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XXV Encontro de Geografia (ENGEO)

XIX Encontro de Geografia do Sudoeste do Paraná (ENGESOP)


29 de maio a 03 de junho de 2023
O ESTUDO DAS ECONOMIAS DE AGLOMERAÇÃO COMO
POSSIBILIDADE PARA A COMPREENSÃO DAS ECONOMIAS
REGIONAIS1

Eduardo VON DENTZ


Universidade Federal de Santa Catarina – eduardovondentz@hotmail.com

Carlos José ESPÍNDOLA


Universidade Federal de Santa Catarina – carlos.espindola@ufsc.br

INTRODUÇÃO
Os estudos sobre economia regional e economias de aglomeração na área de
Geografia, quando localizados, encontram-se no âmbito da subárea da Geografia
econômica. Diniz e Mendez (2021) afirmam que, para esses estudos é imprescindível
olhar e compreender os processos de modernização das estruturas produtivas,
principalmente através das transformações ocorridas na indústria. Neste sentido, cabe
considerar as duas primeiras décadas do século XXI, nas quais ocorreu forte
crescimento econômico em função da expansão de novos negócios nas áreas de
serviços, comércio e indústrias localizados sobremaneira em cidades com capacidade de
centralizar atividades econômicas no interior do Brasil.
Os fatores de atração de empresas podem ser relacionais aos apontamentos de
Makusen (1995), os quais identificam em uma área com maior poder de atração e
manutenção de investimentos a denominação de stick place, ou seja, lugares pegajosos,
com capacidade de atrair investimentos capitalistas. Markusen (1995) destaca que essas
áreas também podem ser denominadas de novos distritos industriais, resultantes de
políticas econômicas de descentralização dos distritos industriais tradicionais, com alto
poder de aglutinação de atividades econômicas, se assemelhando, portanto, à
nomenclatura das economias de aglomeração. Conforme Corrêa (1987), as economias
de aglomeração podem ser classificadas em: (a) economias de localização, que são
economias de escala externas às firmas, mas internas a um setor de atividade de um
centro urbano; e (b) economias de urbanização, que são externas às firmas, mas internas
ao centro urbano.

1
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo
financiamento da pesquisa.

Campus de Francisco Beltrão. Rua Maringá, 1200 – Bairro Vila Nova – Caixa Postal 371 Fone (46)
3520-4848 / 3520-4849 – CEP: 85605-010 – Francisco Beltrão – PR
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Com o avanço dessas discussões, nos anos 1990 diferentes autores passaram a
dar novos sentidos à teoria da aglomeração econômica, assim, “não é mais o estudo da
localização industrial que interessa. Mas sim, o estudo do crescimento das cidades e das
indústrias que aí se localizam” (TINOCO, 2003, p. 50). Essa nova preocupação passa a
ver as economias de aglomeração como dinâmicas. Nesta ótica, cabe a pergunta:
considerar a formação das economias de aglomeração, sua dinâmica e complexidade
que ganharam novos contornos com o passar dos anos; pode ser interessante para a
compreensão da dinâmica das economias regionais?
Neste sentido, considera-se como hipótese que a abordagem teórica das
economias de aglomeração pode sim contribuir nos estudos de geografia econômica,
principalmente para a compreensão de economias regionais vistas como dinâmicas,
sendo esse o caso de regiões como o Sudoeste paranaense e o Oeste catarinense, por
exemplo. Portanto, o objetivo do presente resumo expandido é contribuir com o debate
sobre a dinâmica das economias regionais, considerando que a base teórica das
economias de aglomeração pode servir de subsídio para essa questão.

