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Autores

Nora Libertun de Duren,


Rene Osorio.

BAIRRO

10
ANOS
DEPOIS

2020
10
Bairro: Dez Anos Depois | 3

BAIRRO Resumo
O Favela Bairro (FB) foi pioneiro na
integração de bairros informais à malha
urbana, e continua sendo uma referên-
Códigos JEL cia para muitos países em desenvolvi-
O17; O18; R2 mento. Em sua segunda fase, realizada
entre 2000 e 2008, no Rio de Janeiro,
Brasil, o FB melhorou, significativamente,
o acesso de 88 favelas ao abasteci-
mento de água, sistemas de águas
pluviais e esgotos, pavimentação de
Copyright © 2020 ruas, iluminação pública nas calçadas e
Banco Interamericano de instalações comunitárias, como creches,
Desenvolvimento. Esta obra está escolas, áreas recreativas e esportivas.

ANOS
licenciada sob uma licença Creative Este documento revisita os bairros me-
Commons IGO 3.0 Atribuição- lhorados por meio do FB II com o obje-
NãoComercial-SemDerivações tivo de identificar os desafios a longo
(CC BY-NC-ND 3.0 IGO) prazo que estes enfrentam. A pesquisa

DEPOIS
(http://creativecommons.org/licenses/ aqui apresentada foi feita em duas
by-nc-nd/3.0/igo/legalcode) e pode ser partes, realizadas em paralelo: (1) um
Palavras-chave: reproduzida com atribuição ao BID e estudo qualitativo baseado em grupos
urbanização, habitação, para qualquer finalidade não comercial. focais para capturar a percepção dos
informalidade, melhoramentos Nenhum trabalho derivado é permitido. beneficiários diretos sobre as melho-
de bairros informais, Rio de Janeiro, Qualquer controvérsia relativa à utilização rias; (2) uma avaliação padronizada do
Favela Bairro, grupos focais de obras do BID que não possa ser estado de manutenção da infraestrutura
Catalogação na fonte fornecida resolvida amigavelmente será submetida nas 88 favelas melhoradas pelo FB II.
pela Biblioteca Felipe Herrera à arbitragem em conformidade com as Ambas as partes da pesquisa mostraram
do Banco Interamericano regras da UNCITRAL. O uso do nome do que as melhorias alcançadas com o FB
de Desenvolvimento ISBN 978-1-59782-363-0 BID para qualquer outra finalidade que II tiveram diferentes resultados no que
Libertun de Duren, Nora. 90000 não a atribuição, bem como a utilização tange à longevidade. Os grupos focais
Bairro: dez anos depois / Nora Libertun do logotipo do BID serão objetos de identificaram melhorias no padrão de
de Duren, Rene Osorio. um contrato por escrito de licença vida dos moradores imediatamente
p. cm. — (Monografía do BID ; 678) separado entre o BID e o usuário e após as melhorias, mas apontaram
Inclui referências bibliográficas. não está autorizado como parte desta problemas recorrentes com esgotos,
9 781597 823630
978-1-59782-362-3 (Brochura) licença CC-IGO. eletricidade, iluminação pública e ruas.
978-1-59782-363-0 (Digital) Note-se que o link fornecido acima inclui A avaliação padronizada encontrou
1. Urban renewal-Brazil. 2. Slums-Brazil. termos e condições adicionais da licença. problemas com o sistema de pavi-
3. Urbanization-Brazil. 4. Community As opiniões expressas nesta pub- mentação de ruas e de drenagem em
development, Urban-Brazil. I. Osorio, licação são de responsabilidade uma de cada três favelas melhoradas, e
Rene. II. Banco Interamericano de dos autores e não refletem nec- pouca iluminação e esgoto nas ruas em
Desenvolvimento. Divisão de Habitação essariamente a posição do Banco duas de cada três favelas. Esta pesquisa
e Desenvolvimento Urbano. III. Título. Interamericano de Desenvolvimento, oferece lições importantes para melhoria
IV. Série. de sua Diretoria Executiva, ou dos da sustentabilidade a longo prazo dos
IDB-MG-678 países que eles representam. programas de modernização urbana.

Fonte: 2018. iStock. Accesso 03/12/2020. iStock.com

Cobertura. Fonte: Morro, 2018. Brasil. iStock. Accesso 03/12/2020. iStock.com


Morro, 2018. Brasil. iStock. Accesso 03/12/2020. iStock.com
Índice | 4

Índice
P.22 Estudo Empírico do
Estado da
Infraestrutura do FB II

P.22 Metodologia

P.23 Grupos de Tratamento


e Controle

P.26 Avaliação da
Infraestrutura

P.30 Resultados

P.30 Resultados das


visitas de campo feitas
por especialistas

P.67 Apêndices
P.37 Resultados das
Entrevistas dos
Grupos Focais P.68 A. Entrevistas dos
P.6 Sobre os autores Grupos Focais

P.42 Análise dos Resultados


P.7 Agradecimentos P.72 B. O Mapeamento
Participativo Rápido
P.57 Conclusões
P.8 Sumário Executivo
P.83 C. Topografia por Bairro
P.58 Resumo das no Rio
P.10 Introdução Conclusões

P.86 D. Igualdade conjunta


P.12 Revisitando o FB II P.60 Recomendações da média no Favela
de Política Bairro II

P.18 Revisão de Estudos


Empíricos sobre P.64 Referências P.90 E. Análise dos bairros
Programas de próximos ao
Melhoria de Bairros Corredor Olímpico
Sobre os autores | 6 Agradecimentos | 7

Autores:
Nora Libertun de Duren
Rene Osorio

Revisão Editorial:
Sheila M. Mahoney

Tradução:

Sobre os autores
Eglaisa Cunha

Desenho Gráfico:
Mon Zamora

Desenho Editorial BID:


Emilia Aragón

N ora Libertun de Duren é espe-


cialista em Desenvolvimento
Urbano e Habitação do BID. Nora
R ene Osório é economista e
engenheiro civil da Divisão
de Desenvolvimento Urbano
Imagens:
BID, 2018

é Doutora em Planejamento e Habitação do BID. Possui Tipografia:


Urbano pelo MIT, Mestre em Doutorado em Economia pela Gotham
Design Urbano pela Universidade U n i ve r s i d a d e d e B o s t o n ,
de Harvard e Mestre em Mestrado em Macroeconomia
Arquitetura pela Universidade pela Pontifícia Universidade
de Buenos Aires. Anteriormente, Católica do Chile e graduação
ela foi Diretora de Planejamento em Engenharia Civil pela
Urbano da cidade de Nova York. U n i ve r s i d a d e N a c i o n a l d e
Nora ensinou planejamento
urbano e design urbano na
Universidade de Columbia, MIT,
e na Universidade de Harvard.
Recentemente, ela liderou
Engenharia da Nicarágua.
Antes de ingressar no BID,
Rene foi especialista em
finanças públicas do Banco
Central da Nicarágua. Ele tem
Agradecimentos
a criação do documento t ra b a l h a d o p a ra o B I D e m
estruturante do setor que tópicos como política fiscal,
estabelece as prioridades do
BID em termos de análises
e empréstimos no setor. Ela
incluindo eficiência de gas-
tos públicos, receita fiscal,
s e g u ra n ç a c i d a d ã , g e s t ã o
O s autores gostariam de
agradecer a todos que
participaram dos grupos focais,
primeiras ideias deste projeto
e por compartilhar os dados e
sua metodologia para avaliar
também publicou vários artigos de identidades e, mais assim como ao Instituto Pereira o impacto do Favela Bairro II.
em revistas especializadas e re ce n te m e n te, i n f ra e st r u - Passos da Prefeitura da Cidade Também agradecemos a Luis
foi coautora do livro Cities t u ra u r b a n a . do Rio de Janeiro por sua Eduardo Madeiro Guedes, da
and Sovereignty. planilha, que continha a lista Overview Pesquisa, por seu
de bairros informais melhora- excelente apoio à pesquisa.
dos durante o Favela Bairro Somos gratos à Janice Perlman
II. Gostaríamos também de e ao Mario Duran pela revisão
a g r a d e c e r a Yu r i S o a r e s , cuidadosa deste trabalho e por
chefe de divisão da Unidade fornecerem sugestões úteis
Fonte: BID 2018.
de Estratégia e Impacto do para a sua melhoria.
BID, por discutir conosco as
Fonte: BID, 2018.

Sumário
Sumário Executivo | 9

Executivo De acordo com


os censos de
2000 e 2010, a
Em ambas as partes, incluímos
controles baseados em pes- população nas
quisas realizadas em favelas
que nunca foram beneficiadas,
mas que atendiam a todos os
favelas do Rio
requisitos para serem incluídas
no programa FB II.
cresceu quase
27%, enquanto
O Favela Bairro O programa FB II foi reali-
zado entre 2000 e 2008
n o R i o d e J a n e i ro, B ra s i l ,
Ambas as partes da pesquisa
mostraram que as melhorias
alcançadas com o FB II tive-
que no resto da
(FB) foi pioneiro e em 88 fave l as me l h orou
significativamente o acesso
ram diferentes resultados. A
avaliação padronizada encon-
cidade cresceu
na integração ao abastecimento de água,
sistemas de águas pluviais
trou problemas com o sistema
de pavimentação de ruas e de
apenas 3,4%.
e esgotos, pavimentação drenagem em uma de cada três
de bairros de ruas, iluminação pública favelas melhoradas, e pouca
nas calçadas e instalações iluminação e esgoto nas ruas
informais1 à comunitárias, como creches, em duas de cada três favelas. Além disso, manutenção insu- Primeiro, projete para resis-
escolas, áreas recreativas e Os grupos focais identificaram ficiente, insegurança endêmica Esta pesquisa tência, escolhendo materiais e
malha urbana, e esportivas. Este documento melhorias no padrão de vida e topografia íngreme con- layouts que requerem manu-
revisita os bairros melhora- dos moradores imediatamente tribuíram para a deterioração oferece tenção mínima e incorporando
continua sendo dos por meio do FB II com
o objetivo de identificar os
após as melhorias2, mas apon-
taram problemas recorrentes
da infraestrutura. regularmente um item de des-
pesa recorrente para reparo
desafios a longo prazo que com esgotos, eletricidade, ilu- cinco lições e manutenção, com recursos
uma referência estes e n fre n t am. minação pública e ruas. Além extras alocados para áreas dos
disso, os grupos focais relata- importantes morros e densamente povoa-
para muitos ram sobre a superlotação em das. Segundo, envolva e instrua
A pesquisa aqui apresentada centros de saúde e escolas. para melhorar a os moradores sobre a preser-
países em foi feita em duas partes, realiza- vação da infraestrutura de seus
das em paralelo: sustentabilidade bairros. Terceiro, reconheça
desenvolvimento. As causas da deterioração da
infraestrutura são múltiplas
que os projetos de melhoria
provavelmente atrairão mais
1 Um estudo qualitativo e complexas, muitas além do a longo pessoas e, portanto, a deman-
baseado em grupos âmbito do FB II. O rápido cres- da pela infraestrutura construí-
1. Neste relatório utilizaremos os termos focais para capturar cimento populacional é uma prazo dos da apenas aumentará. Quarto,
favela e bairros informais como sinônimos. a percepção dos dessas causas. entenda que intervenções
2. Esses resultados estão em conformidade
com a avaliação de impacto do FBII realiza-
beneficiários diretos programas de construídas não são susten-
da em 2005 por Atuesta e Soares (2016). sobre as melhorias. táveis em bairros que enfren-
modernização tam violência local endêmica.
Quinto, observe que a susten-
2 Uma avaliação
urbana. tabilidade a longo prazo exige
padronizada do estado ação constante de todas as
de manutenção da partes interessadas envolvidas.
infraestrutura nas 88
favelas melhoradas
pelo FB II.
Introdução
Introdução | 11

O sucesso e a oportunidade
O programa dessa estratégia tornaram-se
evidentes nas suas reper-
Favela Bairro cussões. O FB incorporou uma
mudança de paradigma nas
(FB) foi políticas e discursos sobre
as favelas. Em 1996, apenas O FB II foi particularmente
um ano após o início da importante para o desen-
um avanço execução da FB, a Declaração volvimento da comunidade,
da Conferência das Nações Os primeiros estudos do porque incluiu elementos bem
significativo Unidas sobre Assentamentos FB mostraram que ele efe- concebidos para a urbani-
Humanos clamou pela “me- tivamente melhorava a vida z a ç ã o i n t e g ra d a , i n c l u i n -
nas políticas l h o r i a d o s a ss e n t a m e n to s das pessoas que viviam em d o p ro te ç ã o d e e n co st a s ,
informais e favelas urbanas bairros informais. A literatura reflorestamento, campos
públicas. como uma medida conveniente
e solução pragmática para o
qualitativa descreveu o FB
como uma mudança de para-
esportivos, praças abertas,
centros sociais, creches,
déficit habitacional urbano” digma que teve sua origem cen tros d e i n f o r m á t i c a , e
(ONU, 1996). A nova aborda- no final da década de 1950 i l u m i n a ç ã o pública, acom-

D urante a maior parte do


século XX, a abordagem
padrão para os bairros infor-
gem da FB recebeu ampla
aclamação internacional por
suas contribuições para o
(Duarte e Magalhães, 2009)
como uma reação às políti-
cas estaduais da ditadura,
panhada de s e r v i ç o s a d e -
quados para crianças e
adolescentes e de geração
mais era a sua erradicação. desenvolvimento sustentável, que careciam de qualquer de renda, com maior ênfase na
O Brasil não era exceção; as incluindo a Convenção da Expo abordagem participativa participação da comunidade.
favelas eram categorizadas 2000 de Hannover (Alemanha), (Cavallieri e Pamuk, 1998). Utilizando rigorosa avaliação
como “aglomerados subnor- que apresenta obras e visões A abordagem participativa de impacto e com base nos
mais” que a cidade precisava de tecnologia com o objetivo inovadora da FB incluiu o dados coletados durante a
eliminar (Perlman, 1976). A de alcançar o equilíbrio entre envolvimento total das diversas execução do projeto, Atuesta
intenção do FB era o oposto: os homens e a natureza 3 , e partes interessadas, com a par- e Soares (2016) constataram
integrar as favelas em seu o P r ê m i o Ve ro n i c a R u d g e ticipação ativa de moradores, que o FB II teve um impacto
tecido urbano circundante e Green de Harvard em Urban arquitetos, acadêmicos, orga- positivo e significativo na
elevar seus serviços urbanos Design (2000), que reconhece nizações não-governamentais vida das pessoas. Os dados
Fonte: BID 2018. Fonte: BID 2018.
ao mesmo nível do resto do p ro j e t o s q u e c o n t r i b u e m e trabalhadores da construção eram de 2005, quando o tra-
Rio de Janeiro através de s i g n i f i c at i va m e n te p a ra a (Barke, Escasany e O´Hare, balho do FB II (2000–2008)
melhorias na infraestrutura qualidade de vida urbana 4 . 2001; Brandao, 2006). Além e m c e rc a d e m e t a d e d a s
e aumentos de serviços no Na América Latina, o FB disso, mesmo que o FB não favelas havia sido concluí-
local. O FB continua sendo tornou-se a principal referência fornecesse títulos de terra do. Especificamente, esses
um dos programas mais p a ra p ro g ra m a s s i m i l a re s a to d o s o s m o ra d o re s d a autores encontraram melhor
a m b i c i o s o s p a ra m e l h o r i a voltados para assentamen- favela, ele contribuiu positi- esgoto, melhor iluminação
de bairros informais nas tos informais, inclusive na vamente para a segurança dos pública, distribuição de cor-
cidades em desenvolvimento. Argentina (1996), Uruguai residentes com posse (Handzic, respondência nas caixas de
Sua escala de intervenção, ( 1 9 97 ) , E q u a d o r ( 1 9 97 ) e 2010). Significativamente, o correio das propriedades e
70 favelas em sua primeira Bolívia (1998), entre outros. FB ajudou a promover uma fornecimento confiável de
fase (FB I) e 88 na segunda Como o FB é visto como um nova apreciação da cultura água. Em suma, a literatura
(FB II) deveria ter permitido modelo para outros locais, os das favelas entre os que vivem anterior, seguindo métodos
uma diferença real e dura- resultados deste estudo são dentro e fora delas, levando qualitativos e quantitativos,
doura nas comunidades-alvo especialmente importantes. ao reconhecimento do valor destaca as melhorias na vida
e se tornar um modelo para artístico de sua m ú s i c a e d a s p e ss o a s q u e h a b i t a m
futuras melhorias no Brasil expressões artísticas (Barke assentamentos informais no
Fonte: BID 2018. e em outros lugares. Fonte: BID 2018. et al., 2001). Rio, trazidas pelo FB.

