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REVISTA DO CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA E AGRONOMIA DA BAHIA ISSN 1679-2866

v. 15, n. 55,
Primeiro trimestre
de 2017

Duas gerações de engenheiros:


muitas mudanças na profissão

Especialistas dão dicas para


quem está desempregado
ISSN 1679-2866
v. 15, n. 55,
primeiro trimestre de 2017

Presidente
Eng. Mec. Marco Antônio Amigo

Diretoria 2015
1º. Vice-Presidente: Engº. Quím. Luciano Sérgio Hocevar
2º. Vice-Presidente: Engº. Civil José de Souza Neto Júnior
1º. Diretor Administrativo: Engº. Agrôn. Jonas Dantas dos Santos
2º. Diretor Administrativo: Engº. Civil Neuziton Torres Rapadura
1º. Diretor Financeiro: Engº. Elet. Carlos Guaracy Santos Nascimento
2º. Diretor Financeiro: Geól. Marjorie Csekö Nolasco
3º. Diretor Financeiro: Engª Agrôn. Catarina Cotrin de Mattos Sobrinho

Encontro de Conselho editorial


Andersson Ambrósio – Engenharia Elétrica
Antônio Arêas – Engenharia Mecânica
Caiuby Alves – Instituto Politécnico da Bahia

gerações Herbert Oliveira – Chefia de Gabinete


Karen Daniela – Engenharia Civil
Manuel Albuquerque – Engenharia Civil
Marjorie Nolasco – Geologia
Paulo Baqueiro – Agronomia
A primeira edição do ano da revista do Crea-BA traz como reportagem Rodrigo Lobo – Engenharia de Segurança
Luciano Hocevar – Engenharia Química
de capa um encontro entre gerações de dois engenheiros civis, que fa-
lam de suas experiências acadêmicas e profissionais, um contraponto Assessora de Comunicação
Daniela Biscarde
entre a realidade analógica e a digital. Eles detalham tanto o processo
de aprendizagem quanto a questão profissional, traçando um paralelo Elaboração
ÉComunicação
entre a Engenharia que se praticava no passado e a de hoje, além de
Jornalista
apontar para perspectivas futuras.
Adelmo Borges
Outra matéria importante trata do primeiro tema da Agenda de Foto Capa
Desenvolvimento Bahia, que é a questão da água no Brasil. O Crea-BA Alex Dantas
vai realizar, pelo segundo ano consecutivo, em parceria com o Instituto Projeto gráfico e diagramação
Politécnico da Bahia (IPB), esse encontro, que debaterá ainda os temas Autor Visual/Perivaldo Barreto
mineração e metalurgia e métodos construtivos. Impressão
Gráfica Edigráfica
O primeiro evento reuniu especialistas locais e até internacionais,
que apresentaram soluções concretas para o problema da escassez Tiragem
45 mil exemplares
e gestão da água. Atualmente são 97 municípios em situação de
emergência na Bahia.
A revista aborda também um tema importante para os profissionais que
estão fora do mercado, que é a preparação para voltar ao trabalho. Para
Nosso endereço
os engenheiros e técnicos, que, há alguns anos, tinham ofertas variadas
Av. Professor Aloisio de Carvalho Filho, 402, Engenho Velho de Brotas
de emprego, passar pelas etapas de recrutamento e seleção pode ser CEP: 40243-620 – Salvador/Bahia
algo novo, por isso a atenção deve ser redobrada para evitar equívocos. Tels.: (71) 3453-8989/Telecrea: (71) 3453-8990
E-mail: revista@creaba.org.br
Duas especialistas explicam em detalhes o que deve ser valorizado e o
www.creaba.org.br
que precisa ser evitado.
As opiniões emitidas nas matérias e artigos
A questão do piso salarial profissional, que completou 50 anos, também
são de total responsabilidade de seus autores.
é tema de reportagem. O presidente do Sindicato dos Engenheiros da
Bahia, Ubiratan Félix, alerta que os profissionais da iniciativa privada
Revista CREA-BA/Conselho Regional de Engenharia e
que não receberem o piso devem entrar em contato com o sindicato. Agronomia da Bahia. Nº 55 (Primeiro trimestre de 2017).
Salvador: CREA-BA, 2006 - ISSN 1679-2866
A lei, entretanto, não contempla os estatutários, por isso os órgãos de
Trimestral
classe lutam para estender o benefício a todos os engenheiros do Brasil.
1.Engenharia. I. Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia da Bahia
Marco Amigo
Presidente do Crea-BA CDU 72:63 (813.8)
CDD 720
crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 3
Foto: Arquivo

36
Engenheiro de produção:
Profissional que planeja e otimiza processos

06 42
Desemprego Entrevista:
Saiba como se preparar para Engenheiro idealiza “laboratório vivo”
voltar ao mercado

14 46
Paulo Afonso
Artigo: Capital da energia e das águas
“50 anos em 5 já”

20
Salário mínimo
profissional
Empresas que não pagam devem
ser denunciadas
Foto: Lelia Dourado
Espaço
do Leitor
Revista do Crea-BA
A revista do Crea é assinatura ou todos os engenheiros
cadastrados no Crea têm direito de receber?
Roberto Farias
A revista é distribuída gratuitamente para todos os
profissionais registrados no Crea-BA que estejam
com sua anuidade em dia.
• Ter sido emitida por profissional devidamente
registrado no Crea-BA no período de execução da
obra ou serviço;
Divulgação de experimento • Havendo empresa executora, esta deverá estar
Gostaria de saber qual é o procedimento para divulgar devidamente registrada no Crea-BA no período de
um experimento na revista do Crea-BA. execução da obra ou serviço;
Francisco Marques • O profissional deverá estar devidamente vinculado
É preciso enviar informações detalhadas sobre esse à empresa executora, perante o Crea-BA, no
experimento. O conselho editorial vai avaliar se tem período da execução da obra ou serviço;
relevância para divulgar. • A ART deverá ser baixada após a conclusão da
obra ou serviço.
As atividades desenvolvidas na obra/serviço e os
O que deve constar no respectivos quantitativos devem ser caracterizados
na ART. Ex.: Projeto de edificação residencial em
preenchimento de uma ART? alvenaria, 2 pavimentos, com 300m2. Projeto
estrutural de edificação residencial 300m2, projeto
Paulo Cerqueira - Salvador
elétrico de baixa tensão para fins residenciais 175 kva.
Consultar o Manual de Procedimentos da ART na
A ART de obra ou serviço apresentada deverá atender página do Confea (Decisão Normativa 085
aos seguintes itens: de 31/01/2011)
• Ter sido anotada antes ou durante a execução da Assessoria Técnica do Crea-BA
obra ou serviço;

Fale conosco
Envie sua mensagem com nome completo, e-mail e telefone para os endereços eletrônicos: revista@creaba.org.br
e anuncierevistacreaba@gmail.com. Lembramos que as mensagens poderão ser resumidas ou adaptadas ao
espaço da revista. Siga o Crea-BA nas redes sociais www.facebook.com/creabahia e Twitter: @CreaBahia.
Para anunciar, ligue para (71) 98748-4682. Edição online no site: www.creaba.org.br.

crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 5


#Mercado de trabalho

Em busca de novas
oportunidades
Com o desemprego em alta, Cristina Voigt,
consultora e especialista em
Psicologia Organizacional

engenheiros e técnicos precisam se


preparar para reconquistar o mercado

O
desemprego no Brasil fechou o ano de 2016 com uma taxa de 12%, segundo dados do
IBGE. A recessão econômica atinge diversas áreas e não é diferente na Engenharia.
Buscar uma recolocação ou um reposicionamento no mercado de trabalho exige um
esforço dos engenheiros e técnicos, que não devem paralisar diante do momento de
adversidade. Especialistas do setor de Recursos Humanos apontam que é preciso ter
calma para enfrentar o momento e também se organizar para buscar novas oportunidades.
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Mercado de trabalho

Para profissionais de uma área que,


há alguns anos estava a pleno vapor,
passar pelas etapas de recrutamento
e seleção pode ser algo novo, por isso a
atenção deve ser redobrada para evitar
equívocos.
É o que alerta a consultora e especialista
em psicologia organizacional Cristina
Voigt. Ela atua há 18 anos na área de
gestão de pessoas, desenvolvendo pro-
gramas para líderes e equipes, além
de atuar há dez como coach junto a
empresas e profissionais que buscam
um redirecionamento de carreira.
O primeiro passo é observar o uso cor-
reto do português no currículo. “As in-
formações no currículo devem ser claras
e objetivas, evitando erros gramaticais
Foto: Clara Feliciano

e de ortografia”, destaca.
A formatação do material, a disposição
das informações e a clareza dos obje-
tivos são outros pontos importantes
Margarida Silva, psicóloga e consultora em carreira
a serem observados pelo profissional.
“Não adianta colocar as suas experiên-
cias, se estas não estão focadas para a
vaga para a qual está se candidatando”, sobre a vaga em mãos, é possível enu- As redes contribuem também para
afirma Cristina. merar as prioridades da apresentação, networking. Essa rede de relacionamento
destacando aquelas experiências que profissional deve ser sempre levada em
Ela explica que é fundamental pro-
estão em consonância com o posto conta ao longo da carreira e pode ser
curar obter conhecimentos sobre a
em questão. um apoio importante na hora de buscar
empresa e sobre a vaga ofertada. “É
uma nova oportunidade de trabalho.
preciso se autoavaliar, repensar metas
profissionais e projetos futuros. Além Comportamento
disso, verificar se o seu perfil é adequa-
Em tempos de redes sociais, é preci- Vagas pelo
do àquela vaga e ser objetivo na sua
apresentação.” A partir das informações
so estar atento ao comportamento,
porque hoje todos são observados. “É
networking
claro que as pessoas precisam ter suas Margarida Silva, psicóloga e consul-
posições, mas assumi-las tem suas con- tora em carreira que atua na área há
sequências. Se você possui uma posição mais de 30 anos, destaca que, hoje,
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contrária à determinada empresa, por mais de 70% das vagas de trabalho são
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adquiridas por meio de networking. “A


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exemplo, é preciso levar isso em conta.


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on

O candidato também escolhe a empre- boa relação que se constrói ao longo


Co
uti

sa”, detalha Cristina. da experiência profissional pode fazer


nho

A forma de se expressar nas redes tam- diferença em um momento de transi-


bém é importante. “Manifestações pre- ção de carreira.” Uma das ferramentas
conceituosas e ofensivas podem ser que ela considera eficientes para essa
mapeadas pelo recrutador da empresa e manutenção e ampliação de networking
isso implica em um ponto negativo para é a rede Linkedin, voltada para troca de
quem está se candidatando à vaga.” A informações entre profissionais, onde
consultora explica que as redes sociais eles apresentam seus perfis.
são hoje uma fonte de informação sobre Em tempos de emprego escasso,
pessoas muito utilizadas por empresas. Margarida recomenda: “Procure ocu-
Portanto, é necessário, sim, fazer um pação, e não emprego. Com a ocupação,
bom uso dessa ferramenta. o emprego virá”. Ela afirma que os pro-
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PREPARE-SE PARA VOLTAR
Atenção ao que Evite exposições
posta nas redes desnecessárias
Muitas empresas estão
de olho nos perfis das
Não tenha vergonha de acionar redes sociais
seus contatos profissionais

Atente-se para não ser inconveniente Cuidado com o que fala:


com contatos profissionais com quem as empresas zelam por
você tenha um nível maior de amizade suas imagens e não vão
compactuar com visões
Lembre-se de separar a amizade preconceituosas e/ou
do profissionalismo sempre agressivas expostas em
redes sociais
Mostre-se disponível
ao mercado

