Você está na página 1de 9

SPGD 2020

6º SIMPÓSIO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGN DA ESDI


Rio de Janeiro, 4 a 7 de novembro de 2020

Discursos sobre o conceito de Design no


SPGD
Discourses about the concept of Design in SPGD

LAMAS, Caio; AMORIM, Marcel.

RESUMO: A partir da fundação da Associação Brasileira de Desenho Industrial (ABDI), no


início dos anos 60, e a criação das primeiras instituições de ensino, pesquisa e extensão da
área de Design no Brasil, profissionais do Design brasileiro têm procurado desenvolver e
estabelecer o campo de abrangência da área no país. Neste contexto, a ESDI teve e
continua tendo papel de destaque no movimento de pensar continuadamente e redefinir o
campo do Design através de suas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Esta pesquisa
tem por objetivo analisar que concepções de Design são discursivizadas e legitimadas por
pós-graduandos da área em artigos científicos publicados nos Anais do Simpósio de Pós-
Graduação em Design das cinco últimas edições, entre 2015 e 2019. O escrutínio do corpus
obtido foi instrumentalizado a partir da ADD, uma metodologia para análise do discurso
construída a partir das contribuições de autores da filosofia da linguagem sócio-histórica
soviética como Mikhail Bakhtin, Valentin Volóchinov e Pavel Medvedev. A investigação
sobre a pluralidade de conceitos de Design que fundamentam os trabalhos de pesquisa em
um dos mais importantes eventos da área pode nos auxiliar na compreensão dos discursos
que constroem a área de Design atualmente e os rumos futuros possíveis desse campo de
pesquisas.
Palavras-chave: Design. Pesquisa e metodologia do design. Análise dialógica do discurso.

ABSTRACT: Since the foundation of the Brazilian Industrial Design Association (ABDI), in the
early 1960s, and the creation of the first teaching, research and extension institutions in the
area of Design in Brazil, Brazilian Design professionals have sought to develop and establish
the field coverage area in the country. In this context, ESDI had and continues to have a
prominent role in the movement to continuously think and redefine the field of Design
through its teaching, research and extension activities. This research aims to analyze which
conceptions of Design are discursivized and legitimized by graduate students in the area in
scientific articles published in the Annals of the Postgraduate Symposium in Design of the last
five editions, between 2015 and 2019. The scrutiny of the corpus obtained was
instrumentalized from the ADD, a methodology for discourse analysis built from the
contributions of authors of the Soviet socio-historical language philosophy such as Mikhail
Bakhtin, Valentin Volóchinov and Pavel Medvedev. The investigation of the plurality of
Design concepts that base the research work in one of the most important events in the area
can help us to understand the discourses that currently build the Design area and the
possible future directions of this field of research.
Keywords: Design; Research and design methodology, Dialogical analysis;
LAMAS; AMORIM. Discursos sobre o conceito de Design no SPGD.

