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07: O arquiteto e o planejamento ambiental e os riscos da falta de discussão | vitruvius

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015.07 ano 02, ago. 2001

O arquiteto e o planejamento ambiental e os riscos da


falta de discussão
Ângelo Marcos Arruda

015.07
sinopses
como citar

idiomas

original: português

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015

015.00
Carmen Portinho (1903-
2001)
Sufragista da
arquitetura brasileira
Roberto Segre

Desenhos de Le Corbusier para "Os Três Estabelecimentos Humanos": 1. a 015.01


unidade de cultivo; 2. a cidade industrial e 3. a cidade das trocas, As Olimpíadas de 2008
radiocêntrica em Paris e a
1/4 participação de Paulo
Mendes da Rocha
    Cecília Scharlach

015.02
As portas da percepção
Emanuel Dimas de Melo
Pimenta
Desenvolvimento sustentável; plano de gestão ambiental; conservação de
recursos naturais; ética ecológica; proteção dos recursos naturais; meio 015.03
antrópico; ambiente natural; cenários ambientais; ecologia urbana; fontes O design* como
renováveis; biomassa; licenciamento ambiental; EIA (Estudo de Impacto ferramenta para o
Ambiental), RIMA (Relatório de Impacto Ambiental). Essa é a nova metabolismo
linguagem que os arquitetos estão tendo que apreender para atuar no mais cognoscitivo
novo mercado de trabalho brasileiro e mundial, o do Planejamento Da produção à
Ambiental. Essa matéria tem avançado tanto nos diplomas legais e nas apresentação do
práticas urbanas que devemos parar para pensar acerca de sua compreensão, conhecimento (1)
aplicação, metodologia, etc., face à existência do Planejamento Urbano, Gui Bonsiepe
campo profissional do arquiteto e até das duplicidades existentes. 015.04
Dona Fifina é pós-
Afinal, o que está acontecendo de novo que o arquiteto tem que correr moderna (e nem sabia)
atrás de tantas e de novas informações? O que diferencia o Planejamento Lineu Castello
Ambiental do nosso Planejamento Urbano? Porque mudaram as palavras, mas
mantiveram o método? Porque na composição das equipes técnicas para 015.05
trabalhos de planejamento ambiental, um biólogo, zootecnista ou ecólogo Alex Flemming,
tem, às vezes, mais importância, no conjunto, que os arquitetos e antologia nos limites
urbanistas? Quais os motivos que estão levando a sociedade a se do corpo
preocupar, tanto, com as questões ambientais que aparecem sempre meio Ane Mae Barbosa
disfarçadas no bojo da discussão urbanística? Será que os arquitetos não 015.06
estão preparados para essa nova onda global? Esses e outros assuntos Voltando às origens
andam me incomodando muito e espero, nesse pequeno texto, levantar pontos A revitalização de
que possam contribuir com o debate, saídas, alternativas, dentre tantas áreas portuárias nos
coisas que acredito, temos que fazer. centros urbanos (1)
Vicente del Rio
Reflexão sobre a situação atual
015.08
Foi a partir de 1981, com a edição da Lei federal 6.938, que instituiu a Para evitar a
Política Nacional de Meio Ambiente e criou o Conselho Nacional de Meio construção de uma
Ambiente - CONAMA, que surgiu a figura do Estudo de Impacto Ambiental/ paisagem sonora
Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), como um "conjunto de autista, é preciso
procedimentos destinados a analisar os efeitos dos impactos ambientais de saber ouvir a
um determinado projeto, a sua influência e a forma de implantação dos arquitetura

