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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Edição Especial, pp.

41 - 58, 2009

MOTOBOYS, CIRCULAÇÃO E TRABALHO PRECÁRIO


NA CIDADE DE SÃO PAULO

Ricardo Barbosa da Silva*

RESUMO:
A atividade profissional dos motoboys aparece como produto e necessidade de um contexto histórico
de fin de siècle, revelando parte das transformações socioespaciais na cidade de São Paulo na transição
do século XX para o XXI, e encarnando dois pólos de um mesmo problema a partir da nova condição
da cidade e do mundo do trabalho.
PALAVRAS-CHAVE: Cidade; Espaço; Circulação, Trabalho Precário, Motoboys

ABSTRACT:
The professional activity of motoboys appears as product and necessity of a historical context of fin de
siècle, revealing part of the socio-spatial transformations in the city of São Paulo in the transistion of
century XX for the XXI, embodying two poles of the same problem from the new condition of the city
and the world of the work.
KEYWORDS: City; Space; Circulation Precarious Work, Motoboys

Introdução previsto. São eles, os chamados cachorros


loucos2, que expõem vivas as estratégias e as
A atividade profissional dos motoboys é
lógicas do capitalismo contemporâneo como
um fenômeno urbano bastante recente: tem suas
forma de garantir no espaço as exigências da
origens em meados da década de 80 e impulso
circulação fluída, de modo a garantir acumulação
d ef init i vo nos p r el úd ios d a dé ca d a de 9 0
sempre ampliada do sistema capitalista na cidade
(OLIVEIRA, 2003, p. 38) e, indubitavelmente, é
cada vez mais integrado à paisagem urbana da de São Paulo.
cidade de São Paulo. E é nesta relação tênue entre o motoboy
Porém, devido ao seu rápido e exponencial e a cidade, entre as exigências do tempo e limites
crescimento1, aliado à dinâmica e a natureza de do espaço, entre a expectativa e a satisfação das
sua atividade profissional, os motoboys passam entregas rápidas, entre o luxo e a precariedade,
a ser alvos certos e constantes nas mais diversas entre o imprescindível e o estigmatizado, entre a
controvérsias nas ruas e avenidas de São Paulo, vida e o desalento da morte, que a atividade
pondo ainda mais combustão no seu conflituoso profissional dos motoboys liga-se a uma nova
no trânsito. prática socioespacial na cidade de São Paulo.

São justamente os motoboys no trânsito E é sobre essa nova prática em uma nova
que, entre insultos e gentilezas, entre agressões condição da cidade e do mundo do trabalho que
físicas e morais, entre um acidente e outro, entre esta análise deter-se-á. É neste sentido que este
um retrovisor que cai e uma porta que amassa, artigo visa demonstrar que a problemática da
aceleram forte, pois, antes de tudo, a entrega atividade dos motoboys não começa e nem
precisa chegar ao seu destino certo e no tempo encerra em si mesma. Não pretende classificá-
*
Mestrando em Geografia Humana pelo DG/USP. Orientando da Profª Amália Inês G. de Lemos. E-mail: ric.silva@usp.br
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l os e nq ua nt o her óis ou vi lões do tr ânsit o substituição – de um modelo de acumulação


paulistano. Nem mesmo associar seu modus fordista para um de acumulação flexível
op er andi no t râ nsi to com o r esul ta do, (HARVEY, 1996; ANTUNES, 2003; SOJA, 1993).
estritamente, de sua imperícia e imprudência
À primeira vista, as transformações no
individual. Mas, antes de tudo, compreender essa
regime de acumulação parecem vincular-se
atividade profissional como produto e necessidade
estritamente aos escopos da economia, de fato,
de um contexto histórico de fin de siècle, que
revelam parte das transformações socioespaciais espraia-se na emergência de novas práticas
na cidade paulistana na transição do século XX, sociais e políticas, de novos padrões de consumo
já que contraditoriamente é submetida e reproduz e um crescente setor de serviços, ditando uma
as estratégias e as racionalidades do capitalismo sér ie d e novas m ud ança s nas p rá ti ca s
contemporâneo como forma de garantir as econômicas, políticas, culturais e espaciais
exi gênci as da circulação flui da no espa ço, (HARVEY, 1996, p. 140; GOTTDIENER, 1990, p.
possibilitando realização de parte do consumo em 59; BENKO, 1996).
escala ampliada na cidade de São Paulo. N o fund o, e sse nov o mode lo d e
Essa análise a partir da atividade acumulação, que se reveste do jargão flexível3,
profissional dos motoboys permite, então, evidencia o histórico processo antagônico do
a n al i sar p a rt e da s t ra n sf or ma çõ es capitalismo que se impinge, dialeticamente,
socioespaciais na cidade paulistana na transição através da estratégia de precarização do trabalho
do século XX para o XXI, encarnando dois pólos d e modo a di mi nuir os custos p roduti vos
de um mesmo problema: uma nova condição (CACCIAMALI, 2002; MARTINS, 1994, p. 109;
da cidade e do mundo do trabalho, traduzindo ALVES, 2000, p. 24) que articulada a uma
a ssim, u ma n ova p rá ti ca so ci oespa ci al , sociedade de mercado, embala a cidade inteira
definindo certos usos, formas de apropriação, sob um ritmo cada vez mais acelerado do giro do
intensidade de circulação e as condições de cap it al , d ando g ás a um a nova pr át ica
acessibilidades ao espaço urbano. socioespacial sob a batuta do consumismo.
E é sob r e as t ransf orm açõe s
Na Garupa do Trabalho Precário: socioespaciais na cidade e no mundo do trabalho
características e condições de trabalho dos que a atividade profissional dos motoboys se
motoboys traduz como um ângulo privilegiado de análise.
Pois essa atividade - impulsionada pelas altas
O mundo contemporâneo, que desponta taxas de desemprego (Gráfico 1), pelo intenso
embalado por uma nova etapa do capitalismo crescimento do setor de serviços (Gráfico 2), pela
na transição do século XX para o XXI, revela- implosão e junção de velhas e novas normas de
se p er mead o por t ra n sf o r ma çõ es re gula ment açõe s do tra balho, p elas novas
socioespaciais, reagindo, dialeticamente, na práticas socioespaciais, voltadas para o consumo
estrutura da sociedade, da economia e do desenfreado em um espaço onde a exigência é a
espaço geográfico. circulação sempre fluída, - conecta-se a uma
Ma s essas tran sfo rmaçõ es nã o se densa rede informacional articulada a uma espécie
a p resen t am co mo r u p tu ra do si stema de gestão da circulação no espaço urbano, que
capitalista (HARVEY, 1996, p.164). Nem mesmo visa garantir a circulação fluída de mercadorias,
aparecem dando cabo à centralidade da pessoas e informações que de forma mais ou
categoria trabalho na contemporaneidade menos aguda vem revelando as condições e as
(ANTUNES, 2003, p. 83). Ao contrário, no fundo, contradições de uma das mais predatórias
o estabelecimento desse processo revela-se atividades profissionais da cidade de São Paulo,
como um estágio superior do desenvolvimento principalmente, para um verdadeiro batalhão de
antagônico das forças produtivas do capitalismo motoboys que se enquadram no precário mundo
moderno, que se traduz na transição – não do trabalho.
Motoboys, circulação no espaço e trabalho precário na cidade de São Paulo, pp. 41 - 58 43

