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INTEGRAÇÃO MODAL EM MACEIÓ-AL, BRASIL:

UMA PROPOSTA DE MOBILIDADE URBANA PARA BAIRROS PERIFÉRICOS

A. B. C. B. de Magalhães, M. N. de Morais, L. F. Marques, M. C. P. F. Cunha e G. M. Barbirato

INTRODUÇÃO nos resultados positivos obtidos em lugares que adotaram esse meio como alter-
nativa de mobilidade urbana, entre eles La Paz – El Alto (Bolívia), Medellín (Colôm-
bia) e Rio de Janeiro - Morro do Alemão (Brasil).
No Brasil, ao se tratar da ocupação e distribuição de terras, há uma constante luta
por lugares ditada pela ‘financeirização’ das cidades e seus espaços, uma vez que a Cada terminal de teleférico (Figura 6), se não integrado com algum modal, está
política urbana é empregada no intuito de atender interesses do mercado imo- locado estrategicamente em vazios urbanos da região. A proposta busca acrescer,
biliário (ROLNIK, 2015). Nesse contexto, percebe-se que existem lugares junto ao projeto, a qualificação ou criação de mirantes (Figura 7), de modo a pro-
mover um ambiente não apenas de passagem, mas também de permanência.
organizados pelo setor privado onde se opera dentro de uma legislação detal-
hada e outros espaços que são produzidos pelos próprios moradores, geral-
mente de baixa renda, situados em uma área intermediária entre o legal e o
ilegal. (CAVALCANTI, 2017, p. 01-02).

Em Maceió, capital de Alagoas, Brasil (Figura 1), essa dicotomia de ocupação do


solo urbano é uma realidade especialmente potencializada pela configuração
geográfica da cidade, formada por diversas encostas que estabelecem barreiras
naturais geralmente ocupadas por pessoas em vulnerabilidade social, econômica e
cultural.

Figura 2: Recorte urbano de Maceió-AL em estudo e mapeamento de suas principais


vias, terminais de ônibus e de VLT.
Z O N A R U R A L
Fonte: SMPD (2007), adaptado pelos autores, 2018.
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L A G O A
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M U N D A Ú
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Figura 1: O recorte de estudo localizado no mapa da cidade de Maceió, esta localizada Figura 5: Proposta de rede multimodal para o recorte urbano.
no mapa de Alagoas e o estado localizado no mapa do Brasil. Fonte: SMPD (2007), adaptado pelos autores, 2018.
Fonte: Material produzido pelos autores, 2018.

Em 1817, ano em que Maceió torna-se a capital alagoana, há, assim como em
outras cidades brasileiras, um processo de crescimento rápido e desordenado da
malha urbana, fomentado, posteriormente, durante o século XX, pelo aumento em
todo o Brasil do êxodo rural (FARIA; COSTA, 2014). Diante desse contexto de es-
praiamento urbano, a Orla Lagunar maceioense, limitada geograficamente por
diversas encostas, passa por um processo de desvalorização e marginalização, per-
cebido na migração dos seus moradores de maior poder aquisitivo para outras
partes da cidade, iniciando-se assim a ocupação das encostas e áreas de risco por
uma população com menor poder aquisitivo.

