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198.03 sustentabilidade ano 17, nov. 2016

Severiano Porto
Sintaxe e processo, que futuro(s)?
Gonçalo Castro Henriques

198.03 sustentabilidade
sinopses
como citar

idiomas

original: português
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198
198.00 urbanismo
A apropriação do
ideário cidade-jardim
nos condomínios
residenciais fechados
brasileiros
Michele R. Bizzio e
João Carlos Soares Zuin
198.01 história
Severiano Porto, Centro Ambiental Balbina, 1983-1988 O patrimônio cultural
Imagem divulgação [Acervo Severiano Porto / NPD UFRJ] militar edificado no
Rio Grande do Sul
Uma visão a partir do
29º GAC AP no município
como citar de Cruz Alta RS
Mateus Veronese, Denise
HENRIQUES, Gonçalo Castro. Severiano Porto. Sintaxe e processo, que futuro(s)? de Souza Saad e Cláudio
Arquitextos, São Paulo, ano 17, n. 198.03, Vitruvius, nov. 2016 Renato de Camargo Mello
<https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/17.198/6303>.
198.02 estética
1. Introdução Espaço e percepção
Uma abordagem a partir
Severiano Porto é um arquiteto de referência e premiado, que está de Merleau-Ponty
associado à aplicação do conceito de regionalismo crítico. Apesar de Diogo Ribeiro Carvalho
inúmeras distinções a sua obra está em grande parte abandonada. Diversos 198.04 tecnologia
trabalhos acadêmicos destacam a aplicação de técnicas e materiais locais A relojoaria do Masp
na sua obra. A maioria destes autores destaca a linguagem formal - Edite Galote Carranza e
sintaxe - que propõe como alternativa ao modernismo e à arquitetura Ricardo Carranza
genérica indiferenciada. Estando os materiais e as técnicas utilizadas
por Severiano datados no tempo, há o problema de como estes poderão ser 198.05 moradia precária
aplicadas em novos projetos. Argumenta-se, que mais do que mimetizar a Formas de habitar o
forma ou estilo deste arquiteto, será útil codificar o seu processo centro das cidades
operativo. No seu processo este autor utiliza estratégias de adaptação do Informalidade e
edifício ao contexto. invisibilidade do
mercado imobiliário de
Este artigo propõe investigar as estratégias de adaptação utilizadas por vilas e cortiços em
este arquiteto. Assim serão avaliadas determinadas obras indagando como o João Pessoa PB
desempenho é melhorado. Um dos problemas das análises de desempenho é Camila Coelho Silva e
tradicionalmente exigirem conhecimentos e técnicas especializadas. As Jovanka Baracuhy
estratégias de adaptação de Severiano incluem a utilização de sistemas Cavalcanti Scocuglia
construtivos com materiais locais como a madeira. Utilizando as suas 198.06 tic
propostas geometrias e materiais não standard recorrendo apenas às Tecnologias de
técnicas tradicionais estes princípios podem ter uma aplicação limitada informação e
com o aumento dos custos de produção. Argumenta-se que através da comunicação e os
integração de tecnologias e processos digitais será possível desenvolver espaços domésticos
estratégias de adaptação, expandido a sintaxe e os processos utilizados contemporâneos em
por Severiano Porto. Serão identificadas possibilidades de como a Maceió AL
integração do digital pode suportar o desenvolvimento de estratégias de Alana Tenório Carnaúba
adaptação, recorrendo a exemplos análogos. Finamente será destacado o Guimarães Duarte e
trabalho do LAMO – laboratório de fabricação digital da FAU UFRJ. Este Adriana Capretz Borges
laboratório propõe uma nova metodologia de integração entre as da Silva Manhas
ferramentas e os processos digitais (1) participando na fabricação e
198.07 patrimônio
construção da primeira wiki-house (2) na América Latina. São assim
imaterial
sugeridas novas possibilidades para que a obra de Severiano possa ser
O patrimônio
estudada, procurando novas pistas de como expandir o se legado no futuro.
arquitetônico no século
21
Esta pesquisa aborda o contributo arquitetônico de Severiano Porto
Para além da
pensando como este poderá ser transmitido e utilizado no futuro. Este
preservação uníssona e
arquiteto recebeu inúmeras distinções que reforçam a pertinência da sua
do fetiche do objeto
obra. A sua obra está associada ao regionalismo crítico e desperta
Andréia Moassab
interesse tanto no Brasil como no exterior. Serão identificadas e datadas
as suas principais obras de acordo com pesquisas anteriores de outros
autores. Serão elaboradas algumas considerações de síntese sobre a sua
obra. É utilizado um formato de pesquisa científico, identificado um
problema e apontando hipóteses para o solucionar operativamente. O
problema é a dificuldade de transmitir o seu legado, para o qual são
identificadas diferentes possibilidades de o resolver utilizando os meios
digitais.

