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ABSTRACT: Since the foundation of the Brazilian Industrial Design Association (ABDI), in the
early 1960s, and the creation of the first teaching, research and extension institutions in the
area of Design in Brazil, Brazilian Design professionals have sought to develop and establish
the field coverage area in the country. In this context, ESDI had and continues to have a
prominent role in the movement to continuously think and redefine the field of Design
through its teaching, research and extension activities. This research aims to analyze which
conceptions of Design are discursivized and legitimized by graduate students in the area in
scientific articles published in the Annals of the Postgraduate Symposium in Design of the last
five editions, between 2015 and 2019. The scrutiny of the corpus obtained was
instrumentalized from the ADD, a methodology for discourse analysis built from the
contributions of authors of the Soviet socio-historical language philosophy such as Mikhail
Bakhtin, Valentin Volóchinov and Pavel Medvedev. The investigation of the plurality of
Design concepts that base the research work in one of the most important events in the area
can help us to understand the discourses that currently build the Design area and the
possible future directions of this field of research.
Keywords: Design; Research and design methodology, Dialogical analysis;
LAMAS; AMORIM. Discursos sobre o conceito de Design no SPGD.
1 — Introdução
Desde o início dos anos 1960, a partir da fundação da Associação Brasileira de Desenho
Industrial (ABDI) e a criação das primeiras instituições de ensino, pesquisa e extensão da
área de Design no Brasil, profissionais do Design brasileiro têm procurado desenvolver e
estabelecer o campo de abrangência da área nas mais diferentes regiões do país. Nesse
contexto, a Escola Superior de Design Superior da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (ESDI-UERJ) tem papel de destaque: fundada em 1962, a ESDI, em parceria com a
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) e com a
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), foi responsável por alguns dos
primeiros eventos na área de Desenho Industrial no Brasil; dentre esses eventos, essas
instituições organizaram e realizaram o I Seminário de Ensino de Desenho Industrial que,
no ano de 1965, tinha como objetivo central a definição e discussão sobre os conceitos
básicos do processo de ensino de Design, incluindo a definição e discussão do próprio
conceito de Desenho Industrial.
Atualmente, cerca de 60 anos depois, a ESDI continua tendo papel de destaque no
movimento de pensar continuadamente e redefinir o campo do Design através de suas
atividades de ensino, pesquisa e extensão. Dentro do contexto da pesquisa realizada na
ESDI, o Simpósio de Pós-Graduação em Design (SPGD), que ocorre anualmente desde
2015, procura publicizar as contribuições de docentes e discentes do Programa de Pós-
Graduação em Design da ESDI (PPDESDI) em relação a temáticas atuais desse campo de
investigação. Durante esse evento, diversos são os trabalhos que, mais do que trazerem
contribuições à pesquisa em Design, procuram, em algum nível, ressignificar o que é o
campo do Design, a partir da perspectiva de cada pesquisador-autor.
Dessa forma, esta pesquisa tem por objetivo analisar que concepções de Design são
discursivizadas e legitimadas por pós-graduandos da área em artigos científicos
publicados nos Anais do Simpósio de Pós-Graduação em Design das cinco últimas edições
(2015-2019). Para realizar a investigação, optamos por uma revisão dos textos que trazem
explicitamente definições de Design a partir das contribuições teórico-analíticas da
chamada Análise Dialógica de Discurso (ADD). Metodologicamente, inicialmente será
realizada a seleção dos textos que comporão o corpus da pesquisa. Os critérios para essa
seleção serão baseados tanto na presença explícita de texto discursivo que discorra sobre
a definição do campo do Design quanto na disponibilidade de informações que
identifiquem os autores em termos de sua experiência acadêmica e profissional na área de
Design.
O escrutínio do corpus obtido foi instrumentalizado a partir da ADD, uma metodologia
para análise do discurso construída a partir das contribuições de autores da filosofia da
linguagem sócio-histórica soviética como Mikhail Bakhtin, Valentin Volóchinov e Pavel
Medvedev. A Análise Dialógica do Discurso procura, no movimento analítico, compreender
como se dá o processo de construção de sentidos sobre os textos e seus efeitos no mundo
social. Para tanto, considera que os sentidos se dão sempre na interação social, sendo o
sentido construído no diálogo entre sujeitos considerados como discursivos, históricos e
culturais. Com efeito, a partir da ADD, procuraremos sinalizar como se dá a construção de
sentidos a partir da análise do material dos artigos sob escrutínio, sempre considerando o
contexto mais amplo de produção e circulação desses textos indiciado por traços de
situações particulares, isto é, pela relação dialógica entre esses textos e formações sociais,
discursivas e históricas.A partir desse movimento analítico, pretendemos compreender
que discursos sobre o conceito de Design são construídos, elencados e legitimados pelos
pesquisadores que participaram das últimas cinco edições do Simpósio de Pós- Graduação
em Design da Escola Superior de Design Superior da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro.
