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A CONSTRUÇÃO

mídia diz respeito à dispersão em múl-


tiplas plataformas de conteúdo ligado
a uma franquia. Assim, uma história
que é introduzida, por exemplo, num

DA NARRATIVA
filme, pode ser continuada em – e não
apenas adaptada para – televisão, li-
vros, quadrinhos e videojogos (JEN-
KINS, 2009, p. 138).

TRANSMÍDIA: A expressão transmídia foi abordada ori-


ginalmente por Henry Jenkins – professor de

APROPRIAÇÃO DE
Comunicação da University of Southern Ca-
lifornia e ex-diretor do Programa de Estudos
de Mídia Comparada do Massachussets Ins-
titute of Technology (MIT) – em seu livro Cul-

CONTOS DE FADAS
tura da convergência. Mas é preciso lembrar
dois pioneiros da revolução digital: Marshall
McLuhan, o patrono dos estudos referentes à
cultura da convergência das mídias, e o cien-

NA SÉRIE TELEVISIVA tista político Ithiel de Sola Pool, também do


MIT. O livro Technologies of freedom (1983),
de Pool, aprofunda de forma inovadora as
discussões em torno do conceito de conver-

ONCE UPON A TIME gência como um poder de transformação


dentro das indústrias midiáticas.
Jenkins (2009) enfatiza que a convergên-
cia de mídias não é um mero avanço tecnoló-
gico. Mais que multiplicidade de plataformas
Magno Medeiros1 e mídias, a convergência é um fenômeno que
Lorrayne Caroline dos Santos2 impacta a cultura e o imaginário social. Se-
gundo ele, a convergência não ocorre somen-
te por meio de aparelhos, por mais sofistica-
dos que venham a ser.
RESUMO
objetivo deste artigo consiste em analisar os produtos midiáticos derivados da franquia Once A convergência ocorre dentro dos
upon a time (2011) e identificar elementos de ligação entre as narrativas, os contos de fadas e o cérebros de consumidores indivi-
universo fictício da série, além de distinguir se esse universo ficcional configura uma narrativa duais e em suas interações sociais
transmídia, de acordo com os conceitos de Jenkins (2009). A narrativa transmídia se refere ao pro- com outros. Cada um de nós cons-
cesso de comunicação a partir de múltiplas e convergentes plataformas tecnológicas e midiáticas
trói a própria mitologia pessoal, a
visando o incremento da produção de sentidos. Os processos midiáticos transitam por diferentes
meios de comunicação, aproveitando-se das características de cada um deles, mas extrapolando partir de pedaços e fragmentos de
o seu universo cognitivo e sensível. A análise foi realizada utilizando os seguintes produtos midiá- informações extraídos do fluxo mi-
ticos: a série de televisiva, o livro e a grafic novel3. diático e transformados em recur-
sos através dos quais compreende-
PALAVRAS-CHAVE: Narrativa transmídia. Série televisiva. Contos de fadas. Once upon a time. mos nossa vida cotidiana (JENKINS,
Imaginário. 2009, p. 30).

E conclui:
THE CONSTRUCTION OF THE TRANSMEDIA NARRATIVE: FAIRY TALES ON THE TV
SERIES ONCE UPON A TIME A convergência das mídias é mais do
que apenas uma mudança tecnológi-
ca. A convergência altera a relação en-
Abstract
tre tecnologias existentes, indústrias,
the objective of this article is to analyze the media products derived from the Once upon a time franchise
(2011) and to identify elements of connection between narratives, fairy tales and the fictional universe of mercados, gêneros e públicos. A con-
the series, besides distinguishing if this fictional universe configures a transmedia narrative, according vergência altera a lógica pela qual a
to the concepts of Jenkins (2009). The transmedia narrative refers to the process of communication from indústria midiática opera e pela qual
multiple and convergent technological and media platforms aimed at increasing the production of mean- os consumidores processam a notícia
ings. The media processes move through different media, taking advantage of the characteristics of each e o entretenimento. Lembrem-se disto:
of them, but extrapolating their cognitive and sensitive universe. The analysis will be conducted using a convergência refere-se a um proces-
the following media products: the television series, the book and grafic novel. so, não a um ponto final (JENKINS,
2009, p. 43).
Keywords: Transmedia narrative. TV series. Fairy tale. Once upon a time. Imaginary.

Nota-se que este autor prefere usar a ex-


pressão ‘narrativa transmídia’ ou ‘transmidiá-
tica’. Segundo o autor, essas narrativas fazem
Introdução Em um cenário de convergência midiá- uso de múltiplos meios, cada um deles contri-
tica, as possibilidades comunicacionais se buindo de forma distinta para a compreensão

A
s narrativas fazem parte do folclore multiplicam e precisam se adaptar às no- do universo narrativo. Mídias diferentes impli-
e dos costumes de vários povos e ci- vas formas de transmissão de conteúdo. cam consumidores diferenciados e nichos de
vilizações, acompanhando as primei- Hoje as narrativas precisam se adaptar mercados específicos. Elas devem conter um
ras formas de organização social. Podem ser as novas formas de interação e circulação rico mundo simbólico, de modo a suscitar di-
encontradas tanto nas manifestações orais dentro das novas plataformas midiáticas. versas histórias paralelas e complementares,
como nos registros escritos desde os primór- A partir destas novas possibilidades comu- que poderão ser contadas através de supor-
dios da humanidade. Por terem relação com nicacionais constrói-se, então, a narrativa tes midiáticos diversos – tais como livros, re-
a própria condição humana, as narrativas li- transmídia. vistas, gibis, charges, programas de TV e de
dam com a sabedoria popular, transmitindo rádio, filmes, animações, sites, blogs, games,
tradições culturais e crenças das sociedades O fenômeno conhecido como narrati- publicidade, videoclipe, aplicativos, brinque-
em vários períodos históricos. va transmidiática ou narrativa trans- dos, embalagens e outros.

