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41 - 58, 2009
RESUMO:
A atividade profissional dos motoboys aparece como produto e necessidade de um contexto histórico
de fin de siècle, revelando parte das transformações socioespaciais na cidade de São Paulo na transição
do século XX para o XXI, e encarnando dois pólos de um mesmo problema a partir da nova condição
da cidade e do mundo do trabalho.
PALAVRAS-CHAVE: Cidade; Espaço; Circulação, Trabalho Precário, Motoboys
ABSTRACT:
The professional activity of motoboys appears as product and necessity of a historical context of fin de
siècle, revealing part of the socio-spatial transformations in the city of São Paulo in the transistion of
century XX for the XXI, embodying two poles of the same problem from the new condition of the city
and the world of the work.
KEYWORDS: City; Space; Circulation Precarious Work, Motoboys
São justamente os motoboys no trânsito E é sobre essa nova prática em uma nova
que, entre insultos e gentilezas, entre agressões condição da cidade e do mundo do trabalho que
físicas e morais, entre um acidente e outro, entre esta análise deter-se-á. É neste sentido que este
um retrovisor que cai e uma porta que amassa, artigo visa demonstrar que a problemática da
aceleram forte, pois, antes de tudo, a entrega atividade dos motoboys não começa e nem
precisa chegar ao seu destino certo e no tempo encerra em si mesma. Não pretende classificá-
*
Mestrando em Geografia Humana pelo DG/USP. Orientando da Profª Amália Inês G. de Lemos. E-mail: ric.silva@usp.br
42 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Edição Especial, 2009 SILVA, R.B.
1. Gráfico 2. Gráfico
Taxa de Desemprego - Cid. de São Paulo, 1985-2007 Distribuição dos Ocupados por Setor de Atividade Cid. de
%
20 % São Paulo, 1988-2007
18 70
16 60
14 50
12
40
10
30
8
20
6
4 10
2 0
0
Buenos Aires para São Paulo, onde fundou a possibilitado, em parte, pela maior facilidade de
Diskboy. Sua empresa levou alguns meses para sua aquisição. Comprar uma motocicleta zero
receber a primeira encomenda, mas em 1985 quilômetro de baixa cilindrada, como por exemplo
já era amplamente conhecida na cidade, sendo o m od el o Hond a CG 1 50 T it an 4, cust a
noticiada em vários jornais e revistas nacionais aproximadamente R$6.200,00, podendo ser
(2003, p. 38). financiada em até 48 parcelas em média de
R$260,00, sem contar, que o Banco do Brasil
Ne st e mome nt o, a Diskb oy era a
concedeu uma linha de crédito de R$100 milhões
proprietária da frota de motos, todavia não
para financiamentos de motos de até R$8.500,
demorou muito para ela tornar-se destaque na
voltadas especificamente aos motoboys5 - este
relação das empresas que mais cometeram
valor, superior ao preço da motocicleta, já leva
infrações no trânsito: com 119 metros de multas
em consideração os equipamentos necessários e
[...] Essas infrações levaram a empresa a vender
obrigatórios para o desempenho da função de
sua frota de 80 motos e contratar motociclista
motoboy. Além disso, os motoboys têm a opção
com moto própria, para se livrar das multas e
do consórcio com inúmeras parcelas e com juros
por entender que o motoboy proprietário de seu
mais convidativos, podendo parcelar a moto em
veículo devia tornar-se mais responsável no
72 prestações de R$110,006.
trabalho (Ibid. p. 38).
De modo geral pode-se auferir que o
Atualmente, a maioria, de um universo
crescimento da frota de motocicletas é um
aproximado de 200 mil motoboys na cidade de
fenômeno nacional, impulsionado evidentemente
São Paulo, é proprietária de suas motocicletas.
pelas características socioespaciais particulares
Para eles possuir uma motocicleta tornou-se
de cada lugar. As motocicletas têm um uso
um ponto de partida para a inserção nesta
bastante variado no território brasileiro,e mais do
atividade profissional, funcionando como um
que isso, elas vêm reforçando e alterando alguns
dos atributos de seleção nas empresas. Foi
hábitos. Usadas para lazer e veraneio nas mais
assim que contou o motoboy Marcos, de 27
recônditas localidades desse país, ela possibilita
anos, que nos disse: “tem que ter moto, se
aos mais pobres algo até algum tempo atrás
não, não trabalha. Geralmente a maioria tem
reservado aos mais abastados. No meio rural, a
sua moto própria. Se não tiver moto a empresa
paisagem antes tomada por animais que serviam
nem aceita. A empresa não quer ter vínculo
de transportes e às mais variadas funções,
nenhum”. Questionei-o se a maioria dos motoboys
mudou. Hoje eles foram relegados à própria sorte
e ra d ona d a sua p rópr ia motoci cl e ta , el e
sob o revés dos peões de duas rodas. Nas
confirmou: “a maioria tem, uns 90% ou mais”.
