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br #643 / 2020
ISSN 0013-7707
00643
9 770013 770009
R$ 39,00
OS CAMINHOS DO
SANEAMENTO NO BRASIL
Professor Paulo Ferreira explica como Para o secretário de Saneamento,
a engenharia, nos seus diversos ramos, Pedro Ronald Maranhão Braga
pode contribuir para o desenvolvimento Borges, Marco Regulatório dará segurança
do tratamento de água e esgoto no país jurídica para avançar nas metas do Plansab
PALAVRA DO PRESIDENTE 06
DIVISÕES TÉCNICAS 09
PALAVRA DO LEITOR 12
CURTAS 14
PINGUE-PONGUE 32
ARTIGO 54
POR DENTRO 78
BIBLIOTECA 80
MEMÓRIAS 82
ENGENHO E ARTE 84
CRÔNICA 86
LINHA DE FRENTE 22
BALANÇO 28
RANKING 36
MARCO REGULATÓRIO 42
INSTITUTO DE
ENGENHARIA
EM TEMPOS
DE COVID-19
Eduardo Ferreira Lafraia
A
pandemia do Covid-19 afetou cada Brasil. Outra novidade que estava em vias de
um de uma maneira diferente, mas ser lançada e frente a esse momento desafia-
certamente seus reflexos terão um dor, antecipamos o lançamento do modelo
impacto duradouro em nossa socie- de associação digital, que vai permitir que
dade. Apesar do momento ser extremamente nossa comunidade de engenheiros avance
desafiador, acredito na resiliência do brasilei- para todo o Brasil.
ro e na engenharia como um meio essencial
do Brasil superar esse e outros desafios rumo
a um futuro mais promissor. DEBATES SOBRE OS DESAFIOS
DA ENGENHARIA PARA
Dentro do Instituto de Engenharia estamos SUPERAR ESSE MOMENTO
focados em demonstrar como, a comunidade
que engloba profissionais de engenharia de Outra novidade neste período foi a orga-
diversas áreas, podem se unir – independen- nização de especialistas renomados em uma
temente da localização ou circunstância – para série de webinars altamente relevantes sobre
lidar com um dos desafios mais importantes os desafios desse momento e as perspectivas
de nossas vidas. Temos um papel no IE que futuras, abrindo discussões e estudos sobre
é de apoiar nossos associados, cuidarmos de políticas públicas que podem mudar o ce-
nossos colaboradores, unirmos aos nossos nário brasileiro. Nos webinars são discutidas
parceiros e ajudar nossas comunidades. maneiras de como a engenharia pode apoiar
o País a superar seus desafios atuais e futuros.
ÁGIL ADAPTAÇÃO, TRANSPARÊNCIA
E OFERTA DE CONTEÚDO RELEVANTE PESSOAS SÃO O CENTRO DA
Entendo que precisamos apoiar os esforços RAZÃO DA ENGENHARIA
do isolamento social. No IE, adotei rapida- Neste momento precisamos fazer tudo que
mente o trabalho remoto dos colaboradores for do nosso alcance para proteger as pes-
e indiquei para que os associados traba- soas, que são o centro da razão da engenha-
lhassem de suas casas. Como sabem, den- ria. Por isso nesse momento da pandemia, o
tro do Instituto temos muitos eventos, mas IE está voltando seus esforços para contribuir
nos adaptamos rapidamente para continuar com novos olhares para a infraestrutura no
proporcionando esse ensino e trabalho, to- Brasil, no saneamento básico e no combate
talmente a distância, apostando na transpa- ao déficit habitacional, pois acredito que fa-
rência e no aprimoramento do conhecimen- zendo isso, vamos ter geração de empregos
to, com a oferta de conteúdo relevante, por e consequentemente, consumo de insumos
exemplo, com a Mentoria aberta para todo o da indústria nacional.
Premiação reconhece o
trabalho das Divisões Técnicas
O Instituto de Engenharia é atual- feitas pelos grupos de WhatsApp,
Fotos: divulgação
mente dividido em Departamentos seja nas reuniões técnicas, todo com-
e suas respectivas Divisões Técnicas partilhamento e troca de conheci-
(DTs), que compõem uma estrutura mento são bem-vindos.
organizacional com os principais Como forma de reconhecimento
segmentos da engenharia. a esses profissionais, há mais de 50
Os objetivos dessas áreas são o anos o Instituto de Engenharia reali-
estudo, o debate e a divulgação de za a premiação das Divisões Técnicas,
assuntos técnicos em geral, promo- no mês de dezembro, na comemora-
vendo o desenvolvimento e a quali- ção do Dia do Engenheiro.
dade de vida da sociedade por meio Segundo o vice-presidente de
da engenharia. Atividades Técnicas do Instituto de
Fazem parte dessa estrutura os Engenharia, Jerônimo Cabral, são participa ativamente; para nós, é
associados voluntários, que durante muitas as contribuições recebidas ao importante levar ao conhecimento
o ano desenvolvem atividades por longo do ano, todas focadas em pro- da sociedade estudos técnicos de
meio de palestras, cursos, seminá- mover o conhecimento, a pesquisa e relevância para o desenvolvimento
rios e debates inseridos nas princi- o aprimoramento de temas impor- do Brasil e da sociedade em geral,
pais iniciativas e programas do IE. tantes para a sociedade brasileira. e isso é possível participando da
Consideradas o “coração” da Casa, “Dentro do IE temos engenheiros premiação”, afirma.
as Divisões Técnicas também são e engenheiras que produzem estu- Em 2020, um dos protagonistas
a porta de entrada para o Instituto dos técnicos de altíssima qualida- da nossa festa pode ser você. Se não
de Engenharia. Qualquer associado de. Tanto para quem é associado ao é associado, venha fazer parte do
pode se candidatar a participar ativa- IE e está no dia a dia da Casa, quan- Instituto de Engenharia, ainda dá
mente das DTs. Seja nas discussões to para aquele associado que não tempo!
DIRETOR PROGRAMAÇÃO
nº 482/2012
de energia e a redução dos custos destas tec-
nologias têm tornado a geração distribuída
mais vantajosa frente aos grandes sistemas
da Aneel centralizados.
A geração distribuída constitui uma im-
portante mudança no mercado consumidor
• Aléssio B. Borelli, Antonio Lambertini* de energia e provoca, ainda, alterações no
mercado de distribuição, por vários moti-
O
vos, a saber:
• Redução das perdas técnicas e aumento
Brasil, país de dimensões continen-
na eficiência;
tais, conta com um grande sistema
de energia interligado, marco de • Aparecimento de novas tecnologias inteli-
referência da engenharia nacional. gentes (do inglês, smart grid) que permitem
Nele, cerca de dois terços de toda a oferta é a flexibilização da GD e seu uso isolado;
originada em usinas hidrelétricas que se en- • Possibilidade de uso de insumos regio-
contram distantes dos grandes centros de nais para geração de energia;
consumo. Com o avanço de outras fontes de • Incentivo da GD ao uso de fontes alternati-
geração renovável, como a eólica e a solar, a vas;
composição da matriz de geração tende a se • Restrições técnicas e ambientais para a ex-
alterar de modo significativo a médio prazo, pansão do mercado de distribuição de ener-
particularmente considerando-se a geração gia;
distribuída (GD), objeto da Consulta Pública
(CP) nº 025/2019. • Aumento das exigências ambientais no
controle e na diminuição das emissões de
Com a exploração de geração hidrelétrica poluentes;
em larga escala no sistema interligado nacio-
nal e a expectativa de crescimento do merca- • Busca pela redução tarifária;
do consumidor, observa-se a necessidade de • Universalização do sistema elétrico, per-
implantação de novas alternativas de geração mitindo que as comunidades isoladas pos-
de eletricidade. Tais alternativas devem consi- sam ter acesso à energia;
derar a distribuição geográfica da produção, • Necessidade de sistemas elétricos mais
a confiabilidade e a flexibilidade da geração, resilientes.
a disponibilidade e os preços de combustí- Neste contexto, com o advento das instala-
veis, os prazos de instalação e construção, as ções domésticas, de micro e minigeração dis-
condições de financiamento e o licenciamen- tribuídas, principalmente pelo uso de placas
to ambiental, entre outros fatores. fotovoltaicas, a Aneel formalizou a Resolução
Em vários países do mundo está ocorren- Normativa (REN) 482/2012, que prevê a com-
Textos para esta seção podem ser enviados para o e-mail: revistaengenharia@iengenharia.org.br
Fabio Lage
mecânico de baixo custo
para ajudar no combate à Covid-19,
Engenheiros produzem máscaras doença causada pelo coronavírus.
O Inspire, como foi chamado o
em impressoras 3D aparelho hospitalar, poderá ser pro-
Inspirados em iniciativas de com- duzido de forma rápida e com menor
Divulgação
bate ao novo coronavírus em outros custo por fabricantes autorizados.
países, 16 pessoas, entre alunos de Enquanto um respirador convencio-
graduação, mestrado e professores de nal tem um preço mínimo de cerca
engenharia, desenho industrial e me- de R$ 15 mil, o projeto da Poli per-
dicina, trabalham no desenvolvimen- mitirá produzir o equipamento a um
to de máscaras do tipo face shield (es- valor em torno de R$ 1 mil.
cudo para o rosto, em tradução livre) e “Por suas características, o projeto
prolongadores de respiradores mecâ- irá viabilizar a construção de alguns
nicos, que tornam os equipamentos tamos produzindo a máscara com ABS, milhares de ventiladores a partir de
adaptados a serem utilizados por até o mesmo plástico que geralmente é três semanas e ter milhares produzi-
dois pacientes por vez. utilizado na produção de painéis de dos em cinco semanas”, afirma o en-
Os protótipos das máscaras foram automóveis, e que pode ser higienizado genheiro Raul Gonzalez Lima (foto),
testados por um grupo de médicos do e reutilizado várias vezes, sem nenhum coordenador de um grupo de cerca de
Hospital Universitário Antônio Pedro perigo”, diz o engenheiro Marcio Catal- 40 pessoas que estão envolvidas na
(Huap), em Niterói, Rio de Janeiro. “Es- di, um dos coordenadores do grupo. iniciativa.