Sintaxe: regionalismo crítico e modernismo

O regionalismo crítico é um conceito desenvolvido por Keneth Frampton nos


ano 1980 (3). Este conceito procurava ser uma alternativa ao fenómeno de
globalização que surgiu com o advento da arquitetura modernista no pós-
guerra europeu. Surgiu como uma reação à massificação tecnológica da
arquitetura que nas suas propostas de “tábua rasa” menosprezava
contributos e tradições locais. O regionalismo crítico reclamou uma maior
atenção à arquitetura vernacular de cada lugar e as suas tradições
construtivas e culturais, procurando uma conciliação entre a cultura
universal e local. A arquitetura modernista teve um grande
desenvolvimento e aplicação no Brasil como referem autores clássicos como
Nestor Goulart Reis Filho (4), Yves Bruand (5), Paulo Santos (6) ou Hugo
Segawa (7). Embora o período áureo do modernista no Brasil esteja
associado ao período entre os anos 1940 e 1960, o seu impacto no país de
acordo com estes autores foi profundo e é tem-se prolongado no tempo.

A arquitetura de Severiano Porto é construída sobretudo entre os anos 60


e até ao final dos anos 80. Severiano teve uma educação de acordo com os
princípios modernistas, mas na sua mudança para a Amazónia demostrou uma
atenção especial pelo contexto local. É pelo fato de ter traduzido
arquitetonicamente essa preocupação que é associado ao regionalismo
crítico. O regionalismo crítico teve sobretudo como termo comparativo a
arquitetura modernista. Talvez por esta razão os materiais e as técnicas
utilizadas e a sua codificação estilísticas tenham sido destacadas como
uma reação. Devido à herança modernista a sua obra foi valorizada
positivamente por recorrer à tradição material e construtiva, mas foram
menosprezados outros contributos mais operativos dos seus projetos.

Existem diferentes possibilidades para divulgar a obra de Severiano.


Existe um acervo com informação sobre os seus projetos na UFRJ (8). No
entanto apesar deste arquiteto ser estudado com frequência pela linguagem
e sintaxe arquitetônica utilizada é menos abordado o processo por ele
aplicado. Severiano utiliza estratégias de adaptação da arquitetura ao
contexto que poderão ser aplicáveis no futuro.

Severiano Porto, Centro Ambiental Balbina, 1983-1988


Imagens divulgação [Acervo Severiano Porto / NPD UFRJ]

Importância histórica e principais obras

Mário Severiano Porto nasceu na Uberlândia (Estado de Minas Gerais) em


1930. Em 1956 graduou-se em Arquitetura pela Universidade do Brasil
(atual UFRJ). O seu trabalho foi premiado inúmeras vezes ao longo dos
anos: entre 1965-83, teve 8 projetos premiados pelo IAB-RJ; em 1985
recebeu Prémio Universidade Buenos Aires, tendo recebido o Doutoramento
Honoris Causa pela UFRJ em 1985, como refere Jhones (9). A importunância
desta distinção honorífica é destacada por Elizabete Rodrigues de Campos
(10). Alguns autores refém o impacto da sua obra e o reconhecimento
internacional que obteve como Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima (11).

