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Sacadas cariocas
Varandas em ferro no Rio de Janeiro
Lucia Madeira Moraes e Margareth da Silva Pereira
207.02 história
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português
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207
207.00 urbanidade
A cidade de amanhã
Mobilização, ocupação e
apropriação do espaço
público
Laura Sobral
207.01 história
Por uma arquitetura
Rua Uruguaiana 45, Rio de Janeiro
contemporânea enraizada
Foto Lucia Madeira A arquitetura popular
nas trajetórias de
Fernando Távora
(Portugal) e Lúcio
Introdução: ornamentos no ecletismo Costa (Brasil)
Alfredo Britto
No século 19 a arquitetura era marcada por adornos aplicados a fachadas e
interiores. Estes trabalhos eram considerados “artes menores” que não se 207.03 meio ambiente
equiparavam às grandes artes, como a pintura e escultura. Grandes projetos no
desenvolvimento urbano
Estes enfeites eram elaborados artesanalmente em materiais como granito, e regional
mármore, alvenaria ou madeira, exigindo a dedicação de artífices Um olhar sobre o
talentosos e, portanto, tinham custo fora do alcance da maioria da Complexo Hidrelétrico
população. O ferro possibilitou a imitação das formas clássicas, fazendo do Rio Madeira em Porto
cópias mais baratas de elementos comuns deste período. Velho RO
Carina Giovana Cipriano
Por outro lado, a descoberta de grandes jazidas de ferro nas colônias e o Carvalho e Ângelo
domínio da técnica de fundição por países da Europa, deram grande impulso Marcos Arruda
à indústria de elementos pré-fabricados de ferro fundido. 207.04 ensino
Experiência construída
Como o ferro fundido não enferruja, revelou-se um material apropriado à A dimensão construtiva
utilização em países tropicais, resistindo à umidade do clima e até à no ensino de
maresia. arquitetura
Marta Silveira Peixoto
Criava-se assim um grande mercado. De um lado, as colônias que cresciam e
de outro, fundições europeias interessadas em expandir seus mercados. 207.05 crítica
A negação da terra
As exposições criaram o conceito de artes aplicadas à indústria, criando Relações entre as As
uma discussão de que a produção de uma obra exclusiva não era o único cidades invisíveis de
caminho para a expressão artística. Ítalo Calvino e casas
projetadas pelo
Os catálogos exibidos nas exposições ou editados pelas fundições, escritório SPBR
permitiram a importação de seus produtos e inspiraram a manufatura Arquitetos
brasileira na criação de produtos similares. Ana Elisia da Costa
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No final do século 19 o estilo eclético começou a ser substituído por
formas mais puristas e modernas. Os ornamentos produzidos em série já
estavam desgastados e o ferro fundido caiu em desuso.
O que era banal naquela época se tornou raro nos dias de hoje e os
ornatos do ecletismo dão o tom romântico característico das áreas
preservadas de cidades das antigas colônias. No Brasil, além do Rio de
Janeiro, estas construções podem ser encontradas também em São Luís,
Salvador, Recife e Ouro Preto e outras cidades que foram centros
comerciais no passado.
Com pouco mais de 110 mil habitantes, no início do século 19, o Rio de
Janeiro se tornara o mais importante centro econômico do país graças à
função estratégica de seu porto. No plano político, em 1763, era a
capital político-administrativa do Vice-Reino do Estado do Brasil, em
substituição a Salvador.
Entre 1840 e 1860, com cerca de 150 mil habitantes, o foco nas novas
propostas de intervenção se concentra na zona portuária.
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1870 — que ora incorpora elementos de um ou de outro estilo histórico, de
um segundo momento de construção de verdadeiros “lugares de rememoração”
dessa ideia, nas décadas de 1880 e de 1890.
Os sobrados
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Com o tempo e o adensamento das cidades, a falta de saneamento e as
aglutinações ameaçavam a saúde de seus habitantes. A partir do fim do
século 17, “circulação, embelezamento e higiene passam a constituir as
três virtudes esperadas das cidades” (3).
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O ferro e o fogo
O ferro fundido podia ser produzido em massa e, portanto, era muito mais
barato. Sendo moldável, podiam ser elaboradas formas muito diferentes e
igualmente bonitas e, para a maioria das finalidades decorativas, o ferro
fundido forneceu uma solução mais rentável.
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Na Itália, as balaustradas têm raízes na arquitetura sarracena. Veneza,
que recebia mais influência da Ásia, adotou em ferro os padrões
geométricos da arte sarracena. As grades formadas por misturas de
círculos, quadrados e trevos, que marcaram a arquitetura veneziana, logo
se espalharam pela Itália, como na Florença, Siena e Verona dos séculos
13 e 14 e mais tarde copiados por toda a Europa.
