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2º Lugar

Categoria Técnico-Profissional

Análise da Gestão de Custos no


Transporte Público Urbano:
um estudo de caso
Antônio Artur de Souza não compreendiam de forma satisfatória os métodos
Ewerton Alex Avelar
de custeio, que normalmente subsidiam a geração de
Terence Machado Boina
informações de custos das empresas de uma forma
geral, especificamente o custeio variável. Caso os fun-
Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa damentos desse método de custeio fossem utilizados
que teve como objetivo analisar a gestão de custos de pela empresa estudada, possivelmente ela teria mais
uma operadora de transporte público de Belo Horizonte. chances de lograr êxito em suas operações no transporte
Para a coleta de dados, utilizaram-se as seguintes téc- público de Belo Horizonte. Entende-se que os resultados
nicas: entrevistas semiestruturadas e não estruturadas, da pesquisa apresentados neste artigo oferecem uma
e análise documental. Especificamente com relação às contribuição significativa tanto teórica quanto prática,
informações de custos geradas pela empresa operadora,
identificando condições particulares da gestão de custos
depreendeu-se que o fato de não se adequar à estrutura
de uma operadora de transporte público urbano de
de custos – figura do target costing – estabelecida pela
Belo Horizonte. Novas pesquisas em um número maior de
BHTRANS, notadamente com relação aos custos de
mão de obra e ‘insumos’, foi uma das causas determi- empresas poderiam abordar este tema e gerar informações
nantes para que a empresa não obtivesse sucesso no que agreguem valor ao mundo profissional e acadêmico,
transporte público urbano da capital mineira. Também especialmente da área contábil, no sentido de ratificar ou
foi possível averiguar que os gestores da operadora não os resultados obtidos nesta pesquisa.
CONTABILIDADE REVISTA MINEIRA 31
BHTRANS afeta a gestão da empresa; (c) últimos anos do número de automóveis
Introdução avaliar a importância das informações de nos grandes centros brasileiros traz uma
custos no processo decisório; e (d) verificar série de problemas, tais como o aumento
O transporte público urbano no a adequação da empresa à planilha de da ineficiência e dos congestionamentos no
Brasil se encontra em uma situação que custos da BHTRANS. sistema de transporte, além da expansão
demanda bastante análise por parte dos Este trabalho está segregado em 5 urbana, sendo que, em ambos os casos,
atores envolvidos nessa política pública. seções, contando com esta introdução. Na o usuário cativo do transporte público é
Sua importância é tamanha por ser seção 2, é destacada a revisão da literatura, sensivelmente prejudicado.
responsável pelo deslocamento de 56 abordando o transporte público urbano Schettino (2006) destaca que o trans-
milhões de passageiros diariamente, e a gestão de custos. Posteriormente, na porte público urbano normalmente é es-
respondendo por quase 60% dos des- seção 3, apresenta-se a metodologia em- sencial para uma nação, devido à inclusão
locamentos mecanizados nas cidades pregada para a consecução da pesquisa. social, ao desenvolvimento sustentável e
brasileiras (BORCHARDT, 2005). Em seguida, os resultados da pesquisa são à geração de emprego e renda. A autora
Atualmente, o transporte público descritos e analisados (seção 4). Por fim, ainda afirma que o transporte público
urbano no Brasil enfrenta dificuldades, na seção 5, as considerações finais são deve ser efetivamente considerado
notadamente em relação ao crescimento apresentadas. como serviço essencial e equipara-
dos custos operacionais incorridos pelas do à educação e à saúde, tanto no
empresas operadoras de transporte Revisão da Literatura que se refere à obrigatoriedade dos
(Bichara; Fabul, 2006), tendo em vista 1 Transporte público urbano investimentos, quanto no que diz
demandas substanciais das agências respeito à prestação dos serviços, de
reguladoras e aumentos indiscriminados Conforme Terraz e Torres (2004), o forma a atender as necessidades da
de benefícios para os usuários (ASSO- termo transporte urbano é utilizado para sociedade.
CIAÇÃO NACIONAL DE TRANSPORTES designar os deslocamentos de pessoas e Pereira et al. (2005) afirmam que, se
PÚBLICOS – ANTP, 2008). produtos, que são feitos no interior das parte dos usuários do transporte individual
Especialmente com relação às opera- cidades. Para esses autores, no Brasil, migrasse para o transporte público, uma
doras de transporte público de Belo Hori- a importância do transporte urbano é parcela significativa da população seria
zonte, pode-se dizer que enfrentam uma realçada pelo fato de que cerca de 80% contemplada com benefícios importantes,
forte pressão para a redução de custos de- da população do País vive nas cidades. O que contribuiriam para melhorar a quali-
