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MARI

ANADECARVALHO PUGLI
SI

HABI
TAÇÃO ECI
DADE-ESPAÇOSCOLETI
VOSNAHABI
TAÇÃO DEI
NTERESSESOCI
AL.

ANÁLI
SEDASOBRASDO ARQUI
TETO HECTORVI
GLI
ECCAEM SÃO PAULO 1989A2016.

SÃO PAULO
2017
MARIANA DE CARVALHO PUGLISI

HABITAÇÃO E CIDADE – ESPAÇOS COLETIVOS NA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL.

ANÁLISE DAS OBRAS DO ARQUITETO HECTOR VIGLIECCA EM SÃO PAULO 1989 A 2016.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós


Graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Presbiteriana Mackenzie como
requisito para obtenção do título de Mestre
em Arquitetura e Urbanismo, orientado pelo
Prof. Dr. Abílio da Silva Guerra Neto.

SÃO PAULO

2017

1
P978h Puglisi, Mariana de Carvalho.

Habitação e Cidade – Espaços coletivos na Habitação de Interesse


Social: análise das obras do Arq. Hector Vigliecca em São Paulo de
1989 a 2016 / Mariana de Carvalho Puglisi - 2017.
177 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade


Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2017.
Bibliografia: f. 68 – 70.

1. Apropriações. 2. Espaços Coletivos. 3. Habitação de Interesse


Social. 4. Arquiteto Hector Vigliecca. I. Título.

CDD 720.7

2
[AGRADECIMENTOS]

Gostaria de agradecer àqueles que contribuíram para que essa jornada fosse realizada.
Primeiramente, minha mãe Maria Silvia Ayusso C. Puglisi, que me ajudou a tornar viável este
sonho, ao meu pai Paulo Cesar Puglisi e irmão Rafael de Carvalho Puglisi, que me deram o
suporte e apoio necessário durante o processo.

Ao meu exímio orientador Prof. Dr. Abilio Guerra, pelos encontros, incentivo e dedicação. À
banca examinadora, composta por Raquel Rolnik e Lizete Rubano, que contribuiu para a
edificação deste trabalho com críticas e sugestões de suma importância.

Ao mestre e arquiteto Hector Vigliecca pelos anos enriquecedores de trabalho e aprendizado


em seu escritório.

E, por fim, aos meus amigos arquitetos Cintia Marino, Luciano Abbamonte e Samira
Rodrigues pelo estimulo e colaboração com a pesquisa.

Muito Obrigada.

4
[RESUMO]

A presente dissertação busca analisar os espaços coletivos em três conjuntos de habitação


de interesse social com projetos concebidos pelo arquiteto Hector Vigliecca na cidade de
São Paulo, no período de 1989 a 2016. O eixo principal em que a pesquisa se orienta é a
realidade não prevista nos projetos, que surge nas apropriações dos espaços coletivos, em
que se evidenciam contradições entre o projeto de arquitetura encomendado pelo poder
público e o uso pelos moradores. Ao longo da pesquisa a questão fundiária e da origem dos
terrenos aparece como um dos indícios das contradições reveladas, pois a imprecisão da
propriedade da terra se reproduz nos usos e nas apropriações dos moradores. O trabalho
irá analisar os espaços coletivos de cada conjunto habitacional escolhido de acordo com
critérios de identificação de características que amparam a qualidade urbana dos projetos.
Os conjuntos escolhidos são: Conjunto Habitacional Rincão 1989-1992, Rio das Pedras – Vila
Mara 1989-1998 e Parque Novo Santo Amaro V 2009-2012. A partir de uma análise dividida
em três momentos, a dissertação pretende abordar o problema do espaço público na
habitação de interesse social, a sua relevância para as obras de HIS na construção da cidade
e as contradições que existem nestes espaços no projeto de arquitetura.

Palavras chaves – Apropriações, Espaços Coletivos, Habitação de Interesse Social, Arquiteto


Hector Vigliecca.

[ABSTRACT]

This dissertation seeks to analyze the collective spaces in three sets of social interest housing
projects designed by the architect Hector Vigliecca in the city of São Paulo from 1989 to
2016. The main axis in which the research is oriented is the reality not foreseen in the
Projects that arise in the appropriations of collective spaces, where they show contradictions
between the architecture project commissioned by the public power and the use by the
residents. Throughout the research the land issue and the origin of the land appears as one
of the indications of the revealed contradictions, as for example, the imprecision of land is
reproduced in the uses and appropriations of the inhabitants. The work analyzes the
collective spaces of each housing group chosen according to criteria for identifying
characteristics that support the urban quality of the projects. The sets chosen are: Conjunto
Habitacional Rincão 1989-1992, Rio das Pedras - Vila Mara 1989-1998 and Parque Novo
Santo Amaro V 2009-2012. From this analysis divided into three moments the dissertation
aims to address the problem of public space in housing of social interest, its relevance to the
works of HIS in the construction of the city and the contradictions that exist in these spaces
in the architecture project.

Keywords – Appropriations, Colletive Space, Social Housing Architecture, Hector Vigliecca


Architect.

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[LISTA DE FIGURAS]

FIGURA 1. CAPA DA REVISTA DA PREFEITURA DE SÃO PAULO DA SEHAB, NOV.1990. FONTE: ACERVO DO
AUTOR. ......................................................................................................................................................... 20
FIGURA 2. CONJUNTO HABITACIONAL PRUITT IGOE .FIGURA 3. DEMOLIÇÃO 1972. ........................................... 22
FIGURA 4. CORTE DO CONJUNTO HABITACIONAL RINCÃO. FONTE: VIGLIECCA E ASSOCIADOS. ......................... 24
FIGURA 5. CONJUNTO HABITACIONAL RINCÃO. FIGURA 6 CONJUNTO HABITACIONAL DA BOUÇA .................... 24
FIGURA 7. IMPLANTAÇÃO CONJUNTO HABITACIONAL RINCÃO. FONTE: GOOGLE EARTH 2016. ......................... 25
FIGURA 8. IMPLANTAÇÃO CONJUNTO HABITACIONAL DA BOUÇA. FONTE: GOOGLE EARTH 2016. .................... 25
FIGURA 9. FOTO DA VISITA ONJUNTO HABITACIONAL RINCÃO, JAN. 2016. FONTE: ACERVO DO AUTOR. ...... 27
FIGURA 10. FOTO DA PORTARIA DO CONJUNTO HABITACIONAL RINCÃO, 1992. FONTE: ACERVO DA COHAB.
...................................................................................................................................................................... 28
FIGURA 11. FOTO DA MATRÍCULA DO TERRENO DO RINCÃO. BASE FUNDIÁRIA RINCÃO. FONTE: ACERVO DA
COHAB 2016. ................................................................................................................................................ 29
FIGURA 12. FOTO DO FECHAMENTO RUA EVANS. FONTE: ACERVO DO AUTOR 2016. ........................................ 30
FIGURA 13. FOTO DA INAUGURAÇÃO 1992. FONTE: ARQ.SCAGLIUSI. ................................................................. 31
FIGURA 14. FOTO DA VISITA EM JAN, 2016. ACERVO DO AUTOR......................................................................... 31
FIGURA 15. DIAGRAMA DAS MODIFICAÇÕES DO CONJUNTO HABITACIONAL RINCÃO. FONTE: ACERVO DO
AUTOR 2016. ................................................................................................................................................ 32
FIGURA 16. FOTO MUTIRÃO. FONTE: CENTRO COOPERATIVISTA URUGUAIO ..................................................... 35
FIGURA 17. CAPA DA REVISTA DA PREFEITURA DE SÃO PAULO DA SEHAB, NOV.1990. FONTE: ACERVO DO
AUTOR .......................................................................................................................................................... 36
FIGURA 18. REPORTAGEM REVISTA DA PREFEITURA DE SÃO PAULO DA SEHAB, NOV.1990. FONTE: ACERVO
DO AUTOR .................................................................................................................................................... 37
FIGURA 19. FOTO AÉREA DOS CONJUNTOS HABITACIONAIS RIO DAS PEDRAS – VILA MARA. FONTE: GOOGLE
EARTH 2016. ................................................................................................................................................. 38
FIGURA 20. PLANTA DAS TIPOLOGIAS DE APARTAMENTO. FONTE: VIGLIECCA E ASSOCIADOS ........................... 39
FIGURA 21. . IMAGENS DA CONSTRUÇÃO DO CONJUNTO RIO DAS PEDRAS. FONTE: VIGLIECCA E ASSOCIADOS
...................................................................................................................................................................... 39
FIGURA 22. FOTO DA ENTRADA E PORTARIA DO CONJUNTO HABITACIONAL VILA MARA. FONTE: ACERVO DO
AUTO. ........................................................................................................................................................... 41
FIGURA 23. FOTO DA CIRCULAÇÃO INTERNA COM GRADES DO CONJUNTO HABITACIONAL VILA MARA. FONTE:
ACERVO DO AUTOR. ..................................................................................................................................... 41
FIGURA 24. FOTO DO COMÉRCIO NO TÉRREO DO CONJUNTO HABITACIONAL VILA MARA. FONTE: ACERVO DO
AUTOR. ......................................................................................................................................................... 42
FIGURA 25. FOTO DAS ÁREAS LIVRES QUE HOJE SERVEM DE ESTACIONAMENTO DO CONJUNTO HABITACIONAL
VILA MARA. FONTE: ACERVO DO AUTOR. .................................................................................................... 42
FIGURA 26 E FIGURA 27. FOTO DA PRAÇA INTERNA DO CONJUNTO HABITACIONAL RIO DAS PEDRAS, 2016.
FONTE: ACERVO DO AUTOR. ....................................................................................................................... 42
FIGURA 28. IMPLANTAÇÃO DOS CONJUNTOS HABITACIONAIS RIO DAS PEDRAS-VILA MARA. FONTE: VIGLIECCA
E ASSOCIADOS .............................................................................................................................................. 43
FIGURA 29. ALTERAÇÕES NO USO DO ESPAÇO PÚBLICO DOS CONJUNTOS HABITACIONAIS RIO DAS PEDRAS-
VILA MARA, 2016. FONTE: IMPLANTAÇÃO MODIFICADA PELO AUTOR COM BASE NA IMPLANTAÇÃO
ORIGINAL. ..................................................................................................................................................... 43
FIGURA 30. FOTO PANORÂMICA DO ESPAÇO COLETIVO DO CONJUNTO HABITACIONAL VILA MARA, 2016.
FONTE: ACERVO DO AUTOR. ........................................................................................................................ 45
FIGURA 31. FOTO PANORÂMICA DO ESPAÇO COLETIVO DO CONJUNTO HABITACIONAL RIO DAS PEDRAS, 2016.
FONTE: ACERVO DO AUTOR. ........................................................................................................................ 45

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FIGURA 32. FOTO AÉREA DO CONJUNTO HABITACIONAL PARQUE NOVO SANTO AMARO V, 2016. FONTE:
AUTOR BASE GOOGLE EARTH...................................................................................................................... 48
FIGURA 33. FIGURA 34. FIGURA 35: FOTOS DA OCUPAÇÃO NOVO SANTO AMARO V, 2009. FONTE: VIGLIECCA E
ASSOCIADOS ................................................................................................................................................. 49
FIGURA 36. PLANTA DE REMOÇÕES. REMOÇÕES EM LARANJA 210 DOMICÍLIOS. FONTE: VIGLIECCA E
ASSOCIADOS ................................................................................................................................................. 50
FIGURA 37. CROQUI DO PARTIDO ARQUITETÔNICO, ARQUITETO HECTOR VIGLIECCA.FONTE: VIGLIECCA E
ASSOCIADOS ................................................................................................................................................. 50
FIGURA 38. CORTE COM A SOLUÇÃO DA CANALIZAÇÃO DO CÓRREGO. FONTE: VIGLIECCA E ASSOCIADOS. ...... 51
FIGURA 39. IMPLANTAÇÃO DO CONJUNTO HABITACIONAL PARQUE NOVO SANTO AMARO V. FONTE: VIGLIECCA
E ASSOCIADOS .............................................................................................................................................. 51
FIGURA 40. FOTO CONJUNTO ROBIN HOOD GARDENS DOS SMITHSONS 1972. FONTE: SANDRA LOUSADA. ..... 52
FIGURA 41. FOTO CONJUNTO HABITACIONAL PARQUE NOVO SANTO AMARO V, 2012. FONTE: ACERVO DO
AUTOR. ......................................................................................................................................................... 52
FIGURA 42. IMPLANTAÇÃO E ACESSOS. FONTE: SEHAB 2012 .............................................................................. 53
FIGURA 43. FOTO TIRADA ANTES DA INAUGURAÇÃO DEZEMBRO 2009. FONTE : ACERVO DO AUTOR. ............. 53
FIGURA 44. CROQUI PATRIMONIAL. FONTE : SEHAB 2016 ................................................................................... 55
FIGURA 45. PÁGINA DA CARTILHA ENTREGUE AOS MORADORES. FONTE: SEHAB 2012. .................................... 56
FIGURA 46. FOTO DO BLOCO 01. VISITA REALIZADA EM AGOSTO DE 2016. FONTE: ACERVO DO AUTOR........... 58
FIGURA 47 E FIGURA 48. ADAPTAÇÕES DO ESPAÇO PÚBLICO DO PARQUE PARA ESTACIONAMENTO DOS
CARROS, 2016. FONTE: ACERVO DO AUTOR. ............................................................................................... 60
FIGURA 49. IMPLANTAÇÃO COM AS ADAPTAÇÕES EM VERMELHO FEITAS PARA CONTROLE E ACESSO AO
CONJUNTO, 2016. FONTE: PRODUZIDA PELO AUTOR COM BASE NA IMPLANTAÇÃO DO ESCRITÓRIO
VIGLIECCA E ASSOCIADOS. ........................................................................................................................... 61
FIGURA 50. FOTO DO EMPREENDIMENTO ANTES DA INAUGURAÇÃO, DEZ. 2012. FONTE: ACERVO DO AUTOR.
...................................................................................................................................................................... 62
FIGURA 51. FOTO DO EMPREENDIMENTO, AGO. 2016. FONTE: ACERVO DO AUTOR. ......................................... 62
FIGURA 52. CROQUI SOBRE FOTO ÁREA DO BAIRRO NOVO SANTO AMARO. AUTOR: HECTOR VIGLIECCA......... 67
FIGURA 53. CAPA DA PUBLICAÇÃO DA SEHAB SP, 1992. ...................................................................................... 87
FIGURA 54. REPORTAGEM SOBRE OS CONJUNTOS HABITACIONAIS PRODUZIDOS NA GESTÃO 1989-1992 COM
DESTAQUE AO RINCÃO. ................................................................................................................................ 87
FIGURA 55. OFICIO DA SECRETÁRIA DA HABITAÇÃO E DESENVOLVIMENTO URBANO SOLICITANDO
TRANSFERÊNCIA DE TERRENO PÚBLICO PARA PROVISÃO HABITACIONAL DO CONJUNTO RINCÃO, 1990.
FONTE : COHAB SP. ...................................................................................................................................... 88
FIGURA 56. DOCUMENTO PRESENTE NO PROCESSO DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EXPLICA A ORIGEM DO
TERRENO E OS ENTRAVES DA DESAPROPRIAÇÃO, 2004. FONTE: COHAB- SP .............................................. 89
FIGURA 57. HISTÓRICO DA CONCEPÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA SOLUÇÃO DO CONJUNTO RINCÃO, 1990.
FONTE: COHAB SP ........................................................................................................................................ 90
FIGURA 58. HISTÓRICO DA CONCEPÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA SOLUÇÃO DO CONJUNTO RINCÃO, 1990.
FONTE: COHAB SP ........................................................................................................................................ 91
FIGURA 59. CARACTERISTICAS DA CONSTRUÇÃO, ÁREA DO TERRENO E SITUAÇÃO FUNDIÁRIA, PROJETISTAS E
GERENCIADORAS DO EMPREENDIMENTO URBANISMO E ARQUITETURA: HABI 7 E PADOVANO E
VIGLIECCA, 1990. FONTE: COHAB SP. ........................................................................................................... 92
FIGURA 60.CUSTOS DO EMPREENDIMENTO E VALORES EM DÓLLARES, 1992. FONTE: COHAB SP ..................... 93
FIGURA 61. ETIQUETA DO DESENHO DE IMPLANTAÇÃO DO PROJETO EXECUTIVO. FONTE : COHAB SP ............. 93
FIGURA 62. IMPLANTAÇÃO ORIGINAL. FONTE: COHAB SP ................................................................................... 94
FIGURA 63. ETIQUETA COM LOGO DO ESCRITÓRIO TÉCNICO RESPONSÁVEL PADOVANO E VIGLIECCA
ARQUITETOS. FONTE: COHAB SP.................................................................................................................. 94

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FIGURA 64. DADOS DO PROJETO, RESPONSÁVEL PELA ELABORAÇÃO : HECTOR ERNESTO VIGLIECCA GANI, 1990.
FONTE COHAB SP ......................................................................................................................................... 94
FIGURA 65. MATRÍCULA COM OS LOTES ORIGINAIS DO TERRENO ONDE SE ENCONTRA O CONJUNTO
HABITACIONAL RINCÃO. FONTE: COHAB SP ................................................................................................ 95
FIGURA 66.SOLICITAÇÃO DE VISTORIA A OBRA, 1992. FONTE: COHAB SP ........................................................... 96
FIGURA 67. FOTOS DA VISTORIA OUTUBRO 1992. PORTARIA CONSTRUÍDA. FONTE: COHAB SP ........................ 96
FIGURA 68. REGISTROS DA VISTORIA A OBRA DO CONJUNTO HABITACIONAL RINCÃO, 1992. FONTE: COHAB SP
...................................................................................................................................................................... 97
FIGURA 69. FOTOS DA VISTORIA DE OUTUBRO DE 1992. FONTE: COHAB SP ....................................................... 98
FIGURA 70. VISTA DA RUA MARIA CARLOTA, JANEIRO 2016. FONTE: ACERVO DO AUTOR ................................. 99
FIGURA 71. VISTA DA RUA INTERNA JUNTO AO CÓRREGO RINCÃO, JANEIRO 2016. FONTE: ACERVO DO AUTOR
...................................................................................................................................................................... 99
FIGURA 72. VISTA DESDE O METRO VILA MATILDE, JANEIRO 2016. FONTE: ACERVO DO AUTOR ....................... 99
FIGURA 73. VISTA DA RUA INTERNA DE ACESSO AOS BLOCOS, JANEIRO 2016. FONTE: ACERVO DO AUTOR ... 100
FIGURA 74. FOTO RUA INTERNA DE ACESSO AOS BLOCOS, OUTUBRO 1992. FONTE: COHAB SP ...................... 100
FIGURA 75. VISTA DOS BLOCOS A PARTIR DO CÓRREGO RINCÃO, JANEIRO 2016. FONTE: ACERVO DO AUTOR100
FIGURA 76. VISTA DOS BLOCOS, OUTUBRO 1992. FONTE: COHAB SP ................................................................ 100
FIGURA 77. ACESSO AOS APARTAMENTOS, JANEIRO 2016. FONTE: ACERVO DO AUTOR.................................. 100
FIGURA 78. ACESSO AOS APARTAMENTOS, OUTUBRO 1992. FONTE : COHAB SP ............................................. 100
FIGURA 79, 80, 81, 82, 83. FOTOS DA VISITA À CAMPO EM JANEIRO DE 2016. FONTE: ACERVO DO AUTOR.... 101
FIGURA 84, 85, 86, 87, 88. FOTOS DA VISITA À CAMPO EM JANEIRO DE 2016. FONTE: ACERVO DO AUTOR.... 102
FIGURA 89, 90, 91, 92, 93, 94. FOTOS DA VISITA À CAMPO EM JANEIRO DE 2016. FONTE: ACERVO DO AUTOR
.................................................................................................................................................................... 103
FIGURA 95, 96, 97, 98, 99. FOTOS DA VISITA À CAMPO EM JANEIRO DE 2016. FONTE: ACERVO DO AUTOR.... 104
FIGURA 100, 101, 102, 103. 104. FOTOS DA VISITA À CAMPO EM JANEIRO DE 2016. FONTE: ACERVO DO AUTOR
.................................................................................................................................................................... 105
FIGURA 105, 106, 107. 108, 109. FOTOS DA VISITA A CAMPO EM JANEIRO DE 2016. FONTE: ACERVO DO AUTOR
.................................................................................................................................................................... 106
FIGURA 110. IMPLANTAÇÃO CONJUNTO HABITACIONAL RINCÃO. FONTE: VIGLIECCA E ASSOCIADOS ............. 107
FIGURA 111. ELEVAÇÃO DESDE A RUA ALVINÓPOLIS. FONTE: VIGLIECCA E ASSOCIADOS ................................. 107
FIGURA 112. PLANTA 2º PAVIMENTO. FONTE: VIGLIECCA E ASSOCIADOS ......................................................... 108
FIGURA 113. CORTE. FONTE: VIGLIECCA E ASSOCIADOS. ................................................................................... 108
FIGURA 114. CORTE E ELEVAÇÃO INTERNA DOS BLOCOS. FONTE: VIGLIECCA E ASSOCIADOS .......................... 108
FIGURA 115. IMAGEM AÉREA CONJUNTO HAB. RINCÃO, 1992. FONTE: ARQUITETURA E HABITAÇÃO SOCIAL EM
SÃO PAULO 1989-1992 ............................................................................................................................... 109
FIGURA 116. IMAGEM AÉREA CONJUNTO HAB. DA BOUÇA.FONTE:
HTTPS://VAKKUM.COM/2014/06/09/BAIRRO-DA-BOUCA-ALVARO-SIZA-VIEIRA-PORTOPT/ ACESSADO EM
JUNHO DE 2016. ......................................................................................................................................... 109
FIGURA 117. IMAGEM AÉREA CONJUNTO HAB. RINCÃO, 1992. FONTE: ARQUITETURA E HABITAÇÃO SOCIAL EM
SÃO PAULO 1989-1992 ............................................................................................................................... 110
FIGURA 118 E 119. IMAGENS DO CONJUNTO HAB. DA BOUÇA. ......................................................................... 110
FIGURA 120. PLANTA 1º PAVIMENTO CONJUNTO DA BOUÇA, ALVARO SIZA. ................................................... 110
FIGURA 121. PLANTA 3ºPAVIMENTOS CONJUNTO DA BOUÇA, ALVARO SIZA. .................................................. 110
FIGURA 122. CAPA DA PUBLICAÇÃO DA SEHAB SP, 1992. .................................................................................. 117
FIGURA 123. REPORTAGEM DO CONJUNTO RIO DAS PEDRAS VILA MARA. PUBLICAÇÃO SEHAB 1992. ............ 117
FIGURA 124.PLANTA DO TÉRREO CONJUNTO HAB. RIO DAS PEDRAS E VILA MARA. FONTE : VIGLIECCA E
ASSOCIAOS ................................................................................................................................................. 118
FIGURA 125. CORTE TRANSVERSAL DO CONJUNTO HAB. RIO DAS PEDRAS E VILA MARA. FONTE: VIGLIECCA E
ASSOCIADOS ............................................................................................................................................... 118

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FIGURA 126. PLANTA 2º PAVIMENTO CONJUNTO RIO DAS PEDRAS VILA MARA. FONTE: VIGLIECCA E
ASSOCIADOS ............................................................................................................................................... 119
FIGURA 127. PLANTA DAS TIPOLOGIAS. NA ORDEM: PAVIMENTO TÉRREO, 1º E 3º PAVIMENTOS, E 2º
PAVIMENTO. FONTE: VIGLIECCA E ASSOCIADOS ....................................................................................... 119
FIGURA 128, 129, 130, 131. VISTA DO CONJUNTO HABITACIONAL VILA MARA DESDE A ESTAÇÃO DA CPTM
JARDIM HELENA. ........................................................................................................................................ 122
FIGURA 132. VISTA DA ENTRADA DO CONJUNTO HABITACIONAL VILA MARA. ................................................. 122
FIGURA 133, 134, 135. VISTA DA RUA, ENTRADA E FACHADA DO CONJUNTO HABITACIONAL VILA MARA. ..... 123
FIGURA 136, 137. COMÉRCIO NO TÉRREO DO CONJUNTO HABITACIONAL VILA MARA. ................................... 123
FIGURA 138, 139. PÁTIO INTERNO ESTACIONAMENTO DO CONJUNTO HAB. VILA MARA. ................................ 124
FIGURA 140, 141, 142. FOTOS DO CONJUNTO HAB. VILA MARA. ...................................................................... 124
FIGURA 143, 144, 145, 146, 147.ÁREAS COMUNS E PÁTIO INTERNO, ESTACIONAMENTO DO CONJUNTO HAB.
VILA MARA ................................................................................................................................................. 125
FIGURA 148, 149. FACHADA DOS BLOCOS VISTA DO PÁTIO INTERNO. .............................................................. 126
FIGURA 150. ESCADARIA ACESSO AO CORREDOR DO 2ºPAVIMENTO. ............................................................... 126
FIGURA 151, 152, 153. FACHADAS E PÁTIO INTERNO CONJUNTO HAB. VILA MARA. ........................................ 127
FIGURA 154, 155. CAIXA D’ÁGUA E ESQUINA CONJUNTO HAB. VILA MARA. ..................................................... 127
FIGURA 156, 157. CAIXA D’ÁGUA E FACHADA CONJUNTO HAB. VILA MARA. .................................................... 128
FIGURA 158, 159. CORREDOR 2º PAVIMENTO E ENTRADA DAS UNIDADES NO TÉRREO E 1º PAVIMENTO. ...... 128
FIGURA 160. FACHADA E COMÉRCIO NO TÉRREO. FIGURA 161. VISTA PARA O CONJUNTO HAB. RIO DAS
PEDRAS. ...................................................................................................................................................... 128
FIGURA 162, 163, 164. FACHADA E CIRCULAÇÃO INTERNA DO CONJUNTO HAB. VILA MARA........................... 129
FIGURA 165, 166. COMÉRCIO NO TÉRREO. ......................................................................................................... 129
FIGURA 167, 168. ESCADARIA DE ACESSO AO CORREDOR DO 2º PAVIMENTO CONJUNTO HAB. VILA MARA... 130
FIGURA 169, 170, 171, 172. VISTAS DO PÁTIO INTERNO, ESTACIONAMENTO. .................................................. 131
FIGURA 173. GRADES NOS CORREDORES DE ACESSO AS UNIDADES DO 2º PAVIMENTO. ................................. 131
FIGURA 174. VISTA INTERNA DAS CAIXAS D’ÁGUAS DO CONJUNTO HAB. VILA MARA ...................................... 132
FIGURA 175, 176. FACHADA EXTERNA DO CONJUNTO HAB. VILA MARA. .......................................................... 132
FIGURA 177, 178. FACHADA EXTERNA DO CONJUNTO HAB. RIO DAS PEDRAS. ................................................. 132
FIGURA 179, 180, 181, 182. PAVIMENTO TÉRREO DO CONJUNTO HAB. RIO DAS PEDRAS. ............................... 133
FIGURA 183. ESCADARIA DE ACESSO AO 2º PAVIMENTO. .................................................................................. 133
FIGURA 184. GRADES NO CORREDOR DE ACESSO AS UNIDADES DO 2º PAVIMENTO. ....................................... 134
FIGURA 185, 186, 187, 188. VISTAS DO PÁTIO INTERNO DO CONJUNTO HAB. RIO DAS PEDRAS. ..................... 134
FIGURA 189, 190, 191. VISTAS DO PÁTIO INTERNO DO CONJUNTO HAB. RIO DAS PEDRAS. ............................. 135
FIGURA 192, 193. VISTA INTERNA DAS CAIXAS D’ÁGUAS. .................................................................................. 135
FIGURA 194, 195. DETALHE DA FACHADA E CORREDOR INTERNO DO 2º PAVIMENTO. .................................... 136
FIGURA 196, 197, 198. VISTAS DO PÁTIO INTERNO E ÁREAS COMUNS DO CONJUNTO HAB. RIO DAS PEDRAS. 136
FIGURA 199. GRADES NO CORREDOR DE ACESSO AO 2º PAVIMENTO CONJUNTO HAB. RIO DAS PEDRAS.
FIGURA 200, 201. VISTAS DO TÉRREO CONJUNTO HAB. RIO DAS PEDRAS. FIGURA 202. VISTA INTERNA
DAS CAIXAS D’ÁGUAS. FIGURA 203. DETALHE DA FACHADA ACESSO AS UNIDADES DO TÉRREO E 1º
PAVIMENTO. .............................................................................................................................................. 137
FIGURA 204. VISTA DO PÁTIO INTERNO DO CONJUNTO HAB. RIO DAS PEDRAS. ............................................... 138
FIGURA 205. VISTA EXTERNA DA ENTRADA DO CONJUNTO HAB. VILA MARA. .................................................. 138
FIGURA 206. VISTA DO PÁTIO INTERNO DO CONJUNTO HAB. VILA MARA. ....................................................... 138
FIGURA 207. FACHADA EXTERNA DO CONJUNTO HAB. VILA MARA. .................................................................. 139
FIGURA 208, 209. VISTAS DO PÁTIO INTERNO CONJUNTO HAB. VILA MARA ..................................................... 139
FIGURA 210. CROQUI PATRIMONIAL. PLANTA Nº602 DE PROPRIEDADE DE NOVA SANTO AMARO IMOBILIÁRIA E
CONSTRUTORA LTDA. PROCESSO Nº 376.095/78. ARQUIVAMENTOS DA PLANTA EM 1982. ................... 141
FIGURA 211. PLANILHA DE FINANCIAMENTO E VALORES DO EMPREENDIMENTO 2012. .................................. 143

