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O fenfimeno urbano: delimita oes

conceituais e realidades historicas

Na selva de dcftni Ocs sutis coin que os sociologos nos


en- riqueceram, podcmo.s distinguir nitidamciitc dois scntidos
ex- trcmamcntc distintos do termo urbenizefâo.
1. Goncentra§ao espacia) dc uma popula$ao, a partir dc
ccrtos limitns dc dimensao e dc densidade.°
2. Difusao do sistema de va)ores, atitudes e comportamcn-
tos denominado “cultura urbaria”.'
Para a discussao da problemâ tica tclativa â “cultura urbana”,
nds rcmetcmos ao capitulo II.* Podemos, no cntanto, adiaritar
nossa conc1un*n csscncial: trata-se, de fato, do sistema cultural
caracteristico da sociedadc industria) capitalista.
Por outro lado, e na mesma linha de pcnsamento,
assimila- mrs urbaniza$ao c industrializa ao, fazcndo cquivaler
os dois pn›ccssos, ao nivel de escolha dos rcferenciais
utilizados*, para construir as dicotomias correspnndentcs
rural/urbaita e cmprego agricola/cmprcgu industrial.* De fato, a
tendéncia culturalista da anâ lise da urbaniza$ao tiindanicnta sc
numa prcmissa: a corrcs- pondéricia cntre um ccno tip‹i técnico
dc produ â o (essencial- mentc definido pot urna atividade
industrial), um sistcma de
valoics (o “modernismo”) e uma forma espccifica de organize-
Rao do espa$o, a cidade, cujos tra os distintivos sao uma
certa forma e uma certa densidadc.
O fato dcsta correspondéncia nñ o scr evidentc emana de um
simpler iriformc arialitico das Grandes aglomcra$é›cs pré-
industriais tal como o que foi cfctuado por SJobcrg.' Ccrtos
autores* conti- nuum coercntcs, rccusando o cmprcgo du tcrmo
“cidade” para designer cstas tormas de povoamento, tornando
assim ezplicita a confusao entrc a problematica “urbana” c uma
dada organiza-

Esta liga$fio entrc forma cspacial c conteudo cultural podc


ser, a rigor, uma hip 6tcse (que examinaremos em detalhe nas pa-
tinas scguirites), mas cla nao pode constitute um memento de
definiJo da urbaniza$ao, pots a rcsposta tcdrica, desdc entâ o, se
cricontraria inscrida ria maneira de colocar o problema.
Sc formos nos ater a esta distinJo, isentms para estabclccer
em seguida as liga( <s teñ ricas c empfricas cntre as duas formas,
especial e cultural, podemos apoiar-nos, cm primcira instâ ncia,
na definiJo de H. T. Eldrigo, que caracteriza a urbanizapao co-
mo um processo de concencrayâ o da popuJa§â o cm dois niveis:
1. a prolifera ao de pontos de concentra ao; 2. o aumcnto do
tamanho de cada rim dcstcs pontos.
Urea n designaria entâ o uma forma especial dc ocupaJo
do cspa‹;o por uma popula$ao, a sabcr o aglomcrado
resultantc de uma torte concentra‹;âo e de uma densidadc
relativamentc alta, tcndo como correlato WVlS!Vel uina
difercncia‹;â o funcional c social maior. Dito isto, quando
queremos utilizar dirctamcntc csta dcfini$ao “tedrica” numa
anâ )ise concicta, as dificuldadcs come$am. A partir de que
nivel de dimensao c de dcnsidadc uma unidade cspacial podc
scr considcrada como urbana? Quais sao, na pratica, os
fundamentos tcdricos e cmpiricos de cada um dos critirios›
Pierre George demonstrou muito bum as contradi Oes in-
supeNveis do empirismo estatistico na delimita ao do conccito
dc urbano. ° Com efcit‹›, sc o niimero dc habitantcs, corrigido
pela tstrutura da popu)a3ao ativa e as divisiies adrninistrativas,
parece ser o critério mais correntc, os limites observados variam
cnormementc, os indicadorcs das diferentes atividadcs dependcm
dc cada tipo de sociedade e, finalmente, as mesnias gout
.1 QUE'›TAO U RRANA