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mesmos". Hoje, o EIA/RIMA, é um poderoso instrumento regulador dos Osvaldo Emery e Paulo
destinos de uma determinada intervenção, de um projeto urbanístico ou Afonso Rheingantz
arquitetônico. Mas foi a partir da ECO 92, ocorrida no Rio de Janeiro,
015.09
que os dirigentes do mundo inteiro pararam para refletir acerca da
A questão da ética e da
questão ambiental rural e urbana e coletivamente, decidiram aplicar
estética no meio
normas mundiais em todos os países, pobres e ricos, de sorte que se
ambiente urbano ou
inverteram as posições: abater uma árvore ou matar um jacaré, no Brasil
porque todos devemos
passou a ser crime inafiançável enquanto matar um ser humano, se réu
ser belezuras
primário, responde em liberdade. Essa é uma das mais fortes contradições
Issao Minami e João
existentes atualmente e que baliza essa discussão: dá-se mais importância
Lopes Guimarães Júnior
a fatos ambientais que a fatos humanos, no pretexto de proteger a
natureza como bem da humanidade e não se protege o homem como bem da
natureza.

A legislação ambiental tem tido mais vigor que a legislação urbanística;


uma Promotoria de Meio Ambiente ocupa mais espaço, na justiça e na mídia,
que a Promotoria que cuida do patrimônio cultural, urbanístico e
paisagístico; há leis federais, estaduais e municipais em grande
quantidade e diplomas legais que superam, em muito, a temática
urbanística; um EIA/RIMA se sobrepõe a normas de uso e de ocupação do
solo urbano; uma audiência pública ambiental é mais importante que um
sério estudo técnico elaborado por equipes e consultorias balizadas e por
aí vai. Com essa realidade, hoje, quase 10 anos depois, os arquitetos
estão ficando profissionais reféns de outros profissionais como os
biólogos, engenheiros florestais, ecólogos e principalmente das ONG’s
ambientalistas, na medida em que, a discussão retórica ambiental deu
lugar a discussão do projeto urbanístico e paisagístico e da arquitetura,
dos espaços e da importância sócio-urbanística do trabalho do arquiteto.
Estamos reféns, também, da forma de analisar nosso trabalho, seja pelas
estruturas administrativas municipais, estaduais e federais ou até de
comunidades organizadas em audiências públicas, ou seja, a falta de
critérios técnicos definidos, pela novidade da matéria e pela nossa pouca
participação, discussão e até formação deles na área, que tem contribuído
para minimizar os debates e reduzi-los a fatos ambientais, apenas.

Nossos projetos arquitetônicos e urbanísticos são avaliados e julgados


por técnicos que não entendem de espaço construído, muito menos de
arquitetura e sequer sabem ler uma planta, um corte e até um memorial.
Com isso, estamos assistindo a um filme novo, cheio de novas linguagens,
roteiro e forma de abordagem, que tem avançado no país como um todo e que
vemos poucos diretores arquitetos atuando nessa filmagem. O documento da
Agenda 21, em apreciação em todo o Brasil e que agora desceu para a
escala municipal, diz que "a redução da pobreza só será possível mediante
o planejamento e a administração sustentável do solo" e na falta de
definições para o urbano, essa regra vem sendo aplicada para as cidades,
inclusive. A cada análise de projeto para licenciamento ambiental, nos
vemos manietados por pareceres técnicos elaborados por profissionais
ditos da área mas que na verdade não possuem habilitação urbanística para
compreender os processos urbanos como um todo. Afirmam eles que o mundo
pode acabar caso não haja restrições duras de como ocupar o solo e seus
usos; afirmam os ambientalistas que eles detém a mais alta capacidade de
compreender as necessidades ambientais de um lugar e com isso impedem a
discussão abrangente do urbanismo, desenvolvimento integrado, uso do
solo, etc.