Mantenha as suas
posições e opiniões,
mas seja atento à
forma como você
emite suas impres-
Currículo sões sobre determi-
Use com sabedoria,
pois as redes sociais
nados assuntos podem ser um grande
aliado do profissional
MENAS
Faça uma boa revisão Da mesma forma,
que procura novas
no português, para observe se a empresa
oportunidades no
evitar erros graves também atende às
mercado de trabalho
com o idioma suas aspirações
profissionais
Coloque as informa- Entrevista
ções por ordem de Currículo em papel
relevância, incluindo ainda é válido, desde
seus contatos que a empresa solicite
o material físico.
Filtre informações Mantenha-o sempre
irrelevantes, como atualizado Chegue sempre Organize seus Tenha calma na
cursos extras que não com, pelo menos, pensamentos na hora de responder,
têm relação com sua Seja objetivo e, claro, 15 minutos de hora de se espere sempre a
área de atuação só coloque antecedência apresentar sua vez e deixe o
informações entrevistador
Atente-se a informa- verdadeiras no conduzir a
ções relevantes para a currículo conversa
vaga que você vai
Esteja bem Destaque sempre
disputar Ao enviar currículo por
informado sobre a suas experiências
e-mail, mantenha a
Tenha claro o seu empresa e sobre a mais relevantes
formalidade na lingua-
objetivo para aquela vaga para a qual Evite inconveniên-
gem, mesmo que seja
vaga específica será entrevistado cias e informalida-
encaminhado para um
des, mesmo que a
contato conhecido
Evite enviar currículos vaga tenha sido
para vagas nas quais indicada por um
você não tem perfil conhecido seu
adequado
8 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017
Mercado de trabalho

fissionais devem se fazer presentes no


mercado, por meio de cursos e eventos,
além de procurar desenvolver trabalhos
por conta própria, como em consultoria,
por exemplo. “O mercado é como uma
vitrine: e o profissional precisa vender
o seu ‘peixe’. É preciso buscar oportu-
nidades e gerar demandas.”
No campo da Engenharia, que trabalha
com bens duráveis e, ao mesmo tempo,
passa por constantes atualizações téc-
nicas, Margarida destaca que é preciso
sempre se manter atualizado. “Estudos
de especialistas em recursos humanos
apontam que, em 2025, existirão 70%
de cargos novos, em especialidades que
não existem hoje. Isso reforça que a
atualização constante de conhecimen-
tos é fundamental, não apenas para
quem está em transição de carreira,
mas sim para a vida profissional como
um todo”, diz. É necessário buscar oportunidades e
não ficar paralisado com as dificuldades
Objetividade é Cristina Voigt, consultora e especialista
em Psicologia Organizacional
fundamental meio de um conhecido, é recomendável Margarida compara o currículo ao pre-
Tanto Cristina Voigt quanto Margarida que você mantenha a formalidade se for fácio de um livro. “Você precisa fazer
Silva chamam a atenção para a obje- enviar, por exemplo, seu currículo por com que quem avalia seu currículo te-
tividade, ou seja, o profissional deve e-mail, evitando linguagem coloquial nha interesse em conhecer mais o seu
compreender em que contexto a expe- ou excesso de informalidade.” conteúdo. E é no passo da entrevista
riência dele pode ser útil àquela vaga. Currículo, aliás, que precisa sempre es- que vem essa oportunidade de se apre-
A postura em relação à apresentação é tar atualizado, como o conhecimento sentar de forma mais completa.”
preciso ser observada também. dos profissionais. As empresas, hoje, Cristina Voigt reforça: o profissional
Cristina afirma que a preparação para a cada vez menos, estão desconsiderando deve se mostrar sempre disponível ao
entrevista consiste, principalmente, em o recebimento de currículo impresso. mercado. “Ele precisa ser visto e estar
ter clareza nas ideias e conhecimento A maioria pede o envio por e-mail ou atento às oportunidades. Valorizar-se
prévio da empresa e da vaga. “É bom então disponibiliza um espaço online como profissional e as suas experiên-
sempre se antecipar em pelo menos 15 para cadastro. Margarida aponta que es- cias. E é necessário, principalmente,
minutos.” Ela ressalta que, para quem ses detalhes precisam ser observados. encarar o momento com racionalidade,
tem um bom relacionamento no mer- “Se a empresa tem um cadastro online, buscando oportunidades e solução, e
cado, é fundamental saber separar uma levar o currículo impresso imaginando não ficar paralisado com as dificulda-
amizade da questão profissional. “Se a que seria mais eficiente é um equívoco”, des”, finaliza.
entrevista que você conseguiu foi por exemplifica.

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#Agenda de Desenvolvimento Bahia Foto: Manu Dias Gov BA

10 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017


Agenda de Desenvolvimento Bahia
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Asher Kiperstok, professor

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da Ufba e pesquisador

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Água: um bem
que deveria ser
melhor aproveitado
Especialistas propõem soluções para
evitar o desperdício durante a Agenda de
Desenvolvimento Bahia

A
Bahia registra grandes perdas de água em seu sistema de
distribuição e a reutilização, por parte dos usuários, é praticamente
inexistente. Essa é a constatação do professor do Departamento
de Engenharia Ambiental da Escola Politécnica da Ufba e
pesquisador Asher Kiperstok, engenheiro civil pelo Technion,
Instituto Tecnológico de Israel, e mestre e doutor em Engenharia Química
pela Universidade de Manchester (Reino Unido).

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Ele foi o coordenador do I Fórum Schischa, que abordou o tema “Gestão do
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Theodoro Fernandes Sampaio, que


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Ciclo Hídrico em Regiões de Escassez”.


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integra a Agenda Bahia de Desen- A escolha do representante da autori-


volvimento 2017, uma iniciativa do
dade da água de Israel deu-se porque
Crea-BA e do Instituto Politécnico da
o modelo de gestão institucional e
Bahia. O evento foi realizado no dia 17
tecnológico israelense é um dos mais
de março, no Espaço Cultural Arlindo
Fragoso, na Escola Politécnica da Ufba. avançados do mundo.

O evento debateu diversos aspectos en- De acordo com o presidente do Crea-


volvendo a questão da água, reunindo BA, engenheiro mecânico Marco
especialistas que propuseram soluções Amigo, a Agenda de Desenvolvimento
concretas para o problema. Um deles Bahia foi uma das melhores inicia-
foi o engenheiro chefe do Departamento tivas desenvolvidas pelo conselho
de Companhias de Águas de Israel, Amir nos últimos anos. “Nos fóruns, con-
crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 11
#Agenda de Desenvolvimento Bahia Foto: CBHSF

seguimos reunir profissionais com


anos de mercado, recém-formados
Distribuição onde chove entre 400 e 800 mm por
ano, e leva água para uma região que
e estudantes, propondo uma discus- perdulária chove bem mais, na casa dos 1.800
são benéfica em favor da melhoria da a 2.000 mm por ano.
A questão é complexa e envolve vários
nossa Engenharia”, enfatiza. Apesar de se promover uma trans-
aspectos, entre eles o desperdício e
A segunda edição da Agenda de Desen- o sistema tarifário. De acordo com o posição de águas de regiões menos
volvimento Bahia realizará ainda fó- professor Asher, em torno de metade favorecidas, a água é distribuída
runs sobre Mineração e Metalurgia: da água consumida em Salvador, por de forma perdulária. Segundo o
Sustentabilidade e Desenvolvimento; exemplo, é oriunda da Barragem de Sistema Nacional de Informações
e Métodos Construtivos: Eficiência e Pedra do Cavalo, que por sua vez é de Saneamento (2014); as perdas
Sustentabilidade. Os eventos estão abastecida pelo Rio Paraguaçu. Asher de água na distribuição na capital
previstos para 13 de julho e 19 de lembra que o rio percorre boa parte do estado atingem o astronómico
outubro, respectivamente. do seu curso na região do semi-árido, valor de 48,8%.
“Infelizmente o abastecimento de
água no país continua sendo aborda-

Infelizmente o abastecimento de do pelo viés da gestão da oferta. Isto


é, se falta água, procuram-se novos
água no país continua sendo abordado mananciais, cada vez mais distantes.
Urge introduzir com vigor a lógica da
pelo viés da gestão da oferta gestão da demanda que prioriza um
Asher Kiperstok, professor do Departamento de Engenharia uso mais racional da água promoven-
Ambiental da Escola Politécnica da Ufba e pesquisador do reduções significativas de perdas
e desperdícios”.
12 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017
Agenda de Desenvolvimento Bahia

Na visão do professor, tem que “Observe como isto estimula o


haver um investimento para desperdício.” Asher aponta para
reduzir as perdas nas redes de a necessidade de se ter um valor Agenda debate
distribuição, assim como se es-
timular o uso mais cuidadoso da
para o consumo mínimo mais temas que impactam
adequado, que estimule um com-
água nas edificações e outros
usos urbanos e rurais. “A Embasa portamento mais racional. Talvez na sociedade
não pode se omitir de participar de 5m³ por mês. O presidente do Instituto Politécnico da
na promoção disso. Não é cabível Além da inexistência de uma po- Bahia, o engenheiro eletricista Caiuby
que as empresas de saneamen- Alves, um dos organizadores da Agenda
lítica de conservação da água, o
to continuem entendendo que de Desenvolvimento Bahia, ressalta que o
reuso também não é promovido. principal objetivo é discutir os temas críticos
sua responsabilidade se esgo-
Mesmo em regiões onde o balan- de infraestrutura que envolvem a área de
ta no medidor domiciliar”, diz
o professor. ço hídrico se apresenta negativo, Engenharia e que impactam na sociedade.
Ele acredita que é preciso tam- não se aproveita o esgoto trata- A Agenda teve três encontros no ano
bém repensar o sistema tarifá- do na agricultura, por exemplo. passado e este ano serão mais três, sempre
rio, que considera como consu- Nas cidades ainda se trata a água com especialistas de renome propondo
mo mínimo de uma residência a de chuva como efluente e não soluções para os principais gargalos de nossa
quantidade 10 m³ por mês. Uma economia.
como fonte de abastecimento.
casa com duas pessoas, (mais Esta água, se adequadamente No ano passado, os fóruns debateram
de um terço dos domicílios do estrutura portuária no estado da Bahia,
captada, poderia ser utilizada
país são ocupados por uma ou os impactos da falta de planejamento
para diversas finalidades, como
duas pessoas) pode se conside- para a mobilidade urbana, energia e
rar bem abastecida consumindo descarga de sanitários e outros competitividade de nossas indústrias. A ideia
6 m 3 por mês. Mas mesmo se usos que não requerem um rígido é sempre homenagear um grande engenheiro
ela fizer isto irá pagar por 10m3. controle de qualidade. baiano. Já foram realizados os fóruns José
Walter Bautista Vidal, Carlos Espinheira
de Sá e Vasco Azevedo Neto. Este ano os
homenageados serão Theodoro Fernandes
Sampaio, Sylvio de Queirós Mattoso e
Hernani Sávio Sobral.
Caiuby destaca que as palestras serão
transformadas em artigos a serem publicados
em um livro. A primeira edição deve sair em
julho, com os textos do ano passado.
“Queremos propor um projeto para o Brasil”,
destaca Caiuby, lembrando que poucos
estadistas projetaram o país. Ele cita os
exemplos de José Bonifácio de Andrada,
Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João
Goulart e Ernesto Geisel, este o último que
desenvolveu projetos de longo prazo. “Os
Estados Unidos sempre tiveram projetos, por
isso são essa potência”, destaca o engenheiro.
A ideia da Agenda é socializar o conhecimento
e propor projetos para os principais
problemas do país. “Não podemos ficar
intramuros, como acontece, ultimamente,
com a Universidade, precisamos reunir
expoentes da área tecnológica para propor
soluções viáveis e sustentáveis”, finaliza
Caiuby.

crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 13


#Artigo

50 anos em 5 já:
Ações para a retomada da
Engenharia brasileira
A soberania de um país depende da sua independência Caiuby Alves da Costa,
científica, técnica e tecnológica, tanto na administração engenheiro eletricista e
pública como no setor produtivo – Confea presidente do IPB

Um pouco de história

O
ano de 1955 findou com a eleição de Juscelino Kubitschek, após um
processo conflitante , antecedido pelo suicídio de Vargas. Empobrecido,
o Brasil se caracterizava por uma população majoritariamente rural
(60%) e carecia fortemente de infraestrutura. Nesse momento,
Kubistchek lançou seu Plano de Metas e o slogan 50 anos em 5,
que, entre outras coisas, além das obras de infraestrutura e da construção de
Brasília, pregava a criação das condições da consolidação e do avanço das ações
do governo Vargas: produzir no Brasil o que o país precisava.

Foto: Mateus Pereira Gov Bahia

14 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017


Foto: Adalberto Marques_Ministério da Integração Artigo

O Plano de Metas
englobava:
• Energia (metas de 1 a 5): Energia
elétrica, energia nuclear, carvão, pro-
dução e refino de petróleo;

• Transportes  (metas de 6 a 12):


Reativar estradas de ferro, estradas
de rodagem, portos, barragens, ma-
rinha mercante, aviação;

• Alimentação (metas de 13 a 18):
Trigo, armazenagem e silos, frigo-
ríficos, matadouros, tecnologia no
campo, fertilizantes;

• Indústrias de base  (metas 19 a


29): Alumínio, metais não-ferrosos,
álcalis, papel e celulose, borracha, A partir dos anos 1990, a evolução da los procedimentos não éticos adotados
exportação de ferro, indústria de Engenharia brasileira sofreu as conse- pelas grandes empreiteiras e pela forma
automóveis, indústria de cons- quências das políticas governamentais de condução do processo de apuração e
trução naval, máquinas pesadas, adotadas, alternando períodos de as- julgamento das irregularidades.
material elétrico; censo e descenso nas diversas áreas, Em síntese: o Brasil parou e, como
exceção feita à área da Engenharia consequência, além do aumento ver-
• Educação (meta 30)
consultiva, que só fez decair a partir tiginoso do desemprego, da desindus-
• Brasília (meta 31) do ano 1990. trialização, de sua transformação em
Atualmente, a Engenharia no Brasil vive mero exportador de commodities, a
O desenvolvimento de cada um dos uma imensa e intensa crise gerada pelos não-geração de tecnologia, do desa-
setores seria alcançado por meio de reflexos das políticas governamentais parecimento de suas empresas de
grandes investimentos estatais e da adotadas nas últimas décadas, o que, Engenharia e dos seus quadros técnicos,
orientação do investimento privado como consequência, incentiva as apli- há o grande risco do desaparecimento
para os setores produtivos. cações financeiras em detrimento dos da Engenharia brasileira, principal-
setores produtivos. Isso se consubstan- mente devido ao não-enfrentamento
Segundo o IBGE1, a industrialização
cia na retração da economia brasileira. de grandes desafios de grandes obras
ocorrida a partir da década de 1960
gerou quase 25 anos de crescimento Por outro lado, as políticas de licitação e projetos pelos jovens engenheiros
nos valores exportados pelo país. do menor preço – que tem jurispru- ao tempo em que a memória viva da
dência firmada – sem a existência de Engenharia no Brasil se esvai natural-
projetos consistentes, foi agravada pe- mente, pelo passar do tempo.