1 — Introdução
Desde o início dos anos 1960, a partir da fundação da Associação Brasileira de Desenho
Industrial (ABDI) e a criação das primeiras instituições de ensino, pesquisa e extensão da
área de Design no Brasil, profissionais do Design brasileiro têm procurado desenvolver e
estabelecer o campo de abrangência da área nas mais diferentes regiões do país. Nesse
contexto, a Escola Superior de Design Superior da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (ESDI-UERJ) tem papel de destaque: fundada em 1962, a ESDI, em parceria com a
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) e com a
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), foi responsável por alguns dos
primeiros eventos na área de Desenho Industrial no Brasil; dentre esses eventos, essas
instituições organizaram e realizaram o I Seminário de Ensino de Desenho Industrial que,
no ano de 1965, tinha como objetivo central a definição e discussão sobre os conceitos
básicos do processo de ensino de Design, incluindo a definição e discussão do próprio
conceito de Desenho Industrial.
Atualmente, cerca de 60 anos depois, a ESDI continua tendo papel de destaque no
movimento de pensar continuadamente e redefinir o campo do Design através de suas
atividades de ensino, pesquisa e extensão. Dentro do contexto da pesquisa realizada na
ESDI, o Simpósio de Pós-Graduação em Design (SPGD), que ocorre anualmente desde
2015, procura publicizar as contribuições de docentes e discentes do Programa de Pós-
Graduação em Design da ESDI (PPDESDI) em relação a temáticas atuais desse campo de
investigação. Durante esse evento, diversos são os trabalhos que, mais do que trazerem
contribuições à pesquisa em Design, procuram, em algum nível, ressignificar o que é o
campo do Design, a partir da perspectiva de cada pesquisador-autor.
Dessa forma, esta pesquisa tem por objetivo analisar que concepções de Design são
discursivizadas e legitimadas por pós-graduandos da área em artigos científicos
publicados nos Anais do Simpósio de Pós-Graduação em Design das cinco últimas edições
(2015-2019). Para realizar a investigação, optamos por uma revisão dos textos que trazem
explicitamente definições de Design a partir das contribuições teórico-analíticas da
chamada Análise Dialógica de Discurso (ADD). Metodologicamente, inicialmente será
realizada a seleção dos textos que comporão o corpus da pesquisa. Os critérios para essa
seleção serão baseados tanto na presença explícita de texto discursivo que discorra sobre
a definição do campo do Design quanto na disponibilidade de informações que
identifiquem os autores em termos de sua experiência acadêmica e profissional na área de
Design.
O escrutínio do corpus obtido foi instrumentalizado a partir da ADD, uma metodologia
para análise do discurso construída a partir das contribuições de autores da filosofia da
linguagem sócio-histórica soviética como Mikhail Bakhtin, Valentin Volóchinov e Pavel
Medvedev. A Análise Dialógica do Discurso procura, no movimento analítico, compreender
como se dá o processo de construção de sentidos sobre os textos e seus efeitos no mundo
social. Para tanto, considera que os sentidos se dão sempre na interação social, sendo o
sentido construído no diálogo entre sujeitos considerados como discursivos, históricos e
culturais. Com efeito, a partir da ADD, procuraremos sinalizar como se dá a construção de
sentidos a partir da análise do material dos artigos sob escrutínio, sempre considerando o
contexto mais amplo de produção e circulação desses textos indiciado por traços de
situações particulares, isto é, pela relação dialógica entre esses textos e formações sociais,
discursivas e históricas.A partir desse movimento analítico, pretendemos compreender
que discursos sobre o conceito de Design são construídos, elencados e legitimados pelos
pesquisadores que participaram das últimas cinco edições do Simpósio de Pós- Graduação
em Design da Escola Superior de Design Superior da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro.

Anais do 6º Simpósio de Pós-Graduação em Design da ESDI - SPGD 2020


ISSN: 2447-3499 ISSN ONLINE: 2526-9933
LAMAS; AMORIM. Discursos sobre o conceito de Design no SPGD.

Finalmente, é importante ressaltar que este artigo não tem por intenção a delimitação de
um conceito ou de conceitos definitivos sobre o campo do Design, o que, inclusive, não
acreditamos ser possível devido à multiplicidade de visões teóricas e metodológicas que
atravessam o campo na contemporaneidade. No entanto, a investigação sobre a
pluralidade de conceitos de Design que fundamentam os trabalhos de pesquisa em um dos
mais importantes eventos da área pode nos auxiliar na compreensão dos discursos que
constroem a área de Design atualmente e os rumos futuros possíveis desse campo de
pesquisas. Nesse sentido, essa pesquisa busca, como último fim, mapear e ressignificar as
pesquisas do campo de Design a partir daqueles que, efetivamente, constroem e
construirão o campo no Brasil.