pequenas e médias cidades, como também, nas
Além disso, a maior parte deles tem que arcar
periferias socioespaciais de algumas grandes
com as despesas de sua motocicleta. Sobre este
cidades, já funcionam o serviço de moto-táxi 7,
assunto, o motoboy Carlos Eduardo, de 26 anos,
justamente em espaços sociais que ainda estocam
confirma: “a maioria dos motoboys, uns 80%, tem
a confiança e solidariedade entre os pares, sem
que bancar as despesas da moto”. Entre essas
conta r que na s pe ri fe r ia s as m ot ocicle ta s
despesas incluem-se equipamentos de segurança
conseguem vencer uma geografia toda particular,
(capacete, colete, luvas, botas, mata-cachorro –
baseada numa emaranhada trama de ruas e vielas
e quip am ento pa ra p rote çã o d e me mb ros
que se acotovelam num território esquecido pelo
inferiores –, antena – equipamento para proteção
poder político. Nas grandes cidades, como diria
da integridade do condutor contra linhas de cerol
Jane Jacobs8 (1961) o lugar “cheio de estranhos”
de pipas, fios e cabos aéreos), as despesas com
(full of strangers), o perigo de assalto que o
a manutenção e os reparos na motocicleta, além
anonimato proporciona e a iminência de acidentes
é claro, do combustível para abastecê-la.
de trânsito é o gás para a motocicleta proliferar
A motocicleta como ponto de partida para menos como moto-táxi do que como meio de
o e xercício da ativid ade dos motob oys f oi transporte sob conta e risco do indivíduo que a
Motoboys, circulação no espaço e trabalho precário na cidade de São Paulo, pp. 41 - 58 45
3. Gráfico
600000
10
500000
8
400000
6
300000
4
200000
2
100000
0 0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Participação de Motocicletas 7 7,3 7,6 7,9 8,3 8,6 9,3 10,1 11
Frota de Motocicletas 348098 377805 405969 437515 470195 503937 499686 569806 658973
Fonte: DETRAN-SP
Organizado por Ricardo Barbosa da Silva.
46 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Edição Especial, 2009 SILVA, R.B.
crescimento e o tamanho mais próximo possível Pa ulo, há uma e sti mat iva q ue a cad a d ez
da realidade acerca da atividade profissional dos motocicletas Honda CG de baixa cilindrada
motoboys, é inegavelmente um fenômeno urbano vendidas, sete são para os motoboys.
visto à olhos nus nas ruas e avenidas das grandes
D este univ er so d e m ot oci cl et as,
cidades do Brasil. Em entrevista a nós concedida, indubitavelmente, a atividade dos motoboys
Gilberto Almeida dos Santos, o “Gil”, Presidente compõe-se de uma parcela considerável. Em um
do Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, estudo publicado pela Companhia de Engenharia
Ciclistas e Moto-Taxistas do Estado de São Paulo, de Tráfego - CET11, em 2002, foram entrevistados
disse-nos assim sobre a questão: “creio que entre 999 motociclistas na cidade de São Paulo, desses
200 e 250 mil só na cidade de São Paulo”. Deste cerca de 66% eram motoboys e 34% deles eram
montante, indubitavelmente, a atividade dos motociclistas (usavam a moto como meio de
motoboys representa uma parcela considerável transporte ou lazer). Em outro estudo publicado
desse mercado. Segundo Aldemir Martins de pela CET 12, em 2003, dos 1141 motociclistas
Freitas, o “Alemão”, Presidente do Sindicato dos entrevistados, 62% eram motoboys e 38% eram
Trabalhadores Motociclistas da Cidade de São motociclistas13 (Gráfico 5).
5. Gráfico 6. Gráfico
62,4 98,9
Motofretista Masc.
66,6 99,7
37,6 1,1
Motociclista Fem.
