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Índice
05 08 10 12
Fiscalização Reconhecimento Desafios da Relatório
facial construção logístico

14
Eletrificação
veicular
18

16
Mapeamento
arbóreo Capa – IA na Agricultura

23 26 28 30
Conselheiros Eventos Tech Trends Onda verde

34 36
Palavra de Parcerias
Especialista
EDITORIAL
A transformação de da tendência das soluções
comportamento da sociedade tecnológicas, é um momento
tem estimulado mudanças de reflexão e cuidado para
significativas na nossa forma que possamos construir uma
de enxergar o mundo e de rota de segurança que garanta
nos relacionar com o outro. a preservação da vida, dos
Em meio aos desafios do recursos e do legado de
desenvolvimento sustentável, conhecimento que levaremos
avaliamos o papel da área para o futuro.
tecnológica.
Desta forma, o campo de
Se até então ditávamos observação não existe mais.
os caminhos para o Somos todos protagonistas
estabelecimento dos meios de desta história e devemos
comunicação, da infraestrutura, aliar todas as forças
da cadeia produtiva e das possíveis à inovação e à
cidades tal qual conhecemos multidisciplinaridade. Esta é
hoje, o que precisamos para a missão das Engenharias,
que o cenário seja mais bem Agronomia e Geociências no
planejado, responsável e eficaz estado de São Paulo e no país.
com as nossas demandas? O Engenheiro Vinicius Marchese
que vivemos agora vai além Boa leitura! Presidente do Crea-SP

Revista

CREA
São Paulo
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Eng. Quim. e Eng. Seg. Trab. Francisco
EDITOR
Jornalista Perácio de Melo – MTb 25.293
Innocencio Pereira
PROJETO EDITORIAL, PRODUÇÃO, ARTE,
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editada oficialmente pelo Conselho Regional Geol. Fernando Augusto Saraiva CDI Comunicação
de Engenharia e Agronomia do Estado de
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São Paulo (Crea-SP), com periodicidade
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tecnológica do Estado.
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Eng. Telecom. Vinicius Marchese Marinelli
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CHEFE DE COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA 
Eng. Civ. Clóvis Sávio Simões de Paula
CREA-SP Publicitária Bárbara Garcia de Oliveira 4
05

Intercâmbio entre os Creas:


um novo impulso para a fiscalização
Ferramentas e modelos são compartilhados para maior valorização profissional e proteção da sociedade

Em um universo de mais de um O Crea-SP encontrou neste formato


milhão de profissionais da área um jeito de fortalecer as relações
tecnológica registrados no Brasil
“Nosso serviço com o Sistema Confea/Crea e
é preciso existir a padronização é dinâmico, sem manter uma dinâmica de frequente
de procedimentos para as repetições, e aprimoramento das operações
atividades técnicas e serviços
prestados à sociedade. Além essa troca de de fiscalização. Isso porque a
integração foi adotada como
da regulamentação, que define informações parte da cultura organizacional do
o trabalho da fiscalização para
sempre agrega Conselho já nas atividades internas
proteção da população e garantia
do exercício legal das profissões conhecimentos”. e rendeu até a criação do aplicativo
em âmbito nacional, uma prática atualmente utilizado pelos agentes
tem surgido entre os Conselhos Júlio César Marcom, fiscais para reduzir o volume de
Regionais de Engenharia e agente fiscal da Unidade papeis de ordens de serviços e
Agronomia do país: o intercâmbio Operacional (UOP) Norte notificações, facilitando e agilizando
de conhecimento e experiência. o trabalho em campo.

CREA-SP 5
O presidente do Conselho paulista e, consequentemente, de melhor conformidade no serviço prestado.
explica que, apesar das diferentes entrega para a sociedade. “Até Então, é bom que estejamos
jurisdições e independência de porque, para a população, não trocando nossos conhecimentos
atuação entre si, ter todo o Sistema existe essa divisão. Quando e ferramentas para chegar nessa
trabalhando junto por um mesmo alguém contrata um profissional uniformidade da fiscalização como
propósito é sinônimo de valorização de Engenharia, Agronomia ou um todo”, diz o Eng. Telecom.
das profissões da área tecnológica Geociências, espera que haja Vinicius Marchese.

Entenda como funciona a dinâmica do intercâmbio de fiscalização

Os agentes fiscais são reunidos e participam de programações especiais.

Tudo começa em uma visita Depois, as equipes intercambistas A partir de então, é iniciada a rota
à principal Sede do Crea-SP, acompanham algumas de fiscalização de serviços, obras e
localizada na Avenida Brigadeiro apresentações sobre o modelo de projetos da área tecnológica. Aqui
Faria Lima, na zona oeste da cidade, forças-tarefas implementado em São toda a operação é realizada como
para um momento de integração e Paulo, a relação de documentações de fato acontece normalmente e
bate-papo. exigidas nas diligências e os tipos os agentes fiscais visitantes têm a
de atividades técnicas fiscalizadas. chance de ver como funcionam as
ferramentas do Crea-SP, em especial
o aplicativo, FiscalizApp.

CREA-SP 6
“Além da oportunidade de quando foi registrado um aumento
realizar ações fiscalizatórias in de 1.600% de ações realizadas no
loco, aprendemos sobre os período, que culminou no recorde
procedimentos para eventos de mais de 462 mil operações
temporários, obras de grande porte em 2022 em SP. “Analisamos os
e postos de combustíveis”, comenta Creas com os melhores números
a Eng. Civ. Viviane Riveros, gerente e serviços de fiscalização e logo o
de Fiscalização do Crea-TO. Crea-SP veio em nossa lista”, conta
o Eng. Civ. José Luís Leal, gestor
O agente fiscal do Crea-SP que
de Fiscalização do Crea-TO, um
recepcionou os tocantinenses
dos primeiros Regionais a participar
complementa: “A Fiscalização não
desta aproximação.
permite rotina. Nosso serviço é
dinâmico, sem repetições, e essa Também foi feito intercâmbio
troca de informações sempre agrega com Distrito Federal e, mais “O que buscamos é
conhecimentos das experiências recentemente, iniciados os diálogos aproveitar um pouco
de trabalho em regiões que para ações com Pará e Amazonas.
desse aprendizado
apresentam uma realidade diferente “O Crea-SP é o maior Conselho
da nossa”, comenta Júlio César do país e que tem mais estrutura para que possamos
Marcom, agente fiscal da Unidade de fiscalização. O que buscamos crescer do mesmo
Operacional (UOP) Norte. é aproveitar um pouco desse jeito que São Paulo
O compartilhamento com os demais
aprendizado para que possamos
vem crescendo”.
crescer do mesmo jeito que São
Estados vem inspirando resultados, Paulo vem crescendo”, afirma o Eng. Civ. Afonso Lins,
a exemplo do desempenho histórico presidente do Crea-AM, Eng. Civ. presidente do Crea-AM
dos últimos sete anos em São Paulo, Afonso Lins.

De estados para estados

É justamente devido às diferentes Mec. Igor de Mendonça Fernandes, uma trajetória como atendente no
realidades de Estado para Estado que da Gerência de Coordenação de Regional paraense.
os intercâmbios foram construídos Fiscalização (GCF) do Confea. Os
como uma alternativa viável para eventos acontecem duas e cinco vezes E as trocas não param por aí. No caso
instigar a criatividade no serviço por ano, respectivamente. “Com isso, de Tocantins, além do intercâmbio
público, promovendo melhor adaptação esperamos que a integração gere a de fiscalização, um acordo de
de recursos que são comuns à área unicidade das ações e estimulamos cooperação técnica entre os
tecnológica, como a digitalização. que assim seja”, completa. Conselhos possibilitou a participação
de profissionais no programa de
“Formalmente, o Confea regulamenta Para a presidente do Crea-PA, Eng. pós-graduação do Crea-SP Capacita.
os procedimentos de fiscalização Civ. Adriana Falconeri, a chance “Conseguimos habilitar cerca de
via notas técnicas e resoluções, é de melhorar o atendimento. 70 profissionais para o curso em
mas aqueles que ainda não foram “Devemos fazer ainda a imersão Inovação e Empreendedorismo
atingidos por normativos são avaliados com as equipes de São Paulo para nas Engenharias, o que acabou
e discutidos também durante os alinhar as boas práticas e trazer sendo um grande diferencial”,
Encontros Nacionais de Fiscalização melhorias para os nossos serviços”, finaliza o jornalista Fred Guerra,
(ENAFISC) e os Encontros Regionais de fala a engenheira que, além da superintendente Institucional e de
Fiscalização (ERFISC)”, detalha o Eng. atual cadeira na Presidência, trilhou Governo do Crea-TO.

CREA-SP 7
08

Segurança pública ganha


contra hackers ao criptografar os
dados faciais e armazená-los no

um reforço de peso
dispositivo, ao invés da nuvem.