1. Gráfico 2. Gráfico

Taxa de Desemprego - Cid. de São Paulo, 1985-2007 Distribuição dos Ocupados por Setor de Atividade Cid. de
%
20 % São Paulo, 1988-2007
18 70
16 60
14 50
12
40
10
30
8
20
6
4 10
2 0
0

Indústria Comércio Serviços

Fonte: Convênio SEADE-DIEESE. Fonte: SEADE-DIEESE.


Organizado por Ricardo Barbosa da Silva. Organizado por Ricardo Barbosa da Silva.

A categoria profissional, usualmente, melhor definição etimológica para esta categoria


cham ad a de m ot ob oys re ce be d iv er sa s profissional. A palavra motoboy, de origem
denominações pela sociedade. E como se trata inglesa, é um neologismo composto pela junção
de trabalhadores que despertam sentimentos que de duas palavras (motorcycle = moto e boy=
variam do amor ao ódio muito rapidamente, garoto). É muito provável que as transformações
a lg uns se li mi ta m a t enta r de nom iná- los no mundo do trabalho tenham contribuído para a
simplesmente de motociclistas ou motoqueiros, proliferação do motoboy, que seria uma espécie
outras tantos, não se prestam a mais do que de metamorfose circulante do antigo office-boy.
estigmatizá-los, sendo chamados por um sem Sabe-se que o termo motoboy em si, carrega
número de pessoas – inclusive por eles mesmos alg umas i mprecauções no q ue se refer e à
– de cachorros loucos. caracterização dessa atividade. Apesar da maioria
deles pertencerem ao sexo masculino, não dá
No caso da Prefeitura do Município de São
conta de explicar o fato de muitas mulheres
Paulo, a Lei Nº 14.491, de 27 de julho de 2007,
ocuparem postos nessa atividade, como também,
no Art. 3º,VII, retrata-os a partir do termo
exclui uma parcela considerável de adultos que
motofrete, que se refere à: “modalidade de
desempenham esta função. Entrementes, diante
transporte remunerado de pequenas cargas ou
da força que o termo motoboy carrega tanto
volumes em motocicleta, com equipamento
positivamente quanto negativamente, servir-se-
adequado para acondicionamento de carga, nela
á dele para melhor ilustrar a problemática dessa
instalado para esse fim”. Em 2003, o Ministério
classe trabalhadora.
do Trabalho e Emprego, define essa categoria a
partir da Classificação Brasileira de Ocupações, De modo geral, essa é uma atividade
no re gi str o nº 5 1 91 -1 0, “M ot ocicl ista no relativamente recente na dinâmica urbana de São
transporte de documentos e pequenos volumes Paulo. Conforme Gilvando Oliveira relata:
– Motoboys” (MINISTÉRIO DO TRABALHO E
A ocupação surgiu no Brasil, no início da década
EMPREGO, 2006).
de 80, mais precisamente no ano de 1984. O
Ent re ta nt o, nest a pe sq ui sa , a primeiro empresário de serviços de moto-
denominação utilizada será a de motoboys, uma entrega que se tem notícia foi Arturo Filosof,
vez que, não é a nossa intenção buscar uma um argentino que, em 1984, trouxe a idéia de
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Buenos Aires para São Paulo, onde fundou a possibilitado, em parte, pela maior facilidade de
Diskboy. Sua empresa levou alguns meses para sua aquisição. Comprar uma motocicleta zero
receber a primeira encomenda, mas em 1985 quilômetro de baixa cilindrada, como por exemplo
já era amplamente conhecida na cidade, sendo o m od el o Hond a CG 1 50 T it an 4, cust a
noticiada em vários jornais e revistas nacionais aproximadamente R$6.200,00, podendo ser
(2003, p. 38). financiada em até 48 parcelas em média de
R$260,00, sem contar, que o Banco do Brasil
Ne st e mome nt o, a Diskb oy era a
concedeu uma linha de crédito de R$100 milhões
proprietária da frota de motos, todavia não
para financiamentos de motos de até R$8.500,
demorou muito para ela tornar-se destaque na
voltadas especificamente aos motoboys5 - este
relação das empresas que mais cometeram
valor, superior ao preço da motocicleta, já leva
infrações no trânsito: com 119 metros de multas
em consideração os equipamentos necessários e
[...] Essas infrações levaram a empresa a vender
obrigatórios para o desempenho da função de
sua frota de 80 motos e contratar motociclista
motoboy. Além disso, os motoboys têm a opção
com moto própria, para se livrar das multas e
do consórcio com inúmeras parcelas e com juros
por entender que o motoboy proprietário de seu
mais convidativos, podendo parcelar a moto em
veículo devia tornar-se mais responsável no
72 prestações de R$110,006.
trabalho (Ibid. p. 38).
De modo geral pode-se auferir que o
Atualmente, a maioria, de um universo
crescimento da frota de motocicletas é um
aproximado de 200 mil motoboys na cidade de
fenômeno nacional, impulsionado evidentemente
São Paulo, é proprietária de suas motocicletas.
pelas características socioespaciais particulares
Para eles possuir uma motocicleta tornou-se
de cada lugar. As motocicletas têm um uso
um ponto de partida para a inserção nesta
bastante variado no território brasileiro,e mais do
atividade profissional, funcionando como um
que isso, elas vêm reforçando e alterando alguns
dos atributos de seleção nas empresas. Foi
hábitos. Usadas para lazer e veraneio nas mais
assim que contou o motoboy Marcos, de 27
recônditas localidades desse país, ela possibilita
anos, que nos disse: “tem que ter moto, se
aos mais pobres algo até algum tempo atrás
não, não trabalha. Geralmente a maioria tem
reservado aos mais abastados. No meio rural, a
sua moto própria. Se não tiver moto a empresa
paisagem antes tomada por animais que serviam
nem aceita. A empresa não quer ter vínculo
de transportes e às mais variadas funções,
nenhum”. Questionei-o se a maioria dos motoboys
mudou. Hoje eles foram relegados à própria sorte
e ra d ona d a sua p rópr ia motoci cl e ta , el e
sob o revés dos peões de duas rodas. Nas
confirmou: “a maioria tem, uns 90% ou mais”.
pequenas e médias cidades, como também, nas
Além disso, a maior parte deles tem que arcar
periferias socioespaciais de algumas grandes
com as despesas de sua motocicleta. Sobre este
cidades, já funcionam o serviço de moto-táxi 7,
assunto, o motoboy Carlos Eduardo, de 26 anos,
justamente em espaços sociais que ainda estocam
confirma: “a maioria dos motoboys, uns 80%, tem
a confiança e solidariedade entre os pares, sem
que bancar as despesas da moto”. Entre essas
conta r que na s pe ri fe r ia s as m ot ocicle ta s
despesas incluem-se equipamentos de segurança
conseguem vencer uma geografia toda particular,
(capacete, colete, luvas, botas, mata-cachorro –
baseada numa emaranhada trama de ruas e vielas
e quip am ento pa ra p rote çã o d e me mb ros
que se acotovelam num território esquecido pelo
inferiores –, antena – equipamento para proteção
poder político. Nas grandes cidades, como diria
da integridade do condutor contra linhas de cerol
Jane Jacobs8 (1961) o lugar “cheio de estranhos”
de pipas, fios e cabos aéreos), as despesas com
(full of strangers), o perigo de assalto que o
a manutenção e os reparos na motocicleta, além
anonimato proporciona e a iminência de acidentes
é claro, do combustível para abastecê-la.
de trânsito é o gás para a motocicleta proliferar
A motocicleta como ponto de partida para menos como moto-táxi do que como meio de
o e xercício da ativid ade dos motob oys f oi transporte sob conta e risco do indivíduo que a
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pilota fugindo do ineficiente transporte público da N este m esmo r ol d ão a f rota d e