urn! wntido inteiramcntc diferente segurido as cstruturas


} xidiidvas e sociais que determinam a organiza ao do cspa o.
nsaim, o rccenseamcnto dos Estados Unidos toma o limiar dc
2:5tD habitantns como critério de comunidade urbana, mas'acres-
iambfm os aglunicrados t‹irtcrtiertte tinidos a uin centro
me- txopoEtiino regional. 2 Em contraposipao, a Conferéncia
européia da est tistica cm Praga cstabelccc como critcrio o fato
de ter liars.de 10.000 habitantes, corrigindo-o pcla divisao da
popula-
r ativa nos difcrcntcs sctorcs.
De fato, a formula mais maleivel consiste end classificar as
pida&s cspaciais de cada phs scgundo vâ rias dimcnsiies e vâ rios
.olveis â cm cstabclcccr critrc clcs rcla¿0cs empirtcas teoricamen-

iniportâ ncia quantitativa dos aglonierados (10.000 habitantcs,


20.000, 100.000, 1.000.000 etc.), sua hicrarquia funcional (gé-
niro de atividades, situa an no encadcamcnto de intcrdcpendcn-
,eras), sua importancia administradva. ct›mbinando, cm seguida,
v4iias’déstas caracteristicas para atingir tipos diferentes de ocu-
I•s' d° « °v
poderiamos igualmcnte opor urbano a mctropolitario c, sobrc-
tudo„ paiar dc pensar cm tcrmos dc passages continue dñ um
p6lo a outro, para cstabclecer urn sistema dc liga ñ es entre as
di- fercntci formas cspaciais historicamcntc dadas.
Dcs n constata 6cs results que mo é procurando defini-
dé cscola ou critérios da prâ tica administrativa que
chcgarc- mci a uma dclimita ñ o vâ lida de nossos conccitos; ao
contrâ rio, é a an&ise rapida dc algumas rcla$ñ es estabelecidas
historicamente
pcrime cspa§o c a sociedade que nos pcrmitira fundamcntar ob-
jctivamente nosso cstudo.

As. invcstiga$ cs arqueologicas mostraram que os primci-


ros lomerados sedentarios c com forte densidadc dc popula-
te (Mtsopotâ mia, per Volta dc 3.500 a.C, Egito 3.000 a.C.,
China e India, 3000-2500 a.C) * aparecem no finn do ncolitico,
no momento em que as técnicas c as condi s sociais c naturais
do. rra0allio pcrminram acs agricultures produzir mais do que
rinham ncccssidadc para subsistir. A partir dcstc niomento um
sistema de divisao e de distribuipao se dcscnvolvc, como
exprm- s*o e dcsdobramcnto de uma spot&i& Us tiga c dc um
nivcl de orpmi ›n ieriA. As cidades sao a torma residencial
adotada pe- los mcmbn›s da socicdadc cmja prcscn a dircta nos
l‹›cais dc pm- du$ao agricola nao eta neccss a. Quer dizer, cstas
cidadcs ed Jxxlcni cxistir na base do mrrdctifr pmduzido pclo
trabalho da tcrra. Elas s*o os centres rcligiosos, administrativos
c politicos, cxprcssao cspacial dc uma ct›mplexidade sr›cial
dctcrminada pclo ptocesso de apmpriapao e de rcinvestimcnto
do produto do tra- balho. Trata-se portanto também de um
novo sistenia social, mas go w4o red srporM dn tip rtiral, ricm é
p‹istcrior a ele, pois os dois cstao iritirnamcnte ligados no
Drago do mesmo green & pmdo/fi das formas scciais, mcsm‹i
que, do ponto dc vista dcstas proprias formas, estejamos cm
pn•sen$a de duas situa$0cs ditérentes. '
Tomcmos, per cxemplo, a sintcsc de V Gordon Childc com
rcspcito aos critérios que, scgundo os conhccimentos cmpiricos
cfistcntcs, camctcrizavain ‹a primcirus aglomcrados urbanos:
exis- téncia de cspecialistas nao produtivos trabalhando em
tempo in- tegral (padres, Duncton os, “operâ rios de sefvi$os“);
popula$ao de tanianht› e de dcnsidade suficientc; artc
cspccifica; uso dz cscrita c dos nñ mcros; trabalho cicritifico;
sistcma dc impustos que conccntra o exccdcntc da produ(ao;
aparclho dc Estado; arqui- tetura piiblica (monuincntos);
comércio com o exterior; cxis- téncia de classes sociais. *
O intercssc dcstas constata$0es, baseadas numa
documen- ta3ao abundance, é cvidente, apcsar do
pmccdimcnto classifica- torio bcm pr6ximo ao da famosa
Enciclopédia chiriesa dc Bor- qcs... Lcrido cstcs dados numa
ordcm ml, flea hem claro que a cidade c o lunar geografico
onde sc instala a supercstrutura pulitico-administmtiva dc uma
sociedade que chcgou a um pon- to dc descnvolvimcnto tZcnico
e social (natural c cultural) de tal ordem que existe uma
difercncia$ao do produto em reprodui;â o simpler c ampliada
da for a de trabalho, chegando a um sistnma dc 6oi U r K
from, que supñ e a existéncia: 1. de um slStc- ma de classes
sociais; 2. de urn sistcma politico pcrmitindo ao mcsmo
tempo o funcionamcnto do conjunto social c o domfnio
43