Os exemplos da sua utilização


estão espalhados pelo país, mas
Tecnologia de reconhecimento facial evolui para identificar sua aplicação tem ganhado força na
mudanças de padrões segurança pública. O metrô paulista,
Se hoje basta mirar o aparelho celular para o próprio rosto para por exemplo, implantou um novo
desbloquear seu uso, em 1964 – quando os primeiros estudos sobre sistema de reconhecimento facial
reconhecimento facial foram realizados – um programa de computador para proteger os passageiros que
levava uma hora para processar 40 imagens. Munido de um livro de fotos viajam na Linha 3-Vermelha. As 18
e uma fotografia de investigação, o cientista da computação Woodrow estações que compõem esse trecho
Bledsoe criou uma metodologia para ensinar o computador a reconhecer contam com aproximadamente
até 10 faces. Apesar de ter desenvolvido a tecnologia, ele ainda precisou
recrutar pessoas para modelar e fotografar, projetar a iluminação e
“A pesquisa focou
classificar, manualmente, os dados.
no desenvolvimento
De lá para cá, os computadores e dispositivos eletrônicos evoluíram a tal de um sistema que
ponto que o reconhecimento facial já é uma realidade para a população,
devido à ampla utilização em diversos serviços, produtos e setores. Isso só
pudesse reconhecer
é possível graças à outras tecnologias, como a modelagem 3D – técnica um indivíduo
que mapeia o rosto em três dimensões, desde à estrutura óssea até as mesmo com muitas
curvas da cavidade ocular, nariz e queixo -; câmeras infravermelhas, que variáveis”.
projetam milhares de pontos de luz, criando o mapa de profundidade 3D;
aprendizagem profunda, Inteligência Artificial e redes neurais, ou seja, Eng. Eletric.
basicamente a capacidade de autoaprendizado das máquinas; análise Alex Affonso, pesquisador
da textura da superfície, que produz uma impressão da pele ao examinar e doutor pela EESC
rugas, poros e texturas dos rostos; e o enclave seguro, uma proteção

CREA-SP 8
informações sejam identificadas
incorretamente.
“Apesar do Além da
reconhecimento Para auxiliar nessa questão, a segurança pública
facial ser uma Escola de Engenharia de São Carlos
(EESC), da USP, desenvolveu um
tendência inegável, sistema de reconhecimento facial
Veja o uso do
ainda é preciso uma que pode colaborar na identificação
reconhecimento facial
em outras áreas e seus
ampla discussão de suspeitos e na criação de
benefícios
sobre o uso um banco de dados e imagens
exclusivamente brasileiro para
de dados”. ampliar o uso da tecnologia. A nova
Carros
Dispositivo de reconhecimento
ferramenta se baseia na extração facial é capaz de configurar o
Eng. Comp. Igor Silveira, veículo a partir da leitura do
de uma assinatura facial obtida
mestre e professor rosto do motorista e detectar
do Instituto Mauá de por meio de algoritmos. Esses fadiga, além de incluir outras
cálculos ajudam na composição de funções para aumentar a
Tecnologia (IMT) segurança contra furtos.
um banco de dados próprio, que
pode identificar uma pessoa mesmo Aviões
1.400 câmeras instaladas, bem maquiada, disfarçada ou mais Algumas companhias aéreas
como nos pátios ferroviários de envelhecida. já estão deixando os bilhetes
de embarque e adotando o
Itaquera e Belém.
reconhecimento facial para
O Eng. Eletric. Alex Affonso,
agilizar e dar segurança ao
Segundo o Eng. Comp. Igor pesquisador e doutor pela EESC, procedimento. Além disso, o
Silveira, mestre e professor do explica que o foco da pesquisa foi o uso da tecnologia já é adotado
em aeroportos para leitura de
Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), desenvolvimento de um sistema que passaportes.
a tecnologia de reconhecimento pudesse reconhecer um indivíduo
usada para segurança pública mesmo com muitas variáveis. “Muitos Banking
é parecida com a utilizada em trabalhos encontrados na literatura Diversos bancos já oferecem
o reconhecimento facial como
celulares e computadores para analisavam imagens obtidas em protocolo de segurança.
desbloqueio por identificação laboratório, em estúdio, nas quais as
de usuário. “Normalmente, o pessoas posavam para as câmeras. Sala de aula
Nesse cenário, os parâmetros da face Em alguns países, o
sistema é dividido em três partes:
reconhecimento facial já é usado
identificação do rosto, extração são muito bem definidos”, explica. para controlar a frequência nas
de features (características) e escolas e universidades.
De acordo com o pesquisador, o
classificação”, explica. Porém, o
desafio foi criar um algoritmo que Pessoal autorizado
engenheiro afirma que são sistemas atendesse ao objetivo central do Estabelecimentos com
puramente neurais, inteligência restrição de circulação estão
estudo, que é o de reconhecer
trocando cartões e crachás por
artificial que processa dados de pessoas em situações do cotidiano, reconhecimento facial.
uma forma inspirada pelo cérebro em poses diferentes ou usando
humano. A identificação do rosto, acessórios. Por isso, o trabalho Eventos em geral
por exemplo, pode ser prejudicada Tendência de uso em shows para
precisou ser multidisciplinar entre encontrar pessoas que estão
pelo uso de roupas e acessórios as áreas de Engenharia e Ciência desaparecidas ou procuradas.
que tem como objetivo confundir da Computação. O desafio agora Além disso, reconhecimento
também é buscado por grupos de
esses sistemas – como em ataques é promover o alinhamento de marketing para obterem dados
adversariais, que buscam burlar tecnologias com os bancos de sobre o público-alvo em questão.
os classificadores para que as dados já existentes.

CREA-SP 9
10
Microapartamentos são a
nova aposta da construção
Como reflexo da falta de terrenos e da necessidade de
moradias mais acessíveis, os imóveis reduzidos ganham espaço
no mercado – mas geram desafios de infraestrutura “Construção de
imóveis menores
Um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Incorporadoras
Imobiliárias (ABRAINC) mostra que 62% dos empresários do setor é uma tendência
acreditam que o mercado imobiliário em 2023 estará um pouco ou muito que reflete a
melhor do que em 2022. As perspectivas de programas habitacionais redução do tamanho
e subsídios devem pautar as decisões e, além das soluções criativas
e sustentáveis, caso das construções temporárias e prédios verdes,
das famílias e a
os imóveis cada vez menores devem seguir como tendência, necessidade de
especialmente em São Paulo. A cidade, aliás, foi considerada o locais que sirvam
epicentro dos microapartamentos, aqueles que têm 30 m
como dormitórios”.
ou menos, segundo pesquisa da plataforma de
imóveis QuintoAndar. Eng. Civ. e de Prod.
O Eng. Civ. e de Prod. Mamede Abou Mamede Abou Dehn Jr.,
Dehn Jr., vice-presidente do Crea- vice-presidente do Crea-SP
SP, explica que construção de
imóveis menores é uma reflete a redução do tamanho das
tendência natural, que famílias e a necessidade de locais
que sirvam como dormitórios. “Além
disso, questões como necessidade
de redução de custo, aumento de
lucro das construtoras e escassez
de terrenos ajudam a explicar o
aumento dos chamados imóveis
reduzidos”, aponta.

De acordo com o Eng. Civ. Roberto


Racanicchi, coordenador da Câmara
Especializada de Engenharia
Civil (CEEC) do Conselho,

CREA-SP 10
esses imóveis menores e sem estímulo de mais uso do transporte
garagem são comuns em países público e imóveis mais baratos.
como o Japão, e devem continuar Mas, isso não aconteceu como o
em alta por aqui, especialmente esperado e muitos desses imóveis
nos grandes centros brasileiros. acabaram virando Airbnb ”, ressalta.
“Com os subsídios do governo,
essas construções, que são mais INFRAESTRUTURA
acessíveis, ganham força”, diz. NA PAUTA DE DESAFIOS

No entanto, a legislação é um Apesar de ser interessante para as


ponto de atenção para a construção incorporadoras e uma oportunidade
desses microapartamentos. “As leis de moradia própria para pessoas que
de zoneamento, de uso e ocupação desejam estar próximas dos grandes
e de postura estabelecem as centros, os imóveis reduzidos geram
condições mínimas de habitações “Além do desafios de planejamento urbano.
e as prefeituras precisam alterar planejamento “As redes de abastecimento de água,
a legislação para fazer imóveis coleta de esgoto, transporte público
menores”, explica Racanicchi. urbano, questões e vias sofrem com esse adensamento,

Mamede lembra que a construção


como administração, pois são mais pessoas utilizando o
mesmo espaço. Essas incorporadoras
dos imóveis reduzidos, apesar segurança e rotas pagam uma outorga onerosa para ter
de ser interesse das construtoras de fugas ficam mais essas construções mais adensadas,
pela facilidade de comercialização
e baixo investimento, pode ter complexas com mas isso não reflete numa melhoria
imediata do planejamento urbano”,
impactos na cidade de São Paulo. a construção de afirma Mamede.
“A prefeitura encaminhou para a
Câmara dos Vereadores um pedido
imóveis reduzidos”. Racanicchi ressalta outros desafios
da alta ocupação. “Muitas vezes, um
de revisão do Plano Diretor, que prédio que teria 80 apartamentos
Eng. Civ. Roberto
deve ser votado em breve. Isso dá lugar a 500 unidades nesse
Racanicchi, coordenador
porque em 2014 foram incentivadas formato reduzido. Com isso, além
as construções de moradias
da Câmara Especializada
do planejamento urbano, questões
compactas na capital paulista para de Engenharia Civil (CEEC) como administração, segurança,
dar acesso às pessoas de renda do Crea-SP rotas de fugas, ficam mais
menor às regiões centrais, com complexas”, finaliza.

