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1.

INTRODUÇÃO

Protagonista marcante da arquitetura paulista e membro responsável pela


Escola Paulista, Fabio Penteado é um arquiteto de obras expressivas no país,
caracterizadas pela singularidade e diversidade.
Sua perfeição harmoniosa aplicada à construção trouxe um traço marcante à
arquitetura paulista da década de 50. Seus projetos tem como marca a capacidade de
usar a construção do meio ambiente como forma de transformação da sociedade.
Outro ponto marcante é a personalidade de Penteado, com sua
intelectualidade artística consegue mesclar de maneira harmoniosa a sofisticação e a
simplicidade, a irreverência e a polidez.
Seus projetos apresentam a busca pelo novo e suas atuações no meio
arquitetônico tem sido gerador de interessantes reflexões.
A partir desse trabalho iremos abordar a vida e a obra de Fabio Penteado,
para que possamos conhecer um pouco de suas referências profissionais e como esse
arquiteto, dono de uma personalidade tão particular, aplica suas características as suas
obras. Para isso, iremos analisar três de suas obras mais conhecidas.

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2. BIOGRAFIA

Fábio penteado (Figura 1), nasceu em 1929, em Campinas no interior de


São Paulo. Desfrutou de uma infância cheia de espaço, cercado de campos de futebol e
passeios aéreos em aviões da família. Estudava em uma das melhores escolas da cidade,
mas ansiava ser jogador de futebol, em 1935, Fábio vê sua realidade de vida
completamente diferente, pois mudam-se para capital São Paulo.

Morando a alguns anos em São Paulo e ao fim do seu colegial, Fábio se vê


na busca por uma profissão, tentando ingressar na Escola de Engenharia Industrial, mas
é rejeitado. No ano seguinte, em 1948, ingressa no curso de Arquitetura da
Universidade Mackenzie, formando-se, em 1953.

Além de seguir uma carreira de


projetos, Fábio participou ativamente de
discussões públicas a cerca da arquitetura e
urbanismo. Foi figura presente por anos no
Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB, sendo 2º
tesoureiro, conselheiro superior, vice-presidente,
e até mesmo presidente.

Participou também de uma coluna de


arquitetura na Revista Visão, entre 1956 e 1962,
após alguns anos contribuiu também com a Figura 1: Fábio Penteado. Fonte:
http://www.vitruvius.com.br/jornal/news/re
Revista Projeto. Despontou então, uma carreira ad/883
de jornalista, onde discutia e questionava a tudo,
inclusive os próprios companheiros arquitetos, que eram colocados a prova em suas
colunas.

Entre 1961 e 1964, Fábio se encontra lecionando Desenho Artístico na


Universidade Mackenzie. Essa fase possibilitou a Fábio ser um construtor de ideias a
cerca da arquitetura brasileira, o que contribui para que no futuro seus ex- alunos
chegassem, inclusive, a trabalhar associado a ele.

Penteado contribuiu em larga escala no âmbito da arquitetura, seja com


obras construídas, com discussões, com concursos, o qualquer que fosse a maneira de
expor sua conceituação do “fazer” arquitetura.

Dentre as obras de Peteado destacam-se: Hotel praia do Peró, Fórum da


Araras, Teatro Municipal de Piracicaba, Teatro de Óperas de Campinas, Centro de
Convivência Cultural de Campinas, Mercado do Portão, Parque dos Anciãos, Clube
Harmonia, Catedral Presbiteriana de Brasília, Hospital da Santa casa de Misericórdia,
Edifício principal, Capela e Monumento à Justiça, Fórum de Tóquio, Torre do
Anhangabaú, Conjuntos habitacionais do Bairro do Limão e Cidade dos Doqueiros,
pode-se observar que há uma preocupação com os espaços que interligam e acolhem as

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grandes multidões, pois há uma necessidade de afirmação da convivência comunitária
que se perdeu devido ao grande crescimento das cidades.

Marca permanente que se desenvolve no decorrer de sua carreira consiste na


necessidade de renovar e tornar vivo os espaços que interligam a cidade e tornando-a
mais rica culturalmente, pois são nesses espaços que ocorrem o intercâmbio de
informações, maior convivência entre as pessoas, crescimento cultural.