3. http://www0.rio.rj.gov.br/habitacao/favela_bairro.htm
4. Para maiores informações sobre este prêmio, veja https://urbandesignprize.gsd.harvard.edu/.
Revisitando o FB II
Revisitando o FB II | 13

África Subsaariana
60
55,2
A presença de bairros informais Dada a magnitude e a com-
Hoje, dez é uma característica definidora plexidade desses programas,
das cidades da América Latina eles são intervenções caras. Por
anos após a e Caribe - ALC. Se a atual taxa exemplo, no Brasil, um programa
de crescimento da população típico de transferência condi-
conclusão do urbana continuar, 2 milhões
dos 3 milhões de famílias que
cional de renda custa cerca de
US$ 400 por família por ano,
se deslocam para as cidades enquanto um programa típico
FB, há muito a da ALC todos os anos sofrerão de melhoramento de bairro
algum déficit habitacional, já está estimado em torno de US Sul da Ásia
ser aprendido que a maioria delas irá morar em $ 4.000 por família (Magalhães,

40
um bairro informal (BID, 2012). 2013). 6 Apesar da relevância Oriente Médio e
revisitando-o dos programas de melhorias
dos bairros, tanto em termos 30,6 Norte da África
novamente. Desde a década de 1980, as
políticas dos governos da ALC
de financiamento quanto de
impacto nas cidades da ALC, Ásia Oriental
em relação aos bairros informais
passaram do reassentamento
pouco se sabe sobre sua sus-
tentabilidade a longo prazo. 28,4 e Pacífico
para o fornecimento de melho- Embora seja evidente q u e ,

A inda sabemos pouco sobre


a sustentabilidade a longo
prazo desses projetos e, dada a
rias no local e a promoção da
integração com o restante do
tecido urbano. Essa mudan-
a c u r to p ra zo, e ss e s p ro -
gramas melhoram o acesso a
serviços básicos, ainda não
25,8 América Latina
escala do desafio da informali- ça ocorreu como resultado de está claro se esses ganhos e Caribe
dade, aprender com a experiên- muitos fatores, incluindo o custo são sustentados ao longo do
cia do FB é uma oportunidade
que não se deve perder.
da expansão das áreas urbanas
(Libertun de Duren e Guerrero
Compeán, 2015), das ações
tempo. Como a demanda por
programas de melhorias de
bairros continua a aumentar,
20,8
Uma em cada cinco pessoas
na América Latina e no Caribe
proativas de muitas organiza-
ções locais e das dificuldades de
realocação de residentes para
é essencial que obtenhamos
u ma comp re e n sã o m e l ho r
e mais abrangente de
20
(ALC), ou 120 milhões de pes- áreas periféricas (Libertun de s u a d u rab i l i d ad e.
soas, vive em um bairro informal Duren, 2017). Normalmente, os
(Figura 1). Um bairro informal é programas de melhoria da urba-
aquele construído em um terre- nização financiam infraestrutura
no inadequado para residência, urbana básica (água, saneamen-
seja porque não tem infraestru- to e eletricidade); pavimentação
tura urbana básica ou requisitos e iluminação de ruas e calçadas;
legais adequados, ou ambos. regularização de títulos de ter-
ras e propriedades; e atividades
comunitárias, como orientação
e capacitação de jovens. Esses
programas foram replicados em

0
quase todos os países da ALC.5

5. Muitos desses projetos receberam apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento, incluindo projetos na Argentina, Brasil, Bolívia,
Nicarágua, Trinidad e Tobago, Paraguai e Uruguai. Figura 1. Fonte: Elaboração dos autores com
base no banco de dados dos Objetivos
6. Os governos nacionais da ALC têm alocado consistentemente uma quantia substancial de financiamento para programas habitacionais,
Porcentagem da população
do Milênio das Nações Unidas (2016).
em um nível que tem variado historicamente entre 1 e 2% de seus respectivos produtos internos brutos, segundo a Comissão Econômica Os dados do Oriente Médio e Norte da
para a América Latina e o Caribe. Disponível em: http://interwp.cepal.org/sisgen/ConsultaIntegrada.asp?idIndicador=3127&idioma=e África são de 2005.
(acessado em 20 de setembro de 2017).
vivendo em bairros informais
Revisitando o FB II | 14

Embora no Brasil a tendência nominais. A terceira etapa desses centros proporcionaram

32 86 populacional mostre que a


porcentagem da população
continuou com melhoria
para favelas em 2010, com
aos adolescentes educação
básica complementada com
total do país que vive em bair- um orçamento total de US$ atividades artísticas e esporti-
32 86 ros informais está em declínio
(Figura 2), no Rio de Janeiro
300 milhões. Em setembro de
2018, o município anunciou
va s . C u r s o s d e f o r m a ç ã o
profissional e educação
bairros informais cresceram uma quarta etapa para 2019 para adultos também foram
a um ritmo incrível. De acor- com um orçamento de US$ f o r n e c i d o s. Treinamentos
Tendência de Crescimento do com os Censos de 2000 e 300 milhões. 8 para profissionais autônomos

em Bairros Informais 85 2010, no Rio, os bairros infor-


mais cresceram 28%, em com-
foram ministrados com o fim de
aumentar as vendas e receitas
paração com apenas 3,4% no O FB I durou de 1995 a 2000 em qualquer negócio que eles

30 85 resto da cidade. e forneceu US $ 300 milhões


para melhorar a infraestrutura.
estivessem operando. Uma das
melhorias claras do FB II em
29 Taxa de Urbanização Consciente dessa situação, o
A melhoria da infraestrutura
incluiu tubulações de água,
relação ao seu antecessor foi
a riqueza de dados que gerou,
município do Rio de Janeiro sistema de esgoto, ruas, permitindo assim que o programa
84 iniciou a melhoria de várias drenagem de águas pluviais, fosse estudado.
28 favelas com financiamento
próprio e financiamento
coleta de lixo e iluminação
pública, além de escarp a s

28 84 de agências multilaterais. 7
O projeto ficou conhecido
como Favela Bairro, doravante
e escadarias reforçadas.
Também incluiu reflorestamen-
to, creches, praças, áreas para Dos US $ 300 milhões
27 F B . E st a é t a l vez u m a d a s esportes recreativos e centros investidos no FB II, US $
intervenções urbanas mais de participação comunitária. 250 milhões foram desti-
e m b l e m á t i c a s d o m u n d o. nados a custos diretos do
83 Seu objetivo era melhorar as
condições de vida da popu- O FB II, que começou em 2000
programa. A melhoria da
infraestrutura custou US

26
$ 211 milhões (ou 70% de
83
lação da favela, fornecendo e terminou em 2008, custou
infraestrutura urbana e US $ 300 milhões (metade todo o orçamento do FB
serviços sociais e regulari - fornecida localmente e metade II). O financiamento para
z a n d o a p o s s e d a t e r ra . O pelo Banco Interamericano de ajudar crianças e adoles-
FB começou em 1994 e está Desenvolvimento) 9. Essa fase centes foi de US $ 25,5
agora em sua terceira fase. cobriu 64 favelas e 24 subdi- milhões. O financiamento
82 As três fases do programa
FB visaram comunidades de
visões irregulares. Além das
melhorias na infraestrutura,
para treinamento profis-
sional e geração de renda
foi de US $ 9 milhões.
24
5 0 0 a 2 . 5 0 0 fa m í l i a s . At é como as realizadas no FB I,
82 agora, a taxa de conclusão
do programa tem sido alta:
o FB II incluiu atividades de
apoio ao desenvolvimento
Outro componente foi o
fortalecimento institucio-
nal, com um orçamento
62 favelas e 8 subdivisões infantil, educação de adultos,
irregulares (bairros informais serviços sociais, desenvolvimento de US $ 4,5 milhões para
que não foram reconhecidos comunitário e regularização monitoramento e avalia-
oficialmente pelo Instituto de propriedades. O objetivo ção. Os custos indiretos
22 Pereira Passos como favelas) era aumentar os salários dos i n c l u í ra m j u ro s , t a xa s
de crédito, inspeção, su-
na primeira fase (FB I), e 64 membros das famílias para
22 81 favelas e 24 subdivisões na
segunda fase (FB II) (Jaitman,
tirá-los da pobreza. Os jovens,
especialmente, foram treinados
pervisão, administração
e apoio à gestão, que, so-
mados, representaram o
2013). Combinadas, as duas para trabalhar nos centros de
2000 2005 2010 2015 2020 primeiras fases do FB repre- saúde, educação, esportes, restante (US $ 50 milhões)
do orçamento.
sentaram um orçamento de meio ambiente, cultura e turismo
US$ 600 milhões em termos das suas comunidades. Alguns
Figura 2. Fonte: Elaboração dos autores.

7. Entre 1995 e 2018, o Banco Interamericano de Desenvolvimento concedeu empréstimos no total de US $ 450 milhões durante os três

Brasil: Taxa de Urbanização e estágios do programa FB. O município do Rio de Janeiro forneceu um montante igual, para um orçamento total de US $ 900 milhões em
termos nominais.
8. Veja em http://prefeitura.rio/web/guest/exibeconteudo?id=7203186. Acesso em setembro de 2018.

Tendência de Crescimento em Bairros Informais 9. O programa FB foi cofinanciado pelo município do Rio de Janeiro e pelo BID, que realizou uma avaliação de impacto do programa em
2005. Essa avaliação forneceu uma referência para selecionar as favelas para este estudo.
Revisitando o FB II | 16

Nesse contexto, o objetivo Os resultados mostraram que Embora uma investigação


deste relatório é conhecer os o FB II melhorou as condições rigorosa para descobrir o que
desafios de longo prazo para a nas favelas logo após a con- causou a destruição da infraes-
sustentabilidade dos programas clusão do trabalho, mas após trutura esteja fora do escopo
de melhoria dos bairros, revisi- dez anos, a maioria das favelas deste relatório, a equipe de
tando as favelas participantes no grupo de tratamento havia especialistas forneceu algumas
dez anos após sua conclusão. retornado a condições como explicações possíveis. A falta
Para isso, comparamos favelas as do grupo de controle. Os de manutenção, o vandalismo
semelhantes, algumas das quais resultados foram os mesmos catalisado pela violência de
foram beneficiárias do FB II com base na inspeção formal gangues, o intenso crescimento
(grupo de tratamento) e algu- e nas respostas dos entrevista- populacional e a topografia
mas que não foram (grupo de dos. A inspeção da equipe de íngreme são prováveis cau-
controle). Havia 64 favelas e 24 especialistas mostrou que quase sas da rápida deterioração
subdivisões irregulares no grupo 1 de cada 3 favelas melhoradas da infraestrutura construída
de tratamento e 10 favelas no tinha ruas com pavimento em pelo FB II. Notamos que essas
grupo de controle. Para avaliar mau estado, 1 de cada 3 tinha causas estão muitas vezes
o estado da infraestrutura, congestionamento de drenagem intimamente relacionadas. Por
contamos com uma estratégia e 2 de cada 3 favelas tinham exemplo, pessoas em favelas
em duas frentes: uma inspeção iluminação pública inadequada governadas por gangues disse-
formal por uma equipe bem e canais de esgoto que trans- ram que membros de gangues
treinada de engenheiros e bordavam ou revertiam o fluxo, destruíam propositalmente a
arquitetos e grupos focais com especialmente quando chovia. infraestrutura, por exemplo:
os beneficiários da intervenção. quebrando lâmpadas de rua e
cavando buracos na calçada, para
controlar melhor seu território
e impedir que outras gangues e
policiais circulassem livremente
Essa estratégia na favela. No entanto, isso
também dificultou o acesso de
nos permitiu caminhões de lixo e equipes de
manutenção. Além disso, chuvas
fortes em encostas íngremes
capturar tanto desgastaram a pavimentação
e os canais de esgoto, o que
o estado exigiu financiamento extra
para a manutenção adequa-
físico da da. Finalmente, o tremendo
crescimento populacional nas
infraestrutura, favelas sobrecarregou bastante
a sua infraestrutura.
quanto o seu
impacto sobre
os usuários. Fonte: Santa Marta, 2017. iStock. Accesso 03/12/2020. iStock.com
Revisão de Estudos Revisão de Estudos Empíricos sobre Programas de Melhoria de Bairros | 19