9
FIGURA 212. MAPA DE LOCALIZAÇÃO. EM VERMELHO REGIÃO DAS NASCENTES DO CÓRREGO EMBU MIRIM
ONDE SE ENCONTRA O CONJUNTO HABITACIONAL PARQUE NOVO SANTO AMARO V. ........................... 144
FIGURA 213. ZOOM DO MAPA DE LOCALIZAÇÃO ONDE SE ENCONTRA O CONJUNTO HAB. PARQUE NOVO
SANTO AMARO. .......................................................................................................................................... 144
FIGURA 214. IMPLANTAÇÃO E ESQUEMA DAS TIPOLOGIAS. .............................................................................. 145
FIGURA 215. FACHADA INTERNA BLOCO 01 E 02. .............................................................................................. 145
FIGURA 216. FACHADA EXTERNA BLOCO 04, RUA FRANCISCA DE QUEIRÓS. ..................................................... 145
FIGURA 217. FACHADA INTERNA DO BLOCO 04 DE FRENTE PARA A QUADRA DE FUTEBOL .............................. 146
FIGURA 218. FACHADA DO BLOCO 03 E CORTE DO BLOCO 04. .......................................................................... 146
FIGURA 219. FACHADA INTERNA BLOCO 03. ...................................................................................................... 146
FIGURA 220. CORTE LONGITUDINAL DO PARQUE, ESCADARIAS E PISTA DE SKATE. .......................................... 146
FIGURA 221. TIPOLOGIAS. ................................................................................................................................... 147
FIGURA 222. CORTE TRANSVERSAL DO PARQUE. RUAS EXTERNAS E CÓRREGO CANALIZADO. ......................... 147
FIGURA 223. CORTE TRANSVERSAL BLOCO 02. CÓRREGO CANALIZADO............................................................ 147
FIGURA 224.CROQUI DO CORTE DO BLOCO 02, PASSARELA DE TRANSPOSIÇÃO E PARQUE NO FUNDO DE VALE.
AUTOR: HECTOR VIGLIECCA. ...................................................................................................................... 148
FIGURA 225. CROQUI DA FACHADA EXTERNA BLOCO 01. AUTOR: HECTOR VIGLIECCA. .................................... 148
FIGURA 226. CROQUI DA PLANTA E CORTE DA UNIDADE RESIDENCIAL. AUTOR: HECTOR VIGLIECCA. ............. 148
FIGURA 227, 228. ESPELHO D’ÁGUA E GRAFITE DO PARQUE ANTES DE SUA INAUGURAÇÃO, DEZ. 2012. ........ 161
FIGURA 229, 230, 231, 232, 233. REGISTROS DA VISITA ANTES DA INAUGURAÇÃO DO CONJUNTO, DEZ. 2012.
.................................................................................................................................................................... 162
FIGURA 234. ESPELHO D’ÁGUA E CASAS MANESCENTES NO TERRENO, DEZ. 2012. .......................................... 163
FIGURA 235. BLOCO 03 E 04, E A PASSARELA DE CONEXÃO COM A RUA FRANCISCA DE QUEIRÓS, DEZ.2012. 163
FIGURA 236. ESPELHO D’ÁGUA E PARQUE, DEZ. 2012. ...................................................................................... 163
FIGURA 237. BLOCO 03 E 04, E A PASSARELA DE CONEXÃO COM A RUA FRANCISCA DE QUEIRÓS, DEZ.2012 . 164
FIGURA 238. VISTA DA PASSARELA PARA O PARQUE COM ESPELHO D’ÁGUA E PISTA DE SKATE, DEZ. 2012. ... 164
FIGURA 239. VISTA DA PISTA DE SKATE PARA O BLOCO 02, DEZ.2012. .............................................................. 164
FIGURA 240. VISTA PANORÂMICA DO PARQUE DESDE A PISTA DE SKATE, À DIRETA BLOCO 01, AGO. 2016. ... 165
FIGURA 241. VISTA PANORÂMICA DO PARQUE DESDE A PASSARELA, À DIREITA BLOCO 01, AGO. 2016. ......... 165
FIGURA 242. FACHADA EXTERNA DO BLOCO 04, RUA FRANCISCA DE QUEIRÓS, AGO. 2016............................. 165
FIGURA 243, FIGURA 244. FACHADA EXTERNA BLOCO 04, INSTALAÇÃO DE GRADES E PORTÕES NOS ACESSOS,
AGO. 2016. ................................................................................................................................................. 166
FIGURA 245. ENTRADA DO CONJUNTO PELA RUA FRANCISCA QUEIRÓS, INSTALAÇÃO DE GRADES E PORTÕES
NO ACESSO, AGO. 2016. ............................................................................................................................. 166
FIGURA 246, 247. FACHADA EXTERNA E INTERNA DO BLOCO 04, AGO. 2016. .................................................. 166
FIGURA 248, 249, 250, 251, 252. MODIFICAÇÕES, ESTACIONAMENTOS GRADES E PORTÕES DE ACESSO AO
CONJUNTO HAB. PARQUE NOVO SANTO AMARO V, AGO. 2016. .............................................................. 167
FIGURA 253.ADAPTAÇÕES NA RUA INTERNA DO PARQUE PARA CRIAÇÃO DE VAGAS COBERTAS PARA CARROS,
AGO. 2016. ................................................................................................................................................. 168
FIGURAS 254, 255, 256, 257, 258. ÁREAS EXTERNAS DO CONJUNTO HAB. PARQUE NOVO SANTO AMARO V,
AGO. 2016. ................................................................................................................................................. 168
FIGURA 259. FACHADA BLOCO 02. ..................................................................................................................... 169
FIGURA 260, 261, 262.ÁREAS EXTERNAS E ESPELHO D’ÁGUA, AGO 2016. ......................................................... 169
FIGURA 263. PASSARELA DE CONEXÃO, AGO. 2016. .......................................................................................... 170
FIGURA 264. ADAPTAÇÕES DO ESPAÇO COLETIVO COM GRADES E PORTÕES, AGO.2016. ............................... 170
FIGURA 265. FACHADA EXTERNA DO BLOCO 04, RUA FRANCISCA DE QUEIRÓS, AGO. 2016............................. 170
FIGURA 266. SITUAÇÃO ATUAL DO ESPELHO D’ÁGUA, AGO. 2016. ................................................................... 171
FIGURA 267, 268, 269, 270. ÁREAS EXTERNAS DO CONJUNTO HAB. PARQUE NOVO SANTO AMARO V, AGO.
2016. ........................................................................................................................................................... 171

10
FIGURA 271, 272. MODIFICAÇÕES NA ÁREA DO PARQUE, CONSTRUÇÃO DE VAGAS PARA CARRO SOB O
ESPELHO DAGUA, AGO. 2016. FIGURA 273. PASSARELA DESATIVADA, AGO. 2016. .................................. 172
FIGURA 274, 275. INSTALAÇÃO DE GRADES E PORTÕES NO ACESSO E CONSTRUÇÃO DE VAGAS COBERTAS NA
ÁREA DESTINADA AO PARQUE. AGO. 2016. ............................................................................................... 172
FIGURA 276. VISTA PANORÂMICA DO PARQUE, AGO. 2016. ............................................................................. 173
FIGURA 277. VISTA PARA A PISTA DE SKATE, AGO. 2016.................................................................................... 173
FIGURA 278. VISTA PANORÂMICA DO PARQUE, À DIREITA BLOCO 01, AGO. 2016............................................ 173
FIGURA 279. VISTA DO PARQUE DESDE O BLOCO 01. ........................................................................................ 174
FIGURA 280. INSTALAÇÃO DE GRADES NOS CORREDORES DE ACESSO AS UNIDADES, BLOCO 01, AGO. 2016. 174
FIGURA 281. PASSARELA DESATIVADA, AGO. 2016. ........................................................................................... 174
FIGURA 282. VISTA DO PARQUE DESDE A PASSARELA, AGO. 2016. ................................................................... 174
FIGURA 283. VISTA DO BLOCO 01 DESDE A PASSARELA, AGO. 2016. FIGURA 284. INSTALAÇÃO DE GRADES E
PORTÕES NOS ACESSOS, AGO. 2016. FIGURA 285. VISTA DO CONJUNTO DESDE A PASSARELA
DESATIVADA, AGO. 2016. FIGURA 286. INSTALAÇÃO DE GRADES NOS CORREDORES DE ACESSO AS
UNIDADES, AGO. 2016. .............................................................................................................................. 175
FIGURA 287. VISTA PARA O PARQUE DESDE A ESCADARIA DO BLOCO 02, AGO. 2016. ..................................... 175
FIGURA 288, 289. FACHADA EXTERNA BLOCO 01 PARA A RUA ZÂMBIA, AGO. 2016.FIGURA 290, 291, 292.
INSTALAÇÃO DE GRADES NO PERÍMETRO E SITUAÇÃO ATUAL DO PARQUE, AGO. 2016. ......................... 176
FIGURA 293, 294, 295, 296. INSTALAÇÃO DE GRADES E DESATIVAÇÃO DAS PASSARELAS, AGO. 2016. ........... 177

11
[LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS]

BNH – Banco Nacional de Habitação

CDHU – Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo

COHAB – Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo

COBRAPE – Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos

HIS – Habitação de Interesse Social

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

PNSA – Parque Novo Santo Amaro V

ZEPAM – Zona Especial de Proteção Ambiental

ZEIS – Zona Especial de Interesse Social

12
[SUMÁRIO]

1. INTRODUÇÃO 14

2. CAPITULO I 18

CONJUNTO HABITACIONAL RINCÃO, 1989. MORADIA - UMA QUESTÃO DA ARQUITETURA

ANÁLISE DOS ESPAÇOS COLETIVOS

3. CAPITULO II 33

CONJUNTO HABITACIONAL RIO DAS PEDRAS E VILA MARA, 1989. O DIREITO À


ARQUITETURA PARA POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA.

ANÁLISE DOS ESPAÇOS COLETIVOS

4. CAPITULO III 46

CONJUNTO HABITACIONAL PARQUE NOVO SANTO AMARO V, 2009. O LEGADO DA


ARQUITETURA NA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL.

ANÁLISE DOS ESPAÇOS COLETIVOS

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 63

6. BIBLIOGRAFIA 68

7. ANEXOS 71

13
[INTRODUÇÃO]

A presente pesquisa partiu do interesse em investigar os espaços públicos nos conjuntos de


Habitação de Interesse Social (HIS), motivada pela importância que o projeto desses espaços
tem no ensino de arquitetura e na construção da cidade. A partir da inquietação provocada
pela constatação que projetos representativos do tema da habitação são frequentemente
contemplados pelas contradições no uso de seus espaços coletivos, buscou-se analisar a
realidade desse tipo de espaço, eventualmente público, no intuito de subsidiar e
fundamentar o modo de projetar e produzir espaços análogos, considerando seus entraves
e desdobramentos na vida urbana cotidiana.

A análise dos conjuntos habitacionais é fruto da observação das obras do arquiteto Hector
Vigliecca, que apresentam destaque e relevância no tema moradia na cidade de São Paulo.
O recorte temporal dessa pesquisa tem início em 1989 e vai até o ano presente de 2016,
partindo da conjuntura política nacional de redemocratização do Brasil, sob a realidade local
do governo de Luiza Erundina no município de São Paulo (1989-1992), quando se implantou
uma nova política pública no setor de Habitação, trazendo para esse tema a questão da
qualidade do projeto para além da demanda do déficit habitacional e o direito à arquitetura
para a população de baixa renda. A patir desse momento, o papel do arquiteto foi
valorizado e o olhar para a construção de uma cidade menos desigual foi instalado .

Nesse contexto político, Hector Vigliecca executa seus primeiros projetos de habitação
popular no Brasil, dois deles escolhidos para esta pesquisa que pretende analisar três obras
do arquiteto: Conjunto Habitacional Rincão (1989-1992), Rio das Pedras – Vila Mara (1989-
1998) e Parque Novo Santo Amaro V (2009-2012).

Hector Vigliecca nasceu em Montevidéu, em 1940; na década de 1960 ingressou no curso


de arquitetura da Universidad de La Republica – UDELAR, formando-se em 1968, momento
em que o movimento moderno era revisado e contestado pelo Congresso Internacional da
Arquitetura Moderna - CIAM. Assim, sua formação se alinhava aos conceitos e princípios do
Team-X, preceitos que se tornaram parte de sua retórica e prática projetual. Ao longo de sua
carreira, as preocupações com a malha urbana e com o entorno, com a recuperação da rua e
a estrutura contínua são recorrentes no período de sua formação, dentro de uma postura
crítica em relação à cidade funcional dos CIAM – ideologia predominante na década de
1960. Vale destacar o compromisso social desse profissional, formado no Uruguai daquele
período, através da Lei Orgânica da Universidade e da discussão do Plano de Estudos da
Faculdade de Arquitetura. Nesse panorama se estrutura a conjuntura profissional e
ideológica capaz de permitir a busca por soluções alternativas ao problema da moradia de
interesse social. Após se formar, Vigliecca passou três anos na Europa, onde realizou sua
pós-graduação em urbanismo na Universitá degli Studi di Roma La Sapienza. Após seu
retorno a Montevidéu em 1970, integrou o Estudio Reconquista, no qual projetou o
Complejo Bulevar Artigas para o Centro Cooperativista Uruguayo.

14
A partir da aprovação da “Lei Nacional da Habitação” no Uruguai, em 1968, foram
construídos em todo o país inúmeros projetos de habitação, objetivando atender as
necessidades de muitas famílias de uruguaios de baixa renda. A lei contemplava como uma
das formas de acesso à habitação a solicitação através de sociedades cooperativistas. A
experiência com os mutirões autogeridos no Uruguai trouxe a Vigliecca experiência para,
mais tarde, enfrentar projetos como o Rio das Pedras – Vila Mara 1989, também realizado
por mutirão, uma prática recente no Brasil de então, sendo, portanto, de grande valia o
conhecimento anteriormente acumulado.

Hector Vigliecca chegou ao Brasil em janeiro de 1975, radicando-se em São Paulo. Trabalhou
com Joaquim Guedes, foi chefe do departamento de arquitetura no Consórcio Nacional de
Engenheiros Construtores – CNEC, e, mais tarde, associou-se a Bruno Padovano. Em 1996
fundou o escritório Vigliecca & Associados, em atividade até o presente momento.

A partir desse histórico, é possível afirmar que suas obras manifestam características
assimiladas durante seu período de formação no Uruguai; influenciado pela atuação
profissional nas cooperativas, seus conjuntos habitacionais sempre revelam a intenção de
uma cidade mais justa, os espaços coletivos projetados mostram a influência da autogestão,
amplamente disseminada pelas cooperativas uruguaias e que nos serviu de exemplo,
embora no Brasil existam dificuldades para sua consolidação. A presente pesquisa analisa
as dificuldades enfrentadas pelos projetos e como a realidade presente em nossa
organização social influenciam as formas de apropriação desses espaços. As obras escolhidas
para esta análise estruturam os capítulos da dissertação.

Iniciando-se pela contextualização da política habitacional no recorte de 1989-1992, o


primeiro capítulo resgata o panorama da arquitetura, as discussões teóricas do pós-
moderno e a influência da obra de Álvaro Siza na concepção do Conjunto Habitacional do
Rincão. Para analisar a realidade das apropriações dos espaços coletivos desse conjunto a
pesquisa contou com visitas de campo, entrevistas com os atores envolvidos no projeto e
com a documentação da regularização fundiária, que ainda tramita na Companhia
Metropolitana de Habitação de São Paulo (COHAB-SP).

O segundo capítulo faz a análise dos espaços coletivos do Conjunto Habitacional Rio das
Pedras – Vila Mara, por meio de visitas de campo e entrevistas com agentes de sua
construção, integrantes originários dos movimentos sociais que atuaram por meio de
mutirão e seguem se autogerenciando . O empreendimento foi realizado no mesmo
contexto político citado no primeiro capítulo, dentro do Programa de Mutirões da Cidade de
São Paulo, ocorrido no período de 1989-1992.

Por fim, o terceiro capítulo pesquisa os espaços coletivos do Conjunto Habitacional Parque
Novo Santo Amaro V, projeto mais recente do arquiteto Hector Vigliecca em Habitação de
Interesse Social (HIS), encomendado pela prefeitura de São Paulo e concebido dentro da

15
política pública habitacional do Programa de Proteção e Recuperação dos Mananciais de
2009 a 2012.

A análise é feita a partir de visitas de campo e de informações coletadas na Prefeitura


Municipal de São Paulo - PMSP, em especial de documentos da regularização fundiária do
empreendimento, que trazem consigo características do terreno original e elementos para
entender a apropriação do espaço público do conjunto habitacional pelos moradores e
vizinhança.

Considerando o Espaço, conceito de Milton Santos, como algo em permanente construção e


que estabelece relações horizontais resultante da intrusão da sociedade nessas formas-
objetos, buscou-se analisar os Espaços Coletivos e seus desdobramentos presentes nas obras
escolhidas de Habitação de Interesse Social. Procurou-se, portanto, verificar seu uso
posterior pelos residentes e população do bairro quando estes espaços se tornam públicos,
ou quando invertem a intenção inicial do projeto e se tornam privados, investigando-se
como os agenciamentos práticos1 da vida cotidiana influenciam no território e evidenciam
uma realidade não prevista nos projetos de arquitetura.

O conceito de Espaço Público nesta pesquisa se baseia na sua acepção clássica onde esse
tipo de espaço é um bem público, ou seja, de propriedade do estado e de sua
responsabilidade o cuidado, que é aberto, acessível e comum a todos os cidadãos.

O tema da pesquisa surgiu após alguns anos de experiência trabalhando com projetos de
habitação em escritórios de arquitetura, o último no próprio Vigliecca & Associados. Ao
observar a tendência ao fechamento dos espaços públicos projetados nos conjuntos pelos
moradores, nos foi sugerida a pergunta acerca do motivo da recorrência dessa característica.
O presente trabalho investiga esses espaços nos exemplos que considerou paradigmáticos
desta prática, focando a análise em conjuntos habitacionais reconhecidos por sua
importância na história da HIS em São Paulo.

Para a escolha desses conjuntos habitacionais foram adotados critérios que buscam
determinar a qualidade urbana de seus projetos, dentre eles a política habitacional
relacionada à política de desenvolvimento urbano, a questão da política de terras e da
localização dos conjuntos, a associação entre projeto urbano-arquitetônico e as demandas
dos movimentos sociais, a discussão dos concursos públicos de arquitetura para elaboração
dos projetos, a articulação dos conjuntos com as preexistências e formas de vida, a
conformação de tipologias e morfologias reconhecidas pelo projeto. A definição clara de
espaços públicos e coletivos no projeto será abordada por meio das análises das
apropriações pelos moradores. Dentre os critérios elencados que atribuem qualidade urbana
ao projeto, a principal pergunta que se coloca ao considerar a presença do espaço público
na habitação é : será que estes espaços públicos na habitação de interesse social atribuem

1
TELLES, Vera 2007
16
melhoria à qualidade urbana? O objetivo geral da análise é servir como subsídio para o
desenvolvimento e prática da arquitetura no tema habitação e contribuir para projetos
futuros na construção da cidade. Por meio do entendimento dos espaços coletivos e áreas
livres nos conjuntos habitacionais, das suas formas reais de ocupação a partir do confronto
entre espaços projetados e apropriações pelos moradores, busca-se descobrir quais seriam
as adequadas estratégias de atuação por meio dos projetos, que podem contribuir para a
construção da cidade, incluindo os espaços coletivos como geradores de urbanidade.

Segundo Lizete Rubano, “a maior porcentagem do tecido das cidades corresponde à


habitação” e “considerá-la como uma potente estrutura na conformação de lugares de
precária urbanidade parece ser um recurso desejável”2. Partindo dessa premissa, é possível
buscar compreender melhor as relações entre Habitação de Interesse Social e a Cidade,
olhando com mais atenção para os espaços intersticiais definidos como coletivos e públicos,
entendendo que a condição de cidadania está nesta interface entre o público e o privado,
entre a casa e a cidade. Assim, ao se investigar o papel desses espaços intersticiais entre o
público e o privado das habitações, procurando desvendar a real importância atribuída a
eles, é possível avaliar se, de fato, cumprem esse elo de transformação dos lugares e se o
projeto, ainda que de forma pontual, consegue introduzir questões novas na vida pública.

Por meio da investigação das origens fundiárias e da dinâmica cotidiana socioespacial que
influenciam nas apropriações dos conjuntos HIS, a análise se divide em três momentos
distintos, que devem ser tomados como objetivos específicos desse trabalho: a configuração
do espaço público na habitação de interesse social; sua relevância para as obras de HIS na
construção da cidade; as contradições que existem nestes espaços gerados pelos projetos
de arquitetura.

2
RUBANO, Lizete, O Terceiro Território, 2014.
17
[CAPÍTULO I]

CONJUNTO HABITACIONAL RINCÃO. 1989. MORADIA - UMA QUESTÃO DA ARQUITETURA

Este capítulo está estruturado em frentes de análise que contribuem para o entendimento
da construção do Conjunto Habitacional Rincão e da realidade em que se encontram seus
espaços coletivos. Começando pela contextualização da política habitacional no recorte de
1989-1992, quando se destacou a articulação entre política habitacional e política urbana no
que diz respeito à localização do conjunto. Em seguida, a discussão internacional do pós-
moderno que colocou em discussão a questão dos grandes conjuntos afastados dos centros
urbanos e a influência deste pensamento na implantação do Rincão, indo ao encontro do
resgate da experiência da vila e da referência do Conjunto da Bouça, de 1974, de Álvaro Siza.
Para analisar a realidade das apropriações dos espaços coletivos desse conjunto, a pesquisa
contou com visitas de campo, entrevistas com os atores envolvidos no projeto, e com a
documentação da regularização fundiária que ainda tramita na Companhia de Habitação de
São Paulo (COHAB-SP). A análise desse material amparou-se na reflexão de Milton Santos
sobre a natureza do espaço, a partir do entendimento de que a presença humana qualifica
estes espaços, algo em permanente transformação, “é a sociedade, isto é, o homem, que
anima as formas espaciais, atribuindo-lhes um conteúdo, uma vida”.

“O espaço não pode ser estudado como se os objetos materiais que formam a paisagem
tivessem uma vida própria, podendo assim explicar-se por si mesmos. Sem dúvida, as formas
são importantes. Essa materialidade sobrevive aos modos de produção que lhe deram
origem ou aos momentos desse modo de produção. Mas, como lembra Baudrillard, “a única
coisa que nos dá conta do real não são as estruturas coerentes da técnica, mas as
modalidades de obstrução das técnicas pelas práticas”.3

3
SANTOS, Milton. A natureza do espaço, 1996, p.105.
18
A pesquisa está contextualizada no recorte temporal do passado recente da política
habitacional realizada logo após a ditadura militar, em que grande parte da população não
conseguiu acesso ao direito à moradia, e tampouco ao direito de protestar. Após esse
momento histórico do país, que legou grande parte do que conhecemos hoje como periferia,
fruto dos problemas ignorados pelas camadas dirigentes, como foi apontado por Kowarick
em 1979, no livro a Espoliação Urbana, p.51. Surge então, o marco da Constituição Brasileira
em 1988, consolidando a descentralização das políticas públicas de planejamento urbano
que ficou a cargo dos municípios. É neste momento que a pesquisa tem início, ou seja, no
ano de 1989 quando a Constituição Brasileira ainda muito recente começa a ser consolidada,
“as décadas perdidas” e a luta social pela cidade democrática que se deu “após um longo
período de crescimento, sem distribuição de renda (1940 a 1980), quando a economia no
Brasil entrou em declínio, pressionada pela crise fiscal.” 4

O local de estudo é a cidade de São Paulo, onde, naquele momento, efervesciam as lutas
sindicais e os movimentos de luta por moradia expunham suas reivindicações com afinco. O
partido dos trabalhadores ganhava fôlego diante desse cenário, e se apresentava como
alternativa de governabilidade e porta-voz desses movimentos. No cenário mundial havia
um enfraquecimento dos partidos de esquerda, declínio do crescimento econômico e
retração do Estado provedor; no cenário brasileiro se apresentava um quadro contrastante ,
em que movimentos sociais e operários elaboravam plataformas para a mudança política.
Nasceram dessa época diversos movimentos sociais urbanos, uma novidade na cena da
política brasileira, além da criação da Central de Movimentos Populares (CMP). “Um
vigoroso Movimento Social pela Reforma Urbana recuperou as propostas elaboradas na
década de 1960, com contexto das lutas revolucionarias latino-americanas. Tratava-se de
construir uma ponte com uma agenda que a ditadura havia interrompido a partir de 1964”. 5

Com o aumento significativo de pessoas nas cidades, os problemas urbanos se


aprofundaram, marcando esse movimento pela reforma urbana, reunindo entidades
profissionais, sindicais, lideranças de movimentos sociais, ONGs, pesquisadores, professores,
intelectuais, entre outros. Nesse quadro agitado estavam presentes as mobilizações sociais,
a produção, e governos municipais inovadores que permitiram um diálogo com
experimentação de programas sociais, politicamente inclusivos e participativos; foram
gestões inovadoras que priorizavam a “inversão de prioridades” no orçamento público e a
presença da participação social em todos os níveis, ganhando importância os projetos
arquitetônicos, urbanísticos e legais, relacionados ao “passivo urbano” (cidade ilegal,
autoconstruída, e precariamente urbanizada).

4
MARICATO, Ermínia. Cidades no Brasil: neodesenvolvimentismo ou crescimento periférico predatório. Política
Social e Desenvolvimento, 2012.
5
MARICATO, Ermínia. Cidades no Brasil: neodesenvolvimentismo ou crescimento periférico predatório. Política
Social e Desenvolvimento, 2012, p.12.
19
Figura 1. Capa da revista da Prefeitura de São Paulo da SEHAB, Nov.1990. Fonte: Acervo do autor.

“Quem de nós, naquela tarde, no casarão de Higienópolis, durante a defesa de tese


de Nabil, poderia imaginar que, três anos depois, estaríamos reunidos noutro lugar
para transformar em política governamental uma utopia universitária?” 6

Esta frase de Marilena Chauí se refere ao futuro da Habitação Popular nas políticas públicas
no município de São Paulo, com o que parecia surpreendente, uma mulher nordestina
assistente social vence as eleições para prefeito na cidade. Criando assim condições para que
a “utopia universitária” passasse do Laboratório de Habitação para a Superintendência
Municipal de Habitação de São Paulo.

O que pode ser chamado de governo municipal inovador foi administrado por Luiza
Erundina, que deu aval para se colocar em prática outro jeito de fazer e enfrentar o
problema habitacional; com a extinção do Banco Nacional da Habitação (BNH), colocava-se a
necessidade de construção de um paradigma alternativo que lançasse as bases para a
formulação de uma nova política habitacional, de pensar programas alternativos e
estabelecer interlocução com o movimento de moradia, programas e intervenções que se
contrapusessem aos equívocos anteriores.7

Na gestão da prefeitura do município de São Paulo de 1989 a 1992, buscou-se compatibilizar


arquitetura e inserção urbana com custos coerentes. O esforço dessa combinação resultou
em referencias na produção de projetos de arquitetura em habitação de interesse social.
Buscou-se estimular tais propostas inovadoras, e um passo importante foi dado por meio da
realização do Concurso Nacional de Anteprojetos de Habitação, em 1989, que selecionou

6
CHAUÍ, Marilena. Nos tempos do governo Luiza Erundina, 2013. Fonte: cidadeaberta.org.br
7
BONDUKI, Nabil. Nos tempos do governo Luiza Erundina, 2013. Fonte: cidadeaberta.org.br
20
profissionais para desenvolver projetos em situações concretas. Neste Concurso colocava-se
a discussão da localização, inserção dos conjuntos habitacionais em áreas urbanas
consolidadas, programas e formas de habitar8, e é quando Hector Vigliecca fez sua primeira
proposta para habitação no Brasil, com o projeto habitação popular no Brás ficando entre os
finalistas.