Novo espaço para os engenheiros

As construções menores também contam com o uso da especializada em Engenharia e Arquitetura.


tecnologia e atraem um público em busca de praticidade.
Segundo ele, essa mudança de materiais, que já inclui
“Já vemos o aumento do uso de materiais como
até pisos antivírus, é uma oportunidade para engenheiros
membranas flexíveis, sistemas de vidro touch, esquadrias
que desejam se especializar em tecnologia. “Há uma
inteligentes e iluminação programada. Ou seja, ferramentas
demanda por profissionais capacitados e as empresas
que se comunicam com assistentes, como Alexa, e podem
estão buscando esses colaboradores. Começar por feiras
controlar abertura de janelas, intensidade da iluminação e
e artigos pode ser um primeiro passo para inovar nessa
do ar-condicionado, por exemplo”, diz o Eng. Civ. Marco
profissão”, finaliza.
Aurélio Davanço, diretor da Davanço & Cavalleri, empresa

CREA-SP 11
12 O caminho para evitar
o colapso do sistema
“Mapeamos logístico paulista
estudos já existentes
das secretarias Relatório do Crea-SP aponta ações emergenciais para resolver
gargalos de mobilidade urbana no Estado
de transporte
e logística, e “São Paulo é a locomotiva do enorme infraestrutura de transporte
apontamos soluções desenvolvimento no Brasil e, apesar e logística e o relatório é uma
viáveis no curto de possuir a melhor malha viária colaboração técnica do Crea-SP para
e médio prazo entre todos os Estados, a atual ajudar o poder público na tomada
infraestrutura de logística não atende de decisão sem que a política seja a
para evitar que o mais a demanda populacional e principal motivação das escolhas”,
Estado pare” mercadológica da região”. Esta explica o Eng. Amb. Guilherme
afirmação é do presidente do Crea- Del Nero, que tem 15 anos de
Eng. Telecom. Vinicius SP, Eng. Telecom. Vinicius Marchese, experiência em empreendimentos
Marchese, presidente do em referência às conclusões de rodoviários e coordenou a parte
Crea-SP relatório desenvolvido pelo Crea-SP ambiental dos trechos Norte e Sul do
e entregue ao governo do Estado. O Rodoanel. Ele exemplifica o tamanho
documento busca contribuir com o do problema: “Às 7h, em pontos
desenvolvimento de políticas públicas como Rodovia dos Bandeirantes
que solucionem o iminente colapso ou Anhanguera, no trecho de cerca
do sistema estadual de logística. de oito quilômetros de chegada à
capital, é mais rápido percorrer de
Justamente para abordar esses
bicicleta do que de carro”, afirma.
pontos de atenção e mapear
possíveis soluções, o Conselho Segundo o economista e
montou um grupo de trabalho com administrador José Fernando
nomes importantes do setor de Bruno, assistente de diretoria
transporte e elaborou o estudo para da Dersa – empresa estadual de
o governo estadual. “Mapeamos desenvolvimento rodoviário -, que
os materiais já existentes das também participou da elaboração
secretarias de transporte e logística, do relatório e já atuou como
e apontamos soluções viáveis no subsecretário de mineração do
curto e médio prazo para evitar que estado de São Paulo, os números
o Estado pare”, conta Vinicius. grandiosos demandam mais modais
de transporte. “Para se ter uma
O Estado de São Paulo possui 46
ideia, são quatro mil carretas de areia
milhões de habitantes, tem renda de
e quatro mil de ferro por dia para
R$ 2 trilhões, responde por mais de
abastecer a construção civil na Região
30% do PIB nacional e é a terceira
Metropolitana. Apenas de farinha de
maior economia da América Latina.
trigo são 12 mil toneladas diárias que
“É uma grandeza que demanda uma
precisam ser transportadas”.

CREA-SP 12
Uma delas é a conclusão do trecho
norte do Rodoanel, uma obra
que já está 85% realizada. “Isso
é fundamental para desafogar a
Marginal do Tietê, uma das principais
vias do sistema viário da região
metropolitana”, diz José Fernando.

“As estruturas já foram pagas


pelos governos estadual e federal
e BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento) e estão depreciando
pela paralisação. Além da importância
logística, a retomada das obras gera
empregos”, afirma Guilherme.

Presidente do Crea-SP, Eng. Vinicius Marchese, entrega relatório ao governador, Outro ponto de oportunidade
Eng. Tarcísio de Freitas refere-se às ligações ferroviárias de
cidades do quadrilátero que abrange
Pelos cálculos detalhados no Em 1950, o Estado tinha cerca de
Sorocaba, Campinas, São José dos
estudo, caso nenhuma medida seja cinco mil quilômetros de estrada
Campos e Santos, além da Região
tomada, em meados de 2032, o de ferro e quase zero de rodovias
Metropolitana de São Paulo. “Esses
congestionamento em rodovias como pavimentadas. Atualmente, há 32 mil
trechos poderiam ser utilizados para
Imigrantes, Anchieta, Ayrton Senna quilômetros de estradas e a mesma
transporte de cargas e passageiros,
e Dutra começará em trechos de 40 malha ferroviária em São Paulo,
compartilhando linhas no mesmo
a 50 quilômetros da capital. Por isso, sendo que apenas metade está em
eixo e necessitando de menor
entre as sugestões do Crea-SP está a funcionamento. “Esse é um cenário
aporte de recursos públicos do que
retomada do modal ferroviário. que precisa mudar com urgência.
o projeto atual em discussão no
Por isso, nossa proposta é ampliar o
governo”, diz Guilherme.
transporte de trens. O anel ferroviário,
“A conclusão denominado de Ferroanel, é um
do trecho norte dos elementos mais importantes
De acordo com Marchese, todas as
propostas consideram a participação
do Rodoanel é para a funcionalidade do sistema
da iniciativa privada em PPPs (parcerias
fundamental para logístico, com papel essencial para a
público-privadas), para reduzir
intermodalidade”, diz Guilherme.
desafogar a Marginal investimentos públicos e agilizar a
do Tietê, uma das COMO EVITAR O COLAPSO?
implantação. “Estamos otimistas que
não haverá colapso e que as medidas
principais vias serão realizadas”, finaliza.
do sistema viário Além da questão da malha ferroviária,
o relatório também aponta outras
principal da região frentes que podem ajudar a melhorar
Confira o relatório
metropolitana”. o transporte, o que acarretaria mais
na íntegra:

qualidade de vida aos cidadãos, que


José Fernando Bruno, ficariam menos horas no trânsito,
assistente de diretoria reduziria os acidentes e representaria
da Dersa
custo menor do frete.

CREA-SP 13
14 Suplemento
Tecnocientífico

Os impactos dos veículos elétricos


Estudo alerta que eletrificação como alternativa à combustão pode sobrecarregar energia em
município e apenas transferir a responsabilidade pela emissão de gases

Os efeitos das alterações climáticas


têm imprimido um senso de urgência
na busca por soluções para reduzir
as emissões de gases. Grandes
economias como China, Estados
Unidos, Noruega e França, apostam na
eletrificação das frotas para atingir as
cotas e definiram prazos para extinguir
a produção de veículos à combustão
nos próximos 20 anos. A eletrificação O professor Eng. Eletric. Breno Ortega Fernandez entre os então discentes da Unilins
também já ganha contornos por aqui.
No Brasil, em 2022, foram emplacados alertar sobre os desafios da matriz Unilins, Adilson Donizeti Martins
cerca de 50 mil veículos elétricos e energética, o Eng. Eletric. Breno Junior, Bárbara Cabral da Silva,
a frota total se aproxima das 127 mil Ortega Fernandez, doutor em Helehandra Eduarda Bertoldo,
Engenharia e professor do ensino José Aphonso Debreix Rodrigues,
unidades, de acordo com a Associação
superior no Centro Universitário Maria Eduarda Navarro Barboza,
Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE).
de Lins (Unilins), em parceria Thaiany Caroliny de Falchi Aleixo
Com o intuito de levantar mais com os então discentes do curso e Vitor Venâncio da Silva, realizou
informações sobre o assunto e de Engenharia Ambiental da um estudo sobre o tema.