2 — A ESDI e o SPGD
Por meio de decreto, assinado pelo governador Carlos Lacerda em 25 de dezembro de
1962, a ESDI é criada no Estado da Guanabara. Sendo a primeira escola superior de Design
da América Latina, e com discurso metodológico de projeto baseado na Escola de Ulm
(SOUZA, 1996), se tornou um mito e uma referência para outras escolas que surgiam no
país (NIEMEYER, 1997). No entanto, foi apenas nos anos de 2005 e 2013, que foram
abertas, em seu Programa de Pós-Graduação stricto sensu, as primeiras turmas de
mestrado e doutorado, respectivamente.
Reformulado em 2017, o currículo do Programa de Pós-Graduação em Design da ESDI
(PPDESDI) visa à “formação de pesquisadores e docentes altamente qualificados na área
de Design” (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2017) em duas linhas de
pesquisa de natureza teórica e também prática: Tecnologia, Produto e Inovação; e Teoria,
Informação, Sociedade e História.
A primeira se foca em pesquisas que estudam a inovação de produtos e serviços, as
interações homem-tecnologia, e processos projetuais das áreas de projeto de produto,
design de serviços, automação, arquitetura da informação, ergonomia entre outras.
Enquanto a segunda aborda Teoria e Crítica, debruçando-se sobre questões de
metodologia e pensamento projetual, modelos de ensino e de produção do saber no
campo, e a ampliação do campo às outras áreas de conhecimento; Informação, abrangendo
assuntos relacionados a elementos de comunicação e linguagem visuais, design de
interação, estratégia, gestão e inovação; e também História do Design, considerando
aspectos relativos ao surgimento e desenvolvimento do campo, seus antecedentes,
contextos sociais e desdobramentos, com foco nacional ou internacional.
Hoje, o Programa recebe discentes graduados em outras áreas de conhecimento que não
apenas no Design, como arquitetura, engenharia, comunicação social, administração,
sociologia etc., provenientes das mais diversas regiões do país e do exterior. Por esta razão
e aliado à sua missão de divulgar os conhecimentos gerados na ESDI, o SPGD se torna um
evento cada vez mais rico, apresentando as mais diversas ramificações do campo do
Design, e se aprimorando a cada uma de suas edições.
O SPGD é um evento acadêmico endógeno, de caráter formativo, e que ocorre anualmente
no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Design da ESDI. Esse evento foi idealizado e
teve sua primeira edição realizada no ano de 2015. A criação do SPGD se deu por iniciativa
da coordenação do PPDESDI, que então assumiu a responsabilidade de organizá-lo com a
colaboração do corpo discente do programa.
O caráter formativo do SPGD é explícito desde sua criação. Sua proposta surgiu da
necessidade de promover internamente os trabalhos de pesquisa dos alunos do PPDESDI
que, em 2015, já oferecia os cursos de mestrado e doutorado, com gradual crescimento de
seu corpo discente. Outra necessidade observada na época, e que a proposta do evento
buscava sanar, era a de promover aquilo que seria primeira experiência de divulgação

Anais do 6º Simpósio de Pós-Graduação em Design da ESDI - SPGD 2020


ISSN: 2447-3499 ISSN ONLINE: 2526-9933
LAMAS; AMORIM. Discursos sobre o conceito de Design no SPGD.

científica para muitos mestrandos e doutorandos. Conforme consta no Edital de 2017, “o


evento tem por objetivo o registro e divulgação das pesquisas realizadas na ESDI, bem
como a integração dos participantes com a comunidade acadêmica” (PPDESDI, 2017).
Por ser um evento endógeno, podem submeter artigos e apresentar seus trabalhos
somente discentes, docentes e egressos do programa que se formaram a até 3 (três) anos.
Apesar disso o SPGD apresentou um crescimento considerável entre 2015 e 2018, em
parte por causa do crescimento do corpo discente de doutorado do PPDESDI, que só
estacionou em 2017, mas também em parte pela maior adesão da comunidade acadêmica,
incentivada pelas ações de divulgação empreendidas pelas comissões organizadoras
anualmente.
Por fim, é importante ressaltar que todas as edições do SPGD deram origem a anais com a
publicação de textos das mais diferentes abordagens epistemológicas e teóricas, e que
abordam os mais diversos temas e focos relacionados ao campo do Design. São os textos
publicados nesses anais que nos interessam enquanto corpus deste artigo.