A partir desse projeto do Brás, surge o projeto do Conjunto Habitacional do Rincão,


encomendado na mesma gestão de Luiza Erundina. A relevância deste momento, ao
incumbir aos arquitetos responsabilidade na questão da moradia, indica o caminho para se
pesquisar melhor as obras deste período, e nesta pesquisa o Conjunto Habitacional do
Rincão aparece como primeira obra do arquiteto Vigliecca em habitação social no Brasil,
tema muito caro em sua trajetória. Ao passo que na cidade de São Paulo o momento político
era propício para construção de novas ideias que reformulavam a maneira de encarar a
questão da habitação popular e, no campo da arquitetura, era discutido o pós-moderno, o
projeto e sua relação intrínseca com o lugar.

O debate Internacional do pós-moderno no projeto arquitetônico e a revisão do moderno


trouxe características como a recusa ao discurso totalizante, e a primazia pela
heterogeneidade que aparecem como carro-chefe do que seria a condição pós-moderna que
se acredita ter surgido para substituir dogmas e verdades absolutas advindos da
modernidade, como a crença na linearidade histórica rumo ao progresso.

A ideologia da razão caracterizava o modernismo;, na arquitetura se traduziu em planos


urbanos de grande escala, tecnologias racionais e eficientes, no urbanismo em zoneamento
funcional. Foi, sobretudo, uma resposta ao pós-guerra na Europa e o esforço geral teve
razoável êxito na reconstituição do tecido urbano de modo a preservar o pleno emprego, a
melhorar os equipamentos sociais materiais, contribuindo para metas de bem-estar social e,
de modo geral, facilitando a preservação de uma ordem social capitalista bastante ameaçada
em 1945. Aqui havia um discurso universal da emancipação do homem através da técnica,
da razão e da ciência.

Entre 1968 e 1972, o movimento pós-moderno surge como revisão do movimento moderno
do pós-guerra, criticando a homogeneidade, a padronização e a condenação da meta
narrativa diante do preceito da diversidade, fragmentação e efemeridade na superfície, ao
menos procurou exprimir essa estética da diversidade, produtos para diferentes situações,
funções e “culturas de gosto”. A tendência pelo ecletismo, traduzindo o passado por meio
do pastiche, ao mesmo tempo em que acolhe os avanços tecnológicos, sugerindo o que
Harvey e outros autores apontaram como esquizofrenia. 9

8
RUBANO, Lizete. O terceiro território, 2014, p.79.
9
HARVEY, David A condição pós-moderna, 1994.
21
No campo da arquitetura e, mais especificamente, na questão da habitação, o marco da
demolição do Conjunto Habitacional de Pruitt Igoe nos Estados Unidos, em 1972,
representou o “fim” da arquitetura moderna nos termos ideológicos no modo de pensar a
moradia, apontando as obsolescências dos parâmetros modernos de separação dos usos.

“A demolição do Conjunto Habitacional de Pruitt Igoe, em St. Louis, Missouri em


1972, é geralmente reconhecida como o marco do fracasso de uma concepção
modernista de habitação social. Um “subproduto anti utópico, que ao mesmo tempo
inspira e merece a destruição”, uma “interpretação burocrática” realizada por
Minoru Yamasaki dos sonhos de Le Corbusier... que a população de baixa renda
detestou e se encarregou de destruir pelo vandalismo e pela negligência. A
demolição deliberada e espetacular dessa obra da arquitetura moderna (tão
celebrada quando de sua inauguração) foi um claro sinal de alerta para os arquitetos.
”10

Figura 2. Conjunto Habitacional Pruitt Igoe .Figura 3. Demolição 1972.11

Enquanto no cenário internacional o pós-moderno avaliava questões como os conjuntos


habitacionais isolados, monofuncionais, sem qualquer relação com o lugar e com a inserção
no território urbano, no cenário brasileiro ainda se produzia esse modelo que respondia a
lógica da produção em massa, em que, na grande maioria das vezes, os conjuntos eram
locados em terrenos distantes das atividades de emprego e lazer, conhecidos como
periferia12·. Evidenciando o claro embate da localização na questão das políticas
habitacionais onde na maioria das vezes provêm casas onde não tem “cidade” ou onde a
localização pouco agrega valor de uso à terra. No âmbito das políticas públicas habitacionais
do município de São Paulo, a gestão de 1989-1992 inverteu essa lógica e conseguiu transferir
10
NESBIT, Kate. Uma Nova Agenda para Arquitetura, 2006, p.22.
11
Fonte das figuras 02: Photo courtesy of the State Historical Society of Missouri.
http://www.aia.org/practicing/AIAB092656 (acessado em 11/04/2016)
12
KOWARICK, Lucio. A espoliação urbana, 1979, p.35 “periferia: aglomerados distantes dos centros,
clandestinos ou não, carente de infraestrutura, onde passa a residir crescente quantidade de mão de obra
necessária para fazer girar a maquinaria econômica. Como acumulação e especulação andam juntas, a
localização da classe trabalhadora passou a seguir os fluxos dos interesses imobiliários.”.

22
para Secretaria de Habitação (SEHAB) alguns terrenos centrais para provisão de habitação.
Parte das diretrizes era de ocupar os vazios urbanos, evitar o crescimento horizontal da área
urbana e desestimular o deslocamento, expressar o direito de morar com dignidade no
centro urbano e áreas de urbanização consolidada com boa localização, próximas à
infraestrutura de transporte, rompeu a lógica da segregação que destina apenas as zonas
periféricas para a população de baixa renda.
Foi o caso do Conjunto Habitacional do Rincão, construído em um desses terrenos bem
localizados e dotados de infraestrutura, junto à Estação Vila Matilde do Metrô, implantado
onde já foi um dos vazios da cidade, uma área dominial resultante de desapropriações. No
primeiro documento anexado ao processo de regularização fundiária do conjunto, assinado
por Ermínia Maricato, então secretária da habitação e desenvolvimento urbano, que se
encontra no acervo da COHAB SP, é possível observar as origens do terreno e as diretrizes e
intenções daquela gestão na construção do empreendimento.

“Objetivando a implantação de programa habitacional para atendimento da


população de baixa renda, venho pelo presente solicitar a Vossa Excelência as
providencias cabíveis para formalização da transferência de administração para
SEHAB da área municipal localizada nas plantas anexas, e por nós denominada
RINCÃO.

Cabe salientar a necessidade de uma breve resposta, para que as providencias


pertinentes a implantação dos referidos programas possam ser agilizados, posto que
se trata de assunto prioritário na atual gestão.

No ensejo, reafirmo meus protestos de elevada estima e alta consideração.”

Diante da aquisição de um terreno bem localizado, a premissa era adensar o máximo


possível para que o maior número de famílias fosse contemplado. Nesse sentido, o projeto
do Rincão buscou soluções de implantação que atendessem a grande demanda e
dialogassem com o terreno original, sem que se repetissem os equívocos dos grandes
conjuntos modernos, onde o espaço público é a sobra entre os edifícios. O resultado foi o
desenho de uma vila, que resgata a experiência do cotidiano no espaço entre a casa e a
cidade. O projeto do Rincão que resgata a vila como questão resultante da crítica pós-
moderna, tem interlocução internacional com outro projeto em que a vila aparece como
protagonista no diálogo entre a habitação e a cidade. Trata-se do projeto do Conjunto
Habitacional da Bouça de Álvaro Siza, no Serviço Ambulatorial de Apoio Local (SAAL)13,
programa que buscou legalizar e recuperar os bairros degradados das cidades portuguesas.

13
O SAAL foi criado pelo arquiteto Nuno Portas, secretário de Estado da Habitação nos três primeiros governos
provisórios após a Revolução de 25 de abril, entre 1974 e 1977 no momento de redemocratização de Portugal.
23
Figura 4. Corte do Conjunto Habitacional Rincão. Fonte: Vigliecca e Associados.

Os conjuntos Rincão e Bouça surgiram como resposta as reivindicações populares pelo


direito à moradia e foram concebidos sob os princípios da autogestão14. A semelhança do
período histórico entre os dois conjuntos habitacionais, um em 1974 em Portugal, o outro
em 1989 no Brasil, significa o contexto da redemocratização do estado, ou seja, um período
de transição, que possibilitou reformulações na política nacional e também na política
habitacional. Apesar de ter se apresentado como um momento de renovação, contou com
poucos recursos financeiros. No caso brasileiro, apresentou o que Ermínia Maricato chamou
de práticas virtuosas, em meio à restrição de recursos, maneiras criativas de enfrentar o
problema da moradia foram trabalhadas.

Figura 5. Conjunto Habitacional Rincão. Figura 6 Conjunto Habitacional da Bouça15

As soluções arquitetônicas das ruas internas que dão acesso às casas dispostas em blocos de
quatro andares, e duplex no último andar, são utilizadas em ambos os projetos. O conjunto
do Rincão tem alta densidade, abriga 306 unidades habitacionais, além de unidades
comerciais no térreo da Rua Maria Carlota, em frente ao viaduto Dona Matilde. Conforme
revelado pelo arquiteto Francisco Scagliusi, responsável16 e coautor do projeto do Rincão, o
Conjunto da Bouça de Álvaro Siza, que contempla 128 unidades habitacionais, serviu como
referência de projeto para o que a gestão da Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP)
buscava como solução dentro de suas diretrizes, sendo elas: a interlocução com o

14
RODRIGUES, Evaniza, p.20: “A autogestão, mais do que um modo de construir moradias, é um conceito que
envolve a participação e o controle da habitação, uma maneira de construção de vida comunitária e de
produção não mercantil da moradia, concebido como direito e não como mercadoria.”.
15
Fonte imagem do projeto de Álvaro Siza no site: https://www.flickr.com/photos/kuartzo/3984193998
16
Ver Anexos Capítulo I - Entrevista com Arquiteto Francisco Scagliusi.
24
movimento de moradia, a autogestão do empreendimento, um projeto arquitetônico que
dialogasse com o lugar de inserção e que permitisse o adensamento necessário.

Figura 7. Implantação Conjunto Habitacional Rincão. Fonte: Google Earth 2016.

Figura 8. Implantação Conjunto Habitacional da Bouça. Fonte: Google Earth 2016.

25
[ANÁLISE DOS ESPAÇOS COLETIVOS]

O interesse em analisar a realidade das apropriações dos espaços coletivos do conjunto


habitacional do Rincão surgiu após se verificar que o projeto arquitetônico destinava o uso
público a estes espaços, o que de fato nunca se consolidou. O desafio que se apresenta para
nós é o de deslindar os nexos que articulam a gestão desses espaços17, para entender
melhor os motivos do fechamento do espaço público na habitação de interesse social e as
dinâmicas socioespaciais que contribuíram para essa tendência, a fim de ampliar a reflexão
do projeto arquitetônico.

No sentido de avançar nessa discussão, a pesquisa tratará os aspectos empíricos como


indícios para elaboração de reflexões entre a realidade encontrada nos espaços coletivos e
as intenções projetuais destinadas a eles previamente. Serão abordadas as características
elegidas como principais e determinantes para a forma de ocupação encontrada no conjunto
hoje. Sob a premissa de que, “o espaço é a síntese, sempre provisória, entre o conteúdo
social e as formas espaciais”18

Como citado anteriormente, o núcleo habitacional do Rincão surgiu da reivindicação por


moradia dos movimentos sociais, neste caso o Movimento Sem Terra (MST) da Zona Leste. O
processo participativo do movimento, desde a escolha do terreno até a concepção do
projeto de arquitetura, se caracterizou pelo processo de autogestão. “A autogestão é um
conceito que envolve a participação e o controle da habitação, uma maneira de construção
de vida comunitária e de produção não mercantil da moradia, concebido como direito e não
como mercadoria”. 19 Essa característica do empreendimento se revelou importante
quando, na visita de campo, foi possível encontrar, nos espaços coletivos, moradores
originários do movimento. O registro dessa visita aponta para o cuidado e manutenção das
áreas livres, realizada pelos moradores, que se encontram em estado bastante satisfatório, e
nos sugere que este componente coletivo organizado anteriormente à construção do
empreendimento, de alguma maneira criou vínculo com o conjunto e se reflete no cuidado
aos espaços comuns. O processo participativo, por incluir o conhecimento do projeto pela
população, induz ao pensamento de que a apropriação do espaço tende a ocorrer mais
facilmente.

As anotações da visita realizada, em janeiro de 2016, ao Conjunto Habitacional do Rincão,


trouxeram impressões e reafirmaram dados encontrados na história do conjunto e nos
documentos. A primeira constatação foi a facilidade de se chegar ao local, devido a sua
localização privilegiada a poucas quadras do metro Vila Matilde e o percurso do metro ao
conjunto foi seguro e fácil. A sua proximidade à infraestrutura de transporte, o bairro

17
TELLES, Vera. Cidade: produção de espaços, formas de controle e conflitos, 2015.
18
SANTOS, Milton. A natureza do Espaço, 1996, p.109.
19
RODRIGUES, Evaniza. A Estratégia Fundiária dos movimentos populares na produção autogestionária da
moradia, 2013, p.20.
26
consolidado com passeios públicos, iluminação e condições de legibilidade reafirmaram a
política habitacional implementada na época, no que se refere à sua localização. Outras
impressões referem-se às condições em que se encontram os espaços coletivos, limpos e
arborizados, usufruídos por crianças e idosos. E outras, como a questão do tráfico de
drogas, dificilmente percebida, só foi revelada em conversa com uma das moradoras. Essa
dinâmica social informal está presente no último bloco do conjunto, que dá acesso à Rua
Evans, e que hoje se encontra fechado.

Figura 9. Foto da Visita ao Conjunto Habitacional Rincão, jan. 2016. Fonte: Acervo do autor.

A questão do fechamento do conjunto, ou do controle de acesso a ele, foi melhor entendida


a partir do processo de regularização fundiária, que se encontra na COHAB-SP. Um aspecto
importante apresentado nos documentos do processo foi à solicitação em 1992 de vistoria
da obra para verificação da construção e a compatibilidade com o projeto do arquiteto.
Neste documento eram solicitadas as seguintes informações: 1- se as obras estavam de
acordo com a implantação, 2- se as unidades comerciais nos pavimentos térreos voltados
para a Rua Maria Carlota e Rua Evans estavam ocupadas (bloco 1, 8 e 9), 3- quais os recuos
de frente dos blocos para as três ruas que formam a quadra.

A resposta viria em outro documento20: “Em vistoria ao local constatamos que: As unidades
comerciais ainda estão vagas e desocupadas. Os recuos anotados foram da face externa dos
prédios até a guia existente (passeio). Quanto às obras edificadas estão de acordo com as
plantas apresentadas no presente processo. À exceção temos apenas a portaria, a inversão
do bloco 09 e o estacionamento a Rua Alvinópolis que ainda não foram implantados”.
Seguida dessa folha algumas fotografias da obra registraram este momento, em que é
possível ver tais modificações e o embrião do que existe hoje.

20
Ver Anexos Capítulo I
27
Figura 10. Foto da Portaria do Conjunto Habitacional Rincão, 1992. Fonte: Acervo da COHAB.

A existência de uma portaria que não estava contida no projeto original de acordo com o
desenho da planta21 revelou-se um fato importante no desenvolvimento da pesquisa, pois
foi possível observar que as alterações de projeto durante a construção e no seu pós-uso, se
deram principalmente nas áreas comuns, espaços coletivos que foram concebidos como
públicos a priori.

Este fato aponta a fragilidade dos espaços que não são privados por excelência, ou, como os
espaços legalmente privados sofreram menos modificações do que estes que se apresentam
como híbridos entre a cidade e a casa. Vale ressaltar que esta portaria já estava presente na
vistoria da obra, antes de os moradores receberem as unidades, portanto, constata-se que o
fechamento, para controle do conjunto, não foi feito após o convívio social. Este aspecto da
obra, também aponta para a possibilidade de que através do processo participativo a
portaria foi solicitada pelos moradores e incluída durante a construção do empreendimento.

Outro dado importante, proveniente do processo de regularização fundiária, que foi


observado pela pesquisa, e que contribuiu para a análise do fechamento do espaço público
deste conjunto, é a origem do terreno. O empreendimento do Rincão está implantado em
um terreno unificado, resultado de muitos lotes particulares desapropriados para melhoria
viária, que envolvia a construção da Radial Leste, da linha vermelha do metrô, e a
canalização do córrego Rincão, em referência a Lei Municipal de Melhoramento Viário
8866/79.

21
Ver Anexos Capítulo I
28
O esforço do projeto arquitetônico em tratar as relações entre público e privado de maneira
clara, não obteve êxito neste caso. Uma das explicações de que esta pesquisa se vale, é a
relação entre o projeto e a origem do terreno, a qual demonstra a realidade jurídica da
propriedade da terra, que resulta em enorme conflito entre as duas esferas, pública e
privada, deixando pouco clara sua relação. Esse aspecto original da terra revelou-se, nesta
pesquisa, como um dos indícios para entender que dificilmente o espaço projetado como
público se consolidaria, visto que a regularização fundiária ainda não se concluiu, 27 anos
após a construção do conjunto.

Figura 11. Foto da Matrícula do terreno do Rincão. Base Fundiária Rincão. Fonte: Acervo da COHAB
2016.

Outro aspecto do fechamento identificado em visita ao conjunto é a questão do tráfico de


drogas, de difícil abordagem para o tema arquitetura, devido a sua dinâmica social
complexa, melhor estudada em outras áreas do conhecimento e que tentamos tangenciar
de alguma maneira, a fim de entender como ela se reproduz no espaço urbano. Segundo
Milton Santos, “a questão a se colocar é da própria natureza do espaço, formado, de um
lado, pelo resultado material acumulado das ações humanas através do tempo, e, de outro
lado, animado pelas ações atuais que hoje lhe atribuem um dinamismo e uma
funcionalidade.”22 No caso do Rincão essas ações atuais, que conformam dinâmicas

22
SANTOS, Milton. A natureza do espaço, 1996, p.106.
29
socioespaciais informais, resultaram no fechamento de um dos lados da rua ao longo do
córrego, que dava acesso à Rua Evans, impedindo que se atravessasse a quadra, atribuindo
ao espaço o uso estritamente privado pelos moradores. Essa solução foi a maneira
encontrada para tentar impedir o movimento do comércio de drogas nesta saída do
conjunto para a Rua Evans, devido ao policiamento constante neste ponto, o que gerou
grande incômodo por parte dos moradores, segundo seus relatos.

Figura 12. Foto do fechamento Rua Evans. Fonte: Acervo do autor 2016.

A conclusão da análise dos espaços coletivos do Rincão resulta na seleção das características
elegidas como importantes e determinantes, que durante a pesquisa apareceram como
fatores que resultaram na forma de ocupação encontrada no conjunto hoje. O método para
chegar à seleção desses indícios foi investigar os elementos encontrados empiricamente,
como os documentos da época da gestão, o processo de regularização fundiária, a entrevista
com o arquiteto Francisco Scagliusi (coautor do projeto e diretor da Superintendência de
Habitação Popular (HABI) Leste na gestão Erundina), a entrevista com o arquiteto Hector
Vigliecca (coautor do projeto), e a visita ao conjunto em janeiro de 2016. A partir desse
material, foi possível traçar paralelos entre a realidade das apropriações não previstas no
projeto, e as características do Conjunto Rincão que contribuíram para que as formas reais
de ocupação se manifestassem de tal maneira. Sendo elas:

1. Autogestão. Contribuiu para a identificação e cuidado do ambiente comum, indicando que


através do processo de participação, ao contemplar o conhecimento do projeto anterior ao
seu uso, a apropriação do espaço pelos moradores tende a ocorrer de maneira favorável
aquela à qual foi concebida.

30
2. Segurança. A questão do controle e acesso do conjunto através da portaria, que foi
concebida durante a obra e não no pós-uso.

3. Regularização Fundiária - Propriedade da terra. Tendo em vista que o processo de


regularização fundiária ainda não se concluiu e, portanto, não consolidou o espaço público
no projeto de arquitetura, deixando a cargo dos moradores sua gestão e manutenção.

4. Dinâmica Socioespacial Informal. A questão do tráfico de drogas como causa do


fechamento de um dos lados da rua que permitia antes atravessar a quadra.

Algumas das características citadas acima foram identificadas por meio da observação, e da
conversa com moradores na visita de campo, caso da Segurança e da Dinâmica
Socioespacial Informal. As outras foram reveladas como supostas influências das ações
humanas, nas alterações do espaço por livre associação, através do estudo dos documentos
históricos que deram origem ao empreendimento, no caso da Autogestão e da Propriedade
da Terra. Essas características elegidas têm origem em diferentes campos que juntos
compõe a situação geral daquele espaço hoje;, são formas de ocupação não previstas, pois
atravessam um campo de indeterminação,

”... ou seja, os dispositivos de controle operam em um campo atravessado pela


indeterminação, nas formas não previstas de composição com outros modos de regulação
das relações e conflitos locais, acertos, negociações, um trânsito constante entre
mecanismos formais e informais, entre dispositivos legais e extralegais, nos modos de
regulação e gestão dos ordenamentos locais, dos microconflitos, disputas, atritos que
pontilham esses lugares”.23

Figura 13. Foto da Inauguração 1992. Fonte: Arq.Scagliusi.


Figura 14. Foto da visita em jan, 2016. Acervo do autor.

As principais modificações, resultantes dessas ações, intrusões da sociedade na forma-


objeto24·do Rincão, aconteceram nos espaços públicos, que no projeto de arquitetura
permitiam a passagem de pessoas pelo conjunto com a principal finalidade de cruzar a
quadra. De um lado, a implantação da portaria que faz o controle dos que entram e saem, e

23
TELLES, Vera. Cidade: produção de espaços, formas de controle e conflitos, 2015, p34.
24
SANTOS, Milton. A natureza do espaço, 1996.
31
do outro, um portão que se mantém sempre fechado. No diagrama abaixo, em vermelho
está indicado onde estão as principais alterações do projeto de arquitetura.

Figura 15. Diagrama das modificações do Conjunto Habitacional Rincão. Fonte: Acervo do autor
2016.

É possível reconhecer, diante da análise apresentada, que de modo geral o projeto


arquitetônico do Rincão sofreu poucas modificações. No entanto, foram modificações que
inviabilizaram o espaço público, mas que o transformaram em um espaço condominial
bastante cuidado, embora os recursos dos moradores sejam poucos. Indicando aqui a
contradição fundamental no projeto encomendado pelo poder público, o qual não legitimou
através de suas ações o cuidado e manutenção, e tampouco a propriedade jurídica desses
espaços concebidos como público junto ao empreendimento habitacional.

32
[CAPÍTULO II]

CONJUNTO HABITACIONAL RIO DAS PEDRAS – VILA MARA. 1989. O DIREITO À


ARQUITETURA PARA POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA.

Este capítulo está estruturado em frentes de análise que contribuem para o entendimento
da construção do Conjunto Habitacional Rio das Pedras – Vila Mara e da realidade em que se
encontram seus espaços coletivos. Começando pela contextualização da política habitacional
no recorte de 1989-1992, destacando a implantação do Programa de Mutirões da Cidade de
São Paulo. Será abordada a referência do Centro Cooperativista Uruguaio na experiência
brasileira dos mutirões. O modo de produção das moradias de acordo com as diretrizes do
processo participativo, do direito à arquitetura para a população de baixa renda por meio da
Assistência Técnica, e a autogestão do empreendimento. A análise se atenta na verificação
dos elementos concretos dos espaços resultantes deste modo de produção de moradia.
Questões como a presença do automóvel, as alterações dos espaços projetados como
públicos, e os desafios à localização do empreendimento, aparecem como elementos que
caracterizam este conjunto e resultam na sua forma de ocupação. Para analisar a realidade
das apropriações dos espaços coletivos , a pesquisa contou com visitas de campo,
entrevistas com os atores envolvidos na sua construção, e com a documentação do projeto.
A análise desse material amparou-se na reflexão de Milton Santos sobre a natureza do
espaço, a partir do entendimento que a presença humana qualifica estes espaços como algo
em permanente transformação, “é a sociedade, isto é, o homem, que anima as formas
espaciais, atribuindo-lhes um conteúdo, uma vida”.

“O espaço resulta da intrusão da sociedade nessas formas-objetos. Por isso, esses objetos
não mudam de lugar, mas mudam de função, isto é, de significação, de valor sistêmico”. 25

25
SANTOS, Milton. A natureza do espaço, 1996, p. 103.
33
O acesso à moradia pelo Banco Nacional da Habitação (BNH) de 1964 a 1986 era uma
realidade distante para a classe mais pobre, cujos baixos rendimentos não permitiam
candidatar-se aos empréstimos26 e tampouco garantiam algum aluguel, restando como
alternativa a autoconstrução da moradia em passivos urbanos. Diante desse cenário
cresceram os movimentos sociais de luta por moradia e junto a eles as novas formulações
para enfrentar o problema habitacional. Com a eleição para prefeito no município de São
Paulo de 1989, Luiza Erundina eleita e sua equipe inauguraram o Programa de Mutirões da
Cidade de São Paulo, que nasceu como parte das ideias e soluções para a questão
habitacional em resposta às pressões dos movimentos sociais, possibilitando a
experimentação e concretização de um novo modo de produzir moradia.

“Ante a falta de respostas adequadas do poder público, ao longo dos anos 80 cresceu a luta
por terra e habitação em São Paulo por meio dos movimentos de moradia. A ocupação
organizada de glebas e terrenos ociosos marcou a metade da década. Com o agravamento da
crise habitacional e o crescimento do movimento de moradia, além de se reivindicar solução
para o problema, passou-se a partir de 1981, a elaborar propostas de política habitacional e a
pressionar a administração municipal para implementá-las. Era essa a conjuntura quando o
programa de Mutirão e Autogestão começou a ser formulado em 1989.”27

O legado do BNH provou ser insatisfatório, tanto do ponto de vista urbano, locando
conjuntos habitacionais para longe da infraestrutura de transporte, emprego e lazer, quanto
do ponto de vista social, em que grande parte da população não conseguiu acesso à
moradia. Um novo caminho na busca de referências de gestão e práticas foi almejado e
nesse contexto o Centro Cooperativista Uruguaio (CCU) apareceu como referência daquilo
que poderia ser implantado como programa alternativo a construção de moradias.

A experiência do CCU foi consolidada pelo marco da Lei Nacional de Habitação (Ley Nacional
de Vivienda), em 1968, no Uruguai, reconhecendo diversas formas de propriedade e
modalidades cooperativistas para o acesso à moradia28. A modalidade de Ajuda Mútua, ou
mutirão, contempla cooperativas com faixas de renda mais baixas, e Ahorro Prévio, ou
poupança, são mais utilizadas por cooperativas com renda média. Os principais aspectos do
CCU que serviram de referência para a experiência do Programa de Mutirões em São Paulo,
consistem na Autogestão dos empreendimentos, como uma ação participativa do coletivo,
organizada para tomar todas as decisões de gestão e produção; e os Institutos de Assistência
Técnica, equipes multidisciplinares responsáveis em servir as cooperativas no intuito de
promover o desenvolvimento da autogestão social e econômica, e da participação na
abordagem dos aspectos urbanos e arquitetônicos dos projetos.

26
KOWARICK, Lucio. A espoliação Urbana, 1979, p.42.
27
BONDUKI, Nabil. Habitat: as práticas bem-sucedidas em habitação, meio ambiente e gestão urbana nas
cidades brasileiras, 1996.
28
CECILIO, Miguel. El cooperativismo de viviendas, proceso de gestación, 2015, p.31.
34
Outro aspecto importante do CCU refere-se à propriedade; existe uma modalidade de
“uso”, em que a propriedade é coletiva e cada família tem o direito de uso de uma unidade
por vida, direito esse que pode se transferir por herança, ou através do acordo coletivo
passar a terceiros, recuperando os aportes sociais já realizados. A maioria das cooperativas
no Uruguai são cooperativas de usuários. A combinação desses principais fatores sendo a
Autogestão, Assistência Técnica, Propriedade Coletiva (sistema de usuários), e as
modalidades por Ajuda Mutua ou Poupança, é o que faz o sistema cooperativo uruguaio
original, pois consegue uni-los e potencializá-los mutuamente29 na produção das moradias.

