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inovação
Capítulo 8 do livro Gestão de custos de obra – 2ª ed.
uma decisão do que fazer com o planejamento da obra! Vai abrir mais uma frente
de serviço? Autorizar hora extra para algumas equipes? Dobrar o turno? Mobilizar
mais equipamentos? Por que tanta flutuação de produtividade nas últimas semanas?
A decisão (ainda) é do homem. Se tem algo que o robô ainda não aprendeu é liderar
pessoas.
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Espera
Área
Por espera define-se qualquer inutilizada Transporte Estoque
Fig. 3 Caminhão em
espera
Fonte: Eng. Macel
Wallace.
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Movimentação
Os desperdícios por movimentação ocorrem quando operários ou equipamentos rea-
lizam movimentos dispensáveis na execução de uma determinada atividade, sem
agregar valor ao produto final. Um exemplo é o deslocamento para buscar ferramen-
tas e materiais.
Uma das técnicas utilizadas para tentar reduzir desperdício por movimentação
é o estudo de tempos nas operações. A Fig. 4 mostra o deslocamento dos operários
em uma central de armação. Nota-se claramente que o arranjo da central não é dos
mais eficientes, pois há muito desloca-
mento para um local afastado do centro
de gravidade das operações. O que você
faria nesse caso?
Processos desnecessários
Os desperdícios por processos desneces-
sários se manifestam pela existência de
processos intermediários que acabam
por não agregar valor e tornam as ativi-
dades complexas e até redundantes.
Um exemplo clássico é a dupla carga
Fig. 4 Mapeamento da movimentação dos
(“dois tombos”, como se diz no jargão
operários
da construção). Imagine que se faz uma
escavação, leva-se o material para uma pilha de estoque e depois para o local de
aterro. As duas cargas poderiam ser reduzidas a apenas uma se o processo fosse
otimizado. A carga dupla é comum na descarga de material no canteiro de obra: o
fornecedor descarrega o material no chão, um operário o transporta para o almoxa-
rifado, depois o produto vai para uma pilha no monta-carga (ou cremalheira) e daí
para uma pilha no pavimento de aplicação do produto.
Área inutilizada
Por área inutilizada define-se qualquer espaço dedicado à produção, porém que não
é necessário ao processo construtivo. A existência dessa área ociosa pode agregar
desperdício dos seguintes elementos:
Vigilância: em grandes obras, um canteiro de obras muito extenso, cheio de
vazios, pode levar a um custo desnecessário de vigilância.
Supervisão: uma área maior do que a estritamente necessária pode gerar
descontrole de materiais e má distribuição do efetivo.
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Transporte
A movimentação excessiva ou desnecessária de estoques intermediários configura
um desperdício evidente. Mas não é só isso. Numa obra há muitos meios de transporte
erroneamente utilizados, como carrinho de mão transportando blocos cerâmicos
(um dia desses vi um carrinho de mão abarrotado de concreto fresco!).
Uma análise dos transportes externos e internos da obra pode ajudar a reduzir
desperdícios. Alguns exemplos:
Entrega: você já viu caminhões trazendo mercadoria, mas sem entrar na
obra? A construtora precisa alocar vários ajudantes só para fazer o trans-
porte entre o caminhão e o almoxarifado ou o local de estocagem do produto.
Será que, se o caminhão de fornecimento fosse menor, a entrega e a descarga
não seriam mais práticas?
Obra linear: imagine uma estrada ou uma ferrovia. Nesses casos, é comum que
a construtora receba entregas num ponto central para futura distribuição
interna. Um estudo de logística de canteiro pode apontar para a viabilidade
de o fornecedor entregar o produto em pontos espalhados ao longo da obra,
reduzindo os custos de transporte.
Estoque
Muito gestor de construtora sente orgulho de exibir um almoxarifado repleto de mer-
cadoria: sacos, latas, rolos e pilhas de produtos estocados até o teto. Isso é motivo de
orgulho? Depende. Se a aplicação se der nos dias seguintes, sim; mas, se os produtos
só forem utilizados meses depois, o estoque representa uma compra feita com muita
antecipação, ou seja, dinheiro gasto antes da hora.
Alguns pontos de reflexão:
Excesso de material “parado” significa dinheiro imobilizado, além de gastos
desnecessários com estocagem (estoque tem custo).
Entregas muito antecipadas ou atrasadas são indício de que o cronograma de
suprimento da construtora está furado (se é que ele existe...).