Evolução da Especialidades Década 1950 Década 1960 Década 1970 Década 1980(85)
Engenharia Projeto Básico INEXISTENTE
Capacidade Capacidade Capacidade
brasileira a partir relativa 20% relativa 50% relativa 70%
Projeto de Parcialmente Parcialmente
de 1950 detalhamento existente (10%) existente (40%)
Suficiente Suficiente

A partir dos anos 1950, a Engenharia Construção Parcialmente Parcialmente


brasileira evoluiu muito, desde o nú- Suficiente Suficiente
industrial existente (30%) existente (70%)
mero de instituições de ensino, ao
crescimento das empresas de cons- Nacionalização
Construção Civil Suficiente Suficiente Suficiente
trução e montagem e das empresas média de 70%
de Engenharia consultiva. O quadro ao Indústria de bens Nacionalização Nacionalização Nacionalização Nacionalização
lado mostra a evolução delas. de capital média de 70% média de 70% média de 70% média de 70%
(1)
IBGE - Estatísticas do século XX crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 15
#Artigo

O risco é enorme
A realidade brasileira hoje é outra: 84,36%
da população concentra-se nas cidades,
seja nos grandes conglomerados urbanos,
seja na sede dos municípios no interior
do país. É o caos do engarrafamento, da
poluição, da ocupação indevida do solo,
da contaminação dos recursos hídricos,
da morte dos corpos d’água, da violência,
da exclusão social.
Foto: Adeilson Nunes Gov Bahia
Só nos resta a opção explicitada por
Mitterrand na sua campanha de 1981:
• Il fault changer.
• É necessário mudar as políticas de edu-
cação, de ciência e tecnologia;
• É necessário mudar a política econômi-
ca, privilegiando os setores produtivos;
• É necessário mudar a estrutura do
Estado e de seu sistema tributário;
• Mas, antes de tudo, urge mudar a
postura em relação ao Brasil: 50 anos
em 5 já!

Um caminho para
a retomada
Atualmente, segundo o jornal O Estado
de São Paulo, o Brasil tem 5 mil obras
paradas, sendo que entre elas estão 5
grandes obras: Transposição do Rio São
Foto: Manu Dias_Agecom

Francisco, Usina Hidrelétrica de Santo


Antônio, Usina Hidrelétrica de Jirau,
Ferrovia Norte-Sul e Refinaria Abreu
e Lima. Ressalte-se, ainda, que além
das obras paralisadas há um grande
número de projetos de infraestrutura
também parados.
Na Bahia, à exceção das obras de mobi-
lidade urbana em Salvador, os grandes
projetos como Porto Sul ou Ferrovia Oeste
ou estão paradas ou tocadas em ritmo
lento. Na área de obras rodoviárias, são R$
2,8 bilhões que deixam de ser investidos
na Bahia por conta do corte do orçamento
previsto no Ministério dos Transportes.
Além disso, há obras paralisadas em quase
todos os municípios da Bahia (cerca de
200). Some-se ainda a desativação de
Foto: Odebrecht

unidades dentro do complexo industrial


da Bahia e o fechamento de fábricas como
a Gerdau e a Tigre, enquanto continuamos
16 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017
a exportar minérios e importar perfis de gem e silos, frigoríficos, matadouros,
aço e produtos acabados. tecnologia no campo, fertilizantes e
O Crea-BA, em parceria com o IPB, alcoolquímica;
tem realizado o programa Agenda de • Indústrias: Produção de perfis e chapas
Desenvolvimento Bahia. Foram três fó- de alumínio, metais não-ferrosos e seus
runs em 2016: I - Vasco Neto-Transporte perfis, papel e celulose, borracha, ex-
e Mobilidade Urbana, II - José Walter portação de produtos manufaturados,
Bautista Vidal: Energia, Desenvolvimento indústria de bens de capital, indústria
e Sustentabilidade; III - Carlos Espinheira de construção naval, material elétrico,
de Sá: Indústria, Processos Industriais, indústria eletrônica e de informática,
Desenvolvimento e Sustentabilidade. mecânica fina e nano indústria;
Paralelamente, deputados estaduais das
áreas tecnológicas, com o apoio do o Crea- • Educação: Fortalecimento do ensino
BA e de seus parceiros, criaram a Frente fundamental e da pesquisa tecnoló-
Parlamentar em Defesa da Engenharia. gica, principalmente no que tange à
utilização dos recursos naturais bra-
Essas medidas, que são desejáveis, entre-
sileiros, cumprindo a Constituição
tanto, são insuficientes. Urge propor ações
Federal, a real adoção do marco Legal
concretas no sentido de o Crea-BA e as
da Ciência e Tecnologia, estreitando
entidades ligadas à Engenharia lutarem
para que, a partir dos levantamentos já a relação da comunidade acadêmica
disponíveis das obras paralisadas, atuem com a sociedade.
na verificação do estado atual das mes- Lembremo-nos que o desenvolvimento de
mas, o que, por região, poderá contar com cada um dos setores será alcançado por
o apoio das inspetorias do Crea e poste- meio de grandes investimentos estatais
riormente proceder a definição de priori- e da orientação do investimento privado
dades, face o impacto de cada uma delas para os setores produtivos, o que implica
no desenvolvimento socioeconômico. em uma reestruturação da dívida pública.
Paralelamente, agir junto à Frente Essa mesma proposição deverá ser apli-
Parlamentar para implementação de le- cada em cada estado e no Distrito Federal,
gislação que facilite a geração de tecno- sendo a coordenação nacional efetuada
logias, visando cidades sustentáveis e a pelo Confea.
capacitação da gestão dos municípios;
Uma vez postas em prática essas inicia-
a interiorização da pesquisa e da indus-
tivas, há necessidade de uma intensa
trialização e a transformação das carrei-
participação dos profissionais das áreas
ras tecnológicas em carreiras de Estado.
Fomentar a correta atuação das institui- tecnológicas nos órgãos e instituições pro-
ções definidas pela legislação do terceiro fissionais, regulamentadores e de classe.
setor, além de atuar para a remoção dos Urge contribuir decisivamente na constru-
óbices quanto à execução de projetos e ção de um PROJETO PARA O BRASIL. Urge
obras. Simultaneamente, propor facilida- utilizar o conhecimento disponível nos
des para a criação de pequenas e médias profissionais mais experientes, incluindo
empresas e projetos de desenvolvimento os idosos, e incentivar a real participação
em um prazo curto nas áreas de: dos jovens estudantes.
• Energia: Energias renováveis, gás, cam- A efetiva participação nos diferentes fó-
pos maduros, liquefação do carvão; runs temáticos de discussão e debates,
• Transportes: Reativar e ampliar as como a Agenda de Desenvolvimento
estradas de ferro e de rodagem – ga- Bahia, aliada à contribuição cidadã aos
rantindo mobilidade urbana e rural, movimentos de incentivo da inovação,
navegação fluvial e de cabotagem, como a participação dos jovens no Prêmio
portos, barragens, marinha mercante Arlindo Fragoso, são ferramentas efica-
e aviação; zes para objetivamente se alcançar:
• Alimentação: Industrialização local de 50 anos em 5 já e obter o ressurgimento
grãos e produtos agrícolas, armazena- da Engenharia brasileira.
crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 17
Tecnologia

Rodovia aproveita a luz solar


Os cientistas têm buscado desenvolver, cada vez mais, soluções de
aproveitamento da luz do sol. A mais nova tecnologia foi criada na
França, que inaugurou a primeira estrada solar do mundo. A rodovia
é pavimentada com painéis capazes de fornecer energia para a
iluminação pública de Tourouvre, cidade de 5 mil habitantes no
noroeste do país, na região da Normandia. O trecho de um quilômetro,
coberto com 2,8 metros quadrados de painéis solares revestidos de
Satélite desenvolvido resina, foi ligado à rede de energia elétrica local. A ideia é que as estradas
sejam ocupadas por carros em apenas 20% do tempo, oferecendo
por estudantes vastas extensões de superfície para absorver os raios solares.

Alunos do ensino fundamental de Ubatuba (SP)


desenvolveram um satélite e conseguiram participar,
no Japão, do lançamento do equipamento. A ideia
do UbatubaSat surgiu em 2010, quando o professor
Cândido Osvaldo de Moura teve conhecimento
de que uma empresa norte-americana estava
desenvolvendo um veículo lançador e vendia os kits
de montagem de pequenos satélites. Cândido levou,
então, o desafio para alunos da quinta série da Escola
Municipal Presidente Tancredo de Almeida Neves.
A ideia deu certo e o UbatubaSat pode ser o
primeiro satélite totalmente desenvolvido no Brasil
a funcionar em órbita, de onde poderá registrar a
distância de sondas espaciais, detectar a formação de
bolhas no espaço, fazer contato com radioamadores
e transmitir mensagens que foram gravadas
por estudantes.

Tablet para deficientes visuais


Pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, desenvolveram
um tablet direcionado para os deficientes visuais. Os dispositivos para leitura
em braile atuais proporcionam espaço para apenas uma linha de texto por
vez. Esse novo equipamento traduz uma página inteira de uma só vez.
Batizado de Holy Braille, o display é formado por uma película maleável que
recobre centenas de bolhas infláveis com ar ou com líquido. Com base em
um software, um chip controla quais bolas devem inflar ou não e quando elas
devem fazer isso, permitindo a criação de textos inteiros em braile na tela do
dispositivo móvel. Embora já exista um protótipo funcional, a tecnologia
Holy Braille ainda deve demorar um pouco para chegar ao mercado.

18 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017


Tecnologia

Libélulas modificadas
pela tecnologia
Uma empresa norte-americana (chamada Draper) está usando
insetos para criar drones com componentes biológicos. A
ideia é usar libélulas como microveículos voadores. Chips são
acoplados nas costas dos insetos, com uma ligação direta ao
sistema nervoso. Remotamente, os controladores disparam
impulsos que funcionam como uma espécie de neurônio, que
manda mensagens especialmente para as asas do inseto,
controlando-o independentemente da sua vontade. Uma
das aplicações: espionagem.

Engenheiro
baiano
desenvolve
aplicativo para
construção civil
Quando estagiava em uma obra
no município de Camaçari, o então
estudante de Engenharia Civil Lucio
Felix Neto tinha que caminhar 1 km
diariamente para pegar as assinaturas
do cliente e da gerenciadora no RDO

Mictório ecológico (Relatório Diário de Obra) feito em


MS-Excel. Ele percebeu que poderia
solucionar esse problema criando um
Com o objetivo de tentar diminuir a quantidade de software que substituísse o RDO de
urina nas ruas, a França está testando, desde janeiro, forma eletrônica e incluísse a assinatura
nos arredores da Gare de Lyon, uma das estações de digital entre as partes envolvidas em
trem mais movimentadas de Paris, um equipamento que uma obra. Ele desenvolveu a ideia
tem apelo ecológico. É uma espécie de tonel metálico durante seu Trabalho de Conclusão
dividido em duas partes. Na superior, há uma abertura de Curso (TCC) da Unifacs e entrou
para a urina, que escorre e é armazenada na parte de na incubadora do Senai-Cimatec, logo
baixo, abastecida com palha ou serragem. após se formar. O aplicativo que ele
Após cerca de um ano, a mistura vira um adubo, que pode desenvolveu tem compatibilidade
ser utilizado para fertilizar parques ou jardins. A invenção com o MS- Project e MS-Excel e gera
possui um sistema eletrônico que envia um sinal quando relatórios de produtividade, com a
o composto precisa ser coletado e renovado. Além da possibilidade de ser publicado em
produção de adubo, as reações químicas entre substâncias redes sociais. Por meio do Programa
da palha e da urina também reduzem o odor, principal Laboratório Aberto, do Sebrae, recebeu
incômodo para moradores e pedestres. A invenção foi R$ 21 mil para desenvolver o protótipo,
nomeada de Uritrottoir — junção das palavras “urine” que será finalizado em março. Em
(urina) e “trottoir” (calçada) — e tem ainda uma jardineira abril começam os testes de mercado.
na parte superior, como ornamento para a calçada. O O software deve ser lançado no
equipamento foi concebido apenas para homens. segundo semestre deste ano.

crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 19


#Salário Mínimo Profissional

20 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017


Salário Mínimo Profissional

Empresas são obrigadas


a pagar o piso salarial
do engenheiro
Profissional que não estiver recebendo
deve procurar o sindicato

A
lei que criou o Salário Mínimo Profissional (SMP) completou 50 anos, mas este
continua sendo motivo de apreensão entre os profissionais. De acordo com pesquisa
realizada pela Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge),
a defesa do SMP e da Engenharia nacional é a maior preocupação da categoria.
A pesquisa ouviu 725 profissionais durante a Semana Oficial de Engenharia e
Agronomia (Soea), realizada em Foz do Iguaçu (PR), em setembro do ano passado.

