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132.07 ano 11, maio 2011

Campus da Universidade Federal de Viçosa, MG


Oito décadas de arquitetura
Ítalo Stephan, Skarlen F. S. Galvarro, Bruno Dalto do Nascimento e Elaine
Cavalcante Gomes

como citar 132.07


sinopses
STEPHAN, Ítalo; GALVARRO, Skarlen F. S.; NASCIMENTO, Bruno Dalto do; CAVALCANTE
como citar
GOMES, Elaine. Campus da Universidade Federal de Viçosa, MG. Oito décadas de
arquitetura. Arquitextos, São Paulo, ano 11, n. 132.07, Vitruvius, maio 2011 idiomas
<https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.132/3881>.
original: português
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A Universidade Federal de Viçosa, localizada na Zona da Mata Mineira,


começou como Escola Superior de Agronomia e Veterinária (ESAV). Foi
inaugurada em 28 de agosto de 1926, por seu idealizador Arthur Bernardes, 132
cidadão viçosense, que na época ocupava o cargo de Presidente da 132.00
República (1). Em 1927, foram iniciadas as atividades didáticas com a A abordagem estética no
instalação dos Cursos Fundamental e Médio e, no ano seguinte, do Curso projeto de estruturas
Superior de Agricultura. Em 1932, foi iniciado o Curso Superior de de edificações: do
Veterinária. ensino à concepção de
sistemas estruturais
Eduardo Grala da Cunha
132.01
Patrones como
herramienta de análisis
y proyecto urbanístico
ambiental.
Reflexiones sobre la
región Metropolitana de
São Paulo y otras
realidades
Latinoamericanas.
Juan Carlos Cristaldo
132.02
O impacto dos
estacionamentos nos
centros urbanos: o caso
de Curitiba
Vista parcial da ESAV na década de 1920, com a avenida da Reta, posteriormente Carlos J. Bechel
denominada avenida P. H. Rolfs, a linha férrea da Leopoldina, e as edificações: Sipinski e Lisana Kátia
Casa de Hospedes, Alojamento, Prédio Principal, Reitoria e Escritório [UFV. Schmitz
Oito décadas em fotos, p.12 e 13. Acervo da UFV]
132.03
Os saltos de escala no
estudo (e no projeto)
No período de sua criação, foi convidado por Arthur Bernardes, para da cidade e do
organizar e dirigir a ESAV, o professor Peter Henry Rolfs, diretor da território: indagações
Escola de Agricultura da Universidade da Flórida, quem trouxe consigo a à luz do debate
filosofia dos “Land Grant Colleges” que se baseava nos princípios do veneziano
“Aprender fazendo” e da “Ciência Prática”, base da trilogia de Adalberto Retto Jr.
sustentação da atual UFV: ensino, pesquisa e extensão (2). Para
administrar os trabalhos de construção do Campus veio, a convite, o 132.04
Engenheiro João Carlos Bello Lisboa (3). La representación
gráfica arquitectónica
“Para Bernardes, o projeto – a criação da ESAV – era a realização entre la continuidad y
prática de sua ânsia na busca do progresso de uma cultura agrária la innovación
nacional incipiente e atrasada, apesar das potencialidades Geraldo Benicio da
físicas e climáticas da terra, rica e incomparável. Para Peter Fonseca
Rolfs, a oportunidade de um desafio: aplicar a experiência de um 132.05
caminho inovador e frutuoso que dera certo em terras americanas. Fragmentacion urbana y
Para Bello Lisboa, a tarefa de dar continuação ao empreendimento, desastre ambiental
estreitando-o ainda mais, o que fez com sabedoria.” (4)
Em novembro de 1948, a ESAV se tornou Universidade Rural do Estado de Puede la planeación
Minas Gerais (UREMG) e, em 1969, Fundação Universidade Federal de Viçosa. urbana regularlos?
Jan Bazant
O Campus da UFV é um dos mais belos do Brasil. Para passar pelas Quatro
132.06
Pilastras – portal de entrada – basta atravessar uma das ruas do centro
As fábricas na
da cidade. Sua área principal se assenta ao longo do vale das represas do
península
Ribeirão São Bartolomeu. Sua principal via, a avenida P. H. Rolfs se
Itapagipe como sítio
estende quase plana e reta por cerca de 2.200 metros. Ao longo desse vale
industrial da Salvador
está a maior parte dos edifícios mais representativos. O rico acervo
Moderna(1)
começou a ser formado antes da década de 1920, com a sede da fazenda
Ceila Rosana Carneiro
Maria Luiza e passou pelas fases dos prédios iniciais da ESAV, de uma
Cardoso
arquitetura eclética, pela arquitetura modernista e pelas construções
contemporâneas. 132.08
Quem me conheço não tem
A UFV continuamente amplia o número de cursos de graduação e pós- ruas por onde passe
graduação. Em 2000, eram 29 cursos de graduação, 21 de mestrado e 13 de A experiência da
doutorado. Em 2010, com o curso de Medicina, chega-se aos 45 cursos de velocidade: do
graduação, 33 de mestrado e 20 de doutorado, somando-se 14.000 estudantes boulevard ao
que se juntam aos 75.000 habitantes de Viçosa.  Tal demanda vem exigindo ciberespaço
a construção de inúmeras edificações no Campus. Entretanto, os Tiago Lopes Dias
alinhamentos e as alturas das edificações estabelecidas nas primeiras
décadas foram desrespeitados, chegando ao ponto de comprometer o conjunto
e a beleza do Campus. Prédios receberam ampliações, anexos e construções
vizinhas, favorecendo a sua desfiguração.  O Plano Diretor Físico e
Ambiental do Campus, aprovado em 2008, veio como um importante
instrumento de proteção ao patrimônio arquitetônico do Campus da UFV. São
alguns dos pontos do plano que deixam claro o papel da UFV na cidade de
Viçosa e a preocupação em preservar suas características (destaques do
autor):

