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METODOLOGIA DO MAPEAMENTO PRÉVIO: O DESIGN NA CONCEPÇÃO

DE ESTRATÉGIAS PARA A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA


METHODOLOGY OF PRIOR MAPPING: DESIGN IN THE CONCEPTION OF
STRATEGIES FOR SCIENTIFIC DISSEMINATION

Délcio Julião Emar de Almeida - UEMG


delcio.artes@gmail.com

Rita Aparecida da Conceição Ribeiro - UEMG


rribeiroed@gmail.com

Resumo
A proposta deste artigo é discutir a importância do Design nos processos de construção
de estratégias de divulgação científica, baseado na Teoria do Mapeamento Estrutural,
originário da Psicologia Cognitiva, a qual foi expandida para a análise de modelos
analógicos, desenvolvidos para a divulgação de conceitos científicos e,
consequentemente, culminando na proposição da Metodologia do Mapeamento Prévio,
que compõe estratégias que medeiem as ações nos processos de concepção de modelos
para a divulgação científica. Portanto, serão discutidos, além das relações entre Design e
divulgação científica, conceitos relacionados aos processos metodológicos em Design,
analogias, modelos analógicos e a Teoria do Mapeamento Estrutural. Igualmente serão
apresentados os resultados preliminares da aplicação da Metodologia do Mapeamento
Prévio na concepção de estratégias de Design para divulgação científica.

Palavras-chave: Design, divulgação científica, metodologias de projeto, analogias,


Metodologia do Mapeamento Prévio

Abstract
The purpose of this article is to discuss the importance of Design in the processes of
building scientific dissemination strategies based on the Structural Mapping Theory,
from Cognitive Psychology, which was expanded to analyze analog models, developed
for the dissemination of concepts and, consequently, culminating in the proposition of
the Methodology of Prior Mapping, which proposes strategies that mediate actions
within the processes of designing models for scientific dissemination. Therefore, in
addition to the relationships between Design and scientific dissemination, concepts
related to methodological processes in Design, analogies, analog models and Structural
Mapping Theory will be discussed. The preliminary results of the application of the
Methodology of Prior Mapping in the conception of Design strategies for scientific
dissemination will also be presented.

keywords: Design, scientific dissemination, project methodologies, analogies,


Methodology of Prior Mapping

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1. As metodologias de projeto do Design

O Design se caracteriza como importante agente na construção e compartilhamento de


conhecimentos, costumes, hábitos e tendências. Área do conhecimento que possui
caráter transdisciplinar, permeia diversos saberes, das artes às ciências, os quais aportam
a prática projetual e de pesquisa. Aqui entende-se o termo Ciência pela classificação de
Bunge (1976), que sugere a tipologia de ciências formais, naturais e culturais. Dessa
forma, faz parte do escopo de atuação do Design a sistematização e conexão entre
conhecimentos científicos, tecnológicos e artísticos. Assim como as demais áreas
pertencentes ao universo das ciências, o Design se caracteriza como um conjunto de
pensamentos e pensadores, propostas metodológicas e paradigmas no interior do seu
processo de pesquisa e projeto.

Pode se afirmar que Metodologia de Design seria o conjunto de todos os


procedimentos teóricos e técnicos que contribuem para a organização e otimização de
um projeto, no que se refere à análise, investigação e validação do Design (MUNARI,
1981; BOMFIM, 1995; BÜRDEK, 2006). Portanto, pode-se afirmar que o Design é área
caracterizada pelo aporte teórico que o fundamenta, por meio de conceitos e abordagens
de pensamento, e pelo aporte prático, composto por metodologias e métodos projetuais.
Dessas propostas metodológicas, observam-se aquelas mais racionalistas e analíticas,
enquanto outras valorizam o livre pensar e características pessoais dos envolvidos nos
projetos.

Löbach (2001) propõe uma metodologia racionalista e linear, caracterizada por uma
estrutura de pensamento convergente, restrito aos problemas específicos do projeto,
partindo de premissas particulares para gerar conclusões gerais. Possui, portanto, perfil
positivista, refletindo os pensamentos cartesianos típicos das engenharias, cujas
metodologias influenciaram sobremaneira o teórico (OLIVEIRA, 2017). A metodologia
de Bürdek (2006) propõe uma forma não linear na qual cada etapa se conecta com as
demais em um processo constante de retroalimentação, de forma que as etapas
subsequentes ajam sobre as anteriores, no sentido de controlar e melhorar o processo e o
resultado em si. Já metodologia de Munari (1981) se apresenta com uma proposta
funcionalista, um pouco mais complexa, pois parte do pressuposto que, entre o
surgimento do problema e a ideia final, existem etapas que vão sendo inseridas pelo
designer no processo do projeto.