Para marcar esses 50 anos, a Fisenge porte ou porque não são específicas de
lançou uma cartilha sobre o tema, que Engenharia.” Elas contratam o profissio- Fo
to:
foi distribuída na Bahia pelo Sindicato nal como analista técnico, ambiental Ad
el
m
dos Engenheiros do Estado (Senge). etc, para tentar descaracterizar o vín-
o
Bo
rg
Segundo o presidente da entidade baia- culo com a atividade de Engenharia.
es
na, Ubiratan Félix (mais conhecido como Nesses casos, o sindicato, quando acio-
Bira), o objetivo foi chamar a atenção nado, entra na Justiça para que a em-
dos engenheiros, dos gestores públicos presa cumpra a lei e tem conseguido
e privados de que o SMP está na lei e êxito. Caso o engenheiro não esteja
precisa ser respeitado.  recebendo o piso, ele pode entrar em
Na Bahia, Ubiratan Félix destaca que as contato com o sindicato, pelo site ou por
grandes empresas geralmente pagam o telefone, e fazer a denúncia, que pode
piso, sobretudo na construção civil. “Mas ser anônima. Além do site do Senge-BA,
existem algumas que descumprem a o profissional pode procurar o Crea, que
legislação, principalmente as pequenas encaminha a denúncia para o sindicato.
empresas de consultoria e projetos.” Ele O sindicato tem feito sua parte no es-
diz ainda que profissionais de algumas clarecimento, mandando cartas para as
modalidades mais recentes, como en- empresas, além de produzir cartilhas Ubiratan Félix, engenheiro civil,
genharia ambiental e de produção, às sobre o assunto. Ubiratan Félix infor- presidente do Senge
vezes não recebem. “Por várias razões. ma ainda que o sindicato orienta os
Ou porque são empresas são menor departamentos de Recursos Humanos,

crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 21


#Salário Mínimo Profissional

22 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017


Salário Mínimo Profissional

esclarecendo, por exemplo, que vale-


alimentação e auxílio transporte não
fazem parte do piso, são benefícios.
Quando ocorre demissão e o profissio-
nal, durante a homologação, comunica
que não recebia o SMP, o sindicato entra
na Justiça para que ele tenha direito à
complementação.
Uma forma que as empresas encon-
traram de burlar a lei foi contratar en-
genheiro trainee. O sindicato entende
que mesmo o profissional iniciante deve
ganhar o piso, que é de 6 salários míni-
mos para 6 horas diárias ou 8,5 salários
para 8 horas.
Ubiratan Félix explica que, quando a lei
entrou em vigor, em 1966, o mercado
era muito menor, assim como o número
de profissionais. Hoje existem cerca de “Fazemos um trabalho de convenci- “Às vezes o prefeito até quer pagar o piso, mas
800 modalidades de Engenharia e nem mento com os prefeitos, mostrando o o engenheiro da capital não quer ir por causa
todos os profissionais recebem o piso. quanto a prefeitura economiza tendo das facilidades da vida urbana.”
“Como estamos em uma crise muito engenheiros em seus quadros. Ela pre-
grande, o piso está virando o teto.” cisa de bons profissionais para executar
os projetos, trazendo economia para os
Perda de prestígio
Economia para cofres públicos.” Ubiratan Félix acres- da Engenharia
centa que hoje quem ganha bem nas
as prefeituras prefeituras são os procuradores (que A lei do Salário Mínimo Profissional foi aprovada
pelo Congresso em 1966, quando o presidente
defendem a administração) e os audito-
Com relação aos engenheiros que tra- era o general Humberto de Castelo Branco, que
res fiscais (que fazem a arrecadação). “O
balham em órgãos públicos, Ubiratan vetou a lei. “Se hoje é difícil derrubar um veto de
engenheiro também é estratégico, pois
Félix explica que a legislação excluiu  o um presidente, imagine naquela época”, desta-
ele além de captar recursos, economiza
servidor público estatutário, mas os ca o presidente do Senge. Em 1969, o Senado
verba pública, dimensionando e execu-
celetistas do serviço público, das em- validou a lei, excluindo apenas o setor público. 
tando corretamente as obras, além de
presas públicas de direito privado, são
garantir a satisfação da população com “A Engenharia tinha mais prestígio social na-
contemplados pela legislação vigente.
os serviços prestados.” quela época”, afirma Ubiratan Félix, acrescen-
“Muitas vezes negociamos com os pre- tando que de lá para cá outros profissionais se
Ubiratan lembra ainda que é comum
feitos, explicando que, mesmo que a organizaram, como os médicos e os advogados,
lei não o obrigue a pagar o piso,  não uma prefeitura deixar de receber verba
para aterro sanitário por não ter projeto e hoje são bem remunerados.
é proibido remunerar dignamente os en-
e nem conselho municipal. Caso tivesse Com os engenheiros foi o contrário. Na década
genheiros, e que o retorno na qualidade
um engenheiro sanitarista, a situação de 1970, eram os profissionais melhor organi-
dos projetos, na captação de recursos
e na economia de recursos materiais poderia ser outra. zados e remunerados. “Houve uma perda de
e humanos compensa amplamente o Nesse sentido,  foi boa a regionalização importância da Engenharia, porque o Brasil
investimento na contratação do pro- das faculdades na Bahia, pois abriu mer- deixou de se desenvolver. Grandes empresas
fissional”, afirma Ubiratan Félix. cado para os profissionais do interior. de Engenharia surgiram nessa época, como a
Odebrecht e a Camargo Correia”, conta.
Nos anos 1980 e 1990, o Brasil ficou meio pa-
rado, retomando crescimento nos anos 2000,
Mas existem algumas que com obras de infraestrutura. As empresas na-
descumprem a legislação, cionais passaram a disputar mercado lá fora
e os engenheiros voltaram a ter mercado e
principalmente as pequenas prestígio, tanto que passou a ser uma carreira
mais disputada no vestibular, só perdendo para
empresas de consultoria e projetos Direito e Medicina, já consolidados. 
Ubiratan Félix, presidente do Senge crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 23
#Salário Mínimo Profissional Foto: Agência Petrobras

Segundo Ubiratan Félix, essa ascensão piso, pois sempre vai ter alguém
foi interrompida com a crise econômica que pode aceitar.
e com a Operação Lava-jato, que pre- Ubiratan  destaca outro aspecto
judicou as empresas. “Os engenheiros preocupante. Tem havido muita ho-
voltaram a ficar em situação difícil, com mologação no sindicato, mas começou
um agravante: aumentou o número de a mudar o perfil. “No ano passado eram
escolas de Engenharia nos últimos anos. profissionais que ganhavam o piso ou
Em 1992, quando eu me formei, eram abaixo dele, este ano começaram a
três escolas de Engenharia na Bahia: chegar engenheiros que ganham de Distribuição
Ufba (com seis cursos em Salvador e
um em Cruz das Almas); Universidade
R$ 30 mil a R$ 40 mil.” São diretores,
superintendentes, pessoas-chave das
nacional
Católica e Universidade Estadual de empresas, que provavelmente não vão O presidente da Fisenge, Clóvis
Feira de Santana (com um curso cada). voltar ao mercado com o mesmo salário. Nascimento, destaca que o SMP
A saída, na opinião do dirigente, é de- ainda não é devidamente conhe-
Ubiratan conta que, hoje, apenas uma
fender a Engenharia e as empresas, que cido pelos engenheiros, sobretudo
faculdade no extremo sul da Bahia pos-
não podem ser criminalizadas. Ele cita pelos mais jovens, por isso a ideia
sui 11 cursos de Engenharia. “A situa-
o exemplo de quando o nazismo per- de criar a cartilha e distribui-la em
ção está grave, pois além de ter havido
deu a Segunda Guerra Mundial. “Várias todo o Brasil.
uma diminuição no mercado, houve
empresas alemãs usaram mão de obra Clóvis lembra que, mesmo repre-
um aumento considerável de cursos
escrava ou tinham fábricas em campos sentando um avanço, a lei não
de Engenharia em várias modalidades”.
de concentração. Algumas mudaram o contemplou os estatutários, por
O presidente do Senge informa que as controle acionário, os dirigentes foram isso a Fisenge luta para estender o
empresas brasileiras estão falindo e punidos, mas elas foram preservadas e benefício a todos os engenheiros
vendendo ativos. “As multinacionais vão existem até hoje, como a Volkswagen.” do Brasil.
empregar profissionais de seus países.
O presidente do Senge conclui afirman- “Queremos que o salário profis-
Ou seja, poderemos ter um mercado do que a empresa não pode ser punida sional seja pago para todos os
ainda pior.” e sim os seus diretores. “As empresas engenheiros”, diz Clóvis, acres-
Nesse contexto, o dirigente sindicalista precisam ter recursos para se desenvol- centando que algumas empre-
acredita que o SMP fica fragilizado, pois ver. Hoje elas estão vendendo ativos, sas descumprem, mas a Justiça
o empresário, com tanta oferta de mão perdendo mercado para as empresas sempre manda pagar.
de obra, pode querer pagar menos que o estrangeiras”, lamenta o dirigente.
24 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017
#Passado e presente da Engenharia Civil

26 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017


Passado e presente da Engenharia Civil

Duas gerações
de engenheiros:
mudanças e perspectivas

A
história da Engenharia se confunde com a da própria humanidade.
Desde que o homem deixou de ser nômade, ele passou a construir,
a desenvolver habitações cada vez mais sólidas e permanentes.
A Engenharia Civil foi uma das primeiras atividades humanas,
ramificando-se em diversas outras especialidades.

crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 27


#Passado e presente da Engenharia Civil

Adailton de Oliveira Gomes


e Paulo Marques

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Passado e presente da Engenharia Civil

A Revista do Crea-BA escolheu justamente a Engenharia Civil para iniciar uma série de
reportagens com profissionais baianos da antiga e da nova geração, para que eles falem
sobre o ensino, o trabalho e as perspectivas, cada um a partir de seu ponto de vista.
Adailton de Oliveira Gomes, formado pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), em
1973, e Paulo Marques, que concluiu o curso na mesma Universidade em 2008, foram os
escolhidos para esta reportagem, que será dividida em grandes temas.

Carreira profissional
Adailton de Oliveira Gomes é engenheiro civil formado em 1973 pela Ufba,
com mestrado em Engenharia Ambiental Urbana pela mesma universidade.
Inicialmente, trabalhou na implantação de sistemas de abastecimento de água
em várias cidades do Recôncavo baiano. Continuou na área tecnológica e de
edificações, passando a desenvolver dosagens específicas de concreto, além de
ensinar na Ufba, tendo sido professor de várias gerações de engenheiros.
Paulo Marques é engenheiro civil, formado em 2008 pela Ufba e com MBA em
gestão de projetos pela Fundação Getúlio Vargas. Tem uma trajetória diversificada,
que começou com o gerenciamento de obras, passando por incorporação imobiliária,
incluindo bairros inteiros planejados, e depois atuando nacionalmente como execu-
tivo de novos negócios. Atualmente vem desenvolvendo um portfólio de empreen-
dimentos transformadores no Centro de Salvador, a exemplo do primeiro deles, que
acaba de ser inaugurado, o hotel boutique Fera Palace Hotel, na histórica Rua Chile.

Ensino acadêmico
Adailton Oliveira – “O curso de Engenharia Civil na Ufba continua sendo de
cinco anos, como na minha época, mas diversas disciplinas mudaram e outras
foram adaptadas devido às novas tecnologias. Topografia é um exemplo. Na
época em que eu estudava, não existia GPS e o aluno tinha que fazer cálculos
complexos envolvendo os terrenos para chegar aos resultados que se obtém hoje
em fração de segundos.
O cálculo estrutural era feito em um ábaco, com uma série de tabelas. As máquinas
de calcular eram mecânicas, como as de escrever, e tão precisas quanto as digitais
de hoje, mas o trabalho era grande. Quando surgiram os primeiros computadores,
eles eram muito lentos e grandes. Para obter um cálculo mais complexo, tínhamos
que deixá-lo rodando a noite inteira para dar o resultado na manhã seguinte. Hoje
se consegue isto em fração de segundos.”
Paulo Marques – “Os dois primeiros anos da faculdade são maçantes e puxados,
pois temos muitas matérias teóricas de cálculo. Nos três anos seguintes, aí sim,
cursamos as disciplinas profissionalizantes, porém acho que somente a grade
curricular da universidade não prepara o engenheiro por completo. É necessário
ter prática, seja acompanhando uma obra, seja fazendo projetos técnicos. O que
diferencia um engenheiro talentoso de outros são as experiências, as realizações.
Mas o profissional jamais deve desprezar a formação acadêmica. É preciso buscar
mais conhecimento, ser autodidata, agregando ao que se teve acesso dentro da
universidade. Sempre fui contra preferir o estágio em detrimento à faculdade,
pois é esta que lhe dá um forte alicerce para seu crescimento.”

crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 29


#Passado e presente da Engenharia Civil

Desempenho na faculdade
Adailton Oliveira – “Naquela época não estudávamos mais do que
os alunos de hoje que têm computador e softwares especializados. Se um indivíduo
Acho que a forma de estudar é que era diferente. Antes, o aluno era
mais obediente às exigências dos professores. Por exemplo, quando for preparado
se passava um problema, ele tinha que se concentrar para executar
aquela tarefa dentro do modelo que o professor demandou. Hoje não,
cientificamente, ele
o estudante busca ser mais criativo e tem acesso a informações di-
versificadas sobre um mesmo tema. Por exemplo, uma criança de dez
vai estar pronto para
anos hoje tem muito mais conhecimento tecnológico do que uma aplicar a tecnologia
de 50 anos atrás. Isso não quer dizer que ela está estudando mais.”
Paulo Marques – “A palavra-chave é criatividade. Os profissionais que
em qualquer situação
mais vão se desenvolver rápido são aqueles com grande criatividade, Adailton de Oliveira Gomes,
engenheiro civil
se valendo da tecnologia. Muitas atividades que exigiam o esforço
físico e até mesmo a presença humana estão passando a ser auto-
matizadas. Só que uma máquina não é inventiva, ela não processa
novas ideias e aí é que profissionais criativos desequilibram o jogo.”