Allela, 25 anos, criou luvas que conse- ção de Roy foi a sua sobrinha, que tem
guem converter a linguagem de sinais surdez congênita.
em som e facilitar a comunicação de Graças à invenção, Roy, que trabalha
pessoas com problemas de fala. para professores da Intel e da ciência
As luvas são conectadas a um apli- da informação na Universidade de Ox-
cativo via bluetooth, que vocaliza as ford, foi um dos 16 indicados ao prê-
letras, e possuem sensores flexíveis mio da Royal Academy of Engineering
que quantificam a dobra de cada Africa em 2019.
Pixabay
obras públicas poderosos da Nasa, por conta do iso-
lamento causado pela Covid-19, os
Freepik
engenheiros do Laboratório de Pro-
pulsão a Jato (JPL) em Pasadena, Ca-
lifórnia, voltaram a usar a tecnologia
3D de antigamente para navegar a
rover Curiosity em Marte.
Apesar de não serem tão realistas, sas funcionarem. Marte não está pa-
os óculos em azul e vermelho têm rado para nós; seguimos explorando”,
funcionado bem. “Essa é a essência da disse Carrie Bridge, a líder da equipe
Nasa. Nos deparamos com um proble- de operações científicas, em uma pos-
ma e descobrimos como fazer as coi- tagem no blog da agência espacial.
Pixabay
rus nos contratos de obras públicas”,
da Câmara Brasileira da Indústria da
Construção (CBIC).
“Uma série de medidas podem e
devem ser tomadas pelos contratados
e pelas administrações com vistas a
adequar o contrato às novas circuns-
tâncias, o que poderá abranger a
suspensão de sua execução, a repro-
gramação dos prazos, o reequilíbrio
econômico financeiro e até mesmo a
sua rescisão, em casos mais críticos”,
diz o advogado Fernando Vernalha,
responsável pelo parecer. O governo federal estabeleceu, por pelos órgãos e pelas entidades da ad-
meio do decreto nº 10.306, de 2 de ministração pública federal.
abril de 2020, a utilização do BIM O decreto estabelece que a imple-
(Building Information Modelling) na mentação se dará de forma gradual,
execução direta ou indireta de obras sendo que a primeira fase será inicia-
e serviços de engenharia realizados da em 1º de janeiro de 2021.
“DEVEMOS
Arquivo pessoal
URGENTEMENTE
PRIORIZAR OS
INVESTIMENTOS”,
DIZ PAULO
FERREIRA,
ESPECIALISTA EM
SANEAMENTO Paulo Ferreira é professor da Escola de Engenharia da
BÁSICO
Universidade Presbiteriana Mackenzie
P
sas do setor.
Na conversa a seguir, Ferreira discorre so-
rofessor da Escola de Engenharia da
bre os principais entraves para o avanço do
Universidade Presbiteriana Mackenzie,
saneamento básico no país, como má gestão,
com mestrado e doutorado pela Esco-
crise fiscal e aperto nos cofres públicos.
la Politécnica da USP, o engenheiro civil
Paulo Ferreira já exerceu os cargos de secre- Ele também se debruça sobre a visão po-
tário-adjunto do Meio Ambiente do Estado lítica imediatista que viceja em parte signifi-
de São Paulo, diretor de Controle de Poluição cativa das autoridades brasileiras, argumen-
da Companhia Ambiental do Estado de São tando que ela inviabiliza os longos ciclos de
Paulo (Cetesb), secretário nacional de Sanea- investimento em saneamento de que o país
mento do Ministério das Cidades e coorde- necessita.
nador, superintendente e diretor técnico na Outro ponto importante é a descrição das
Companhia de Saneamento Básico do Esta- principais novidades em processos e tecnolo-
do de São Paulo (Sabesp). gia de coleta e tratamento de esgotos, como
Nesta edição especial sobre saneamento o uso de membranas e nanofiltração.
básico, a Revista Engenharia fez uma entrevis- Ferreira analisa também questões-chave na
ta abrangente, que revela um pouco de sua área de abastecimento, que, com a coleta e
visão sobre o que leva o Brasil a ter metade o tratamento, formam o tripé do saneamento
da população sem acesso à rede de esgoto, básico. Dentre elas, destacam-se temas como
embora o país conte com a excelência técni- as perdas na rede de distribuição e a necessi-
L
inha Cristal, pequena vila de colonos A primeira lei com diretrizes nacionais para
italianos na Serra Gaúcha, precisava de o setor é do mesmo ano do filme de Furtado.
uma fossa para o tratamento de esgoto. Em 2013, o Plano Nacional de Saneamento
A prefeitura reconheceu a necessidade Básico, o Plansab, criou metas para alcançar
da obra, mas informou que não havia verba a universalização de saneamento até 2033.
para fazê-la. O que existia eram 10 mil reais Mas a realidade está muito distante disso. Se-
para a produção de um filme, sobra de um gundo a Confederação Nacional da Indústria
orçamento do governo federal, que, se não (CNI), um ano após a edição do plano, os ce-
fosse usado, seria devolvido. Os moradores nários estabelecidos ficaram obsoletos, muito
decidiram usar o dinheiro para fazer a obra e por causa das diferenças de índices previstos
rodar um filme sobre ela. de inflação e do crescimento do PIB – os an-
Essa história, na verdade, é o enredo do fil- tes R$ 304 bilhões de investimentos previstos
me “Saneamento Básico”, de 2007, do diretor em 20 anos se transformaram em ao menos
Jorge Furtado. Mas a ficção (ao menos a par- R$ 600 bilhões. No cenário atual, chegaría-
te da necessidade de obras de saneamento) mos à universalização do abastecimento de
se aproxima muito da realidade brasileira: água somente em 2043 e de esgoto em 2054.
segundo os resultados do último ranking de Para tentar reverter esse cenário, desde
saneamento, elaborado pelo Instituto Trata 2018, está em discussão a criação do cha-
Brasil e divulgado em março de 2020, o país mado novo Marco Regulatório para o sanea-
ainda tem 35 milhões de pessoas sem acesso mento básico. Um dos principais pontos do
à água tratada e mais de 100 milhões sem co- projeto é abrir caminho para a participação
leta de esgoto. da iniciativa privada no setor, ao exigir a obri-
Divulgação
tratações de serviços na área. No fim de 2019,
o PL nº 4.162/2019 foi aprovado na Câmara e
agora aguarda votação no Senado. A seguir,
o secretário nacional de Saneamento Básico,
do Ministério do Desenvolvimento Regional,
Pedro Ronald Maranhão Braga Borges, fala
sobre o cenário do saneamento básico no
Brasil e o que deve mudar com o novo Marco
Regulatório.
saneamento, que será maior do que é hoje, e organizando essa parte de financiamento
então está se estruturando, aprovando mais para avançar nas metas.
cargos, mais funcionários e técnicos.
DESPOLUIÇÃO DO
RIO PINHEIROS
SEGUE SEU CURSO
MESMO COM A COVID-19, OS INVESTIMENTOS E OS PRAZOS SEGUEM MANTIDOS
E OS TRABALHOS CONTINUAM OBSERVANDO TODAS AS MEDIDAS DE SEGURANÇA
A
s obras do projeto Novo Rio Pinhei- extensa se olharmos para as intervenções no
ros, que tem o objetivo de despoluir entorno do rio, com os seus córregos, linhas
o tradicional rio que corta a cidade de esgoto (muitas delas em construção) e as
paulistana e foi tema da reportagem comunidades que vivem em suas margens ou
de capa da edição 641 da Revista Engenha- mesmo interagem com as águas que rumam
ria (ver QR Code), já foram iniciadas e estão a para o Pinheiros.
pleno vapor, mesmo diante dos desafios e da “Mesmo com a pandemia, seguimos com
paralisação de São Paulo e do mundo em ra- os contratos já em vigor e com as tratativas
zão da crise gerada pela Covid-19. Entretan- para a definição de novos contratos que se-
to, a expectativa de Marcos Penido, secretário rão licitados. Estamos em conversação com
de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado as empresas parceiras para que elas possam
de São Paulo, é de que a sequência do proje- fazer frente ao momento e tenham caixa para
to siga inalterada, bem como a sua conclusão seguir com os trabalhos”, aponta Penido. Dos
prevista para dezembro de 2022. 15 contratos de tratamento de esgoto previs-
Até lá, o território do rio Pinheiros, que tem tos no projeto, quatro estão em execução e
aproximadamente 25 quilômetros de exten- os demais ainda serão licitados.
são, 85 metros de largura e 4,5 metros de pro- As ações previstas de saneamento, de-
fundidade, será despoluído. Essa área é mais sassoreamento, coleta e destinação dos re-
O MAIOR DESAFIO DO
NOVO RIO PINHEIROS É
LEVAR SANEAMENTO PARA
AS ÁREAS INFORMAIS
B
• Por Marcus Ribeiro
Divulgação
regos, com a implantação de unidades de re-
cuperação da qualidade da água de córregos
(URQ) para tratar o esgoto de áreas de ocupa-
ção irregular, onde ele acaba lançado nos cór-
regos porque a ocupação não deixou espaço
para a instalação da infraestrutura de coleta.