Como no Brasil, foi também a partir dos inícios do século 19 que esta
arte mais se desenvolveu em Portugal, em parte pela criação em 1878 da
Escola Livre das Artes do Desenho e pela influência dos trabalhos em
ferro apresentados pelos espanhóis na Exposição Universal de Paris de
1900.
Além das jazidas próprias de ferro e carvão, à medida que novas colônias
europeias iam sendo descobertas, revelavam imensas reservas de minérios.
A abundância de matéria-prima fortaleceu o crescimento da indústria do
ferro, principalmente no Reino Unido.
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O ferro fundido começou a ser utilizado na Inglaterra para a construção
de grandes obras civis. Para aproveitar o parque industrial, as fundições
começaram a dar outros usos a este material. Eram produtos inicialmente
destinados a grandes composições, como reservatórios de água, quiosques,
coretos, escadarias, galpões portuários e estações. Permitiam rapidez na
construção e não exigiam mão-de-obra especializada. Estas estruturas eram
transportadas, como um grande quebra-cabeça e vinham acompanhadas de
manual que orientava a sua montagem. Com isso, o ferro fundido moldado
com ornamentos trabalhados torna-se um componente presente nas
construções do século 19.
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No Brasil não foi diferente. Até meados dos anos 1970, quando os sobrados
começaram a ser tombados, os antigos gradis eram retirados nas demolições
e vendidos a peso de ferro ou como peças decorativas avulsas, compondo
jiraus, bancadas e varandas em construções novas ou em partes de
mobiliário. Mesmo com o tombamento, não existem regras de preservação
destas peças, que felizmente, resistem ao tempo, mesmo sem cuidados.
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Conclusão
Abandonados durante boa parte do final do século 20, muitos por estarem
em regiões degradadas, os sobrados voltaram a ser preservados e
revitalizados e criam uma atmosfera especial onde se encontram. A
revitalização do Centro da cidade do Rio de Janeiro passa necessariamente
pela preservação e uso destas edificações.
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Emblematicamente, o ferro está presente no edifício que hoje simboliza o
futuro da cidade, o Museu do Amanhã, concebido em uma estrutura em aço.
Ele representa a evolução de uma lógica que já foi artesanal, mas que
agora traz uma perspectiva de altíssima tecnologia mantendo, ainda assim,
o traço artístico do arquiteto (12).
notas
LOBO, Eulália Maria Laymeyer. História do Rio de Janeiro (do capital comercial
ao capital industrial e financeiro). Rio de Janeiro, IBMEC, 1978, vol. 2.
Para uma visão mais aprofundada do período das reformas urbanas ver: BENCHIMOL,
Jaime Larry. Pereira Passos – um Haussmann tropical. Rio de Janeiro, Biblioteca
Carioca, 1995; DEL BRENNA, Giovanna Rosso. Rio eclético – guia para uma
história urbana. Rio de Janeiro, Fundação Rio, 1981, nota 35; NEEDELL, J.A.
Tropical Belle Époque — Elite, Culture and Society in Turn-of-the-Century Rio
de Janeiro. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.
10
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interessante. Nesse campo, sempre houve interesse oficial em conter a expansão
da atividade, por razões econômicas e de segurança, e mesmo a Metrópole não
tinha muito o que oferecer em matéria tecnológica.
11
“as superfícies ornamentadas das grades se dividem entre o desejo de ser fundo
e de ser forma, a despeito da alegria, da melancolia, ou da ferocidade que
evocam, e talvez por este motivo também desejem ser música”. GOULART, Fernanda
Guimaraes. Urbano ornamento: um inventário de grades ornamentais em Belo
Horizonte (e outras belezas). Orientadora Stephane Denis Albert Rene Huchet.
Tese de doutorado. Belo Horizonte, UFMG, 2014, p. 29.
12
GERSON, Brasil. História das ruas do Rio. Rio de Janeiro, Livraria Brasiliana
Editora, 1965.
LENZI, Maria Isabel Ribeiro. Pereira Passos: notas de viagem. Rio de Janeiro,
Sextante, 2000.
SILVA, Olavo Pereira da. Varandas de São Luís, gradis e azulejos. Série
Roteiros do Patrimônio. Rio de Janeiro, Iphan, 2012.
sobre os autores
Margareth Aparecida Campos da Silva Pereira deixou Cuiabá para estudar no Rio,
cidade que se tornou mais tarde em seu objeto de pesquisa. Arquiteta pela UFRJ,
mestre em DEA e doutora em História pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences
Sociales, com pós-doutorado pelo Institut d’Urbanisme de Paris. É Professora
Titular na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ.
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