.dc uma classc; 3. de um sistema instimcional de investimento,


em particular no que ct›ncernc a cultura e * tâ cnica; 4. de um
nstcma de troca corn o Exterior l -
Esta analisc, mesmo rapida, mosrra o “fenfimcno urbana”
nrticulado a cstrutura dc uma sociedadc. O mesmo procedimen-
to pode ser retomado (e chcgar a um resultado diferente em tcr-
mos de contcudo) no que concerns â s diversas formas
historicas dc organizay*o cspacial. Sc nao é o case dc dcscrcvcr
cm trés fa-
r a histdria hiimana do cspa o, pndcmos, com firialidades ana-
lttims, efetuar algumas ‹›bservayñ cs sobrc a leitura possivcl dc
tcrtos tips urbanos significativos.
Assim, as cidadas inipcriais dos primciros tempos da hist6-
ria, e em particular Roma, acmnulam as caracteristicas ja enun-
ciadas com as funpoes comcrciais e de gcstao, que decorrcm da
conccntra$*o, nuns nicsnio agloinerado, de um poder exercido,
pelt conqiiista, sobrc um vasto tcrritsrio. Da mcsma forma, a
pmctra$ao roinana cm oiitras civilizayñ cs toma a forma dc uma
coloniza$*o urbana — suportc, ao nicsmo tcmpo, das iiiri3ñ es
administrativas c dc explora§ao mcrcanti). A cidade portanto
nao é um local de produ a‹›, mas dc gest*o c dc dorrtinio, ligado
* prhziazia social do aparcl)io pcilitico-administrativo. Entao, é
16- glco que a queda do Im@rio romano no Ocidcntc ocasioria
qua- ac o dcsaparccimento da forma s cio-cspacia) da cidade, pots
ten- do as fun Ops politico-administrativas centrais sido
sobstituidas pt s domina$6ns locais dos scnhorcs fcudais, nao
houvc outro fUndamenm social a encargo das cidadcs a n*o scr o
das diviséies dv administryao da Igrcja on a coloniza an e a
dcTcsa das regimes fientciras (por cxeniplo na Catalunha t›u na
Prussia oriental). *
A cidade da ldadc Mcdia renascc a parRr dc uma nova di-
o£mica social inserida na cstrutura st›cial precedente. Mais con-
cmtamente, eta se edifica pcla reuniao de uina rze preexis-
tentc, cm tomo da qual se organizara um nucleo de habita@o e
atrYi , c de um M, sobrctudo a partir das novas rotas co-
men:iais abcrtas pelas Cruzadas. Nesta base organizam-sc as ins-
pires politico-administrativas pr6prias a cidade, que confc-
rem-ltte uma coeréncia interna e uma autonomia maior frcnte
an exterior. E esm espccificidadc politics da cidadc que faz dela
rim mundo pr6prio eWeiine suas frontciras enquanto sistema
so-
cial.° A idcologia dc pcrtcnccr â cidadc, prolongada até a socie-
