIS) e o Sistema mínimos, a atual administração priorizou os inves-

Desafios da Habitação Popular no Brasil: políticas recentes e tendências


timentos públicos subsidiados abaixo dessa faixa, Convém assinalar que pela primeira vez o Mi-
em que se encontra 92% do déficit habitacional. nistério das Cidades, em parceria com os Ministérios
da Saúde, do Meio Ambiente e da Integração Nacio-
A mudança normativa nos programas habi-
nal, investiu em 2003 e 2004 uma soma inédita de R$
tacionais federais (PSH, PAR), a criação de novos
6,1 bilhões de reais (água esgoto, resíduos sólidos e
programas (PCS, PEHP) e uma resolução aprova-
drenagem) integrando e racionalizando os diversos
da pelo Conselho Curador do FGTS (Resolução
programas.
460/2005) permitiram ampliar os recursos de sub-
sídios para baixa renda. A abertura de financiamentos com recursos do
FGTS mostra uma reversão de orientação em relação
Pela primeira vez o governo federal atuou ativa-
aos governos anteriores, pois em apenas dois anos
mente na questão da regularização fundiária. O novo
(2003/2004) se investiu um montante de recursos
programa já deu início a processos para fornecer a
quase igual ao alocado entre 1995 e 2002 (Maricato,
documentação do imóvel habitacional para mais de 2005, p. 1).
500 mil famílias de baixa renda moradoras de assen-
tamentos informais situados em 26 estados, em espe- Também de forma inovadora, a seleção de pro-
cial nas 11 maiores metrópoles brasileiras. O Minis- jetos obedeceu a chamamento público via internet, e
tério das Cidades fez convênio com a Associação dos a escolha das propostas ocorreu via pontuação com
Notários e Registradores do Brasil (Anoreg) para o critérios divulgados publicamente.
registro gratuito de moradias sociais regularizadas.
4. Campanha nacional sobre o Plano Diretor
Participativo
3. Proposta de uma política nacional do sanea-
mento ambiental e ampliação dos investimentos Mais de 1.700 municípios – aqueles com mais
de 20 mil habitantes e os metropolitanos de qual-
A ausência de regras no setor, que inviabiliza
34 quer porte – estão obrigados a elaborar seus planos
investimentos públicos e privados, pode ter um fim
diretores até outubro de 2006, de acordo com o Es-
com o Plano do Saneamento Ambiental, que aguar-
tatuto da Cidade. O Ministério das Cidades, nos pri-
da votação no Congresso Nacional. O Plano institui
meiros 30 meses do governo Lula, conseguiu apoiar
a obrigatoriedade de planos, metas, indicadores e
diretamente um número não-desprezível de municí-
transparência para a gestão. Esse instrumento não
pios nessa ação, seja por meio de financiamento (370
inviabiliza as empresas estaduais, mas fixa deveres
municípios), seja por meio de cursos de capacitação
e obrigações para os titulares do serviço. Essa pro-
às equipes (173).
posta, debatida em 11 audiências públicas em todo o
país, pretende proporcionar um horizonte sustentá- A Campanha Nacional Plano Diretor Parti-
vel para o desenvolvimento do setor. cipativo, coordenada pelo Ministério das Cidades,

