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04/06/2022 21:48 arquitextos 088.

07: A sustentabilidade urbana: | vitruvius

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088.07 ano 08, set. 2007

A sustentabilidade urbana:
simbiose necessária entre a sustentabilidade ambiental e a
sustentabilidade social (1)
Graziella Demantova e Emília Wanda Rutkowski

088.07
sinopses
como citar

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original:
português

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088

088.00
Los inicios del
urbanismo en la
Argentina
Parte 2 – La acción de
Ernesto Estrada (1)
Ramón Gutiérrez

088.01
Urbanização em rede
Os Corredores de
Atividades Múltiplas do
PUB e os projetos de
reurbanização da Emurb
Projeto de uma infra-estrutura verde para uma “biovaleta” - 1972-1982
1/8 Renato Anelli
088.02
    Agricultura: utopias e
práticas urbanas
Luís Octávio da Silva
088.03
Bollnow e a crítica ao
Hoje a sustentabilidade é ponto central nas discussões sobre o futuro das conforto ambiental
cidades, porque não se reclama apenas pelo direito à cidade, as Aloísio Leoni Schmid
reivindicações sociais e preocupações de estudiosos do espaço urbano,
estão centradas também no direito às cidades sustentáveis. 088.04
A formação da paisagem
Porém as questões que envolvem a problemática ambiental urbana, com na periferia da cidade
exceção de algumas ações pontuais, ainda não apresentam soluções claras e de São Paulo
consistentes na requalificação da qualidade de vida e dos espaços Assunta Viola
construídos. Apesar dos avanços no desenvolvimento de metodologias de 088.05
avaliação de impactos ambientais e da crescente compreensão dos processos Manifestações
que causam degradação ambiental, ainda não existe um consenso sobre o que minimalistas na arte e
é a sustentabilidade urbana porque ainda falta o essencial, a compreensão arquitetura:
do que ela é de fato e não o que deve ser. interfaces e
descontinuidades
Apesar da ampla divulgação da concepção de desenvolvimento sustentável Arthur Campos Tavares
(DS) a partir de 1987, com o Relatório Brundtland (“Nosso Futuro Comum” – Filho
WCED) onde foi definido que este é “aquele que responde as necessidades
do presente de forma igualitária mas sem comprometer as possibilidades de 088.06
sobrevivência e prosperidade das gerações futuras” (2), poucas foram as Análise de
reflexões para melhor entender a efetiva relação da sociedade com o meio acessibilidade a
físico-natural. Como resultado, ainda existem importantes questões na prédios públicos de
discussão da sustentabilidade urbana que precisam ser respondidas para Campina Grande PB com
que seja possível melhor entender: para quem ela deve ser construída e base na ABNT NBR 9050
como é possível incorporar a dinâmica social de uso e produção do espaço João Ademar de Andrade
em estratégias integradas que promovam a conservação ambiental e o bem- Lima
estar humano. 088.08
A pesquisa como elo
entre prática e teoria

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Parece difícil ler, falar de DS nas cidades e não refletir com certo do projeto:
estranhamento quando pouco se fala das pessoas e do lugar onde residem e alguns caminhos
trabalham. Parece apenas interessar no debate a riqueza natural e nela possíveis
não se incluem as pessoas. Como conseqüência, estudos e ações que têm Maisa Veloso e Sonia
como objetivo principal a promoção do desenvolvimento sustentável urbano Marques
acabam, muitas vezes, desconsiderando as relações sociais e o espaço no
088.09
qual estas se reproduzem. Porém para Rodrigues “A aplicação ‘prática’
Arquitetura inatual
do(s) conceito(s) de Desenvolvimento Sustentável ou Sociedade Sustentável
como arquitetura da
só podem ser exeqüíveis se concretizadas no espaço” (3).
diferença [uma
comunicação de afetos e
Dentro desse contexto surge o questionamento: desenvolvimento sustentável
durações]
para quem e onde? Para Henri Acselrad (4) o desenvolvimento sustentável é
Na densidade do espaço
um objetivo que ainda não se conseguiu apreender, e por isso, segundo o
(1)
autor, como é possível definir algo que não existe? O fato é que a partir
Maria Júlia Barbieri
da difusão do conceito de DS, diversos outros foram desenvolvidos para o
tratamento da problemática ambiental, principalmente a urbana. Pelo fato 088.10
de não haver um consenso sobre a definição do conceito, Ascerald provoca Luz revelando a poética
a discussão dizendo que as diferentes representações e valores que vêm dos espaços
continuamente sendo associados à noção de sustentabilidade “são discursos Viviane Tombolato
em disputa pela expressão que se pretende a mais legítima. Pois a Tavares
sustentabilidade é uma noção a que se pode recorrer para tornar objetivas
088.11
diferentes representações e idéias” (5).
A espetacularização do
patrimônio cultural de
Para Arlete Moysés Rodrigues (6) a agregação das palavras desenvolvimento
São Luiz do Paraitinga-
e sustentável é um paradoxo. Isso porque quando se fala em
SP
desenvolvimento, o mesmo não tem limites tendo em vista que a cada
Carlos Murilo Prado
estágio que se alcança, ainda se pode avançar mais. O paradoxo é que
Santos e Maria Tereza
sustentável, segundo argumentação da autora, significa manutenção das
Duarte Paes-Luchiari
condições.