Art. 3º - O Plano de Desenvolvimento Físico e Ambiental do Campus


UFV-Viçosa pauta-se pelos seguintes princípios:

I. além da educacional, o Campus desempenha a função de parque


urbano, para a população viçosense, e deve ter essa vocação
consolidada e valorizada;
II. A Vila Giannetti representa importante patrimônio histórico,
arquitetônico e urbanístico, que deve ser valorizado e
preservado;
III. As diretrizes do PDFA para a ocupação e expansão do Campus
devem obedecer à lógica viária existente, reforçando a
importância do traçado dos quatro principais eixos viários – a
linha férrea, a Av. P. H. Rolfs, a Av. Purdue e a Av. da
Agronomia – considerados como eixos estruturantes da sua
organização físico-territorial, bem como a relação com o sistema
viário da cidade;
IV. (...)
V. na ocupação e construção dos novos edifícios, deve-se
considerar a mesma lógica adotada desde a criação da ESAV, qual
seja: grandes afastamentos em relação às vias; construção dos
edifícios isolados no terreno, com baixa taxa de ocupação, baixo
gabarito e grandes jardins contornando as edificações;
VI. As novas ocupações e usos do solo devem respeitar as faixas
non aedificandi e valorizar os corpos d’água;
VII. (...)
VIII. A liberdade arquitetônica formal deve ser mantida, para que
os edifícios representem a diversidade dos movimentos e correntes
arquitetônicas ao longo dos tempos, respeitando-se o patrimônio
histórico existente.

Acerca do objeto de estudos

Pode-se encontrar uma série de livros sobre a história da UFV e de seus


principais nomes,  com ênfase nas primeiras décadas da sua criação. Há,
no entanto, informações esparsas sobre a arquitetura dos prédios e em
nenhuma das publicações há mais informações sobre os aspectos,
características, técnicas construtivas sob o ponto de vista da
arquitetura. Há, portanto, um importante acervo a ser  analisado e
registrado. Trata-se de um conjunto de quase 90 anos de obras
representativas da história, rico em diversidade e qualidade, fazendo do
Campus da UFV um acervo de importância nacional. Há, portanto uma lacuna
nos registros da história do Campus da UFV. Para preencher tal lacuna,
vem sendo foi feito um inventário com os edifícios mais representativos
do Campus da UFV, para identificar dados históricos, autores dos
projetos, analisar e registrar características de projeto, implantação,
estilo e técnicas construtivas e alterações de usos.

Contextualização do período de construção da ESAV

O Brasil, na década de 1920, era marcado por um poder político dominado


pelas oligarquias regionais e tinha como principal atividade econômica a
agricultura de exportação, com destaque para o café. A política nacional
era alternada por candidatos de dois estados: São Paulo e Minas Gerais,
na chamada “Política do café-com-leite”. São Paulo se destacava pelo seu
poder econômico, que fortalecia a atividade agro exportadora do Brasil; e
Minas Gerais tinha peso na balança institucional, devido a dois fatores:
era o maior colégio eleitoral do país e possuía uma bancada coesa e
sintonizada com o Palácio da Liberdade.
Em meio a esse cenário de valorização da atividade agrícola, a criação de
uma escola de agricultura seria um artifício de consolidação do poder das
oligarquias agrárias, bem como uma forma de se oficializar a “vocação
agrária” do país, oferecendo bases para o desenvolvimento das atividades
agropastoris.

