Você está na página 1de 9

1

Curso: MBA em Gestão de Negócios


Modalidade do curso: a distância
Disciplina: Desenvolvendo um Plano de Negócios

NOTAS DE APOIO PARA O ALUNO

O PROCESSO EMPREENDEDOR
José A. Lerosa de Siqueira

O século 21 muito provavelmente será aquele em que o comportamento empreendedor, na


população em geral e não apenas em alguns inspirados, será considerado habilidade essencial
para a sobrevivência econômica ativa num mundo em que a automação já é uma alternativa a
considerar.

Imagine qualquer pessoa exercendo seu trabalho hoje. Se for um trabalhador da indústria,
estará cercado por robôs industriais, que operam com mais precisão, rapidez e qualidade que o
operador humano, com um investimento que se amortiza rapidamente em função da
velocidade, da versatilidade e da despreocupação do fabricante com férias, bônus de fim de ano
ou qualquer benefício trabalhista. Restará somente o operador do sistema, que estará presente
para garantir que o sistema não pare, não desvie do programa, não faça nada que não tenha
sido programado. Ele precisará saber tomar decisões rápidas com base em informações
incompletas, de forma proativa, consultando outras pessoas tão bem capacitadas.

Para os preocupados com a possibilidade de excesso de automação, tal que não haja espaço
para uma pessoa viver em função do poder de seu cérebro, a automação só sobrevive quando
ocorre em modo auto-limitante. Se houver excesso de automação, não haverá mercado
comprador com recursos para comprar o que a automação produz. Há também o aspecto de
governança: quanto maior for a automação, em menos mãos os poderes se concentram – e a
deflagração de uma greve pode ser decidida no boteco da esquina. Na França, as montadoras
de automóveis reduziram o seu grau de automação nos anos 00, para distribuir o poder por mais
pessoas.

O perfil do empreendedor descrito acima, de alguém que consiga enfrentar emergências de


forma colaborativa e rápida, sempre foi muito valorizado. Passa agora a ser essencial.

No final dos anos 50, o mundo percebeu que os computadores vieram para mudar tudo. O que
começou sendo um instrumento militar e científico de repente se mostrou acessível a uma
quantidade cada vez maior de negócios.

Como as universidades reagem rapidamente ao mundo ao seu redor, já a partir do final dos anos
60 os alunos dos cursos superiores passaram a aprender na faculdade a lidar com aqueles
equipamentos denominados cérebros eletrônicos, depois computadores eletrônicos, em
seguida apenas computadores, desktops, laptops, smartphones, que nome virá agora?
Minimamente, precisavam entender seu funcionamento e saber passar instruções para eles.
Este know how mínimo era essencial para conseguir um emprego com um salário razoável.

Ainda dentro do mesmo processo, o mundo continua substituindo o ser humano no papel de
executor de atividades manuais, previsíveis e repetitivas pelo computador na sua forma
robotizada.

Obtém-se um perfil empreendedor exercitando-se na arte e na técnica de envolver-se com


processos empreendedores.
2

O processo empreendedor começa quando uma equipe de pessoas se organiza com o objetivo
de montar uma máquina de desempenho. Segundo Vijay Govindarajan, um dos autores do livro
O Desafio da Inovação, uma máquina de desempenho é o resultado da implementação de um
modelo de negócio. Ela é um sistema organizado de recursos que alavanca o trabalho de
produzir um certo tipo de valor.

Imaginemos um amolador de facas, daqueles que ainda são encontrados nas ruas de São Paulo,
avisando que está disponível tocando um arpejo numa flautinha de plástico. Ele faz parte de
uma máquina de desempenho denominada Prestadora de Serviços de Amolação,
autossustentável tanto ambientalmente como financeiramente, formada por um conjunto de
equipamentos (no caso dele, um esmeril, um rebolo (pedra cilíndrica) de um material muito
duro denominado carborundum que é usado para afiar lâminas de facas, tesouras e aparelhos
cirúrgicos; um operador capacitado (o amolador); um procedimento sobre como afiar os
diversos tipos de instrumentos com lâmina (no caso, já totalmente implícito no seu modo de
trabalhar). Esta máquina de desempenho consegue fazer uso dos equipamentos e do operador
em qualquer processo necessário durante a sua operação, desde o processo de divulgação
(através da flautinha), passando pelos processos de operação (afiar tesoura, afiar faca) até o
processo de cobrança (x reais cada faca, y reais cada tesoura). A entidade para quem a máquina
de desempenho gera valor é o dono ou auxiliar da faca, da tesoura, do instrumento cortante. O
valor gerado consiste em colocar o instrumento de volta a uma situação ideal para o seu uso. O
dono fica agradecido e acha justo pagar ao amolador o que ele combinou que iria custar. Sem
uma máquina de desempenho, o amolador não consegue gerar valor para o dono da faca.