33,4 0,3
0 10 20 30 40 50 60 70
%
0 20 40 60 80 100 %
2002 2001 2002 2001
7. Gráfico 8. Gráfico
20 10
10 5
0 0
Ens. Fundamental II Ens. Médio Superior < 18 18-19 20-24 25-29 30-34 45 e + Nr
Motociclistas Motrofretistas Motociclista Motofretista
mais de 200 quilômetros por dia, muitas vezes, vez mais a preponderância do setor de serviços.
em dupla (ou tripla) jornada – chegando a cumprir Milton Santos, analisando a realidade objetiva
até 16 horas de trabalho – mesmo, que no limite, brasileira das grandes metrópoles como São
vidas sejam ceifadas em nome dessa lógica Paulo, sublinha seus antagonismos por ele
hiperexploratória. denominados de “modernidade incompleta”:
É neste sentido que a metrópole de São Nela se justapõem e superpõe trocas de
Paulo na transição do século XX para XXI, locus op ul ê n ci a , d e v i d o à p uj a nç a d a v i d a
d as e st ra té gi as g loba is d a nova e ta pa d o econômica e suas expressões materiais e
capitalismo articulado a um papel preponderante sinais de desfalecimento, graças ao atraso
do mundo precário do trabalho, constitui-se, das estruturas sociais e políticas. Tudo que
simultaneamente, como centro dinâmico da há de mais moderno pode aí ser encontrado,
valorização do capital e locus da pobreza e dos a o l a d o d a s ocor r ê nci a s m a i s gr i t a nt e s
problemas sociais, em especial, das condições (SANTOS, 1990, p. 13).
sempre cambiantes e instáveis dos empregos, de
É nesta medida que, São Paulo, no eixo
desempregos, trabalhos precários, informais e
das cid ades mundiai s, r evel a a mais grassa
outras tantas formas de inserção no mundo do
contradição da engenharia neoliberal, baseada
trabalho.
na multiplicação do consumo em escala global,
É justamente nesta nova fase famigerada concomitante, à proeminência dos problemas
do sistema capitalista, na qual o desemprego mais sociais de toda ordem. É nesse espaço urbano
do que cíclico, revela-se, antes de tudo, como produzido de modo a garantir a realização do
estrutural (HOBSBAWN, 2003 p. 403; ANTUNES, ci cl o d o cap i t al no e sp aço, j á q ue “ se m a
1995, p. 49; ALVES, 2000, p. 259), ou, entendido ci r cul ação d e b e ns n ão há ci r cul ação d o
de outro modo, empregos perdidos não seriam excedente” (SANTOS, 2003, p. 144), que os
mais repostos nem com os ciclos de crescimento mot ob oy s são l ançad os c omo i mp or t ant e s
econômico (GRANOU, 1975, p. 14; HOBSBAWN, instrumentos de realização dessa racionalidade.
2003, p. 403). Mais do que isso, o caso brasileiro Isso porque os imperativos atuais da circulação
remete a contradições mais sobressalentes, em no espaço, que se apoiam em novas formas,
que a expansão do desemprego estrutural acabou funções e processos e se inscrevem no espaço,
produzindo uma estrutura social sui generis ena baseados na lógica na qual a circulação passa a
qual o precário de exceção vira a regra (CASTEL, ser a exigência (Ibid., p. 275; Idem, 2003, p.
2005; OLIVEIRA, 2003). 144) e o consumo a ordem (LEFEBVRE, 1969,
p. 25; Idem, 1991, p.77), lançam os motoboys,
sempre no limite do ponteiro do relógio, como
Circulação no Espaço como Exigência
mediad ores dessa voracidad e consumista de
da Fluidez
mercadorias e imediatista entrega de toda sorte.