Estão previstas cinco URQ, que são objeto de
três licitações atualmente em andamento.
MELHORES CAPITAIS
EM SANEAMENTO
SÃO INSPIRAÇÃO
PARA O PAÍS
• Por Viviane Raimundi
E
m meio às dificuldades que a maior Enquanto a média nacional para o forneci-
parte dos municípios brasileiros en- mento de água encanada é de 83,6%, as três
frenta para universalizar o saneamento capitais se destacam por levar esse serviço a
básico para a população, os avanços praticamente 100% de seus moradores e ter
conquistados por algumas capitais podem bons indicadores de coleta de esgoto – Curi-
servir de inspiração para gestores país afora. tiba e São Paulo estão próximas da universa-
Em março deste ano, o Instituto Trata Bra- lização desse atendimento, e os indicadores
sil lançou o Ranking do Saneamento Básico de João Pessoa para o serviço estão bem aci-
2020, que traz a análise dos dados dos cem ma da média nacional. Na capital paraibana,
maiores municípios do país. Entre eles, as três 79,3% da população tem rede de esgoto, ao
capitais mais bem posicionadas são Curitiba passo que a média nacional é de 53,2%.
(PR), São Paulo (SP) e João Pessoa (PB), cida- Para chegar a resultados tão positivos em
des com realidades geográficas e populacio- comparação com o resto do país, as cidades
nais completamente diferentes, mas com al- têm estratégias específicas, mas todas tra-
guns indicadores similares. balham com planejamento a longo prazo e
O estudo foi elaborado a partir dos dados constância nos investimentos.
fornecidos pelos próprios municípios ao Sis- “A boa evolução dos indicadores sempre
tema Nacional de Informações sobre Sanea- envolve três dimensões – planejamento,
mento (SNIS – base 2018). regulação e operação. E há um ponto tam-
“Em comum, estas três capitais possuem bém: investimentos sendo feitos há muito
bons indicadores de atendimento de água tempo. Existem o planejamento, a regu-
e coleta de esgoto, mas ainda têm desafios. lação e a operação, mas também há uma
São Paulo e João Pessoa precisam melhorar constância em ter companhias saudáveis,
o tratamento do esgoto e todas ainda têm o que investem, e se preocupam com a ges-
desafio de diminuir as perdas de água”, expli- tão. Acho que os resultados são um pouco
ca o economista e pesquisador Pedro Scazuf desta combinação”, diz Scazufca. O sanea-
ca, do GO Associados, parceiro do Instituto mento básico das três capitais é gerenciado
Trata Brasil na elaboração do ranking. por companhias estaduais.
Fonte: SNIS 2018 e Ranking do Saneamento Básico 2020 do Instituto Trata Brasil
Ciete Silvério
São Paulo
A maior cidade do país é a segunda capital
mais bem posicionada no Ranking do Sanea-
mento Básico 2020. Mesmo com o forneci-
mento de água e a coleta de esgoto pratica-
mente universalizados, São Paulo tem desafios
gigantescos para superar, principalmente no
que diz respeito ao tratamento do esgoto.
“A cidade apresenta situações complexas,
como o crescimento desordenado ou a ocu-
pação irregular do solo. Sabemos que existem
ações a serem feitas, mas, se considerarmos a
grande dimensão da cidade e sua complexi-
dade, podemos dizer que temos alcançado
bons resultados”, avalia o diretor-presidente
da Companhia de Saneamento Básico do Es-
tado de São Paulo (Sabesp), Benedito Braga. Estação de tratamento de esgoto de Barueri, SP.
OS DESAFIOS DO
MARCO REGULATÓRIO
DE SANEAMENTO
• Por Juca Guimarães
Fotos: Pixabay
oferta de água de qualidade e o Pela proposta do governo, a Agência Na-
tratamento de esgotos são desafios cional de Águas (ANA), que atualmente é res-
para o desenvolvimento do país. Em ponsável pelos recursos hídricos do país, vai
2018, segundo os registros do De- assumir a gestão do setor criado pelo Marco
partamento de Informática do Sistema Único Regulatório.
de Saúde (DataSUS), foram 233 mil registros “Estamos nos preparando para fazer as nor-
de internações no SUS por conta de doenças mas de referência. É uma uniformização para
associadas à falta de saneamento básico. É ser seguida pelas agências subnacionais,
um panorama presente em todas as regiões dando maior previsibilidade para o mercado
do país. O Estado de São Paulo, o mais rico e maior robustez regulatória e segurança ju-
do país, registrou 7% do total de doenças re- rídica”, disse Chistianne Dias, diretora-presi-
lacionadas ao déficit de saneamento. dente da ANA.
O Marco Regulatório, em discussão no Con- O Marco foi criado com a participação de
gresso, pretende ampliar a participação dos in- entidades do setor e substitui duas tentativas
vestimentos privados para atingir as metas de anteriores, feitas por medidas provisórias,
cobertura dos serviços de saneamento básico. que caducaram antes de serem avaliadas
A iniciativa já foi aprovada na Câmara dos pelo Congresso.
Deputados e está em análise no Senado. Entre “Foram quase dois anos de conversa, des-
as principais mudanças estão a criação de uma de o governo Temer, para avaliar os pontos
agência reguladora federal e a divisão dos ser- do Marco Regulatório. Ele deve resolver mui-
viços de água e esgoto em blocos de cidades, tas das carências que existiam na lei anterior
onde poderão atuar empresas privadas, par- [11.445/07]. O saneamento precisa ter inves-
cerias público-privado e empresas estatais. timentos novos e uma nova linha de trabalho”,
Atualmente, os serviços são ofertados por disse Édison Carlos, presidente do Instituto
contrato de programa, que é negociado pe- Trata Brasil, uma das organizações que parti-
las prefeituras com companhias estatais ou ciparam da elaboração do Marco Regulatório.
com uma pequena parcela de empresas pri- No ano passado, segundo o Painel do Sa-
vadas. A fiscalização e a regulação são regio- neamento, acompanhamento feito pelo Insti-
nalizadas. tuto Trata Brasil, foram 2.180 mortes no país
“Têm empresas privadas operando com Várias cidades no mundo, como Paris, Ber-
lucro em municípios pequenos, com 10 mil lim, Atlanta, Joanesburgo, Buenos Aires, Ja-
ou 20 mil habitantes. Precisa ser revisto este carta, Kuala Lumpur, Indianápolis, La Paz, Val-
pensamento de que o saneamento não dá ladolid e Turim, que tentaram a privatização
lucro em cidades pequenas, depende do do setor de saneamento, acabaram voltando
sistema e da tecnologia. Existem estações atrás e reestatizando o serviço após a piora
compactas de água e esgoto, que são mais na qualidade de vida da população.
baratas do que as estações grandes, siste- Para Adalgisa, o Marco Regulatório como
mas individuais ou semicoletivos, que dis- está proposto tira a autonomia das prefei-
pensam a construção de grandes redes. A turas na escolha do melhor modelo de sa-
engenharia vem justamente para resolver neamento, que hoje é feito pelos contratos
esses problemas”, disse Carlos. de programa, além de poder acabar com o
A presidente da Associação dos Profissio- subsídio cruzado no valor dos serviços. “Mui-
nais Universitários da Sabesp (APU), Francis- tas cidades pequenas não têm como pagar
ca Adalgisa, aponta que o Marco Regulatório as obras de saneamento. Com a criação dos
pode gerar problemas por conta das privati- blocos de cidades o custo não poderá ser
zações. Ela cita como exemplo a privatização compensado entre os municípios maiores e
da Companhia de Saneamento do Estado menores, pois a lógica de mercado direciona
do Amazonas (Cosama), em 2000. “A estatal as empresas privadas para os segmentos que
foi comprada por uma empresa francesa que vão dar lucro”, disse.
não cumpriu os contratos, mesmo com di- Outro ponto destacado pela presidente da
versas alterações e ampliações das metas. O APU é a criação de novas tarifas para os serviços
exemplo de Manaus traz à tona uma série de previstos no Marco Regulatório. As empresas do
incertezas quanto à eficácia da privatização setor poderão atuar na coleta de lixo e na drena-
como meio de universalização dos sistemas gem da água das chuvas e cobrar por isso. “As
de abastecimento, coleta e tratamento dos pessoas terão que pagar por serviços que atual-
esgotos”, disse. mente já são pagos nos impostos”, disse.
Entenda o caminho
Um projeto de lei precisa ser aprovado na Câmara dos Deputados, que tem 513 parlamentares, e no Senado, que
tem 81 senadores. Se o texto sofrer alguma alteração, ele precisa voltar para a casa legislativa anterior.
COMO ERA
1. Não existia um órgão nacional para fiscalizar
os serviços de saneamento básico no Brasil.
2. Empresas públicas regionais faziam a
gestão do saneamento. Empresas privadas
podiam fazer contratos de concessão ou
de serviços direto com os municípios.