vido à regulação promovida pela entidade transporte urbano pode ser classificado, dade de vida nas cidades. Dentre esses
gerenciadora: a Empresa de Transportes e de acordo com os referidos autores, em: benefícios, os autores citam: a redução do
Trânsito de Belo Horizonte S.A. – BHTRANS (a) privado ou individual – os veículos são número de veículos nas ruas, a diminuição
(SILVA, 2005). Essa pressão provém, em conduzidos por um dos usuários, que pode do número de acidentes, a minimização de
grande parte, do estabelecimento de uma escolher livremente o itinerário e o horário congestionamentos no trânsito, o aumento
planilha de custos bastante enxuta, adotada da partida, ou seja, há flexibilidade no do número de vagas para estacionamento
pela referida entidade pública desde 1993 tempo e no espaço; (b) público, coletivo ou de veículos, a redução da poluição atmos-
(CRUZ, 1998). de massa – os veículos, em geral, operam férica e sonora, entre outros.
Nesse contexto, uma análise mais com rotas definidas e horários fixos, sendo Nesse sentido, de acordo com Ferro-
detalhada da gestão de custos dessas que a capacidade do veículo é grande, natto et al. (2008), por definição, o trans-
operadoras de transporte público torna-se podendo ser compartilhada com muitos porte coletivo é, por si só, mais eficiente
relevante para evidenciar resultados que passageiros; e (c) semipúblico – apre- do que o transporte particular. Isso ocorre
agreguem valor ao mundo acadêmico e, senta, simultaneamente, características do porque muitas pessoas são transportadas
principalmente, aos gestores e profissio- transporte privado (flexibilidade no tempo, em um único veículo, consumindo menor
nais que atuam na área de transportes. por exemplo) e do transporte público (o quantidade de combustível, ocupando
Assim, este trabalho apresenta os veículo pertence e/ou é conduzido por menos espaço viário, emitindo menor
resultados de uma pesquisa que objeti- uma pessoa diferente do usuário, por quantidade de gases e partículas no meio
vou analisar a gestão de custos de uma exemplo). ambiente, provocando menos congestio-
operadora de transporte público de Belo Segundo a ANTP (2008), o transporte namentos e acidentes.
Horizonte. Para tanto, a pesquisa apre- público se destaca dos demais (principal- Entretanto, verifica-se que o transporte
sentou os seguintes objetivos específicos: mente no caso do transporte privado), público urbano tem se tornado, de modo
(a) analisar as informações disponíveis de forma geral, no que tange à melhoria geral, mais complexo na maioria dos grandes
aos gestores para subsidiar a tomada de na qualidade de vida da população como centros urbanos brasileiros. Geralmente, nas
decisão gerencial; (b) analisar como a um todo. De acordo com a associação cidades com população acima de 50.000
metodologia de distribuição de receitas da supracitada, a expansão percebida nos habitantes, o transporte público se torna
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mais relevante, e está usualmente atrelado pode ser considerado como uma atividade do número de automóveis e o de ônibus
às características de cada cidade, como renda, essencial para a sociedade. no período de 2004 a 2008 na cidade de
taxa de mobilidade, distribuição modal (AS- Em Belo Horizonte, local de realização Belo Horizonte.
SOCIAÇÃO NACIONAL DAS EMPRESAS DE da pesquisa apresentada neste artigo, o do- Verifica-se, na Tabela 1, que o transpor-
TRANSPORTES URBANOS – NTU, 2007). mínio dos ônibus sobre os demais meios de te público por meio de ônibus é essencial
Terraz e Torres (2004) afirmam que, transporte parece ser ainda mais evidente. para a população da capital mineira,
atualmente, o veículo utilizado com maior A grande maioria da população da referida correspondendo, em média, a 87,76% da
cidade utiliza o ônibus para se deslocar, oferta de transporte na cidade. Cruz (1998)
frequência nas grandes cidades brasileiras
tal como destacam os dados apresentados também destaca a importância do estudo
para atuar no transporte público urbano é
na Tabela 1, divulgados pela BHTRANS. A do transporte público por ônibus em Belo
o ônibus. Cançado (1999) destaca que o
Horizonte, ao afirmar que a referida cidade,
serviço de transporte público por ônibus Tabela 2, por sua vez, apresenta a evolução
já em 1997, apresentava
o maior número de empresas de
Tabela 1: Número de usuários de transporte público em Belo Horizonte ônibus urbano operando no país,
Serviços 2004 2005 2006 2007 2008 possibilitando uma dinâmica própria
Ônibus 33.364.358 34.405.094 35.191.803 35.466.141 36.085.788 no relacionamento com o poder
Suplementar 1.594.421 1.568.079 1.717.926 1.865.788 2.044.951 concedente e órgãos gerenciadores;
Trem envolve diversas questões como a
2.594.900 2.666.125 2.963.077 3.290.713 ---
Metropolitano
produção do serviço, negociação,
Vilas e Favelas 136.145 208.827 253.086 264.379 299.417