3 — FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

Como sinalizado em nossa introdução, este artigo tem por objetivo analisar que
concepções de Design são discursivizadas e legitimadas por pós-graduandos da área em
artigos científicos publicados nos Anais do Simpósio de Pós-Graduação em Design das
cinco últimas edições (2015-2019).Buscou-se, para esta pesquisa, um instrumento
metodológico de análise dos dados que desse conta dos complexos processos subjetivos
que poderiam explicitar-se a partir dos discursos que compõe nosso corpus textual. Com
efeito, optou-se por adotar a Análise Dialógica do Discurso (doravante ADD)
instrumentalizando-a e tornando o dialogismo (BAKHTIN, 1997), parte do arcabouço
metodológico essencial para este trabalho.
O objetivo dos vários tipos de análises do discurso é principalmente a compreensão do
discurso e não da língua em si. Para tal, considera-se discurso “uma unidade de análise que
tem uma materialidade, o texto, falado ou escrito etc.” (SOBRAL E GIACOMELLI, 2016).
Ainda assim o discurso também não se confunde com o texto, mas constrói o texto, e para
compreender o discurso, é necessário entender, para além desse texto, quem usa a língua,
para quem se dirige e em qual contexto. Ou seja, os interlocutores discursam em um
determinado momento, ambiente e influídos por suas relações sociais. Nesse mesmo
sentido, Volochinov (2017, p. 195-196) afirma que “O sentido da palavra é inteiramente
determinado pelo seu contexto. Na verdade, existem tantas significações para uma palavra
quanto contextos de seu uso”.
Sobral e Giacomelli (2016) destacam que para compreender o dialogismo, é necessário
compreender seus conceitos mais fundamentais, são eles o enunciado, a interação, signo
ideológico e os gêneros do discurso. A unidade de análise para a ADD é o enunciado, e os
enunciados se referem a alguma coisa existente, concreta ou abstrata, e expressa uma
avaliação ou valoração do locutor sobre essa coisa, e por final é sempre endereçado a
alguém (SOBRAL E GIACOMELLI, 2016). Os enunciados são construídos pelos indivíduos,
não a partir de um dicionário ou livro gramatical, mas de outros enunciados concretos, de
outras pessoas, carregados de valores e intenções. Nesse sentido, Bakhtin afirma:
todo falante é por si mesmo um respondente em maior ou menor grau:
porque ele não é o primeiro falante, o primeiro a ter violado o eterno
silêncio do universo, e pressupõe não só a existência do sistema da língua
que usa mas também de enunciados antecedentes – dos seus e alheios –
com os quais o seu enunciado entra nessas ou naquelas relações (baseia-

Anais do 6º Simpósio de Pós-Graduação em Design da ESDI - SPGD 2020


ISSN: 2447-3499 ISSN ONLINE: 2526-9933
LAMAS; AMORIM. Discursos sobre o conceito de Design no SPGD.

se neles, polemiza com eles, simplesmente os pressupõe já conhecidos do


ouvinte. Cada enunciado é um elo na corrente complexamente organizada
de outros enunciados (BAKHTIN, 2013, p. 272).
Dessa forma, entende-se que todo enunciado dialoga com outros enunciados já
ditos antes dele, e os locutores usam enunciados durante sua interação adaptando-se um
ao outro em um contexto, para conseguir aquilo que querem através de seus enunciados.
A interação para a ADD envolve o momento de produção de discurso entre no
mínimo dois interlocutores, entretanto, não apenas este momento, mas os papéis sociais
desses interlocutores, como eles relacionam-se mutuamente naquele momento, e ao longo
da vida. Dessa forma, pode-se afirmar que para a ADD “a interação envolve não só a
situação imediata, como as situações mediatas, o histórico de interações dos interlocutores
e as formas de interagir na sociedade ao longo da história” (SOBRAL E GIACOMELLI,
2016). Conforme afirmam os autores, não há discursos neutros e imparciais, e as palavras
são ditas por indivíduos imbuídos de valores e interesses. Nesse mesmo sentido, o Signo
Ideológico é “todo signo usado no discurso a partir de uma dada posição social e história
de um locutor diante de um interlocutor” (SOBRAL E GIACOMELLI, 2016).
Os gêneros do discurso para a ADD não coincidem com os gêneros textuais, e para
a ADD o que é realmente importante avaliar é com qual intencionalidade um discurso é
produzido. Os gêneros discursivos são estáveis até um certo ponto, ainda que mudem ao
longo do tempo à medida que os locutores os utilizam, mesclando seus elementos e
mudando sua forma. Rodrigues (2010, p. 9) afirma que para Bakhtin, os gêneros seriam
formas de ação entre os interlocutores: “eles funcionam como índices de referência para a
construção dos enunciados, pois balizam o autor no processo discursivo, e como horizonte
de expectativas para o interlocutor, no processo de compreensão e interpretação do
enunciado”.
Para além dos conceitos basilares, Sobral e Giacomelli (2016) afirmam que uma
análise realizada, a partir dos preceitos da ADD, envolve primeiramente a descrição do
objeto da análise a partir da sua materialidade linguística (o texto em termos concretos) e
de suas características enunciativas (o discurso significado no texto); e então a partir das
descrições estabelecidas, analisar as relações estabelecidas entre esses dois planos
(linguagem e enunciação); e, por fim, a interpretação, pelo pesquisador, dos sentidos
criados a partir dessa linguagem e enunciação. Tudo isso em vista das relações sociais
existentes entre os interlocutores, suas histórias de vida e contextos (AMORIM, 2017).