3. As empresas de saneamento
eram responsáveis só pelas ações
do setor de água e esgoto.
4. A política de preços e serviços era
definida pelas empresas do setor. A
decisão sobre os recursos investidos no
setor dependia dos municípios e Estados,
por meio das agências reguladoras.
5. Não havia uma agência federal
para acompanhar a meta nacional e a
ampliação da cobertura dos serviços.
COMO FICA
1. Será criada uma agência reguladora para o
setor dentro da Agência Nacional de Águas
(ANA), que atualmente cuida da gestão
e do monitoramento dos projetos que
envolvem os recursos hídricos do país.
2. Empresas privadas e novas parcerias entre
empresas públicas e privadas poderão assumir
os serviços de saneamento e esgoto nas cidades.
3. O Marco Regulatório permite a criação de
projetos em algumas áreas de manutenção
e limpeza das cidades, como a captação
da água das chuvas, construção de aterros
sanitários, coleta de lixo, poda de árvores
e ampliação da rede de esgoto.
4. Os novos serviços e o tratamento do esgoto
poderão ser tarifados com subsídios (preço
menor) para a população de baixa renda.
5. O serviço de saneamento poderá ser
regionalizado em blocos de cidades,
com metas de cobertura.
METAS
Até o final de 2033, a meta é de que 90% da população tenha coleta e
tratamento de esgoto e 99% da população do país receba água potável.
Em 2018, segundo o Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento,
53,2% da população teve o esgoto coletado, dos quais 42% foram
tratados; e 83,6% da população recebeu água potável em casa.
Ao todo, são 5.571 cidades no Brasil. Entre as 100 maiores cidades,
36 têm menos de 60% do esgoto tratado atualmente.
REDUZIR A POLUIÇÃO
DOS RIOS PINHEIROS E TIETÊ
É POSSÍVEL
TECNOLOGIAS DISPONÍVEIS MELHORAM A QUALIDADE DAS ÁGUAS, ELIMINANDO
O MAU CHEIRO E REDUZINDO SIGNIFICATIVAMENTE A TURBIDEZ
C
omo as águas limpas, o passado glo- fedidos o maior tempo possível durante o
rioso dos rios Pinheiros e Tietê ficou ano e que seja possível haver alguma navega-
para trás. Já foram fonte de vida e ção com pequenos barcos, especialmente no
diversão. Hoje, encravados na pai- Tietê”, diz. Zuccolo lembra que mesmo o rio
sagem urbana da cidade, recebem grande Tâmisa, que corta Londres e passou por pro-
quantidade de esgotos e são mais conheci- cesso de despoluição, ainda exala mau odor
dos por suas águas escuras e poluídas e pelo em alguns dias do ano. “Mas foi feito um pro-
mau cheiro que delas exala. Mas a majestade jeto equilibrado, que permite andar de barco,
ainda não está totalmente perdida. O Pinhei- sem que haja um cheiro agressivo. Em Paris,
ros atravessa áreas que se tornaram nobres e aconteceu a mesma coisa: vê-se pessoas to-
valorizadas com arranha-céus no seu entorno mando sol às margens do Sena, mas ninguém
e ainda ilustra fotos de cartão-postal. se banhando.”
Renato Zuccolo, engenheiro civil, especialis- Vários estudos apontam ser possível reduzir
ta ambiental e um dos autores do livro “Águas a poluição e o fedor nos dois rios paulistas.
do Alto Tietê”, juntamente com Marco Anto- Um deles foi realizado pela Verus Ambien-
nio Palermo e Arnaldo Sergio Kutner, diz que tal, especializada em remediação ambiental,
é possível fazer muita coisa para melhorar os em parceria com a Engeform Engenharia,
rios. Com mais de cinquenta anos de experiên- que possui experiência na construção de es-
cia em engenharia sanitária, especialmente a tações de tratamento de água e esgoto e na
relacionada a águas pluviais, ele reconhece, interligação de represas. O trabalho atendeu
porém, as limitações existentes para aumentar ao chamamento público “Apresentação de
os investimentos em saneamento. Por isso, de- Tecnologias para Testes de Alternativas para
fende soluções equilibradas. Tratamento da Poluição canal Pinheiros”, feito
“Precisamos colocar o Pinheiros e o Tietê em 2013 pela Secretaria de Estado do Meio
em uma condição em que se tornem menos Ambiente.
AERAÇÃO POR
NANOBOLHAS
• Pedro Caetano Sanches Mancuso, Doron Grull, Luiz Francisco Mancuso, Murilo
Damato, Samar dos Santos Steiner, Marcelo Bárbara e Edson Luiz Oliveira*
P2 304 29,0 5,0 15,0 900% 280 288 26,0 169 1227%
P3 211 34,0 3,6 18,8 1153% 208 268 8,6 151 1107%
P4 305 26,5 3,3 17,0 1033% 280 870 29,2 178 1287%
P6 289 15,6 3,4 9,0 500% 264 277 1,0 139 1027%
DESAFIOS NA MUDANÇA
DE COMPORTAMENTO
• Igor Borges Cipriano Saraiva*
INTRODUÇÃO Desenvolvimento
O presente trabalho tem como proposta Um eletricista profissional decide não se-
analisar a importância da presença da lide- guir as premissas básicas de segurança e
rança (diretor, gerente de área, supervisores, não utiliza a manta isolante para executar um
encarregados de turma) no local de trabalho serviço em uma rede de distribuição ener-
para a disseminação de comportamento se- gizada, mesmo ciente de que essa decisão
guro entre os funcionários operacionais das pode lhe custar a vida. Por que ele, treinado
empresas que trabalham no setor elétrico de e com experiência em realizar atividades de
distribuição de energia. manutenção em redes aéreas energizadas,
Dois critérios básicos nortearam este artigo decide tomar essa decisão? Por que, mes-
e levaram aos seguintes questionamentos: mo ciente da ocorrência de acidentes fatais
e quase fatais com colegas de trabalho, não
- Comportamento seguro – Um acidente
considera a possibilidade de que ele pode
ocorrido com um colega de trabalho é mo-
ser a próxima vítima?
tivo para que o restante da equipe trabalhe
com mais segurança? Situações como a descrita acima são mais
comuns do que gostaríamos de acreditar. Há,
- Capacitação técnica – Treinamentos e pa-
provavelmente, uma grande parcela de sorte
lestras são suficientes para que o funcionário
na maioria dos serviços executados no setor
internalize um comportamento seguro?
de manutenção de redes de distribuição de
Diante dessas indagações, é importante energia. Ninguém, em sã consciência, gostaria
analisar os motivos que levam um funcionário de tornar-se vítima de descarga elétrica.
a tomar uma decisão errada, e seus impactos
Quando uma pessoa sofre um choque elé-
em sua vida e na de seus companheiros. Além
trico, as consequências podem ser diversas,
disso, o papel da liderança no acompanha-
entre elas queimaduras e contrações muscu-
mento das atividades diárias pode ser funda-
lares. A exposição a descargas elétricas pode
mental, objetivando encontrar possíveis me-
ainda afetar o sistema nervoso e órgãos vitais,
lhorias no desempenho das equipes, além de
como o coração e o pulmão, levando a vítima
mostrar aos colaboradores que há preocupa-
a falecer se não for socorrida imediatamen-
ção na forma como as atividades são executa-
te, pois o músculo do diafragma poderá ficar
das, tanto em relação à parte técnica quanto
“congelado” em um estado de tétano por
aos procedimentos de segurança e saúde.
corrente elétrica, conforme informa a Abraco-
Para alcançar os objetivos propostos, utili- pel (Associação Brasileira de Conscientização
zou-se como recurso metodológico a pesqui- para os Perigos da Eletricidade).
sa bibliográfica realizada a partir da análise de
Além disso, a descarga, em muitos casos,
trabalhos já publicados em livro e de artigos
leva a sequelas indesejáveis, como amputa-
científicos divulgados em meio eletrônico.
ção de membro por causa de queimaduras
Ainda de acordo com o anuário, entre os da são capacete de segurança, óculos, luvas
acidentes fatais registrados durante o ano, isolantes e de cobertura, botina de seguran-
quatro ocorreram com eletricistas funcioná- ça com solado isolante, cinto paraquedista e
talabarte, linha de vida e uniforme especial
rios de empresas de energia, conforme grá-
antichama.
fico abaixo:
Apesar dos EPIs, dos treinamentos neces-
sários para execução dos serviços, dos Diá-
logos Diários de Segurança (DDS) e da fisca-
lização, há muitos casos de negligência, tanto
do eletricista executor do serviço quanto do
restante da equipe, inclusive do chefe de tur-
ma/encarregado.
A negligência da equipe poderá ser evitada
se for seguida a Norma Regulamentadora nº
10 (Segurança em instalações e serviços em
eletricidade). No subitem 10.5.1, são descri-
tos alguns procedimentos e a sequência cor-
reta em que devem ser cumpridos para que
o Sistema Elétrico de Potência (SEP), que é
Figura 2: Choques elétricos fatais em redes aéreas o conjunto das instalações e equipamentos
Fonte: Anuário Estatístico Abracopel: Acidentes de Origem Elétrica, 2019, p. 35. destinados à geração, à transmissão e à dis-
tribuição de energia elétrica até a medição,
seja considerado desenergizado e liberado
Mesmo em quantidade menor, comparado para trabalho. A lista de tais procedimentos
com outras profissões (29 pedreiros/operá- é chamada popularmente de Regras de Ouro
rios/ajudantes; 23 pintores/ajudantes, por (CEMAR):
exemplo), chama a atenção o fato de todo o
- Abrir os circuitos elétricos usando disposi-
conhecimento que o exercício da profissão
tivos de seccionamento com corte visível;
requer não ser suficiente para que os aciden-
tes não ocorram. - Bloquear o equipamento de seccionamen-
to dos circuitos elétricos, ou seja, impossibi-
Nas concessionárias de energia há equipes
litar fisicamente a união de seus contatos ou
especializadas para executarem serviços de
imobilizar o comando do aparelho. No caso
manutenção em rede energizada, de acordo
de chaves fusíveis, o bloqueio caracteriza-se
com a demanda necessária em cada região.