CREA-SP 14
“Eletrificação da
Os dados de “O Impacto da
frota pode ser tão ou se extrapolado em nível nacional,
eletrificação veicular na demanda mais prejudicial ao exigiria o acionamento de plantas de
energética dos municípios” foram ambiente do que os geração elétricas mais poluentes e
mais caras, como o que aconteceu
compilados no segundo semestre tradicionais motores nos meses de escassez hídrica.
de 2022 e, a partir da sua análise,
chegou-se à conclusão de que
a combustão”. Já a incapacidade de suprir esta
a eletrificação de veículos como quantidade adicional de energia,
Eng. Eletric. Breno Ortega pode resultar em racionamentos,
alternativa à combustão apenas Fernandez com impacto direto nas atividades
transfere a responsabilidade pela
econômicas”, explica o professor.
emissão de gases de um para o outro.
respondentes teriam interesse pelos
automóveis elétricos. Isso quer dizer que a inevitável
“Um dos apelos comerciais dos
eletrificação da frota nacional de
veículos elétricos é o uso de energia
Segundo o engenheiro, levando veículos deve ser acompanhada
limpa. No entanto, não é possível
em conta a equivalência energética por políticas públicas para
determinar a origem da energia
dos combustíveis e a autonomia incentivar o aumento dos parques
elétrica disponível na tomada de
média dos motores elétricos de 400 distribuídos de energias renováveis.
nossas casas, por exemplo. E em
km, pode-se concluir que a frota Caso contrário, a eletrificação
momentos de escassez hídrica, fontes
demandaria 331.476 kWh/dia para de frotas poderá gerar status e
não renováveis são utilizadas e valer-se
percorrer o trajeto médio de 36 km alívio de consciência para os seus
desta energia para abastecer o veículo
no mesmo período. proprietários, mas deixará uma
é tão ou mais prejudicial ao ambiente
fatura ambiental que deverá ser
do que os tradicionais motores a Além disso, considerando que o
paga por toda a sociedade.
combustão”, afirma Fernandez. consumo médio diário de energia
elétrica na cidade de Lins para o Para consultar o artigo “O
Para a análise, os alunos criaram um
ano de 2020 foi de 460.816,4 kWh/ Impacto da Eletrificação Veicular
cenário hipotético de eletrificação
dia¹, o consumo diário de energia na Demanda Energética dos
em massa da frota de veículos de
elétrica no município pode saltar Municípios”, acesse:
passeio de Lins, interior de São
para 792.292,4 kWh/dia. Ou seja, um
Paulo, que em setembro de 2022
incremento de 72%.
possuía 63.611 unidades. Também
foi aplicado um questionário “Essa demanda adicional de energia,
aos munícipes, em que 79% dos no hipotético cenário proposto,

¹ (SIMA, 2020)

CREA-SP 15
16 Suplemento
Tecnocientífico

A tecnologia a serviço de análises interessantes, como


substituição e erradicação de

do meio ambiente
espécimes com alto risco de
queda e programação de podas
preventivas. Tudo isso com o intuito
Uso de geotecnologias no mapeamento arbóreo pode de reduzir os prejuízos econômicos
reduzir os prejuízos econômicos e ecológicos, e auxiliar e ecológicos”, diz. E a tecnologia
na regulação do microclima pode contribuir muito nesse cenário.

O aumento dos eventos climáticos extremos tem causado impactos Diante disso, o engenheiro realizou
socioeconômicos significativos. Dados da Organização Meteorológica o estudo “Uso de geotecnologias
Mundial (OMM) mostram que 2022 foi o décimo ano consecutivo em que livres no mapeamento arbóreo
as temperaturas globais atingiram pelo menos 1°C acima dos níveis pré- em calçadas” entre 2014 e 2020
industriais. Segundo a agência, o número de desastres relacionados ao na cidade de Araraquara, interior
clima aumentou cinco vezes nos últimos 50 anos, causando perdas diárias de São Paulo. Atuante na área de
de US$ 202 milhões. Entre as soluções para o problema está a arborização educação ambiental, com projetos
urbana que, além de amenizar a paisagem de concreto, contribui para como Bacias Hidrográficas Locais
a regulação do microclima existente nas cidades, como explica o Eng. (BHL), O Rio Começa Aqui (ORCA),
Agrim. Leonardo de Araújo Neto, que atua na Gerência de Planejamento, Talvegue e Divisor de Águas (DDA),
Sustentabilidade e Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Meio ele observou a demanda interna
Ambiente e Sustentabilidade da Prefeitura Municipal de Araraquara. da Secretaria de Meio Ambiente
da cidade, em 2014, e resolveu
“Saber onde estão os espécimes arbóreos e quais são, e avançar para a iniciar um projeto-piloto utilizando
fitossanidade das árvores, pode dar aos gestores públicos ferramentas aplicativos de geoprocessamento

CREA-SP 16
com a ideia de elaborar um ipês de jardim (Tecoma stans), 889
mapeamento arbóreo focado erradicações e 30.852 árvores a
nas árvores urbanas de calçadas. serem identificadas.
“Sabia que era possível fazer isso
com aplicativos livres para facilitar “Trata-se de uma metodologia
a gestão da arborização para as facilmente replicada e com
prefeituras com orçamentos baixos abrangência mundial. Utilizando
e sem interferência política”. E as ferramentas de uso livre,
exemplifica com o trabalho da as prefeituras economizam,
prefeitura de Nova York, que conta principalmente, em um momento
com todas as árvores mapeadas, de pós-pandemia e retomada
além do cálculo monetário do da economia”, explica. Porém, o “Trata-se de uma
valor que cada uma oferece em engenheiro ressalta a necessidade de metodologia
benefícios ecológicos. contratação de profissionais da área
facilmente
tecnológica, registrados e habilitados
Como as tecnologias comerciais por Conselho de classe, via concurso
replicada e com
de Sistemas de Informações para este setor nas prefeituras. abrangência
Geográficas (SIG) têm um custo mundial. Utilizando
elevado, Neto optou pelo QGIS, Fora isso, Neto destaca que é as ferramentas de
que é gratuito e possui código necessário dar continuidade ao
uso livre,
aberto, e o Google Earth para trabalho para a identificação
a visualização dos espécimes de mais 30.852 espécimes.
as prefeituras
arbóreos. No total, foram “A geolocalização é um passo economizam”.
geolocalizados 57.176 espécimes importante, mas é preciso avançar
arbóreos, com 8.556 oitis (Licania e saber sobre a fitossanidade dos Eng. Agrim. Leonardo
tomentosa), 12.546 alfeneiros espécimes para a adequada gestão de Araújo Neto, da
(Ligustrum japonicun), 3.446 falsos e planejamento da arborização Gerência de Planejamento,
chorões (Salix babylonica), 717 urbana”, finaliza.
Sustentabilidade e
Educação Ambiental da
Secretaria Municipal
de Meio Ambiente e
Sustentabilidade da
Prefeitura Municipal de
Araraquara/SP

Para consultar o artigo “Uso


de Geotecnologias Livres no
Mapeamento Arbóreo em
Calçadas”, acesse:

CREA-SP 17
18 Suplemento
Tecnocientífico

Um mergulho na
agricultura 4.0
Uso de inteligência artificial no campo avança
e a tendência é que todas as propriedades agrícolas –
das pequenas às grandes – sejam smart farms

CREA-SP 18
A cada ano a tecnologia se aproxima
mais do campo, ajudando a reduzir
custos e agilizar processos. Já vemos
o uso de drones, robôs e sensores em
plantações, que auxiliam em atividades
como monitoramento do tempo de
manutenção das máquinas, controle
de ervas daninhas e assertividade
em relação ao clima. De acordo
com dados da MarketsandMarkets,
consultoria especializada em
pesquisas de mercado, a previsão
é que o uso de inteligência artificial
(IA) na agricultura cresça cerca de
25,5% até 2026, movimentando em
torno de US$ 4 bilhões no período.
“Há pelo menos dez anos, a IA está
presente nos mais diversos campos
da vida em sociedade, como bancos,
aplicativos, propagandas, smartphones
e telemarketing, o que não poderia ser
diferente na agricultura”, diz o Eng.
Agric. Daniel Albiero, conselheiro da
Câmara de Agronomia do Crea-SP e
professor da Faculdade de Engenharia
Agrícola da Unicamp.

Segundo ele, apesar de um pouco


mais recente – por volta de cinco
anos – o uso da inteligência artificial
vem sendo um dos carros-chefes da
digitalização no setor, na chamada
agricultura 4.0, que é o conjunto
de tecnologias digitais integradas e
conectadas por meio de softwares,
sistemas e equipamentos. É por meio
dela que a agricultura de precisão
acontece, sendo possível otimizar a
produção agrícola em todas as suas
etapas, desde o plantio até a colheita.
“Para qualquer profissional da área
tecnológica, conhecer os fundamentos
da IA é uma questão prioritária,
significa estar ou não no mercado num
curto espaço de tempo”, ressalta.