No caso brasileiro, o Programa de Mutirões em


Autogestão na cidade de São Paulo foi formulado
pela administração municipal e tratava-se de um
processo de produção de habitação realizado pela
parceria entre o poder público e a sociedade
organizada30.Os principais agentes que
constituíram esse programa foram: o Poder
Público – que financiou os empreendimentos e
definiu regras para a sua implementação; os
Figura 16. Foto Mutirão. Fonte: Centro
Cooperativista Uruguaio Movimentos Sociais ou Associações Comunitárias
– formadas pelos futuros moradores que
administraram e promoveram a construção dos conjuntos; e, por fim, a Assistência Técnica –
que elaborou os projetos e assessorou o trabalho da construção via mutirão. Dentre as
diretrizes deste Programa estava o Processo Participativo e a Autogestão dos
empreendimentos, o Direito à Arquitetura para a população de baixa renda e Critérios
Sociais de Financiamento. No que diz respeito ao Processo Participativo, partiu-se da
premissa do direito à cidadania, apontado por Kowarick em 1979, como o fio condutor à
participação da sociedade civil de interferir no seu destino. O direito à cidadania apresentou-
se como tentativa e esforço desse momento de redemocratização do país na gestão do
município de São Paulo, ou seja, a participação dos movimentos sociais foi fundamental para
que as obras fossem realizadas da maneira como foram feitas.

“Assim, parece ser necessário pôr em xeque a questão da sociedade civil e de suas relações
com o Estado, fundamentalmente no que diz respeito ao papel a ser desempenhado pelas
classes subalternas no quadro necessariamente complexo, contraditório e conflitante desse
relacionamento... É preciso retomar nessa equação a tradicional questão da cidadania,
entendida na sua acepção clássica, isto é, o conjunto de direitos e deveres de participar não
só na criação das obras sociais como no controle dessas obras. Ou seja: a ampliação e
garantia dos direitos e deveres implícitos no exercício da cidadania supõem, de imediato, a

29
HAHOUM, Benjamín. El movimiento cooperativista del Uruguay. Autogestion, Ayuda Mutua, Aporte Próprio,
Propriedad Colectiva, 2015, p.38.
30
BONDUKI, Nabil. Habitação, mutirão e autogestão: a experiência da administração Luiza Erundina em São
Paulo, 1996, p.183.
35
possibilidade não só de usufruir dos benefícios materiais e culturais do desenvolvimento,
como também, sobretudo, a de interferir nos destinos desse desenvolvimento.”31

Figura 17. Capa da revista da Prefeitura de São Paulo da SEHAB, Nov.1990. Fonte: Acervo do autor

A diretriz do Direito à Arquitetura foi almejada como garantia de melhoria na qualidade da


moradia na habitação de interesse social (HIS); foi preciso revisar os equívocos do passado
com o BNH, quando a questão da habitação sob o véu do déficit habitacional passou a ser
uma questão de produtividade e economia de escala, perdendo em qualidade, salvo raros
exemplos, caso da Companhia Estadual de Casas Popular (CECAP) em Guarulhos 1968,
projetado por Vilanova Artigas, Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha.

Houve então a tentativa de trazer para a arquitetura a questão da habitação para população
de baixa renda, o que permitiu garantir qualidade nos projetos, unindo baixo custo à
dignidade da moradia. No panorama dessa combinação entre qualidade arquitetônica e
moradia popular revela onde o papel do arquiteto teve maior contribuição para realização
das obras deste período, através das Assistências Técnicas. Este aspecto foi uma das
características determinantes para que o modo de produção por mutirão se concretizasse.
Tanto na experiência uruguaia quanto na brasileira, houve o aprimoramento da participação
do arquiteto para contribuir e responder, com eficiência, as demandas dos movimentos de
moradia, sendo possível reconhecer a qualidade dos conjuntos concebidos e construídos
neste período. O aporte de arquitetos como Hector Vigliecca, resultou em conjuntos
habitacionais notórios, que se amparam nos critérios32 da política habitacional relacionada à
política de desenvolvimento urbano, na associação entre projeto urbano e de arquitetura
com as demandas dos movimentos sociais, na articulação dos conjuntos com as pré-
existências e formas de vida, e na conformação de tipologias e morfologias reconhecidas
pelo projeto, como o Conjunto Habitacional Rio das Pedras e Vila Mara.

31
KOWARICK, Lucio. A espoliação urbana. 1979, p.30
32
Conforme colocações de RUBANO, na banca de qualificação, 2016.
36
Os terrenos onde se encontram os conjuntos hoje eram três lotes vazios, remanescentes de
um loteamento em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo. Nesta área existia uma
ocupação, anterior a construção do conjunto, que deu origem ao grupo que lutou pelo
financiamento das moradias e que, segundo relatos,33 buscava financiamento para unidades
unifamiliares, o que se tornava inviável diante da demanda. As negociações entre o
movimento social e o poder público resultaram na encomenda do projeto do conjunto pela
COHAB-SP ao escritório de arquitetura de Hector Vigliecca e Bruno Padovano, que foi
apresentado à comunidade e teve o acompanhamento da Assessoria Técnica a Movimentos
Populares – TETO. Segundo publicações de 1992 (figura 18), este empreendimento foi
considerado exemplo dessa política no Programa de Habitação Popular da Secretaria de
Habitação de Desenvolvimento Urbano e uma das experiências pioneiras de construção de
prédios por mutirão e autogestão.

Figura 18. Reportagem Revista da Prefeitura de São Paulo da SEHAB, Nov.1990. Fonte: Acervo do
autor

As obras foram iniciadas em meados de 1991 e se estenderam até 2002, esse processo longo
de construção se deu devido a “sucessivas paralisações na liberação de recursos
determinadas pelo prefeito Paulo Maluf, que sucedeu Luiza Erundina na Prefeitura de São
Paulo, interrompendo ou atrasando a conclusão das obras. No entanto, a forte e insistente
mobilização dos mutirantes ao longo de toda a administração frustrou a tentativa
conservadora de acabar com a experiência, provocando, ao contrário, o fortalecimento da
perspectiva autogestionária, pois muitos mutirões concluíram as obras sem o apoio da
municipalidade, por meio de vários expedientes de arrecadação de recursos, inclusive entre

33
NAVAZINAS, Vladimir. Arquitetura possível: os espaços comuns na habitação de interesse social em São
Paulo. Universidade de São Paulo, 2007.

37
os próprios mutirantes” .34·A etapa da obra na maioria dos mutirões é considerada um
período crítico em decorrência da sua duração, pois depende da disponibilidade e
organização dos mutirantes e, principalmente, dos recursos destinados pelo poder público, o
que atrela todos os agentes desse tipo de programa às diretrizes políticas próprias de cada
gestão no poder. Nesse contexto, a autogestão do empreendimento do Conjunto Rio das
Pedras – Vila Mara, teve fundamental importância para que se concluíssem as obras, sendo
produto de um esforço coletivo feito por centenas de famílias, e, segundo entrevistas35,
grande parte dos mutirantes foi composta por mulheres36, que hoje denominam
Associação dos Moradores do Conjunto Habitacional Rio das Pedras e Vila Mara.

Figura 19. Foto Aérea dos Conjuntos Habitacionais Rio das Pedras – Vila Mara. Fonte: Google Earth
2016.

A localização do conjunto como já citado anteriormente resultou de terrenos vazios


desapropriados em São Miguel Paulista. O acesso por transporte público se dá por meio de
trem junto à estação da Companhia de Trem Metropolitana (CPTM) Jardim Helena - Vila
Mara, inaugurada em 2008, quase 17 anos após o início das obras do mutirão. Embora hoje
tenha a proximidade da estação, tornando o local privilegiado do ponto de vista da
infraestrutura urbana, ainda é um local periférico, ou seja, distante das atividades de
emprego, serviços e lazer, fazendo do uso do automóvel uma ferramenta bastante utilizada.

O projeto é formado por dois blocos idênticos, um em cada quadra, com 296 unidades em
cada um, totalizando 592 unidades residenciais, divididas em três tipologias de

34
BONDUKI, Nabil. Habitação, mutirão e autogestão: a experiência da administração Luiza Erundina em São
Paulo. HABITAT: As práticas bem-sucedidas em habitação, meio ambiente e gestão urbana nas cidades
brasileiras, 1996.
35
Ver Anexos Capítulo II – Entrevista com Dalvacy dos Santos. Fonte: Autor
36
Ver Anexos Capítulo II – Entrevista com Maria José. Fonte: Central Leste Notícias, março de 2016.
38
apartamentos com aproximadamente 50m² (figura 20); o gabarito dos edifícios é de quatro
pavimentos. No térreo, algumas salas foram destinadas ao comércio, e atualmente, dentro
do possível, cumprem esse destino e dão lugar para outras atividades da Associação de
Moradores. A implantação do conjunto se dá a partir da conformação perimetral da quadra,
contemplando em seu interior pátios internos, destinados ao uso público no projeto original,
“assumindo um partido que se contrapõe a fragmentação preconizada pelo lote, os espaços
coletivos e públicos são valorizados”.37 As esquinas são a entrada principal dos pedestres,
marcadas por caixas d’águas elevadas, aludindo a um portal. A circulação e entrada às
unidades variam de acordo com o pavimento em que se encontram. A diversidade de
circulações, composta por escadas internas e externas, passarelas e corredores, intensifica o
uso dos espaços coletivos.

Figura 20. Planta das Tipologias de apartamento. Fonte: VIGLIECCA e ASSOCIADOS

Figura 21. . Imagens da construção do Conjunto Rio das Pedras. Fonte: VIGLIECCA E ASSOCIADOS

37
VIGLIECCA, Hector. O terceiro território, 2014, p.104.
39
[ANÁLISE DOS ESPAÇOS COLETIVOS]

O interesse em analisar a realidade das apropriações dos espaços coletivos do conjunto


habitacional Rio das Pedras – Vila Mara surgiu após se verificar que o projeto arquitetônico
destinava o uso público a estes espaços que configuravam o pátio interno da quadra, o que
de fato nunca se consolidou. O desafio que se apresenta para nós é o de deslindar os nexos
que articulam a gestão desses espaços38, para entender melhor os motivos do fechamento
do espaço público na habitação de interesse social e as dinâmicas sócioespaciais que
contribuíram para essa tendência.

No sentido de avançar nessa discussão, a pesquisa tratará os aspectos empíricos como


indícios para elaboração de reflexões entre a realidade encontrada nos espaços coletivos e
as intenções projetuais destinadas à eles previamente. Serão abordadas as características
elegidas como principais e determinantes para a forma de ocupação encontrada no conjunto
hoje. Sob a premissa de que, “o espaço é a síntese, sempre provisória, entre o conteúdo
social e as formas espaciais”39

Como apresentado anteriormente, o núcleo habitacional Rio das Pedras – Vila Mara foi
construído por Mutirão e Autogestão, duas características do conjunto que definem
aspectos importantes na consolidação do espaço, como o processo da obra e a vida em
comunidade.

A modalidade por mutirão requer entrosamento entre o grupo e tende a antecipar


problemas de convivência, pois os acontecimentos e eventos durante a obra determinam
em algum grau o envolvimento e interação que os moradores vão ter no espaço construído.
Questões relativas à vida comunitária percorrem todo o processo desse modo de produção
da moradia, transcorrendo desde a luta pelo terreno e financiamento, ao projeto e à
construção. De maneira que, essas questões trabalhadas durante o processo de construção,
impactam positivamente nas mudanças relativas à melhoria das condições de vida ao
receber a casa própria, pois a conquista da moradia não se resume a casa. Os futuros
moradores terão responsabilidades e regras de convívio perante o espaço coletivo, o que
pode se apresentar como um modo de vida bastante novo para a maioria das pessoas, que
em sua grande maioria não tiveram experiência ou conviveram em condomínio antes. A
autogestão desse conjunto é um ponto marcante que merece destaque, pois foi somente
através da organização da Associação dos Moradores que a obra se concluiu. O Conjunto Rio
das Pedras – Vila Mara resulta da resistência e perseverança dessas pessoas que integraram
os movimentos, que mesmo diante da ausência de recursos da gestão que sucedeu o
governo de Luiza Erundina (1989-1992), com prejuízos ao programa, os moradores
conseguiram suprir parte dos gastos por meio de pequenas doações ou parcerias com

38
TELLES, Vera. Cidade: produção de espaços, formas de controle e conflitos, 2015.
39
SANTOS, Milton. A natureza do Espaço, 1996, p.109.
40
entidades do bairro40; com isso foram quase dez anos de luta para viabilizar o
empreendimento. Na visita técnica realizada em agosto de 2016, foi possível encontrar
moradores originários do mutirão e atuais encarregados da Associação de Moradores, que
foram entrevistados. Outros registros foram feitos no sentido de abordar as alterações do
espaço construído indicado como público no projeto arquitetônico, mas que não cumpriu
esse destino.

Na primeira quadra mais próxima à estação de trem está presente o Conjunto Habitacional
Vila Mara com 296 unidades residenciais. Da esquina se avista a portaria e a proteção dos
blocos por grades;., a entrada de veículos e pedestres se dá pela mesma esquina através de
uma guarita junto às caixas d’águas. As grades também estão presentes nas circulações
horizontais e nas passarelas que servem aos corredores do terceiro pavimento. As salas
destinadas ao comércio, situadas no térreo, se encontram em atividade, com pequenos
serviços como cabeleireiro, lanchonete e loja de roupas. Neste conjunto é predominante a
presença de automóveis nas áreas livres, excluindo qualquer item de paisagismo ou lazer.
Pela verificação da implantação do projeto de arquitetura41, tanto a portaria não existia,
como também não era previsto estacionamento para carros, conforme figura 25.

Figura 22. Foto da entrada e portaria do Conjunto Habitacional Vila Mara. Fonte: Acervo do Auto.
Figura 23. Foto da circulação interna com grades do Conjunto Habitacional Vila Mara. Fonte:
Acervo do Autor.

40
Ver Anexos Capítulo II – Reportagem Mulheres constroem COHAB do Jardim Helena . Fonte:Blog da Folha,
2014.
41
Material cedido pelo escritório VIGLIECCA &ASSOCIADOS
41
Figura 24. Foto do Comércio no térreo do Conjunto Habitacional Vila Mara. Fonte: Acervo do
Autor.
Figura 25. Foto das Áreas livres que hoje servem de Estacionamento do Conjunto Habitacional Vila
Mara. Fonte: Acervo do Autor.

Na segunda quadra localiza-se o Conjunto Habitacional Rio das Pedras, com mais 296
unidades residenciais. Este conjunto repete a solução de uma única entrada para veículos e
pedestres pela esquina através de uma guarita, e também se vale das grades para cercar o
perímetro da quadra e nas circulações horizontais entre os blocos. A ocupação dos espaços
livres preservou parte do projeto original, mantendo uma praça interna com paisagismo,
embora de uso coletivo dos moradores e não público (ver figura 26 e 27). Já as salas
destinadas ao comércio no projeto de arquitetura não estão sendo usadas com esta
finalidade, algumas se encontram fechadas e outras são ocupadas como bicicletário ou
outras atividades do condomínio.

Figura 26 e Figura 27. Foto da Praça Interna do Conjunto Habitacional Rio das Pedras, 2016. Fonte:
Acervo do Autor.

É possível reconhecer que as principais modificações do projeto se deram nos espaços


coletivos destinados ao uso público de acordo com o projeto, demonstrando a fragilidade na
concepção dessas áreas, que se tornam híbridas entre a casa e a cidade, provando que são
mais suscetíveis às alterações do que os blocos das unidades residenciais. A análise destes
espaços pretende eleger as principais características que resultaram nessas modificações.

42
Figura 28. Implantação dos Conjuntos Habitacionais Rio das Pedras-Vila Mara. Fonte: VIGLIECCA E
ASSOCIADOS

Figura 29. Alterações no uso do espaço público dos Conjuntos Habitacionais Rio das Pedras-Vila
Mara, 2016. Fonte: Implantação modificada pelo autor com base na implantação original.

O método para chegar à seleção dessas características foi investigar os elementos


encontrados empiricamente, como os documentos da época da gestão, a entrevista com a
moradora e encarregada administrativa Dalvacy dos Santos, participante do mutirão, os
documentos do projeto originais cedidos pelo escritório VIGLIECCA&ASSOC, e a visita ao
conjunto em agosto de 2016. A partir desse material, foi possível traçar paralelos entre a
realidade das apropriações não previstas no projeto, e as características do Conjunto
Habitacional Rio das Pedras – Vila Mara que contribuíram para que as formas reais de
ocupação se manifestassem de tal maneira. Reconhecem-se assim quatro características
principais dos conjuntos:

43
1. Mutirão e Autogestão: Partindo da premissa que o processo participativo na construção
por mutirão antecipa problemas de convivência e também o grau de envolvimento e
interação dos moradores no espaço construído. O processo de construção, tendo sido um
período longo, possibilitou a experiência prévia do que seria a vida em comunidade após a
entrega das chaves aos moradores.

2. Localização e o papel do automóvel: Como apresentada anteriormente, a localização do


empreendimento se encontra afastada da área central, embora esteja servida de
infraestrutura de transporte como o trem da CPTM, está distante de outros serviços,
emprego e lazer. O percurso de trem do centro de São Paulo à estação Jardim Helena
demora em torno de duas horas, o que torna o uso do automóvel bastante apropriado pela
população do bairro. A falta de projeto para o uso do carro, como é possível observar nos
desenhos do projeto original, faz com que os moradores adaptem o espaço construído para
suas necessidades e o automóvel, sendo uma delas, ganha espaço em detrimento das áreas
de passagem e lazer.

3. Segurança: Com 592 unidades, se forem consideradas quatro pessoas por apartamento é
possível chegar a um total de 2.368 moradores ; diante desse número de residentes destes
conjuntos os acessos foram adaptados para que se possa controlar minimamente o fluxo
interno. A questão da segurança aparece como dado primordial para o fechamento do
empreendimento;, as grades fizeram parte das ações realizadas durante a construção e a
portaria veio depois das obras concluídas, segundo Dalvacy dos Santos.42

4. Condomínio e densidade: Segundo relatos43, o movimento de luta que originou o conjunto


Rio das Pedras – Vila Mara, almejava o financiamento de casas individuais, esse desejo pela
casa própria isolada em lotes fazia parte do modo de vida da maioria dos mutirantes que
não tinham experiência de vida em condomínio, onde cada um tem deveres sob o espaço
comum. O adensamento como premissa para uma cidade como São Paulo resultava na
solução de conjuntos verticais e na figura do condomínio como inevitável, se traduzindo
como desafio à vida cotidiana daquele grupo no primeiro momento da ocupação do
conjunto, mas que diante dos registros da visita técnica se mostra um satisfatório
funcionamento. Em entrevista com a encarregada administrativa, foi revelada bastante
inadimplência com relação à taxa condominial e o que acaba suprindo os gastos
condominiais são os alugueis das salas comerciais.

Algumas das características citadas acima foram identificadas por meio da observação, e da
conversa com moradores na visita de campo, como é a Localização e o papel do automóvel,
da Segurança e do Condomínio. No caso do Mutirão e Autogestão foi considerada a suposta
influência das ações humanas, o modo de gerir o espaço, através do estudo dos

42
Ver Anexos Capítulo II – Entrevista com Dalvacy dos Santos. Fonte: Autor
43
NAVAZINAS, Vladimir. Arquitetura possível: os espaços comuns na habitação de interesse social em São
Paulo. Universidade de São Paulo, 2007.
44
documentos históricos que deram origem ao empreendimento. Essas características elegidas
tem origem em diferentes campos que, juntos, compõe a situação geral daquele espaço
hoje, são formas de ocupação não previstas, pois atravessam um campo de indeterminação,
derivado do acaso e incompletude do espaço construído, que se completa com a ação dos
residentes em adaptar o espaço às suas necessidades não previstas no projeto de
arquitetura. De modo geral, pode-se concluir que os espaços coletivos do Conjunto Rio das
Pedras e Vila Mara, apesar das modificações de uso destinadas originalmente no projeto
arquitetônico, se encontram cuidados, em bom estado e limpos. Traduzindo de maneira
simbólica a gestão organizada pelos moradores.

Figura 30. Foto Panorâmica do espaço coletivo do Conjunto Habitacional Vila Mara, 2016. Fonte:
Acervo do Autor.

Figura 31. Foto Panorâmica do espaço coletivo do Conjunto Habitacional Rio das Pedras, 2016.
Fonte: Acervo do Autor.

45
[CAPÍTULO III]

CONJUNTO HABITACIONAL PARQUE NOVO SANTO AMARO V. 2009. O LEGADO DA


ARQUITETURA NA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL.

Este capítulo está estruturado em frentes de análise que contribuem para o entendimento
da construção do Conjunto Habitacional Parque Novo Santo Amaro V e da realidade em que
se encontram seus espaços públicos. Começa pela contextualização da política habitacional
dentro do Programa de Proteção e Recuperação dos Mananciais em 2009 e da concepção do
projeto arquitetônico do empreendimento pelo escritório VIGLIECCA & ASSOCIADOS, e suas
referências. Em seguida, é feita a análise do espaço público desse conjunto, amparada nos
documentos encontrados pela pesquisa que corroboram para o entendimento do
fechamento do parque pelos moradores em 2016. Para analisar a realidade das apropriações
dos espaços públicos desse conjunto, a pesquisa contou com a documentação da
regularização fundiária que se encontra na Secretaria de Habitação de São Paulo (SEHAB),
com o Manual do Morador da PMSP entregue aos moradores em 2012, desenhos técnicos
do projeto cedidos pelo escritório VIGLIECCA&ASSOC. e registros das visitas de campo. A
análise desse material amparou-se na reflexão de Milton Santos sobre a natureza do espaço,
a partir do entendimento que a presença humana qualifica estes espaços, algo em
permanente transformação, “é a sociedade, isto é, o homem, que anima as formas espaciais,
atribuindo-lhes um conteúdo, uma vida”. A partir dessa premissa, este capítulo busca
identificar os atores dessa sociedade que influem na transformação do espaço público do
empreendimento, como se articulam e compõe o campo das disputas.

“Em um programa dito de urbanização de uma favela, podemos encontrar: representantes


dos poderes públicos que implementam esses programas, agências multilaterais de
financiamento; escritórios de arquitetura de circulação internacional interessados na
experimentação urbanística; bancos privados interessados em capturar novos clientes no
hoje expansivo e lucrativo consumo popular; empresas privadas também em disputa de
novos mercados. Simultaneamente, encontramos também: moradores locais e suas
associações; igrejas evangélicas e seus seguidores; políticos locais e suas clientelas; chefes
locais do tráfico de drogas e suas redes de negócios ilícitos... E ainda: agentes da ordem que
tratam de controlar e policiar condutas e atividades cotidianas, sem esquecer seus “acertos”
com os negócios ilícitos locais ou modos de acomodação e composição com os jogos de
interesses constelados em cada local.”44

44
TELLES, Vera. Cidade: produção de espaços, formas de controle e conflitos, 2015, p23.
46
Na década de 1990, grande parte das favelas e loteamentos irregulares ganhou cada vez
mais pessoas, abrigando aqueles que não tiveram acesso ao financiamento da moradia
durante o regime militar com o Banco Nacional da Habitação (BNH). Nesse contexto, a maior
parte das ocupações desordenadas das áreas de mananciais da cidade de São Paulo resultou
das alternativas encontradas pela população para resolver o problema da moradia.

A solução tradicional encontrada para enfrentar o problema da habitação – compra


de lote clandestino e periférico para a construção da casa própria individual pelo
autoempreendimento – além de gerar graves problemas urbanos e ambientais,
tornou-se, em larga escala, inviável a partir de meados dos anos 70. Em
consequência, as favelas que em 1973 abrigavam apenas 1% da população
paulistana, passaram a crescer diante da falta de alternativas habitacionais para a
população de baixa renda e, hoje (1996), o número de favelados elevou-se para cerca
de 18% dos paulistanos. Concomitantemente agravaram-se a lotação dos cortiços e a
ocupação de áreas de risco e de zonas de proteção ambiental, como os mananciais.45

A ocupação dessas áreas como alternativa à moradia pela população mais pobre acarretou
diversos problemas como enchentes, habitações em áreas de risco, deslizamento de
encostas, falta de saneamento básico, lançamento de esgoto nas represas, comprometendo
a qualidade da água e o abastecimento no município. Nesse cenário de agravamento urbano
e ambiental surge o Programa de Proteção e Recuperação dos Mananciais da Prefeitura de
São Paulo, que nasceu como Programa Guarapiranga em 1994, fruto da revisão da Legislação
de Proteção aos Mananciais da Região Metropolitana de São Paulo (LPM) de 1970, que não
abarcava a complexidade das áreas ocupadas.

Este programa foi elaborado para recuperar e conservar a qualidade das águas das represas
Guarapiranga e Billings e melhorar a condição de vida dos seus moradores por meio da
urbanização de favelas e da sua regularização fundiária. Essas ações previstas no Programa
se destacam devido à enorme quantidade de pessoas que residem em loteamentos
irregulares nessas áreas ambientalmente “protegidas”, acarretando em problemas como a
poluição da represa Guarapiranga, responsável pelo abastecimento de 3,5 milhões de
pessoas na região metropolitana46.

Com a reformulação da legislação de 1970, resultando na elaboração da nova Lei de


Proteção e Recuperação dos Mananciais (Lei nº 9866/1997), permitiu-se indicar as Áreas de
Proteção e Recuperação dos Mananciais (APRM) como áreas de intervenção que coincidem
com os perímetros das Bacias Hidrográficas, podendo ter leis especificas para cada uma
delas.

45
BONDUKI, Nabil. Habitat: as práticas bem-sucedidas em habitação, meio ambiente e gestäo urbana nas
cidades brasileiras. São Paulo 1996.
46
Fonte: Prefeitura do Município de São Paulo, 2016.
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/programa. php?p=3377
47
As diretrizes da nova lei e suas respectivas normas específicas regulamentaram as
ocupações nas represas Guarapiranga e Billings (Lei nº 12.233/2006 e Lei nº 13.579/2009) e
estabeleceram, principalmente ao tratar sobre a recuperação das ocupações irregulares, a
permissão de construção de unidades habitacionais na própria área de mananciais. A partir
dessa diretriz, que uniu política habitacional e ambiental, o projeto do Conjunto Habitacional
Parque Novo Santo Amaro V foi encomendado pela PMSP.

Figura 32. Foto aérea do Conjunto Habitacional Parque Novo Santo Amaro V, 2016. Fonte: Autor
base Google Earth.
Localizado entre os Bairros da Independência e Parque Novo Santo Amaro, dentro da
subprefeitura do M´Boi Mirim do município de São Paulo, em Zona de Proteção Ambiental
(ZEPAM), na Bacia do Córrego Embu Mirim47. O acesso ao conjunto por meio de transporte
público é escasso, a estação de metrô mais próxima fica a 5,5km (estação Capão Redondo da
linha 05 lilás) e aproximadamente 2h30 minutos do centro da cidade, partindo da Praça da
Sé. Entre as poucas opções de transporte, a melhor alternativa é o corredor de ônibus que
percorre a Estrada do M´Boi Mirim.

O projeto do Conjunto Habitacional Parque Novo Santo Amaro V fez parte da diretriz da
PMSP de remover e prover habitação, primeiramente para aqueles que se encontravam
ocupando áreas de risco em situação muito precária e onde problemas ambientais
colocavam a vida das pessoas em perigo. Assim era o cenário do local em que foi
implantado o empreendimento, uma favela que ocupava terreno público, assentada em

47
Ver Anexos Capítulo III – Mapa de Localização
48
cima do córrego no fundo de vale, o qual recebia esgoto in natura e tinha as encostas
ocupadas de maneira desordenada que constituíam parte do problema a ser sanado.