dade industrial avan da, encontra scu fundamcnto histdrico ries-
te género de situa$ao.
Se esta autonomia politico-administrativa é comum â mai-
oria das cidadcs que sc dmenvolvcm no iiticiu da Idade Media,
as formas concretas, sociais e cspaciais deems cidadcs dcpcndcram
mtritamcnte da conjuntura dos novos la os sociais, que surgi-
ram em scguida a transti›rma tics no sistcma de distribui$ao
do prc›duto. Em vista do poder feudal forma-se, com ciéito, uma
classc ne ante que, rompcndo o sistcma vertical da
distribui‹;â o do pmduto, cstabelccc clcis horizontais scrvindo dc
intcrmedinia, ultrapassa a cconomia de subsisténcia e acumula
uma autonornia suficientc para scr capaz de investir nas
manufaturas.2
Como a cidade medieval represcnta a lihcrta$ao da
burguc- sia comerciante na sua Inta para emancipar-sc do
fcudalismo c do podcr central, sua cvolu$ao sera hem difercritc
conforine os la os cstabclecidos entre burgucsia c nobreza.
Assim, ondc cstcs lakes foram cstrcitos, as rela$0cs entrc a
cidade c o tcrritorio cir- cunvizinho, dependendo dos senhores
feudais, organizaram-se dc modo complemcntar. E, au invcrso, o
conflitr› dcstas classes ocasionon o isolamento urbano.
Sob outro â ngulo, a contigiiidadc ou a scpara$ao
geognifica cntre as dn« classes influcncia a cMtura das cidadcs.
em particu- lar no que diz respcito ao con.sumo e econornias: a
intcgra$ao da nobrma com a bufguesia pcrmite â prirneira
organizar um sis- tema de valorcs urbanos segundo o modelo
aristocrâtico enquan- to, quando a burguesia tcvc que voltar-sc
para si mcsma, em vism da hostilidadc do tcrritdrio que a
cemava, a comunidadc de cidadaos suscitou novos valorcs,
referents cm particuiar 1 ccono- niia e ao invcstimento; isolados
sx.ialmcnte e com o cottc de abastccñ ncnto dc›s cam}xxs
prdzimas, sua sobrcvivéncia, dc Sta, dependia de sua capacidadc
financeira c manufaturcira.
Pc›deriamo.s também analisar a evolu$ao do sistema
urbano dc cada pais em fun§ao das rcla 6es triangulares
burgucsiano- breza-realeza. Por exemplo, o subdesenvolvimento
das cidades comerciais cspanholas com refcréncia â s cidadcs
italianas on ale- mâ s durante o século XVI e o XVII explica-se
pclo scu papcl dc staples intermcdiarias cntrc a coroa c o
comércio amcricano, contrastando com o papel dcscmpcnhado
pclas cidades ita)ianas
A QUESTAO URBAN A

e alemâ s, muito autéinomas em face ao impcrador e dos princi-


pcs dos quais cram apenas aliadas circunsmnciais.