036 PANORAMA Goiânia, v. 7, n. 2, p. 36-41, ago/dez. 2017 . ISSN 2237-1087

Autor Correspondente 1: magno.ufg@gmail.com


Autor Correspondente 2: lorra-c@hotmail.com
Aceito: 15.10.2017 Goiânia,
PANORAMA
Recebido: 21.09.2017 v. 7, n. 2, p. 36-41, ago/dez. 2017 . ISSN 2237-1087
Publicado: 22.12.2017 Este artigo está licenciado com uma Licença Creative Commons.
Atribuição Sem Derivações 4.0 CC BY-NC-ND.
A partir de um meio original – um roman- exemplo, a série Dawson’s Creek, que origi- pandindo a história original. Dessa forma, os
ce ou um filme, por exemplo –, a narrativa nou o Dawson’s Desktop, de onde os fãs po- consumidores são convidados e instigados a
é ampliada para outros meios – hotsite, Fa- deriam acessar e vasculhar o computador do participar. ‘Participe ou devoro-te’, diz a in-
cebook, Orkut, Youtube, My Space, Twitter, personagem principal da história, inclusive dústria transmidiática. E essa interação ativa
moda, tótens, anúncios publicitários, quadri- o seu cesto de lixo. O filme Bruxa de Blair, incita o público na perspectiva da constru-
nhos e outros. Com efeito, incrementa-se e que provocou, nos consumidores mais entu- ção da cidadania. Mais que interagir, o pú-
expande-se o seu conteúdo e o seu univer- siasmados, uma verdadeira caça de pistas blico quer participar, inventar, sonhar coleti-
so diegético. O público, assim, passa a in- para decifrar os mistérios da trama. Foram vamente, realizar os seus sonhos e desejos.
teragir com os personagens, a ‘viajar’ com lançadas várias pistas falsas e até notícias Portanto, as narrativas transmídias podem,
as fantasias constantes no enredo, de forma forjadas como estratégia de marketing para sim, ter um componente de cidadania.
a possibilitar a criação/recriação de novos a divulgação do filme. A propósito, Bruxa A narrativa transmídia, para Jenkins
personagens. Nota-se, portanto, que os con- de Blair inaugurou o debate público sobre (2009), é o desenrolar de uma história por
sumidores deixam de ser apenas meros ex- a narrativa transmidiática. O seriado Lost intermédio de múltiplos canais de mídias,
pectadores para se tornar sujeitos ativos e foi um dos maiores exemplos de êxito no sendo que cada novo texto contribui de uma
participativos, colaborando com a amplifica- desenvolvimento da narrativa transmidiáti- maneira distinta e valiosa para a compreen-
ção da narrativa. ca. Foram produzidos dois romances, três são do universo narrativo.
novelas em quadrinhos, um jogo de realida-
A narrativa transmidiática refere-se de alternativa (Lost Experience), dois sites Na forma ideal da narrativa transmí-
a uma nova estética que surgiu em falsos Oceanic Airlines e Hanso Foundation, dia, cada meio faz o que faz de melhor
resposta à convergência das mídias minivídeos para celular, uma seção chamada – a fim de que uma história possa ser
– uma estética que faz novas exigên- Lost Untold no site do Channel 4, podcasts introduzida num filme, ser expandida
cias aos consumidores e depende da semanais e a enciclopédia virtual colaborati- pela televisão, romances e quadri-
participação ativa de comunidades de va Lostpedia. nhos; seu universo possa ser explora-
conhecimento. A narrativa transmidiá- Recentemente filmes como Avatar e Os do em games ou experimentado como
tica é a arte da criação de um univer- vingadores se destacaram como narrativas atração de um parque de diversões.
so (JENKINS, 2009, p. 49). transmídias muito bem sucedidas. Esses fil- Cada acesso à franquia deve ser au-
mes, lançados em escala mundial, invadiram tônomo, para que não seja necessário
Todo um universo estético é possibilitado as telas dos cinemas, dos computadores, dos ver o filme para gostar do game e vi-
a partir das interações e intervenções ativas celulares, das TVs; as páginas dos jornais, ce-versa (JENKINS, 2009, p. 135).
dos sujeitos consumidores. Trata-se de arte revistas, sites, blogs, videologs, games, redes
de criação participante. Ademais, as narra- sociais e outros. Além disso, foram criadas Dentro deste cenário, a narrativa trans-
tivas transmídias permitem a construção e campanhas publicitárias mundiais para a di- midiática aparece como uma estratégia que
propagação de franquias. Mas essas fran- vulgação massiva, mas também segmentada compreende e se adequa a diversas plata-
quias devem ser relativamente autônomas, conforme os diferentes públicos. Outros bons formas midiáticas diferentes, possibilitando
visto que as histórias paralelas devem ser exemplos de histórias de sucesso em narra- uma maior difusão da história para os seus
consumidas e compreendidas sem a neces- tivas transmídias: James Bond, Star Trek, O públicos de interesse. Em prol desta nova
sidade de se conhecer, obrigatoriamente, a mágico de Oz e Diário de Sofia. O seriado de possibilidade de intermidialidade, surge
narrativa original. Para o fortalecimento e ex- TV Heroes, para citar mais um caso bem su- uma série de formatos e novas perspecti-
pansão dessas narrativas é importante criar cedido, estende-se em sites, em história em vas para contar uma história. Pressupõe-se
toda uma rede simbólica, através de vários quadrinhos e até em um carro – o Nissan assim, que, devido à grande quantidade de