fiscalização e regulamentação.
Fonte: Adaptado de BHTRANS (2009) O transporte público por meio de
ônibus no Brasil normalmente é feito por
empresas operadoras concessionárias do
Tabela 2: Evolução do número de automóveis e de ônibus no período de 2004 poder público. Terraz e Torres (2004) e
a 2008 em Belo Horizonte Cruz (1998) destacam a importância desse
Variação (%) entre 2004
Veículo 2004 2005 2006 2007 2008 modelo, uma vez que as empresas priva-
e 2008
Automóvel 601.962 628.303 673.301 730.466 785.904 30,56 das geralmente possuem uma eficiência
Ônibus 6.142 6.134 6.611 6.804 7.028 14,43 superior às organizações públicas, que,
nesse contexto, prestam melhores serviços
Fonte: Adaptado de BHTRANS (2009)
como entidades fiscalizadoras. De acordo
Tabela 3: Planilha de custos atualmente utilizada pela BHTRANS com Arruda et al. (2008):
A Constituição Federal Brasileira
ITEM % DO CUSTO TOTAL promulgada em 1988 atribui, em seu
Combustível 17,89 art. 175, ao Poder Público, a presta-
Lubrificante 0,91 ção dos chamados serviços públicos.
Contudo, em 1990, foi promulgada
Rodagem 2,04
a Lei n° 8.031 que cria o Programa
Peças e Acessórios 6,57 Nacional de Desestatização, que tem
Remuneração/Veículos 4,36 como principal objetivo a reordenação
da posição estratégica do Estado na
Remuneração/Instalações e Equipamentos 1,41
Economia. Transferindo a execução de
Remuneração/Almoxarifado 0,28 serviços públicos de execução direta
Depreciação 7,23 ou indireta do Estado para a iniciativa
Pessoal de Operação 35,82 privada, sob forma de concessão,
autorização ou permissão.
Despesas Administrativas 13,58
Pressupõe-se que os gestores das em-
Seguros/IPVA 0,57 presas operadoras de transporte público,
Sistema de Bilhetagem Eletrônica – SBE 1,94 comumente advindos da iniciativa privada,
visem alcançar um retorno adequado do
Custo de Gerenciamento Operacional – CGO 1,85
capital investido nas empresas, como
Tributos – ISS/COFINS/PIS 5,55 destacam Júnior et al. (2008) e Meneses,
CUSTO TOTAL 100,00 Santos e Silveira (2006). Entretanto, uma
Fonte: Adaptado de BHTRANS (2009) variável fundamental para que os gestores
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das empresas operadoras avaliem o poten-
cial retorno de seus empreendimentos se Estimação Análise de Feedback –
refere ao preço (tarifa) cobrado pelo servi- de variância dos informações
Custos Custos de custos
ço prestado. De acordo com Silva (2005),
os preços normalmente são definidos
Figura 1: Processo de gestão de Custos
pelas entidades reguladoras do transporte Fonte: Adaptado de Hamilton (2004)
público. A referida autora destaca que
“ao poder público compete especificar o itinerário dessa linha, a BHTRANS determi- transporte urbano terá impacto be-
serviço a ser prestado [...] e determinar as na a alocação de um número estabelecido néfico para os usuários e sociedade
tarifas, admitindo que o operador esteja de operadores para os veículos daquela como um todo. Isso porque o nível
linha prestarem o serviço de transporte. de qualidade do serviço e os preços
prestando esses serviços em regime de
Dessa forma, estima-se o custo com mão cobrados pela realização dos mes-
eficiência técnica”.
mos poderão ter como referência
Em Belo Horizonte, até o ano de 1982, de obra. Fundamentado nessa sistemática
as empresas que otimizaram seus
era utilizado o modelo tarifário para re- de estimação de dados, a BHTRANS forma o
processos e eliminaram as fontes
munerar as empresas operadoras (CRUZ, preço da tarifa do transporte público urba-
de ineficiência.
1998). Segundo Orrico et al. (1996), no de Belo Horizonte (BOUZADA, 2003).
essa forma de remuneração atribuía às Diante do exposto, percebe-se que a 2 Gestão de custos
empresas operadoras as receitas por elas necessidade de uma gestão de custos eficaz
Em sentido amplo, Hansen e Mowen
auferidas, por meio das tarifas cobradas e eficiente passou a ter uma importância (2006) conceituam a gestão de custos
dos usuários pela prestação dos serviços maior no ambiente operacional das em- como o processo de identificar, coletar,
de transporte. Há também outra forma de presas operadoras de transporte público mensurar, classificar e relatar informa-
remuneração das empresas operadoras (Schettino, 2006), especialmente em Belo ções úteis aos gestores para o custeio, o
de transporte público, denominada afre- Horizonte. Diversos estudos destacam a planejamento, o controle e a tomada de
tamento. Nessa forma de remuneração, usual importância da gestão de custos decisão. A gestão de custos também pode
o montante direcionado às empresas é nas empresas operadoras de transporte ser compreendida como uma atividade
calculado pela diferença entre os custos público, tais como Pereira et al. (2005) e que procura estimar, controlar e analisar
operacionais incorridos e as receitas pro- Meneses, Santos e Silveira (2006). Esses informações de custos, envolvendo, assim,
