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Unifesp, Campus Zona Leste, São Paulo 210.00 taller total
Foto divulgação [UNIFESP. Projeto Político Pedagógico do Instituto das Ateliê Total, um olhar
Cidades – Campus Zona Leste, 2014] desde o século 21
Sylvia Adriana Dobry e
Nora Zoila Lamfri
como citar
210.01 taller total
ARANTES, Pedro Fiori; SANTOS JÚNIOR, Wilson Ribeiro dos; LEITE, Maria Amélia Formación y docencia en
Devitte Ferreira D’Azevedo. Um projeto de práticas pedagógicas transformadoras. la Universidad de hoy
A formação do arquiteto e urbanista no Instituto das Cidades da Unifesp na Zona Desafíos y realidades
Leste de São Paulo. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.06, Vitruvius, nov. Roberto Enrique
2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6803>. Gorostidi e Marta
Teresa Risso
A Universidade Federal de São Paulo – Unifesp está construindo um novo
campus destinado ao Instituto das Cidades (IC), localizado na região 210.02 taller total
Leste da cidade de São Paulo, tradicional área da classe trabalhadora Arquicriança
numa iniciativa compartilhada com os movimentos sociais que ali atuam e Estudo a partir das
que estiveram presentes em todas as etapas de implantação do novo Campus crianças moradoras de
Zona Leste, desde a conquista do terreno até a discussão do projeto cortiços e pensões em
pedagógico. Elaborado com forte influência do pensamento do grande São Paulo
educador Paulo Freire, autor da “pedagogia do oprimido” e “educação como Débora Sanches
prática de liberdade” o projeto político pedagógico do IC é baseado no 210.03 taller total
aprendizado por problemas a partir do reconhecimento das dinâmicas e dos La Catedra Gestión y
conflitos urbanos reais, em seus diversos contextos e escalas e irá se Desarrollo de la
desenvolver por meio de práticas didáticas inovadoras como o uso de Vivienda Popular – GDVP
jogos, dramatizações, multimeios de comunicação, modelos e protótipos, de la FAU UNNE
cartografias de conflitos e simulações, e também pela convivência dos Una experiencia
estudantes e professores nos Espaços Pedagógicos integrados de ensino, educativa innovadora
organizados em escritórios temáticos, laboratórios e oficinas. As enfocada en lo
relações entre teoria e prática, meios e fins, razão instrumental e formativo, cuyo
substantiva, tempo e lugar, são centrais para que os novos profissionais contenido es el
formados sejam capazes de reconhecer os problemas que afetam a vida das abordaje de la
populações nas cidades, palco e produto de conflitos sociais e onde problemática del
atuarão, inevitavelmente, de forma não neutra. hábitat social desde la
perspectiva de la
O novo Instituto reitera a vocação pública e congrega, de forma complejidad
integrada, as formações universitárias em Geografia, Arquitetura, Marta Giró, Rafael
Urbanismo, Administração Pública, Engenharia Civil e Engenharia Franco, María Bernabela
Ambiental, áreas de conhecimento correlatas à Arquitetura e Urbanismo que Pelli, Elizabeth Pace,
pensam, planejam, projetam, constroem e transformam as cidades e tem como Mariana Campos, Noel
compromisso descrever, compreender e propor soluções para os problemas Depettris, Rosario
urbanos, em especial, aqueles que afligem as maiorias desfavorecidas. Olmedo e Diego Poncio
O curso de Arquitetura e Urbanismo nasce, assim, a partir de uma 210.04 taller total
avaliação das condições de ensino e da prática profissional no século 21, La enseñanza de la
em contexto de fortes desafios colocados pela crise da urbanização arquitectura hoy, las
capitalista – intensiva, desigual e insustentável –, e pelo colapso de limitaciones del modelo
infraestruturas e serviços de um urbanismo em fim de linha, exigindo a de taller de proyecto y
necessária redefinição de políticas e ações em novos rumos, que promovam las alternativas
uma inflexão no modo de pensar, planejar, projetar e construir as posibles
cidades, e definam os aliados em defesa do que é comum, da qualidade de Luis Porter e Viviana
vida em uma cidade mais justa, integrada e acessível a todos. Miglioli
A ênfase do curso está na recuperação da vocação pública do arquiteto e 210.07 taller total
urbanista, como profissional orientado para a defesa da cidade e da A experiência do
arquitetura como bem comum e direito de todos; uma formação generalista, laboratório de
com visão global dos processos de urbanização e inteligência sistêmica arquitetura e urbanismo
integradora de áreas, mantendo diálogo permanente com cidadãos, usuários e seus desdobramentos
e produtores da cidade, entidades representativas e movimentos sociais. A como atividade de
escolha de temas de ensino, pesquisa e projeto irá se basear em critérios extensão universitária
de relevância, isto é, na definição de problemas que afetam o cotidiano Maria Albertina Jorge
dos trabalhadores e de todo conjunto multitudinário, vasto e heterogêneo. Carvalho
A atuação interdisciplinar e coletiva na resolução de problemas complexos
210.08 taller total
da urbanização orientará contextos de ensino-aprendizagem inovadores em
A questão da habitação
situações reais, abordados com indissociabilidade entre teoria e prática
social no ensino de
como princípio formador e integrador das atividades, e fundamento da
projeto integrado ao
permanente problematização e pesquisa de soluções por profissionais
desenho urbano
capazes de agir, simultaneamente, de forma crítico-reflexiva, imaginativa
Catharina Christina
e resolutiva. Será estimulada a proposição de tecnologias sociais e
Teixeira, Denise Falcão
sustentáveis, seja prospectiva ou de origem em técnicas e saberes
Pessoa, Giselly Barros
ancestrais; e com a defesa da história dos lugares e da qualidade do
Rodrigues, Mariana
ambiente construído como princípios indissociáveis na transformação das
Cicuto Barros, Rogerio
cidades em espaços democráticos, justos e de bem viver para todos.