produtos e serviços e por meio de diversifica- Versa foi lançado dentro do seriado. plataformas disponíveis para a transmissão
dos processos midiáticos. A repetição mítica Portanto, observa-se que as narrativas de conteúdos, seja possível estender expe-
é fundamental, pois coaduna-se ao mito do transmídias reforçam os laços de colabora- riências ficcionais de uma mesma obra em
eterno retorno. No entanto, é preciso estar ção entre produtores e consumidores, for- vários canais midiáticos.
atento para não se cair na redundância gra- talecendo a indústria do entretenimento e Partindo desta premissa, percebe-se que
tuita ou na repetição mecânica, visto que das comunicações, com forte impacto na pu- os contos de fadas estão ganhando destaque
isso desgasta a narrativa transmídia. blicidade, no marketing, no jornalismo, nas na indústria do entretenimento por meio da
O segredo do êxito nesse campo está di- relações públicas, no design gráfico e nas constante apropriação desta narrativa em di-
retamente relacionado ao grau de interação redes sociais. Mas esse fortalecimento não versos produtos midiáticos e produções cine-
e participação do público. A narrativa trans- ocorre de maneira unilateral. Segundo Jen- matográficas, que movimentam milhões de
mídia será bem sucedida se, e somente se, kins (2009), a convergência de mídias pode dólares na economia global. Em decorrência
o consumidor participar ativamente, se con- ser um processo corporativo – de cima para deste impacto global, analisa-se, a seguir, a
tribuir com as discussões, se ajudar a recon- baixo, mas também um processo de consu- intermidialidade dos contos em diversos pro-
tar a história, se recriar novos personagens, midor – de baixo para cima. Com efeito, as dutos midiáticos afim de entender as adap-
se brincar com o enredo, se se envolver na duas esferas – produção e consumo – podem tações sofridas por essa narrativa na série
trama a partir de seu olhar e de sua imagi- coexistir sem grandes obstáculos. Às vezes, Once Upon a Time.
nação simbólica. porém, pode haver conflitos de interesses.
De acordo com Jenkins (2009), o filme Ma- Este autor afirma que as empresas midiá- Cultura da convergência, narrativa trans-
trix é um bom exemplo de franquia através ticas estão aprendendo a acelerar o fluxo de mídia e midiatização dos contos de fadas
da qual se desenvolve a narrativa transmi- conteúdo midiático pelos canais de distribui-
diática. O mundo fantástico de Matrix reúne ção para aumentar as oportunidades de lu- O formato de produção e de distribuição
aspectos e referências híbridas, misturando: cro, ampliar mercados e consolidar seus com- e o consumo de produtos midiáticos foram
da cultura pop à cultura erudita, filosofia, li- promissos com o público. Por outro lado, os modificados com o advento das novas mí-
teratura, ficção científica, animes, histórias consumidores estão aprendendo a utilizar as dias e os novos processos de disseminação
em quadrinhos, informática e religião. Faz re- diferentes tecnologias para ter um controle de informações. As mensagens que eram dis-
ferência ao mito da caverna, ao conto Alice mais completo sobre o fluxo da mídia e para ponibilizadas por uma única mídia, nos últi-
no país das maravilhas, ao romance Neuro- interagir com outros consumidores (JEN- mos anos passaram a ser transmitidas em
mancer, ao livro Simulacros e simulação, de KINS, 2009). Ele acrescenta: “As promessas múltiplos canais, recorrendo ao uso dos mais
Jean Baudrillard, às artes marciais, ao heavy desse novo ambiente midiático provocam ex- variados produtos midiáticos e linguagens.
metal. A partir do filme, que funcionou como pectativas de um fluxo mais livre de ideias Um dos primeiros autores a discorrer so-
uma franquia, o universo de Matrix se desen- e conteúdos. Inspirados por esses ideais, os bre convergência foi Ithiel de Sola Pool. Ele
volveu através de quadrinhos, de animes (a consumidores estão lutando pelo direito de entende que um único meio físico, hoje, pode
exemplo da série Animatrix), de games (En- participar mais plenamente de sua cultura” transportar serviços que antes eram ofereci-
ter The Matrix e Matrix Online), e de duas (JENKINS, 2009, p. 46). dos separadamente; por outro lado, um ser-
sequências cinematográficas: Matrix reloa- A partir de franquias – dos produtos ori- viço que antes era disponibilizado por um
ded e Matrix revolutions. Os fãs de Matrix ginais, surge uma infinidade de ações trans- único meio, atualmente pode ser distribuído
chegaram a criar uma enciclopédia colabora- midiáticas, narradas através de plataformas por diversas formas físicas (POOL, 1986 apud
tiva (Matrix Wiki), assim como ocorreu com tecnológicas e mídias diversas, estabelecen- JENKINS, 2009). Esse fenômeno comunica-
a série Lost, que também ganhou uma enci- do-se, assim, um forte e interativo contato cional subverte a lógica de um para um e
coplédia virtual. com os seus consumidores. Mantendo vín- possibilita a convergência midiática de to-
O autor cita vários produtos culturais em culos com o produto principal, o público cria dos para todos entre meios de comunicação
que ocorrem narrativas transmidiáticas. Por tramas paralelas e ações virtuais e reais, ex- e seus usos e aplicações.