Fábio Penteado morreu em 26 de junho de 2011, aos 82 anos, em São Paulo,


deixando para o mundo um rico acervo cultural a cerca da arquitetura e urbanismo,
sendo referência no Brasil e mundo todo.

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3. ANÁLISE DO ARQUITETO E ESTUDO DAS OBRAS

Fábio Penteado, ao ingressar na Universidade Mackenzie, não se interessava


pelas discussões promovidas dentro das salas de aula. A Universidade Mackenzie,
posicionava-se radicalista no q diz respeito ao modernismo, reprimindo-o em virtude de
uma valorização de arquitetura clássica e preservação das tradições, proibindo inclusive
que nomes como Oscar Niemayer e Le Corbusier fossem citados em sala de aula, pois
eram acusados de cometer uma “ arquitetura comunista”.

A medida que a Universidade Mackenzie adotava uma posição educacional


conservadora, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo FAU, da USP, seguia um viés
completamente diferenciado proliferando um ideal de nova arquitetura, embasados em
conceitos de Le Corbusier, Frank Lloyd Wright e da Bauhaus.

Por mais que Fábio, não pudesse discutir esse novo ideal de arquitetura em
sua universidade, eram nos grupos de estudos promovidos em ateliês, onde discutiam
arquitetura, modernidade, artes, urbanismo e tudo mais que fazia Fábio se deslumbrar
com este mundo de relações. Dentre seus colegas, encontravam-se grandes nomes da
arquitetura moderna que se revelaram posteriormente, trabalhando inclusive juntos,
como: Carlos Millan, Jorge Wilheim, Roberto Aflalo, Pedro Paulo de Melo Saraiva,
Djalma de Macedo Soares, Telésforo Cristófani, Paulo Mendes da Rocha, entre outros.

Foram a partir destas discussões e de uma carreira de concursos de


arquitetura, participações em instituições direcionadas a arquitetura, que Fábio
desenvolveu seus conceitos, dentre enfocam-se a presença das praças e valorização dos
espaços livres urbanos e sua interação com a malha urbana, construções para o poder
público, entre outras.

Para um melhor entendimento a cerca dos conceitos de arquitetura


desenvolvidos por Fábio Penteado em seus anos de carreira serão explanadas 3 obras
dele, de grande relevância:

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3.1 Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado – Parque Cecap

O Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, foi projetado por três


importantes arquitetos da escola paulista, João Batista Vilanova Artigas, Fabio Penteado
e Paulo Mendes da Rocha. Localizado no município de Guarulhos, a cerca de 20 km do
centro da Capital paulista, é um projeto encomendado pela CECAP (Caixa Estadual de
Casas para o Povo), para funcionar como modelo de política habitacional do estado
(Figura 2). Este sendo o conjunto tido como o mais importante do programa da CECAP,
não pelo fato de ter sido o “ponta pé” do programa, mas também pela filosofia e grau
elevado da proposta.

Figura 2: Planta geral do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado Foto: Arquivo Fundação Vilanova
Artigas. Fonte: Dissertação apresentada na FAU-USP, “ Parque CECAP Guarulhos: Transformação Urbana”,
de Solimar Mendes Issac,

O Conjunto CECAP como é conhecido, foi planejado para receber uma


população de 55.000 habitantes numa área de 180 hectares com infra-estrutura urbana
(escolas, hospital, centro de saúde, posto de puericultura, estádio, cinemas, hotel, teatro,
comércio próprio, clube, transporte, etc.).

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O contexto histórico desse projeto é entre as décadas de 30 e 60, onde a
política de habitação popular depois de um longo período de esquecimento, ganha lugar
de importância no país, no pós-golpe militar, foi criado o BNH – Banco Nacional de
Habitação, que tinha como objetivo financiar moradias com baixos padrões de
qualidades, localizados nas periferias das grandes cidades para pessoas da classes
médias e baixas. O que houve nesse mesmo momento histórico foi a intensa
participação dos arquitetos modernistas brasileiros sob inspiração direta das tendências
urbanísticas do momento, fundamentadas no Congressos Internacionais de Arquitetos
Modernos - CIAM e as concepções de Le Corbusier.