De 1918 a 1922, Arthur Bernardes assumiu o cargo de Presidente do Estado


de Minas Gerais, em seguida assumiu a Presidência da República. A criação
da Escola de Agricultura enquanto presidente de Minas, era uma maneira de
se fortalecer o seu Estado diante de São Paulo, no que se refere aos
aspectos políticos e econômicos.

Para a criação dessa Escola era necessário decidir sobre o local da sua
implantação e o modelo de ensino a ser adotado. Em 1920 Arthur Bernardes
pede a José Cochrane de Alencar, embaixador do Brasil em Washington, a
indicação de um nome para ser o responsável pela implantação da Escola de
Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais. O escolhido foi o
Peter Henry Rolfs.

“Após algumas indicações e convites não-aceitos, chegou-se ao


nome de Peter Henry Rolfs, diretor do “Florida Agricultural
College” da “University of Florida”, que se interessou pelo
projeto e passou a ser responsável não só pela direção da futura
escola, como também pela apresentação ao governo de Minas dos
planos das construções e dos programas gerais de ensino, além de
colaborar na escolha do local de funcionamento.” (5)

Sobre o modelo de ensino escolhido:

“(...) o governo do estado, de início já havia resolvido que a


futura escola seria estabelecida nos moldes dos “Land Grant
Colleges”, um sistema de escolas ligadas à agricultura criado em
1862, a partir do Vale do Rio Mississipi, nos Estados Unidos.”
(6)

Esse modelo, a ser aplicado por P. H. Rolfs, baseava-se no Ensino,


Pesquisa e Extensão, diferenciando-se assim do academicismo adotado nas
demais instituições brasileiras de ensino superior.

“Rolfs trouxe de sua “alma mater”, “lowa State College”, os


princípios básicos de “Ciência e Prática”, “Aprender Fazendo”, e
a idéia das quatro pilastras na entrada do “campus”, que também
já existiam no “lowa State College”. (...) Se a criação da escola
dependeu da vontade de Bernardes, o mentor intelectual, aquele
que lhe deu personalidade, foi o Prof. Peter Henry Rolfs, pois em
todas as atividades desenvolvidas no inicio da ESAV Rolfs teve a
sua contribuição a dar, tanto no Ensino e na Pesquisa quanto na
Extensão.” (7)

A comissão responsável pela escolha do local, da qual o Prof. P.H. Rolfs


fazia parte, fez visitas às cidades da Zona da Mata: Visconde do Rio
Branco, Ubá, Cataguases, Leopoldina, Juiz de Fora, Viçosa e Ponte Nova. A
cidade de Viçosa, cuja economia baseava-se em uma incipiente
agroindústria e na produção rural, foi o local escolhido para a
implantação da nova escola do país. A comissão

“(...) considerou a altitude e o clima de Viçosa como de singular


importância na decisão a ser tomada. É naturalmente compreensível
que, psicologicamente, Viçosa tivesse posição prioritária perante
os membros da comissão, visto que o próprio presidente do Estado
de Minas era viçosense.” (8)

Mais especificamente o local selecionado foi a Fazenda Maria Luíza, que,


segundo a declaração do Dr. Álvaro da Siqueira, possuía ótimas condições
para tal função. Ao final de dezembro de 1921 foram aprovados os planos e
a planta dos terrenos para a construção da Escola, que constava das
edificações: residência do vice-diretor, um modesto escritório de
construção, um dormitório e o prédio principal..

As obras da Escola tiveram início em 10 de junho de 1922, sendo o P. H.


Rolfs o supervisor do planejamento, construção e estruturação da nova
Escola. Para administrar os trabalhos de construção do Campus foi
convidado o Engenheiro João Carlos Bello Lisboa que, a partir de 5 de
agosto de 1922 entrou na equipe responsável pela construção da Escola,
assumindo o cargo de engenheiro-auxiliar e, a partir de 16 de dezembro de
1922,  torna-se engenheiro-chefe. Após a inauguração da ESAV, assumiu a
Cadeira de Engenharia Rural e o cargo de Vice-Diretor.

“(...) Se Rolfs foi o “Pai da ESAV”, Bello Lisboa foi quem a


criou durante seus sete anos na diretoria. (...) A vontade de
Arthur Bernardes criou a semente ESAV; Peter Henry Rolfs a
plantou; e João Carlos Bello Lisboa a cultivou.” (9)

Em 28 de agosto de 1926, com a conclusão do Prédio Principal, atual


Edifício Arthur da Silva Bernardes, foi inaugurada a Escola Superior de
Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais.