Segundo os autores atrás referidos, o período mais ativo da sua obra é


entre o final dos anos 1960 e os anos 1990. Entre as suas obras destacam
as seguintes: Estádio Vivaldo Lima (1965), restaurante Chapéu de Palha
(1967), Superintendência Zona Franca Manaus (1971), Casa Severiano Porto
(1971), Clube do Trabalhador e Escola Música SESI (1977), casa Robert
Schuster (1978), Campus da Universidade do Amazonas (1970-80), Pousada
Ilha Silves (1979-83), Centro Proteção Ambiental Balbina (1983-88) e
Aldeia Infantil SOS (1985-97). Segundo Sergio Hespanha (12) Severiano é
destacado pelo seu lado tectónico mas é menosprezada a preocupação social
que evidencia. Destaca que a adequação geográfica de Severiano além da
componente física inclui também as relações humanas e preocupações
sociais.

2. Estratégias de adaptação e integração digital

Severiano Porto utiliza estratégias passivas para conseguir uma


arquitetura mais adaptada ao contexto. Serão referidos exemplos destas
estratégias passivas para melhorar o desempenho climático. Serão
destacadas vantagens da aplicação destas estratégias e dificuldades que
existem na sua implementação. Serão formuladas hipóteses de como estas
limitações poderão ser ultrapassadas com recurso a meios digitais,
recorrendo a exemplos.

A integração digital em projeto afetada não só as ferramentas, como os


processos em todas as fases de projeto (13). Não sendo o objetivo
principal deste artigo demonstrar esta realidade serão identificadas
situações específicas em que a integração digital poderá prolongar a
aplicação do legado de Severiano. Nomeadamente é sugerido como o
desempenho climático poderá beneficiar da simulação digital, assim como a
utilização de sistemas construtivos em madeira personalizados podem
beneficiar da fabricação digital.

Adequação e desempenho climático

Mirian Keiko Ito Rovo e Beatriz Santos Oliveira (14) destacam na obra de
Severiano a utilização de estratégias de adaptação em todas as escalas de
projeto. Esta capacidade de adaptação presente em projeto leva as autoras
a classificar a arquitetura de Severiano como regionalismo ecoeficiente.
Demonstram existir esta atitude holística e ecoeficiente no projeto
Aldeia infantil SOS. Aludem à ecologia tal como definida por Haeckel, ou
seja ecologia como economia de meios que permite uma boa adaptação local.
Diferenciam a preocupação com a ecologia de uma busca estilística do que
é autóctone salientando a importância das estratégias de adaptação em
diferentes escalas de projeto. A ecologia começa na preocupação social do
projeto aldeia SOS, na inserção no terreno, na articulação de funções e
volumes, de espaços comuns e inclui o projeto das habitações, assim como
sistema construtivo e geometria de adequação geográfica. A investigação
destas autoras mostra a importância ética de trabalho do arquiteto nas
diferentes fases do projeto. Identificam como o desempenho pode ser
melhorado em geral referindo em particular alguns aspetos do desempenho
climático.

Existem no entanto menos investigações que avaliem diretamente o


desempenho climático dos seus edifícios. Letícia de Oliveira Neves (15)
analisa e avalia o desempenho das estratégias de ventilação natural
aplicadas por Severiano em três obras. Estas obras são: a) Campus
Universidade Amazonas; b) Sede Superintendência zona franca Manaus; c)
Aldeias infantis Balbina SOS. Estas obras, além de características
particulares apresentam também sistemas construtivos diferentes sendo a
primeira de aço e concreto, a segunda concreto e a terceira de alvenaria
e madeira.