Empíricos sobre Programas


de Melhoria de Bairros

C onsiderando a importân-
c i a d o s p ro g ra m a s d e
urbanização de bairros para
a melhoria da qualidade de
vida da comunidade, a lite-
ratura empírica sobre seus
efeitos é bastante escassa.
As dificuldades na avaliação
A h i p ó te s e é q u e o va l o r
a u m e n t a c o m o re s u l t a d o
da regularização da posse.
tem um efeito significativo
sobre o investimento resi-
dencial, devido à diminui-
relacionado à gentrificação, mas
somente quando o governo
desocupou a terra de todas
10
residindo em
%
de intervenções complexas, A ideia é que os proprietá- ção da ameaça de despejo as unidades habitacionais favelas no
territoriais e não aleatórias rios que possuem um título (Field, 2005) e não devido construídas informalmente e
desafiam o desenvolvimento de
tais programas e limitam a gene-
legal investem mais em suas
unidades habitacionais,
ao aumento do acesso aos
mercados de crédito (Field
permitiu novas construções,
como aconteceu em algumas
Rio de Janeiro de programas de iluminação
ralização dos seus resultados. pois os temores de despejo e Torero, 2003). Outro estu- áreas de Johannesburgo, na pública, o que, por sua vez, os
Ou seja, mesmo que existam diminuem e eles têm acesso do quase-experimental na África do Sul (Winkler, 2009). em 1961 torna mais dispostos a pagar por
vários estudos robustos com a mercados de crédito (de Argentina explorou o impacto serviços públicos (Lora, Powell,
validade interna, deve-se ter Soto, 2001). Por exemplo, em da emissão de títulos sobre van Praag e Sanguinetti, 2010).
cuidado antes de presumir que Nairóbi, a regularização de os valores das propriedades. No entanto, uma hipótese alterna- Também pode ter havido outras
resultados semelhantes seriam títulos de propriedade te m Descobriu-se que o prêmio de tiva para mudanças demográficas externalidades positivas, como
obtidos sob outras condições p e r m i t i d o a exe c u ç ã o de titulação, que é a diferença nos bairros melhorados sugere rapidamente após a conclusão o aumento da percepção de
(Jaitman, 2015). obras públicas no bairro, o no valor pago por uma casa que esses programas incentivam das obras, frequentemente segurança nas áreas vizinhas,
que ajudou a aumentar o de características semelhantes as famílias pobres de outras gerando demanda por serviços o que acaba aumentando os
valor da área (Gulyani e entre propriedades tituladas e partes da cidade a se mudarem que excedem a capacidade preços dos imóveis. Essa questão
Talukdar, 2008). Além disso, sem título, era de 18,5%, fazen- para esses bairros, aumentando planejada. A densificação é o foi estudada empiricamente
Um dos um estudo quase experimental do-se um controle estatístico assim sua densidade, mas não resultado de pessoas migrando nos programas que melhora-
no Peru explorou a variação dos investimentos em habita- seu nível médio de renda. Essa para bairros informais assim ram a habitação para famílias
aspectos mais n o st at u s d e p ro p r i e d a d e ção (Galiani e Schargrodsky, hipótese é consistente com que se sabe que o bairro será extremamente pobres em El
induzida por um programa 2010). Um estudo empírico em nossos resultados. Na ALC, essa incluído em um programa de Salvador, México e Uruguai.
estudados dos nacional de emissão de títulos Nairóbi, Quênia, e em Dacar, visão emerge do fato de que as melhoramento (Abramo, 2009). Os resultados mostraram que
de propriedade, no qual 1,2 Senegal, constatou que, após populações em bairros informais Isso aconteceu em Lima, Peru, as casas melhores tiveram um
programas de milhão de títulos de proprie- a conclusão dos programas de têm crescido consistentemente entre 1996 e 2000 (Calderon, efeito positivo nas condições
dade foram distribuídos a melhoramento, os preços dos em taxas mais altas do que as 2004) e em Buenos Aires, gerais de moradia e bem-estar
melhoramento posseiros urbanos em terras aluguéis nos bairros informais populações em bairros formais. Argentina, entre 2000 e 2010, geral (Galiani, Gertler, Cooper,
públicas entre 1996 e 2003. aumentaram, o que levou os Por exemplo, em 1961, no Rio onde as áreas construídas Martinez, Ross e Undurraga,
de bairros é o Uma análise de diferenças- inquilinos a condições de vida de Janeiro, a população urba- informalmente aumentaram 12% 2017). Além disso, há evidên-
- e m - d i fe re n ç a s co m p a ro u significativamente piores em na total era de 3 milhões de após o governo anunciar uma cias de que a pavimentação de
seu impacto a mudança no investimento relação aos proprietários. Os pessoas, com 10% residindo mudança em suas políticas para uma rua aumenta o valor das
em habitação em famílias que aluguéis mais altos geralmente em favelas. O censo de 2010 com bairros informais (Galiani propriedades próximas. Por
sobre o valor participaram do programa com levam à gentrificação, já que os mostrou que a população urbana e Schargrodsky, 2010). exemplo, na Cidade do México,
aquelas que não o fizeram. inquilinos podem ser forçados era de mais de 6 milhões de a pavimentação de estradas
das unidades Os resultados indicaram que a mudar-se para áreas habita- pessoas, com 22% residindo em locais levou a um aumento de
o fortalecimento dos di- cionais mais acessíveis (Basset, favelas. Além disso, há alguma Há evidências de que a satisfação 16% no valor de propriedades
habitacionais. reitos de propriedade nos Gulyani e Talukdar, 2012). Em evidência de que os bairros dos moradores com seus bairros próximas (Gonzalez-Navarro e
bairros informais urbanos outros casos, o melhoramento foi melhorados densificaram-se aumenta após a implementação Quintana-Domeneq, 2016).
Revisão de Estudos Empíricos sobre Programas de Melhoria de Bairros | 20 Fonte: Santa Marta, 2017. iStock. Accesso 03/12/2020. iStock.com

A literatura sobre
o FB é bastante
vasta, mas com
apenas uma
pequena parcela
de pesquisa
empírica.

Nós nos concentramos em O segundo estudo, por Atuesta


dois estudos rigorosos sobre e Soares (2016), realizou uma
o impacto do FB, feitos ime- avaliação de impacto do FB
diatamente após a conclusão II, coletando dados em 85
das melhorias. O primeiro favelas (43 tratadas e 42 do
estudo, realizado por Soares grupo de controle).10 Contou
e Soares (2005), comparou com informações do Censo de
o s re s u l t a d o s e m f a ve l a s 2000 para a linha de base e
t rat a d a s p e l o F B co m u m dados coletados em 2005, após
grupo de controle de favelas a intervenção em 43 favelas.
incluídas no programa FB, Os autores também coletaram
mas onde a intervenção dados pós-intervenção nas 43
ainda estava para ser feita. favelas tratadas e 42 do grupo
D e a co rd o co m o re g u l a - de controle após 2004-2005.
m e n t o d o F B , o p ro g ra m a Com dados para antes e depois
incluía apenas favelas com da implementação nas favelas
uma população de 500 a tratadas e do grupo de controle,
2.500 famílias. O estudo ambos os estudos descobriram
aplicou uma abordagem de que o FB teve um impacto
diferenças-em-diferenças com positivo na taxa de acesso aos
correspondência de escore serviços de água, saneamento
de propensão usando dados e coleta de lixo das famílias
pós-intervenção como uma e não encontraram nenhum
estratégia de identificação. efeito sobre os valores dos
Ele se baseou em um modelo imóveis, exceto entre aqueles
logit que tinha o tratamento com acessibilidade abaixo da
como uma variável binária. média antes da melhoria.

10. As variáveis dos dados coletados nas famílias (FF) foram: unidade habitacional (UH)
recebe correspondência; UH tem conexão com água, saneamento, coleta de lixo; UH está
em uma rua pavimentada; UH está em uma rua com iluminação pública; UH está perto de
áreas públicas verdes; FF possui terra com título; FF investe em melhorias de UH; avaliação
do valor da propriedade (autoavaliação); sentimentos de segurança na favela; tempo de
deslocamento para o transporte público; renda e emprego da FF; idade e sexo do chefe da
FF; número de crianças menores de cinco anos e número de crianças na escola. O número
total de observações em favelas tratadas e do grupo de controle foi de 25.049 famílias.
Estudo Empírico do Estado da Infraestrutura do FB II | 22

Grupos de Tratamento e Controle

Estudo Empírico do Estado P ara tornar essa compara-


ç ã o re l eva n te, c r i a m o s
um grupo de controle o
A construção do grupo de con-
trole seguiu os mesmos critérios
de duas etapas utilizadas por
A l é m d o b a n co d e d a d o s
constante nos trabalhos de
Soares, acessamos o Censo
mais semelhante possível ao Atuesta e Soares (2016): um Brasileiro de 2000, que regis-

da Infraestrutura do FB II
grupo tratado, exceto que as modelo logit seguido de uma trou dados sobre as favelas
favelas não se beneficiaram avaliação especializada das do país, incluindo as cerca de
do programa FB II. favelas, usando os critérios e 600 favelas do Rio na épo-
mapas da Secretaria Municipal ca. As variáveis explicativas
de Habitação. O modelo logit foram as médias, no nível
O grupo de tratamento foi estabeleceu como variável da favela, de acesso à água,
construído a partir do ban- dependente o tratamento FB esgotamento sanitário, coleta
co de dados das 88 favelas II: 1 se a favela foi tratada entre de lixo, crianças menores de

Metodologia
e s u b d i v i s õ e s i r re g u l a re s 2000 e 2008 e 0 se não. Os 4 anos, adolescentes menores
(bairros informais que não controles foram selecionados de 15 anos, analfabetismo do
haviam sido declarados para tornar o grupo o mais chefe da família (FF), idade do
como favelas consolidadas semelhante possível ao grupo de chefe da FF, sexo do chefe da
pelo município do Rio de tratamento. As favelas de controle FF, renda da FF e número de
Janeiro) que se beneficiaram eram o mais próximas possível FF por favela. Calculamos a
Para estudar a duração do impacto do FB II. das favelas tratadas com base probabilidade de tratamento
no Índice de Desenvolvimento e classificamos as favelas que
do FB II na infraestrutura, ao Humano, construído usando não se beneficiaram da inter-

88
o Censo de 2000, e a equipe venção do FB, ou de qualquer
longo do tempo, comparamos o também escolheu as favelas que
se assemelhavam fisicamente
outro programa, de acordo
com sua probabilidade de
em geografia e localização às tratamento, do maior para o
estado atual das favelas que se favelas tratadas e tinham entre menor, e garantimos que não
500 e 2.500 famílias. houvesse outros programas
beneficiaram do programa FB II que gerassem confusão nos
resultados.11 De acordo com
com as que não se beneficiaram. o Instituto Pereira Passos,
favelas em e m a g o sto d e 2 0 1 7, h av i a
Uma década se passou desde pelo menos 300 favelas que
não haviam visto nenhuma
grupo de

10
intervenção de algum projeto
que o trabalho ligado ao FB II foi semelhante ao FB. Assim,
tratamento chegamos a dois grupos:
concluído, assim os efeitos sobre
as variáveis de interesse podem 1 Grupo de tratamento:
ser adequadamente capturados. 64 favelas e 24 subdi-
visões irregulares
favelas em beneficiadas pelo FB II

grupo de 2 Grupo de controle:


controle 10 favelas que não
sofreram nenhuma
melhoria do FB II ou de
qualquer outro programa
11. Os outros dois programas semelhantes ao FB II foram Grandes Favelas,
voltados para favelas com mais de 2.500 domicílios, e o Bairrinho, para favelas
menores, com menos de 500 domicílios.
Estudo Empírico do Estado da Infraestrutura do FB II | 24

Figura 1.1
Favela Bairro II (2000–2008)
Locais

Locais ILHA DO GOVERNADOR

BANGU

CAMPO GRANDE

BAÍA DE GUANABARA

COPACABANA
SEPETIBA
IPANEMA

BARRA DA TIJUCA
GUARITIBA

OCEANO ATLÂNTICO

BARRA DE GUARATIBA

0 5 10 15 20 km

Fonte: Elaboração dos autores.


Avaliação da Infraestrutura | 26

Avaliação da Infraestrutura
Inspeção formal
A inspeção formal consistiu em
um exame técnico do estado
Número de favelas:
da infraestrutura. Para isso,
contamos com uma equipe
d e e s p e c i a l i s t a s t é c n i co s 88 Tratadasa
para verificar e classificar
visualmente o estado de
10 Controleb
U samos uma estratégia em
duas frentes para avaliar o
manutenção, de acordo com
uma metodologia estabelecida,
As entrevistas com mora-
dores (diferentes dos grupos
estado da infraestrutura cons-
truída pelo FB II:
conhecida como Mapeamento
Participativo Rápido (MPR)12.
focais) foram realizadas com
pessoas conhecedoras do 98 Total
O M P R é u m a fe r ra m e n t a tipo e qualidade dos serviços
desenvolvida pelo Instituto o f e re c i d o s e m d i f e re n t e s
1 uma inspeção formal Pereira Passos do Brasil para locais dentro do mesmo
por uma equipe bem avaliar a infraestrutura urba- território. Essas pessoas geral- Número de favelas, considerando as favelas em complexos como favelas separadas:
treinada de engen- na construída.13 O MPR gera mente eram residentes mais
heiros e arquitetos, e dados primários que permitem
aos pesquisadores gerar
velhos e líderes comunitários,
principalmente presidentes 143 Tratadasa
diagnósticos sistematizados de associações de moradores
2 grupos focais com e relatórios periódicos sobre e gestores públicos locais.
17 Controleb
beneficiários da a capilaridade, cobertura e E l e s f o ra m e n t rev i s t a d o s
intervenção. Essa qualidade da infraestrutura. usando um questionário
estratégia nos permitiu
capturar o estado
s e m i e s t r u t u ra d o q u e n o s
permitiu quantificar o estado
160 Total
real da infraestrutura Em termos gerais, a aborda- ou condição de preservação
e seu impacto nos gem MPR à coleta de dados da infraestrutura.
usuários. Além disso, combina a observação direta
essa abordagem das condições da infraestru-
dupla pretendia dar t u ra co m e n t rev i st a s co m O questionário incluiu catego-
credibilidade, ou moradores que possuem rias fechadas para respostas. Grupos focais
levantar questões, conhecimento específico da Cada pergunta incluía uma
sobre a validade dos área. Engenheiros civis reali- explicação textual com um Número de favelas, considerando as favelas
Número de favelas:
resultados de cada zam a observação direta e exemplo usando ilustrações, em complexos como favelas separadas:
abordagem. classificam a infraestrutura fotos ou desenhos de situações
de acordo com sua condição para cada opção de resposta.
(quantidade de deterioração) O questionário foi organizado 3 Tratadas 3 Tratadas
e capacidade de atender à em dez tipos de infraestrutura
Em suma, coletamos infor- demanda. Como a topografia ou serviços públicos, como
mações de todas as favelas e as condições socioeconômi- mostra a Tabela 1.2. Esse pro- 6 Controle 6 Controle
que se beneficiaram do FB II cas afetam a durabilidade da cesso resultou em variáveis
entre 2000 e 2008 (88) e 10
favelas não tratadas (grupo de
infraestrutura, comparamos
as favelas melhoradas pelo
padronizadas, o que, por sua
vez, possibilitou a geração de 9 Total 9 Total
controle), e realizamos grupos FB II com outras semelhantes, indicadores. A lista de pergun-
focais em 9 favelas (3 tratadas em termos dessas variáveis, tas com ilustrações e fotos é
e 6 do grupo de controle). antes da intervenção. fornecida no Apêndice B.
Fonte: Elaboração dos autores.

a Melhoradas durante o FB II (2000-2008).


b Consideradas semelhantes às favelas tratadas pela equipe de especialistas
12. Uma descrição completa está disponível em http://www.data.rio/datasets?q=MPR. Acesso em 17 de agosto de 2018.
13. O Instituto Pereira Passos desenvolveu o MPR na época do programa Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). O programa UPP Tabela 1.1. em termos do Índice de Desenvolvimento Humano e da infraestrutura anterior
à intervenção nas favelas tratadas. Embora nos refiramos a 98 favelas estuda-
das, algumas estão em complexos ou grupos interligados como uma rede, o
Grupos de estudo
foi um programa de pacificação pela força policial, voltado para o combate a gangues e traficantes de drogas no estado do Rio de
Janeiro. Começou no fim da década de 2000 e foi composto de policiais estrategicamente posicionados em áreas de alta criminalidade que significa que algumas favelas são um complexo de várias favelas. Contando
e distribuídos através de, aproximadamente, 40 unidades que serviam a 231 favelas, em 2013. https://www.cadaminuto.com.br/ cada favela individualmente, há um total de 160 favelas.
noticia/62543/2010/04/21/bairros-com-upp-tiveram-queda-na-criminalidade
Avaliação da Infraestrutura | 27