O dcsenvolvimcnto do capitaEsmo industrial, ao


contr&to dc uma visâ o ingénua muito difundida, nâo provocou o
tcfon;o da
‹;idade e sim o scu quase desaparccimento enquanto sistema insti-
tuciona) e social relativamcntc autñ nomo, organizado em torno
de objetivos cspecificos. Gom cfcito, a constituiJo da mercado-
ria cnquanto engtenagcm de base do sistema cconfimico, a divi-
sao técnica e social do trabalho, a diversifica@o dos
intercsscs ccon8micos e sociais sobrc um cspa o mais vasto, a
homogcnei- za§ñ o do sistema institucional, ocasionam a irru ao
da conjun- Rao dc uma forma cspacia), a cidade, e da esfera de
dominio social de uma classc cspecffica, a burgucsia. A
difusao urbana equivale exatamente a perda do pardcularismo
ecol6gico c cultu- ral da cidade. Per isso os processos de
urbaniza@o c autonoinia do modelo cultural “urbano* sc
manifestam como proccssos pa- radoxalmentc contraditñ rios.°°
A urbaniza$â o ligada â primeira rcvolu3ao industrial c
in- serida no desenvolvimento do tipo de produ ao
capitalism, Z um proccsso dc oiganiza o do cspa$o, que
rcpousa sobie dois conjuntos de fatos fundamentals:°3
1. A decomposi â o das estruturas sociais agrârias c a
emi- gra ao da popula$ao para centres urbanos jet existences,
for- ricccndo a forma dc trabalho essencial â industrializa(ao.
2. A massages de uma economia doméstica para uma cconomia
de manufatura, c depots pam uma economia de fabrica o
que qucr dizer, ao mcsmo tcmpo conccntra@o de mao-dc-
obra, cfia@o de um mercado e constitui ao de um meio
industrial.
As cidadcs atracm a indñ stria devido a cstcs dois fatorcs
cssenciais (mao-dc-obra e mcrcado) c, per sua vez, a indñ stria
dcsenvolve novas possibilidades dc emprcgos e suscita scrvi$os.
Mas o proccsso inverso também é importantc: onde hé
elemcntos fiincionais, cm particular matérias-primas e rneios
dc transporte, a indiistria coloniza e provoca a urbaniza@o.
Nos dots CBSOS, o clemento dominantc c a indñ stna, que
or- ganiza intciramentc a paisagcm urbana. Estc domfnio, no
mtanto, nao é um fato tccnoldgico, mas a cxprcssao da l6gica
capitalists
Manuel Castells

que est na base da industrializa‹;âo. A “dcsordem urbana”


nao existc de fzto. Ela representa a oiganiza ao cspacial
provcniente do mercado, e que dccorrc da ausencia de
controle social da ati- vidade industrial. O racionalismo
técnico e a primazia do lucro rcsultam, por um lado, na
anula$ao de toda difercni;a essential cnut as cidadcs e na fusñ o
dos tipos culturais nas camcteristicas globais da civiliza ao
industrial capita)ista; e por outro lado, no desenvolvimento da
cspccializa@o funciona) e na divisao social do trabalho no espa
o, com uma hierarquia entrc os diferentcs aglomerados e um
processo de crescimento cumulativo, deriva- do do jogo das
economies external.°*
Finalmentc, a problemâ tica atual da urbaniza$ao gira cm
tomo dc quatro dados fundamentals e de uma qucstao cxtrema-
mente dclicada:’°
1. A acclera§â o do ritmo da urbaniza ao no contcxto mundial
(ver o quadro n°l).
2. A coriccntra$ao dcste crcscimento urbano nas rcgi0es
ditas “svibdcscnvolvidas”, sem corrcspondéncia com o
crescimcnto econfirnico que acompanhou a primcira
urbaniza$3o nos par- ses capitalistas industrializa.dos (ver o
quadro n°2).
3. O aparccimcnto de novas formas urbanas e, em particular, de
grandes metrdpolcs (ver quadm n°3)
4. A rcla$ao do fcnfimcno urbano com novas formas de articula-
Rao sociai provcnientes do modo de ppc›duJo capitalista e
quc tcndcm a ultrapassI-to.
Nossa pnsquisa esfoya-se por colocar manic ir jm›-
â M‹u, a partir de certas defini Ocs que agora nos parecem pos-
sivcis de propor, com base em algumas obscrva$0m histdricas
que acabamos de fazcr.
1. O tcrmo urbeni âo r -sc en tape 5 constitui-
Rao de forrnas espaciais especfficas das sociedades humanas, ca-
racterizadas pela conccntra$ao s cativa das atividadcs c das
popula 0m num cspyo mtrito, hem como â cxisténcia c a
difusâ o de um sistcma cultural especifico, a cultura urbana. Esta
confu- satu c ideol6gica c tern por linalidade:
a) Fa corresponderem formas ecml6gicas e um conteñ do cultural
A QtJESTAO URflANA