CREA-SP 19
Pesquisador em robótica agrícola
há 10 anos e editor-associado do Vanguarda da tecnologia no campo
Clube de Astronomia do Rio de
Janeiro (CARJ), Albiero foi convidado
As sete áreas da IA no setor agrícola
pela Unicamp para escrever sobre
o tema. No artigo “Inteligência 1 Representação do Conhecimento (KR)
artificial na Agricultura: visão geral”, Forma como a inteligência artificial representa o mundo, a si mesma
originalmente publicado na Revista e suas tarefas relacionadas. Esta área se concentra, principalmente,
Científica Current Agricultural nos tipos e formas de estruturas de dados, desde um mapa de
terreno até um banco de informações de pragas agrícolas.
Research Journal, o especialista
mostra um panorama da IA no
2 Compreensão da linguagem natural
segmento. O engenheiro aborda
Ramo da inteligência artificial que combina linguística
desde a descrição inicial sobre
computacional, uma modelagem baseada em regras da linguagem
inteligência artificial até seu uso humana, e modelos estatísticos de machine learning e deep
efetivo no sistema agrícola. “Em learning. Esta é a única área que ainda não é amplamente aplicada
geral, a definição de IA passa pela na agricultura.
inter-relação de quatro dimensões:
pensar como os humanos, agir como
3 Aprendizagem
humanos, pensar racionalmente e A aprendizagem são os algoritmos e arquiteturas de sistema que
permitem que uma IA aprenda de diversas formas, como observar
agir racionalmente”, explica.
um evento, fazer a mineração de dados, prever alternativas certas e
erradas e ter estruturas de dados adotadas por uma pessoa.
Mas, quando falamos em Inteligência
Artificial para Agricultura (IAA),
4 Planeamento e resolução de problemas
Albiero prefere defini-la como uma
Esta área é o núcleo da robótica agrícola e trata da capacidade de
subárea do conhecimento que
planejar ações necessárias para atingir uma meta ou resolver um
pretende simular racionalmente problema.
comportamentos condicionais
diante de ambientes agrícolas 5 Inferência
dinâmicos e não estruturados. De A inferência em uma IA permite obter respostas a partir de
maneira prática, isso quer dizer o informações incompletas. É a “pedra de toque” em sistemas que
uso extensivo e intensivo de lógica precisam tomar decisões de forma autônoma, como desviar de um
matemática para modelar situações obstáculo em uma lavoura.

e ambientes nos quais a condição


6 Pesquisa
(do tempo, clima, solo, cultura etc.)
é a chave e informações e dados Quando falamos em pesquisar em termos de IA, a ideia é examinar
com eficiência um KR e, a partir da solução de problemas e
definitivos ou constantes não existem inferências, encontrar a resposta correta ou tomar a decisão certa.
(ou existem por pouco tempo).
7 Visão computacional
TECNOLOGIA QUE
MUDA A PRÁTICA Trata-se da detecção automática de sinais e sistemas de
processamento de imagem que permitem que a IA melhore ações
O pesquisador explica que, dessa ou aumente estruturas de dados e KRs.
forma, a área de pesquisa em
Fonte: Artigo “Inteligência artificial na Agricultura: visão geral”,
inteligência artificial na agricultura
originalmente publicado na Revista Científica Current Agricultural Research
deve ser dividida em sete setores: Journal, de autoria do Eng. Agric. Daniel Albiero
representação do conhecimento

CREA-SP 20
e raciocínio (KR); compreensão da quais os dados são extraídos, é
linguagem natural; aprendizagem; possível obter o conhecimento, a
planejamento e resolução de aprendizagem. “Esse conhecimento
problemas; inferência; pesquisa; pode ser utilizado para validar
e visão computacional (veja mais hipóteses, a chamada Inferência,
no quadro da pág. 20). Com todas que norteiam um sistema de
atuando em conjunto. “Principalmente visão computacional baseado
em situações agrícolas, há um em câmeras digitais que obtêm
entrelaçamento recorrente entre cada imagens”, explica o engenheiro.
uma dessas áreas dependendo dos Segundo ele, essas imagens podem
ser utilizadas para um sistema de
objetivos”, ressalta.
detecção de doenças por meio de
Albiero dá um exemplo: um sistema técnicas de segmentação acopladas
de agricultura de precisão pode a técnicas de deep learning (DL),
gerar uma vasta quantidade de que possibilitarão o planejamento
dados que configuram big data a de uma aplicação fitossanitária por
partir de sensores, o KR. Assim, a um drone/robô-pulverizador para a “Para qualquer
partir das técnicas de busca, nas soluções de problemas. profissional da
área tecnológica,
conhecer os
fundamentos da
IA é uma questão
prioritária, significa
estar ou não no
mercado num curto
espaço de tempo”.
Eng. Agric. Daniel Albiero,
conselheiro do Crea-SP
e professor da Faculdade
de Engenharia Agrícola
da Unicamp

CREA-SP 21
“A IA está na vanguarda da digitalização da agricultura,
junto à robótica e à conectividade. E o padrão
agrícola mundial em termos de eficiência e proteção
ao ambiente se elevará a uma escala nunca vista”,
diz Albiero. Para o pesquisador, direcionando todas
as propriedades agrícolas, das pequenas às grandes,
para o novo paradigma agrícola contemporâneo: todas
serão smart farms, ou agricultura inteligente, conceito
que busca conciliar a gestão agrícola a tecnologias de
dados com o intuito de otimizar os complexos sistemas
e voláteis dinâmicas da agricultura.

Para consultar o artigo “Inteligência Artificial na


Agricultura”, acesse:

CREA-SP 22
23

A força coletiva que e Geociências. Uma história que é


construída em conjunto entre todos

faz o Conselho crescer


os profissionais que compõem a
estrutura do Conselho, ao longo
de quase 90 anos de existência da
autarquia.
Conheça a história de quem se dedica ao Crea-SP
E em muitos casos, as CAFs são a
Já não é novidade a importância da colaboração no mundo atual. Com porta de entrada para a atuação no
mudanças sociais e tecnológicas cada vez mais constantes e a demanda Crea-SP. É o exemplo do Eng. Eletric.
por soluções e decisões ágeis, criar uma rede de profissionais para José Antônio Bueno, coordenador
encontrar as soluções para os desafios do presente e do futuro é parte da Câmara Especializada de
crucial para chegar aos melhores resultados. Essa visão norteia todo o Engenharia Elétrica, que iniciou sua
trabalho do Crea-SP: das Comissões Auxiliares de Fiscalização (CAFs) ao relação com o Conselho sendo um
plenário do Conselho, o órgão colegiado decisório, que reúne mais de dos profissionais voluntários que
250 conselheiros, representantes de entidades de classe e instituições auxiliam os processos de fiscalização
de ensino. São eles os responsáveis por analisar recursos sobre registros, nos municípios. Do adolescente
decisões e penalidades das Câmaras Especializadas e debater todos os curioso e apaixonado pela parte
assuntos relativos ao exercício das profissões de Engenharia, Agronomia elétrica, sempre querendo entender

CREA-SP 23
o que havia por trás de aparelhos uma sede com espaço para reuniões,
como televisão, rádio e telefone, confraternizações e eventos. “É
Bueno se formou na década de 1980 gratificante ver o reconhecimento em
e de lá para cá vem contribuindo minha cidade e toda a evolução da
com a área. Ele foi o responsável associação e do Crea-SP ao longo
pela transformação da Associação dos anos, como a transformação
dos Engenheiros, Arquitetos e digital que já conta com processos
Agrônomos de Assis e Região, por on-line e o trabalho dos agentes
exemplo. “Lembro que a associação fiscais que foi aprimorado e
era só uma sala emprestada, com agilizado com a tecnologia: todos
o chão de taco velho, apenas dois vão a campo com seus laptops e
funcionários e baixa participação “É gratificante ver aplicativos”, acrescenta.
dos profissionais”, conta. Segundo o
o reconhecimento
engenheiro ninguém queria assumi- Parte desse avanço, destaca Bueno,
la e ele decidiu colocar “ordem
que tenho em é reflexo da maneira colaborativa
na casa”. “Fiz um convênio com o minha cidade e de atuar do Conselho. “Em todas as
Crea-SP e acabei virando conselheiro toda a evolução da associações há alguém do Crea-
e, depois, presidente da associação. associação e do SP, o que gera mais qualidade
Comecei a participar de reuniões e no atendimento do profissional
Crea-SP ao longo
de comissões, e angariar o apoio dos e mais segurança em todos os
profissionais da região”, diz.
dos anos, como empreendimentos”, afirma. Para
a transformação ele, isso é um ganho para a gestão
Entre os feitos do engenheiro, que digital do pública dos municípios.
já está no sétimo mandato como Conselho”.
conselheiro, estão a participação O Eng. Eletric. Antônio José da Cruz
na luta para a inserção de um valor Eng. Eletric. José Antônio também começou a sua trajetória no
destinado às associações nas ARTs - o Bueno, coordenador da Conselho através das CAFs há 15 anos
que antes não acontecia em cerca de Câmara de Elétrica e já foi até mesmo inspetor chefe. Ele,
50% delas -, mais de 330 associados e que acredita no poder da relação entre

CREA-SP 24
poucos anos, eram muitos processos
em papel, dificuldade de conexão.
Agora está tudo digitalizado e os
processos estão mais ágeis. Outro
ponto importante é a presença nas
redes sociais, nas quais o Crea-SP se
aproxima dos profissionais”, aponta.