Figura 33. Figura 34. Figura 35: Fotos da Ocupação Novo Santo Amaro V, 2009. Fonte: VIGLIECCA E
ASSOCIADOS

Podemos observar conforme a ficha técnica abaixo, cedida pela gerenciadora do projeto48,
os números que compunham a favela ou assentamento precário existente antes que o
empreendimento fosse implantado. Dos 389 domicílios só 45 tinham ligação de esgoto, ruas
de terra sem rede elétrica faziam parte do cenário que havia recebido pouco investimento
público. O ano de início da ocupação deste terreno data de 1980, são quase 30 anos que
separam o momento da ação neste território a partir do Programa de Proteção e
Recuperação dos Mananciais da PMSP.

A Ficha técnica traz os seguintes dados: Assentamento Parque Novo Santo Amaro V : Ano do
início de ocupação: 1980.Total de domicílios: 389. Área total: 53.917,51 m².Propriedade do
terreno: Municipal. Abastecimento de água: 55%. Esgotamento sanitário: 20%. Vias
pavimentadas: 10%. Rede elétrica e iluminação pública: 0%. Índice de infra-estrutura urbana:
20%. Regularização fundiária: Irregular. Área de Mananciais: 99,55%. Área de ZEIS: 94,30%.
Total de construções: 422. Quantidade de ligações de água: 287. Quantidade de ligações de
esgoto: 45. Rede de distribuição: 189,37m. Índice de abastecimento: 42,23%. Índice de
esgotamento: 6,80%

A permissão de construção de unidades habitacionais na própria área de mananciais,


segundo a nova lei (Lei nº 12.233/2006 e Lei nº 13.579/2009), permitiu neste
empreendimento realocar os moradores na mesma área em que foram retirados da situação
de risco, sem precisar afastá -los do lugar original de sua moradia. As famílias voltaram a
morar no mesmo local, mas em condições dignas de habitabilidade. Além da construção de
moradias, toda a parte de infraestrutura foi executada para a urbanização dessa área, como
rede de esgoto, macro e microdrenagem, geotecnia, pavimentação, rede de luz, entre
outros.

48
Ver Anexos Capítulo III – Ficha Técnica do Assentamento Parque Novo Santo Amaro. Fonte: Gerenciadora
Hagaplan.
49
Figura 36. Planta de remoções. Remoções em laranja 210 domicílios. Fonte: VIGLIECCA E
ASSOCIADOS

Nesse panorama das questões ambientais do Programa de Proteção e Recuperação dos


Mananciais o projeto foi encomendado pela PMSP ao escritório VIGLIECCA&ASSOCIADOS em
2009, a fim de buscar uma solução que unisse o tratamento do córrego e seus impactos
ambientais e a provisão habitacional. Os principais critérios identificados pela pesquisa que
ampararam o desenvolvimento desse projeto foram a política habitacional relacionada à
política ambiental de desenvolvimento urbano, a articulação do conjunto com as pré-
existências e formas de vida e a conformação de tipologias e morfologias reconhecidas pelo
projeto. A solução dada aos problemas apresentados foi um edifício que, no âmbito da
habitação de interesse social (HIS), inaugurou uma implantação inusitada no município de
São Paulo. A construção faz o contorno da quadra reservando seu interior para um parque
linear, um espaço público, guiado pela presença do córrego. A solução dada ao córrego
poluído foi a sua canalização, pois não foi possível recuperá-lo; um espelho d’água foi
construído em sua memória percorrendo o interior da quadra, irrigado por uma das
nascentes encontradas no local. A quadra de futebol pré-existente foi incorporada ao
projeto mantendo seu protagonismo na escolha do partido da implantação e contribuindo
para a conformação do parque público.

Figura 37. Croqui do partido arquitetônico, Arquiteto Hector Vigliecca.Fonte: VIGLIECCA E


ASSOCIADOS

50
O edifício traz em si uma complexidade que
não é facilmente captada ao depará-lo. Suas
ruas internas estão diretamente conectadas
às ruas existentes que configuram uma
paisagem de muitos declives e obstáculos
para os pedestres que desejavam cruzar a
quadra, tendo assim que percorrer uma
longa distância para vencer os desníveis.
Essas ruas internas resolveram a questão
topográfica que se apresentava como desafio
na transposição das cotas do entorno. O
conjunto habitacional Parque Novo Santo

Figura 38. Corte com a Solução da canalizaçãoAmaro V (PNSA) traz a tentativa de ser um
do córrego. Fonte: VIGLIECCA E ASSOCIADOS. elemento de estruturação urbana para área,
tanto pela presença do edifício que conecta
as ruas circundantes, quanto pelo parque conformado no interior da quadra que no projeto
é destinado ao uso público.

Figura 39. Implantação do Conjunto Habitacional Parque Novo Santo Amaro V. Fonte: VIGLIECCA E
ASSOCIADOS

Temas como o respeito à geografia e a solidariedade ao existente são caros ao modo de


projetar do arquiteto Hector Vigliecca, podendo ser atribuído à influência do seu período de
formação em 1968, quando o movimento moderno na arquitetura era revisado, e questões
como o sítio eram de extrema relevância ao projeto. Diante dessa herança pós-moderna, o
conjunto habitacional PNSA tem como referência as obras do casal de arquitetos ingleses
Smithsons que fizeram parte do Team X. Elementos estruturais advindos da ideologia dos
Smithsons são reinterpretados na obra de Vigliecca, as ruas elevadas, por exemplo,
articulam cotas de transposição dos pedestres, o edifício se torna uma parte da estrutura
urbana.
51
Figura 40. Foto Conjunto Robin Hood Gardens dos Smithsons 1972. Fonte: Sandra Lousada.
Figura 41. Foto Conjunto Habitacional Parque Novo Santo Amaro V, 2012. Fonte: Acervo do autor.

Esse diálogo do edifício com as pré-existências enalteceram alguns equipamentos locais


como a quadra de futebol e a escola pública, e tentou consolidar através do parque o
percurso no interior da quadra que antes era feito de maneira bastante precária. As
passagens feitas por entre o prédio de maneira que haja transposição do terreno, além da
permanência no parque por meio de pequenas intervenções, como uma pista de skate e o
espelho d’água, foram elementos que buscaram transformar aquela parte do território em
um catalisador de eventos urbanos, como se levasse parte da cidade servida por
infraestrutura à periferia carente de elementos básicos de lazer.

A implantação do projeto também preservou algumas casas existentes no terreno,


permanecendo o elo com a história do lugar, como se as casas remanescentes fizessem
parte do novo projeto que protagonizou as pré-existências da cidade que se auto - constrói.
É composto por três blocos de no máximo cinco pavimentos a partir da cota do térreo das
ruas. Os blocos 1 e 2 criam duas frentes urbanas, uma para as ruas oficiais existentes e outra
para a rua interna do parque e se interligam através das ruas elevadas e escadas com o
bloco 3 (transversal) sem frente para as ruas49; com o total de 201 unidades. As tipologias
habitacionais variam entre onze plantas distintas, dentre elas a solução do duplex no último
pavimento, com o programa básico de sala, cozinha, área de serviço, dois quartos e um
banheiro, com exceção de uma tipologia que ganhou um quarto a mais. O arranjo
dessasdiversas tipologias foi necessário para compor um prédio complexo que abarcasse as
diferentes soluções para cada trecho do terreno.

49
Ver Anexo Capítulo III – Relatório do Projeto Executivo de Arquitetura do Núcleo Novo Santo Amaro – Lote 7.
Fonte: Gerenciadora Hagaplan.
52
Figura 42. Implantação e acessos. Fonte: SEHAB 2012

Figura 43. Foto tirada antes da inauguração dezembro 2009. Fonte : Acervo do Autor.
53
[ANÁLISE DOS ESPAÇOS COLETIVOS]

O interesse em analisar a realidade das apropriações dos espaços públicos e coletivos do


conjunto habitacional Parque Novo Santo Amaro V surgiu após verificar que o projeto
arquitetônico destinava o uso público a estes espaços que configuravam o parque linear no
interior da quadra, o que durante seu pós-uso sofreu adaptações e hoje se encontra
fechado, para uso privado coletivo dos moradores. O desafio que se apresenta para nós é o
de deslindar os nexos que articulam a gestão desses espaços50, a fim de se entender melhor
os motivos do fechamento do espaço público na habitação de interesse social e as dinâmicas
socioespaciais que contribuíram para essa tendência.

Para avançar nessa discussão, a pesquisa tratou os aspectos empíricos como indícios para
elaboração de reflexões entre a realidade encontrada nos espaços coletivos e as intenções
projetuais destinadas a eles previamente. Serão abordadas as características elegidas como
principais e determinantes para a forma de ocupação encontrada no conjunto hoje. Sob a
premissa de que, “o espaço é a síntese, sempre provisória, entre o conteúdo social e as
formas espaciais”51

Como apresentado anteriormente, o Conjunto Habitacional Parque Novo Santo Amaro V


está localizado dentro da subprefeitura do M´Boi Mirim do município de São Paulo, com
poucas opções de acesso por meio de transporte público, onde a estação de metrô mais
próxima fica a 5,5km (estação Capão Redondo da linha 05 lilás) e aproximadamente 2h30
minutos do centro da cidade. O conjunto foi construído em terreno público realocando
pessoas que ali habitavam informalmente em área de risco. O território onde se encontra o
empreendimento é predominantemente composto por loteamentos irregulares e
autoconstrução com pouquíssimo investimento estatal, uma realidade da periferia. Essas
duas características do conjunto, o terreno público e o território no qual está inserido,
definem aspectos importantes na consolidação do espaço público projetado.

Primeiramente, o elo entre a origem do terreno e o parque público concebido no projeto


arquitetônico está diretamente relacionado à propriedade da terra, ou seja, foi legitimada a
destinação de um espaço público em um terreno público. De acordo com documentos do
processo da regularização fundiária datado de 1978, o terreno faz parte do loteamento da
Nova Santo Amaro Imobiliária e Construtora Ltda. A partir da observação do Croqui
Patrimonial52, foi possível identificar que o loteamento contemplava áreas públicas de
propriedade municipal, caso do terreno onde se encontra o conjunto habitacional
atualmente, destacado em verde na figura 44. Durante a década de 1980, o terreno
começou a ser ocupado de maneira irregular sobre o córrego que o atravessava,
constituindo uma favela em área de risco. A necessidade de provisão habitacional para as

50
TELLES, Vera. Cidade: produção de espaços, formas de controle e conflitos, 2015.
51
SANTOS, Miltoumn. A natureza do Espaço, 1996, p.109.
52
Ver Anexos do Capítulo III – Croqui Patrimonial. Fonte: SEHAB
54
famílias assentadas neste terreno, através da nova lei do Programa Mananciais da PMSP (Lei
nº 12.233/2006 e Lei nº 13.579/2009), permitiu a construção de moradias no mesmo local.

Essa característica de destinar simultaneamente um equipamento público e habitação social


no mesmo terreno do ponto de vista da regularização fundiária, estabeleceu de maneira
pouco clara a relação de propriedade. Esse entrave da regularização fundiária é bastante
comum nos empreendimentos de Habitação de Interesse Social (HIS), nos quais a concessão
de terrenos públicos para atendimento da demanda habitacional, transforma a propriedade
da terra pública em privada, o que pode levar muitos anos para ser oficializado.

Na prática, este terreno pouco exerceu sua função pública, desde a década de 1980 serviu
para prover moradia
informalmente, embora o projeto
arquitetônico buscasse resgatar sua
origem pública, mas para se
consolidar como tal dependia de
vontade política dos agentes
envolvidos incluindo a PMSP e os
moradores.

A partir dessa análise sobre a


origem do terreno e dos
desdobramentos de sua
propriedade chegamos à questão da
gestão dos espaços públicos
projetados no empreendimento do
Conjunto Habitacional Parque Novo
Santo Amaro V.

Diante do entrave do
pertencimento legal das áreas
contidas no empreendimento, o
espaço público projetado como
parque linear, encomendado pela
PMSP, deveria estar sob sua
responsabilidade, no que diz
respeito à sua gestão e
manutenção. Na inauguração do
conjunto habitacional, em

Figura 44. Croqui Patrimonial. Fonte : SEHAB 2016 dezembro de 2012, a PMSP
forneceu aos moradores uma
cartilha de convivência, intitulada como “Manual do Morador - Vivendo em Condomínio”,
55
em que estão contidas explicações de direitos e deveres, normas e instruções gerais sobre
a vida em condomínio e a utilização dos espaços coletivos. A experiência da vida em
condomínio para os futuros moradores era algo desconhecido, portanto essa cartilha fazia
parte do trabalho social desenvolvido para amenizar conflitos de convivência. Na parte em
que mencionava o cuidado com as áreas comuns estavam incluídos áreas verdes em torno
dos blocos, assim como equipamentos instalados nesses locais, como é possível ver na figura
45.53

As instruções presentes na cartilha revelaram a falta de clareza em relação ao parque linear,


pois as áreas verdes citadas correspondem ao espaço público do projeto e não aos espaços
coletivos do condomínio, ficando implícita, portanto, a incumbência da manutenção desses
espaços públicos aos moradores, transferindo a responsabilidade dessas áreas de cuidados
da gestão pública do município para os residentes.

Figura 45. Página da Cartilha entregue aos moradores. Fonte: SEHAB 2012.

“As famílias residem em apartamentos individuais, mas compartilham os espaços e


estruturas de uso comum do condomínio: entradas, corredores, escadas, fachadas, telhados,
calçadas e áreas verdes em torno dos blocos, assim como equipamentos instalados nesses
locais. Todos os moradores são responsáveis pela conservação e limpeza desses locais.”

A falta de definição clara do que são espaços públicos ou condominiais por parte do projeto
de arquitetura, ao propor o uso público da circulação interna do edifício, dificulta a relação
de responsabilidade sobre esses espaços. E a falta de preservação e manutenção do parque
por parte da PMSP, se transformou em conflito a ser gerido e resolvido pelos habitantes do
conjunto.

53
Ver Anexo Capítulo III - Manual do Morador. Fonte: Arquiteta Ligia Miranda – gestão SEHAB 2009-2012.
56
Somado a esses litígios, temos as dinâmicas socioespaciais, características do território de
inserção deste empreendimento - a periferia de São Paulo, fruto da negligência estatal em
que “a moradia, nesse contexto, restringe-se a sua função de abrigo e reprodutiva força de
trabalho, deixando de lado suas dimensões produtiva, social, cultural e espiritual”54. Diante
da falta da dimensão urbana em lugares como este, pouco servidos de infraestrutura básica
como foi apontado pela ficha técnica do terreno55, áreas verdes, parques e equipamentos de
lazer se tornam raros em meio às necessidades primordiais da moradia. Nesse cenário de
escassas atividades culturais e contemplativas é que se deu o uso intenso do parque linear
do conjunto habitacional PNSA pela vizinhança e visitantes de outras partes da cidade. O
projeto do Parque Novo Santo Amaro V, apesar da sua qualidade arquitetônica, mantém
vínculo com a má qualidade urbana do território onde está inserido, apresentando-se como
única alternativa de lazer das redondezas.

O fato de ter sido um catalisador de encontros da região trouxe alguns incômodos


motivadores do fechamento do parque por parte dos moradores, a exemplo dos jovens
“barulhentos” com sua música “pancadão” e seus skates. Como apontado por Vera Telles,
são práticas “indesejáveis” ou desvios, condenáveis não por indicarem alguma infração legal,
mas pelo potencial de risco e ameaça à ordem urbana e ao bem-estar de suas populações.

“O que é visto como “desvio” é cada vez mais desconectado de infração (o crime supõe o
sistema de direito) e associado à ameaça. Daí a busca de índices de “desvios” em relação a
um padrão de regularidade próprio de um lugar determinado. Nisso, esfumaça-se a distinção
entre o comportamento legal e o ilegal que, segundo Lianos, abria margens para
comportamentos “não-conformes”, porém, legais: essas margens perdem todo o sentido, na
medida em que, sob figurações do risco, esfumaça-se a diferença entre o “indesejável” e o
“ilegal”. Na prática, isso significa uma ampliação extensiva das situações e tipos urbanos na
mira de operações de controle; dos protestos de rua às pequenas violações legais, passando
por: comércio informal, populações de rua, usuários de drogas, jovens barulhentos e
inconvenientes, todos colocados sob o signo do risco e da ameaça à ordem urbana.”56

Esses incômodos, considerados como práticas indesejáveis, sofrem um tipo de controle que
esbarra na questão da segurança, em que, segundo Vera Telles, carrega a ideia de uma
gestão militarizada dos espaços e territórios urbanos, acompanhada por uma crescente e
expansiva “vigilância policialesca”, de tal forma que questões e eventos da ordem cotidiana
das cidades são convertidos em assunto de guerra. Nesse sentido, a tática do fechamento do
perímetro da quadra com grades e portões, e cobertura da pista de skate com terra, trouxe
a sensação de segurança e controle dos espaços abertos do parque que permeavam o

54
RODRIGUES, Evaniza. A Estratégia Fundiária dos movimentos populares na produção autogestionária da
moradia, 2013, p. 120.
55
Ver Anexos Capítulo III – Ficha Técnica do Assentamento Parque Novo Santo Amaro. Fonte: Gerenciadora
Hagaplan.
56
TELLES, Vera. Cidade: produção de espaços, formas de controle e conflitos, 2015, p.33.
57
conjunto habitacional, elementos que tornam vigilantes as condutas cotidianas vistas como
ameaças por parte dos moradores.

Entre as dinâmicas socioespaciais presentes na vida cotidiana deste empreendimento, o


tráfico de drogas aparece como um dos definidores das formas reais de ocupação do espaço.
De acordo com entrevistas na visita de campo, o bloco 01 é tomado pelo tráfico de drogas e,
em decorrência disso, é um dos lugares menos frequentados pelos moradores. Desde a
construção do edifício foram feitos acordos com os chefes locais do tráfico e suas redes de
negócios ilícitos, para que, em contrapartida, a obra fosse realizada de maneira satisfatória;
o acordo principal definia que, durante as obras, o tráfico ficaria locado no bloco 01
exercendo suas atividades. A localização do bloco 01 na implantação do conjunto se
aproxima de onde foram encontradas as nascentes e do início do espelho d’água, em um dos
extremos do terreno oposto a quadra de futebol. Após a inauguração do conjunto as
atividades informais relacionadas ao comércio de drogas voltaram a ocupar esta parte do
terreno.

O resultado deste atravessamento de condutas formais e informais é um espaço público


fechado, com códigos de convivência marcados por interesses presentes na vida cotidiana
da periferia de São Paulo. São formas reais de ocupação não previstas no projeto
arquitetônico, somadas pela imprecisão da propriedade e da falta de clareza do que é de
uso coletivo condominial e do que é de uso público da cidade.

Figura 46. Foto do Bloco 01. Visita realizada em agosto de 2016. Fonte: Acervo do Autor

58
A conclusão da análise dos espaços públicos no projeto do Conjunto Habitacional Parque
Novo Santo Amaro V resulta na seleção das características elegidas como importantes e
determinantes, que durante a pesquisa apareceram como fatores que resultaram na forma
de ocupação encontrada no conjunto hoje.
O método para chegar à seleção dessas características foi o de investigar os elementos
encontrados empiricamente, como os documentos da regularização fundiária, materiais
entregues aos moradores pela gestão da época 2009-2012, documentos originais do projeto
cedidos pelo escritório VIGLIECCA & ASSOCIADOS, e as visitas ao conjunto em dezembro de
2012 e agosto de 2016. A partir desse material, foi possível traçar paralelos entre a realidade
das apropriações não previstas no projeto, e as características do Conjunto Habitacional
Parque Novo Santo Amaro V que contribuíram para que as formas reais de ocupação se
manifestassem de tal maneira. Foi possível reconhecer cinco características principais
pertencentes ao conjunto:

1. Regularização Fundiária – A origem do terreno público e sua propriedade. A perspectiva de


que o processo de regularização fundiária pode levar muitos anos para se concluir
transforma-se em entrave na resolução da propriedade do empreendimento da parte que
será destinada à propriedade privada e do que permanecerá propriedade municipal. Esse
entrave se manifesta na falta de clareza sobre o cuidado e manutenção das áreas públicas e
permite que o destino do fechamento do parque seja decidido pelos moradores.

2. Gestão dos espaços comuns – imprecisão dos espaços condominiais e públicos. Como foi
evidenciada pela cartilha do “Manual do Morador - Vivendo em Condomínio”, a falta de
definição clara do que são espaços públicos ou condominiais no edifício por parte do projeto
de arquitetura encomendado pela PMSP. O projeto, ao propor o uso público da circulação
interna do edifício, somado à falta de manutenção do parque por parte da municipalidade,
transformou-se em conflito a ser gerido e resolvido pelos habitantes no pós-uso, envolvendo
custos de manutenção de uma enorme área aberta. Somado a esses litígios o fato de ser um
projeto complexo, uma tentativa de simultaneidade entre habitação e equipamento público,
contribuiu para a dificuldade da vida em condomínio, que se apresentou como experiência
nova para a maioria dos residentes.

3. Práticas indesejáveis – Incômodos geradores de conflitos: Em decorrência da escassez de


equipamentos públicos de lazer na região, o Parque Novo Santo Amaro V se transformou em
catalisador de encontros de jovens. Manifestações culturais como o “pancadão” e o uso da
pista de skate foram vistas como ameaças ao bem estar dos moradores do conjunto e
sofreram retaliações por meio de medidas de controle do espaço público;, grades e portões
foram instalados assim como o enchimento da pista de skate com terra. Táticas de gestão do
espaço que esbarram na questão da segurança.

4. Dinâmicas socioespaciais Informais – Tráfico de drogas. A presença do comércio de drogas


e negócios ilícitos é uma realidade da vida cotidiana na periferia, e presente no local antes

59
da implantação do conjunto habitacional PNSA e que teve sua continuidade no pós-uso. Esse
aspecto definiu códigos de permanência em determinadas áreas do empreendimento, assim
como negociações para manutenção da ordem durante e depois das obras.

5. Localização e o papel do automóvel: Como apresentado anteriormente, a localização do


empreendimento é pouco servida de infraestrutura de transporte e distante de outros
serviços, de emprego e lazer. O trajeto de ônibus do centro de São Paulo pelo corredor da
estrada M´Boi Mirim demora em torno de duas horas e meia, o que torna o uso do
automóvel bastante apropriado pela população do conjunto PNSA. No projeto de
arquitetura foram previstas 29 vagas de estacionamento para o uso do carro, como consta
no relatório do projeto executivo57, no entanto, conforme visita de campo, o número de
carros é maior do que o de vagas. Os moradores adaptaram o espaço construído para suas
necessidades o carro ganhou espaço na rua interna que antes servia ao parque linear, além
de alterações como a construção de vagas cobertas para abrigo dos carros, conforme figuras
47 e 48.

Figura 47 e Figura 48. Adaptações do espaço público do Parque para estacionamento dos carros,
2016. Fonte: Acervo do Autor.

Algumas das características citadas acima foram identificadas por meio da observação, e da
conversa com moradores na visita de campo, que contou com a colaboração da equipe da
SEHAB de 2016 e da Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos (COBRAPE), caso
das Práticas indesejáveis, Dinâmicas socioespaciais Informais, Localização e o papel do
automóvel. A Gestão dos espaços comuns – imprecisão dos espaços condominiais e públicos
foi considerada como influência das ações humanas, no modo de gerir o espaço, através do
estudo do projeto arquitetônico e do documento entregue aos moradores pela PMSP. O
trabalho Regularização Fundiária – A origem do terreno público e sua propriedade foi fruto
da pesquisa sobre o empreendimento na SEHAB SP.

Essas características elegidas têm origem em diferentes campos que juntos compõe a
situação geral do espaço hoje; são formas de ocupação não previstas, pois atravessam um
57
Ver Anexo Capítulo III – Relatório do Projeto Executivo de Arquitetura Núcleo Novo Santo Amaro – Lote 7.
Fonte: Gerenciadora Hagaplan.
60
campo de indeterminação, que tem a ver com o acaso e incompletude do espaço construído,
completando-se na ação dos residentes em adaptar o espaço às suas necessidades não
previstas no projeto de arquitetura. De modo geral, pode-se concluir que os espaços do
Conjunto Habitacional Parque Novo Santo Amaro V sofreram modificações principalmente
naqueles destinados ao uso público e nos elementos de lazer, que hoje se encontram em
estado bastante precário. O mato ocupa grande parte das escadarias do parque, o espelho
d’água se encontra seco, a pista de skate foi desativada, a rua de passagem para pedestres
tornou-se estacionamentos dos carros, as passarelas estão fechadas e não servem mais de
transposição da quadra.

Conforme implantação (figura 49) em vermelho, estão indicadas as principais alterações


feitas por meio de grades e portões para controlar o acesso ao interior do terreno (o parque
no fundo do vale). Do conjunto de intervenções que compunham o parque linear, o único
equipamento público que não sofreu modificações é a quadra de futebol, que está aberta
ao uso público com dois acessos independentes, um do lado de fora e outro dentro do
conjunto habitacional. Por ser um elemento já existente, podemos supor que o vínculo com
a quadra de futebol estabelecido pela comunidade tem maior relevância do que as outras
áreas do parque e que, portanto, foi um acerto de projeto a sua preservação. O local onde se
encontra a quadra é bastante privilegiado para a construção dos edifícios diante da
complexidade do terreno por estar situado na melhor porção dele, mas levando em
consideração o valor agregado ao uso da quadra, o arquiteto Hector Vigliecca optou por
manter seu lugar de origem, o que se mostrou favorável às apropriações posteriores
conforme verificações desta pesquisa.

Figura 49. Implantação com as adaptações em vermelho feitas para controle e acesso ao conjunto,
2016. Fonte: Produzida pelo autor com base na implantação do escritório VIGLIECCA e
ASSOCIADOS.

61
Todas as adaptações feitas no Conjunto Habitacional Parque Novo Santo Amaro V fazem
parte de dispositivos de controle encontrados pelos moradores para gerir tamanha área livre
e sem mediações do estado.

Ou seja, os dispositivos de controle operam em um campo atravessado pela indeterminação,


nas formas não previstas de composição com outros modos de regulação das relações e
conflitos locais, acertos, negociações, um trânsito constante entre mecanismos formais e
informais, entre dispositivos legais e extralegais, nos modos de regulação e gestão dos
ordenamentos locais, dos microconflitos, disputas, atritos que pontilham esses lugares.58

Figura 50. Foto do Empreendimento antes da inauguração, dez. 2012. Fonte: Acervo do Autor.

Figura 51. Foto do Empreendimento, ago. 2016. Fonte: Acervo do Autor.

58
TELLES, Vera. Cidade: produção de espaços, formas de controle e conflitos, 2015, p.34.
62
[CONSIDERAÇÕES FINAIS]

A presente pesquisa buscou analisar os espaços coletivos e públicos de três Conjuntos


Habitacionais do arquiteto Hector Vigliecca, o Conjunto Habitacional Rincão 1989-1992, Rio
das Pedras – Vila Mara 1989-1998 e Parque Novo Santo Amaro V 2009-2012. Dentro da
amostragem das obras realizadas por Vigliecca, critérios que amparam a qualidade urbana
de seus projetos foram elencados para subsidiar a escolha do recorte desses três conjuntos
para as análises. Escolhidos principalmente por conterem a intenção de integrar o espaço
construído privado da habitação com o espaço público da cidade, constituindo espaços de
interstício entre a esfera privada e pública.

Ao olhar mais atentamente para estes espaços intersticiais da obra do arquiteto suscitamos
a reflexão do por que espaços como esses que deveriam ter importância para a cidade
acabam padecendo da lógica do enclausuramento? Os resultados encontrados foram as
contradições entre as apropriações da população e o projeto de arquitetura. Destacando o
papel do projeto como interlocutor das políticas públicas realizadas pela Prefeitura do
Município de São Paulo, como agente de transformação do território, e que por estar
diretamente relacionado a essa demanda também carrega as mazelas das imprecisões de
seus processos.

O estudo das apropriações desses conjuntos ganhou relevância na medida em que a


reflexão sobre o que não é forma contribui para o projeto da forma, ou seja, entender os
principais aspectos que envolveram as alterações dos espaços pode contribuir para o
aprimoramento da prática tanto no projeto de arquitetura quanto nos processos das
políticas públicas para moradia. Baseado nos conceitos formulados por Milton Santos sobre
o espaço, “um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de
objetos e sistemas de ações, como quadro único no qual a história se dá”, tornou-se
necessário, durante a pesquisa, deslindar os agentes conformadores dos espaços para
entender as formas reais de ocupação em que se encontram hoje. Nesse sentido, a partir
da verificação do estado atual das apropriações dos espaços coletivos nos três conjuntos,
amparada nas visitas de campo e nos documentos encontrados, foi possível eleger as
características fundamentais de cada conjunto habitacional que contribuíram para o
entendimento das contradições entre o projeto encomendado e a forma real de ocupação
pelos residentes.

