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058.10 ano 05, mar. 2005

Mies-en-scène. A propósito do McCormick Tribune Campus


Center, Chicago, Rem Koolhaas/OMA, 1998-2003
Renato Leão Rego

  058.10
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058
058.00
Alexandre Altberg e a
Entrada do McCormick Tribune Campus Center, Rem Koolhaas Arquitetura Nova no Rio
1/7 de Janeiro
Pedro Moreira

    058.01
Ronchamp e La Tourette:
machines à emovoir
Fábio Müller

058.02
A nova história do
como citar século XIX e a
REGO, Renato Leão. Mies-en-scène. A propósito do McCormick Tribune Campus redescoberta da
Center, Chicago, Rem Koolhaas/OMA, 1998-2003. Arquitextos, São Paulo, ano 05, dimensão imaginária da
n. 058.10, Vitruvius, mar. 2005 arquitetura
<https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.058/494>. Marcelo Puppi

058.03
“Metropolitan OMA produces an architecture that embraces aspects Incubadoras urbanas.
of the maligned metropolitan condition with enthusiasm, and which Políticas de
restores mythical, symbolic, literary, oneiric, critical, and revitalização urbana
popular functions to large urban centers. An architecture which através de subculturas.
accommodates and supports the particular forms of social A experiência
intercourse, characteristics of metropolitan densities, an paulistana e o contexto
architecture that houses in the most positive way the Culture of internacional
Congestion” (Rem Koolhas) (01) Merten Nefs

Mies van der Rohe tratou de construir uma metáfora do seu tempo (2). Rem 058.04
Koolhaas fez o mesmo ao erguer o McCormick Tribune Campus Center, bem no Sobre a estética das
coração do Instituto Illinois de Tecnologia, cercado de edifícios cidades. Camillo Sitte
miesianos. e a Der Stadtebau
Marialice Faria Pedroso
Pense nos estudantes que acudiam às aulas de Mies, em meados do século 058.05
passado, com ternos escuros, gravata e chapéu, distintos do universitário Turismo de naturaleza
do século XXI, na moda e nos modos. Eclético, multicolorido, en las zonas de uso
descontraído, o coletivo estudantil, sem exclusividade para o alunado do público de las áreas
IIT, é o retrato de uma sociedade da informação, da comunicação, do protegidas de la Región
intercâmbio cultural, do consumo de massa. Seu cenário já não pode ser Sur Oriental de Cuba
aquele da era da máquina. Maritza Espinosa
Ocallaghan
Os prédios que Mies construiu no campus que ele próprio projetou em
Chicago respondem à composição regida pelo princípio de ordem, consoante 058.06
com a beleza apolínea. A estratégia projetual de Mies estava calcada na Dize-me teu nome, tua
redução e na simplificação; a de Rem Koolhaas e seu escritório pode ser altura e onde moras e
entendida, por contraste, como a da multiplicidade e adição. Aqui a ordem te direi quem és:
é outra. Agora, mais é mais. estratégias de
marketing e a criação
da casa ideal 2
A arquitetura de aço (negro) e vidro de Mies contrasta com a sobreposição Luiz Manuel do Eirado
de estampas, cores e materiais da arquitetura de Koolhaas. Os edifícios Amorim e Claudia
de Mies, e neste caso em especial o Crown Hall, impõem-se à paisagem com Loureiro
sua forma regular, destacada do chão, e criam, no interior, uma amplitude
058.07
governada pelas lajes horizontais de piso e teto, pela sobriedade de
Cidades reais e
materiais nobres e pela ausência harmoniosa... É como um templo, cujo
imaginárias no cinema
espaço sagrado é sempre melhor apreciado sem a interferência do vai-vem,
André Pereira de Souza
a aglomeração e a pressa das pessoas. O McCormick Tribune, pelo
contrário, se revela com a participação da variedade, da multiplicidade, 058.08
da velocidade e da presença da gente que ocupa e transita pelo edifício. Panorama emergente
Neste sentido, se aquele abstrai o mundo exterior, este o enfatiza. iberoamericano
Ariadna Cantis, Izaskun
Para quem chega ao campus pelo trem elevado que o atravessa, a paisagem Chinchilla e Alexandre
se divide entre a regularidade formal e a homogeneidade escura e Cafcalas
envidraçada dos blocos de Mies e o colorido (predominantemente
058.09
alaranjado), o estampado, a aproximação de distintos materiais e texturas
Vista Alegre, una
e o contorno variado do edifício de Koolhaas. Com freqüência, o trabalho
mirada a la modernidad
deste arquiteto holandês e de sua equipe literalmente multinacional – o
en Santiago de Cuba
Office for Metropolitan Architecture (OMA) – demonstra o fascínio que
Milene Soto Suárez e
sentem pelo ecletismo do universo metropolitano. Pretendem responder às
María Teresa Muñoz
questões suscitadas pelas metrópoles de uma sociedade de consumo de massa
Castillo
e de comunicação acelerada e focalizam uma particularidade da cena
urbana: a concentração de modos de existência e de comportamentos 058.11
distintos, e com isso a variedade e a pluralidade dos grandes centros. Captar o efêmero
Mônica Schramm e
A construção de Koolhaas também se faz de “pele e osso”, como as de Mies, Beatriz de Abreu e Lima
mas recobre-se com materiais inusitados e efeitos chamativos,
impulsionados pelo experimentalismo.