Cada equipe recebe o treinamento adequa- pela retirada dos bastões;
do, sendo todos os funcionários instruídos a - Testar e comprovar a ausência de tensão
seguirem as diretrizes do manual de “Proce- no local de abertura dos circuitos e onde se-
dimentos Operacionais”, que descreve as eta- rão realizados os trabalhos com detector de
pas para a eficiente execução das atividades. tensão. Para esse reconhecimento do local,
Nesse manual, além da descrição dos servi- deve-se agir como se a instalação estivesse
ços, há a relação de Equipamentos de Prote- energizada, ou seja, usar equipamento de
ção Individuais (EPIs) a serem utilizados e as proteção adequado, manter distância de se-
regras a serem obedecidas em prol da segu- gurança e comprovar ausência de tensão em
rança da equipe. todos os condutores;
Os principais EPIs que um eletricista deve - Instalar os conjuntos de aterramento tan-
utilizar ao trabalhar em uma rede energiza- tos quanto forem necessários, em pontos ad-
liam Heinrich, na década de 1930, atualizada lizações/visitas em campo poderá tornar tal
na década de 1960 por Frank Bird (popular- ocorrência um hábito adquirido pela equipe.
mente conhecida como Pirâmide de Bird) e
incrementada pela empresa DuPont no final
da década de 1990: CONCLUSÃO
Diante do exposto, conclui-se que um aci-
dente deveria ser motivo para que a equi-
pe saísse da zona de conforto e agisse com
mais segurança. Era esperado também que a
existência de tantas normas e procedimentos
coibisse a ocorrência de acidentes. Contudo,
não é isso que se vê. Há, inclusive, casos de
eletricistas que trabalham em empresas que
prestam serviços para concessionárias de
energia e veem um colega de trabalho mor-
rer ou ser mutilado e, poucos meses, ou até
dias depois, realizam procedimentos inade-
Figura 3 - Pirâmide de desvios da DuPont quados durante a execução da atividade.
Fonte: http://falandodeprotecao.com.br/piramide-de-desvios Além disso, treinamentos e palestras não
são suficientes para que o funcionário inter-
nalize um comportamento seguro. Assim, é
Segundo a pirâmide, cada 30 mil desvios
necessário analisar de forma bem criteriosa a
levam a 3 mil incidentes, 300 acidentes sem
qualidade dos treinamentos e a objetividade
afastamento, 30 acidentes com afastamento e
das palestras, para que o aprendizado não
um acidente fatal. A pirâmide tem como prin-
seja algo passageiro. Conforme Bley:
cipal objetivo prevenir e encontrar medidas
para minimizar e/ou eliminar os acidentes de "Conhecer como acontece o ensino da pre-
trabalho. Percebe-se que pequenos desvios, venção é importante para que as organizações
muitas vezes considerados insignificantes, possam desenvolver estratégias que contri-
podem levar a uma fatalidade, seja pela con- buam para aumentar a efetividade das inter-
fiança extrema durante a execução da ativi- venções educacionais." (p. 55).
dade, seja pela negligência em seguir regras Junto com a melhora da qualidade de trei-
básicas de segurança. namentos e palestras deve ser proposta a fre-
Para ajudar nesse processo, é fundamental quente visita da liderança, não só dos fiscais,
que as empresas ministrem treinamentos, for- durante as atividades em campo. Tais visitas,
neçam os equipamentos de proteção indivi- quando realizadas de forma surpresa, servem
dual adequados e deem todo o suporte para tanto para que o funcionário perceba que há
que os trabalhadores exerçam suas funções fiscalização constante quanto para mostrar
diárias da forma mais segura possível. a preocupação com a saúde da equipe e a
Além disso, a interação dos líderes é im- qualidade do serviço realizado. Durante as vi-
portante para que o funcionário, no papel do sitas, é importante também que haja um diá-
eletricista, perceba que toda a hierarquia da logo, parabenizando pelo serviço prestado
empresa tem interesse na realização segu- e criticando quando houver alguma atitude
ra das atividades em campo. Mesmo que o fora dos padrões de segurança.
serviço seja realizado corretamente apenas Cabe à empresa investir no funcionário, seja
na presença do gestor, a frequência de fisca- por meio de treinamentos, palestras, equipa-
ABRACOPEL. Anuário estatístico Abracopel: acidentes de origem elétrica DUPONT. A evolução da pirâmide de desvios. Disponível em: http://falan-
– 2019 – ano base 2018. Rio de Janeiro, 2019. Disponível em: http:// dodeprotecao.com.br/piramide-de-desvios/. Acesso em: 14 jul. 2019.
abracopel.org/wp-content/uploads/2019/05/Anu%C3%A1rio-ABRACO- ERPLAN. Pirâmides de Desvios: incidentes, perdas, diagrama de Pareto
PEL-2019.pdf. Acesso em: 1º abr. 2020. e prevenção. Disponível em: http://www.erplan.com.br/noticias/pira-
ABRACOPEL. Em 2019 as estatísticas continuam aumentando. 7 maio mides-de-desvios-incidentes-perdas-diagrama-de-pareto-e-prevencao.
2019. Disponível em: http://abracopel.org/abracopel/2019-estatisticas- Acesso em: 25 jul. 2019.
-aumentando. Acesso em: 23 maio 2019. LEONARDI, D. F.; LAPORTE, G. A.; TOSTES, F. M. Amputação de membro por
ABRACOPEL. Você conhece as consequências do choque elétrico no corpo queimadura elétrica de alta voltagem. In: Revista Brasileira de Queima-
humano? Disponível em: http://abracopel.org/blog/consequencias-cho- duras. Disponível em: http://rbqueimaduras.org.br/details/60/pt-BR/
que-eletrico. Acesso em: 23 maio 2019. amputacao-de-membro-por-queimadura-eletrica-de-alta-voltagem.
Acesso em: 26 maio 2019.
ANEEL. Regulação dos Serviços de Distribuição. Disponível em: http://
www.aneel.gov.br/regulacao-dos-servicos-de-distribuicao. Acesso em: TUIUTI EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA. Pirâmide de Heinrich: entenda
14 jul. 2019. como funciona a teoria dos desvios. Disponível em: https://www.epi-
-tuiuti.com.br/blog/seguranca-do-trabalho/piramide-de-heinrich-enten-
BLEY, J. Comportamento seguro: a psicologia da segurança no trabalho e
da-como-funciona-teoria-dos-desvios. Acesso em: 26 maio 2019.
a educação para a prevenção de doenças e acidentes. Curitiba: Editora
Sol, 2011. E-book.
QUE LICENCIAMENTO
AMBIENTAL QUEREMOS?
• Simone Marques dos Santos Nogueira*
INTRODUÇÃO
no inciso I do artigo 2º da Lei Complemen-
A pergunta do título deste artigo tem o ob-
tar nº 140/2011 como “procedimento admi-
jetivo de fazer com que o leitor exercite seu
nistrativo destinado a licenciar atividades ou
pensamento crítico. O que é licenciamento
empreendimentos que utilizam recursos am-
ambiental? Por que temos o direito de esco-
bientais, efetiva ou potencialmente poluido-
lher o modelo que queremos?
res ou capazes, sob qualquer forma, de cau-
O licenciamento ambiental, um dos instru- sar degradação ambiental”.
mentos da política ambiental1, foi definido
Ressalva-se que, embora a legislação uti-
1 Art. 9 da Lei nº 6938/81. Outros instrumentos seriam, por exemplo, o lize o termo “licenciar”, a doutrina entende
zoneamento industrial e a auditoria ambiental. que, devido às suas características, o ato
rece benéfica, desde que os procedimentos como de baixo potencial poluidor, nos casos
para obtenção de licenças sejam transparen- em que os impactos ambientais da tipologia
tes, objetivos e padronizados. Isso ainda será e as características ambientais da área de
feito por meio de normatização específica de instalação são conhecidos previamente.
cada órgão licenciador se não houver leis fe-
derais, estaduais e municipais regulamentan-
LICENCIAMENTO
do especificamente esses procedimentos de
AUTODECLARATÓRIO
licenciamento. Nesse sentido, é falha a pro-
posta do Projeto de Lei nº 3729/2004 que se No entanto, por conta da relevância da
apresenta vaga e genérica e, por isso, deveria matéria ambiental, não é adequada a possi-
ser aperfeiçoada. bilidade de licenciamento “autodeclaratório”
sem o necessário e imperioso controle prévio
No caso específico do licenciamento em
por parte do poder público.
fase única, o artigo 16 está vago demais e
pode gerar discussões. Talvez ele deves- Esse tipo de licenciamento já vinha sendo
se indicar que essa modalidade é cabível aplicado na Bahia, nos termos do art. 45, VIII,
apenas para empreendimentos de menor da Lei Estadual nº 10.431/2006, e foi tema de
potencial poluidor/degradador e cuja locali- ADI nº 5014, sendo que tal experiência mos-
zação seja ambientalmente viável, deixando trou-se malsucedida11. Infelizmente, não se
para as normas específicas o papel de deli- pode contar apenas com a boa-fé ou o co-
mitar tais situações. nhecimento técnico dos empreendedores.