Para avaliar o desempenho dos processos de ventilação natural utilizados


a autora recorreu como metodologia à análise qualitativa e quantitativa
destes edifícios. A análise quantitativa consistiu na recolha de dados do
projeto (plantas, cortes, alçados), entrevistas e consulta ao acervo do
arquiteto. Completou esta análise depois com um estudo com base em
medições climáticas nos diferentes edifícios estudados. Estas medições
foram efetuadas seguindo recomendações de Mahoney e os resultados
comparadas com os valores climáticos de referência para a localização
geográfica estudada (Amazonas) da ASHRAE – American Society Heating,
Refrigeration and Air Conditioning Engineers.

Neves estudou o desempenho de três edifícios para verificar em que medida


as soluções de severiano aumentam o conforto do usuário. Estudou os
processos de ventilação natural que Severiano utiliza para diminuir a
temperatura e a humidade do ar, aumentando o conforto ambiental dos
usuários. Nos diferentes projetos conclui que existe uma atitude atenta
às condicionantes arquitetônicas do lugar, como topografia, orientação e
disposição dos edifícios no terreno, considerando ventos dominantes e na
distribuição dos espaços interiores. Verificou que estes edifícios
possuem uma geometria que os protege da radiação solar e da chuva
frequente, assim como um sistema de aberturas que permite melhorar a
ventilação natural. A ventilação natural é controlada passivamente
através da localização, dimensionamento e do tipo de aberturas. Encontrou
no entanto dificuldades do arquiteto em verificar e testar ideias
empíricas de ventilação do ar, como por exemplo a utilização do efeito
chaminé, baseado em diferenças de temperatura.

Severiano Porto, estratégias de ventilação natural e linguagem com referências


contextuais da Amazônia, Aldeia SOS em Manaus (1983-95)
Imagens divulgação [NEVES, L.O.]

O controlo térmico está associado a modelos matemáticos complexos, que


tradicionalmente não são do domínio da arquitetura. No entanto a falta de
acesso a informação sobre térmica limita a atuação dos arquitetos nesta
área. Na sua investigação Neves avaliou as estratégias de ventilação
natural utilizadas por Severiano e detetou dificuldade de implementação
do efeito chaminé. Outra das dificuldades está relacionada como a
geometria das aberturas e dos espaços. Existem atualmente ferramentas de
simulação que podem ser utilizadas num estágio inicial de projeto para
facilitar a previsão e sugerir novas possibilidades de como solucionar
estes problemas. Estas ferramentas utilizam modelos digitais (Programas
como Energy+, Daysim ou Ecotect) e analógicos (túnel de vento) para
analisar e avaliar soluções. Embora estes modelos possam facilitar a
previsão e geração de soluções alternativas, exigem no entanto uma nova
atitude colaborativa entre especialistas de diferentes áreas, para
evoluir soluções e para validar testes de simulação que não existiam
quando estes projetos foram construídos.

Sistema construtivo e fabricação digital

Embora Severiano utilize diversos sistemas construtivos, segundo alguns


dos autores analisados, as suas estratégias de adaptação ao local são
mais efetivas quando utiliza sistemas construtivos de madeira. Entre as
suas obras que utilizam sistema construtivo de madeira (ainda que não
exclusivamente, sendo por vezes sistemas mistos) são o centro ambiental
Balbina SOS, a casa do Arquiteto, a casa Robert Schuster, o restaurante
Chapéu Palha e a Aldeia SOS. Estando este artigo focado em aspetos mais
operativos, não é de descurar a importância do aspeto linguístico para a
integração cultural e social das obras de Severiano Porto. As construções
em madeira fazem referência às construções autóctones dos indígenas e
caboclos e nesse sentido identificam-se mais com o contexto cultural da
Amazónia. Apesar dos sistemas construtivos em madeira serem destacados na
sua obra, hoje há algumas limitações à construção em madeira. Nesse
sentido será agora analisadas as limitações e as novas possibilidades
atuais da construção em madeira, identificando potencialidades futuras.