b) Sugcrir uma ideologia da pit›du(ao de valotes sociais a partir


de um fenfimeno “natural“ de densifica$ñ o c de heterogenei-
dades sociais.
2. A n ao de man (oposta a mref) pcrtcncc 1 dicotmnia
ideol6gica sociedadc tradicional/sofiedade modema, e referc-sc a
uma certa heterogeneida‹k social c funcional, scm podcr defini-la
dc outra forma scnñ o pcla siia distincia, mars ou mcnos grande,
c‹›ni mspeito a sociedade modema. A distin‹;â o cntre cidadm e al-
dcias coloca, no entanto, o problcma da difercncia $o das
da organizap3o sociai. Mas csm difetencia$ao nâo sc
rcduz neni a uma dicotomia nt•w a uma evolu o continue, como
o su- plc o cvolucionismo natural, incapaz dc comprcender estas
formas cspaciais como pnxluzidas per uma estrutura e por
processos soci- ais. Aliâ s, a impossibilidadc dc encontrar um
critério empñ ico dc dcfirti an dc orâ ooo ñ apenas a expressao de
um movimento ted- rico. Esta imprecisao é ideologicamcntc
neccssâ ria para cunotar, através dc uma organiza$ao material, o
mito da mcdemidade.
3. Conscqiicntcmccntc, agtiardando uma discussâ o pro-
priarncntc tesrica do problema, cm vez de t'alar de urâ oiir &i,
tratarcmos do day nrief ‹&r . No
interior dcsta problemâ tica, a nd ideolñ gica ‹k ur o referc-sc ao
prune pelo qual uma propor ao significativamente importance
da popula ao dc uma sociedade concentra-se sobre um certo es-
pa o, onde se constitucm lomerados funcio at c socialmente
interdependences do panto dc vzsta numa rela o dc
articu)a@o hicrarquizada (rcde urbana).
4. A anâlise da urbaniza$ao estâ intimamente ligada a
pro- blemâ tica do dcscnoolrimrnto, que também é convenientc
entâ o delimitar. A no ao de fcrmPsffienum opera a mcsma
confus3o
r0ff1CtefldO TO lTiRSMO tCfR}2O 8 Ufft II(VC( ( t CRifiO CiiOHo CO) C B
um processo (trarisforma§ao qualitativa das estrumras sociais,
permitindo um aumcnto do potencial das Koreas produtivas).
Esta confus*o responds a uma fiiri$ñ o idcologica: a que apresen-
ta as translorma Oes cstruturais como simplcs movimento
acu- mulativo dos rccursos técnicos e materials dc uma
sociedadc. Existiriam portanto, ncsta pcrspectiva, varies
niveis c uma cvo- lu$ao lenta, mas inexorâvel, que organize a
passngem, quando ocorrc mresso dc rccursos, para o nivel
superior.
A t)UESTAO URBANA 49

Qudm2

‘ .'&egifies gcog;râhcas 1920 1940 10fi0 1980 1920-60 l9b0-S0

r'*i•* •is cidadcs 1.6O7 1.871 2.242 2.9t19 635 d67


;iUrb4na 233 427 752 1.3f›(l 499 6Ofi

487 53D 5M S5d S7 22


I g5 291 433 62a 248 190
(Gmndcs cidadcs) (8(I) ( l34) i 212) (327) ( t32j ( I IS j

' thief J.J66 1.47b *.fi/J 3.GdO ft29 1.WJ


'Burak pcqucnas cqdaJcx 1.12(1 1.341 1.698 2.343 57R 645
Urbena G8 US 119 737 251 41s
@ittndcs ciAdes) f 16) (41 ) ] 139) t 3981 ( 123) (2SV)

Bural, }+cqucna+ cida‹4cs 7t› 72 7d 6t it 07


.Urbazsa 27 32 42 s4 50 69
(Grandes cidaJcs) (16) (24) 14 G5) 4â) 09)

Whos: Population Division, Ui1ite:I I latinrrl Bureau odSocial Amirs.