Rem Koolhaas/OMA foram finalistas, junto com Helmut Jahn, Kazuyo Sejima,
Peter Einsenman e Zaha Hadid, do concurso internacional promovido em 1997
para a escolha do projeto para este centro de convivência, por assim
dizer.

O edifício de OMA/Koolhaas no IIT é um daqueles edifícios-com-grife que


acabam por colocar a cidade que os acolhe na rota do turismo e do
interesse arquitetônico internacional (Além deste edifício, o campus
universitário do IIT também conta com um alojamento de estudantes
projetado por Helmut Jahn e recentemente inaugurado; Rafael Viñoly está
terminando sua School of Business na Universidade de Chicago e a cidade
volta a investir em arquitetura com um anfiteatro de Frank O. Ghery quase
finalizado). Suas imagens ocupam as capas das revistas – especializadas
ou não – e a fama não é só dos edifícios; seus projetistas enchem
auditórios e, como estrelas do rock ou do esporte, movimentam milhões
(3).

O programa do edifício que deveria servir como ponto de convergência para


a vida acadêmica e social dos estudantes incluía: centro de boas-vindas,
auditório, salas de reunião, restaurante, lanchonete, livraria, agência
de correio, loja de conveniência, sala de computadores, de jogos,
fotocopiadora, e outros itens mais. O terreno, no coração do campus,
próximo ao Crown Hall, era cortado pela linha férrea elevada que
atravessa a cidade universitária. A solução esperada era um bloco
vertical, com três ou quatro pavimentos, posicionado como um escudo
diante da ferrovia, para mitigar os efeitos do trem elevado. (Junto ao
edifício de Koolhaas, Helmut Jahn construiu, rente à ferrovia, um bloco
habitações para estudantes que adota esta solução).

Mas o projeto de OMA/Rem Koolhaas fez opção por um bloco horizontal, com
mais de 10.000m2, instalado sob a via férrea elevada que é recoberta por
um tubo metálico de 160m de comprimento de modo a amenizar o ruído dos
trens no interior do edifício. Ao invés de evitar a via férrea, o
edifício se agarra a ela, com uma inflexão na sua cobertura – um telhado
borboleta – que visualmente facilita a acomodação da seção elíptica do
tubo.

A edificação é um invólucro transparente, praticamente retangular, com um


interior fragmentadamente multifuncional. O desenho do espaço interno se
inspirou no desenho das trilhas dos estudantes que transitavam pelo o
terreno vazio, sob a ferrovia. Cada item do programa assume uma
conformação distinta e uma posição isolada na planta do edifício; cada um
destes ‘edifícios’ está articulado para criar vizinhanças – acadêmica,
comercial, 24h, de lazer, de entretenimento: são elementos urbanos em
miniatura. Sem fragmentar a ‘caixa de vidro’ e com a autonomia de cada
peça interna, se refaz a rede de passagens entre os dois lados da
ferrovia e ainda se criam ruas, praças e ilhas urbanas ao longo delas.
Deste modo, o edifício conteria a própria condição urbana.

Com a autonomia destas pequenas ‘edificações’, fragmentadas pela


circulação na amplitude do edifício-invólucro, e justamente pela unidade
da cobertura e a separação entre estrutura e fechamento, vamos perceber
os pilares independentes: tantos os de concreto aparente que suportam a
via férrea, quanto aqueles pintados de preto que sustentam o tubo, além
dos apoios metálicos, com perfil I, que erguem a laje de concreto da
cobertura.