Atuação profissional
Paulo Marques – “Considero que os engenheiros de antigamente
eram bem corajosos, pois trabalhavam com muita imprecisão nos
projetos. Hoje se utilizam softwares que fazem uma modelagem
estrutural complexa, determinando quanto de peso cada viga ou
parede estrutural pode suportar. Tudo isso com rapidez e de fácil
acesso. Por outro lado, a mente do engenheiro é hoje muito mais
sobrecarregada de informações e de opções a escolher. Antes havia
uma dedicação de tempo maior, se debruçando sobre um mesmo
projeto. Hoje existe uma constante urgência e necessidade de
se conseguir fazer o mesmo trabalho em um ritmo mais rápido,
melhor e mais barato.”
Adailton Oliveira – “Antes do computador, fazíamos muitas expe-
riências para encontrar o material mais adequado. Os procedimentos
para execução dos sistemas de revestimentos de fachada, por exem-
plo, foram desenvolvidos inicialmente na Escola Politécnica da Ufba,
em 1995, pela equipe do Ceta (Centro Tecnológico da Argamassa).
Antes disso, não havia tanta preocupação com a qualidade dos
materiais utilizados, como a argamassa, e, consequentemente,
ocorriam manifestações patológicas frequentes.
Sob a coordenação do professor Ney Cunha, fomos pioneiros,
na América Latina, na elaboração de dosagens de concreto com
tensão de rutura de 350 kgf/cm2, hoje denominada de resistência
característica à compressão de 35 MPa.
Havia vários métodos de dosagens, mas era necessário adaptá
-los às características dos materiais de nossa região. A areia, por
exemplo, procedente da região de Camaçari, era muito fina, o que
demandou o desenvolvimento de métodos adequados para se
alcançar a trabalhabilidade e resistência requeridas, já que é em
função da resistência que se dimensionam as peças. Logo, quanto
maior a resistência, menor a dimensão da peça.”

30 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017


Passado e presente da Engenharia Civil

Método construtivo
Paulo Marques – “Sobre essa questão da resistência, vivi nesse pro-
jeto atual do hotel um exemplo concreto. Todas as 56 sapatas foram
abertas uma a uma e os 601 pilares reforçados com concreto de traço
específico para suprir a deficiência da resistência que se tinha ori-
ginalmente, em função do sobrepeso de novos reservatórios e uma
piscina de borda infinita que fizemos no terraço. Hoje é requisito
mínimo um concreto de 30 Mpa, enquanto que os originais que
encontramos apresentaram resultados críticos de 11 ou 13,5 MPa.”
Adailton Oliveira – “O cimento era diferente na época da construção
do hotel e as exigências também. Os elementos estruturais das
edificações não eram submetidos a cargas tão elevadas quanto hoje.
Veja o exemplo do Coliseu, na Itália. As paredes têm três metros
de largura. Hoje uma parede tem 15 centímetros de espessura e
é tão resistente quanto as antigas.”
Paulo Marques – “Já vi projetos de edificações antigas que eram
uma espécie de pergaminho, de papel vegetal, escrito com nanquim,
tudo com base em uma nomenclatura defasada e as estruturas
de sustentação eram adequadas aos materiais, peso e resistência
de quando foram projetadas. Outro exemplo, as instalações em
geral nas edificações estão muito mais sobrecarregadas do que
antigamente. A cozinha de um brasileiro hoje tem micro-ondas,
batedeira, forno elétrico, coifa, lava-louças, sanduicheira, entre
diversos outros utensílios que demandam eletricidade, isto re-
formula a carga total necessária e, consequentemente, a própria
infraestrutura pública de serviços.”

Engenheiro politécnico
Adailton Oliveira – “Hoje as empresas contam com profissionais
terceirizados que executam as várias etapas da obra. Antes não
era assim. O engenheiro civil fazia sozinho o cálculo estrutural, o
projeto hidráulico e elétrico e até o arquitetônico, mesmo porque
ele não costumava executar várias obras simultaneamente. Além
disso, o número de profissionais dessa área era muito reduzido. Até
1970 só havia no estado da Bahia a Escola Politécnica da Ufba, que
formava engenheiros civis. O aluno saía preparado, por exemplo,
para fazer sozinho o projeto de um aeródromo.”
Paulo Marques – “Antigamente o engenheiro era realmente poli-
técnico, fazia do projeto estrutural ao gerenciamento da obra. Hoje
temos especialidades. Entendo que, com o desenvolvimento do
próprio mercado, a área passa a exigir conhecimentos aprofundados
em determinadas disciplinas e é preciso ter pessoal capacitado
para isso. O engenheiro civil passou a administrar especialidades
em um número cada vez maior e isso é bom, porque abre espaço
dentro da profissão.
Mas vale destacar que o profissional especializado demais tam-
bém fica limitado. Quando o indivíduo tem uma capacitação ou
experiência que lhe dá amplitude de atuação, ele pode transitar
por atividades distintas e atuar em mercados diferentes.”

crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 31


#Passado e presente da Engenharia Civil

Liderança e técnica
Paulo Marques – “A base de raciocínio analítico e lógico
do engenheiro dá flexibilidade para ele se readaptar a
ambientes distintos. A mente passa a estar formatada
em estruturar quais são os problemas vitais e gerar
soluções adequadas. A propósito, o que mais faço hoje é
resolver problemas de diferentes naturezas interagindo
entre si, que excedem a própria formação de engenheiro.
Seja de ordem técnica, seja solucionando conflitos
interpessoais em negociações, e geralmente sob pressão
das consequências que acarretam. Acredito que a habilidade
do engenheiro em lidar com pessoas determina o seu
sucesso na carreira.
Eu costumo dizer que antes o engenheiro era mais
empreiteiro, hoje é mais empreendedor. Antes se pensava
muito na técnica, no método. Hoje o engenheiro precisa
usar as especialidades, mas tem que ter um foco de visão
sistêmica, de administração.”
Adailton Oliveira – “Na época, se exigia muito do engenheiro
civil, que não tinha tantos profissionais para auxiliá-lo, como
existe hoje. Atualmente o empreendedorismo é bastante
valorizado. Antes, ele abria um escritório de projetos,
mas também construía. Hoje nem todos os engenheiros
precisam construir ou vivenciar uma obra. Aí existe um
outro perigo: ele pode cometer erro ao dar uma informação
errada ao software e, por falta de conhecimento prático,
não conseguir detectá-lo.”

O engenheiro do
futuro é um gestor de
tecnologias e de pessoas
Paulo Marques, engenheiro civil

32 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017


Passado e presente da Engenharia Civil

Os primeiros computadores
eram muito lentos e grandes.
Para obter um cálculo mais
complexo, tínhamos que deixá-lo
rodando a noite inteira
Adailton de Oliveira Gomes, engenheiro civil

Engenharia no futuro
Paulo Marques – “O engenheiro do futuro é um gestor de
tecnologias e de pessoas. Só vai conseguir realizar seus
projetos a partir desses dois elementos. O foco vai ser
sempre esse: usar a tecnologia para atender as pessoas,
pois são elas que efetivamente realizam. O jovem enge-
nheiro precisa começar a se habituar com as tecnologias
exponenciais, que dobram a eficiência e reduzem seu custo
pela metade a cada ano. Quem pensa de forma linear, não
dá conta de como essa realidade está acelerando. Quem
não consegue viabilizar o uso de novas tecnologias, perde
competitividade, fica para trás.
E é preciso se atualizar constantemente. Antigamente,
um diploma de Engenharia era colocado na parede, feito
um quadro. Hoje não se faz mais isso e é obrigação ter não
só uma graduação, mas um MBA e cursos de educação
continuada.
Outra dica importante é saber se reposicionar como pro-
fissional, tendo capacidade para dar conta das novas opor-
tunidades que surgem, porém sempre trazem uma boa
dose de risco.”
Adailton Oliveira – “A estrutura sobre a qual o profissional
atua é baseada no conhecimento científico. O que a tec-
nologia faz é tornar prático esse conhecimento teórico. Se
um indivíduo for preparado cientificamente, ele vai estar
pronto para aplicar a tecnologia em qualquer situação.
A universidade não pode oferecer todo o conhecimento de
que o aluno necessitará para exercer com eficiência sua
profissão. Ela tem que fornecer as ferramentas básicas
para o indivíduo se desenvolver, dar o salto profissional.
Para ser um bom engenheiro é preciso exercitar ‘os mús-
culos cerebrais’, da mesma forma que os atletas olímpicos
exercitam o corpo.”

crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 33


#Passado e presente da Engenharia Civil

Curiosidades:
Primeira calculadora
O professor alemão Wilhelm Schickard foi o inven-
tor da primeira calculadora mecânica, em 1623. Ela
era capaz de somar, subtrair, dividir e multiplicar
números até 6 dígitos, indicando o resultado atra-
vés de um toque de sino. Por isso ficou conhecida
como relógio calculador.

Hotel Palace
Inaugurado em 1934, o Hotel Palace foi construído
pelo comendador Bernardo Martins Catharino e era
um dos ícones de Salvador nos anos 1940 e 1950.
Localizado na Rua Chile, principal destino dos ricos
cacauicultores, artistas e intelectuais, o hotel foi
cenário também para o romance Dona Flor e seus
dois Maridos, de Jorge Amado. Era no cassino do
estabelecimento que o personagem principal de
Jorge Amado jogava, quando essa prática ainda
era permitida no Brasil. A rua concentrava as lojas
frequentadas pela elite soteropolitana, além de
escritórios de advocacia e consultórios médicos.
Fechado há dez anos, volta agora renovado como
um hotel boutique, graças a um restauro envolven-
do especialistas e profissionais de diversas áreas,
tendo à frente o engenheiro civil Paulo Marques
como gestor.

Anel de doutor
Até o final dos anos 1980, era difícil encontrar um
doutor em Engenharia Civil na Bahia. O primeiro
mestrado surgiu no final dos anos 1990 como
Engenharia Ambiental e Urbana, e o primeiro
doutorado, em 2016. Uma curiosidade é que anti-
gamente usava-se anel de engenheiro, com a pedra
safira (azul), enquanto o de advogado possuía
pedra rubi (vermelha) e o do médico, esmeralda
(verde). Quem se apresentava com um anel desses
nas repartições era reverenciado e chamado de
doutor. Com o tempo, essa tradição foi se perdendo.

34 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017


GECOM/2017
Nos 40 anos da Mútua, a 1º anuidade será
de apenas R$40 para os novos associados
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valor promocional, alusivo ao Jubileu de Rubi, de R$40, mais a
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pode acessar o site www.mutua-ba.com.br/associe-se ou
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Os sócios contribuintes têm acesso a todos os


benefícios reembolsáveis, que são recursos financeiros para
aquisição de veículos, imóveis, equipamentos, despesas em
geral, entre outros, com juros a partir de 0,3% ao mês, e os
benefícios sociais, dentre eles o pecúlio, que tem a função de
um seguro de vida e auxílio funeral. Tanto os benefícios
reembolsáveis, quanto os sociais, estão a disposição do
profissional associado após 1 ano de associatividade.

A partir da inscrição e pagamento da anuidade, o


associado já pode usufruir:

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#Profissões: Engenheiro de Produção

Um profissional
que planeja e
otimiza processos
Engenheiro de produção tem sido cada
vez mais demandado pela indústria

E
m um futuro próximo, as profissões serão modificadas em relação ao que
conhecemos hoje. Esta é a opinião do professor e engenheiro mecânico
Geraldo Nunes de Queiroz. Para ele, os softwares fazem hoje praticamente
tudo o que se precisa de Engenharia em termos de cálculo e o que sobra
para o engenheiro? O próprio acadêmico responde: Alguém que interprete os
dados, que tenha amplitude de conhecimento, que engenhe, que não fique restrito à
sua área, que, de fato, trabalhe como um engenheiro, não apenas como o encarregado
de uma turma de técnicos. Esse é o perfil do engenheiro de produção.