Finalmente, é importante ressaltar que este artigo não tem por intenção a delimitação de
um conceito ou de conceitos definitivos sobre o campo do Design, o que, inclusive, não
acreditamos ser possível devido à multiplicidade de visões teóricas e metodológicas que
atravessam o campo na contemporaneidade. No entanto, a investigação sobre a
pluralidade de conceitos de Design que fundamentam os trabalhos de pesquisa em um dos
mais importantes eventos da área pode nos auxiliar na compreensão dos discursos que
constroem a área de Design atualmente e os rumos futuros possíveis desse campo de
pesquisas. Nesse sentido, essa pesquisa busca, como último fim, mapear e ressignificar as
pesquisas do campo de Design a partir daqueles que, efetivamente, constroem e
construirão o campo no Brasil.
2 — A ESDI e o SPGD
Por meio de decreto, assinado pelo governador Carlos Lacerda em 25 de dezembro de
1962, a ESDI é criada no Estado da Guanabara. Sendo a primeira escola superior de Design
da América Latina, e com discurso metodológico de projeto baseado na Escola de Ulm
(SOUZA, 1996), se tornou um mito e uma referência para outras escolas que surgiam no
país (NIEMEYER, 1997). No entanto, foi apenas nos anos de 2005 e 2013, que foram
abertas, em seu Programa de Pós-Graduação stricto sensu, as primeiras turmas de
mestrado e doutorado, respectivamente.
Reformulado em 2017, o currículo do Programa de Pós-Graduação em Design da ESDI
(PPDESDI) visa à “formação de pesquisadores e docentes altamente qualificados na área
de Design” (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2017) em duas linhas de
pesquisa de natureza teórica e também prática: Tecnologia, Produto e Inovação; e Teoria,
Informação, Sociedade e História.
A primeira se foca em pesquisas que estudam a inovação de produtos e serviços, as
interações homem-tecnologia, e processos projetuais das áreas de projeto de produto,
design de serviços, automação, arquitetura da informação, ergonomia entre outras.
Enquanto a segunda aborda Teoria e Crítica, debruçando-se sobre questões de
metodologia e pensamento projetual, modelos de ensino e de produção do saber no
campo, e a ampliação do campo às outras áreas de conhecimento; Informação, abrangendo
assuntos relacionados a elementos de comunicação e linguagem visuais, design de
interação, estratégia, gestão e inovação; e também História do Design, considerando
aspectos relativos ao surgimento e desenvolvimento do campo, seus antecedentes,
contextos sociais e desdobramentos, com foco nacional ou internacional.
Hoje, o Programa recebe discentes graduados em outras áreas de conhecimento que não
apenas no Design, como arquitetura, engenharia, comunicação social, administração,
sociologia etc., provenientes das mais diversas regiões do país e do exterior. Por esta razão
e aliado à sua missão de divulgar os conhecimentos gerados na ESDI, o SPGD se torna um
evento cada vez mais rico, apresentando as mais diversas ramificações do campo do
Design, e se aprimorando a cada uma de suas edições.
O SPGD é um evento acadêmico endógeno, de caráter formativo, e que ocorre anualmente
no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Design da ESDI. Esse evento foi idealizado e
teve sua primeira edição realizada no ano de 2015. A criação do SPGD se deu por iniciativa
da coordenação do PPDESDI, que então assumiu a responsabilidade de organizá-lo com a
colaboração do corpo discente do programa.
O caráter formativo do SPGD é explícito desde sua criação. Sua proposta surgiu da
necessidade de promover internamente os trabalhos de pesquisa dos alunos do PPDESDI
que, em 2015, já oferecia os cursos de mestrado e doutorado, com gradual crescimento de
seu corpo discente. Outra necessidade observada na época, e que a proposta do evento
buscava sanar, era a de promover aquilo que seria primeira experiência de divulgação
3 — FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
Como sinalizado em nossa introdução, este artigo tem por objetivo analisar que
concepções de Design são discursivizadas e legitimadas por pós-graduandos da área em
artigos científicos publicados nos Anais do Simpósio de Pós-Graduação em Design das
cinco últimas edições (2015-2019).Buscou-se, para esta pesquisa, um instrumento
metodológico de análise dos dados que desse conta dos complexos processos subjetivos
que poderiam explicitar-se a partir dos discursos que compõe nosso corpus textual. Com
efeito, optou-se por adotar a Análise Dialógica do Discurso (doravante ADD)
instrumentalizando-a e tornando o dialogismo (BAKHTIN, 1997), parte do arcabouço
metodológico essencial para este trabalho.
O objetivo dos vários tipos de análises do discurso é principalmente a compreensão do
discurso e não da língua em si. Para tal, considera-se discurso “uma unidade de análise que
tem uma materialidade, o texto, falado ou escrito etc.” (SOBRAL E GIACOMELLI, 2016).
Ainda assim o discurso também não se confunde com o texto, mas constrói o texto, e para
compreender o discurso, é necessário entender, para além desse texto, quem usa a língua,
para quem se dirige e em qual contexto. Ou seja, os interlocutores discursam em um
determinado momento, ambiente e influídos por suas relações sociais. Nesse mesmo
sentido, Volochinov (2017, p. 195-196) afirma que “O sentido da palavra é inteiramente
determinado pelo seu contexto. Na verdade, existem tantas significações para uma palavra
quanto contextos de seu uso”.