A arquitetura no campus da UFV


O Campus possui uma área de 443 hectares e tem um conjunto inicial de
edificações de características ecléticas, em bom estado de conservação,
abrigando atividades e usos adequados: o Edifício Arthur Bernardes a
estação férrea com a Ouvidoria; o alojamento - Edifício Bello Lisboa
ainda com o mesmo uso; a residência de P. H. Rolfs com a reitoria; a
residência de hóspedes ainda com o mesmo fim e o prédio principal,
ocupado pelas Pró-Reitorias e Diretorias dos Centros de Ciências.

Edifício Arthur Bernardes e Centro de Vivência [Acervo fotográfico de


Ítalo Stephan]

Alojamento. Edifício João Carlos Bello Lisboa [Acervo fotográfico de


Lucas Vieira Batista]

Reitoria da UFV [Acervo de Skarlen Galvarro]

A arquitetura eclética, considerada por Carlos Lemos como uma fatalidade


universal, foi uma das primeiras manifestações da globalização e chegou a
Viçosa apenas na década de 1920.  Foram construídos, com a condução do
renomado engenheiro Bello Lisboa, os prédios de salas de aula,
residências dos professores e funcionários, alojamentos para estudantes,
abrigos para animais, silos e tuias. Vários deles ainda persistem em boas
condições, mas muitos não mais existem. Destacam-se cinco edificações. A
primeira é o prédio principal, o Edifício Arthur da Silva Bernardes. 
Paralelo a este e deixando ampla praça à frente está o edifício Belo
Lisboa, construção de dois pavimentos, eclética com características que
lembram um grupo de chalés enfileirados. 

Nas décadas seguintes o Campus recebeu obras de qualidade.  Na década de


1950 o arquiteto Cláudio Jorge Gomes e Souza projetou o conjunto de 52
casas de telhado “borboleta” da Vila Gianetti. As casas atualmente
abrigam museus, órgãos diversos, a Rádio e TV Universitária. São da época
as obras dos Departamentos de Laticínios e da Economia Doméstica, de
Rafaello Berti. Outras edificações foram projetadas por arquitetos
contratados de outras cidades, como o arquiteto Décio Machado, autor de
projetos importantes como os prédios que atualmente abrigam os
departamentos de Economia Rural e da Divisão de Saúde (1963) e o de
Engenharia Florestal e Solos (1975). 

Villa Gianetti [Acervo fotográfico de Lucas Vieira Batista]

Maurício Sérgio de Castro projetou o prédio sede do curso de Biologia


(1972) e o modernista Centro de Vivência (inaugurado sem o teatro em
1978), implantado perpendicularmente ao Edifício Arthur Bernardes da
Silva, deixando ampla área livre à sua frente e que gerou um grande
contraste no estilo arquitetônico com as vizinhas obras ecléticas,
expondo as diferentes épocas da instituição.  

Posteriormente, os projetos ficaram a cargo de uma equipe de arquitetos


(Acyr Santos Zama, Paulo Francisco de Oliveira, Fernando Teixeira e
Aguinaldo Pacheco) contratados pela UFV. O grupo atuou na Prefeitura do
Campus, criada em 1978 e extinta em 1996 e cujas atribuições
posteriormente se somariam às da Pró-Reitoria de Administração (PAD). 
São dessa época os prédios do Laboratório de Desenvolvimento Infantil
(1982), do prédio dos departamentos de  Administração, Economia e Letras,
o Colégio de Aplicação – Coluni – em 1989.

Da reforma do prédio da “Fazendinha” (Arquitetos e professores Ítalo


Stephan, Frederico Tófani e Túlio Tibúrcio) surgiu, em 1996, a sede do
Departamento de Arquitetura e Urbanismo, com uma experiência pioneira em
que o prédio foi concluído com materiais de acabamento doados pelas
indústrias, numa forma de parceria.
Edifício de Departamento de arquitetura e Urbanismo [Acervo fotográfico
de Ítalo Stephan]

Posteriormente vieram a construção do Pavilhão de Aulas II e a ampliação


da Biblioteca Central (1996), cujo projeto original foi do arquiteto
Décio Corrêa Machado (1970). Em 1999 foi inaugurado o prédio do Centro de
Ciências Exatas e Tecnológicas (projeto do grupo de Arquitetos da UFV). O
edifício é a única parte concretizada da inicial intenção de construir ao
longo do Vale da Agronomia (um vetor perpendicular ao eixo principal) um
conjunto de edifícios modulares articulados, com estruturas e modulações
especializadas, para abrigar gabinetes, laboratórios. Em 2004 foi
inaugurado o prédio sede do Curso de Dança (arquiteto Fernando Teixeira
de Almeida).