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Um único meio físico - sejam fios, ca- produtos que traziam os personagens que- Quadro 1 - Modelo de análise para narrativa
bos ou ondas - pode transportar os ser- ridos, contribuindo assim para a dissemi- transmídia
viços que no passado eram oferecidos nação dos contos de fadas no imaginário
separadamente. De modo inverso, um das pessoas (BORTOLOTTO, 2014, p. 19).
serviço que no passado era oferecido
por um único meio - seja a radiodifu- Por meio das novas apropriações, os
são, a imprensa ou a telefonia - agora contos de fadas modernos sofreram uma
pode ser oferecido de várias formas “[...] transformação na narrativa e na moral
físicas diferentes. Assim, a relação um da história infantil, [...] podendo haver cer-
a um que existia entre um meio de tos desvios no objetivo da narrativa, a fim
comunicação e seu uso está corroen- de tornar a história mais sedutora para o
do (POOL, 1986 apud JENKINS, 2009). público-alvo ao qual se destina” (MORAES,
2009, p. 106). Em cada nova abordagem as
A convergência midiática se caracteri- histórias sofrem uma série de mudanças,
za como um processo no qual o fluxo de motivadas principalmente pelos contextos
conteúdos veiculados alcança os consumi- culturais e sociais. Desta forma:
dores em diversas plataformas comunica-
cionais, permitindo que as mídias clássicas Em algumas versões um significado
– como a televisão, comecem a dar lugar torna-se mais proeminente, em ou-
ao acesso descontínuo e personalizado de tras, algum outro. O sabor pleno de Fonte: Elaborado pelos autores a partir de Bona
cada interator, onde os conteúdos podem um conto de fadas pode ser melhor e Souza (2013).
ser visualizados a qualquer momento, por obtido não só recontando-o ou ou-
meio de computadores, celulares, tablets e vindo-o várias vezes - quando então
A dissertação de Long (2007), que ana-
canais streamings4. algum detalhe de início despercebi-
lisa a narrativa nas produções midiáticas,
Dentro deste cenário, a narrativa trans- do torna-se ainda mais significativo,
serviu de base para o levantamento das
midiática aparece como uma estratégia ou é visto sob uma nova luz - mas
considerações relevantes no decorrer da
que compreende e se adequa às diversas também familiarizando-se com o
pesquisa. Este método de análise seriada
plataformas midiáticas diferentes, possibi- mesmo tema em muitas variações
foi utilizado para análise da série The wal-
litando uma maior difusão da história para (BETTELHEIM, 2002, p. 138).
king dead , por Bona e Souza (2013), e foi
os seus públicos de interesse.
adaptado para a análise da série televisiva
Os contos oferecem várias alternativas Os contos foram adequados à socieda-
Once upon a time, uma vez que a utilização
que possibilitam a recriação dos sentidos e de atual. Muitas adaptações foram criadas
deste modelo possibilita o estudo da narra-
novas adaptações que se aproximam cada e reproduzidas de diversas formas em li-
tiva ficcional de forma detalhada e eficaz.
vez mais da realidade humana. Os contos, vros, produtos e produções midiáticas,
A metodologia consiste em analisar di-
ao longo dos séculos, “[...] continuam pos- seriados e filmes. Algumas produções ci-
ferentes produtos midiáticos derivados da
sibilitando arranjos que têm algo a nos di- nematográficas são releituras, como, por
franquia e estabelecer pontos de ligação e
zer, não necessariamente a mesma coisa exemplo, os filmes: Malévola (2014), A ga-
de diferença entre os mundos fictícios e os
que originalmente podiam significar, mas rota da capa vermelha (2011), João e Ma-
personagens oriundos da narrativa em dife-
fornecem elementos para uma nova signifi- ria caçadores de bruxas (2013), Caminhos
rentes universos ficcionais. O método aborda
cação” (CORSO; CORSO, 2006, p.178). Esta da floresta (2015), A Bela e a Fera (2017)
os contos de fadas tradicionais, que são os
narrativa lúdica é frequentemente utilizada e outros.
objetos de referência para a criação de Once
pela indústria cultural em produções cine-
upon a time (Era uma vez), a fim de deter-
matográficas e em produtos midiáticos. Através dos séculos os contos de
minar a transmidialidade destes contos para
A transformação dos contos de fadas fadas, veem sendo recontados, fo-
adaptações oriundas do mundo imaginário.
em material audiovisual promoveu a di- ram-se tornando cada vez mais re-
vulgação das histórias e várias formas finados, e passaram a transmitir ao
Produtos midiáticos analisados: a trama
de reinterpretação ao longo dos anos em mesmo tempo significados manifes-
imaginária
novas narrativas e abordagens, possibi- tos e encobertos - passaram a falar
litando, assim, uma retomada de temas simultaneamente a todos os níveis
A série televisiva Once upon a time es-
e personagens em contextos adaptados da personalidade humana, comuni-
treou no canal norte-americano ABC em 23
para vender ideias contemporâneas. Per- cando de uma maneira que atinge
de outubro de 2011. Criada pelos roteiristas
cebe-se assim que: a mente ingênua da criança tan-
Adam Horowitz e Edward Kitsis, a série pos-
to quanto a do adulto sofisticado.
sui seis temporadas, com uma média de 22
As narrativas, através das gera- (BETTELHEIM, 2002, p. 10)
episódios cada. Utiliza de diversas referên-
ções foram se reciclando, ganhan-
cias literárias que fazem parte do imaginário
do novas roupagens, adaptando-se Estes contos, com o passar dos anos,
universal dos contos de fadas para o seu pro-
conforme as recentes tendências e também foram adaptados para diversos
cesso de construção de sentido, mesclando
abordagens. Atualmente, algumas produtos midiáticos, dentre essas formas
referências e introduzindo novas explicações
narrativas destinadas às crianças estão radionovelas, filmes, novelas, publi-
e relações nos contos tradicionais.
estão passando por transformações cidade, games e séries televisivas, que são
que, por vezes, mudam o sentido ori- o principal objeto de análise deste artigo.
ginal da história. Percebe-se a exis-
tência de narrativas politicamente Produtos midiáticos e universos ficcio- Figura 1 – Pôster da série Once upon a time (2011)
corretas, com a presença de bruxas nais: abordagem teórico-metodológica
boazinhas, o que pode levar à perda
de naturalidade da história (BEATRI- A proposta metodológica do presente
CE; ROSEMÉRI, 2009, p. 15). artigo consiste no desenvolvimento de um
quadro de análise, baseado em estudos já
As primeiras adaptações cinematográ- realizados sobre essa temática. O quadro
ficas que abordam os contos de fadas fo- tem por base estudos de Santos e Miel-
ram produzidas pelos estúdios The Walt niczuk (2011), que desenvolveram uma
Disney Company 5. Desde o início de sua investigação acerca da série Lost6. Nessa
carreira cinematográfica houve um grande análise as mídias são classificadas pelo
interesse por abordar essa temática, entre seu grau de importância para a sustenta-
Fonte: Disponível em: <https://www.elefantevoa-
elas estão: Chapeuzinho vermelho (1934), ção da mídia principal, por meio dos even-
dor.com/2016/06/16/once-upon-a-time-persona-
Branca de Neve e os sete anões (1937) e tos narrados por cada uma delas. Após gens-1/>. Acesso em: 18 jan. 2017.
Pinóquio (1940), dentre outros. descrever as histórias, elaborou-se outro
quadro para visualizar as relações entre
Walt Disney deu novo sentido [...] aos fa- as narrativas dos produtos midiáticos ana-
mosos personagens dos livros. Ele teve, lisados. O Quadro 1 foi construído para a A narrativa vai sendo construída se
ainda, o mérito de explorar comercial- análise dos produtos midiáticos oriundos deslocando entre dois mundos e, para
mente muito bem seus filmes oferecendo do universo ficcional. tal, joga com a temporalidade fazendo