No caso dos Conselhos ambientais criados pela Lei de 1981, os mesmos


passaram a ser deliberativos, falam mais alto que a administração pública
e, na visão puramente empresarial, emperram o desenvolvimento: durante
meses discutem o que deve ser feito e enquanto isso, o empreendimento se
destrói. No caso de Mato Grosso do Sul, um Estado que possui recursos
ambientais impressionantes e, o mais conhecido deles, o Pantanal, há um
Conselho Estadual que não possui nenhum arquiteto, muito menos na
Secretaria de Meio Ambiente; no caso de Campo Grande, o Conselho
Municipal é composto por entidades que se revezam através de uma
discussão em Fórum mas que os arquitetos entram e saem, na medida da
composição política do Fórum e do IAB local. A municipalização do
licenciamento ambiental entregue pelo CONAMA, em 1999, tem obrigado as
prefeituras criar estruturas públicas administrativas ambientais que
superam, em muito, a urbanística: há mais espaço e recursos financeiros
oriundos das taxas e multas, para contratar profissionais da área
ambiental que da urbanística. Com isso criam-se novos feudos e entraves
que retardam os alvarás de construção e as licenças legais; com isso,
surge um novo elemento: os honorários profissionais ambientais, que já
superam, em valores, os urbanísticos e os arquitetônicos. Pilhas e pilhas
de papel com informações e diagnósticos e proposições somam-se às plantas
de estudos de impacto, de medidas compensatórias e mitigadoras. Exemplo
disso é o valor cobrado pela elaboração de um EIA/RIMA, bem superior aos
valores cobrados para elaboração dos projetos arquitetônicos de edifícios
de um mesmo empreendimento.

O papel dos estudos ambientais e dos estudos urbanísticos

Foi com a Resolução do CONAMA 01/1986 que ocorreu a legalização dos


Estudos de Impacto Ambiental, necessários para aprovação de projetos de
empreendimentos de médio e grande porte e que colocou, para a sociedade,
sua relevância na dinâmica das enormes mudanças a serem provocadas nos
espaços urbanos e rurais. Com o EIA mudou a visão de empreender espaços –
não apenas os industriais, mas os turísticos, rodoviários, parcelamentos,
etc. Mas, segundo Klara Mori, em seu brilhante artigo "Estudos de Impacto
Ambiental – Algumas Considerações", se o EIA serviu para ressaltar a
importância da ordem ambiental na concepção, elaboração e implantação de
projetos, ao mesmo tempo causou graves efeitos perversos, por conta da
base conceitual da legislação que o apóia, ou seja, "os critérios de

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validação das decisões técnicas". Ela fala da separação metodológica
entre as ordens físicas, química e biológica da ordem social, questão
central na própria definição do que seja Meio Ambiente e que tem
implicado em definições e conceitos abrangentes e dissociados.

Definir meio físico, biológico e antrópico, numa análise isolada


contribui para organizar diagnósticos que, quando analisados sem inter-
relação, abrem enormes precedentes: quais os critérios técnicos em que se
pode apoiar para a análise de um projeto. Com isso Mori defende a
necessidade de traçar novos contornos técnicos para essa delicada questão
que nos envolve, diretamente, principalmente nas definições precisas de
área de influência, medidas compensatórias e mitigadoras além dos
parâmetros para aprovação. Há diversas formas de analisar essa observação
crítica, principalmente se pudermos examinar casos concretos, como o das
Usinas Termelétricas, que incluem um outro componente: prazos para
análise e aprovação e responsabilidade das três esferas de governo. Há um
enorme jogo de empurra, quando envolve IBAMA, SEMA estadual e municipal.

Sobre a formação profissional para atuar na área e outros problemas

Planejar e projetar edifícios e espaços urbanos é tarefa do arquiteto e


disso não podemos abrir mão, não apenas por conta de uma legislação
profissional que nos ampara, mas por conta de nossa formação acadêmica
secular. Nossos trabalhos, salvo exceções, sempre tiveram preocupações
ambientais, onde o arquiteto organiza informações do sítio, da geotecnia,
do ambiente natural, das infra e superestruturas existentes, das normas
legais e, com boa dose de composição, cuidamos de nossa tarefa projetual.
Cremos, desde muito tempo, que nosso trabalho calcado no diploma legal e
ético, deve ser integrado, respeitando a natureza, o homem e a técnica. É
claro que deslize houve e haverá em qualquer profissão, mas, com isso,
não podemos deixar de acreditar nos nossos postulados de trabalho
profissional e acadêmico.