Geraldo conta que fez um doutorado e Geraldo acrescenta que na Alemanha se


tem um livro publicado na Alemanha aprende desde cedo a diferença entre
(de 1988 a 1993), no qual a abordagem o técnico e o engenheiro. Enquanto o
ao progresso técnico, de uma forma primeiro aprende a lidar com todos os Fo
to
ampla, não apenas sob a perspectiva de problemas possíveis e conhece todas :E
d

um engenheiro mecânico, lhe valeu um as soluções existentes para a espe-


so
n
Ru
iz

doutorado em Engenharia de Produção. cialidade para a qual foi graduado, o


“Estamos às portas da era da indústria engenheiro precisa estar preparado
4.0 e as mudanças ocorrerão muito para “eliminar” os problemas atuais,
rapidamente”, destaca o professor da prospectar “novos problemas” e elaborar
Ufba, acrescentando que as empresas novas soluções.
esperam do engenheiro hoje mais do “No Brasil, nossos cursos universitários
que apenas saber lidar com software, preparam o estudante de Engenharia
mas planejar, se antecipar aos proble- muito mais para a coordenação de
mas e otimizar recursos e processos. atividades técnicas operacionais, do
Para o professor, essa divisão que exis-
te hoje entre as engenharias (como
Mecânica, Elétrica, Civil, etc.) não terá Ineivea Farias,
engenheira de Produção
mais sentido no futuro. “É coisa do
século passado.”
36 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017
Profissões: Engenheiro de Produção

que para o trabalho criativo, que gera Geraldo acrescenta que o termo “enge- O professor ressalta ainda que algumas
inovações e deveria ser a verdadeira es- nheiro de produção” adotado no Brasil pessoas confundem com o curso de
sência da atividade de engenhar, critica não é muito feliz, melhor seria se fos- administração de empresas. “Alguns
Geraldo, acrescentando que a função se como o original, que é “engenheiro acham, erroneamente, que é um curso
do engenheiro não é apenas “operar” a industrial”, usado amplamente nos de administração para engenheiros.”
tecnologia existente. Estados Unidos e na Europa. Geraldo esclarece que os cursos de ad-
No Brasil, o curso de Engenharia de ministração não dão ênfase aos proces-
sos industriais, além de não terem como
Visão ampla do Produção começou como de curta
duração, de dois anos, ministrado em pilar as disciplinas ligadas à matemática

processo produtivo escolas técnicas. O professor des-


taca que, durante muito tempo, as
e à lógica da Engenharia. “O mercado
aos poucos vai percebendo que é melhor
O professor destaca que o engenheiro empresas não contratavam engenhei- contratar engenheiros capacitados para
de produção é preparado para ter uma ros de produção por desconhecerem gestão”, ressalta.
visão mais ampla de todo o processo o que eles faziam. “Hoje é diferente. Na Ufba, o curso tem a mesma car-
produtivo, não se limitando apenas à As empresas buscam engenheiros ga horária das outras engenharias e
sua execução, mas atento às condições preparados para coordenar equipes o aluno ainda tem a opção de fazer à
operacionais e sempre avaliando o nível de especialistas, para buscar novas noite. Dentro da grade curricular, o es-
de atendimento às necessidades que soluções e não apenas para operar tudante pode se especializar em várias
ele se propõe satisfazer. o que já existe.” áreas, como Logística, Engenharia de
crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 37
#Profissões: Engenheiro de Produção Fo
t

Vivemos em uma sociedade com alto grau de


desperdício, causado por falta de planejamento e
organização das empresas, por falta de noções que
levem a uma aplicação mais racional e consciente
dos recursos disponíveis
Geraldo Queiroz, professor e
engenheiro mecânico

Operação, Qualidade, Engenharia volta- planejamento e organização das empre- “O engenheiro de produção junta os
da para a sustentabilidade, entre outras. sas, por falta de noções que levem a uma conhecimentos de equipamentos
O estudante sai com um conhecimen- aplicação mais racional e consciente dos (hardware), com processos (software)
to amplo dessas áreas e, em geral, recursos disponíveis”, enfatiza Geraldo e pessoas (humanware)”.
ele se especializa em uma ou duas Queiroz, que acredita que se cada pre- O professor dá um exemplo concreto da
delas, direcionando o seu trabalho de feitura da Bahia tivesse um engenheiro atribuição do engenheiro de produção
conclusão de curso. de produção para trabalhar em suas na construção de um prédio. Ele não
“Vivemos em uma sociedade com alto diversas áreas (como saúde, educação e vai se preocupar apenas com o tipo de
grau de desperdício, causado por falta de gestão), o desperdício seria bem menor. cimento ou materiais que serão usados
na obra, nem apenas com os cálculos
estruturais. Seu trabalho será também
o de avaliar a logística de localização
desse prédio, de que forma ele afetará
o trânsito e o meio ambiente, por exem-
plo. “Ele tem uma visão mais integrada
de tudo o que envolve o empreendi-
mento.”
No caso de ser o responsável pela ma-
nutenção de máquinas em uma indús-
tria, o seu trabalho é aumentar a vida
útil dos equipamentos, se antecipar
aos problemas que podem ocorrer e
buscar inovações que otimizem o seu
funcionamento.
Sobre o perfil ideal do estudante dessa
área, o professor destaca que ele precisa
pensar como engenheiro, deve gostar de
resolver problemas. E também tem que
gostar de gente. “Fundamentalmente
ele tem que ouvir todos os agentes que
participam do processo, vai lidar prin-
cipalmente com pessoas.”
Para finalizar, o professor destaca que
toda empresa que use equipamentos,
que tenha processos complexos e que
demandem mão de obra direta vai pre-
cisar de um engenheiro de produção.
“É o profissional que atua no presente,
mas de olho no futuro.”
38 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017
Profissões: Engenheiro de Produção
to
:E
d
so

Desenvolvimento organizacional
n
Ru
iz

A
Engenheira de Produção Ineivea
Farias, que já foi diretora geral
da Mútua-BA, destaca a impor-
tância desse profissional para a saúde
financeira das empresas. “Precisamos
garantir a eficiência dos  processos
produtivos, além de manter baixos
os custos de produção. Em tempos
de crise, como o Brasil atravessa nos
últimos tempos, este profissional é
de fundamental importância para as
empresas”, ressalta.
Ineivea, que atua também na área de
Segurança do Trabalho, com ênfase em
Auditoria, ressalta ainda que, em geral,
os engenheiros de produção são ab-
sorvidos pelo setor industrial, atuando
nas áreas de qualidade, processos de
fabricação, planejamento e controle
de produção, além de ter grande pos- finanças, telecomunicações, saúde, financeiras, logísticas e comerciais das
sibilidade de atuar como estrategistas entre outras. empresas, por isso somos profissionais
nas áreas de pesquisa e finanças. Além “Os nossos conhecimentos de Adminis- completos e únicos.”
disso, o profissional tem sido contrata- tração, Economia e Engenharia, alia- Para finalizar, Ineivea lembra que o pro-
do também por empresas prestadoras dos às técnicas de produção, têm o fessor José Abrantes, da Universidade
de serviço, lojas de varejo, turismo, objetivo de controlar as atividades Estadual do Rio de Janeiro, uma das pri-
meiras a oferecer o curso de Engenharia
Precisamos garantir a eficiência de Produção no Brasil, ainda na década
de 1970, define a profissão de uma for-
dos processos produtivos, além de ma simples e direta: “Além de entender
de sistemas e máquinas, o engenheiro
manter baixos os custos de produção de produção procura entender o ser
Ineivea Farias, engenheira de produção humano e suas relações de trabalho”.

Empresa Júnior
prepara alunos
A estudante da Ufba Bruna de Oliveira Castro, 18 anos, diz que está ado-
rando o curso, mesmo tendo começado há menos de um ano. Ele conta
que pensou em fazer Engenharia Química, mas depois desistiu da ideia.
Além de estudar, ela participa da empresa júnior do curso de Engenharia
da Produção, a Otimiza Consultoria Jr. “Estou gostando do curso porque
ele não lida só com ciências exatas, atua também na área de Humanas,
que eu me identifico mais.”
Mateus Costa, 19 anos, também trabalha na empresa júnior, no cargo de
coordenador de qualidade. Ele conta que atualmente eles estão com dois
projetos, um deles em uma indústria baiana e visa otimizar o processo
produtivo, reduzindo gastos e aumentando a receita. “Estou gostando
não só do curso, mas dessa atividade da empresa júnior”, diz.

crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 39


#INSTITUTO POLITÉCNICO DA BAHIA – Engenharia aplicada

Engenharia e Mercado Tecnologia – Getúlio Marques


– Paulo Scopetta Geração distribuída de energia
Sistemas de Novo paradigma na indústria da eletricidade faz
o consumidor produzir sua própria energia e ser
energia limpa e operacionalmente ativo nas relações com a operação dos
tarifa social sistemas das empresas concessionárias. O exponencial
crescimento da energia solar fotovoltaica e o advento
O projeto do IPB prevê a das redes inteligentes (smart grids) estão provocando
utilização de energia solar e disrupção na velha lógica do consumidor passivo.
eólica nos bolsões de população Antevendo esta profunda mudança, o IPB tem buscado
de baixa renda, assistidas pelas despertar a atenção do meio industrial e acadêmico a
políticas públicas de redistribuição de respeito, realizando encontros
renda, combinado com a tarifa social de energia elétrica, com e eventos, a exemplo dos
desconto ou isenção de pagamento nas tarifas elétricas. realizados na “Câmara
É aplicável em regiões de alta densidade populacional e Especializada de
atende aos dispositivos legais com utilização de tecnologia de Engenharia Elétrica”
produção de energia elétrica autossustentável com todas suas do Crea-BA e no ramo
consequências ambientais e modificará a matriz energética, estudantil do “Power
incrementará o atendimento social da população de baixa renda & Society” da Seção
em 15% e redução de custos em 30% em dez anos dos gastos Bahia do “The Institute of
governamentais com esse subsídio. Electrical and Electronics
Engineers-IEEE”.
Por meio de convênios estabelecidos entre o governo, a
concessionária de distribuição de energia elétrica e o IPB,
permitirá uma ampliação dos usuários assistidos com uma
maior inclusão social. Todos os impactos tecnológico, econômico,
ambiental e social são positivos, com um retorno em cinco anos. Expertise e áreas do saber –
O projeto atende ao mesmo tempo várias metas importantes Lenaldo Almeida
nas políticas públicas, cabendo ressaltar que os recursos
são disponíveis pelas leis e decretos nacionais e pelas Produtos diferenciados do IPB
regulamentações estaduais existentes. O IPB aprovou, em 7 de fevereiro,
um bloco denominado “Produtos
Linhas de incentivos diferenciados”, que contempla:
– Anailde Pereira Cursos com temas de
Engenharia de Negócios/
Acordos aplicada • Eficientização
energética em sistemas
internacionais industriais e eletro-
O IPB assinou, em 3/02/2017, intensivos • Sistemas
cooperação técnica e científica de energia limpa para
com a Universidade Turku, da baixa renda: Coelba •
Finlândia, e com a FinBraTech /Tuas, Eficientização energética em
visando projetos desenvolvimentistas grandes condomínios residenciais,
sociotecnológico e econômico que indústria hoteleira/comércio • Combate
contemplem, no ambiente acadêmico, o intercâmbio às perdas técnicas e comerciais nas distribuidoras de
profissional e empresarial, além de inovação tecnológica, energia • Sistemas de gestão racional das águas/
com ênfase em Engenharia Médica e ciência da vida; resíduos, PMSB e combate às perdas técnicas e
água na agricultura e preservação do meio ambiente. comerciais de água • Campos maduros e poços de
petróleo em áreas privadas • Sistema produtivo
Outras áreas envolvidas no convênio: elementos geográficos
agroindustrial de polo verde em Salvador • Projetos de
e georeferenciados; energias renováveis; tecnologia
intervenção social para ONG e Oscip • Consultoria na
de construção e gestão de resíduos para produção de
obtenção do IPTU verde junto à PMS.
energia. O acordo é bilateral e terá duração de dois anos.

40 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017

Rua Prof. Severo Pessoa, 31, Bairro Federação – Salvador– Bahia – CEP 40210-700 – Telefax (71) 3331-8481
www.ipolitecnicobahia.org.br | e-mail: secretaria@ipolitecnicobahia.com.br | https://youtu.be/4-YNzte5HnE
Maratona de
Atualização
Profissional
Crea-BA e Portobello

Nada de deixar as coisas como estão para ver como é que ficam. Atualização e aper-
feiçoamento profissional devem fazer parte do seu plano de carreira. O Crea e a Portobello
S.A convidam para uma maratona de atualização profissional.
Conheça a nossa programação. Agende-se!

04/ABRPreocupação com as Normas de Desempenho


02/MAIDiferença do processo produtivo de cerâmica Via
Seca e Via Úmida 19h
06/JUNNovas ferramentas de assentamento e aumento
Auditório do Crea-BA
de produtividade e qualificação da obra Rua Prof. Aloísio de Carvalho
04/JULPatologia de assentamento, auditorias em obras e Filho, 402. Eng. Velho de Brotas
qualidade da mão de obra
01/AGOCuidados com juntas de assentamento, tamanho
de fabricação, planaridade e lotes
05/SETDiferenças entre porcelanato técnico, porcelana-
to esmaltado e pedras naturais
03/OUTComo especificar cerâmica, argamassa e rejunte
Ideal para piscina segundo a norma de desempenho
Inscrições:
07/NOVProjeto e especificação de fachadas aderidas www.creaba.org.br
acima de 20 metros e patologias
Informações:
05/DEZCuidados no assentamento de formatos grandes
90 x 90 , 60 x 1,20 e 60 x 1,80 71 3453.8912

Realização: Apoio:
#entrevista Foto: Adelmo Borges

Tenho esperança
no sistema
fotovoltaico, que
ainda tem um custo
elevado, mas é uma
tecnologia que veio
para ficar.

