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224.03 arquitetura
moderna
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224
224.00 história
Zenon Lotufo
Da tradição clássica a
produção moderna
Eduardo Modenese Filho
224.01 desenho
O croqui como
instrumento de
conhecimento
Registro de uma
experiência
internacional em
arquitetura e urbanismo
Haroldo Gallo
224.02 arquitetura
comercial
Espaços de consumo e a
arquitetura de Morris
Lapidus
Casa McCormick, Elmhurst, próximo a Chicago,1951, arquiteto Mies van Heliana Comin Vargas
der Rohe
Foto das autoras
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Evita-se o ponto comum de que ocorre, na arquitetura de Mies van der
Rohe, uma simplificação do problema ou submissão a formas pré-
determinadas, conforme sustenta Robert Venturi, apoiando-se em comentário
de Paul Rudolph (2). O próprio Mies van der Rohe postulava que a forma é
decorrente de um processo investigativo que envolve, dentre outras
motivações internas, a tectônica. Ela pressupõe, contudo, determinadas
“qualidades apriorísticas” a serem atingidas: é forma legível, obtida com
novos materiais e desenvolvimento tecnológico, que atende a princípios de
finalidade compreendidos de modo não específico-funcionalista mas
genérico-racionalista; é, ainda, capaz de assumir uma dimensão artística
que expresse a cultura e o modo de vida de seu tempo. Estes valores,
comuns ao período de formação e consolidação do Movimento Moderno, são
reforçados e modificados por uma busca pessoal pela “essência da
arquitetura” (3), que leva Mies van der Rohe a depurar o papel de seus
elementos constitutivos, tanto no aspecto construtivo como na relação com
o espaço.
“Meu ataque não é contra a forma, mas contra a forma como um fim
em si mesmo. […] A forma como fim inevitavelmente resulta em mero
formalismo. Esse esforço é direcionado apenas para o exterior.
Mas apenas o que tem vida interiormente tem um exterior vivo. Só
o que tem intensidade de vida pode ter intensidade de forma. Cada
‘como’ é baseado em um ‘o quê’. O que não tem forma não é pior
que o que tem forma exagerada. O primeiro não é nada; o último é
mera aparência” (7).
A ênfase dada por Mies van der Rohe ao termo “espiritual” considera o
filtro intelectual necessário para que a arte alcance condição universal
e absoluta. Sem prescindir da constituição material e da aparência para
atingir tal condição, do mesmo modo como não despreza Hegel da aparência
das coisas que se referem à esfera do espírito, fica claro que a
arquitetura para Mies adquire significados que vão além do aspecto
superficial de seus elementos. Ao mesmo tempo em que rejeita qualquer
engano formal, suas obras seriam concebidas a partir de e para um
questionamento ontológico das partes, o que inclui afirmar e subverter a
essência dos materiais e dos espaços.
Casa McCormick
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arquiteto e os empreendedores: a Casa McCormick (1951), em Elmhurst, e a
Casa para Morris Greenwald (1955), irmão de Herbert Greenwald, em
Westport, Connecticut.
Programa
Por sua vez, a configuração interna não segue uma lógica tradicional: não
há corredores, apenas uma sequência de espaços interconectados. Uma vez
que a sucessão de ambientes fluidos, ensaiada por Mies van der Rohe em
algumas casas como a expositiva de 1931, não seria apropriada ao programa
complexo da Casa McCormick, a hierarquia de uso é radicalmente definida
pela separação entre o bloco que compete ao casal e o bloco que cabe aos
filhos, como se o primeiro resolvesse o programa idealizado de um casal
sem filhos – resquício da casa proposta para “família alguma”, conforme
analisa Iñaki Ábalos (13), relegando ao segundo volume a parte
compartimentada e transtornada da casa.
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expositivo, constituindo um pavilhão de exposições autônomo e sendo, ela
mesma, obra artística. Para os usos citados (espaço expositivo e obra
exposta), os espaços domésticos foram descaracterizados: uma vez
desmontada na mudança, seu layout original, bem como as instalações
hidrossanitárias, nunca foram recompostos. O layout original está
mostrado em um desenho feito no chão, na parte nova do museu, como parte
da exposição sobre a casa já mencionada. Contudo, o pavilhão miesiano,
mostrado vazio como está atualmente, é tão potente como seria sua total
reconstituição como ambiente doméstico, pois que não está esvaziado do
sentido da obra, que segue, em essência, como possibilidade de espaço.
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Lugar
Estas informações dão conta de nos dizer sobre como a implantação desta
casa era precisa.