Baxter (2000) propõe uma metodologia que possui etapas que se retroalimentam de
forma cíclica, apesar de se apresentar bem pragmática, no que se refere à intenção
mercadológica do resultado do projeto de Design. Se caracteriza como um processo de
reciclagem, que permite que ideias sejam avaliadas, adotadas ou descartadas, na
dinâmica metodológica apresentada. Roozenburg & Eekes (1995) enfatizam
declaradamente a importância do levantamento de hipóteses no processo de
inicialização do projeto de Design, além de serem explícitos no que tange a necessidade
de retornos e feedbacks entre as etapas do projeto. A importância de se levantar e
verificar hipóteses faz parte do pensamento do designer, segundo os autores, o que

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possibilita uma liberdade de propor soluções, mesmo que aparentemente inválidas e
desconectadas do que se deve esperar como resultado final.

De acordo com os recortes metodológicos apresentados, observa-se que o Design se


estrutura como uma área metodologicamente embasada, acompanhando as rupturas
epistemológicas que ocorrem nos tempos e espaços históricos, se portando como uma
área transdisciplinar por excelência, sendo possível a comparação com teóricos do
pensamento científico. Do racionalismo de Popper (2006) ao anarquismo metodológico
de Feyerabend (1977), passando pelas rupturas paradigmáticas de Kuhn (2013), o
Design dialoga com as áreas da ciência e processos de pensamento e criação. Tais
reflexões corroboram com a discussão do papel do Design na concepção de estratégias
para a divulgação de conceitos científicos

2. O Design e concepção de estratégias na divulgação científica

A Ciência observa o mundo fenomênico e dele extrai suas teorias e hipóteses. Por
meio da experimentação, tais teorias são postas em teste, falseadas, como diria Popper
(2006) e, assim, vai se construindo o corpo dos conhecimentos que a caracteriza. Dessa
forma, se apresenta como um dos principais pilares para a geração de tecnologia e
organização de estratégias que impactam social, cultural e historicamente a humanidade.
Nesse panorama, faz-se urgente refletir a respeito da promoção de uma educação
científica de qualidade, disponível e acessível, com vias à democratização desses
conteúdos. A formação de sujeitos interessados na pesquisa e ciência é primordial para a
estruturação de um público atento e bem informado nos conceitos científicos e isso se
refere à disseminação de conhecimentos da ciência para um público não especializado
(PIASSI et al, 2013)

Um processo de divulgação científica passa pela recriação do conhecimento


científico, tornando-o acessível ao público não iniciado, possibilitando a mútua
compreensão, a partir da união de arte, comunicação e ciência (MORA, 2003).
Compreende-se a divulgação científica como toda estratégia que se utiliza de diversas
mídias, como programas de TV, sites, documentários, revistas, manifestações artísticas
e exposições itinerantes, espaços especializados como museus, para a tradução, de
forma poética, lúdica e visualmente instigante, de conhecimentos científicos antes
reservados apenas ao público especializado (ALBAGLI, 1996; MARANDINO & DÍAZ
ROCHA, 2009).

Bueno (1988) afirma que a divulgação científica presume a recodificação e


transposição de linguagens especializadas para não especializadas, tornando, assim,
acessível a uma audiência mais ampla. Em estudos relacionados ao interesse público a
respeito de temas científicos, observou-se que o desinteresse em tais temas se deve,
principalmente, à complexidade das linguagens utilizadas e à divulgação restrita e
pontual dos assuntos ligados à Ciência e Tecnologia (SILVA Jr. 2017). O autor reforça
a necessidade do investimento em estratégias direcionadas ao público não iniciado. Tais
iniciativas que vão além da simples tradução de linguagens especializadas, mas antes no
esforço “de transformar em ‘valor’ as dúvidas (e não as ‘certezas’) estimuladoras da

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ciência e da tecnologia” (SILVA Jr., 2017, p.22), permitindo a participação ativa nos
processos de decisão, promovendo a discussão crítica a respeito de conteúdos
científicos.

