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A PROBLEMÁTICA DA LOGÍSTICA NO CAPITALISMO ATUAL E A SUA

CENTRALIDADE PELA RESISTÊNCIA: NOTAS SOBRE O BREQUE DOS APPS E


A GERAÇÃO U

Esse trabalho pretende discutir acerca da temática da atual fase do capitalismo, marcado pelo
pós-pandemia, mas também por desenvolvimentos anteriores como a Crise Financeira Global
e assim, discorrer sobre a centralidade dos setores logísticos e de serviços dentro da economia
global, utilizando a literatura recente sobre o tema além da experiência de luta de dois casos
importantes para países marcados pelos efeitos da pandemia. Veremos, que por detrás das
redes logísticas existem novas redes de trabalho.
Palavras-Chave: Reestruturação Produtiva; Luta de Classes; Geografia do Trabalho

1.Introdução;
Neste artigo, pretendemos partir das caracterizações da atual fase do capitalismo. De
um capitalismo “just-in-time” marcado pelos desdobramentos da crise de 2008 e da pandemia
da Covid-19. Remover o “fetichismo”, parafraseando Iuri Tonelo, dos setores cruciais para o
funcionamento da economia global, que fazem parte de redes logísticas e assim de redes de
trabalho, comparando processos de luta complexos dos trabalhadores das empresas que
ganharam destaque com a pandemia (Antunes, 2020), exatamente pela sua centralidade dentro
da economia atual e não coincidentemente estão ligadas à logística, serviços e distribuição de
mercadorias. Nos apoiamos nas reflexões e trabalhos sobre as dinâmicas do capital, marcados
pela hegemonia do capital financeiro e os monopólios (Lenin, 1916), processos de
financeirização (Sanfelici, 2018), proeminência dos setores de logística (Mercadante, 2021;
Sanfelici e Magnani,2021; Yassu, 2022) e serviços (Tonelo, 2021).

Dessa forma, veremos que as novas formas de exploração do capital não pairam no ar
como uma única alternativa social e geram processos de resistência. Usaremos o processo do
Breque dos Apps, movimento grevista de entregadores de aplicativos, como Ifood, UberEats e
Rappi no Brasil em plena pandemia e influenciado pelo Black Lives Matter nos Estados
Unidos e a ainda em marcha Geração U (que vem de Union, ou seja, sindicato em inglês), ou
onda de sindicalização americana que atinge principalmente a àrea dos serviços, como os
armazéns da Amazon, lojas da Starbucks, Trader Joe’s, entre outros. A similaridade que re-
justifica a comparação vem de que como veremos, além do setor econômico se encontram, na
composição social nesses trabalhos, jovens, muitas vezes negros, imigrantes ou de origem
precária.
2. A centralidade da logística e a nova morfologia do trabalho

Para entender a atual forma do capitalismo atual, nos apoiamos na caracterização de


Tonelo (2021) sobre o regime de acumulação flexível, teorizado por David Harvey e outros
autores nos anos de 1980, que hoje passa por uma reestruturação produtiva fruto da crise de
2008 e seus desdobramentos. De acordo com o autor, nos aspectos das relações de trabalho, se
aprofundam aspectos como a flexibilização, a terceirização e o trabalho imigrante. E ainda a

“capacidade com a qual o capital, pela via das novas tecnologias de comunicação,
vem conseguindo incorporar uma série de trabalhos antes informais, fragmentados, a uma rede
de monopólios, plataformas digitais, ‘proletarizando’ o setor de serviços” (Tonelo, 2020)

Na questão da relação entre Estados surgem choques geopolíticos que questionam o


modelo de globalização neoliberal que se forjou com a chamada “acumulação flexível”
(Harvey,1989). Na nossa visão, se podemos falar de uma reestruturação, teríamos que
adicionar também o aprofundamento e proeminência de antigos e novos mecanismos
financeiros.

Com as reflexões de Sanfelici (2018; 2021) e Pessanha (2019) sobre os fundos


financeiros, vemos o surgimento de gestoras de fundos, como a BlackRock que administra um
capital que só perde para países como China e EUA, e o destaque para novos mecanismos
como Fundos de Investimento Imobiliários. Dessa forma vemos essa nova reestruturação
produtiva, como uma combinação dos fatores citados, mas tendo as novas tecnologias da
informação e comunicação (TIC) como a base técnico-material desse atual regime de
acumulação capitalista. A contra-cara desse regime surge então em um importante e central
ator, o proletariado dos serviços, intimamente ligado à logística, que vem protagonizando
diversos processos de luta nos últimos anos.