Até onde foi possível averiguar, adotando
tais procedimentos, a Bahia tem conseguido VALIDADE DAS LICENÇAS
resultados positivos em relação à agilidade Ainda na busca por celeridade e eficiência,
para obtenção de licenças10. parece que o projeto de lei caminhou bem ao
Já o licenciamento por adesão ou termo estabelecer, no artigo 5º, prazos mínimos de
de compromisso consistiria de forma sintéti- validade mais extensos para algumas licen-
ca na emissão de licença ambiental a partir ças porque esse é, de fato, um elemento rele-
da disponibilização, pelo empreendedor, de vante de segurança jurídica e até mesmo de
informações sobre o empreendimento e da viabilidade econômica do empreendimento.
adesão a compromisso e critérios preestabe- Mas, tal como no caso do licenciamento sim-
lecidos pelo órgão ambiental competente. A plificado, fica a ressalva de que a lei regu-
validação dessas informações seria feita pos- lamenta essa modalidade de forma clara e
teriormente pelo poder público. precisa, inclusive apontando casos nos quais
Ressalva-se que esse tipo de licenciamen- essa extensão pode ser revogada em caráter
to seria aplicável às tipologias identificadas punitivo, por exemplo.
CONCLUSÃO
Um requisito, ou qualidade, predefinido é o
Figura 1 – Fluxograma interno do processo de tratativa de não que o cliente deseja de determinado produ-
conformidade, baseado no ciclo PDCA. to. Meta de melhoria é o que fará a diferença
Fonte: As autoras (2019). entre produtos do mesmo segmento. Meta
padrão é o que garante a sobrevivência de
RESULTADOS uma empresa. Com isso e a análise das infor-
Foi detectada uma não conformidade e, en- mações levantadas, foi possível concluir que
tão, convocada uma reunião para analisar a um sistema de tratativa de não conformida-
causa raiz e criar um plano de ação. A primei- des engessado ou inflexível pode compro-
ra reunião ocorreu, as ações foram cumpri- meter a resolução dos desvios, fazendo o que
das, mas a ocorrência de não conformidade as empresas mais repudiam, que é burocrati-
continuou. Foi convocada nova reunião e zar os processos internos.
o resultado, mais uma vez, foi frustante. As Manter uma linha de diálogo direta com os
ações foram consideradas inviáveis pelo setor colaboradores, deixando-os à vontade para dar
financeiro, o que desmotivou os envolvidos, sugestões e participar de alguma forma, pode
que não queriam comparecer a outra reunião ser um forte aliado. Outra opção que apresenta
para falar de algo “impossível” de solucionar. bons resultados é divulgar as melhorias, ressal-
Até que um colaborador da equipe de ma- tando a importância da contribuição das equi-
nutenção sugeriu que todos os participantes pes na solução das não conformidades.
DANIEL, E. A.; MURBACK, F. G. R. Levantamento bibliográfico do uso das TOLEDO, J. C.; BORRÁS, M. A.; MERGULHÃO, R. C.; MENDES, G. Qualidade:
ferramentas da qualidade. Gestão & Conhecimento: revista do curso de gestão e métodos. Rio de Janeiro: LTC, 2017.
Administração da PUC-MG, Poços de Caldas, 2014. WERKEMA, M. C. C. Ferramentas estatísticas básicas para o gerenciamento
FACHIN, O. Fundamentos da metodologia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. de processos. Belo Horizonte: Fundação Cristiano Ottoni, 1995.
DIRETRIZES PARA
UNIVERSALIZAÇÃO DO
SANEAMENTO NO BRASIL
• Por Mário Ernesto Humberg e Paula Fernanda Morais Andrade Rodrigues
S
aneamento é pauta de políticas públicas O projeto foi iniciado em março de 2019, sen-
e de pesquisas de técnicos especialistas do entrevistados no decorrer do estudo mais de
no segmento, não apenas pela urgência vinte renomados especialistas*, internos e exter-
e magnitude do tema, mas também devi- nos ao Instituto. Tais especialistas dedicaram-se
do às propostas que visam alterar o marco regu- às diferentes áreas do saneamento durante a tra-
latório do saneamento básico brasileiro (Projeto jetória profissional e suas indicações, sugestões
de Lei n. 4.162/2019). e opiniões foram fundamentais para a elabora-
Com o intuito de contribuir nesse âmbito, o ção do documento.
Instituto de Engenharia, por meio da Divisão Também foram entrevistados representantes
Técnica de Engenharia Sanitária, Recursos Hídri- de instituições como: Secretaria de Saneamen-
cos e Biotecnologia, elaborou o estudo “Diretri- to e Recursos Hídricos do Estado de São Pau-
zes para Universalização do Saneamento no Bra- lo; Associação Brasileira das Concessionárias
sil”, que expressa a visão do Instituto, elencando Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgo-
as prioridades e os caminhos para a superação to (Abcon); Associação Nacional dos Serviços
das deficiências nas quatro áreas-chave do sa- Municipais de Saneamento (Assemae); Asso-
neamento: ciação Brasileira de Empresas de Tratamento
de Resíduos e Efluentes (Abetre); Secretaria
• abastecimento de água potável ou sani-
de Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA);
tariamente segura (desde sua captação até
além de consultores que atuam (ou atuaram)
sua distribuição);
no Banco Mundial, no Comitê de Bacia do
• coleta, tratamento e destinação correta de Alto Tietê, na Trata Brasil, na Agência Nacional
esgotos; de Águas (ANA), na Companhia Brasileira de
• coleta, transporte, tratamento e destina- Projetos e Empreendimentos (Cobrape), na
ção de resíduos sólidos; Companhia de Saneamento Básico do Estado
• drenagem urbana e manejo de águas plu- de São Paulo (Sabesp), no Departamento de
viais. Infraestrutura (Deinfra) da Federação das In-
dústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), entre
O estudo tem como horizonte de tempo um
outras entidades.
prazo de 20 anos (até 2040) até a completa im-
plantação do saneamento básico no país e 40 A diversidade de instituições e de pessoas ou-
anos (até 2060) para a resolução de todas as vidas almejou a imparcialidade do estudo e a
questões ligadas à drenagem. Este é o prazo coleta abrangente de opiniões.
máximo para se chegar ao patamar dos países Os objetivos da proposta do Instituto de En-
que compõem a Organização para a Coopera- genharia são:
ção e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de • Reduzir, especialmente em áreas ocupadas
forma realista e considerando as deficiências e por populações de baixa (ou nenhuma) renda,
peculiaridades brasileiras. a mortalidade infantil e os custos emprega-
dos para o tratamento de doenças (muitas das Como pode-se notar, a lista de objetivos é ex-
quais de veiculação hídrica). tensa, o que reflete a complexidade das ações
• Contribuir para a melhoria das condições que devem ser tomadas e a diversidade de ato-
ambientais do país por meio da remediação res necessários à implementação dessas deman-
de corpos hídricos contaminados, como cór- das. Por isso, são pontuados no projeto as res-
regos, rios, lagos, e da costa marítima, que re- ponsabilidades de cada parte envolvida. Além
cebe os efluentes desses corpos hídricos. Isso disso, as medidas foram divididas em diretrizes
levará à valorização das áreas hoje poluídas, de curto, médio e longo prazos. Dessa maneira,
estimulando o crescimento do turismo e da gestores dos governos municipais, estaduais e
oferta de empregos por ele gerados, além de federal, bem como a mídia e as diversas entida-
possibilitar a cobrança, pelas prefeituras, de des (como universidades e institutos de pesqui-
taxas de contribuição de melhoria. sa), podem entender seu papel nesse contexto e
• Criar condições para a retomada dos pro- implementar estratégias de ação.
gramas de investimento público paralisados – Universalizar o saneamento no Brasil depen-
como os projetos do Programa de Aceleração derá de um esforço conjunto do governo e dos
do Crescimento (PAC), da Caixa Econômica três poderes para modernizar as estruturas pú-
Federal e da Fundação Nacional de Saúde blicas, legais e operacionais do setor.