Os arquitetos encontravam-se num momento que acreditavam que a


desigualdade do país poderia ser solucionada a partir da arquitetura. E nesse contexto os
arquitetos procuravam atender as seguintes diretrizes: reformulação do conceito de
habitação, valorização do equipamento urbano do projeto e das áreas comunitárias
dedicadas ao lazer e à recreação e como o grupo de arquitetos contratados para executar
esse projeto era da escola paulista, uma dos pontos importantes do projeto era buscar o
máximo de possibilidades tecnológicas existentes de modo a permitir , o barateamento
dos custos de construção e elevar os padrões construtivos.

O projeto foi resolvido em blocos de dois edifícios interligados através de


um jardim sombreado, com 3 pavimentos sobre pilots (Figura 3). Cada bloco possui 60
apartamentos, com área de 64 m² cada um. Trinta e dois blocos constituem um setor ou
“freguesia”, é a unidade urbanística do projeto, com sua área comercial e centro
educacional acessíveis a pé. Na área de 180 hectares, destinada ao projeto foram
implantadas 6 freguesias e o equipamento comunitário proposto: 6 centros educacionais,
1 centro integrado de ensino técnico, 11 blocos de comércio cotidiano, 2 blocos de
comércio central, 1 entreposto de abastecimento, um hospital, um centro de saúde, um
estádio para 15 mil espectadores, um clube, uma igreja, um teatro de arena.

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Figura 3: Parque CEAP. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=963620

O centro comercial da freguesia localiza-se na praça de 22.000 m² e é


caracterizado por dois blocos de dois pavimentos, o térreo reservado a serviços e
pequeno comércio e o superior a escritórios e consultórios. A área da freguesia é toda
interligada com espaços verdes (Figura 4), que se prolongam pelos próprios edifícios e
estabelecem ainda ligação com o entorno através de uma extensa faixa de canteiro
central ajardinado. Nessa faixa central, localizam-se os principais equipamentos de uso
comum e é a ela que se articula o centro principal do núcleo, uma área de cerca de
100.000 m² onde se inserem o estádio e dois blocos de comércio principal como suas
lojas departamentais, hotéis, restaurantes e cinemas.

Figura 4: Espaços verdes que se estende por todo o projeto. Fonte:


http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=963620

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Se tratando da unidade de morar, elas são flexíveis, prevendo a proposta-
tipo, unidades com três dormitórios, sala, banheiro, cozinha e lavanderia; o acesso aos
apartamentos é através de escadas localizadas no jardim sombreado entre os edifícios,
cada escada servindo a quatro unidades do edifício, por andar.

A respeito das técnicas construtivas utilizadas no projeto, a equipe


responsável incorporou todos os recursos oferecidos pela tecnologia mais avançada sem
o comprometimento da flexibilidade das soluções. Os elementos-chave da proposta
estrutural foram peças em T e duplo T, com 40 cm de altura, projetadas para vencer
vôos de 8 metros, cuja justaposição compõe o tabuleiro das lajes. Objetivo economia no
consumo de concreto da ordem de 30%.

Para eliminar os reservatórios elevados nos prédios a rede abastece


diretamente os pontos de consumo, permitindo uma redução de custo nas tabulações da
ordem de 35%.

Pensando-se na economia e rapidez na construção as paredes de vedação


externa de todo o conjunto, são de peças leves de concreto pré-moldado que servem
como armários. Em busca desses aspectos somada as possibilidades de flexibilidade as
paredes que separam os quartos nos apartamentos também são de material leve,
facilmente removíveis, as únicas paredes permanentes dos apartamentos são aquelas que
definem o banheiro e a área de serviço.

O projeto conseguiu alcançar bons índices no que diz respeito a densidade


bruta, área pavimentada, área das praças, área verde, área da freguesia, densidade bruta
da freguesia e oferta escolar. Esses índices indicam claramente a intenção do projeto de
não se isolar, mas de se integrar no contexto urbano em que se insere. Pode-se observar
a importância que a equipe de arquitetos deu ao desempenho da busca e adoção de
novas estratégias construtivas no intuito de economizar e tornar a construção eficiente e
de boa qualidade, diferentemente dos demais.