A seguir, destacamos cinco exemplos da arquitetura do Campus da UFV, de


um acervo em que facilmente poderia incluir outros vinte.

Edifício Arthur da Silva Bernardes

Inauguração: 28 de agosto de 1926.


Área Construída: 6.300,50 m2
Utilização Inicial: Sede da administração superior da ESAV e dos
departamentos, com gabinetes, salas de aula e laboratórios.
Utilização atual: Salas destinadas a órgãos administrativos da
Universidade e o Salão Nobre.

Dados Históricos

A inauguração da Escola Superior de Agricultura e Veterinária (ESAV) foi


realizada com grande solenidade e festejos, sendo presidida pelo seu
fundador, Arthur da Silva Bernardes, que na época assumia o cargo de
Presidente da República.

Como uma forma de homenagear o centenário Arthur Bernardes, o prédio


principal passou a ser denominado Edifício Arthur da Silva Bernardes. 

A respeito do Prédio Principal, Bello Lisboa, seu construtor, escreveu:


“A fachada primitivamente projetada foi modificada, tirando-se-lhe o
aspecto monumental que apresentava, dando-se-lhe linhas mais singelas e
clássicas, obedecendo o primeiro pavimento à ordem jônica e o segundo à
coríntia.” Escreveu também:

“O Edifício Principal, projetado a princípio com uma única fachada, muito


luxuosa, exigiu, por motivo de locação, quatro fachadas, de estilo nobre,
simples e de acordo com os fins do estabelecimento; internamente sofreu
ele também diversas modificações, a fim de se evitarem corredores
estreitos, escadas obstruindo os corredores, instalações sanitárias sem
luz e ar diretos, depósitos escuros, etc. Foi aproveitado no prédio
principal, em toda extensão, utilíssimo porão, tendo havido pequeno
aumento de custo.” (10)

É o único prédio tombado pelo município de Viçosa.

Dados Tipológicos

O edifício está localizado na área central do campus. Apresenta uma


arquitetura eclética com características classicizantes. Sua maior
dimensão está implantada no eixo norte-sul. Seu primeiro pavimento está
acima do nível do solo com acesso através de três escadarias em convite,
sendo que as escadas das maiores fachadas são ladeadas por guarda-corpos
vazados. O acesso ao porão é feito sob as escadas das maiores fachadas e
por porta nos fundos.

O prédio é um volume único de planta retangular organizada a partir de um


corredor central como eixo longitudinal. O prédio é circundado por
passeio e palmeiras imperiais. Possui dois pavimentos, com pé direito de
5,00 m e um porão habitável, com pé direito variável de 2,60 m a 3,20 m.
O primeiro pavimento abriga o hall da entrada principal, com cinco caixas
de escadas.

Os elementos (aberturas, ornamentos e platibanda) se repetem em todas as


fachadas. Esses ornamentos são característicos do ecletismo: colunata
central com capitéis jônicos para as portas principais, capitéis
coríntios no segundo pavimento, linhas em alto e baixo relevo
acompanhando as janelas; balaustrada como platibanda, cobertura em telhas
cerâmicas.

Edifício Chotaro Shimoya

Construção: Início 1966


Projeto Original: Arquiteto Maurício Sérgio de Castro
Inauguração: 19 de julho de 1972
Área Construída: 6194 m2
Utilização: Abrigar departamento de Ciências Biológicas.
Edifício Chotaro Shimoya [Acervo fotográfico de Lucas Vieira Batista]

Dados Tipológicos

Edificação implantada na área central do campus universitário, de três


pavimentos e planta quadrangular, com um pátio central descoberto
preenchido por um grande jardim com vegetação de pequeno porte.

Seu único acesso é pela fachada principal, marcada por uma marquise de
seção trapezoidal sobre a porta de entrada. No primeiro pavimento, há
pilares de seção trapezoidal que suportam parte da edificação que avança
sobre o primeiro pavimento. Os dois pavimentos superiores são contornados
externamente por brises horizontais e verticais. Os horizontais são
móveis e estão na porção das aberturas e os verticais são fixos contínuos
com extensão que correspondem aos dois pavimentos superiores. O arranjo
dos brises verticais é determinante na identidade do edifício. Além de
subdividir os brises horizontais em três porções a cada dois pilares,
confere à edificação uma marcação vertical. As esquadrias externas são de
ferro, basculante e em fita na horizontal, cuja linearidade é disfarçada
pelos brises nos dois últimos pavimentos.

