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http://doi.org/10.5007/2177-5230.2020v35n76p352
Resumo: Neste artigo, o comércio eletrônico é tomado como pauta para uma
análise geográfica de sua estrutura e de diferentes aspectos. Dentre estes aspectos,
apresentaremos alguns rascunhos teóricos sobre a influência desta atividade nas
pequenas cidades. Para tanto, o texto contextualiza o surgimento dessa atividade no
contexto dos novos cenários macroeconômicos, tendo como enfoque a tecnologia
de informação e as mudanças na relação entre as empresas, ressaltando-se, assim,
a análise das recentes transformações no âmbito da realização da mercadoria,
configurada na forma do comércio, e sua logística espacial. A análise se apresenta
mediante um paralelo entre os fatores que representam a mudança no comércio e
sua relação com a indústria trazendo como pano de fundo nesta discussão uma
leitura de alguns apontamentos de economistas políticos clássicos como Karl Marx e
outros, de forma que o entendimento dessas mudanças pela ciência geográfica
tenha como ponto de apoio sua dinâmica espacial. Nesta mesma ótica, o trabalho
aponta caminhos epistemológicos para a interpretação geográfica do objeto de
estudo.
Palavras-chave: Geografia Econômica. Comércio Varejista. Tecnologia de
Informação. Comércio Eletrônico. Pequenas Cidades.
Introdução
Uma retomada da história econômica brasileira nas últimas décadas permite
reconhecer um processo de mudança na estrutura comercial baseada em
transformações de ordem macroeconômicas. Tais mudanças vêm ocorrendo desde
o início do século XX, no momento em que o capital produtivo já alcançava certa
maturidade, pois vem se desenvolvendo desde o início do século XIX, e o mercado
começa a ser impulsionado tanto para a realização da mercadoria, como no
desenvolvimento de instrumentos para geração de demanda. No Brasil, houve
significativas mudanças no cenário das estruturas comerciais, devido a diminuição
dos oligopsônios nos anos 50, acompanhando uma tendência mundial.
No entanto, a busca por inovações técnicas, principalmente nas áreas de
informática e de telecomunicações, motivadas pela crise do capitalismo dos anos da
década de 1970, e marcada na história pela crise do petróleo, com consequências
nas bases produtivas de maneira em geral. Sobre estas inovações técnicas não se
podem dizer que a crise nesse modo de produzir, com destaque para o sistema
toyotista e uma organização geral da sociedade com bases no fordismo 2, tenha
levado ao seu fim. Mas podemos afirmar que tal crise, foi um dos principais pilares
2A conclusão geral a que cheguei e que, uma vez adquirida, serviu de fio condutor de meus estudos,
pode formular-se resumidamente assim: na produção social de sua existência, os homens
estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade, relações de
produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas
materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a
base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política à qual correspondem
determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o
desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral". (MARX, Karl. Prefácio a Contribuição
à crítica da economia política. In BOTELHO, André (org) Essencial sociologia. São Paulo: Penguin
Classics/Cia. Das Letras, 2013, p. 35)
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municípios não conseguem suprir a demanda de consumo que cada vez mais se
apresenta como global). Assim, as tecnologias no setor de automação, que engloba
meios de comunicação, é o que dá unidade a esse processo. O espaço organizou-
se e modelou-se para dinamizar o próprio fluxo de matéria-prima, produção e
mercadorias pela matriz industrial desenvolvida, nessa nova perspectiva. A
infraestrutura presente no mesmo espaço se torna passível de revisões conceituais
sobre a materialização dos objetos e equipamentos dessa nova ordem, sendo
possível, como já ressaltado, estabelecer o papel do comércio eletrônico, enquanto
meio de reprodução do sistema capitalista, nas grandes, médias e pequenas
cidades.
Inicialmente, este artigo apresentará à relação entre a concepção do comércio
eletrônico enquanto derivado do processo de inovação das tecnologias de
computação e de comunicação, e sua relação e enquadramento dentro das
transformações econômicas de maneira em geral. A seguir, será analisado os dados
do perfil do consumidor brasileiro, de forma que possamos estabelecer relações com
o campo espacial, no prospecto das pequenas e médias cidades. Para finalizar, será
estabelecida o campo de relação da atividade do comércio eletrônico com a ciência
geográfica, de forma que possamos fechar este artigo com as considerações finais a
despeito das conclusões dos autores e o apontamento de caminhos investigativos
para a geografia com relação a esta temática.
dado à precariedade das redes de internet, tanto por cabo, como por sistema sem
fio. Cabe lembrar que o telefone móvel demorou apenas alguns anos para se
popularizar de forma expressiva, ao contrário de alguns elementos tecnológicos
como televisor e geladeira, que demoraram mais de uma década para atingir mais
de 50 milhões de usuários. A internet, por sua vez, precisou de dois anos para
atingir essa cifra, apesar desta discrepância em termos de disposição no território
brasileiro.