As técnicas de gestão da produção objetivam minimizar o estoque. O ideal é
que o produto seja entregue na obra o mais perto possível da aplicação – just
in time quer dizer exatamente isso: bem na hora.
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Produção excessiva
A produção excessiva é um tipo de desperdício que pode ser de constatação fácil ou
difícil. É fácil identificar a superprodução quando se nota visualmente que a equipe
gerou mais produto ou realizou mais serviço do que o necessário, como quando se
escava mais do que o projeto pede ou quando a produção ocorre muito antecipada-
mente à utilização, gerando estoque.
Entretanto, há também outros tipos de produção excessiva a ser combatida e que
nem sempre é detectada:
Pedido à concreteira de volume de concreto superior ao necessário ou sem
ter onde ser aplicado.
Talude de vala mais abatido do que realmente requerido. Numa longa vala,
essa escavação pode representar um volume considerável.
Defeito
Defeitos são erros que consomem dinheiro e tempo e requerem retrabalho. Deve-se
fazer certo da primeira vez. Nas obras, muitos defeitos são sistemáticos, mas a equipe
de produção não divulga a solução dada para adoção generalizada na empresa. Uma
sessão de lições aprendidas é fundamental para a incorporação do aprendizado. Os
sistemas de controle de qualidade são grandes responsáveis pela diminuição e ate-
nuação dessas perdas.
Alguns exemplos de defeito:
Falta de estanqueidade em esquadrias.
Patologias (fissuras, eflorescência) em fachadas.
Abaulamentos e trilhas de roda em pavimentação.
Atraso
Atraso é um tipo de desperdício que dói no bolso. Durante um atraso existe ocio-
sidade de equipes, gasto dispensável de dinheiro e até dilatação desnecessária do
prazo da obra.
Alguns pontos de reflexão:
Atrasos podem ser fruto de falta de análise das restrições de cada serviço:
projeto detalhado, equipe mobilizada, área liberada, material comprado etc.
Muitos atrasos ocorrem porque o cronograma da obra não está atualizado.
Um cronograma factível e realista é uma ferramenta relevante de prevenção
de atrasos.
Havendo atraso numa atividade crítica do cronograma, a obra sofre impacto
em sua duração. Recuperar o atraso deve ser uma meta a ser perseguida.
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Fig. 5 Foto de
drone usada numa
reunião de partida
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Uma pergunta que sempre me fazem: o drone é tão preciso quanto a estação total
topográfica no cálculo de volumes? A resposta é não, mas o que proponho é que a
cada três ou quatro meses seja feita uma medição topográfica de solo, mais precisa,
para refinar o cálculo. Nos meses intermediários o drone atende bem.
Outro ponto que chama a atenção é que, apesar de a maior parte das atividades
e custos acontecerem no canteiro de obra, o centro de decisão nem sempre está no
próprio canteiro. Tanto mais centralizada a companhia, mais isso se verifica e aí
mais relevante passa a ser a forma de as pessoas se comunicarem.
Tab. 1 (continuação)
Principais
Habilidades
deficiências
mais necessárias Problemas mais
% de dos % de % de
e valorizadas frequentes em
resposta gerentes de resposta resposta
em gestão de projetos
projetos nas
projetos
organizações
Capacidade Recursos
Iniciativa 28,5 de integrar as 28,3 humanos 52,8
partes insuficientes
Avaliação
Conhecimento
25,6 Liderança 24,6 incorreta dos 52,1
técnico
riscos
Concorrência de
Capacidade de uso de recursos
25,4 Negociação 24,3 44,4
integrar as partes entre o dia a dia e
os projetos
Gerenciamento de Descumprimento
24,1 Política 22,4 42,5
conflitos do orçamento
Trabalho em Mudança ou falta
23,4 Organização 17,4 41,2
equipe de prioridades
Organização 11 Iniciativa 16,2
Domínio de
Conhecimento
ferramentas de 7,3 12,5
técnico
gestão de projetos
Trabalho em
Política 7,1 11,3
equipe
Fonte: PMI (2012 apud Beaurline; Florencio, 2016).
6.1 Infraestrutura
A maioria das startups de construção surgem da mente inventiva de jovens enge-
nheiros, pessoas físicas sem espaço físico adequado e sem back-office, isto é, infraes-
trutura para desenvolver a solução. O programa de aceleração fornece um espaço de
coworking e todo o apoio logístico necessário. A vantagem é que a startup “sai de casa”
e ganha um espaço amplo moderno e, muito importante, oportunidade de coabita-
ção com outras startups em grau similar de maturidade. Essa interação ajuda muito
o desenvolvimento das ideias e das empresas incubadas. Mas essa não é a maior
vantagem, a meu ver.