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já conta com 25 núcleos estaduais formados por a participação social em políticas públicas), o Mi-
gestores públicos, técnicos, lideranças sociais, uni- nistério das Cidades enfrentou dificuldades para
versidades, parlamentares, promotores públicos e lograr uma participação democrática ampla na de-
empresários, abrangendo aproximadamente 900 finição da Política Nacional de Desenvolvimento
municípios brasileiros. Urbano (PNDU).
Em 2003, a Conferência Nacional das Cidades
5. Marco regulatório da mobilidade, dos trans- definiu as diretrizes e prioridades da Política Ur-
portes coletivos e trânsito
bana Brasileira. Participaram do processo de cons-
As diretrizes da Política Nacional de Mobilida- trução da Conferência mais de 3.400 municípios e
de e Transporte foram aprovadas no Conselho das Ci- 26 estados da Federação. Os 2.800 delegados que
dades, e está em andamento a definição de um marco participaram da Conferência Nacional, em Brasília,
regulatório para o setor. As leis que tratam da acessi- foram eleitos nessas Conferências Municipais e Es-
bilidade para idosos e portadores de deficiência fo- taduais, que – além de representantes de órgãos do
ram regulamentadas, e uma parceria entre o Ministé- poder executivo dos governos estaduais e munici-
rio das Cidades e diversas entidades governamentais pais de vocação urbana, das câmaras de vereadores,
e não-governamentais busca sua implementação. das assembléias legislativas e das universidades e
centros de pesquisas – possuíam, majoritariamente,
Quanto à prevenção de acidentes no trânsito,
representantes de entidades da sociedade organiza-
foram ministrados 47 cursos de capacitação para 5 mil
da, como, entre outras, ONGs, movimentos sociais,
técnicos de trânsito pertencentes a 400 municípios.A
associações reivindicativas de políticas setoriais,
resolução 168 do Contran determinou a realização de
sindicatos e associações profissionais.
cursos de habilitação para 25 milhões de condutores.
Essas medidas visam diminuir os acidentes de trânsi- A I Conferência Nacional das Cidades (CNC) 35
to, que matam aproximadamente 40 mil pessoas por elegeu o Conselho das Cidades, que conta com re-
ano e incapacitam outras centenas de milhares. presentantes de todos os segmentos supracitados.
Esse Conselho aprovou, em 18 meses de vida, as
6. Política nacional de desenvolvimento urbano principais ações e políticas definidas pelo Ministé-
com participação democrática rio das Cidades.
Considerando a dimensão e a diversidade re- Em relação à II CNC, as conferências munici-
gional e urbana do país e considerando ainda o pou- pais ocorreram nos meses de junho e julho de 2005.
co conhecimento social acumulado sobre a política As conferências estaduais devem ocorrer em agosto,
urbana (ou o pouco conhecimento acumulado sobre setembro e outubro, e a Conferência Nacional está

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programada para o mês de novembro, em Brasília. Trabalhadores e alguns partidos aliados, fragilizou
fortemente a administração do presidente Lula.
Em suma, apesar das fragilidades enfrentadas
pela Política Nacional de Desenvolvimento Urbano, Sem entrar na discussão do mérito e da eficá-
que se propõe envolver os três âmbitos de governo, cia das diversas iniciativas de defesa tomadas por
com o pressuposto de uma relação federativa de co- um governo acuado, uma delas foi tentar recompor
operação – ainda longe de ser uma realidade –, o Mi- ou pelo menos minimizar a perda de sua base par-
nistério das Cidades, por sua atuação nos primeiros lamentar, através de uma minirreforma ministerial.
30 meses da gestão de Olívio Dutra, não pode, de No rol dessas iniciativas, o Ministério das Cidades
modo algum, ser qualificado de inoperante e pouco foi oferecido a um partido conservador, aliado de
objetivo, como tentou caracterizá-lo parte da mídia e segunda hora, cabendo ao presidente da Câmara in-
de setores aliados do próprio governo. dicar uma pessoa de sua confiança para ocupar o
cargo de ministro.
A ironia da história é que a citada administra-
ção priorizou o enfrentamento de políticas regula- A nova administração do Ministério, prevale-
tórias, extremamente estratégicas a médio e longo cendo o comportamento dos primeiros meses dessa
prazo para melhorar a qualidade de vida e conferir segunda gestão, deve priorizar as políticas habitacio-
maior justiça social às cidades brasileiras, mas que nais distributivas, por meio de relações tête-à-tête
não guardam uma relação simétrica com o calendá- com governadores e prefeitos, que acarretarão, en-
rio político e eleitoral de curto prazo. E, além disso, tre outros efeitos discutíveis, a diminuição do papel
causa espanto que mesmo os numerosos avanços de ativo da Caixa Econômica Federal nas políticas de
habitação popular, inclusive no que diz respeito à
ações concretas na área de habitação e saneamento
utilização de critérios universalistas e explícitos na
não tenham sido devidamente capitalizados e divul-
definição de prioridades para alocação de recursos.
gados pelo governo.
36
Também são prováveis a supressão ou a desa-
A explicação para esse fato pode ser debitada
celeração das ações voltadas para a discussão, a ela-
à relutância do núcleo duro do governo em aceitar a
boração, a aprovação parlamentar e a implementação
priorização das atividades do Ministério em relação
de políticas regulatórias recorrentes e complementa-
às demais políticas do governo federal.
res, agenda que marcou os primeiros 30 meses da
A crise política que se abateu sobre o governo gestão do ministro Olívio Dutra, com apoio explíci-
e sua base de sustentação parlamentar e social, em to de instituições, associações profissionais, ONGs e
função da torrente de denúncias e da comprovação movimentos sociais, além de parlamentares, técnicos
de atos de corrupção ativa e passiva envolvendo ór- e pesquisadores que vêm atuando nas últimas déca-
gãos governamentais, parte da cúpula do Partido dos das na área urbana.

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