Com os dados coletados para A conversa do grupo focal foi


cada favela, a equipe gerou organizada em três partes.
um indicador sintético de 0 Durante a parte inicial, o mod-
Coleta de lixo Iluminação pública a 6, onde 0 significava não erador iniciava a discussão
operacional e 6 significava guiada ao longo de três linhas:
Qualidade do serviço de Estado de conservação dos em excelente condição. Por
Sistema de esgoto coleta, tempo até a lixeira postes de iluminação. fim, criamos um indicador
Canos, tubulações, dutos e mais próxima, frequência de composto, o Índice Geral de 1 Como os moradores
canais para coletar águas
4 questões Infraestrutura, que é a média percebiam a
transbordamento e acúmulo
residuais. de lixo nas ruas.
geométrica dos indicadores qualidade de vida
de cada tipo de infraestrutura geral na favela?
7 questões 8 questões ou serviço público no nível da Um moderador
favela. Quanto maior o valor,
Eletricidade melhor o estado da infraestru- local experiente 2 O que mudou na
Cobertura do fornecimento de tura. O objetivo era represen- favela ao longo dos
eletricidade e frequência das tar as condições urbanas em conduziu os anos?
interrupções. uma escala numérica para
poder comparar os resultados grupos focais,
Transporte público
2 questões na amostra de favelas tratadas 3 O que os moradores
Infraestrutura para
e de controle. usando um acham que deve
Tempo de caminhada até a melhorar na favela?
mobilidade opção de transporte público questionário
Conservação de pavimento
em ruas, becos, passarelas,
mais próxima: ônibus, vans,
caronas, táxis. Tempo de
G rupos focais com benefi-
ciários da intervenção.
Os grupos focais ocorreram pré-estabelecido Em seguida, o moderador vol-
escadarias e rampas. Viabi- espera pela opção de trans-
Aparência externa durante o último trimestre de
2017 e início de 2018. O obje- desenvolvido tava-se a aspectos específicos
de infraestrutura, mobilidade
lidade de livre circulação porte mais utilizada. Qual-
de carro ou moto.
das casas tivo era obter percepções dos e serviços, com o objetivo de
idade do serviço da opção
de transporte mais utilizada. Aparência das paredes externas beneficiários diretos do pro- pela equipe de extrair pontos de vista sobre os
11 questões grama FB: como isso mudou serviços prestados na comu-
16 questões
das casas.
suas vidas e como a infraestru- pesquisa. nidade, avaliando os pon-
4 questões tura se deteriorou com a tos fortes e fracos. O mode-
passagem do tempo. Assim, rador incentivava o debate
captamos um vislumbre das e perguntava se algum tra-
perspectivas da memória dos O moderador iniciava a balho de infraestrutura havia
habitantes do desempenho do reunião explicando primeiro sido realizado recentemente.
FB II quando o cimento ainda a confidencialidade das opi- Em seguida, o moderador
Sinalização estava úmido e fresco, con- niões e discussões ocorridas perguntava se esse trabalho
de trânsito e trastando-o com as condições no grupo e observava que havia melhorado suas vidas
Abastecimento Sistema de drenagem atuais. Entrevistas adicionais não havia respostas certas ou e indagava sobre exemplos
serviços postais foram conduzidas com pes- erradas, mas opiniões dife- de tais trabalhos recentes.
de água de águas pluviais
soas em favelas não tratadas rentes sobre os temas. A dis- Finalmente, o moderador per-
Sinalização visível nas ruas.
Existência de abastecimento Qualidade da infraestrutura de com características seme- cussão era gravada em áudio guntava sobre a infraestrutura
Acessibilidade aos serviços
de água. Ligações irregulares drenagem. Transbordamento lhantes, em torno das favelas para análise posterior. Como melhorada pelo FB II; ou seja,
postais. Caixas de correio
ao abastecimento de água. In- de canais para recolhimento, tratadas. No total, entrevista- ocorre em geral com esse tipo esgoto, ruas pavimentadas,
instaladas em todas as casas. mos 80 pessoas de nove fave- de metodologia, também foi escadarias, coleta de lixo,
terrupções do abastecimento pertencentes à infraestrutura
2 questões de drenagem. Presença de lixo
las. A Tabela A.1, no Apêndice realizada gravação em vídeo, iluminação pública, acesso
de água durante o verão e o
A, fornece a lista de favelas mas como algumas favelas à água, centros infantis e re-
restante do ano. na infraestrutura de drenagem.
escolhidas para as entrevistas eram dominadas por trafi- creativos e saúde. O Apêndice
7 questões 5 questões de grupo focal e o número de cantes de drogas, a gravação A fornece uma explicação
pessoas por favela. de vídeo não foi realizada, detalhada de como as entre-
Tabela 1.2. nesses casos, para garantir a
segurança de nossa equipe.
vistas foram organizadas e
conduzidas.
Tipos de Infraestrutura e Serviços Públicos
Incluídos na Entrevista de Infraestrutura
Figura 1.2. Ranking de
Resultados
Resultados | 30

Índice de Infraestrutura nas Favelas


Tratadas Controle

Resultados das visitas de O resultado mais 5,0 Transporte público 4,7


campo feitas por especialistas chocante desta
investigação Aparência externa
4,5 4,7
foi que o grupo das casas
D urante as visitas de campo,
nossa equipe de arquitetos
Infraestrutura em estado
semelhante nas favelas em de controle
Sistema de drenagem
e engenheiros civis preencheu
um questionário padrão para
geral. O resultado mais cho-
cante desta investigação foi tinha uma 4,2 de águas pluviais
4,8
as 98 favelas (88 tratadas e que o grupo de controle tinha
10 de controle). Criamos o uma infraestrutura margi- infraestrutura
Índice Geral de Infraestrutura nalmente melhor do que a do
para classificá-las conforme grupo tratado. O índice médio marginalmente 4,1 Eletricidade 5,0
a sua preservação, com base geral de infraestrutura para
em visitas de campo, inspeção o grupo tratado foi de 3,5, melhor do que
visual e entrevistas semiestru- comparado a 3,9 do grupo
turadas com residentes (dife- controle. Realizamos um teste a do grupo Infraestrutura para
rentes dos grupos focais). de média e não rejeitamos a 4,0 mobilidade 4,3
hipótese nula com um valor-p
de 0,17 (ver Tabela 1.3).
tratado.
Abastecimento
Fonte: BID 2018. 4,0 de água
4,4

Sinalização de trânsito
3,8 e serviços postais
3,5

3,3 Coleta de lixo 4,5

3,2 Iluminação pública 3,1

2,9 Sistema de esgoto 3,9

Fonte: Elaboração dos autores com dados da Overview Pesquisa


Nota: Pontuação: 0 = não operacional; 6 = em excelente condição.
Resultados | 31
A coleta de lixo
No de favelas Controle Tratadas Valor P: foi um grande
Ho:Controle=Tratadas
O sistema de
problema em
esgoto, o lixo e
Índice Geral mais da metade
de Infraestrutura
160 3,934 3,534 0,178 a eletricidade
das favelas
tiveram a pior
tratadas.
Sistema de esgoto 160 3,939 2,928 0,041** pontuação
entre as favelas A coleta de lixo ficou entre
Infraestrutura
para mobilidade 160 4,335 3,954 0,206 melhoradas. Os sistemas as três últimas das dez
infraestruturas e serviços que
de esgoto avaliamos. A média foi de 3,3
e sua distribuição de frequên-
Iluminação pública 160 3,126 3,192 0,869 As favelas tratadas e as de
controle tiveram pontuação
nas favelas cia foi bimodal (Figura 1.3,
Painel ii). A bimodalidade indi-
extremamente baixa para seus
sistemas de esgoto, coleta
melhoradas cou que havia um grupo de
favelas tratadas onde a cole-
Sinalização de trânsito
e serviços postais 160 3,529 3,839 0,449 de lixo e iluminação pública.
Mas o resultado mais chocan-
tiveram a pior ta de lixo era problemática e
outro grupo onde não era. No
te foi que quaisquer ganhos
experimentados pelas favelas
pontuação em entanto, a maior massa de sua
distribuição estava concentra-
Transporte público 160 4,674 4,986 0,397 tratadas, nesses serviços,
foram perdidos e revertidos todos os tipos da à esquerda, indicando um
grande problema. A coleta de
para o mesmo nível — ou um lixo doméstico não era feita
nível pior — que o das favelas de infraestrutura de porta em porta para 40%
Abastecimento
de água
160 4,446 3,950 0,206 de controle, o que reflete as
condições, em 2010, do grupo e serviços, entre
das favelas do grupo tratado.
Outra queixa comum era a
tratado. Em outras palavras, ausência de lixeiras nas ruas.
as melhorias na infraestrutu- todas as favelas.
Coleta de lixo 160 4,455 3,286 0,030** ra não foram mantidas e seus
benefícios foram completa- A pontuação alta da aparência
mente perdidos nos dez anos A pontuação de 2,9 – muito externa das casas nas favelas
após a conclusão do FB II. A inclinada para a direita – tratadas também foi per-
Tabela 1.3 mostra que as fave- mostrou a gravidade desse ceptível, com a distribuição
Eletricidade 160 4,959 4,121 0,033** las melhoradas tiveram pon- problema (Figura 1.3). Mesmo em massa à direita (Figura
tuações mais baixas, de forma se o FB II conectasse o esgoto 1.3, Painel ii). Esse foi o único
estatisticamente significativa, doméstico à rede pública, era indicador que dependia dire-
Aparência externa
das casas 160 4,722 4,465 0,408 do que as favelas de controle,
para seus sistemas de esgoto,
evidente, nas visitas de cam-
po, que a capacidade insta-
tamente do comportamen-
to individual, o que indicava
coleta de lixo e eletricidade, lada não poderia lidar com a que as pessoas limpavam e
com um valor-p de 0,10. demanda. Dados de campo mantinham as frentes de suas
Sistema de drenagem mostraram que 2 a cada 3 fave- próprias casas. A sinalização
de águas pluviais 160 4,821 4,464 0,209 las tinham sistemas de esgoto de rua e os serviços postais
entupidos. Durante as visitas apresentaram uma distribuição
de campo, muitos moradores ligeiramente bimodal. Assim,
Fonte: elaboração dos autores. Nota: Pontuação: 0 = não locais reclamaram do refluxo cerca de metade das favelas
operacional; 6 = em excelente condição. Níveis de significân- e da proximidade dos canais tratadas necessitavam de me-
Tabela 1.3. cia estatística*** valor-p = 0.01, ** valor-p=0.05, *valor-p=0.10..
Embora nos refiramos a 88 favelas melhoradas no FB II,
abertos de esgoto.14 lhorias em suas placas de sina-
lização e serviços postais, mas
Índice por Tipo de Indicador algumas dessas 88 estão em complexos ou grupos ligados
como uma rede, o que significa que algumas favelas são um
a outra metade possuía sinais
de trânsito e serviços postais
e Estado de Tratamento complexo de várias favelas. Contando cada favela individual-
mente, há um total de 160 favelas relatadas nesta tabela.
14. A reclamação mais comum dos grupos focais era relativa a
transbordamentos de esgoto, especialmente durante chuvas intensas.
em boas condições.
Figura 1.3. Distribuição Suavizada Fonte: Elaboração dos autores com dados da Overview Pesquisa.
Notas: Pontuação: 0 = não operacional; 6 = em excelente condição.
Resultados | 34

dos 10 Indicadores nas Favelas Tratadas


Áreas deslocadas para a esquerda indicam pior infraestrutura.

Sistema de drenagem Aparência


Sinalização de trânsito
Sistema de esgoto Coleta de lixo externa
de águas pluviais e serviços postais
das casas

3 3

2 2

1 1

0 0
0 2 4 6 8 0 2 4 6 8
Iluminação Abastecimento Infraestrutura Transporte
Eletricidade
pública de água para mobilidade público

4
3

3
2
2
1

0 0
0 2 4 6 8 0 2 4 6 8
Resultados | 35
Resultados das Entrevistas
dos Grupos Focais

A infraestrutura
para a
O s resultados da segunda
abordagem foram con-
sistentes com a primeira. A
Os moradores avaliaram a
evolução da localidade ao lon-
go dos anos, comparando o
principal conclusão dos gru- presente com o passado. Em
A iluminação mobilidade pos focais é que, embora no geral, os idosos que haviam
início o FB II tenha melhora- chegado às suas comunidades

pública estava e transporte do suas vidas, ao longo do quando havia pouca ou ne-
tempo a infraestrutura e os nhuma infraestrutura reconhe-

em péssimas público serviços públicos sofreram


grandes prejuízos e negligên-
ciam que agora vivem em um
lugar muito melhor. No entan-

condições nas melhoraram, mas cia. De fato, com o passar do


tempo, a infraestrutura degra-
to, muitos ainda consider-
avam as condições precárias e

favelas tratadas. algumas favelas dou-se consideravelmente e a


maioria dos serviços públicos
reclamavam de problemas
básicos de infraestrutura.
precisavam de se reverteu para condições
como as das favelas que não
foram melhoradas (controle). A seguir, são apresentadas
Ruas
Este indicador ficou em penúl- atenção. As pessoas nos grupos focais as principais questões para pavimentadas
timo lugar, com uma média queixaram-se aos entrevista- cada um dos tipos de infra-
de 3,2, e sua distribuição foi dores de que o esgoto trans- estrutura analisados:
concentrada à esquerda. Os borda, o lixo se acumula e a Houve muitas reclamações
moradores entrevistados em Ruas pavimentadas, becos, eletricidade falha, e que as sobre a condição das ruas. Os
metade das favelas visitadas, escadarias e outras infraestru- ruas têm pouca iluminação Sistema moradores as consideraram
nos grupos tratados e de con- turas para a mobilidade pública, entre outras queixas. de esgoto um desastre em quase todas
trole, observaram a falta de não estavam em péssimas Além disso, enquanto na as favelas (tratadas e de con-
manutenção de rotina das lâm- condições; a massa de sua dis- Dessa forma, 30% das fave- maioria dos grupos focais os trole). Eles relataram que as
padas de iluminação pública. tribuição ficou deslocada para las do grupo tratado tinham residentes expressavam opi- Uma das críticas mais fre- ruas estavam cheias de bura-
Estranhamente, a eletricidade a direita. De forma similar, o buracos que dificultavam a niões positivas a respeito de quentes e importantes foi em cos, acumulando água quan-
apresentou uma distribuição acesso ao transporte público circulação normal de veículos certos indicadores, consisten- relação à rede de esgotos. do chovia e impossibilitando
mais centralizada, o que indi- foi o primeiro no ranking entre maiores que uma motocicleta. temente, eles atribuíram esse Moradores citaram que as a locomoção por motocicleta
cou que a falta de serviço de o grupo tratado, mas também Não encontramos diferença resultado às suas próprias instalações eram inadequadas ou carro. A única favela onde
eletricidade não estava cau- ficou alto no ranking entre o estatística na média dos ações e não àquelas da cidade para o tamanho da população os moradores ofereciam rela-
sando má iluminação pública. grupo de controle. Tanto no grupos de controle e trata- ou do FB. Por exemplo, os local. Portanto, quando cho- tos entusiasmados sobre ruas
O serviço de água apresentou grupo tratado quanto no con- do. Assim, embora o FB II se moradores consertam alguns via muito durante o verão, o pavimentadas era no Parque
uma distribuição centralizada, trole, 80% afirmaram que não concentrasse principalmente dos buracos preenchendo-os esgoto transbordava e refluía São Sebastião, que surpreen-
com uma ligeira inclinação da levam mais de 5 minutos para na pavimentação de ruas e com areia para permitir uma para as casas (Tabela 1.4). Vale dentemente fazia parte do
massa para a direita, indican- caminhar até uma rua próxima na construção de escadarias, melhor circulação de carros lembrar que a avaliação de grupo de controle. Nesta fave-
do que cerca de um terço das com acesso a transporte públi- passarelas e calçadas, o grupo e motocicletas. Em outros impacto feita na conclusão la, os moradores se elogiavam
favelas tinha algum problema co. Em duas das três favelas, as de controle tinha infraestrutu- casos, os residentes relataram do FB II mostrou um impac- por pavimentar suas ruas, ale-
com o serviço de água, mas, na pessoas entrevistadas disseram ra de mobilidade semelhante que eles mesmos conserta- to significativo e positivo na gando que eles, em oposição
maioria delas, o serviço de água ter muitas opções de trans- à das favelas tratadas quando vam a fiação elétrica sempre cobertura de esgoto (Atuesta aos órgãos públicos, manti-
não era um grande problema. porte para o mesmo destino. avaliadas dez anos depois. que possível. e Soares, 2016).15 nham suas ruas.