5. O problema avocado pcla n ao de dcsenvolvimento é


o na.transforma$ao da estrutura social na base de uma
.socicdade, de maneira a libcrar urria capacidadc dc acumula$ao
pro ssiva (rnls3ao investimento/consumo).
6. Se a n ao de desenvolvimento se situa com referéncia â
articula@o das estruturas dc uma dada forma â o social, ela nao
pode ser analisada scm referéncia a articula§ao dc um conjunto
dc forma$0es sociais (cscala dita “iritemacional”). Para isto, n6s
tiniios nccessidadcs de um segundo conceito: o de n‹ie,
caracterizando as rcla Ocs assimétricas cntrc forma Oes sociais
de modo que a organiza ao cstrutural de uma delas nao tcnha
lfigica fora de sua inser3ao no sistema geral.
50

Cidade lg20 l93fl 1940 I9SD 24}.156


84.92.1

8. t90
4.PbS 5.gg5 a.05tJ 6.3£IG 7.I'g0
Bcrlim 3,8¿u 4.32.1 4.J?0 3..ISO 3.375

Nw'afucquc 7.t2S 9.3SD J0.b00 t2.3S0 t4,j50


lx< An@lcs (7S0t» II.8M))» 2.'2fXI 4.025 6.525
Chic«g‹› 2.950 3.95g 4.200 4.‘75D 6.001}
FiL‹J?k\» t2.025 » (2.3S0)o (2.47S)« 2.150 3.650
Dcm›n \i.uj» • fl.82Sj» f2.n5n›a 2.675 3.550

Tdquit› 4, l6d d.0f›4 8. +5N 8.182 14.534


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OMS f I.889› 2.6tN a.@I a.051 5. j58
?'cquim ( I .000j o ( I.3S0g ‹ 1.750) a (2. IOD) e 5.000
Titnrtin f800) o I I.0fl0}e ( 1.500) o ( I.P00) a 4.$g0
H‹›ng-K‹›ng (560j c l OOH ( !.TOO)c ‹ I.92S›o 2.614
* ^**^R 5 f70gXr ( I. T SD) o ( 1.700) a 2.500
do Jul {/oozJJ J.4f/t? x22P /2.7@
Cckur4 ( I.B2Oj e ‹2.u5»j » 3.400 4.4PD 5.8t0

4.350 4.350 6.150


3.350 ‹2.250

R«c mAim t2.276d» 2.710 5.Tñ0 6,77g


8

M xix› ‹835ja (I.435I« (2.175› 3.80u 6.4S0


&inJc fznrin› ‹I.J25 a ft.a75)o (2.lS0)o 3.DCD 4.7@}.
5¿‹› |*aul‹› 6t)t) a (900) a II.425jn (2.150 n 4.3'7'5

3.320
ay As ciiiadcs infenurr* « 2.500.0Otl mm cvtfiw c‹imprecndiW win ttitais.
_ bJ fewer que TOO. 0£itl

Rae c‹: Pupu)arjnn Division, United Harine-s Bureau ct Sn<iM A flairs.


A QUESTAO URBANA

7. Estas dclimita permitcm substimir a problcmatica


l6gica (conotadora da rcla ao entre evolu$ao técnica natural
''evolu@o em dire ñ o â cultum das sociedades rnodemas) pela