Severiano Porto, Casa Robert Schuster, Manaus, 1978, desenvolvendo sistema


construtivo em madeira
Imagens divulgação [Acervo Severiano Porto]

Dificuldades e oportunidades construção em madeira

Segundo Hugo Segawa (16) a construção no Brasil em madeira é


desvalorizada por estar associada à construção rural anterior ao
modernismo de concreto armado e à correspondente ascensão social. Segundo
este autor existe também falta visão de políticos e dirigentes. Nos EUA é
muito valorizado o arquétipo da construção original de madeira o que não
acontece no Brasil. Alguns sistemas construtivos vernaculares como a
construção em madeira e a construção com adobe são utilizados desde os
ano 1930 no Brasil. Segawa refere exemplos dos 80’ deste tipo de
construções no capítulo “Os materiais da natureza e a natureza dos
materiais”. Refere que há questões ambientais da exploração da madeira no
Brasil que limitam a utilização de madeira no país, apesar de esta ser
exportada massivamente.

Houve outros arquitetos que desenvolveram sistemas construtivos em


madeira, incorporando antigos saberes, como José Zanine e Lúcio Costa (3ª
Casa Thiago Mello, Amazonas 1987-88). Um dos problemas da construção em
madeira identificado por Lúcio Costa nos anos 80’ foi a necessidade de
testar encaixes e soluções construtivas no local, o que traz problemas de
fiscalização. O problema da fiscalização é a dificuldade de prever qual a
solução a adotar no licenciamento, estando a solução dependente de testes
no local. Para ultrapassar este problema Lúcio Costa utilizou modelos
análogos à escala para testar e avaliar soluções antes da obra. Outra
dificuldade de implementar e generalizar o sistema construtivo que
Severiano Porto utilizou é a questão de exigir mão-de-obra qualificada
local. Argumenta-se que com a fabricação digital é possível ultrapassar
este problema, baixando o custo e permitindo personalização.

Atualmente a construção com madeira e derivados tem vindo a despertar


interesse em diversos países pela sua natureza ambiental. O menor impacto
da sua construção no meio natural, a questão de ser biodegradável e o
conforto térmico são algumas das vantagens destacadas. Neste particular a
sua utilização só será sustentável se a sua extração e plantação forem
planejadas e controladas. Sendo o Brasil uma dos países mundiais com
maior produção de madeira e possuindo infraestruturas tecnológicas
desenvolvidas a utilização da madeira na construção é reduzida,
nomeadamente em edifícios pré-fabricados. Esta reduzida aplicação está
associada mais a questões culturais e políticas do que técnicas (17).

Instant House, estudo de geração e fabricação digitais aplicados à construção


de arquitetura para situações de emergência, MIT, EUA, 2005
Imagens divulgação [Larry Sass/ MIT]

Da produção em série à produção em massa diferenciada

A produção em série limitou o desenvolvimento de soluções personalizadas.


No entanto as ferramentas digitais oferecem a possibilidade de produzir
soluções personalizadas com um maior grau de variação, sem aumentar o
custo. Tal é possível encurtando o processo produtivo com a introdução de
processos e ferramentas digitais na conceção, simulação e fabricação
digital (CAD-CAE-CAM). Ao encurtar o processo construtivo é conseguida
uma maior diversidade de soluções associadas aos sistemas paramétricos.
Outros dos aspetos é a montagem em fábrica de edifícios. Tal permite
controlar melhor a produção, melhores acabamentos e menores custos de
montagem no local.

Durante o processo produtivo é também possível a realização de protótipos


análogos em diversas escales até à escala real. A realização de modelos
em diversas escalas permite testar e antever as soluções antes de estas
serem executadas. Permite também que os encaixes e pré-montagens finais
sejam efetuados em fábrica.