Formado em 1982 pela


Universidade de Mogi das Cruzes,
Toninho lembra que a motivação
para a escolha do curso foi o
interesse em tecnologia. “Eu
ouvia as pessoas falando de
“O mais importante computadores e decidi que seria “Tenho muito
para mim é parte daquela invenção. Por muitos orgulho de
estar presente, anos trabalhei na Prológica, que participar, por
me envolver nas era a terceira maior fabricante de meio do Conselho,
questões da cidade computadores no Brasil”, conta.
de assuntos
e da região e ajudar importantes para a
Ao voltar para Jales, o engenheiro
a encontrar as abriu sua própria empresa e sociedade”.
melhores soluções atua com energia solar. “O
para os municípios”. mais importante para mim é Eng. Civ. Flavia Porta
estar presente, além de ser um Gazela
Eng. Eletric. Antônio José representante do Conselho e aliado
da Cruz dos profissionais, gosto de me
envolver nas questões da cidade dar esse passo que acabou mudando
e da região e ajudar a encontrar toda a minha trajetória”, revela.
o Crea-SP e as associações, conta que as melhores soluções para os Durante dois anos, a engenheira foi
deixou o mandato como presidente municípios”, observa. inspetora na Comissão Auxiliar de
da Associação dos Engenheiros de Fiscalização (CAF) em sua cidade
Jales no final de 2022 e retomou o Por outro lado, sempre há e foi a partir daí que a sua relação
posto como conselheiro do Crea-SP, conselheiros novos chegando com o Crea-SP passou a se estreitar
em seu segundo mandato. “Transito ao Conselho, como a Eng. Civ. ainda mais. Flavia, que é formada
nessas duas frentes e acredito Flavia Porta Gazela, da Associação há dez anos, assumiu o seu primeiro
que o importante é conectar os dos Engenheiros, Arquitetos e mandato no início deste ano. “Fiz
profissionais”, diz. Toninho, como Agrônomos de Itápolis (AEAATI). especialização em infraestrutura
é conhecido na região do interior Depois de passar quase dez anos urbana e, hoje, trabalho com
de São Paulo, já havia atuado como trabalhando em uma loja de material edificações e nas pautas importantes
conselheiro em 2018 e diz que notou de construção, ela decidiu, para para a área tecnológica. Tenho
uma evolução expressiva no Conselho. acompanhar um amigo no vestibular muito orgulho do caminho que
de Engenharia, também fazer a estou trilhando e de participar, por
“Acho que a chegada da tecnologia prova. “Não tinha nenhum plano de meio do Conselho, de assuntos tão
nos processos é inegável. Há fazer faculdade, mas passei e decidi importantes para a sociedade”.

CREA-SP 25
26

Elas na liderança: Crea-SP estimula


protagonismo feminino
Signatário da Agenda 2030, Conselho cumpre ODS 5 sobre igualdade de gênero e estabelece
ações especiais para o Mês da Mulher

Desde que o Crea-SP se tornou signatário da Agenda 2030 da Organização sigla em inglês para governança
das Nações Unidas (ONU), as ações voltadas para os Objetivos de ambiental, social e corporativa
Desenvolvimento Sustentável (ODSs) ganharam novos aliados na área - Environmental, Social and
tecnológica paulista. Com o Comitê Gestor do Programa Mulher, o ODS Governance).
de número 5 para a igualdade de gênero virou um norte das iniciativas do
Conselho ao longo da gestão. Neste ano, foi no Dia Internacional da Mulher Ter líderes e gestoras que abrem
(8/03) que o Crea-SP deu início a uma programação especial de capacitação esse caminho faz toda a diferença,
e compartilhamento de experiências para inspirar a presença de mais como conta a Eng. Civ. Lígia
mulheres nas profissões das Engenharias, Agronomia e Geociências. Marta Mackey, atual diretora de
Entidades de Classe do Crea-
Para a Eng. Amb. Sabrina Corrêa, que estreou a agenda com um workshop
SP, que, no ano passado, esteve
sobre liderança e inovação, isso vai ser possível com “uma visão sistêmica,
como vice-presidente e assumiu
ecológica e feminina capaz de construir um futuro mais igual e sustentável”,
por seis meses a Presidência do
afirma a engenheira que é consultora de Sustentabilidade e ESG (da

CREA-SP 26
Conselho. “Foi um aprendizado coordenadora do Comitê Gestor,
muito grande. Levei um susto, na Eng. Civ. Poliana Siqueira.
verdade, quando fui convidada As amigas Eng. Quim. Gabriella
para ser vice-presidente, mas sabia Lima e Eng. Civ. Elaine Maia
que não havia uma distinção entre são um exemplo de que isso
o que um homem ou uma mulher tem funcionado. “A Elaine me
podem fazer. Pelo contrário, convidou para essa rede de
temos aqui o incentivo para que mulheres que se apoiam e isso
possamos ocupar mais lugares de já mudou totalmente a minha
liderança e referência”, comenta. visão. Abriu minha cabeça para o
meu esforço e currículo”, explica
O que o Programa Mulher se
Gabriella ao relatar que desde que
propõe a fazer é criar esses
laços entre as profissionais,
“Temos aqui o se formou em Engenharia Química

desmistificar os tabus institucional incentivo para que não ingressou na área.

e historicamente socializados de possamos ocupar Acompanhe o andamento das


que a área tecnológica não é para
mais lugares atividades do Crea-SP para a
elas e promover o acolhimento
e empoderamento dessas de liderança e igualdade entre gêneros no site:

mulheres em suas modalidades, referência”.


no mercado de trabalho e na
sociedade como um todo. “Já Eng. Civ. Lígia Marta
temos essa representatividade e as Mackey, diretora de
profissionais têm buscado mais o Entidades de Classe do
apoio do Crea-SP e do programa Crea-SP
para se desenvolverem”, pontua a

CREA-SP 27
28
De olho nas tendências
em produção energética
A diversificação de matrizes é o
caminho para garantir a segurança
energética no Brasil, mas já há o que
comemorar, pois de acordo com o
Ministério de Minas e Energia,

85% da energia brasileira


vem de fontes renováveis.

Agora, o desafio é ampliar a


transição energética com adoção
de mais alternativas geradoras. Isso
porque o país depende em 60% de
fontes hidráulicas. Conheça algumas
das apostas para isso.
Eólica

Térmica
com biomassa
Em suas versões mais
adequadas ao meio
ambiente, as usinas
termelétricas utilizam
o vapor da queima
de biomassa para
gerar bioeletricidade.
O principal insumo
para isso é o bagaço
residual da cana-
9,5% da energia elétrica no país vem de parques
eólicos, segundo informações da Associação Brasileira de
de-açúcar do setor
Energia Eólica (ABEEólica), o que coloca o Brasil no ranking das
sucroenergético.
10 nações que mais utilizam os ventos como recurso energético.
Isso pode melhorar ainda mais com a chegada de parques
CREA-SP offshore, ou seja, em plataformas marítimas. 28
Solar
fotovoltaica
A capacidade
instalada de geração
solar brasileira se
consolidou como a
segunda principal
fonte alternativa
de energia, ficando
atrás somente das
hidrelétricas.

Não apenas por ser sustentável,


como também confiável, a energia
solar tem sido a aposta entre a
população e nos setores público e
privado, alimentando câmeras de
monitoramento urbano, iluminação
de ruas etc.

Segurança energética
Por falar em meteorologia, com a diversificação de matrizes, a
segurança energética é garantida diante da imprevisibilidade
dos recursos hídricos e instabilidades do clima. Afinal, em um
mundo conectado, a tecnologia precisa ser sustentável.