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3.2 Centro de Convivência Cultural de Campinas – CCC de Campinas

O centro de convivência cultural de Campinas, São Paulo foi projetado por


Fábio Penteado, o projetada tem como data o ano de 1967, sendo concluído no ano
seguinte. Contava com uma área de 6.000 m² para construção, porém por pedido do
arquiteto posteriormente foi agregado o terreno vizinho, totalizando 40.000 m².

O CCC de Campinas veio no intuito de substituir o Teatro Municipal Carlos


Gomes, pois após a demolição do teatro, Campinas ficou sem espaços para
apresentações artísticas. Fábio Penteado pensou no projeto a partir de algumas questões
levantadas pelo mesmo: O que era teatro e como deveria ser? a partir dessas questões
Penteado viu que o teatro deveria ser um espaço para a maior parte da população, a
classe baixa, pois já que compreendia uma obra pública e os gastos da obra vem a partir
de impostos pagos por toda a população de forma igualitária, a obra deveria contemplar
os menos favorecidos, pois foram eles a grande parcela financiadora do projeto. O teatro
deveria ser do povo, para o povo, deveria integrar a população com a cultura.

O projeto foi divido em quatro blocos com usos diferentes, porém


integrados de tal forma que o pedestre pudesse cortar caminho e ter acesso rápido a
qualquer um dos blocos. Os blocos foram divididos pelos usos como teatro, sala para
exposição, restaurantes/bar e administração/foyer. Todos os blocos tinham forma de
arquibancadas que se voltavam para o centro, a praça, que era iluminada por uma torre
de 25m, que é também marco visual do projeto. As arquibancadas que eram as cobertas
dos quatro blocos tinham capacidade para até oito mil pessoas (Figura 5).

1 - Entradas;

2 - Galeria;

3 - Foyer;

4 - Teatro;

5 - Restaurante; e

6 - Sala de Exposição.

Figura 5: Esquema de setorização do CCC de Campinas. Fonte: Fonte:


Arquivo pessoal; reprodução a lápis.

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Existem duas entradas, uma pelo foyer e outra pelo restaurante que dão
acesso as galerias e ao centro do CCC, entrando pelo restaurante logo à esquerda se tem
acesso ao teatro que abriga cerca de 500 lugares e à direita a sala de exposição.

É feito uma analogia da disposição dos blocos do teatro com uma flor, suas
pétalas são os blocos e a praça o receptáculo, a flor do teatro que desabrocha para o
espaço urbano revelando suas qualidades e similaridades (Figura6).

1- Teatro de
Arena

2- Torre de
Iluminação.

Figura 6: Planta externa, Teatro que se abre como flor. Fonte: Arquivo Pessoal,
reprodução a Lápis

No corte pode-se ver o porquê da torre ser um marco no projeto,


evidenciando sua magnitude, sua grandeza (Figura 7).

Figura 7: Corte / Restaurante. Fonte: Arquivo Pessoal; reprodução a lápis.

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3.3 Hospital - Escola Júlio de Mesquita Filho Fábio

O Hospital Escola Júlio de Mesquita Filho Fábio (Figura 8), também conhecido
como Hospital Escola da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, foi projetado em
1968. Ele acolheria um público de 1.000.000 de pessoas, no qual 15.000 usuários
circulariam diariamente na instituição (pacientes, médicos, estudantes, visitantes,
acompanhantes e pessoas de serviços). Dessa forma, o complexo hospitalar ficou
conhecido pela expressão “Hospital de multidão”.

Figura 8: Croqui de perspectiva do Hospital- Escola. Fonte: Livro Fábio Penteado – Ensaios de
Arquitetura

Para a elaboração do projeto do hospital Fábio Penteado contou com a


colaboração do também arquiteto Eduardo de Almeida. O terreno no qual foi usado para
a construção media 67.000 m² e para desenvolver o projeto os arquitetos inicialmente
adotaram a ideia de projetar um complexo hospitalar horizontalizado de quase
100.000m² (Figura 9).