venientes das tarifas cobradas dos usuários autores estudaram aspectos relacionados à três diferentes processos: estimação de
do transporte pelas empresas. O cálculo gestão de custos em empresas operadoras custos (EC), análise de variância de custos
desses custos é baseado numa planilha ela- de transporte público que atuam em Belém (AVC) e uso do feedback das informações
borada pela BHTRANS, sendo gerenciada e na região metropolitana de Porto Alegre, de custos (HAMILTON, 2004). A Figura 1
por uma Câmara de Compensação Tarifária respectivamente. apresenta essa relação.
(CCT). Esse modelo atualmente utilizado Nesse sentido, pode-se afirmar que há A estimação de custos (EC) se cons-
pela BHTRANS foi uma iniciativa pioneira uma grande relevância na geração e no uso titui num processo de determinação da
no País (BHTRANS, 2009). A Tabela 3 de informações de custos para a gestão das quantidade e previsibilidade dos custos
apresenta a planilha de custos utilizada operadoras, além de ser fundamental para requeridos para construir e equipar uma
atualmente pela BHTRANS. subsidiar análises das organizações fisca- instalação, manufaturar determinado bem
A CCT calcula o montante devido a lizadoras, como a BHTRANS. A partir de ou fornecer um serviço (HORNGREN,
cada empresa operadora de transporte informações de custos, conforme Pereira SUNDEN e STRATTON, 2004). Dias Filho
et al. (2005), “é importante que o órgão e Nakagawa (2001) afirmam que os mé-
público, tendo em vista a quilometragem
gestor acrescente em seus processos de todos usualmente utilizados para obter
percorrida pelos ônibus. Assim, a diferença
licitação instrumentos de monitoramento, estimativas de custos são classificados em:
entre os custos totais incorridos e as recei-
isto é, critérios para avaliação de desempe- Estudos de Engenharia Industrial e Análise
tas auferidas pelas empresas operadoras nho”. Entre os indicadores de desempenho
de transporte público corresponde ao de Dados Históricos. O primeiro método
normalmente utilizados, Silva (2005) e considera projetos de produtos, volume
montante que será recebido pela empresa Terraz e Torres (2004) destacam: custo
de materiais consumidos na produção e
prestadora do serviço de transporte públi- por passageiro e custo das viagens sem
outros insumos, ou seja, esse método tem
co. Caso a receita auferida tenha sido maior passageiros. Tendo em vista a relevância
por objetivo estabelecer relações físicas
que os custos incorridos, a empresa deve social do transporte público na esfera
municipal, em última análise, a utilização entre os insumos produtivos e as saídas do
devolver a diferença à CCT.
Exemplificando, conforme explicita adequada dos recursos parece ser funda- processo. Por outro lado, o método para
Bouzada (2003), após programar um qua- mental para a continuidade dos serviços estimar os custos baseados na análise de
dro de horários, que é o número de viagens prestados por essas empresas, conforme dados históricos busca fornecer estimativas
especificadas para uma determinada linha relata Borchardt (2005): de custos futuros, com base em dados de
num determinado período de tempo, e o A melhor eficiência do sistema de períodos anteriores.
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Entretanto, as ECs passadas, tal como ABC é um método de atribuição dos custos dicos da CAPES), trabalhos que versavam
destacado por Niazi et al. (2007), poderão indiretos que utiliza inúmeras bases de sobre o tema estudado.
ser ainda mais úteis na tomada de decisões alocação, diferentemente do custeio por Durante a pesquisa, foram utilizadas
futuras, ao serem comparadas com os absorção. como técnicas para a coleta de dados:
custos incorridos (AVC). Essas variações de Por sua vez, no custeio variável (ou entrevistas semiestruturadas e não estrutu-
custos são diferenças entre os resultados direto), alocam-se apenas os custos variá- radas, bem como análise documental. Se-
planejados e os efetivamente ocorridos veis de produção aos produtos fabricados. gundo Fontana e Frey (2005), na entrevista
(ATKINSON et al., 2008). As variações Berto (2004) destaca que esse método semiestruturada, o entrevistador utiliza um
dos custos estimados e os efetivamente de custeio é bastante utilizado para fins roteiro de entrevista relativamente aberto,
incorridos em um dado período podem gerenciais, permitindo várias análises a o que possibilita maior amplitude de
ser decompostas em variações do ajuste partir dos dados gerados, como a de custo- questionamentos. Tanto na entrevista não
de produção, dos preços dos insumos volume-lucro. Segundo Frossard (2003), estruturada, sem um roteiro estabelecido,
e da produtividade (HILTON, 1997; no custeio variável, a apropriação aos como na entrevista semiestruturada, o