Outra consideração feita por Rodrigues é a de que os recursos a serem


preservados e/ou conservados são destinados à gerações futuras, deixando
de atender as gerações presentes (7). Porém a manutenção de um ambiente
ecologicamente equilibrado depende do uso que se faz do mesmo no
presente. Não é possível preservar algo para o futuro, sem que exista
envolvimento da sociedade presente, já que é esta que se relaciona com o
meio, ou melhor, com o espaço, na construção do futuro desejado. Para
Guillermo Folladori (8) “o conceito de sustentabilidade associado ao
desenvolvimento sustentável inclui não só chegar às futuras gerações um
mundo material (biótico e abiótico) igual ou melhor ao atual, se não,
também, uma equidade nas relações intrageneracionais atuais“.

Para Folladori “Não se pode pensar a equidade se a sociedade é analisada


como uma unidade. Tampouco, medir a equidade se são utilizadas medidas
que ocultam as diferenças sociais” (9). Um dos problemas advindos da
utilização dos princípios do discurso clássico de desenvolvimento
sustentável, é que ao se pensar em uma geração futura, ela se torna
abstrata, uma unidade desconhecida, homogênea, o contrário do que é
necessário para discussão e proposição de medidas que melhorem o grau de
sustentabilidade presente. Porém, as políticas, planos, programas,
metodologias e instrumentos de ordenamento do território foram, na sua
grande maioria, elaborados baseados no conceito de desenvolvimento
sustentável de 1987 e suas derivações.

Dificultando ainda mais o entendimento da problemática ambiental urbana,


muitas das análises ambientais do espaço urbano, utilizam instrumentais
metodológicos e matrizes discursivas (10) de outras ciências como a
biologia e a economia, que dificultam e até não permitem a compreensão
real da complexidade que envolve a produção e organização espacial do
espaço urbano, comprometendo assim a manutenção e/ou melhoria da
sustentabilidade das cidades.

Além destas considerações, a utilização de apenas uma disciplina ou


ciência como base teórica para a discussão da sustentabilidade já é um
começo equivocado em função da natureza do conceito de sustentabilidade
ser “forçosamente interdisciplinar”, dse acordo com o argumento de
Folladori (11). Por isso é importante compreender que as variáveis
críticas que controlam a saúde e o funcionamento de um ecossistema,
contribuindo na manutenção da sustentabilidade, apenas podem ser
determinadas integrando informações das ciências naturais e sociais.

Porém, ainda persiste a visão simplista sobre o espaço urbano, onde é


analisada apenas a estrutura física contida dentro de limites
administrativos (edificações, malha viária, acidentes geográficos,
disposição espacial de usos do solo, redes de equipamentos de infra-
estrutura e serviços urbanos sociais). Constata-se então a necessidade
primeira de uma mudança da visão/ percepção sobre o que é o espaço urbano
e das metodologias de análise espacial das cidades utilizadas. Tal
atitude é necessária para que seja possível não mais olhar as cidades
como sendo um espaço absoluto (estritamente físico), mas sim um espaço
relativo (social e integrado aos recursos e processos ecológicos), no
entendimento de que este é o caminho inicial para a construção de um
processo de sustentabilidade urbana.