Edifício Reinaldo de Jesus Araújo

Projeto: Arquiteto Décio Machado


Inauguração: 7 de agosto de 1975
Área Construída: 4.953,90 m2
Utilização: Sede dos Departamentos de Solos e da Engenharia Florestal

Edifício Reinaldo de Jesus Araújo, Sede dos departamentos de Solos e


Engenharia Florestal [Acervo fotográfico de Ítalo Stephan]

Dados Tipológicos

O edifício localizado na área central do campus universitário é composto


por três volumes, cada um com características próprias. O volume
principal, assentado em nível acima da rua, possui três pavimentos, sendo
um de pilotis e dois abrigando salas de aulas, gabinetes dos professores
e a administração. Sua planta é organizada ao longo de um corredor
central. O edifício é marcado nas fachadas longitudinais por um arranjo
de brises verticais e horizontais em concreto revestido, compondo uma
modulação alternada. Essa composição é determinante na identidade do
edifício.
No pavimento térreo, as vedações envidraçadas e parte protegida por
gradil de madeira, estão recuadas, deixando à mostra os pilares de seção
retangular. Na lateral esquerda, em nível abaixo e à frente do volume
principal, ergue-se o bloco do auditório. Este bloco se estende um pouco
abaixo do nível do térreo do volume principal, abrigando também as áreas
de apoio, laboratórios e banheiros. O auditório tem acesso principal pela
lateral direita.

O terceiro volume, na parte posterior, abriga a rampa de acesso aos


pavimentos superiores. Possui paredes semicirculares nas extremidades,
diferenciando-se da geometria ortogonal regular do conjunto.

Centro de Vivência

Período Construção: 1974 - 1978


Projeto: Arquiteto Maurício Sérgio de Castro
Área Construída: 4.968 m2.
Utilização Inicial: Local de eventos culturais
Utilização Atual: Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas, cineclube, auditório
e espaço multiuso da UFV (para espetáculos cênicos e musicais, palestras,
seminários, eventos científicos, solenidades oficiais).

Centro de Vivência [Acervo fotográfico de Ítalo Stephan]

Dados Históricos

No início da década de 1970, após a federalização da então UREMG, a


universidade passa por um processo intenso de expansão de seus cursos e
fisicamente do seu campus, particularmente no período de gestão do Reitor
Antônio Fagundes de Souza (1974-1978).  É nesse cenário de modernização e
poder que o edifício do Centro de Vivência foi construído e que, segundo
o arquiteto Aguinaldo Pacheco, pode ser visto como o “símbolo” do início
dessas mudanças.

O projeto original contemplava um hotel, um clube, restaurante de


professores, um teatro, uma biblioteca, um salão de festas. Desta forma
buscava-se tornar esta obra um “centro de aglutinação”, podendo até
mesmo, substituir equipamentos ainda precários na cidade no período da
sua construção, como era o caso dos hotéis. Mas isto não se concretizou
por completo, passando a obra a abranger outros papéis, uma vez que o
teatro, que era visto um importante equipamento de transformação, não foi
executado. O salão de festas foi transformado em auditório, “Espaço
Fernando Sabino”, com 700 lugares, que atende parte da demanda de
congressos, apresentações teatrais e outros eventos. Onde estava prevista
a construção de um teatro para 1500 pessoas, foi construído o Espaço
Multiuso com 4.000 m2.

Dados Tipológicos

Imponente edificação de características modernas: volumes geométricos bem


marcados, linhas racionais, estrutura em concreto armado aparente,
fachadas envidraçadas, planta livre com grandes vãos, em razão da sua
estruturação com grandes colunas robustas de seção oval no contorno do
edifício.

Está localizado na área central do campus universitário entre duas


importantes construções: Edifício Arthur da Silva Bernardes e o Edifício
P. H. Rolfs, havendo um grande contraste no estilo arquitetônico entre
estas obras ecléticas e o moderno Centro de Vivência, expondo as
diferentes épocas da instituição. Foi implantado perpendicularmente ao
Edifício Arthur Bernardes da Silva deixando ampla área livre à sua
frente.

A entrada principal é na parte frontal, feita por rampas que perpassam um


espelho d´água e um jardim e que dão acesso ao grande hall e ao Espaço
Cultural. O primeiro pavimento, com mezanino e pé direito duplo no
auditório, possui grandes vãos livres. No hall de entrada há um volume de
seção elíptica utilizado como recepção (presente também no mezanino) e
duas escadas, uma de acesso ao subsolo e a outra de acesso ao mezanino.
Entre o hall e o auditório fica a caixa de circulação com duas escadas e
elevador, e a escada de acesso ao auditório.