Essa s nova s pr át icas socioespa ci ai s
É por este viés que a atividade dos
d i t a d a s p e l a t ra nsi ç ã o d e r e g i m e s d e
motoboys na transição do século XX para o XXI
acumulação, no fundo, passariam a deixar cada
torna-se um ângulo privilegiado de análise de
vez mais suas marcas expressas no espaço
modo a revelar as instâncias e as lógicas de
urb ano. O ar quét ip o d essa nova condi çã o
poder econômico e político na cidade. Estas
urbana traduzia-se pelo estabelecimento das
lógicas revelam-se de maneira mais evidente a
cidades mundiais, vinculadas ao setor financeiro
partir das instâncias de poder do Estado que
e de serviços (LENCIONE, 1998, p. 31; LEMOS;
aparecem como um dos elos fundamentais, quer
2004, p. 119; SASSEN, 1993, p. 188; CASTELLS
no se nt i d o d a r e a l i za çã o d o p r oce s so d e
1999, p. 476; CARLOS, 2001, p. 21).
reprodução do espaço, suas infraestruturas,
É dessa forma que São Paulo, de locus e como também, organizando e controlando o
entreposto da indústria, passa a assumir cada fluxo diário de pessoas e veículos; gerindo a
50 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Edição Especial, 2009 SILVA, R.B.
velocidade, punindo os excessos e os conflitos, nenhum, coloca outro no lugar. Às vezes pega o
vigiando qualquer alteração que possa fugir de seu documento do chão [...] vem outro motoboy
seu domínio e controle. da mesma empresa e pega o documento do chão
e sai véio”. Questionado se já havia acontecido
Porém uma cidade que se embala pelas
com ele, disse-me: “já me mandaram fazer isso.
raciona li d ad es d o consumo e x acer ba do,
Um amigo nosso caiu aqui no elevado (Costa e
privilegiando historicamente um modelo de
Silva) e me ligaram pra ver onde eu estava; eu
circulação baseado no automóvel (SANTOS, 2005,
estava perto da praça da República e pediram
p.106; SCARLATO, 1981, p. 94; SCHOR, 1999,
que eu fosse lá pegar o trabalho pra terminar, só
p. 41; OLIVA, 2004) quando pára15 – mesmo que que eu cheguei lá e esperei o resgate chegar, ele
provisor iamente – irrita os m otori stas, os ia ser atendido e depois eu fui fazer. Eu mesmo
p assa ge ir os, os transe unte s; invi ab il iza o não acabei fazendo da forma que eles pediram.
comércio, a distribuição, a troca, a realização do Pela empresa eu ia lá, pegava os documentos e
capital. E, é neste interregno, que a figura do deixava ele lá”.
motoboys torna-se imprescindível. Uma atividade
através da qual, por suas características, a lógica Destarte, para além do estabelecimento
da circulação, a princípio, não é suspensa. Pois, dessa nova prática socioespacial, onde o fugaz, o
em primeiro lugar, mesmo a cidade contando com efêmero, o ritmo alucinante e frenético do dia-a-
um verdadeiro aparato a fim de garantir a dia impresso no espaço que, em grande medida,
realização da circulação e do consumo, está vai caracterizando e ditando o surgimento dos
submetida aos mais variados problemas pontuais motoboys como produto e necessidade da cidade
(condições climáticas adversas, acidentes de de São Paulo na transição do século XX para o
t râ nsit o, m a ni fe st ações p úb li ca s, et c.) e XXI, esta atividade revela-se, ainda, como uma
estruturais (construção e melhoramentos de das profissões de maiores riscos de acidentes com
avenidas e ruas, pontes, viadutos e túneis, vítimas e acidentes fatais na cidade de São Paulo.
melhoramento dos transportes públicos, etc). Em Não por acaso, aliando as condições
segundo lugar, independente das condições de objetivas da cidade e do mundo do trabalho,
tráfego, lento ou rápido, das condições climáticas, equacionadas a certas facilidades de se obter uma
com chuva ou sol, os motoboys passam em motocicleta, além do intenso incremento da frota
disparada, soberanos, acelerando, buzinando, de motocicleta, essa atividade acabou trazendo
explodindo motores, serpenteando entre um carro consigo um aumento substancial de acidentes de
e outro nas ruas e avenidas da grande cidade trânsito envolvendo moto. Para se ter uma ideia
paulistana. da dimensão desse problema, em 2006 ocorreram
Todavia, os motoboys não são infalíveis. 11.286 (32% do total) acidentes com vítimas,
O tombo, o choque, faz a eficácia e a pressa cerca de 30 acidentes por dia, já em 2007 esse
transformarem-se em choro, em desalento. Todos número passou para 15.193(55% do total),
param. Irresolutos, os motoboys observam mais aproximadamente 41 acidentes com vítimas por
um no asfalto. Entrementes, a lógica que parecia dia (gráfico 9).