Assim será possível compreender que a sustentabilidade urbana, para além


da qualidade e quantidade de recursos naturais, depende da qualidade e
integração do espaço construído com os recursos naturais (adequação de
formas e funções às necessidades sociais e características naturais).
Roberto Luis de Monte-Mór (12) defende a idéia de que a sustentabilidade
no espaço urbano tem relação direta com o grau de permeabilidade e
integração entre o espaço natural e o espaço social, centrados na
conservação das condições ecológicas adequadas às distintas comunidades.

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Compartilhando a defesa da mudança de abordagem Prescott-Allen (13)
afirma que para a realização de uma análise consistente da
sustentabilidade é necessário conhecer a combinação de bem-estar humano e
ecológico, indo de encontro ao entendimento de Monte-Mor acerca da
sustentabilidade urbana. Para Prescott-Allen “uma sociedade está mais
próxima de ser sustentável se sua condição (bem-estar) é alta, e o
estresse (oposto do bem-estar ambiental) sobre o sistema ecológico é
baixo” (14).

Com base nestas discussões é proposto que a sustentabilidade urbana seja


construída através de uma simbiose entre sustentabilidade social (bem-
estar humano alcançado pelo acesso indiscriminado aos serviços de
ecossistemas ofertados – de provisão, de regulação, de suporte e
culturais) e sustentabilidade ambiental (gestão adequada de
ecossistemas).

Dentro desse contexto pode-se dizer que a promoção da qualidade de vida


urbana depende muito, de acordo com Rogers, do entendimento de que as
questões ambientais não diferem das questões sociais, porque na realidade
“as soluções ecológicas e sociais se reforçam mutuamente e garantem
cidades mais saudáveis, cheias de vida e multifuncionais” (15). Ou seja,
é urgente o entendimento de que não é mais possível dissociar a questão
ambiental da social nas discussões sobre sustentabilidade e problemática
ambiental urbana.

No mesmo sentido, Anne Whiston Spirn (16) argumenta que os


administradores e planejadores públicos devem compreender a cidade como
parte da natureza, sem fragmentá-la. Devem projetá-la de acordo com os
processos naturais, aproveitando as potencialidades da natureza “para a
conformação de um habitat urbano benéfico”. Porém a mesma autora
acrescenta, que o valor da natureza só será apreciado e incorporado no
momento em que todo o ambiente urbano for considerado como um único
sistema interativo (17).

Caminhando nesse sentido, algumas mudanças possíveis já foram delineadas


e colocadas no documento Cidades Sustentáveis – Subsídios à Elaboração da
Agenda 21 Brasileira elaborado no ano 2000. Nesta ocasião foram apontadas
quatro estratégias de sustentabilidade urbana, com propostas de ação para
cada uma delas, identificadas como prioritárias para o desenvolvimento
sustentável das cidades brasileiras:

1. "Aperfeiçoar a regulamentação do uso e ocupação do solo urbano e


promover o ordenamento do território, contribuindo para a melhoria
das condições de vida população, considerando a promoção da
equidade, a eficiência e a qualidade ambiental;

2. Promover o desenvolvimento institucional e o fortalecimento da


capacidade de planejamento e gestão democrática da cidade,
incorporando no processo a dimensão ambiental urbana e assegurando a
efetiva participação da sociedade;

3. Promover mudanças nos padrões de produção e consumo da cidade,


reduzindo custos e desperdícios e fomentando o desenvolvimento de
tecnologias urbanas sustentáveis;

4. Desenvolver e estimular a aplicação de instrumentos econômicos no


gerenciamento dos recursos naturais visando a sustentabilidade
urbana” (18).

Porém existem alguns entraves que dificultam o rearranjo espacial das


cidades, segundo Krebs (19), em função da “obediência irrestrita aos
princípios ditados pelo urbanismo funcionalista que ao fragmentar
demasiadamente o espaço e o tempo urbano, de acordo com funções
predeterminadas faz com que em muitas áreas da cidade certos equipamentos
ou amenidades não façam o menor sentido, pois, pelas circunstâncias
urbanísticas impostas ou inexistentes, carecem de usuários para delas se
servirem”. Além disso a autora ainda aponta a questão da “carência de
recursos financeiros para a realização de pequenas medidas de construção
da urbanidade, reforçada por uma cultura segundo a qual somente grandes
obras resolverão os problemas urbanos” (20).

