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Identidade Visual:
O Encontro do Marketing com o Design.
Dorinho Bastos.
www.dorinho.com.br
A proposta feita em São Paulo, num trecho de 150 metros da Rua Gaspar Lourenço, na
Vila Mariana, tenta recolocar a arte na função que sempre teve desde os seus
primórdios: a de comunicador social.
Arte participando da comunidade, feita por ela, e para seu uso: desde o aspecto da
comunicação visual, fazendo da indicação do nome da rua um painel adequado à
rapidez com que a informação deve ser transmitida à reformulação plástica de uma
calçada, tornando-a de finalidade lúdica, ou propostas conceituais como a cobertura de
uma escadaria extensa, tornando mais amena sua transposição, ou, ainda, a inclusão de
aspectos cultural-sociológicos na reformulação de uma viela sanitária, com a inclusão
de base antropológica.
O IAC só existiu por três anos, através de convênio mantido com a Prefeitura. A
insuficiência de recursos não permitiu a continuidade daquela instituição, que, a
despeito da sua breve existência, ensejou o estabelecimento de contato com correntes de
pensamento que prevaleceriam no ensino formal de design no Brasil, do qual foi
pioneira (Niemeyer, pag. 65).
...é quase automático afirmar que a Identidade Visual no Brasil toma corpo exatamente
nesses anos tal foi a coincidência entre a produção de trabalhos de alta qualidade nesse
campo e o esforço de afirmação da própria identidade do designer como profissional.
(Stolarski, 2006, pág.216)
Para ilustrar esse momento do nosso design, coloco aqui alguns trabalhos que
marcaram essa época. Trabalhos de profissionais que participaram de todos esses
momentos citados anteriormente, como alunos e depois professores, e que podem e
devem ser mais observados em obras mais específicas de cada um. Selecionei estes
trabalhos, muito mais em função da época em que foram propostos do que pela
relevância em relação ao conjunto de obras desenvolvidas por esses profissionais.
Alexandre Wolner
EUCATEX / 1967
Uma empresa produtora de painéis e forros acústicos exige um signo que a representa
de forma significativa... O resultado que encontramos foi um signo que representou o
principal segmento da empresa, à época do problema: uma leitura icônica de acústica-
referencia ao labirinto existente no aparelho auditivo humano. A inicial do nome
corporativo da empresa em minúscula concentra a semelhança diagramática e
pictográfica relativa ao sistema auditivo/labirinto. (Wolner, 2003, pag.175)
João Carlos Cauduro/ Ludovico Martino
AÇOS VILLARES / 1967
Cabe dizer que, devido a amplitude do projeto e à abrangência dos itens que, de fato,
foram implantados, a Villares pode ser considerada pioneira, no Brasil, na estruturação
de um sistema visual coordenado para representar uma imagem corporativa de porte
junto ao mercado, ou seja, está entre as primeiras empresas a desfrutar, no país, de um
programa completo e sistêmico de identidade visual, dentro dos cânones modernos.
(Longo, 2007, pag. 39)
Aloísio Magalhães
COMGÁS/ 1971
Não sei se fui persuasivo o suficiente, mas minha intenção nas colocações
anteriores, em breves relatos das ações na Rua Gaspar Lourenço nos anos 70, nos
eventos que iniciaram o ensino do Design no país e na colocação dos três trabalhos de
Identidade Visual Corporativa nos anos 60, foi mostrar que nessas ações sempre houve
o suporte de uma carga de conhecimento da área, baseada em reflexões já estabelecidas
e que, experimentalmente ou não, tinham as melhores intenções em fundar uma
consciência e dar importância ao design no Brasil.
E os que se esforçaram para que isso acontecesse, tiveram êxito, lógico. O
Design, como área de conhecimento e profissional, teve nos anos seguintes uma
ascensão indiscutível. Hoje, design, é palavra que faz parte de discursos populares. E
isso, em função de suas diversas aplicações numa infinidade de segmentos de mercado.
E num cenário onde o mercado não para de evoluir, desde a chamada “revolução
industrial”, que parece não ter fim, e estabelece uma permanente guerra entre marcas
concorrentes, o design, por si só, passa a não resolver todas as necessidades de
expressão da marca.
E essas necessidades, em função do desenvolvimento tecnológico e meios de
comunicação, se tornaram cada vez mais urgentes. E a disciplina que vem resolver as
questões surgidas dessa evolução, é o Marketing. Disciplina que acabou capitaneando
todas as ações que pudessem gerar reconhecimento e valor de marca. Propaganda,
promoção, relações públicas, eventos e design, são algumas das ditas “ferramentas” de
uma área tão ampla como o Marketing.