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uso de flashbacks. A história inicia com Figura 3 –Once upon a time: shadow of the queen colha destes objetos ocorreu por serem as
uma maldição lançada pela Rainha Má, no primeiras produções da franquia Once upon
Reino Encantado, durante o casamento de a time e também em decorrência da apro-
Branca de Neve e o Príncipe Encantado, priação dos contos de fadas para a constru-
transportando todos os personagens dos ção da sua narrativa.
contos de fadas para o mundo real, onde Após a realização do estudo de caso,
não existe magia e as lembranças de suas por intermédio da utilização dos quadros de
vidas passadas foram apagadas. Os perso- análise, percebeu-se que todos os produtos
nagens permanecem sem suas memórias midiáticos da franquia Once upon a time fo-
por 28 anos em uma cidade fictícia, locali- ram desenvolvidos a partir dos contos de fa-
zada no Maine, chamada Storybrooke. das tradicionais, mais especificadamente do
Em 2013 a série foi adaptada para um conto da Branca de Neve9. Mas, observou-se
livro, batizado de Once upon a time tale também que existem histórias e persona-
- Despertar, escrito por Odette Beane (Fi- gens secundários derivados de outros con-
gura 2). A narrativa é baseada na primeira tos. A adaptação dos contos é perceptível
temporada da série, criada por Edward Kit- principalmente pela construção da narrativa
sis e Adam Horowitz. A história é contada original, que sugere uma continuidade dos
sob a ótica da personagem Emma Swan eventos narrados descritos na história, uma
e de Branca de Neve. A narrativa começa vez que são utilizados na série elementos e
no mundo real sob a perspectiva de Emma diálogos que buscam remeter a eventos que
Swan, que, no dia do seu aniversário, re- ocorrem após o ‘felizes para sempre’, mo-
cebe uma visita de um garoto, Henry, que mento este caracterizado como um final feliz
afirma ser seu filho e precisa de sua ajuda para os personagens.
para quebrar uma maldição. Há também a Esta percepção ocorre de forma subjetiva,
perspectiva da Branca de Neve, que relata no primeiro episódio da série, mais precisa-
acontecimentos de antes do lançamento da mente no primeiro diálogo, no qual o espec-
maldição na floresta encantada. tador visualiza a seguinte introdução: “Numa
floresta encantada com os clássicos persona-
gens que conhecemos ou achamos conhecer.
Um dia se viram em um lugar onde seus fi-
Fonte: Disponível em: <http://www.hostgeek.
Figura 2 – Once upon a time – Despertar
nais felizes foram roubados. Nosso mundo...
net.br/once-upon-a time-vai-virar-graphic-novel/>.
Acesso em: 15 jan. 2017. e foi assim que aconteceu” (ONCE..., 2011).
Percebe-se, por intermédio deste diálogo,
que este universo é uma apropriação de uma
A definição desses objetos de estudo narrativa já existente. Trata-se de uma nova
se justifica por eles serem correlacionados perspectiva sobre os personagens tradicio-
com a narrativa fictícia de Once upon a nais que não foi abordada pelos contos.
time, pois o produto midiático inicial con- A narrativa da série televisiva inicia com
tribuiu para o desenvolvimento de seu con- um momento presente nos contos tradicio-
teúdo em outras mídias e plataformas de nais: a cena em que o príncipe encantado
conteúdo. De uma forma direta, todos os encontra a Branca de Neve em um caixão de
produtos midiáticos estabelecem uma rela- vidro no meio da floresta com os sete anões
ção de aproximação com o enredo da série, ao seu lado e a acorda com um beijo de amor
contribuindo, assim, para a construção de verdadeiro. A cena de início da série deixa
uma narrativa transmídia. claro para o espectador que este produto mi-
diático é caracterizado como uma releitura
Produtos midiáticos e desenvolvimento moderna dos contos de fadas tradicionais.
da narrativa transmídia São tramas, enredos, personagens, cenários
e contextos adaptados de uma narrativa já
Para a produção da análise considerou- existente, mas que transmitem uma ideia de
-se necessária a construção do Quadro 2, originalidade por ser uma narrativa nunca
que reúne, de modo compacto, as informa- abordada em outros produtos midiáticos.
ções relevantes de cada produto midiático De acordo com as informações do quadro
e a sua importância para a franquia e para de análise, três produtos midiáticos analisa-
o desenvolvimento do universo ficcional de dos possuem conteúdos inéditos: os contos
Once upon a time. de fadas, a série de TV e a grafic novel. To-
dos estes produtos possuem histórias ori-
Quadro 2 - Análise dos objetos ginais, que contribuem diretamente para a
construção de um universo ficcional ampla-
mente retratado. O livro Once upon a time –
Despertar, por sua vez, não possui conteúdo
inédito, pois ele é uma adaptação da história
narrada pela série televisiva, que tem origem
nos contos de fadas. Portanto, sua narrativa
e os seus personagens nasceram dos con-
Fonte: Disponível em: <http://meninolit.blogspot. tos de fadas, mas a sua narrativa ficcional é
com.br/2015/01/pipoca-magia-de-once-upon-time. oriunda da série de TV.
html>. Acesso em: 10 jan. 2017. O livro não possui muita relevância para
a construção deste universo, uma vez que
Fonte: Elaborado pelos autores. ele apresenta o mesmo conteúdo da série de
A graphic novel, intitulada Once upon TV. A diferença para os dois formatos está
a time: shadow of the queen, foi lançada Para a compreensão do universo ficcional na utilização de uma linguagem formal, uma
em 2013 pela Marvel Comics em formato estudado, analisou-se o episódio inicial da narrativa mais detalhada, que aborda so-
digital e impresso, e foi escrita por Da- primeira temporada da série de TV, intitu- mente dois pontos de vista. Segundo Barros
niel T. Thomsen, ex-produtor da série, em lado como Piloto8, uma vez que este contém (2010), a produção de conteúdos inéditos e
parceria com a escritora Corinna Bechko informações introdutórias do universo fic- relevantes possibilita, aos usuários, motiva-
(Figura 3). A história tem uma narrativa cional de Once upon a time. No livro, Once ção para buscar conteúdos relacionados aos
inédita, que segue a continuidade da série upon a time – Despertar, foram analisados os produtos midiáticos.
televisiva, com foco no Caçador e na Ra- dois primeiros capítulos. Em relação à grafic Percebeu-se, na análise, que todas as
inha Má, em uma narrativa inédita neste novel, analisou-se todo o seu conteúdo para narrativas podem ser compreendidas isola-
universo ficcional. entender a história em sua totalidade. A es- damente. A construção de sentido de cada