15. No estudo de Atuesta e Soares (2016), o coeficiente estimado foi estatisticamente significativo, com um valor-p = 0,0001, n = 18,008.
Iluminação Resultados | 38
pública
Coleta de lixo
A iluminação pública também
recebeu avaliações precárias em
quase todas as favelas (tratadas
e de controle). Mais uma vez, Os resultados da coleta de lixo
os moradores alegaram que também foram mistos. Houve
os prestadores de serviços percepções positivas e nega-
não apareciam quando eram tivas nas favelas tratadas e de
chamados para substituições controle. Na Barreira do Jucá,
de lâmpadas ou reparos. Os na Vila União, na Nossa Senhora
moradores costumavam dizer Transporte da Apresentação, no ITD e no
que acabavam fazendo eles público16 Parque São Sebastião, a coleta
mesmos a manutenção para foi considerada adequada, uma
evitar que seus bairros ficassem vez que acontecia diariamente ou Educação,
escuros. Como solução, alguns Outra queixa foi o transporte com regularidade. Os membros
moradores colocavam luzes do
lado de fora de suas próprias
público infrequente e escas-
so. Estava pior nas favelas do
dos grupos focais, no entanto,
indicaram que lixeiras precisavam
saúde e serviços
portas para fornecer luz na
frente de suas casas.
grupo de controle, como ITD,
Ficap, Jardim América, Barreira
ser fornecidas nas ruas, embora
entendessem que manter seus
de recreação A Tabela 1.4 compara os dife-
do Jucá e Moreira Pinto, mas próprios pátios limpos era de rentes indicadores apre-
também era um grande pro- sua própria responsabilidade. sentados neste relatório e a
blema em algumas das fave- Em outras favelas, a coleta de avaliação de impacto original
Serviços
postais
las tratadas, como o Morro da
Providência.
lixo não era adequada devido à
irregularidade da coleta ou porque
o lixo só era coletado nas partes
O s residentes foram muito
críticos em relação aos
serviços de educação, saúde
realizada por Atuesta e Soares
(2016). Embora os indicadores
aqui apresentados não sejam
mais acessíveis das favelas. e recreação em todas as fave- diretamente comparáveis, são
las (tratadas e de controle). úteis para entender melhor
Os residentes reclamaram que, Abastecimento Quanto à educação, eles re- a direção do efeito da inter-
devido aos recursos finan- de água clamaram da falta de escolas venção FB II em relação às
ceiros limitados das agências de educação infantil ou de favelas não tratadas, em dois
dos correios, o correio não era vagas nas escolas. Quanto à pontos diferentes no tempo,
distribuído individualmente Os resultados para o abaste- Eletricidade saúde, os moradores relataram 2005 e 2018. A tabela mos-
no imóvel de cada residente. cimento de água foram mistos que a nova política de serviço Essas avaliações qualitativas, tra que a avaliação feita por
Embora o endereço de cada nos grupos de controle e tra- público exigia que todos pas- feitas pelos próprios mora- especialistas durante as visi-
casa tivesse sido esclarecido tado. O abastecimento de água sassem por clínicas familiares dores, apontaram para uma tas de campo e informações
pelo FB II, a situação regrediu foi considerado adequado em Tanto nas favelas tratadas (Unidade de Atenção Primária conclusão. Apesar da melhora dos grupos focais são consis-
para uma em que a corres- algumas das favelas de controle quanto nas de controle, os à Saúde), em vez dos anti- inicial em sua qualidade de vida, tentes para todos, exceto um
pondência de todos era entre- (Barreira do Jucá, Ficap e Jardim moradores reclamaram que o gos centros de saúde, mas o nas favelas onde nossa equipe indicador, transporte. A des-
gue em um dia específico, em América), bem como em algu- grande crescimento da po- atendimento ali era muito pre- conduziu as entrevistas de gru- coberta mais dramática foi
um único local e, portanto, mas favelas tratadas (Morro da pulação significava que mais cário e os postos muitas vezes po focal, a situação atual espe- que, enquanto Atuesta e
todos os residentes tinham que Providência e Bairro Proletário eletrodomésticos estavam sen- foram fechados devido à falta lhava a de favelas que nunca Soares (2016) encontraram
dirigir-se a um lugar e em um do Dique). No restante das do usados, principalmente no de médicos e remédios. Assim, foram melhoradas. Além disso, uma melhora importante e
determinado momento para a favelas de controle e tratadas, verão, o que causava quedas essa percepção de um mau qualquer manutenção em algu- estatisticamente significativa
entrega da correspondência. os moradores se queixaram de energia. Uma queixa típica atendimento foi agravada pela mas favelas era percebida pelos na maioria dos tipos de
Isso contrasta com os resul- de serviços inconstantes, que foi a resposta atrasada da con- transformação desses centros moradores como resultado de infraestrutura em 2005, em
tados do estudo de Atuesta e atribuíram ao tamanho inade- cessionária quando ocorriam de saúde em clínicas famili- suas próprias medidas proati- relação a um grupo de controle
Soares (2016) que encontra- quado das tubulações devido ao apagões. Muitas vezes, os mora- ares. Quanto à recreação, os vas para limpar e manter suas (não tratado) comparável, em
ram um impacto positivo e crescimento da população nos dores se reuniam para resol- moradores reclamaram que comunidades. Assim, serviços 2018 tanto as visitas de cam-
estatisticamente significativo últimos anos. O pior serviço ver problemas da comunidade, não havia suficientes áreas deficientes e manutenção inad- po por especialistas quanto os
do FB II, no resultado “entre- de abastecimento de água foi como fiação e manutenção de recreativas, brinquedos para equada foram prevalentes nos grupos focais mostraram que
ga de correspondências em o do Parque São Sebastião. medidores de energia. crianças ou equipamentos grupos tratado e de controle.17 a infraestrutura sofreu deterio-
imóveis”, em 2005. para exercícios físicos. rização e foi negligenciada.

16. Embora o transporte público não fizesse parte da intervenção do FB, melhorias na infraestrutura facilitam a circulação de veículos. 17. Durante as visitas de campo, os inspetores profissionais avaliaram e classificaram a maior parte da infraestrutura realizada pelo FBII,
exceto os serviços comunitários.
Tabela 1.4. Resultados | 40

Comparação entre Indicadores Correntes


e Avaliação Prévia do FB II

2005 2018 2018

Atuesta e Soares Visitas de Campo Grupos Focais

Tipo de indicador Coeficiente de Regressão Estatisticamente Sifnificativo 0 (não operacional) a 6 (excelente) Opiniões

Pior indicador de todos, massa da distribuição


Sistema Esgoto melhorado Reclamação frequente de transbordamento.
inclinando-se para 0.
de esgoto

Segundo pior indicador. Massa da distribuição Lâmpadas quebradas com frequência.


Iluminação Iluminação pública melhorada
inclinada fortemente à esquerda. As equipes de manutenção não as reparam.
pública

Quarto pior indicador. Massa da distribuição O correio não é distribuído nos imóveis. As
Serviços Melhor distribução de correspondência nos imóveis pessoas têm de convergir em um momento e local
à esquerda com distribuição à direita.
postais específicos para receber suas correspondências.

Transporte Uma reclamação comum foi que o


Sem melhora Não é problema, ficou em primeiro lugar.
público transporte atrasava ou era infrequente.

Classificado na mediana. Massa da distribuição Críticas mistas. Em algumas, era um


Abastecimento Abastecimento de água melhorado
igualmente distribuída pelo centro. problema, em outras nem tanto.
de água

Terceiro pior indicador. Bimodal com a maior


Sem melhora
Coleta de lixo parte da massa da distribuição à esquerda. Condição ruim.

Fonte: Elaboração dos autores.


Análise dos Resultados
Análise dos resultados | 42

Análise por indicadores topográficos


Nossa análise A equipe de pesquisa enviada
às favelas – uma equipe
de engenheiros e arquitetos
mostrou que,
após dez anos,
altamente treinados que
viveram e trabalharam no
Rio durante toda a vida –
É possível que as favelas dos morros (tais como na imagem)
tivessem um desempenho pior do que as favelas planas
porque, quando chove muito, é mais difícil gerenciar o acúmu-
18. Pode haver outros fatores de confusão.
Por exemplo, as pessoas nas favelas dos
morros podem usar veículos mais pesa-
dos, como caminhonetes 4X4, para subir
levantou a hipótese de que lo de água e manter a infraestrutura adequadamente. Há muita
grande parte da a d e m a n d a ex t ra s o b re a literatura que demostra que a topografia inclinada aumenta o
os morros.

i n f ra e s t r u t u ra e m f ave l a s dano às ruas pavimentadas em tempo chuvoso18 (Baldachin, Favela Morro dos Prazeres no Rio de
infraestrutura, dos morros, o crescimento Willway, Reeves et al., 2008). Janeiro, 2018. Fonte: Overview Pesquisa.
populacional e altos níveis
nas favelas, que de violência local seriam
os responsáveis pelo baixo
foi melhorada desempenho da infraestru-
tura. Para testar evidências
pelo FB II estava empíricas que apoiem essa
hipótese, correlacionamos
em condições indicadores de infraestrutura
com níveis locais de indica-
semelhantes dores topográficos, tamanho
da população e indicadores
ou piores do de violência local.

que em favelas
comparáveis
que nunca foram
melhoradas. O
que aconteceu
durante todos
esses anos? Quais
fatores estão por
trás da regressão
do grupo tratado
para a média do
grupo controle?
Análise dos resultados | 43
Tabela 1.5.
Teste de médias por Tipo
de Infraestrutura ou de serviço,
entre as Favelas Tratadas
Morros Plana Valor-P:
Ho: Morros = Planas

Índice Geral
de Infraestrutura
3,36 3,86 0,012**
As favelas planas (tais como na
imagem) são aquelas que não As favelas planas
têm declive significativo e têm
áreas predominantemente pla- tinham melhores Sistema de esgoto 2,90 2,97 0,944
nas. Por outro lado, as favelas
dos morros têm declives acen- indicadores de Infraestrutura
tuados e constantes. A Tabela
1.5 resume o teste estatístico infraestrutura do para mobilidade 3,59 4,63 0,000**
de média entre favelas dos
morros e planas. Os resulta-
dos corroboram a hipótese
que as favelas
de que a topografia é um fator dos morros. Iluminação pública 3,16 3,26 0,759
relevante. As favelas planas
tinham melhores indicadores
de infraestrutura do que as Sinalização de trânsito
favelas dos morros. Isso se apli- e serviços postais 3,55 4,38 0,001***
ca especialmente à infraestru-
tura associada à mobi-
lidade e ao transporte. O que é
de se esperar, já que o asfalto Transporte público 4,86 5,23 0,006***
nas favelas dos morros é mais
facilmente danificado quando
a chuva debilita a película Abastecimento
aglutinante aplicada nas ruas.
de água
3,73 4,35 0,008***
Realizamos um teste conjunto
de média para seis áreas da
cidade, por tipo de indicador,
e rejeitamos a hipótese nula de Coleta de lixo 2,87 4,06 0,000***
que a infraestrutura era igual
em toda a cidade, nas 88 fave-
las melhoradas (os resultados
são fornecidos no Apêndice Eletricidade 4,04 4,26 0,434
D). Assim, foram encontradas
evidências empíricas de que
as colinas podem sofrer mais Aparência externa
danos, porque sua topogra-
das casas 4,31 4,75 0,017**
fia facilita a erosão da água na
calçada quando chove. Favela Plana da Maré no Rio de Janeiro, 2018. Fonte: Overview Pesquisa.
Sistema de drenagem
de águas pluviais 4,23 4,19 0,661

Fonte: Elaboração dos autores. Nota: Pontuação: 0 = não operacional; 6 = em excelente condição. Níveis de significância estatística: ***
valor-p = 0,01, ** valor-p = 0,05, * valor-p = 0,10. Embora nos refiramos a 88 favelas melhoradas no FB II, algumas dessas 88 estão em
complexos ou grupos interligados como uma rede, o que significa que algumas favelas são um complexo de várias favelas. Contando
cada favela individualmente, há um total de 160 favelas relatadas nesta tabela.
Análise dos resultados | 45

Fonte: BID 2018.

Vale a pena notar que as favelas Ao sul, algumas favelas próxi-


planas estão predominante-
mente localizadas no oeste do
mas às praias de Copacabana
e Barra da Tijuca apresentam
É evidente que
Rio, enquanto as dos morros
estão no norte, centro e sul
leve deterioração, em amarelo,
e outras estão em verde. Isto é
a área norte tem
da cidade. Além disso, a maior perceptível porque estas estão em
parte do financiamento do FB morros e, portanto, esperaríamos o maior número
II foi para o norte do Rio, que, que tivessem pior infraestrutura.
na época em que o FB II foi Por isso, suspeitamos que sua de favelas com
implementado, tinha a maior localização privilegiada —perto
concentração de favelas. A de amenidades superiores do Rio, infraestrutura
Figura 1.4 mostra as favelas como praias, escolas melhores
com as piores condições de e deslocamentos mais curtos— de baixo
infraestrutura em vermelho e facilitou a gentrificação e forneceu
as que apresentam melhores mais recursos locais para a sua desempenho.
condições em verde. É evi- manutenção. Também é possível
dente que a área norte tem o que o município tenha investido
maior número de favelas com mais recursos nessas favelas,
infraestrutura de baixo desem- por causa de sua proximidade
penho. Em contraste, no oeste com áreas turísticas.
do Rio, onde as favelas planas
de Guaritiba e Campo Grande
estão localizadas, o verde
indica melhor infraestrutura.

Fonte: BID 2018.


FAVELA: PARQUE ACARI FAVELA: MORRO DOS MACACOS
Análise dos resultados | 47
Índice geral = 1.85 (precário) Índice geral = 2.3 (precário)
Famílias 2010 = 1884 (grande) Famílias 2010 = 1384 (médio)
Figura 1.4.
Criminalidade = Sem a presença de UPP Criminalidade = Com a presença de UPP
Mapa do Estado da Infraestrutura, Usando o Índice Topografia = Plano Topografia = Morro
Geral de Infraestrutura
Precária Nível médio Excelente

ILHA DO GOVERNADOR

FAVELA: TRES PONTES


Índice geral = 4.81 (alto) NORTE

BAÍA DE GUANABARA
Famílias 2010 = 1269 (médio)
Criminalidade = Sem a presença de UPP
Topografia = Plano

OESTE

BOTAFOGO

FAVELA: AREAL
Índice geral = 5.84 (alto) SUL COPACABANA

Famílias 2010 = 779 (pequeno)


Criminalidade = Sem a presença de UPP IPANEMA

Topografia = Plano

OCEANO ATLÂNTICO
Fonte: Elaboração dos autores usando o Índice Geral de
Infraestrutura. Nota: Pontuação: 0 = não operacional; 6 = em
excelente condição. Vermelho = dano crítico (0 a 2); amarelo =
dano moderado (3 a 4); verde = condição boa a excelente (5 a 6). 0 5 10 15 20 km
O crime foi representado pela presença de uma UPP = Unidade
de Polícia Pacificadora.
Análise dos resultados | 48
Tabela 1.6.
Teste de Média Kruskal-Wallis pelo Tamanho das
Favelas segundo a População entre Favelas Tratadas
Pequenhas Medias Grandes Valor-P

(1) (2) (3) H0:1=2=3

Análise por Tamanho da População Índice Geral


de Infraestrutura
3,73 3,82 3,38 0,092*

P assamos então a analisar


os resultados de acordo
Sistema de esgoto 3,40 3,80 2,47 0,001***
com a população. Dividimos
as favelas em três grupos:
Infraestrutura
grandes (1.700–2.500 famílias),
médias (1.100–1.700) e pequenas para mobilidade 4,14 4,02 3,91 0,643
( 5 0 0 –1 .1 0 0 ) . E m s e g u i d a ,
fizemos um teste conjunto de
média para os três grupos.
Algumas favelas no norte são
Iluminação pública 3,77 3,21 3,12 0,519
mais populosas, têm muita
criminalidade e têm morros.
Sinalização de trânsito
No entanto, como sempre, é
difícil atribuir a deterioração e serviços postais 3,85 3,85 3,84 0,979
a um fator quando outros Os resultados são apresenta-
e st ã o p re s e n te s . Co m u m dos na Tabela 1.6. Os sistemas
teste de igualdade de médias,
outros fatores não podem
de esgoto e drenagem de
águas pluviais mostraram uma Transporte público 4,38 4,65 5,21 0,223
ser isolados. Por exemplo, diferença significativa entre
olhando a Figura 1.4, o Morro favelas grandes e pequenas,
dos Macacos, no grupo mas não entre pequenas e Abastecimento
tratado, tem infraestrutura médias. Isso indica que quanto de água
4,33 4,15 3,82 0,352
precária, é violento, é mor- maior a favela, piores são os
ro, e é de tamanho médio. re s u l t a d o s d e ss e s i n d i c a -
Considere também o Parque
Acari, que tem uma grande
dores e maior a necessidade
de investimento quando as Coleta de lixo 3,43 3,93 2,97 0,109
população (1.884 famílias) favelas são mais populosas.
e uma infraestrutura defi- Portanto, há evidências de
c i e n te, e m b o ra n ã o te n h a que a capacidade projetada
níveis extremos de violência é menor do que a população Eletricidade 4,31 4,03 4,14 0,800
o u m o r ro s . P a ra o o e s t e , atual atendida, fato que também
Areal e Três Pontes têm boa foi verificado e confirmado
infraestrutura e uma topografia q u a n d o f i ze m o s a a n á l i s e Aparência externa
predominantemente plana. com os grupos focais.19 das casas 4,41 4,78 4,32 0,029**
Sistema de drenagem
de águas pluviais 4,56 4,78 3,92 0,010***
19. Realizamos testes adicionais de crescimento da população e indicadores, mas não conseguimos encontrar resultados estatisticamente Fonte: Elaboração dos autores. Nota: Pontuação: 0 = não operacional; 6 = em excelente condição. Níveis de significância estatística:
significativos, possivelmente porque todas as favelas cresceram tremendamente, mas com pouca variação em seu crescimento. *** valor-p = 0,01, ** valor-p = 0,05, * valor-p = 0,10. A hipótese nula H0: 1 = 2 = 3 é que favelas de diferentes tamanhos têm indicadores
estatisticamente iguais.
Análise dos resultados | 51