Além da conscientização e clareza dos conceitos que fundamentam as


análises espaciais do espaço urbano, se faz necessária a elaboração de
novas estratégias para o desenho da paisagem que promovam arranjos
espaciais (forma e conexão) capazes de manter a gestão adequada dos
processos ecológicos (sustentabilidade ambiental) e a oferta
indiscriminada de seus serviços à população (sustentabilidade social). Os
planejadores, engenheiros, arquitetos e urbanistas, devem considerar em
seus projetos a identidade natural e vocação do lugar (não só físico-
ambiental mas social também), de modo a ajustar a cidade e seus espaços
construídos na paisagem.

Para isso devem entender que o meio ecológico é um tipo de infra-


estrutura existente que desempenha importantes e diferenciadas funções
para a manutenção e melhoria da sustentabilidade urbana. Existem inúmeros
serviços de ecossistemas que podem ser ofertados para ampliar a
preservação ambiental nas cidades e promover o bem-estar humano, enquanto
uma estratégia integrada de conservação ambiental, que resulta na
necessária simbiose entre sustentabilidade ambiental e social.

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De acordo com a Avaliação Ecossistêmica do Milênio – AEM (“Millennium
Ecosystem Assessment” – MEA) (21) existem quatro categorias de serviços
de ecossistemas que influenciam o bem-estar humano: serviços de provisão
(alimentos, água, madeira e fibras); serviços reguladores (que afetam
climas, inundações, doenças, resíduos e a qualidade da água); serviços
culturais (que fornecem benefícios recreacionais, estéticos e
espirituais); e serviços de suporte (formação do solo, fotossíntese e
ciclo de nutrientes).

Dentro destas quatro categorias de serviços de ecossistemas existem


muitos outros que podem ser derivados, principalmente se pensarmos no
contexto urbano. Per Bolund e Sven Hunhammar argumentam que “Também
existe a presença de ecossistemas naturais dentro dos limites das
cidades. Os ecossistemas naturais urbanos contribuem para a saúde pública
e para o aumento da qualidade de vida dos cidadãos urbanos, tendo como
exemplo a melhoria da qualidade do ar e a redução de barulho” (22).

Além disso, se levarmos em consideração que “A maioria dos problemas


urbanos são gerados localmente [...] o único jeito de lidar com esses
problemas locais é através de soluções locais. A esse respeito, os
ecossistemas urbanos são vitais” (23). Por esse motivo não devem ser
padronizados os usos e desenhos (forma e conexão) dos projetos de
reabilitação das estruturas ambientais pois em cada localidade existem
diferentes tipos de serviços ecossistêmicos influenciando a qualidade de
vida e a preservação dos recursos naturais e processos ecológicos.

Para Per Bolund e Sven Hunhammar “os serviços de ecossistêmicos gerados


localmente têm tem um impacto substancial na qualidade de vida nas áreas
urbanas e devem ser adicionados no planejamento de uso da terra” (24).

Em sua avaliação, os autores (25) definem sete tipos diferenciados de


serviços de ecossistemas para as áreas urbanas, mas argumentam que ainda
dentro destes possam ser derivados outros também importantes: (i) árvores
urbanas, nas ruas (street trees), que são árvores posicionadas sozinhas,
muitas vezes circundadas por pavimento em volta; (ii) gramado (lawns) e
playground e outras áreas verdes manejadas; (iii) parques (parks), podem
estar incluídos neste grupo campos de golfe por exemplo; (iv) florestas
urbanas (urban forests) que são as áreas menos manejadas com árvores
dispostas mais densamente do que nos parques; (v) terras cultivadas
(cultivated land) e jardins que são utilizados para cultivar vários tipos
de alimentos; (vi) terras alagadas (wetlands) de todos os tipos e
pântanos e; (vii) lagos (lakes), mar (sea) e riachos (streams) que dizem
respeito à áreas abertas de água.