Sinto que esta é uma das palavras mais utilizadas nas três últimas décadas. Hoje
tudo é MARKETING. Seus conceitos e estratégias estão inseridos em praticamente
todas as atividades humanas, pelo menos as profissionais.
Não cabe aqui, nem temos espaço para isso, dissertar sobre origens, conceitos e
modelos dessa atividade tão recorrente. O que gostaria, para uma reflexão do leitor, é
fazer algumas colocações sobre a mudança de raciocínio em relação a construção de
uma marca, desde que o marketing teve o domínio das ações.
O que me parece é que o trabalho do designer, que é o que me cabe aqui
analisar, acabou ficando em segundo plano. As estratégias de marketing para a
construção de uma marca deixam seu design em plano secundário.
Aliás, é curiosa a evolução que teve o termo “construção de marca”. Para os
designers pioneiros da área no país, que estudaram sob a égide de escolas européias que
fundaram os conceitos em busca da “boa forma”, e que posteriormente, como
professores, disseminaram esses conceitos, “construção de marca” era a busca de um
desenho inovador, dentro de uma modulação, grade, geometria e sistematização, que
possibilitasse o gerenciamento da implantação nos produtos e demais manifestações
visuais da empresa. “Construção de marca” era projeto, era “Design”.
As propostas eram novas, criativas, com soluções gráficas inteligentes,
esteticamente resolvidas e criadas dentro de parâmetros que permaneciam intactos ao
longo do tempo.
Isso é passado. A “construção da marca” dos nossos dias remete aos conceitos
do “branding” desenvolvido nos Estados Unidos. A nação do marketing.
Na evolução da sociedade de consumo, a “construção de marca” passou a ter
outros componentes em sua concepção. Os ditos intangíveis. Pyr Marcondes, na obra
“Marcas: Uma História de Amor Mercadológica”, diz:
Marca não é uma coisa, um produto, uma companhia ou uma organização. Marcas não
existem no mundo físico, são construções mentais. Marcas podem ser mais bem
definidas como a soma total de experiências humanas, percepções e sentimentos.
(Marcondes, 2003, pag21)
Enfim, a obra No Logo, que na verdade relaciona a atuação das grandes marcas
apoiadas em estratégias de marketing, com os males da explosão do consumo, acabou
incentivando minhas reflexões sobre o pouco cuidado que tem acontecido com as
marcas, do ponto de vista do design. Preocupação que tenho colocado em aulas e
palestras. E ótimo que surja agora Pró Logo, que fazendo um contra-ponto a obra de
Klein, nos ajuda a amenizar extintos mais radicais. Nessa obra, os autores manifestam a
importância do que chamam “identidade de marca.”, discurso colocado num capítulo
específico, ainda que demasiadamente conceitual apoiado na semiótica, valoriza a
atuação dos aspectos visuais das marcas.
Importante colocar aqui minha consciência de que hoje uma marca não
sobrevive sem a inclusão de ações de marketing na sua construção. Como dito
anteriormente, só o design não sustenta a “geração de valor” tão necessária para uma
marca no mundo globalizado. Se nos anos 60 e 70, o designer propunha um “Manual de
Identidade Visual” e discursava ao seu cliente: “Utilizando sua marca conforme as
normas estabelecidas neste manual, ela terá um grau de reconhecimento dentro de 3, 4,
5 anos”, hoje uma marca atinge um alto grau de reconhecimento em semanas, em
função de estratégias de marketing impostas a ela.
E o designer de hoje tem a obrigação de ter esse conhecimento. Mesmo não
sendo ele o estrategista do ponto de vista do marketing, seu trabalho tem que ter essa
visão futura. Para isso, hoje é fundamental, por exemplo, que marketing faça parte das
grades curriculares dos cursos de design. Essa foi minha posição como participante da
comissão de professores que criou o Curso de Design da Usp, em funcionamento desde
2006. E para ilustrar os contrastes surgidos através dos tempos, causados pela nossa
“evolução social”, é só imaginarmos como causaria estranheza se no curso da Bauhaus
tivesse a disciplina marketing.
Posto isso, penso deixar claro a importância, nos nossos dias, da disciplina
marketing na concepção da Identidade Visual Corporativa. Mas enfatizo que o discurso
do marketing não deve deixar em segundo plano outras importantes áreas profissionais,
como o design. Estratégias de marketing não devem mascarar marcas mal resolvidas
que nos cercam. Se não, corremos o risco de ver, num futuro próximo, um mundo
abarrotado de marcas traduzidas graficamente em quadradinhos e bolinhas vermelhas
com o nome da empresa em branco, sustentadas por estratégias audaciosas de
marketing.
Design e Marketing devem, numa soma de esforços, além de construir valor
para as marcas, através da geração de Identidades Visuais Corporativas, se esforçar para
deixar nosso mundo um pouco mais criativo, interessante e bonito.