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Segundo Montaner, “na arquitetura moderna, [...] todo objeto
arquitetônico surge sobre uma indiscutível autonomia” (17), com relação
ao espaço isotrópico circundante. Esta autonomia poderá ser compreendida
como a capacidade deste objeto em constituir-se como uma integridade não
submetida ao lugar. No caso da Casa McCormick, a autonomia a que Montaner
se refere é acentuada pela forma pura do volume da casa, com quinas bem
marcadas e materialidade (aço pintado de branco e vidro) contrastante com
o entorno. Entretanto, a autonomia não pode ser erroneamente confundida
com indiferença ao lugar. Podemos considerar que o objeto estabelece uma
relação com o lugar em que se implanta, de modo a potencializar as
características de objeto autônomo e enfatizar sua inserção enquanto
elemento artificial no meio, já não natural, mas artificialmente
demarcado. O cuidado revelado no desenho de implantação da casa, na
simetria entre frente e fundo do terreno e desviando das árvores
presentes, mostra a construção de uma implantação que considera o lugar,
não através de parâmetros miméticos, mas por operação geométrica.
Segundo Bergdoll (18), no ano de 1991, o Elmhurst Fine Arts and Civic
Center adquiriu a Casa McCormick, que foi transportada para o Wilder
Park, parque da cidade destinado a receber um museu, e que hoje abriga
também a Biblioteca Pública da cidade.
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Construção
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construção no lugar, podemos dizer que o sistema construtivo salvou a
casa de desaparecer.
Considerações
Consideramos que a Casa McCormick tem interesse menos por uma condição
exemplar ou inquestionável, enquanto uma obra emblemática de Mies van der
Rohe, mas justamente pelas questões que desperta e pela discussão que
possibilita sobre o arquiteto e o conjunto de sua obra.
notas
1
SOLÀ-MORALES, Ignasi de. Mies van der Rohe y el Minimalismo. In Diferencias.
Topografia de la arquitectura contemporânea. Barcelona, Editorial Gustavo Gili,
2003, p.34.
2
O comentário de Paul Rudolph foi publicado no número 6 da revista Perspecta e é
citado por Venturi. VENTURI, Robert. Complexidade e contradição em arquitetura.
São Paulo, Martins Fontes, 1995, p. 4.
3
“Devíamos distinguir o núcleo da verdade. Só as perguntas que se referem à
essência das coisas têm sentido”. Mies van der Rohe, 1961. In NEUMEYER, Fritz.
Mies van der Rohe. La palabra sin artificio. Reflexiones sobre arquitectura
1922/1968. Madri, El Croquis, 1995, p.69.
4
NEUMEYER, Fritz. Op. cit., p. 15.
5
Idem, ibidem, p. 15.
6
Idem, ibidem, p. 15.
7
“My attack is not against form, but against form as an end in itself. […] Form
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as an end inevitably results in mere formalism. This effort is directed only to
the exterior. But only what has life on the inside has a living exterior. Only
what has intensity of life can have intensity of form. Every ‘how’ is based on
a ‘what’. The un-formed is no worse than the over-formed. The former is
nothing; the latter is mere appearance”. ROHE, Mies van der. A letter on form,
1927. In JOHNSON, Philip. Mies van der Rohe. New York, The Museum of Modern
Art, 1947, p. 187.
8
“The long path from material through function to creative work has only a
single goal: to create order out of the desperate confusion of our time”. ROHE,
Mies van der. Inaugural address as director of architecture at Armour Institute
of Technology, 1938. In JOHNSON, Philip. Op. cit., p.191.
9
2G. Mies van der Rohe Houses. Barcelona, Gustavo Gili, n. 48/49, 2009, p. 198.
10
BERGDOLL, Barry. Mies van der Rohe McCormick House. Elmhurst, Elmhurst Art
Museum, 2018, p. 18.
11
Idem, ibidem, p. 34.
12
2G. Op. cit., p. 198.
13
ÁBALOS, Iñaki. A casa de Zaratustra. In A Boa Vida. Visita guiada às casas da
modernidade. Barcelona, Editorial Gustavo Gili, 2003, p. 24.
14
COLOMINA, B. La casa de Mies: exhibicionismo y coleccionismo. In 2G. Mies van
der Rohe. Houses. Barcelona, Editorial Gustavo Gili, n.48/49, 2009, p.6.
15
BERGDOLL, B. Mies van der Rohe McCormick House. Elmhurst, Elmhurst Art Museum,
2018, p.25.
16
2G. Mies van der Rohe. Houses. Barcelona, Editorial Gustavo Gili, n.48/49,
2009, p.199.
17
MONTANER, Josep Maria. A modernidade superada. Arquitetura, arte e pensamento
do século 20. Barcelona, Editorial Gustavo Gili, 2001, p.31.
18
BERGDOLL, Barry. Op. cit., p. 36.
19
Idem, ibidem, p. 5.
20
Idem, ibidem, p. 22.
21
2G. Op. cit., p. 198.
22
BERGDOLL, Barry. Op. cit., p. 25.
23
Idem, ibidem, p. 10.
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