Os processos de fabricação têm sido utilizados para desenvolver soluções


para problemas de habitação em massa. Existem alguns exemplos como o
projeto Instant House e Casa Nova Orleães desenvolvidos pelo MIT (18).
Existem também exemplos desta pesquisa na América latina como projeto
Casa Generativa uma parceria entre universidades liderada por Rodrigo
Garcia Alvarado e Benamy Turkienicz (19), ou o Projeto Ekó House projeto
multi-disciplinar, coordenado na arquitetura por José Ripper Kós, que
representou o Brasil no Solar Decathlon de 2012 (20).
Fabricação digital, exemplos de projetos colaborativos desenvolvidos na América
do Sul. “Casa Generativa”, de Alvarado e Turkienicz, 2010; Éko House,
universidades e parceiros brasileiros, concurso Solar Decathlon, 2012
Fotos divulgação [ALVARADO, R.G.; TURKIENICZ, B.; KÓS, J.R.; FAGUNDES, T.C.]

O autor deste artigo é professor na UFRJ onde foi reforçar a aposta na


integração digital através do LAMO, Laboratório de fabricação digital. É
vice-coordenador do LAMO dirigido pelo Prof. Andrés Passaro. Um dos
primeiros trabalhos foi a construção da primeira wiki-house da América
latina. O projeto da WikiHouse (Casa Revista) foi desenvolvido durante a
tese final de graduação pela Clarice Rohde sendo foi depois fabricado
digitalmente e montado no lugar pelo LAMO e por uma equipe de alunos
voluntários.

Projeto Wiki-House/ Casa Revista, montagem e construção LAMO-UFRJ, Março 2015


Fotos divulgação [Clarice Rohde/LAMO]

Conclusão e perspetivas futuras

Foram sugeridas algumas possibilidades de expandir o legado de Severiano


Porto utilizando os meios digitais em diferentes fazes de projeto, sendo
neste caso destacada a aplicação na simulação e na fabricação digital.
Estas possibilidades permitem alargar estratégias de adaptação utilizadas
pelo arquiteto em mais casos. Outros exemplos da aplicação dos meios
digitais poderia ser o desenvolvimento de gramáticas da forma que
codifiquem a linguagem do arquiteto. Nesse caso será importante avaliar o
desempenho das soluções relativamente a diferentes aspetos. Também
poderão ser instalados mecanismos ativos de controlo de condições
ambientais, mas dado o caráter social os mecanismos de adaptação passiva
serão mais fáceis de aplicar.

No entanto como referido só a integração das diversas fases com os meios


digitais poderá encurtar o processo e aumentar as possibilidades de
escolha. Nomeadamente na fase generativa (CAD) de simulação (CAE) e
fabrico (CAM). Este é um aspeto destacado na procura de soluções
eficientes e ecológicas como referem Kós e Fagundes no artigo acima
citado. Esta modificação tecnológica implica redesenhar o processo de
projeto, para que este seja multidisciplinar, mais inclusivo e inclua
diferentes especialidades e especialistas. Neste aspeto o LAMO pretende
expandir a tradição, inovando.

notas

1
PASSARO, Andrés; HENRIQUES, Gonçalo Castro; "Abrigos Sensíveis, do método ao
conceito, superando a instrumentalização", XIX Congresso Ibero-Americano de
Gráfica Digital, Informação de Projeto para a interação, Alice T. Pereira e
Regiane Pupo (eds), Blucher Publishing, Florianópolis UFSC, Novembro 2015, pp.
94-100, DOI 10.5151/despro-sigradi2015-30155. Ver também
https://vimeo.com/126453671

2
PASSARO, Andrés; ROHDE, Clarice. Casa Revista: arquitetura de fonte aberta. XIX
Congresso Ibero-Americano de Gráfica Digital. In PEREIRA, Alice T.; PUPO,
Regiane (Org.), Florianópolis, Blucher Publishing/UFSC, nov. 2015, p. 70-76
<www.proceedings.blucher.com.br/article-details/casa-revista-arquitetura-de-
fonte-aberta-22301>

3
FRAMPTON, Keneth. Towards a Critical Regionalism: Six Points for an
Architecture of Resistance. In FOSTER, Hal (Org.). Postmodern Culture. London,
Pluto Press, 1983.