Apesar da possibilidade de serem utilizados em todo tipo de cidade, os


autores acham importante frisar que os benefícios e tipos de serviços
variam em função do clima, tamanho das cidades entre outros fatores
intervenientes. E ainda segundo eles, “É possível contudo, colocar mais
ecossistemas urbanos ou elementos em alguma das categorias mencionadas
acima”, por exemplo existem áreas dentro da cidade, como depósito ou
áreas abandonadas de jardins que também podem conter populações
significantes de plantas e animais e deve-se aproveitar tal potencial
para a execução dos projetos.

Além de conhecer os tipos de serviços de ecossistemas que podem ser


utilizados nas cidades de modo a ampliar a preservação ambiental e a
qualidade de vida dos habitantes, é importante saber também como utilizá-
los. Existem projetos de natureza e escalas diferenciadas que conseguem
utilizar os valores ecológicos para o alcance de tais objetivos. Dentre
eles destacam-se quatro principais: parkways (caminhos com largura
considerável, com vegetação, contemplando diversas modalidades de
transportes, conectadas aos parques), blueways (caminhos azuis,
normalmente associados a cursos d´água, com passeio de pedestre e
ciclovias), greenways (caminhos verdes que têm o mesmo sentido do
primeiro, mas não necessariamente ligado a cursos d’água, possuindo a
característica de conectar porções de terras lineares com usos múltiplos
ao longo do percurso sempre com foco no bem-estar humano e na preservação
ambiental) e a green-infraestructure (infra-estrutura verde que são
porções de terra, desde de jardins de chuva até redes regionais de
espaços abertos). Esta última categoria, ainda conecta um lugar ao seu
contexto bioregional e integra funções ecológicas e sociais ao desenho da
estrutura, auxiliando na promoção da sustentabilidade urbana. Alguns dos
serviços de ecossistemas que podem ser obtidos com o desenho e
implementação da infra-estrutura verde são: regulação micro-climática,
redução de ruídos, drenagem de águas pluviais, tratamento de esgoto, e
promoção de valores culturais e recreacionais.

Mas, ainda se faz necessária uma melhor compreensão do potencial de uso


deste tipo de infra-estrutura e uma mudança de estratégia no
desenvolvimento e execução de projetos que consigam alterar o
funcionamento dos ecossistemas na melhoria ou manutenção da
sustentabilidade urbana. A criação de caminhos verdes ou de infra-
estrutura verde tem o potencial de ser uma ferramenta ecológica para a
saúde ambiental, social e econômica, resumida no sistema natural de
suporte de vida (26). O objetivo principal da criação de ambos é buscar o
ajuste ideal entre recursos naturais e sociais, com estratégias de
conservação adequadas ao lugar, de modo a promover o desenvolvimento
necessário e equilibrado. As principais iniciativas nesse sentido vêm
sendo realizadas principalmente nos Estados Unidos e na Europa com a
criação dos caminhos verdes (greenways) ou da infra-estrutura verde
(green-infraestructure).

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É chegado o tempo dos estudiosos e profissionais do espaço urbano
(elementos físico-naturais e sociais) compreenderem que a importância da
manutenção e do equilíbrio do meio ambiente urbano não é conseguida
apenas com práticas preservacionistas dos processos ecológicos e da
biodiversidade,tão difundida com o conceito de desenvolvimento
sustentável de 1987. Tal meta também não é alcançada com o embelezamento
das cidades apenas com práticas paisagistas, quase sempre não funcionais.
É preciso buscar o ajuste necessário entre recursos naturais e espaço
construído (vivido) no atendimento dos anseios da sociedade pela produção
de espaços que desempenhem usos adequados e promovam assim o bem-estar de
seus habitantes.

Além da necessidade de se repensar e projetar o espaço urbano integrando


os recursos naturais e sociais, pela mudança da visão de espaço absoluto
até então adotada, se faz necessária também outra integração na esfera
política, entre os instrumentos jurídicos ambientais e urbanísticos na
tentativa de se alcançar a sustentabilidade das cidades.