A atuação do Design se faz premente nos processos de comunicar e difundir


conceitos de interesse científico. Observa-se que o papel do designer hoje está cada vez
mais associado ao desenvolvimento de estratégias que privilegiem a interação das
pessoas com os recursos comunicativos, envolvendo muito mais sistemas humanos do
que sistemas de objetos, ou seja, visando valores mais focados nos indivíduos
envolvidos nos processos do que especificamente nos objetos resultantes desses
processos (BUCHANAN, 2001; ALEXANDRE et al, 2019). Enquanto fenômeno
social, o Design não pode ser considerado como uma área isolada, posto que está
envolvido nas dinâmicas sociais, políticas e culturais, moldando conceitos de forma
sólida e tangível (FORTY, 2007; COSTA Jr., 2017). Portanto, qual o seria o interesse
ou a importância da participação do Design nas dinâmicas de divulgação científica?
Para responder a esse questionamento, Mora (2003) argumenta que a divulgação
científica se baseia em duas destinações a priori: a necessidade e o prazer. A
necessidade se refere ao processo de inclusão do indivíduo nas discussões a respeito dos
avanços científicos e suas consequências. De acordo com Albagli (1996), o acesso a
esses conhecimentos amplia qualitativamente a participação da sociedade nas decisões a
respeito dos impactos dos avanços científicos, seus possíveis desdobramentos
tecnológicos e na formulação de políticas públicas.

O prazer se relaciona à fruição, às sensações positivas que o entendimento de certos


conteúdos ocasiona. Mora (2003) sugere que o incentivo ao hábito de apreciar os
valores estéticos e intelectuais da ciência podem extrapolar a compreensão dos
conceitos científicos apenas pelo viés utilitário, o que pode levar a um crescimento
exponencial a respeito desses conteúdos, enriquecendo a discussão e debates. Portanto,
associar arte, Design e tecnologia no sentido de divulgar conceitos científicos,
provavelmente é um caminho acertado ao atribuir poesia, ludicidade e,
consequentemente, aumentar o prazer e o interesse dos públicos expostos a esses
conceitos, principalmente quando esse público consegue fazer uma conexão
significativa com seu cotidiano.

3. A Teoria Do Mapeamento Estrutural, analogias e modelos

Quando se fala em Ciência e Design, é inevitável a associação aos processos de


raciocínio e à criatividade, desde o pensamento hipotético-dedutivo (POPPER, 2007) à
abdução e a indução (PEIRCE, 2005). A abdução é o que permite que se introduza
generalidades aos juízos particulares. A dedução determina como algo deve ser, por
meio de premissas e a indução mostra como algo é, por meio de experimentações, no
sentido de confirmar uma teoria. Tais processos básicos de raciocínio se referem à
dinâmica da cognição humana e os processos criativos, objetos de estudo da Psicologia
Cognitiva, a qual se preocupa em como o indivíduo processa internamente, enquanto
informação, dos fenômenos aos quais está exposto, além de pesquisar como se dá a
externalização dessa informação (re)codificada (QUELHAS & JUHOS, 2013). O

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interesse aqui não é aprofundar nos estudos relativos à Psicologia Cognitiva, mas antes
estabelecer uma ponte com a Teoria do Mapeamento Estrutural e sua relação com os
processos de raciocínio no Design.

As pesquisas relacionadas à a Teoria do Mapeamento Estrutural - TME (Gentner,


1983) se direcionam principalmente ao pensamento por analogias, em que são avaliadas
suas abrangências e limitações, principalmente no que se refere à utilização nos
processos de raciocínio e construção do conhecimento. Antes de seguir com as
especificidades do TME, vale esclarecer, brevemente, a respeito do conceito de
analogias e modelos analógicos.

O pensamento humano se caracteriza pela capacidade de fazer comparações.


Encontrar soluções no mundo fenomênico, por meio do ato de comparar, é primordial
para o desenvolvimento biológico, social e tecnológico da humanidade. Conforme
Gombrich (1995), toda a obra da humanidade, da arte à ciência, é resultado da
capacidade do homem de buscar similaridades, descobrindo relações e refletindo a
respeito delas, para melhorar sua vida e resolver problemas.