4 — Análise

A palavra Design é derivada do inglês e, de acordo com o Cambridge DictionaryOnline,


significa"o modo como algo é planejado e construído", "padrão ou decoração" ou ainda
"projetar ou desenhar algo antes de fazê-lo". Esses significados, no entanto, apesar de
estabelecidos em termos de língua, não representam conceitualmente o campo do Design
enquanto área de pesquisas e de atuação de seus profissionais.Hoje, o campo do Design se
ramifica e abrange, cada vez mais, diferentes áreas, focos e embasamentos teóricos e
metodológicos. É exatamente na busca por esse desenvolvimento da área que analisamos,
neste artigo, concepções de Design que atravessam discursivamente os trabalhos
publicados nos anais dos últimos SPGDs.
No SPDG de 2015, 5 (cinco) trabalhos trazem diretamente em seu texto conceitos de
Design. Dentre esses trabalhos, o artigo apresentado por Maria Cristina Ibarra, na época,
doutoranda em Design, dialogiza (BAKHTIN, 2016) argumentos de autoridade para
conceituar o campo como uma área social através de autores do campo; Ibarra recorre a
pesquisadores como Rafael Cardoso, Lobach e Hara para compreender o design como

Anais do 6º Simpósio de Pós-Graduação em Design da ESDI - SPGD 2020


ISSN: 2447-3499 ISSN ONLINE: 2526-9933
LAMAS; AMORIM. Discursos sobre o conceito de Design no SPGD.

"plano, desígnio, intenção quanto a configuração, arranjo ou estrutura" ou ainda como