Conclusões

A arquitetura diversificada do campus universitário evidencia diferentes


momentos da história da Instituição, desde sua criação até os dias
atuais, com obras de significativa importância. As construções, em geral
estão em boas condições de conservação e permanecem plenamente
utilizadas. Atualmente há um convívio contrastante, mas ainda harmonioso
em escala entre os edifícios do Campus. O principal cartão postal é o
conjunto formado pelo Edifício Arthur da Silva Bernardes e o Centro de
Vivência. Há exemplares raros como o conjunto de casas de telhado
“borboleta” da Vila Gianetti, algumas vezes ameaçado por idéias de
demolição.

Edifício da Economia Rural e da Engenharia Agrícola [Acervo


fotográfico de Ítalo Stephan]

Edifício da Economia Rural e da Engenharia Agrícola [Acervo


fotográfico de Ítalo Stephan]

A partir da última década surgiram obras de arquitetos de diferentes


lugares. Há alguns projetos de qualidade duvidosa, dentre eles algumas
agências bancárias e galpões. Alguns dos processos de construção foram
vencidos por concorrências em que valeu o critério do menor preço e os
resultados arquitetônicos não foram satisfatórios.

Novos cursos de graduação e pós-graduação continuarão a ser criados e a


demanda por espaços físicos prevalece forte. A ampla discussão do Plano
de Desenvolvimento Físico Territorial resultou num documento que tem
instrumentos capazes de organizar o desenvolvimento do Campus e impedir
sua descaracterização. No entanto, a exigência crescente por mais espaços
físicos, que se tornam escassos, para abrigar novas atividades de ensino,
pesquisa e extensão, deve ser objeto de preocupação para os
administradores e apreciadores da boa arquitetura.

notas
1
Arthur da Silva Bernardes nasceu em Viçosa, em 1875. Iniciou seus estudos em
Viçosa, continuou em Ouro Preto no Externato do Ginásio Mineiro e em seguida no
Caraça. Em 1900 gradua-se em Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pela
Faculdade de Direito de Largo de São Francisco, São Paulo. Em 1905 volta a
Viçosa, tornando-se jornalista, redator e diretor do jornal “A Cidade de
Viçosa”.  Sua carreira política inclui diversos cargos na política: presidente
da Câmara Municipal de Viçosa (1906), deputado estadual (1907), deputado
federal (1908), secretário das Finanças de Minas no Governo de Julio Bueno
Brandão, presidente de Minas Gerais (posse em setembro de 1918), Presidente da
República (1922/26), senador (1927), e legislador constituinte (1940). Durante
seu mandato como presidente, passou por dificuldades políticas e financeiras,
mas com diversas realizações como: incentivo à produção, aproximação da
indústria e do comércio, proteção à propriedade industrial, inauguração de
ferrovias, pontes, porto naval e Serviço de Radiotelegrafia do Exercito. Com o
intuito de implantar nas propriedades agrícolas uma agricultura científica,
muda-se o hábito de seguir a cultura francesa, passando em 1920 a buscar nos
Estados Unidos aquele que viria a ser o organizador da Escola Superior de
Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais – ESAV, capaz de planejar,
organizar e administrar esta nova Escola. Após duas recusas do convite, pelo
Dr. Eugene Davenport (Diretor de uma escola de Agricultura, em Illinois) e pelo
Dr. Romel (zootecnicista do Departamento de Agricultura), Peter Henry Rolfs da
Universidade da Flórida aceita o convite.

2
Peter Henry Rolfs nasceu no estado de Iowa, EUA, em 1865. Concluiu os estudos
básicos em sua cidade natal; em 1889 recebe o titulo de Bachelor of Science, em
Agricultura pela Iowa State College, em Ames, onde também fez sua pós-graduação
recebendo em 1891 o Master of Science.  Em 1920 pela Universidade da Flórida
recebeu o titulo de Doctor of Science. Exerceu trabalhos em diferentes
instituições: professor de Ciências Naturais no Flórida Agricultural College
(1891/99), bacteriologista e botânico, no Clemson College, no estado da
Carolina do Sul (1889/1901), trabalhou na Estação Experimental da Universidade
da Flórida, de onde em 1915 torna-se Diretor da Escola de Agricultura desta
universidade. Em 1944 Peter Henry Rolfs faleceu nos Estados Unidos.