HORNGREN, SUNDEN e STR AT TON, produtos fabricados ou serviços prestados entrevistado tem liberdade para interpretar
2004). Normalmente, as empresas devem é composta, exclusivamente, pelos custos
e opinar sobre determinados acontecimen-
realizar uma AVC e desempenhar ações que se alteram na proporção do volume
tos (FONTANA; FREY, 2005).
apropriadas quando observar variações de produção/serviço, tendo como exemplo
As entrevistas semiestruturadas foram
entre os custos esperados e os ocorridos a mão de obra direta, materiais diretos e
feitas com os principais gestores da empresa
(VANDERBECK; NAGY, 2001). outros custos de mesma natureza.
estudada, responsáveis pelo processo de ges-
Destaca-se ainda a importância do uso tão de custos e de avaliação de desempenho.
Metodologia
das informações de custos para aprimorar Além desses gestores, foram entrevistados
os processos decisórios futuros. Sob a (entrevistas não estruturadas) os principais
A metodologia utilizada nesta pesquisa
óptica do controle gerencial, Anthony funcionários dos referidos processos, que
apresenta um caráter exploratório e quali-
e Govindarajan (2002) comparam esse participam diretamente prestando informa-
tativo, compreendendo um estudo de caso
processo a um termostato (uma espécie ções relacionadas a custos.
realizado numa operadora de transporte
de sensor), ou seja, deve-se estar cons- público da cidade de Belo Horizonte. A Já a análise documental pode ser reali-
tantemente recebendo novas informações abordagem da pesquisa qualitativa e ex- zada a partir de qualquer registro escrito ou
sobre o ambiente operacional da empresa ploratória se refere à utilização de métodos em meio magnético utilizado como fonte
– feedback. Ademais, métodos de custeio geralmente associados ao levantamento de informações (BARDIN, 2004). Essa aná-
utilizados para gerenciar tais informações e à análise de um texto escrito ou falado, lise foi promovida na empresa tomando por
são normalmente fundamentais nesse ou a uma observação direta de um com- base alguns documentos disponibilizados
processo de feedback. Berto (2004) portamento pessoal (CASSEL; SYMON;
apresenta os três principais métodos de 1994). O estudo de caso, por seu turno,
custeio utilizados no meio empresarial: caracteriza-se pela observação direta dos
por absorção, ABC (activity-based costing) acontecimentos contemporâneos, dentro O ABC pode ser
e variável (ou direto). do contexto da vida real, sendo ampla- conceituado como um
Segundo Moinuddin, Collins e Bansal mente relevante quando os limites entre método de custeio
(2007), o custeio por absorção (tradicio- o fenômeno (teoria) e o contexto prático que visa quantificar as
nal) teve origem a partir dos métodos (real) ainda não estão bem definidos/ atividades realizadas por
derivados da aplicação dos princípios delimitados (YIN, 2005). uma empresa, utilizando
contábeis geralmente aceitos. Tal método Para a realização da pesquisa empí- direcionadores para alocar
direciona os custos (diretos ou indiretos) rica, foi selecionada uma operadora de os gastos de uma forma
aos produtos, baseando-se em alocações transporte público no município de Belo mais realista aos produtos
geralmente arbitrárias, tais como horas de Horizonte. Por se tratar de um estudo e serviços (ATKINSON et
mão de obra direta, horas-máquina e custo exploratório, utilizou-se a metodologia al., 2008). Já Megliorini
dos materiais diretos. de uma amostra por conveniência que, (2003) afirma que o ABC é
O ABC pode ser conceituado como um segundo Cooper e Shindler (2000), é um um método de atribuição
método de custeio que visa quantificar as procedimento de seleção de casos que dos custos indiretos que
atividades realizadas por uma empresa, podem ser interessantes em estudos como utiliza inúmeras bases de
utilizando direcionadores para alocar os este. Inicialmente, foram pesquisados, em alocação, diferentemente
gastos de uma forma mais realista aos anais de congressos, sites de busca de teses do custeio por absorção.
produtos e serviços (ATKINSON et al., e dissertações acadêmicas, e portais de
2008). Já Megliorini (2003) afirma que o base de dados (EBSCO e portal de perió-
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em diversos setores, principalmente aque- o valor arrecadado pela empresa operadora Em teoria, sua ineficiência a obrigou a
les que produzem informações financeiras no período, assim como o resultado da sair desse mercado, uma vez que um
e não financeiras relacionadas à gestão de subtração desse valor pelo custo admiti- dos grandes objetivos (se não o maior)
custos da empresa. do pela CCT. Caso o valor fosse positivo, é obter uma rentabilidade adequada, tal
Os dados coletados por meio das entre- a empresa teria que devolver parte do como apresentam Pereira et al. (2005) e
vistas foram analisados qualitativamente com dinheiro, por meio de um depósito na Meneses, Santos e Silveira (2006).