Hoje as áreas de Maceió lindeiras à Laguna Mundaú, que abrangem os bairros do Figura 3: Mapeamento do relevo do recorte urbano de Maceió - AL em estudo.
Bebedouro, Chã de Bebedouro, Petrópolis, Santa Amélia, Tabuleiro, Santa Lúcia e Fonte: TOPOGRAPHIC-MAP (2018), adaptado pelos autores, 2018.
Fernão Velho – recorte de estudo (Figuras 1 e 2), são partes da cidade caracteriza-
das por essa historicidade e/ou atual ocupação de parcelas trabalhadoras e com
menor poder socioeconômico. Esses são espaços considerados periféricos ao mu- ENTREVISTAS COM A POPULAÇÃO Figuras 6 e 7: Respectivamente, croqui de estação de teleférico incorporada a proposta
nicípio, tanto pela desigualdade de renda e segregação dada pelos acentuados rel- de mirante; e proposta de estações de teleféricos tipo.
A fim de compreender qual a visão e demandas quanto à mobilidade, acessos e im- Fonte: Respectivamente, LOURENCI (2018), adaptado pelos autores, 2018; e material
evos, quanto pela invisibilização diante de interesses públicos e privados, principal-
produzido pelos autores, 2018.
mente pela ineficácia da mobilidade urbana quanto às ligações com bairros adja- pactos locais, foram realizadas entrevistas com usuários locais entre 16 e 46 anos
centes (CAVALCANTI, 2017). de idade, fundamentadas pela escala Likert, considerando quatro graus de satis-
fação aos itens questionados, em que 1 significa “discordo totalmente” e 4 “con- Essa incorporação entre teleférico e mirante visa a multifuncionalidade de es-
É nesse sentido que o presente artigo trata da qualificação da mobilidade de áreas cordo totalmente”. Então, por meio de afirmações, o método resultou em uma paços, de modo a proporcionar ambientes mais vivos nos quais é possível fomen-
periféricas ao redor da Orla Lagunar de Maceió a fim de propor a integração social análise quantitativa do nível de satisfação dos usuários no que se refere, de modo tar a característica histórica do recorte urbano, através de espaços de interação
através da conexão entre a comunidade local, espacialmente segregada, e o geral, à equipamentos que permitem qualidade de vida. social de qualidade e de eventos e atividades cívicas e culturais; bem como incenti-
restante da cidade. var a valorização e preservação da Laguna Mundaú e paisagem circundante at-
Com essa análise, de modo geral, foi observado o grande nível de insatisfação dos ravés de espaços de contemplação e, consequentemente, oferecer ao local visibili-
usuários, que quase sempre discordaram totalmente da qualidade dos serviços pú- dade quanto ao poder público e privado. Com isso, idealiza-se promover a criação
blicos oferecidos em suas localidades (Figura 4). de um marco (LYNCH, 1980) para a população, através de um projeto singular,
ESTUDO DA ÁREA E SUAS PROBLEMÁTICAS passível de se destacar em meio ao entorno e promover identificação aos mora-
dores, características acentuadas pelo colorido do projeto.
O contorno urbano em estudo (Figura 1) localiza-se na região noroeste da cidade
de Maceió, sendo limitado pela Laguna Mundaú e pela conformação geológica de Além disso, para percursos mais acessíveis aos pedestres, propõe-se uma qualifi-
encostas. Assim, a geografia do recorte urbano tem influência direta nas variantes cação das calçadas e vias, de acordo com as normas de acessibilidade previstas na
da mobilidade e dinâmicas do espaço. Dada a precariedade das alternativas de NBR 9050 (ABNT, 2015), por meio de sua pavimentação, arborização e ajuste de
locomoção (VLT - veículo leve sobre trilhos -, linhas de ônibus, vias, calçadas) e a dimensões.
inexistência de transportes que vençam o relevo acentuado de modo efetivo, o de-
slocamento dos moradores e demais usuários do bairro é dificultado. Desse modo,
a população situada nas partes de alto relevo precisa, para atingir as vias de acesso
CONSIDERAÇÕES FINAIS
da parte baixa, fazer um percurso por vezes muito maior, circundando todo o
Os estudos sobre o recorte analisado possibilitaram a constatação de sua im-
bairro. Assim, enfrentam congestionamento excessivo nas vias de trânsito e baixa
portância e contribuição na história e desenvolvimento da capital alagoana.
qualidade dos transportes públicos, o que impacta diretamente na qualidade de
Assim, a proposta lançada tem como objetivo reverenciar sua significância e evi-
vida.
denciar essa área, que ao longo dos anos foi tão negligenciada pelo poder público.
Para tanto, a revitalização da área visa a melhorIa da qualidade de vida da popu-
Além disso, o potencial recreativo e as belezas naturais da orla lagunar são ine-
lação local, propiciando uma mobilidade adequada – diminuindo o tempo gasto
gáveis, apesar de a infraestrutura ao longo do recorte urbano ser marcada pelo des-
em locomoção e facilitando o acesso aos serviços básicos, mercado de trabalho,
caso do poder público.
lazer e integração com as outras partes da cidade.
A região conta ainda com a memória e carga histórica da formação da cidade de
Evidenciar esse recorte da cidade, outrora tão importante para sua formação, é
Maceió, explícita no traçado de algumas de suas ruas, nos trilhos do trem e nos ex-