Notas
'1. Oi a cxeclcntc ex{xisi@o dc morivos dc H. T. M. ELDRIGE, “The
lifeless of Urbanimtion”, na ‹ibra dc {. SPEMGLER e O. D.
DUNCAN (W.) D hk AtWyhr, The Free Pass, Glencoe, 1956; c
tarnbém
D. POPENOE, “On the Meaning of Urban in Urban Studies”, cm E
SWS, c E. H. MISRUCHI tcds j, t/r6oniini, t/ment «tion and
Jr, Reading (Mass, Addison Wesley; 1969, pp. 64-76).
2. D.J. BOGUE e PH. M. HAUSER, F0pidn i, iiiii, UW-
&n mid intent stretch, World Population Conference., 19tS3, arti-
gfu (mimco); K. DAVIS, “The urbanization of Human Population”,
, Scientific American, set. I9d5.
3. Cf. E. BERGEL, U tn» , No iass, N. wnERSON.
°Urbanisrn and Urbanization”, ii Job @ t. 65, 1959-60.
p. h8; G. Fricdmann, UJR rr Ce j›ey. A. Colin, Farrs, 1953; J.
SIRIAMAXI, TJ r .ñr , a/UiU, Random House, New York, 1961;
A BOSKOFF, H $otfݖ QUO Rr ', Appl Ccnniry C fts,
l'4ew York 1962; N. P. GIST e S. F. FAVA. Urbnn SociitT, T Y.
Cmwcll, ” ord, 1964
4. Cf. para a cxposi$âo, L.WIRTH, WAs›iim in a ofIifi^, AriN-
‹as/o‹ma/ @5‹›ci• , /ulho, f93g.

6. P. A. SOROKIN e C. C. ZIMMERMAlst, Print:rpm of Rural-t/rban


,New York, 1929.
7. G. SJOBER€i, 7ñr Prr-iz City. The Fmc Press, Glcncoc, 19d0.
, Z?r f7rbsii / rz›r‹ut. The Free Chess, Gkncoe, fP64.
9. H. T. ELDRIDGE, op. cit., 1950, p. 338.
10. E GEORGE, brit dr Gothic t/t6oinr, PUF, 1964, pp, 7-20.
S2

12. U.S. C of P0pulotñm: J9d0 Nutr «/i›i/zoñfaoo, Uiiird


.'i*rm, So»min y, Final Report, P C. (1)-lA, 1961.

14. MUMFORD, 7ñr Ci9 in Hinoty, New York, Harcant, Braer and
World, 1961; ROBERT C., Me C. ADAMS, Du £ fu&ti «f Urboti H-
err, Airline Publishing Co, Chicago, 1966; ERIC E. LAMPARt9, "Hwori-
cel t‹ «f UrLonit i”, us PH. HAUSER c LEO E SCHNORE
(cds), 77a So@ o/UMiimrio›i, J. Witcy, New York, 1965, pp. 519-554.
lS. Ct. G. SIOBERG, up. cit., 1960, pp. 27-31 ; c ‹i ñin timer
publica- du por R. J. BRADWOOD c G. R. WILLE1’ (c‹1s). Course
Toward Urbati Life: Archeological Cunsidcmrion of some Cultural
Alternates,
€ihicago, 1962.
16. Cf. V G. CHII.DE, “The Urban Revolution”, fo ' PRnrii
cii• abril dc 1950, pp. 4-S.

I S. Cth L. MUMFORD. op. cit., 1901, pp. 266-311 da traduy*o fian-


ccsa, his, Scuil, l96A.
19. H. PIRENNE, frs riffrr dv form- r, Bruxellcs, 1927.
20. A method anâ lLw deste fenomcno é a de M. WEBER, no
tFirnJ«j2 und €lcsclhcliafl, p. 9S5. c scguintcs da rradu to
c.spanhola, F. C. E.,
Mcwico, 1964.

22. Cf. H. LEFEBVRE, Lr Trait â In nilL:, Anthn›pos, 1968, c tamHm a


ctilc in dc ensaios do nicsmo auror, Dir rims ct K l'urhnin, Paris,
Anthrupus, 1970.
23. Cf. J. LABASSE, L'oryatiisafioti& frpnz, Paris, Hermann,
24. P GEORGE, L« , Pan.s. EU.F., 1950.
25. Esrcs pmblcmas sio colocados claramcntc. sem indicar caminhos
de pescJui.sa nitidamcnte dcfinidc›s. cm SCOTT GREER, DENNIS, L,
Mc ELRATH, DAVID \V IINAR c PETER ORLEANS (ed. ), TR
No Mrbanic t m, Mew York. St. Martin's Press, 1968.

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