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narrativa é feita de forma isolada, não ne- narrativa transmídia criada pela franquia Once Considerações finais
cessitando de nenhum outro produto midiá- upon a time. Percebeu-se, por meio da análise,
tico para sua compreensão. Se o receptor co- que o universo ficcional da série de TV é inspi- A narrativa transmídia é considerada fru-
nhece os contos de fadas ou assistiu algum rado nos contos de fadas tradicionais. A figura to da convergência midiática e da evolução
episódio da série de TV possui uma maior representa o universo da série, nela foram in- dos meios comunicacionais. Ela faz parte
referência do universo ficcional e consegue seridos círculos menores que representam os de um processo que busca inovar para se
realizar a associação imediata com o enre- quatro produtos midiáticos analisados e sua contar uma história, por parte dos produto-
do e com os personagens, possibilitando, importância para a construção da franquia. res, produtos midiáticos e pela recepção do
assim, que todos os conteúdos contribuam, público. Foi possível estabelecer elos entre
direta ou indiretamente, para a construção as narrativas nos diferentes produtos da
da narrativa total. Figura 4 – Narrativa transmídia de Once upon franquia Once upon a time. Esse processo
a time se configura como uma narrativa transmídia,
Para Jenkins (2009), a compreensão das
histórias de forma isolada é uma caracterís- conforme define Jenkins (2009), ou seja, pos-
tica presente em uma produção transmidiáti- sui intertextualidade radical, multimodalida-
ca. Entende-se, então, que a história narrada de e compressão aditiva.
pelos diversos produtos midiáticos deve ser Essa percepção ficou clara no desenvolvi-
compreensível isoladamente, além de revelar mento da análise e no princípio da intertex-
informações relevantes para a narrativa total. tualidade radical, na qual se vê que a série
Segundo este autor, cada acesso à franquia e todos os seus produtos são derivados dos
deve ser autônomo para que não seja neces- contos de fadas. No entanto, cada narrativa
sário possuir experiências anteriores com o busca transmitir um conteúdo inédito, nun-
universo ficcional para entender a história. ca antes narrado pelas histórias. Bem como
De acordo com Bona e Souza (2013), os transmitir uma ideia de continuidade da sé-
elementos secundários são derivados e ga- rie e utilizar personagens conhecidos pelo
nham forma a partir de um universo narrativo público para a construção de seu enredo por
mais abrangente, que explora pontos de vista intermédio de diferentes eventos da narrati-
ainda não abordados por ele. A grafic novel é va e sob novos pontos de vista.
um produto midiático secundário, oriundo da A definição do conceito de narrativa
narrativa principal, que possui uma história transmídia para Jenkins (2009) está associa-
nunca abordada pelos outros meios. Ela não da, principalmente, a uma história que se de-
possui uma ligação direta com o enredo da senrola através de múltiplos canais de mídia,
série de TV, o livro ou os contos de fadas e, cada um deles contribuindo de forma dis-
mesmo não oferecendo uma continuidade ao tinta para a compreensão total do universo
universo de Once upon a time, é um produto narrativo. É possível compreender o princí-
relevante para a divulgação da franquia. pio da multimodalidade, em que um mesmo
Sua importância é reconhecida, pois ela se universo ficcional, no caso a série Once upon
passa no mesmo universo narrativo apresen- a time, é adaptado aos mais diversos meios,
tado pelos outros produtos midiáticos e narra linguagens e plataformas comunicacionais, e
uma história inédita abordada pela ótica de Fonte: Elaborado pelos autores a partir de ima- contribui para a construção de experiências
outros personagens, em um período nunca gem disponível em: < https://omelete.uol.com.br/ midiáticas diferentes, que procuram captar
abordado em nenhuma plataforma. A história series-tv/noticia/once-upon-a-time-rainha-ma-apa- o interesse do público da franquia para as
é narrada pela perspectiva da Rainha Má e do rece-em-poster-para-a-san-diego-comic-con-2016/>. suas extensões midiáticas.
Acesso em: 30 de jan. 2017.
Caçador. A narrativa é inédita, mas possui al- Observa-se que este novo universo fic-
guns elementos que foram abordados de forma cional abordado em Once upon a time,
superficial na série. A história aborda o relacio- baseado nos contos de fadas, com uma
namento romântico destes dois personagens Os contos de fadas, por serem apropria- releitura moderna e contemporânea, é
