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O PROCESSO EMPREENDEDOR
José A. Lerosa de Siqueira
Imagine qualquer pessoa exercendo seu trabalho hoje. Se for um trabalhador da indústria,
estará cercado por robôs industriais, que operam com mais precisão, rapidez e qualidade que o
operador humano, com um investimento que se amortiza rapidamente em função da
velocidade, da versatilidade e da despreocupação do fabricante com férias, bônus de fim de ano
ou qualquer benefício trabalhista. Restará somente o operador do sistema, que estará presente
para garantir que o sistema não pare, não desvie do programa, não faça nada que não tenha
sido programado. Ele precisará saber tomar decisões rápidas com base em informações
incompletas, de forma proativa, consultando outras pessoas tão bem capacitadas.
Para os preocupados com a possibilidade de excesso de automação, tal que não haja espaço
para uma pessoa viver em função do poder de seu cérebro, a automação só sobrevive quando
ocorre em modo auto-limitante. Se houver excesso de automação, não haverá mercado
comprador com recursos para comprar o que a automação produz. Há também o aspecto de
governança: quanto maior for a automação, em menos mãos os poderes se concentram – e a
deflagração de uma greve pode ser decidida no boteco da esquina. Na França, as montadoras
de automóveis reduziram o seu grau de automação nos anos 00, para distribuir o poder por mais
pessoas.
No final dos anos 50, o mundo percebeu que os computadores vieram para mudar tudo. O que
começou sendo um instrumento militar e científico de repente se mostrou acessível a uma
quantidade cada vez maior de negócios.
Como as universidades reagem rapidamente ao mundo ao seu redor, já a partir do final dos anos
60 os alunos dos cursos superiores passaram a aprender na faculdade a lidar com aqueles
equipamentos denominados cérebros eletrônicos, depois computadores eletrônicos, em
seguida apenas computadores, desktops, laptops, smartphones, que nome virá agora?
Minimamente, precisavam entender seu funcionamento e saber passar instruções para eles.
Este know how mínimo era essencial para conseguir um emprego com um salário razoável.
Ainda dentro do mesmo processo, o mundo continua substituindo o ser humano no papel de
executor de atividades manuais, previsíveis e repetitivas pelo computador na sua forma
robotizada.
O processo empreendedor começa quando uma equipe de pessoas se organiza com o objetivo
de montar uma máquina de desempenho. Segundo Vijay Govindarajan, um dos autores do livro
O Desafio da Inovação, uma máquina de desempenho é o resultado da implementação de um
modelo de negócio. Ela é um sistema organizado de recursos que alavanca o trabalho de
produzir um certo tipo de valor.
Imaginemos um amolador de facas, daqueles que ainda são encontrados nas ruas de São Paulo,
avisando que está disponível tocando um arpejo numa flautinha de plástico. Ele faz parte de
uma máquina de desempenho denominada Prestadora de Serviços de Amolação,
autossustentável tanto ambientalmente como financeiramente, formada por um conjunto de
equipamentos (no caso dele, um esmeril, um rebolo (pedra cilíndrica) de um material muito
duro denominado carborundum que é usado para afiar lâminas de facas, tesouras e aparelhos
cirúrgicos; um operador capacitado (o amolador); um procedimento sobre como afiar os
diversos tipos de instrumentos com lâmina (no caso, já totalmente implícito no seu modo de
trabalhar). Esta máquina de desempenho consegue fazer uso dos equipamentos e do operador
em qualquer processo necessário durante a sua operação, desde o processo de divulgação
(através da flautinha), passando pelos processos de operação (afiar tesoura, afiar faca) até o
processo de cobrança (x reais cada faca, y reais cada tesoura). A entidade para quem a máquina
de desempenho gera valor é o dono ou auxiliar da faca, da tesoura, do instrumento cortante. O
valor gerado consiste em colocar o instrumento de volta a uma situação ideal para o seu uso. O
dono fica agradecido e acha justo pagar ao amolador o que ele combinou que iria custar. Sem
uma máquina de desempenho, o amolador não consegue gerar valor para o dono da faca.
