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UNIVERSIDADE ANHEMBI-MORUMBI

Bárbara Louise Contó

PRÉ-PROJETO DE PESQUISA

DESIGN GRÁFICO, ATIVISMO E RESISTÊNCIA

UM ESTUDO DE INICIATIVAS DESOBEDIENTES

Pré-Projeto de Pesquisa apresentado


ao Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Design – Mestrado,
da Universidade Anhembi Morumbi,
como diretriz para a aprovação do
processo seletivo.

São Paulo/2021
INTRODUÇÃO

Cada vez mais percebe-se que a alienação de alguns perante aos diversos
cenários catastróficos – principalmente com o início desta década – está cada vez
mais tornando-se insustentável e desconfortável, de certa forma. Há algum tempo
os rastros problemáticos do capitalismo neoliberal, tem queimado os neurônios de
alguns ativistas mundo afora. Temas como aquecimento global, fome e
desigualdade social, para citar apenas alguns, vêm sendo discutidos há alguns
anos, mas é certo que nos últimos cinco, algumas preocupações saíram de um
nicho específico para ganhar espaço na sociedade, principalmente na brasileira.
Pode-se dizer que desde o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 o Brasil
enfrenta uma acentuação na dualidade política, tendo seu apogeu nas eleições de
2018, em que Jair Bolsonaro, até então presidente do Brasil, teve sua vitória. Esses
acontecimentos culminaram para um certo “início” do fervilhar de protestos e
movimentos politicamente engajados pelo país, que mais tarde viria a ser afetado
pela pandemia do coronavírus em março de 2020, tendo como pano de fundo
diversas outras crises; sanitária, alimentícia, hídrica, elétrica, econômica, etc. No
atual cenário do nosso país é extremamente descabível estar abstraído de tal
contexto e, como exprime Agamben: “Um homem inteligente pode odiar o seu
tempo, mas sabe, em todo caso, que lhe pertence irrevogavelmente, sabe que não
pode fugir ao seu tempo.” (AGAMBEN, 2009, p. 59). Dado o panorama é possível
conceber que os diversos campos de expressão e manifestação culturais, massivos
ou não, também haveriam de estar engajados politicamente, ou pelo menos é o que
se espera.
Trazendo o contexto para a esfera do design, mais especificamente pro
gráfico é indispensável admitir a demanda por novos modos de pensar as práxis
projetuais, primeiramente direcionadas de maneira dominante à produção e
comercialização de mercadorias. Felizmente, foi possível notar que a função social
e política do design é um assunto que tem aumentado consideravelmente a sua
relevância e recentemente ganhado destaque no meio acadêmico e profissional,
isso mostra que a área, apesar de flertar com as questões de forma tímida, já
parece não mais se abstrair do meio que o circunda. Segundo Braga (2019) o
número de artigos sobre o tema tem aumentado nos últimos congressos brasileiros
de design. Porém, há poucas publicações sobre o tema e a maioria ainda aborda
muito mais o design de objetos do que o gráfico.
É possível pensar que o design gráfico pode ter um papel muito significativo
na mudança e transformação da sociedade em que vivemos, dada a sua função
comunicacional, sendo capaz de auxiliar na execução, propagação e exaltação de
lutas sociais de forma bastante ativa. Quando Tony Fry afirma que todo design
“serve ou subverte o status quo” (apud Ruben Pater, 2019, p.2) ele nos leva para
um lugar de reflexão importante. Utilizamos o design gráfico somente para servir o
status quo, ou estamos preocupados em subvertê-lo quando necessário? E se há
um momento necessário, nosso cenário político-social brasileiro, como apontado
anteriormente, nos indica que estamos no ponto exato. Portanto, pensar em
maneiras de provocar reflexões acerca de práticas em design gráfico que
desobedecem e desafiam a subserviência aos modos de vida hegemônicos e aos
interesses mercadológicos do capitalismo, é algo urgente.
Dado o contexto, essa dissertação apresenta como tema design gráfico,
ativismo e resistência: um estudo de iniciativas desobedientes, tendo como objeto
de estudo a Rede Nacional de Projetistas Livres, vulgo Projetemos, que através de
projeções e, principalmente do design gráfico, espalham ativismo e resistência por
todo o país, ao questionar diversas circunstâncias do cotidiano no contexto
sociopolítico. A rede ganhou ainda mais força na pandemia, por conta da
“quarentena”, que se estendeu por muitos meses, o que fez com que ativistas e
militantes tivessem que ter um outro olhar para a maneira com que chamam a
atenção para as questões urgentes da nossa sociedade. Sem podermos ir às ruas,
as paredes projetadas se tornaram um grande meio de comunicação e para
completar o “ciclo” das mensagens, o Projetemos alimenta uma conta no Instagram,
permitindo que mais e mais pessoas sejam alcançadas sem que saiam de suas
casas. Pretende-se tomar o objeto de estudo como um forte exemplo de que é
possível pensar o design fora das obrigatoriedades dos meios de produção
capitalistas/neoliberais e sua cultura do consumo, além de investigar certos
fenômenos socioculturais que articulam design gráfico e ativismo na
contemporaneidade. O interesse em discutir o tema emerge por considerarmos
relevante sondar possibilidades de ação e de projeção do design, uma vez
observados os vínculos de sua subserviência aos sistemas hegemônicos de
produção e de consumo, dentro do contexto social pandêmico.
Para que seja estabelecido o deslocamento entre design gráfico e de seus
fins atrelados à indústria e ao comércio para uma dimensão social e politicamente
engajada, neste projeto, iremos relacioná-lo ao conceito de “desobediência”.
Emprestamos este paralelo com o termo empregado pelo curador e pesquisador
Gravin Grindon (2020), que compreende objetos desobedientes como “os objetos de
arte e design produzidos por movimentos sociais ativistas populares e
independentes.” (GRINDON, 2020, p. 13). De maneira a tangibilizar as hipóteses,
serão abordados alguns movimentos históricos precursores do design gráfico com
cunho ativista fazendo um paralelo com o contexto atual e, por fim, com o
Projetemos.

OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICOS

Como objetivo geral a presente pesquisa procura provocar uma reflexão


acerca das possibilidades de se praticar um design gráfico que resiste a sua
subserviência aos modos de vida hegemônicos e aos interesses
exclusivamente mercadológicos do capitalismo, a partir do conceito de
desobediência, por meio do estudo de caso do Projetemos no contexto
pandêmico.

Como objetivos específicos pretende-se:

- Realizar uma breve apresentação do desenrolar da Revolução Industrial, do


ponto de vista crítico à hegemonia capitalista, para que se possa entender
brevemente a sua problemática vinculada ao design.
- Pesquisar sobre o que é ativismo e sua relação com o design gráfico.
- Discorrer sobre como alguns movimentos sociopolíticos importantes de
vanguarda do passado utilizaram o design gráfico como ferramenta de
desobediência e resistência sociopolítica.
- Dar um breve panorama sobre o conceito sociopolítico do Brasil no período
pandêmico.
- Investigar fenômenos socioculturais que articulam design gráfico e ativismo
na contemporaneidade.
- Realizar entrevistas e pesquisas de campo compilando dados relevantes
vinculados ao Projetemos.
- Articular o conceito de desobediência no campo do design gráfico vinculado
ao Projetemos.

FUNDAMENTAÇÃO / INSTRUMENTAL TEÓRICO

A articulação teórica irá se fundamentar nos seguintes autores de referência no


âmbito do design: BONISIEPE (2011), BRAGA (2011), MEGGS (2009), PATER
(2020), MESQUITA (2011).

Ao buscar referencial teórico sobre o tema, pode-se observar que o mesmo


carece de publicações e autores, ainda mais em se tratando do recorte da
preocupação socioambiental, a maioria dos livros sobre o tema foca na questão do
desenvolvimento do design de produto e não abre caminhos para debater outras
disciplinas do design. Em seu livro “O papel social do design gráfico: história,
conceitos & atuação”, da editora Senac, BRAGA (2019) afirma: “Nos últimos
congressos brasileiros de design, tem aumentado o número de artigos sobre o papel
social do designer gráfico. No entanto, não há livros de autores nacionais voltados
especificamente ao assunto”. O autor ainda afirma que o tema vem sendo muito
mais publicado em artigos, sites ou congressos científicos. (BRAGA, 2019)
Partindo dessa escassez é que Marcos da Costa Braga procura trazer luz ao
tema justamente com essa publicação de 2019, onde traz uma coletânea de textos
cujo objetivo é a apresentação de ideias, história, conceitos, discussões e exemplos
relacionados ao papel do social do design gráfico em suas diversas atribuições.
BRAGA (2019) defende que “O design nunca é neutro no cenário social” e
questiona qual seria o papel e o lugar do designer em um mundo instável e que
sempre enfrenta problemas de diferentes naturezas.
Outro autor que contribui para o tema é Gui Bonsiepe com seu livro Design,
Cultura e Sociedade (2011), onde discorre sobre como o design se distanciou da
ideia de solução inteligente de problemas para se transformar cada vez mais em
evento midiático. No livro BONISIEPE (2011) afirma que “humanismo implica a
redução da dominação e, no caso do design, atenção também aos excluídos, aos
discriminados”.
A parte histórica da pesquisa irá se apoiar em dois autores, Rafael Cardoso
com seu livro Uma introdução a história do design (2000) que lança um olhar sobre
a perspectiva brasileira do tema em toda a sua multiplicidade e ressalta os
momentos de ruptura em cada um das especialidades que compõem o campo do
design.
Já no livro História do Design Gráfico (2009) de Philip B. Meggs, encontra-se
manifestações do design gráfico utilizado como ferramenta de questionamento e
mobilização social, provando que apesar da pauta só ter ganho destaque agora, não
é recente e está presente na nossa linha do tempo.
Como embasamento teórico para as questões do ativismo, produções
coletivas engajadas socialmente e expressões políticas será utilizado o livro
Insurgências Poéticas: Arte Ativista e Ação Coletiva de André Mesquita (2011), que
tem o objetivo de provocar reflexões quanto a práticas artísticas e ativismo
contemporâneo, analisando uma “estética anti-corporativa” criadas por artistas e
coletivos de algumas partes do planeta, baseadas em táticas intervencionistas.
De conhecimento que os estudos e aprofundamentos do tema são recentes e
estão em construção, essas são as visões que serão utilizadas para a
fundamentação do tema proposto.