As diferenças e semelhanças encontradas nas apropriações dos espaços coletivos nos revela
que algumas características se repetem e são motivadoras das mesmas ações e que,
portanto, nos dão subsídios para (re)pensar a presença do espaço público nas obras de
habitação de interesse social. Dessa maneira, as considerações finais sobre o presente
trabalho reúnem os principais aspectos encontrados nas análises feitas do que se considerou
mais relevante para subsidiar reflexões. “Relacionar as formas que o pesquisador traz

63
consigo de pensar o mundo, com as formas que se encontra em campo, e com esse embate
das diferentes formas produzir conhecimento”.59

Nessa direção, o primeiro aspecto a ser lembrado é a Autogestão dos Conjuntos


Habitacionais Rincão e Rio das Pedras - Vila Mara. A autogestão se desdobrou em espaços
geridos coletivamente por meio da continuidade da organização dos movimentos sociais
depois de finalizadas as obras, em contraponto a hierarquia como maneira tradicional da
produção pública da moradia, caso do Conjunto Habitacional Parque Novo Santo Amaro V,
onde todas as etapas do processo (localização, projeto, construção) foram definidas pelo
ente público ou agente promotor, construtora e incorporadora. A partir dessa abordagem
podemos comparar as formas de gestão dos espaços dos três conjuntos habitacionais,
chegando à hipótese de que quando construídos por programas de autogestão, mantêm
características favoráveis na organização e manutenção da vida comunitária, pois “os
processos sociais dos grupos que se organizam para produzir coletivamente são muito
distintos dos conjuntos produzidos tradicionalmente e das demandas indicadas para habitá-
los sem um processo anterior de organização”. 60

O segundo aspecto encontrado como indício das contradições entre apropriação e projeto
consiste no tema da Regularização Fundiária e da Propriedade da Terra. Ao depararmos
com a realidade da origem dos terrenos, a hipótese de que a falta de clareza da propriedade,
em decorrência de um longo processo de regularização, se reproduz no uso e não respalda a
intenção do projeto dos espaços públicos, deixando a cargo dos moradores as decisões
sobre ele. A imprecisão legal do pertencimento dessas áreas indica o litígio do poder público
(PMSP) e abre margem para a postura de responsabilidade dessas áreas por parte dos
moradores, resultando em espaços privados, justificativa para sua manutenção e cuidado.
Esse tema se apresentou como entrave nos Conjuntos Habitacionais Rincão e Parque Novo
Santo Amaro V, nos quais os documentos do processo de regularização fundiária
evidenciaram a complexidade da origem desses terrenos. Ao conceber usos simultâneos
entre espaço público de propriedade municipal e provisão habitacional de propriedade
privada com base na imprecisão fundiária, estabeleceu relações precárias com o projeto
arquitetônico e, principalmente, no que tange ao destino dos espaços projetados como
públicos.

A Localização dos conjuntos habitacionais e o papel do automóvel consistem no terceiro


aspecto apresentado como determinante no uso dos espaços coletivos. De acordo com
Villaça, a localização é um produto humano e não um dom da natureza, que adquire valor de
uso e controla a dinâmica da cidade do ponto de vista do tempo gasto de uma localização a
outra, evidenciando o entrave do deslocamento e da luta de classes presente na ocupação

59
FELTRAN, Gabriel. Conversas metodológicas. “Lugares e olhares na produção de saberes: periferias, conflito e
criminalidade violenta na perspectiva etnográfica”, 2016.
60
RODRIGUES, Evaniza. A Estratégia Fundiária dos movimentos populares na produção autogestionária da
moradia, 2013, p.199.
64
do território. Diante dessa premissa, os Conjuntos Habitacionais Rio das Pedras- Vila Mara e
Parque Novo Santo Amaro V estão localizados em regiões pouco servidas de infraestrutura
pública, ou seja, onde não houve investimentos na produção da localização e que por isso
pouco agregou valor de uso a terra. Nesse cenário de quase ausência de elementos urbanos
estruturadores como transporte público é onde o carro e a motocicleta ganham importância
para o deslocamento cotidiano na periferia. Claro que nem todos tem acesso à aquisição do
meio de transporte individual, mas nos registros da presente pesquisa, o carro apareceu
como elemento de destaque na ocupação dos espaços coletivos nesses dois conjuntos
habitacionais que estão mais afastados da infraestrutura urbana e distantes de outras
atividades de emprego, serviço e lazer. No Conjunto Habitacional Rincão, o carro não
apareceu com evidência, os espaços coletivos se mantiveram destinados à convivência e ao
pedestre. Esse dado revela que no âmbito das políticas públicas habitacionais do município
de São Paulo de 1989 -1992, quando transferiu para SEHAB alguns terrenos centrais com boa
localização, próximos à infraestrutura de transporte como o Metrô para provisão de
habitação social, também contribuiu para a mobilidade da população de baixa renda na
cidade, que salvo exceções, sofre com horas de deslocamento e muitas baldeações, devido
à má localização de suas habitações. Diante desses dados, foi possível identificar, na análise
dos projetos e nas visitas de campo, a negligência em não prever espaços de
estacionamento no projeto de arquitetura dos três conjuntos habitacionais encomendados
pelo poder público, dando margem para que o uso do espaço livre destinado ao lazer seja
ocupado por carros.

Seguindo com o quarto aspecto identificado como agente transformador dos usos, as
Dinâmicas Socioespaciais encontradas em campo compõem um sistema de ações sobre os
espaços coletivos dos conjuntos habitacionais abordando questões do tráfico de drogas,
comportamentos indesejáveis, segurança, controle e convivência em condomínio.
Começando pela influência do tráfico de drogas que, segundo Vera Telles, consiste em
práticas e redes sociais que atravessam e compõem a vida de um bairro de periferia e
precisa ser bem agenciada para evitar complicações com a população local, sobretudo, para
evitar ocorrências indesejáveis com a polícia61. Faz parte de um mundo social feito de uma
mistura entre o formal e o informal, o legal e o ilegal, e o ilícito. Vale ressaltar que a gestão
dessas práticas ilegais transborda o seu perímetro local, mas que é definidora de códigos e
ações no espaço construído, como no caso dos Conjuntos Habitacionais Rincão e Parque
Novo Santo Amaro V, em que parte do edifício reservado ao comércio ilícito e que,
portanto, condutas e negociações são estabelecidas na gestão do espaço.

“O fato é que indivíduos e suas famílias transitam nessas tênues fronteiras do legal e do
ilegal, sabem muito bem lidar com os códigos de ambos os lados e sabem também, ou

61
TELLES, Vera da Silva; HIRATA, Daniel Veloso. Cidade e práticas urbanas: nas fronteiras incertas entre o ilegal,
o informal e o ilícito, p.387.

65
sobretudo, lidar com as regras que vão sendo construídas para “sobreviver na
adversidade”...Não se trata simplesmente de sobreviver e levar a vida. Trata-se sobretudo de
contornar – é uma espécie de arte de contornamento – as duas ameaças muito concretas
que se colocam em suas vidas, a cada momento. De um lado, o risco da morte violenta... De
outro, o risco de despencar na condição de “pobres-de-tudo”, a depender da caridade de uns
e outros, público-alvo dos programas sociais ditos de inserção e que , nas palavras de
Francisco de Oliveira, não são mais do que a administração da exceção... Há todo um mundo
social tecido nesses terrenos incertos nas fronteiras porosas do legal e do ilegal, do licito e do
ilícito... É isso o que ainda precisa ser bem entendido se quisermos pensar uma política que
esteja à altura desses tempos em que a exceção se transformou em regra.”62

As práticas informais, assim como os comportamentos indesejados (jovens barulhentos,


pancadão e o skate), que não são legalmente criminosos, mas que são vistos como ameaças,
resultam no controle dos espaços por meio de grades e portões, impedindo que o uso
público se consolide. Somado a essas práticas outro desafio que se coloca na gestão dos
espaços é a vida em condomínio, que se mostra como experiência nova para os moradores.
Algumas formas de organização como a Autogestão abordada anteriormente, tendem a
amenizar os conflitos que a nova forma de morar pode oferecer. E que diante da
comparação dos conjuntos analisados, o Conjunto Habitacional Parque Novo Santo Amaro V
foi o que mais sofreu alterações de projeto, evidenciando os conflitos no agenciamento da
vida em condomínio com as práticas da vida cotidiana na periferia, suscitando a hipótese de
que talvez a organização prévia dos moradores, como na autogestão, pudesse ter
contribuído para amenizar estes embates.

Por fim, o último aspecto elegido como contribuidor para a alteração do uso público para o
privado é a Imprecisão no Projeto de Arquitetura dos espaços de responsabilidade
condominial e de responsabilidade pública. Nos três conjuntos as áreas destinadas ao uso
público se sobrepõem as áreas condominiais, estabelecendo uma relação pouco clara de
quem é a responsabilidade de cuidado e manutenção desses espaços. No Conjunto
Habitacional Parque Novo Santo Amaro V essa relação fica mais evidente diante do Manual
do Morador entregue pela PMSP, no qual estão as instruções e regras de manutenção das
áreas verdes que correspondem ao parque linear.

Todas essas características evidenciadas pela pesquisa contribuem para a reflexão sobre os
litígios dos espaços projetados como públicos na habitação e do porquê de seu fechamento,
impedindo que sejam espaços doados para a cidade. A superposição e entrelaçamento de
múltiplas imprecisões, somada aos agenciamentos práticos da vida cotidiana dos locais de
inserção dos conjuntos nos dão pistas dos processos que motivam as ações de controle
desses espaços por parte dos moradores.

62
TELLES, Vera da Silva; HIRATA, Daniel Veloso. Cidade e práticas urbanas: nas fronteiras incertas entre o ilegal,
o informal e o ilícito, p.391.
66
“De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro
lado, o sistema de ações leva à criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos
preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma.”63

A vontade de que a cidade se transforme em um ambiente menos hostil e com mais espaços
de lazer e contemplação é o desejo primordial para que possamos habitar as metrópoles.
Agregar esses espaços ao lugar da moradia parece ser um recurso ideal. (O croqui) A
marcação do arquiteto Hector Vigliecca sobre a imagem aérea da cidade indica esse desejo,
e também uma formulação propositiva para que essa junção das esferas de vida pública e
privada aconteça, espalhando vários embriões como o Parque Novo Santo Amaro V pelo
tecido urbano.

A estratégia de conceber um espaço público na habitação de interesse social, embora seja


uma tentativa louvável e que poderia ser premissa desse tipo de empreendimento público
diante das análises apresentadas nos revelou que, para que essa prática se consolide de
maneira eficaz, resoluções anteriores ao projeto devem ser levadas em consideração, como
a questão fundiária, a localização, e as dinâmicas socioespacias do território de inserção. De
maneira que as relações estabelecidas entre projeto arquitetônico e espaço construído
sejam claras e mantenedoras do que se pretende conceber como cidade.

Figura 52. Croqui sobre foto área do Bairro Novo Santo Amaro. Autor: Hector Vigliecca

63
SANTOS, Milton. A natureza do espaço, 1996, p. 63.
67
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70
[ANEXOS CAPITULO I]

1. Entrevista com Arq. Hector Vigliecca. Fonte: Acervo do Autor.

2. Entrevista com Arq. Francisco Scagliusi. Fonte: Acervo do Autor.

3. Publicações Originais da Gestão Municipal de São Paulo 1989-1992. Fonte: Arq.


Francisco Scagliusi.

4. Documentos do Processo de Regularização Fundiária – COHAB 2016. Fonte: COHAB SP.

5. Fotos da Visita a campo em janeiro de 2016. Fonte: Acervo do Autor.

6. Desenhos Técnicos VIGLIECCA E ASSOCIADOS. Fonte: Escritório VIGLIECCA E


ASSOCIADOS.

7. Imagens Conjunto Habitacional da Bouça, Álvaro Siza. Fonte: Internet e outros.

71
[ENTREVISTA 01]

Entrevista com o Arq.Hector Vigliecca, enviada em 14 de abril de 2016.

Experiência pessoal:

1. Em sua vida profissional, em que circunstâncias surgiu seu interesse pelo tema da
moradia?

O interesse sempre foi o de encontrar caminhos de trabalho. E alguns caminhos de trabalho,


como este de habitação de interesse social, dependem diretamente das oportunidades que
o poder público gera. No Uruguai, foi o Plano Nacional de Habitação e a atuação oficial de
gerenciadores que articulavam as cooperativas para todos os procedimentos necessários
para poder gerar um projeto e uma obra. Eu me interessei por moradia porque era um
caminho de trabalho que surgiu pelo Plano Nacional de Habitação. Sempre me interessei
pela grande escala.

2. Sua vinda ao Brasil foi por motivos profissionais envolvendo a habitação social?

Não, foi fundamentalmente uma oportunidade de trabalho de outra escala.

3. Como ocorreu a possibilidade de enfrentar o tema da habitação social no Brasil?

Ocorreu no governo da Luiza Erundina (1989-1993), quando o professor e arquiteto Antônio


Carlos Santana atuava na Secretaria de Habitação e se abriu uma nova oportunidade através
de concursos nacionais que nos permitiu acessar esse tema. Eu esperava por esse tema, pois
já tinha experiência na área.

4. Como foi adaptar sua experiência uruguaia às condições e circunstâncias brasileiras?

Eu não adaptei, foi a prefeitura que adaptou. As ideias do CCU (Centro Cooperativista
Uruguaio) foram absorvidas por brasileiros como Nabil Bonduki, que teve contato muito
importante em Montevidéu e algumas pessoas do CCU vieram trabalhar em São Paulo.

Conjunto Rincão

1. Como ocorreu seu envolvimento com o projeto para o Conjunto Rincão?

A prefeitura promoveu um concurso e nós não ganhamos, mas fomos premiados. Então, a
prefeitura distribuiu os cinco primeiros projetos entre os premiados e ficamos com Vila Mara
e Rincão.

2. Na ocasião, quais foram suas principais premissas e critérios?

72
Como sempre, minhas premissas e critérios foram como esses grandes conjuntos
habitacionais se entrosam com as condições urbanas pré-existentes, como se interligam. Em
nenhum dos casos tentamos fazer projetos isolados do entorno. Pelo contrário: foram
projetos nascidos do entorno.

3. Na ocasião, quais foram suas principais referências projetuais?

Não diria que utilizei como referência, e sim que utilizei como sabedoria o projeto da Galeria
Uffizi, em Florença, do arquiteto Giorgio Vasari (1511-1574).

4. Houve envolvimento da comunidade, dos futuros moradores, durante o projeto?

Sim, liderado pela prefeitura.

Balanço atual

1. Como você vê hoje sua primeira obra habitacional executada no Brasil? Considerando o
que você pensou e projetou, o que deu certo e o que deu errado? Vejo a obra com olhar
crítico. A análise do que deu certo e do que deu errado deve ser feita conjuntamente com o
poder público. Se eu fizesse o mesmo projeto hoje, o faria do mesmo jeito.

2. O que você levou, dos pontos de vista projetual e conceitual, de sua experiência em Rincão
para os projetos posteriores?

Do ponto de vista projetual não levei nada. Em particular, apenas levamos uma experiência
diferente. Nos projetos posteriores utilizamos os mesmos conceitos, mas nunca o mesmo
projeto. Não repetimos o mesmo projeto.

3. No artigo “A valorização da arquitetura: conjunto Rincão em São Paulo, uma experiência


para ser lembrada.” Você menciona que “ao projetar não se pode deixar a configuração do
espaço coletivo para a parte mais frágil”. Você poderia desenvolver essa ideia?

Isso significa que não podemos deixar que as áreas de espaço coletivo, como praças,
avenidas e arborização pública, por exemplo, sejam definidas posteriormente pelos
habitantes, pois não dispõem de condições econômicas nem técnicas para isso. É possível
deixar parte das unidades habitacionais para serem complementadas pelos moradores, mas
as áreas de espaço coletivo, não.

4. Considerando o período que separa a concepção de Rincão, sua ocupação e uso ao longo
dos anos, quais são os aspectos que você não levou em conta e que foram incorporados pelos
moradores e impostos pelas circunstâncias?

Não foi levado em conta o fechamento da área como um condomínio fechado, como
ocorreu.

73
[ENTREVISTA 02]

Entrevista com o Arquiteto. Francisco Scagliusi realizado no dia 22 de junho de 2016.


Arquiteto Francisco Scagliusi foi diretor de HABI Leste no governo de Luiza Erundina de 1989
a 1992

01. Onde e quando se deu sua formação de arquiteto?

F. Sou formado em arquitetura e urbanismo pela Universidade Mackenzie, fiz o curso no


Mackenzie e conclui em 1980; posteriormente eu estava no programa de pós-graduação
1987, estava no mestrado da USP, aí eu tranquei o mestrado e só fui retomar em 2006. Em
2006 eu fiz doutorado direto pela USP também, conclui em 2012.

M.E qual foi seu tema de mestrado e doutorado?

Foram os processos de expansão periféricos de São Paulo, o título da tese é meio longo, mas
ele se chama: Urbanização de Fronteira, práticas da apropriação do espaço nas regiões mais
pobres da cidade de São Paulo, é o caso de dois assentamentos no extremo da zona leste do
município. A tese está disponível no site do escritório e no banco de teses da USP. É
justamente uma tese que pensou não a periferia mas pensou a fronteira, a periferia como
um processo que já aconteceu, já teve um desdobramento, um desenvolvimento na cidade
de São Paulo, a formação periférica da cidade de

São Paulo. E eu fui estudar processos que ocorrem da década de 80 em diante.

02. Qual o período em que você trabalhou na Prefeitura de São Paulo?

F. Os quatro anos da gestão da Luísa Erundina, de 1989 a 1992. Fui convidado porque tinha
contato com pessoas que lidavam com a questão habitacional, como no caso a Ermínia
Maricato, Nabil Bonduki, nós éramos conhecidos já. E aí quando a Luísa Erundina ganhou as
eleições em São Paulo, se constituiu uma equipe para pensar a questão habitacional na
cidade, pensar um programa habitacional com diversas frentes. E aí eu fui convidado pelo
Nabil e pela Ermínia para integrar a equipe.

03. O que você destacaria na atuação da Secretaria de Habitação durante a gestão


Erundina?

F. A secretaria de Habitação foi exemplar na produção de uma política habitacional para o


município que não existia até então. Essa política tinha várias frentes, ela pensava, por
exemplo, em intervenções em favelas, especialmente em favelas com áreas de risco,
naquela ocasião teve uma favela, acho que a Nova República, houve um deslizamento,
morreram pessoas, a prefeita chamou todo mundo para discutir essa questão, então houve
um mapeamento das áreas de risco e se começou um programa de intervenção nessas

74
favelas, não só nessas favelas que estavam em risco, mas naquelas favelas onde existia
algum tipo de organização social, onde tinha alguma interlocução com os moradores, então
essa era uma parte do programa. O outro programa era o de mutirões, que era um
programa muito avançado da prefeitura, ou seja, a produção de conjuntos habitacionais com
os movimentos sociais organizados era fundamental na época para o trabalho da prefeitura,
e pra poder avançar nesse programa, a prefeitura estava incluído contratar assessorias
técnicas para os movimentos, quer dizer, para os movimentos terem autonomia de discutir
projeto, desenvolver propostas de projeto, indicar áreas para compras e desapropriação
pela prefeitura, a prefeitura tinha muitos poucos recursos naquele momento, mas com os
recursos que tinha ela produziu conjuntos habitacionais; juntamente existiam pelo menos 70
escritórios de arquitetura contratados pela prefeitura, depois eu vou te mostrar umas
revistas que tem aqui dos programas habitacionais da prefeitura daquela época.

Então tinha o programa de urbanização de favela, tinha o programa avançado de mutirão


com todas suas assessorias técnicas, tinha o programa de cortiços- de intervenções em
cortiços na cidade de São Paulo, que tem ainda um percentual razoável de população
encortiçada na cidade; é gigantesca a quantidade de moradores de favela na cidade de são
Paulo, hoje deve estar em torno de dois milhões de habitantes ainda, mesmo com todas as
intervenções.

Havia o programa de produção de unidades habitacionais por empreiteira, ou seja, existiam


recursos oriundos de uma lei que se chamava Lei das Operações Interligadas, então esses
recursos iam para um fundo que era o FUNAPS e esse fundo contratava obras, para poder
fazer processos de urbanização e desadensar favelas, pra poder ter intervenção dentro
dessas favelas, ou seja, era um amplo programa habitacional que buscava pegar todas essas
frentes onde a questão habitacional era central, era problemática, como as ocupações de
favela em fundos de vale, área de risco, seja risco por deslizamento, riscos por fundo de vale
ou enchente, por exemplo, é um risco também, risco de vida, barraco implantado em lugar
que é fundo de vale, vem uma enxurrada leva tudo o que está na frente; atacar a questão
dos cortiços , melhorar significativamente a condição habitacional, a qualidade ambiental
desses cortiços, uma questão muito difícil porque ali você tinha sempre uma figura
escamoteada que era o proprietário que locava e sublocava e tinha sempre um tenente lá
dentro gerenciando essa população, a questão da produção de novos empreendimentos
habitacionais, ai vinha a empreiteira mesmo, que é o caso do Rincão, o Rincão se incluía
numa demanda típica de movimentos sem-terra da Zona Leste que a gente discutiu, quer
dizer, essa questão era central, a questão da participação do processo participativo na
prefeitura de São Paulo na gestão do PT da Luísa Erundina, a questão da participação era
uma questão central, em todos esses programas havia um forte processo participativo, e o
Rincão não escapou disso, o Rincão é produto de uma ampla discussão com o movimento
sem-terra da Zona Leste, houve muitas assembleias, reuniões nos auditórios, no auditório
da administração regional da Penha que tinha uma sede grande, um auditório grande, então
a gente discutiu o projeto, esse projeto foi desenvolvido pela minha equipe, na época eu era
75
o Diretor da Divisão Habitacional Leste, e eu tinha uma equipe lá de arquitetos, assistentes
sociais, engenheiros, a gente deu uma melhorada na equipe antes de reestruturar todo o
quadro, todo o setor habitacional da prefeitura, que era tudo muito precário , era
precaríssimo, a gente transformou aquilo lá num órgão pra intervir mesmo na cidade. Enfim,
o Rincão foi produto de uma ampla discussão com a população, ele foi inspirado inclusive
em alguns projetos do arquiteto português Álvaro Siza. O Siza tinha essa questão de colocar
o acesso de algumas unidades habitacionais no rés do chão, logo no nível da rua, no nível da
calçada, possibilitar uma integração entre as habitações e o espaço público, e ele (o Rincão)
foi inspirado em alguns projetos do Álvaro Siza, e isso foi muito interessante. E aí, com bases
nas demandas que tinham, quer dizer, esse terreno era um terreno produto de uma área
dominial, quer dizer uma área que é remanescente de processos de desapropriação da
prefeitura ou do governo do estado, em especial aqui, acho que foi Metrô, quer dizer tinha
uma faixa de desapropriação pra construção da linha do metro e pra construção de outras
avenidas, essas avenidas marginais, e normalmente essas desapropriações abrangem áreas
que são maiores do que o necessário, sobram espaços, esses espaços se chamam bens
dominiais, você vai poder inclusive ter em detalhes essas informações, essa informação
especificamente não, mas esse contexto da política habitacional do município você vai poder
obter na revista AU nº33, é importante você pegar esse texto.

Mas o Rincão foi produto especificamente de uma discussão de um processo participativo


em que tinha o movimento da zona leste, os sem-terra da zona-leste em que após, sete, oito
, nove , dez assembleias com eles, nós propusemos uma tipologia habitacional que é a
mesma tipologia que a do Rincão, é essa tipologia que está publicada até hoje, e
propusemos um empreendimento se eu não me engano com 308 ou 310 unidades, num
terreno de 10 hectares cortado pelo córrego do Rincão, perdão, um terreno de um hectare
e 10mil m² no córrego do Rincão, isso é uma densidade bastante grande do ponto de vista, a
gente tinha que atender um número muito grande de pessoas então o Rincão é uma
proposta de um empreendimento habitacional pra habitação popular, habitação de
interesse social em que ele não é verticalizado, tem térreo e mais três pavimentos, mas ele
tem essa característica de ser muito denso, a tipologia, o desenho da implantação conseguiu
alocar 310 famílias em 10mil m², essa é uma densidade elevadíssima, a cidade não tem essa
densidade, a cidade de São Paulo é uma cidade pouco densa, uma cidade de baixa
densidade, isso pra pegar um conceito em que você divide população por superfície,
população por área, você tem tantos habitantes por km², tantos habitantes por hectare, São
Paulo é uma cidade rarefeita ainda, São Paulo é uma cidade muito espalhada, muito
espraiada, é da história da cidade de São Paulo ser espraiada, não que ela tivesse sempre
sido espraiada, ela já foi uma cidade compacta no século retrasado, mas isso não vem ao
caso agora. O fato é que a cidade tem locais muito verticalizados, de alta densidade, por
exemplo o bairro de Higienópolis; o centro da cidade de São Paulo por exemplo tem trechos
em que existe uma forte densidade habitacional, o Rincão se enquadra nessa perspectiva de
ser um projeto que tinha que atender um número significativo de pessoas, ai ele tem essa

76
característica de dupla geminação, as unidades são geminadas lateralmente e pelo fundo, e
nelas, na verdade, a organização espacial do conjunto se dá pelos acessos que são públicos,
que formam ruas de pedestre onde você acessa as unidades; unidades são acessadas
diretamente por essa rua de pedestre e unidades que são acessadas através de uma escada
na ponta do renque, essa escada leva pra um outro pavimento e a partir desse corredor de
acessos tem a última unidade, que é uma unidade de um dormitório no topo do edifício,
mas é um edifício baixo, justamente pra não criar esse efeito túnel e tudo mais; então esses
aspectos foram discutidos com a população e nesse momento nenhum outro arquiteto
externo à prefeitura, por exemplo Vigliecca, o Hector Vigliecca que é um grande arquiteto, o
Bruno Padovano que são amigos meus, eu conheço ambos, eles trabalhavam juntos na
época, mas eles não participaram desse processo, eles não tem conhecimento dessa história
mas como a possibilidade de a gente desenvolver projetos na prefeitura era muito precária,
a gente tinha poucas instalações, pouca gente trabalhando e muita coisa pra fazer, nós
convidamos os escritórios de arquitetura que já tinham essa abordagem da questão
habitacional pra desenvolver esses projetos, então é o caso, por exemplo, o Rincão - foi
convidado o Padovano e o Vilgliecca pra desenvolver o projeto executivo do Rincão, a gente
entregou pra eles um projeto básico, eles fizeram algumas alterações na implantação, é
verdade, propuseram, mas a tipologia o desenho das edificações é produto de um trabalho
em equipe que eu coordenei.

04. O que você fez antes e depois de trabalhar na Prefeitura?

F. (Desculpe, eu me esqueci de falar isso,) Na verdade eu passei muitos anos como assessor
de movimento popular, fui conhecer pessoas ligadas à habitação popular como o Nabil
Bonduki, no trabalho de assessoria independente que eu fazia na Zona Sul. Eu fui assessor de
dois movimentos de moradia, o Parque Fernandes e o Parque Santo Antônio. Então na
verdade eu fui convidado por uma pessoa conhecida em que grupos de reivindicantes de
habitação, movimento popular, estavam tendo uma enorme dificuldade pra discutir com a
COHAB projetos habitacionais lá na Zona Sul, e ai uma pessoa conhecida , eles precisavam de
um arquiteto pra poder discutir essas questões, me indicou, e eu comecei a assessorá-los, eu
saia de São Paulo, aqui da estação Santa Cruz, do terminal Santa Cruz de ônibus, pegava o
ônibus, demorava duas a três horas pra chegar em Guavirituba, Guavirituba exatamente,
que era atrás da represa Guarapiranga no centro Santo Dias da Silva que foi um operário
morto numa das greves em São Paulo na época em que tinha ditadura ainda, e nesse local
eram feitas reuniões com muita gente, muita gente participava, era um momento forte, um
momento que ocorria, de forte organização dos movimentos populares na área de
habitação, saúde, transporte, especialmente de habitação e eles ocupavam terra, ocupavam
terra, se organizavam pra ocupar terra e a partir daí negociar com a prefeitura com os
órgãos que tratavam da questão habitacional na prefeitura, o caso da COHAB por exemplo,
pra implantar projetos habitacionais e um desses projetos era o projeto no terreno dos
adventistas, onde eles produziam produtos como mel, biscoito, da igreja dos adventistas,
mas era uma gleba enorme vazia, uma pressão enorme pra ocupar esses espaços, então eu
77
comecei a trabalhar com eles, discutindo projetos habitacionais exatamente o Parque
Fernandes e o Parque Santo Antônio, e ai eu fui conhecer o Nabil que dava assessoria pro
Grajau, fui conhecer o arquiteto Santana que até hoje dá aula no Mackenzie que também
dava assessoria pra movimentos populares nessa época, enfim, ai a gente foi se
encontrando, se conhecendo, e chegamos a organizar alguns encontros de moradia, então
eu já tinha o histórico ligado a habitação popular, as assessorias de movimentos populares
antes de ir pra prefeitura.