suspensa no seu limite último ganha um novo Do ponto de vista espacial, dos 11.286
fôlego com mais um motoboy acionado pela (32% do total) acidentes com vítimas na cidade
empresa para retirar e entregar o envelope ou a de São Paulo, em 2006, apesar de bem
mercadoria qualquer, daquele que ainda sobre o distribuídos, pode-se verificar em algumas
asfalto agoniza à espera de resgate, já que, antes a ven i d a s u ma ma i or co ncen t ra çã o . S e
de tudo, a entrega precisa chegar ao seu destino juntarmos as duas marginais, o número de
previamente combinado. A este respeito, o acidentes com vítimas chegou a 789, na Radial
motoboy Donizete, 32 anos, conta-nos: “Se de Leste esse número chegou a 379, na Av. 23 de
repente você cai, você vai ficar largado na cama maio ocorreram 369 acidentes, na Av. Aricanduva
e ninguém quer saber, ninguém vai te dar auxilio 251 acidentes com vítimas (mapa 1). Em relação
Motoboys, circulação no espaço e trabalho precário na cidade de São Paulo, pp. 41 - 58 51
9. Gráfico
100000 100
0 0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Fonte: CET/DETRAN
Organizado por Ricardo Barbosa da Silva
a prática socioespacial da atividade profissional das relações sociais que reproduzem o espaço
dos motoboys inserida nas lógicas e estratégias urbano e as suas próprias relações.
Mapa 1
Motoboys, circulação no espaço e trabalho precário na cidade de São Paulo, pp. 41 - 58 53
Mapa 2
54 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Edição Especial, 2009 SILVA, R.B.
Notas
1 8
Apesar da carência de um estudo especifico que Jane JACOBS. Morte e vida de grandes cidades,
vise quantificar a atividade profissional dos 1961.
motoboys, segundo o Presidente do Sindicato dos 9
Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Moto-Taxistas O total da frota de motocicletas no ano de 2008 é
do Estado de São Paulo (Sindimoto-SP), Gilberto re fer ent e a o t ota l no mê s d e d eze mbr o.
dos Santos, em entrevista disse-nos que existem ww w.d ena tran .go v.b r, ht tp: //
“entre 200 e 250 mil só na cidade de São Paulo”. w w w 2. cid ad e s. g ov. b r/ re n ae s t /
detalheNoticia.do?noticia.codigo=120. Acessado
2
Maneira pejorativa pela qual muitos motoboys são em 06/08/2009.
denominado s, principalmente a queles que
10
primam pela imperícia nas ruas e avenidas de Conforme metodologia do Detran-SP, a frota de
São Paulo. motocicleta inclui, além das próprias motocicletas,
cic lomo to, moto neta , mo tociclo, triciclo e
3
Conforme Robert (CASTEL, 2005, p. 517) a quadriciclo. Os dados tem como referência o mês
“flexibilização é uma maneira de nomear essa de ja neiro de cad a a no. ht tp: //
necessidade do ajustamento do trabalhador www.detran.sp.gov.br/frota/frota.asp. Acessado
moderno a sua tarefa”. Porém, para ele o em 06/08/2009.
conceito abre um leque que pode se referir tanto
11
à “polivalência” dos trabalhadores em se ajustar Perfil dos condutores de motocicletas. Monitoração
às mais diversas funções internas da empresa, da segurança. Companhia de Engenharia de
quanto “subcontratação” se for externa (Castel, Tr áfe go. Dir eto ria de ope raç ões – D O.
Ibid., 517). Superintendência de Projetos – SPR. Gerencia de
4
Projetos Viarios – GPV/Pesquisa/março de 2002.
Em 2008, a motocicleta Honda CG 125 FAN e a
12
H o n d a C G 1 5 0 T it a n , r e p r e s e n t a ra m , Perfil dos condutores de motocicletas. Monitoração
respectivamente, 22,2% e 24,6% do total de da segurança. Companhia de Engenharia de Tráfego.
vendas, isto é, algo em torno de 47% de todo o Diretoria de operações – DO. Superintendência de
mercado nacional de motocicletas. Fonte: http:/ Projetos – SPR. Gerencia de Projetos Viários – GPV/
/a bra cic lo. com .br /ds upload s/v en2 008 .pd f. Pesquisa/setembro de 2003.