Figura 1.5.
Taxa de homicídios na cidade do Rio de Janeiro
Análise por Nível de Criminalidade
(Homicídios por 100.000 habitantes)

V iolência endêmica e de
a l t o n í ve l p r e j u d i c a a
O s d a d o s s o b re t a x a s d e
homicídio são considerados os
As UPPs são uma extensão
das delegacias de polícia
60 58 58
57
manutenção adequada e, dados de criminalidade mais e estão localizadas onde a 54 54 54
portanto, desencadeia a confiáveis, já que outros tipos polícia espera níveis mais 53
51
deterioração da infraestrutura de crime, como furto e assaltos, altos do que a média de
ao longo do tempo, porque
as equipes responsáveis pelo
geralmente são subnotificados.
No entanto, esta taxa carece
criminalidade e violência
(Felbab-Brown, 2011). As UPPs
50
46 46
abastecimento de água, ele- de informação geográfica são formadas por policiais
tricidade, iluminação pública e na escala que precisávamos, treinados principalmente em
transporte público não podem p o rq u e o ú n i co i n d i c a d o r policiamento não violento e
entrar com segurança nessas
áreas. De acordo com o que
espacial eram os registros
coletados pelas delegacias de
direitos humanos. Em 2008,
o Estado do Rio de Janeiro,
40
a equipe de engenheiros e polícia. Portanto, usamos as em coordenação com os 35
arquitetos testemunhou em localizações das UPPs do Rio governos municipal e federal, 33
p r i m e i ra m ã o, a v i o l ê n c i a como proxy para a distribuição implementou as UPPs para
afeta as ruas pavimentadas,
a iluminação pública, a coleta
espacial do crime. combater e desmantelar o
crime organizado nas favelas. 30 28 29

de lixo e o esgoto. As favelas As UPPs também tiveram apoio 25


do Rio de Janeiro têm níveis Durante os anos e supervisão de organizações
24 24 24
muito altos de criminalidade. n ã o - g ove r n a m e n t a i s e d e
Durante os anos em que o FB em que o FB II cidadãos civis organizados. A
20
II foi executado, o Rio teve instalação de uma UPP geral-
uma taxa de 50 homicídios foi executado, mente exigia a intervenção
por 100.000 habitantes em um da Polícia Militar do Rio de
ano. Essa taxa de homicídios o Rio teve Janeiro, que, dependendo
foi tão alta quanto a de
algumas das cidades mais uma taxa de
das condições de resistên-
cia oferecidas pelos grupos 10
violentas do mundo, como San criminosos locais, contava
Pedro Sula, em Honduras, ou
Ciudad Juarez, no México. A
50 homicídios com a ajuda do Batalhão de
Operações Policiais Especiais
taxa começou a diminuir em
2009, alcançando um breve
por 100.000 do Rio de Janeiro e das Forças
Armadas. Cada UPP instalada 0
patamar de 24 homicídios por ficava ligada ao batalhão mais
100.000 habitantes entre 2012 habitantes em próximo da Polícia Militar.
2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016

e 2015, subindo novamente


para 33 em 2017, o que ainda um ano.
é considerado de alto nível.

Fonte: Instituto de Segurança Pública, ISP. http://www.ispdados.rj.gov.br/Arquivos/SeriesHistoricasLetalidadeViolenta.pdf.


Acessado em 21 de agosto de 2018.
Seria de se esperar que uma
Análise dos resultados | 53
favela com uma UPP tivesse
níveis de criminalidade acima
da média, comprometendo a
mobilidade dentro da favela e
espalhando o medo entre os
responsáveis pela limpeza e
manutenção, diminuindo assim
a qualidade da infraestrutura.
Alternativamente, se uma UPP
atingir seu objetivo, o efeito
esperado seria uma infraestru-
tura melhor mantida. Mas o
impacto líquido de uma UPP
sobre a criminalidade depende
de qual desses dois efeitos é
dominante. O impacto das UPPs
nos níveis locais de violência
parece variar com o tempo.
Inicialmente, as favelas com UPP Bloqueio intencional na rua feito por uma gangue na Favela Morro da Quitanda no Rio de
mostraram níveis mais baixos Janeiro, 2018. Fonte: Overview Pesquisa.
de homicídios, embora esse
resultado tenha sido afetado
por outros fatores (fatores de
confusão) , além do número Traficantes de drogas e gangues Finalmente, eles destroem
maior de policiais. A literatura operam dentro de um território estruturas de mobilidade inter-
empírica sobre o efeito das bem estabelecido, que eles na, como escadarias e rampas
UPPs nas taxas de homicídio nas defendem e demarcam através públicas, para dificultar o acesso
favelas descobriu que elas têm de confrontos com a polícia aos seus esconderijos.
muito pouco impacto (Franco, e com outras facções. Além
Magaloni, and Melo, 2015).20 A de dificultar a manutenção
situação piorou desde a con- adequada, eles marcam seu A Tabela 1.7 confirma que a
clusão dos Jogos Olímpicos território destruindo inten- infraestrutura para a mobili-
do Rio em 2016. Além disso, cionalmente a infraestrutura dade, sinalização de trânsito
as UPPs estão subfinanciadas ou por meio do vandalismo e serviços postais, coleta de
devido à crise financeira do (ver imagem P54). A equipe lixo, aparência externa das
Brasil.21 Os níveis de violência de engenheiros e arquitetos casas e sistemas de drenagem
local aumentaram e o governo enviada para realizar a inspeção pluvial estão em pior estado
federal interveio no Estado do técnica, muitas vezes, observava nas favelas com UPP (proxy
Rio para melhorar a segurança gangues quebrando luminárias para altos níveis de crimina-
pública.22 Portanto, é provável públicas em algumas partes lidade) do que nas sem UPP.
que, à medida que a segurança de uma favela para facilitar a Esses testes simples sugerem
diminuiu, a manutenção da sua ocultação. Eles também que a violência pode afetar a
infraestrutura também tenha fazem buracos nas ruas (ver infraestrutura, tanto por meio
diminuído, já que muitas imagem P.55) que dão acesso do vandalismo direto quanto
vezes é impossível que as às favelas para criar barricadas pelo efeito indireto de intimidar
equipes municipais entrem em e impedir a entrada de viaturas as equipes de manutenção.
áreas violentas. da polícia e gangues rivais.

20. Outras obras de literatura empírica que tratam do efeito da polícia sobre a criminalidade local concluíram que a presença da polícia diminui
a criminalidade. Veja Di Tella e Schargrodsky (2004) e Levitt (1997).2. Esses resultados estão em conformidade com a avaliação de impacto do Buraco feito de forma intencional por uma gangue na Favela Morro da Quitanda no Rio de Janeiro, 2018. Fonte: Overview Pesquisa.
FBII realizada em 2005 por Atuesta e Soares (2016).

21. Veja os seguintes artigos para mais informações: Governo do RJ estuda acabar com 18 UPPs: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/
noticia/seguranca-do-rj-estuda-acabar-com-18-upps.ghtml. Corte no orçamento do estado do Rio afetará UPPs? Especialistas respondem:
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/01/27/corte-no-orcamento-do-estado-do-rio-afetara-upps-especialistas-re-
spondem.htm. Como ficam as UPPs após corte de verbas e perda de autonomia: https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2017/12/15/
Como-ficam-as-UPPs-ap%C3%B3s-corte-de-verbas-e-perda-de-autonomia

22. 7 pontos para entender a intervenção federal no Rio de Janeiro: https://www.terra.com.br/noticias/brasil/cidades/7-pontos-para-entend-


er-a-intervencao-federal-no-rio-de-janeiro,a51957369ba93a351fef808a86a0d0346w8av0c2.html
Tabela 1.7.
Teste de média entre favelas
violentas e não violentas
A favela tem UPP? Não (1) Sim (2) valor-p

Número de
91 53 Ho: 1 = 2

Conclusões
observações (favelas)

Índice Geral
de Infraestrutura
3,63 3,37 0,148

Sistema de esgoto 2,98 2,84 0,728


Infraestrutura
para mobilidade 4,12 3,68 0,045**

Iluminação pública 3,08 3,38 0,110


Sinalização de trânsito
Resumo das Conclusões
e serviços postais 4,11 3,38 0,003***
P.56
Transporte público 4,91 5,12 0,268
Recomendações
Abastecimento
de água
3,94 3,97 0,884 de Política
P.58
Coleta de lixo 3,75 2,51 0,000***

Eletricidade 4,12 4,12 0,980


Aparência externa
das casas 4,65 4,15 0,007***
Sistema de drenagem
de águas pluviais 4,32 4,05 0,076*
Fonte: Elaboração dos autores. Nota: O proxy da violência é a existência de uma UPP. Pontuação: 0 = não operacional; 6 = em excelente
condição. Níveis de significância estatística: *** valor-p = 0,01, ** valor-p = 0.05, * valor-p = 0.10. Resultados dos Indicadores Mann-
Whitney conforme a existência de uma UPP.
Resumo das Conclusões
Resumo das Conclusões | 57

A topografia
Houve uma das favelas Notoriamente,
forte correlação também foi um crime e violência
entre o tamanho fator crítico se correlacionam
da população associado à com a
e o estado da deterioração da infraestrutura
infraestrutura. infraestrutura. deteriorada.

A s melhorias do FB II
ocorreram entre 2000 e
2008. Em 2005, uma rigorosa
O estudo avaliou o estado
da infraestrutura em todas
as 88 favelas (144 contando
O fato de ambas as avaliações
quantitativas e qualitativas
indicarem que muitos dos
Houve uma forte correlação
entre o tamanho da população
e o estado da infraestrutura.
A topografia das favelas também
foi um fator crítico associado
à deterioração da infraestru-
Notoriamente, crime e violên-
cia se correlacionam com a
infraestrutura deteriorada. O
avaliação empírica constatou cada favela em um complexo ganhos originais do FB II Nas favelas mais populosas, a tura. Nas favelas dos morros, mecanismo é direto no caso
que as obras realizadas melho- de favelas separadamente) foram perdidos revela a infraestrutura construída dete- tipicamente encontradas ao de vandalismo e indireto, dado
raram de forma significativa beneficiadas pelo FB II, mais necessidade imperativa de riorou-se ainda mais e o lixo e norte do Rio, os indicadores que o aumento da violência
a vida dos moradores 23 . Este 1 0 fave l a s a d i c i o n a i s q u e foco na sustentabilidade o esgoto se acumularam com mostraram que a infraestrutura impede a manutenção adequada
estudo revisitou as favelas s e r v i ra m co m o u m g r u p o desses investimentos. Por que mais frequência. Isso precisa não lidou bem com as chuvas e da infraestrutura. As gangues
b e n e f i c i a d a s p a ra ava l i a r d e co n t ro l e ( 1 7 co n t a n d o a infraestrutura melhorada ser levado em consideração que o pavimento se degradou geralmente quebram a ilumi-
a sustentabilidade a longo a q u e l a s e m u m co m p l exo p e l o F B I I s e d e te r i o ro u ? nos projetos dos programas mais rápido do que nas favelas nação pública para se esconder
prazo das melhorias do FB II. separadamente). As inspeções Especialistas da área levan- de melhoria urbana, pois as planas. As favelas dos morros da polícia e fazem buracos nas
mostraram que quase duas taram a hipótese de que isso melhorias tendem a atrair mais também tinham altos níveis de ruas ou montam barricadas para
e m c a d a t r ê s fave l a s m e - se devia principalmente à moradores para os bairros. criminalidade e grandes po- impedir a entrada de carros da
O estudo está baseado em lhoradas tinham pouca ilu- manutenção inadequada, pulações. Devido à confluência polícia e gangues rivais. Tudo isso
duas estratégias pontuais: minação pública e canais de uma consequência da super- de fatores, as favelas do norte dificulta a entrada das equipes
(i) grupos focais e (ii) ava- esgoto que transbordavam população, topografia, crime do Rio apresentaram os piores de manutenção municipais nas
liações de especialistas. Para ou revertiam o fluxo, e que e vandalismo. Portanto, os indicadores dos grupos de trata- favelas para manter a infraestru-
os grupos focais, foi utilizado uma em cada três tinha resultados empíricos foram mento e controle. Em contraste, tura em ótimas condições.
um questionário semi-estru- ruas com pavimento em revisados tendo em conta as favelas planas localizadas a
turado com moradores de mau estado e sistemas de esses fatores. oeste da cidade apresentaram
nove favelas (três tratadas, drenagem congestionados. os melhores indicadores.
t r ê s d e co n t ro l e p e r to d e
favelas tratadas e três de
controle longe das favelas
tratadas) sobre o estado atual
da infraestrutura em cada
favela. A percepção foi a de
que o FB II trouxe melhorias
significativas no curto prazo,
mas que com o tempo essas
melhorias desapareceram.

23. Atuesta and Soares, 2016


Recomendações de Política | 59

As famílias que vivem em bairros


Recomendações informais são diversas em muitas
dimensões e, assim, encontram
de Política na informalidade respostas a uma
diversidade de necessidades.