metrópole e, também, como uma importante motocicle tas na cida de de São Pa ulo v em
fonte de trabalho e renda para um contingente apresentando um intenso crescimento. Segundo
imenso de motoboys, incluídos nas ha stes o Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo
precárias do mundo do trabalho. (Detran-SP), em 2000, a frota chegava a 348.098
m ot ocicle t as, pa ssa nd o pa ra 65 8.97 3
Não por acaso, no Brasil, em 2000,
motocicletas, em 2008, o que representa um
conforme dados do Departamento Nacional de
acréscimo aproximado de 90% no período. Sem
Trâ nsit o ( De na tra n) , ci r cula va m cer ca d e
contar que a participação da motocicleta no
3.550.177 de motocicletas, já em 2008, o número
trânsito subiu de 7%, em 2000, para 11%, em
che gou a 1 1.04 5.68 6 , re pr ese nt ando um
2008, do total dos veículos na cidade de São
crescimento em torno de 305% no período citado.
Paul o, o q ue rep resenta cerca de 58 % de
Sendo que em 2008 as motocicletas no Estado e
aumento10 (Gráfico 3).
cid ad e de Sã o Pa ul o re p re se nt avam ,
respectivamente, aproximadamente 23% e algo Mesmo sem uma evidência mais rigorosa
em torno de 6 % do total da frota brasileira9. do ponto de vista empírico que comprove o

3. Gráfico

Evolução da Frota e da Participação de Motocicletas no Trânsito -


Cidade de São Paulo, 2000 a 2008. %
700000 12

600000
10

500000
8

400000
6
300000

4
200000

2
100000

0 0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Participação de Motocicletas 7 7,3 7,6 7,9 8,3 8,6 9,3 10,1 11
Frota de Motocicletas 348098 377805 405969 437515 470195 503937 499686 569806 658973

Fonte: DETRAN-SP
Organizado por Ricardo Barbosa da Silva.
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crescimento e o tamanho mais próximo possível Pa ulo, há uma e sti mat iva q ue a cad a d ez
da realidade acerca da atividade profissional dos motocicletas Honda CG de baixa cilindrada
motoboys, é inegavelmente um fenômeno urbano vendidas, sete são para os motoboys.
visto à olhos nus nas ruas e avenidas das grandes
D este univ er so d e m ot oci cl et as,
cidades do Brasil. Em entrevista a nós concedida, indubitavelmente, a atividade dos motoboys
Gilberto Almeida dos Santos, o “Gil”, Presidente compõe-se de uma parcela considerável. Em um
do Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, estudo publicado pela Companhia de Engenharia
Ciclistas e Moto-Taxistas do Estado de São Paulo, de Tráfego - CET11, em 2002, foram entrevistados
disse-nos assim sobre a questão: “creio que entre 999 motociclistas na cidade de São Paulo, desses
200 e 250 mil só na cidade de São Paulo”. Deste cerca de 66% eram motoboys e 34% deles eram
montante, indubitavelmente, a atividade dos motociclistas (usavam a moto como meio de
motoboys representa uma parcela considerável transporte ou lazer). Em outro estudo publicado
desse mercado. Segundo Aldemir Martins de pela CET 12, em 2003, dos 1141 motociclistas
Freitas, o “Alemão”, Presidente do Sindicato dos entrevistados, 62% eram motoboys e 38% eram
Trabalhadores Motociclistas da Cidade de São motociclistas13 (Gráfico 5).
5. Gráfico 6. Gráfico