fundamental para resguardar sua significância e despertar o interesse do poder
emplares de edificações históricas do século passado, bem como na presença e de-
Figura 4: Respostas obtidas em entrevista online com moradores do recorte estudado.
público, estimulando melhorias nos investimentos e serviços do local, tirando sua
poimentos dos próprios moradores antigos da região, que são verdadeiros pat-
Fonte: Google Forms, 2018. população de uma situação de marginalização social e econômica, efetivando,
rimônios vivos e esbanjam conhecimento popular. Todavia, essa é uma Maceió que
portanto, qualidade de vida.
poucos têm acesso e conhecimento, especialmente pela falta de visibilidade e por
interesses políticos.
RESUMO DAS PROBLEMÁTICAS REFERÊNCIAS
Com isso, de modo a entender a atual dinâmica do recorte de estudo quanto à mo-
bilidade, dialética entre a localidade e seu entorno, o uso de espaços públicos de Adobe Systems. (2018) Adobe Illustrator, CS6 version.
Diante de tal contexto, as maiores problemáticas detectadas no contorno urbano
lazer e a interferência da Laguna Mundaú, foram realizados: são: Associação brasileira de normas técnicas (ABNT). (2015) NBR 9050: Acessibilidade a edifi-
cações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, Rio de Janeiro.
MAPEAMENTO Ineficiência dos meios de mobilidade quanto à sua integração e/ou qualidade
(VLT, ônibus e vias); Cavalcanti, D. B. (2017) Lutando por Um Lugar na Cidade de Maceió, Brasil, Revista GEO
O mapeamento multidisciplinar - de vias existentes, qualidade das calçadas, para- UERJ, Rio de Janeiro, n. 30.
Calçadas inacessíveis;
das e terminais de ônibus, mirantes/praças, vazios urbanos, relevo - foi desenvolvi-
Desvalorização da Orla Lagunar - também motivada pelo interesse turístico e
do a fim de ampliar a visão crítica e espacial sobre o recorte estudado, usando o Cittati. (2018) CittaMobi.
econômico voltado exclusivamente para a orla marítima;
recurso de sobreposição de mapas, a partir de visitas in loco e com auxílio dos soft-
wares Google Earth (GOOGLE, 2018), Illustrator (ADOBE SYSTEMS, 2018) e Corel Dificuldade de acesso e integração com o entorno; Corel Corportation. (2018) Corel Draw, Graphics Suite X8.
Draw (COREL CORPORATION, 2018). Ausência de espaços públicos de lazer de qualidade.
Faria, G. M. G.; Costa, V. R. (2014) Conjunto habitacional popular, tecido urbano e esfera
pública – Maceió, Alagoas, Brasil: 1950-2000, Paisagem e Ambiente: ensaios, São Paulo,
Desse modo, em relação à qualidade e/ou inexistência das calçadas, notou-se a ina-
n.334.
cessibilidade pela não pavimentação, falta de adequação ao relevo e/ou pequenas PROPOSTA PROJETUAL
dimensões, impróprias ergonomicamente. Já sobre as vias (Figura 4), destacam-se Google Inc. (2018) Google Earth.
a Avenida Major Cícero de Góes Monteiro, que corta a área de estudo ligando-a à Face aos diversos problemas elencados, de modo a proporcionar mobilidade de
região sul e norte, quase paralelamente à linha do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos); qualidade ao recorte urbano, essencial para promover à população o acesso ao Jacobs, J. (2011) Morte e vida de grandes cidades, Martins Fontes, São Paulo.
e a Avenida Fernandes Lima, cujos acessos são dificultados pelo acentuado relevo. mercado de trabalho, serviços de saúde e educação e atividades políticas, recreati-
vas e culturais (SEREBRISKY, SUÁREZ-ALEMÁN, 2017), por meio do acesso diversifi- Lynch, K. (1980) A imagem da cidade, Martins Fontes, São Paulo.
Os pontos de parada de ônibus concentram-se ao redor da primeira via citada, to- cado a meios de transporte público e da conexão entre as partes alta e baixa da
talizando mais de 20 em seu eixo (CITTATI, 2018) e os terminais de ônibus locali- região, propõe-se a integração entre os diferentes modais já atuantes no local (ter- Rolnik, R. (2015) Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era das
finanças, Boitempo, São Paulo.
zam-se de modo central nos bairros Jardim Petrópolis e Fernão Velho. minais de ônibus, estações de VLT – veículo leve sobre trilhos e vias de au-
tomóveis) a partir de uma rede de teleféricos (Figura 5), que também conferem Serebrisky, T.; Suárez-alemán, A. (2017) ¿Los teleféricos como alternativa de transporte
Quanto ao relevo (Figura 3), percebe-se a configuração de uma grande encosta lin- integração com os bairros e vias circunvizinhas. urbano?: ahorros de tiempo en el sistema de teleférico urbano más grande del mundo: La
deira à orla lagunar, na qual estão locadas a maioria dos mirantes/praças. Já os Paz- El Alto, Banco Interamericano de Desarrollo, Nova Iorque.
vazios urbanos, concentram-se nas áreas de maior declividade e nos talvegues, Essa proposta sustenta-se no seu baixo custo de instalação, manutenção, menor
ademais são encontrados em pontos específicos das áreas mais habitadas. poluição e facilidade de integração a redes de transporte já existentes; e inspira-se Simões, L. (2017) Maceió 200 anos, Instituto Arnon de Mello, Maceió.
INTEGRAÇÃO MODAL EM MACEIÓ-AL, BRASIL:
UMA PROPOSTA DE MOBILIDADE URBANA PARA BAIRROS PERIFÉRICOS