METODOLOGIA
Ainda que de forma inicial, a proposta metodológica, para alcançar o objetivo
desse resumo expandido, leva em consideração levantamentos bibliográficos e análise
dessa bibliografica para compor um conjunto de artigos, teses e dissertações que possam
servir de base para que as economias de aglomeração, considerando o levantamento
teórico realizado, sirvam à compreensão das dinâmicas econômicas regionais. Dessa
forma, inicialmente pretende-se trabalhar com três conjuntos de levamentos
bibliográficos.
O primeiro aporte teórico-metodológico refere-se à categoria de formação
socioespacial (FSE) desenvolvida por Santos (1977). Essa categoria aponta que a
formação econômica e social é indissociável da realidade concreta construída
historicamente, geograficamente localizada. Assim, a noção de formação econômica e
social adquire o status de formações historicamente construídas e geograficamente
localizadas, isto é, formações socioespaciais (SANTOS, 1977). Nesse sentido, em
estreita relação com a categoria FSE pode-se utilizar o aporte teórico das combinações
geográficas, importantes para aproximar-se da realidade e auxiliar na compreensão da
formação das diferentes estruturas produtivas regionais. Cholley (1964) afirma que
essas combinações podem ser de três tipos: 1) aquelas nas quais convergem fatores
físicos (a geomorfologia, a hidrologia, o clima, etc); 2) aquelas de complexidade maior

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de ordem física e biológica (domínio da mata atlântica, o cerrado, a “terra roxa”); e 3)
aquelas de ordem tridimensional, mais complicadas e cheias de detalhes, as quais
envolve a ordem física, biológica e humana (agricultura, indústria, comércio).
O segundo aporte teórico é sobre os processos de trajetórias tecnológicas,
imitações, aprendizado por tentativa assertiva e erro e as pesquisas em tecnologia que
desencadeiam inovações em processo e produto. Esses aspectos são aprimorados pelas
cadeias produtivas e podem ser aprofundados a partir de: (ROSENBERG, 2006; KIM e
NELSON, 2005; POSSAS, 2004).
O terceiro aporte teórico é sobre as economias de aglomeração, que é uma das
possibilidades de estudo das mudanças na dinâmica espacial dos setores produtivos e
nas economias regionais. Neste âmbito pode-se utilizar Marshall (1916), que trata dos
distritos marshallianos com capacidade de aglomerar; Corrêa (1987) e Tinoco (2003),
bem como Scott (2005) – que trabalha com a capacidade de aglomeração das cidades-
região; Conceição e Feix (2014), que trabalham com a ideia de aglomerações produtivas
locais (APLs); Storper e Vanables (2005), que trabalham com “o burburinho” como
uma força econômica de aglomeração nas cidades. Ademais, para a análise sobre
estratégia de desenvolvimento econômico e as novas externalidades regionais focadas
na complexidade econômica presente nas economias de aglomeração; pode-se utilizar
Hirschman (1958), Diniz e Crocco (1996), Storper e Vanables (2005), Markusen (2005)
e Monasterio e Cavalcante (2011).

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir do exposto, pode-se dizer que as economias de aglomeração são
fortemente amparadas por áreas de atração com uma complexidade de múltiplas forças,
sejam elas empresariais, estruturas industriais, ciclos de lucros, prioridades de governos,
políticas municipais, estaduais ou nacional. Assim, o estudo das economias de
aglomeração envolve uma matriz teórico-metodológica a partir da qual torna-se possível
compreender determinadas dinâmicas econômicas regionais, como é o caso de regiões
como o Sudoeste paranaense e o Oeste catarinense, para citar dois exemplos. Dessa
forma, a compreensão do sucesso das aglomerações econômicas precisa se dar a partir
de uma análise econômica regional, mas que vá além do aspecto regional, pois há
influências nacional e internacional naquilo que acontece na dinâmica econômica
regional.
Neste sentido, à luz de Markusen (1995), cabe inferir que a tentativa de
desenvolver uma taxonomia fechada, que possa demarcar as divisas entre as economias

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de aglomeração, é uma tentativa que leva à frustração de quem pesquisa, de quem
analisa a dinamicidade econômica regional. Isso porquê, ilustrar a diversidade das
formas espaciais, dos graus de complexidade e de maturidade que as empresas
industriais atingem, dos arranjos institucionais e dos resultados é um desafio de alta
complexidade, mas que pode ser realizado sobre as economias regionais (VON DENTZ,
2022). Nesta perspectiva, estudos como o de Conceição e Feix (2014) e o de Von Dentz
(2022) deram amplo destaque ao papel das economias de aglomeração e das relações
entre agentes econômicos, sociais e políticos nas dinâmicas econômicas regionais de
diferentes arranjos produtivos locais do estado do Rio Grande do Sul e da região Oeste
catarinense, respectivamente.
Diante disso, Storper e Vanables (2005, p. 21) inferem que “um dos fatos
comprovados na geografia econômica é que o poder da aglomeração permanece forte,
ainda que os custos de transporte e comunicação continuem declinantes”. O que vai ao
encontro de Tinoco (2003, p. 4950) quando define que as economias de aglomeração é