É, portanto coerente observar que nosso trabalho, desde que Vitrúvio


escreveu Os Dez Livros da Arquitetura, se pauta na construção e na
urbanização com técnica e criação, observando todos os fatores que podem
contribuir para melhorar as condições de vida do homem. Com base nessa
afirmação, as escolas de arquitetura traduzem para o ensino formal, as
condições onde o arquiteto, em sua formação genérica, deve contrapor-se
aos problemas e buscar saídas usando seus aprendizados. Mas, desde 1981,
com a edição das normas ambientais, podemos observar que a formação do
arquiteto pouco tem observado esses postulados recentes de natureza
ambiental e vários arquitetos o têm feito na forma de especialização ou
de complementação educacional.

Sem querer colocar em discussão o assunto, apenas em 1995, a Portaria


1770, reformulou o Currículo da Arquitetura e Urbanismo e introduziu uma
área denominada de Estudos Sociais e Ambientais, agregada e que na
proposta final de Diretrizes Curriculares, de 1999, ainda sob poder do
MEC para análise e aprovação, desagregou em Estudos Sociais e Estudos
Ambientais, numa discussão recente, emanada de uma grande participação
das escolas de arquitetura, docentes, discentes e dirigentes, mas que,
ainda tímidas, não estão preparadas para essas mudanças que ocorrem no
seio da sociedade ambiental. Devemos mudar nossas diretrizes para
acompanhar essas novas normas e práticas ou devemos usar nossa
criatividade e entrar direto na discussão, sem rodeios? Creio que sim,
mas isso é tema para uma reflexão coletiva.

O papel das entidades e das escolas de arquitetura

No campo ambiental, justiça seja feita: o CREA do Rio de Janeiro tem uma
pauta de discussão na área, mas, não abrange os temas ligados à
arquitetura e ao urbanismo, especificamente, tais como edifícios e
intervenções urbanísticas impactantes, parcelamentos desastrosos, etc.
Basta ver o material distribuído, nacionalmente, pelo Presidente Chacon.
E quanto ao trabalho ambiental do IAB, da FNA, da ASBEA, da ABAP e da
ABEA? E o do CONFEA? E o da FENEA? O que será que elas pensam desse
assunto? O que pode ser feito, caso haja concordância com as observações
aqui descritas? Meio ambiente com a arquitetura e o urbanismo devem ser
tratados como pauta de discussão nacional e, assim, acredito que possamos
nos inserir na discussão, apesar de atrasados.

Como concluir?

Resolvi escrever esse texto como forma de tentar colocar em debate esse
assunto: o nosso papel no Planejamento Ambiental e em outros problemas.
Originalmente pensei em nominar esse texto com a seguinte frase: Vou
deixar de ser arquiteto, vou ser ambientalista. Mas não vou deixar de ser
arquiteto para ser ambientalista, não pela alta remuneração profissional
dos que têm atuado no meio ambiente, mas para tentar organizar esse tema,
pois devemos nos inserir nele, imediatamente. Não quero deixar de ser
arquiteto, por ideologia e formação, mas, acredito que nossa pauta de
trabalho está descolada das profissões aqui nominadas e devemos juntar as
pautas de outras profissões que podem atuar conosco, no caso a
engenharia, principalmente a consultiva. Para concluir, refiro-me ao meio
ambiente de forma a como tratar o problema de método e de critério de
análise de nossos projetos; refiro-me a organizar um Seminário de todas
as entidades nacionais, para que possamos discutir a formação do
arquiteto e a questão ambiental recente; refiro-me ao papel que nossas
entidades possam ter nessa luta, ocupar espaços, presença em eventos
nacionais ambientais, no CONAMA, etc. Mas gostaria, também, de provocar
uma pequena reflexão: meio ambiente com arquitetura e urbanismo são
tratados pelas escolas do país, pelos grandes e médios escritórios, pelos

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nossos simpósios e seminários e por nós, no dia a dia, com a ênfase que
acredito tenha dado nesse pequeno texto?

sobre o autor

Arquiteto, Mestre em Arquitetura pela UFRGS, professor do Curso de Arquitetura


e Urbanismo da Uniderp em Campo Grande/MS, Secretário Geral da FNA e Diretor da
ABEA.

comentários

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