(Funasa) – por questões técnicas, legais ou fi- Tão importante quanto a ação governamental
nanceiras, criando condições para maior pre- é a participação da iniciativa privada – seja em
sença e investimento de empresas privadas. concessões, seja em parcerias público-privadas
• Mudar a percepção da sociedade e dos –, que deve investir na instalação e moderniza-
órgãos internacionais sobre a situação sani- ção dos sistemas de saneamento básico, na bus-
tária e ambiental do país a partir do estabe- ca por novas tecnologias e no adequado trata-
lecimento de indicadores comparáveis aos mento e disposição de resíduos.
dos países da OCDE e de prazos claros para É imprescindível também a atuação da mídia,
se atingir os níveis desses países. das escolas e das entidades sociais na cons-
• Otimizar a aplicação dos recursos nos mu- cientização da sociedade, enfatizando a impor-
nicípios menos populosos, o que permitirá tância do saneamento. Com foco na atuação
a rápida melhoria dos índices de saneamen- educacional e informativa, o Instituto de Enge-
to dessas cidades, com possível atração de nharia propõe para 2021 a inclusão, no sistema
novos empreendimentos e negócios. escolar, de informações sobre saneamento bá-
• Estimular, para o setor de saneamento, a pro- sico e sua relação com a saúde, o que ajudará a
dução nacional de equipamentos, sistemas, mobilizar a sociedade para pleitear esse servi-
acessórios e insumos. Isso acarretará o surgi- ço às autoridades.
mento de novas empresas e novos empregos O Instituto de Engenharia espera que, em
no segmento, aumentando a demanda por um futuro previsível, o país se torne referência
serviços técnicos e de engenharia especializa- na gestão e tratamento de resíduos sólidos e
dos e propiciando a criação e a expansão de efluentes, na administração eficiente e sustentá-
empresas que prestam os mais variados tipos vel de recursos hídricos e na equidade do acesso
de serviço, como consultoria, licenciamento, à água potável e sanitariamente segura, garantin-
planejamento e elaboração de projetos, cons- do, assim, a segurança hídrica no Brasil.
trução, operação, gestão, formação e treina-
mento de mão de obra especializada.
O documento, embora resultante de consulta aos especialistas cita-
• Promover debates e seminários sobre sa- dos, é de inteira e exclusiva responsabilidade do Instituto de Engenha-
neamento, buscando melhores práticas e ria, não expressando, necessariamente, as opiniões dos consultados
inovações no país e no exterior. acerca do assunto.
DIAS, André A.; CALIL to no dia a dia das pessoas. A principal NABAIS, Rui J. S.
JÚNIOR, Carlito; consequência do processo de desma- (organizador)
LAHR, Francisco A. R.;
terialização da moeda é a criação da Manual básico
MARTINS, Gisele C. A.
plataforma “Banco como um Serviço” de engenharia
Estruturas (Bank as a Service – BaaS). ferroviária
de Madeira São Paulo – SP,
Em outras palavras, é de fundamental
– Projetos, Oficina de Textos, 2014, 349 p.
importância que o início dos traba-
dimensionamento e
lhos seja focado na identificação dos Reunindo o conhecimento de profis-
exemplos de cálculo
seus componentes e na determinação sionais com anos de experiência em
Rio de Janeiro – RJ,
do custo total atual do dinheiro físi- estudos operacionais, projeto, manu-
Elsevier, 2019, 186 p.
co. O custo da utilização do dinheiro tenção e material rodante, o “Manual
A madeira encontra muita resistência físico como meio de pagamento está básico de engenharia ferroviária”
ao seu uso na construção civil, princi- distribuído nas etapas de: supre a carência de materiais de con-
palmente devido aos poucos cursos (i) produção e emissão; sulta atualizados e abrangentes em
ministrados na engenharia civil e na transporte ferroviário.
(ii) custódia;
arquitetura.
(iii) distribuição para o atacado e varejo; e A obra aborda de maneira prática e
Neste livro são apresentados os cri- detalhada os conceitos básicos, as
térios de dimensionamento de ele- (iv) transações realizadas.
principais noções sobre equipamen-
mentos estruturais de madeira à luz tos, operação e manutenção da via
da nova ABNT NBR7190/2019, além RODRIGUES, Roberto
permanente e todas as etapas de um
(organizador)
de exemplos de cálculo, fundamen- projeto de ferrovia, englobando estu-
tal para os profissionais de projeto e Agro é paz dos operacionais, básicos e de infraes-
cálculo dessas estruturas. Os capítulos São Paulo – SP, trutura, além de projeto de obras de
estão divididos em partes com a fina- Esalq, 2018, 412 p. arte especiais, de sistemas e de obras
lidade de identificar as diversas fases O mundo espera que o Brasil assuma complementares. Uma importante
de projeto e dimensionamento dos um papel cada vez mais proeminen- referência para estudantes, empresas
elementos estruturais de madeira. te na missão que a humanidade tem operadoras ferroviárias e profissionais
de enfrentar do século XXI em diante: em engenharia ferroviária.
MANSUR, Ricardo compatibilizar a oferta de alimentos
Blockchain e seguros a toda a população do pla- WOISCHNIK, Jon
Distributed neta com a preservação dos recursos Democracia,
Ledger naturais. diálogo e
Technologies Não se trata de desafio trivial, mas cooperação
(DLTS): desafios também não é missão impossível de Rio de Janeiro – RJ,
e oportunidades ser vencida. Com uma estratégia bem Konrad Adenauer
Rio de Janeiro – RJ, Editora articulada entre o público e o privado, Stifung, 2019, 223 p.
Ciência Moderna, 2019, 247 p. a fome será eliminada e a paz mun- A Fundação Konrad Adenauer (KAS) é
O projeto de digitalização da moeda dial, garantida: porque não haverá uma fundação política alemã. Através
soberana de uma nação é um esforço paz enquanto houver fome. do seu escritório central na Alemanha,
que exige a identificação e comunica- Este livro aponta alguns caminhos gerencia mais de 200 projetos, abran-
ção dos benefícios tangíveis da inicia- para essa estratégia a partir da visão gendo mais de 120 países. Os proje-
tiva, por causa do seu elevado impac- de grandes especialistas brasileiros. tos, os debates e as análises visam ao
Instituto debate
a Linha 13-Jade da
CPTM e o Expresso
Aeroporto
Soluções para a Linha 13-Jade da
CPTM e para o Expresso Aeroporto fo-
ram debatidas em encontro mediado
por Eduardo Lafraia, presidente do IE,
Jurandir Fernandes, presidente da ciação dos Engenheiros e Arquitetos as etapas seguintes do projeto.
União Internacional de Transportes de Metrô (AEAMESP); Vicente Abate, Entre os representantes do IE esta-
Públicos (UITP) – Divisão América Lati- presidente da Associação Brasileira vam Ricardo Kenzo, VP de Relações
na, e Clodoaldo Pelissioni, ex-secretá- da Indústria Ferroviária (Abifer); e Externas; Ivan Whately, diretor do De-
rio dos Transportes Metropolitanos do Jean Pejo, secretário-geral da Asso- partamento de Logística e Transporte;
Estado de São Paulo. ciação Latino-Americana de Ferrovias o conselheiro Fernando Portella; e
Participaram também da conversa (Alaf). Nas próximas semanas, o gru- Flaminio Fichmann, coordenador da
Pedro Machado, presidente da Asso- po deve voltar a discutir para alinhar DT de Transportes Metropolitanos.
Especial do IE, cujo tema central são tecnologia, Paula Fernanda Rodri-
as diretrizes para a universalização gues; e o consultor Celso Matsuda.
do saneamento no Brasil. O IE se Também participaram do encontro
prontificou a ajudar Paranhos com o secretário nacional de Mobilidade
sua agenda de saneamento, e este Urbana, Jean Pejo, e o jornalista Ma-
deixou várias possibilidades abertas rio Humberg.
A ME M Ó R I A V I VA D E
SHIGEAKI UEKI
• Por Kassia Nobre
S
higeaki Ueki lembra-se com detalhes estudava contabilidade, fui trabalhar no es-
da infância e da adolescência na cida- critório de engenharia e construção de um
de de Bastos, no interior de São Pau- profissional famoso na época. Passei pratica-
lo, até os momentos áureos da des- mente a minha vida no Largo São Francisco.
coberta de petróleo na Bacia de Campos da Trabalhava no escritório de engenharia du-
Petrobras. rante o dia e à noite estudava”, lembra.
Aos 85 anos, relata com detalhes sua traje- Após o término do curso técnico, estudou
tória, que se iniciou na escola pública Ginásio direito na Pontifícia Universidade Católica de
São José de Bastos. São Paulo (PUC-SP).
“Bastos, apesar de ser uma cidade muito “Depois de me formar, trabalhei no setor
pequena, tinha escola pública com excelen- do comércio e de produção. Pratiquei advo-
tes professores. Devo aos bons professores cacia por uns três anos, mas depois comecei
todo o meu preparo. Obviamente que os a trabalhar com empresários. Cheguei a par-
meus melhores professores foram os meus ticipar de indústrias que produziam gram-
pais”, conta. pos para cabelo, alfinetes, lanterna de mão.
Aos 15 anos, em 1950, mudou-se para a ci- Depois, fundei uma fábrica de lâmpadas elé-
dade de São Paulo, para concluir os estudos. tricas para painéis de controle de veículos e
“Na época, para fazer o segundo ciclo do co- aviões. Chegamos a ter quatro fábricas, mas,
legial, era preciso fazer exame de admissão. infelizmente, todas estas atividades perde-
Eu e meus amigos conseguimos entrar nas ram competitividade na década de 90. Aca-
melhores escolas de São Paulo. Resolvi fazer bamos fechando.”
curso técnico de contabilidade.”
Ueki ingressou no curso técnico de conta- A trajetória no governo
bilidade da Fundação Escola de Comércio A amizade com Paulo Egydio Martins, ex-
Álvares Penteado (Fecap), entidade da qual -governador de São Paulo e ex-ministro da In-
hoje é presidente e há 30 anos é membro do dústria e Comércio do governo Castelo Bran-
Conselho de Curadores. co, foi fundamental para o início da carreira
“Escolhi um curso técnico pelo fato de ser de Ueki no setor público.
o primeiro filho e o meu pai dizer que não te- “Foi o Paulo Egydio quem me apresentou
ria condições de me manter em São Paulo só ao presidente Ernesto Geisel, o que mudou
para estudar. Eu teria que trabalhar”, conta. toda a minha história. Fiquei do governo Cas-
O seu primeiro emprego foi no Banco Mo- telo Branco até o fim do governo João Figuei-
reira Salles, aos 16 anos. “Depois, enquanto redo. Foram 20 anos no setor público”, relata.