Principal Uso da Motocicleta Sexo dos Condutores

62,4 98,9
Motofretista Masc.
66,6 99,7

37,6 1,1
Motociclista Fem.
33,4 0,3

0 10 20 30 40 50 60 70
%
0 20 40 60 80 100 %
2002 2001 2002 2001

Fonte: CET, 2002-2003 Fonte: CET, 2002-2003


Organizado por Ricardo Barbosa da Silva. Organizado por Ricardo Barbosa da Silva

Neste esteio, quando a questão refere-se se um predomínio de jovens entre 20 e 24 anos,


ao gê nero é pat ent e o pre domíni o do se xo que representam 32% do total. E ainda, se
masculino, os números que giram em torno de 99% agruparmos aqueles da faixa etária de 18 a 29
do total (Gr áfi co 6). No que se refere à percebe-se um predomínio de 77%. Já no que
escolaridade, pode ser verificado que 40% dos tange aos motociclistas há um predomínio de 22%
motoboys possuem o Ensino Fundamental II, 26% entre 25 e 29 anos. Contudo, somando-os de 18
o Ensino Médio e 10% têm Ensino Superior. a 29 anos chega-se a 51% do total. Em síntese,
Porce ntag ens re lat ivament e abai xo q uando p od e- se a uf e ri r em r el açã o ao uso d e
comparadas às dos motociclistas, nas quais 24% motocicletas, que é um fenômeno com maior
deles possuem o Ensino Fundamental II, 47% o presença entre os jovens, entrementes, se a
Ensino Médio e 28% o Ensino Superior (Gráfico 7).
análise se limita aos motoboys, percebe-se o
Um dos quesitos que salta aos olhos fe nômeno mar cante que de 10 motob oy s,
concerne à faixa etária dos motoboys, observa- aproximadamente 8 são jovens14(Gráfico 8).
Motoboys, circulação no espaço e trabalho precário na cidade de São Paulo, pp. 41 - 58 47

7. Gráfico 8. Gráfico

Escolaridade dos Condutores Faixa Etária dos Condutores


%
35
60
30
50
25
40
20
30
15

20 10

10 5

0 0
Ens. Fundamental II Ens. Médio Superior < 18 18-19 20-24 25-29 30-34 45 e + Nr
Motociclistas Motrofretistas Motociclista Motofretista

Fonte: CET, 2003 Fonte: CET, 2003


Organizado por Ricardo Barbosa da Silva Organizado por Ricardo Barbosa da Silva

Pa ra H elo í sa M a r t i ns, d a Ci a . d e mot ocicl et as faz ne ce ssár i o fri sar q ue e st a


Engenharia de Tráfego (CET), a atividade dos atividade comporta pelo menos duas gerações.
motoboys aparece como uma oportunidade Ob viamente , se m buscar uma general ização
para os jovens com baixa qualificação que não definidora, pode-se notar a primeira geração, que
conseguiram se inserir no mercado de trabalho: é resultado direto do processo de reestruturação
produtiva na metrópole de São Paulo, que levou
eu acho que o trabalho do motofrete surgiu
mi l har e s d e t rab al ha d or e s na cond i ção d e
em São Paulo como uma oportunidade, para
desempregados, muitas vezes, sem opção a se
u ma gr a nd e q ua n t i da d e de j o ven s
alocar nest a ati vidade p rofi ssional – que , à
desempregado sem qualificação, que devido
princípio, para muitos deles não representava
o desenvolvimento das forças produtivas
mais do que um trabalho provisório. Mas devido
atualmente a falta de qualificação vai manter
às e scassas op or t uni d ad e s no me r cad o d e
essa gente sem emprego. Cada vez é
trabalho, boa parte d eles permaneceu nesta
necessário ter um diferencial para se colocar
atividade – o que sem dúvida lhes confere o título
no mercado de trabalho, então, pessoal que
de pioneiros. Em entrevista a Natércio, 41 anos,
só fez o ensino médio, não fala bem o
apesar de trabalhar desde 1993, disse-me tinha
português, não apresenta nada de diferente,
g e nt e com mai s t e mp o d o q ue e l e ne st a
fica entre a o pção de trabalhar como
atividade, porém explicou-me como foi o início
ajudante, auxiliar ou coisas assim e ganha
da atividade: “no começo não era a metade do
até 500 reais por mês. O motofretista tem
q ue e r a ant e s. H oj e o p e ssoal se v ê
hoje um piso de 650 reais, ele aluga a
desempregado, a opção é comprar uma moto e
motocicleta e ganha produtividade, se ele
trabalhar de motoqueiro”. Perguntei-o se fora
fizer mais entregas, tem lá motofretistas que
assim com ele, então respondeu: “quando eu
chegam a ganhar 2000 reais, essa é uma
comecei, eu estava desempregado. Mas eu já
excelente profissão pra quem não tem
tinha uma moto. Ai passou um rapaz e perguntou
opção.
se eu queria trabalhar, tava desempregado, me
M as a ne ce ssi d ad e d e sal i e nt ar o chamou, ai eu fui; na situação que eu tava,
expressivo percentual de jovens na garupa de pagando aluguel”.
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No trabalho de campo observa-se que a tempo, os jovens motoboys traduzem-se como