M. E aí decorrente dessa sua atuação com o movimento você foi convidado pelo Bonduki
para integrar a gestão da Luisa Erundina...

F. Perfeito, eu fui trabalhar na Unicamp antes, a Unicamp tem um arquiteto que também dá
aula no Mackenzie que é o Joan Villa, o Villa era do laboratório de habitação da Unicamp e
eu fui indicado pelos movimentos da Zona Sul pra trabalhar na Unicamp, pra desenvolver um
projeto piloto na gleba dos adventistas, treinar a população pra um processo de construção
em mutirão, então o laboratório de habitação da Unicamp era um braço avançado da
universidade, era um órgão de assessoria a movimentos populares inclusive, desenvolvia
outros projetos prestava serviços pra Unicamp, fez inúmeros projetos internos pra Unicamp,
restaurante, habitação dos estudantes, mas tinha também um braço também social,
digamos um braço ligado aos movimentos populares, a gente dava assessoria pra esses
movimentos, ai os movimentos me indicaram para trabalhar na Unicamp, infelizmente isso
não teve continuidade porque teve um desentendimento entre a coordenação dos
movimentos e esse órgão e o Joan Villa, no sentido de que aquela tecnologia que era
utilizada pra fazer as habitações, que era uma tecnologia que inclusive veio do Uruguai, de
pré-fabricações de painéis com tijolo cerâmico e tal, ela se adaptava com os processos de
construção e edificação mas não a tecnologia completa inclusive com painéis pra fazer caixa
d’água e telhado, ela era muito complicada, o manuseio disso, o manejo desses
componentes construtivos era muito difícil, tinha inúmeras quedas, machucava, os painéis
de produção de parede até de lajes sim, esses não haviam problemas, mas laje tem a famosa
laje pré, a famosa vigotinha que é leve, você apoia do lados, faz uma cinta, concreta e está
resolvida a questão da laje e havia uma insistência em manter a tecnologia com todos os
atributos dela e isso gerou um desentendimento, mas, enfim, foi uma experiência muito
válida, foi muito importante.

Conjunto Habitacional Rincão

01. Como surgiu a demanda pelo projeto do Conjunto Habitacional do Rincão dentro da
Secretaria de Habitação?

F. Falei um pouco, mas vou repetir como a questão central na gestão da Luisa Erundina eram
os processos participativos, então a prefeitura abriu um espaço pra todos esses agentes
sociais, pra todos esses sujeitos sociais, eles eram interlocutores do poder público, eram
movimentos que a gente reconhecia como atores, constituídos, válidos, politicamente,
78
socialmente, e tinham um espaço de discussão dessas questões; então o Rincão se enquadra
exatamente como muitos mutirões que houve , o Rincão não era mutirão, mas como muitos
projetos feitos por mutirão em que a questão dessa interface entre o poder público e os
movimentos era fundamental, você ter assessorias técnicas organizadas, embora o Rincão
não fosse um processo de construção por mutirão, não ocorreu desse jeito, mas ele foi um
projeto discutido com a população, então eu e minha equipe lá na Penha, a gente fez
inúmeras reuniões com a população pra definir tipologia, definir o desenho das unidades, a
metragem das unidades até chegar num número mínimo de unidades pra ocupar esse
terreno porque a demanda era muito grande, era muita gente precisando de casa.

M. E esse movimento de moradia já era um movimento constituído, já tinha uma


organização de X pessoas que queriam moradia?

F. Os Sem Terra da Zona Leste

M. Quando vocês começaram essa negociação com o movimento, o terreno já existia ou foi
uma conquista ao longo do processo?

F. Não, nesse caso ele já existia, era o que eu estava falando anteriormente. Você tem esse o
Rincão, ele é um remanescente de desapropriação, quer dizer, normalmente quando a
prefeitura ou o estado faz desapropriação pra construção de linha do metrô , construção de
novas avenidas, a área desapropriada é sempre maior, sobra um trecho dessas áreas, esses
trechos tecnicamente são chamados de bens dominiais, eles estão sob domínio da
prefeitura, essa área estava sob esse domínio, sob a gestão da prefeitura, a área existia,
então a prefeitura não teve que desapropriar essa área, não teve que desembolsar um
centavo pra comprar esse terreno, em outros casos ela fez isso, desapropriou, quer dizer,
uma prerrogativa do poder público no caso da prefeitura, do estado ou da federação,
desapropriar áreas para implantar equipamentos públicos, por exemplo, uma escola, uma
creche, um conjunto habitacional, uma estação do metrô, ela pode fazer isso, nesse caso
não foi necessário, quer dizer,

M. Porque já era um terreno público?

F. já era um terreno público.

M. E, por exemplo, como existiam vocês, a equipe de vocês e os movimentos sociais, mas
como é que existiu essa abertura? Como que vocês descobriram que esse movimento social
estava lutando aí? Ou eles batiam na porta de prefeitura e falavam: eu preciso morar em
algum lugar e isso acontecia?

F. Quase isso, mas é um pouco diferente;, na verdade os movimentos foram bater na porta
da prefeitura porque eles apostaram nessa administração

M. na Luisa Erundina,

79
F. Então a Luisa Erundina vem, ela é de formação assistente social, ela lidava com os
movimentos sociais já, ela era funcionária da prefeitura, e havia fortes, no processo eleitoral,
no processo de eleição da Luisa Erundina, ela foi paulatinamente crescendo, ela começou
com o índice muito baixo na campanha, mas foi uma campanha que foi articulando esses
interesses populares, os movimentos habitacionais eram muito fortes em são Paulo, porque
havia uma demanda muito forte por habitação, uma falta absurda de moradias decentes
para as pessoas morarem, movimentos organizados que ocupavam terra, que reivindicavam
habitação antes mesmo da gestão da Luisa Erundina, movimentos na área de saúde,
movimentos na área de transporte e esses movimentos apoiaram essa gestão, quer dizer,
eles foram meio fiel.

(M. Quem elegeu ela, foram esses movimentos.

F. Uma mulher nordestina, funcionária pública, então houve uma forte identidade desses
movimentos com a proposta da Luisa, com a proposta do PT naquela época, e enfim, quando
no primeiro dia em que a Luisa tomou posse eles já estavam lá na porta: “ó agora a questão
é a seguinte, como é que nós vamos resolver a parada saúde, transporte, habitação”; os de
habitação vieram em peso, os movimentos sem-terra da zona leste foram lá em peso,
muitos deles constituídos, já organizados, com propostas e outros que queriam furar a fila
enfim, que não queriam participar de um processo digamos que leva tempo, você atender o
movimento, mexer com a questão da terra, a questão fundiária é uma questão central na
questão habitacional, você não faz habitação só construindo casinha, construindo prédio,
por melhores que sejam os projetos, sem o solo, sem a terra, sem o lugar onde você pisa,
não tem a questão habitacional, a questão fundiária é central. Então esses movimentos
sabem disso, talvez eles não saibam teoricamente como a gente, não tem essa linguagem
técnica que a gente tem, mas eles ocuparam terra de monte na cidade de São Paulo, a
quantidade de ocupações de invasões de terra foi gigantesca nos anos 1990 e continua
porque sem o terreno como é que você vai construir?

02. No projeto construído as vias aparecem abertas, sem a atual portaria. Alguém ou algum
órgão estabeleceu premissa ou diretriz de projeto para os espaços coletivos/públicos?

F. São duas coisas, a primeira é que no processo de regularização do Rincão, eu estive


algumas vezes lá, acompanhei durante alguns anos o processo de pós ocupação; a questão
condominial tem duas vertentes, ela tem uma que está ligada à questão de que isso de fato
é um condomínio, ou seja, ele tem espaços cuja propriedade é comum, não pública, e tem
espaços cuja propriedade no fim do processo de regularização vai ser individualizada, ou
seja, morador de uma determinada unidade vai ter o documento de propriedade, vai ter
uma escritura atestando que ele é o dono da unidade, nesse sentido funciona como
qualquer outro condomínio que está regido por uma lei federal de 1964, acho que é 5.692
que rege a produção de condomínios, que rege a produção condominial, então aqui é um
condomínio, é um condomínio porque você tem um terreno, nesse terreno foi construído

80
um conjunto habitacional, esse conjunto habitacional tem áreas comuns e áreas privativas;
a outra questão é a questão do acesso, da segurança, então ele foi pensado na verdade com
algum controle de acesso que não seriam ruas efetivamente públicas, não sei como vai ser
no processo de regularização isso, mas enfim, esses acessos aqui deveriam ter algum
controle justamente pra você ter algum nível de segurança, não adianta pensar nisso daqui
como um espaço totalmente aberto voltado pra rua que geraria um conflito interno do
ponto de vista do uso do espaço que passa a ser incontrolável.

M. Então já no projeto isso foi pensado?

F. Foi, foi pensado com algum controle sem dúvida.

M. Justamente esse é o ponto X da minha pesquisa, porque a gente ouve o Vigliecca falar
que era um espaço público e foi fechado, que as pessoas fecharam, então eu queria
entender se ele é concebido como público mesmo ou se ele foi concebido já como espaço
condominial? Para poder deixar as coisas mais esclarecidas também e não tão somente
colocar a responsabilidade nos moradores do conjunto. Outra questão é a questão do
córrego, porque aqui no projeto aparece sem portaria etc., então se você puder comentar
um pouco sobre essas questões e tiver conhecimento sobre isso, para mim é bastante
importante.

F. Então, os processos de regularização fundiária são bastante complexos, aqui inclusive; pro
município poder alienar um bem tem todo um processo, alienar é vender, pra poder
transferir a propriedade de um bem que é público e alienar esse bem e torná-lo privado em
benefício de alguém, em favor de alguém, gera um processo de regularização fundiária e
edilícia também, fundiária porque tem a questão da propriedade da terra, que tipo de
propriedade é, se trata-se de uma propriedade pública, privada, que tipo de bem público
que é? Eu já mencionei que é um bem dominial, ele não é uma área pública strito senso,
área pública é definida na constituição, o que é um bem público, rua é um bem público,
praça é um bem público, outros bens são públicos também. Nesse caso, se trata de um
remanescente de desapropriação, um bem dominial, a prefeitura tem enormes dificuldades
de transferir a propriedade para os moradores, ela pode transferir a posse precariamente,
mas transferir a propriedade é um processo mais difícil, ainda mais porque aqui foram
pensadas áreas comerciais, então, não tinha como ,digamos, naquele momento alienar essas
áreas, vender essas áreas comerciais, e torná-las como propriedades dos moradores, como
uma propriedade comum dos moradores que poderia ser locada, alugada, em benefício do
condomínio. A questão é que ela deveria ser sempre tratada aqui do ponto de vista
condominial, por quê? Porque acho que tem duas questões, a questão de controle
segurança e a questão de como você organiza o processo de manutenção e gestão dessas
áreas, gestão é um termo até melhor, mas a questão da manutenção é fundamental porque
existem despesas aqui que são comuns, por exemplo, fornecimento de água, tem uma caixa
d’água aqui, uma torre de caixa d’água, não está individualizada, então isso é algo que tem

81
que ser tratado coletivamente, a questão de iluminação das áreas comuns também é uma
questão que implica limpeza, implica um arranjo coletivo, implica regras de uso desse
espaço, quer dizer, ai, eu desconheço um pouco a fala do Vigliecca com relação que isso aqui
foi fechado, que essas ruas deveriam ser públicas, o Rincão não foi pensado desse jeito, o
Rincão foi pensado como conjunto habitacional com espaços públicos generosos, quer dizer,
com ruas de acesso bem largas, se possível arborizadas, que constituem o acesso às
edificações, mas são também espaços de transição entre o público e o privado, quer dizer
espaços de transição entre, digamos, o que é a rua, o que é um espaço público stricto sensu
e que são espaços coletivos mas de apropriação privada pelos moradores;, não foi pensado,
eu que sou autor do projeto não pensei esse espaço como espaço público, talvez eles
quando desenvolveram o executivo tiveram a ideia de tornar esse espaço público, mas eu
acho que não vai acontecer isso, no fim do processo de regularização, é lamentável que isso
não esteja regularizado até hoje, isso daqui deve se tornar uma propriedade condominial,
está certo, nos termos da legislação que rege a propriedade condominial, ou seja isso aqui
vai ter áreas comuns e áreas privadas, e se possível essas áreas comerciais também, é
interessante que tenham áreas comerciais que gerem renda pro condomínio, pra
manutenção do condomínio; a questão do córrego também tem uma prerrogativa da
prefeitura, esse córrego está canalizado, como ele está canalizado, essa APP desse córrego
está descaracterizada, quer dizer a rigor você teria que ter uma APP do córrego do Rincão,
você não poderia ocupar essa área, mas é uma prerrogativa da prefeitura discutir essas
questão, quer dizer essa APP é discutível porque ela já está dentro de um processo
avançado de urbanização, o córrego está todo emparedado, canalizado a céu aberto mas
esta canalizado. Então, ele já descaracteriza completamente essa APP e aí era uma
prerrogativa da prefeitura ocupar o empreendimento dessa forma.

03. Quais foram as referências projetuais para o projeto do Rincão? Algum projeto
habitacional específico?

F. Então, muito inspirados nesses projetos do Alvaro Siza, eu preciso lembrar exatamente
qual projeto do Siza, que não está em Lisboa, não está no Porto, é alguma outra cidade que
eu não estou lembrando agora.

M. É o da Bouça?.

F. Um deles é o da Bouça, ele usou e brincou bastante com essa tipologia, com essa tipologia
de sobreposição, na verdade é uma tipologia de sobreposição, então havia a ideia de uma
das prerrogativas que foram discutidas com o movimento, com o sem-terra, era de que esse
conjunto seria um conjunto horizontal, não seria prédio porque as questões ligadas à
gestão e manutenção condominial de prédio são bastante complicadas para população de
baixa renda, então a primeira premissa era que fosse um conjunto sem uso de elevador, e
que a gente pudesse sobrepor e justapor unidades habitacionais, a gente discutiu isso com a
população, foi fazendo desenhos, foi fotografando esses desenhos e projetando em slides na

82
parede, em tamanho gigante, num telão enorme que tinha lá no auditório da prefeitura,
para as pessoas poderem analisar o projeto e entender a concepção do projeto, que não ia
ser prédio pra evitar altos custos de manutenção como elevadores, mas que teria que ter
sobreposição de unidades, justamente pra caber um número grande de unidades, ou seja,
não poderia ser casinha individual, se fosse casinha individual não dá 30 casinhas, “vocês
querem quanto? 30 casinhas? cabem 300 no estudo que a gente está fazendo, o que nós
vamos fazer, são apartamentos, mas que você acessa a pé os apartamentos”, então o
movimento optou por essa solução, a gente apresentou essa solução inspirada nas
propostas do Álvaro Siza, apresentou para o movimento e eles gostaram da ideia, gostaram
porque era um apartamento, digamos, um apartamento que tem uma área que hoje não sei
se é praticável, mas uma área razoável, dormitórios de bom tamanho em que cabem de fato
duas camas de solteiro, armário, abre porta de armário, sala onde cabe mesa, essa coisa
toda, sofá...

Eu acho que a prefeitura naquele momento deveria ter feito o que a gestão do Haddad está
fazendo agora, que é o programa de locação social, porque o que acontece: esse conjunto
foi produzido para pessoas de baixa renda, pessoas pobres, muitos moradores de favela ou
ocupações de terrenos em condições muito precárias, aí o que acontece, o conjunto ficou
pronto foram entregues as unidades. Uma pessoa dessas numa situação de crise ou de
carência, ela vai abrir mão dessa unidade habitacional, esse conjunto está a 100metros da
estação Vila Matilde do metrô, ele tem um processo de valorização que é inerente a
localização dele, a localização dele é muito privilegiada, muita gente da população original
que estava aqui saiu, por quê? Porque chega alguém lá e faz um contrato de gaveta, “você
quer 20 mil reais” naquela época, hoje o cara deve vender por 100 mil.

M. É então, mas curioso você falar nisso, porque eu encontrei moradores originais e sem ter
procurado, eram pessoas que estavam ali que eram do movimento de moradia desde a
gestão da Erundina.. Talvez não houve essa gentrificação (?), mas as pessoas que eu pude
encontrar lá eram pessoas originarias do movimento, mas com certeza deve ter pessoas que
já venderam...

F. Interessante essa sua observação porque eu pesquisei alguns conjuntos habitacionais


quando eu estava na pós-graduação, e uma das características do que você está apontando,
ter pessoas, famílias que ainda ocupam, que são do movimentam original que deu origem a
esse processo e tudo, é quando esses conjuntos são feitos por processos participativos.
Então o processo participativo pode ser um processo participativo intensivo, caso de
mutirão, em que se discute tudo do começo ao fim, que as pessoas participam do processo
de construção de edificação das unidades habitacionais, o processo participativo não precisa
ser necessariamente isso, mas ele pode ser toda uma discussão do projeto que nem é o caso
do Rincão, que as pessoas não participaram da construção diretamente, acompanharam a
obra, mas participaram de toda discussão do projeto e isso cria um vínculo, isso é uma
conquista, isso cria um vínculo, cria um laço. (M.É uma sensação de pertencimento?) entre a
83
produção desses espaços desses conjuntos habitacionais e os moradores, que é um vínculo
que se estabelece, esse vínculo só acontece porque tem processos participativos, você pega,
por exemplo, a relação dos moradores com esses espaços na manutenção e na gestão, tem a
ver com isso também, eles incorporam essa questão, eles têm isso como uma questão muito
importante, como uma conquista e isso faz toda a diferença.

Você tem o Rincão, que a tipologia se desdobrou pro Rio das Pedras, que é outro conjunto
que o Vigliecca e o Padovano fizeram, se desdobrou pra aquela área também, só que a
organização daquele , o desenho do terreno dessa geometria aqui (rincão) não possibilitava
uma implantação daquela natureza, e aquela (rio das pedras) já é uma implantação com
pátio interno.

M. Porque tem a quadra conformada

F. Exatamente, tem a quadra conformada que aqui (rincão) não tinha, era um coisa mais
linear, então aqui a gente buscou uma implantação pra aumentar a densidade, mas o Rio das
Pedras espelha também nessa tipologia, ai foi projetos deles, do Padovano e do Vigliecca, e
eles se espelharam nessa tipologia pra produzir aquele empreendimento, mas é importante
se tivesse um programa de locação social naquela época, provavelmente você cadastraria
famílias, elas entrariam no programa de locação, a locação é transmitida hereditariamente,
se o pai de uma família vem a falecer, o processo de locação vai ser transferido pros filhos,
er existe um processo hereditário, e com acompanhamento da prefeitura, a prefeitura
podia produzir isso, contratar empresa no caso de conjuntos mais verticais, que fizessem a
manutenção desses empreendimentos, de gestão por exemplo de equipamentos, bombas,
caixa d’água , elevadores, essa coisa toda a um custo baixo, empresas contratadas pra
fazerem isso profissionalmente como tem em outros países do mundo, e ai é locação, não é
propriedade, e ai o cara não pode vender. Porque você teria órgãos da prefeitura que vão
fiscalizar isso daqui (se referindo ao Rincão) como é na França, nos Estados Unidos, Nova
York , tem um amplo programa de locação social;,e foi aprovado o plano diretor na cidade
de São Paulo recentemente, em julho de 2014, mas existe, por exemplo, um dispositivo no
plano diretor que chama cota de solidariedade, empreendimentos acima de 20 mil metros
quadrados são obrigados a destinar 10% do valor do empreendimento pra produção de
habitação social, então isso tem em Nova York há muito anos, não é à toa que se produziu
tantos empreendimentos lá. E como é feito? Locação social. Existe um controle do poder
público de quem está ocupando, o cara não pode vender, se ele quiser vender ele é posto
para fora, ele perde o direito, então ele vai zelar por aquilo, então você bloqueia processos
de gentrificação. Porque esse conjunto é central. Enquanto a família estiver numa condição
que ela precisa de locação social, ela vai ter direito a ocupar aquela habitação.

Escritório Vigliecca e Padovano

84
01. Em qual momento se deu a contratação do escritório Vigliecca e Padovano? E quais os
motivos para a contratação de um escritório da iniciativa privada? Quais os mecanismos
legais e qual o objeto da contratação do escritório Vigliecca e Padovano?

F. Então, eu comecei a falar, o que acontecia, a prefeitura tinha um poder de fogo muito
pequeno, tinha muita coisa para fazer, uma programação habitacional extensa, muita gente
para atender. Então a gente adotou no caso dessa parte da programação habitacional, que
eram obras contratadas por empreitada, ou seja, eram licitações em que a prefeitura licitava
a construção do empreendimento, o Rincão é exatamente esse caso, como o Rio das Pedras ,
como o Vila Mara , e aí o que a prefeitura fez? Cada divisão regional da prefeitura tinha uma
pequena equipe que discutia esses projetos junto com a demanda, junto com os
movimentos organizados, que nem foi o caso do Rincão; a partir dessa discussão produzia
um estudo preliminar e se fosse o caso até o projeto básico, e depois a prefeitura convidava
escritórios de arquitetura que já tinham essa expertise, já tinham essa afinidade para
desenvolver o projeto executivo, esse é exatamente o caso do Rincão, um projeto que foi
feito na subprefeitura da Penha, na divisão de Habi da Zona Leste, da qual eu fui diretor, foi
feita por aquela equipe, posteriormente foi contratado o escritório do Padovano e Vigliecca
para desenvolver o projeto executivo.

Então, as diretrizes básicas do programa estavam sendo cumpridas, era discutir projeto com
a população, definir o tipo de empreendimento que iria ser executado, e a partir daí
contratava escritórios, isso multiplicava nossa capacidade de ação, porque se a gente fosse
ficar desenvolvendo projeto não poderia fazer outras urbanizações em favelas, não poderia
ter intervindo em cortiços, enfim, era muito pouco recurso para uma demanda gigantesca.
Assim como outros profissionais, têm vários outros escritórios fantásticos de arquitetura que
foram convidados. As divisões regionais produziam estudos e convidavam esses escritórios
para desenvolver.

02. . Quais pré-requisitos e solicitações que foram entregues à equipe contratada?

F. Tem dois aspectos, um deles eu já falei, mas tem um aspecto que é o seguinte, a lei de
licitações tem várias modalidades de contratação, tem um negócio que chama carta convite,
concorrência, e tem outra modalidade. No caso de carta convite são contratos menores,
então a prefeitura abre o cadastro de escritórios interessados em fazer esse tipo de
trabalho, e convida esses escritórios, isso está previsto na legislação, então esses escritórios
que estavam primeiro na fila convidados vão, a lógica é ir convidando escritórios que
tenham essa afinidade, que tenham essa expertise, que já fizeram esses projetos, que
estejam incluídos nesse tipo de trabalho com habitação social. Então justamente tem dois
critérios, um deles é esse que estou falando que é o critério de selecionar escritórios e
convidar para desenvolver o trabalho. Agora, esse convite também tem em mente
escritórios que atuam nesse seguimento do mercado, que atuam nesse tipo de trabalho,
nesse tipo de projeto.

85
M. Foi comentado sobre o livro do Hector anteriormente, e ele coloca neste livro essa obra
do Rincão como primeiro projeto dele de habitação social no Brasil.

F. Mas ele já tinha uma tradição, no Uruguai ele já tinha uma tradição com habitação
popular.

M. Eu escolhi esse projeto porque dentro da trajetória dele era o primeiro...

F.É acho que ficou pouco clara essa questão, eles não são, nem o Hector nem o Padovano,
autores do Rincão, eu assino a RRT desse projeto, inclusive, teve que recolher RRT como
responsável técnico pelo projeto, mas enfim eles fizeram o desenvolvimento do projeto,
talvez isso seja uma correção. No livro, eu entro como colaborador, e é o contrário, eles que
são colaboradores. Esse projeto eles receberam o estudo básico feito, eu tenho ele aqui
comigo, o original dele.

M. Inclusive essas perspectivas que você tem quem fez?

F. Foi o Hector que contratou, esses desenhos foram eles que desenvolveram, nossos
desenhos eram de papel manteiga a lápis, mas tinha toda tipologia, a implantação era um
pouco diferente, eles fizeram algumas correções na implantação, ficou muito bom, mas a
tipologia já estava desenvolvida, a tipologia dessa unidade que acessa pelo nível de
pedestres, que você acessa sala, dois dormitórios, banheiro, copa e sai pro quintal no fundo,
o 2º pavimento entra por uma escada comum a duas unidades, reproduz o layout da
unidade de baixo, embora a área esteja na frente porque essa unidade não tem quintal, só
quem está no nível do térreo tem quintal, a outra unidade no 3º pavimento pega um
corredor com escadas na ponta do renque no corredor e entra na unidade, e ai entre cada
duas unidades existe uma escada, onde você acessa uma unidade de um dormitório, essa
unidade tem sempre casais jovens, idosos, idosos ai é complicado, quem não tem problema
de mobilidade acessa, agora pra quem tem problema de mobilidade, provavelmente as
unidades do térreo seriam destinadas as pessoas com problema de mobilidade.03. Você
acompanhou a obra e o projeto do início ao fim? Você chegou a entregar ele?

F. Cheguei, cheguei a entregar, acompanhei. Eu fui diretor da divisão leste, tinham quatro
divisões em HABI, que é o órgão que cuida de habitação social na cidade de São Paulo, devia
ter vinte poucas pessoas trabalhando lá nas quatro divisões CENTRO, LESTE, NORTE E SUL, e
a gente terminou a gestão com quase 700 pessoas trabalhando lá, eram empresas
contratadas para desenvolver projetos, fazer planejamento de obras, detalhamento de
projetos, cronogramas, gerenciamento de obra, ampliou muito as equipes, mas eu
inicialmente fui diretor na divisão LESTE, ai o Nabil me convidou pra vir pra central e fui
diretor da divisão de projetos e obras, e ai depois eu acabei indo para o gabinete pra
assessoria direta do Nabil, tinha lá umas questões empepinadas pra resolver, ai terminei a
gestão como assessor do gabinete.

86
[PUBLICAÇÕES DA GESTÃO MUNICIPAL DE SÃO PAULO 1989-1992]

Figura 53. Capa da Publicação da SEHAB SP, 1992.

Figura
54. Reportagem sobre os Conjuntos Habitacionais produzidos na gestão 1989-1992 com Destaque ao Rincão.

87
[DOCUMENTOS DO PROCESSO DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA]

Figura 55. Oficio da Secretária da Habitação e Desenvolvimento Urbano solicitando transferência de terreno
público para provisão habitacional do Conjunto Rincão, 1990. Fonte : COHAB SP.

88
Figura 56. Documento presente no processo de Regularização Fundiária explica a origem do terreno e os
entraves da desapropriação, 2004. Fonte: COHAB- SP

89
Figura 57. Histórico da Concepção e Caracterização da Solução do Conjunto Rincão, 1990. Fonte: COHAB SP

90
Figura 58. Histórico da Concepção e Caracterização da Solução do Conjunto Rincão, 1990. Fonte: COHAB SP

91
Figura 59. Caracteristicas da Construção, Área do terreno e situação fundiária, Projetistas e gerenciadoras do
empreendimento Urbanismo e Arquitetura: HABI 7 e Padovano e Vigliecca, 1990. Fonte: COHAB SP.