Nesse contexto, encontram-se as analogias. Terrazzan et al. (2005) argumenta que as


analogias tornam os conhecimentos mais acessíveis, em particular os princípios
científicos, normalmente restritos a grupos especializados. As analogias, portanto, se
apresentam como importantes ferramentas didáticas, auxiliando nas estratégias de
ensino e aprendizagem (GLYNN, 1994; NAGEM et al.,2001; OLIVA et al, 2005;
BOZZELI & NARDI, 2006; MOZZER & JUSTI, 2015). De acordo com Gentner
(1983), as analogias estabelecem a correspondência entre dois domínios do
conhecimento, sendo um domínio base ou familiar, fonte do conhecimento onde se
buscará as comparações analógicas, e o domínio alvo, para o qual são direcionados os
esforços de compreensão, motivo da comparação.

O conceito de analogias possui estreita relação com o conceito de modelos. Apesar


da polissemia do termo, será estabelecida a definição de Mozzer & Justi (2015), que
adota o conceito de modelo como uma representação parcial de uma entidade de
interesse científico. Dessa forma, estabelece relações de similaridade com a entidade a
ser modelada, se portando como mediadores de conhecimento entre a realidade e as
teorias a respeito dessas realidades. A FIG. 01 demonstra a dinâmica relacional entre o
modelo, seu conjunto de afirmações que o definem e àquilo que se pretende representar:

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FIGURA 01 – Representação do relacionamento entre um conjunto de afirmações sobre o modelo,
o próprio modelo e aquilo que ele representa. (Adaptado de Giere 1988, p.83)
Fonte: Délcio Almeida (2019) Arquivo Pessoal

Entretanto, é importante argumentar que nem toda relação de similaridade entre o


modelo e a entidade de interesse científico que esse modelo representa pode ser
classificada como uma relação de analogias, embora o pensamento por analogias possa
contribuir para a concepção desses modelos. Portanto, a simples relação de similaridade
entre o modelo e a entidade modelada não implica em uma relação analógica (FERRY,
2018). O processo de concepção de modelos é nomeado como “modelagem”, que
dependerá das intenções para as quais o modelo será destinado. Ao passar pela
modelagem, o domínio alvo (aquilo que se quer representar) pode ser representado por
um modelo que, não necessariamente, será algo análogo a esse domínio alvo, apesar de
poder conter similaridades com esse domínio. Por exemplo, é possível representar as
camadas geológicas do planeta Terra com um modelo tridimensional ou uma ilustração
da própria Terra seccionada. Portanto, não é algo análogo ao planeta. É um modelo,
com todas as limitações que lhe são peculiares, que contém similaridades relacionadas à
aparência com a entidade de interesse científico que se quer representar, mas não possui
relações analógicas com a entidade.

É possível propor um modelo analógico para apresentar a estrutura do planeta Terra,


utilizando a imagem de uma laranja seccionada e desenvolvendo uma comparação entre
os constituintes das camadas da Terra e da fruta:

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FIGURA 02 – Representação da estrutura analógica entre a seção da laranja
e as camadas geológicas básicas do Planeta Terra.
Fonte: Délcio Almeida (2019) Arquivo Pessoal

Observam-se alguns requisitos que caracterizam esse processo de modelagem


analógica: a laranja não é um artefato concebido pelo homem para representar o planeta
Terra; já que existe na natureza sem a intenção de ser um modelo analógico a priori, não
existe uma relação de dependência entre a Terra e a laranja; sendo um objeto natural,
pré-existente ao ato de modelagem e, no contexto do exemplo citado, foi designado para
representar a Terra em uma relação de similaridade analógica com o planeta, por ser,
portanto, um domínio familiar.

O diagrama apresentado na FIG. 03 demonstra a dinâmica relacional entre domínio


alvo, domínio análogo - ou base - e modelo, dimensões envolvidas no processo de
modelagem:

FIGURA 03 - Diagrama relacional entre os conceitos Modelos, Análogos e Alvo. Disponível em Ferry (2016)

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OI: 10.14417/S0870-823120130004000

Esclarecidas as terminologias relacionadas às analogias, modelos e processos de


modelagem, retorna-se à Teoria do Mapeamento Estrutural. Gentner (1983) explica que,
em uma relação analógica, cada domínio possui particularidades que os caracterizam,
podendo ser classificadas como elementos, atributos e relações entre elementos e
atributos dos elementos. Os elementos de um domínio seriam os constitutivos desse
domínio, aquilo que o compõe. Atributos seriam a aparência, as características desses
elementos, como forma, cor, textura etc. As relações entre elementos e atributos dos
elementos se referem ao comportamento e interação entre elementos e atributos de
elementos. O mapeamento e comparação de elementos, atributos e relações é que
determinará a abrangência e as limitações de uma comparação analógica, no sentido de
sua eficácia no entendimento de fenômenos científicos.