Observamos a importância e a caracterização da logística a partir do trabalho de Yassu


(2022),

“A logística abarca um amplo leque de atividades que têm a finalidade de


estruturar e organizar a produção, a circulação e o consumo no tempo e no espaço.
Uma atividade que se realiza através da coordenação e do controle da movimentação
de pessoas, informações, recursos e mercadorias. A reestruturação produtiva marcada
pela flexibilização nas mais variadas dimensões dispersa-se no espaço em uma série
de fixos e fluxos sob o controle da logística e da racionalidade financeira (Danyluk,
2018).”

A concepção do autor abarca a logística como uma atividade relacionada ao transporte


ou distribuição de mercadorias para a sua realização no consumo e como escreve Marx, “o
valor de uso das coisas só se realiza em seu consumo, o qual pode exigir seu deslocamento
espacial e, portanto, o processo adicional de produção da indústria do transporte.”. Dessa
forma, os nós logísticos da economia global ganham ainda mais importância do que no século
XIX, por exemplo.

A condição da globalização neoliberal (ainda que em momento de "metamorfose") e


de consumo das grandes metrópoles, adicionando o fator pandêmico, reafirma ao nosso ver a
afirmação da “indústria do transporte” de Marx, como o que se chamou das cadeias globais de
valor (Mercatante, 2021) mas que na última década ganhou o advento de novas formas de nós
e redes logísticas e novas formas relações com o mercado financeiro (Sanfelici, 2018). E que
se materializam no surgimento de uma nova centralidade para galpões logísticos (Yassu,
2022) e entregadores de aplicativos (Antunes, 2020)1, que desenham novas formações e
relações para as cidades.

As recentes pesquisas de Daniel Sanfelici não podem ser separadas do que se


comumente se chamou de “uberização”. Como por exemplo, o crescimento de FIIs que
captam renda fundiária para especulação imobiliária de uma forma ainda mais ligada ao
capital financeiro, reedita padrões das cidades e acompanham tendências da chamada
“economia real”. A centralidade da logística impulsionada pelo crescimento do e-commerce e
o varejo, foi acompanhada pelo mercado de FIIs brasileiros e a expansão desse mecanismo
financeiro e seu parque logístico. O número quintuplicou nos últimos 10 anos e hoje temos
30% de todo parque logístico brasileiro no portfólio imobiliário desses atores. (Sanfelici e
Magnani, 2022) Além disso, os anos de 2018, 2019 e 2020 foram anos com recorde de criação
de FIIs especializados no segmento logístico. Um processo que acontece “por cima” dentro
das bolsas enquanto “por baixo” nas cidades se expandem os galpões e até cidades-galpões,
como o caso de Cajamar/SP analisada pelo já citado Yassu, e se aprofundam as condições de
trabalho do capitalismo “just-in-time”.

Surge assim, o trabalho plataformizado,

“na utilização de novas tecnologias de comunicação com a emergência das economias


da plataforma como forma de debilitar decisivamente qualquer elemento de estabilidade
laboral e aumentar o controle do trabalho (Tonelo, 2020)”

Também criando seus próprios territórios do trabalho e autarquias, como aponta Fábio
Tozi, em recente apresentação no IV Colóquio de Espaço e Economia. O algoritmo gerado

1Fixos e fluxos que vamos deter aqui, mas que no regime de acumulação atual poderíamos citar
diversos outros.
pelas grandes empresas, que têm suas sedes em países centrais, controla e atonomiza o
trabalho de milhões, como entregadores de aplicativos com o uso de georreferenciamento e
trabalhadores de galpões da Amazon com denúncias de ter que fazer “xixi na garrafa”.

Citaremos assim dois processos de resistência ligados a esse trabalho plataformizado


que primordialmente se liga aos setores logísticos e de serviços, mas que se expande para
outras áreas do labor, em consonância com os objetivos de Thomaz Junior(2019)

“a dinâmica geográfica do trabalho, expressa no processo de construção/formação e


de resistência, requer que nos posicionemos com objetivos de identificar os protagonistas das
lutas de confronto com o capital, com o Estado e com os setores dominantes da burguesia”

3. Em meio à pandemia, um “Breque dos Apps”

No dia 1 de julho de 2020, centenas de motos de entregadores de aplicativos


buzinavam pela Marginal Tietê de São Paulo. O movimento também acontecia por todo país e
ganhava solidariedade internacional. Uma greve do Metrô de São Paulo poderia ter
acontecido naquele momento, mas foi adiada pela burocracia sindical(ESQUERDA DIÁRIO,
2020). Em uma conjuntura marcada pelo levante negro que tomava os Estados Unidos e
realizando a importância do seu trabalho, os entregadores da Rappi, Uber Eats e Ifood se
organizavam e marcaram para esse dia uma greve geral dos trabalhadores de aplicativo,
chamando motoristas e outras categorias a também paralisar seu trabalho.