base na análise de conteúdo. De acordo com conta-corrente da CCT. Do contrário, a Identificou-se que os gestores da
Bardin (2004), a análise de conteúdo abrange empresa teria o direito de receber recursos empresa não conseguiam discernir
as iniciativas de explicitação, sistematização e da CCT. Percebe-se, diante do exposto, o adequadamente quais eram os custos
expressão do conteúdo de mensagens, obje- modelo target costing (custo-alvo/meta) a variáveis, que se alteravam de acordo com
tivando efetuar deduções lógicas e justificadas ser atingido pelas empresas operadoras de a quilometragem percorrida pelos ônibus,
a respeito da origem das referidas mensagens transporte público em Belo Horizonte. como depreciação e insumos, bem como
(seu emissor, seu contexto, assim como os efei- Na pesquisa realizada nos documentos quais eram os custos fixos, que não se
tos que se pretende causar por meio delas). da Operadora XY, em nenhum dos períodos alteravam de acordo com a quilometragem
Destaca-se ainda ter sido realizada uma analisados, a empresa incorreu em custos percorrida pelos ônibus: tributos e despe-
triangulação de dados no intuito de melhorar maiores que as receitas auferidas. Desse sas administrativas, por exemplo.
a confiabilidade dos dados coletados por modo, a empresa sempre apresentou débitos Além disso, vale ressaltar que, dentro
meio das técnicas supracitadas. A triangula- na CCT, tendo que, periodicamente, repassar dos custos estabelecidos pela BHTRANS, o
ção consistiu em analisar minuciosamente recursos arrecadados à referida câmara. custo com mão de obra pode ser conside-
diversos dados distintos sobre um determi- Ressalta-se que um dos profissionais rado misto (variável e fixo). De certo modo,
nado fenômeno, no intuito de ratificar os entrevistados afirmou que essa política ele varia de acordo com a quilometragem
resultados encontrados (YIN, 2005). de distribuição de recursos (modelo de percorrida, ou seja, quanto mais quilome-
afretamento) foi a grande responsável pela tragem percorrida mais funcionários são
Apresentação e Discussão decisão tomada pelos gestores de encerrar necessários para trabalhar (notadamente
dos Resultados suas atividades de transporte público em motoristas, trocadores e pessoal da
Belo Horizonte, sob a jurisdição da BHTRANS. manutenção dos ônibus). Apesar disso,
No intuito de resguardar informações Segundo o mesmo funcionário, a empresa esse custo também pode ser considerado
sigilosas, a empresa operadora de trans- perdia recursos importantes, tornando a fixo em certa medida, uma vez que ele é
porte público estudada na pesquisa será operacionalização de suas atividades inviável, usualmente conhecido pelas empresas
denominada de Operadora XY. A Operado- com base no modelo adotado pela CCT. operadoras de transporte urbano, tendo
ra XY já não mais atua como prestadora de Nesse sentido, verificou-se que, em em vista seu quadro de funcionários rela-
serviço no município de Belo Horizonte há alguns períodos, a Operadora XY tinha difi- tivamente estável.
alguns anos. A referida operadora atuou no culdades em arcar com suas obrigações com Nesse sentido, pode-se dizer que esse
município sendo regulada pela BHTRANS a CCT. Por meio da análise documental, foram conhecimento limitado das metodologias
entre meados da década de 1990 e primeira encontradas cartas de cobrança de valores de custeio também foi fator fundamental
metade da década atual. atrasados da Operadora XY em relação à CCT. para que a empresa abandonasse suas
Observou-se que, tal como apresenta- Isso ocorreu pelo fato de a operadora XY não operações no transporte público da capital
do por Orrico et al. (1996), a CCT tem uma ter condições de quitar suas obrigações no mineira. Essa limitação de conhecimento
atuação direta no ambiente operacional período determinado. provavelmente impediu que a empresa se
das empresas de serviço público de Belo Tal situação indica que, para a Ope- adequasse (target costing) às exigências
Horizonte, com uma influência deter- radora XY, o modelo de afretamento não da estrutura de custos elaborada pela
minante em suas gestões. Num período parecia adequado, apesar de sua impor- BHTRANS para as empresas que atuam
aproximado de 10 dias, a CCT envia para tância para o poder público relatada na nesse segmento econômico de serviço de
a empresa operadora um documento no literatura em vários estudos, tal como o transporte público urbano.
qual constam dados referentes à operação de Cruz (1998). Sob o modelo tarifário, Uma informação interessante se refere
do período analisado. contudo, a Operadora XY obteria resultados ao fato de o demonstrativo enviado perio-
Assim, em média três vezes por mês, a muito melhores, uma vez que seus custos dicamente à empresa pelo CCT apresentar
operadora recebia uma carta da BHTRANS, continuariam os mesmos (em vez daqueles o índice IPK, que mede a quantidade de
