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 turnino R . de Brito, em 1929, o Escritório se de vinte e três volumes, dos quais o primeiro
que tomou o seu nome reüniu desde logo todos os é de publicações gerais, o segundo e o terceiro de
olementos de sua obra escrita, em parte impressi generalidades de água e esgotos, seguindo-se um
e em grande parte inédita, e classificou-os com c volume de Instruções, Especificações e Tabelas,
fim de futuramente fazer imprimí-los. onze de Projetos e Relatórios de construção de
saneamento de cidades, dois de Pareceres, um de
Em 1933 a Sociedade dos Amigos de Alberto
Memórias diversas, um de Projetos de defesa con
Torres organizou a Semana de Saturnino de Brito
tra inundações, dois de Urbanismo, um sôbre
em que reüniu engenheiros de todas as Reparti
Economia, Sociologia e Moral e um de desenhos
ções e Associações técnicas do país, para um exam-
com tipos de obras.
da personalidade do engenheiro que foi o orga
Examinando os vinte e três volumes da Obra de
nizador da técnica sanitária em nosso país. A g
encerrar estas solenidades, assinaram os presentes, Saturnino de Brito tem-se a impressão de unidade
de concepção, pois de início os assuntos são esbo
uma moção ao Governo da República, para qua
çados, mais adiante projetados e depois realizados,
editasse a obra dêsse grande engenheiro patríciu
seguindo-se Instruções e Regulamentos que permi
como ensinamento para a engenharia e como mos
tem a execução de obras semelhantes, em outros
tra do alto valor da técnica nacional.
locais e por outros engenheiros.
Xvlais tarde, em 1935, Lourenço Baeta Neveu
Em toda a obra verifica-se que houve sempre a
apresentou à Câmara de Deputados um projete,
visão clara do conjunto, apesar de- cuidados nos
que mandava publicar a Obra Completa de Sa
detalhes, fazendo-nos sentir o valor do projetista,
turnino de Brito.
a segurança do construtor e a firmeza do admi
De todas as bancadas dos Estados partiram 2 nistrador .
aprovação e a palavra elogiosa, tendo mesmo cons
O primeiro trabalho impresso, sôbre matemá
tituído uma sessão memorável essa, em que se re
tica, é do ano de 1884, da fase acadêmica, e nele
cordou, pela voz de representantes do norte, do
já se nota, como se acha salientado nas Notas
centro e do sul do país, a significação nacional da presente edição, o “equilíbrio entre a teoria e a
das realizações do engenheiro que já há seis anos prática, que constitue uma das características da
havia deixado de existir. extensa obra de Saturnino de Brito” . Na sua ter
Coube ao presidente da Comissão de Orça ceira publicação, um foiheto de filosofia matema-
mento, o Sr. Luiz Simões Lopes, realizar aquele tica, do ano de 1887, ressalta Saturnino de Brito
desejo dos engenheiros brasileiros e da Câmara de Filho outro caráter importante da obra, que é
1935, pedindo e obtendo a aprovação do Senhor “ a colocação 'dos problemas a tratar sempre em
Presidente da República para a inclusão no orça função das suas grandes relações de conjunto” .
mento de 1942 da verba necessária. Assim, os três primeiros trabalhos, insertos no pri
meiro volume, já fixam a diretriz mental de toda
Já agora, o Instituto do Livro, a Imprensa Na
a obra.
cional e o Escritório Saturnino de Brito, em um
esforço constante, vão fazendo surgir, volume a No II e III volumes, que são de generalidades
volume, o que constituirá — sem dúvida — um sôbre a técnica de serviços de água e esgotos, estão
monumento ao Mestre e um motivo para tornar esboçadas as diretrizes futuras da obra, que é —
mais conhecido o nosso país nos meios técnicos por assim dizer — dedicada ao saneamento das
das outras nações. cidades.
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As repartições dos serviços de esgotos de Santos tas várias, dando fôrça e explicação a pontos di
e de água e esgotos do Recife, ambas organizadas versos da técnica sanitária.
por Saturnino de Brito, a primeira em 1910 e a O volume X IX contém dois projetos de obras
segunda em 1917, continuam a manter o programa de defesa contra as inundações: o de Melhoramen
traçado, as normas estabelecidas e continuam a
tos do rio Tieté, em S. Paulo, e o de Melhora
merecer elogios pela atuação perfeita.
mentos do rio Paraíba e Lagoa Feia, em Campos.
Os outros volumes de projetos são aplicações Ambos encerram grande soma de elementos para
da mesma técnica para resolver novos problemas a organização dêstes importantes projetos e são
de detalhes, porque a orientação geral estava já notáveis trabalhos em que o autor, com a obser
solidamente assentada. vação da própria natureza, resolve e simplifica
No volume X, de estudo da cidade do Rio os problemas que se apresentam.