[...] Todo ganho de produtividade do agente advindo de sua colocalização


com outros agentes. [...] Não é mais o estudo da localização industrial que
interessa. Mas sim o estudo do crescimento das cidades e das indústrias que
aí se localizam. As economias de aglomeração passam a não ser mais
responsáveis apenas por atrair empresas a se localizar em uma cidade. Muito
mais que isso, são responsáveis (não os únicos, obviamente) pelo dinamismo
e pela capacidade de crescimento das empresas que aí se instalaram.

Portanto, ainda que de maneira preliminar na forma que ganhou esse resumo
expandido, pode-se apreciar, como fruto dos resultados e discussões aqui estabelecidos,
que o estudo das economias de aglomeração pode servir aos estudos geoeconômicos que
visam compreender as dinâmicas econômicas regionais, mesmo em se tratando daquelas
mais complexas, isto é, mais carregadas de estruturas industriais. Dessa forma, o escopo
teórico-metodológico das economias de aglomeração pode se configurar em objeto de
aprofundamento dos estudos geoeconômicos que objetivam compreender a dinâmica do
funcionamento das economias regionais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHOLLEY, A. Observações sobre alguns pontos de vista geográficos. In: Boletim


Geográfico, ano XXII, n. 179 mar/abr, CNG/IBGE. 1964.

CONCEIÇÃO, C. S.; FEIX, R. D. (Org.). Elementos conceituais e referências


teóricas para o estudo de Aglomerações Produtivas Locais. Porto Alegre: FEE,
2014.

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CORRÊA, Roberto Lobato. Regiões de influência das cidades. Rio de Janeiro, IBGE-
Ministério da Habitação e Urbanismo, 1987.

DINIZ, C. C.; CROCCO, M. A. Reestruturação econômica e impacto regional: o novo


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indústria brasileira no século XXI. Texto para discussão, Nº 2640, IPEA, Rio de
Janeiro, 2021.

HIRSCHMAN, A. O. Estratégia do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro:


Fundo de Cultura, 1961. Edição original de 1958.

KIM, L; NELSON, R. (Orgs.). Tecnologia, aprendizado e inovação: as experiências


das economias de industrialização recente. Campinas, SP: Ed. UNICAMP, 2005.

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cambiante: uma tipologia de distritos industriais. Revista Nova Economia. Belo
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MARSHALL, Alfred. Principles of Economics. 7ª edição. Editora palgrave macmillan,


1916.

MONASTERIO, Leonardo; CAVALCANTE, Luiz Ricardo. Fundamentos do


pensamento econômico regional. In: CRUZ, B. de O.; FURTADO, B. A.;
MONASTERIO, L.; JÚNIOR, W. R. Economia regional e urbana: teorias e métodos
com ênfase no Brasil. Brasília: Ipea, 2011.

POSSAS, M. L. Concorrência, inovação e complexos agroindustriais. UNESP,


Araraquara, 2004.

ROSENBERG, N. Por dentro da caixa-preta: tecnologia e economia. Campinas:


Unicamp, 2006.

SANTOS, Milton. Sociedade e Espaço: a formação social como teoria e como método.
In: Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, v. 54, jun. 1977 (p. 81-99).

SCOTT, A. J. City-Regions: economic motors and political actors on the global stage.
Los Angeles: UCLA Department of Public Policy and Department of Geography. 2005.

STORPER, Michael; VANABLES, Anthony, J. O Burburinho: a força econômica da


cidade. In: DINIZ, C. C. D; LEMOS, M. B. (Orgs) Economia e Território. Belo
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conhecimento. Revista Estudos urbanos e regionais. V. 5. n. 1, p. 47-61. 2003.

VON DENTZ, Eduardo. A dinâmica geoeconômica da mesorregião Oeste


catarinense: dos agronegócios à complexidade econômica regional. 2022. 484f. Tese
(Doutorado) Programa de Pós-graduação em Geografia, Geociências, Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2022.

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