Sobral e Giacomelli (2016) destacam que para compreender o dialogismo, é necessário
compreender seus conceitos mais fundamentais, são eles o enunciado, a interação, signo
ideológico e os gêneros do discurso. A unidade de análise para a ADD é o enunciado, e os
enunciados se referem a alguma coisa existente, concreta ou abstrata, e expressa uma
avaliação ou valoração do locutor sobre essa coisa, e por final é sempre endereçado a
alguém (SOBRAL E GIACOMELLI, 2016). Os enunciados são construídos pelos indivíduos,
não a partir de um dicionário ou livro gramatical, mas de outros enunciados concretos, de
outras pessoas, carregados de valores e intenções. Nesse sentido, Bakhtin afirma:
todo falante é por si mesmo um respondente em maior ou menor grau:
porque ele não é o primeiro falante, o primeiro a ter violado o eterno
silêncio do universo, e pressupõe não só a existência do sistema da língua
que usa mas também de enunciados antecedentes – dos seus e alheios –
com os quais o seu enunciado entra nessas ou naquelas relações (baseia-
4 — Análise
"design é feito não apenas de práticas, mas também de teorias", respondendo (BAKHTIN,
2016) a discursos que, por vezes, situam o Design apenas no campo da prática, a partir de
uma visão problemática das ciência aplicada, e, em diálogo com autores da área, isto é,
revozeando (VOLÓCHINOV, 2017) vozes de autoridade, concebe o designer como quem
"estabelece cursos de ação objetivando a mudança de situações". Em resumo, para Kaizer,
o designer se configura e deveria ser ensinado como ciência, "uma ciência dos 'processo de
síntese'". Ademais, o último trabalho analisado, de Marcos Paulo Marques Araújo, apesar
de não apresentar um conceito geral para Design, busca entender o que chama de Design
Regenerativo; segundo o autor, "design para o ciclo de vida do artefato, e, calcado em
princípios próprios e ambientais". Dessa forma, apesar de estar se referindo a um campo
específico de pesquisas dentro do Design, o trabalho de Araújo dialoga com trabalhos
anteriores que pensam a sustentabilidade em relação ao Design, buscando compreender
as relações entre o ciclo de vida do produto e questões ambientais.
5 — Conclusões
Este artigo teve por objetivo analisar que concepções de Design são discursivizadas e
legitimadas por pós-graduandos da área de Design em artigos científicos publicados nos
Anais do Simpósio de Pós-Graduação em Design das cinco últimas edições (2015-2019).
Para tanto, selecionamos textos que apresentassem explicitamente conceitos de Design e
suas definições. Além do conceito de Design como área geral, também selecionamos,
quando possível, artigos que traziam conceitos de campos de pesquisa específicos dentro
do Design, de modo a compreender a multiplicidade de visões que têm construindo a área
enquanto espaço de pesquisas.
A partir da análise dos dados, foi percebida a grande gama de visões e conceitos que
embasam o Design na ESDI. As visões sobre o campo abarcam desde abordagens
relacionadas às teorias da linguagem enquanto comunicação, passando por trabalhos de
orientação social e marxista e chegando àqueles que relacionam o Design a questão
contemporâneas como sustentabilidade, acessibilidade e, ainda, mercado e consumo.
Dessa forma, percebe-se que o PPDESDI entende o Design como um campo
interdisciplinar, aplicado e que relaciona teoria à prática para atender a demandas sociais
contemporâneas. Também é evidente, pela leitura de alguns trabalhos, a compreensão do
Design como um campo crítico, que questiona as relações sociais e a própria função de
seus profissionais na sociedade.
Por fim, é importante ressaltar que não foi nosso objetivo apresentar uma análise
exaustiva dos conceitos de Design operacionalizados pelos pesquisadores que publicam
seus trabalhos nos anais do SPGD, mas tão somente construir um quadro amplo sobre as
visões que atravessam o campo a partir da leitura dialógica desses artigos. Assim, em vez
de nos focarmos em questões linguístico-discursivas na apresentação de nossa análise,
procuramos nos atentar à construção de um quadro que pode nosauxiliar na compreensão
dos discursos que constroem a área de Design atualmente e os rumos futuros possíveis
desse campo de pesquisas. Nesse sentido, como afirmamos na introdução deste artigo, a
análise buscou, como último fim, mapear e ressignificar as pesquisas do campo de Design a
partir daqueles que, efetivamente, constroem e construirão o campo no Brasil.
Referências
AMORIM, M. A. de. A linguística aplicada e os estudos brasileiros: (inter-)relações teórico-
metodológicas. Rev. bras. linguist. apl., Belo Horizonte, v. 17, n. 1, p. 1-30, Mar. 2017.
. . . . . . . . . . . . . . . . .
LAMAS, Caio; Mestre; Realidade virtual, narrativa e imersão: um estudo de caso acerca da
experiência do usuário; Fernando Reiszel Pereira; 2020;
http://lattes.cnpq.br/5631575856505560.
caio.lamas@ifrj.edu.br