Grande, encontra-se a solução de captação de No projeto do Paraíba, o autor indicou os ver-
águas nas dunas e pode-se ler a defesa desta so tedores nos diques de defesa, muito antes de te
lução e uma ampla exposição de casos semelhantes rem engenheiros norte-americanos encontrado esta
em cidades estrangeiras.
mesma solução para as en,chentes do Mississippi
No volume X I encontram-se projetos para um e para a defesa de New Orleans.
grupo de cidades, sendo que em Santa Maria
Os volumes X X e X X I trazem os estudos sôbre
temos a captação com barragem de acumulação
urbanismo e a defesa do plano de expansão de
e o problema de uma adutora cortando a linha de
Santos.
carga; em Cachoeira e Rosário, a captação em
rio sujeito a grandes enchentes; em Cruz Alta, “Le Tracé Sanitaire des Villes”, que faz parte
recalque a altura grande; e em Passo Fundo, a do volume X X , a que já nos referimos anterior
solução de abastecimento de 2 reservatórios. mente, reúne todo o seu pensamento original sô
bre o traçado das cidades e foi escrito para a
No volume X II há a notar apenas Santana,
Exposição da Cidade Reconstituída, em França,
cuja captação é feita em poços profundos, e Ale
em 1915, onde mereceu a mais alta recompensa.
grete, cujo solo é todo em rocha, pelo que houve a
Êste trabalho levou o notável arquiteto-paisa-
preocupação de evitar grandes excavações. As
gista de Bruxelas, Sr. Louis Van Der Swaelmen,
demais, São Leopoldo, Uruguaiana, São Gabriel e
Irai, apresentam soluções já aplicadas às outras a escrever em 1918 ao autor dizendo: “J’ai lu
cidades. avec le plus grand intérêt votre remarquable li
vre — “Le Tracé Sanitaire des Villes” — et j’ai
No volume X III é interessante chamar a aten
été fort heureux de constater que les conclusions
ção para a feliz indicação da generalização do
qui découlent de vos principes s’accordent rigou-
hidrômetro em Pelotas, que permitiu resolver o
reusement, — celà ne pouvait du reste manquer
problema da água, que faltava naquela época
— avec le principe de 1’adaptation instinctive ou
(1927), falta que hoje (1943) não é mais sentida.
intentionnelle du tracé des cités à la configura-
Neste volume também merece destaque o trabalho
tion du sol ou en termes plus généraux, du prin
de Poços de Caldas, onde está indicada a cons
cipe de 1’influence du site sur le caractère des
trução de uma barragem para evitar as inunda
cités” . . . “Les résultats pratiques de votre prin
ções na cidade.
cipe et du mien coincident intégralement” .
Atenção especial merece, ainda, o volume X V
O traçado sanitário é lógico, pois é ditado pela
de projetos, onde há o estudo do Saneamento da
própria forma do terreno, pelos caminhos de água
Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro,
naturais, e é o mais econômico e mais simples para
que é dos mais interessantes deixados por Satur
a instalação dos serviços de água e esgotos.
nino de Brito. É o saneamento da Lagoa pela
mist.ura de águas doce e salgada, o que se realiza Em 1896, projetando um novo bairro para Vi
por aberturas periódicas de adufas nos canais de tória, capital do Estado do Espírito Santo, já an
ligação ao mar. tevia essa solução para o problema das novas
Os volumes X V I a XVIII, de Pareceres e Me cidades, e pode-se dizer que é êste bairro uma das
mórias, focalizam detalhes e respondem a consul mais antigas realizações urbanísticas no nosso país.
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No volume X X II, artigos e cartas sôbre Eco A obra que rapidamente passámos em revista
nomia, Sociologia e Moral, encontramos documen estava, como dissemos, em parte já anteriormente
tos reveladores da preocupação dêste grande enge editada e foi esta parte impressa que mereceu ci
nheiro pelos aspectos e problemas que dizem res tações em obras estrangeiras como: “Égouts et
peito ao bem estar da Humanidade. vidanges” (1911) do Dr. Ed. Imbeaux, “Traité
No volume X X III, encontram-se os tipos de de Technique Sanitaire” (1925) de Putzeys e
obràs como barragens, reservatórios, peças para Schoofs, “Tratado de Ingenieria Sanitaria” (1929)
poços, para tanques, tipos de coletores, etc., sempre de Manual Sallovitz, “Assainissement Général des
tendo em mira, além da estandardização, a solidez e Villes” (1934) de E. Mondon, “L'Assainissement
a facilidade de execução e fiscalização, para que as des agglomerations” (1937) de P . Koch.
cidades do interior pudessem aproveitar os pró
A obra completa dè Saturnino de Brito, cujos
prios materiais da zona e os seus próprios traba
lhadores. Neste mesmo volume estão as estampas vinte e três volumes deverão estar publicados até
do Catálogo “San-Brasil”, com todas as peças nu o f m dêste ano, é, na palavra do professor Baeta
meradas para qualquer instalação domiciliária de Neves, “essencialmente técnica e eminentemente
esgotos. Ê êste um esplêndido trabalho de coorde nacional” e com rumo técnico tão característico
nação e classificação que veio facilitar todo o ser que o fez denominá-la de “escola brasileira de Sa
viço dêste importante ramo da técnica sanitária, turnino de Brito”, ou “escola brasileira de enge
desde o almoxarifado até a execução, nharia sanitária” .