Figura 9: Foto Hospital - Escola. Fonte:


http://www.docomomo.org.br/seminario%208%20pdfs/026.pdf

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A instituição hospitalar era composta por 800 leitos ambulatórios, que
atenderiam 4.500 consultas diárias. Ela foi projetada seguindo o padrão internacional,
porém adaptando ao que era necessária a realidade e a cultura brasileira. Além de
utilizar as técnicas mais modernas e sofisticadas para o seu desenvolvimento.

A escola, prevista para oferecer cursos para a formação de médicos, iria dispor
de 600 vagas. No entanto, Fábio Penteado e Eduardo de Almeida sugeriram uma
ampliação do projeto, no qual haveria a inclusão de um curso integrado que ofereceria
3.000 vagas.

O projeto é marcado pela horizontalidade e organização funcional da instituição,


além de sua volumetria. As junções dessas três características atribuem a construção a
uma minimização da angústia, desconforto e retraimento inerente ao ambiente
hospitalar. Para que haja essa minimização, foi criada uma praça central com jardim
para se tornar elemento de socialização a partir da recriação de uma dinâmica espacial
de uma cidade pequena, referenciando e organizando o espaço. Além da quebra da
estrutura rígida e impactante do hospital a partir da aglutinação de seus três níveis
(Figura 10): o piso superior (Figura 11), o piso térreo (Figura 12) e o embasamento
(Figura 13).

Figura 10: Corte, evidenciando os níveis. Fonte: Livro Fábio Penteado – Ensaios de Arquitetura

O piso superior acomodaria oito setores de internação, que seriam separados por pátios
ajardinados, e no centro estariam o centro obstétrico e cirúrgico, o berçário e a unidade
de tratamento intensivo. Um piso técnico foi criado entra o piso térreo e o superior, que
possuía 2m de altura e abrigava as instalações de agua, esgoto, eletricidade, oxigênio e
ar-condicionado. Já no embasamento foram construídos, próximo a praça central, três
anfiteatros e o auditório; unidade de emergência; estacionamento; e serviços
complementares da escola e do hospital.

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Figura 11: Planta Superior. Fonte: http://vitruvius.es/revistas/read/arquitextos/11.122/3487

Figura 12: Planta Térreo. Fonte: Livro Fábio Penteado – Ensaios de Arquitetura

Figura 13: Planta de Embasamento. . Fonte: Livro Fábio Penteado – Ensaios de Arquitetura

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Sua estrutura é composta de um invólucro aparente de concreto, que em seu
interior dispõe de uma praça central que possui uma valorização luminosa, sobre domos
de iluminação zenital. O piso superior abriga as salas de internação e cirurgia, que seria
o ambiente critico da edificação, que para ser amenizado, o arquiteto criou corredores
amplos que funcionariam como “ruas públicas”, reforçando a naturalidade do ambiente.

Sua fachada (Figura 14) formada por arcos, que pousam delicadamente sobre o
solo, adaptando-se as formas topográficas do terreno gerando uma sensação de calma no
horizonte da cidade, estabelecendo um contraste com o entorno caótico e desordenado
da metrópole.

Figura 14: Fachada. Fonte: http://vitruvius.es/revistas/read/arquitextos/11.122/3487

O projeto também propunha a construção de uma capela (Figura 15) no


complexo. Essa possuía 3m de altura e era formada por uma viga de 90m em forma de
U, dois apoios e balanço de 30m em uma das extremidades. A volumetria (Figura 16)
formada em seu interior era composta por painéis de concreto e vitrais intercalados,
organizadas em inclinações variadas que tinha como apoio uma grande viga. O projeto
da Capela da Santa Casa buscava criar um ambiente acolhedor e que inspirava o
recolhimento e a meditação necessários a um espaço de funcionalidade religiosa (Figura
17).

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Figura 15: Croqui esquemático da Caepla. Fonte: Livro Figura 16: Maquete volumétrica. Fonte: Livro Fábio
Fábio Penteado – Ensaios de Arquitetura Penteado – Ensaios de Arquitetura

Figura 17: Plantas do Projeto da Capela. Fonte: Livro Fábio Penteado – Ensaios de Arquitetura

Essa obra mostra como Penteado abordou a macro escala metropolitana, devido
à necessidade de se trabalhar com espaços amplos que comportem os serviços e
equipamentos públicos inerentes à funcionalidade do projeto. No entanto, Penteado
aplica sua característica de socializar o ambiente, na busca da não opressão por parte
dos usuários que utilizam a edificação.