Com o advento da Covid-19 e as políticas sanitárias de lockdown, a classe


trabalhadora foi dividida entre aqueles que podiam ficar em casa e os que tinham que
trabalhar fora. Como observado por Sanfelici e Magnani (2021), nunca o país teve um
crescimento tão alto do e-commerce, algo que impulsionou a construção de galpões logísticos
perto das cidades e em regiões específicas de alimentação das metrópoles, mas também o
delivery em geral marcado pelos entregadores.

A pandemia, além das mortes que naquele momento já batiam 1 mil mortes diárias de
acordo com dados disponibilizados pelo Google, gerava crise, fome e desemprego com o
fechamento da economia. No sentido do que descreve Abílio (2020), o trabalho
plataformizado não precisa de uma entrevista de emprego ou de admissão, só instalar o
aplicativo para começar a trabalhar e assim estar à mercê das mais pura competição. Até hoje,
mas especialmente durante o “Breque”, os trabalhadores denunciavam que fruto das
condições de crise e grande “admissão” de entregadores, as taxas que recebiam pelas entregas
tinham caído, enquanto as horas trabalhadas aumentavam. Gonsales(2020), aponta:
“Mesmo com a demanda do setor aquecida, entregadores e entregadoras afirmaram
que estavam recebendo poucas chamadas, que o tempo de espera entre cada pedido havia
aumentado e os rendimentos estavam reduzidos, já que, quanto maior o número de
trabalhadores e trabalhadoras disponíveis, menor o valor pago por seu tempo de trabalho.”

Outros acontecimentos também eram denunciados, como os desligamentos - ou


melhor colocado demissões, que eram feitas sem motivo aparente e em casos como de
trabalhadores que passavam mal no caminho da entrega e não podiam realiza-lá, não recebiam
qualquer direito à tratamento pelas empresas por sua condição de “colaboradores” ou
“prestadores de serviço” e ainda recebiam punições. Ou seja, uma condição onde “a
administração de si, ao mesmo tempo que inteiramente subordinada, se exerce como total
responsabilidade do trabalhador".(Abílio,2021)

Os trabalhadores demandavam naquele momento, principalmente, três questões:


Aumento do valor mínimo do frete e do conjunto das entregas, fim dos bloqueios ou
desligamentos indevidos e EPI's adequadas. A pesquisa coordenada por Daphne Helena e o
Observatório da Precarização do Trabalho e da Reestruturação Produtiva do Esquerda Diário,
entrevistou os entregadores neste dia 1º de julho. As conclusões dos pesquisadores envolvidos
chama atenção de um público mais jovem que tende a se mobilizar, como apontam

“Os dados coletados em campo mostram que 38% eram entregadores de até 24 anos.
Este aspecto é interessante, uma vez que a pesquisa realizada pela Rede de Estudos e
Monitoramento Interdisciplinar da Reforma Trabalhista (Remir), chega a conclusão de que
15% da categoria possui até 24 anos.”(Helena, 2020)

Nos parece relevante também, outros dados como serem um setor de sua ampla
maioria homens negros (96% homens / 67% negros) e de até 34 anos (82%). Ainda que o
número já citado de 38% de até 24 anos seja considerável. Paulo Lima, ou conhecido como
Galo, figura que emergiu como figura do “Breque dos Apps” e dos Entregadores
Antifascistas, tinha 31 anos naquele momento.

A jornada de trabalho dos entregadores mostrou que 77% trabalha mais de 10 horas
por dia e 40% mais de 12 horas e 70% em mais de um aplicativo. O que demonstra como as
políticas atuais dos aplicativos de restringir as jornadas dos trabalhadores - limites de 8h ou
10h ativos no aplicativos, não surtem efeito já que podem migrar de aplicativo facilmente.
Com tamanha jornada, surge que 51% afirmam ter sofrido acidentes de trabalho. E como
momento de “auge pandêmico”, 31% conheciam pessoas que tiveram sintomas de covid-19 e
73% haviam sido testados, o que naquele momento significava pessoas com sintomas graves
da doença de acordo com recomendação do Ministério da Saúde. Outro dado interessante é
que 40% dos entregadores que participaram das mobilizações disseram ser contrários ao
governo Bolsonaro.