E m suma, nossa pesquisa


mostra que o FB II teve
resultados importantes no curto
Em relação à primeira
q u e s t ã o, f i c a c l a ro q u e a
compreensão da organização
Mas a análise do tecido social
deve ir além da divisão entre os
envolvidos em atividades crimi-
Da mesma forma, a questão das
redes sociais e o acesso à infor-
mação precisam ser abordadas.
Sozinhos, os programas de
melhoramento territorial não
criam efetivamente um novo
prazo, mas houve dificuldades social dos bairros é funda- nosas e aqueles que não o são. É comum que recém-chegados paradigma social nos bairros
significativas para sustentar mental antes de qualquer As famílias que vivem em bairros à cidade se estabeleçam em informais. Muitas das questões
esses mesmos resultados ao intervenção. Uma das coisas informais são diversas em muitas bairros informais simplesmente de violência arraigadas em bair-
longo do tempo; particular- mais bonitas dos programas dimensões e, assim, encontram porque já conhecem alguém ros informais estão enraizadas
mente no que se refere aos de urbanização foi que, por na informalidade respostas a uma que mora lá. Essas redes sociais em causas além das questões
sistemas de esgoto, iluminação ter um foco territorial, eles diversidade de necessidades. são importantes e precisam ser específicas de moradia abaixo
pública, serviços postais, abas- permitiram um melhoramento Algumas dessas necessidades preservadas, mas também pre- do padrão e posse irregular.
tecimento de água e coleta de abrangente. Mas a desvan- não podem ser tratadas por cisam ser complementadas com Portanto, é importante entender
lixo. Agora, considerando esses tagem dessa abordagem é meio de melhorias no bairro. Por instituições locais (por exemplo, quais problemas podem ou não
resultados, três questões básicas que ela muitas vezes vem à exemplo, se a questão é uma renda escolas e hospitais) como fontes ser resolvidos pelos programas
precisam ser tratadas na reali- custa de presumir que todas familiar insuficiente para pagar de informações e recursos valiosos de melhoramento urbano. O
zação de intervenções físicas as famílias que residem em acomodações fora de bairros para os recém-chegados. Dessa acesso a serviços básicos em
em bairros urbanos informais: bairros informais são seme- informais, fica evidente que os forma, permitirão que as pessoas nível domiciliar, pavimentação
lhantes, independentemente programas para apoiar moradias compreendam a diversidade de e iluminação de ruas, e certas
d e s u a s n e ce ss i d a d e s . H á populares são fundamentais. acomodações oferecidas pelas melhorias nas condições de
muitas razões pelas quais Da mesma forma, é frequente cidades, aumentando sua liber- posse das pessoas que residem
as pessoas acabam morando que o principal obstáculo des- dade de escolher onde morar. em favelas são metas viáveis
1 Em que condições os nesses bairros. Na grande sas famílias seja a natureza de Isso é essencial na medida em e dignas dos programas de
programas de melho- maioria dos casos, os motivos sua renda, que muitas vezes é que as redes locais influenciam melhoramento de bairros. A
ramento urbano estão relacionados à falta informal e errática, excluindo-as as futuras oportunidades de pacificação de comunidades
devem ser realizados? d e re c u r s o s m a t e r i a i s o u dos mercados imobiliário e de emprego e trabalho das famílias. dilaceradas pela violência origina-
legais fundamentais, mas crédito formais. Assim, revisitar Em nossa pesquisa, ficou claro da em circuitos além do próprio
em alguns casos relevantes as instituições financeiras e as que os residentes estavam quase bairro (por exemplo, a venda
2 Quais ferramentas são estão relacionados às opor- maneiras de apoiar a qualidade totalmente inseridos nas redes de produtos ilegais e o tráfico
fundamentais para tunidades de atividades do crédito entre os residentes de de seus bairros, com pouco ou de drogas) está muito além do
realizar os projetos? ilícitas oferecidas pela falta baixa renda são componentes nenhum acesso a informações escopo desses programas.
do Estado de Direito. Nesse essenciais de uma cidade inclusiva. vindas de outras fontes.
caso, as obras públicas
3 Quais mecanismos precisam ser permeadas
existem para assegurar por programas sociais para
a sustentabilidade das criar um melhoria verdadeira
intervenções? na qualidade de vida dos
moradores das favelas.
Recomendações de Política | 61

Uma vez que


as obras sejam
concluídas,
A concepção da
mais pessoas
infraestrutura Além disso, a noção de resi-
gostariam de se liência está intimamente ligada
deve considerar à noção de sustentabilidade.

Os programas de melhoramento
instalar no bairro Manutenção e reparo são grandes
demais para serem ignorados
a resistência
de bairro devem vir de mãos
dadas com a pacificação e não
e, portanto, (McGrattan and Schmitz, 1999).
A manutenção adequada requer
a intempéries
como um meio para alcan-
çá-la. Ficou claro a partir da
a demanda um mecanismo institucional para
lidar com os reparos assim que Os programas
pesquisa que as favelas com e eventos for necessário. Claramente, os
alta criminalidade apresentaram por serviços reparos e a manutenção não de urbanização
indicadores piores do que as climáticos. foram feitos, possivelmente
menos violentas. A maioria das aumentará mais para prejudicar a mobilidade em precisam
intervenções no planejamento favelas violentas. Assim, projetos
urbano não se articularam com do que em futuros devem incorporar um
promover a
as iniciativas de segurança dos Além disso, a concepção da item de despesas recorrentes
cidadãos porque as agências outras áreas. infraestrutura deve considerar que considere limpeza, repa-
plena integração
correspondentes pertencem a resistência a intempéries e ro e manutenção regulares,
a diferentes ministérios. Isso eventos climáticos, que geral- especialmente nas favelas dos
não quer dizer que não haja mente têm um impacto maior morros. Historicamente, nas do mercado
oportunidades de sinergias Em relação a quais ferramentas onde os bairros informais favelas, os mais pobres dos
entre comunidades limpas e são essenciais para a realização estão localizados, porque estes pobres instalavam-se em morros imobiliário local
bem preservadas e taxas de bem-sucedida dos projetos, frequentemente instalam-se íngremes, onde construíam em
criminalidade, como prevê a uma boa concepção e uma em terras menos desejáveis condições precárias, tornando com o do resto
famosa teoria da janela quebra- boa construção devem ser (Garschagen e Romero-Lankao, o reforço do terreno circun-
da. Há certamente um círculo sempre enfatizadas. A con- 2013). A infraestrutura precisa dante mais desafiador. Assim, da cidade.
vicioso em que a falta de pre- cepção de espaços públicos e ser projetada com padrões educar a população local sobre
sença aparente do estado ou infraestrutura precisa levar em ambientais mais altos do que como preservar e proteger a
de uma comunidade local que conta a provável possibilidade no passado, considerando as infraestrutura e empoderá-los Por último, e visando a sus-
se preocupe, pode favorecer de que, uma vez que as obras mudanças climáticas (Nguyen a fazer isso é uma ferramenta tentabilidade a longo prazo,
um comportamento antissocial, sejam concluídas, mais pessoas et al.,2011). É imperativo que os valiosa. A aparência externa os programas de urbanização
onde as paisagens urbanas gostariam de se instalar no materiais utilizados e os projetos das casas era excelente, o que precisam promover a plena
parecem quebradas (Wilson e bairro e, portanto, a demanda sejam resilientes às intempéries significa que os moradores são integração do mercado imo-
Kelling, 1982). Portanto, melhorar por serviços aumentará mais do clima, aos morros íngremes, zelosos em manter suas casas biliário local com o do resto
a segurança do cidadão deve do que em outras áreas. Além ao uso pesado em favelas popu- bem conservadas. Mas isso não da cidade, onde os direitos são
ser parte da solução e não disso, os projetos precisam losas e ao desgaste natural que se estendeu além das paredes reconhecidos e os residentes
um problema completamente levar em conta a topografia e ocorre. Nas favelas melhoradas das casas de frente para a rua. têm mobilidade física. Mais
diferente. Mas o nível de crimi- as condições do terreno em visitadas, toda a infraestrutura Portanto, a limpeza básica feita do que tudo, os programas
nalidade que as favelas do Rio que esses bairros se desdo- degradou-se assim que ficou pelos moradores poderia pro- de melhoramento de bairros
de Janeiro enfrentam tem dife- bram. É frequente que estes exposta a condições normais. teger as comunidades. Limpar precisam ser concebidos como
rentes gatilhos e complexidade terrenos sejam mais difíceis Assim que o dano aparecer, o o lixo das ruas poderia impedir pontos de partida para ajudar
e não será dissuadido apenas e mais caros de urbanizar do reparo e a manutenção devem o congestionamento dos canais aqueles que deles se benefici-
pelas evidências de uma rua que as áreas da cidade que se ser feitos imediatamente para de esgoto e do sistema de am a melhorarem ainda mais e
bem cuidada. desenvolveram anteriormente. ajudar a evitar mais danos. drenagem de água. decidirem o seu próprio futuro.
Referências
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B. O Mapeamento
Participativo Rápido
P.72

C. Topografia por Bairro no Rio


P.83

D. Igualdade conjunta da
média no Favela Bairro II
P.86

E. Análise dos bairros próximos


ao Corredor Olímpico
P.90
A. Entrevistas dos Grupos Focais Apêndice A | 67

E sta seção contém mais detalhes sobre como e quando a equipe enviada pela Overview Pesquisa
entrevistou os grupos focais.
Listas de Temas abordados pelo moderador durante as entrevistas nos grupos focais:

1 Saneamento básico / esgoto

2 Acréscimo de cômodos ou ampliações das casas


Número de
Favelas Intervenção Data participantes 3 Entrega de correspondência (serviços postais)

4 Circulação dentro da comunidade (acesso, por exemplo, de motocicleta, carro, etc.)


Morro da
Providência
Tratamento 12/16/2017 8
5 Acesso a transporte público

Nossa Senhora da
Apresentação
Tratamento 12/02/2017 10 6 Abastecimento de água

Bairro Proletário 7 Coleta de lixo em ruas/becos


do Dique
Tratamento 12/11/2017 9
8 Eletricidade
Controle junto
Moreira Pinto
a favela tratada
12/16/2017 8 9 Iluminação das ruas

Controle junto
Ficap a favela tratada
12/11/2017 9 10 Ruas pavimentadas

Controle junto 11 Titulação de terrenos


ITD
a favela tratada
12/20/2017 10
12 Creches

Barreira do Jucá Controle 12/18/2017 8 13 Escolas

Vila União Controle 12/18/2017 8 14 Centros de saúde

Parque São 15 Associações de moradores


Sebastião
Controle 12/20/2017 10
16 Centros de esportes e recreação

Tabela A.1. 17 CRAS (Centro de Referência de Assistência Social)

Grupos Focais Fonte: Overview Pesquisa.


O convite Apêndice A | 69

E sta seção tem como objetivo descrever como o recrutamento para a participação em grupos
focais foi realizado. Descreve também as estratégias adotadas para otimizar o trabalho e as difi-
culdades encontradas.

Os grupos focais foram realizados nos dias 2, 11, 16, 18 e 20 de dezembro de 2017. Havia três
grupos de favelas com três favelas em cada grupo:

1 Grupo de tratamento (melhorado durante o FB II): Nossa Senhora da Apresentação,


Morro da Providência e Bairro Proletário do Dique.

2 Grupo de controle próximo (favelas próximas a projetos do FB II, mas não melhoradas):
Moreira Pinto, Ficap e ITD.

3 Grupo de controle distante (favelas mais distantes dos projetos do FB II): Barreira
do Jucá, Vila União e Parque São Sebastião.

Um grupo focal foi realizado em cada comunidade e dez moradores foram convidados. Inicialmente,
agentes de busca da Overview Pesquisa visitaram as associações de moradores para identificar
possíveis locais para as reuniões. Em geral, os presidentes das associações colaboravam com a
equipe e alguns grupos reuniram-se no escritório da associação de moradores.

Após definir a localização e a data dos grupos focais, os recrutadores começavam a busca pelos
O moderador também perguntou especificamente quem era responsável pelas reparações dos participantes. Os participantes eram recrutados através de uma visita domiciliar por um agente
seguintes serviços públicos e infraestrutura: da Overview Pesquisa. O grupo-alvo eram pessoas que viviam na comunidade há pelo menos 20
anos e tinham pelo menos 35 anos de idade. Pessoas que estavam associadas a associações políti-
cas, organizações não-governamentais ou igrejas não foram convidadas a participar, para evitar a
1 Sistema de esgotos introdução de vieses políticos ou religiosos nas opiniões. Algumas associações de moradores for-
neceram os nomes de residentes mais velhos que trabalhavam na comunidade como participantes
sugeridos. Os moradores foram convidados a participar de uma reunião de uma hora para falar
2 Sistema de água sobre suas percepções de sua comunidade.

Algumas famílias indicaram outras pessoas conhecidas por participar de reuniões na comunidade,
3 Luzes de rua o que facilitou a identificação de voluntários para os grupos focais. Durante o recrutamento, trafi-
cantes das comunidades de Barreira do Jucá e Bairro Proletário do Dique se aproximaram da equi-
pe, questionaram sua presença e retiraram seus equipamentos. A equipe explicou o motivo da
4 Telefones públicos pesquisa. Felizmente, ninguém foi ferido e nossa equipe saiu, mas com um aviso. Por esse motivo,
evitamos gravar as entrevistas em vídeo depois disso.

5 Buracos nas ruas Cada pessoa convidada para a discussão recebeu uma carta contendo um convite indicando o
propósito do trabalho, como a reunião ocorreria, o local e a data. Informações de contato e outros
dados foram registrados, incluindo o nome do participante, número de telefone, endereço, idade e
6 Equipamentos esportivos quanto tempo residia na comunidade.

No dia anterior a cada grupo focal, os líderes do grupo ligaram para cada convidado para confirmar
7 Brinquedos ou equipamentos na praça e área de recreação a participação. Não foi possível entrar em contato com alguns convidados porque seus telefones
estavam fora de área ou desconectados.

8 Corrimãos e escadarias
Os grupos duraram entre 50 e 90 minutos e tiveram pelo menos oito convidados (um máximo de 10).
Todos os temas foram discutidos conforme determinado pela metodologia.
B. O Mapeamento Participativo Rápido Apêndice B | 71

A equipe de campo foi composta por 40 arquitetos e engenheiros. Antes da coleta de dados, a
equipe foi treinada usando imagens e simulações para discutir todos os aspectos observáveis da
infraestrutura que eles iriam avaliar. Eles também foram treinados para identificar os limites dos seto-
O indicador produzido para cada tipo de infraestrutura variou de 0 a 6, com o estado de conser-
vação variando conforme apresentado na Tabela B.1.

res censitários das favelas e como percorrer o perímetro. Além disso, aprenderam a coletar as coor-
denadas geográficas das estruturas identificadas. Cada observador realizou as seguintes atividades:

VERMELHO < 1,50 (Condição menos adequada)


1 Preencheu um formulário com a favela como unidade de observação.

2 Mapeou as estruturas identificadas em cada setor censitário de cada favela. ROSA De 1,51 a 2,50

3 Produziu um mapa de cada setor de cada comunidade, identificando


as coordenadas geográficas das estruturas designadas. LARANJA De 2,51 a 3,50

Após o treinamento, a equipe começou a coletar dados, concentrando-se no preenchimento do AMARELO De 3,51 a 4,50
formulário MRP - um para cada favela. Eles também coletaram as coordenadas das principais estru-
turas identificadas, como ruas pavimentadas, escadarias, creches, unidades de saúde, escolas e
assim por diante, e mapearam manualmente as estruturas relativas ao setor censitário das favelas
que faziam parte do estudo. Eles identificaram a posição de cada estrutura e a ligaram ao arquivo VERDE CLARO De 4,51 a 5,50
de coordenadas geográficas. O trabalho de coleta de dados foi planejado para quatro semanas.