A. B. C. B. de Magalhães, M. N. de Morais, L. F. Marques, M. C. P. F. Cunha e G. M. Barbirato

INTRODUÇÃO nos resultados positivos obtidos em lugares que adotaram esse meio como alter-
nativa de mobilidade urbana, entre eles La Paz – El Alto (Bolívia), Medellín (Colôm-
bia) e Rio de Janeiro - Morro do Alemão (Brasil).
No Brasil, ao se tratar da ocupação e distribuição de terras, há uma constante luta
por lugares ditada pela ‘financeirização’ das cidades e seus espaços, uma vez que a Cada terminal de teleférico (Figura 6), se não integrado com algum modal, está
política urbana é empregada no intuito de atender interesses do mercado imo- locado estrategicamente em vazios urbanos da região. A proposta busca acrescer,
biliário (ROLNIK, 2015). Nesse contexto, percebe-se que existem lugares junto ao projeto, a qualificação ou criação de mirantes (Figura 7), de modo a pro-
mover um ambiente não apenas de passagem, mas também de permanência.
organizados pelo setor privado onde se opera dentro de uma legislação detal-
hada e outros espaços que são produzidos pelos próprios moradores, geral-
mente de baixa renda, situados em uma área intermediária entre o legal e o
ilegal. (CAVALCANTI, 2017, p. 01-02).

Em Maceió, capital de Alagoas, Brasil (Figura 1), essa dicotomia de ocupação do


solo urbano é uma realidade especialmente potencializada pela configuração
geográfica da cidade, formada por diversas encostas que estabelecem barreiras
naturais geralmente ocupadas por pessoas em vulnerabilidade social, econômica e
cultural.