Para concluir vemos como aponta Gonsales(2020)

“Outrora invisíveis, esses trabalhadores e trabalhadoras se tornaram, da noite para o


dia, “heróis”, pois assumiram (sem alternativas) os riscos de contaminação e seguiram nas
ruas e entregando pedidos para que os demais ficassem em casa.”

Ou seja, o trabalho de transporte que anteriormente era “invisível”, e ainda sim


central, tornou-se heróico.

O “Breque”, como analisado, foi resultado das condições de trabalho descritas,


amplificadas pela pandemia e também por redes de resistência que se formaram. Além dos já
citados, “Entregadores Antifascistas”, aparece também o perfil Treta no Trampo no instagram
que tem como objetivo externalizar as condições de trabalho dos entregadores e também suas
ações de luta. Estes sendo, dois exemplos que dessa forma, surgem resistências que desafiam
as novas condições desse trabalho plataformizado (Graham e Anwar, 2020) e também as
formas mais tradicionais de organização dos trabalhadores, como nesse caso o Sindmoto-SP
(Tonelo, 2020), se utilizando dos algoritmos e das plataformas para construir mobilizações
reivindicam melhores condições de trabalho.

4. Uma geração que se sindicaliza

De acordo com o jornal Washington Post, 10,3% dos trabalhadores americanos estão
hoje organizados em sindicatos, um cenário que é utilizado pelos executivos de grandes
empresas para um discurso anti-sindicalização, mas que esbarra na realidade americana.
(Greenhouse, 2022)

São mais de 250 lojas da Starbucks que conquistaram seus sindicatos(FEMINISMO E


MARXISMO, 2022). 75% dos americanos dizem precisar de uma “representação sindical
para melhor segurança no emprego, remuneração e condições de trabalho seguras”(Zakarin,
2022). Faltam escritos brasileiros, sobre um processo também recente que vem acontecendo
nos Estados Unidos. Tentaremos nessa parte dar conta da literatura jornalística e militante do
processo da chamada Geração Union(sindicato em inglês).

Como pontua Jimena Vergara, entrevistada no podcast Feminismo e Marxismo, já


citado, o processo de sindicalização americano e especialmente de jovens é mais uma das
ressonâncias da crise de 2008. Marcado politicamente pelos desdobramentos como o
movimento “Occupy Wall Street”. Pelas eleições e governo Trump, que teve 1 milhão de
mortes pela Covid-19.O fenômeno de jovens em apoio à Bernie Sanders e a insurreição negra
e latina no verão de 2020 do hemisfério norte contra o racismo e a violência policial.

Vergara lista esses acontecimentos, já que fazem parte da conjuntura mais ampla do
país, junto com processos de uberização e ampliação do trabalho precário. Jovens de até 34
anos, mulheres, negros, latinos, queer e jovens brancos com altos níveis de dívida estudantil
são empurrados à trabalhos cada vez mais precários e influenciados politicamente nestes mais
de 10 anos desde a crise de 2008.

A geração U, tem sido dessa forma, um fenômeno de juventude que penetra àreas da
economia não necessariamente das logísticas.(Meyerson, 2022) Mas vem tomando setores
como os trabalhadores de galpões logísticos da Amazon, sindicalizando o primeiro galpão
americano.

Como pontua (Press, 2022), a Amazon emprega no país mais de 1 bilhão de pessoas,
sem contar empresas terceirizadas e é o segundo maior empregador privado do país. As
condições de trabalho desses armazéns e da Amazon, como mencionado na segunda parte
deste trabalho, é um dos signos da uberização. “Em 2021, a Amazon arrecadou
impressionantes US$ 33,6 bilhões em lucros, mas ainda paga aos funcionários do armazém
em média menos do que o salário mínimo.”(Cozzarelli e Hoff, 2022). A sindicalização do
armazém em Staten Island, região perto da cidade de Nova Iorque, é um marco onde
trabalham mais de 8000 trabalhadores (Press, 2022).