Arquivo pessoal
Shigeaki trabalhou ainda para uma indús-
tria petroquímica na produção de polietile- Shigeaki Ueki, presidiu a Petrobras e foi ministro de Minas e
no. “A atuação na indústria petroquímica me Energia
obrigou a estudar muito sobre o setor do
petróleo”.
Durante o governo Costa e Silva, com 32
anos, Ueki recebeu o convite para trabalhar
na Organização dos Estados Americanos
(OEA), em Washington. “Casado e com dois
filhos resolvi largar tudo. Convenci a minha
mulher a me acompanhar e fomos morar em A descoberta de petróleo
Washington”, conta. Como ministro de Minas e Energia, Shigeaki
Após um período nos Estados Unidos, de- acompanhou a descoberta, pelo geólogo
cidiu voltar ao Brasil. Ao chegar, em 1969, Carlos Walter Marinho Campos, de petróleo
foi convidado por Ernesto Geisel, então pre- na Bacia de Campos, localizada entre o lito-
sidente da Petrobras do governo de Emílio ral sul do Espírito Santo e o norte do Rio de
Médici, para assumir a diretoria comercial e Janeiro.
financeira da estatal. “A minha alegria era tão grande que falei
“O que me ajudou muito foi todo o meu uma bobagem numa entrevista. Falei que es-
passado de aprendizado na contabilidade tava tão feliz que ia me fantasiar de barril de
industrial. Na área comercial, já tinha tido petróleo para sambar na Praça dos Três Pode-
experiência com vários produtos e não foi res durante o Carnaval”, relembra.
difícil assumir esta responsabilidade.” Ueki comenta a mudança na história da pro-
Assim que Ernesto Geisel se tornou presi- dução de petróleo no país, que passou a ser
dente da República, Ueki assumiu o Ministé- exportador do produto, por causa da desco-
rio de Minas e Energia. berta. “A história da Petrobras nesse período
“Quando o Geisel se tornou presidente, o é de sucesso e deixamos uma herança muito
primeiro convite foi para eu ser ministro da boa”, orgulha-se.
Agricultura. Depois, o presidente decidiu que Hoje em dia, Shigeaki se dedica ao setor
eu seria ministro da Indústria e Comércio. Mas, químico (pine química) com participação em
ao final, decidiu que eu seria ministro de Minas empresas nos estados de Santa Catarina, São
e Energia. Sobre minas eu não entendia quase Paulo e Minas Gerais, além da Malásia, no ex-
nada, mas estudei muito. Energia eu já estava terior. “Felizmente, apesar das dificuldades,
bem familiarizado e não foi nada difícil.” estamos sobrevivendo”, conclui.
A
Áustria é um pequeno país locali- Os Grüner Veltliner podem apresentar a ele-
zado na Europa Central, cuja língua gância e finura dos Rieslings, mas normalmente
principal é o alemão. Foi o primeiro fornecem aromas e sabores de pimenta bran-
país a ser invadido pela Alemanha ca, tabaco, legumes e, ocasionalmente, toranja.
nazista na Segunda Guerra. Tem uma produ- Ambas as variedades são encorpadas e
ção de vinho bastante pequena, ocupando o têm estrutura ácida, fazendo delas um ótimo
19ª lugar no ranking, abaixo até do Brasil, que acompanhamento para vários pratos.
ocupa a 14ª posição.
Os vinhos feitos com as uvas Pinot Blanc
A origem de seus vinhedos remonta ao Im- (chamada Weissburgunder na Áustria), Pinot
pério Romano, cujos habitantes estabelece- Gris (Grauburgunder) e Sauvignon Blanc têm
ram-se lá por volta de 15 a.C. e fundaram a pureza de fruta e sabores delicados, raramen-
província romana de Nórica. te passam por madeira e não chegam ao ní-
Em 788, a região foi conquistada por Car- vel qualitativo dos vinhos feitos com as uvas
los Magno, introduzindo o cristianismo. Reza Riesling e Grüner Veltliner.
a lenda que o imperador adorava vinho bran- Os vinhos tintos feitos com as castas au-
co, pois o tinto lhe manchava a copiosa bar- tóctones Blaufrankisch e St-Laurent (ou com
ba ruiva, prejudicando sua imagem. A seu resultado do cruzamento de ambas, a Zwei-
comando foram introduzidas uvas brancas na gelt) e as variedades exógenas Pinot Noir e
região da Borgonha, e, em sua homenagem, Cabernet Sauvignon apresentam estilo mais
passou-se a produzir, com a uva Chardonnay, leve, sendo próprios para serem consumidos
o fantástico vinho branco da apelação Cor- durante as refeições.
ton-Charlemagne.
A classificação de qualidade lembra um
Na Áustria, os vinhos mais importantes são pouco a legislação alemã. Na base da pirâmi-
os brancos. Feitos com a uva autóctone Grüner de ficam os vinhos de mesa e de país. Depois,
Veltliner, a mais plantada, e a Riesling, eles são vêm os vinhos de qualidade, intitulados Qua-
semelhantes aos vinhos alemães, com os quais litatswein (Steinfeder para a região de Wa-
são muitas vezes injustamente confundidos. chau), seguidos, em ordem ascendente, dos
As principais regiões produtoras ficam nas Kabinett (Federspiel para Wachau), que não
ondulações ao longo do rio Danúbio, a oeste recebem chaptalização (adição de açúcar no
de Viena, com vinhedos muitos bonitos em mosto), e dos Spatlese, que na região de Wa-
Kremstal, Kamptal e Wachau. chau recebem o nome de Smaragd devido ao
Os Rieslings austríacos se assemelham aos lagarto verde que habita as vinhas.
alemães, pois também apresentam frutas cí- Ainda existem os termos Ausbruch, vinho
tricas, pêssegos e algumas tropicais, mas são doce feito com as uvas atacadas pelo fungo
mais secos, minerais e encorpados, talvez apre- Botrytis cinerea, e Strohwein, que significa, li-
sentando mais semelhança com os Rieslings teralmente, vinho de palha, feito da mesma
franceses da Alsácia. forma que seu homônimo francês.
SUPÉRFLUOS
Pixabay
& PECADOS
• Por Miguel Fernández y Fernández*
R
ecentemente, os jornais noticiaram coisas pecaminosas), para os que dependem
declaração do ministro Paulo Gue- dos empregos que supérfluos e pecados ge-
des sobre criar um imposto do “peca- ram, não tem graça nenhuma.
do”. Segundo o noticiário, o ministro se A Acobar vive dizendo, com proprieda-
referiu a cigarros, bebidas alcoólicas, açúcar de, que a construção de barcos de recreio
(!) etc. Não citou artes, livros, sexo e sacana- é supertaxada no Brasil porque se estabele-
gem, mas preocupei-me. ceu que ter um barco é luxo, esquecendo os
Camisinha passará a ser taxada como pe- milhares de empregos que gera, não só na
cado ou como supérfluo? Está tudo orques- construção, mas também na operação e na
trado! Foi combinado com Damares que, ao manutenção desses barcos de recreio, e que,
propor a abstinência, transforma a camisinha assim como os cassinos, a turma acaba tendo
em pecado e em supérfluo ao mesmo tempo. barcos lá fora e jogando lá fora (literalmente)
E dizem que o governo está batendo cabeça. recursos e empregos que poderiam ser nos-
Lembrei-me de uma frase que vi pichada no sos, além de afastar a classe média desses
banheiro do restaurante Alvaro’s, no Leblon, mercados e transformar idas a outros países
em meados dos anos 70, quando o então em um desejo coletivo permanente.
ministro Mário Henrique Simonsen criou um É possível que a ideia de Guedes não passe
imposto sobre “supérfluo” que atingia, entre no Congresso, já que o pecado da luxúria e
outras coisas, o uísque, o cigarro e barcos de da sacanagem vai acabar taxando o Judiciá-
recreio. A frase era: “O poder embriaga, aí o rio, o Legislativo e o Executivo; e ninguém dá
uísque é supérfluo, assinado M. H. Simonsen”. tiro no pé de propósito, ficando aqui o aviso.
Como o Simonsen era um inveterado fu- E, suprema ironia, presidentes ditos milita-
mante e conhecido apreciador de uísque (en- res (Bolsonaro & Geisel) com ministros ditos
tre outras coisas), a gozação era sensacional, liberais (Guedes & Simonsen).
e estar no banheiro era o deboche supremo Não vai dar nem deu certo ou há e houve
(a censura não deixaria na imprensa). Nunca muita mentira. Compatibilidade de militar
me esqueci disso. com liberais é pouco crível. Ou não é milico,
Pecados e supérfluos podem ser supérfluos ou não é liberal.
e pecados para quem não os curte ou não
precisa, mas, para aqueles que vivem disso, *Engenheiro, cronista e liberal (autêntico).
de produzir coisas ditas supérfluas (agora www.engenheiromiguelfernandez.com.br.
guaranadigital.com
pelos aplicativos “Revista IMPRENSA” e “GoRead”,
disponíveis na App Store e no Google Play.
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