3
João Carlos Bello Lisboa nasceu em Vassouras, no Rio de Janeiro, em 18 de
agosto de 1892. Iniciou seus estudos na Academia de Comércio de Juiz de Fora,
que graças a sua dedicação recebeu desta uma bolsa de estudos integral. Iniciou
o ensino superior na Escola de Engenharia de São Paulo, mas por questões de
saúde, transferiu-se para a Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Desta recebeu
os diplomas, em 1918 dos cursos em Agrimensura e nas Engenharias Industrial,
Mecânica e Elétrica, e em 1919 da Engenharia Civil. Em 1922, Bello Lisboa,
inicia sua atuação na construção da ESAV. Nesta função, em razão das inúmeras
obras a serem feitas, passou por dificuldades como falta de material e mão-de-
obra. Para solucionar tais problemas, promoveu a criação de diversos serviços
industriais como: a instalação de olaria, pedreira, carpintaria, marcenaria,
serraria, ferraria, fábrica de telhas de cimento e tudo que fosse necessário à
infra-estrutura. Também foi o responsável pelo combate ao analfabetismo e as
doenças dos 600 operários da construção da Escola, através da criação de uma
escola primária e serviço médico; conseguindo desta forma em 1935 mudar tal
realidade de 90% de analfabetos e 100% de doentes para 0%.Com o início das
aulas, Bello Lisboa é nomeado Professor de Engenharia Rural e Vice-Diretor, e
em 1929, torna-se diretor desta instituição até 1936. Como diretor, realizou
importantes realizações como a Semana do Fazendeiro, o Mês Feminino, a
Associação de Ex-Alunos e o Aperfeiçoamento Rural de Professoras Primárias. Ao
sair da direção da ESAV, assumiu cargos como: prefeito das cidades mineiras de
Ubá e Uberaba, Secretário da Agricultura, Industria e Comércio do Rio de
Janeiro, na época Distrito Federal, e Encarregado do Setor de Agricultura da
Coordenação Econômica na época da Segunda Guerra Mundial.

4
BANDEIRA, Antônio Lima (então Reitor da Universidade) em: BORGES, José
Marcondes. Primeiros tempos da Universidade Federal de Viços pelas lentes de
Rolfs. Viçosa:ED. UFV, 2006.

5
COELHO, Eduardo Lara. In: LIMA, Antonio Luiz de (Org.). UFV 70 Anos: A
Trajetória da Escola de Viçosa. Viçosa: UFV, Imprensa Universitária, 1996, p.
16.

6
Idem ibidem.

7
COELHO, Eduardo Lara. Op. Cit., p. 24.

8
COELHO, Eduardo Lara. Op. Cit., p. 16.

9
COELHO, Eduardo Lara. Op. Cit., p. 28.

10
LISBOA, Bello. In: BORGES, José Marcondes. Primeiros tempos da Universidade
Federal de Viços pelas lentes de Rolfs. Viçosa: Ed. UFV, 2006, p. 34.

bibliografia complementar
BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil . São Paulo: Perspectiva,
1991

CHAGAS, Djalma Pinheiro; BORGES, José Marcondes; SABIONE, Gustavo Soares


(Orgs.). Cópia do relatório do chefe da comissão de construção da Escola
Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais (ESAV), engº.
João Carlos Bello Lisboa, ao secretário de agricultura. Viçosa: Ed. UFV, 2004.

CHING, Francis D. K. Dicionário visual de Arquitetura. São Paulo: Martins


Fontes, 1999.

FABRIS, Annateresa. Ecletismo na Arquitetura Brasileira. São Paulo: Nobel/


Editora da Universidade de São Paulo, 1987.

LAM-SANCHEZ, Alfredo. A UFV nos Tempos da Escola Superior de Agricultura –


UREMG. Viçosa: Ed. UFV, 2006. 403 p.

LEMOS, Carlos A. C. . Arquitetura brasileira. São Paulo, SP: Melhoramentos,


1979.

SABIONI, Gustavo Soares; ALVARENGA, Sonia Coelho.  UFV: Oito décadas


em fotos. Viçosa: Ed. UFV, 2006, 84 p.

UFV - Universidade Federal de Viçosa. Resolução 14/2008, Secretaria de Órgãos


Associados : Plano de Desenvolvimento Físico e Ambiental do Campus UFV-Viçosa
(PDFA) 2008-2017.

UFV. 1974-1978 – A nova dimensão da Universidade Federal de Viçosa. UFV:


Imprensa Universitária, 1978.

Universidade Rural do Estado de Minas Gerais. Escola Superior de Agricultura –


Origem – desenvolvimento – Atualidade. UFV: Imprensa Universitária, S.D.

VIÇOSA, Conselho Municipal de Cultura e Patrimônio Cultural e Ambiental. Dossiê


de Tombamento do Edifício Arthur Bernardes. Junho de 2001.

sobre os autores

Ítalo Itamar Stephan é Arquiteto, Professor do Departamento de Arquitetura e


Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa.

Skarlen F. S. Galvarro é Estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFV,


bolsista de iniciação científica CNPq e colaborador.

Bruno Dalto do Nascimento é estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo da


UFV.

Elaine Cavalcante Gomes é professora do Departamento de Arquitetura e


Urbanismo, colaboradora.

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