todo instante a primeira geração de motoboys agentes de uma nova cartografia urbana, já que
tentava diferenciar-se da segunda geração não carregam o ímpeto e a rebeldia peculiar da idade
tanto pela idade, mas pelo maior traquejo e q ue l he s sã o ca ra ct er í st i ca s, som a d a s à s
vivência no violento trânsito urbano. Para DINIZ racionalida des e lógicas das ex igências da
(2003, p.16), os motoboys mais experientes: circulação rápida que lhes são impostas a que
“encontram no saber acumulado e na rede os impõem. Assim, muito jovens motoboys
solidária tecida com seus pares um meio para montam em suas motocicletas tentando driblar
atenuar a densidade do trabalho e evitar os as estatísticas da violência urbana nas periferias
acidentes”. pobres para virar estatística no violento trânsito
no coração da metrópole de São Paulo.
J á a se g und a g e r a çã o , a p a r e ce
basicamente relacionada aos jovens que na sua Embora os jovens motoboys mereçam
m a i or i a nã o c onse g ui r a m ( e n ã o v ê m a t e nç ã o e sp e ci a l d e v i d o à s cond i çõ e s d e
conseguind o) inse rçã o e m out ra at ivi da de trabalho e aos riscos iminentes a que são
formal no mercado de trabalho e, sem muitas sub m e t i d os , o q u e p r e v a l e ce , e m a m b a s
opções, foram se aventurar como motoboy no gerações e independente do gênero, é a lógica
trânsito urbano da metrópole. São eles, muitas d o a ce l e r a d or , d a p r e s sa d e sm e d i d a ,
vezes, os cachorros loucos que pilotam de forma possibilitada por um processo de produção
p e r i g o sa e i m p r ud e nt e , e x p o nd o- se capitalista que visa à reprodução do espaço
eminentemente aos riscos do trânsito urbano co m o e sp a ç o f l uí d o, d a s v i a s e x p r e ss a s
de São Paulo. É justamente, neste sentido, que d e st i n a d a s à d i n a m i z a çã o d a ci r cu l a çã o,
o motoboy Irlei, 38 anos, relata-nos sobre a distribuição e das trocas de mercadorias. É
questão: “o cara mais novo corre por que não assim que os motoboys são impulsionados a
tem experiência. A empresa chega no cara e a ce l e ra r, a cos t ura r e m zi g ue - za g ue s e u
diz ‘é pra ontem’. As vezes nem é tão urgente. percurso, de maneira rápida e eficiente.
Eu mesmo já peguei serviço aqui e ele falou E é sob essa lógica que se garante parte
‘vai lá que é da diretoria e é urgente’, peguei, da circulação rápida de uma infini dade de
fui lá cadê o cara, tava viajando, era até um mercadorias de lojas diversas, de shoppings
final de semana prolongado”. Ainda sobre o centers, do setor varejista, de séries infindáveis
tema, Natércio fala: “a diferença dessa garotada de mercadorias vendidas pelo telefone ou pela
hoje, entre 18 a 25 anos, pra eles é aventura. internet; ou mesmo, possibilitam a realização de
É pegar o serviço e sair que nem doido na rua. entregas e de coletas de toda ordem vinculadas
Para eles é só temporário até achar um outro e ao setor financeiro. Assim também, realiza-se
sair. Em seguida, perguntei se mesmo com toda entregas e coletas para cartórios, de exames
sua experiência ele também não cometia algum médico-laboratoriais; sem contar, as redes de
abuso, aí me disse: “não eu ando devagar, quem alimentação e fast-food, lanchonetes e pizzarias
mais corre são os mais jovens de 18 a 25 anos, das mais sofist icadas às m ais si mples; as
são estes quem geralmente estão caídos no floriculturas, joalherias e, até mesmo, objetos
chão, ainda mais a maioria são esporádicos”. diversos que remetem a valores sentimentais.
Porém, para Carlos, 22 anos, justifica: “pessoal
A a ti vi da d e dos motoboys t or na -se
mesmo que pega o ônibus, pessoal vê a gente
instrumento de mediação entre a voracidade de
p a ssa n d o r á p i d o, o p e sso a l a cha q ue o
produção e consumo, deslocado do fator de
m o t oq u e i r o t á f a z e nd o a q u i l o p or q ue é
produção dos desejos e necessidades frívolas que
motoqueiro é tudo cachorro loco, mas não, a
comandam o ato de consumir numa cidade
gente tem que acelerar não tem jeito”.
contemporânea. É essa racionalidade que impõe
No fundo, a partir dessa maior exposição a milhares de motoboys a necessidade de acelerar
e pressão a que são submetidos no espaço e no a mais de cem quilômetros por hora, de rodarem
Motoboys, circulação no espaço e trabalho precário na cidade de São Paulo, pp. 41 - 58 49

mais de 200 quilômetros por dia, muitas vezes, vez mais a preponderância do setor de serviços.
em dupla (ou tripla) jornada – chegando a cumprir Milton Santos, analisando a realidade objetiva
até 16 horas de trabalho – mesmo, que no limite, brasileira das grandes metrópoles como São
vidas sejam ceifadas em nome dessa lógica Paulo, sublinha seus antagonismos por ele
hiperexploratória. denominados de “modernidade incompleta”:
É neste sentido que a metrópole de São Nela se justapõem e superpõe trocas de
Paulo na transição do século XX para XXI, locus op ul ê n ci a , d e v i d o à p uj a nç a d a v i d a
d as e st ra té gi as g loba is d a nova e ta pa d o econômica e suas expressões materiais e
capitalismo articulado a um papel preponderante sinais de desfalecimento, graças ao atraso
do mundo precário do trabalho, constitui-se, das estruturas sociais e políticas. Tudo que
simultaneamente, como centro dinâmico da há de mais moderno pode aí ser encontrado,
valorização do capital e locus da pobreza e dos a o l a d o d a s ocor r ê nci a s m a i s gr i t a nt e s
problemas sociais, em especial, das condições (SANTOS, 1990, p. 13).
sempre cambiantes e instáveis dos empregos, de
É nesta medida que, São Paulo, no eixo
desempregos, trabalhos precários, informais e
das cid ades mundiai s, r evel a a mais grassa
outras tantas formas de inserção no mundo do
contradição da engenharia neoliberal, baseada
trabalho.
na multiplicação do consumo em escala global,
É justamente nesta nova fase famigerada concomitante, à proeminência dos problemas
do sistema capitalista, na qual o desemprego mais sociais de toda ordem. É nesse espaço urbano
do que cíclico, revela-se, antes de tudo, como produzido de modo a garantir a realização do
estrutural (HOBSBAWN, 2003 p. 403; ANTUNES, ci cl o d o cap i t al no e sp aço, j á q ue “ se m a
1995, p. 49; ALVES, 2000, p. 259), ou, entendido ci r cul ação d e b e ns n ão há ci r cul ação d o
de outro modo, empregos perdidos não seriam excedente” (SANTOS, 2003, p. 144), que os
mais repostos nem com os ciclos de crescimento mot ob oy s são l ançad os c omo i mp or t ant e s
econômico (GRANOU, 1975, p. 14; HOBSBAWN, instrumentos de realização dessa racionalidade.
2003, p. 403). Mais do que isso, o caso brasileiro Isso porque os imperativos atuais da circulação
remete a contradições mais sobressalentes, em no espaço, que se apoiam em novas formas,
que a expansão do desemprego estrutural acabou funções e processos e se inscrevem no espaço,
produzindo uma estrutura social sui generis ena baseados na lógica na qual a circulação passa a
qual o precário de exceção vira a regra (CASTEL, ser a exigência (Ibid., p. 275; Idem, 2003, p.
2005; OLIVEIRA, 2003). 144) e o consumo a ordem (LEFEBVRE, 1969,
p. 25; Idem, 1991, p.77), lançam os motoboys,
sempre no limite do ponteiro do relógio, como
Circulação no Espaço como Exigência
mediad ores dessa voracidad e consumista de
da Fluidez
mercadorias e imediatista entrega de toda sorte.
Essa s nova s pr át icas socioespa ci ai s
É por este viés que a atividade dos
d i t a d a s p e l a t ra nsi ç ã o d e r e g i m e s d e
motoboys na transição do século XX para o XXI
acumulação, no fundo, passariam a deixar cada
torna-se um ângulo privilegiado de análise de
vez mais suas marcas expressas no espaço
modo a revelar as instâncias e as lógicas de
urb ano. O ar quét ip o d essa nova condi çã o
poder econômico e político na cidade. Estas
urbana traduzia-se pelo estabelecimento das
lógicas revelam-se de maneira mais evidente a
cidades mundiais, vinculadas ao setor financeiro
partir das instâncias de poder do Estado que
e de serviços (LENCIONE, 1998, p. 31; LEMOS;
aparecem como um dos elos fundamentais, quer
2004, p. 119; SASSEN, 1993, p. 188; CASTELLS
no se nt i d o d a r e a l i za çã o d o p r oce s so d e
1999, p. 476; CARLOS, 2001, p. 21).
reprodução do espaço, suas infraestruturas,
É dessa forma que São Paulo, de locus e como também, organizando e controlando o
entreposto da indústria, passa a assumir cada fluxo diário de pessoas e veículos; gerindo a
50 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Edição Especial, 2009 SILVA, R.B.