Apesar de ambos os instrumentos possuírem objetivos essenciais para que


se inicie o processo da sustentabilidade desejada, o primeiro tem como
objetivo imediato à proteção e defesa do meio ambiente e o segundo a
ordenação e planejamento do espaço urbano (27). Cada um tem especial
participação no alcance da sustentabilidade social e da sustentabilidade
ambiental apresentadas. A defesa e proteção do ambiente é exigência
primeira para a gestão adequada de ecossistemas que possam ofertar
serviços diferenciados na promoção do bem-estar humano. Porém ela só pode
ser alcançada se a ordenação do espaço urbano for direcionada também para
este objetivo.

Quando aqui se defende que a sustentabilidade urbana pode ser alcançada


pela simbiose entre sustentabilidade social e ambiental, sugere-se então
repensar e propor novas abordagens que fundamentem a elaboração de tais
instrumentos de modo que os municípios efetivamente protejam e defendam
não só a qualidade ambiental, mas também e de forma integrada, a
qualidade de vida de seus habitantes pelo grau de bem-estar adquirido. E
assim acredita-se ser possível reverter o quadro geral dos municípios
brasileiros onde a produção do espaço ainda possui uma dinâmica
independente dos planos e programas de desenvolvimento implementados
(sustentáveis ou não), que se baseiam no que a cidade (28) deve ser e não
no que ela é.

notas

O conteúdo desse texto é parte da fundamentação teórica elaborada para o exame


de qualificação de doutorado apresentado à comissão de pós-graduação da
Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC-UNICAMP), como
parte dos requisitos para a obtenção do título de doutor em engenharia civil,
na área de concentração de Saneamento e Ambiente, que foi aprovado em 13 de
dezembro de 2006.O título da tese é: “As Redes Ambientais e a Sustentabilidade
Urbana: diversidade e a conexão entre pessoas e lugares”.

BRUNDTLAND, Gro Harlem. Our common future (”The brundtland report”). United
Nations, World Commission on Environment and Development, abr. 1987.

RODRIGUES, Arlete Moysés. “O meio ambiente urbano: algumas proposições


metodológicas sobre a problemática ambiental”. In SILVA, José Borzacchiello da;
COSTA, Maria Clélia Lustosa; DANTAS, Eustógio Wanderley C. (Org.). A cidade e o
urbano: temas para debates. Fortaleza, EUFC, 1997, p. 101.

ACSELRAD, Henri. A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas


urbanas. Coleção espaços do desenvolvimento. Rio de Janeiro, P&A Editora /
CREA-RJ, 2001. p. 101.

Idem, ibidem, p. 101.

RODRIGUES, Arlete Moysés. “Meio ambiente e desenvolvimento”. In Curso de Gestão


Urbana e de Cidades. EG/FJP WBI LILP ESAF IPEA Escola de Governo Professor
Paulo Neves de Carvalho. Belo Horizonte – Brasil, 2001. Acessado em 08/11/2006
no endereço eletrônico:
<www.eg.fjp.mg.gov.br/gestaourbana/arquivos/modulo07/mod7arq10.html>.

Idem, ibidem.

FOLADORI, Guillermo. “Sustentabilidad ambiental y contradicciones sociales”. In


Ambiente & Sociedade. Ano II, n. 5, 2º, 1999, p. 32.

Idem, ibidem, p.19-20.

10

“As matrizes discursivas devem ser entendidas como modos de abordagem da


realidade, que implicam diversas atribuições do significado. Implicam também em
determinadas categorias de nomeação e de interpretação como na referência a
determinados valores subjetivos”. SADER, 1988. Apud RODRIGUES, Arlete Moysés.

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“O meio ambiente urbano: algumas proposições metodológicas sobre a problemática
ambiental” (op. cit.), p. 90.

11

FOLLADORI, Guillermo. Op. cit., p. 27.

12

MONTE-MOR, Roberto Luis de. “Urbanização extensiva e lógicas de povoamento: um


olhar ambiental”. In Território, globalização e fragmentação. São Paulo,
Hucitec, 1994.

13

Apud VAN BELLEN, Hans Michael. “Sustainable development: presenting the main
measurement methods”. 2002. Ambiente Sociedade, v. 7, n. 1, Campinas, 2004.
Disponível em: <www.scielo.br/pdf/asoc/v7n1/23537.pdf>. Acesso em 13 nov. 2006.