Gentner (1983) propõe uma tipologia de comparações de acordo com o nível de


sobreposição entre os dois domínios, com vias a gerar uma percepção substancial de
similaridade. A autora enfatiza que uma relação de sobreposição embasada nas relações
entre atributos de elementos possuirá a característica de ser uma relação analógica. Se a
sobreposição ocorre em muitos elementos e atributos desses elementos, tem-se uma
“similaridade literal”. Caso a sobreposição ocorra principalmente nos atributos dos
elementos, com poucas sobreposições entre as relações, tem-se uma correspondência de
“mera aparência”. Uma “anomalia” ocorre quando, na comparação, não há nenhuma
sobreposição entre atributos de elementos nem em relações (GENTNER, 1983):

QUADRO 1 - Atributos e relações mapeáveis nos tipos de comparações entre domínios. Fonte: Ferry (2016, p.52)

Ferry (2016) alerta que é imprescindível que se leve em consideração caracteres


sócio históricos dos meios nos quais se dará a dinâmica de construção do conhecimento

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e não apenas critérios quantitativos e lógicos para avaliar e, possivelmente, proceder a
escolha dos predicados dos modelos ou analogias que serão aplicadas como mediadores
do conhecimento. Isso se deve ao fato que, dependendo do contexto dos envolvidos na
dinâmica de comparação, uma relação potencialmente analógica pode ser percebida
apenas como uma comparação de mera aparência, uma anomalia ou vice-versa.

Em trabalhos posteriores, Gentner & Markman (1997) propõe um gráfico que


determina um “espaço de similaridades”, permitindo uma distinção mais clara entre a
tipologia de relações, incluindo, ainda, a figura da metáfora – relação implícita entre
dois domínios.

FIGURA 4 - Espaço de Similaridades. Adaptado de Gentner & Markman (1997, p. 48).


Fonte: Délcio Almeida (2019)

A TME se refere ao mapeamento de analogias, no sentido de validar sua abrangência


e utilização como estratégia para ensino de ciências. Entretanto, a intenção dessa
pesquisa é a adequar a TME para o processo de design de modelos para a divulgação
científica. A proposta surgiu a partir dos estudos desenvolvidos no Grupo de Pesquisa
Analogias e Metáforas na Tecnologia, Educação e na Ciência (AMTEC), vinculado à
linha IV do Programa de Pós-graduação do Centro Federal de Educação Tecnológica de
Minas Gerais (CEFET-MG), relacionados ao mapeamento estrutural de modelos de
divulgação científica já existentes, no sentido de verificar suas abrangências e
limitações (ALMEIDA, 2017; EMAR DE ALMEIDA, ALMEIDA e FERRY, 2018).

Desses estudos surgiu a ideia de se expandir o processo de mapeamento para a


concepção de modelos, ou seja, propor uma ferramenta criativa e metodológica própria

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do Design que contribua para o processo de concepção de estratégias de divulgação
científica. Dessa feita, surgiu a estrutura inicial da Metodologia do Mapeamento Prévio
- MMP, ainda em fase inicial de estruturação, submetida à verificação prática e
avaliação pelos públicos de interesse, no sentido de propor ajustes e ampliações no
escopo de aplicação da metodologia.

4. A METODOLOGIA DO MAPEAMENTO PRÉVIO - MMP

Durante o processo de mapeamento estrutural desenvolvido em modelos para


divulgação científica, observou-se a necessidade de organizar o procedimento
metodológico que adequasse a estrutura do mapeamento estrutural para as intenções de
modelagem das estratégias de design para divulgação científica, assim como outros
projetos que vem sendo desenvolvidos no Centro de Pesquisa Design e Representações
Sociais da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais –
UEMG/CNPq. Os primeiros passos para o processo de definição dos procedimentos
metodológicos iniciaram-se com a análise das etapas do mapeamento estrutural, de
forma a organizar documentos que pudessem ser aplicados com a participação de
indivíduos diretamente ligados aos campos da ciência – professores e pesquisadores –
os quais não necessariamente pertençam à área do Design. Portanto, após estudos e
discussões, foram definidos 4 formulários que contribuiriam para facilitar a exposição
de ideias.