"processo de adaptação do entorno artificial às necessidades físicas e psíquicas" do
homem no meio social.Reelaborando a ideia de design a partir de sua própria ótica, Ibarra
afirma, em momento posterior, que "[...] design é a ocupação de levar ao limite nosso
ouvido e nossos olhos para descobrir novas questões a partir da vida cotidiana. As pessoas
criam seus espaços vivendo. Para além da observação racional desse fato se encontram o
futuro da tecnologia e o futuro do design", o que sinaliza para uma concepção de design
relacionada à experiência social, à vivência humana, ou ainda, como sinalizado em outro
momento, como a "condição básica para toda atividade humana".
Além do trabalho de Ibarra, em 2015, o único trabalho que também apresentava uma
definição de caráter social do conceito de Design era o trabalho de Imaíra Portela,
doutoranda do programa à época, que entendia o Design como "um fazer orientado para o
futuro, transformando realidades". O trabalho apresentado por John Alexander Benavides,
mestre em Design pela ESDI, compreendia o Design como "processo estruturado" de
criação de objetos, imagens e espaços, além de serviços, numa visão do campo restrita às
possíveis funcionalidades do profissional do Design. De forma semelhante, o trabalho de
HelgaSpitz, doutoranda em Design em 2015, enxergava o Design como sendo utilizado em
"política pelas organizações", "processo" ou ainda modo de "engajar as pessoas" nos
processos de Design. Assim, mantendo-se no campo funcional, Spitz parece ressignificar
(VOLOCHÍNOV, 2017) o conceito de Design, o enxergando como uma metodologia ou
abordagem para a gestão institucional de processos, podendo auxiliar, inclusive, no
"cumprimento [da] missão institucional".
O último trabalho a mencionar explicitamente o Design nos anais de 2015, é o artigo de
Clarissa Pacheco Nascimento,mestranda em Design na época do evento. Nascimento
enxerga o Design como relacionado ao "modo de pensar e projetar" que teria como efeito a
concretização "[d]os valores, atributos, promessa e posicionamento de marca". Ampliando
a discussão, a partir da dialogização (BAKHTIN, 2016) de argumentos de autoridades de
autores da área, Nascimento afirma ainda que o design é um "processo de pensamento",
não o produto final, e que a área se relaciona a "eventos, serviços e relações". Nesse
sentido, essa pesquisadora amplia o conceito de Design como ligado a métodos e
abordagens para pensar a área também em relação com a publicidade, com o setor de
serviços e com a construção de identidades das marcas.
Na edição de 2016 do SPGD, 3 (três) trabalhos se referiam diretamente ao conceito de
Design. Dos três trabalhos, nenhum apresentava citação explícita de autores da área; as
definições eram construídas no interior das próprias investigaçõesrealizadas pelos
pesquisadores. O primeiro trabalho, de Eliezer Nogueira do Nascimento Junior,
doutorando em Design no PPDESDI na época, compreende o Design sob uma ótica que
alinha o pensamento crítico-marxista ao contexto mercadológico. Nesse sentido, esse
pesquisador entende o Design como "necessário à indústria dentro da lógica da divisão do
trabalho e do desejo pela criação de novos e variados objetos que atendam a uma gama
maior de consumidores a partir de uma estratégia de diferenciação". Indo mais além,
Nascimento Junior entende o Design como "sinalizador das diferentes camadas sociais". É
importante, nessas definições, atentar-se para a utilização dos termos "divisão do
trabalho" e "camadas sociais" enquanto termos que ressignificam (BAKHTIN, 2016)
conceitos marxistas como divisão social do trabalho e classes sociais.
O segundo trabalho, de Ana Paula Zarur, doutoranda em Design na ESDI em 2016, enxerga
o campo do Design como aquele "usado para moldar percepções de como objetos devem
ser compreendidos", o que pode levar a uma compreensão do campo como relacionado à
processos de significação, em situações de comunicação. Dessa forma, a pesquisadora
aproxima-se discursivamente de uma visão de Design enquanto ferramenta de

Anais do 6º Simpósio de Pós-Graduação em Design da ESDI - SPGD 2020


ISSN: 2447-3499 ISSN ONLINE: 2526-9933
LAMAS; AMORIM. Discursos sobre o conceito de Design no SPGD.

comunicação, que direcionaria - ou propiciaria - a construção de significados para