Figura 2: Recorte urbano de Maceió-AL em estudo e mapeamento de suas principais


vias, terminais de ônibus e de VLT.
Z O N A R U R A L
Fonte: SMPD (2007), adaptado pelos autores, 2018.
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Figura 1: O recorte de estudo localizado no mapa da cidade de Maceió, esta localizada Figura 5: Proposta de rede multimodal para o recorte urbano.
no mapa de Alagoas e o estado localizado no mapa do Brasil. Fonte: SMPD (2007), adaptado pelos autores, 2018.
Fonte: Material produzido pelos autores, 2018.

Em 1817, ano em que Maceió torna-se a capital alagoana, há, assim como em
outras cidades brasileiras, um processo de crescimento rápido e desordenado da
malha urbana, fomentado, posteriormente, durante o século XX, pelo aumento em
todo o Brasil do êxodo rural (FARIA; COSTA, 2014). Diante desse contexto de es-
praiamento urbano, a Orla Lagunar maceioense, limitada geograficamente por
diversas encostas, passa por um processo de desvalorização e marginalização, per-
cebido na migração dos seus moradores de maior poder aquisitivo para outras
partes da cidade, iniciando-se assim a ocupação das encostas e áreas de risco por
uma população com menor poder aquisitivo.

Hoje as áreas de Maceió lindeiras à Laguna Mundaú, que abrangem os bairros do Figura 3: Mapeamento do relevo do recorte urbano de Maceió - AL em estudo.
Bebedouro, Chã de Bebedouro, Petrópolis, Santa Amélia, Tabuleiro, Santa Lúcia e Fonte: TOPOGRAPHIC-MAP (2018), adaptado pelos autores, 2018.
Fernão Velho – recorte de estudo (Figuras 1 e 2), são partes da cidade caracteriza-
das por essa historicidade e/ou atual ocupação de parcelas trabalhadoras e com
menor poder socioeconômico. Esses são espaços considerados periféricos ao mu- ENTREVISTAS COM A POPULAÇÃO Figuras 6 e 7: Respectivamente, croqui de estação de teleférico incorporada a proposta
nicípio, tanto pela desigualdade de renda e segregação dada pelos acentuados rel- de mirante; e proposta de estações de teleféricos tipo.
A fim de compreender qual a visão e demandas quanto à mobilidade, acessos e im- Fonte: Respectivamente, LOURENCI (2018), adaptado pelos autores, 2018; e material
evos, quanto pela invisibilização diante de interesses públicos e privados, principal-
produzido pelos autores, 2018.
mente pela ineficácia da mobilidade urbana quanto às ligações com bairros adja- pactos locais, foram realizadas entrevistas com usuários locais entre 16 e 46 anos
centes (CAVALCANTI, 2017). de idade, fundamentadas pela escala Likert, considerando quatro graus de satis-
fação aos itens questionados, em que 1 significa “discordo totalmente” e 4 “con- Essa incorporação entre teleférico e mirante visa a multifuncionalidade de es-
É nesse sentido que o presente artigo trata da qualificação da mobilidade de áreas cordo totalmente”. Então, por meio de afirmações, o método resultou em uma paços, de modo a proporcionar ambientes mais vivos nos quais é possível fomen-
periféricas ao redor da Orla Lagunar de Maceió a fim de propor a integração social análise quantitativa do nível de satisfação dos usuários no que se refere, de modo tar a característica histórica do recorte urbano, através de espaços de interação
através da conexão entre a comunidade local, espacialmente segregada, e o geral, à equipamentos que permitem qualidade de vida. social de qualidade e de eventos e atividades cívicas e culturais; bem como incenti-
restante da cidade. var a valorização e preservação da Laguna Mundaú e paisagem circundante at-
Com essa análise, de modo geral, foi observado o grande nível de insatisfação dos ravés de espaços de contemplação e, consequentemente, oferecer ao local visibili-
usuários, que quase sempre discordaram totalmente da qualidade dos serviços pú- dade quanto ao poder público e privado. Com isso, idealiza-se promover a criação