acompanhada de um demonstrativo que admitidos pela BHTRANS), mas as receitas passageiros por quilômetro. Esse índice
indicava os quilômetros estimados per- seriam maiores. é largamente citado na literatura como
corridos pelos veículos da empresa no Entretanto, sob a perspectiva dos que um bom indicador de avaliação de de-
período. Sobre esse valor, calculavam-se defendem o afretamento, a Operadora XY sempenho para as empresas operadoras
os custos estimados (admitidos) pela CCT. não estava apta a se manter no mercado de transporte público, como destacam
Em seguida, o demonstrativo determinava de transporte público de Belo Horizonte. Terraz e Torres (2004). Desse modo, a
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indicação desse índice nos demonstrativos como o primeiro componente de custos da trabalho para os gestores da empresa na
pode estimular seu cálculo pelas empresas Tabela 4, refere-se a gastos diversos relacio- realização de análises de custos.
operadoras, de forma a auxiliar em uma nados à operação da empresa. No caso da A partir da análise da Tabela 4 e do
gestão de custos mais eficaz. planilha de custos da BHTRANS, refere-se Gráfico 1, verifica-se haver algumas diver-
A administração mais eficiente de uma aos seguintes valores: Combustível (17,89%), gências fundamentais nos percentuais de
empresa operadora, por sua vez, normal- Lubrificante (0,91%), Rodagem (2,04%) e custos apresentados pela Operadora XY e
mente acarreta sua adequação à planilha Peças e Acessórios (6,57%). De forma geral, os admitidos pela BHTRANS. A primeira
de custos elaborada pela BHTRANS. Com pode-se constatar que esta categoria corres- diferença facilmente perceptível se refere
base em dados financeiros dos últimos ponde a custos variáveis, que habitualmente aos insumos demandados para a opera-
6 anos de atividades da Operadora XY, se alteram de acordo com a quilometragem ção da empresa: enquanto a BHTRANS
elaborou-se uma análise dos valores des- percorrida pelos ônibus das operadoras de admite um custo de 27,41% sobre os
tacados nos relatórios dessa empresa e dos transporte público. custos totais, a Operadora XY apresenta
valores apresentados na planilha de custos Salienta-se ainda o fato de que foram um valor substancialmente menor, de
da referida entidade reguladora. necessários ajustes para adequar as no- 18,19%, ou seja, 9,22% inferior. Por se
Tal como ressaltado, a Operadora XY menclaturas utilizadas pela BHTRANS e tratar de um custo variável, essa diferença
sempre repassou parte de suas receitas à pela Operadora XY, tal como a indicada contribuiu sensivelmente para diminuir o
CCT, o que influenciou de forma deter- anteriormente. Isso se deve ao fato de as montante direcionado à Operadora XY
minante em sua decisão de abandonar o contas utilizadas pela Operadora XY serem pela BHTRANS.
mercado de transporte público da capital distintas daquelas usadas pela entidade Outra variação importante presente
mineira. Isso ocorreu porque seus custos reguladora. Todavia, sob a perspectiva nos dados se refere aos custos com pes-
sempre superaram os admitidos pela plani- dos pesquisadores, essa inadequação soal de operação. A planilha de custos da
lha de custos da BHTRANS. Na Tabela 4, é das contas da Operadora XY, do ponto de BHTRANS apresenta o valor admitido de
apresentada uma relação dos percentuais vista gerencial, foi ruim, pois as análises 35,82%, porém o valor apresentado pela
dos custos totais admitidos pela referida gerenciais se tornaram mais complexas Operadora XY é de 43,62%, ou seja, 7,80%
entidade pública e a média dos custos e menos objetivas, demandando maior mais alto que o da entidade reguladora.
incorridos pela Operadora XY nos últimos
Tabela 4: Comparação das variações entre os custos incorridos pela empresa
6 anos. A Figura 2, por sua vez, resume
Operadora XY e os admitidos pela planilha de custos da BHTRANS
graficamente os mesmos dados.
Por outro lado, alguns aspectos devem Componente do custo BHTRANS (A) Operadora XY (B) Variação (A – B)
Insumos 27,41% 18,19% 9,22%
ser ressaltados antes de analisar os dados
Depreciação 7,23% 5,83% 1,40%
apresentados na Tabela 4. Alguns parâ- Pessoal de operação 35,82% 43,62% (7,80)%
metros foram considerados semelhantes Despesas administrativas 13,58% 14,35% (0,77)%
entre a planilha de custos da BHTRANS e Tributos 6,12% 6,05% 0,07%
os dados disponibilizados pela gerência da Outros - 2,11% (2,11)%
Operadora XY. Isso foi necessário por se SBE/CGO/Remuneração 9,84% 9,84% -
tratar de dados de natureza complexa e não Total 100,00% 100,00%
Fonte: Elaborada pelos autores
terem sido acessados pelos pesquisadores
em sua plenitude.
Esses dados se referem à remuneração Comparação entre os custos da Operadora XY e a planilha de custos da BH-TRANS
esperada pelos gestores da empresa sobre
alguns componentes dos custos – margem 50,00