velocidade, punindo os excessos e os conflitos, nenhum, coloca outro no lugar. Às vezes pega o
vigiando qualquer alteração que possa fugir de seu documento do chão [...] vem outro motoboy
seu domínio e controle. da mesma empresa e pega o documento do chão
e sai véio”. Questionado se já havia acontecido
Porém uma cidade que se embala pelas
com ele, disse-me: “já me mandaram fazer isso.
raciona li d ad es d o consumo e x acer ba do,
Um amigo nosso caiu aqui no elevado (Costa e
privilegiando historicamente um modelo de
Silva) e me ligaram pra ver onde eu estava; eu
circulação baseado no automóvel (SANTOS, 2005,
estava perto da praça da República e pediram
p.106; SCARLATO, 1981, p. 94; SCHOR, 1999,
que eu fosse lá pegar o trabalho pra terminar, só
p. 41; OLIVA, 2004) quando pára15 – mesmo que que eu cheguei lá e esperei o resgate chegar, ele
provisor iamente – irrita os m otori stas, os ia ser atendido e depois eu fui fazer. Eu mesmo
p assa ge ir os, os transe unte s; invi ab il iza o não acabei fazendo da forma que eles pediram.
comércio, a distribuição, a troca, a realização do Pela empresa eu ia lá, pegava os documentos e
capital. E, é neste interregno, que a figura do deixava ele lá”.
motoboys torna-se imprescindível. Uma atividade
através da qual, por suas características, a lógica Destarte, para além do estabelecimento
da circulação, a princípio, não é suspensa. Pois, dessa nova prática socioespacial, onde o fugaz, o
em primeiro lugar, mesmo a cidade contando com efêmero, o ritmo alucinante e frenético do dia-a-
um verdadeiro aparato a fim de garantir a dia impresso no espaço que, em grande medida,
realização da circulação e do consumo, está vai caracterizando e ditando o surgimento dos
submetida aos mais variados problemas pontuais motoboys como produto e necessidade da cidade
(condições climáticas adversas, acidentes de de São Paulo na transição do século XX para o
t râ nsit o, m a ni fe st ações p úb li ca s, et c.) e XXI, esta atividade revela-se, ainda, como uma
estruturais (construção e melhoramentos de das profissões de maiores riscos de acidentes com
avenidas e ruas, pontes, viadutos e túneis, vítimas e acidentes fatais na cidade de São Paulo.
melhoramento dos transportes públicos, etc). Em Não por acaso, aliando as condições
segundo lugar, independente das condições de objetivas da cidade e do mundo do trabalho,
tráfego, lento ou rápido, das condições climáticas, equacionadas a certas facilidades de se obter uma
com chuva ou sol, os motoboys passam em motocicleta, além do intenso incremento da frota
disparada, soberanos, acelerando, buzinando, de motocicleta, essa atividade acabou trazendo
explodindo motores, serpenteando entre um carro consigo um aumento substancial de acidentes de
e outro nas ruas e avenidas da grande cidade trânsito envolvendo moto. Para se ter uma ideia
paulistana. da dimensão desse problema, em 2006 ocorreram
Todavia, os motoboys não são infalíveis. 11.286 (32% do total) acidentes com vítimas,
O tombo, o choque, faz a eficácia e a pressa cerca de 30 acidentes por dia, já em 2007 esse
transformarem-se em choro, em desalento. Todos número passou para 15.193(55% do total),
param. Irresolutos, os motoboys observam mais aproximadamente 41 acidentes com vítimas por
um no asfalto. Entrementes, a lógica que parecia dia (gráfico 9).
suspensa no seu limite último ganha um novo Do ponto de vista espacial, dos 11.286
fôlego com mais um motoboy acionado pela (32% do total) acidentes com vítimas na cidade
empresa para retirar e entregar o envelope ou a de São Paulo, em 2006, apesar de bem
mercadoria qualquer, daquele que ainda sobre o distribuídos, pode-se verificar em algumas
asfalto agoniza à espera de resgate, já que, antes a ven i d a s u ma ma i or co ncen t ra çã o . S e
de tudo, a entrega precisa chegar ao seu destino juntarmos as duas marginais, o número de
previamente combinado. A este respeito, o acidentes com vítimas chegou a 789, na Radial
motoboy Donizete, 32 anos, conta-nos: “Se de Leste esse número chegou a 379, na Av. 23 de
repente você cai, você vai ficar largado na cama maio ocorreram 369 acidentes, na Av. Aricanduva
e ninguém quer saber, ninguém vai te dar auxilio 251 acidentes com vítimas (mapa 1). Em relação
Motoboys, circulação no espaço e trabalho precário na cidade de São Paulo, pp. 41 - 58 51

a o s a ci den t es f a t ai s, em 2 0 06 , f ora m uma delas, a Estr. M’ Boi Mirim com 11


registrados 380 óbitos, algo próximo de 1 morte acidentes fatais, a Av. Interlagos com 8, a Av.
de motociclista por dia, desses – selecionados Robert Kennedy com 7 acidentes fatais, a Av.
em 76 corredores – destacam-se as marginais dos Bandeirantes com 6 e as avenidas Carlos
com 37 óbitos (20 na Marginal Pinheiros e 17 Caldeira Filho, do Estado, Jacu-Pêssego, Radial
na Marginal Tietê), as avenidas Aricanduva e Leste, Sadume Ivone e Sapopemba com 5
Sen. Teotônio Vilela com 12 mortes em cada óbitos (mapa 2).