Thales de Azevedo Filho Responsável por em Salvador, como o edifício


Engenheiro eletricista prédios importantes Sede do Sinduscon

“O novo desafio é a
idealização de um
laboratório vivo”
O engenheiro eletricista Thales de Azevedo
Filho é uma prova de que a curiosidade e a
busca por inovação não têm idade
42 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017
ping-pong

M
esmo com mais de 70 anos, ele continua ativo, inquieto e inovando os projetos.
Responsável por prédios importantes em Salvador, como o edifício Sede do Sinduscon
(um dos mais corretos ambientalmente no Brasil), Thales de Azevedo Filho tem agora
um novo desafio que é conceber e projetar um laboratório para alunos de Engenharia
e Arquitetura na área de elétrica e hidráulica, que não será um ambiente totalmente
digitalizado e sim interativo, pois, como se diz, “quem faz com as mãos faz melhor”. Acompanhe a
seguir a entrevista concedida pelo engenheiro à revista do Crea-BA.
Foto: Robson Nascimento
Quando começou sua paixão desde pequeno, porque meu pai fazia
pela Engenharia? compostagem da matéria orgânica da
Eu nasci e cresci em um ambiente fa- poda das árvores no quintal lá de nossa
miliar onde se respirava arte, ciência e casa. Ele transformava esse material
tecnologia. Meu pai era médico, mas em adubo orgânico para as plantas e
abandonou a profissão para se tornar depois ainda funcionava como defen-
antropólogo e sociólogo e minha mãe sivo agrícola.
era professora de piano. Meu pai gos- Por falar em sustentabilidade, como
tava de construir coisas e minha mãe surgiu a ideia de construir o prédio
de música clássica. Por conta disso, eu do Sinduscon?
e meus oito irmãos (quatro homens
Quando o Sinduscon quis fazer um
e quatro mulheres) desenvolvemos o
prédio novo para abrigar a sede do
gosto pelas artes e pelas atividades
Sindicato, eu era conselheiro e me
manuais, seja na carpintaria, mecânica,
ofereci como voluntário para fazer os
artesanato, costura ou culinária.
projetos de engenharia de instalações,
Comecei a minha vida acadêmica no desde que tivesse bastante inovação
curso de Física, da Faculdade de Filosofia tecnológica. O então presidente, Carlos que o convencional, GHP (Gas Heat Pump)
da Ufba, mas logo descobri que a teoria Alberto Vieira Lima, de pronto confir- e Roda Entálpica.
não era o meu caminho. Fui buscar a mou que esta era a sua ideia. Isso foi
aplicação da Física na Engenharia de O prédio foi certificado pela Fundação Vanzolini
há seis anos e usamos tudo que tinha
uma maneira tecnológica e fiz novo da USP, pelo processo Aqua. Na ocasião, o pro-
disponível nessa área de sustentabili-
vestibular, dessa vez para Engenharia fessor Manoel Martins, coordenador do sistema
dade e inovação tecnológica.
Elétrica na Escola Politécnica da Ufba, de certificação Aqua-HQE (para empreendimen-
Por exemplo, fizemos um telhado ver- tos sustentáveis) considerou que o edifício era
em 1966.
de, reaproveitamos a água pluvial para um dos mais verdes do Brasil.
Como começou a sua careira? reuso e criamos um sistema de aprovei-
tamento da luz natural. Conseguimos Seis anos depois muita coisa já mudou.
Comecei como estagiário na empresa
Soma Engenharia, uma das maiores da várias doações, inclusive internacionais. Sei disso, por isso já pensei em um projeto de
Bahia. Quando concluí o curso, passei a Uma empresa inglesa, por exemplo, retrofit para algumas áreas. Por exemplo, o
trabalhar na mesma empresa, com uma nos forneceu os bebedouros que têm prédio tem fibra ótica somente até a entrada,
equipe grande de engenheiros e técni- capacidade de recuperar os sais mi- mas já podia ter em cada sala, nas mesas de
cos. Tínhamos obras em todo o Brasil, do nerais da água, depois de tratada pela trabalho. Da mesma forma, pode haver um in-
Maranhão a Itaipu (no Paraná). Convivi concessionária. vestimento na Internet das Coisas, para poder-
com diferentes tecnologias e isso au- mos acompanhar remotamente o desempenho
Recebemos da Bosch um aquecedor
mentou a minha experiência nessa área. dos equipamentos.
que recupera o calor, pré-aquecendo a
Depois abri minha própria empresa, a água e com isso economizando energia. Quais são os novos projetos?
Prodenge, em 1973, para trabalhar com Recebemos da Phillips um sistema O nosso escritório, mesmo não sendo filantró-
projetos, minha vocação. Hoje já temos que direciona a iluminação para os pico, sempre ajudou a comunidade no quesito
mais de 1.500 trabalhos realizados em pontos necessários, conhecido como engenharia de instalações e isto só me tem
todo o Brasil. sistema Dali, racionalizando o uso da dado satisfação e muitos reconhecimentos, o
Desde aquela época, sempre tive preo- eletricidade. Adotamos também um que faz bem à alma. Por causa de um destes
cupação com a sustentabilidade, com sistema de ar condicionado com moto- trabalhos recebi o titulo de Colaborador Emérito
a preservação do planeta. Aprendi isso rização a gás, que é muito mais barato do Exército Brasileiro, o que muito me honra.

crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 43


#entrevista Foto: Robson Nascimento

Tenho esperança no sistema fotovol-


Sempre tive preocupação taico, que ainda tem um custo eleva-
com a sustentabilidade, com do, mas é uma tecnologia que veio
para ficar.
a preservação do planeta Como é a sua relação com os jovens?
Muito boa. Apesar de já ter passa-
do dos 70, tenho uma cabeça de 20.
Gosto muito de conversar com eles.
No meu escritório tem muitos jovens,
mas também funcionários antigos.
Eu digo sempre: só acerta quem erra.
Thomas Edison estudou centenas de
ligas de metais para fazer o filamento
da lâmpada, até chegar ao tungstênio.
Isso foi perseverança.
Temos um programa no escritório para
estimular o conhecimento. Mandamos
nosso colaborador para feiras de tecno-
logia em São Paulo e outros estados e
Fizemos também o Colégio dos Órfãos de São feiras de ciência, tecnologia e museus. compramos ingressos para eles assisti-
Joaquim, que estava em uma situação muito Por exemplo, eu fui o primeiro a tra- rem a uma ópera ou concerto e também
precária, recuperamos a Igreja de Santana, zer, da Alemanha, o ralo linear, depois a um show de MPB. Se ele não for, tem
(em Nazaré), o Lar Harmonia (Bairro da Paz), aperfeiçoado por uma empresa de que pagar o triplo de cada ingresso. Ele
o Convento do Desterro e vários outros. Santa Catarina. tem que ir também à Estação Ciência da
O novo desafio agora é a idealização de um Minha mulher diz que de 500 fotos que USP ou ao Catavento Cultural, e ainda
laboratório vivo, semelhante ao que fizemos eu faço, cinco são da família e 495 de peço para um taxista que nos atende
no Sinduscon-BA. Um fórum permanente para equipamentos, como vaso sanitário, em São Paulo para levá-lo para ver a
discutir as novas tecnologias do ambiente tubulações e redes elétricas. Faz parte iluminação de São Paulo à noite. A ideia
construído, identificando as mais recentes de minha inquietação. é que ele abra a cabeça, tanto na ques-
descobertas e como elas transformarão as tão cultural quanto do ponto de vista
Em sua casa, adota essas soluções da Engenharia. Isso não só aumenta
edificações do futuro. Queremos fazer, de fato,
de sustentabilidade? o conhecimento dele, mas também
um laboratório vivo.
Sim, com certeza. Tenho uma oficina sua autoestima.
Já temos compromisso pré-agendado com
no escritório e outra em casa, que eu Para finalizar, o que o sr. diria para
a Phillips, que vai doar a iluminação e um la-
trabalho aos domingos. Ocupei um um jovem engenheiro?
boratório luminotécnico. Também a Tigre e a
quarto, que uso como laboratório.
Amanco se propõem a doar toda a tubulação Que ele tem que pensar que a escola
Trabalho com madeira, mecânica,
e fazer um laboratório de hidráulica. ensina e ele tem que saber utilizar todo
eletricidade e hidráulica. Faço várias
Estamos tentando trazer de Santa Catarina o este conhecimento em um estágio e
experiências. Por exemplo, há 36
LaBIM, um laboratório de BIM, tecnologia que posteriormente praticando, aí sim, ele
anos fiz talvez o primeiro sistema de
todo estudante de Engenharia deve dominar vai aprender. É fundamental também
aquecimento solar de água da Bahia,
desde cedo. Pensei em colocar um elevador de ter prazer em ser autodidata, pesqui-
que funciona até hoje, em nossa casa.
cremalheira, que vibra e faz barulho, para que sar e estudar. Um jovem que não tem
o estudante se acostume com a realidade que O insolejamento garante água quente curiosidade pelo aprendizado, não lê
ele vai conviver em seu dia a dia. o ano inteiro. Não uso chuveiro elétri- artigos técnicos, pelo menos uma vez
co e nem aquecedor. Quando chove, a por semana, dentro de poucos anos
Todo este trabalho voluntário se mistura com
água é um pouco mais fria, mas dá para ele estará totalmente defasado e fora
a nossa atividade profissional, sem atrapalhar
se acostumar. do mercado. O mundo muda hoje em
em nada o nosso escritório.
Em Belo Horizonte, por exemplo, que uma velocidade assombrosa e essa
Quando viaja para o exterior, como é sua não tem a quantidade do insoleja- atualização tem que ser constante. Ele
relação com as novas tecnologias? mento de Salvador, ninguém com- precisa pesquisar sempre, usar de for-
Em vez de olhar, todo o tempo, os pontos tu- pra um apartamento que não tenha ma inteligente a internet e ter espírito
rísticos, prefiro me deter nas inovações, visitar aquecimento solar. inovador, desbravador.

44 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017


#Uma inspetoria perto de você

Foto: Arquivo Chesf

Capital da energia
e das águas
Paulo Afonso tem várias atividades
econômicas ligadas à Chesf

P
aulo Afonso é um município relativamente novo. Emancipado de Glória
em 1958, possui cerca de 110 mil habitantes e tem como principal
diferencial o complexo de usinas da Chesf (Companhia Hidro Elétrica
do São Francisco), contendo quatro grandes geradoras de energia:
PA I, II, III e IV, que faz a cidade ser conhecida como a “Capital da
Energia”. O turismo, a piscicultura, a agricultura irrigada e o comércio são as
principais atividades que movimentam a economia local.
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Uma inspetoria perto de você

Nesse contexto, o Crea tem uma atua-


ção importante, fiscalizando o exercício
Maior produtor técnico em edificações Antônio Silvino
Caetano Santos e o engenheiro civil
profissional e realizando atendimentos de tilápia Flávio Marcelo Azevedo.
a técnicos e engenheiros. A inspetoria, O engenheiro eletricista Kécio Delgado
que existe há 23 anos, teve em 2015 Arquimedes lembra que o município é
Ferreira, que trabalha na Chesf, desta-
sua sede reformada e inaugurada pelo hoje o maior produtor de tilápia do Brasil
ca que sempre que precisou usar os
presidente do conselho, o engenheiro e que a atividade é intensa o ano inteiro,
serviços do Crea em Paulo Afonso foi
mecânico Marco Amigo. Além de Paulo assim como a fruticultura irrigada, com
bem atendido. Ele conta que foi trans-
Afonso, a inspetoria atende aos mu- destaque para a produção de melancia
ferido de Sobradinho para Paulo Afonso
nicípios de Abaré, Chorrochó, Glória, e coco, além do milho.
e que foi na inspetoria regularizar
Jeremoabo, Macureré, Pedro Alexandre, A cidade possui curso de Engenharia sua situação.
Rodelas e Santa Brígida. Elétrica oferecido pelo Ifba (Instituto
O engenheiro agrícola Humberto de Sá
De acordo com o inspetor-chefe, o en- Federal de Educação, Ciência e
diz que, quando trabalhava na Codevasf,
genheiro agrônomo e de Segurança Tecnologia da Bahia) e algumas fa-
em Paulo Afonso, acompanhando pro-
do Trabalho Arquimedes Ferreira Faria, culdades particulares, que disponibi-
jetos, sempre via os fiscais do Crea
a demanda pelos serviços do Crea é lizam cursos presenciais e outras com
atuando na verificação dos registros
grande na região. Ele destaca as fiscali- aulas a distância.
dos profissionais envolvidos.
zações do exercício profissional em ati- O turismo também é um fator de de-
Humberto conta que vários municí-
vidades econômicas como piscicultura senvolvimento para o município, que
pios da região desenvolvem atividades
e agricultura irrigada, além de obras de realiza todos os anos a Copa Vela, que
econômicas vinculadas à Chesf, como
Engenharia Civil. é um Carnaval fora de época realizado
Glória e Rodelas, que têm plantações de
Ele conta que recentemente uma rede em setembro e atrai visitantes da região
frutas irrigadas e piscicultura.
varejista abriu um grande supermer- e de outras localidades.
cado na cidade, criando empregos e Além do inspetor chefe, o Crea em
movimentando uma rede de pequenos Paulo Afonso tem uma assistente
negócios. Da mesma forma, a Chesf administrativa, Veridiana Souza;
utiliza muitos serviços terceirizados, o fiscal Aldijan Dias e mais quatro
como manutenção elétrica, segurança inspetores: o técnico em Eletrotécnica
e limpeza, o que gera ocupação para Edmilson da Cruz Ferreira; o engenheiro
os moradores. civil Sérgio Paulo Brandão Pinheiro; o

O turismo, a piscicultura, a agricultura


irrigada e o comércio são as principais
atividades que movimentam a economia local
Foto: Fernanda Birolo

Foto: Lelia Dourado Foto: Arquivo Chesf


crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 47
#Compartilhando conhecimento