Vamos supor agora que o amolador de faca deseja desenvolver uma nova máquina de
desempenho, que faça mais do que afiar instrumentos cortantes. Ele conseguirá isto através de
um processo empreendedor.

Empreendedorismo é um modo de agir, que busca fazer acontecer. O empreendedor é a pessoa


que faz o mundo girar. É uma competência técnica (como exemplos, o construtor de obras civis,
o maestro de um coral) e também social (o construtor de obras civis, o maestro de um coral). As
economias de nações já foram destruídas por falta de empreendedorismo (os países comunistas
atrás da antiga cortina de ferro). Nações já foram salvas pelo incentivo ao empreendedorismo
(Portugal no final do século 15, com D. Manoel, o Venturoso; China a partir das anos 80).

Alex Osterwalder, um dos principais autores e organizador do livro Business Model Generation,
desenvolveu o Business Model Canvas durante a preparação de sua tese de doutorado, ao
propor um modelo de informações para a máquina de desempenho, inicialmente pelo lado de
fora, isto é, sua arquitetura, seu manual de instruções, para mostrar como interage com o
universo; e depois, pelo lado de dentro, ao propor um manual de sistema do esquema
informatizado subjacente, do backoffice, onde ocorrem os efeitos das soluções de design que
viabilizam a transmutação do modelo de negócio para o mundo real – com ou sem sucesso.

Devo considerar o empreendedorismo como aspecto chave do papel do trabalhador do


conhecimento do século 21, da mesma forma como o conhecimento e a experiência em
fisiologia e comportamento do corpo humano é aspecto chave do papel do médico.

A maioria das pessoas se tornará trabalhador do conhecimento durante o século atual, a tal
ponto de se tornar quase uma redundância, porque serão raros os trabalhadores que
dispensarão qualquer componente automatizado no processo.
3

O empreendedorismo é um fenômeno de rede, não do indivíduo. Uma pessoa como o


personagem do filme O Náufrago. O avião cai no oceano e ele consegue chegar quase afogado
a uma pequena ilha totalmente deserta. Ao longo dos anos seguintes ele aprende a se manter
vivo e a se defender dos perigos, tudo feito sozinho. No final do filme ele está em bom estado
físico. Do mental pouco se sabe. Não é deste perfil que estou falando, não é o do empreendedor.
Self-made men não existem.

É possível treinar alguém para ser empreendedor? Sim, é uma competência transmissível. Isto
não está provado, porém já foi demonstrado inúmeras vezes na história da riqueza das nações.

Características do processo empreendedor

Empreendedorismo é:

• um processo

• não é uma pessoa

• sobre GRANDES empresas que calham estar ainda pequenas

• não é sobre pequenas empresas

• fundamental para GRANDES negócios


4

Algumas reflexões a respeito do empreendedorismo

O processo empreendedor exige várias tentativas sucessivas para atingir o sucesso; é


preciso saber dosar a complexidade do produto buscado. Não é um processo trivial, pois
requer mais do que conhecimento. Requer alguma experiência também.

É preciso aprender a lidar com a frustração para conseguir aprender a transformar


insucessos em sucessos. Não é uma experiência agradável. O único jeito é definir como
objetivo principal a obtenção de novas experiências que possam se transformar com o
tempo em know-how.

O processo requer um trabalho de colaboração entre diversos atores. Desenvolver um


modelo de negócio validado e implementá-lo envolve a cooperação de talentos que
geralmente são encontrados distribuídos em pessoas distintas.