blicos oferecidos em suas localidades (Figura 4). de um marco (LYNCH, 1980) para a população, através de um projeto singular,
ESTUDO DA ÁREA E SUAS PROBLEMÁTICAS passível de se destacar em meio ao entorno e promover identificação aos mora-
dores, características acentuadas pelo colorido do projeto.
O contorno urbano em estudo (Figura 1) localiza-se na região noroeste da cidade
de Maceió, sendo limitado pela Laguna Mundaú e pela conformação geológica de Além disso, para percursos mais acessíveis aos pedestres, propõe-se uma qualifi-
encostas. Assim, a geografia do recorte urbano tem influência direta nas variantes cação das calçadas e vias, de acordo com as normas de acessibilidade previstas na
da mobilidade e dinâmicas do espaço. Dada a precariedade das alternativas de NBR 9050 (ABNT, 2015), por meio de sua pavimentação, arborização e ajuste de
locomoção (VLT - veículo leve sobre trilhos -, linhas de ônibus, vias, calçadas) e a dimensões.
inexistência de transportes que vençam o relevo acentuado de modo efetivo, o de-
slocamento dos moradores e demais usuários do bairro é dificultado. Desse modo,
a população situada nas partes de alto relevo precisa, para atingir as vias de acesso
CONSIDERAÇÕES FINAIS
da parte baixa, fazer um percurso por vezes muito maior, circundando todo o
Os estudos sobre o recorte analisado possibilitaram a constatação de sua im-
bairro. Assim, enfrentam congestionamento excessivo nas vias de trânsito e baixa
portância e contribuição na história e desenvolvimento da capital alagoana.
qualidade dos transportes públicos, o que impacta diretamente na qualidade de
Assim, a proposta lançada tem como objetivo reverenciar sua significância e evi-
vida.
denciar essa área, que ao longo dos anos foi tão negligenciada pelo poder público.
Para tanto, a revitalização da área visa a melhorIa da qualidade de vida da popu-
Além disso, o potencial recreativo e as belezas naturais da orla lagunar são ine-
lação local, propiciando uma mobilidade adequada – diminuindo o tempo gasto
gáveis, apesar de a infraestrutura ao longo do recorte urbano ser marcada pelo des-
em locomoção e facilitando o acesso aos serviços básicos, mercado de trabalho,
caso do poder público.
lazer e integração com as outras partes da cidade.
A região conta ainda com a memória e carga histórica da formação da cidade de
Evidenciar esse recorte da cidade, outrora tão importante para sua formação, é
Maceió, explícita no traçado de algumas de suas ruas, nos trilhos do trem e nos ex-
fundamental para resguardar sua significância e despertar o interesse do poder
emplares de edificações históricas do século passado, bem como na presença e de-
Figura 4: Respostas obtidas em entrevista online com moradores do recorte estudado.
público, estimulando melhorias nos investimentos e serviços do local, tirando sua
poimentos dos próprios moradores antigos da região, que são verdadeiros pat-
Fonte: Google Forms, 2018. população de uma situação de marginalização social e econômica, efetivando,
rimônios vivos e esbanjam conhecimento popular. Todavia, essa é uma Maceió que
portanto, qualidade de vida.
poucos têm acesso e conhecimento, especialmente pela falta de visibilidade e por
interesses políticos.
RESUMO DAS PROBLEMÁTICAS REFERÊNCIAS
Com isso, de modo a entender a atual dinâmica do recorte de estudo quanto à mo-
bilidade, dialética entre a localidade e seu entorno, o uso de espaços públicos de Adobe Systems. (2018) Adobe Illustrator, CS6 version.
Diante de tal contexto, as maiores problemáticas detectadas no contorno urbano
lazer e a interferência da Laguna Mundaú, foram realizados: são: Associação brasileira de normas técnicas (ABNT). (2015) NBR 9050: Acessibilidade a edifi-
cações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, Rio de Janeiro.