de lucro. Tal como apresentado na Tabela 40,00

3, os percentuais utilizados atualmente 30,00


Valores (em %)

pela BHTRANS são: Remuneração/Veícu- 20,00

los (4,36%), Remuneração/Instalações e 10,00

Equipamentos (1,41%) e Remuneração/ -

Almoxarifado (0,28%) – perfazendo


Insumos

Depreciação

Pessoal de operação

Despesas
administrativas

Impostos

Outros

SBE/CGO/Remuneração

(10,00)

um total de 6,05%. Ademais, os valores (20,00)

referentes ao Sistema de Bilhetagem


Eletrônica e o Custo de Gerenciamento Componente de custo
BH-TRANS Operadora XY Variação
Operacional apresentados na Tabela 3, por
serem constantes, não foram mensurados Gráfico 1: Síntese gráfica da comparação das variações entre os custos incor-
especificamente para a Operadora XY. ridos pela Operadora XY e os admitidos pela planilha de custos da BHTRANS
Já a categoria ‘Insumos’, apresentada Fonte: Elaborado pelos autores
CONTABILIDADE REVISTA MINEIRA 37
Dessa forma, percebe-se que a Operadora Além disso, os gestores poderiam custos mais eficaz provavelmente poderia
XY não se adequou aos percentuais de utilizar sistemas de informações gerenciais ter auxiliado sobremaneira a continuidade
custos estabelecidos pela BHTRANS. As- para monitorar o desempenho da empresa das operações da empresa XY no mercado
sim, o montante recebido pela empresa ao longo do trabalho. Nesse sentido, o uso de transporte público urbano de Belo
foi menor, em média, 7,80%, no tocante de indicadores para avaliação de desempe- Horizonte.
à mão de obra. nho seria uma excelente ideia que agregaria Ademais, foi possível averiguar que os
As demais variações estão relaciona- valor ao capital da empresa. Além do IPK, gestores da Operadora XY não compre-
das à: (a) Depreciação – a Operadora XY já divulgado pelo demonstrativo do CCT, endiam de forma satisfatória os métodos
apresentou um valor 1,40% inferior ao vários outros indicadores poderiam ser de custeio, que normalmente subsidiam
da planilha da BHTRANS; (b) Despesas utilizados pela Operadora XY, tais como a geração de informações de custos das
Administrativas – Operadora XY apresentou apresentam Terraz e Torres (2004): (a) empresas de uma forma geral, especial-
um valor 0,77% superior ao da planilha da Índice de quilômetros por veículo; (b) Ín- mente o custeio variável. Caso esse método
BHTRANS; (c) Tributos – Operadora XY dice de aproveitamento da frota; (c) Índice de custeio fosse utilizado pela empresa
apresentou um valor 0,07% inferior ao da de mão de obra; (d) Índice de passageiros estudada, possivelmente esta poderia
planilha da BHTRANS; (d) Outros – Custos por quilômetro; (e) Índice de passageiros ter logrado êxito em suas operações no
da Operadora XY (2,11% do custo total) por veículo; (f) Custo por quilômetro; (g) transporte público de Belo Horizonte.
não considerados entre os custos previstos Custo por passageiro; (h) Relação entre o Ressalta-se, tal como destacado an-
pela BHTRANS. valor efetivamente arrecadado e o valor teriormente, que informações acuradas
Destaca-se que essa análise não indica previsto por passageiro transportado. de custos são extremamente relevantes
que os custos da Operadora XY fossem em Por fim, ressalta-se a importância da para o processo decisório, uma vez que
média iguais aos admitidos pela BHTRANS, implementação de um feedback constante agregam valor ao capital das empresas.
pois foram analisados apenas os valores re- das informações de custos mensuradas Com base nelas, por exemplo, a Operadora
lativos (em formato percentual). Por exem- pela empresa, para possibilitar a manu- XY poderia ter se adequado melhor às
plo, os gastos totais da operadora foram tenção de sua competitividade no seu determinações de custos estabelecidas na
superiores aos admitidos pela BHTRANS ambiente operacional. Tal como destacam planilha elaborada pela BHTRANS.
em todos os períodos estudados. Assim, Shank e Govindarajan (1997), é muito im-
Entende-se que os resultados da pes-
apenas a representatividade proporcional portante o estabelecimento de ‘sensores’
quisa apresentados neste artigo oferecem
dos mesmos foi considerada. da empresa no ambiente para captar sinais
uma contribuição significativa, tanto teórica
Ressalta-se ainda o potencial subutilizado do mercado.
quanto prática, identificando condições
das diversas ferramentas disponíveis para
Considerações Finais particulares da gestão de custos de uma
a gestão de custos da Operadora XY. Nesse
operadora de transporte público urbano
sentido, com base nos dados disponibilizados
As dificuldades enfrentadas atualmente de Belo Horizonte. Especificamente com
aos pesquisadores, não foi possível averiguar a
pelas empresas de transporte coletivo relação às informações de custos geradas
utilização de nenhuma metodologia citada por
são constantemente atribuídas a fatores pela Operadora XY, depreendeu-se que
Maher (2001) no processo de EC, que poderia
exógenos, como falta de políticas públi- o fato de não se adequar à estrutura de
auxiliar sobremaneira a gestão de custos na
cas adequadas ou o excesso de cobrança custos estabelecida pela BHTRANS, nota-
Operadora XY. Além disso, percebeu-se também
por parte dos órgãos que regulamentam damente com relação aos custos de mão
o limitado conhecimento dos gestores sobre os
o serviço. Essa cobrança relativamente de obra e ‘insumos’, foi uma das causas
métodos de custeio geralmente utilizados nas
extremada das instituições que regulam determinantes para que a empresa não
empresas de uma forma geral, notadamente
o transporte público nos municípios foi obtivesse sucesso no transporte público
o custeio variável, que, aparentemente, parece
verificada em Belo Horizonte, principal- urbano da capital mineira.
ser indicado para subsidiar a gestão de custos
mente diante das metodologias utilizadas Salienta-se que esta pesquisa apresen-
da empresa.
de EC e de formação de preços das tarifas ta algumas limitações que devem ser des-
Primeiramente, alguma daquelas me-
cobradas dos usuários. tacadas, como o fato de ter sido estudada
todologias de EC poderia auxiliar os gesto-
Constatou-se que a Operadora XY não somente uma empresa. A generalização
res das operadoras a prever seus custos e
utilizava adequadamente as metodologias dos resultados obtidos em uma abordagem
antecipar sua rentabilidade. Talvez, caso os
de EC, preceituadas por Dias Filho e Naka- indutiva parece não ser possível. Por outro
gestores da Operadora XY tivessem utiliza-
gawa (2001). Além disso, identificou-se que lado, pode-se asseverar que os resultados
do alguma metodologia de EC, nem sequer
a metodologia de distribuição de receitas desta pesquisa fornecem indícios de que a
optariam por trabalhar sob a regulação da
pela BHTRANS afetou consideravelmente a gestão de custos nas empresas operadoras
BHTRANS, selecionando uma opção mais
gestão da empresa estudada, uma vez que de transporte público, notadamente de
rentável. Ademais, poderiam antecipar vá-
a Operadora XY não conseguiu se adequar Belo Horizonte, deve ser minuciosamente
rios problemas financeiros ou operacionais,
aos percentuais de custos estabelecidos trabalhada e aperfeiçoada tendo em vista a
melhorando o desempenho da empresa
pela entidade pública – figura do target metodologia utilizada pela BHTRANS: EC e
em sua atividade econômica.
costing. Nesse sentido, uma gestão de de formação de preços das tarifas.
38 REVISTA MINEIRA CONTABILIDADE
Espera-se que a contribuição deste Disponível em: <http://www.antp.org.br>. Acessado baseado em atividades (ABC) quanto
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CONTABILIDADE REVISTA MINEIRA 39

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