Trabalhar em equipe com resultados requer algumas qualidades:

Formalização do protocolo das interfaces – pelo bem da boa comunicação entre os


elementos da startup

Clareza na comunicação – para facilitar a tomada de decisões

Desenvolvimento de um dicionário próprio – que faz parte da máquina de desempenho

Uso de templates (formulários) que estruturam o processo de detalhamento dos planos


e ajudam na monitoração – para permitir o gerenciamento do processo empreendedor

Clareza nos objetivos buscados (haver uma rota definida) – para que a motivação não
desapareça por falta de uma visão comum

Desprendimento - pivotar o produto; pivotar a equipe; pivotar sempre que não for mais
possível aprender ao longo do trajeto atual, ou que o aprendizado não seja mais
acionável – ser capaz de tomar medidas drásticas, como virar a página ou encerrar de
imediato o processo empreendedor.

A tendência a abandonar o esforço é muito forte; há necessidade de gratificações e


recompensas ao longo do caminho; de retornos imediatos à consecução de objetivos
específicos. Há um limite para a crença do empreendedor. Quando ele deixa de acreditar
ele perde a motivação. Este é o problema do desenvolvimento de planos quinquenais,
só resolvido com muita governança. O mesmo problema ocorre com o desenvolvimento
de fármacos, que pode levar mais de 10 anos para chegar ao mercado.

Os produtos dos primeiros projetos são aprendizados sobre a realidade do mercado e


sobre como se trabalha em equipe. As estatísticas mostram que o empreendedor atinge
um certo grau de sucesso a partir do quarto processo empreendedor. O que elas não
explicam é que os três primeiros serviram para treiná-lo a seguir na direção correta, que
muda de momento a momento.
5

Características do processo empreendedor acadêmico

Ações empreendedoras isoladas apresentam índice elevado de resultados


insatisfatórios. O papel aceita tudo, logo não há risco. Sem risco, não há bônus. No
processo acadêmico os recursos disponíveis para a implementação do modelo de
negócio são muito limitados. Não fica claro o valor do ativo desenvolvido.

A universidade como agente empreendedor deixa a desejar. Não é permitido que ela
atue como agente empreendedor.

Não há recursos para grandes investimentos – exceto para as exceções.

Tudo depende da copropriedade – Provavelmente ninguém na equipe tem alguma


experiência real.

Os cursos são muito curtos – seis meses é o suficiente para desenvolver um primeiro
negócio. Isto pode ser o ponto de partida desde que o curso já preveja uma continuidade
após o seu término.

Projetos de inovação e projetos de pesquisa – como dotá-los de uma camada de


empreendedorismo?

Pesquisa é transformar recursos financeiros em conhecimento.

Inovação é transformar conhecimento em recursos financeiros.

Áreas do conhecimento que contribuem para o sucesso de venturas

Gestão de projetos - lidar com o problema como um engenheiro – com visão constante
das metas estratégicas, táticas e operacionais e tomando as decisões mais corretas para
que aumente a probabilidade de alcançá-las.

Comportamento organizacional em equipes – aprender como se comportar durante


uma crise, durante a qual não se sabe quais regras estão valendo.

Inteligência emocional – saber empatizar com o cliente, sentir-se parte de uma equipe
de alto desempenho

Gestão do conhecimento – saber consolidar o que foi aprendido em novos ativos


organizacionais.

Desenvolvimento do produto – saber desenvolver protótipos físicos e virtuais.


6

Termos-chave

Proposta de valor – o ponto de partida do processo

Modelo de negócio – o produto, em última análise, de todo processo inovador.

Plano de negócio – o plano do projeto de implementação do modelo de negócio

Máquina de desempenho – o aparato sócio-industrial que gera o valor e o transforma


nos recursos necessários para sua própria sustentabilidade, bem como para sua
evolução quando as condições do negócio mudarem.

Há procedimentos aplicados com sucesso hoje, isto é, uma parte do processo


empreendedor já é bem conhecida e dominada.