artefatos diversos. O último trabalho de 2016 a mencionar diretamente o conceito de
Design é o escrito por Jocely Silva, mestranda em Design na época, que relacionava
explicitamente, pela primeira nos anais do evento, o conceito de Design à sustentabilidade,
ao afirmar que a área seria "o instrumento para a conexão do que é possível no campo das
tecnologias limpas" e que, por isso, vinha apresentando crescente preocupação com o
meio ambiente.
Em 2017, apenas dois trabalhos publicados nos anais do SPGD apresentavam definições
explicitas sobre o Design. O primeiro, também de Zarur, que já havia publicado nos anais
do ano anterior do evento, reafirma o discurso sobre a área construído no texto anterior,
enxergando o design como sempre interessado em "expressar significados" a partir de um
"plano intencional" e em um "propósito comunicativo". É interessante ressaltar que essa
visão, apesar de colocar o foco na linguagem, a enxerga como meio ou instrumento de
comunicação e não como forma de interação discursiva, tal como a visão de linguagem que
embasa este artigo (BAKHTIN, 2016; VOLÓCHINOV, 2017). O segundo e último trabalho
publicado nos anais nesse ano, de Pedro Themoteo Alves Correa, mestre em Design pelo
PPDESDI, numa linha próxima a apresentada por Jocely Silva, também dialogiza
(BAKHTIN, 2016) o Design a partir de sua relação com a sustentabilidade, dessa vez,
citando textualmente essa relação ao afirmar utilizar "o design como ferramenta de
transformação e tendo como norte os princípios da sustentabilidade, agroecologia...".
Desse modo, os trabalhos apresentados nesse ano, em vez de ampliar o quadro de
conceitos, parecem reafirmar alguns já correntes nas edições anteriores do evento.
Na edição de 2018 do SPGD, 3 (três) trabalhos apresentam conceitos claros de Design.
Nesse ano, o trabalho de Pedro Paulo Fiudice de Menezes Lessa, então mestrando em
Design pela ESDI, na tentativa de definir especialmente o Design Gráfico, dialoga com os
trabalhos de Zarur, compreendendo esse campo do Design como "processo de comunicar
visualmente". Dialogizando (BAKHTIN, 2016) autores como Villas-Boas, esse pesquisador
compreende o Design Gráfico como campo que ordenaria elementos estético-formais
textuais e não-textuais com objetos comunicacionais.
Em outro caminho, Marcelo Fonseca da Rocha, relaciona a área do Design, vista como
"atividade ligada à produção material", a fatores econômicos e forças políticas. Dessa
forma, numa abordagem crítica do campo, Rocha procura compreender o papel do
profissional da área na "evolução dos métodos de produção".Por fim, o trabalho de
Arnaldo de Magalhães Lyrio Filho, doutorando na época do evento, procura, pela primeira
vez dentre os trabalhos que apresentam conceitos claros de design nos anais do SPGD,
relacionar o campo do Design aos estudos da acessibilidade trazendo a baile o termo
"Design Universal", que o próprio pesquisador entende como um campo "novo, derivado
do 'design acessível'", mas que tem como objetivo "dar acessibilidade a pessoas com
deficiência". Em outros termos, esse campo do Design se refere "a produtos e elementos de
edificações com possibilidade de utilização ampliada e estendida à maioria das pessoas".
A última edição do SPGD aqui analisada, realizada no ano de 2019, apresenta em seus
anais 3 (três) trabalhos que discutem conceitos de Design. O primeiro trabalho, de Ana
Dias, mestre em Design pela ESDI, apesar de não se afiliar a um conceito específico da área,
procura entender a função social do Design e do designer numa perspectiva
historiográfica. De acordo com Dias, "as dimensões acerca da função da profissão, atuação
profissional, papel social e ética" do designer se encontram cada vez mais presente nos
debates da sociedade brasileira. Assim, a autora parece discurssivizar a preocupação do
Design de se compreender enquanto área para responder às demandas sociais, colocando
a função e o impacto social do Design como foco da discussão.
Numa discussão mais conceitual e menos historiográfica do conceito, Felipe Kaizer,
doutorando em Design pela ESDI, enxerga, em seu artigo, o campo como teórico prático -

Anais do 6º Simpósio de Pós-Graduação em Design da ESDI - SPGD 2020


ISSN: 2447-3499 ISSN ONLINE: 2526-9933
LAMAS; AMORIM. Discursos sobre o conceito de Design no SPGD.

"design é feito não apenas de práticas, mas também de teorias", respondendo (BAKHTIN,
2016) a discursos que, por vezes, situam o Design apenas no campo da prática, a partir de
uma visão problemática das ciência aplicada, e, em diálogo com autores da área, isto é,
revozeando (VOLÓCHINOV, 2017) vozes de autoridade, concebe o designer como quem
"estabelece cursos de ação objetivando a mudança de situações". Em resumo, para Kaizer,
o designer se configura e deveria ser ensinado como ciência, "uma ciência dos 'processo de
síntese'". Ademais, o último trabalho analisado, de Marcos Paulo Marques Araújo, apesar
de não apresentar um conceito geral para Design, busca entender o que chama de Design
Regenerativo; segundo o autor, "design para o ciclo de vida do artefato, e, calcado em
princípios próprios e ambientais". Dessa forma, apesar de estar se referindo a um campo
específico de pesquisas dentro do Design, o trabalho de Araújo dialoga com trabalhos
anteriores que pensam a sustentabilidade em relação ao Design, buscando compreender
as relações entre o ciclo de vida do produto e questões ambientais.

5 — Conclusões
Este artigo teve por objetivo analisar que concepções de Design são discursivizadas e
legitimadas por pós-graduandos da área de Design em artigos científicos publicados nos
Anais do Simpósio de Pós-Graduação em Design das cinco últimas edições (2015-2019).
Para tanto, selecionamos textos que apresentassem explicitamente conceitos de Design e
suas definições. Além do conceito de Design como área geral, também selecionamos,
quando possível, artigos que traziam conceitos de campos de pesquisa específicos dentro
do Design, de modo a compreender a multiplicidade de visões que têm construindo a área
enquanto espaço de pesquisas.