CRONOGRAMA DE TRABALHO

ETAPAS FEV/ ABR/MAI JUN/ AGO/SET OUT/NOV DEZ


2021 MAR JUL

Definição x x x x x
do tema

Pesquisas x x x x x x
bibliográficas

Elaboração do x x x x x x
pré- projeto

Leituras e x x x x x x
análises dos
textos

Fichamento x x x x x x
das leituras
ETAPAS FEV/ ABR/MAI JUN/JUL AGO/SET OUT/NOV DEZ
2022 MAR

Pesquisa de x x
campo

Análise da x x
coleta de
dados

Conclusão x x
pesquisas

Escrita da x x x x
dissertação

Entrega ao x
orientador (1a
versão)

Revisão da x x
dissertação

Entrega x x
dissertação
(versão final)

Defesa x
pública
dissertação

METODOLOGIA, PROCEDIMENTOS E ESTRATÉGIAS

TEÓRICOS

A presente pesquisa de caráter qualitativo se apoiará na obra de Santaella


(2001) para seu embasamento teórico-metodológico, cuja abordagem exploratória e
descritiva irá se dar através da revisão bibliográfica de obras de referências
pertinentes ao objeto de estudo no âmbito do design dos autores citados
anteriormente, além de artigos, revistas/periódicos, teses, dissertações,
monografias, conteúdos digitais, incluindo sites, blogs, e-books, entre outros.

PROCEDIMENTOS PRÁTICOS E DE CAMPO

A pesquisa de campo se dará através de entrevistas online ou presenciais e


visitas aos locais de atos relevantes ao objeto de estudo, além da coleta de
materiais nas redes sociais.

SUMÁRIO

Capítulo 1 - Ativismo, design e política

1.1 - O que é ativismo


1.2 - Ativismo x Militância x Terrorismo
1.3 - Design gráfico e resistência

Capítulo 2 - Industrialização, as vanguardas e o pós-guerra

2.1 - Design na Revolução Industrial

2.2 - Design e capitalismo/neoliberalismo

2.4 - Design e subversão nas vanguardas

2.5 - Design no pós guerra e nova era do materialismo

Capítulo 3 - Projetemos desobediência

3.1 Brasil e seu contexto pandêmico

3.2 Ativismo contemporâneo na era digital.

3.3 O ato de projetar

3.4 Articulando design gráfico, ativismo e projeção.


Considerações Finais
Listagem de Referências
Apêndices

BIBLIOGRAFIA

AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó,


Argos, 2009.

BRAGA, Marcos Cobra (Org.). O papel social do design gráfico: história,


conceitos & atuação. São Paulo, Senac, 2019.

BONISIEPE, Gui. Design, cultura e sociedade. São Paulo, Editora Blucher, 2011

DENIS, Rafael Cardoso, Uma introdução à História do Design. São Paulo, Editora
Edgard Blucher, 2000

GRINDON, Gavin. Objetos desobedientes. Tradução: Cristiane Mesquita e


Mirtes Marins Oliveira. DATJournal, São Paulo, SP, n. 3, p. 10-32, 2020. DOI:
https://doi.org/10.29147/dat.v5i3 Disponível em:
https://datjournal.anhembi.br/dat/issue/view/14. Acesso em: 13 set. 2021.

MEGGS, Philip B. História do Design Gráfico. São Paulo, Cosac and Naify, 2009.

MESQUITA, André. Insurgências Poéticas: Arte Ativista e Ação Coletiva. São


Paulo, Annablume, 2011.

PATER, Ruben. Políticas do design: Um guia (não tão) global de comunicação


visual. São Paulo, Ubu Editora, 2020.

SANTAELLA, Lucia. Comunicação e Pesquisa. Projetos para Mestrado e


Doutorado. São Paulo, Hacker Editores, 2001.

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