Akamine, Solange de
Aragão e Vinícius Luz
A proposta da Unifesp de criação de um curso integrado reconhece a
de Lima
inescapável relação da arquitetura e urbanismo com os outros fatores e
agentes responsáveis pela produção, uso e transformação da cidade como
elemento determinante do ensino e da prática profissional do arquiteto e
urbanista contemporâneo.
A escolha da Zona Leste da cidade de São Paulo não é uma questão casual.
Trata-se do resultado de uma confluência entre a luta histórica dos
movimentos sociais por educação da creche à pós-graduação na região, que
é um espaço tradicional da classe trabalhadora na metrópole hoje com 4
milhões de habitantes (embora com apenas 2% de vagas no ensino superior
público), e da iniciativa da Unifesp de instalar seus novos campi em
regiões periféricas e vulneráveis da macrometrópole, de forma dialogada
com os movimentos sociais e especialistas nacionais e internacionais,
contextualizada e socialmente referenciada. Em especial, no caso da Zona
Leste, a aliança com os movimentos locais foi decisiva para a iniciativa,
e será também para a história desse Campus e do seu primeiro instituto,
cabendo destaque a todas as lutas sociais e demandas urbanas e por
moradia na região, com seus grupos de origem, ocupações, mutirões etc.
O Campus Zona Leste ainda permite que várias camadas históricas do seu
lugar, de uso e ocupação da sua gleba permaneçam de algum modo ativo,
física e pedagogicamente. São elas: a Área de Preservação Permanente –
APP, de cerca de 25 mil m², com mata nativa e duas nascentes e córregos
afluentes do Rio Jacu; o primeiro uso antrópico da gleba como chácara de
família de imigrantes japoneses, produtora de horti-fruti e integrante do
cinturão verde leste de São Paulo; sua conversão em área industrial no
final dos anos 1970 com a instalação da Metalúrgica Gazarra, uma das
principais fábricas da Zona Leste e importante lugar de memória operária;
e, por fim, sua transformação em Campus Universitário, uma mini-cidade em
diálogo com esses patrimônios materiais e imateriais, ambientais e
construídos.
Dos anos 1990 para cá, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
de Arquitetura e Urbanismo (DCNs), promulgadas em 1994 e atualizadas em
2010, bem como a Lei de Diretrizes de Base da Educação (LDB), de 1996,
abriram novas perspectivas do ponto de vista da legislação e
regularização do ensino. De um lado, as DCNs possibilitaram uma certa
homogeneização programática da formação, com ênfase no projeto de
Arquitetura, de Urbanismo e de Paisagismo, com a readequação dos cursos
existentes e formulação de novos. Particularmente, no caso dos novos
cursos criados, e que se submeteram à avaliação regulatória externa,
observa-se que o cumprimento das DCNs abriu novas possibilidades que têm
sido exploradas, em substituição ao currículo mínimo, como organizações
curriculares mais flexíveis, interdisciplinares, processuais e voltadas
para a uma “cidadania em construção”. No caso da Arquitetura e Urbanismo,
a área foi redefinida pela legislação em pauta como campo de conhecimento
de “ciências sociais aplicadas”, reconhecendo a distinção em relação às
belas-artes e à engenharia. O curso de Arquitetura e Urbanismo do
Instituto das Cidades da Unifesp pretende fazer uso, portanto, da
abertura legal que tanto as DCNs quanto a LDB permitem e estimulam, aos
moldes do que se verifica na nova onda de reestruturação de cursos
tradicionais como a UFPE, UFRJ, UFRGS, e também no surgimento de
projetos mais inovadores como a Universidade Federal de Integração
Latino-Americana – Unila, Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS e
outros, no âmbito do ensino público.
notas
DOBRY, Sylvia Adriana; LAMFRI, Nora Zoila. Ateliê Total, um olhar desde o
século 21. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.00, Vitruvius, nov. 2017
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6790>.