14

Apud VAN BELLEN, Hans Michael. Op. cit., p. 85.

15

ROGERS, Richard; GUMUCHDJIAN, Philip. Cidades para um pequeno planeta.


Barcelona, Gustavo Gili, 2001. p. 32.

16

SPIRN, Anne Whiston. O jardim de granito: a natureza no desenho da cidade.


Tradução de Paulo Renato Mesquita Pellegrino. São Paulo, Edusp, 1995.

17

Idem, ibidem, p.15

18

Agenda 21 brasileira, 2000, p. 15.

19

KREBS, Alzira Pereira. Legislação urbana e (des) construção da urbanidade: uma


análise observacional dos efeitos das leis municipais na perspectiva de um
técnico. Dissertação de mestrado em Engenharia de Produção. Florianópolis,
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, 2002, p. 178.

20

Idem, ibidem, p.178

21

O objetivo desta avaliação é avaliar as conseqüências das mudanças nos


ecossistemas sobre o bem-estar humano. Além deste, outro objetivo é o de
estabelecer uma base científica para fundamentar ações necessárias para
assegurar a conservação e o uso sustentável dos ecossistemas bem como suas
contribuições para o bem-estar humano. Ela fornecerá importantes informações
científicas à Convenção sobre Diversidade Biológica, Convenção sobre Combate à
Desertificação, Convenção de Ramsar sobre Zonas Úmidas e à Convenção sobre
Espécies Migratórias, como também para vários usuários no setor privado e na
sociedade civil. A AEM foi realizada por 1.360 cientistas naturais e sociais de
95 países, revisada por outros 600 especialistas, composta por representantes
de governos, empresas, ONGs, agências da ONU, acadêmicos e populações
indígenas, o que representa o caráter científico desta avaliação. Esta foi
Lançada pelo Secretário General das Nações Unidas, Kofi Annan, em junho de 2001
e finalizada em março de 2005. Para obtenção de maiores informações sobre a
avaliação acessar o website da AEM: www.MAWeb.org.

22

BOLUND, Per; Hunhammar, Sven. “Ecosystem services in urban areas”. 1999.


Elsevier, Ecological Economics 29 (1999) 293–301. p. 294. Disponível em:
<www.urban.uiuc.edu/courses/up205/Sp05/AD4group4.pdf>

Acesso em 03 de maio 2007.

23

Idem, ibidem, p. 294.

24

Idem, ibidem, p. 294

25

Idem, ibidem, p. 293

26

BENEDICT, Mark A.; MCMAHON, Edward T. “Green infrastructure: linking landscapes


and communities”. Washington, DC: Island Press. 2006.p.06

27

ROCHA, Julio César de Sá da. Função ambiental da cidade: direito ao meio


ambiente urbano ecologicamente equilibrado. São Paulo, Juarez de Oliveira,
1999.

28

Entende-se aqui cidade não apenas como a sede do município, mas sim como o
espaço urbano, constituído de elementos físico-naturais e a vida que os anima,
que o produz e o consome.

29

Todos os desenhos de projetos de infra-estrutura e fotografias deste artigo são


cortesia de Nate Cormier, ASLA, LEED AP, Senior Landscape Architect at SvR
Design Company, natec@svrdesign.com.

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sobre os autores

Graziella Cristina Demantova é Arquiteta e Urbanista (Puccamp, 1999), Mestre em


Engenharia Agrícola (FEAGRI-UNICAMP, 2003), doutoranda na Faculdade de Eng.
Civil, Arquitetura e Urbanismo (DSA- FEC-UNICAMP), pesquisadora do Laboratório
Fluxus (DSA- FEC-UNICAMP) em dois grupos : APPs urbanas e Ordenamento
Territorial.

Emília Wanda Rutkowski é Professora FEC/UNICAMP; doutora em Arquitetura e


Urbanismo – FAU/USP; MSc em Limnologia – University of Sterling, Escócia;
Bióloga – UFMG; coordenadora do Laboratório FLUXUS e chefe do Depto. de
Saneamento e Ambiente – FEC/UNICAMP.

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