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30

A onda verde na governança


Cresce o número de empresas públicas e privadas que mantêm práticas robustas de ESG

Falar de sustentabilidade é falar Na construção civil, por exemplo, O cenário coloca o Brasil em
de resultados, perenidade e o tema tem sido considerado quinto lugar no ranking mundial
competitividade. Trata-se de uma em obras públicas e privadas elaborado pelo GBC dos países
abordagem de negócios para criar com ganhos efetivos. Segundo com mais obras sustentáveis no
valor a longo prazo, importante pesquisa da Green Building Council mundo e São Paulo é a cidade com
para empresas de todos os setores Brasil (GBC), que atua em prol o maior número de construções
e portes. Nos últimos anos, o
das edificações sustentáveis no sustentáveis certificadas com o
chamado ESG, sigla em inglês
país, com a aplicação do ESG as selo Aqua-HQE, aplicado pela
para environmental, social and
empresas conseguem reduzir em Fundação Vanzolini, que está em
governance, usada para medir as
40% o consumo de água, 30% o mais de 781 edificações prontas ou
práticas ambientais, sociais e de
governança corporativas ganhou de energia elétrica, 35% a emissão em construção, sendo 30% delas
força e um espaço estratégico na de dióxido de carbono e 65% a sediadas na capital paulista. Mas
agenda de companhias pelo mundo. geração de resíduos. ainda há passos a serem dados,

CREA-SP 30
como explica o Eng. Civ. Angel concorda com o colega. “Há dois
Ibañez, diretor de suprimentos e “O comprometimento extremos: empreiteiras muito
ESG da Tegra Incorporadora. avançadas e outras que nem
com as políticas acordam para a melhoria do canteiro
Segundo ele, a certificação de redução de de obra”, diz. Isso porque o ESG
concedida pelo GBP, apesar de
um sinal importante de que os
emissões de traz algumas armadilhas. “A grande

empreendimentos brasileiros carbono hoje é emboscada é a empresa ficar na


superfície, discutir o assunto apenas
estão atentos a essas questões, mandatório para os pensando que é preciso mostrar ao
representa apenas uma parcela,
grandes investidores mercado que conta com práticas
já que o mercado de construção
é mais diversificado e ainda lida internacionais.” na área, buscando só uma linha
de financiamento para os projetos
com desafios socioambientais e de Eng. Civ. Angel Ibañez, com juros menores”, completa.
governança. “Esses prédios [com a diretor de suprimentos Filho ressalta que ainda vê muitas
certificação Leed] são negociados
e ESG da Tegra empresas “passando um verniz” no
com investidores institucionais e
Incorporadora ESG, no chamado “greenwashing”,
ocupados por empresas de grande
ou seja, fazer 10% e comunicar 90%.
porte, que têm premissas ESG
Para uma ação efetiva, explica o
alinhadas com as expectativas do entre as entidades setoriais e as
engenheiro, as empresas precisam,
mercado internacional”, destaca. grandes empresas com a indústria
primeiro, entender onde querem
de materiais é importante para chegar, indo além da visão e missão,
O maior desafio, para Ibañez, é
que soluções disruptivas se olhando o tema do ponto de vista
fazer com que as boas práticas
diversifiquem”, afirma. Edson de qual legado querem deixar e
cheguem a todos os players.
Pinto da Silva Filho, Eng. Eletric. e entendendo a fundo o que todas as
“Nesse sentido, a parceria sócio-diretor da EDX Consultores, partes interessadas precisam.

BOAS PRÁTICAS
Conheça iniciativas de ESG bem-sucedidas no setor público e privado

Petrobras
A empresa brasileira desenvolve uma
série de soluções baseadas na natureza
(NBS), como a restauração de ecossis-
temas – uma das medidas de mitigação
do clima mais rápidas e baratas. Proje-
tos voluntários da Petrobras alcançaram
resultados como o fortalecimento de 25
milhões de hectares de áreas protegi-
das e o envolvimento de cerca de 17
mil pessoas em ações de geração de
renda, capacitação e educação ambien-
tal. Há, ainda, o “Floresta Viva”, que
conta com apoio do Banco Nacional
de Desenvolvimento (BNDES) e prevê
investimentos de R$100 milhões em
projetos de restauração florestal, por
meio de editais públicos.

CREA-SP 31
Tegra
Com a abertura de capital em 2021, a empresa deu passos
importantes na estratégia ESG. Um deles foi a criação
do projeto Cidades Regenerativas 2030. A ação projeta
diminuir as emissões diretas em 50% nos próximos anos,
influenciar a redução das emissões indiretas em 15% e
compensar 110% do residual.

Aegea Saneamento
Primeira empresa do setor na América
Latina a emitir títulos sustentáveis
no mercado global, os chamados
sustainability-linked bonds (SLB), a
Aegea assinou no final de 2022, por
meio da concessionária Águas do
Rio e a Petrobras, dois acordos para
que as operações industriais das
refinarias Duque de Caxias (Reduc) e
Polo Gaslub, em Itaboraí, passem a
ser abastecidas com água de reuso. A
partir de 2024, mais de 79 milhões de
litros de água por dia deixarão de ser
retirados da natureza.

MRV
Na área ambiental, tem investido em energia solar em seus
empreendimentos. A ideia é reduzir as emissões e gerar um efeito
social com a redução da conta de energia dos moradores por
meio de parcerias com fazendas solares. Em Minas Gerais, base da
companhia, o abatimento pode chegar a 15%. E a meta é, até 2024,
oferecer o benefício nos 22 Estados em que atua.

CREA-SP 32
Signatário da Agenda 2030 da ONU, estufa dos carros, microgeração
“As empresas o Crea-SP tem adotado iniciativas de energia fotovoltaica por placas
precisam, primeiro, responsáveis e sustentáveis para solares, sistema de ar-condicionado
transformar o ecossistema de com tecnologia verde, digitalização
entender onde profissionais da área tecnológica de todos os processos físicos (cerca
querem chegar, e dos processos administrativos de 24 mil), e, ainda, o cálculo para
indo além da visão da autarquia. São exemplos disso compensação de carbono em
e missão, e olhando a utilização de frota de veículos todos os eventos realizados pelo
o tema do ponto de abastecida com etanol para redução Crea-SP, com posterior plantio de
da emissão de gases do efeito mudas de árvores.
vista de qual legado
querem deixar.”

Eng. Eletric. Edson


Pinto da Silva Filho,
sócio-diretor da EDX
ConsultoresIncorporadora

De olho nas regulações


De maneira geral, o mercado está atento às exigências para os grandes investidores internacionais”, explica Eng.
voltadas ao ESG. É o que aponta uma pesquisa feita Civ. Angel Ibañez, diretor de suprimentos e ESG da Tegra
pela PwC Brasil, em parceria com o Instituto de Auditoria Incorporadora.
Independente do Brasil (Ibracon), que traz um mapa de
como as companhias têm divulgado informações de Segundo ele, no Brasil, empresários associados ao
sustentabilidade a todos os stakeholders. O número Secovi-SP, à Abrainc e ao SindusCon-SP lançaram,
de empresas que apresentaram esses relatórios subiu em setembro do ano passado, o Projeto Aliança
de 67 para 72, o equivalente a 81% da amostra da para redução de Gases do Efeito Estufa no setor de
pesquisa, de maio a agosto de 2022. “Governos, construção e incorporação imobiliária. “Em outra frente,
empresas, instituições financeiras e entidades setoriais instituições financeiras lançaram recentemente linhas
vêm atuando conjuntamente para que as boas práticas de financiamento específicas para projetos imobiliários
ESG se difundam. O comprometimento com as políticas certificados por selos verdes, com benefícios para a
de redução de emissões de carbono hoje é mandatório produção”, completa.

CREA-SP 33
34

Por que as máquinas não vão


substituir profissionais
Especialistas falam da relação diferencial entre tecnologia e conhecimento técnico e como a
regulação oferece mais segurança em meio às novas ferramentas

A cada nova Inteligência Artificial recomendam produtos; que Marcela Vairo - Expandindo a visão
(IA) criada, surgem questionamentos planejam rotas e atividades; ou de oportunidades, a IA pode ajudar
sobre o futuro dos seres humanos que oferecem suporte às tarefas de nos mais diversos tipos de soluções
diante de sistemas cada vez diagnóstico a partir de dados, como, adequadas às necessidades de cada
mais complexos e próximos da por exemplo, a radiografia médica. negócio. Atualmente, além dos
racionalidade e interação que, atendimentos por assistentes virtuais,
Já para a Eng. Prod. Marcela
até então, só as pessoas eram a IA pode ser utilizada para analisar
Vairo, diretora de Dados, IA Apps
capazes de entregar. Afinal, seremos e acessar dados climáticos para
e Automação na IBM Brasil, a
substituídos por máquinas? melhorar a precisão da produtividade
tecnologia abre um mundo de
de safras para o agronegócio, assim
Apesar do receio comum, já são possibilidades nos mais variados
como melhorar a previsão de geração
diversos os benefícios alcançados mercados e não deve ser vista como
de energia renovável, com o uso de
pelas IAs, que não substituirão a ameaça. “Depois dos profissionais
inteligência artificial e de análises de
mão de obra humana no futuro, de TI, que englobam 54% dos
dados geoespaciais e meteorológicas.
tranquiliza professor Eng. Eletric. grupos que usam IA nas empresas,
Fábio Gagliardi Cozman, diretor na sequência estão os engenheiros A IA aliada às soluções de
do Centro de Inteligência Artificial de dados (35%). A lista é bem nuvem híbrida, IoT (internet das
da Universidade de São Paulo diversificada”, conta. coisas), 5G e Machine Learning
(USP). “O objetivo da IA é melhorar (aprendizado de máquina) pode
Quais são as qualidades dessas
a vida humana, aumentando a ampliar a gama de possibilidades
ferramentas e os ganhos
produtividade e reduzindo as tarefas e proporcionar soluções cada vez
esperados pelas empresas que
repetitivas”, afirma. O engenheiro mais personalizadas. Vemos também
as implementam?
cita a produção de sistemas que um uso cada vez maior em soluções

CREA-SP 34
comunidade acadêmica bastante
atuante; índices internacionais
mostram o país entre o 10º e o 15º
colocados na produção de artigos
sobre o tema. Na última década,
essa tecnologia passou a ter bastante
sucesso prático, o que levou à
criação de muitas startups e de vários
grupos de trabalho em empresas de
grande porte. Um estudo de 2019 já
indicava, naquele momento, mais de
700 startups na área.