O formulário 1 se refere à etapa do brainstorming, ou seja, se refere às etapas de


primeira inspiração ou insight preliminar e preparação do processo criativo,
objetivando a discussão, definição e detalhamento das entidades de interesse científico
definidas pelas equipes. Esse formulário é estruturado com as seguintes questões:

- definição da entidade de interesse científico a ser modelada;

- detalhamento da relevância do processo de modelagem: a importância de se


aprender/entender a entidade de interesse científico;

- levantamento de possíveis estratégias que são aplicadas no processo de ensino e


divulgação científica;

- averiguação das possíveis barreiras e empecilhos para a construção do processo de


divulgação/entendimento da entidade de interesse científico.

O formulário 2 refere-se à etapa do mapeamento estrutural, aqui renomeado como


Método do Mapeamento Prévio - MMP, devido ao fato que se trata de um processo de
mapeamento que acontece antes da estruturação do modelo. Pode ser associada à etapa
da preparação do processo criativo, pois, nesse momento, os conhecimentos a respeito
da entidade de interesse científico são expostos, dissecados, inseridos ou transformados.
Isso permite que os participantes elenquem as características da entidade de interesse
científico (domínio alvo) e da possível analogia proposta para se desenvolver a
comparação (domínio base). É possível listar os elementos, atributos dos elementos e

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relações entre elementos e (relações de primeira ordem) e relações entre relações
(relações de ordem superior).

O formulário 3 foi destinado à etapa de verificação das limitações do domínio base


(elemento análogo) no que se refere às suas potencialidades representativas. Portanto, o
formulário contribuiu para a etapa criativa da elaboração, momento em que o modelo a
ser construído passa por uma análise criteriosa de seus elementos, atributos e relações
de ordem superior e primeira ordem, de forma que é possível propor estratégias que
visem a superação de tais limitações ou mesmo a proposição de outros modelos
alternativos.

O formulário 4, ainda na fase da elaboração, é utilizado para se proceder um resumo


do processo criativo, servindo como uma ficha técnica das primeiras ideias do modelo a
ser construído, com suas características formais, significativas e materiais. É possível
inserir croquis ou sequências de estratégias como jogos e dinâmicas.

A oportunidade de aplicação da Metodologia do Mapeamento Prévio surgiu durante


o V Congresso Internacional da ACADEMIC INTERNATIONAL NETWORK –
ACINNET, que aconteceu entre os dias 20 a 25 de maio de 2019, no campus do Centro
Universitário de Belo Horizonte – UNIBH. Na ocasião, foi oferecida a oficina
“Desenhando a Ciência: metodologias ativas na concepção de modelos para divulgação
da Ciência”, aberta ao público participante do Congresso. Para a oficina, foram inscritos
26 participantes, entre professores e alunos das áreas da saúde (medicina e psicologia) e
da engenharia civil. Foram formadas 05 equipes, de forma aleatória e, após momento de
interação inicial, as equipes, de acordo com as escolhas dos integrantes, escolheram os
temas que iriam abordar (entidades alvo).

Após a definição inicial das entidades de interesse científicos, as equipes definiram


os domínios base para a construção das analogias:

QUADRO 2 – Demonstrativo dos domínios alvo e domínios base definidos pelas


equipes de criação. Fonte: Délcio Almeida (2019)

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O processo da MMP levou ao resultado de 5 estratégias de modelos, alguns mais
estruturados que outros, devido ao tempo de 4 horas disponível para a oficina. No
quadro 3, é possível verificar o resultado do processo criativo:

QUADRO 3 – Demonstrativo dos domínios alvo, domínios base e proposta


do modelo definidos pelas equipes de criação. Fonte: Délcio Almeida (2019)

Devido ao tempo reduzido da oficina, não foi possível a construção efetiva das
propostas de modelagem, mas apontam para uma sistematização que, com um tempo
maior disponível, poderão ser efetivados. É importante esclarecer que os formulários
são apenas instrumentos de apoio ao processo criativo, já que os participantes podem
lançar mão de outras estratégias, como mapas mentais, esboços, roughs e listagens,
durante a dinâmica de criação.