4
REIS Filho, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo,
Perspectiva, 1978.

5
BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo, Perspectiva,
1981.

6
SANTOS, Paulo. Quatro séculos de arquitetura. Rio de Janeiro, IAB, 1981.

7
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo, Edusp, 1999.

8
JHONES, Keyce. Severiano Mário Porto. Homenagem ao arquiteto e preservação da
memória de sua obra. Drops, São Paulo, ano 14, n. 078.01, Vitruvius, mar. 2014
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/14.078/5077>.

9
Idem, ibidem.

10
RODRIGUES DE CAMPOS, Elizabete. A arquitetura brasileira de Severiano Mário
Porto. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 043.08, Vitruvius, dez. 2003
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.043/631>.

11
LIMA, Adson Cristiano Bozzi Ramatis. Architecture d’Hier: o sequestro da
arquitetura brasileira dos anos 1980 pela revista AA. Arquitextos, São Paulo,
ano 09, n. 104.04, Vitruvius, jan. 2009.
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.104/83>.

12
HESPANHA, Sérgio Augusto Menezes. Severiano Porto. Entre o regional e o
moderno. Arquitextos, São Paulo, ano 09, n. 105.05, Vitruvius, fev. 2009
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.105/76>.

13
Sobre a integração digital escrevem Oxman, Kolarevic, Mitchell, Celani entre
outros. Sobre a problemática do digital no Brasil e em Portugal ver: HENRIQUES,
Gonçalo Castro; BUENO, Ernesto. Geometrias Complexas e Desenho Paramétrico.
Drops, São Paulo, ano 10, n. 030.08, Vitruvius, fev. 2010
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/10.030/2109>.

14
ROVO, Mirian Keiko Ito; SANTOS OLIVEIRA, Beatriz. Por um regionalismo eco-
eficiente: a obra de Severiano Mário Porto no Amazonas. Arquitextos, São Paulo,
ano 04, n. 047.04, Vitruvius, abr. 2004
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.047/594>.

15
NEVES, Letícia de Oliveira. Arquitetura bioclimática e a obra de Severiano
Porto: estratégias de ventilação natural. Dissertação de mestrado. São Carlos,
Escola Engenharia de São Carlos, USP, 2006.

16
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil / Anos 80. São Paulo, Projeto, 1988.
17
A este respeito, ver: VALLE Ivan M. R. do; INO, Akemi; FOLZ, Rosana Rita;
CALLIL, João. Pré-fabricação na construção em madeira. Revista da Madeira
n.133, dez. 2012 <www.remade.com.br/br/revistadamadeira_materia.php?num=1632>.

18
Sobre Digital Design Fabrication Group, liderado por Larry Sass no MIT, ver:
Design Fabrication Group <http://ddf.mit.edu>

19
ALVARADO, Rodrigo Garcia; TURKIENICZ Benamy. Generative House: Exploration of
Digital Fabrication and Generative System for Low-Cost Housing in Southern
Brazil, SIGraDi 2010. Proceedings of the 14th Congress of the Iberoamerican
Society of Digital Graphics, Bogotá, Colombia, November 17-19, 2010, p. 384-387
< http://cumincad.scix.net/cgi-bin/works/Show?sigradi2010_384>. Ver também:
Blog Casa Generativa <http://casagenerativa.blogspot.pt>.

20
KÓS, José Ripper; FAGUNDES, Thêmis da Cruz. Tecnologias para integração e
colaboração: o projeto da casa solar brasileira. Proceedings do XIV Congresso
Ibero-americano de Gráfica Digital. Bogotá, Colômbia, 2010, p. 268-271.

sobre o autor

Gonçalo Castro Henriques é arquiteto, pesquisador e professor sobre a


integração de processos generativos (Design algorítmico, paramétrico e
scripting) com simulação e manufatura digital (CAD-CAE-CAM). Vice-coordenador
do laboratório de fabricação LAMO/UFRJ. Doutor Europeu (FAUTL-Lisboa), Mestre
(ESARQ-UIC, Barcelona) Arquiteto (ESAP-Porto).

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