92
Figura 60.Custos do empreendimento e valores em dóllares, 1992. Fonte: COHAB SP

Figura 61. Etiqueta do Desenho de Implantação do Projeto Executivo. Fonte : COHAB SP

93
Figura 62. Implantação Original. Fonte: COHAB SP

Figura 63. Etiqueta com logo do escritório técnico responsável Padovano e Vigliecca Arquitetos. Fonte:
COHAB SP

Figura 64. Dados do projeto, responsável pela elaboração : Hector Ernesto Vigliecca Gani, 1990. Fonte COHAB
SP

94
Figura 65. Matrícula com os lotes originais do terreno onde se encontra o Conjunto Habitacional Rincão.
Fonte: COHAB SP

95
Figura 66.Solicitação de Vistoria a obra, 1992. Fonte: COHAB SP

Figura 67. Fotos da Vistoria outubro 1992. Portaria Construída. Fonte: COHAB SP

96
Figura 68. Registros da Vistoria a obra do Conjunto Habitacional Rincão, 1992. Fonte: COHAB SP

97
Figura 69. Fotos da vistoria de outubro de 1992. Fonte: COHAB SP

98
[FOTOS VISITA A CAMPO 2016]

Figura 70. Vista da Rua Maria Carlota, janeiro 2016. Fonte: Acervo do Autor

Figura 71. Vista da Rua interna junto ao córrego Rincão, janeiro 2016. Fonte: Acervo do Autor

Figura 72. Vista desde o Metro Vila Matilde, janeiro 2016. Fonte: Acervo do Autor

99
Figura 73. Vista da rua interna de acesso aos blocos, janeiro 2016. Fonte: Acervo do Autor
Figura 74. Foto rua interna de acesso aos blocos, outubro 1992. Fonte: COHAB SP

Figura 75. Vista dos blocos a partir do córrego Rincão, janeiro 2016. Fonte: Acervo do Autor
Figura 76. Vista dos blocos, outubro 1992. Fonte: COHAB SP

Figura 77. Acesso aos apartamentos, janeiro 2016. Fonte: Acervo do Autor
Figura 78. Acesso aos apartamentos, outubro 1992. Fonte : COHAB SP

100
Figura 79, 80, 81, 82, 83. Fotos da visita à campo em janeiro de 2016. Fonte: Acervo do Autor

101
Figura 84, 85, 86, 87, 88. Fotos da visita à campo em janeiro de 2016. Fonte: Acervo do Autor

102
Figura 89, 90, 91, 92, 93, 94. Fotos da visita à campo em janeiro de 2016. Fonte: Acervo do Autor

103
Figura 95, 96, 97, 98, 99. Fotos da visita à campo em janeiro de 2016. Fonte: Acervo do Autor

104
Figura 100, 101, 102, 103. 104. Fotos da visita à campo em janeiro de 2016. Fonte: Acervo do Autor

105
Figura 105, 106, 107. 108, 109. Fotos da visita a campo em janeiro de 2016. Fonte: Acervo do Autor

106
[DESENHOS TÉCNICOS CONJ. HAB. RINCÃO - VIGLIECCA E ASSOCIADOS]

Figura 110. Implantação Conjunto Habitacional Rincão. Fonte: VIGLIECCA E ASSOCIADOS

Figura 111. Elevação desde a Rua Alvinópolis. Fonte: VIGLIECCA E ASSOCIADOS

107
Figura 112. Planta 2º pavimento. Fonte: VIGLIECCA E ASSOCIADOS

Figura 113. Corte. Fonte: VIGLIECCA E ASSOCIADOS.

Figura 114. Corte e Elevação interna dos Blocos. Fonte: VIGLIECCA E ASSOCIADOS

108
[IMAGENS CONJUNTO DA BOUÇA E RINCÃO]

Figura 115. Imagem aérea Conjunto Hab. Rincão, 1992. Fonte: Arquitetura e Habitação Social em São Paulo
1989-1992

Figura 116. Imagem Aérea Conjunto Hab. da Bouça.Fonte: https://vakkum.com/2014/06/09/bairro-da-


bouca-alvaro-siza-vieira-portopt/ acessado em junho de 2016.

109
Figura 117. Imagem aérea Conjunto Hab. Rincão, 1992. Fonte: Arquitetura e Habitação Social em São Paulo
1989-1992

Figura 118 e 119. Imagens do Conjunto Hab. da Bouça.


Fonte: https://vakkum.com/2014/06/09/bairro-da-bouca-alvaro-siza-vieira-portopt/ acessado em junho de
2016.

Figura 120. Planta 1º pavimento Conjunto da Bouça, Alvaro Siza.


Figura 121. Planta 3ºpavimentos Conjunto da Bouça, Alvaro Siza.
Fonte: https://vakkum.com/2014/06/09/bairro-da-bouca-alvaro-siza-vieira-portopt/

110
[ANEXOS CAPÍTULO II]

1. Entrevista Dalvacy dos Santos. Fonte: Acervo do Autor.

2. Publicações Originais da Gestão Municipal de São Paulo 1989-1992. Fonte: Arq.


Francisco Scagliusi.

3. Desenhos Técnicos. Fonte: VIGLIECCA E ASSOCIADOS.

4. Reportagens sobre o Mutirão. Fonte: Blog da Folha e Central Zona Leste Notícias.

5. Fotos da visita a campo em agosto de 2016. Fonte: Acervo do Autor

111
[ENTREVISTA 01]

Entrevista com Dalvacy dos Santos, auxiliar administrativa do Conjunto Vila Mara, do
movimento originário do mutirão.

Entrevista realizada no dia 11 de agosto de 2016 e transcrita.

1.Qual o nome da Senhora?

Dalvaci dos Santos

2. A senhora fez parte do mutirão que construiu esse conjunto Rio das Pedras?

Sim

3. Esse mutirão ficou conhecido como mutirão das mulheres, isso é verídico?

É, foi maioria mulheres que trabalhavam que estavam na frente do trabalho, com tudo.

4. E a senhora poderia me contar um pouco a história do mutirão, como foi o processo com a
Prefeitura, quantos anos demorou pra ficar pronto?

Olha quanto essa parte ai, demorou, porque quando eu entrei aqui nós não tínhamos nada,
era um terreno, o pessoal fala que era um brejo, e ai nós ficávamos aqui o dia e a noite,
ainda participei dessa parte, dia e noite, não assim direto, tinha turmas, ficava 4 horas cada
turma e era assim. Ai quando na época da Erundina foi que a gente foi conseguir com ela
tudo o que nós estávamos na luta nossa, foi na Erundina. Ai quando foi, com ela fez, ai
começou a terraplanagem, bate estaca, essas coisas e depois deu continuidade, ai quando
entrou Maluf, ai deu uma parada, não teve verba nenhuma, ficamos parados, ai quando
entrou o Pita que era a mesma coisa do Maluf, mas a gente conseguiu uma verba, na luta a
gente conseguiu, e quando foi o término, não o término ainda, porque ainda faltam algumas
coisas pras pessoas entrarem, porque tinha muita gente que tava ali em cima que estava
precisando e tal, ai algumas pessoas já foram entrando, mas a parte da elétrica e hidráulica
também, e foi fazendo o que tinha mais pras pessoas entrarem, ai foi com a Marta, mas
ainda faltou algumas coisas pras pessoas entrarem, como a telefônica, gás que eles querem
que seja gás encanado, bombeiro etc...Tanto que nós estávamos sem isso até hoje. A
telefônica a gente mesmo fez, para-raios foi feito, mas ai o pessoal roubou, então nós
juntamos e fizemos um rateio e compramos de novo o para-raios.

Então, a parte de trabalho foi assim, alguns profissionais que eram mutirantes, alguns foram
contratados, que tem a parte da obra que é contratado porque são pessoas mesmo que
trabalham na obra, esqueci o nome porque já tem tempo. Ai tem a parte da verba, a parte
dessa contratação da hidráulica, elétrica, tudo isso. E a outra parte que era nós, tinha

112
homem sim, mas era pouco né, e os que tinham os profissionais era por contrato pra fazer
mesmo, pra começar mesmo.

Tem a parte jurídica, que tem a assistente social, o engenheiro, o arquiteto, tudo isso tinha,
que acompanhava, tinha tudo, mestre de obras essas coisas todas, por exemplo, eu também
coodernei um pouco a obra, eu coordenei a parte de limpeza, a parte de transporte, por
exemplo, a parte da massa, pra fazer massa, tinha que estar ali, nunca podia deixar só, as
pessoas tinham que estar ali coordenando, fiz parte disso ai também. Foi uma luta grande
nossa, é que a gente vai esquecendo...

05. E vocês eram do movimento de moradia? Qual era o movimento da senhora? Era sem
terra?

Não o nosso era independente, tanto que a essa parte aqui, tem o outro lá, essa parte aqui
era nossa que era independente, o deles lá era dos sem terra, mas o nosso não. Nós
tínhamos a diretoria. Nós morávamos aqui próximo, a maioria das pessoas era daqui de
perto, tinha a coordenação e a diretoria e era aqui que tomava frente a presidente e a vice-
presidente, eram duas associações, porque como isso aqui é grande e tem muita gente, aqui
são 296 famílias, 296 apartamentos, então tinham que ser duas diretorias, duas associações,
então essa diretoria que estava nas reuniões, mas tinha de frente a Isabel que era
presidente daqui, tanto que o nome dela ainda esta lá, o nosso também, porque ainda tem
muitas coisas pra fazer, a gente ainda não tem aqui, como não esta concluída, eles falam que
vão terminar pra dar o Habite-se, tanto que a gente nem paga ainda.

6. O que não está concluído?

A parte do bombeiro, o gás e o ...

7. E o que você diz que vocês não pagam é a moradia?

É, a gente ainda não ta pagando, porque pra gente pagar eles tem que terminar, e a gente
pagar pra eles darem o HABITE-SE.

É, tem muita coisa, mas agente esquece... Têm quantos anos meu deus, foi em 90 quando
começou a obra foi em 1991, ai já começou os primeiros passos, a parte da alvenaria, que já
tinha vindo a empresa pra fazer a fundação essas coisas, e ai depois foi que entrou a
terraplanagem, bate estaca essas coisas...

8. E o terreno aqui era público ou foi de alguém que foi desapropriado?

Ah, o pessoal fala aqui que foi do Maluf, mas conversa né, você sabe, é da prefeitura né,
porque assim teve um senhor que veio aqui que já foi e ele conheceu os donos daqui, na
hora assim eu entendi ele falando, falou os nomes das pessoas, eu devia ter marcado os
nomes, ele falando que aqui era uma chácara da pessoa, falou o nome da mulher, que acho

113
que a família vai, ai ficou abandonado e que ai a prefeitura pega, daí eu falei imagina, ai
falaram que era do Maluf depois que era do primo do Maluf....

M. Mas se vocês conseguiram na gestão da Erundina, provavelmente não é do Maluf...

Então, mas falam que era, antigamente falavam, mas ai depois que eu tive com um homem
ai na época quando o Maluf foi prefeito, foi quando começou aqui que ele entrou, mas ele já
tinha sido prefeito, ele foi duas vezes prefeito.

E aí dizem uso capião porque pelo tempo, mas dizem que já foi pago, na prefeitura não sei
como que ta essa parte ai. Então isso aqui foi uma luta grande, muito grande.

9. E a senhora sabe por que foi a maioria mulheres que construíram?

Foi, construiu assim, as mulheres faziam parte de carregar massa, bloco, parte da limpeza, a
gente dividia, tinha um pessoal da cozinha, tinha um pessoal pra carregar os blocos e assim
pegava mesmo no pesado, as mulheres pegavam no pesado.

10. E a senhora sabe o motivo de ter mais mulher do que homem?

Eu acho que o homem, assim, não que as mulheres fossem sozinhas, tinham marido, eram
mulheres casadas e tal, mas como os homens trabalham né, tanto que nós tínhamos mais
gente nos finais de semana né, quer dizer durante a semana ficava pouca gente trabalhando,
agora no final de semana tinha vezes que tinha 150- 200 pessoas, pra ta distribuindo os
trabalhos, e era assim, depois vai indo, vai diminuindo.

M. Então as maiorias das mulheres que trabalhavam aqui não trabalhavam em outro lugar?

Não, não trabalhavam em outros lugares, mas tinha mulheres que trabalhavam sim tanto
que te falei que na semana era menos gente, às vezes eram aqueles que estavam
desempregados, entendeu?

11. E quantas pessoas estavam no mutirão construindo?

Devia ter umas cento e poucas pessoas, e chega até 200, porque no começo toda aquela
empolgação, mas depois vai diminuindo, como na semana mesmo não tinha esse pessoal
todo, mas ai então, nós ficamos muito parados por causa da política, a parte da política né é
que parou, porque foi na época da Erundina e da Marta que a gente conseguiu mais, na
época do Maluf e do Pita ai foi só uma verba só.

Eu mesmo recebia muita gente aqui, pessoal que estava fazendo engenharia, os arquitetos,
recebia muita gente, eles gostavam muito, eu levava eles nos apartamentos, e eles gostavam
porque nossos apartamentos são bons viu.

12. E você teve contato com o arquiteto dessa obra?

Sim todos eles, o arquiteto...


114
13. E a senhora lembra o nome dele?

Não o arquiteto que projetou, não. Ele era estrangeiro, mas ele veio aqui pra ver, veio, ele
veio. Ele era estrangeiro, eu esqueci o lugar foi por intermédio do Paulo Teixeira, mas o
arquiteto que acompanhou todo o trabalho eu conheci sim, tinham reuniões com eles e
tudo.

14. E a senhora pode dizer se o pessoal gostou do projeto, se gosta de morar aqui?

Ah sim! Gosta sim, foi uma coisa boa, boa mesmo e nós tivemos a sorte agora de ter tudo
aqui perto, porque na época não tinha, não tinha a estação, construiu nós já estávamos
morando já. Nós participamos de várias reuniões, agora tem o Atacadão.

15. E a senhora lembra quando essa estação foi inaugurada? Quantos anos já moravam aqui
quando foi inaugurada?

Uns cinco anos depois, de quando ficou pronta a obra.

16. E quando vocês começaram a morar aqui?

Foi 1998 a gente começou a morar

17. E esses espaços que são de área comum, é um espaço de lazer? Vocês usam?

Nós temos o salão de festa e só, tem a praça que agora é pra por os carros, muita gente tem
carro, era uma praça, tanto que eu ainda coloquei umas árvores, mas a molecada você sabe
como é, essa parte ai é difícil, muito difícil, era pra ser... Tanto que os outros lá ainda
conseguiram, lá eles têm um controle porque lá eles puseram árvore e ficou bonito... Eu
gosto demais, e ali tanto que tem um negócio redondo que foi retirado.

18. Uma curiosidade, quanto que esta o valor do apartamento aqui?

Eles estão pedindo 110mil, tem gente que pede 120, 130, 140, 150, mas não adianta que
não sai. Isso aqui a gente nem pagou ainda.

19. Essas lojas, esse comércio que tem aqui no térreo, já estava no projeto ou foram vocês
que colocaram?

Já estava no projeto, no projeto tinha salas comerciais, fala assim que eu lembro bem, salas
comerciais, então a gente não usava ai uma sindica que entrou aqui, é porque assim a gente
tem muita dificuldade com o pessoal, até que agora deu uma melhorada, mas mesmo assim
ainda é meio complicado pra pagar condomínio, e essas salas serviram pra ajudar, é uma
ajuda de custo, porque a gente cobra 350 reais.

20. E quando vocês começaram a usar essas salas comerciais?

115
Têm uns quatro anos, até então ficava fechada, nessa daqui que tem a lanchonete era uma
associação de mulheres, mas elas não pagavam nada, tinha advogado e tal, era sobre
mulheres com problemas de marido essas coisas e eles ficaram ai desde o começo que a
gente começou a morar eles estavam ai, ai depois essa sindica lutou pra tirar eles, porque
eles não queriam ir porque eles não pagavam nada...

21. E aqui sempre foi um condomínio? Sempre teve uma portaria desde a inauguração? Ou
esse espaço comum era integrado com a rua?

Não, sempre foi fechado, logo a gente já fechou, quando terminou que a gente já estava
morando era cercado né, o projeto eles queriam uma cerca viva com o paisagista. A portaria
nós já estávamos morando, a portaria não estava no projeto, tanto que pedreiro fez a
portaria.

116
[PUBLICAÇÕES DA GESTÃO MUNICIPALDE SÃO PAULO 1989-1992]

Figura 122. Capa da Publicação da SEHAB SP, 1992.

Figura 123. Reportagem do Conjunto Rio das Pedras Vila Mara. Publicação SEHAB 1992.

117
[DESENHOS TÉCNICOS CEDIDOS POR VIGLIECCA E ASSCOCIADOS]

Figura 124. Planta do térreo Conjunto Hab. Rio das Pedras e Vila Mara. Fonte: VIGLIECCA E ASSOCIAOS

Figura 125. Corte Transversal do Conjunto Hab. Rio das Pedras e Vila Mara. Fonte: VIGLIECCA E ASSOCIADOS

118
Figura 126. Planta 2º pavimento Conjunto Rio das Pedras Vila Mara. Fonte: VIGLIECCA E ASSOCIADOS

Figura 127. Planta das Tipologias. Na ordem: pavimento térreo, 1º e 3º pavimentos, e 2º pavimento. Fonte:
VIGLIECCA E ASSOCIADOS

119
[REPORTAGENS SOBRE O MUTIRÃO DO CONJUNTO RIO DAS PEDRAS – VILA MARA]

120
121
[FOTOS VISITA AGOSTO 2016]

Figura 128, 129, 130, 131. Vista do Conjunto Habitacional Vila Mara desde a estação da CPTM Jardim Helena.

Figura 132. Vista da entrada do Conjunto Habitacional Vila Mara.

122
Figura 133, 134, 135. Vista da rua, entrada e fachada do Conjunto Habitacional Vila Mara.

Figura 136, 137. Comércio no térreo do Conjunto Habitacional Vila Mara.

123
Figura 138, 139. Pátio interno estacionamento do Conjunto Hab. Vila Mara.

Figura 140, 141, 142. Fotos do Conjunto Hab. Vila Mara.

124
Figura 143, 144, 145, 146, 147.Áreas comuns e pátio interno, estacionamento do Conjunto Hab. Vila Mara

125
Figura 148, 149. Fachada dos Blocos vista do pátio interno.

Figura 150. Escadaria acesso ao corredor do 2ºpavimento.

126
Figura 151, 152, 153. Fachadas e pátio interno Conjunto Hab. Vila Mara.
Figura 154, 155. Caixa d’água e esquina Conjunto Hab. Vila Mara.

127
Figura 156, 157. Caixa d’água e fachada Conjunto Hab. Vila Mara.
Figura 158, 159. Corredor 2º pavimento e Entrada das unidades no térreo e 1º pavimento.
Figura 160. Fachada e Comércio no térreo. Figura 161. Vista para o Conjunto Hab. Rio das Pedras.

128
Figura 162, 163, 164. Fachada e circulação interna do Conjunto Hab. Vila Mara.
Figura 165, 166. Comércio no térreo.

129
Figura 167, 168. Escadaria de acesso ao corredor do 2º pavimento Conjunto Hab. Vila Mara.

130
Figura 169, 170, 171, 172. Vistas do pátio interno, estacionamento.

Figura 173. Grades nos corredores de acesso as unidades do 2º pavimento.

131
Figura 174. Vista interna das Caixas d’águas do Conjunto Hab. Vila Mara
Figura 175, 176. Fachada externa do Conjunto Hab. Vila Mara.
Figura 177, 178. Fachada externa do Conjunto Hab. Rio das Pedras.

132
Figura 179, 180, 181, 182. Pavimento térreo do Conjunto Hab. Rio das Pedras.

Figura 183. Escadaria de acesso ao 2º pavimento.

133
Figura 184. Grades no corredor de acesso as unidades do 2º pavimento.
Figura 185, 186, 187, 188. Vistas do pátio interno do Conjunto Hab. Rio das Pedras.

134
Figura 189, 190, 191. Vistas do pátio interno do Conjunto Hab. Rio das Pedras.
Figura 192, 193. Vista interna das Caixas d’águas.

135
Figura 194, 195. Detalhe da fachada e corredor interno do 2º pavimento.
Figura 196, 197, 198. Vistas do pátio interno e áreas comuns do Conjunto Hab. Rio das Pedras.

136
Figura 199. Grades no corredor de acesso ao 2º pavimento Conjunto Hab. Rio das Pedras. Figura 200, 201.
Vistas do térreo Conjunto Hab. Rio das Pedras. Figura 202. Vista interna das Caixas d’águas. Figura 203.
Detalhe da fachada acesso as unidades do térreo e 1º pavimento.

137
Figura 204. Vista do pátio interno do Conjunto Hab. Rio das Pedras.

Figura 205. Vista externa da entrada do Conjunto Hab. Vila Mara.

Figura 206. Vista do pátio interno do Conjunto Hab. Vila Mara.

138
Figura 207. Fachada Externa do Conjunto Hab. Vila Mara.

Figura 208, 209. Vistas do pátio interno Conjunto Hab. Vila Mara

139
[ANEXOS CAPÍTULO III]

1. Croqui Patrimonial do Processo de Regularização Fundiária. Fonte: SEHAB 2016.

2. Ficha Técnica do Assentamento Novo Santo Amaro. Fonte: HAGAPLAN Gerenciadora.

3. Planilha de Financiamento do Empreendimento. Fonte: HAGAPLAN Gerenciadora.

4. Mapa de Localização do Conjunto Habitacional PNSA no município de São Paulo. Fonte: Arq.
Luciano Abbamonte.

5. Desenhos Técnicos do Empreendimento. Fonte: VIGLIECCA E ASSOCIADOS

6. Relatório do Projeto Executivo de Arquitetura. Fonte: HAGAPLAN Gerenciadora.

7. Cartilha entregue aos moradores “Manual do Morador”. Fonte: SEHAB 2009-2012

8. Fotos da visita realizada em dezembro de 2012. Fonte: Acervo do Autor

9. Fotos da visita realizada em agosto de 2016. Fonte: Acervo do Autor

140
[CROQUI PATRIMONIAL]

Figura 210. Croqui Patrimonial. Planta nº602 de propriedade de Nova Santo Amaro Imobiliária e Construtora
Ltda. Processo nº 376.095/78. Arquivamentos da planta em 1982.

141
[FICHA TÉCNICA DO ASSENTAMENTO NOVO SANTO AMARO]

Nome: Parque Santo Amaro V

Endereço: Rua Coelho Lousada

Ano do início de ocupação: 1980

Total de domicílios: 389

Área total: 53.917,51 m²

Propriedade do terreno: municipal

Abastecimento de água: 55%

Esgotamento sanitário: 20%

Vias pavimentadas: 10%

Rede elétrica e iluminação pública: 0%

Índice de infra-estrutura urbana: 20%

Regularização fundiária: irregular

Área de Mananciais: 99,55%

Área de ZEIS: 94,30%

Total de construções: 422

Quantidade de ligações de água: 287

Quantidade de ligações de esgoto: 45

Rede de distribuição: 189,37m

Índice de abastecimento: 42,23%

Índice de esgotamento: 6,80%

142
[PLANILHA DE FINANCIAMENTO DO EMPREENDIMENTO]

Figura 211. Planilha de Financiamento e valores do empreendimento 2012.

143
[MAPA DE LOCALIZAÇÃO]

Figura 212. Mapa de localização. Em vermelho região das nascentes do córrego Embu Mirim onde se
encontra o Conjunto Habitacional Parque Novo Santo Amaro V.

Figura 213. Zoom do Mapa de localização onde se encontra o Conjunto Hab. Parque Novo Santo Amaro.

144
[DESENHOS TÉCNICOS DO PROJETO]

Figura 214. Implantação e Esquema das tipologias.

Figura 215. Fachada interna Bloco 01 e 02.

Figura 216. Fachada externa Bloco 04, Rua Francisca de Queirós.

145
Figura 217. Fachada interna do bloco 04 de frente para a quadra de futebol

Figura 218. Fachada do Bloco 03 e corte do Bloco 04.

Figura 219. Fachada interna Bloco 03.

Figura 220. Corte Longitudinal do Parque, escadarias e pista de skate.

146
Figura 221. Tipologias.

Figura 222. Corte Transversal do Parque. Ruas externas e córrego canalizado.

Figura 223. Corte Transversal Bloco 02. Córrego canalizado.

147
Figura 224.Croqui do corte do Bloco 02, passarela de transposição e parque no fundo de vale. Autor: Hector
Vigliecca.

Figura 225. Croqui da Fachada externa Bloco 01. Autor: Hector Vigliecca.

Figura 226. Croqui da planta e corte da unidade residencial. Autor: Hector Vigliecca.

148
[RELATÓRIO DO PROJETO EXECUTIVO DE ARQUITETURA]

149
150
151
152
153
[MANUAL DO MORADOR]

154
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159
160
[FOTOS DA VISITA REALIZADA EM DEZ. 2012]

Figura 227, 228. Espelho d’água e grafite do Parque antes de sua inauguração, dez. 2012.

161
Figura 229, 230, 231, 232, 233. Registros da visita antes da inauguração do Conjunto, dez. 2012.

162
Figura 234. Espelho d’água e casas remanescentes no terreno, dez. 2012.

Figura 235. Bloco 03 e 04, e a passarela de conexão com a Rua Francisca de Queirós, dez.2012.

Figura 236. Espelho d’água e Parque, dez. 2012.

163
Figura 237. Bloco 03 e 04, e a passarela de conexão com a Rua Francisca de Queirós, dez.2012

Figura 238. Vista da Passarela para o parque com espelho d’água e pista de skate, dez. 2012.

Figura 239. Vista da pista de skate para o Bloco 02, dez.2012.

164
[FOTOS DA VISITA REALIZADA EM AGO. 2016]

Figura 240. Vista Panorâmica do Parque desde a Pista de skate, à direta Bloco 01, ago. 2016.

Figura 241. Vista Panorâmica do Parque desde a passarela, à direita Bloco 01, ago. 2016.

Figura 242. Fachada externa do Bloco 04, Rua Francisca de Queirós, ago. 2016.

165
Figura 243, Figura 244. Fachada externa Bloco 04, instalação de grades e portões nos acessos, ago. 2016.
Figura 245. Entrada do Conjunto pela Rua Francisca Queirós, instalação de grades e portões no acesso, ago.
2016.
Figura 246, 247. Fachada externa e interna do Bloco 04, ago. 2016.

166
Figura 248, 249, 250, 251, 252. Modificações, estacionamentos grades e portões de acesso ao Conjunto Hab.
Parque Novo Santo Amaro V, ago. 2016.

167
Figura 253.Adaptações na rua interna do Parque para criação de vagas cobertas para carros, ago. 2016.

Figuras 254, 255, 256, 257, 258. Áreas externas do Conjunto Hab. Parque Novo Santo Amaro V, ago. 2016.

168
Figura 259. Fachada Bloco 02.

Figura 260, 261, 262.Áreas externas e espelho d’água, ago 2016.

169
Figura 263. Passarela de conexão, ago. 2016.

Figura 264. Adaptações do espaço coletivo com grades e portões, ago.2016.

Figura 265. Fachada externa do Bloco 04, Rua Francisca de Queirós, ago. 2016.

170
Figura 266. Situação atual do espelho d’água, ago. 2016.

Figura 267, 268, 269, 270. Áreas externas do Conjunto Hab. parque Novo Santo Amaro V, ago. 2016.

171
Figura 271, 272. Modificações na área do parque, construção de vagas para carro sob o espelho dagua, ago.
2016. Figura 273. Passarela desativada, ago. 2016.
Figura 274, 275. Instalação de grades e portões no acesso e construção de vagas cobertas na área destinada
ao parque. Ago. 2016.

172
Figura 276. Vista Panorâmica do Parque, ago. 2016.

Figura 277. Vista para a pista de skate, ago. 2016.

Figura 278. Vista Panorâmica do parque, à direita Bloco 01, ago. 2016.

173
Figura 279. Vista do Parque desde o Bloco 01.
Figura 280. Instalação de grades nos corredores de acesso as unidades, Bloco 01, ago. 2016.
Figura 281. Passarela desativada, ago. 2016.
Figura 282. Vista do Parque desde a passarela, ago. 2016.

174
Figura 283. Vista do Bloco 01 desde a passarela, ago. 2016. Figura 284. Instalação de grades e portões nos
acessos, ago. 2016. Figura 285. Vista do Conjunto desde a passarela desativada, ago. 2016. Figura 286.
Instalação de grades nos corredores de acesso as unidades, ago. 2016.
Figura 287. Vista para o parque desde a escadaria do Bloco 02, ago. 2016.

175
Figura 288, 289. Fachada externa Bloco 01 para a Rua Zâmbia, ago. 2016.Figura 290, 291, 292. Instalação de
grades no perímetro e situação atual do parque, ago. 2016.

176
Figura 293, 294, 295, 296. Instalação de grades e desativação das passarelas, ago. 2016.

177

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