Há boas práticas, talvez melhores práticas, que podem ser aprendidas através de
processos de benchmarking – é plenamente possível desenvolver uma máquina de
desempenho de referência para qualquer espécie de máquina de desempenho. Mas não
existe uma máquina de desempenho que produza outros tipos de máquinas de
desempenho.

Coisas que deram errado – errar é a recompensa por uma experiência bem feita, desde
que se aprenda algo acionável com o erro.

Pontos ainda nebulosos – pontos cegos

Existem princípios e diretrizes gerais de atuação no ecossistema? Certamente, mas será


que o ambiente está sempre aberto a processos empreendedores?

Há conflitos entre desejos e propósitos? Por exemplo, com uma universidade cuja
receita depende da arrecadação do ICMS nunca pensou em tentar otimizar os setores
econômicos que pagam ICMS, de modo a aumentar sua própria receita? O desejo é gerar
conhecimento, quando o propósito é colocar este conhecimento em prática.

Premissas a serem comprovadas

O monitoramento dos processos é possível? O que precisa ser monitorado? Como se


estabelece um tambor marcando o ritmo?

É possível rastrear os resultados de volta até as práticas que os originaram?

Sabe-se como medir os resultados?

Sabe-se (na universidade) como aplicar um método de estudo sistemático do


ecossistema sob vários aspectos, à semelhança do que se fez no passado para criar o
CIETEC?
7

Premissas já comprovadas

É válido encarar a prática do empreendedorismo como um esporte a ser aprendido


gradualmente e da mesma forma que qualquer esporte. Há determinados talentos que
fazem alguém sobressair, mas qualquer um pode aprender a praticar qualquer esporte
que deseje, através do aprendizado dos fundamentos, das táticas, do desenvolvimento
dos músculos necessários e do treino contínuo.

Easy, light, smooth, fast - isto vem de um método para aprender a correr e significa:

easy: comece mantendo sempre um conforto mínimo, porque todo esporte radical
desgasta demais e cansa rápido, levando à desistência

light: depois que você consegue correr com prazer, aprenda a relaxar os músculos,
usando-os apenas quando puderem ser produtivos

smooth: agora apresente seus músculos atuantes entre si, fazendo com que trabalhem
sem sobressaltos

fast: descubra onde é o acelerador e pise

A meta de qualquer projeto empreendedor é sempre criar valor, com sustentabilidade


ambiental e financeira

As três hipóteses a serem verificadas

1. Existe um cliente!
2. Existe um mercado
3. O negócio tem escalabilidade

Equipes heterogêneas são mais criativas

Uso de vídeos é melhor do que de apresentações em powerpoint

Não existem introvertidos

Há jogos e dinâmicas para o desenvolvimento da habilidade empreendedora

Thinking fast and slow – a dinâmica

Competições de geração de valor

Treinamento no exercício de papeis como liderar e obedecer


8

A confusão entre inovação e empreendedorismo:

Imaginação é conseguir visualizar algo que ainda não existe

Idear é usar a imaginação para encontrar um caminho para uma solução de um


problema

Inovar é desenvolver um modelo de negócio a partir da compreensão das demandas

Empreender é implementar um plano de negócio desenvolvido a partir de um modelo


de negócio que tenha sido validado na prática

Lean innovation

Ciclo Build/Measure/Learn

Falhe barato, aprenda logo

Pivotar – dar um passo para trás e reavaliar a sua situação


9

Tópicos para estudo e pesquisa

Gamificação do processo de ensino e aprendizagem de empreendedorismo

Modelo Informacional de Empreendimento (Enterprise Information Model)

PMO como gestor profissional / dashboards

Processo de aceleração de startups

Utilização e desenvolvimento de procedimentos enxutos para startups

Mergulho inspirativo em Lean Manufacturing e Motivação Humana

Criação de arcabouço experimental que apoie todas as iniciativas de empreendedorismo


na universidade

Mapeamento (levantamento?) de demandas dos clusters produtivos e das


potencialidades de parceria; e das ofertas e talentos de pesquisa

Contabilidade da inovação

Design Thinking (tópico confuso para muitos e de importância essencial)

O passo mais difícil – o primeiro passo

Levar o método para a montagem de uma aceleradora de projetos acadêmicos

Você também pode gostar