Figura 5 – Equipes de mapeamento. Fonte: Délcio Almeida (2019)

Figura 6 – Equipes de mapeamento na fase inicial do processo. Fonte: Délcio Almeida (2019)

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Figura 7 – Detalhe a utilização dos formulários de mapeamento. Fonte: Délcio Almeida (2019)

De acordo com a discussão final da oficina, foi possível verificar que os participantes
retornaram de forma positiva quanto à validade do processo da MMP, já que, de acordo
com as impressões levantadas, o processo sistematiza a dinâmica criativa, em particular
pelo fato da maioria dos envolvidos não pertenceram ao universo de atuação do Design.
Esse fato demonstrou que, com o auxílio dessa ferramenta, associada à mediação de um
profissional de Design, a concepção de estratégias de modelagem foi potencializada
pelo diálogo e compartilhamento de conhecimentos, permitindo a emersão de soluções
visuais, em diversas linguagens. Observou-se, igualmente, que o escopo de
conhecimentos dos participantes foi imprescindível para a escolha das entidades de
interesse científico e das analogias para se proceder o alinhamento e o pensamento
criativo.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o processo de desenvolvimento da Metodologia do Mapeamento Prévio, foi


possível verificar que a interação de diversas áreas do conhecimento no sentido da
concepção de estratégias de design para a divulgação científica possibilita a emersão de
soluções de Design que minimizam os obstáculos epistemológicos que poderiam
incorrer na dinâmica de construção do conhecimento. O alinhamento de pensamentos e
compartilhamento de ações metodológicas, embasadas na estratégia do MMP fornece a
oportunidade do surgimento de produtos de Design que colaboram para a divulgação
científica e, por que não dizer, do ensino e aprendizagem. O compartilhamento de
informações entre profissionais de áreas da Ciência e do Design, de forma
horizontalizada, pode contribuir para a reflexão a respeito das dinâmicas de construção
do conhecimento, unindo metodologias diversas e ferramentas criativas características
dessas diversas áreas. A proposta do MMP se porta como mediadora desse pensamento

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criativo, no qual o usuário de produtos de design passa a ser um coautor na concepção
desses produtos. É importante citar que a intenção da concepção de produtos de design
direcionados para a divulgação científica representa um passo imprescindível para a
popularização de conceitos científicos, abrindo espaço para discussões e reflexão dos
impactos dos princípios próprios das ciências e seus reflexos nas transformações
tecnológicas e culturais, com vias a formação de sujeitos atuantes na sociedade e no
fortalecimento da cidadania.

AGRADECIMENTOS

A presente pesquisa faz parte do projeto Criatividade e Ciência: desenvolvendo


estratégias de design para o ensino na educação básica (processo 440254/2019-1, setor
COSAE/CGCHS/DEHS – CNPq), desenvolvida pelo Centro de Pesquisa Design e
Representações Sociais da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas
Gerais – UEMG/CNPq, no Programa de Pós-Graduação Mestrado/Doutorado em
Design – PPGD/UEMG. Conta ainda com o apoio do Grupo de Pesquisa de Metáforas,
Modelos e Analogias na Tecnologia, na Educação e na Ciência – AMTEC/CEFET-
MG/CNPq.

REFERÊNCIAS

ALBAGLI, S. Divulgação Científica: informação científica para a cidadania?


Ciência da Informação, Brasília, p.396-404, 1996.
ALEXANDRE, R. F.; REIS, A. L. P.; NOVAES, L. Reflexões sobre Design e
iniciativas participativas no contexto museal. Design & Tecnologia: UFRGS. 2019
ALMEIDA, R. B. S. Analogias e modelos: construção de objetos museais para a
divulgação científica. 120 f. (Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Educação tecnológica) – Centro Federal de Educação Tecnológica
de Minas Gerais CEFET-MG, Belo Horizonte. 2017.
BAXTER, Mike. Projeto de produto: guia prático para o Design de novos produtos.
Trad. Itiro Iida. – 2. ed. – São Paulo: Blucher, 2000.
BOMFIM, G. A. Metodologia para desenvolvimento de projetos. João Pessoa:
Editora Universitária/UFPB, 1995
BOZELLI, F. C.; NARDI, R. Interações discursivas e o uso de analogias no
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Sobre o autor

Délcio Julião Emar de Almeida é artista plástico e designer gráfico e doutorando em Design na
Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG. É pesquisador credenciado do Grupo de
Pesquisa em Modelos, Metáforas e Analogias na Ciência, Educação e Artes –
AMMTEC/CEFET MG/CnPQ e no Centro de Pesquisa Design & Representações Sociais –
UEMG/CnPQ.

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