Acessado em 06/08/09. 13
Porém, mesmo em posse desses dados não é
5
Cf. Jornal Agora São Paulo, 28 de maio de 2009. possível generalizar e afirma que os motoboys
Segundo a matéria, esse crédito poderá ser compõem a maioria do universo dos motociclistas
c o n c e d id o p e lo B a n c o d o B ra s il e C a ix a na cidade paulistana, isso porque é relativamente
Econômica Federal aos motoboys desde que mais fácil encontrar os motoboys que circulam e
e s t e j a m r e g u la r iz a d o s j u n t o a o s ó r g ã o s se estabelecem por mais tempo nas ruas e
competentes. avenidas do que aqueles que usam a motocicleta
6
No consórcio Honda, a moto pode sair por sorteio para o trabalho e lazer.
– saem 13 motos de um grupo fechado de 900 14
Jovem é conceituado pela Organização das Nações
pessoas – ou por um lance que varia de 25 a Unidas (ONU) como o grupo etário de 15 a 24
30%. Fonte: www.honda.com.br. Acessado em anos, embora reconheça a possibilidade de
06/08/2009. va ria ção de país p ara pa ís, con for me as
7
Refere-se ao transporte de pessoas através de “c irc uns tânc ias po lít ica s, econ ômicas e
uma motocicleta, especialmente, como um socioculturais” (ONU, 1995). No Brasil, o Estatuto
fenômeno mais localizado em cidades pequenas da Criança e do Adolescente – ECA – considera
e médias, com exceção do Rio de Janeiro. Porém, adolescentes aqueles que têm entre 12 e 18 anos
mesmo que instigante, não é intenção desta incompletos (Brasil, 1990). Já o Plano Nacional da
pesquisa desenvolver as razões socioespaciais Juventude, em tramitação no Congresso Nacional,
para o desenvolvimento dessa atividade no Rio dirige-se à faixa etária de 15 a 29 anos (Brasil,
de Janeiro e não em São Paulo. 2004). Segundo o Censo Demográfico do IBGE,
56 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Edição Especial, 2009 SILVA, R.B.
em 2000, havia 2.956.211 pessoas entre 15 e 29 w w w1. folh a .u ol.com .b r / folh a/ cotid ian o/
anos na cidade de São Paulo, que corresponde a ult95u579653.shtml. Acessado em 11/08/2009.
28,3% da população. Assim, conforme Cubides C., 16
http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/224.
Humberto et al, (1990), entendemos que o campo
Acessado em 05/08/2008. Este estudo levou em
da juventude não está restrito a uma fase
consideração a pesquisa do Ipea (Instituto de
biológica, mas sim a um tempo social construído
Pesquisas Aplicadas) para calcular quanto a
pelas condições socioculturais de cada país. Assim,
sociedade perde com desastres no trânsito urbano
o recorte temporal refere-se ao contexto particular
e tendo os dados atualizados a partir da variação
brasileiro e da atividade profissional que se trata,
do IGP-M, índice que mede a inflação, entre 2003
no caso dos motoboys entre 18 a 29 anos. A título
e 2008 . D esse to tal gas to com acident es
de esclarecimento recortamos a partir dos dezoito
envolvendo motocicleta, R$323.317.0004,85
anos, já que é a idade mínima para concessão da
referem-se aos acidentes com vítimas (R$
Carteira Nacional de Habilitação (CNH), categoria
22.768,80 cada vítima) e R$ 49.916.526,80 aos
A, conforme o Código Brasileiro de Trânsito (art.
cidentes fatais (R$143.069,13 cada vítima). Nesta
140), mesmo tendo ciência que muitos trabalham
estimativa é analisada também a composição dos
ativamente antes dos dezoito e, portanto, sem a
custos do total dos custos com os acidentes de
CNH.
motocicletas, R$ 160 milhões (43%) referem-se
15
Não por acaso que a maior ocupação dos espaços à perda de produtividade das pessoas envolvidas
por automóveis em detrimento dos transportes nas ocorrências, R$112 milhões (30%) à danos a
coletivos vem influenciando diretamente nos altos propriedade (veículos), R$ 60 milhões (16%)
índices de congestionamento registrados na cidade vinculam-se aos custos médicos (tratamento e
de São Paulo. Mais recentemente, em junho de reabilitação), R$ 41 milhões (11%) ligados a outros
2009, o recorde de congestionamento chegou à custos (judiciais, congestionamentos, impacto
marca dos 293 km de lentidão, conforme http:// familiar, etc.).
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