A partir da análise dos dados, foi percebida a grande gama de visões e conceitos que
embasam o Design na ESDI. As visões sobre o campo abarcam desde abordagens
relacionadas às teorias da linguagem enquanto comunicação, passando por trabalhos de
orientação social e marxista e chegando àqueles que relacionam o Design a questão
contemporâneas como sustentabilidade, acessibilidade e, ainda, mercado e consumo.
Dessa forma, percebe-se que o PPDESDI entende o Design como um campo
interdisciplinar, aplicado e que relaciona teoria à prática para atender a demandas sociais
contemporâneas. Também é evidente, pela leitura de alguns trabalhos, a compreensão do
Design como um campo crítico, que questiona as relações sociais e a própria função de
seus profissionais na sociedade.

Por fim, é importante ressaltar que não foi nosso objetivo apresentar uma análise
exaustiva dos conceitos de Design operacionalizados pelos pesquisadores que publicam
seus trabalhos nos anais do SPGD, mas tão somente construir um quadro amplo sobre as
visões que atravessam o campo a partir da leitura dialógica desses artigos. Assim, em vez
de nos focarmos em questões linguístico-discursivas na apresentação de nossa análise,
procuramos nos atentar à construção de um quadro que pode nosauxiliar na compreensão
dos discursos que constroem a área de Design atualmente e os rumos futuros possíveis
desse campo de pesquisas. Nesse sentido, como afirmamos na introdução deste artigo, a
análise buscou, como último fim, mapear e ressignificar as pesquisas do campo de Design a
partir daqueles que, efetivamente, constroem e construirão o campo no Brasil.

Referências
AMORIM, M. A. de. A linguística aplicada e os estudos brasileiros: (inter-)relações teórico-
metodológicas. Rev. bras. linguist. apl., Belo Horizonte, v. 17, n. 1, p. 1-30, Mar. 2017.

Anais do 6º Simpósio de Pós-Graduação em Design da ESDI - SPGD 2020


ISSN: 2447-3499 ISSN ONLINE: 2526-9933
LAMAS; AMORIM. Discursos sobre o conceito de Design no SPGD.

VOLOCHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do


método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário por Sheila
Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2017.
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Tradução de Paulo Bezerra. Sã o Paulo: Editora 34,
2016.
BRAIT, B. Linguagem e identidade: um constante trabalho de estilo. Trabalho,
Educação e Saúde, 2(1): 185-201, 2004.
SOBRAL, A.; GIACOMELLI, K. Observações didáticas sobre a análise dialógica do
discurso – ADD. Domínios de lingu@gem, v. 10, n. 3, 2016.
MEDVIÉDEV, P. N. O método formal nos estudos literários: introdução crítica a uma
poética sociológica. Tradução de Ekaterina Vólkova Américo e Sheila Camargo Grillo. São
Paulo: Contexto, 2012.
NIEMEYER, Lucy. Design no Brasil: origens e instalação. Rio de Janeiro: 2A, 1997.
SOUZA, Pedro Luiz Pereira de. Esdi biografia de uma idéia. Rio de Janeiro: UERJ. 1996.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Deliberação, nº 02/2017, 16 de março de
2017. Disponível em: <
http://www.esdi.uerj.br/public/editor/pos/Delibera%C3%A7%C3%A3o%2002_2017.pdf>.
Acesso em: 15/11/2018.

. . . . . . . . . . . . . . . . .

Notas sobre os autores

LAMAS, Caio; Mestre; Realidade virtual, narrativa e imersão: um estudo de caso acerca da
experiência do usuário; Fernando Reiszel Pereira; 2020;
http://lattes.cnpq.br/5631575856505560.
caio.lamas@ifrj.edu.br

AMORIM, Marcel; Doutor; http://lattes.cnpq.br/3847631843846476.


marcel.amorim@ifrj.edu.br

Anais do 6º Simpósio de Pós-Graduação em Design da ESDI - SPGD 2020


ISSN: 2447-3499 ISSN ONLINE: 2526-9933

Você também pode gostar