Vergara (2022) e Cozzaleri e Hoff (2022) dessa maneira, indicam que não se trata de
um marco isolado, com tentativa de sindicalizações em armazéns da Amazon na Carolina do
Norte, Kentucky e Alabama. O diferencial da planta nova-iorquina seria exatamente o que
chamam de um sindicalismo de base (Cozzaleri e Hoff, 2022) ou um “sindicalismo do chão
de fábrica" (Meyerson, 2022). O Amazon Labor Union(ALU) forma - se assim dirigido por
Chris Smalls, um homem negro de 34 anos,

“na esteira de um período de incrível crise e luta de classes definido pela


pandemia e as revoltas em massa contra a violência policial em 2020, eventos que
ajudaram a radicalizar toda uma nova geração de trabalhadores. A pandemia e as
revoltas do BLM moldaram profundamente toda a classe trabalhadora – como foi
destacado pela onda de greves e ações trabalhistas em outubro passado (#Striketober),
quando trabalhadores de todo o país exigiram melhores condições de trabalho.
Mineiros, profissionais de saúde, carpinteiros e trabalhadores sinfônicos entraram em
greve. Foi uma rebelião dos trabalhadores “essenciais” que arriscaram suas vidas e
mantiveram a economia funcionando durante todo o bloqueio pandêmico.”(Cozzareli
e Hoff, 2022)

E mais especificamente em um processo de luta pelos direitos dos trabalhadores em


meio à pandemia. Ainda em 2020, Smalls foi demitido por se manifestar por condições de
trabalho adequadas à situação pandêmica. Desde aí, foi organizando “por baixo” um
movimento que utilizava grupos de celular, churrascos, tendas e conversas perto do armazém,
mas também no ponto de ônibus próximo da planta para convencer os trabalhadores da
necessidade da sindicalização e contra as condições de trabalho.

A ligação da luta dos trabalhadores com a luta dos direitos raciais, lgbtsqiap+ e das
mulheres aparece muito forte na Geração U (Brain, 2022) e na luta da ALU,

“Como uma organizadora, Angelika Maldonado explicou a Jacobin, trazer


comida africana para a tenda atraiu mais trabalhadores africanos. Sylla, que é ele
próprio da Libéria, também fez chats de WhatsApp para os muitos imigrantes
africanos para envolvê-los mais no esforço de sindicalização.”(Cozzareli e Hoff,
2022)

A vitória da criação do sindicato, inspira outros trabalhadores e impulsiona ainda


mais a Geração U, à lutarem por seus sindicatos. Por exemplo, “A ALU já foi contatada por
trabalhadores de outras 100 plantas da Amazon interessados em formar seu próprio
sindicato.”(Cozzareli e Hoff, 2022). Questionando as condições precárias de trabalho da
Amazon, a ALU coloca como demanda lutar por um salário mínimo de US$ 30, dois
intervalos pagos de 30 minutos, mais folgas remuneradas e o fim das horas extras
obrigatórias.

5. Conclusões

Dessa forma, podemos observar como a reestruturação produtiva vem criando novas
geografias da produção urbana(Sanfelici e Magnani, 2022) e geografias do trabalho. A
centralidade da logística no capitalismo atual,

Com uma nova divisão social e técnica do trabalho, articulada através da


intensificação dos fluxos e da comutação de atividades, ocorre uma dilatação do
espaço cotidiano, constituindo uma forma urbana mais complexa. A partir disso, a
logística configura-se como um dos elementos estruturadores dessa forma urbana, ao
mesmo tempo que a produz.(Yassu, 2022)

E produz redes de mercadorias e de capital que não podem ser ignoradas do seu fator
humano, o trabalho. Ao passo que são constituídas como vimos de condições precárias de
vida, os processos de financeirização e uberização devem ser assim atrelados porém, ao nosso
ver com a centralidade da questão do trabalho, que

se coloca como vital é não aceitar a reestruturação como o novo dado das
relações de trabalho, mas questionar todos os seus pilares e o completo desrespeito a
qualquer legislação trabalhista, mesmo nos limites do ordenamento do próprio regime
político do capital, que passa pela necessidade do movimento avançar em colocar
como suas demandas explicitamente que essa luta se enfrenta contra a precarização do
trabalho e reivindica direitos trabalhistas integrais para os trabalhadores” (Tonelo,
2020)
Algo que, nos apoiando na reflexão de Tonelo, tentamos trazer ao citar os processos
do Breque dos Apps e da Geração U, demonstrando a ligação desse trabalho precário com
setores racializados da economia, como negros e imigrantes, além das suas novas formas de
organização contra sua impostas condições de vida. A reestruturação produtiva ainda está em
curso, e assim necessita de outras e novas pesquisas.

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