Qual a avaliação que fazem


“O setor sobre o desenvolvimento de IA
“Expandindo a visão
deve crescer pela Engenharia brasileira em de oportunidades,
significativamente, relação aos outros países? a IA pode ajudar
o que exigirá talento FC - O Brasil tem profissionais nos mais diversos
competentes na área. A tecnologia
em computação e de inteligência artificial é baseada
tipos de soluções
no gerenciamento em processamento de grandes adequadas às
de grandes quantidades de dados, e temos necessidades de
uma infraestrutura de dados
quantidades de razoavelmente bem construída,
cada negócio”.
dados”. com muitos órgãos públicos que
Eng. Prod. Marcela Vairo
produzem informações confiáveis
Eng. Eletric. Fábio e com uma legislação de proteção
Gagliardi Cozman de dados moderna. O setor deve das empresas, segundo nosso
crescer significativamente, o que estudo, fica acima da média global,
para combater ataques cibernéticos. exigirá talento em computação e de 34% das companhias apostando
E, finalmente, uma busca cada vez no gerenciamento de dados e de em IA. Mais do que isso, vemos
maior das empresas por soluções que computadores. O setor já produz que esses profissionais brasileiros
ajudem a automatizar seus processos uma variedade de produtos, de querem incorporar a inteligência
e monitorar sua operação de TI de chatbots a sistemas de visão artificial em suas iniciativas de
forma mais inteligente e proativa. computacional. Outros exemplos sustentabilidade e, entendo, que
de produtos para exportação são a Engenharia com práticas ESG
Alguma cidade se destaca no uso jogos para computadores/celulares está impactando diretamente na
inteligente da tecnologia? e produção industrial com alto grau competitividade das indústrias.
Fábio Cozman - Há várias cidades de automação.
com boa base tecnológica em A continuação desta reportagem
inteligência artificial, como São MV - Não há dúvidas que está disponível no site do Crea-SP.
Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis. hoje a IA é latente no país e Para ver o conteúdo completo,
Mesmo em cidades menores há indubitavelmente tem transformado acesse:
bastante atividade, como em operações múltiplas, deixando
Piracicaba, onde há inteligência áreas diversas de conhecimento
artificial ligada ao agronegócio. O mais eficientes e produtivas - sendo
Brasil tem investido em pesquisa a Engenharia uma delas. No Brasil,
há várias décadas e tem uma a adoção da tecnologia em 41%

CREA-SP 35
36

Como mitigar os efeitos


“O crescimento desordenado
criou os problemas que afligem
os paulistas”, afirma o secretário

da emergência climática? estadual de Desenvolvimento


Urbano e Habitação, Adm. Marcelo
Cardinale Branco. O que, nos
Cooperação técnica-operacional entre instituições públicas busca dados apontados, determinou o
a proteção do meio ambiente e da população em São Paulo caráter arriscado ou não foi a análise
da geografia em contato com a
Basta olhar para os diferentes recortes de São Paulo para perceber que dinâmica social do local. Assim,
o estado mais populoso e rico do país é também um lugar de contrastes. foram definidas algumas tipologias,
Corrigir as desigualdades, principalmente aquelas que estão relacionadas a partir da característica do solo e
à segurança da população - como é o caso do planejamento urbano e da da forma como ele foi ocupado,
habitação -, é um trabalho que envolve toda a sociedade na agenda do que indicaram que mais de 51%
desenvolvimento sustentável. das áreas de risco estudadas
são propensas a deslizamentos,
Um levantamento apresentado no início deste ano pelo Serviço Geológico seguidas por 33% para inundações;
do Brasil, vinculado ao Ministério de Minas e Energia (MME), revelou que 7% para erosão; 3% para enxurrada;
quase 4 milhões de brasileiros vivem em áreas de risco. Apenas em SP, são 2% para enchentes e a porcentagem
496.710 pessoas em 848 pontos mapeados e classificados como: residual para outras situações.

Já no ranking das cidades listadas

689 159
com maiores índices de risco estão
Guarulhos, Francisco Morato, Santo
André, São Bernardo do Campo
de alto risco de risco muito alto
e Itaquaquecetuba. Essas regiões
têm em comum as moradias em

CREA-SP 36
encostas e Áreas de Proteção e Engenharia de Minas (CAGE) do
Ambiental (APAs), protagonizando Conselho. “Esse processo impõe um
situações emergenciais que vinham amplo programa de regularização
sendo observadas desde 2020,
“É preciso uma fundiária de fundamento técnico
quando o Confea e o Ministério do integração para e climático”, complementa o
Desenvolvimento Regional firmaram secretário executivo da Seclima
um Acordo de Cooperação Técnica proteção do (Secretaria de Mudanças Climáticas
(ACT) com projeto piloto iniciado meio ambiente do Município de São Paulo), Adv.
em SP para fiscalizar a aplicação de Antonio Fernando Pinheiro Pedro.
recursos federais em obras e ações e da vida
As ocorrências cada vez mais
de restabelecimento e reconstrução
com projetos frequentes de tragédias derivadas
por desastres naturais.
efetivos da área da emergência climática que
No ano passado, o Crea-SP passou atingem esses espaços cobram
a alimentar o grupo de trabalho tecnológica”. políticas públicas efetivas para
desta parceria, com dados para reverter o cenário e possibilitar
“mapeamento e identificação de o desenvolvimento sustentável.
Eng. Telecom. Vinicius
quais municípios são prioridade”, “É preciso uma integração para
diz o Geól. Ronaldo Malheiros Marchese, presidente proteção do meio ambiente e da
Figueira, inspetor do Crea-SP do Crea-SP vida com projetos efetivos da área
em Osasco e ex-coordenador da tecnológica”, defende o presidente
Câmara Especializada de Geologia do Crea-SP, Eng. Vinicius Marchese.

CREA-SP 37
Por isso, o Conselho paulista firmou
outras duas cooperações recentes:

1 A primeira delas com a


Seclima para a troca de informações
e integração técnica-operacional
para fiscalização e soluções
preventivas em áreas de mananciais.
O que significa que os agentes
fiscais do Crea-SP passam a atuar
com a Prefeitura de São Paulo,
em operações conjuntas com o
Ministério Público, a Defesa Civil
e a Polícia Militar, no combate à
ocupação irregular do solo em leitos
e nascentes.

2
A intenção com as integrações novos riscos e contribuímos para a
das entidades públicas, dizem valorização da área tecnológica”,
os especialistas, é evitar novas detalha Marchese.
A segunda parceria, ocorrências, protegendo a
com a Secretaria Estadual Não só isso. No campo da
sociedade do risco iminente. Em
de Desenvolvimento Urbano capacitação profissional, que
ambos os convênios assinados, o
e Habitação (SDUH), visa o também é abrangida nos termos
Conselho se dispõe a promover
enfrentamento ao estado de assinados entre o Crea-SP e os
ações orientativas e preventivas
calamidade pública em razão das governos municipal e estadual,
de fiscalização. “É uma forma
chuvas e emergência climática, é prevista a oferta de atividades
de orientar a população para
especialmente após deslizamentos e treinamentos para preparar
a contratação de profissionais
de terra que vitimaram 64 pessoas os engenheiros, agrônomos,
registrados. Assim, reduzimos
em São Sebastião e uma em geocientistas e tecnólogos a olhar
Ubatuba, em fevereiro deste para esses desafios em suas cidades
ano, quando o maior volume e participar, seja por meio do debate
pluviométrico da história do país foi “O crescimento público ou da prestação de serviços,
registrado no Litoral Norte. “Desde desordenado criou da criação de soluções possíveis.
O foco, em ambos os casos, é o
o primeiro momento, concentramos os problemas
planejamento urbano qualificado
dois tipos de atendimentos na
que afligem os “para que possamos enfrentar
região, o social e o de recuperação
para a segurança habitacional. As
paulistas”. os eventos extremos em nossa
equipes atuam na avaliação de atmosfera global, precisamos criar
Adm. Marcelo Cardinale estruturas resilientes às intempéries
áreas, com estudos topográficos
Branco, secretário estadual e tornar nossas populações mais
e sondagens necessárias, e são
de Desenvolvimento seguras, adaptando os municípios
acompanhadas pelo Crea-SP”,
Urbano e Habitação às mudanças do mundo”, finaliza
comenta o secretário da SDUH.
Pinheiro Pedro.

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