VERDE ESCURO > 5,51 (Condição mais adequada)

Tabela B.1. Variação do indicador MRP Fonte: Overview Pesquisa

O número de variáveis que


A metodologia foi construída compõem cada indicador difere
para gerar um indicador sintético de acordo com a infraestrutura
de 0 a 6, onde 0 significa não ou serviço: 7 para o sistema de
Os formulários padronizados operacional e 6 em condição esgoto, 11 para infraestrutura para
preenchidos geraram um ban- excelente; quanto menor o valor, a mobilidade, 4 para iluminação
co de dados de variáveis que maior a precariedade urbana pública, 2 para sinalização de
permitiram aos pesquisadores para esse indicador, enquanto trânsito e serviços postais, 16
medir uma série de característi- valores próximos a 6 representam para transporte público, 7 para
cas dentro do perímetro dessas condições próximas a padrões abastecimento de água, 8 para
favelas. A metodologia utilizou adequados de cobertura e quali- coleta de lixo, 2 para eletrici-
66 variáveis para construir dez dade da infraestrutura e serviços dade, 4 para aparência externa
indicadores temáticos, além de urbanos. Essa escala foi definida das casas e 5 para sistema de
um índice sintético (o Índice com base nos objetivos previa- drenagem de águas pluviais. A
Geral de Infraestrutura), que mente estabelecidos de facilitar lista completa de indicadores por
se refere às condições urbanas a classificação dos resultados tipo de infraestrutura ou serviço
gerais das favelas. em seis classes. é apresentada na Tabela B.2.
Apêndice B | 73

Indicador Indicador Variáveis Indicador Indicador Variáveis


temático final intermediário originais temático final intermediário originais

Local de descarga de esgoto da maioria dos domicílios Cobertura de infraestrutura de iluminação pública
nos domicílios
Local de descarga de esgoto da minoria considerável
dos domicílios Estado de conservação de postes de iluminação pública

Existência e recorrência de refluxo / transbordamento Estado de conservação de suportes de iluminação pública


Sistema de esgoto na rede oficial Iluminação pública
Qualidade da manutenção de iluminação pública
Estado de conservação da infraestrutura oficial de
saneamento

Frequência e dimensão de esgoto a céu aberto em


dutos sem encanamento Sinalização de rua Existência de sinalização de rua na maioria das esquinas

Recorrência de esgoto a céu aberto em ruas não


pavimentadas
Sinalização
Serviços postais Forma predominante de acesso ao serviço postal
Frequência e dimensão de esgoto a céu aberto em de trânsito e
valas, calhas, rios, reservatórios ou vegetação
serviços postais

Capilaridade de ruas transitáveis por motocicleta


Infraestrutura
Capilaridade de ruas transitáveis por carro
das ruas
Predomínio de ruas transitáveis com passagem para
dois carros
Infraestrutura
para mobilidade Tempo médio de caminhada para a rua transitável
Acesso a ruas mais próxima
transitáveis Existência de áreas com declive médio ou alto no tra-
jeto para a rua transitável

Pavimento em vielas, escadarias e passarelas

Estado de conservação da pavimentação da maioria


dos becos, escadarias e passarelas

Cobertura e Estado de conservação da pavimentação da minoria


qualidade da possível de becos, escadarias e passarelas

pavimentação Revestimento da pavimentação de ruas transitáveis


das ruas
Estado de conservação da pavimentação da maioria
das ruas transitáveis

Estado de conservação da pavimentação da minoria


possível de ruas transitáveis

Tabela B.2.
Variáveis MPR Fonte: Metodologia do MPR do Instituto Pereira Passos.
Apêndice B | 75

Indicador Variáveis Indicador Variáveis


temático final originais temático final originais

Tempo médio de caminhada até o terminal de transporte público mais próximo Cobertura do serviço de coleta de porta em porta

Alternativas de linhas no ponto mais próximo Tempo de caminhada até a lixeira mais próxima

Tempo de espera no ponto mais próximo Tempo de caminhada até o ponto de descarte irregular com remoção periódica

Tempo médio de caminhada até o plano inclinado / elevador utilizado no trajeto para o ponto de Presença de lixo acumulado em lixeiras / recipientes transbordados
Transporte público transporte público mais próximo Coleta de lixo
Cobertura de lixo acumulado com remoção periódica (sem lixeira / recipiente)
Qualidade do serviço do elevador /ladeira utilizado no trajeto para o ponto de transporte público
Cobertura de lixo acumulado sem remoção periódica (sem lixeira / recipiente)
mais próximo
Presença de lixo acumulado em lixões
Tempo médio de caminhada até o transporte local alternativo em van utilizado no trajeto até o
ponto de transporte público mais próximo Existência e tamanho de lixo disperso
Frequência do intervalo entre as Kombis ou vans usadas no trajeto para o ponto de transporte
público mais próximo

Tempo médio de caminhada até o moto-táxi utilizado no trajeto até o ponto de transporte
público mais próximo Cobertura do fornecimento regular de energia elétrica em domicílios

Tempo médio de caminhada até o ponto de transporte público mais utilizado Frequência de interrupções no fornecimento de energia elétrica

Alternativas de linhas no ponto mais utilizado


Eletricidade
Tempo de espera no ponto mais utilizado

Tempo médio de caminhada até o plano inclinado / elevador utilizado no trajeto até o ponto de
transporte público mais utilizado Aparência ruim das paredes externas na maioria das residências

Qualidade do serviço do plano inclinado / elevador utilizado no trajeto para o ponto de transporte Aparência ruim das paredes externas de algumas residências
público mais utilizado
Aparência ruim das paredes externas em uma pequena minoria de residências
Tempo médio de caminhada até ao transporte local alternativo utilizado no trajeto até o ponto de
transporte público mais utilizado Aparência externa Residências superlotadas

Frequência do intervalo entre as Kombis ou vans utilizadas no trajeto para o ponto de transporte das casas
público mais utilizado

Tempo médio de caminhada até o moto-taxi utilizado no trajeto até o ponto de transporte
público mais utilizado Existência de infraestrutura oficial de drenagem

Existência de infraestrutura não-oficial de drenagem

Capacidade de escoamento de águas pluviais


Forma de abastecimento de água para a maioria dos domicílios

Forma de abastecimento de água para uma minoria considerável de domicílios Sistema de drenagem Estado de conservação da infraestrutura oficial de drenagem

Frequência do abastecimento de água


de águas pluviais Presença de lixo na infraestrutura oficial de drenagem

Abastecimento Existência de conexões irregulares

de água Recorrência de interrupções no abastecimento de água durante todo o ano, exceto no verão

Recorrência de interrupções no abastecimento de água no verão

Necessidade de utilizar bombas para abastecimento

Tabela B.2.
Variáveis MPR Fonte: Metodologia do MPR do Instituto Pereira Passos.
Apêndice B | 77

Os mapas feitos manualmente ArqGis, mas podem ser lidos por A seguir estão algumas das
foram apresentados em arquivos software livre, como o QGis e o fo to s u s a d a s p a ra t re i n a r
nos formatos GIZ e KMZ, onde Terra View. A equipe do Banco o grupo de especialistas
foi possível identificar os setores, também recebeu os arquivos enviados ao campo. Foram
favelas e estruturas mapeadas. originais em Excel, onde cada usadas para ajudá-los a
Os shape files foram entregues à indicador por infraestrutura entender como classificar
equipe do Banco Interamericano estava classificado de acordo as ruas pavimentadas.
de Desenvolvimento, juntamente com as variáveis apresentadas
com os códigos dos setores na Tabela B.2.
censitários e as estruturas
mapeadas. Originalmente, esses
arquivos foram produzidas em
Apêndice B | 79

Tipo A: Pavimentação bem mantida. Tipo B: Manutenção periódica necessária.

A maioria das ruas transitáveis da favela se parece Danos na pavimentação são recorrentes.
com as fotos, mesmo que haja danos residuais. A frequência do dano é importante para a definição.

Fonte: Metodologia MPR do Instituto Pereira Passos. Fonte: Metodologia MPR do Instituto Pereira Passos.
Apêndice B | 80
C. Topografia por Bairro no Rio

Morro Plano Total

Região N % N % N

Barra e Jacarepaguá 5 50,0 5 50,0 10

Centro 18 78,3 5 21,7 23


Tipo C: Grandes reparos necessários.

Grande Tijuca 18 94,7 1 5,3 19


O desgaste interfere no trânsito na maioria
das ruas transitáveis.

Fonte: Metodologia MPR do Instituto Ilha do Governador 3 50,0 3 50,0 6


Pereira Passos.

Norte 33 64,7 18 35,3 51

Oeste 2 10,5 17 89,5 19

Sul 14 93,3 1 6,7 15

Total 93 50 143

Tabela C.1.
Fonte: Elaboração dos autores com dados coletados em 143 favelas.
Apêndice C | 82

Morro
Plana
ILHA DO GOVERNADOR

NORTE

CENTRO

GRANDE TIJUCA
OESTE

SUL COPACABANA

BARRA E JACAREPAGUA IPANEMA

OCEANO ATLÂNTICO

0 5 10 15 20 km
Fonte: Elaboração dos autores.
Nota: O mapa inclui apenas as favelas que foram melhoradas durante o FB II.
Tabela D.1.
D. Igualdade conjunta da média no Favela Bairro II Apêndice D | 84

Índice de Infraestrutura por categoria


e área entre favelas tratadas
Barra e Grande Ilha do
Jacarepaguá Centro Tijuca Governador Norte Oeste Sul Valor-P
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) Ho: (1)=...=(7)

Índice Geral Índice Geral


de Infraestrutura
3,43 3,82 3,41 2,64 de Infraestrutura
3,02 4,47 4,25 0,000***

Sistema de esgoto 2,36 3,13 3,05 1,55 Sistema de esgoto 2,26 3,99 4,31 0,001***
Infraestrutura Infraestrutura
para mobilidade 4,01 4,10 4,04 3,54 para mobilidade 3,52 4,75 4,22 0,003***

Iluminação pública 2,58 4,11 3,52 2,33 Iluminação pública 2,71 3,46 3,40 0,002***
Sinalização de trânsito Sinalização de trânsito
e serviços postais 3,85 3,72 3,58 3,25 e serviços postais 3,37 5,05 4,63 0,001***

Transporte público 5,26 5,40 4,83 3,69 Transporte público 4,85 5,19 5,10 0,152
Abastecimento Abastecimento
de água
4,87 4,13 3,05 2,29 de água
3,61 5,22 4,40 0,000***

Coleta de lixo 3,46 3,47 2,63 3,31 Coleta de lixo 2,72 4,67 3,88 0,003***

Eletricidade 4,34 4,71 3,97 3,05 Eletricidade 3,65 4,60 4,71 0,018**
Aparência externa Aparência externa
das casas 5,38 4,16 4,24 4,54 das casas 3,97 5,23 5,29 0,000***
Sistema de drenagem Sistema de drenagem
de águas pluviais 3,98 4,39 4,83 2,53 de águas pluviais 3,45 5,42 5,12 0,000***

Fonte: elaboração dos autores com dados coletados em 88 favelas. Nota: Pontuação: 0 = não operacional; 6 = em excelente condição. Fonte: elaboração dos autores com dados coletados em 88 favelas. Nota: Pontuação: 0 = não operacional; 6 = em excelente condição.
Testes Kruskal-Wallis da igualdade conjunta das médias. Um valor-p> 0,10 indica que a hipótese nula de igualdade não é rejeitada. Testes Kruskal-Wallis da igualdade conjunta das médias. Um valor-p> 0,10 indica que a hipótese nula de igualdade não é rejeitada.
Apêndice D | 86
Mensagens-chave

Os testes t conjuntos sugerem que


diferentes áreas têm qualidade de
infraestrutura diferente. Rejeitamos
o nulo de igualdade conjunta
da média em todos, exceto um
indicador. Esta é uma evidência de
que o fator mais importante para
a manutenção da infraestrutura foi
possivelmente a topografia.

O transporte público é homogêneo


e relativamente bom na maior parte
O Índice Geral de Infraestrutura mostra do Rio. Isso é coerente com o fato de
que o plano oeste e o sul são as duas que a maioria das pessoas disse ter
áreas com melhor infraestrutura. acesso a muitos meios de transporte
O norte e a Ilha do Governador público. Além disso, pode ter sido
mostraram a pior infraestrutura em uma externalidade positiva dos dois
todos os indicadores. grandes eventos recentes no Rio
(as Olimpíadas de 2016 e a Copa do
Mundo da FIFA em 2014).
Tabela E1.
E. Análise dos bairros próximos
Apêndice E | 88
Indicadores ao longo do Corredor
Olímpico de Favelas Tratadas
ao Corredor Olímpico A favela tem UPP? Não Sim
valor-p
Ho: Nao=Sim

Número
de favelas
130 14

Índice Geral
de Infraestrutura
3,52 3,61 0,745

Sistema de esgoto 2,97 2,69 0,419


O legado do trabalho feito
e do investimento em
O Corredor Olímpico (Figura
E.1) é definido como todos Descobrimos Infraestrutura
grandes eventos, como os
Jogos Olímpicos e a Copa do
os caminhos entre estruturas
olímpicas, áreas turísticas con- que o único para mobilidade 3,91 4,24 0,217
Mundo da FIFA, é frequente- centradas e aeroportos inter-
mente relevante para os países nacionais ou domésticos. Após indicador que
em que o evento ocorreu. Esse é o anúncio de que o Rio sediaria Iluminação pública 3,13 3,58 0,182
um dos objetivos da Comissão
Olímpica Internacional, pelo
os Jogos Olímpicos, investi-
mentos públicos foram feitos
havia melhorado
menos (COI, 2017), porque em vilas olímpicas, estádios,
era o transporte Sinalização de trânsito
quer que os Jogos Olímpicos
sejam uma força de mudança
transporte público (por exem-
plo, Metro, VLT, BRT e BRS) e e serviços postais 3,86 3,74 0,883
positiva no desenvolvimento segurança cidadã, entre outros. público.
da infraestrutura nos países Assim, esperávamos que as
anfitriões. Assim, após os jogos, favelas do Corredor Olímpico
os cidadãos dos países de tivessem pelo menos alguns Transporte público 4,84 5,81 0,001***
acolhimento devem ser os indicadores em condições me-
principais beneficiários dos lhores que a média. No entan-
Abastecimento
legados de tais megaeventos.
Essa era a expectativa para
to, depois de realizar um teste
de média, descobrimos que o de água
3,99 3,72 0,409
os jogos do Rio, pelo menos único indicador que havia me-
para lugares próximos ao lhorado era o transporte públi-
“Corredor Olímpico”. Embora
não fizessem parte das me-
co, que, embora facilitado pela
infraestrutura do FB II para Coleta de lixo 3,27 3,39 0,968
lhorias trazidas pelo FB II, mobilidade, não fazia parte dela.
esses grandes eventos pode-
riam ter causado um impacto
positivo na manutenção dos Eletricidade 4,03 4,63 0,055*
bairros vizinhos.

Aparência externa
das casas 4,49 4,33 0,572
Sistema de drenagem
de águas pluviais 4,27 3,93 0,284
Fonte: Elaboração dos autores. Nota: Níveis de significância estatística: *** valor-p = 0.01, ** valor-p = 0.05, * valor-p = 0.10. Resultados
dos Indicadores Mann-Whitney conforme a localização em relação ao Corredor Olímpico.
Apêndice E | 89

ESTRUTURA OLÍMPICA

Estádio Olímpico Nilton Santos


AEROPORTO
AEROPORTO
INTERNACIONAL
SANTOS DUMONT
TOM JOBIM

ESTRUTURA OLÍMPICA

Estádio Olímpico de Canoagem


Slalom de Deodoro

ESTRUTURA OLÍMPICA
ESTRUTURA OLÍMPICA
Ginasio do Maracanazinho
Centro Olímpico de BMX

ESTRUTURA OLÍMPICA

Marina da Gloria

ESTRUTURA OLÍMPICA

Lagoa Rodrigo de Freitas

ESTRUTURA OLÍMPICA ESTRUTURA OLÍMPICA

Parque Aquático Maria Lenk Forte Copacabana


Figura E1.
Localização das Estruturas Olímpicas
0 5 10 15 20 km
e Rotas dos Aeroportos
Fonte: Elaboração dos autores.
Apéndice E | 90

A boa notícia é que o enorme


investimento em transporte público
parece ter valido a pena. O Rio de
Além da eletricidade, com um
Janeiro esperava meio milhão de
turistas para os Jogos, e o Ministério
valor-p de 0,06, nenhum dos outros
do Turismo revelou que entre 1º
de julho e 15 de agosto de 2016,
indicadores apresentou melhora após
o Rio de Janeiro recebeu 572.961
estrangeiros em visita (Prada, 2016).
os megaeventos. Assim, ainda que os
Até janeiro de 2018, quando a firma
que contratamos para inspecionar estádios olímpicos sejam novos e o
o FB II terminou de coletar dados,
as melhorias no transporte parecem sistema de transporte público tenha
tersido mantidas.
sido melhorado, não parecem ter
provocado nenhuma mudança em
outros indicadores nas favelas.
Autores
Nora Libertun de Duren,
Rene Osorio.

BAIRRO

10
ANOS
DEPOIS

2020

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