Introdução à
Princípios Automação Engenharia
da Mecânica Óleo-Hidráulica Geologia da
dos Solos e - Princípios de Engenharia Química Geral
Fundações para a Funcionamento Aplicada à
Construção Civil - Princípios da
Termodinâmica Engenharia
2ª Edição
para Engenharia

Com a proposta
de aprofundar Existem diversos
textos usados em tipos de construção,
Livro voltado
sala de aula, que algumas delas
para quem deseja
incluem exercícios envolvem aspectos Nem todos são
Voltado para entender como O objetivo da
e demonstrações, complexos ligados familiarizados com a
estudantes, funciona o sistema publicação é
a coleção “Didática” à geologia. É para química, modalidade
tecnólogos e de automação óleo- esclarecer para
da Editora da UFSC, esclarecer esse indispensável para
engenheiros civis, hidráulica. Ela é os estudantes de
procura estabelecer assunto que o autor a vida moderna.
esse livro traz, de uma das tecnologias nível superior e os
uma linha objetiva Nivaldo Chiossi Nesse livro “Química
forma resumida, os existentes, ao lado profissionais atuantes
de contato entre apresenta os Geral Aplicada à
principais assuntos da pneumática, diversos aspectos
alunos e o professor. principais conceitos Engenharia”, os
de mecânica dos solos elétrica, eletrônica relacionados ao
O livro “Introdução geológicos, como autores buscam
e fundações para e outras. Serve para tema. Mundialmente
à engenharia formação de rochas fornecer uma
obras de construção sistemas simples reconhecida como
– conceitos, e solos, cartografia introdução concisa
civil. Escrito pelo de elevação, como referência, esta sétima
ferramentas e geotécnica, ao tema, ampliando
engenheiro Manoel máquinas agrícolas edição da obra traz,
comportamentos” investigação de o papel da química
Henrique Campos ou para estruturas como diferencial, uma
busca facilitar o subsolo e condições para muitas áreas
Botelho, o mesmo mais complexas, como diagramação clara e
entendimento ambientais, além de da Engenharia e da
da coleção “Concreto prensas hidráulicas dinâmica que propicia
sobre a carreira de aprofundar temas tecnologia moderna.
Armado, Eu Te Amo”, e as máquinas de a apresentação
Engenharia e mostrar como Geologia de Além disso, mostra
o livro apresenta tipos injeção de plásticos. de informações e
as possibilidades Engenharia aplicada a relação entre
de fundações, aterros Atualmente, o sistema dados em diferentes
e os encantos da em projetos de a disciplina e as
e obras, além de casos óleo-hidráulico formatos, interligando
profissão. Aborda barragens, túneis outras matérias
ocorridos no Brasil encontra-se nos mais conceitos, bibliografia
a estrutura, alguns metroviários, canais, estudadas pelos
envolvendo o tema. diversos setores da paralela, aplicações
limites, a trajetória, dutos, mineração, alunos de engenharia,
Um dos capítulos, indústria, desde a práticas da teoria
os compromissos entre outros. O especialmente
por exemplo, trata do metalomecânica e diversos outros
técnicos e sociais e livro aborda obras matemática e física.
fenômeno das areias pesada e siderurgia recursos disponíveis.
algumas ferramentas envolvendo estradas,
movediças e relaciona até a indústria naval e
de trabalho da ferrovias, canais e
alguns locais no país parques eólicos. Autores: HOLME,
Engenharia. linhas de transmissão. Autores: Vários
onde elas ocorrem. THOMAS A.Autor:
Editora: LTC BROWN, LAWRENCE S.
Autores: Adriano Almeida
Autores: Luiz Teixeira Autor: Nivaldo Chiossi Páginas: 263 Editora: Cengage
Autor: Manoel Henrique Santos / António Ferreira
Campos Botelho da Silva do Vale Pereira e Walter Editora: Oficina de Textos Ano: 2013 Páginas: 655
Antonio Bazzo
Editora: Blucher Editora: Engebook Páginas: 424 Ano: 2009
Editora: UFSC
Páginas: 293 Páginas: 200 Ano: 2013
Páginas: 296
Ano: 2016 Ano: 2016
Ano: 2013

48 crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017


#inspetorias do Crea-BA

Alagoinhas Ilhéus Paulo Afonso


Rua Dantas Bião, s/n, sala 52, Laguna Shopping, Praça Rui Barbosa nº 32 – Centro Rua Carlos Berenhauser, 322, térreo
Centro. CEP: 48.030-030 CEP: 45.653-340 – Alves de Souza. CEP: 46.608-080
(75) 3421-5638 (73) 3634-1158 (75) 3281-4887
creaba.alag@redecreaba.org.br creaba.ilheus@redecreaba.org.br creaba.pafonso@redecreaba.org.br
Inspetor: Eng. agrônomo Inspetor: Eng. civil Cláudio Nepomuceno Pinto Inspetor: Eng. agrônomo
Luiz Cláudio Ramos Cardoso Arquimedes Ferreira Faria
Irecê
Barreiras Ribeira do Pombal
Avenida Tertuliano Cambuí, n° 350 – Centro
Rua Maria Mendes Ferreira, nº21 – Sandra Regina CEP: 44.900-000 Av. Oliveira Brito, 310, Ed. Bruna Center,
CEP: 47.802-022 (74) 3641-3708/1957 salas 09 e 10, Centro. CEP: 448.400-000
(77) 3611-2720/3612-3700 creaba.irece@redecreaba.org.br (75) 3276-3896
creaba.barreiras@redecreaba.org.br Inspetor: Eng. agrônomo André Fernando creaba.rpombal@redecreaba.org.br
Inspetor: Eng.civil Edson José Boll Martinez Rocha Inspetor: Eng. civil Jone Souza Santos
Bom Jesus da Lapa Itaberaba Santa Maria da Vitória
Rua do Flamengo, 300 – Amaralina Praça Flávio Silvany , 130, sala 105, Rua 06 de Outubro, S/Nº – Centro
CEP: 47.600-000 Ed. Empresarial João Almeida Mascarenhas CEP: 47.640-000
(77) 3481-0301 – Centro. CEP: 46.880-000 (77) 3483-1090/Fax: 3483-1110
creaba.bjlapa@redecreaba.org.br (75) 3251-3213/1812 creaba.smv@redecreaba.org.br
Inspetor: Eng. civil Fábio Lúcio Lustosa de Almeida creaba.itaberaba@redecreaba.org.br Inspetor: Eng. civil Antocélio Ribeiro Teixeira
Inspetor: Eng. eletricista Jayme Carneiro
Brumado Santo Antônio de Jesus
Calmon Neto
Praça Coronel Zeca Leite, 460 – Centro Av. Roberto Santos, 88, Ed. Cruzeiro do Sul,
Itabuna
CEP: 46.100-000. (77) 3441-3326 salas 103 e 104 – Centro. CEP: 44572-060
creaba.brumado@redecreaba.org.br Avenida Princesa Izabel, 395. Cond. Itabuna (75) 3631-4404
Inspetor: Eng. agrônomo Trade Center, sala 202 – São Caetano creaba.saj@redecreaba.org.br
Sinval Xavier de Aguiar CEP: 45.607-291. (73) 3211-9273 Inspetor: Eng. eletricista
creaba.itabuna@redecreaba.org.br Leonel Pereira dos Reis Neto
Camaçari
Inspetor: Eng. agrônomo José Celso de Santana
Seabra
Av. Radial A, nº 67, Edifício Empresarial Pacific
Jacobina
Center, salas Q e R, 1º andar – Centro Rua Jacob Guanaes, 565 – Centro
CEP: 42.807-000 Rua Duque de Caxias, 400A – Estação CEP: 46.900-000
(71) 3621-1456/3040-5871 CEP: 45.600-124 (75) 3331-1327
creaba.camacari@redecreaba.org.br (74) 3621-5781 creaba.seabra@redecreaba.org.br
Inspetor: Téc. Eletrotéc. creaba.jacobina@redecreaba.org.br Inspetor: Eng. de Computação
Sandro Augusto Vieira da Silva Inspetor: Geólogo Rossini Barreto Cocentino Jacques Jefferson Leão Lima
Cruz das Almas Jequié Teixeira de Freitas
Rua J. B. da Fonseca, nº 137 – Centro Rua Frederico Costa, 61 – Centro Av. Presidente Getúlio Vargas, 3.421, Edifício
CEP: 44.380-000 CEP: 45.2036-30 Esmeralda, salas 203, 204 e 205 – Centro
(75) 3621-3324 (73) 3525-1293 CEP: 45.985-200
creaba.cruz@redecreaba.org.br creaba.jequie@redecreaba.org.br (73) 3291-3647/3291-7444
Inspetor: Eng. civil Luís Carlos Mendes Santos Inspetor: Eng. civil Deusdete Souza Brito creaba.tfreitas@redecreaba.org.br
Inspetor: Eng. civil Sancho Netto da Cruz
Eunápolis Juazeiro
Valença
Rua Castro Alves, 374, sala 02 e 03 – Centro Rua do Paraíso, nº 97, Centro Médico e
CEP: 45.820-350 Empresarial Dr. Olavo Balbino, sala 35 Rua Dr. Heitor Guedes de Melo, nº 111,
(73) 3281-2806 Santo Antonio. CEP: 48.903-050 Ed. Argeu Farias Passos – Centro
creaba.eunapolis@redecreaba.org.br (74) 3611-3303/3611-8186 CEP: 45.400-000
Inspetor: Eng. agrônomo creaba.juazeiro@redecreaba.org.br (75) 3641-3111
José Emarcio Bezerra Torres Inspetor: Eng. agrônomo creaba.valenca@redecreaba.org.br
Luciano César Dias Miranda Inspetora: Eng. sanitarista e ambiental
Feira de Santana
Márcia Cristina Alves do Lago
Lauro de Freitas
Rua Prof. Geminiano Costa, 198 – Centro
Vitória da Conquista
CEP: 44.001-120 Av. Brigadeiro Mário Epighaus, 78,
(75) 3623-1524 Ed. Business Center, sala 115, bloco B, Avenida Otávio Santos, 722 – Recreio
creaba.fsa@redecreaba.org.br Condomínio Porto 3 – Centro CEP: 45.020-750
Inspetor: Eng. eletricista Edson José Nunes (71) 3024-3517 (77) 3422-1569/(77) 3427-8843
creaba.lf@redecreaba.org.br creaba.conquista@redecreaba.org.br
Guanambi
Inspetor: Téc. de Telec. Inspetor: Eng. civil
Av. Messias Pereira Donato, 495 – Aeroporto Velho Johnson Euclides Pacheco Alexandre José Brasil Pedral Sampaio
CEP: 46.430-000
Luís Eduardo Magalhães
(77) 3451-1964
creaba.guanambi@redecreaba.org.br Av. JK, nº 1.973, salas 1 e 3 – Centro
Inspetor: Eng. agrimensor CEP: 47.850-000
Wellington Donato de Carvalho (77) 3628-6755
creaba.lem@redecreaba.org.br
Inspetor: Eng. agrônomo Paulo Roberto Gouveia

crea, Salvador, BA, v. 15, n. 55, primeiro trimestre de 2017 49


CURSO DE EXTENSÃO EM

NANOTECNOLOGIA E NANOMATERIAIS
Programa: I - Introdução; II - Nanomateriais e materiais
nanoestruturados; III - Materiais com dimensões nanométricas,
IV - Metais e ligas metálicas nanoestruturadas; V - Materiais
nanocompósitos; VI - Materiais e membranas nanoporosas;
VII - Nanomateriais inspirados na natureza; VIII - Superfícies
e revestimentos nanoestruturados; IX - Processos de síntese
de nanomateriais (Bottom-up); X - Métodos de processamento
de nanomateriais (Top-down); XI - Técnicas de microscopia e
caracterização de nanomateriais; XII - Conclusão

CURSO DE EXTENSÃO EM

SISTEMAS FOTOVOLTAICOS
Para iniciantes com formação mínima em nível médio técnico

Programa: I - Introdução; II – Energia Solar; III – Tecnologia


Fotovoltaica; IV – Sistemas Fotovoltaicos; V - Principais
componentes de um sistema fotovoltaico; VI –Baterias;
VII – Controladores de Carga; VIII – Inversores; IX - Aplicações
de Sistemas Fotovoltaicos; X – Projeto Fotovoltaico Básico

CURSO DE EXTENSÃO EM

ENGENHARIA NAVAL
MÓDULO I - Engenharia Naval e Oceânica
Alguns tópicos abordados: Sistemas Flutuantes, Nomenclatura
naval e offshore, Tipos de navios, embarcações e plataformas,
Características físicas e operacionais, etc.
MÓDULO II – Construção de Navios e Plataformas
Alguns tópicos abordados: Principais Módulos e Equipamentos,
Características de Funcionamento, Bombas de carga, lastro e
de processos, Sistemas de amarração e fundeio, Sistemas de
posicionamento dinâmico, Sistemas auxiliares, Helidecks, etc.

FAÇA JÁ SUA MATRÍCULA Tel.: (71) 3181-6333 | 99984-2727 | 99679-3683


Rua Frederico Simões, 153 - Ed. Empresarial Orlando Gomes e-mail: contato@institutopessoa.com.br
www.institutopessoa.com.br
Sala 807 - Caminho das Árvores - Salvador - BA
(Próximo ao Salvador Shopping - em frente ao hotel América Towers) Turma Aracaju-SE: (79) 99105-7675
Turma São Luís-MA: (98) 99188-0707

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