e os sacrifícios feitos pelo Caçador, que é um dos para a construção do universo ficcional destinado a um receptor que conhece ou
homem bom, forçado pela Rainha Má a fazer o de Once upon a time, são representados de possui alguma referência simbólica. Per-
mal. A narrativa fornece um novo olhar sobre uma forma maior na imagem em relação aos cebe-se que essa apropriação dos contos
fatos que não foram abordados na série, mas outros objetos analisados. Conforme citado aborda o princípio da compressão aditiva
que contribuem para um entendimento mais anteriormente, os produtos originários des- e possibilita que cada produto midiático
profundo das motivações destes personagens. ta narrativa são inspirados nos contos de ou história utilizada na narrativa contribua
Em se tratando dos conteúdos secundá- fadas e na possibilidade de adaptação das para ampliar a compreensão do todo nar-
rios, é possível perceber uma relação entre histórias para narrativas contemporâneas. rativo. Essa nova apropriação, presente na
as narrativas e seus diversos produtos midiá- A série, por ser o produto original inspirado série e em seus produtos midiáticos, desvia
ticos. Estes conteúdos sugiram a partir de no universo dos contos, aparece como o pro- a história e a sua moral original. O objetivo
espaços vazios deixados na série televisiva e duto inicial deste universo adaptado e cons- é transformar os elementos dos contos de
conseguiram se estender para novas platafor- truído, baseado em referências literárias. O modo que sejam sedutores para o recep-
mas, possibilitando, assim, a criação de mais destaque na imagem marca uma relevância tor, agregar valores diferentes dos contos
canais com seus públicos de interesse. Essa maior aos demais produtos midiáticos. originais e recriar significados que estão
ligação direta tem origem na série, uma vez O livro Once upon a time – Despertar e inseridos nas narrativas afim de moldar a
que ela é o primeiro produto lançado deste a grafic novel Once upon a time: shadow história de acordo com os costumes e as
universo, e se estende para os outros meios. of the queen são originários de espaços influências da sociedade contemporânea.
Fica claro também que este produto é uma deixados pela série de TV. Portanto, suas A análise da série televisiva permitiu in-
apropriação dos contos de fadas para um narrativas não possuem um grande grau de ferir que as construções transmídias se refe-
novo formato e que funciona como uma ex- importância para a construção deste univer- rem ao processo de comunicação a partir de
tensão dos fatos narrados. so e aparecem representadas em tamanho múltiplas e convergentes plataformas tecno-
Percebe-se, então, que os produtos midiá- inferior na imagem em relação aos outros lógicas e midiáticas visando o incremento da
ticos analisados estão sempre interligados de produtos midiáticos. produção de sentidos. Os processos midiáti-
alguma forma com o seu universo ficcional e, De maneira geral, todos os produtos ana- cos transitam por diferentes meios de comu-
por intermédio do cruzamento das narrativas lisados contribuem para a compreensão total nicação, aproveitando-se das características
entre os personagens, a franquia é construída. da narrativa e para a difusão da história nos de cada um deles, mas extrapolando o seu
Segundo Jenkins (2009), para conseguir disse- mais variados canais, seja por intermédio da universo cognitivo e sensível.
minar uma franquia é fundamental a constru- extensão da história, de pontos de vistas re- Para decifrar o universo diegético trans-
ção de universos narrativos sustentados pela levantes abordados em diferentes formatos mídia é necessário considerar que o acesso
exploração de outros personagens e de histó- ou por narrativas que possuem possibilidade às informações e às imagens em diferentes
rias originárias de um mesmo universo. de adaptação. Nesta perspectiva, o conteúdo mídias, cada qual com a sua particularidade,
A Figura 4 foi criada para maior compreen- criado por meio das diversas mídias contri- busca a construção de uma narrativa que se
são da relevância dos produtos midiáticos ana- bui para o desenvolvimento de uma história. amplia para além de um único meio e de um
lisados para a construção do universo ficcio- Desta forma, a Figura 4 representa a relação sentido homogêneo. Com efeito, amplificam-
nal de Once upon a time. A imagem ilustra, entre os produtos e a sua relevância para a -se em redes interativas e em polifonia de
de forma objetiva, a representação visual da construção do universo ficcional da série. significados. Esse fluxo informativo e imagé-