Separada a estrutura da vedação, vemos quase todo o edifício é fechado


com esquadrias de alumínio e painéis transparentes e opacos, coloridos ou
não; episodicamente aparecem paredes de alvenaria, brancas ou negras –
como lousas à espera do giz – e, no caso da empena, ela é ‘camuflada’:
sobre um fundo preto estão pintados os veios carmim que estampam o muro
praticamente cego. Há divisórias internas cujas faces estão estampadas
com painéis fotográficos.

Prosseguem a variedade de materiais e a experiência com cores e texturas:


o piso é de chapas de alumínio, na circulação, e, nas salas, de epoxy
verde. O forro deixa à vista as placas drywall verdes, sem pintura ou
qualquer outro acabamento, com rejuntamento de gesso aparente.
Superfícies de fibra de vidro ou resina de poliéster fazem balcões,
mesas, painéis, paredes – translúcidos e coloridos.

A sala de computadores, na verdade um espaço semi-enterrado na amplitude


do lounge, é um beco, rampado, guarnecido com bancada e tamboretes, tudo
completamente tingido de vermelho. O restaurante, também semi-enterrado
no centro da planta, está mergulhado sob um jardim enclausurado que lhe
dá luz; até ele se chega por uma escada ou uma rampa que se sobrepõem
diagonalmente. Aí um amarelo mais cítrico faz reluzir o mobiliário.

A conformação da planta triangular dos banheiros é revestida com painéis


alaranjados translúcidos e placas metálicas e a tubulação hidráulica,
parcialmente exposta, acentua o caráter experimental de todo o acabamento
da construção.

As cortinas que cerram o auditório possuem a estampa de uma árvore


desenhada por Mies – a imagem negra sobre o tecido branco no lado interno
e, no avesso, branca sobre o fundo preto.

Na entrada principal do edifício o rosto de Mies aparece estampado nos


vidros da fachada: arte de um pontilhismo feito com pequenos ícones, como
o das placas de trânsito, mostrando um mosaico de figuras humanas em
atividade. Nas demais entradas aparece o nome do prédio escrito como que
com pixels na fachada.

Na constituição da planta da edificação, o projeto de Koolhaas faz uma


nova aproximação à análise modernista da função; a idéia de planta livre
é aí levada aos últimos termos – como vimos na organização de ‘edifícios’
autônomos instalados na amplitude da caixa de vidro, cujos suportes se
destacam do fechamento.

Deste modo, há, como não, uma reconsideração da arquitetura do Movimento


Moderno, sem recuperar, evidentemente, sua idéia de ordem compositiva ou
seus critérios mais estritamente racionalistas aplicados na configuração
da edificação (4). Tampouco se pode deixar de sentir a influência do
Venturi teórico dos anos 60. O pós-modernismo de Rem Koolhaas não é
historicista ou formalmente restrospectivo, mas opera com a complexidade,
o fragmento, além da citação e da ironia. E, deste modo, Koolhaas põe
novamente em cena a arquitetura de Mies, mas, ao mesmo tempo em que a
convoca, a contesta. Rem Koolhaas sabe armar o espetáculo.

notas

1
KOOLHAAS, R. e MAU, Bruce. S, M, L, XL. Nova York: The Monacelli Press, 1995.
P.926.

2
“La arquitectura es la voluntad de una época traducida el espacio”. “Nuestros
edificios utilitarios sólo pueden hacerse dignos del nombre de arquitectura si
interpretan fielmente su tiempo, con su perfecta expresión funcional”. MIES VAN
DER ROHE, L. Escritos, diálogos y discursos. Madri: Colegio Oficial de
Aparejadores y Arquitectos Técnicos, 1982, p. 31 e 33.

3
Cf. ZABALBEASCOA, A. Arquitectos-estrella. Madri, El País Semanal, 29.02.2004.

4
“Yo admiro sinceramente sus ideas (de Mies e de Kahn); mi única crítica es que
fueron fatalmente atraídos por la idea del orden, y su aparente obligación de
lidiar con ella mediante la arquitectura. Su pensamiento me parece fascinante
pero increible al mismo tiempo, porque si bien su discurso es completamente
convincente, la necesidad de articularlo en términos puramente arquitectónicos
es muy cuestionable”. Rem Koolhaas in: OMA/Rem Koolhaas – 1987/1993. El
Croquis, n.53. Madrid, 1994. p. 16.

sobre o autor

Renato Leão Rego é doutor em arquitetura pela ETSA Madrid e professor adjunto
da Universidade Estadual de Maringá, onde atualmente coordena o curso de
Arquitetura e Urbanismo

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