9. Gráfico

Frota e Acidentes de Motocicleta, 2000 a 2007


600000 500
466
500000 406 405 400
374 368 380
400000 345
318 300
300000
200
200000

100000 100

0 0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Frota de Motocicletas Morte de Motociclistas

Fonte: CET/DETRAN
Organizado por Ricardo Barbosa da Silva

E esses acidentes envolvendo motocicletas jovens e adultos, cheios de sonhos e esperança


em São Paulo, mais do que os altos custos – que de um horizonte melhor.
atingem a ordem de R$ 373 milhões de reais por É assim que esta abordagem insere-se na
ano 16 – traduzem imediatamente um custo t enta ti va de sup erar um a di scussão m ai s
incomensurável, relacionado à perda da vida superficial – e, muitas vezes, preconceituosa e
humana para a família de um ente querido, sendo estigmatizante –, sobre o surgimento e a dinâmica
os motoboys uma de suas principais vítimas, já dessa nova atividade profissional na cidade de
q ue d ev id o à nat ur eza de sua at iv id ad e São Paulo, com a intenção de contribuir à
profissional, arriscam-se constantemente no compreensão dessa atividade para além de um
perigoso trânsito da metrópole paulistana. Por isso sentido de espontaneidade, como também,
é preciso repensar o espaço enquanto uso deslocar o foco constantemente ligado aos
consciente e social para fazer frente à dita conflitos no trânsito do espaço urbano da cidade
racionalidade e eficiência do sistema capitalista paulistana. O que denota uma maneira possível
que vem ceifando às tontas a vida de nossos – não única – de revelar mais consistentemente
52 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Edição Especial, 2009 SILVA, R.B.

a prática socioespacial da atividade profissional das relações sociais que reproduzem o espaço
dos motoboys inserida nas lógicas e estratégias urbano e as suas próprias relações.

Mapa 1
Motoboys, circulação no espaço e trabalho precário na cidade de São Paulo, pp. 41 - 58 53

Mapa 2
54 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Edição Especial, 2009 SILVA, R.B.

Considerações Finais à compreensão das práticas socioespaciais da


maneira pela qual a sociedade vem concebendo,
A atividade profissional dos motoboys,
usando e se apropriando do espaço.
originada em meados da década de 80 e com
maior intensidade nos prelúdios da década de 90, Uma nova prática socioespacial deveria
aparece como produto e necessidade de um mais do que apontar a mitigação das condições
contexto histórico do capitalismo contemporâneo, de trabalho dos motoboys e, sim, repensar uma
r ev el ando p a rt e da s tra nsform açõe s nova espacialidade e reinventar novas formas de
socioespaciais na cidade paulistana na transição trabalho. É preciso refletir sobre a atividade
do século XX para o XXI, encarnando dois pólos caótica dos motoboys no trânsito de São Paulo,
de um mesmo problema a partir da nova condição que no limite da lógica da circulação submete
da cidade e do mundo do trabalho. trabalhadores e trabalhadoras a sua desventura
máxima: a perda da vida.
Essa s transformações socioespaciais
analisadas a partir da atividade profissional dos Portanto, faz-se necessário uma nova
motoboys, além da possibilidade de uma nova práxis em uma sociedade que vive cada vez mais
condição da cidade e do mundo do trabalho, confinada em suas casas, em seus carros,
t ra duze m, t a mb ém , um a nova pr át ica distanciando-se vertiginosamente da dimensão
socioespacial que a partir das exigências da maior do sentido da vida e do uso consciente da
circulação e do consumo em escala ampliada na cidade e não por acaso banaliza mecanicamente
cidade, vêm definindo os usos, as formas de a sucessão de quedas dos motoboys nas ruas e
apropriação, a intensidade de circulação e as avenidas da cidade de São Paulo.
condições de acessibilidades. Por fim, temos a noção de que estas
Todavia, se por um lado, essa nova prática indicações não pretendem esgotar quaisquer
socioespacial, vinculada às racionalidades da discussões e abordagens possíveis. Entrementes,
circulação e do consumo, tem no espaço seu ensejamos que nossa pequena contribuição
elemento fundamental à sua realização, por outro colabore com o entendimento da atividade dos
lado, é nesse mesmo espaço que as contradições motoboys na cidade de São Paulo. Cremos que
l at ente s ma nif esta m- se, no li mi t e úl ti mo, as soluções para esta atividade não se encerram
dirimindo a própria essência da vida humana em medidas pontuais e paliativas, mas sim, numa
desses trabalhadores e trabalhadoras nas ruas e discussão em sentido amplo relacionada ao uso
avenidas da metrópole de uma das maneiras mais da cidade, da apropriação consciente e criativa
brutais: ceifando-as. de seus espaços, e quem sabe incitar a discussão
sobre o direito de uso do espaço de forma mais
Este artigo buscou enfatizar a questão da consciente, ou mesmo repensar novas relações
atividade profissional dos motoboys como produto socia is q ue coloque em outr o pa ta ma r a
e necessidade das transformações socioespaciais importância que o trabalho pode representar para
da cidade de São Paulo, traduzindo muito bem além de uma atividade que exponha a vida de
uma nova condição da cidade e do mundo do milhares de trabalhadores e trabalhadoras, às
trabalho. É nesta ordem de considerações que custas de uma dita racionalidade capitalista e,
entendemos que a atividade profissional dos quem sabe assim, as pessoas compreendam que
motoboys pode revelar a cidade em trânsito para são parte integrante dessa problemática e da sua
o século XXI, como uma problemática que remete superação.
Motoboys, circulação no espaço e trabalho precário na cidade de São Paulo, pp. 41 - 58 55