Vamos supor agora que o amolador de faca deseja desenvolver uma nova máquina de
desempenho, que faça mais do que afiar instrumentos cortantes. Ele conseguirá isto através de
um processo empreendedor.
Alex Osterwalder, um dos principais autores e organizador do livro Business Model Generation,
desenvolveu o Business Model Canvas durante a preparação de sua tese de doutorado, ao
propor um modelo de informações para a máquina de desempenho, inicialmente pelo lado de
fora, isto é, sua arquitetura, seu manual de instruções, para mostrar como interage com o
universo; e depois, pelo lado de dentro, ao propor um manual de sistema do esquema
informatizado subjacente, do backoffice, onde ocorrem os efeitos das soluções de design que
viabilizam a transmutação do modelo de negócio para o mundo real – com ou sem sucesso.
A maioria das pessoas se tornará trabalhador do conhecimento durante o século atual, a tal
ponto de se tornar quase uma redundância, porque serão raros os trabalhadores que
dispensarão qualquer componente automatizado no processo.
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É possível treinar alguém para ser empreendedor? Sim, é uma competência transmissível. Isto
não está provado, porém já foi demonstrado inúmeras vezes na história da riqueza das nações.
Empreendedorismo é:
• um processo
Clareza nos objetivos buscados (haver uma rota definida) – para que a motivação não
desapareça por falta de uma visão comum
Desprendimento - pivotar o produto; pivotar a equipe; pivotar sempre que não for mais
possível aprender ao longo do trajeto atual, ou que o aprendizado não seja mais
acionável – ser capaz de tomar medidas drásticas, como virar a página ou encerrar de
imediato o processo empreendedor.
A universidade como agente empreendedor deixa a desejar. Não é permitido que ela
atue como agente empreendedor.
Os cursos são muito curtos – seis meses é o suficiente para desenvolver um primeiro
negócio. Isto pode ser o ponto de partida desde que o curso já preveja uma continuidade
após o seu término.
Gestão de projetos - lidar com o problema como um engenheiro – com visão constante
das metas estratégicas, táticas e operacionais e tomando as decisões mais corretas para
que aumente a probabilidade de alcançá-las.
Inteligência emocional – saber empatizar com o cliente, sentir-se parte de uma equipe
de alto desempenho
Termos-chave
Há boas práticas, talvez melhores práticas, que podem ser aprendidas através de
processos de benchmarking – é plenamente possível desenvolver uma máquina de
desempenho de referência para qualquer espécie de máquina de desempenho. Mas não
existe uma máquina de desempenho que produza outros tipos de máquinas de
desempenho.
Coisas que deram errado – errar é a recompensa por uma experiência bem feita, desde
que se aprenda algo acionável com o erro.
Há conflitos entre desejos e propósitos? Por exemplo, com uma universidade cuja
receita depende da arrecadação do ICMS nunca pensou em tentar otimizar os setores
econômicos que pagam ICMS, de modo a aumentar sua própria receita? O desejo é gerar
conhecimento, quando o propósito é colocar este conhecimento em prática.
Premissas já comprovadas
Easy, light, smooth, fast - isto vem de um método para aprender a correr e significa:
easy: comece mantendo sempre um conforto mínimo, porque todo esporte radical
desgasta demais e cansa rápido, levando à desistência
light: depois que você consegue correr com prazer, aprenda a relaxar os músculos,
usando-os apenas quando puderem ser produtivos
smooth: agora apresente seus músculos atuantes entre si, fazendo com que trabalhem
sem sobressaltos
1. Existe um cliente!
2. Existe um mercado
3. O negócio tem escalabilidade
Lean innovation
Ciclo Build/Measure/Learn
Contabilidade da inovação