Estudos e analises a cerca da técnica aplicada ao projeto avaliam a viabilidade da


escolha de sua estrutura horizontal para ser aplicada na organização de um hospital e os
efeitos que eles causam em sua funcionalidade. Essa técnica, se analisada culturalmente,
torna o mega-hospital um ambiente mais familiar a seus usuários, que geralmente são
pessoas humildes e retraídas. Na visão humanista, a fluidez e amplitude espacial
minimizam o impacto angustiante que é tão ligado ao hospital.

Outra forma que Penteado encontrou de humanizar o ambiente foi criando em


seu entorno uma área verde, conhecida como “Parque da Saúde”, como tentativa de

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combater a vida caótica da cidade e promover o acolhimento do usuário minimizando o
desconforto gerado por um ambiente hospitalar. Além de, romper com símbolo rígido
que é uma instituição hospitalar e trazer naturalidade ao espaço com a instalação de
equipamentos de educação e de lazer.

A arquitetura do Hospital Escola da Santa Casa de Misericórdia resulta da


síntese de técnica estrutural, da preocupação cultural e psicológica da funcionalidade da
edificação. Mostrando uma das principais características de Fábio Penteado em tornar o
espaço vivo e de interação social.

Penteado reconhece nessa obra o valor simbólico que uma instituição pública
representa para a cidade e a sociedade, combatendo a rejeição ao ambiente hospitalar
tão presente na sociedade.

No entanto, os recursos financeiros para dar continuidade à obra acabaram, e por


vários anos a construção da instituição ficou paralisada. Só em 1972, após a
transferência da edificação para o Governo do Estado é que foi instalado no local o
edifício Fórum Criminal Ministro Mário Guimarães (Figura 18), nunca havendo
funcionado como hospital.

Figura 18: Vista Aérea do Fórum. Fonte:


http://www.construbase.com.br/areas-de-atuacao/construcoes/forum-
criminal.php

Uma curiosidade quanto à remodelação do projeto foi à transformação da capela


do complexo em um conjunto escultórico que tinha como objetivo simbolizar a justiça,

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e a transformação do pronto-socorro desativado em uma prisão com capacidade para
200 presos (Figura 19).

Figura 19: Maquete Volumétrica da Proposta. Fonte:


http://www.docomomo.org.br/seminario%208%20pdfs/026.pdf

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4. CONCLUSÃO

Devido a sua personalidade intelectual, Fabio Penteado, foi figura marcante


e teve participação ativa no meio acadêmico e profissional da arquitetura paulista.

Fez-se presente em discursões e contribuições a cerca da arquitetura na


Universidade Mackenzie (onde se formou), na IAB (onde foi membro por anos) e em
revistas de arquitetura, promovendo reflexões e construindo ideia a cerca da arquitetura
brasileira.

Além de, suas contribuições teóricas, Penteado, desenvolveu projetos


marcantes. Que chamaram atenção por sua técnica de transformar o meio em sociedade
viva, a partir de mudanças nos espaços que interligam a cidade, enriquecendo
culturalmente e tornando o ambiente vivo.

Fabio Penteado acrescentou novos vieses com sua forma de pensar em


arquitetura, a partir da valorização dos espaços de interação social e da formação de
seus conceitos teóricos.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 http://www.vitruvius.com.br/jornal/news/read/883
 http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=963620
 http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseacti
on=marcos_texto&cd_verbete=4269
 http://pt.wikipedia.org/wiki/Cecap_(Guarulhos)
 http://www.portalk3.com.br/Artigo/memoria/parque-cecap-sob-o-olhar-de-seus-
moradores
 http://www.parquececap.org/docs/texto2.html
 “Parque CECAP Guarulhos: Transformação Urbana” dissertação de Solimar
Mendes Issac, FAU – USP, São Paulo 2007.
 Livro: Fábio Penteado, Ensaios de Arquitetura.

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