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tico recebe, de cada mídia, um enfoque es- REFERÊNCIAS
pecífico e peculiar, que se soma aos outros
enfoques, de outras mídias, possibilitando BARROS, A. C. P. Comunicação e mídias
transformar a linguagem, a expressão, a sen- digitais: novas formas de relacionamento
sibilidade, os modos de consumo, os laços de mercadológico transmidiático. In: INTER-
interação social e as formas de experimenta- PROGRAMAS DE MESTRADO DA FACUL-
ção do mundo imaginário. DADE CÁSPER LÍBERO, 6., 2010, São Paulo.
Anais... São Paulo: Faculdade Cásper Líbero,
2010.

BEATRICE, L.; ROSEMÉRI, L. Contos de fa-


das na publicidade: magia e persuasão.
Blumenau: Edifurb, 2009.
1. Magno Medeiros
Doutor em Educação pela Universidade de BETTELHEIM, B. A psicanálise dos contos
São Paulo (FE/USP) (1997). de fadas. 16. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
Mestrado em Ciência da Comunicação pela 2002.
Universidade de São Paulo (ECA/USP) (1991).
Professor do Programa de Pós-Graduação em BONA, R. J.; SOUZA, M. P. de. A narrati-
Comunicação da Faculdade de Informação va transmídia na era da convergência:
e Comunicação da Universidade Federal de análise das transposições midiáticas de
Goiás e do Programa de Pós-Graduação In- The Walking Dead. Razón y Palabra, Mé-
terdisciplinar em Direitos Humanos da UFG. xico, n. 82, mar./maio 2013. Disponível em:
Ex-diretor da FIC/UFG. <http://www.razonypalabra.org.mx/N/
N82/V82/22_BonaSouza_V82.pdf >. Acesso
2. Lorrayne Caroline dos Santos em: 25 jul. 2017.
Discente do Curso de Especialização em As-
sessoria de Comunicação e Marketing pela BORTOLOTTO, M. M. A mulher como per-
Faculdade de Informação e Comunicação na sonagem nos contos e na publicidade. In:
Universidade Federal de Goiás (UFG); CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNI-
Graduada em Comunicação Social – Habilita- CAÇÃO NA REGIÃO SUL, 14., 2014, Floria-
ção em Publicidade e Propaganda pela Pon- nópolis. Anais eletrônicos... Florianópolis:
tifícia Universidade Católica de Goiás (2015) Unisul, 2014. Disponível em: <http://www.
portalintercom.org.br/anais/sul2014/resu-
mos/R40-0204-1.pdf>. Acesso em: 5 jul. 2017.
(esse link não leva ao resumo, dá erro)

NOTAS CORSO, D. L.; CORSO, M. Fadas no divã:


psicanálise nas histórias infantis. Porto Ale-
3. Romance gráfico produzido em quadri- gre: Artmed, 2006.
nhos, normalmente contando uma longa his-
tória através de arte sequencial. JENKINS, H. Cultura da convergência. 2.
ed. São Paulo: Aleph, 2009.
4. É uma forma de distribuição de dados,
geralmente de multimídia em uma rede, LONG, G. A. Transmedia storytelling: bu-
através de pacotes. É frequentemente uti- siness, aesthetics and production at the Jim
lizada para distribuir conteúdo multimídia Henson Company. 2007. 185 f. Dissertação
por meio da internet. (Mestrado em Ciência dos Estudos Compa-
rados de Mídia) - Massachussets Institute of
5. Conhecida simplesmente como Disney, é Technology, Massachusetts, 2007.
uma companhia multinacional estaduniden-
se de mídia de massa sediada no Walt Dis- MORAES, V. da S. Literatura infantil na publi-
ney Studios, em Burbank, Califórnia. cidade. In: SEMANA DE LETRAS, 9., 2009,
Porto Alegre. Anais eletrônicos. Porto Ale-
6. É uma série de televisão de drama e ficção gre: PUC-RS, 2009. Disponível em: <http://
científica que seguiu a vida dos sobreviven- www.pucrs.br/edipucrs /online/IXsema-
tes de um acidente aéreo em uma misteriosa nadeletras/com/Viviane_da_Silva_Moraes.
ilha tropical, após o avião em que viajavam pdf>. Acesso em: 20 jun. 2017.
cair em algum lugar do Oceano Pacífico.
ONCE upon a time. Direção: Edward Kitsis
7. Série dramática e pós-apocalíptica norte-a- e Adam Horowitz. Produção: Damon Linde-
mericana, desenvolvida por Frank Darabont lof, Christine Boylan, Robert Hull. Estados
e baseada na série em quadrinhos de mes- Unidos. ABC Studios. 2011, 990 min. 1 DVD.
mo nome, de Robert Kirkman, Tony Moore e
Charlie Adlard. SANTOS, M. B.; MIELNICZUK, L. O univer-
so ficcional de Lost e a narrative transmi-
8. O episódio piloto foi o nome dado para o diática. Logos, Rio de Janeiro, v. 34, n. 1, p.
primeiro episódio de uma série de televisão. 126-138, jan./jul. 2011.
Inicialmente é utilizado para apresentar aos
executivos das estações de televisão e, mais
tarde, ao público em geral.

9. A Branca de Neve é um conto de fadas ori-


ginário da tradição oral alemã, que foi compi-
lado pelos Irmãos Grimm e publicado entre
os anos de 1812 e 1822. Sua história deu ori-
gem ao primeiro filme de Walt Disney: Bran-
ca de Neve e os sete anões, de 1937.

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