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PRÉ-PROJETO DE PESQUISA
São Paulo/2021
INTRODUÇÃO
Cada vez mais percebe-se que a alienação de alguns perante aos diversos
cenários catastróficos – principalmente com o início desta década – está cada vez
mais tornando-se insustentável e desconfortável, de certa forma. Há algum tempo
os rastros problemáticos do capitalismo neoliberal, tem queimado os neurônios de
alguns ativistas mundo afora. Temas como aquecimento global, fome e
desigualdade social, para citar apenas alguns, vêm sendo discutidos há alguns
anos, mas é certo que nos últimos cinco, algumas preocupações saíram de um
nicho específico para ganhar espaço na sociedade, principalmente na brasileira.
Pode-se dizer que desde o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 o Brasil
enfrenta uma acentuação na dualidade política, tendo seu apogeu nas eleições de
2018, em que Jair Bolsonaro, até então presidente do Brasil, teve sua vitória. Esses
acontecimentos culminaram para um certo “início” do fervilhar de protestos e
movimentos politicamente engajados pelo país, que mais tarde viria a ser afetado
pela pandemia do coronavírus em março de 2020, tendo como pano de fundo
diversas outras crises; sanitária, alimentícia, hídrica, elétrica, econômica, etc. No
atual cenário do nosso país é extremamente descabível estar abstraído de tal
contexto e, como exprime Agamben: “Um homem inteligente pode odiar o seu
tempo, mas sabe, em todo caso, que lhe pertence irrevogavelmente, sabe que não
pode fugir ao seu tempo.” (AGAMBEN, 2009, p. 59). Dado o panorama é possível
conceber que os diversos campos de expressão e manifestação culturais, massivos
ou não, também haveriam de estar engajados politicamente, ou pelo menos é o que
se espera.
Trazendo o contexto para a esfera do design, mais especificamente pro
gráfico é indispensável admitir a demanda por novos modos de pensar as práxis
projetuais, primeiramente direcionadas de maneira dominante à produção e
comercialização de mercadorias. Felizmente, foi possível notar que a função social
e política do design é um assunto que tem aumentado consideravelmente a sua
relevância e recentemente ganhado destaque no meio acadêmico e profissional,
isso mostra que a área, apesar de flertar com as questões de forma tímida, já
parece não mais se abstrair do meio que o circunda. Segundo Braga (2019) o
número de artigos sobre o tema tem aumentado nos últimos congressos brasileiros
de design. Porém, há poucas publicações sobre o tema e a maioria ainda aborda
muito mais o design de objetos do que o gráfico.
É possível pensar que o design gráfico pode ter um papel muito significativo
na mudança e transformação da sociedade em que vivemos, dada a sua função
comunicacional, sendo capaz de auxiliar na execução, propagação e exaltação de
lutas sociais de forma bastante ativa. Quando Tony Fry afirma que todo design
“serve ou subverte o status quo” (apud Ruben Pater, 2019, p.2) ele nos leva para
um lugar de reflexão importante. Utilizamos o design gráfico somente para servir o
status quo, ou estamos preocupados em subvertê-lo quando necessário? E se há
um momento necessário, nosso cenário político-social brasileiro, como apontado
anteriormente, nos indica que estamos no ponto exato. Portanto, pensar em
maneiras de provocar reflexões acerca de práticas em design gráfico que
desobedecem e desafiam a subserviência aos modos de vida hegemônicos e aos
interesses mercadológicos do capitalismo, é algo urgente.
Dado o contexto, essa dissertação apresenta como tema design gráfico,
ativismo e resistência: um estudo de iniciativas desobedientes, tendo como objeto
de estudo a Rede Nacional de Projetistas Livres, vulgo Projetemos, que através de
projeções e, principalmente do design gráfico, espalham ativismo e resistência por
todo o país, ao questionar diversas circunstâncias do cotidiano no contexto
sociopolítico. A rede ganhou ainda mais força na pandemia, por conta da
“quarentena”, que se estendeu por muitos meses, o que fez com que ativistas e
militantes tivessem que ter um outro olhar para a maneira com que chamam a
atenção para as questões urgentes da nossa sociedade. Sem podermos ir às ruas,
as paredes projetadas se tornaram um grande meio de comunicação e para
completar o “ciclo” das mensagens, o Projetemos alimenta uma conta no Instagram,
permitindo que mais e mais pessoas sejam alcançadas sem que saiam de suas
casas. Pretende-se tomar o objeto de estudo como um forte exemplo de que é
possível pensar o design fora das obrigatoriedades dos meios de produção
capitalistas/neoliberais e sua cultura do consumo, além de investigar certos
fenômenos socioculturais que articulam design gráfico e ativismo na
contemporaneidade. O interesse em discutir o tema emerge por considerarmos
relevante sondar possibilidades de ação e de projeção do design, uma vez
observados os vínculos de sua subserviência aos sistemas hegemônicos de
produção e de consumo, dentro do contexto social pandêmico.
Para que seja estabelecido o deslocamento entre design gráfico e de seus
fins atrelados à indústria e ao comércio para uma dimensão social e politicamente
engajada, neste projeto, iremos relacioná-lo ao conceito de “desobediência”.
Emprestamos este paralelo com o termo empregado pelo curador e pesquisador
Gravin Grindon (2020), que compreende objetos desobedientes como “os objetos de
arte e design produzidos por movimentos sociais ativistas populares e
independentes.” (GRINDON, 2020, p. 13). De maneira a tangibilizar as hipóteses,
serão abordados alguns movimentos históricos precursores do design gráfico com
cunho ativista fazendo um paralelo com o contexto atual e, por fim, com o
Projetemos.
CRONOGRAMA DE TRABALHO
Definição x x x x x
do tema
Pesquisas x x x x x x
bibliográficas
Elaboração do x x x x x x
pré- projeto
Leituras e x x x x x x
análises dos
textos
Fichamento x x x x x x
das leituras
ETAPAS FEV/ ABR/MAI JUN/JUL AGO/SET OUT/NOV DEZ
2022 MAR
Pesquisa de x x
campo
Análise da x x
coleta de
dados
Conclusão x x
pesquisas
Escrita da x x x x
dissertação
Entrega ao x
orientador (1a
versão)
Revisão da x x
dissertação
Entrega x x
dissertação
(versão final)
Defesa x
pública
dissertação
TEÓRICOS
SUMÁRIO
BIBLIOGRAFIA
BONISIEPE, Gui. Design, cultura e sociedade. São Paulo, Editora Blucher, 2011
DENIS, Rafael Cardoso, Uma introdução à História do Design. São Paulo, Editora
Edgard Blucher, 2000
MEGGS, Philip B. História do Design Gráfico. São Paulo, Cosac and Naify, 2009.