Notas
1 8
Apesar da carência de um estudo especifico que Jane JACOBS. Morte e vida de grandes cidades,
vise quantificar a atividade profissional dos 1961.
motoboys, segundo o Presidente do Sindicato dos 9
Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Moto-Taxistas O total da frota de motocicletas no ano de 2008 é
do Estado de São Paulo (Sindimoto-SP), Gilberto re fer ent e a o t ota l no mê s d e d eze mbr o.
dos Santos, em entrevista disse-nos que existem ww w.d ena tran .go v.b r, ht tp: //
“entre 200 e 250 mil só na cidade de São Paulo”. w w w 2. cid ad e s. g ov. b r/ re n ae s t /
detalheNoticia.do?noticia.codigo=120. Acessado
2
Maneira pejorativa pela qual muitos motoboys são em 06/08/2009.
denominado s, principalmente a queles que
10
primam pela imperícia nas ruas e avenidas de Conforme metodologia do Detran-SP, a frota de
São Paulo. motocicleta inclui, além das próprias motocicletas,
cic lomo to, moto neta , mo tociclo, triciclo e
3
Conforme Robert (CASTEL, 2005, p. 517) a quadriciclo. Os dados tem como referência o mês
“flexibilização é uma maneira de nomear essa de ja neiro de cad a a no. ht tp: //
necessidade do ajustamento do trabalhador www.detran.sp.gov.br/frota/frota.asp. Acessado
moderno a sua tarefa”. Porém, para ele o em 06/08/2009.
conceito abre um leque que pode se referir tanto
11
à “polivalência” dos trabalhadores em se ajustar Perfil dos condutores de motocicletas. Monitoração
às mais diversas funções internas da empresa, da segurança. Companhia de Engenharia de
quanto “subcontratação” se for externa (Castel, Tr áfe go. Dir eto ria de ope raç ões – D O.
Ibid., 517). Superintendência de Projetos – SPR. Gerencia de
4
Projetos Viarios – GPV/Pesquisa/março de 2002.
Em 2008, a motocicleta Honda CG 125 FAN e a
12
H o n d a C G 1 5 0 T it a n , r e p r e s e n t a ra m , Perfil dos condutores de motocicletas. Monitoração
respectivamente, 22,2% e 24,6% do total de da segurança. Companhia de Engenharia de Tráfego.
vendas, isto é, algo em torno de 47% de todo o Diretoria de operações – DO. Superintendência de
mercado nacional de motocicletas. Fonte: http:/ Projetos – SPR. Gerencia de Projetos Viários – GPV/
/a bra cic lo. com .br /ds upload s/v en2 008 .pd f. Pesquisa/setembro de 2003.
Acessado em 06/08/09. 13
Porém, mesmo em posse desses dados não é
5
Cf. Jornal Agora São Paulo, 28 de maio de 2009. possível generalizar e afirma que os motoboys
Segundo a matéria, esse crédito poderá ser compõem a maioria do universo dos motociclistas
c o n c e d id o p e lo B a n c o d o B ra s il e C a ix a na cidade paulistana, isso porque é relativamente
Econômica Federal aos motoboys desde que mais fácil encontrar os motoboys que circulam e
e s t e j a m r e g u la r iz a d o s j u n t o a o s ó r g ã o s se estabelecem por mais tempo nas ruas e
competentes. avenidas do que aqueles que usam a motocicleta
6
No consórcio Honda, a moto pode sair por sorteio para o trabalho e lazer.
– saem 13 motos de um grupo fechado de 900 14
Jovem é conceituado pela Organização das Nações
pessoas – ou por um lance que varia de 25 a Unidas (ONU) como o grupo etário de 15 a 24
30%. Fonte: www.honda.com.br. Acessado em anos, embora reconheça a possibilidade de
06/08/2009. va ria ção de país p ara pa ís, con for me as
7
Refere-se ao transporte de pessoas através de “c irc uns tânc ias po lít ica s, econ ômicas e
uma motocicleta, especialmente, como um socioculturais” (ONU, 1995). No Brasil, o Estatuto
fenômeno mais localizado em cidades pequenas da Criança e do Adolescente – ECA – considera
e médias, com exceção do Rio de Janeiro. Porém, adolescentes aqueles que têm entre 12 e 18 anos
mesmo que instigante, não é intenção desta incompletos (Brasil, 1990). Já o Plano Nacional da
pesquisa desenvolver as razões socioespaciais Juventude, em tramitação no Congresso Nacional,
para o desenvolvimento dessa atividade no Rio dirige-se à faixa etária de 15 a 29 anos (Brasil,
de Janeiro e não em São Paulo. 2004). Segundo o Censo Demográfico do IBGE,
56 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Edição Especial, 2009 SILVA, R.B.

em 2000, havia 2.956.211 pessoas entre 15 e 29 w w w1. folh a .u ol.com .b r / folh a/ cotid ian o/
anos na cidade de São Paulo, que corresponde a ult95u579653.shtml. Acessado em 11/08/2009.
28,3% da população. Assim, conforme Cubides C., 16
http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/224.
Humberto et al, (1990), entendemos que o campo
Acessado em 05/08/2008. Este estudo levou em
da juventude não está restrito a uma fase
consideração a pesquisa do Ipea (Instituto de
biológica, mas sim a um tempo social construído
Pesquisas Aplicadas) para calcular quanto a
pelas condições socioculturais de cada país. Assim,
sociedade perde com desastres no trânsito urbano
o recorte temporal refere-se ao contexto particular
e tendo os dados atualizados a partir da variação
brasileiro e da atividade profissional que se trata,
do IGP-M, índice que mede a inflação, entre 2003
no caso dos motoboys entre 18 a 29 anos. A título
e 2008 . D esse to tal gas to com acident es
de esclarecimento recortamos a partir dos dezoito
envolvendo motocicleta, R$323.317.0004,85
anos, já que é a idade mínima para concessão da
referem-se aos acidentes com vítimas (R$
Carteira Nacional de Habilitação (CNH), categoria
22.768,80 cada vítima) e R$ 49.916.526,80 aos
A, conforme o Código Brasileiro de Trânsito (art.
cidentes fatais (R$143.069,13 cada vítima). Nesta
140), mesmo tendo ciência que muitos trabalham
estimativa é analisada também a composição dos
ativamente antes dos dezoito e, portanto, sem a
custos do total dos custos com os acidentes de
CNH.
motocicletas, R$ 160 milhões (43%) referem-se
15
Não por acaso que a maior ocupação dos espaços à perda de produtividade das pessoas envolvidas
por automóveis em detrimento dos transportes nas ocorrências, R$112 milhões (30%) à danos a
coletivos vem influenciando diretamente nos altos propriedade (veículos), R$ 60 milhões (16%)
índices de congestionamento registrados na cidade vinculam-se aos custos médicos (tratamento e
de São Paulo. Mais recentemente, em junho de reabilitação), R$ 41 milhões (11%) ligados a outros
2009, o recorde de congestionamento chegou à custos (judiciais, congestionamentos, impacto
marca dos 293 km de lentidão, conforme http:// familiar, etc.).

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Trabalho enviado em outubro de 2009


Trabalho aceito em dezembro de 2009

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