Mas essa nova perspectiva nos remete a uma revisão conceitual da ciência
que trata da organização espacial sobre a materialização dos objetos e
equipamentos presentes no espaço na nova era digital. A escolha por este tema se
deu, principalmente, pelo desafio de trabalhar na perspectiva de uma nova forma de
negócio que nos conduz a uma espacialidade insólita pela falta de materialização de
objetos no espaço pelas empresas e a perspectiva de um consumo globalizado,
principalmente para o consumidor localizado nas pequenas cidades. Estas criam sua
estrutura com baixo estoque de capital, porém não só influenciam a dinâmica do
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Tabela 01- Dados sobre uso da internet no Brasil: crescimento percentual (set. de 1997–
nov. 2018)
ANO DA POPULAÇÃO INTERNAUTA % DA FONTE DA PESQUISA
PESQUISA TOTAL POPULAÇÃO INTERNAUTAS
(MILHÕES)
(MILHÕES)
2018/nov. 209,0 116 56,6% IBGE
2015/set. 204,9 106,6 51,6% Banco Mundial
2011 203,4 70,18 45,7% Banco Mundial
2006/dez. 188,6 51,96 28,2% Internet WorldStats
2005/jan. 185,6 25,90 13,9% Internet WorldStats
2004/jan. 178,4 20,05 11,5% Nielsen NetRatings
2003/jan. 176,0 14,32 8,1% Nielsen NetRatings
2002/ago. 175,0 13,98 7,9% Nielsen NetRatings
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variação de 2014 para 2015 onde foi acrescido um pouco mais de 1 milhão de e-
consumidores, e chegamos ao número final de 39.141.590 de e-consumidores em
2015.
Figura 01- Brasil: Taxas de Aumento de Compras realizadas por meio do uso de
Smartphones
automaticamente não produzindo um ticket alto (valor do produto) por este meio,
conforme (Figura 03) a seguir:
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Fato este que não substituí a demanda por estruturas físicas, pois apesar da loja ser virtual, há a
necessidade da presença de depósitos e outros locais para preparar as mercadorias vendidas para
serem despachadas.
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Neste sentido, entendemos que as empresas que realizam negócios por meio
de uma página eletrônica está em todos os lugares possíveis em que o consumidor
consegue ter acesso a esta pagina eletrônica, e desta forma o alcance pode se
tornar global, se todos as barreiras de linguagem não forem consideradas, tanto por
parte do consumidor que pode estar localizado em um pequeno município, mas que
não encontra barreiras com a língua apresentada pela página eletrônica, como por
parte da empresa que hoje tem disponível diversos tradutores automáticos para sua
página eletrônica.
Deste modo, nesta concepção, o que podemos avaliar sob a ótica da ciência
geográfica, é a “disputa” entre diferentes empresas no cenário virtual em um
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Considerações Finais
Nesse sentido, ao realizarmos uma pesquisa sobre o comércio eletrônico,
remetemos essa perspectiva ao entendimento das transformações do comércio de
forma a apresentar-se em diferentes faces. O consumo pela internet, para o caso
brasileiro, ainda não se tornou realidade: os dados são “tímidos”; mas encontra-se
em plena fase de expansão, como mostram os dados anteriormente apresentados.
No entanto, sua realização social, ou ao que podemos atribuir ao papel da plena
“fetichização” da mercadoria, apresenta-se de forma considerável em razão de
“marcas” já consolidadas no mercado e que subsidiam o padrão de consumo dos
produtos negociados pela internet. O exemplo mais claro dessa afirmativa está no
consumo e na certeza — atribuída pelo consenso popular — de que a compra de
produtos eletrônicos tem mais garantia quando associada a marcas como Sony,
Phillips, Panasonic e outras.
REFERÊNCIAS
CHANDLER, Alfred. Ensaios para a teoria da grande empresa. Rio de Janeiro: editora da
Fundação Getúlio Vargas, 1998.
CRONIN, Mary. Fazendo “business” via internet. São Paulo: Erika, 2005.
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DRUCKER, Peter. A revolução do comércio eletrônico. In: JULIO, Carlos Alberto; SALIBIU
NETO, José. E-business e tecnologia: autores e conceitos imprescindíveis. São Paulo:
Publifolha, 2001, p. 90–107.
MAYO, A.; NOHRIA, N. Da crise do petróleo à internet — série “O mundo dos negócios e
seus ícones”. São Paulo: Campus, 2008.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: editora da Universidade de São Paulo,
2005.
NOTAS DE AUTOR
CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA:
Pedro Eduardo Ribeiro de Toledo - Concepção. Coleta de dados, Análise de dados, Elaboração do manuscrito
e revisão da versão final do trabalho
FINANCIAMENTO
Não se aplica.
CONFLITO DE INTERESSES
Não se aplica.
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LICENÇA DE USO
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HISTÓRICO
Recebido em: 08-04-2019
Aprovado em: 28-05-2020