GIRÓ, Marta; FRANCO, Rafael; PELLI María Bernabela; PACE, Elizabeth; CAMPOS,
Mariana; DEPETTRIS, Noel; OLMEDO, Rosario; PONCIO, Diego. La Cátedra Gestión y
Desarrollo de la Vivienda Popular. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.03,
Vitruvius, nov. 2017
<www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6793>.
ARANTES, Pedro Fiori; SANTOS JÚNIOR, Wilson Ribeiro dos; LEITE, Maria Amélia
Devitte Ferreira D’Azevedo. Um projeto de práticas pedagógicas transformadoras.
A formação do arquiteto e urbanista no Instituto das Cidades da Unifesp na Zona
Leste de São Paulo. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 210.06, Vitruvius, nov.
2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.210/6803>.
1
ARANTES, Pedro Fiori. Arquitetura Nova: Sérgio Ferro, Flávio Império e Rodrigo
Lefèvre, de Artigas aos mutirões. São Paulo, Editora 34, 2002.
2
ARANTES, Pedro Fiori. Arquitetura na era digital financeira. São Paulo, Editora
34, 2012.
3
ARTIGAS, J. B. Vilanova. A função social do arquiteto. São Paulo, Nobel, 1985.
4
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO DE ARQUITETURA. Caderno 23: anais do XVIII
encontro nacional sobre ensino de Arquitetura e Urbanismo. Projeto político
pedagógico. Belo Horizonte, 2002.
5
FERRO, Sérgio. Programa para polo de ensino, pesquisa experimentação da
construção (1994) em arquitetura e trabalho livre. São Paulo, Cosac Naify,
2006.
6
LEFÈVRE, Rodrigo. Objetivos do ensino da arquitetura e meios para atingi-los em
trabalho de projeto. São Paulo, FAU USP, 1977.
7
LEFÈVRE, Rodrigo. Projeto de um acampamento de obra: uma utopia. Dissertação de
mestrado. São Paulo, FAU USP, 1980.
8
LEITE, Maria Amélia. A aprendizagem tecnológica do arquiteto. Tese de
doutorado. São Paulo, FAU USP, 2005.
9
PRONSATO, Sylvia Dobry. Para quem e com quem: ensino de arquitetura e
urbanismo. Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 2008.
10
11
RONCONI, Reginaldo. Inserção do canteiro experimental nas faculdades de
arquitetura e urbanismo. Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 2002.
12
SANTOS JR., Wilson Ribeiro. O currículo mínimo no ensino de Arquitetura e
Urbanismo no Brasil: 1969-1994. Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 2001.
13
SANTOS, Carlos Nelson dos. A cidade como um jogo de cartas. São Paulo, Projeto
Editores, 1988.
14
SANTOS, Roberto Eustáquio dos. Atrás das grades curriculares: da fragmentação
do currículo de graduação de arquitetura e urbanismo no Brasil. Dissertação de
mestrado. Belo Horizonte, Escola de Arquitetura UFMG, 2002.
15
SCHÖN, Donald A. Educando o Profissional Reflexivo: Um novo desenho para o
ensino e a aprendizagem. Porto Alegre, ArtMed, 2000.
16
SOUZA LIMA, Mayumi Watanabe de. A formação do arquiteto, ensino de arquitetura
e mercado de trabalho. Chão Revista de Arquitetura, Rio de Janeiro, n. 3, 1978.
17
SOUZA LIMA, Mayumi. Prática-investigação: um processo de trabalho na FAU São
José dos Campos. IX Congresso Brasileiro de Arquitetos, mimeo. Acervo MWSL,
Fundação Perseu Abramo.
18
UNIFESP. Projeto Político Pedagógico do Instituto das Cidades – Campus Zona
Leste, 2014.
19
UNIFESP. Projeto Político Pedagógico do Curso de Arquitetura e Urbanismo,
Instituto das Cidades – Campus Zona Leste, 2016.
sobre os autores
Wilson Ribeiro dos Santos Jr. é arquiteto e urbanista, doutor pela USP.
Professor Titular do POSURB e da FAU PUC-Campinas. Membro das Comissões
Nacionais de Avaliação da Área de Arquitetura e Urbanismo (2001-2013).
Coordenador Adjunto da Área de Arquitetura, Urbanismo e Design da Capes desde
2015.
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