MAPEAMENTO Ineficiência dos meios de mobilidade quanto à sua integração e/ou qualidade
(VLT, ônibus e vias); Cavalcanti, D. B. (2017) Lutando por Um Lugar na Cidade de Maceió, Brasil, Revista GEO
O mapeamento multidisciplinar - de vias existentes, qualidade das calçadas, para- UERJ, Rio de Janeiro, n. 30.
Calçadas inacessíveis;
das e terminais de ônibus, mirantes/praças, vazios urbanos, relevo - foi desenvolvi-
Desvalorização da Orla Lagunar - também motivada pelo interesse turístico e
do a fim de ampliar a visão crítica e espacial sobre o recorte estudado, usando o Cittati. (2018) CittaMobi.
econômico voltado exclusivamente para a orla marítima;
recurso de sobreposição de mapas, a partir de visitas in loco e com auxílio dos soft-
wares Google Earth (GOOGLE, 2018), Illustrator (ADOBE SYSTEMS, 2018) e Corel Dificuldade de acesso e integração com o entorno; Corel Corportation. (2018) Corel Draw, Graphics Suite X8.
Draw (COREL CORPORATION, 2018). Ausência de espaços públicos de lazer de qualidade.
Faria, G. M. G.; Costa, V. R. (2014) Conjunto habitacional popular, tecido urbano e esfera
pública – Maceió, Alagoas, Brasil: 1950-2000, Paisagem e Ambiente: ensaios, São Paulo,
Desse modo, em relação à qualidade e/ou inexistência das calçadas, notou-se a ina-
n.334.
cessibilidade pela não pavimentação, falta de adequação ao relevo e/ou pequenas PROPOSTA PROJETUAL
dimensões, impróprias ergonomicamente. Já sobre as vias (Figura 4), destacam-se Google Inc. (2018) Google Earth.
a Avenida Major Cícero de Góes Monteiro, que corta a área de estudo ligando-a à Face aos diversos problemas elencados, de modo a proporcionar mobilidade de
região sul e norte, quase paralelamente à linha do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos); qualidade ao recorte urbano, essencial para promover à população o acesso ao Jacobs, J. (2011) Morte e vida de grandes cidades, Martins Fontes, São Paulo.
e a Avenida Fernandes Lima, cujos acessos são dificultados pelo acentuado relevo. mercado de trabalho, serviços de saúde e educação e atividades políticas, recreati-
vas e culturais (SEREBRISKY, SUÁREZ-ALEMÁN, 2017), por meio do acesso diversifi- Lynch, K. (1980) A imagem da cidade, Martins Fontes, São Paulo.
Os pontos de parada de ônibus concentram-se ao redor da primeira via citada, to- cado a meios de transporte público e da conexão entre as partes alta e baixa da
talizando mais de 20 em seu eixo (CITTATI, 2018) e os terminais de ônibus locali- região, propõe-se a integração entre os diferentes modais já atuantes no local (ter- Rolnik, R. (2015) Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era das
finanças, Boitempo, São Paulo.
zam-se de modo central nos bairros Jardim Petrópolis e Fernão Velho. minais de ônibus, estações de VLT – veículo leve sobre trilhos e vias de au-
tomóveis) a partir de uma rede de teleféricos (Figura 5), que também conferem Serebrisky, T.; Suárez-alemán, A. (2017) ¿Los teleféricos como alternativa de transporte
Quanto ao relevo (Figura 3), percebe-se a configuração de uma grande encosta lin- integração com os bairros e vias circunvizinhas. urbano?: ahorros de tiempo en el sistema de teleférico urbano más grande del mundo: La
deira à orla lagunar, na qual estão locadas a maioria dos mirantes/praças. Já os Paz- El Alto, Banco Interamericano de Desarrollo, Nova Iorque.
vazios urbanos, concentram-se nas áreas de maior declividade e nos talvegues, Essa proposta sustenta-se no seu baixo custo de instalação, manutenção, menor
ademais são encontrados em pontos específicos das áreas mais habitadas. poluição e facilidade de integração a redes de transporte já existentes; e inspira-se Simões, L. (2017) Maceió 200 anos, Instituto Arnon de Mello, Maceió.

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