6.2 Mentoria
No seio de uma grande empresa, o desenvolvimento de uma startup é visivelmente
mais sólido do que em outro contexto. A razão é simples: numa construtora como
essa, a ideia da startup pode ser adaptada para diversos tipos de obra e, com isso,
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ganhar mais robustez e atingir um público-alvo maior. Mas o que para mim é a maior
vantagem da construtora é que os novos empresários podem contar com o aconse-
lhamento de diversos profissionais tarimbados. É aí que reside o grande diferencial
do programa de aceleração.
6.3 Treinamento
O programa de aceleração da construtora, além de fornecer espaço, fornece também
treinamento em gerenciamento de projetos, desenvolvimentos ágeis, design thinking
e outras ferramentas que permitem um aprimoramento das startups.
6.4 Laboratório
Por “laboratório” me refiro a obras. Sim, porque para uma startup da construção
(construtech)não basta a ideia – é preciso testá-la. Se a ideia se refere ao lançamento
de cabos de uma linha de transmissão com drone, como saber se a solução dá certo
se não for testando-a numa linha de transmissão real? É aí que a construtora e as
empresas aceleradas “deitam e rolam”: a construtora abre as portas para os testes e
as startups têm as obras que sempre buscaram. Além disso, testando com o usuário
real, as startups podem receber feedbacks valiosos para que façam as melhorias em
suas soluções, acelerando o ciclo de aprendizagem.
Desvantagens:
É uma certificação generalista, sem ênfase em construção ou engenharia.
Por exemplo, nem tudo o que se aprende no PMBoK (corpo de conhecimento
que serve de base para o exame de certificação) é diretamente aplicável no
mundo particular das obras.
A quantidade de profissionais com PMP está tão grande, que eu me pergunto
se essa certificação realmente está peneirando os bons candidatos. No
mundo, já são 912 mil; no Brasil, 18 mil.
Os eventos do PMI no Brasil e no mundo atraem gente de uma vasta gama de
setores: TI (hoje são majoritários), governo, terceiro setor, indústria e cons-
trução, só para citar alguns.
Vantagens:
Atesta o domínio de fundamentos de uma série de assuntos e a experiência
no setor.
É uma certificação cada vez mais procurada no mercado internacional – eu já
capacitei profissionais de 20 nacionalidades.
A quantidade de CCP é reduzida, o que confere prestígio ao profissional que a
detém – no Brasil somos uns 30 apenas.
Existem seções da AACE em todo o mundo, inclusive no Brasil.
Desvantagens:
É uma certificação ainda pouco conhecida fora dos Estados Unidos e do
Oriente Médio.
O CCP é mais comum nos setores de óleo e gás e de mineração. No mercado
imobiliário, é pouco comum.
A certificação requer a elaboração prévia de um artigo técnico de 2.500
palavras (algo como oito páginas). Embora não seja nenhum bicho de sete
cabeças, o artigo desestimula muita gente.
O que mais me chama a atenção é que aos poucos a cadeia da construção também
começa a perceber valor na transformação digital e acreditar que há ganhos em
recorrer a startups. A meu ver, as vantagens que o modelo das startups traz para o
empresário da construção são os seguintes:
Startups se desenvolvem em ambiente de incerteza: fazer, errar, mudar, prototi-
par. Esse formato de criação e desenvolvimento das soluções tecnológicas
segue um roteiro em que a mudança é inerente ao processo. Técnicas com
design thinking, já estudado neste livro, ajudam bastante a criar o novo para-
digma.
Startups são ágeis: por essa razão, conseguem pivotar, isto é, mudar de rumo
e ajustar o enfoque com grande facilidade. Na empresa tradicional isso às
vezes não é muito fácil.
Startups são baratas: ainda não vi estudos específicos, mas minha percepção
é de que recorrer a uma empresa externa enxuta (no caso de inovação aberta)
termina sendo mais barato do que contratar profissionais para o quadro na
construtora/incorporadora ou mexer em sua estrutura funcional. Quando
penso que tudo tem que passar por RH, jurídico, compliance, financeiro e TI,
imagino a morosidade administrativa que às vezes impera nas companhias.
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